contos tradicionais lusÓfonos

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CONTOS TRADICIONAIS LUSÓFONOS ANO DE SOL CONTO POPULAR DE MOÇAMBIQUE – Houve um tempo em que não chovia e os animais morram de tanta sede. Então, todos resolveram se reunir a fim de solucionar o problema. O coelho recusou-se a participar das tentativas de encontrar água. Os animais cavaram, cortaram árvores, até que, em uma dessas árvores a tartaruga encontrou água suficiente para forma um pequeno lago. Fizeram festa, tocaram batuque durante três semanas, pois não sentiriam mais sede. O leão sugeriu que não deixassem o coelho beber a água deles e todos concordaram. Quando os animais saíram para a caça, deixaram a gazela tomando conta do lago. Sentindo sede, o coelho colocou mel dentro de uma cabaça, foi até à gazela e chamou. A gazela perguntou quem era e o que queria. O coelho respondeu que lhe trouxera mel de presente. Sem saber o que era mel. O coelho a convenceu que provasse. Ela gostou tanto que implorou mais ao coelho. Este, então, lhe disse que ela ainda não havia sentido todo o sabor do mel, pois isso só aconteceria se ela o comesse atada a uma árvore. Dessa forma, a gazela deixou-se amarrar. O coelho não deu mais mel à gazela e, ainda, foi ao lago beber água e tomar banho, sujando toda a lagoa. Quando os outros animais chegaram, repreenderam a gazela e puseram o macaco de guarda. No dia seguinte o coelho, novamente, chamou e o macaco respondeu que não perdesse o seu tempo, pois todos os seus artifícios já era conhecidos. O coelho disse que era uma pena, pois trazia consigo uma coisa muito saborosa, e fingiu ir-se embora. O macaco pediu para ao menos ver do que se tratava. O coelho passou um pouco de mel em seus lábios e o macaco ficou maravilhado com o sabor. Quando o macaco implorou um pouco mais, o coelho disse-lhe que não poderia dar-lhe, pois tinha medo que depois ele o seguisse para descobrir onde ele obtinha o mel. O macaco jurou que não faria isso e o coelho pediu-lhe, como prova, que o deixasse atar-lhe a uma árvore. Louco pelo mel, o macaco permitiu, repetindo-se com ele o mesmo que com a gazela. Ao retornarem, os animais ficaram enfurecidos. O mesmo sucedeu com o búfalo, o hipopótamo, o elefante e com os demais bichos, deixando o leão exasperado. Até que a tartaruga ofereceu-se para ficar de guarda. Ela, então, resolveu ficar de guarda dentro do lago, escondendo-se em baixo da água. Chegando ao lago, o coelho pensou que os outros tivessem desistido de enfrentá-lo. Entrou na lagoa e fez a festa. Quando ia sair da água, a tartaruga agarrou-lhe a perna. Ele implorava que a tartaruga lhe largasse a perna e nada. Quando os animais retornaram, ficaram muito contentes, julgando o coelho e condenando-o à morte. O condenado exigiu o seu direito a uma última vontade: ser executado no colo da mulher do chefe. No momento em que a onça ia atirar, o coelho começou a fazer gracinhas, fazendo-a rir e errar o alvo, acertando a mulher do chefe, possibilitando a fuga do coelho. Por isso, todos os animais o procuram, a fim de executá-lo. Desde então, têm-se visto o coelho, sempre sozinho, correndo de um lado para o outro, aos saltos e aos ziguezagues. PICASSA, O INVENTOR DO FOGO CONTO POPULAR DO TIMOR LORO SAE – Kera-Kia e Kíri-Kosse pescavam juntos e dividiam o resultado do seu trabalho ao final do dia. Porém, nunca conseguiam fazer uma divisão justa, pois sempre um ficava com um pouco mais do que o outro. Por isso, Pikassa ofereceu-se para entrar na sociedade e fazer a divisão. O problema é que eles, por não conhecerem o fogo, comiam os seus peixes crus. Certo dia, Pikassa percebeu uma pedra

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CONTOS TRADICIONAIS LUSÓFONOS

ANO DE SOL

CONTO POPULAR DE MOÇAMBIQUE – Houve um tempo em que não chovia e os animais morram de tanta sede.

Então, todos resolveram se reunir a fim de solucionar o problema. O coelho recusou-se a participar das tentativas de

encontrar água. Os animais cavaram, cortaram árvores, até que, em uma dessas árvores a tartaruga encontrou água

suficiente para forma um pequeno lago. Fizeram festa, tocaram batuque durante três semanas, pois não sentiriam

mais sede. O leão sugeriu que não deixassem o coelho beber a água deles e todos concordaram. Quando os animais

saíram para a caça, deixaram a gazela tomando conta do lago. Sentindo sede, o coelho colocou mel dentro de uma

cabaça, foi até à gazela e chamou. A gazela perguntou quem era e o que queria. O coelho respondeu que lhe

trouxera mel de presente. Sem saber o que era mel. O coelho a convenceu que provasse. Ela gostou tanto que

implorou mais ao coelho. Este, então, lhe disse que ela ainda não havia sentido todo o sabor do mel, pois isso só

aconteceria se ela o comesse atada a uma árvore. Dessa forma, a gazela deixou-se amarrar. O coelho não deu mais

mel à gazela e, ainda, foi ao lago beber água e tomar banho, sujando toda a lagoa. Quando os outros animais

chegaram, repreenderam a gazela e puseram o macaco de guarda. No dia seguinte o coelho, novamente, chamou e

o macaco respondeu que não perdesse o seu tempo, pois todos os seus artifícios já era conhecidos. O coelho disse

que era uma pena, pois trazia consigo uma coisa muito saborosa, e fingiu ir-se embora. O macaco pediu para ao

menos ver do que se tratava. O coelho passou um pouco de mel em seus lábios e o macaco ficou maravilhado com o

sabor. Quando o macaco implorou um pouco mais, o coelho disse-lhe que não poderia dar-lhe, pois tinha medo que

depois ele o seguisse para descobrir onde ele obtinha o mel. O macaco jurou que não faria isso e o coelho pediu-lhe,

como prova, que o deixasse atar-lhe a uma árvore. Louco pelo mel, o macaco permitiu, repetindo-se com ele o

mesmo que com a gazela. Ao retornarem, os animais ficaram enfurecidos. O mesmo sucedeu com o búfalo, o

hipopótamo, o elefante e com os demais bichos, deixando o leão exasperado. Até que a tartaruga ofereceu-se para

ficar de guarda. Ela, então, resolveu ficar de guarda dentro do lago, escondendo-se em baixo da água. Chegando ao

lago, o coelho pensou que os outros tivessem desistido de enfrentá-lo. Entrou na lagoa e fez a festa. Quando ia sair

da água, a tartaruga agarrou-lhe a perna. Ele implorava que a tartaruga lhe largasse a perna e nada. Quando os

animais retornaram, ficaram muito contentes, julgando o coelho e condenando-o à morte. O condenado exigiu o seu

direito a uma última vontade: ser executado no colo da mulher do chefe. No momento em que a onça ia atirar, o

coelho começou a fazer gracinhas, fazendo-a rir e errar o alvo, acertando a mulher do chefe, possibilitando a fuga do

coelho. Por isso, todos os animais o procuram, a fim de executá-lo. Desde então, têm-se visto o coelho, sempre

sozinho, correndo de um lado para o outro, aos saltos e aos ziguezagues.

PICASSA, O INVENTOR DO FOGO

CONTO POPULAR DO TIMOR LORO SAE – Kera-Kia e Kíri-Kosse pescavam juntos e dividiam o resultado do seu

trabalho ao final do dia. Porém, nunca conseguiam fazer uma divisão justa, pois sempre um ficava com um pouco

mais do que o outro. Por isso, Pikassa ofereceu-se para entrar na sociedade e fazer a divisão. O problema é que

eles, por não conhecerem o fogo, comiam os seus peixes crus. Certo dia, Pikassa percebeu uma pedra vermelha

perto de um bocado de ferro. Sem querer, tropeçou no ferro, que bateu na pedra e faiscou. Então, Pikassa teve a

idéia de passar gamute sobre a pedra e esfregar nela o ferro. Até que fez faísca e pegou fogo durante algum tempo

no gamute. Pikassa descobrira o fogo, que proporcionou, a todos os habitantes da ilha,a possibilidade de comer

peixes assados

QUANDO OS CÃES DEIXARAM DE FALAR

CONTO POPULAR DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE – O casal Sam Fali e Sum Fléflé viviam em um povoado distante

em meio à floresta. Um dia, Sum Fléflé foi caçar levando consigo o cãozinho Loló. Ao voltar para casa o pobre

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homem parava a todo o momento para descansar, pois a sua carga era por demais pesada. Em uma dessas

paradas, o cãozinho Loló ofereceu-se para levar a carga em seu lugar, contanto que ele não revelasse à sua mulher

que ele era capaz de desempenhar essa atividade e nem que era capaz de falar. Sum Fleflé aceitou, prometendo

nada revelar à Sam Fali. Porém, a mulher desconfiou que algo tinha ocorrido e começou a perguntar ao marido quem

tinha carregado a carga. Durante algum tempo o homem conseguiu guardar segredo, mas, ao ser ameaçado de

abandono pela mulher, acabou por contar a verdade. Ao ver que tinha sido traído por seu amo, Loló gemeu muitas

vezes e, desde esse dia, nunca mais cão algum falou.

O LEÃO, A LEBRE, O CÁGADO

CONTO POPULAR DA ANGOLA – A lebre só tinha uma cabra. Sabendo que o leão possuía um bode, propôs a ele

que lhe emprestasse o animal por uns tempos para que sua cabra tivesse filhotes. Quando isso ocorreu, a lebre foi

devolver o bode ao leão. Entretanto, ele exigiu as crias, alegando que sem o seu bichinho a cabra jamais as teria

tido. Como não conseguiram entrar em um acordo, procuraram a ajuda do tribunal dos anciãos. O tribunal deu ganho

de causa ao leão, apresentando a mesma justificativa que o vencedor já havia utilizado anteriormente, ou seja: sem o

bode a cabra não teria tido filhotes. Todavia, como faltava o cágado, também membro no tribunal dos anciãos, a

lebre solicitou que se aguardasse a sua chegada, com o que todos concordaram, por questão de justiça. Após um dia

inteiro de espera, chega o cágado. O leão, furioso, perguntou a razão para tanto atraso, ao que ele respondeu que

sua demora devia-se ao fato de que ele estava assistindo ao parto de seu pai. Todos riram, perguntando onde se viu

homem dar à luz. Então, o cágado perguntou se não disso, afinal, que se tratava. Imediatamente, os anciãos

mudaram de posicionamento, dando ganho de causa à lebre, pois compreenderam que, já que é a mulher quem dá à

luz, a ela os filhos pertencem.

AS FILHAS DE FARAM

CONTO POPULAR DA GUINÉ-BISSAU – Faram e sua esposa tinham duas filhas, Mate e Secanhuma, sendo a

primeira mais velha. Os pais sempre preveniram às meninas de que, após a morte deles, elas deveriam se manter

unidas. O tempo passou e os pais das moças morreram. Mate, ao sair para trabalhar a terra, preparando-a para o

plantio, disse a Secnhuma que não abrisse a porta a ninguém, quando ela chegasse cantaria “Secnhuma yóó-bara e

tio alumbrem jilio-jeli-yeee” e então a menina saberia que era ela e poderia abrir. Porém, um irã escondido ouviu tudo

o que Mate disse a irmão. Após alguns dias, Mate teve de voltar para o trabalho e deu novamente a mesma

recomendação. Não havia passado muito tempo quando Secanhuma ouviu a canção: “Secnhuma yóó-bara e tio

alumbrem jilio-jeli-yeee”. A moça abriu a porta, mas quem estava a sua frente não era Mate, mas o irã, que raptou a

menina e a levou para a sua terra. Ao voltar, Mate ficou pensando sobre o que poderia fazer para encontrar e trazer

de volta a sua irmã. Decidiu procurar um pássaro que a pudesse ajudar. Para isso era necessário um pássaro que

conseguisse cantar aquela canção e o único que conseguiu foi o falcão. Mate sentou-se às costas do falcão e os dois

partiram. Ao chegarem à terra do irão, o falcão começou a cantar: “Secnhuma yóó-bara e tio alumbrem jilio-jeli-yeee”.

Uma velha perguntou a Mate o fazia ali, ao que ela respondeu que viera buscar a irmã. A velha, então disse-lhe que

buscaria a moça e, de fato, voltou com ela. As duas moças voltaram para casa às costas do falcão. Durante o

período em que Secanhuma estivera em casa do irão, não cortara os cabelos, que tinham até ninhos de passarinhos.

No dia seguinte, Secanhuma pediu a irmã que retirasse aquele ovos de seus cabelos, e cada ovo que Mate retirava

transformava-se em vaca, cabra, porco, galinha e diversos animais. Foi dessa forma que as duas filhas de Faram

tornaram-se ricas.

http://tatianflor.vila.bol.com.br/tatiana.html

Fonte: http://pt.shvoong.com/books/children-and-youth/1624915-filhas-faram-contos-tradicionais-dos/

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