contaminação por nh3
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
CAMPUS CATALO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU EM GEOGRAFIA
GEOGRAFIA E ORDENAMENTO DO TERRITRIO
MARLY O FARRILL MARTINEZ
MEIO AMBIENTE E SADE DO TRABALHADOR:
processos de contaminao por amnia na produo de nquel em
Niquelndia (GO)
CATALO (GO)
2012
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MARLY O FARRILL MARTINEZ
MEIO AMBIENTE E SADE DO TRABALHADOR:
processos de contaminao por amnia na produo de nquel em
Niquelndia (GO)
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao
Stricto Sensu em Geografia da Universidade Federal de Gois, Campus Catalo, como requisito para a obteno
do ttulo de Mestre em Geografia.
rea de concentrao: Geografia e Ordenamento do Territrio
Linha de Pesquisa: Estudos Ambientais
Orientador: Prof. Dr. Manoel Rodrigues Chaves
CATALO (GO)
2012
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Ao meu companheiro, pelo estmulo, carinho e
compreenso. E aos meus filhos, como
exemplo de luta e dedicao.
AGRADECIMENTOS
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Universidade Federal de Gois, Campus Catalo, pela oportunidade de realizar
este curso.
A Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Gois (FAPEG), que financiou a
minha pesquisa, possibilitando uma maior dedicao.
Aos meus pais, por tudo que me ensinaram e tambm pelo respeito ao prximo
sempre exigido pelo meu pai, o qual me ensinou defender aqueles que buscam a justia e a
simplicidade, porm no sabem como alcan-la.
Quero deixar aqui registrado o meu agradecimento ao meu companheiro, esposo e
amigo que soube respeitar a minha deciso e compreender as minhas ausncias em busca da
realizao de meu sonho.
Sou grata aos professores que me receberam com carinho e que me ajudaram no
aprendizado, com toda dedicao e compreenso, incentivando a importncia da busca pelo
conhecimento cientfico, motivando, em todo momento, novas pesquisas, aguando a minha
curiosidade para buscar novos autores para me auxiliaram na fundamentao terica da
pesquisa.
Agradeo de todo o meu corao dedicao e compreenso do professor Manoel
Rodrigues Chaves, que me amparou em minhas dificuldades desde o momento que entrei na
Ps-graduao em Geografia, rea desconhecida para mim at aquele momento. Esse
expoente me incentivou, ensinando-me a buscar respostas para as minhas dvidas, que eram
muitas.
A todos os professores do Mestrado, sendo que no poderia deixar de fazer
agradecimentos especiais aos mestres: Idelvone Mendes Ferreira, Marcelo Rodrigues
Mendona, Helena Anglica de Mesquita os quais muito contriburam e incentivaram no meu
conhecimento da Geografia, incentivando leituras que colaboraram com meu aprendizado.
Aos professores Jorge A. Pickenhayn e Maria Geralda de Almeida.
secretria do mestrado, Priscila a quem devo mil agradecimentos, pela ateno,
carinho e ajuda. Sempre pronta e solcita, procurando resolver todos os problemas
encontrados no caminho.
Aos meus colegas do Mestrado pelo companheirismo, pelas brincadeiras, pelas
ajudas, pelas discusses e debates, que cooperaram com a minha pesquisa.Em especial a
Juniele Martins Silva pela correo das normas da ABNT.
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Aos membros da Banca de Qualificao que contriburam muito com sugestes, e
fizeram com que aprofundasse os estudos para a qualidade das pesquisas tericas e empricas
na Geografia.
Quero deixar os meus agradecimentos ao professor Wanderlei Batista Nunes pelas
explicaes dadas sobre a parte qumica que envolve a contaminao, e as explicaes que me
deu, sobre como a segurana do trabalho a v esta contaminao. Ainda devo agradecer a sua
me, por me ter acolhido em sua casa durante este dois anos, como uma verdadeira amiga.
Em especial quero agradecer a minha companheira e amiga, a qual me incentivou
entrar neste mestrado, Andria Mosca. Assim, como quero agradecer a Simone de
Ftima dos Santos pela dedicao na correo deste trabalho.
Devo aqui apresentar um agradecimento especial ao Dr Nlio Maral Vieira
Junior, ao Dr. Alexandre Barroso Marra e ao seu colaborador David Dener por terem
disponibilizado para esta pesquisa todo material coletado, abrindo para mim todos os seus
processos, os quais trouxeram lies inestimveis, inclusive sobre a medicina do trabalho;
colaborando deste modo,para que esta pesquisa pudesse ter sido realizada.
Agradeo tambm ao Senhor Joaquim Avelino de Jesus, presidente da Associao
dos Trabalhadores Contaminados nas Indstrias Mineradoras de Niquelndia Gois, pois
graas a ele esta pesquisa foi realizada, j que ele foi o primeiro incentivador desta
pesquisa.Foram relatadas por ele as primeiras informaes de contaminao na mineradora da
cidade, as quais chamaram a ateno desta pesquisadora, pois era grande o nmero de pessoas
contaminadas, que sofriam com suas doenas.
Ao Presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indstria da Extrao do Ferro e
Metais Bsicos de Niquelndia (SITIEN). Senhor Ccero, Joventino, tenho que agradecer pela
ateno com que me atendeu e por todo material e informaes que me foram prestadas.
No poderia deixar de agradecer aos empregados contaminados, com quem tive a
oportunidade de conversar, os quais me deram todas as informaes e colaborao nas visitas
feitas aos arredores da mineradora.
Devo tambm agradecer a minha secretria Meirielle Damas Mendes, pela ajuda
dada todo o tempo em que me dediquei a esta pesquisa. Inclusive, por aguentar o meu humor
nos dias finais da pesquisa.
s bibliotecrias da UFG, que muitas vezes dedicaram seu tempo, me ajudando a
encontrar o livro buscado.Finalmente, tenho que agradecer a todos os envolvidos nesta
pesquisa e que, de algum modo, contriburam para que ela fosse concretizada e cujos nomes
no foram aqui citados.
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Considera o universo em todo o seu esplendor.Contempla os
bilhes de galxias.Imagina a criao de todo esse reino de
realidade. Focaliza a inteligncia na seleta organizao e no
projeto de cada entidade, das partculas subtnicas ao
crebro humano.Reconhece que em ti est a essncia daquela
inteligncia. V a ti mesma como um ser que acaba de abrir
os olhos para asua participao pessoal da evoluo do
universo um membro criativo de uma criao em
desenvolvimento. (HUBBARD).
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RESUMO
Este trabalho pretende apresentar uma discusso terica sobre a importncia de se contemplar
o ambiente do trabalho e os reflexos do mesmo na sade do trabalhador da rea de minerao.
Apoiando-se numa viso bibliogrfica que faz uma leitura das origens da atividade minerria
no Brasil, e em especial, no estado de Gois, seguido de estudo histrico e geogrfico da
implementao das mineradoras nesse espao, essa pesquisa partiu de uma questo central:
como a atividade mineradora tem contribudo para afetar a sade do trabalhador em exerccio
e, de certo modo, desconsiderado as leis do meio ambiente do trabalho em relao a assegurar
ao operrio melhores condies de tratamento de doenas adquiridas em consequncia do
contato com materiais txicos? Persegue-se o objetivo geral de discorrer e desenvolver uma
reflexo analtica sobre a importncia da valorizao e assistncia ao trabalhador da do setor
mineral, sendo que esses dados so apresentados a partir de registros dos mesmos em
processos jurdicos. Para atender aos objetivos propostos pelo estudo buscaram-se subsdios
em pesquisa bibliogrfica, com anlise e discusso aprofundadas, seguidos de tabelas
elaboradas em acordo com os estudos, entrevistas e dados obtidos por meio da montagem e
observao dos processos jurdicos a que o trabalhador afastado recorreu, mediante amparo
em lei. Assim, esta pesquisa apresenta-se estruturada em trs captulos, sendo que no primeiro
discorre-se sobre o debate terico em torno da expanso econmica capitalista, a apropriao
do espao e as questes ambientais. O segundo captulo trata da influncia da OIT
(Organizao Internacional do Trabalho) para regularizar e disciplinar as atividades
mineradoras no Brasil e faz uma abordagem sobre o meio ambiente do trabalho e a sade do
trabalhador para, em seguida, ampliar essa discusso no terceiro captulo, voltando-se para o
estudo da explorao do nquel em Niquelndia, suas origens, como ocorre a contaminao
bem como trata da obrigatoriedade do Estado para com os contaminados e o meio ambiente
do trabalho.
Palavras-chave: Mineradora.Trabalhador.Contaminao.Leis.
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ABSTRACT
This work intends to present a theoretical discussion about the importance of contemplating
the work environment and the reflexes of the same in the worker's health in a particular
mining area. Based on a bibliographical vision that does a reading of the origins of miner aria
activity in Brazil, especially in the State of Gois, followed by historic and geographic study
of the implementation of mining companies in this space, this survey came from a central
question: how the local mining activity has contributed to affect the health of the worker in
exercise and somewhat dismissive the environmental laws of the work in relation to assure the
workers better conditions of treatment of diseases acquired as a result of contact with toxic
materials? The general objective pursued is discuss and develop an analytical reflection on the
importance of valorization and assistance to the employee's mining area, being that these data
are presented from records of them in lawsuits. For attending the proposed objective for the
study, it was searched a bibliographical survey with analyze and deep discussion, followed by
tables drawn up in accordance with studies, interviews and data obtained through the mount
and observation of lawsuits to which the employee was away of service ran over by law
protection. Thus, this research is structured in three chapters; the first runs the theorical debate
around the economical capitalist expansion, the spacial appropriation and the environment
troubles. The second chapter discusses the influence of ILO (International Labor
Organization) for regularizating and disciplinating the mining activities in Brazil. Besides, it
does the discussion about the labor environment and the workers health for, in following, increase this discussion in the third chapter, coming back to the study of exploration of the
nickelin Niquelndia, its origins, how the contamination occurs as well as require the
obligation of the State with the contaminated workers and the work environment.
Keywords:Mining company. Worker.Contamination.Laws.
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LISTA DE ILUSTRAES
Tabela 1 Estudo Comparativo entre quadros e grficos da produo ............ 84
Quadro 1 Produo beneficiada de minrio metlicos: Gois (2009) ............... 85
Grfico 1 Produo Bruta de minrio - Contido: Gois (2009) ........................... 86
Grfico 2 Produo bruta de minrio quantidade em ROM [tonelada]: Gois
(2009) ....................................................................................................
86
Grfico 3 Produo bruta de minrio - teor mdio: Gois (2009) ........................ 87
Grfico 4 Produo bruta de minrio: Gois (2009) ............................................. 87
Quadro 2 Quantidade e valor da produo mineral comercializada: Gois
(2009) ..........................................................................................
88
Grfico 5 Quatro minerais metlicos mais comercializados: Gois (2009) .......... 88
Grfico 6 Mo de obra utilizada na minerao por substncias: Gois (2009) .. 89
Grfico 7 Mo de obra na minerao: Gois (2009) ..................................... 90
Quadro 3 Investimentos na minerao no estado de Gois (2009) ....................... 91
Figura 1 Localizao geogrfica do Grupo Votorantin no municpio de
Niquelndia, Gois ......................................................................
94
Quadro 4 Dados ICMS, Gois (2009) ............................................................. 97
Quadro 4 Doenas do sistema respiratrio relacionadas com o trabalho (Grupo
X da CID-10) ou a Classificao Internacional de Doenas ................
107
Quadro 6 Listagem dos 150 processos examinados ............................................. 112
Quadro 7 Mdias de infectados por funo ...................................................... 116
Grfico 8 Mdia de infectados por funo ........................................................... 119
Grfico 9 Mdia de infectados por funo ........................................................... 120
Grfico 10 Mdia de infectados por funo ........................................................... 121
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LISTA DE SIGLAS
CAT Cadastro da Comunicao de Acidente do trabalho
CF Constituio Federal
Cia. Companhia
CID Classificao Internacional de Doenas
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
DNA
DNPM Departamento Nacional de Produo Mineral
EC Emenda Constitucional
ECOSOC Conselho Econmico Social
EIA Estudo de Impactos Ambientais
EPIs Equipamento de Proteo Individual
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatstica
ICMS
INSS Instituto Nacional de Seguridade Social
ISO International Organization Stardartization
LTCAT Laudo Tcnico de Condies Ambientais do Trabalho
MMA Ministrio do Meio Ambiente e da Amaznia Legal
NEPA o EIA Americano
NR Norma Reguladora
OIT Organizao Internacional do Trabalho
OMC Organizao Mundial do Comrcio
ONGs Organizao No Governamental
ONU Organizao das Naes Unidas
PCMSO Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional
PGR Programa de Gerenciamento de Riscos
PIER Manual do Engenheiro Qumico
PNMA Poltica Nacional do Meio Ambiente
PNUMA Programa das Naes Unidas sobre Meio Ambiente
PPRA Programa de Preveno de risco ambiental
RIMA Relatrio de Impacto ao Meio Ambiente
SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente
SUS Sistema nico de Sade
TRT Tribunal Regional do Trabalho
UNCED Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
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SUMRIO
1 INTRODUO........................................................................................ 14
2 O CAPITAL E A APROPRIAO DO MEIO.................................... 18
2.1 Capital e meio
ambiente.......................................................................... 22
2.2 A Conscientizao ambiental.................................................................. 26
2.3 O Capitalismo e o meio ambiente........................................................... 31
2.4 A ecologia, os ecossistemas e o meio ambiente...................................... 35
2.5 Desenvolvimento, economia e minerao.............................................. 41
2.6 Meio ambiente e minerao.................................................................... 48
2.6.1 Aspectos jurdicos do meio ambiente e da minerao.......................... 50
2.7 O princpio do risco ambiental ....................................................... 51
3 TUTELA AMBIENTAL E MINERAO .......................................... 53
3.1 A evoluo das normas que disciplinam a minerao .......................... 55
3.2 A regulamentao das atividades mineradoras .................................... 60
3.3 O princpio do desenvolvimento sustentvel e a minerao ................ 63
3.4 A Poltica Mineral Brasileira .................................................................. 66
3.5 Os aspectos jurdicos da propriedade minerria e evoluo do meio
ambiente .................................................................................................... 69
3.6 Influncia da Organizao Internacional do Trabalho (OIT) nas
empresas nacionais inclusive nas empresas de minerao ................... 72
3.7 O meio ambiente do trabalho e a sade do trabalhador ...................... 75
4 SADE DO TRABALHADOR E A EXPLORAO DE NQUEL
EM NIQUELNDIA (GO).................................................................... 82
4.1 A Produo Mineral em Gois............................................................... 82
4.2 A Produo Mineral em Niquelndia.................................................... 92
4.2.1 A explorao de Nquel........................................................................... 95
4.2.2 Da produo do minrio.......................................................................... 98
4.3 A Legislao e contaminao do trabalhador da minerao............... 100
4.3.1 O processo de contaminao pela Amnia............................................ 102
4.3.2 Contaminao dos Trabalhadores na Produo Mineral em 104
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Niquelndia..............................................................................................
4.3.3 A Contaminao como acidente de trabalho......................................... 111
4.3.4 Os encargos do Estado com os contaminados e o ambiente do
trabalho..................................................................................................... 125
5 CONSIDERAES FINAIS ................................................................. 127
REFERNCIAS ....................................................................................... 131
ANEXOS ........................................................................................... 137
ANEXO 1 Fotos de contaminao de amnia
ANEXO 2 Laudo tcnico pericial
ANEXO 3 Laudo de exame toxicolgico
ANEXO 4 Sentena do Divino
ANEXO 5 - Sentena completa do Jovelino
ANEXO 6 Parecer do Ministrio Pblico do Trabalho
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1 INTRODUO
As maiores calamidades que afligiam os homens at meados do sculo XIX eram
de origem natural, conforme comenta Deleag (1993, p. 23)1. As ameaas, a partir da
Revoluo Industrial, ocorreram dentro da prpria sociedade. E o homem passou a ser capaz
de desencadear a destruio que ameaa sua prpria sobrevivncia.
No resta dvida de que o ser humano experimenta um desenvolvimento jamais
ocorrido em sua histria, passando a dominar a natureza de modo ilimitado, alterando os
fatores naturais do solo, frente crescente necessidade de utilizar seus recursos em favor de
seus objetivos de crescimento.
Consequentemente, hoje se configuram srios problemas de degradao
ambiental, atravs de um processo devastador denominado industrializao. Esta fez com que
o homem pusesse em risco o ecossistema e a biosfera. Sendo assim, a civilizao passa a
enfrentar problemas com a poluio e a degradao, atingindo propores planetrias,
principalmente aps a Segunda Guerra Mundial, fator que deu embalo ao desenvolvimento do
capitalismo desenfreado. (CAPRA, 1981).
Vivemos a crise ambiental cujas razes esto no efeito do conhecimento da
humanidade que busca a seu modo, um caminho para o desenvolvimento. O processo de
transformao, porm, emerge rapidamente devido s influncias do mercado, da poltica, da
tecnologia e da comunicao. A transformao se faz necessria, mas para que ela ocorra de
maneira harmoniosa essencial que os princpios ticos e os interesses pessoais sejam
focados no bem comum, na manuteno da vida e no respeito mtuo. (CAPRA, 1981).
A humanidade violenta a evoluo da natureza global, como chamam a ateno
Capra (1981) e Deleag (1993), os quais dizem que as espcies esto sendo dizimadas por
causa de substncias txicas e radioativas depositadas na natureza. Estas substncias esto
interferindo na composio fsica da atmosfera.
Com a multiplicao de usinas nucleares, h uma possibilidade muito grande de
que a radioatividade venha a escapar para o meio ambiente e coloque todos os seres humanos
em risco, isto sem falar no perigo por ela produzido.
1 DELEAG, Jean Paul Frana Ministrio da Cultura LEtat de Environnementdans Le Monde, 1993
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A ameaa de guerra nuclear o maior perigo com que a humanidade hoje se
defronta, mas no absolutamente o nico. Enquanto as potncias militares
ampliam seu artesanal de armas nucleares, o mundo industrial atarefa-se na construo igualmente perigosa de usinas nucleares que ameaam extinguir a
vida em nosso planeta. H 25 anos, lderes mundiais decidiram usar os
chamados tomos da paz e apresentaram a energia nuclear como a fonte energtica do futuro: confivel, limpa e barata. (CAPRA, 1981, p. 21)
Agora, temos a conscincia das inverdades apregoadas pelos lderes, pois
acabamos de presenciar a dificuldade enfrentada pelo Japo para minimizar e controlar os
vazamentos ocorridos em seus reatores nucleares, espalhando a contaminao radioativa, no
s ao seu pas, mas tambm aos outros pases.
Como mostraram os jornais, a TV, a Internet, a catstrofe que se abateu sobre o
Japo, no dia 14 de maro de 2011, afetou o funcionamento da usina nuclear de Fukshima
Daiichi, na regio de Yuriage. Isto provocou uma catstrofe ainda sem precedentes na
histria, pois o alto nvel de contaminao est se espalhando no ar, no mar, no solo e at este
momento no puderam ser controlados, embora muito esforo esteja se fazendo para isso. H
quase um ms os tcnicos esto trabalhando e no se tem notcia do fim do problema.(Folha
de So Paulo, 2011).
Sabe-se que o meio ambiente de interesse de toda a humanidade, pois se trata do
espao em que vivemos. Dele depende a preservao de todo o planeta, para que este volte a
ter o equilbrio necessrio. Se continuarmos no ritmo em que estamos caminhando,
dificilmente poder-se- precisar o que ocorrer daqui para frente, pois os sintomas
apresentados tm-se mostrado catastrficos. O acmulo de gs carbnico na atmosfera
representa, tambm, um alto risco, pois ocasiona o crescimento do efeito estufa, elevando as
temperaturas mdias da maior parte dos climas do planeta. (CAPRA,1981).
O estudo do meio ambiente encontra lugar em vrias cincias que se entrelaam
na busca de solues para os problemas ambientais que afetam a humanidade. Na realidade, o
meio ambiente que buscamos proteger, antes de tudo, o meio ambiente humano, onde o
direito vida, liberdade, e a sadia qualidade de vida devem ser preservadas.
Desse modo, relevante que o objetivo deste trabalho seja o meio ambiente do
trabalho e a sade do trabalhador nas atividades mineradoras. Muito embora se tenha
conhecimento da amplitude do tema abordado, ele ser delimitado, pois trataremos dos casos
relativos a uma Mineradora local. Embora, por muitas vezes, discutamos o assunto em outros
nveis.
O meio ambiente do trabalho est previsto no artigo 200, VIII da CF., que
tambm tutela a sade do trabalhador em seu artigo 196, e no art.7, XXII, XXVII. Mas como
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no poderia deixar de ser, o meio ambiente do trabalho tambm encontra proteo no artigo
225 da Constituio Federal, onde podemos identific-lo, como ressalta Fiorillo e Rodrigues
(1997)
[...] apenas o trabalho humano que deve ser valorizado, como direito social
fundador da ordem econmica e financeira (base do capitalismo) e fundamento da Repblica Federativa do Brasil, conforme consta no art.1 da
CF. [...]. (FIORILLO; RODRIGUES, 1997).
J no direito do trabalho, o objeto tutelado no o trabalho per si, visto que o
que se tutela mais a sade e a segurana do trabalhador. Neste aspecto, visa-se a tutela
vida de todo o povo brasileiro que, titular do direito ao meio ambiente, possui direito a sadia
qualidade de vida, conforme apregoa a maior Lei do pas.(CF).
Sendo assim, o objetivo desse trabalho tratado de forma interdisciplinar e
transdisciplinar, embora o enfoque seja econmico-social. Inicia-se com o objeto de estudo da
geografia,em que discute capital, espao social e meio ambiente e avana com a discusso
sobre a viso do mundo a respeito do tema desenvolvimento sustentvel e meio ambiente.
Posteriormente, abordaremos e direcionaremos o estudo para as Cincias Jurdicas
posto que o estudo da norma jurdica de fundamental importncia diante do tema a ser
tratado. Para tanto, encontramos apoio, nos textos Constitucionais, Infraconstitucionais e na
soberania do Estado para estabelecer critrios e disciplinares s atividades humanas.
Levando-se em conta essas consideraes, o texto estrutura-se em trs captulos,
sendo que no primeiro sero apresentados dados introdutrios e conceitos que ajudaro a
construir os prximos captulos: o capital, a apropriao do espao e o meio ambiente.
O segundo captulo tratar-se- da tutela ambiental na minerao e de como esta
atividade regulamentada. Vale ressaltar que o foco da questo principalmente o meio
ambiente do trabalhador da minerao e assemelhados, com ressalvas sade deste
trabalhador sendo que, para embasamento dessa discusso a Constituio Federal, as normas
federais, o Cdigo de Minerao, sua Regulamentao e a Poltica Nacional do Meio
Ambiente sero as normas utilizadas para que se possa verificar de que modo a Lei deveria
estar sendo aplicada e quais so as falhas na sua aplicao.
Evidencia-se que, nesse mbito, busca-se compreender os impactos do processo
de ocupao do espao, assim como verificar o uso dos recursos naturais no renovveis, seu
destino e o comprometimento de sua extrao sem o devido critrio de preservao do meio
ambiente.
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No terceiro e ltimo captulo, foca-se um estudo sobre a extrao do minrio de
nquel, pela mineradora local, no municpio de Niquelndia (GO) de forma a correlacionar os
conceitos anteriormente tratados com a problemtica real dos impactos ambientais causados
na ocupao de espaos.
vlido afirmar ento que a explorao mineral, nesse sentido, um processo
que, por conter todas as etapas produtivas desde a extrao da matria prima at o seu
beneficiamento, causa uma srie de impactos ambientais e sociais.
Pelo lado econmico, extremamente atraente, pois atinge toda a cadeia produtiva
regional, dinamiza o comrcio, o setor de servios e aumenta o ganho direto dos municpios,
com relao aos impostos gerados. Por outro lado, a indstria de minerao, sobretudo as de
grande porte, temida pela magnitude dos impactos ao meio ambiente gerados em todos os
processos.
Embora haja muitos esforos no sentido de minimizao dos impactos ao meio
ambiente, gerados pelo setor produtivo mineral, principalmente no desenvolvimento de novas
tecnologias e desenvolvimentos de processos menos degradantes, com relao exposio a
agentes txicos que prejudicam a sade do trabalhador, poucos estudos e avanos foram
alcanados at o presente. E nesse sentido que esta pesquisa procura avanar.
O procedimento metodolgico escolhido ser o estudo de caso da contaminao
dos empregados da Usina de extrao de nquel, por amnia e materiais pesados. Nesta
anlise, mostramos, dentro da metodologia de pesquisa geogrfica, as etapas percorridas
atravs do mtodo indutivo o qual parte da observao de alguns fenmenos particulares e
possibilita chegar-se ao geral com uma concluso mais ampla.
Afirma-se que somente atravs do referencial terico tornou-se foi possvel
identificar e conceituar o objeto da pesquisa. Nas provas documentais foi levantada a
descrio quantitativa dos casos de contaminao por Amnia e Materiais Pesados de mais
de 400 empregados da empresa de minerao, sendo que apresenta-se uma amostragem de
150 trabalhadores. Neste estudo, tomou-se por base os aspectos tericos e as reflexes das
normas que visam proteo do meio ambiente e disciplinam as atividades mineradoras.
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2 O CAPITAL E A APROPRIAO DO MEIO
As sociedades cresceram e deixaram marcas profundas no ambiente, to logo
tiveram a capacidade e a oportunidade de aproveitar os recursos naturais e intervir nos
processos naturais.Assim os humanos transformaram a natureza atravs do trabalho e
comearam a perder a sua identidade como seres terrenos, como comente (Morin,e
Kern,1995) perderam a conexo com o Planeta Terra.
[...] As relaes econmicas entre produtores e consumidores foram substitudas aos poucos por mltiplos escales de intermedirios os quais
iniciaram o processo de acumulao de capital, originando um novo sistema
de desenvolvimento: capitalismo. (OLIVEIRA, 2006, p. 156).
Com este novo meio de produo, alguns desses produtores passaram a ser donos
de seu prprio negcio, houve um aumento populacional e com isto o interesse de produzir
excedentes em escala, cada vez maior, devido exigncia dos consumidores.Ocorreram
mudanas quantitativas na relao do ser humano com a natureza, assim como, uma
transformao nas relaes dos seres humanos entre si.
imprescindvel apontar que a indstria, desde o incio, utiliza os recursos
naturais, assume parte do processo de degradao, imprimindo um ritmo conveniente para si e
confia ao Planeta Terra a reconstruo desta matria-prima transformada e a ltima etapa do
processo de decomposio, que a transformao dos resduos industriais. Deste modo, a
finalidade de evitar a escassez e a saturao dos recursos naturais fica prejudicada, porque a
velocidade de regenerao da natureza menor que a de consumo e produo de resduos
(OLIVEIRA, 2006).
importante destacar que a natureza ficou prejudicada com o processo de
industrializao, pois a renovao de sua matria- prima no se processa com a rapidez em
que consumido, e a recuperao dos ecossistemas torna-se obsoleta devido ao acmulo de
resduos que lhes causam a poluio, ocasionando o desequilbrio ao meio ambiente e uma
enorme degradao, impactos estes sem precedentes na Terra (OLIVEIRA, 2006).
Nesta era industrial, caracterizada por uma economia capitalista, na qual se produz
excedente e acumulao de capital, atravs de mais valia gerada pelo trabalho operrio e pela
apropriao privada dos recursos naturais, uma nica norma prevalece: a de obter maior lucro
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em menor tempo possvel. Neste sistema, repartem-se socialmente os custos dos danos
ambientais e so apropriados, privadamente, benefcios da explorao da natureza e do
trabalho humano. Este processo foi e continua sendo acompanhado pela urbanizao
acelerada e desordenada, principalmente nos pases pobres (OLIVEIRA, 2006).
Paralelamente, a proposta capitalista tem contribudo para tornar os homens
desiguais, pois usa como regra a produo em larga escala, sem se incomodar em consumir
mais recursos. O que importa desenvolver tcnicas mais poderosas, ainda que estas tcnicas
lancem mais gases e resduos de matrias no reciclveis nos processos naturais, no se
importando se estas substncias so txicas, radioativas ou no.
Sendo assim, o modo de produo capitalista origina-se de leis e condies que
derivam de uma formao social que se complementa pelas condies de desenvolvimento,
pelos ajustes ao meio geogrfico e pela histria cultural de cada grupo social. A discusso
dessas concepes traz em seu bojo uma compreenso de como o Capital foi se apropriando e
modificando a natureza, a ecologia e as regies por onde passava. (MARX, 2000)
Para entendermos como o capitalismo vem desde o incio do mercantilismo 2 se
apropriando do meio de produo, necessrio retroceder na histria e analisar como os
produtores se transformaram em assalariados, quais foram os meios empregados para que os
capitalistas se tornassem os grandes incentivadores das novas conquistas e descobertas e
como eles se aproveitaram das colnias para aumentarem rapidamente o acmulo de capital.
(MARX, 2000).
No incio, a economia feudal tinha uma maior harmonia com o ambiente, a
produo era pequena, pois produziam praticamente para a subsistncia dos feudos e poucos
eram os artesos que vendiam sua produo nas vilas prximas. Mas quando a mercadoria
deixou de ser o material de troca, uma vez que a Europa comeou a ter acesso a novos
produtos trazidos de mercados distantes, o metal passou a representar o material de troca.
(MARX, 2000).
Este novo mercado passou a exigir maior renda dos proprietrios dos Feudos para
que estes tivessem acesso a novas luxurias. Foi nesse momento, como comenta Marx,(2000)
que os pequenos produtores comearam a ser pressionados pelos senhores feudais. O aumento
do preo da l no mercado tambm influenciou, principalmente na Inglaterra, a expulso dos
produtores da terra.
2 O mercantilismo no um sistema econmico, mas uma doutrina,cujo conjuntos de prticas econmicas o
acumulo de riqueza.Para o mercantilismo o objetivo principal o fortalecimento do Estado. A Nao mais rica
aquela que tem maior quantidade de ouro e prata acumulada Havia um incentivo muito grande aos
manufaturados para a exportao, o que enriquecia a burguesia.
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Para que vingasse o sistema capitalista, o meio de produo foi arrancado dos
produtores sem que estes tivessem a possibilidade de reclamar. Como salienta Marx (2000),
os prprios lavradores eram empregados para exercer as funes de quando eram
proprietrios, sendo assim, a ordem econmica capitalista saiu das entranhas da ordem
econmica feudal.
Dessa maneira, o movimento histrico transforma produtores em assalariados e a
partir deste momento histrico apareceram os servos. Muito embora se considere que a
produo capitalista j existia em algumas cidades do Mediterrneo, Marx (2000) considera
que o sistema capitalista teve inicio no sculo XVI.
Dentro de uma perspectiva marxista (especialmente dos antroplogos
neomarxistas), as culturas tradicionais esto associadas a modos de produo pr-capitalistas,
prprios de sociedades em que o trabalho ainda no se tornou mercadoria, quando h grande
dependncia dos recursos naturais e dos ciclos da natureza em que a dependncia do mercado
j existe, mas no total.
Para tanto, essas sociedades desenvolvem formas particulares de manejo dos
recursos naturais que no visam diretamente o lucro, mas reproduo social e cultural.
Desenvolvem tambm percepes e representaes em relao ao mundo natural marcadas
pela ideia de associao com a natureza e dependncia de seus ciclos, culturas tradicionais,
que nesta perspectiva, so as que se desenvolvem dentro do modo de produo da pequena
produo mercantil (DIEGUES, 2004).
Segundo o prprio Diegues (2004) diferente o modo de produo capitalista em
que as associaes usam a prpria natureza como mercadoria, pois no s a fora de trabalho
no modo de produo capitalista objeto de compra e venda, mas tambm a prpria natureza.
O capitalismo transformou o sistema social e com ele apareceu, na Europa, um grande
nmero de mendigos, ladres e vagabundos. (antigos produtores do sistema feudal). Foi a
expropriao dos camponeses e sua transformao em assalariados, segundo Marx (2000),
que aniquilou a indstria domstica.
s a grande indstria que, por meio das mquinas, funda a explorao agrcola capitalista sobre a base permanente, que faz expropriar radicalmente
a imensa maioria da populao rural e consuma a separao entre a
agricultura e a indstria domstica dos campos, extirpando as razes desta. (MARX, 2000, p. 75).
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21
Como ressalta Marx (2000), foi aps o aparecimento das mquinas que a
agricultura capitalista, alm de destruir a natureza com maior rapidez, expulsa rapidamente o
homem do campo, separando definitivamente a agricultura domstica da industrial.
A Companhia das ndias Orientais, segundo Marx (2000), alm de conseguir o
poder poltico, tinha exclusividade no comrcio de ch e o transporte das mercadorias da
Europa para a sia e da sia para a Europa, sendo que cabotagem e a navegao entre as
ilhas eram feitas pelos empregados superiores da Companhia, e o Governo Geral tomava parte
neste comrcio privado.
Os favoritos do Governo obtinham privilgios tais que, mais fortes que os
alquimistas, faziam ouro do nada. Grandes fortunas brotaram em vinte e quatro horas como
cogumelos; a acumulao primitiva operava-se sem antecipar um centavo. A navegao e o
comrcio tiveram um grande desenvolvimento no regime colonial, o que fez com que
nascessem as sociedades mercantis, dotadas pelos governos de monoplios e de privilgios
que serviram de poderosas alavancas concentrao de capitais.
Com as descobertas das minas de ouro e prata nas Amricas no sculo XVI, as
Metrpoles passaram por um perodo novo de adaptao, visto que, com essas descobertas,
havia uma exigncia premente do aumento da produo para abastecer as colnias. Palacin
(1972) ressalta que a produo vinha das propriedades dos arrendatrios e dos capitalistas, as
quais subiram rapidamente de preo. O valor das mesmas passou a ser cobrado, no mais em
moeda da poca, mas em metais preciosos. Semelhantemente, o produto agrcola, pela larga
procura, aumentou de preo, como a lgica do capital, e assim os arrendatrios e os
capitalistas aumentaram rapidamente os seus capitais.
Mas nem por isso os assalariados foram beneficiados, pois com o aumento da
procura, surgiram as indstrias com produo em larga escala, fazendo com que o campo se
tornasse acessrio.
A explorao dos povos colonizados, a escravido de ndios e negros contribuiu
para que a Europa acumulasse rapidamente o capital. Como descreve Palacin (1981), o regime
de monoplio permitia que a Metrpole fixasse o preo baixo para o produtor que s podia
exportar seus produtos por seu intermdio.(PALACIN, 1981, p. 37).
No incio do sistema colonial, o Brasil enviava para Portugal pau-brasil, acar,
fumo, algodo e outros produtos tropicais; em troca recebia produtos produzidos ou
manufaturados e ainda, os produtos importados por Portugal. S que, para a Colnia atingir a
produo e atender a Metrpole, necessitava mo de obra, o que favoreceu a escravizao, em
princpio, dos ndios. (PALACIN, 1981).
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Se considerarmos as despesas da Coroa com o Brasil Colnia entender-se- que os
valores percebidos pelo contrato de dzimos para o pagamento das folhas eclesisticas, civil e
militar no era suficiente. Mas, se levarmos em conta outros impostos que o governo recebia,
aqui, com o comrcio do acar e do monoplio do pau-brasil, a situao se inverte, afinal,
no era atravs da tributao direta ou indireta que se processava a grande transferncia de
lucros do Brasil para a Metrpole (PALACIN, 1981).
Os fretes e os juros dos emprstimos, a mediao no comrcio do acar e a
continua repartio de capitais significava um fluxo subterrneo, mas contnuo, que vivificava
a economia portuguesa. Como se pode notar pela citao de Palacin (1981), a Coroa
Portuguesa teve grandes lucros, enquanto manteve o monoplio sobre o Brasil.
2.1 Capital e meio ambiente
O objeto de estudo geogrfico o espao terrestre. A geografia a cincia do
espao, pois fornece ao homem uma imagem instantnea do mundo. Segundo Santos
(1986, p. 120), impossvel examinar os atuais fenmenos espaciais fora do contexto de
tempo e de periodizao histrica. O estudo da organizao espao e em escala ampla
mundial. A dimenso histrica ou temporal assim necessria para se ir alm do nvel de
anlise ecolgica e corogrfica. Assim, o sistema novo se condiciona ao anterior. Quando
tratamos de espao como categoria universal e permanente, quem permite defini-los so os
progressos filosficos, a cada momento e diferentemente. No sendo exatas as cincias
naturais, os fenmenos chamados naturais em cada momento histrico so diferentes.
Antigamente, segundo a Histria da Filosofia e a viso aristotlica, o espao e o
tempo eram harmnicos. J a viso cartesiana compreendeu o espao como absoluto. Kant
passa a v-lo como transcendental, portanto inapreensvel em si. Deste modo, a filosofia
marca a sua passagem para a cincia do espao.
[...] E quanto ao espao como categoria histrica a prpria significao dos objetos, do seu contedo e das relaes entre eles que muda com a histria. Feuerbach dizia que o mundo social ao derredor de ns no uma coisa dada para toda a eternidade Na realidade todos os caminhos se cruzam e o conhecimento do espao como categoria universal se inclui no
conhecimento do espao como categoria histrica e vice-versa. A interao
entre leis universais e comportamento histrico, portanto, individualizados, contribui para a elaborao, seno de uma definio, ao menos de um
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conceito de espao que, sendo operacional, no o menos filosfico.
(SANTOS, 1986, p. 121).
Como afirma o autor, o espao uma categoria permanente, mas no decorrer do
tempo assumiu
uma espcie de realidade prpria da mesma maneira e no mesmo processo global que a mercadoria, o dinheiro, o capital, mas de modo distinto.A partir
da o espao social deixa de se confundir com o espao mental, (definido
pelos filsofos e pelos matemticos) e com o espao fsico (definido pelo prtico-sensvel e pela percepo da natureza), ele revela sua especificidade. (LEFEBVRE, 2006, p. 27).
Segundo Sposito (2004), o espao coisificado como objeto social e
complementa Lefebvre dizendo que essa ao do pensamento condiz afirmao anterior e
pe em questo a prpria base ontolgica do espao, porque ora ele coisificado como objeto
social. Na sua constituio como conceito.
Para Santos (1986) e Sposito (2004), o espao fato social uma realidade objetiva
e se impe ao indivduo, como resultado histrico, mas uma coisa sua objetividade e outra
sua percepo social. Os autores percebem o espao como um objetivo social, fato social e
uma instncia social. Nos anos 1970, Milton Santos e Lefbvre ( 2006) fundamentam a
transformao da concepo de espao segundo a teoria marxista. Sposito ressalta que
Importante lembrar que a implantao do calendrio gregoriano (sculo
XVI, mais precisamente 1582) possibilitou o domnio do tempo dos outros
porque o uso do relgio tornou-se disseminado. Deslocado o tempo da produo do tempo csmico, quando as pessoas passaram a produzir dentro das edificaes e no dependiam mais nem da luz natural nem das estaes
do ano, ele foi capturado pelas relaes capitalistas de produo e teve,
posteriormente, papel decisivo na compreenso do espao. (SPOSITO, 2004, p. 95).
O calendrio e o relgio fizeram com que o homem tivesse seu espao limitado e
periodizado, sendo assim tambm deve ser visto como mercadoria, conforme Santos (1986),
pois o espao o resultado da acumulao do trabalho da sociedade global.
Na anlise de Santos (1986), os estudos geogrficos consideram todo o espao,
independente de sua dimenso como sistema. Haveria, assim, uma hierarquia entre os
diferentes espaos, o que ajudaria a explicao de localizaes e as polaridades apud Fre
Luckermann, o gegrafo deve conceber os pontos da terra como partes de um sistema
relacionando uns com os outros, segundo diferentes nveis de interao. (ABLER, ADAMS
GOULD, 1971, p. 54). Mas, segundo o autor, o fato gerador na anlise de sistema faz parte da
definio de elemento utilizada por David Harvey (1969), isto , uma unidade de base do
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sistema que de um ponto de vista matemtico no tem definio. Assim, diz o mesmo autor, a
anlise matemtica dos sistemas pode ser feita sem que se precise levar em considerao a
natureza dos elementos.
Santos (1986) considera o sistema complexo sendo que o mesmo se define por um
mdulo, uma periferia e a energia mediante a qual as caractersticas localizadas no centro
conseguem projetar-se em uma periferia que ser ento modificada por elas.
Sob essa tica, pode-se entender as articulaes do espao e reconhecer a sua
natureza. Santos (1986) explica que isto possibilita a cada poro de terra ter uma definio.
As localizaes correspondentes a cada sistema espacial aparecem como resultado de um jogo
de relaes; a anlise ser tanto mais rigorosas quantos forem capazes de escapar s
confrontaes entre variveis simples que, na maioria das vezes, levam s anlises causais ou
a relaes de causa e efeito que isolam artificialmente certas variveis, e impedem de
abranger a totalidade das interaes.
Fica claro que o sistema espacial sempre substitudo por outro, j que a
projeo de vrios sistemas. Assim possibilita uma interpretao mais cuidada e mais
sistemtica das sobrevivncias e das filiaes. Conforme ensina Santos (1986), h como
encontrar deste modo uma fcil soluo para as relaes entre a atualidade e o passado, se
estudssemos o limitado quadro de cada varivel fora do seu padro de limitao. Assim,
possvel analisar as diferentes idades, suas variveis suas vivncias e filiaes.
Com nova dimenso, sabemos agora que o espao pode ser limitado, mas devemos levar em conta que a anlise no est circunscrita a escala geogrfica esta ultrapassa a escala natural considerando suas variveis em relao a sistemas de um nvel superior. Desigual em sua acelerao o espao um verdadeiro campo de fora. Diante desta perspectiva que se entende o porqu no idntica em todos os lugares evoluo espacial
(SANTOS, 1996, p. 58).
Como a nova tendncia da geografia considerar o espao em termos de
ecossistemas, a geografia regional se interessa pelas interrelaes entre os dados da natureza e
as sociedades humanas. Santos (1986) [...] entende que a ecologia humana ocupa-se de formas
de adaptao do homem aos diferentes meios e s realizaes materiais que da decorrem.
A geografia regional leva em conta a regio em que os grupos sociais se
relacionam com a natureza, pois o homem modifica a regio onde vive. Sendo assim, Claval
entende que
A noo de ecossistema devia permitir a incorporao concomitante
anlise espacial dos subsistemas histricos e dos subsistemas naturais,
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isto na medida em que, de um lado, as condies naturais so
sutilizadas de formas diferentes pelas sociedades humanas em cada
perodo histrico e, do outro, pela prpria natureza que transformada
pelo homem; isto medida que a histria se desenrola, os grupos
humanos sucessivos se relacionam a um quadro natural j modificado.
(CLAVAL, 1970, p.111 apud SANTOS, 1986, p. 58-59).
Claval, no texto supra citado, vai alm das perspectivas possibilistas onde as
relaes sociais e as relaes com o meio constituem um sistema. Completando a ideia de
Claval,(1970), Leff (2007, p. 84) diz que a estrutura funcional de um ecossistema, a
distribuio territorial de solos, climas e espcies, bem como a dinmica de seus ciclos
naturais condicionam as prticas sociais e os processos produtivos das comunidades.Como
devemos reconhecer e avaliar as prticas tradicionais das culturas sobre os manejos de seus
recursos, faz-se necessrio entender diversas disciplinas, tais como botnica, ecologia,
lingustica e tcnica, para compreender seu processo de constituio e desaparecimento.
Para apreender e resolver os problemas ambientais concretos foi necessrio
avaliar o que se conhecia e o que se desconhecia sobre as diferentes disciplinas. Os avanos
metodolgicos e tcnicos que incorporaram muitas disciplinas, como economia, ecologia e
geografia entre outras, que contriburam para a instrumentao de polticas alternativas de
organizao social produtiva (LEFF, 2007, p. 84).
Problemas ambientais gerados pela economia mostraram claramente a
insustentabilidade da ecologia, j que, como ensina Santos (1986, p.59) h dificuldades em
delimitar a rea a totalidade dos fenmenos econmicos, sociais ou polticos que a
concernem ,mas cuja escala de ao ultrapassa a do lugar de sua manifestao aparente ou
fsica. Isto fez com que a tcnica, atravs de outras disciplinas buscasse entender as relaes
entre a natureza e a dinmica de seus ciclos, bem como a sociedade humana e suas tradies.
Somente assim possvel direcionar as prticas sociais de acordo com os avanos das novas
tecnologias institucionalizadas pelas polticas sociais, buscando amenizar os problemas
ambientais, para enfrentar os desafios da sustentabilidade.
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2.2 A Conscientizao ambiental
O processo histrico no qual surge a cincia moderna e a Revoluo Industrial
reconhecido como o causador dos principais problemas ambientais. Este processo deu lugar
compartimentalizao da realidade em campos disciplinares confinados, com o propsito de
incrementar a eficcia do saber cientfico e a cadeia tecnolgica de produo (BERNAL
apud LEFF 2007,). Buscou-se reintegrar esse mtodo de conhecimento disperso, a partir
desta premissa, num campo unificado do saber. Desta forma, a anlise da questo ambiental
exigiu uma viso sistmica e um pensamento holstico para a reconstituio de uma realidade
total Leff (2007, p. 62). Compreende-se, ento, que as prticas interdisciplinares foram
propostas a partir de um projeto para pensar e estabelecer estes mtodos.
Aps o fracionamento do conhecimento para a especializao, coube penetrar
mais eficazmente no conhecimento da coisa, num processo de simplificao do que, na
realidade, gerou sua complexidade. Como salienta Leff (2007, p. 170), com o propsito de
reorientar o conhecimento surgiu a interdisciplinaridade com o propsito da unificao da
unidade para solucionar os problemas complexos gerados pela homogeneizao forada que
induz racionalidade econmico-tcnica dominante.
Novos mtodos interdisciplinares se fazem necessrios para a compreenso da
Complexidade dos sistemas socioeconmicos e para que a conhecimento seja democratizado
tendo como base uma gesto sustentvel do potencial ambiental, que gerou uma viso
mecanicista da realidade,deslocando o conhecimento quantitativo, unitrio e matematizado
das cincias para paradigmas heursticos mais abrangentesmuito mais arraigados no interesse
social e prximos do mundo que vivemos (LEFF, 2006, p. 2004).
Com isso, obteve-se um mtodo capaz de trazer olhares desatentos aos gostos das
disciplinas da realidade homognea, eliminando-se, assim, as divises estabelecidas dos
territrios cientficos e cancelando o espao prprio de seus objetos de conhecimento, para
reconstruir um mundo unitrio.
As perspectivas do desenvolvimento sustentado e a economia, no levam em
conta os limites fsicos, as condies ecolgicas, os constrangimentos sociais e os sentidos
culturais que constituem as condies ambientais da sustentabilidade. A nica coisa que resta
neste processo econmico neoliberalista retardar o colapso do sistema atravs de seus
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programas de conservao da biodiversidade , da matria e da energia [...]. (LEFF, 2006, p.
2005).
O homem atravs da industrializao em massa franqueou um novo limiar nas relaes com o ecossistema global, com a biosfera. A poluio e a
degradao do ambiente tornaram-se um fato (sic) de civilizao, adquirindo
uma dimenso planetria aps a Segunda Guerra Mundial. Assim a constituio, dum espao produtivo mundial tem como corolrio a
unificao ecolgica mundial. (DELAGE, 1993, p. 23).
Sob essa tica, tem-se que a evoluo global da natureza violentada pela nossa
espcie, desestabiliza a cadeia alimentar e dizima as espcies animais e vegetais, com a
introduo de venenos e resduos radioativos que permanecem na natureza por milnios.
O grande aviso de alerta ou algo errado que estava acontecendo com o
desenvolvimento da sociedade humana ocorreu em meados do sculo XIX. Foi a obra de
Thomas Robert Malthus que chamou a ateno do mundo e trouxe uma viso apocalptica do
futuro pela primeira vez, apoiada na lgica, com uma percepo muito pouco clara de
contradies entre o desequilibro de crescimento populacional e dos meios de subsistncia
alimentar (LAGO, 1991).
No sculo XX ressurge o Fantasma de Malthus. Se, por um lado, o
neomalthusianismo representa uma pea da montagem da conscincia ecolgica, por outro,
sua repulso, na mesma poca, indicou que o grande debate teria de ser adiado, conforme
interpreta (LAGO, 1991).
Um dos mais importantes acontecimentos para a ecologia foi a publicao da obra
de Carson (1962) intitulada Silent Spring, em portugus, Primavera Silenciosa. Nesta
obra, como comenta Grinevald (1993), a autora menciona os ataques mais violentos da
indstria qumica e o movimento ambientalista que nascia, em parte, graas a este livro-
bomba que qualificava os pesticidas como biovida.
A obra de Carson desperta a opinio pblica para a realidade, porquanto situa as
pessoas num quadro ecolgico, aproximando-as da natureza, e mostra claramente que grande
parte das pessoas ingere alimentos com uma dose de veneno, todos os dias. Portanto, essa
transferncia intrincada do mecanismo alimentar continua desafiando os pesquisadores at
hoje.
Aps o processo da Revoluo Industrial e da colonizao mental e material do
mundo, exercida pelos europeus, aconteceu uma ruptura entre homem e natureza e suas
representaes, at ento concebidas. O homem se sentiu como a autoridade mxima sob a
biosfera. (Grinevald, 1993, p. 35). A conscincia ecolgica veio se impor atravs de uma
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crtica cientfica naturalista e de uma crtica social que se pe contrria ao sofrimento
postergado s vtimas desses dois processos, atravs de duas correntes: a naturalista (cujo
centro era a natureza) e a humanista (centrada na proteo dos seres humanos).
Nas sociedades europias do sculo XIX, reconhece-se a necessidade duma
compreenso global da evoluo da natureza com o intuito de alargar e aumentar a eficcia da explorao, ao mesmo tempo, que se garante a
perenidade dos recursos. A primeira conscincia ecolgica naturalista nasce
dessa preocupao e traduz por uma conscincia protecionista (sic) que se exprime por registros bastante diferentes na Velha Europa e nos continentes
recentemente colonizados. (DELAGE, 1993, p. 36).
vlido ressaltar que nos Estados Unidos tem mais fora a proteo da natureza
selvagem, fonte inesgotvel de energia vital para o povo americano [...]. Grinevald (1993,
p. 36), o que a garantiu continuamente nao e aos seus interesses econmicos. Isso se deve
a que os americanos sempre se preocuparam com a criao de parques: em 1872 foram
criados os parques de Yellowstone e o das Cataratas do Nigara; em 1885 foi criado o parque
de Yosemite. Desse modo esse povo conseguiu o contato com a natureza selvagem que tanto
apreciavam.
A partir do sculo XX teve incio a fsica moderna, introdutria de tendncias
revolucionrias no pensamento cientfico. Uma delas foi a teoria especial da relatividade
criada por Albert Einstein, um novo modo de interpretar a radiao eletromagntica,
caracterstica da teoria quntica, posteriormente criada por uma equipe de fsicos, de acordo
com Capra (1981, p. 70). Estranha e inesperada realidade que mudou a viso do mundo dos
cientistas ao se depararem com o mundo atmico e subatmico. Em contraste coma
concepo mecanicista cartesiana, que surge a partir da fsica moderna, a fsica moderna pode
ser caracterizada como orgnica, holstica e ecolgica, podendo tambm ser conhecida como
viso sistemtica, no sentido da teoria dos sistemas.
O universo deixa de ser visto como uma mquina, composta de uma
infinidade de objetos, para ser descrito como um todo dinmico, indivisvel, cujas partes esto essencialmente inter-relacionadas e s podem ser
entendidas como modelos de um processo csmico. (CAPRA, 1981, p.72).
Na verdade, com esta viso integrada descrita por Capra (1981), o homem se
sente mais prximo do cosmo e, sendo parte desse sistema, torna-se mais senhor de si mesmo.
Os ensinamentos dos msticos orientais passaram a interessar a um grupo maior de pessoas e a
meditao passou a ser encarada seriamente pela comunidade cientfica.
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A concepo do universo como uma rede interligada de relaes um dos
dois temas tratados com maior freqncia na fsica moderna. O outro tema
a compreenso de que a rede csmica intrinsecamente dinmica. O aspecto dinmico da matria manifesta-se na teoria quntica, como consequncia da
natureza ondulatria das partculas subtnicas e ainda mais central na teoria
da relatividade, a qual mostrou que o ser da matria no pode ser separado
de sua atividade. [...] (CAPRA, 1981, p. 82).
Neste mundo, as partculas esto presas s estruturas molecular, atmica e
nuclear Capra,( 1981 p.82) . Esto sempre em movimento, nunca em repouso. Assim, so
representados, na fsica quntica, os objetos no meio ambiente, interligando seus tomos em
enormes estruturas moleculares as quais vibram em conformidade com a temperatura em
harmonia com as vibraes trmicas do meio ambiente.
Devido ao crescimento tecnolgico excessivo, temos enfrentado vrios problemas
ambientais nos quais a vida fsica e mental tornou-se doentia, devido ao excesso de poluio
de todos os modos: do ar, os rudos, os poluentes qumicos, risco de radiao etc. Na dcada
de 70, o mundo tomou conscincia da escassez global de combustveis fsseis alm do
declnio inevitvel de fontes convencionais. Isto fez com que os pases industrializados
buscassem outras fontes de energia, fazendo campanhas a favor da energia nuclear, j que,
segundo eles, a energia solar era invivel naquele momento. (CAPRA, 1981, p. 230)
A tecnologia nuclear no pode ser analisada somente no aspecto de produo de
energia, pois agregadas a ela esto s armas nucleares e a reatores nucleares. Tanto Capra
(1981), quanto Grinevald (1993) concordam em seus pontos de vista sobre o uso da
tecnologia em seus diferentes aspectos: [...] o prprio termo nuclear power tem dois
significados vinculados. Power,alm do significado tcnico de fonte de energia, possui o
sentido mais geral de posse de controle ou influncia sobre outros.CAPRA, 1981, p. 231).)
Todavia, o homem da sociedade industrializada somente analisou e conheceu o
seu poder de destruio quando as primeiras armas nucleares foram utilizadas sobre as
populaes civis. Nesse momento, houve a conscientizao sobre o efeito causado pela
Bomba da Hiroshima, de 1945, e sobre a capacidade de destruio que a prpria humanidade
tem nas mos. A Bomba de Hiroshima e a interveno Americana no Vietn so consideradas
momentos de conscientizao ecolgica. A guerra do Vietn (1970) mostra a revolta dos
povos colonizados que se ope aos abusos de poder como pelos furtos praticados pelas
potncias dominantes, que retiram sem autorizao os recursos naturais dos pases dominados.
(DELEAG, 1993, p. 40).
A ameaa de guerra nuclear o maior perigo do mundo com que a
humanidade hoje se defronta, mas no absolutamente o nico. Enquanto as
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potncias militares ampliam seu arsenal letal de armas nucleares, o mundo
industrial atarefa-se na construo igualmente perigosa de usinas nucleares
que ameaam extinguir a vida em nosso planeta. H 25 anos, lderes mundiais decidiram usar os chamados tomos para a paz e apresentaram a energia nuclear como fonte energtica do futuro confivel, limpa e
barata.Hoje estamos nos tornando, de forma irremedivel, conscientes de
que a energia nuclear no segura, nem limpa e nem barata. [...] Os elementos radiativos liberados por reatores nucleares so exatamente os
mesmos que caem sobre a Terra aps a exploso de bombas atmicas. [...]
(CAPRA, 1981, p. 20).
Dentro dessa linha de raciocnio, cabe aqui um exemplo real, pois o mundo acaba
de assistir extasiado o que o autor acima preconiza. A exploso do complexo nuclear de
Fukushima, no Japo, o pior desastre ocorrido depois do derretimento de um dos reatores da
usina de Chernobyl, na Ucrnia, em 1986. Gurovitz (2011)3. Aps um terremoto de 9 na
escala Richter e um Tsunami que se abateram sobre a costa nordeste do Japo. Os seis
reatores da usina j deixaram escapar radiaes que comprometeram grande parte do territrio
japons, inclusive o mar que o cerca, e colocou em alerta vrios pases. O desastre que
provocou a morte de 15.000, pessoas, milhares de desaparecido e 34.000 refugiados, ainda
no foi totalmente controlado, aps um ano do fato. Relatos mostram que os tcnicos no
conseguiram medir com exatido os riscos do reator. A limpeza da planta nuclear pode
demorar cerca de 40 anos, conforme as previses4 (Revista Veja, 2012).
Os cientistas j chamavam a ateno para os problemas nucleares, aps a
catstrofe de 1986 em Chernobyl. A energia nuclear representa perigo para a populao e para
o ambiente desde a mina at ao armazenamento do resduo.
Qualquer reator em funcionamento normal lana substncias radiativas:
gasosas, atravs da chamin; liquidas nos cursos de gua ou no mar; slidas,
que so acondicionadas no prprio local e enviadas para um local de
armazenamento ou tratamento. (SEN, 1993, p. 98).
A autora Sen (1993) j chamava a ateno para o perigo existente no resduo
radioativo produzido nas diversas usinas em funcionamento normal, alm do que, chamava a
ateno para o risco de acidente, que poderiam ocorrer a qualquer momento. Deixava ainda
seu alerta para os problemas que o sculo XXI teria que enfrentar com estes resduos. Fazia
um prognstico quando afirmava que o ser humano corria srios riscos de uma catstrofe
ecolgicas com efeitos imprevisveis.
3 GUROVITZ, H. Revista poca, maro 2011
4
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31
2.3 O Capitalismo e o meio ambiente
Por sugesto do industrial italiano Aurlio Pecci, foi criado, em abril de 1968, o
Clube de Roma, uma associao informal constituda em Roma, por pesquisadores originrios
de vrios pases e de diversas reas de conhecimento. Esta associao tinha como objetivo
despertar nos povos e em seus governantes a ateno para problemas mundiais de ordem
econmica, poltica natural e social, uma vez que estes fatores so interdependentes.
(GRINEVALD, 1993)
Essa sociedade defendia as idias preservacionistas. Assim, o Cube de Roma
elaborou em1972 um estudo com resultados que escandalizaram o mundo, pois o que ali fora
descrito era demasiadamente evidente. O Relatrio Meadows, como fora chamado em
homenagem aos seus redatores, o casal Donella e Denis Mendows, mostrava que um mundo
finito, como a nossa biosfera, impe limitaes fsicas e ecolgicas ao crescimento
bioeconmico da humanidade Grinevald (1993, p. 38). Este estudo desenvolvido pelo Clube
de Roma teve grande repercusso tanto no meio cientfico como no meio econmico.
[...] Pecci e seus colegas do Clube de Roma tiveram como objetivo definir
uma problemtica mundial e dela retirar lies prticas a fim de reconciliar o
desenvolvimento com o ambiente. Graas metodologia sistmica forjada
pelo professor Jay Forrester e com a ajuda do computador, o Relatrio Meadows propunha um primeiro modelo de Mundo, tanto mais convincente,
quanto extrema era a sua simplificao. (GRINEVALD, 1993, p. 38).
O Relatrio mostrou, claramente, como o crescimento demogrfico e
industrializao poderiam ocasionar um esgotamento dos recursos naturais e um aumento
desordenado da poluio, corroborando uma derrocada do ecossistema mundial. preciso,
ento, obedecer aos ciclos naturais para manter a estabilidade, entretanto, as atividades
econmicas, na nsia de obter cada vez maior lucro esto comprometendo e desestabilizando
o planeta.
Este documento escandalizou o mundo e foi muito criticado pela Indstria e pelos
economistas, mas trouxe um dos primeiros alertas sobre o que estava acontecendo. Isto fez
com que os cidados se mobilizassem, sendo assim, fundaram um movimento ecolgico.
Primeiro campo de batalha travado entre cidados e a conscincia ambiental dos
intelectuais foi a Conferncia de Estocolmo. Em 1968, as Naes Unidas decidiram pela
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realizao da Conferncia que deveria ser realizada quatro anos depois em Estocolmo, na
Sucia. Esta foi realizada em 1972 e submeteu um plano de luta contra vrios tipos de
poluio e proteo natureza; tambm props desenvolver um plano de ao contra o
subdesenvolvimento e transferir recursos tcnicos e financeiros para o Terceiro Mundo.
Paralelamente conferncia oficial, muitos jovens reunidos lanaram a palavra
de ordem do ecologismo: A nossa Terra nica. (DELAGE, 1993, p. 40). Esta conferncia
foi um marco nas deliberaes sobre o meio ambiente e no engajamento das ONGs
ambientalistas na ONU, despertando a conscincia internacional e levando a criao do
Programa das Naes Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA), sediado em Nairobi.
(VIEIRA, 2001, p. 132).
No ano de 1973 ocorreram alteraes na estrutura da economia internacional com
rebelio dos pases produtores de petrleo, sendo que estes no concordaram com os preos
impostos pelos importadores aos seus produtos.
[...] Se nos anos 1970 a crise ambiental tornou necessrio que se colocasse
um freio antes do colapso ecolgico fosse alcanado, a partir dos anos 1980
o discurso neoliberal anunciou a desapario da contradio entre ambiente e crescimento. Os mecanismos de mercado so postulados como o meio mais
correto de assimilao das condies ecolgicas e dos valores culturais ao
processo de crescimento econmico. (LEFF, 2006, p. 139).
Desse modo, o Brasil que, a partir de 1972, comea a pensar na proteo de seu
meio ambiente, v-se vinculado, nos anos 1980, aos problemas de organizao do poder e da
propriedade na sociedade. A crise ambiental no mais um efeito da acumulao de capital,
mas resultado do fato de no haver outorgado direitos de propriedade (privada) e atribudo
valores (de mercado) aos bens comuns. Leff (2006, p. 139).
Infelizmente, o Brasil nega as condies ecolgicas e termodinmicas, promove o
crescimento econmico pautado num discurso sustentvel o qual promete ajustar o
desequilbrio e as diferenas sociais, a equidade e a sustentabilidade, e assim por diante. Em
1981 sanciona a Lei 6.938 que reza a Poltica Nacional do Meio Ambiente (PNMA) que prev
a proteo ambiental (BRASIL, 1981).
Com o fim da Ditadura Militar, e incio de um novo governo republicano, a Lei
votada pelos Constituintes eleitos, a Nova Constituio da Repblica Federativa do Brasil, em
1988, a qual contou para sua elaborao com movimentos populares, ONGs, sociedades civis,
etc. Esta Constituio foi considerada, pelo mundo, uma das mais inovadoras em matria de
meio ambiente, pois destacou em seu texto um captulo exclusivo proteo ambiental.
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O Brasil saiu, ento, de um perodo difcil e ainda caminhava com dificuldades
financeiras. Logo, teve que enfrentar um novo problema oriundo da crise mundial: o ritmo de
desenvolvimento sofreu com maior ou menor intensidade neste ou naquele pas; a inflao, o
endividamento externo, a recesso econmica e o desemprego foram fatos que amainaram o
protesto ecolgico.
[...] O desenvolvimento do capitalismo mundial, a partir da guerra, encontra
a sua razo de ser numa explorao da natureza sem precedentes. certo que
a instaurao do capitalismo teria sido impossvel sema destruio macia dos recursos naturais, dos solos, das espcies animais e vegetais, sem a
introduo de venenos de longa durao nas cadeias alimentares, sem o
consumo frentico de combustveis fsseis, responsvel pela alterao global
da atmosfera e, talvez, pelas mudanas climatricas (sic) globais. Sem uma acumulao em massa em cidades, desmesuradas, com um desprezo total
pela sade mental e fsica das pessoas, no teria havido capitalismo. [...]
(DELAGE, 1993, p. 42).
Sendo assim, o capitalismo criou fora e se fixou entre ns, ainda que ficassem
relegados, a segundo plano, a natureza e os problemas de ordem social do planeta.
Com os estudos aprofundados dos cientistas constatou-se que apesar do
desenvolvimento material da humanidade, tambm era extrema de misria a vida de pelo menos trs quartos da populao. Mas esta no era a situao do
planeta como um todo, mas de alguns pases menos industrializados, pois
nos pases dominantes a situao era de esbanjamento dos recursos comuns.
(DELAGE, 1993, p. 43).
Nesse momento, fica evidente o quanto o planeta Terra j apresentava os
primeiros sinais da degradao dos biomas, em conseqncia das mudanas climticas.
Em 1983 a Assemblia Geral da ONU decidiu formar uma Comisso, ento
presidida pela norueguesa Gro Brundtland, a fim de examinar os grandes problemas planetrios do meio ambiente e do desenvolvimento e de formular
proposies realistas para solucion-las. O relatrio final desta Comisso
publicado em 1987, chamado de Relatrio Brundtland, ficou conhecido mundialmente pelo nome de nosso futuro comum [...]. (MINARDI, 2010, p. 20).
Sendo assim, o Relatrio Brundtland foi o primeiro documento a introduzir o
termo desenvolvimento sustentvel, hoje to conhecido entre ns, com a preservao do meio
em que vivemos. O referido documento foi utilizado pela ONU nas diretrizes da preservao
ambiental.
Diante desse quadro alarmante, a ecologia, em sua discusso poltica, fez um
esforo para pensar em novos termos no somente em relao natureza, como tambm para
repensar as relaes sociais injustas e as novas regras polticas mais humanas. Vinte anos aps
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a Conferncia de Estocolmo, foi realizada a segunda Conferncia Mundial, no Rio de Janeiro,
em 1992, que abordou novos desafios para o prximo sculo. Na Rio-92, como ficou
conhecida, os pases industrializados mostraram sua possibilidade de aproximarem-se dos
povos do Sul. As Organizaes no Governamentais (ONGs) debateram um desenvolvimento
sustentvel, visando preservao da biosfera.
Na realidade, as chamadas Organizaes no Governamentais (ONGs) tm
causado um impacto na Organizao das Naes Unidas (ONU) onde ao longo dos anos
ganharam papel consultivo agncia e fundos das Naes Unidas [...].(VIEIRA, 2001). O
Conselho Econmico e Social (ECOSOC) um rgo internacional da ONU, composto por
54 membros, que coordena o trabalho internacional na esfera social e econmica
[...].(VIEIRA, 2001, p.115-128).
Essas ONGs foram reconhecidas, faz muito tempo, pela sua luta pela paz e pela
justia internacional, uma vez que so peas essenciais para reivindicarem junto aos governos
e exigir deles aes mais conscientes a nvel nacional e internacional.
As diversas formas de participao na ONU ocorrem hoje em vrias
instncias: agncias, relaes com o PNUMA, conferncias globais, reunies internacionais e negociaes intergovernamentais que se do sob os
auspcios da ONU. Talvez o rgo mais importante, pelo seu carter regular,
seja a Comisso para o Desenvolvimento Sustentvel, rgo dentro do ECOSOC encarregado de monitorar a implementao da Agenda 21
aprovada na Conferncia Rio-92 (UNCED).
Da Rio-92 saiu Agenda 21 que estabeleceu os objetivos de uma nova e justa
parceria global com a cooperao dos Estados, os setores-chaves da sociedade e os
indivduos. Reconheceram a natureza e a interdependncia da Terra e proclamaram 27
princpios, visando concluir o acordo internacional que buscou proteger a integridade do
sistema global do meio ambiente e o desenvolvimento.
Houve nesta Conferncia uma constatao da crise, um alerta de conscientizao
ecolgica e de um clamor pela mudana civilizacional em busca do respeito ao ser humano e
as diversas culturas, tendo em vista que o futuro est intimamente ligado a biosfera.
Os movimentos ecolgicos alertaram para os rendimentos decrescente da
agricultura intensiva, o perigo da destruio total da espcie e de um crescimento exponencial
de consumo, num mundo de recursos finitos. Estas informaes trouxeram a tona as
dificuldades da biosfera em reciclar indefinidamente os detritos produzidos pelo ser humano
(DELAGE, 1993, p. 45).
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2.4 A ecologia, os ecossistemas e o meio ambiente
A conscincia ecolgica veio trazer duas vises de natureza distintas: a primeira
neutra, onde a natureza ilimitada podendo ser dominada vontade, a segunda restrita, onde
interagem dois fenmenos: o mundo vivo e seu ambiente e o mundo das relaes entre a
natureza e a sociedade (DELAGE, 1993, p. 45).
Silva (2007) tece comentrios relativos ao tema em foco. Em 1869, o alemo
Enerst Haeckel criou o termo Ecologia. Segundo ele, ecologia o estudo das coisas vivas. A
palavra ecologia deriva do grego oikos, com o sentido de casa ou lugar onde vivemos e
logos, que significa estudo, cincia. O estudo do ambiente da casa ou habitat inclui,
desta forma, todos os organismos nela contidos, todos os processos funcionais que a tornam
habitvel, ou a cincia que estuda as relaes ambientais.
Essa a realidade que constitui o objeto desta cincia, que a seguinte
definio de Roger Dajoz denota com exatido: A Ecologia a cincia que estuda as condies de existncia dos seres vivos e as interaes, de qualquer
natureza, existentes entre esses entre esses seres vivos e seu meio (SILVA,
2007, p. 837).
Analisando a etimologia da palavra temos: e.co.lo.gi.a sf. Parte da biologia que
estuda as relaes dos organismos com o meio ambiente5. A definio de Ecologia
apresentada por Odum (1963) biologia de grupos de organismos, estudo da estrutura e da
funo da Natureza. Ecologia a cincia que pode responder s questes sobre como a
natureza se estrutura, funciona e muda ao longo do tempo (POLETTI, 2001, p. 9-10).
Tornou-se popular a palavra ecologia e adquiriu importncia crescente, sendo um
dos acontecimentos mais expressivos das ltimas dcadas, reflexo do sintoma da crise
homem/natureza. Esta palavra, como ensina Silva (2007, p. 837),deriva do grego oicos (casa)
e logos (estudo, cincia), que reunidos, significam algo como estudo ou cincia do habitat
estuda as relaes em dado ambiente entre seres vivos e o meio.
Contudo, como ressalta Silva, os ambientalistas no esto usando a palavra como
conhecimento sistematizado que descreve as relaes e interaes entre seres vivos e o meio.
5 Dados obtidos no Mini Dicionrio da Lngua Portuguesa Melhoramentos, 1992.
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Quando se apela pela defesa da ecologia, no a cincia que se quer proteger, o que se espera
a proteo, a defesa, da qualidade das relaes e interaes ambiental.
A ecologia como teoria geral dos sistemas no se torna revolucionria por seu enfoque integrador e por sua vontade de totalidade, alm disso, a
ecologia se generalizou e estendeu-se at os domnios da histria da ordem simblica social -, desconhecendo o carter especfico da natureza humana as relaes de poder, os interesses sociais, o desejo humano, a organizao
cultural, a racionalidade econmica que no podem subsumir-se em uma ordem ecolgica genrica e generalizada. (LEFF, 2006, p. 92).
Sob essa tica, pode-se conceituar o ambiente como uma complexa estrutura
sociolgica que integra bases ecolgicas de sustentabilidade. No entanto, na tentativa de se
conseguir um desenvolvimento econmico-social harmnico, no esto sendo medidos
esforos no sentido de conciliar o homem com a natureza, alis, ignora-se a preservao das
condies bsicas e sustentao dos recursos renovveis bem como a conservao de suas
funes ecolgicas.
Nossa maior necessidade criar um interesse geral do ser humano que possa unificar a humanidade como um todo [...] no existe a mais remota
possibilidade de [uma sociedade ecolgica livre] possa ser alcanada hoje, a
menos que a humanidade seja livre para todos (Bookchin,1989:171-170).
Hoje em dia, o avano da pobreza extrema no mundo, assim como a desigualdade econmica esto longe de confirmar a transio para uma
sociedade onde a abundncia esteja disponvel para todos[...]. (LEFF, 2006,
p. 117).
Conforme o entendimento das palavras de Leff, torna-se imprescindvel descobrir
a Terra-Ptria a Terra-sistema, a Terra Gaia, a biosfera, o lugar da Terra no Cosmo
conhecimentos estes que s tero sentido se estiverem unidos, pois caso estejam separados
no faro qualquer sentido, j que a Terra um planeta fsico, composto da biosfera e da
humanidade (MORIN, 1995).
[...] A Terra uma totalidade complexa fsica/biolgica/antropolgica, na
qual a vida uma emergncia da histria da Terra e o homem uma emergncia da histria da vida terrestre. A relao do homem com a natureza
no pode ser concebida de forma redutora nem de forma separada.[...].
(MORIN, 1995, p.167).
Surgem, assim, diversos conceitos tcnicos ou cientficos de meio ambiente. De
acordo com Poletti e Cavedon (2001), os ecossistemas consistem de vrios componentes
vivos (biticos) e no-vivos (abiticos). Os componentes no-vivos ou abiticos incluem
vrios fatores fsicos e qumicos, dos quais so exemplos a luz solar, a precipitao (chuva), o
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vento, a temperatura, o tipo de terreno e a gua corrente. Os maiores fatores qumicos
compreendem os elementos nutrientes e compostos da atmosfera, que so requisitos para a
sobrevivncia, crescimento e reproduo dos organismos no meio em que vive. A biosfera
constituda de um mosaico de ecossistemas.
A expresso, meio ambiente, por sua vez, hoje largamente utilizada, tanto no
seio da sociedade brasileira, como da legislao e dos tcnicos, superando at a expresso
ecologia. J o termo ambiente tem origem latina (ambientens, entis): que nos rodeia. Entre
outros significados, ambiente significa meio em que vivemos. 6. Autores portugueses
acentuam que a expresso meio ambiente, embora seja bem sonante, no , contudo, a mais
correta, isto porque envolve em si mesma um pleonasmo. O que acontece que ambiente e
meio so sinnimos, porque meio precisamente aquilo que envolve, ou seja, o
ambiente. (MACHADO, 1998).
De acordo com o entendimento de Fiorillo e Rodrigues (1997), muito embora a
expresso meio ambiente tenha sido entendida como a interao de elementos naturais,
artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida do homem,a
expresso como observa alguns autores, constitui um pleonasmo, porque meio e ambiente
so sinnimos.
Todavia em que pese redundncia, a prpria Constituio Federal de 1988
utilizou a expresso Meio Ambiente em seu artigo 225.
Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Pblico e a coletividade o dever de defend-lo e preserva-lo para s
presentes e futuras geraes.(BRASIL, 1988).
Para Minardi (2010, p. 20), no Brasil, o conceito de meio ambiente abrolhou com a Lei 6.938 de 31 08.1981, que dispe sobre a Poltica
Nacional do Meio Ambiente, em seuartigo 3. Para os fins previstos na Lei Constitucional, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que
permite, obriga e rege a vida em todas as suas formas; [...] (BRASIL, 1981).
Outras acepes vm procurando conceitu-lo de forma mais abrangente. Para
Silva (1995, p. 2-3), meio ambiente a interao do conjunto de elementos naturais,
artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas
formas. Desse modo, entende-se que a integrao busca assim uma concepo unitria, do
ambiente, compreensiva de recursos naturais e culturais.
6 Segundo informaes obtidas no Dicionrio da Grolier, 1980.
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O objetivo de tutela jurdica no tanto o meio ambiente considerado nos
seus elementos constitutivos. O que o Direito visa a proteger a qualidade do meio ambiente, em funo da qualidade de vida. Pode-se dizer que h
dois objetos de tutela, no caso: um mediato- que a qualidade do meio
ambiente e outro mediato que a sade, o bem estar e a segurana da populao. (SILVA, 2006, p. 836, grifos do autor).
Trata-se de conceitos jurdicos indeterminados que foram colocados
propositalmente pelo legislador, visando criao de um espao positivo de incidncia na
norma, com o propsito de permitir inserir, nestes espaos, outros conceitos, que poderiam ser
rejeitados caso houvesse espaos negativos.
Ainda que, segundo ressalta Silva, o meio ambiente proteja a sade do
trabalhador, com o que tambm concorda Fiorillo e Rodrigues (1997), quando se posicionam
a respeito de meio ambiente e suas classificaes, eles no procuram divises, mas o que
realmente se busca uma maior verificao da atividade degradante e do bem agredido.
Segundo os autores supramencionados, o meio ambiente apresenta pelo menos
quatro divises que so: natural; cultural; artificial; do trabalho. O meio ambiente natural ou
fsico formado pelo solo, a gua, o ar atmosfrico, a fauna e a flora, ou seja, pelos
fenmenos homeostase caracterizados por todos os elementos responsveis pelo equilbrio
dinmico entre os seres vivos e o seu habitat natural.
Esse bem tutelado pela Constituio Federal/88 em seu artigo 225, caput, 1, I
e VII. Art.225 (...)
1 Para assegurar a efetividade deste direito incumbe ao Poder Pblico: I-preservar e restaurar os processos ecolgicos essenciais e promover o
manejo ecolgico das espcies e ecossistemas;
VII proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as prticas que coloquem em risco sua funo ecolgica, provoquem a extino de espcies
ou submetam animais crueldade. (BRASIL, 1988).
Permeando o texto constitucional, o meio ambiente encontra-se mediante vrias
referncias explcitas ou implcitas, sendo que as mesmas se mostram claramente ao
pesquisador, no texto. O meio ambiente cultural, como relata Silva (1995) aquele integrado
pelo patrimnio histrico, artstico, arqueolgico, paisagstico, turstico, que embora artificial
em regra, como obra do homem, difere do anterior (que tambm cultural) pelo sentido de
valor especial.
O artigo 216 do texto Constituio Federal define este conceito:
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Constituem patrimnio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referncia
identidade, ao, memria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem:
I-as formas de expresso; II- os modos de criar, fazer e viver; III- as criaes
cientficas, artsticas e tecnolgicas; IV- as obras, objetos,documentos,
edificaes e demais espaos destinados s manifestaes artstico-culturais;V- os conjuntos urbanos, e stios de valor histrico, paisagstico,
artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico. (BRASIL,
1988).
Assim, para Silva (1997) e Mancuso (1996), meio ambiente compreendido
como o bem que compe e traduz a cultura do povo. Meio ambiente artificial aquele
composto pelo espao urbano construdo, logo as edificaes como espao urbano fechado e
dos equipamentos pblicos, espaos urbanos abertos, meio ambiente do trabalho, nada mais
do que o habitat laboral, isto , tudo que envolve e condiciona, direta e indiretamente, o
local onde o homem obtm os meios para prover, o quanto necessrio, a sua sobrevivncia e
desenvolvimento, em equilbrio com o ecossistema.
A Constituio Federal em seu artigo 23, VI e II, aponta para a proteo do meio
ambiente e da sade. Logo, como salienta Rocha (2002, p. 195), partindo dessa premissa de
que meio ambiente compreende o meio ambiente do trabalho, e de que a sade inclui a sade
do trabalhador, o poder pblico, sem exceo, deve proteger o meio ambiente do trabalho e
cuidar da sade dos trabalhadores.
A Lei Federal estende o termo ambiente tambm proteo da sade do
trabalhador, em seu art. 200, VIII, quando determina que cabe ao Sistema nico de Sade a
proteo ao meio ambiente e o trabalho.Como ressalta Fiorillo e Rodrigues (1997, p. 66),o
que se procura salvaguardar , pois, o homem trabalhador, enquanto ser vivo, das formas de
degradao e poluio do meio ambiente onde exerce o seu labuto, que essencial sua
qualidade de vida. Trata-se, pois, de direito difuso.Fica claro, ento, que o trabalhador no
fica restrito nem ao limite da fbrica, nem a relao obrigacional, tendo-se em vista a
essencial qualidade de vida da massa trabalhadora.
Sendo assim, no se pode negar que a legislao nacional buscou proteger a
segurana e a medicina do trabalho como aspectos importantes do Direito do Trabalho, assim
como a Organizao Internacional do Trabalho (OIT) fixou diretrizes internacionais para que
tais regras fossem cumpridas pelos pases que ratificaram este tratado. Foi pensando na sade
da massa trabalhadora que, como salienta Miriardi (2010)
[...] o Brasil ratificou o Protocolo Adicional Conveno Internacional sobre Direitos Humanos em Matria de Direitos Econmicos, Sociais e
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Culturais (Protocolo de San Salvador), de 17.11.1988, onde garante
condies justas e satisfatrias de trabalho, devendo ser observada pelos
pases signatrios a proteo segurana e higiene no trabalho (art. 7)
da Constituio de 1988. (MIRIARDI, 2010, p., 24-25, grifos do autor).
A agenda 21, fruto da Conferncia Internacional de 1992, j observava claramente
a preocupao do pas com a proteo da sade do trabalhador e a preocupao com o meio
ambien