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ISBN: 978-85-93416-00-2
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS AFRICANAS E AFRO-
BRASILEIRAS NA WEB RÁDIO: UM PROJETO DE EXTENSÃO
Área temática: Educação
Ranna Alves1; Daniela Amaral Silva Freitas2
Resumo: Em função da demanda para se cumprir a Lei n° 10.639/03 –– que torna
obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileiras no ensino fundamental e
médio, das redes públicas e privadas de todo país –, o projeto de extensão Contação de
histórias africanas e afro-brasileiras: uma articulação entre literatura e tecnologia
desenvolvido na FaE/CBH/UEMG, teve como finalidade a criação de um programa
piloto de contação de histórias africanas e afro-brasileiras em parceria com a WEB
Rádio Paraíba 29. Desenvolvido de abril a dezembro de 2014, o projeto lançou mão de
procedimentos metodológicos que envolveu a pesquisa, a leitura, a seleção e a gravação
de histórias africanas e afro-brasileiras a serem disponibilizadas na internet, na
Radiotube. Assim, como resultado alcançado, pode-se apontar a criação de um
programa radiofônico (que conta com o acervo de cinco histórias a serem utilizadas nas
escolas) e que tem se mostrado como uma importante ferramenta pedagógica para se
trabalhar a temática das relações étnico-raciais.
Palavras chave: contação de histórias, relações étnico-raciais, web rádio.
1. Introdução
A contação de histórias é uma prática social de letramento que está presente em
diferentes tempos, espaços e culturas e pode ser definida como “arte milenar exclusiva
das sociedades humanas” (FARIAS, 2011, p.19). Entre os objetivos, benefícios e
vantagens de se contar e ouvir histórias, pode-se dizer que: desenvolve a imaginação
1 Aluna da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais (FaE/UEMG); Pedagogia;
Programa de Apoio à Extensão (PAEx). 2 Professora da FaE/UEMG; Pedagogia; Programa de Apoio à Extensão (PAEx).
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criativa e a oratória; amplia os conhecimentos sobre o mundo e a vida; estimula a
imaginação, a criatividade, a curiosidade e a ludicidade (FARIAS, 2011), entre outros.
Talvez por esses vários motivos, na educação, a contação de história se
apresenta como uma importante ferramenta do processo pedagógico. Professores/as,
bibliotecários/as e outros/as profissionais da educação têm, cada vez mais, se apropriado
dessa ferramenta em salas de aula e bibliotecas para: sensibilizar para a linguagem
literária, instaurar um espaço lúdico, formar o/a leitor/a, desenvolver a oralidade,
explorar algum conteúdo curricular, divulgar diferentes formas de se pensar e se
conceber o mundo, promover o conhecimento de diversos povos e culturas.
Assim, se, por um grande tempo, a contação de histórias deixou de ser alvo de
estudos e pesquisas na academia, atualmente, trata-se de algo “tão visível e notável que
as universidades se voltaram para este fenômeno estudando o renascimento da contação
de estórias em nossa cultura” (SANT’ANNA, 2011, p.14). Observa-se, pois, uma
profusão de cursos de contadores/as de histórias, assim como de eventos e encontros de
contação de história, e de uma diversificada bibliografia sobre o assunto
(SANT’ANNA, 2011). Afinal, percebeu-se que contar histórias “permite conquistas, no
mínimo, nos planos psicológico, pedagógico, histórico, social, cultural e estético”
(SISTO, 2007).
A contação de histórias, em algumas culturas, como as africanas, trata-se de uma
das mais importantes formas de divulgação e perpetuação de saberes, valores, tradições
e costumes de uma comunidade. Isso porque muitas sociedades africanas são
organizadas em função da oralidade, na qual a palavra, a fala desempenham uma
importante função social. Assim, a oralidade pode ser compreendida como o “meio de
transmissão de conhecimento de grupos e coletividades tradicionais, em particular,
aquelas que não registram seus fenômenos através da escrita” (BRASIL/MEC/SECAD,
2010, p.221).
Tal forma de comunicação é extremamente valorizada, uma vez que, nessas
“sociedades, as instituições, as normas, as regras, as leis são transmitidas pela fala,
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garante-se os direitos e as obrigações de cada um. A tradição e a memória difundidas
ligam o passado, explicam-no e justificam-no no presente e no futuro a ser construído”
(FONSECA, 2008, p.69). Também é valorizada a pessoa responsável por transmitir tais
conhecimentos, geralmente, a figura do ancião, considerado “o guardião desses saberes”
ou “griot” (FONSECA, 2008, p.69). Por meio dele, muitos saberes e muitas histórias de
diversas sociedades africanas puderam chegar até nós.
A difusão desses saberes e histórias têm se ampliado, principalmente após:
promulgação da Lei Federal de n° 10.639/03 – que altera a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional de n° 9.394/96 (LDBEN) – que tornou obrigatório o ensino de
história e cultura afro-brasileiras no ensino fundamental e médio, das redes públicas e
privadas de todo país; a regulamentação dessa mesma lei que se deu pelo Parecer
CNE/CP 003/2004 e pela Resolução CNE/CP 1/2004, que dispõem sobre as Diretrizes
Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História
e Cultura Afro-Brasileira e Africana e o fato de a Literatura ter sido citada como uma
das disciplinas que deveriam, preferencialmente, tratar dessa temática.
Tal contexto tornou “fundamental a edição de livros e de materiais didáticos
para diferentes níveis e modalidades de ensino” (SILVA; CAVALCANTI, 2010,
p.921), de materiais que abordassem “a pluralidade cultural e a diversidade étnico-racial
da nação brasileira, no sentido de retificar vários equívocos que estiveram presentes na
maioria das obras que circularam desde sempre neste país” (SILVA; CAVALCANTI,
2010, p.921). Assim, surgiu no mercado editorial um grande número de livros, entre os
quais destaco os de literatura infantil, que tematizavam as mais diferentes culturas
africanas e afro-brasileiras.
Todavia, apesar do grande número de títulos disponibilizados para a leitura,
ainda são poucas as práticas escolares que os envolvem, principalmente nas escolas
estaduais de Minas Gerais. Isso se deve a uma série de fatores, entre os quais pode-se
destacar a falta de: uma política pública efetiva que vise a distribuição de tal material
para as escolas; formação e conscientização de professores/as e profissionais da
educação quanto à legislação vigente que prevê o trabalho das culturas africanas e afro-
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brasileiras; compreensão de que a literatura infantil pode ser um importante meio de se
promover o conhecimento e a valorização de culturas africanas e afro-brasileiras.
Se, por um lado, faltam recursos governamentais para a aquisição de materiais
impressos para o trabalho em sala de aula, por outro lado, a mídia tem suprido um
pouco tal demanda, uma vez que cresce o número de alunos/as, professores/as e
instituições escolares que têm acesso a inúmeros recursos tecnológicos como
computadores, celulares, tablets entre outros artefatos. Neste âmbito, encontram-se
diversos materiais disponibilizados na internet, não apenas em formato de textos, mas
também em outros formatos que aliam imagens, áudios e vídeos.
Além do mais, a literatura do campo da educação e tecnologia tem mostrado a
necessidade de se repensar os rumos dos sistemas educacionais convencionais,
apontando para a possibilidade destes se reestruturarem, no sentido de explorar as novas
mídias, as novas redes de comunicação interativa e outras tecnologias, inclusive
incorporando tais dispositivos às suas práticas pedagógicas (LÉVY, 2000). Desse modo,
caberia às instituições escolares criarem novas pedagogias que favorecessem as
aprendizagens personalizadas, coletivas e em rede, nas quais professores pudessem
incentivar e mediar os processos de aprendizagem e os alunos pudessem atuar como
agentes ativos da construção do conhecimento (LÉVY, 2000).
A partir da realização do estudo sobre Rádios Educativas, desenvolvido em 2009
e articulado ao projeto de pesquisa “O Rádio: uma proposta de implementação de uma
rádio educativa na Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais”
o grupo de pesquisadores do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação,
Comunicação e Tecnologia (NECT) iniciou as pesquisas para a implantação de uma
mídia radiofônica para a FaE/CBH/UEMG. Um dos dados da pesquisa foi compreender
que uma vertente do Rádio que vem sendo bastante explorada no contexto atual é
padrão radiofônico veiculado digitalmente pela internet denominado de Web Rádio ou
Rádio-online. A partir deste entendimento, buscou-se sistematizar procedimentos para a
criação e desenvolvimento de uma WEB Rádio Educativa na FaE/CBH/UEMG,
intitulada WEB RÁDIO PARAÍBA 29, que teve sua pré-estreia em 2011 e estreia em
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2012, com uma programação informativa, com pano de fundo cultural, educativo e
comunitário.
Desde a sua criação, a WEB Rádio Paraíba 29 tem procurado não só socializar
os procedimentos necessários ao funcionamento deste tipo de mídia a outras
instituições, como escolas, entidades não governamentais e outras unidades
universitárias, como também desenvolver conteúdos com foco educativo, didático,
formativo e pedagógico. Nesse sentido, este projeto de extensão apostou que a WEB
Rádio poderia se mostrar como uma importante tecnologia mediadora das práticas de
ensino-aprendizagem ao articular o campo da literatura, especialmente no caso das
relações étnico-raciais, promovendo: a contação de história como prática de letramento;
o trabalho com a literatura infantil e a formação do/a leitor/a e as culturas africanas e
afro-brasileiras nas escolas.
Dado esse quadro, este projeto de extensão visou criar e organizar um programa-
piloto de contação de histórias africanas e afro-brasileiras – disponibilizadas em livros
de literatura infantil – que foi desenvolvido com apoio da WEB Rádio Paraíba 29, a
partir da criação de programas de cunho didático, educativo e pedagógico dentro do
formato proposto.
Com isso, com o suporte da equipe da WEB Rádio Paraíba 29, foi construída
uma proposta, a partir dos livros de literatura infantil, que relacionou a linguagem
radiofônica à contação de histórias, de forma a explorar as estratégias didáticas e
pedagógicas que estes recursos oferecem. Isso, com a meta de disponibilizar um
pequeno acervo de histórias literárias que tematizassem a cultura africana e afro-
brasileira, produzido pela equipe extensionista, por meio de um canal no RADIOTUBE.
Acervo este que, em um segundo momento, em um desdobramento do projeto, será
compartilhado com professores/as e profissionais da educação e, principalmente, com
escolas parceiras da rede estadual de ensino.
Portanto, tratou-se de um projeto interdisciplinar que previu a participação e a
integração de projetos de pesquisa/extensão/ensino que são/foram desenvolvidos em
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quatro núcleos de pesquisa da FaE/UEMG, quais sejam: Núcleo de Estudos e Pesquisas
sobre Educação e Relações Étnico-Raciais (NERA) e Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Educação e Linguagem (NEPEL); Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação,
Comunicação e Tecnologia (NECT); Núcleo de Estudos e Pesquisas em Filosofia,
Sociologia e Educação (NEPFSE). Além desses, este projeto ainda se integrou à
pesquisa em rede intitulada “Ensinar qual língua, ler qual literatura: identidade, relações
etnicorraciais e diversidade sociocultural na produção literária, em documentos oficiais
e nos manuais escolares em países de língua portuguesa”, que tem apoio do CNPq e que
congrega pesquisadores/as de várias universidades do Brasil e do exterior.
Por fim, vale acrescentar que o público-alvo deste projeto de extensão foi:
alunos/as de graduação da FaE/UEMG; professores/as, bibliotecários/as e demais
profissionais da educação interessados nas temáticas envolvidas neste trabalho, quais
sejam: literatura, contação de histórias, relações étnico-raciais e uso das tecnologias da
informação e comunicação em espaços educativos e escolares. O objetivo geral deste
projeto foi criar e organizar um programa-piloto de contação de histórias africanas e
afro-brasileiras – disponibilizadas em livros de literatura infantil – a ser desenvolvido
com apoio da WEB Rádio Paraíba 29, a partir da criação de programas de cunho
didático, educativo e pedagógico.
Todavia, outros objetivos, secundários, foram também delineados, quais sejam:
a) trabalhar, no eixo Literatura, histórias de diferentes culturas africanas e afro-
brasileiras, disponibilizadas em livros de literatura infantil, de modo a dar cumprimento
à Lei nº10.639/03 e a promover a formaçãodo/a leitor/a e/ ou ouvinte, sensibilizando-o/a
para a linguagem literária; b) integrar projetos de pesquisa, extensão e ensino realizados
na FaE/UEMG, de modo a promover a interdisciplinaridade e o fortalecimento dos
Núcleos envolvidos; c) promover a capacitação, a formação e a qualificação de
estudantes-bolsistas e demais estudantes interessados/as, no que se refere: às técnicas e
estratégias de contar histórias; à utilização da web rádio universitária como meio de
difusão de conhecimentos didático-pedagógicos; ao trabalho com a história e a cultura
africana e afro-brasileira; d) produzir um acervo de histórias literárias e disponibilizá-las
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por meio de um canal no RADIOTUBE, a fim de compartilhar conteúdos educativos e
pedagógicos relacionados à história e a cultura africana/afro-brasileira com
professores/as, profissionais da educação e escolas parceiras da rede estadual de ensino;
e) promover oficinas e/ou mini-cursos abertos à comunidade, visando a formação de
professores que já atuem ou atuarão na educação básica, no que se refere à contação de
histórias e ao trabalho com a Lei nº10.639/03 nas escolas.
Assim sendo, o objetivo deste trabalho é como se deu o desenvolvimento do
projeto de extensão Contação de histórias africanas e afro-brasileiras: uma articulação
entre literatura e tecnologia, desenvolvido na Faculdade de Educação, Campus Belo
Horizonte da Universidade do Estado de Minas Gerais (FaE/CBH/UEMG), durante o
ano de 2014. Para isso, o texto está dividido, a partir de então, em três partes:
primeiramente será apresentada a metodologia utilizada e como se deu seu
desenvolvimento; em seguida, serão apresentados resultados e discussões, e por fim,
algumas considerações finais.
2. Material e Metodologia
Durante toda a duração do projeto, foram realizados encontros semanais com a
finalidade de: estudar e discutir as técnicas e estratégias de contação de história, a
temática das relações étnico-raciais na educação e a linguagem literária e a formação
do/a leitor/a; ler e selecionar histórias africanas e afro-brasileiras que seriam contadas e
gravadas; estruturar e ensaiar a contação de história, com especial atenção para a
formação da estudante-bolsista. A gravação das histórias selecionadas, foi realizada pela
equipe extensionista de produção, no Espaço POIESIS do NECT, um laboratório que
dispõe de uma estrutura adequada para a gravação e produção de programas de rádio
(com mesa para captação de som, microfones e outros recursos de edição de áudio) e de
um pequeno estúdio (com vários computadores com os softwares necessários ao
funcionamento da WEB Rádio). Foram também realizadas ações de formação de
professores/as e profissionais da educação interessados/as em incluir a contação de
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histórias pelo Rádio em suas práticas pedagógicas. E por fim, foi elaborado um acervo
de histórias de literatura infantil africana e afro-brasileira produzidas por meio da
linguagem radiofônica, em um canal no RADIOTUBE.
Com relação a cada uma das atividades desenvolvidas e seus desdobramentos,
pode-se pontuar que a primeira ação executada foi o levantamento bibliográfico
referente às áreas articuladas do projeto: contação de história, literatura infantil, relações
étnico-raciais e tecnologia, com o objetivo de verificar estudos e pesquisas relacionados
e, consequentemente, fundamentar o projeto extensionista, possibilitando seu
desdobramento em futuras pesquisas. Tal levantamento foi feito tanto em bibliotecas
universitárias, quanto em periódicos disponibilizados eletronicamente. A partir desse
levantamento e de indicações da coordenadora3 do projeto é que foram definidos os
textos para leitura e estudo.
A realização da seleção das histórias de literatura infantil africana a afro-
brasilerira teve como objetivo definir quais seriam disponibilizadas na WEB Rádio
Paraíba 29 e no canal RADIOTUBE e a busca e leitura das histórias foram realizadas
em espaços públicos – como a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa e a Biblioteca
Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte – e on-line, como em sites que
disponibilizavam os livros literários para a leitura. Tal ação se deu uma vez que há um
amplo repertório de histórias africanas e afro-brasileiras e que nem todas se adéquam
aos objetivos do projeto de extensão que é de trabalhar essas culturas, educando para as
relações étnico-raciais.
Com relação à adequação das histórias a serem gravadas de acordo com os
recursos da contação de história (entonação, sonoplastia, ritmo, jogo de vozes...) e da
rádio (tempo, equipamentos, tecnologias...), tal ação foi desenvolvida por meio de
oficinas e laboratórios de leitura das histórias. Tal atividade teve o objetivo de estudar
3 A Profª. Drª. Daniela Amaral Silva Freitas, em sua tese de doutorado intitulada Literatura infantil dos
kits de literatura afro-brasileira da PBH: um currículo para ressignificação das relações étnico-raciais?,
investigou 161 títulos de livros de literatura infantil que foram distribuídos nos kits de literatura afro-
brasileira da Prefeitura de Belo Horizonte para todas as escolas municipais.
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as especificidades de cada uma das linguagens (literatura e rádio) e de propiciar uma
articulação entre elas.
A aprendizagem e manuseio da tecnologia para disponibilização das histórias na
WEB Rádio Paraíba 29 e no RADIOTUBE se deu, principalmente, no começo do
projeto. No espaço POIESIS, foram organizadas aulas e laboratórios mensais para
aprendizagem do funcionamento da WEB Rádio Paraíba e demais tecnologias
necessárias à realização do projeto. A aluna-bolsista, com o tempo, começou também a
fazer parte da equipe responsável pela produção e veiculação dos programas na rádio.
Com relação à gravação e à disponibilização das histórias na WEB Rádio
Paraíba 29 e no RADIOTUBE, elas se deram em um momento posterior ao previsto,
uma vez que houve mudanças na coordenação da WEB Rádio Paraíba 29, o que
acarretou um pequeno atraso. Todavia, todas as histórias se encontram disponíveis para
audição no seguinte endereço
eletrônico:<http://www.radiotube.org.br/buscar.php?b=historias+daqui+e+de+l%E1&x
=0&y=0>.
Foi incentivado que a aluna-bolsista participasse de vários eventos acadêmicos.
Tal ação visou aprimorar a formação acadêmica da estudante, propiciando uma melhor
base teórica nas áreas de conhecimento trabalhadas no projeto. Assim, além de
participar das reuniões de estudo orientadas pela coordenadora do projeto, a aluna
passou a fazer parte, de forma voluntária (em julho de 2014), e a participar das reuniões
de formação do Programa de Educação Tutorial (PET) – “Formação docente para o
trabalho com relações étnico-raciais na educação infantil: uma proposta de
fortalecimento acadêmico e de combate às desigualdades raciais”. Acrescenta-se a isso,
a participação da aluna nos seguintes eventos:
Palestra “Educação das relações étnico-raciais e o ensino das
africanidades”, em 10 de maio de 2014, realizada na Faculdade Isabela
Hendrix;
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“Oficina da WEB Rádio”, em 21 de maio de 2014, realizada no
Laboratório de Informática da Faculdade de Educação da UEMG;
Palestra “Rediscutindo a mestiçagem”, com o Professor Kabengele
Munanga, em 27 de agosto de 2014, realizada na Faculdade de Educação
da UFMG;
Oficina de contação de histórias, intitulada Narração de Histórias: a
primeira palavra, em 19 de setembro de 2014, realizado na Faculdade de
Educação da UFMG;
V Colóquio Projeto Mala de Leitura, em 25 de setembro de 2014,
realizado na Faculdade de Educação da UFMG;
16º Seminário de Pesquisa e Extensão da UEMG, com a apresentação do
banner: “Contação de histórias africanas e afro-brasileiras: a web rádio
como recurso pedagógico para se trabalhar a lei nº 10.639/03”, realizado
de 19 a 21 de novembro, na Escola de Design;
I Seminário Nacional Afirmação das Diversidades: relações étnico-
raciais, gênero e inclusão de PNE's na sociedade brasileira, com a
apresentação do trabalho: “Histórias de lá e de cá: contos africanos e
afro-brasileiros nas ondas da web rádio”, realizado de 01 a 05 de
dezembro de 2014, no CEFET-MG;
3. Resultados e Discussões
Como resultados alcançados, pode se apontar a criação de um programa
radiofônico, que recebeu o nome de “Histórias daqui e de lá: contos africanos e afro-
brasileiros”, que foi cuidadosamente preparado e já se encontra disponível para ser
ouvido por qualquer internauta, e que conta com o acervo de 5 histórias: “A árvore de
cabeça para baixo (uma história da Costa do Marfim)”, de Georges Gneka, do livro A
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semente que veio da África4; “Por que as águias matam as galinhas”, de Júlio Emílio
Braz, do livro Lendas da África5; “Povos Africanos”, de Zuleika de Almeida Prado, do
livro Mitos da Criação6; “Como o rei de Ejibô passou a se chamar Papa-Purê-de-
Inhame”, de Reginaldo Prandi, do livro Xangô, o Trovão7; “Os dezesseis príncipes do
destino e as histórias do destino”, de Reginaldo Prandi, do livro Os príncipes do
destino: histórias da mitologia afro-brasileira8, que tem se mostrado como uma
importante ferramenta pedagógica para se trabalhar a temática das relações étnico-
raciais.
Este projeto de extensão, que envolveu também ações de ensino e pesquisa,
contribuiu não só para a formação da aluna-bolsista, pois proporcionou o
desenvolvimento de múltiplas competências através das experiências vivenciadas na
participação em eventos, apresentação de trabalhos, escrita científica de relatórios,
artigos etc. Possibilitou também uma maior divulgação, entre a comunidade acadêmica,
sobre a prática de contação de histórias, sobre a lei n° 10.639/03 e sobre a importância
de se trabalhar a história e a cultura africana e afro-brasileira desde a educação infantil.
Nesse sentido, foi promovido um Sábado Temático, aberto à comunidade
acadêmica, no dia 29 de novembro de 2014, cujo título foi: “A contação de histórias
como prática para a educação das relações étnico-raciais na Educação Infantil”. Os
objetivos deste evento foram os de: conscientizar docentes e alunos/as do curso de
Pedagogia para a necessidade de se trabalhar as relações étnico-raciais em espaços
educativos e apresentar alguns recursos para a realização desse trabalho e apresentar a
contação de histórias como recurso importante para resgatar a história e a cultura
africana e afro-brasileira. Os resultados alcançados com este evento foram: desenvolver,
em âmbito institucional, um evento que promovesse a sensibilização e o
desenvolvimento de atividades críticas, tendo por objetivo a valorização da diversidade
4 Disponível em: <http://www.radiotube.org.br/audio-3426ZwUusE8HK>. Acesso em 13 fev. 2015. 5 Disponível em: <http://www.radiotube.org.br/audio-3426o682M3ldC>. Acesso em 13 fev. 2015. 6 Disponível em: <http://www.radiotube.org.br/audio-3426mEap1iYAD>. Acesso em 13 fev. 2015. 7 Disponível em: <http://www.radiotube.org.br/audio-3426uxR7ll8ew>. Acesso em 13 fev. 2015. 8 Disponível em: <http://www.radiotube.org.br/audio-34262poNkOiX0>. Acesso em 13 fev. 2015.
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racial; contribuir para a formação dos/as alunos/as do curso de Pedagogia, ao debater a
Lei n.10639/03 (ausente do currículo oficial da FaE/UEMG) que afirma a
obrigatoriedade de se trabalhar a história e a cultura africana e afro-brasileira nas
escolas públicas e particulares de todo o país; subsidiar o trabalho com a legislação na
escola, ao apresentar materiais organizados pelo Ministério da Educação e pelo Centro
de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades, voltados, principalmente para a
Educação Infantil.
Além disso, o projeto de extensão proporcionou suprir consideravelmente uma
considerável lacuna do currículo da FaE/CBH/UEMG em relação à temática étnico-
racial, uma vez que foram produzidos programas de rádio que contribuem de forma
efetiva para o trabalho de professores na sala de aula. Assim, tal projeto visa atender o
disposto no Parecer CNE/CP 3/2004, que prevê, entre outras medidas, a inclusão de
conteúdos referentes à educação das relações étnico-raciais, de conhecimentos de matriz
africana e/ou que dizem respeito à população negra.
Por fim, como última ação do projeto de extensão, pode-se dizer que foram
elaborados e entregues o relatório parcial e final com o objetivo de cumprir as normas
previstas no Edital do PAEx. Considera-se que, tal ação, além de devolver para a
comunidade o relato de como foi desenvolvido o projeto de extensão, permitiu um
movimento de reflexão e reavaliação de tudo o que foi produzido no decorrer do
projeto.
4. Conclusão
O objetivo central do projeto de extensão Contação de histórias africanas e
afro-brasileiras: uma articulação entre literatura e tecnologia era o de criar e organizar
um programa-piloto (de cunho didático, educativo e pedagógico) de contação de
histórias africanas e afro-brasileiras – disponibilizadas em livros de literatura infantil –,
desenvolvido com apoio da WEB Rádio Paraíba 29 e disponibilizar histórias da
literatura infantil que abordassem diferentes temas da cultura africana e/ou afro-
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brasileira. Nesse sentido, pode-se afirmar que o objetivo foi totalmente alcançado, e
para além do objetivo inicialmente traçado, acompanhando de cada história gravada e
disponibilizadas no canal da RADIOTUBE, há um pequeno texto que: informa o nome
da história, o livro do qual foi retirada e o nome do/a autor/a; explica um pouco sobre o
assunto tematizado na história; apresenta e contextualiza o projeto. Em suma, este
projeto de extensão contribuiu para: a consolidação da WEB Rádio da FaE/UEMG; uma
maior divulgação das histórias africanas e afro-brasileiras para a comunidade acadêmica
da FaE/UEMG e da comunidade em geral com acesso à internet; formação do/a
professor/a e do/a graduando para o trabalho com a literatura e as relações étnico-raciais
na escola e para a formação acadêmica da aluna-bolsista.
5. Referências
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