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FUNARBE / NEAD UFMG
Conjunto Urbano da Colônia Santa Izabel Dossiê de Tombamento
Betim, 1998 (Revisado em 2010)
Sumário I – Apresentação II – Introdução III – Histórico do Município IV – Histórico do Bem Cultural IV.1 – Lepra: evolução do seu tratamento IV.2 – Urbanismo no Brasil nos anos 30: a importância de Lincoln Continentino IV.3 – A Colônia Santa Izabel em Betim V – Descrição e Análise do Bem Cultural VI – Medidas de Proteção Propostas – Enquadramento Legal VII – Medidas Complementares VIII – Referências Bibliográficas IX – Documentação Cartográfica a e Fotográfica IX.1 – Documentação Cartográfica - Limites e Entorno Imediato - Ocupação das Edificações - Uso das Edificações - Estrutura Viária e Edificações Principais IX.2 – Documentação Fotográfica X – Anexos
XI – Ficha Técnica
I – Apresentação
Este documento destina-se a apresentar ao Conselho Deliberativo do Patrimônio
Cultural de Betim o Conjunto Urbano da Colônia Santa Izabel, situado no município de
Betim. Após uma introdução, onde se explicitam as diretrizes programáticas que
norteiam a política de preservação de Betim, seguem-se um histórico geral do município
e a descrição detalhada do bem em questão, sob os pontos de vista histórico e
urbanístico, para o que contribuem uma ampla documentação cartográfica e fotográfica.
Uma vez estabelecida a sua importância cultural, este dossiê apresenta recomendações
quanto às medidas de proteção e medidas complementares a serem adotadas. Segue-se
ainda ampla documentação cartográfica, fotográfica e anexos contendo tanto a
documentação conseguida, quanto as fichas arquitetônicas e urbanísticas e mapas
produzidos.
II – Introdução
II. 1. A ampliação do conceito de patrimônio
Originalmente “herança do pai”, no direito romano antigo, entendia-se como
patrimônio de um particular, complexo de bens que tinham algum valor econômico, que
podiam ser objeto de apropriação privada. (Assim, negativamente, definiam-se como
coisas extra-patrimonium aquelas que, sagradas ou pertencentes ao Estado, não se
prestavam a esse tipo de relação: o ar, água, os estados, os teatros, as praças, as vias
públicas). Com o tempo, porém, o uso desse termo sofre uma ampliação e um
descolamento, integrando ele hoje uma série de expressões como “patrimônio
arquitetônico”, “patrimônio histórico e artístico”, “patrimônio cultural”, e mesmo
“patrimônio natural”, que abrange uma gama de fenômenos muito mais ampla que a
inicial.
Essa ampliação estende-se também às próprias expressões específicas que
apontamos: idéias como as de “patrimônio cultural” e “patrimônio arquitetônico”
tendem a se tornar muito mais abrangentes que de inicio, o que, por não se tratar de
mera expansão quantitativa, coloca-nos frente a uma serie de questões totalmente novas.
Assim, no que se refere ao patrimônio arquitetônico, vemos uma verdadeira “explosão”
do conceito, que passa de uma formulação restrita e delimitada, para uma concepção
contemporânea tão ampla, que tende a abranger a gestão do espaço como um todo. De
fato, inicialmente, concebia-se patrimônio arquitetônico como uma espécie de “coleção
de objetos”, identificados e catalogados por peritos, como representantes significativas
da arquitetura do passado e, como tal, dignos de preservação, não passando os critérios
adotados aqui normalmente do caráter de excepcionalidade da edificação, à qual se
atribuía valor histórico e/ou estético. (Pertencer ao patrimônio tinha, ao lado de um
significado cultural, um significado jurídico: preservar identificava-se, quase que
automaticamente, com “tombar”).
No entanto, tal concepção, muito presa ainda à idéia tradicional de monumento
único, vai sendo ampliada; tanto o conceito de arquitetura, quanto o próprio campo de
estilos e espécies de edifícios considerados dignos de preservação expandem-se
paulatinamente. Assim, ao longo do século XX, vão penetrando no campo do
patrimônio conjuntos arquitetônicos inteiros, a arquitetura rural, a arquitetura
vernacular, bem como passam a se considerar também etapas anteriormente desprezadas
(o ecletismo, o Art Nouveau), e mesmo a produção contemporânea. Aqui os critérios
estilísticos e históricos vão se juntando a outros, com a preocupação com o entorno, a
ambiência e o significado.
Também a noção de “patrimônio cultural” vai sofrer ampliação, principalmente
graças ao tributo decisivo da antropologia, que, na sua perspectiva relativizadora, nele
integra os aportes de grupos e segmentos sociais que se encontravam à margem da
história e da cultura dominante. Nesse processo, a noção de cultura deixa de se
relacionar exclusivamente à chamada cultura erudita, passando a englobar também as
manifestações populares e a moderna cultura de massa. Ao mesmo tempo, passa-se a
considerar com atenção os elementos materiais, técnicos, da cultura, rejeitando-se
aquela contraposição idealista, longamente cultivada, entre Zivilisation e Kultur. Ao
lado dos bens móveis e imóveis, e daqueles de criação individual, componentes do
acervo artístico, consideram-se também agora como parte do patrimônio cultural do
povo, como nos mostram, por exemplo, os escritos de Mario de Andrade e Aluisio
Magalhães, outra espécie, os utensílios, procedentes sobretudo do “fazer popular”,
“inseridos na dinâmica viva do cotidiano”1. Além disso, superando a visão reificada da
cultura como um “conjunto de coisas”, tende-se cada vez mais a trabalhá-lha como um
processo, focalizando-se a questão – imaterial – da formação do significado.
Aqui é importante perceber que não se trata simplesmente de uma mudança
quantitativa: a expansão do concerto faz com que se modifique o seu próprio caráter, o
que, por sua vez, faz com que também a postura em relação ao que se entende por
patrimônio deva sofrer alterações. Tratam-se, de fato, como podemos perceber, de
campos com amplitudes e articulações bastante diferentes, que solicitam respostas
distintas. Assim, num primeiro momento, que corresponde a uma visão mais restrita do
patrimônio, lidava-se com um campo estreito e, ainda que pudessem aparecer
divergências quanto aos critérios, essencialmente delimitável: afinal, tratava-se de
identificar um elenco limitado de excepcionalidades. Aqui não parecia haver dúvida
também quanto ao papel decisivo que cabia aos peritos: além da incumbência da própria
delimitação do campo, esses tratariam de fiscalizar, restaurar e conservar os bens
identificados. Quando, porém, estende-se de maneira tão significativa o campo de
abrangência do chamado patrimônio, as coisas mudam de figura: não é mais possível
1 A esse respeito, confira MAGALHÃES, Aloísio. Bens culturais: instrumento para um desenvolvimento harmonioso. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 20, 1984.
exercer esse tipo de “controle esclarecido” sobre tão imenso domínio. Assim,
instrumentos como o tombamento, que se mostram importantes (decisivos mesmo, em
alguns casos), num primeiro momento, passam agora a expor, de uma maneira cruel,
suas limitações, e tem, a nosso ver, que ser revistos, à luz de novos condicionantes e
critérios. Coloca-se no horizonte claramente um novo e grande desafio: forjar-se
mecanismos que reflitam a concepção ampliada e processual do patrimônio cultural.
Com isso, para se pensar hoje em preservação do patrimônio parece-nos
importante considerar:
� A amplitude do patrimônio cultural, que deve ser contemplado em todas suas
variantes. Devem-se trabalhar todos os diversos suportes da memória – as
edificações e os espaços, mas também os documentos, as imagens e as palavras.
Além disso, metodologicamente, a questão do patrimônio não pode ser mais
exclusivamente de alguns profissionais que tradicionalmente se ocupam com
ela, exigindo a composição de equipes interdisciplinares amplas e a ativa
participação da sociedade. Na medida em que se amplia o próprio conceito de
patrimônio, torna-se necessária a ampliação dos instrumentos de conhecimento e
análise, com a incorporação das perspectivas dos mais diversos profissionais e
os da própria população, enquanto usuária e produtora do patrimônio;
� A dinâmica própria do patrimônio cultural, que não pode ser percebido como
uma coleção de objetos, afastados da vida, mas sim como um suporte para um
processo contínuo de produção da própria vida. Trata-se de perceber o potencial
transformador de nosso patrimônio, que deverá ser continuamente relido e
utilizado de forma libertadora. Neste sentido, a questão do patrimônio, como diz
a Carta de Ouro Preto de 1992, “deve superar a abordagem histórico-estilística e
ser trabalhada dentro de uma concepção que integre as questões sócio-
econômicas, técnicas, estéticas e ambientais”, devendo-se considerar qualquer
intervenção sobre o patrimônio como uma ação sobre o presente e uma proposta
para o futuro2.
2 CARTA DE OURO PRETO Ouro Preto: Instituto de Arquitetos do Brasil – Seção Minas Gerais, 1992 (mimeografado).
II. 2. A política municipal de preservação do patrimônio de Betim
Tentando responder aos desafios conceituais e práticos colocados por essa
ampliação do conceito de patrimônio, o município de Betim, através da FUNARBE,
tem articulado desde de 1993 uma política de preservação de seu patrimônio cultural.
Neste sentido, em convênio com o Núcleo de Estudos em Antropologia e
Desenvolvimento da Universidade Federal de Minas Gerais, realizou-se nos anos de
1995 e 1996 o “Levantamento Cultural de Betim”, que, dentro da mais ampla concepção
contemporânea de patrimônio, conclui a identificação prévia dos bens culturais do
município. Em seguida, foram aprovadas leis de defesa do patrimônio e criou-se um
conselho deliberativo com ampla participação da sociedade civil.
Dando prosseguimento ao trabalho, tem-se procurado implantar desde 1997 o
“Plano Integrado de Proteção ao Patrimônio de Betim”, que constitui uma ação
coordenada do município e da sociedade civil, que articula programas e projetos em
defesa do patrimônio. Ao assumir essa perspectiva contemporânea, o plano privilegia a
perspectiva da intervenção integrada: partindo sempre do minucioso conhecimento de
áreas e objetos sobre os quais se quer atuar, procura-se tratar os diferentes problemas de
forma articulada e simultânea, entrelaçando-se ações de tipos variados – de intervenções
físicas a projetos culturais. Trabalhando, pois, com conceito mais amplo de patrimônio
cultural, o plano se debruça sobre uma gama variada de instrumentos de preservação,
não se concentrando apenas no tombamento ou na restauração.
O Plano Integrado de Proteção ao Patrimônio de Betim, que consiste na
articulação de programas e projetos visando à proteção do patrimônio cultural de Betim,
organiza-se em três linhas principais:
Pesquisa e documentação – que inclui a produção de dossiês de tombamento,
pesquisas de história oral, memória dos bairros, inventários urbanos e arquitetônicos,
etc.;
Proteção e revitalização – que inclui a realização de tombamentos pontuais e de
conjunto, restaurações, a regulamentação de mecanismos do Plano Diretor, proposição
de operações urbanas e organização de planos de revitalização de áreas e conjuntos, etc;
Divulgação e captação de recursos – que inclui atividades como Museu de Rua,
exposições, trabalhos integrados com as escolas, bem como projetos especiais.
Plano Integrado de Proteção ao Patrimônio de Betim
Pesquisa e documentação Proteção e revitalização Divulgação e captação
Inventários urbanos e
arquitetônicos
Dossiês de tombamento
Pesquisas de história oral
Memória dos bairros
Tombamentos pontuais e
de conjunto
Regulamentação de
mecanismos do Plano
Diretor
Operações urbanas
Restaurações
Revitalizações de áreas e
conjuntos
Museu da Rua
Exposições
Gincanas
Trabalho integrado com as
escolas
Programas radiofônicos
Projetos especiais /
captação de recursos
Dentro dessas linhas de ação, foram realizados, inicialmente, seis dossiês de
tombamento, tendo sido tombados pelo Conselho os seguintes bens:
CASA DA CULTURA JOSEPHINA BENTO – Edificação situada na Praça Milton
Campos, constitui significativo exemplar da arquitetura do período colonial, onde se
instalou a Casa da Cultura do Município. É hoje praticamente o único exemplar do
casario colonial existente em Betim e testemunha do antigo Centro de Capela Nova.
IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO – Datada do século XIX, é a mais antiga
igreja de Betim, sendo ainda o local onde anualmente acontece a Festa do Reinado de
Nossa Senhora do Rosário, entre os meses de agosto e outubro. Constitui importante
referencial da contribuição da cultura negra para a história de Betim.
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA – Inaugurada em 1911, fazia parte da construção do trecho
da Estrada de Ferro Oeste de Minas que ligava Belo Horizonte a Henrique Galvão, atual
Divinópolis. A sua construção deslocou o centro da cidade e o eixo de crescimento do
Arraial da Capela Nova de Betim, que passou a se desenvolver em sentido norte,
estabelecendo um maior contato com a capital, Belo Horizonte.
COLÉGIO COMERCIAL BETINENSE – Inaugurado em 1910, para o primeiro Grupo
Escolar de Capela Nova do Betim, resultado da luta da comunidade pelo acesso à
educação. O Grupo ocupou uma posição fundamental na formação do povo betinense,
funcionando no antigo prédio até 1968, quando foi substituído pelo Colégio Comercial
Betinense, que também desempenhou um papel importante na formação profissional da
população de Betim.
PORTAL DA COLÔNIA SANTA IZABEL – A Colônia Santa Izabel representa um
testemunho privilegiado da evolução do tratamento da hanseníase no Brasil: do
confinamento à tentativa de integração foram varias as estratégias adotadas. Como um
marco da importância desse aspecto da história de Betim, o Portal da Colônia Santa
Izabel testemunha a concepção inicial daquele local de tratamento.
IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO – Localizada no bairro Amazonas, a Igreja de São
Sebastião é um marco referencial da história da evolução daquela região: localizada
inicialmente em área rural, a capela, construída nos anos 40, assiste ao rápido
crescimento de Betim a partir dos anos 70. Forte referência para a população da região,
ali sempre se desenvolveram intensas atividades comunitárias.
ACERVO DE BENS MÓVEIS DO PADRE OSÓRIO – O tombamento do acervo de
bens móveis do Padre Osório de Oliveira Braga (Betim, 1878/1968), preserva a
memória do vigário que, em seu longo paroquiato, desempenhou importante papel
religioso e político na cidade de Betim, tendo lutado inclusive por sua emancipação.
Esses tombamentos, realizados no inicio de 1998, garantiram ao Município de
Betim o reconhecimento de 6 (seis) pontos por parte do IEPHA na aplicação da Lei
Robin Hood (ICMS).
Além dos tombamentos, cabe destacar as seguintes ações implementadas pela
FUNARBE, em parceria com a UFMG:
REGULAMENTAÇÃO DO REGIMENTO DO CONSELHO DO PATRIMÔNIO –
importante passo para garantir o funcionamento legal do Conselho já instalado.
Realizado no 2º semestre de 1997.
RESTAURAÇÃO DE IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO – Ainda em 1996,
a FUNARBE, restaurou a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, recuperando a sua
arquitetura e preparando um projeto para o seu largo.
RECUPERAÇÃO DA IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO – Em parceria com a
Universidade Federal de \Minas Gerais, a FUNARBE preparou um projeto de
recuperação daquela tradicional igreja e, em conjunto com a comunidade local, está
lançando uma campanha de mobilização para a execução das obras.
IMPLANTAÇÃO DO “MUSEU DA CIDADE” – Atendendo ao velho anseio da
comunidade betinense, a FUNARBE preparou o projeto de implantação do “Museu da
Cidade”, museu dinâmico e contemporâneo, onde Betim se debruçará sobre sua história,
analisará seu presente e planejará seu futuro.
LANÇAMENTO DA “CORRENTE DA MEMÓRIA” – No intuito de trabalhar a
memória da cidade, a FUNARBE lançou também uma série de encontros entre os
betinenses – a “Corrente da Memória” – onde juntos vamos reconstruir a História viva
da cidade.
E, ainda a partir dos tombamentos realizados, foram realizados o Inventário do
Patrimônio Urbano e Cultural do Centro Histórico de Betim e o Inventário da Colônia
Santa Izabel, completos inventariamentos daquelas áreas da cidade, com vistas à
realização de planos de revitalização das mesmas. Esses inventários se enquadram na
concepção mais contemporânea desse instrumento, servindo tanto para se conhecer e
documentar as áreas pesquisadas, quanto para orientar sua possível transformação.
III. Histórico do Município
O IPAC do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas
Gerais apresenta o seguinte “Informe Histórico” do município de Betim:
Com área total de 376 km², Betim situa-se na Zona Metalúrgica e integra a Micro-região de Belo Horizonte. Composto de um único distrito-sede, o município possui hoje população eminentemente urbana 138.801 na área urbana e 4.930 habitantes na área rural – dada a expressiva predominância das atividades industriais3.
No princípio do século XVIII, o sertanista José Rodrigues Betim, acompanhado
de parentes, se estabeleceu onde é hoje a atual cidade de Betim. Em 14 de setembro de
1711, recebe de Antônio de Albuquerque sesmaria de duas léguas que ficava entre o
“Paraopeba e a estrada que vai para as Abóboras”4.
A capela filial de Curral Del Rey foi erigida por provisão de 9 de novembro de
1754, sendo criada a freguesia por Lei Provincial n. 522 de 23 de setembro e instituída
por provisão episcopal de 9 de outubro do mesmo ano com o título de Capela Nova de
Betim5. Em 1855, teve seu primeiro vigário colado o padre Manuel Roberto da Silva
Diniz6.
A população floresceu a partir de meados do século XVIII graças à agricultura e
à posição em que se encontrava, no entroncamento de diversas rotas por onde se fazia o
comércio e o abastecimento das zonas essencialmente mineradoras. Cessada a
exploração aurífera, a população voltou-se inteiramente para as atividades
agropecuárias, desenvolvendo-se lentamente.
Em 1870, a freguesia de Betim possuía 5.700 habitantes e, em 1873, 4.6217.
No ano de 1910, acontece a inauguração da Estrada de Ferro Oeste de Minas, o
que provoca ligeiro crescimento populacional e econômico8.
Pela Lei nº 843, de 7 de setembro de 1923, a denominação é mudada apenas para
Capela Nova, pertencendo a essa época ao município de Santa Quitéria, atual
3 PINTO, Wellington. Minas. Dicionário (ilegível) Geográfico e Histórico. Belo Horizonte: Editora. 1983, p. 21. 4 BARROS, Waldemar de A. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Saterb, 1971, p. 70-1. 5 TRINDADE, Cônego Raimundo. Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana. Rio de Janeiro: MEC, 1945 (Publicações do SPHAN, n. 13, p. 57). 6 Idem, Ibidem. 7 SENNA, Nelson de. Anuário de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1909, p. 993-5. 8 ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS. Rio de Janeiro: IBGE, 1958. Vol. XXIV, p. 188.
Esmeraldas. Finalmente, o Decreto-Lei nº148, de 17 de dezembro de1938 cria o
Município de Betim9.
A agricultura e a pecuária permaneceram como atividades hegemônicas até
meados do século XX. Mais precisamente a partir da década de 60, iniciou-se a
implantação de indústrias de grande porte no município, que hoje dominam sua
economia. As empresas mais importantes são a FIAT Automóveis S/A, a REGAP –
Refinaria Gabriel Passos, a FMB S/A, a KRUPP Indústrias Mecânicas e outros.
Paralelamente ao crescimento industrial, a agropecuária também se desenvolveu,
especialmente na produção de hortifrutigranjeiros, visando ao abastecimento da capital.
Quanto ao acervo arquitetônico e urbanístico, o documento citado registra:
Betim, embora tenha se originado no século XVIII, apresenta-se hoje como um grande núcleo industrial, em franco crescimento, dotado dos equipamentos urbanos mais modernos. Seu casario colonial praticamente desapareceu, restando apenas alguns exemplares dispersos. Presume-se que o núcleo original do povoado tenha sido a praça da antiga matriz, hoje demolida, que se situa na parte elevada da cidade e é cortada pela Avenida Padre Osório Braga. Esta via conduz a outros marcos históricos da cidade, como a Estação Ferroviária (1911) e o Marco Comemorativo da Criação do Município (1938). Neste eixo, se encontram as edificações mais antigas da cidade, merecendo ainda referência no cenário urbano a Capela de Nossa Senhora do Rosário. Destaca-se ainda edificação situada na Praça Milton Campos, significativo exemplar da arquitetura do período colonial, onde se pretende instalar a Casa da Cultura do Município.
É importante ressaltar que, com o início das ações da política cultural, em
especial, da política preservacionista para a cidade de Betim, parte desses marcos
começa a ser recuperada. Assim, já foi efetivamente instalada a Casa da Cultura
Josephina Bento, restaurou-se a Capela de Nossa Senhora do Rosário, e agora, através
de sua Lei do Patrimônio, começam a se proteger essas edificações notáveis.
9 BARBOSA, Waldemar de A. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Saterb, 1971, p. 70-1.
IV – Histórico do Bem Cultural
IV. 1. – Lepra: evolução de seu tratamento
O mal de Hansen remonta ao Egito, “segundo um papiro da época de Ramsés II
(Faraó da XIX Dinastia), a quatro mil e trezentos anos antes de Cristo”10.
Considerando as passagens bíblicas, é possível afirmar, já desde aqueles tempos, a
existência de repulsa e discriminação frente àqueles portadores do mycobacterium
leprae, nome científico do bacilo.
O nome hansen provém do identificador do bacilo, o médico e botânico
norueguês Armauer Gerhard Hendryk Hansen (1841/1912), cujo feito ocorrera em
1874.
A região mais afetada e por isso considerada como foco primitivo da hanseníase é a faixa setorial da África central, da Nigéria à Etiópia11. Os grandes conquistadores de terras se incumbiram de espalhar o mal continente afora. [A difusão na] Europa Oriental é creditada aos exércitos persas e posteriormente aos romanos. No ocidente foi espalhada pelos espanhóis e portugueses (...) na costa do Mediterrâneo pelos fenícios e as expedições de Alexandre Magno (...) contribuíram para difundi-la no oriente Próximo e médio. (...) Entre as tribos indígenas do novo mundo, a hanseníase era desconhecida. Segundo alguns historiadores, o maior fator de disseminação (...) na América foi o tráfico de escravos12.
O desencadear do mal de hansen no Brasil remota ao século XVIII, quando os
primeiros enfermos foram observados no ano de 1600. A lepra marca o Brasil em vários
momentos de sua história: a Bahia foi um dos grandes focos da doença no século XVIII;
nas Minas Gerais, mais precisamente em Ouro Preto, o grande mestre Antônio
Francisco Lisboa, o Aleijadinho, fora acometido pelo mal. E o Padre Antônio Manoel
fundou um asilo para hansenianos na cidade de Recife, em 1714. Provavelmente a posse
desta província pelos holandeses foi fator responsável para tal providência, uma vez que
nesta época o tráfego de escravos era intenso e o holandês era muito zeloso para com
seus “dominados”.
Outros locais de natureza assistencial, os asilos e enfermarias, como eram tidos
os locais de tratamento dos hansenianos surgiram: no Rio de Janeiro, em 1741,
10 MENDONÇA e MODESTO. A memória betinense. Colônia Santa Izabel, rel. p. 30. 11 Idem, p. 30 12 Ibidem, p. 30.
construído pelo Governador local Capitão General Gomes Freire de Andrade e em
Minas Gerais na cidade de São João Del Rei, em 1806. Neste momento o mal de hansen
já alcançava boa parte dos sítios desbravados pelos colonizadores. Somente no ano de
1883, na cidade mineira de Sabará, surge um hospital para os lázaros, convertido
posteriormente em manicômio-prisão para os acometidos pela doença.
Vale ressaltar que somente a partir de 1920, com a criação da Inspetoria de Lepra e Doenças Venéreas, primeiro órgão federal destinado à campanha contra a hanseníase, houve uma regulamentação com o intuito de combater a endemia. Até então, a assistência ao doente de hanseníase estava a cargo da caridade pública.13 O Estado prestava-se no momento a asilar os doentes, “sendo a sua manutenção feita por instituições particulares”14
A professora Terezinha Assis, em seu livro A Historia da Construção de Betim,
infere acerca dos fatos históricos do final do século que resultaram na implantação da
política sanitarista de 20:
A consolidação do capitalismo como sistema econômico mundial gerou a reorganização do espaço geográfico, isto é, as populações se aglomeravam próximo às fábricas, dando origem as grandes cidades. O comércio mundial intensificou-se e criou uma separação entre países agrícolas e industriais interdependentes. O intercâmbio de pessoas e mercadorias assumiu uma importância muito grande para a organização econômica e os portos tinham função de destaque para exportação e importação dessas mercadorias. As aglomerações urbanas formaram bairros operários, cortiços, favelas sem condições de higiene e saúde, onde várias epidemias e endemias prosperam, dizimando grandes contingentes de trabalhadores. A gripe espanhola, varíola, cólera, peste, febre amarela, tuberculose e hanseníase eram doenças comuns e ocorriam nos países industriais e nos países fornecedores de matérias primas. O avanço da ciência e a necessidade de manutenção da força de trabalho geraram uma política sanitarista e de saúde na Europa que, posteriormente, foi trazida para o Brasil. No inicio deste século, o país era parte do modelo de capitalismo mundial, isto é, o Brasil era um exportador de produtos agrícolas e matérias-primas. O produto que se destacava na exportação era o café, sendo assim internamente, a elite econômica e a política estava ligada à economia cafeeira. O Rio de Janeiro era a capital do país, uma cidade com sérios problemas de doenças e de grandes aglomerados, vivendo em precárias condições de saúde e higiene. É neste contexto que começa a ser implementada uma política pública de controle e erradicação de doenças no país. Inicialmente, tendo à frente Osvaldo Cruz e, posteriormente, Carlos Chagas. (...) Apesar de manifestações contrárias, a política sanitarista de saúde foi implantada de forma autoritária, baseada em modelos europeus até década de 30. (...) Foi nessa conjuntura que se definiu a assistência e o isolamento dos hansenianos como atribuição estatal. Elaborou-se uma política de construção das colônias de hansenianos distribuídas por diversas partes do território nacional.15
13 Ibidem, p. 31. 14 AGRÍCOLA, Ernani. A lepra no Brasil (resumo histórico), p. 15. 15 ASSIS, Terezinha. A história da construção de Betim, p. 38-9.
A dinâmica implantada na década de 20 muda, devido à extinção da Inspetoria
de Saúde, em 1934, quando uma parceria entre os governos estaduais e federal
desencadeia uma política de combate à hansen: era necessário um controle direto sobre
os portadores do bacilo. Instalam-se assim em vários locais do Brasil os lugares
conhecidos como leprosários. Em Minas Gerais, a Colônia Santa Izabel já funcionava
desde 1931, quando fora inaugurada.
Dando prosseguimento ao seu plano erradicador do mal da hansen, o Ministério
da Educação e Saúde cria em 1935 uma comissão responsável na elaboração de um
plano nacional de combate à lepra, quando as seguintes orientações são norteadoras:
� Construção pela União de um número suficiente de leprosários, preferentemente do tipo colônia agrícola;
� Ampliação e melhoramentro nos leprocômios já existentes, nos quais tais medidas fossem consideradas necessárias;
� Hospitalização nos estabelecimentos construídos, ampliados ou melhorados, dos doentes de formas contagiantes, dos mendigos, indigentes, sendo calculado aproximadamente em 65% o número de doentes a internar por motivo de ordem profilática ou assistencial;
� Obrigação, por parte dos governos estaduais, de instalar um número suficiente de dispensários, cessão de terreno necessário para a construção e instalação leprosários, manutenção de metade das despesas dos doentes isolados, adoção de legislação federal sobre profilaxia da lepra e subordinação técnica ao serviço federal...16
Nota-se o descaso até então do Estado no seu plano de combate à endemia, uma
vez que não haviam considerado até o presente momento a questão dos filhos dos
hansenianos, que necessitariam de amparo imediato quando separados de seus
familiares. Instituições particulares, com o auxílio do governo, deram cabo a esta
situação.
Orestes Diniz17, no seu livro intitulado Nós também somos Gente, expõe o tripé
primitivo institucional no qual se assentava a luta contra a lepra. Até então a terapia com
sulfonas não era aplicada:
� Dispensário: tem a função de descobrir, selecionar, internar os doentes, examinar seus comunicantes e educar as massas.
� Leprosário: procura isolar, assistir, material e moralmente, tratar e recuperar os doentes, devolvendo-os ao meio social:
16 Idem, p. 28. 17 DINIZ, Orestes. Nós também somos gente, p. 50.
� Preventório: recolhe os filhos sadios dos hansenianos, tanto os nascidos nos leprosários, como os oriundos dos lares de onde saíram os doentes.
Com o intuito de eliminar a endemia, o governo aumenta o número de
instituições voltadas à erradicação da doença.
No final da década de 50, o Brasil possuía 36 leprosários localizados em quase todos os estados, 102 dispensários em atividade e 31 preventórios, com a denominação de educandários. Vale frisar que até o inicio da década de 40, todas as pessoas que tivessem um diagnóstico positivo de hanseníase eram obrigadas a se internar no leprosário.18
A ação profilática foi a nova tentativa do Governo Federal no combate ao mal de
hansen e, em 1956, o método procurava “alcançar na escala mais elevada possível o
diagnóstico precoce da moléstia, o tratamento profilático de todos os casos infectantes e
a aplicação de recursos capazes de elevar a resistência das pessoas expostas ao
contágio”19.
Infelizmente o quadro da hanseníase no Brasil dos dias de hoje é drástico.
Resultado da ação de Estado totalitário e centralizador, que dificulta uma abrangência
nacional de maneira homogênea, além do que os conhecimentos científicos acerca do
mal eram pouco dominados. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), “o
Brasil é o único país da América Latina que não vai conseguir eliminar a doença até o
ano de 2000. O insucesso no cumprimento da meta, segundo o documento, é atribuído
ao fluxo ‘irregular e incerto’ de recursos públicos e ao desinteresse de alguns Estados no
combate à doença.20”
O descaso com a erradicação da doença se deve principalmente ao grupo social
que atinge, quando
a maior incidência de hanseníase ocorre nas classes sócio-econômicas baixas, onde a miséria, o pauperismo, as más condições de higiene, as habitações precárias, os parcos conhecimentos de educação sanitária prevalecem. Aí, o bacilo de Hansen encontrará o “caldo da cultura” para o seu progresso. Assim, para controlar a hanseníase, o diagnóstico e o tratamento precoces devem estar associados ao combate e à miséria, às más condições de vida e ao baixo padrão sanitário em que vive uma parcela expressiva da população brasileira. Além disso, é necessário que a população seja bem informada sobre as condições de contágio da doença, fator que dominava, em certa medida, o preconceito em relação às pessoas portadoras de seqüelas do mal da hanseníase.21
18 MENDONÇA e MODESTO. A memória betinense. Colônia Santa Izabel, rel. p. 32. 19 AGRÍCOLA, Ernani. A lepra no Brasil (resumo histórico), p. 22. 20 SAÚDE. Folha de São Paulo, jornal. 1997. 21 MENDONÇA e MODESTO. A memória betinense. Colônia Santa Izabel, rel. p. 35.
IV. 2. – Urbanismo no Brasil nos anos 30: a importância de Lincoln Continentino
Urbanismo no Brasil – anos 30
Se considerarmos a história do urbanismo no Brasil, podemos falar de um
segundo período, que iria de 1930 a 1950, sendo marcado pela elaboração de planos que
têm por objeto o conjunto da área urbana na época. Com uma visão de totalidade, são
planos que propõem a articulação entre os bairros, o centro e a extensão das cidades
através de sistemas de vias e de transportes. Nesse período, são formuladas as primeiras
propostas de zoneamento. Organizam-se os órgãos para o planejamento urbano como
parte da estrutura administrativa das prefeituras das principais cidades.
Ressalve-se que os planos de saneamento para as cidades existentes, em
particular os elaborados por Saturnino de Brito, desde o final do século 19, já eram
elaborados com uma visão de totalidade, tanto da área urbana existente como a sua
integração a uma área de expansão de totalidade. Esta visão integrada inerente aos
projetos de sistemas em rede de infra-estrutura só será ampliada para o sistema viário e
de transporte para a maioria das cidades brasileiras a partir dos anos 30. Também a
legislação urbanística controlando o uso e a ocupação do solo será proposta a partir
desta data.
Pode-se afirmar que, a partir de década de 30, observa-se uma nova fase de
afirmação do urbanismo no âmbito da universidade, expansão da atuação para a maioria
das cidades brasileiras, portanto, a consolidação enquanto área de conhecimento e de
prática profissional.
O Plano das Avenidas, elaborado por Francisco Prestes Maia para São Paulo em
1930, é um exemplo expressivo desta nova forma de planejar a cidade. Propondo um
sistema articulado de vias radiais e perimetrais, este engenheiro, formado pela Escola
Politécnica de São Paulo, transforma a comunicação entre o centro da cidade e os
bairros e dos bairros entre si e a cidade. Projeta a cidade que se expande de forma
extensiva sobre pneus, substituindo a cidade de alta concentração de atividades e
pessoas pela mobilidade em que o transporte coletivo, através do metrô ou do bonde,
desempenham papel fundamental. O Plano de Avenidas vai ser citado como referência
para outras cidades.
Os anos 30 representam uma inflexão importante na história do urbanismo em
Belo Horizonte, pois nesse momento já se percebia, com clareza, os efeitos da forma de
crescimento que a cidade vinha tendo desde sua fundação, bem como já se nota aí a
emergência de uma postura mais crítica com relação ao plano, além de novas
oportunidades de formação profissional e de novos fóruns onde a cidade passa a ser
discutida e reproposta. A grande questão urbanística e de gestão deste momento é, de
um lado, a normalização desses primeiros bairros que haviam se desenvolvido fora da
área circunscrita pela avenida do Contorno e, de outro lado, a articulação entre essas
duas “cidades”. Pelas décadas seguintes esse continuará sendo o problema mais
levantado por técnicos e administradores.
Em 1934, na gestão do prefeito José Soares de Mattos (1933-35), foi criada uma
Comissão Técnica Consultiva da Cidade, a exemplo de “grandes e adiantadas cidades,
especialmente americanas”, tendo sido a mesma instalada sob a providência do
professor Lourenço Baeta Neves. Essa comissão, que tinha por função precípua
“orientar a execução do plano da cidade e zelar pelo seu fiel cumprimento”, dividia-se
em cinco subcomissões, sendo uma delas a de arquitetura e urbanismo. O professor
Lourenço Baeta Neves é, com certeza, uma das figuras que mais se destaca, nesse
período, pelo seu envolvimento com as questões ligadas à cidade. Nascido em Ouro
Preto, em 1876, ele se diplomou pela Escola de Minas. Seu perfil politécnico o levou a
atuar em diversas frentes. Na escola Livre de Engenharia de Belo Horizonte, que ajudou
a fundar em 1911, ele foi catedrático de hidráulica e responsável por várias cadeiras,
dentre elas a de Higiene e traçado de cidade. Foi também discípulo e colaborador de
Saturnino de Brito.
No ano seguinte ao da criação da Comissão Técnica Consultiva, já na gestão do
prefeito Octacílio Negrão de Lima (1935-38), recebeu da mesma um documento
elaborado por um dos membros de sua subcomissão de Arquitetura e Urbanismo, o
engenheiro Lincoln de Campos Continentino, defendendo a proposta de um plano de
expansão racional da cidade. Continentino é figura central no cenário da reflexão e da
proposição de alternativas para o desenvolvimento da cidade, no período que vai dos
anos 30 aos 60. Nascido em 1900 e diplomado em 1923 pela escola Livre de
Engenharia de Belo Horizonte, ele se pós-graduou em Engenharia Sanitária na
Universidade de Harvard, EUA, entre 1927 e 1929. Desenvolveu intensa atividade com
técnico e professor, particularmente na área do urbanismo e da engenharia sanitária,
tendo ocupado diversos cargos públicos, inclusive de assessor técnico da prefeitura em
várias gestões. Foi autor de inúmeras publicações que atestam a amplitude dos seus
interesses.
Para justificar a proposta que apresenta à Comissão Consultiva, Continentino
discorre longamente sobre os problemas, cuja solução definitiva dependeria, segundo
ele, de um plano sistematizado e nacional de expansão da cidade. O primeiro ponto que
ataca é o da subdivisão de terrenos suburbanos e dos novos loteamentos. Ele sugere a
modificação da forma dos quarteirões e o sistema de arruamento das áreas urbanas não
utilizadas até então e lembra vários outros ganhos que poderiam ser obtidos pela
definição de um plano de urbanismo, como a escolha acertada do melhor local para os
edifícios cuja construção se cogitava naquele momento (como a prefeitura, o teatro, os
correios e telégrafos); a definição de um sistema geral de parques e jardins para a
cidade; a definição das avenidas e artérias de grande tráfego destinadas a ligar o centro
urbano às zonas suburbanas, às cidades circunvizinhas e às estradas interestaduais; e a
definição de um zoneamento que evitaria os efeitos indesejáveis das vizinhanças
“incompatíveis”. Ele conclui com sua exposição lembrando que a falta de visão de um
conjunto e a falta de previsão eram falhas na cidade de todo mundo, inclusive em Belo
Horizonte.
Ao fazer essa proposta, Continentino colocava uma discussão nova em termos
de equacionamento dos problemas da cidade e da solução para os mesmos, além de
romper com a idéia de que a cidade perderia, de vez, a possibilidade de um
planejamento da sua expansão, tendo em vista o distanciamento da sua realidade em
relação ao que fora idealizado pela Comissão Construtora da Nova Capital. Em uma
conferência realizada no Rotary Club de Belo Horizonte, 1933, sobre o
desenvolvimento de métodos de administração municipal, Continentino tentava
didaticamente mostrar o que era o urbanismo, os seus métodos, o que era “plano geral
de remodelação e extensão das cidades ou plano de urbanismo” e que benefícios
trariam para a cidade. Passando em revistas diversas definições de urbanismo (Thomas
Adams, Anhaia Mello, George Mac Anony, J. P. Hynes, W. Brunner, George B. Ford,
Nelson Lewis), ele propôs defini-lo “como sendo a sistematização e coordenação de
todas as funções municipais, aí abrangidos os serviços públicos e todas as atividades
urbanas, orientadas no sentido do progresso material e social da comunidade e por
conseguinte do bem-estar dos indivíduos que nela vivem”. Para ele, os princípios
básicos de urbanismo que deveriam ser observados na elaboração dos planos de
expansão e melhoramentos das cidades eram os referentes à topografia local que
facilitariam a drenagem natural e evitariam grandes movimentos de terra; os cuidados
com o parcelamento, arruamento e a arborização (para as zonas residenciais ele
recomendava “os tipos de arruamento de cidades jardins”); e a descentralização do tipo
“cidade jardim satélite”. Com relação a essa conferência de Continentino no Rotary,
vale a pena lembrar aqui o papel que essa agremiação teve na década de 30, na
discussão da cidade, dos problemas urbanos e do papel que deveria ter o urbanismo em
Salvador, por exemplo, o Rotary participou da pioneira Semana de Urbanismo de 1935,
e em São Paulo patrocinou uma série de conferências de Anhaia Melo, posteriormente
publicado sob o titulo de Problemas de urbanismo.
Dentre as várias iniciativas desenvolvidas nos anos 30, que contribuíram para o
aprofundamento de uma discussão local sobre a cidade destaca-se a criação, no início da
década, da Sociedade Mineira de Engenheiros, fato que se dá no início da década no
bojo da mobilização dos profissionais da área que em âmbito nacional lutavam pela
regulamentação da profissão de engenheiro. Em Minas, os maiores núcleos desses
profissionais concentravam-se na Estrada de Ferro Central do Brasil, na Estrada de
Ferro do Oeste em Minas e na Secretaria da Agricultura, Viação e Obras do Estado. Nos
seus dois primeiros anos de existência, a questão da regulamentação profissional da
categoria foi assunto constante na pauta da SME. A seguir, será a vez da cidade tornar-
se um ponto focal de atenção por parte dessa associação; prova isso o fato de que a
Revista Mineira de Engenharia por ela lançada em janeiro de 1935 dará, a cada uma de
suas edições, um lugar de destaque aos temas referentes à cidade. Nas décadas seguintes
essa revista será, com certeza, um dos principais veículos de discussão dos problemas
urbanos e das propostas urbanísticas para Belo Horizonte.
Uma iniciativa fundamental para a formação de profissionais que irão atuar na
cidade e participar da discussão dos seus problemas foi a criação, em 1930, da Escola de
Arquitetura, com aula inaugural ministrada apenas em maio do ano seguinte. Depois da
ação de arquitetos e projetistas como José de Magalhães, Paul Villon, Alfredo Camarate
e Luiz Oliveira, durante os trabalhos da Comissão Construtora da Nova Capital, a partir
da década de 20 começaram a fixar residência na cidade arquitetos como Luiz
Signorelli, diplomado pela Escola Nacional de Belas Artes, Rafaello Berti, Raphael
Mardy e Ângelo Murgel. Em torno de Signorelli constitui-se o grupo que vai criar em
1930, uma escola de arquitetura destinada à formação de engenheiros-arquitetos, tendo
como modelo organização didática o da seção de arquitetura da Escola Nacional de
Belas Artes, do Rio de Janeiro. Entre 1930 e 1946 ela formou 29 “engenheiros-
arquitetos”.
Até os anos 60, a única proposta global para Belo Horizonte era ainda a que
Continentino começara a formular em 1935 e que ele continuou a desenvolver, tendo-se
apresentado em diversas ocasiões (congressos, publicações, etc.) As prioridades que ele
continuava defendendo para um plano de urbanismo para Belo Horizonte eram:
� estabelecimento de um sistema de grandes avenidas, ligando a Zona urbana à
Zona suburbana e cidades vizinhas.
� a unificação das vias férreas operando na cidade (a Central do Brasil e a Rede
Mineira) em duas etapas, a primeira com elas se localizando sobre cortes em
caixão e a segunda com estes passando a se construir em faixa subterrânea:
� a reforma dos arruamentos suburbanos, substituindo os “traçados em montanha
russa” por arruamentos mais adaptados à topografia, com rampa máxima de
15% e coordenados ao plano das grandes avenidas, os sistemas de parques e
jardins e obedecendo aos padrões das “neighbourboods unities” com origem
no “Town Planning Act”, promulgado em 1919 na Inglaterra; e finalmente;
� a definição de um zoneamento com a divisão da cidade em três zonas –
residencial, comercial e industrial – e a inauguração de um código de
identificação para a cidade.
Sem nunca ter sido integralmente implementado, o seu plano geral de
remodelação e extensão teve várias de suas proposições executadas, marcando
sobretudo as gestões de Otacílio Negrão de Lima, José Oswaldo de Araujo (1938-40) e
Juscelino Kubitschek (1940-45). Neste sentido merece destaque a abertura de novas
avenidas radiais, realizada na administração de Juscelino Kubitschek, dentro da
perspectiva de articulação entre o centro, os diversos núcleos suburbanos e municípios
vizinhos. As principais obras então realizadas foram o prolongamento da Avenida
Amazonas, dando seguimento ao traçado original da Comissão Construtora e visando
fazer a ligação com a Cidade Industrial e permitir uma melhor articulação com o
triângulo, Oeste e Sul de Minas; e a abertura das avenidas sanitárias Pedro I (atual
Antônio Carlos), possibilitando a integração com a Pampulha; Tereza Cristina, Pedro II,
Silviano Brandão e Francisco Sá.
Se o projeto global de urbanização proposto por Continentino não chegou a se
concretizar integralmente, vários outros projetos “localizados”, de iniciativa do governo
do estado ou prefeitura, consolidaram o processo de expansão da cidade, nos anos
40/50, constituindo-se em etapas importantes do desenvolvimento de uma prática
urbanística na cidade. Dentre esses, incluem-se os projetos de construção de novos
bairros de elite (Pampulha e Cidade Jardim), de uma Cidade Industrial e de uma Cidade
Universitária, além de projetos habitacionais desenvolvidos pelo poder público ou por
institutos de previdência.
O urbanismo higienista de Lincoln Continentino
Ao se analisarem as influências que atuaram sobre o engenheiro sanitarista
Lincoln Continentino, podemos dizer que elas têm origens diversas. Vários
especialistas, entre eles Thomas Adams, Anhaia Mello, George Mac Anemy, J. P.
Hynes, W. Brunner, George B. Ford e Nelson Lewis contribuíram para uma definição
que se procura elaborar a partir destas fontes sobre o que podemos denominar de
Urbanismo. Seus esforços iniciais se concentraram na tentativa de se elaborar uma
síntese a respeito desta disciplina:
Sem a preocupação de querer lançar mais uma definição, podemos explicar o urbanismo como sendo a sistematização e a coordenação de todas as funções municipais, ai abrangidos os serviços públicos e todas as atividades urbanas, orientadas no sentido do progresso material e social da comunidade e por conseguinte do bem estar dos indivíduos que nela vivem.22
Segundo ele, um Plano Geral de Urbanismo pretende “orientar o
desenvolvimento e crescimento da Urbs segundo normas pré-estabelecidas e indicadas
pela técnica e pela experiência como sendo as mais aconselhadas”.
O estudo da legislação existente, o levantamento cadastral da cidade, os estudos
das condições fiscais do meio ambiente e o conhecimento dos fatores de ordem
histórica, política, social e econômica constituem as ações preliminares indispensáveis à
elaboração de um plano geral de urbanismo, pois, assim, os técnicos especialistas
trabalharam com base na realidade de um determinado espaço.
Consciente de que a definição por si só não esgota o significado do termo,
Continentino afirma ser o conceito de urbanismo muito amplo, “abrangendo uma órbita
de ação bem mais extensa”, onde o planejamento urbano compreende basicamente três
etapas:
22 CONTINENTINO, Lincoln. O urbanismo, 1934.
1. Educação e propaganda;
2. Execução do plano de remodelação e expansão das cidades;
3. Legislação urbanística necessária para a consolidação do plano.
A primeira etapa consiste em difundir a idéia de organização espacial e a
necessidade de um planejamento regional entre todos os moradores da cidade,
objetivando um envolvimento da população com o processo de transformação da cidade
e um maior sentimento de responsabilidade com as áreas de moradia, com os centros
comerciais, avenidas e parques.
Lincoln Continentino nasceu em Oliveira, Minas Gerais, em 1900, e faleceu em
Belo Horizonte em 1976. Diplomou-se em engenharia civil em 1923 pela Escola Livre
de Engenharia de Belo Horizonte. Realizou curso de especialização em engenharia
sanitária da Universidade de Harvard, EUA, entre 1927 e 1929.
Teve atuação profissional intensa, como técnico e professor, particularmente nas
áreas de urbanismo e engenharia sanitária. Participou ativamente das discussões
referentes aos problemas urbanísticos de Belo Horizonte, entre os 30 e 60, insistindo na
necessidade de uma visão global para a resolução destes e na idéia de que é possível
planejar racionalmente a expansão da cidade. Foi autor da primeira proposta geral de
revisão do plano da Comissão Construtora de Belo Horizonte, a qual apresentou pela
primeira vez em 1935, continuando a desenvolvê-la nos anos seguintes. Sem nunca ter
sido totalmente implantada, ela embasou, entretanto, diversas intervenções públicas em
Belo Horizonte. As principais propostas contidas em seu Plano de Urbanização de Belo
Horizonte eram o estabelecimento de um sistema de grandes avenidas, ligando a zona
suburbana; a unificação das vias férreas operando na cidade; a reforma dos arruamentos
suburbanos de modo a adaptá-los à topografia; e a definição de um zoneamento para a
cidade e de um código de edificações.
Continentino desenvolveu vários projetos específicos para a cidade, como o
projeto para o bairro Cidade Jardim, esboçado desde 1937/38; o projeto para
reorganização do transporte ferroviário, organizado para o Movimento pela Retirada das
Linhas Férreas do Centro Urbano (MORFL), e o plano de reforço de abastecimento de
água para o município, com captação dos ribeirões Juca Vieira, Vermelho e Prata e dos
córregos Tinguá, Gainha e Brumado. Desenvolveu também inúmeros planos e projetos
para cidades do interior de Minas Gerais e de outros estados, como o de remodelação da
Estância Hidromineral de Araxá, cabendo-lhe a tarefa de orientar a organização do
plano de urbanismo elaborado pelo arquiteto-urbanista Aurélio Lopes (1933); o Plano
de Urbanismo da Fábrica Nacional de Aviões da Lagoa Santa (1938) e o da Colônia de
Lázaros Santa Izabel (1931-32), perto de Belo Horizonte. Particular destaque merece
sua participação, em 1934, no concurso para a escolha do plano urbanístico para a
cidade de Monlevade, promovido pela Siderúrgica Belgo-Mineira, do qual saiu
vencedor. Dentre os concorrentes encontrava-se também o arquiteto Lúcio Costa. No
final dos anos 50, desenvolveu planos de urbanização para Pirapora, Propriá, Penedo,
Juazeiro, Petrolina e Tremedal. Em 1968, elaborou o Plano de Turismo para a Serra da
Piedade, em Minas Gerais. No campo do transporte ferroviário, desenvolveu estudos de
traçado de ferrovias, como as ferrovias Belo Horizonte – Litoral, Belo Horizonte –
Porto de Setiba, Pico de Itabirito – Porto de Itacurussá e Belo Horizonte – Baia de
Mangaratina. Em 1962 desenvolveu o Plano São Francisco – Nordeste, de
aproveitamento integral do rio São Francisco, visando o desenvolvimento do polígono
das secas.
Como professor, foi responsável pelas cadeiras de higiene geral e higiene dos
edifícios e estabelecimentos industriais, saneamento das cidades e urbanismo na Escola
de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais; teve destacado papel na
formação de engenheiros sanitaristas, tendo sido fundador e diretor do curso de
engenharia sanitária e do Instituto de Engenharia Sanitária daquela universidade.
Participou de diversos eventos técnico-científicos em sua área, como o
Congresso Americano de Higiene, realizado em Bogotá, em 1938, onde apresentou tese
sobre saneamento rural, abastecimento d’água, esgotos, coleta de lixos e detritos; o I
Congresso, Brasileiro de Urbanismo, realizado no Rio de Janeiro, em 1941, onde
apresentou o Plano de Urbanização de Belo Horizonte; os Congressos de Saneamento,
realizados no Rio de Janeiro; o III Seminário de Professores de Matérias Relacionadas
com a Engenharia Sanitária, realizado em Belo Horizonte, onde apresentou o trabalho
Plano de Organização e Financiamento de Serviços Municipais de Saneamento no
Brasil.
Ocupou diversos cargos públicos. Foi engenheiro-chefe da Inspetoria de
Engenharia Sanitária da Diretoria de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais; diretor
do Serviço de Saneamento e Urbanismo da Secretaria de Viação e Obras Públicas do
estado de Minas Gerais e assessor técnico da Prefeitura de Belo Horizonte nas
administrações de José Oswaldo de Araújo, Américo René Gianetti e Celso Mello de
Azevedo, o que muito contribuiu para a implantação de várias das propostas de seu
plano de urbanização para a cidade. Foi membro da Comissão Técnica Consultiva de
Belo Horizonte, instalada em 1934, presidente da Campanha Nacional de Saneamento e
presidente do Conselho Técnico da Sociedade Mineira de Engenheiros. Integrou a
Comissão de Inventários para apurar as causas da ruptura da Barragem da Pampulha e
participou da Comissão Técnica responsável pela revisão dos planos e propostas para a
Cidade Universitária de Belo Horizonte.
Entre suas publicações, poderíamos citar:
CONTINENTINO, Lincoln de Campos. O problema da limpeza pública. Belo
Horizonte, 1932, Tese (livre-docente) da Escola de Engenharia da UFMG. 338p.
_______________ Pasteurização do leite; usina entreposto de leite de Belo Horizonte.
Belo Horizonte: s. e. 1933.
_______________ Organização de leprosários. Belo Horizonte s. e., 1933. Tese para o
Congresso de Lepra, publicado na Imprensa Médica n. 153 e 155.
_______________ Seção de administração municipal de urbanismo. Revista Mineira de
Engenharia v. 45, n. 4-5, p. 133, 1935.
_______________ Urbanismo, conferência realizada no Rotary Club em 1934.
Arquitetura. (1a). v.6, n.2, p. 23-29, 1935.
_______________ Cálculos referentes ao projeto de uma instalação para tratamento dos
esgotos de Belo Horizonte. Revista Mineira de Engenharia, v. 23, n. 2-3, p. 59-67,
1935. Publicação em inglês, em 1930.
_______________ Saneamento e urbanismo. Belo Horizonte: s.e., 1937, 375.,
Publicada novamente em 1958.
_______________ Tese apresentada ao Congresso Americano de Higiene de 1938.
Revista Mineira de Engenharia, v.8, n.4.p. 9-16, 1938.
_______________Curso de urbanismo Revista Mineira de Engenharia, v. 7-8, n.20-21,
p. 50, 1940.
_______________ O ensino da engenharia, a profissão e os problemas do engenheiro
no Brasil. Revista Mineira de Engenharia, v. 1-2, n. 16-17, p. 56-59, 1940.
_______________ Plano de Urbanização de Belo Horizonte. Revista Mineira de
Engenharia, v. 3,4, n. 25-26, p. 41-49, 1941.
_______________ Urbanização de Belo Horizonte e seu saneamento. Arquitetura e
Engenharia, v. 3-4. n. 30. p. 66-73, 1954.
_______________ Plano de retirada das linhas férreas do centro urbano. In: Revista
Mineira de Engenharia. XXV, n. 86, p. 33-37, 1964.
_______________ Barragem da Pampulha esclarecimentos do engenheiro Lincoln
Continentino. Belo Horizonte, 15 de maio de 1954.
_______________ Cidade Universitária: Memorial da Comissão Técnica de Revisão –
Legislação, contratos e pareceres sobre o planejamento e organização atuais. Belo
Horizonte: Estabelecimentos gráficos Santa Maria, 1955 (em colaboração).
_______________ Apostilas de engenharia sanitária. Belo Horizonte: Departamento de
Publicações do Diretório dos Estudantes de Engenharia, 1965, 163 p. e anexos. Cadeira
n.22: Higiene Geral, Higiene Industrial e dos Edifícios. Saneamento de Cidades.
Urbanismo. Curso de Engenharia Sanitária. (Publicação n.10.)
_______________ Proposta de criação do Ministério das Municipalidades. I
CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO INTERAMERICANA DE ENGENHARIA
SANITÁRIA (AIDIS) NO BRASIL. e v SEMINÁRIO DE PROFESSORES DE
MATÉRIAS RELACIONADAS CO ENGENHARIA SANITÁRIA / SEMINÁRIO DE
CONTROLE DA POLUIÇÃO DA ÁGUA. S.1.:s.e.,1960, 18 p.
_______________ Novo Plano de Capitação e Aduação d’água para Belo Horizonte.
Relatório apresentado ao Prefeito Amintas de Barros em 14 de dezembro de 1960. Belo
Horizonte: Escola de Engenharia da UFMG, 1961.
_______________ Higiene e Saneamento. Belo Horizonte: Escola de Engenharia, s.d.
_______________ Plano São Francisco – Nordeste: aproveitamento integral do Rio São
Francisco para o desenvolvimento intenso do polígono da secas no Brasil. Revista da
Escola de Engenharia da UFMG. Belo Horizonte: 1962.
_______________ Intensificação da campanha nacional de saneamento. Trabalho
apresentado. In: SEMINÁRIO DE ENGENHARIA SANITÁRIA. Campina
Grande, 1966.
_______________Aproveitamento preferencial dos mananciais das cabeceiras ou
bacias altas de rios pouco poluídos, para abastecimento de águas grandes cidades,
especialmente das metrópoles brasileiras. Trabalho apresentado. In: VI CONGRESSO
BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA. São Paulo, 1971.
O projeto da Colônia
Continentino afirma em sua apresentação do plano de urbanismo da Colônia
Santa Izabel que “não há motivo de ordem sanitária que justifique exagerado
afastamento entre os leprosários e as cidades, uma vez que a moléstia não se transmite
à distância e é incomparavelmente menos contagiosa do que as doenças infecciosas,
que habitualmente se tratam nas cidades”23. Entretanto, a colônia está localizada “no
município de Santa Quitéria, dentro de uma área de cerca de cento e vinte alqueires
geométricos a 45 Km da Capital do Estado, na direção da estrada de rodagem Belo
Horizonte – São Paulo, entre as localidades de Brumadinho e Sarzedo”24, sendo que
durante alguns anos não houve ocupação expressiva no seu entorno imediato.
Tal fato nos leva a crer que, apesar de a distância não ser um fator determinante
para a propagação da doença, era, na verdade, fundamental para o completo isolamento
social a que eram submetidos os doentes desta instituição. Sabemos que este isolamento
não seria eficaz se a Colônia estivesse inserida nas proximidades de um grande centro
urbano como Belo Horizonte, principalmente porque a idéia de se estar nas
proximidades de uma cidade poderia de fato multiplicar o número de fugas. Seguindo o
exemplo de outras colônias, que foram construídas isoladas das cidades, a Colônia
Santa Izabel é implantada distante de qualquer vila ou cidade, com um único acesso
controlado dia e noite e totalmente cercada com arame farpado. O convívio com os
familiares e a vida na sociedade passaram a ser apenas um sonho distante, que
dificilmente se alcançaria, pois, de acordo com Continentino:
O optimum de eficiência de um Leprosário é quando se consegue o isolamento, com a reclusão efetiva e contínua dos doentes. Assim, deve-se ter em vista criar um ambiente agradável aos doentes, sob todos os aspectos, que lhe seja um meio propicio, onde ele possa viver sem constrangimento, exercer suas atividades nas Oficinas, nas pequenas indústrias, na agricultura e ainda divertir-se, freqüentando o cinema, ouvindo o rádio, a vitrola, cultivando os esportes, mantendo convívio social recíproco, em reuniões e bailes, lendo e estudando na biblioteca os autores prediletos, congregando-se em cooperativas e sociedades beneficentes25.
Alguns fatores foram considerados:
23 CONTINENTINO, Lincoln. Plano de Urbanismo da Colônia Santa Izabel. 24 Idem, ibidem. 25 Idem, ibidem.
1. Localização em local desocupado, “onde sejam mínimas as oportunidades para
evasão”, ou seja, isolado e com barreiras naturais ou artificiais que impeçam as
fugas dos doentes;
2. O terreno deveria ser fértil e com área suficiente para cultivo de subsistências;
3. Fonte de abastecimento de água independente com vazão suficiente para o
abastecimento da Colônia;
4. Esgoto com rede independente e disponibilidade de um rio com vazão adequada
à dispersão do fluxo proveniente da Colônia;
5. A área deveria ser de baixa declividade, facilitando a implantação e evitando
grandes movimentos de terra.
Como nos diz o próprio Continentino, “o plano geral de um leprosário deve ser
semelhante ao de um sanatório para tuberculosos, vistos como os princípios gerais
aplicáveis ao moderno tratamento da tuberculose, compreendendo boa alimentação, ar
fresco, limpeza rigorosa, produzem os melhores resultados sobre os leprosos”.
O plano de urbanismo da Colônia Santa Izabel nos parece, de fato, muito
avançado para a época, aplicando um zoneamento detalhado no qual incorpora
conceitos de urbanismo “importados” das cidades-jardins inglesas e norte-americanas.
Tendo encontrado um terreno que fosse de encontro com suas prerrogativas,
Continentino desenvolveu o seu planejamento aproveitando todas as suas qualidades,
como a presença do córrego Bandeirinhas, como fonte de abastecimento de água, e do
rio Paraopeba, como grande canal de navegação e recebimento dos esgotos provenientes
da Colônia, além das grandes áreas de matas nativas nas margens dos cursos d’água e a
topografia pouco acidentada.
Em sua defesa do projeto podemos observar que o engenheiro sanitarista
caminha no sentido de criar condições para o tratamento da moléstia através de práticas
científicas, a partir de uma visão positiva do mundo. Nesse momento o serviço
hospitalar torna-se o coração, o motor de todas as engrenagens da instituição, através do
qual os pacientes alcançariam a cura e o retorno à sociedade. Apesar do terrível estigma
que sofriam os doentes, havia sempre a promessa de que aquele isolamento era apenas
uma passagem, onde eles seriam tratados e a doença seria eliminada.
Por outro lado, a administração interna da Colônia é entregue às irmãs de
caridade, talvez em decorrência de uma tradição no cuidado com os hansenianos ao
longo da história. Isto não deve ser visto como contraditório, muito pelo contrário, pois,
à medida que avança a doença, menos eficaz torna-se o tratamento pelo método
científico e nesse momento o apoio moral da instituição religiosa é de extrema
importância para assegurar o conforto humano necessário nos momentos críticos.
A conformação natural do terreno onde se encontra a Colônia Santa Izabel
assemelha-se a uma península, formada pelo rio Paraopeba e pelo córrego Bandeirinhas,
e foi valorizada pelo plano urbanístico, quando se propôs o acesso unicamente a partir
da estrada de Mário Campos, onde “as comunicações por estrada de ferro com a
Colônia são efetuadas pela Parada Carlos Chagas”, no quilômetro 594, onde a
diretora da Estrada de Ferro Central pretende construir uma estação distante quatro e
meio quilômetros da Colônia”26. O isolamento necessário acontece, desse modo, em
dois níveis. Primeiramente temos o isolamento do mundo da Colônia em relação ao
mundo da metrópole, no qual a distância contribuiu como barreira. O outro isolamento
do qual estamos falando é de outra natureza, separando a área dos sadios e a área dos
doentes, cujo elemento isolador é a vegetação, na forma de um parque linear.
Na execução do Plano de Urbanismo da Colônia Santa Izabel podemos perceber
a intenção do urbanismo de aproveitar a bela paisagem dos vales formados pelo rio
Paraopeba e pelo córrego Bandeirinhas, onde se procurou preservar as suas margens,
criando nestes espaços, de acordo com Continentino, “avenidas ajardinadas ou simples
jardins, com passagens para pedestres pelo interior dos mesmos”27. Os princípios
básicos presentes no planejamento das cidades-jardins influenciam Continentino nas
setorização dos diversos espaços, na arborização intensa das vias, projetadas com
largura de 15 metros, e na ocupação de apenas 25% da área total dos lotes28.
A concepção do plano não resulta em um bairro e sim em uma estrutura
autônoma e extremamente organizada, com todas as edificações e espaços
desempenhando um papel determinado na instituição. No que diz respeito ao
zoneamento, o plano em questão tem particularidades que merecem ser analisadas.
Dentro dos limites dos cursos d’água adjacentes, temos a maioria das edificações
projetadas, ficando fora deste perímetro o cemitério, a olaria, a pocilga e outras
edificações não construídas. De acordo com a descrição de Continentino, distante um
quilômetro do portão monumental temos a zona de administração, “na qual estão
situadas a residência do médico-diretor, o prédio da administração e internos, cinco
26 Idem, ibidem. 27 Idem, ibidem. 28 CONTINENTINO, Lincoln. Colônia de Lázaros Santa Izabel.
residências para o pessoal administrativo e reservatório de água, de concreto
armado”29.
A zona intermediaria, é na verdade, uma faixa de proteção de cerca de 300 metros de
largura30, onde estão dispostas algumas edificações estratégicas, como o laboratório de
pesquisa, a usina diesel elétrica, a farmácia e o posto policial. Continuando a descrição,
temos “o pavilhão de observações (para onde são enviados os portadores de casos
suspeitos, não confirmados, de lepra).
A zona dos doentes está “cercada com forte cerca de arame, e próximo desta, junto ao
seu portão de acesso, habitação de caridade”. Considerada como uma verdadeira
cidade com “arruamentos de 15 metros de largura, macadamizados lateralmente e
ajardinados ao centro”... “a direita da rua principal de entrada estão dispostos os
prédios do refeitório geral, da policlínica, do desinfectório, prédios para famílias,
constantes de casas germinadas para dez doentes casados, uma grande habitação
coletiva de mulheres, uma enfermaria e cinco casas para mulheres solteiras”31. Trata-
se do espaço que mais conservou suas características arquitetônicas originais,
permanecendo até hoje como principal lugar das atividades comunitárias.
O cemitério ocupa no projeto uma posição de destaque, estando situado em
terreno acidentado, no ponto mais elevado de toda a região, isolado de todas as outras
edificações, inclusive do velório. É estranha tal implantação, pois geralmente os
cemitérios são edificados nas proximidades das igrejas e em locais pouco acidentados.
O sistema viário é implantado no esquema ortogonal e não seguindo as curvas de
nível do terreno, por se tratar de uma topografia suave e por atuar como suporte à
implantação dos edifícios, criando dois eixos principais de circulação. A ortogonalidade
do traçado se atenua apenas nas proximidades dos cursos d’água, onde as ruas
simplesmente se transformam em caminhos de pedestres ao logo das suas margens, ou
terminam em cul-de-sac32. A utilização extensiva de cul-de-sac nos setores
intermediário e administrativo talvez se explique pelo caráter higienista deste plano de
urbanismo, onde o próprio autor afirma que “nos casos recomendáveis pela técnica é
eficiente, econômico e higiênico o sistema de arruamentos em cul-de-sac”33.
29 CONTINENTINO, Lincoln. O Urbanismo (1934). 30 Idem, ibidem. 31 Idem, ibidem. 32 Expressão utilizada para designar ruas-sem-saída. Nota da revisão em 2010. 33 CONTINENTINO, Lincoln. O Urbanismo (1934).
IV.3. A Colônia Santa Izabel em Betim
A Colônia Santa Izabel é um exemplo notório da política sanitarista adotada pelo
país na década de 20, direcionada para a erradicação de doenças contagiosas como o
mal de hansen, mais conhecido por lepra. Tratava-se praticamente de um ‘campo de
concentração’ da saúde, mantido pelo Estado, onde os portadores do contagioso bacilo
deveriam ficar isolados preservando a integridade física de toda uma população “não
contaminada”. O desenho urbano de Santa Izabel é peculiar e exclusivo de colônias
desta natureza, o que reflete a problemática da lepra no início do século, a qual resultou
em medidas sanitaristas de “cunho profilático”, e, por que não dizer, segregador.
O sítio
A Colônia Santa Izabel está localizada entre as coordenadas 20º00’0” –
20º02’30” de latitude sul e 44º15’00” 44º12’30” de longitude oeste. Encontra-se sob a
administração da FHEMIG – Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais – e os
limites atuais de seu território estão relacionados com a evolução da área de
atendimento da instituição ao longo dos anos.
A Colônia está implantada sobre um amplo vale, sendo que seus limites
alcançam três encostas adjacentes, bastante diferentes quando à declividade, área que
ocupam e a configuração urbana atual de cada uma. Dente os principais elementos
presentes na paisagem, o que mais se destaca é o cemitério, localizado em terreno
relativamente íngreme e com cota máxima igual a 750,00, ele está situado no extremo
oeste da Colônia. À margem do núcleo central da Colônia, isolado da malha urbana
principal, o cemitério domina a paisagem. Na direção de Citrolândia, temos a rua Padre
Damião, na qual se localizava uma das correntes de ferro que impedia a entrada de
forasteiros e contribuía com a idéia de exclusão da sociedade na qual viviam os
hansenianos. Esta rua parece ser hoje o principal acesso a partir de Citrolândia sendo
que o encontro com a avenida Dr. José Mariano pode ser considerado um dos limites da
área de estudo.
Ao norte, temos a comunidade denominada Nossa Senhora de Fátima, que ocupa
a encosta a partir do córrego Bandeirinhas. Nesta região temos várias residências de
antigos doentes e seus familiares, sendo a igreja implantada numa praça próxima do
córrego Bandeirinhas. Subindo a encosta temos a rua Frei Geraldo, que atua como um
divisor de águas com elevação máxima, localizada no fim da rua, de 745 metros. Este
nos parece o ponto máximo de abrangência do território da colônia ao norte.
Finalmente, temos o núcleo administrativo e hospitalar localizado num terreno
de baixa declividade e com a maior área urbanizada. Esta grande área ocupa os vales do
córrego Bandeirinhas e do rio Paraopeba, alcançando também a parte mais alta do
terreno, onde a avenida Prof. Antônio Aleixo passa a se chamar rua Miguel Pereira. Esta
via é, até hoje, o principal acesso a partir da estrada de Mário Campos, sendo que o
portal da colônia estabelece o limite de seu território ao leste. O córrego Bandeirinhas
estabelece um dos limites deste núcleo administrativo e hospitalar e ainda, ao fazer parte
de cada uma destas três diferentes áreas, certamente contribuiu para o cenário atual. A
ligação entre este núcleo central, o cemitério e a rua Padre Damião se dá por uma ponte
de concreto localizada no inicio da rua dos Bandeirantes. Na comunidade Nossa
Senhora de Fátima, o acesso é feito através de outra ponte de concreto situada no início
da rua Emílio Ribas. O rio Paraopeba banha a colônia na direção Leste – Oeste e pode
ser considerado o limite sul da região, assim como do município de Betim. À sua
margem, temos uma ocupação formada por arbustos presentes nos quintais de
residências da colônia e a cota mínima verificada é de 710 metros.
Assim como os limites, o caráter do entorno imediato da Colônia é de grande
importância para compreendermos sua evolução histórica. Se, por um lado, a região do
Citrolândia ocupa todo o território a oeste, com uma estrutura urbana bem definida, os
terrenos vizinhos situados ao norte parecem estar no início de um processo de
urbanização onde as ocupações clandestinas definem os contornos deste espaço. Ao
leste, temos algumas terras com culturas de feijão, milho e hortaliças para o
abastecimento local e regional; na porção nordeste uma pequena mata nativa cobre a
outra margem do córrego Bandeirinhas; e na parte sul pequenos produtores têm ocupado
uma grande área nas margens do rio Paraopeba, destruindo assim as matas
remanescentes e todo o ecossistema do rio.
O futuro da Colônia está profundamente condicionado às intervenções que estão
ocorrendo em seu domínio bem como fora dele. A ocupação indiscriminada de áreas
impróprias, bem como a destruição das matas de galeria nas margens do Rio Paraopeba,
têm alterado drasticamente este espaço, perdendo-se as idéias do plano urbanístico de
Lincoln Continentino e destruindo o patrimônio histórico que ainda existe.
A Colônia Santa Izabel
O Dr. Orestes Diniz, expõe em seu livro que Santa Izabel foi uma colônia criada
com o objetivo de erradicar o grande mal ao qual a sociedade estava exposto, e atrelado
a ele as pessoas doentes e seus familiares norteariam doravante as suas vidas:
...o pioneiro moderno da campanha contra a lepra em Minas Gerais foi o Professor Antonio Aleixo. (...) em seguimento a esse bem inspirado trabalho, coube ao professor Samuel Libanio, então diretor de Higiene, iniciar as medidas de profilaxia, cuja expressão maior se encerra na Lei nº 801, de 2 de setembro de 1921, criando a Colônia Santa Izabel, sendo sua pedra fundamental solenemente lançada em 12 de outubro de 1922. (...). Mandatário desta larga e sadia mentalidade, coube a mim, antigo e humilde auxiliar de professor Antônio Aleixo, a missão de dirigir a Colônia Santa Izabel, inaugurada a 23 de dezembro de 1931, estabelecimento projetado para assistência a 1.500 doentes, e atualmente já contando 830 internados...34
A professora Terezinha Assis desenvolve também o surgimento da Colônia
Santa Izabel e a sua inserção no cenário nacional:
A implantação da política estatal de assistência e isolamento dos hansenianos se concretizou com a construção das colônias que foram um total de 33 no Brasil, dentre elas, a de Santa Izabel em Betim. O início da construção de Santa Izabel data de 1922 e sua inauguração oficial, de 1931, segundo depoimento de Cordovil Neves de Souza morador de Citrolândia. A concepção de isolamento deixou de considerar que o doente tinha laços familiares e relações com a comunidade onde mora. Outro elemento de análise que se faz necessário é que a política oficial de caça ao doente criou um sentimento ... na sociedade em relação ao hanseniasmo, que o considerou por muito tempo,como um marginal a ser denunciado ao serviço de vigilância sanitária para ser caçado e confinado nas colônias. Esta situação se estendia também aos familiares.”35
No intuito de manter o bom funcionamento da máquina, com o passar do tempo
tornou-se mais prático utilizar a mão-de-obra local, evitando assim a difícil contratação
de profissionais, uma vez que a idéia do contágio da doença era muito difundida. Quem
teria coragem o bastante para trabalhar junto aos enfermos? Uma estrutura social de
trabalho peculiar se desenvolve:
A colônia adotou uma concepção de criação de atividades sociais, num primeiro momento. Em seguida, incorporou também o trabalho, para que os doentes não se sentissem ociosos. Aliado a essa situação havia também o temor de trabalhadores ‘sadios’ de irem para o local e contraírem a doença, reforçando a necessidade de mão-de-obra dos doentes, inicialmente, através de bolsa de trabalho.
34 DINIZ, Orestes. Do isolamento na lepra, p. 7-9. 35 ASSIS, Terezinha. A história da construção de Betim, p. 40-1.
Esses fatos impulsionaram a montagem de uma infra-estrutura econômica de produção própria, onde foram criadas olarias, serrarias, unidades de produção agrícola para cultivo e criação de animais com fins de abastecimento da colônia. Os pacientes foram utilizados como mão-de-obra barata (bolsa de trabalho) nas funções de serviços como policiais, pedreiros, serventes, marceneiros, carpinteiros, etc. Utilizou-se ainda como auxiliares de enfermagem para trabalhar junto com os profissionais de saúde.(...)36
Citrolândia
...Certo dia, às margens de um pequeno curso d’água, um enfermo internado colocou sua família para cuidar da terra e de umas poucas criações. Era não só um refúgio como excelente campo de trabalho, portanto fonte de renda suficiente para manter algumas pessoas. Ali, naquele sítio sossegado, os encontros furtivos podiam se fazer sem maiores dificuldades. Outra família, em condições semelhantes, veio se ajuntar e depois mais outras, em ritmo sempre crescente foram chegando, eis que estava constituído o arraial...”37
Resultante da política sanitarista implantada para a erradicação da lepra, a região
de Citrolândia surge como um ato contestador dos familiares dos enfermos, revoltados
com o descaso frente à real situação na qual todas aquelas pessoas estavam
condicionadas. Como diz Assis:
A origem de Citrolândia está intimamente ligada à Colônia e à política oficial que norteou sua implantação. O preconceito e a desinformação da sociedade em relação à hanseníase criaram no imaginário popular, sem distinção de classe social, um sentimento policialesco em relação ao paciente e seus familiares. Esta situação expulsou do convívio social os hansenianos e suas famílias, que foram invadindo terrenos próximos às colônias e se estabeleceram no local.38
A dinâmica de trabalho existente na colônia estende-se para o vilarejo que
surgira nas proximidades de Santa Izabel, onde os parentes e familiares dos enfermos se
alojavam, por discriminação existente na sua cidade e/ou grupo social, por desejo de
ficar próximo ao ente querido ou mesmo por vergonha da sociedade:
Citrolândia surgiu como uma comunidade de resistência na periferia da colônia, cujos moradores tinham íntimas relações com os pacientes. Essa situação gerou a produção das práticas de organização do trabalho e das relações sociais da colônia (...) não foi programado pelo poder público para surgir no local. Ela foi resultante da relação social, na época, entre os doentes e familiares com a sociedade nas suas cidades e locais de origem que expulsaram esse grupo para o isolamento. Os moradores de Citrolândia eram parentes dos pacientes, egressos por cura ou expulsão por indisciplina, pacientes que saíram para criar seus filhos por não aceitarem deixá-los no preventório.
36 ASSIS, Terezinha. A história da construção de Betim, p. 48. 37 DINIZ, Orestes. Nós também somos gente, p. 306. 38 ASSIS, Terezinha. A história da construção de Betim, p. 43.
A relação entre centro e periferia pode ser identificada devido à semelhança de problemas sociais enfrentados e às diferentes condições de solução entre os dois locais. Na colônia, os pacientes tinham tratamento, alimentação, habitação, financiados pelo governo, enquanto que, em Citrolândia, a população invadiu terrenos, não tinha infra-estrutura urbana, mas resistiu aos despejos para ficar perto dos iguais, isto é próximo das pessoas segregadas pela sociedade devido à hanseníase. Assim, Citrolândia ficou isolada da sociedade, tinha policiamento próprio, comércio próprio e os habitantes ‘sadios’ eram tratados pela sociedade com o mesmo preconceito dedicado aos hansenianos39.
Nota-se a formação portanto de outro núcleo segregado, Citrolândia, que se vê
obrigado a gerenciar a sua vida sócio-cultural e econômica, uma vez que não se tinha à
disposição toda a infra-estrutura propiciada pelo Estado à Colônia. Desenvolve-se uma
‘auto-gestão’ fraca, mas eficiente e centrada no interesse da população local.
Enquanto isso, a colônia se fez presente através de outras atividades. Havia os
esportes e a cultura religiosa, presente ainda nos dias de hoje. O futebol sempre
praticado destaca-se através dos clubes Minas e União. Há também o coral Tangarás de
Santa Izabel.
A vida cultural na colônia era intensa sendo que grande parte da mesma girava em torno do Cine Teatro Glória, do Clube Recreativo e do Salão de Jogos, situados no pavilhão Juiz de Fora. Havia sessões de cinema, festivais teatrais, ‘horas dançantes’ e bailes aos sábados e domingos, animados pelos conjuntos de jazz formados pelos rapazes da Colônia. No salão de jogos eram promovidos bingos e jogos que envolviam toda comunidade. (...) Em torno do Pavilhão havia também um dinamismo intenso. Era o local do ‘footing’, de encontros, onde aconteciam os flertes e os namoros que muitas vezes terminavam em casamento e filhos...40
Somado a isso, o esvaziamento da colônia se faz de forma crescente, uma vez
que os enfermos não mais precisam estar confinados para realizar o tratamento: “uma
camada média de profissionais liberais que retornam ao convívio familiar ou
reconstroem suas vidas longe dali (...) o fato irá influenciar no declínio da organização
das atividades culturais.41
Com o passar do tempo, a política oficial em relação às colônias foi se modificando bem como o avanço da ciência que desenvolveu medicamentos e conhecimentos sobre a hanseníase. O aparecimento da sulfona, como medicamento eficaz para a cura da doença, foi preponderante na mudança da concepção do tratamento, que passa a ser feito em dispensários (postos de saúde especificados). Essa situação explicita ainda uma nova concepção sobre o contágio que não é tão fácil de ocorrer como se imaginava no passado”42.
39 Idem, p. 49. 40 MENDONÇA e MODESTO. A memória betinense. Colônia Santa Izabel, rel., p. 39. 41 COLÔNIA SANTA IZABEL (anteprojeto de revitalização): FUNARBE / FUNDEP, p. 11. 42 ASSIS, Terezinha. A história da construção de Betim, p. 50.
A dinâmica da instituição se modifica, portanto, após a década de 60. Há uma
permissividade maior da instituição em se articular com os outros lugares urbanos.
Neste cenário, a colônia e Citrolândia mantêm estreita relação sócio-econômica e
cultural, ficando o núcleo histórico da cidade de Betim ainda tímido nas trocas urbanas.
Existe um fluxo migratório diário, quando pessoas de Citrolândia e outros locais
trabalham na colônia, e vice-versa, o que demonstra um processo urbano diferenciado
que esta região vem sofrendo, quando perde o seu caráter fechado e centrado numa
instituição totalitária.
O livro de Terezinha Assis traz relatos de vida que testemunham a origem do
bairro e abordam também o seu antigo nome, que segundo a autora, tem seu surgimento
explicado por duas versões. Uma seria alusão ao antigo proprietário de terras na região,
e a outra devido à cultura da fruta lima no local. Citrolândia: terra dos cítricos?
O atual nome é resultado de um projeto de um vereador eleito pela Colônia, aprovado pela Câmara Municipal. (...) começa seu povoamento ainda na década de 30, próximo do rio Bandeirinhas. Sobe a vertente que separa o córrego Bandeirinhas do córrego Goiabinha. No topo da vertente, está localizado o posto de saúde, a igreja, posto policial, algumas casas comerciais. Esta área foi o primeiro centro do bairro. Atualmente, o local está perdendo as características de centro e já começa a apresentar sintomas de decadência. Duas vilas descem a vertente do posto de saúde (...) No eixo da avenida Dr. José Mariano, da BR 381 até a Colônia Santa Izabel, está construída a parte mais antiga. A origem desta porção do espaço é resultante da invasão dos moradores. O traçado das ruas não obedece ao tradicional tabuleiro xadrez comum aos loteamentos aprovados pelas imobiliárias na prefeitura...43
43 ASSIS, Terezinha. A história da construção de Betim, p. 43-5.
V – Descrição e Análise do Bem Cultural
(hoje) ...considera-se a cidade como uma permanente produção cultural, que expressa a capacidade do homem em apropriar-se do território e dos espaços nele construídos... Tomada assim, a cidade é vista como um documento da história urbana, cuja leitura deve codificar os significados das marcas impressas no espaço urbano, como uma linguagem a ser decifrada e, sempre que possível enriquecida.44
Peculiar no seu traçado urbano e na lógica de sua implementação, a Colônia
Santa Izabel conforma de maneira singular um lugar de símbolos que denotam a
experiência de vida dos doentes hansenianos, onde os mesmos desencadeiam uma
produção histórica vinculada a um momento particular da saúde pública do país, quando
a bandeira de extermínio à lepra era então hasteada. Santa Izabel, desta maneira, encerra
um cenário notável, um momento particular na história do município de Betim. Os
lugares simbólicos expõem e participam do fervilhar da vida de pessoas numa dinâmica
inerente ao seu passado, modificados pelo fazer do presente e que desencadeia o seu
futuro.
Estrutura Sócio-urbana no Plano Original
Conformada segundo critérios rígidos, sanitaristas ao extremo, a lógica urbana
implantada na execução da Colônia pode ser notada no seu sítio ainda hoje. Havia todo
um estudo criterioso, modelado segundo experiências em colônias européias. Desejava-
se que as colônias fossem...
(...) cidades de leprosos com suas enfermarias para os enfermos em tratamento e para as enfermidades intercorrentes, pavilhões de observação, habitações para casados e solteiros, jardins, campos de esportes e recreação, zonas de agricultura, onde os enfermos pudessem desfrutar de ampla liberdade dentro dos limites estabelecidos pelo regulamento interno. (...) O aspecto de lindas urbanizações com avenidas e ruas transversais com árvores de ambos os lados, com campos de esportes, pracinhas e todas as casas e edifícios separados entre si por um pequeno jardim com uma extensão que varia de seis a dez metros...45
Santa Izabel era um exemplo a ser seguido, o modelo ideal de instituição, uma
utopia moldada na necessidade de resguardar a sociedade frente ao mal da lepra, mas
44 SILVA, Maria Beatriz S. R. Preservação na gestão das cidades. 1994. 45 PIMENTEL, Cecília. Informe de los estudos realizados en el Brazil y la Argentina, p. 26.
que ao mesmo tempo privava os enfermos do direito de exercer a cidadania, isolados da
cidade.
Em termos de infra-estrutura, a Colônia era praticamente auto-sustentável,
mantendo sistema de esgoto, captação de água e produção de energia elétrica, advindos
de uma represa do Córrego Bandeirinhas. Para a década de 30, era considerado um
avanço o seu traço urbano, que influenciou a reforma urbana do Rio de Janeiro,
conforme ASSIS, p.41.
...Além da infra-estrutura avançada para a época, foram construídos, ainda, equipamentos de lazer coletivo, como o cine-teatro Glória e os clubes recreativos. Refletindo a religiosidade, não poderia faltar a igreja para completar o quadro local...46
O principal critério norteador da implementação das colônias era a divisão do
sítio em três áreas: área dos doentes, área intermediária, áreas dos sadios; que por sua
vez eram ocupados por diferenciados grupos de pessoas: “... o professor Antônio Aleixo
incluiu no Regulamento Interno da Colônia Santa Izabel três classes de pensionistas:
‘A, B, C; tendo cada qual instalações especiais...”47
A subdivisão anterior em ‘classes’ refere-se na verdade à instalação que o
enfermo ocupará. Estas instalações especiais, que recebiam tais classes A, B, C
conformavam a lógica do tecido urbano. Eram elas: o Leprosário, o Dispensário e o
Parlatório. Um documento raro, encontrado na Biblioteca José Mariano, antigo Pavilhão
Patrocínio na Colônia, expõe muito bem a subdivisão ora mencionada:
(...) de acordo com normas já consagradas em administração de Leprosários o Estabelecimento é dividido em três zonas: 1- Sadia 2- Intermediária, 3 - Doente.(...). Na Zona Sadia: estão localizados os serviços gerais de administração, a residência do Diretor, Médicos e demais funcionários. (...) Na Zona Intermediária: Fica o Pavilhão de recepção, o Pavilhão de observação, o Parlatório e a Cozinha Geral. (...) Na Zona Doente: todas as edificações necessárias aos enfermos. (...)
ZONA SADIA
Casa do diretor, Casa dos Médicos, Administração, Almoxarifado, Residência dos
funcionários, garagem, padaria, escola Casa das Irmãs e Capela, Farmácia, Laboratório,
Usina;
46 ASSIS, Terezinha. A história da construção de Betim, p. 40-1. 47 DINIZ, Orestes. Do isolamento na lepra, p. 18.
ZONA INTERMEDIÁRIA
Pavilhão de Observação, Parlatório, Cozinha;
ZONA DOENTE
Pavilhão de diversões, Refeitório, Pavilhão para crianças, Pavilhão para moças,
Pavilhão para mulheres, Pavilhão para homens, Casas geminadas, Casas Isoladas,
Dispensário, Intendência, Hospital de Homens, Hospital de Mulheres, Igreja,
Necrotério, Praça de Esportes, Cemitério, Residências particulares, Caixa Beneficente,
Restaurante.”48
O documento anteriormente citado expõe da mesma maneira os outros
equipamentos urbanos e a infra-estrutura local, localização, bem como cita a questão do
trabalho, lazer, religiosidade e assistência financeira:
LOCALIZAÇÃO:
“... A Colônia Santa Izabel foi o primeiro leprosário-colônia inaugurado em Minas
Gerais (23/12/31) sendo, pois, realmente um marco inicial de todo o arcabouço anti-
leprótico que hoje possuímos. (...) É servida pela estrada de automóvel, pela Estrada de
ferro Central do Brasil, com uma estação (Mário Campos) a 4 quilômetros do
estabelecimento e pela Rede Mineira de Viação a 9 quilômetros (Betim).(...) é do tipo
agrícola, abrangendo uma área aproximadamente de 140 alqueires.” (p. 91).
INFRA-ESTRUTURA
“... A Luz do estabelecimento é fornecida pelo Departamento de água e energia elétrica
do Estado, através da usina de Betim. A água é captada num açude e por meio de
bambas lançada a um reservatório central de distribuição com capacidade de 120 mil
litros (...) O estabelecimento conta com uma rede de esgoto, construída em boas
condições sépticas, sendo os seus efluentes lançados no rio Paraopeba, após passar em
uma fossa depuradora O M S (...)”p.97
48 Arquivos Mineiros de Leprologia, p. 91-2.
MEIOS DE COMUNICAÇÃO:
Além das facilidades de transporte proporcionadas pela estrada de automóvel e por
duas vias térreas, o estabelecimento dispõe de Rede telefônica urbana e interurbana
(também para uso dos enfermos)e uma agência postal própria ...”p.97
ALOJAMENTO:
“... Para as mais variadas funções que a organização interna de um grande
estabelecimento do gênero de uma Colônia para hansenianos exige, o internado,
válido, presta sua valiosa cooperação à administração. Assim é que temos enfermos
exercendo as funções de intendente (prefeito), dentistas, guardas, chefes de guardas,
cozinheiros, enfermeiros, zeladores, faxineiros, mestres de oficina, bombeiros e muitas
outras funções, recebendo mensalmente do Estado, um ordenado que varia de
Cr$870,00 a Cr$80,00 ...”p.102
ASSISTÊNCIA FINANCEIRA:
“... Órgão de beneficência dirigido pelos próprios enfermos. As caixas quando bem
orientadas e administradas podem prestar magnífico auxilio
à direção dos Leprocômios principalmente na parte relativa à assistência social. No
ano de 1947 a Caixa Beneficente da Colônia Santa Izabel distribuiu Cr$28.596,50
entre os internados necessitados. A Caixa Beneficente incrementa o trabalho agrícola,
estimula a suíno-cultura, organiza aviários e ajuda com especial empenho a parte
relativa à pecuária.
Assim sendo, esta organização através de seus vários depositantes realiza um trabalho
de grande valor auxiliando sobremaneira a fixação do enfermo no leprocômio ...”p.102
ASSISTÊNCIA RELIGIOSA:
“... Em todas as Colônias existe um capelão e muitos dos serviços internos, quer de
Zona Sadia, quer da Zona dos Enfermos são entregues à orientação Irmãs de Caridade,
que com zelo e constância inexcedíveis procuram dar desempenho cabal a sua grande e
humanitária tarefa. As religiosas que servem à Colônia de Minas pertencem à
Congregação dos Filhos de Nossa Senhora do Monte Calvário”p.103.
Embora já apresentada toda esta infra-estrutura colocada, o numero de internos
aumentava, tornando-se necessária a construção de mais edifícios e melhorias. Era
comum a execução dentro da colônia de pavilhões financiados por outras cidades, que
abrigariam os enfermos provindos delas. Desta maneira Santa Izabel crescia de maneira
vertiginosa, e sempre planejava, pois havia projetos para todas as edificações
intencionadas:
Porém, para mais completo conforto dos doentes, propus no meu relatório do
ano próximo passado a construção de um sanatório na Colônia Santa Izabel,
cuja planta se acha em estudo pelo Dr. Lincoln Continentino, Inspetor de
Engenharia Sanitária do Estado de Minas Gerais. (...) Recentemente, a
Sociedade de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra, de Juiz de
Fora, fez doação à Colônia de um magnífico pavilhão de diversões, que se
acha em construção...49
A citação anterior trata da edificação do Pavilhão Mario Campos, para as
mulheres, de um outro pavilhão para os homens, não identificado, e do pavilhão Juiz de
Fora, que constitui na verdade Cine Teatro Glória. O Relatório da Diretoria de Saúde
Pública do Estado de Minas Gerais do ano de 193550 traz as seguintes colocações:
Construções inauguradas:
• Pavilhão de Divinópolis (a cargo do Prof. Antônio Aleixo)
• Pavilhão de Muriaé (construído pela Sociedade de Assistência aos
Lázaros e Defesa contra a Lepra de Muriaé).
• Casas Residenciais para casais, na Zona Doente.
• Casas Residenciais para funcionários, na Zona Sadia.
Construções em vias de Conclusão:
• Habitação coletiva do sexo feminino, com 300 leitos
• Habitação coletiva do sexo masculino, com 300 leitos
49 DINIZ, Orestes. Do isolamento na lepra, p. 18. 50 MINAS GERAIS. Relatório da Diretoria de Saúde Pública do Estado, p. 36-8.
• Obras da Igreja paralisadas por falta de verba.
• Construções necessárias:
• Água potável e tratada
• Necrotério
• Forno Incinerador
• Padaria
• Açougue
• Pavilhão para cirurgia
• Casas para funcionários
• Laboratório para fabricação de derivados de Chaulmougra
• Construção Agrícola
• Parlatório
Nota-se a instrução e o rigor no trato da erradicação da hanseníase, quando o
Estado era um articulador fundamental para o bom funcionamento da instituição.
Orestes Diniz define com as seguintes palavras o ‘lugar’ colônia de hansenianos:
A experiência de muitos anos de trabalho, o conhecimento dos traços psicológicos dos doentes, a observação de suas reações e de seu modo de viver, levam-me à afirmação de que em nenhuma parte estariam melhor do que nas colônias. São elas núcleos demográficos onde a igualdade é uma constante. Vivem ali usufruindo uma série de benefícios proporcionados pelos poderes públicos. As emoções humanas não são suprimidas e todos os direitos se conservam inalterados. A Colônia é para o hanseniano a terra de promissão, onde os dias são mais amenos e as alegrias mais francas, os prazeres e a segurança estáveis. A tranqüilidade mais real. (...) O tratamento que é a verdadeira finalidade desses estabelecimentos torna-se por isso mesmo acessório, dando margem a que muitos pacientes curados prefiram continuar isolados à contingência de enfrentar a vida lá fora, ao embate de incompreensões e de dificuldades de toda ordem (...)51
Estrutura Sócio-urbana atual
O espaço urbano relativo à conformação da Colônia Santa Izabel sofreu poucas
influências no seu tecido original dentro dessas seis décadas, pois se pode presenciar o
seu pertencimento a uma época que remonta ao início do movimento moderno no
Brasil, quando os novos paradigmas que direcionavam a arquitetura e o urbanismo
passam a vigorar. Deste modo, no sítio natural encontram-se edificações exemplares da 51 DINIZ, Orestes. Nós também somos gente, p. 68-70.
arquitetura proto-moderna, atualmente mal-conservadas e pouco cuidadas, embora não
descaracterizadas no seu conjunto. Esta situação se deve ao fato característico próprio
do lugar, uma colônia agrícola isolada, por isto desvinculada da lógica capitalista de
consumo e de transformação.
Não se pode dizer, no entanto, que a colônia pára no proto-moderno. Embora
sob restrições e controlada por uma direção interna com grande poder de autonomia, o
sítio sofreu processos descaracterizadores presentes em alguns lugares, principalmente
nas extremidades do sítio, quando se consideram as constantes inserções desordenadas e
sem planejamento de novas edificações. Estas são na sua maioria residências simples de
parentes ou enfermos, construídas com recursos próprios em terrenos cedidos; ou com
recursos do governo, sendo que estas últimas ocupam terrenos nos logradouros
conhecidos como ruas do estado.
A Colônia Santa Izabel apresenta ainda boa parte do seu desenho original, uma
malha quadrangular centrada na questão sanitarista, estruturada por uma lógica setorial,
onde o núcleo da colônia concentra a Zona Doente, estando esta separada da Zona Sadia
através da Zona Intermediária. Esta estrutura organizacional da implantação dos setores
se correlaciona diretamente com a gradação de risco de contágio que a endemia
apresenta, ou seja: Zona Doente, alto risco, Zona Intermediária, médio risco, Zona
Sadia, risco nulo. Em cada uma destas áreas encontram-se prédios conforme já descrito
no item 1 deste capítulo.
A Zona Doente é a região da colônia que melhor conserva o desenho original
urbano e a tipologia das edificações, estando os prédios quando existentes em mau
estado de conservação, mas isentos de ações descaracterizadoras, carentes no entanto de
reintegração e recuperação. Infelizmente dois pavilhões situados nesta zona são hoje
ruínas. São eles o Mário Campos, pavilhão feminino, situado na rua Emílio Ribas
esquina de Alan Kardec, atingido por um incêndio em 1997; e o pavilhão masculino,
situado também à rua Emílio Ribas, no extremo oposto ao Mário Campos. (Ver Análise
Urbana)
A Zona Intermediária apresenta hoje pouca expressão, sendo que a mesma
conforma na verdade um lugar de ‘transição’ entre as outras duas. Encontram-se nela
ainda o prédio do serviço de nutrição dietética (SDN), recentemente reformado para
atender as necessidades do disposto legal. As outras edificações existentes no local
foram aos poucos sendo incorporadas à Zona Doente, sendo que o mito do contágio
exacerbado da doença deixara de existir. Desta maneira, Correios, armazéns, farmácia e
padaria se integram no presente ao núcleo principal da colônia – antiga Zona Doente -,
dinamizando-o por concentrar não apenas a atividade específica para a qual ela fora
criada.
A Zona Sadia é aquela que mais descaracterizações apresenta. Resume na
verdade a região do bairro Monte Calvário, onde as residências dos funcionários e
médicos se localizavam. Apresenta hoje um sítio reordenado aleatoriamente, fugindo
daquela malha ortogonal existente na Zona Doente. Nota-se através de visitas de campo
ou análise de material cartográfico as diferenças no desenho urbano. São várias as
razões que justificam o estado atual desta área:
• O aumento de enfermos internados nos pavilhões acarreta num maior número de
pessoas que buscam residir nas imediações do sítio, trazendo como resultado a
criação de lugares desordenados, como o bairro de Citrolândia;
• A inexistência de pessoal técnico para inspecionar freqüentemente as ocupações
e checar sua legalidade, ou seja, autorização prévia da direção da instituição;
• O próprio lugar urbano, considerando o espaço periférico do mesmo;
• O esvaziamento das residências por parte dos funcionários, cuja maioria hoje
reside fora da colônia, incentivando assim a ocupação por pessoas sem vínculo
direto à instituição.
A ocupação indevida de terrenos dentro da colônia não chega a ser ato
descaracterizador do núcleo central do sítio, uma vez que as mesmas ocorrem em locais
de pouca densidade urbana, mas comprometem, entretanto, a conformação primeira do
lugar, uma vez que tais ocupações sem planejamento podem alcançar números
consideráveis, impactantes na medida em que é uma apropriação desordenada e sem
critérios urbano-ambientais.
Nota-se, portanto, que a Colônia sofre transformações evolutivas. Ela não parou
no tempo e tampouco se desarticula do mesmo. Há toda uma dinâmica no vivenciar
urbano:
• Um comércio pequeno, significativo para o lugar; onde se pode encontrar
farmácia, padaria, armazém, bazar e lanchonete;
• Há também serviços como postos dos Correios, uma estação de rádio local, uma
oficina de bicicletas, escola de1º e2º graus e agência de pagamento de benefício;
• A comunidade é assistida por duas Igrejas Católicas, uma Batista e ainda há um
Centro Espírita;
• Os finais de semana costumam ser agitados, quando pessoas de outros locais
visitam o lugar e gozam de festas e bailes que ocorrem no clube local;
• Há também o lazer esportivo, pois na colônia existem dois campos de futebol,
ambos gramados e em uso pela comunidade.
A Colônia Santa Izabel é hoje um bairro com características únicas, que apesar
da sua simplicidade e pouca infra-estrutura é auto-suficiente em determinados aspectos
de qualidade de vida, desvencilhando-se aos poucos do conceito para o qual fora criada,
uma colônia agrícola, mas que assiste de maneira humana os enfermos que procuram a
instituição ainda presente.
O tratamento da hanseníase alcançou evolução considerável, justificando
portanto a inadequação do sistema de internato em colônias agrícolas, o que reflete
diretamente na dinâmica urbana e social de Santa Izabel, que embora carregue o fato de
leprocômico é antes de tudo um legado único na história da hanseníase e de sua cura no
nosso país.
Anteriormente, lugar de excluídos: hoje, comunidade de pessoas que ainda
encontram dificuldades de ingressar novamente no ciclo natural da sociedade capitalista
e não podem ficar à margem do seu direito à cidadania.
Poderíamos inicialmente analisar o que consideramos ser o núcleo hospitalar e
administrativo da colônia. Nesta área a malha ortogonal é marcante e estrutura os
diversos elementos ali presentes. As duas vias principais estão dispostas
perpendicularmente entre si, sendo que articulam as principais funções da instituição,
além de atuarem como principais vias de acesso da colônia. De certo modo tais vias
atuam como setorizadoras, dividindo e organizando os espaços deste território.
Tendo início no largo da Matriz de Santa Izabel, a avenida Professor Antônio
Aleixo se tornou um verdadeiro eixo, estabelecendo uma hierarquia das edificações ao
longo de seu percurso: primeiro a igreja, depois a administração, o hospital, o
preventório e, mais deslocado deste centro, o parlatório, hoje em ruínas. Quase todas
estas edificações estão situadas na mesma face da avenida, sendo que do outro lado não
existe tal hierarquização, com exceção do parlatório, pois é ocupado por residências e
pela principal área de lazer da Colônia: o pavilhão Juiz de Fora, com o Cine-Teatro
Glória e salão de jogos. Os jardins que foram construídos ao lado deste pavilhão e em
frente da Caixa Beneficente contribuem para tornar o local mais belo. A partir da Casa
das Irmãs do Monte Calvário a avenida passa a ser denominada de Miguel Pereira,
dando continuidade ao eixo e tendo em seu percurso os edifícios da farmácia, da escola,
da oficina, do posto dos correios e da Capela do Monte Calvário. Tais construções, hoje
descaracterizadas e invadidas, faziam parte do sistema dando, entretanto, um caráter
menos institucional à via.
Outro eixo importante é a rua Emílio Ribas, que atravessa a Colônia no sentido
Norte – Sul, tendo em seu percurso edificações de destaque, como o hospital e o antigo
preventório. Tais edificações estão localizadas praticamente na interseção com a
avenida Professor Antônio Aleixo, tendo os pavilhões feminino e masculino uma
localização simétrica em relação à avenida, o que reforça a idéia de um rigor no
planejamento da instituição. O Estádio Dr. Orestes Diniz é outro destaque nesta via, por
se tratar de importante local de encontro dos doentes durante as competições e festas,
fazendo parte da memória coletiva da Colônia.
A ocupação nas margens do córrego Bandeirinhas é basicamente formada por
pomares, hortas e, ainda, alguns remanescentes da mata nativa. As suas águas parecem
estar com um nível de poluição muito alto, mas que ainda pode ser controlado,
possibilitando, assim, a utilização de seus recursos pelos moradores da região.
A comunidade de Nossa de Nossa Senhora de Fátima é constituída por um
conjunto de ruas que formam um polígono de cinco lados em torno de uma encosta
bastante acentuada, concentrando um pequeno comércio em torno da praça da igreja.
Através da rua Pio XII se chega à antiga Olaria, onde se fabricavam os tijolos utilizados
na construção de maior parte dos edifícios da Colônia. Depois de muito tempo
desativada, hoje está novamente em funcionamento.
A rua Padre Damião compreende um elemento urbano que se desloca do corpo
principal da Colônia, mas que mantém-se ligada a ela pela ponte sobre o córrego
Bandeirinhas. É praticamente plana e ocupada quase que totalmente pelas casas de
antigos hansenianos, com exceção de duas igrejas protestantes que estão presentes no
local.
O crescimento da Colônia para além de seu projeto original se deu de duas
maneiras. Primeiramente no núcleo central, juntamente com os edifícios públicos,
depois fora deste núcleo ao norte e ao leste em direção de Mário Campos. Sabemos que
muitos hansenianos se reabilitavam alguns anos após o internamento, mas,
impossibilitados de retornar ao local de origem pelo preconceito da sociedade, não
tiveram outra opção se não construir uma casa e morar dentro dos limites da Colônia.
Esta situação repetiu-se diversas vezes, tanto que hoje a maior parte de seus moradores
são antigos hansenianos que ali estiveram internados. Acreditamos que tais casos eram
previstos e que foram construídas casas para estas pessoas, mas a ocupação da outra
margem do córrego Bandeirinhas, na comunidade de Nossa Senhora da Fátima parece
não ter sido prevista em tal planejamento. Além disso, o crescimento populacional que
hoje ocorre em torno do núcleo central em direção a Mário Campos e mais ao norte,
pode ser preocupante num futuro próximo, principalmente devido ao fato de serem
ocupações clandestinas, sem nenhum planejamento.
VI – Medidas de Proteção Propostas – Enquadramento Legal
A proteção ao denominado patrimônio cultural mereceu da Constituição
Brasileira de 1988 referência explícita em alguns trechos, dentre os quais cabe destacar
o art. 216, onde se definem os termos e as formas de proteção:
Art. 216 – Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto e portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
I – as formas de expressão;
II – os modos de criar, fazer e viver;
III – as criações cientificas, artísticas e tecnológicas;
IV – as obras, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações
artístico-culturais;
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o
patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância,
tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
Em Betim, a proteção ao patrimônio cultural foi instituída pelas Leis Municipais
n. 2.944, de 24 de setembro de 1966, que “estabelece a proteção do patrimônio histórico
e artístico de Betim, atendendo ao disposto no artigo 166, V da Constituição Estadual e
Art. 161 da Lei Orgânica Municipal, e dá outras providências”; e n. 2.968, de 13 de
dezembro de 1966, que “cria Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Betim e
dá outras providências”.
Assim, considerando que o conjunto urbano da Colônia Santa Izabel pode ser
enquadrado na definição de “patrimônio cultural do município”, exposta no Art 1. da
Lei N. 2.944/96, que adapta a Constituição Brasileira de 88, sugere-se o seu
tombamento por parte do Conselho Deliberativo do Patrimônio, conforme os
procedimentos descritos na mesma lei, especialmente em seus parágrafos 3 a 12.
Para este tombamento, sugerem-se como limites aqueles definidos no projeto
original do engenheiro Lincoln Continentino, realizado nos anos 20 e implementado no
início da década de 1930, conforme mapa em anexo.
VII – Medidas Complementares
Para a proteção do bem cultural “Colônia Santa Izabel” recomenda-se ainda a
regulamentação dos mecanismos concernentes à mesma no Plano Diretor do município
e a formulação de um plano mais global de revitalização.
Regulamentação de mecanismos do Plano diretor do Município de Betim
O Plano Diretor de Betim, criado em 1966, enquadra o sítio da Colônia Santa
Izabel como terras do Estado localizadas na região de Citrolândia, município de Betim.
O presente documento aborda ainda em alguns de seus artigos a postura legal que
deverá ser doravante adotada pela administração.
O artigo 22 permite enquadrar a Colônia Santa Izabel como área de interesse
urbanístico, pois:
“ART. 22 – Constituem Áreas de Interesse Urbanístico:
I – AIU I – as áreas que deverão ser preservadas pelo seu valor histórico cultural;
II – AIU – as áreas que deverão ser revitalizadas ou reestruturadas pelo seu valor
como área de convivência e sociabilidade da população ou pelo seu estado de
degradação;[...]”
Os artigos 30 e 48 dispõem especificamente acerca da política de preservação e
revitalização defendida pelo presente documento
Art. 30 – Com o objetivo de valorizar a identidade local a região de Citrolândia deverá
se constituir num espaço privilegiado de recuperação, preservação e valorização do
patrimônio histórico cultural, em especial a região de Santa Izabel, e num espaço de
atividades urbanas diversificadas e de atividades agropecuárias e de lazer. [...]
Parágrafo 4º - O Poder Executivo deverá estabelecer um programa de preservação e
revitalização do patrimônio histórico da região de Santa Izabel. [...]
Art. 48 – O Município deverá proteger o seu patrimônio histórico cultural através de planos e programas de preservação, revitalização, recuperação e restauração de bens móveis, imóveis, sítios e conjuntos arquitetônicos e naturais [...]
Importa considerar ainda o Anexo III, onde a Colônia é classificada como Área
de Interesse Social I (AIS I), inserida na região de Citrolândia, mesmo sendo terrenos
do estado:
Art. 21 – Constituem-se Áreas de Interesse Social: I- AIS. I – as áreas destinadas a programas habitacionais para a população de baixa renda; [...]
Todos esses mecanismos deverão ser regulamentados, tendo em vista o
tombamento do conjunto urbano da Colônia Santa Izabel.
Revitalização da Colônia Santa Izabel
Importante referência histórica do município e do país, a Colônia Santa Izabel
representa um testemunho privilegiado da evolução do tratamento da hanseníase no
Brasil: do confinamento à tentativa de integração foram várias as estratégias adotadas,
que se refletem na própria configuração do conjunto. Assim, recomenda-se traçar-se um
plano visando a uma ação de revitalização urbana. Dentre as medidas a serem propostas,
pode-se sugerir a prioridade:
Cine-Teatro Glória
Realização do Dossiê de Tombamento do Cine-Teatro Glória objetivando a sua futura
restauração e reestruturação de todas as suas instalações. Tal medida visa dar condições
do Cine-Teatro Glória se tornar novamente local de manifestações artísticas e culturais,
além de tradicional ponto de encontro dos moradores da região.
Parlatório
Reconstrução do antigo Parlatório, hoje em ruínas, com o propósito de resgatar a
memória de um momento de grande importância para a Colônia Santa Izabel. A
edificação poderia abrigar o Memorial da Colônia Santa Izabel, pelo seu valor histórico
e cultural para aquela instituição.
Bosque das Chamougras
Realização de projeto paisagístico, dando condições da inserção do bosque no contexto
urbano, e elaboração de cartilha educativa, caso ainda não exista, objetivando a
conscientização da população local a respeito da história da hanseníase e de sua cura.
Sanatório Santa Izabel
Realização do Dossiê de Tombamento do Sanatório Santa Izabel, com o intuito de se
reestruturar seu espaço para um melhor aproveitamento de suas instalações.
Edificações invadidas
Estudar as edificações mais importantes para o patrimônio arquitetônico da Colônia e a
posterior realização do Dossiê de Tombamento destas edificações. Desse modo seria
possível a readequação do uso destas edificações.
IX – Referências Bibliográficas ASSIS, Terezinha. A História da Construção de Betim: SEGRAC, 1997 BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas I. Magia e Técnica, Arte e Política Brasiliense: São Paulo, 1986. BOSI, Alfredo. “Cultura como tradição”. In: FUNARTE. Tradição e Contradição na Cultura Brasileira. Rio de Janeiro, FUNARTE/MEC, 1985. BOSI, Ecléa. Memória e sociedade. Lembranças de Velhos. EDUSP: São Paulo, 1987. CARTA DE OURO PRETO. Ouro Preto, 1922 (mimeografado). CHAUÍ, Marilena. “Política Cultural, Cultura Política e Patrimônio Histórico”. In: O Direito à Memória. Patrimônio Histórico e Cidadania/DPH. São Paulo, DPH, 1922. CONTINENTINO, Lincoln de Campos. O problema da limpeza pública. Belo Horizonte, 1932, Tese (livre-docente) da Escola de Engenharia da UFMG. P. 338. ___________. Pasteurização do leite; usina entreposto de leite de Belo Horizonte. Belo Horizonte: s. e.,1933. ___________. Organização de leprosários. Belo Horizonte: s. e., 1933. Tese para o Congresso de Lepra, publicado na Imprensa Médica n. 153 e 155. ___________. Seção de administração municipal de urbanismo. Revista Mineira de Engenharia, v. 45, n. 4-5, p. 133, 1935. ___________. Urbanismo, conferência realizada no Rotary Club em 1934. Arquitetura. (1a). V.6, n.2, p. 23-29, 1935. ___________. Cálculos referentes ao projeto de uma instalação para tratamento do esgoto de Belo Horizonte. Revista Mineira de Engenharia, v. 23, n. 2-3, p. 59-67, 1935. Publicação em inglês, em 1930. ___________. Saneamento e urbanismo. Belo Horizonte: s.e., 1937, 375., Publicada novamente em 1958. ___________. Tese apresentada ao Congresso Americano de Higiene de 1938. Revista Mineira de Engenharia, v.8, n. 4, p. 9-16, 1938. ___________. Curso de urbanismo. Revista Mineira de Engenharia, v. 7-8, n. 20-21, p 50, 1940.
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IX – Documentação Cartográfica a e Fotográfica IX.1 – Documentação Cartográfica - Limites e Entorno Imediato - Ocupação das Edificações - Uso das Edificações - Estrutura Viária e Edificações Principais IX.2 – Documentação Fotográfica
X – Anexos
XI – Ficha Técnica