considerações prévias
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BIOGRAFIA DO AUTOR: ! Nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, em Novembro de
1922.
! Fez estudos secundários que não prosseguiu por dificuldades económicas.
! Começou a trabalhar como serralheiro mecânico, tendo depois exercido
variadíssimas profissões: desenhador, funcionário administrativo da Saúde e da Previdência
Social, editor, tradutor e jornalista.
! O primeiro livro publicado foi Terra do Pecado, em 1947. Após uma grande pausa, publicou, em
1966, Os Poemas Possíveis.
! Colaborou como crítico literário na revista "Seara Nova".
! Foi comentador político do jornal "Diário de Lisboa" (1972/73) e coordenou durante um ano
aproximadamente o suplemento cultural daquele vespertino.
! A partir de 1970, começou a escrever com mais regularidade publicando poesia, crónica e teatro.
Mas foi no romance, e com a sua original prosa, que se tomou um dos mais célebres escritores
portugueses do século XX. Os seus livros estão traduzidos em várias línguas e, pelo mérito
reconhecido da sua obra, tem recebido muitos prémios, reconhecimento que culminou em 1998,
ao ser galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.
A OBRA
MEMORIAL – […] Escrito em que se descreve qualquer coisa que se pretende guardar na memória. ( ... )
Escrito que relata factos memoráveis.
António de Morais, Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa, VoI III
Do CONVENTO - Convento de Mafra - Edifício português construído por ordem de D. João V entre 1717 e
1744, sendo o seu enorme custo suportado pelas remessas de ouro do Brasil. É obra do arquitecto João
Ludovice. O conjunto (convento e palácio) é marcado por um barroco já arcaizante e é para o tempo um dos
maiores da Europa.
Dicionário Enciclopédico da Língua Portuguesa, Edições AIfa
TIPOLOGIA DA OBRA
Memorial do Convento : Romance histórico?
SIM
• Recriação do tempo histórico;
• Descrição exaustiva dos espaços
físicos;
• Relato de episódios que surgem como
reconstituição de acontecimentos
históricos;
• A linguagem das personagens.
NÃO
• Recriação do tempo histórico com base
no presente;
• Os factos históricos permitem a crítica
ao tempo presente (o tempo da
escrita);
• A ação é centrada no relato de
acontecimentos realizados pelo povo;
• Os factos narrados conduzem o leitor a
uma reflexão sobre o que é narrado.
CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMPO HISTÓRICO – Reinado de D. João V
Marcou ainda este período:
• A construção do Aqueduto de Águas Livres, ainda que não tenha sido sua a iniciativa desta obra;
• A ação dos estrangeirados: o padre Bartolomeu de Gusmão, incentivado por este clima, inventou a passarola; Luís António Verney propôs uma reforma ao nível pedagógico com o Verdadeiro Método de Estudar.
• A criação da Real Academia Portuguesa de História;
• A presença da Inquisição.
CONTRACAPA
Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente
que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha
poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido. Era uma vez.
A fórmula inicial "Era uma vez" conduz-nos para um mundo fictício, o mundo da infância e dos
contos que ouvíamos atentos e maravilhados. A repetição, intencional e insistente, convida-nos a ler
e a entrar num mundo ficcional onde tudo parece imaginário, exceto, à partida, o convento que
sabemos existir em Mafra, e, certamente, o rei que viveu nessa época.
Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento, em Mafra.
O rei é D. João V (1689-1750). Filho de D. Pedro II e da rainha Maria Sofia de Neuburg, foi proclamado
rei em 1 de Janeiro de 1707 e casou no ano seguinte com a princesa Maria Ana de Áustria, de quem teve seis
filhos. O longo período do seu reinado foi muito debatido, entre opiniões opostas que o consideravam de boa
governação ou de péssima administração das riquezas que a descoberta e exploração das minas de ouro e
pedras preciosas no Brasil trouxeram então ao erário régio. ( .. .)
Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, voU, p.358
O rei fez promessa de levantar um convento em Mafra porque estava preocupado com a falta
de descendentes. Apesar de existirem bastardos, a sua pretensão era que a rainha lhe desse um
filho para suceder ao trono. O convento irá construir-se após o nascimento da princesa Maria
Bárbara, em cumprimento da promessa.
Era uma vez a gente que construiu esse convento
A gente que construiu o convento é o povo, o povo anónimo que trabalha e sofre às ordens
do rei, não só para cumprir a sua promessa mas também para satisfazer a sua vaidade. Personagem
coletiva muito importante, o povo construiu o convento à custa de muitos sacrifícios e vivia em
completa miséria física e moral. É um povo humilde e trabalhador, elogiado e enaltecido pelo autor,
que tenta tirá-lo do anonimato e o individualiza em várias personagens e também simbolicamente
atribuindo-lhe um nome para cada letra do alfabeto:
( ... ) é essa a nossa obrigação, só para isso escrevemos, torná-los imortais, pois aí ficam, se de nós
depende, Alcino, Brás, Cristóvão, Daniel, Egas, Firmino, Geraldo, Horácio, Isidro, Juvino, Luís,
Marcolino, Nicanor, Onofre, Paulo, Quitério, Rufino, Sebastião, Tadeu, Ubaldo, Valério, Xavier,
Zacarias, ... (Cap. XIX, p. 242).
É dentre o povo que surgem personagens como Francisco Marques, Manuel Milho, José
Pequeno e o par amoroso Baltasar e Blimunda. A Epopeia da Pedra é uma descrição belíssima e
pormenorizada sobre os trabalhos e as dificuldades que tiveram então para transportar uma pedra
enorme que se destinava à varanda situada sobre o pórtico da igreja e que viria de Pêro Pinheiro, a
cerca de quinze quilómetros de Mafra. Para transportar a pedra, foi preciso construir um enorme
carro que foi puxado por duzentas juntas de bois. A pedra tinha sete metros de comprimento por três
de largura e sessenta e quatro centímetros de espessura; pesava mais de trinta toneladas e levou
oito dias a ser transportada. Muitas peripécias aconteceram durante o percurso, mas o que se revela
de maior importância é o sofrimento dos homens:
( ... ) Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D. João V, por um voto que fez se lhe
nascesse um filho, vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que
pagam o voto, que se lixam, com perdão da anacrónica voz. (Cap. XIX, p. 257).
Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes
Baltasar Mateus é um mutilado de guerra, foi soldado na Guerra da Sucessão espanhola,
donde foi expulso por ter perdido a mão esquerda "estraçalhada por uma bala". É de Mafra e, quando
volta para Portugal, conhece Blimunda na procissão de um auto-de-fé em Lisboa, em pleno Rossio.
A partir desse momento, passam a viver juntos uma história de amor e paixão. Além de ser um dos
operários que trabalhou na construção do Convento, participa também na construção da Passarola.
Blimunda é filha de Sebastiana Maria de Jesus que ia, condenada ao degredo para Angola,
na procissão do auto-de-fé em que eles se conheceram. Blimunda é vidente, tem a capacidade de,
em jejum, olhar por dentro das pessoas e das coisas. Ajuda na construção da passarola, contribuindo
com os seus poderes mágicos na recolha das "vontades". Partilha com Baltasar as alegrias e as
preocupações da vida, mas sobretudo um amor verdadeiro, espontâneo e duradouro.
Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido
O Padre Bartolomeu de
Gusmão tinha um sonho, queria
voar e, para isso, construiu a
passarola. Tem a proteção e a
amizade de D. João V, mas nem isso
o livra da perseguição do Santo
Oficio. Realiza o seu sonho com a
ajuda de Baltasar, de Blimunda e do
músico Scarlatti. Acaba por morrer,
louco, em Toledo, para onde havia
fugido.