contratos eletronicos
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Modulo 5 – Contratos Eletrônicos
Tema: Aspectos legais do documento eletrônico diante da prova documental no
direito brasileiro e as implicações no contrato eletrônico.
Professora – Poliana Aroeira Braga Duarte Ferreira
SUMÁRIO
1 CONSIDERAÇOES INICIAIS............................................................ 2
2 UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E A
APLICABILIDADE NAS RELAÇÕES JURÍDICAS .......................
3
2.1. Direito e Internet
5
3 DOCUMENTO ELETRONICO X CONTRATO ELETRONICO 9
4 PROVA DOCUMENTAL NO DIREITO BRASILEIRO ............. 10
4.1 Conceito de Documento .......................................................................... 10
4.2 Documento segundo a Linguagem Forense ............................................. 11
4.3 Documento na Pós-Modernidade: os desafios do meio físico ao meio
virtual .......................................................................................................
12
4.3.1 Disposições legais que tratam do documento eletrônico no âmbito do
direito brasileiro ................................................................................................
15
4.4 Breves Considerações sobre a Teoria da Prova Documental no Direito
Brasileiro ..................................................................................................
16
5 A VALIDADE DO DOCUMENTO ELETRONICO NO DIREITO
BRASILEIRO .........................................................................................
22
5.1 Documento Eletrônico sem Assinatura .................................................... 22
5.1.1 E-mail como meio de prova ...................................................................... 26
5.2 Documento eletrônico com assinatura eletrônica (gênero) ....................... 27
5.2.1 Documento eletrônico com assinatura eletrônica (não digital)
.....................................
29
5.2.2 Documento eletrônico com assinatura digital ........................................... 30
5.2.2.1 Funcionalidade do certificado digital....................................................... 34
6 CONSIDERAÇOES FINAIS 38
7 JURISPRUDENCIA CORRELATA AO TEMA 40
2
1. Considerações Iniciais
A aceitação do contrato celebrado em meio eletrônico no que se refere as
suas disposições e a exigibilidade de suas obrigações, bem como a sua receptividade
pela comunidade jurídica requer, diretamente de uma dogmática jurídico-legislativa
sobre o tema.
É bem verdade que não há uma sistemática legislativa sobre os contratos
eletrônicos, nem mesmo seus pressupostos e elementos de existência, requisitos de
validade, ou princípios informadores específicos.
Por falta de uma regulamentação específica sobre o contrato eletrônico, fez
com que o regime jurídico da assinatura e dos certificados digitais no Brasil
servissem de parâmetro para compreender a sua aceitabilidade jurídica, no que se
refere à discussão que se relaciona com a sua prova por meio de documento
eletrônico e a identificação das partes contratantes, pela assinatura digital.
Para apresentar a aceitabilidade jurídica do contrato eletrônico, diante da
dogmática jurídico-normativa, optou-se primeiramente remontar a questão da prova
de sua ocorrência. Logo, é inafastável uma abordagem do documento eletrônico
diante da prova documental no Direito Brasileiro.
Diante dessa realidade, tal é a justificativa de, mesmo num módulo que trata
especificamente do contrato eletrônico, haver a abordagem do documento digital e a
questão processual da prova.
Ademais, com a expansão dos contratos celebrados via Internet, nada mais
importante do que a preocupação com os meios de prova.
Aliás, nos dias de hoje, a tendência é a superação do documento gerado em
suporte físico, por questões de praticidade e armazenamento, para dar lugar aos
documentos digitais, de transmissão barata, eficiente e rápida.
Assim, pretendeu-se nesse módulo, apenas iniciar os debates acerca de uma
matéria um tanto quanto delicada e de importância impar para a comunidade jurídica: a
validade do documento eletrônico e as implicações no contrato eletrônico. Para tanto,
utilizou-se a doutrina e as legislações esparsas as quais manifestam que para reconhecer
a validade, autenticidade e a integridade de um documento eletrônico, por exemplo, um
contrato eletrônico, a assinatura digital, representando um dos elementos para buscar a
3
segurança das relações jurídicas e a validade das transações comerciais realizadas no
meio eletrônico.
A utilização de novos mecanismos tecnológicos utilizados para esse fim,
impõe uma releitura do Direito, não somente no Direito Processual, mas também, em
várias vertentes do Direito Comercial, Direito Contratual, no que se refere às transações
comerciais e os contratos celebrados em ambiente eletrônico, questões de Direito
Internacional Privado que muitas vezes revelam questionamentos legais, sobre qual
legislação a ser aplicada diante da extraterritorialidade que as relações jurídicas se
materializam principalmente via Internet.
Dentro desse contexto, objetivou-se analisar toda a estrutura probatória dos
documentos produzidos em meio eletrônico, através da pesquisa doutrinária e
jurisprudencial que foi realizada em fases para a construção do suporte teórico, e serviu
de referencial, o que sustentou as discussões que conduziram as conclusões
apresentadas no tema proposto. Considera-se que o tema abordado ainda merece
discussões que possibilitem finalmente, esclarecer pontos que possam minimizar tal
problemática: a prova documental em meio eletrônico.
2. Utilização da tecnologia da informação e a aplicabilidade nas relações
jurídicas.
O advento da era digital criou a necessidade de repensar novos conceitos
para o Direito. A desmaterialização do ambiente digital ocorrida através dos meios
eletrônicos comprometeu todo o sistema jurídico e introduziu várias novas
terminologias que fazem parte desse novo ambiente tecnológico.
A informática como futuro das relações jurídicas, presente e futuro da
justiça, ganha contornos no que se refere a validade jurídica dos documentos em meio
eletrônico.
E, é nesse contexto, que a desmaterialização do ambiente estrutura-se em
novos caminhos para a validade do documento eletrônico utilizando mecanismos talvez
inimagináveis pela comunidade jurídica e que atualmente apresentam-se como
instrumentos para segurança de qualquer transação no meio eletrônico, capaz de
promover as relações jurídicas contratuais através de instrumentos tecnológicos
voltados a assegurar a existência e validade do contrato.
4
Assim, a doutrina e as legislações esparsas manifestam que para reconhecer
a validade, autenticidade e a integridade de um documento eletrônico, por exemplo, um
contrato eletrônico, a assinatura digital, representa um dos elementos para buscar a
segurança das relações jurídicas e a validade das transações comerciais realizadas no
meio eletrônico.
Para a validade jurídica dos documentos eletrônicos (gênero) e para
assegurar a existência e validade do contrato celebrado em meio eletrônico, é preciso
identificar de forma segura através do meio digital as partes envolvidas nessa relação
jurídica. Para tanto, um dos mecanismos a ser utilizado pode ser identificado atualmente
através da utilização da assinatura digital por meio das autoridades certificadoras
responsáveis pela certificação dos documentos digitais, capazes de conferir às operações
e transações realizadas através desse método, plena confiabilidade jurídica.
O documento eletrônico hoje caracterizado como qualquer texto escrito que
representa um fato e tem como suporte a mídia eletrônica. Percebe-se, então, que as
relações jurídicas desmaterializaram-se e em contraposição gerou a incerteza de troca de
informações principalmente pela rede de computadores.
Dentro disso, interessa ao estudo, o enfrentamento do problema da produção
de provas em meios eletrônicos desde uma fotografia exposta na Internet, um e-mail
protegido por senha até se chegar aos textos escritos que utilizem da criptografia,
certificação e assinatura digital para garantir a validade e integridade desses
documentos.
Entre outros desafios enfrentados para o reconhecimento da validade
jurídica do documento eletrônico com a utilização de mecanismos de segurança, um
dos, talvez o mais controverso, é o do foro competente para dirimir conflitos existentes.
Nesse sentido, o estudo justifica-se na necessidade de abordar a teoria geral
da prova documental no direito brasileiro e as suas implicações diante da
desmaterialização do documento produzido em meio eletrônico o que irá contribuir para
a temática apresentada neste módulo, ou seja, a formação dos contratos eletrônicos.
Não obstante a importância do tema e toda a abordagem jurídica tem sido
estruturada com base nas fontes do Direito e normas esparsas de direito positivo, o que
deixa a mercê questionamentos doutrinários que sempre se cercam na necessidade de
mudança na estrutura legal, o que acaba por desestruturar o ambiente desmaterializado e
a evolução tecnológica.
5
Os operadores do Direito deparam com uma realidade nunca antes pensada e
estruturada na mudança de paradigmas legais frente à evolução tecnológica. Se a norma
jurídica estrutura-se na noção de tempo e lugar, por outro lado, o impulso tecnológico
com o surgimento da Internet nos dá uma noção de atemporalidade e
extraterritorialidade, pode-se produzir uma espécie de demolição na base jurídica.
O objeto central deste tema não é descrever as influências gerais entre a
tecnologia e Direito, mas especificamente os instrumentos tecnológicos de que o Direito
utiliza para a construção da validade jurídica dos documentos eletrônicos e a
repercussão da eficácia probatória no âmbito dos contratos celebrados em meio
eletrônico.
2.1 – Direito e Internet
Com a Internet os conceitos de tempo, espaço, fronteira estatal, lugar e
outros continuam influenciando os conceitos e regras jurídicas, no campo da prova
documental produzida em um meio eletrônico, na maioria das vezes, por meio da rede.
Entretanto, vale ressaltar que existe ainda grande dificuldade no campo da
hermenêutica, por parte dos operadores do direito, em relação às leis, no que se refere à
validade, integridade e autenticidade dessa nova modalidade de documento.
Neste contexto, é que foi escolhido o presente tema e, por isso, viu-se a
necessidade da análise desse tópico para se pudesse vivenciar a dificuldade da
comunidade jurídica na regulamentação do Direito e Internet.
Sabe-se que o espaço virtual ou aqueles que o denominam como cyberspace
(grifamos) pode ser denominado como o ambiente da Internet, distinto do espaço físico,
utilizado para a interação de pessoas e computadores, o que o converte num ambiente
para prática de inúmeros atos, inclusive a propagação de relações jurídicas.
O estudo ao longo dos anos sobre o tema dá ensejo a algumas características
interessantes destacadas por Ricardo L. Lorenzetti, sobre o “ciberespaço”:
Este “ciberespaço” é “autônomo” no sentido de que funciona segundo as
regras de um sistema auto-referente. Como já assinalamos. Também é “pós-
orgânico”, uma vez que não é formado por átomos, nem segue as regras de
funcionamento e de localização do mundo orgânico: tratam-se de bits. Tem
uma natureza “não-territorial” e comunicativa, um “espaço-movimento”, no
que tudo muda a respeito de tudo, ou seja, “o espaço virtual” não é sequer
assemelhado ao espaço real, porque não está fixo, nem é localizável
mediante o sentido empírico, como, por exemplo, o tato. [...] É um “não-
6
lugar-global” no sentido de sua transnacionalidade e atemporalidade, já que
parece indiferente à história e ao futuro.1
Diante das características apresentadas surgem desafios nunca imaginados
pela comunidade jurídica, o primeiro deles se refere à virtualização do Direito que passa
de um meio físico para um meio virtual. No entanto, não se pode confundir o virtual
com aquilo que não é considerado real.
O fato de a Internet apresentar uma série de características peculiares
(atemporalidade, globalização), faz com que a comunidade jurídica repense o Direito a
ser aplicado neste meio virtual. Diante desta realidade, vivencia-se a virtualização do
Direito num mundo “novo” e sem fronteiras e a quebra de paradigmas tradicionais e a
tentativa de controle da rede.
Nesta esteira de pensamento Carlos Alberto Rohrmann diante das tentativas
de controle da rede apresenta algumas propostas de soluções por parte de doutrinadores
e estudiosos. Uma delas manifestada por Post e Johnson, no artigo “Como se deve
governar a rede”, apresentam quatro modelos que consideram como aceitáveis para o
gerenciamento da Internet, concluíram com a preferência pelo quarto método, ou seja, a
criação de um Direito Descentralizado2.
1 LORENZETTI, Ricardo L. Comércio eletrônico. [Trad. Fabiano Menke]. Anot. Claudia Lima
Marques. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 30-31. 2 “Há quatro tipos de modelos básicos aceitáveis para a rede global:
Primeiro: os governos atuais podem, simplesmente, procurar meios de estender suas jurisdições,
ajustando suas leis de modo a poder governar todas as ações da rede que possam influir,
substancialmente, sobre seus cidadãos.
Segundo: os governos podem fazer acordos internacionais de modo a estabelecer regras aplicáveis
especificamente à rede.
Terceiro: poderia ser criada uma nova entidade internacional. Sob sua responsabilidade, ficaria o
estabelecimento de novas regras e a tarefa de acompanhar o cumprimento destas, além do apoio a
conselhos deliberativos que poderiam ser criados.
Quarto: as regras “de fato” surgirão como resultado da interação dos domínios de nome com os registros
de endereços de "IP" efetuados pelas operadoras de sistema, em relação às exigências feitas para
concessão de endereços on-line e às exigências locais quanto a que assinatura fazer, o que evitar e à
aceitação de qual sistema.
Acredita-se que a rede possa ser melhor “governada” pelo quarto método [...] e a que chamamos de
“Direito Descentralizado, Emergente”. Isto se deve a vários fatores. Há sérios problemas com os três
primeiros modelos tradicionais. Um sistema descentralizado tende a apresentar problemas importantes
que somente poderiam ser resolvidos com a aplicação de um “direito centralizado”, por uma autoridade
que detivesse o monopólio de uso da força. Tal forma de ação coletiva, descentralizada e emergente,
exige a aceitação espontânea de parâmetros; conforme o lema da Internet Engineering Task Force,
consenso incompleto, mas código perfeito. Em que pese algumas pessoas pensarem que a ordem somente
existe quando emanada de um poder central, controlada por uma hierarquia, tal processo,
necessariamente, não leva ao caos nem à anarquia. Ao contrário, os protocolos técnicos da rede acabaram
criando um sistema complexo de adaptação que produz uma espécie de ordem que não depende de
advogados, decisões judiciais, leis nem de votos. Pode-se argumentar que o mesmo conjunto de decisões,
descentralizado, que criou a rede, também está apto a criar um sistema capaz e eficiente na forma de
7
Os autores (Post e Johnson) sustentam a criação de um Direito
Descentralizado criado pelo próprio sistema tecnológico para fugir das mazelas do
Direito Tradicional amparado numa estrutura territorial e temporal. Representada
através da criação de uma estrutura de auto-governo pela rede, com a criação de um
novo Direito, qual seja, um “Direito Descentralizado Emergente”.
No entanto, ao longo dos anos vivencia-se uma realidade não atrelada ao
“sistema descentralizado emergente de governabilidade” apresentado pelos autores já
mencionados, visto que, não só pelas primeiras manifestações legislativas, como as
decisões dos tribunais em todo mundo, estão escolhendo o primeiro modelo apontado,
qual seja, a adoção de leis próprias e a extensão da jurisdição local para decidir os casos
enfrentados pelo Direito em ambiente virtual, é o que alguns autores3 denominaram de
“analogia” com a aplicação da legislação já existente.4
O segundo modelo apresentado pelos professores (Post e Johnson) no
começo da década de 90, por exemplo, foi aplicado com a lei uniforme da UNCITRAL
(United Nations Commission on International Trade Law) para o comércio eletrônico
elaborada pelas Nações Unidas, apresentado na 29ª Assembléia Geral, realizada entre 28
de maio a 14 de junho de 1996, 51ª Sessão, Suplemento nº. 17 (A/51/17).5
Assim, forma-se em ritmo crescente e aplicado pelos países a
inadmissibilidade da possibilidade de um mundo virtual sem regulações. E a regulação
pelas normas do Direito comum e os conflitos são os mesmos: segurança, privacidade,
proteção do consumidor, regulação ou flexibilidade. Todas essas categorias devem ser
aplicadas com base na analogia, em que pese uma nova realidade com novos conceitos
não se pode esquecer o que já era conhecido e referendado.
governar”. POST, David G. e JOHNSON, David R., 1996 apud ROHRMANN. Carlos Alberto.
Introdução ao Direito Virtual. (1999) Disponível em: htp//www.direitodarede.com.br/Assdg.htm1.
Acesso dia 20 de julho de 2007. 3 LORENZETTI, op.cit., p. 68.
4 No Brasil, as normas de proteção e defesa do consumidor (Lei nº 8078/90) estão sendo aplicadas ao
comercio eletrônico via Internet, quando envolvem consumidores brasileiros e outras legislações
aplicadas envolvendo o espaço virtual. Ao longo do desenvolvimento do tema serão abordados alguns
pontos na legislação brasileira e os dispositivos legais responsáveis pela validade, autenticidade e
integridade do documento eletrônico. 5 Lei Modelo Sobre Comércio Eletrônico – UNCITRAL. Disponível no site www.direitodarede.com.br.
Acesso em 15 de setembro de 2008.
8
Nesse sentido, sustenta-se que devem ser consagrados os costumes e as
práticas tradicionais, de maneira que possa se tornar mais confiável e rápida a aceitação
do paradigma tecnológico.6
Diante dessa premissa de readaptação às normas já existentes à nova
realidade, transcreve-se alguns exemplos desta prática:
O conceito de “assinatura digital” é uma aplicação analógica das regras
sobre autoria já existentes; o regime de propriedade intelectual é encarado
pela jurisprudência mediante a aplicação das leis sobre marcas e patentes; o
modo de celebração dos contratos assemelha-se à contratação à distância; a
responsabilidade civil dos intermediários é analisada em comparação com a
dos provedores de serviços telefônicos, que não são responsáveis pelo
conteúdo das chamadas.7
Diante ao que foi exposto, pode-se visualizar uma problemática que está
longe de ser resolvida pelos países, já que se está diante de um meio sem fronteiras,
atemporal e mais democrático.
A criação de um “Direito Descentralizado”, só ele, nos parece excessivo e
utópico, já que, a pretensão de consagrar um mundo novo paralelo ao real e uma nova
dimensão imune ao Direito Tradicional é impossível de acontecer. Algumas regras
tecnológicas criadas pelo sistema ajudariam nessa regulamentação, mas por si só, não
seriam suficientes na regulação de desse sistema. É como imagina-se uma “terra sem
lei”. Sendo assim, há que se aceitar as inovações e também promovê-las, ou seja, aceitar
mudanças que permitam a inovar, mas num contexto de valores, formas claras e de
rigor.
Diante dessa realidade, Ricardo L. Lorenzetti, propõe estudar:
Os conflitos perduráveis e sua problemática específica no meio tecnológico.
Ou seja, a exclusão social, as diferenças entre fortes e fracos, a
discriminação, o monopólio e a concorrência, ou o tema que for, deve ser
tratado a partir da analise das modificações que o meio técnico produz.
Analogia em nível de princípios. Os princípios jurídicos e os valores
permanecem no ordenamento, seja na regulação do mundo físico ou do
virtual, e os conflitos de aplicação ou de deslocamento dos princípios e
valores são similares. Diversidade em nível de regras. As regras são
diferentes no mundo virtual. Por exemplo, as regras de assinatura digital que
adotam a criptografia são diferentes, ainda que os princípios sobre autoria
sejam basicamente os mesmos.8
6 LORENZETTI, op. cit., p. 76.
7 Idem.
8 LORENZETTI, op. cit., p. 78-79.
9
Assim, diante da contextualização apresentada sobre o problema da
regulação do espaço virtual que se mostra complexo e, sabendo que é necessário
preservar a fluidez, a criação, a democracia interna da rede, através da flexibilidade e
liberdade de regras que envolvem os direitos individuais, baseado na livre iniciativa,
mas sem quebrar o equilíbrio dos princípios gerais do Direito.
Ao longo do desenvolvimento do tema deparou-se com esta tentativa de
controle da rede, visto que, muitas vezes utilizamos a legislação local para adaptarmos a
esse novo meio e para fins metodológicos a analogia será um dos instrumentos para
análise da prova documental quando produzida em meio eletrônico e também aos
contratos quando celebrados em meio eletrônico.
Assim, diante de toda a facilidade de comercialização e distribuição de
produtos principalmente pela Internet a realidade desafia os operadores do direito,
sustentando a necessidade não só da aplicação da legislação já existente em cada país,
por exemplo, o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor, mas também a
necessidade de um regime legal diferenciado através de uma nova regulamentação sobre
a eficácia jurídica do documento eletrônico e da assinatura digital, a certificação
eletrônica, a responsabilidade dos intermediários e a proteção dos usuários.
3 – Documento Eletrônico x Contrato Eletrônico
Para o contrato eletrônico o conceito não se diferencia do contrato
tradicional, já que também é resultado da convergência de uma ou mais vontade para
obter um efeito jurídico desejado pelas partes.
São chamados contratos eletrônicos os negócios jurídicos bilaterais que
utilizam o computador como mecanismo responsável pela formação e
instrumentalização do vínculo contratual.9
O que distingue um contrato eletrônico e o contrato tradicional está no meio
utilizado em que essas manifestações de vontade ocorrem e na instrumentalização do
mesmo. Nesses termos, define-se o contrato eletrônico como uma conjugação de
vontades entre duas ou mais pessoas, com o intuito de modificarem, extinguirem ou
9 SANTOS, Manoel J. Pereira dos; ROSSI, Mariza Delapievi. Aspectos Legais do Comércio Eletrônico –
Contratos de Adesão. In: Revista de Direito do Consumidor, vol. 36. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2000. p. 108.
10
constituírem um vínculo jurídico patrimonial, utilizando como meio os computadores
interligados entre si.
Também não se pode confundir o contrato eletrônico do conceito genérico
de documento eletrônico. Assim, no conceito amplo de documento eletrônico incluem
todos os documentos gerados, transmitidos ou armazenados no ambiente digital. Já os
contratos eletrônicos representam uma das espécies de documentos gerados por meio
eletrônico consubstanciados num negócio jurídico bilateral. 10
4 - PROVA DOCUMENTAL NO DIREITO BRASILEIRO
4.1 Conceito de Documento
Antes de discutir a validade da prova documental em meio eletrônico, é
necessário definir o que se entende por documento.
A palavra documento deriva do latim documentum, que significa prova,
amostra. Também provém do verbo docere (indicar, mostrar, instruir), ou seja, significa
ensinar11
. Mais do que o significado etimológico da palavra é importante visualizar um
dos significados técnico jurídico para o mesmo, como “papel escrito, em que se mostra
ou se indica a existência de um ato, de um fato ou de negócio”.12
Neste sentido, existem várias acepções da palavra documento:
1) Qualquer escrito usado para esclarecer determinada coisa;
2) qualquer objeto de valor documental (fotografias, peças, papéis,
filmes, construções, etc.) que elucide, instrua prove ou comprove
cientificamente algum fato, acontecimento, dito, etc.;
3) atestado, escrito etc. que sirva de prova ou testemunho;
4) escrito ou registro que identifica o portador;
5) qualquer título, declaração, testemunho, etc, que tenha valor legal
para instruir e esclarecer algum processo judicial.13
10
A formação dos contratos eletrônicos e as espécies contratuais envolvidas nessa nova mídia serão
tratados em tópico específico, haja vista a abordagem inicial sobre a validade dos documentos gerados em
meio eletrônico. 11
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 493. 12
Idem.Ibidem 13
PARENTONI, Leonardo Netto. Documento eletrônico: aplicação e interpretação pelo Poder
Judiciário. Curitiba: Juruá, 2007. p. 32 .
11
Assim a palavra documento pode ser entendida no seu significado amplo
abrangendo outras espécies de escrito, ou seja, “[...] é qualquer base de conhecimento,
fixada materialmente e disposta de maneira que se possa utilizá-la para extrair
cognição do que está registrado”14.
Neste sentido, percebe-se que o termo documento, no seu sentido amplo,
abrange textos escritos, bem como objetos gráficos, por exemplo, fotografias,
filmagens, etc.
4.2 Documento segundo a linguagem forense
No âmbito da legislação brasileira temos, por exemplo, no Código de
Processo Civil, o Título VIII, Capítulo VI, Seção V, que trata da prova documental.
Note-se que os artigos dessa seção não definem diretamente o conceito de documento,
por isso, a análise é feita pela doutrina.15
Para materializar o significado documento na técnica jurídica parte-se do
conceito desenvolvido por Francesco Carnelutti: “El documento no es sólo una cosa,
sino una cosa representativa, o sea capaz de representar un hecho”. 16
O referido autor ensina ainda que a distinção de documento se dá pela
matéria, meio e conteúdo.17 A matéria é uma via representativa de documento, e a mais
conhecida delas é a cártula (papel), mas conforme analisado acima tem-se outros tipos,
como, por exemplo, a tela, a pedra, o metal, e, nos dias atuais, a via cibernética.
Já o meio de representação do documento pode ser o verbal ou figurativo. O
meio verbal pode ser representado, por exemplo, pela escrita, e o meio figurativo, pode
se dá, por exemplo, pela fotografia. Também existem outros meios de representações
verbais, pois fazem uso, via de regra, da palavra escrita, como as transmissões cartulares
e eletromagnéticas.18
14
GICO JÚNIOR, Ivo Teixeira. O conceito de documento eletrônico. Repertório IOB de
Jurisprudência. Belo Horizonte, n14, p. 304-305, 2. Quinzena, julho. 2000. Caderno 3. 15
Também o Código de Processo Penal nos dá uma noção do que seja documento: “Art. 232 –
Consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares.
Parágrafo único – À fotografia do documento, devidamente autenticada, se dará o mesmo valor do
original. 16
CARNELUTTI, Francesco. La prueba civil. . 2. ed. Buenos Aires: Depalma, 2000. p. 156. 17
CARNELUTTI. op. cit. p. 188 – 191. 18 GARDINO, Adriana Valéria Pugliesi. Títulos de Crédito Eletrônico: noções gerais e aspectos
processuais. In: PENTEADO, Mauro Rodrigues (coord.). Títulos de credito: teoria geral e títulos
atípicos em face do novo código civil, títulos de crédito eletrônico. São Paulo: Walmar, 2004. p. 17-18.
12
Por fim, o conteúdo representado pelo documento, desde que, seja
considerado que qualquer fato pode ser documentalmente representado, pode ter um
caráter declaratório ou narrativo.19
Trazendo os ensinamentos de Carnelutti parece fácil ter uma noção de
documento representado por meio eletrônico com a semelhança e a diferenças do
documento representado pelo meio da cártula (papel). A semelhança é que ambos têm o
mesmo conteúdo de natureza declaratória (de direitos) e, em regra, utilizam o meio de
representação verbal, qual seja, a escrita. A distinção está apenas na matéria, o cartular,
por meio do papel e, o eletrônico, por meio digital.
No mesmo entendimento, segundo Humberto Theodoro Júnior, define
documento como sendo “toda coisa capaz de representar um fato. Pode constituir prova
documental se for apta a indicar diretamente este fato ou prova documentada, quando a
representação do fato se dê de forma indireta”.20 Assim, entende-se que o conceito de
documento no âmbito da linguagem forense pode ser qualquer texto escrito que possa
representar um fato.
4.3 Documento na Pós-Modernidade: os desafios do meio físico ao meio
virtual
De tudo que foi exposto, percebe-se que a noção de documento em momento
algum se refere necessariamente que deve ser escrito em papel. Visualiza-se que há
diversos meios de materialização do documento, inclusive o meio digital. A própria
noção de documento pode ser representada pela doutrina tradicional21 ao se referir em
texto escrito em papel ou outro material adequado. Por exemplo, textos gravados em
pedra, tecido, madeira, também são considerados documentos.
A atualidade nos mostra patamares da evolução do Direito na era da
informática principalmente com a popularização da Internet. Neste contexto, a idéia de
documento está representada em um novo meio, qual seja, o meio cibernético ou digital.
Daí, a questão, a saber é: se esse novo meio digital pode ser considerado documento no
âmbito técnico-jurídico?
Antigamente pode-se argumentar que ao referir sobre a idéia de “material
adequado”, só podia estar representada por bens corpóreos. Essa nova idéia de
imaterialidade através dos arquivos de computador representativos de um documento
19
CARNELUTTI. op. cit. p. 156 -161. 20
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 37.ed. Rio de Janeiro: Forense,
2001, p. 393. vol.1 21
Idem.
13
em meio eletrônico e a possibilidade de reconhecimento no âmbito jurídico nos faz crer
que o Direito está transportando barreiras nunca imaginadas de valores que duraram
séculos e mais séculos e, que, hoje, nos traz uma idéia de valorização dos átomos aos
bits.
Destarte, a idéia da descartularização, substituindo-se o meio físico por
outro veiculo, na atualidade, o meio digital, não leva a renuncia quanto aos efeitos da
incorporação e o da tutela cartular. Assim o reconhecimento da validade jurídica dos
documentos eletrônicos trata apenas da inovação da matéria no que se refere ao
documento (meio digital) e a adaptação às peculiaridades deste novo meio, como por
exemplo, o valor dessa prova documental avaliada desde documentos sem assinatura até
aqueles documentos assinados com a assinatura digital.
O reconhecimento do valor da prova documental irá variar conforme a
segurança representada neste novo meio cibernético, ou seja, os mecanismos
tecnológicos utilizados para o reconhecimento e validade destes tipos de documentos
eletrônicos. A própria tecnologia irá demonstrar quais os meios tecnológicos para
manter seguro esses documentos sob pena de correr o risco de torná-los ineficientes e
inaceitáveis no âmbito da prova documental em juízo.
Por isso, é importante buscarmos mecanismos tecnológicos para preservar o
seu conteúdo, integridade e autoria, na qual passaremos a tratar nos próximos tópicos e
cada um deles terá seu “valor” jurídico conforme os mecanismos utilizados.
O que se deve frisar, é que a prova documental deve estar gravada em um
suporte material, que necessariamente não precisa ser o papel, podendo ser a mídia
digital, qual seja, o que se terá em um documento eletrônico.
A idéia atual que se deve materializar sobre documento, para também
abranger o documento eletrônico é descrita por Augusto Tavares Rosa Marcacini em
sua obra “Uma abordagem jurídica sobre criptografia”:
Um conceito atual de documento, para abranger também um documento
eletrônico, deve privilegiar um pensamento ou fato que se quer perpetuar, e
não a coisa em que estes se materializam. Isso porque o documento eletrônico
é totalmente dissociado do meio em que foi originalmente armazenado. Um
texto, gravado originalmente do disco rígido do computador de seu criador,
não está preso a ele. Assumindo a forma de uma seqüência de bits, o
documento eletrônico não é outra coisa que não a seqüência mesma,
independente do meio onde foi gravado. Assim, o arquivo eletrônico em que
está este texto poderá ser transferido para outros meios, sejam disquetes, CDs,
ou discos rígidos de outros computadores, mas o documento eletrônico
continuará sendo o mesmo. [...] o documento eletrônico é, então, uma
sequência de bits que, traduzida por meio de um determinado programa de
14
computador, seja representativa de um fato. Da mesma forma, que os
documentos físicos, o documento eletrônico não se resume em escritos: pode
ser um texto escrito, como também pode ser um desenho, uma fotografia
digitalizada, sons, vídeos, enfim, tudo que puder representar um fato e que
esteja armazenado em um arquivo digital.22
Se a técnica atual admite vários mecanismos tecnológicos para o
reconhecimento de um fato que não seja especificamente em algo tangível, mas também
em meio eletrônico, então, isto também deve ser atribuído como documento.
Como já mencionado, o documento eletrônico é considerado uma seqüência
de bits, seja em qualquer meio em que esteja gravado ou em qualquer quantidade de
cópias, se for reproduzido na mesma seqüência, sempre estaremos de posse do mesmo
documento. Neste sentido, é o caso de atribuirmos que no documento eletrônico não
podemos dizer que existe original, cópias e nem vias de um documento produzido neste
meio, pois toda a cópia do documento eletrônico terá as mesmas características do
original, e, por isso, deve ser considerado como tal.23
Se se considerar que o documento eletrônico pode ser reproduzido em um
meio físico e vice-versa, neste caso, há a possibilidade de chamar de original e copia. O
documento produzido eletronicamente é considerado original se tiver a mesma
seqüência de bits, em qualquer meio em que foi guardado. No entanto, pode-se falar em
cópia de documento eletrônico quando esta seqüência numérica, ao ser traduzida, pelo
programa de computador, for impressa pelo papel. Neste caso, por exemplo, se tiver um
arquivo com assinatura digital, este é o original.
Caso o documento eletrônico estiver em desconformidade com a cópia física
deve ser feita uma análise do mesmo por meio de um computador e softwares
específicos para o reconhecimento da assinatura. O contrário também deve ser
analisado, pois o documento originalmente no papel pode ser introduzido no
computador por um scanner, seja para fins de armazenamento ou para transmissão.
Neste caso, temos o original materializado no papel e a cópia armazenada
eletronicamente. E a averiguação da sua autenticidade é feita com a apresentação do
exame original no papel.24
22
MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Direito e informática: uma abordagem jurídica sobre
criptografia. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 65-67. 23
MARCACINI, op. cit., p. 68. 24
MARCACINI, op. cit., p. 68-69.
15
O que se vê de comum, como foi descrito, é a possibilidade de um
documento eletrônico ser reproduzido em papel, ou seja, documentos em que as
informações estão representadas por um texto escrito ou imagens, por exemplo, as
fotografias. O que há de novo é que é possível assinar documentos com outras
representações, como sons ou vídeos, através da assinatura digital. Neste sentido,
caminha a Lei nº 11.419, publicada em 20 de dezembro de 2006, que, entrou em vigor,
noventa dias depois da sua publicação e prevê a possibilidade de se gravar uma
audiência, em formato eletrônico e assinar digitalmente o arquivo eletrônico contendo
voz ou vídeo.
4.3.1 Disposições legais que tratam do documento eletrônico no âmbito do
direito brasileiro
No Brasil, a primeira disposição legal que se refere sobre “documento
eletrônico” foi a Instrução Normativa nº 17, de 11 de dezembro de 1996, editada pelo
Ministério da Administração Federal e Reforma de Estado, dispõe que “no prazo de 360
(trezentos e sessenta dias) serão implementadas aplicações que tratam do documento
eletrônico e do uso da assinatura digital” (art. 4º, §6º) no âmbito das atividades
governamentais. Posteriormente, foi baixado o Decreto nº 3.587, de 5 de setembro de
2000, que cria a Infra-Estrutura de Chaves Públicas do Poder Executivo Federal. Esse
Decreto trata de normas básicas sobre o uso da criptografia de chaves publicas pela
Administração Pública Federal, com o objetivo de estabelecer segurança às
comunicações eletrônicas entre os entes da Administração Pública e uma futura
substituição do documento físico pelo eletrônico. Nesta ocasião, já tramitavam no
Congresso Nacional Projetos de Lei sobre a certificação digital no Brasil.25
Por exemplo, o Projeto de Lei nº 1589, da Câmara dos Deputados, de
redação original da Comissão de Informática da OAB-SP, foi responsável pelas
propostas sobre a regulamentação do comércio eletrônico, documentos eletrônicos e
assinaturas digitais.26
Também inicialmente tramitou no Senado, o Projeto nº 672/99, baseado na
Lei Modelo da UNCITRAL, mais voltada para o comércio eletrônico do que
especificamente a previsão legal sobre o documento eletrônico e assinaturas digitais.
25
MARCACINI, op. cit., p. 61-62. 26
Idem.
16
Em 28 de junho de 2001, o Presidente da Republica editou a Medida
Provisória n. 2200, que foi reeditada como MP 2200 em 27 de julho e, finalmente, como
MP 2200 em 24 de agosto de 2001. Esta MP tornou-se permanente por força da EC nº
45/04, vigendo até hoje sem necessidade de apreciação pelo Congresso Nacional e sem
ter sofrido qualquer alteração. A MP 2200-2 institui a Infra-Estrutura de Chaves
Públicas Brasileira – ICP-Brasil e estabelece o Instituto Nacional de Tecnologia da
Informação – ITI, como autoridade-raiz, transformando-o em autarquia federal. Com
base nessa disposição legal, o país optou por uma política de certificação digital com a
intervenção estatal e uma confiança hierarquizada, conforme será tratado em momento
oportuno.
E, atualmente, existem algumas normas legais em vigor, que tratam da
utilização do documento eletrônico no processo, por exemplo, a Lei nº 11.419/06, que
dispõe sobre a informatização do processo judicial e altera a Lei nº 5.869, de 11 de
janeiro de 1973, Código de Processo Civil. Todavia, não se pode deixar de manifestar
que o sucesso dessa lei depende amplamente do conhecimento dessas técnicas pelos
operadores do Direito, para que sejam aceitas, bem como uma operacionalização e
treinamento dos servidores do Poder Judiciário no manuseio dos mecanismos técnicos
que levam a implantação do processo judicial eletrônico.
Assim, ousa-se em afirmar que as mudanças na legislação necessárias para
implementação do uso do documento eletrônico são mais de ordem pragmática do que
meramente legal, pois a tecnologia já utiliza de mecanismos de reconhecimento da
validade, autenticidade e integridade do documento eletrônico podendo ser
perfeitamente adaptável aos novos padrões de paradigma econômico desta nova
sociedade moderna e informatizada.
.4.4 Breves Considerações sobre a teoria da Prova Documental no Direito
Brasileiro
Antes de atribuir as diversas formas de documento eletrônico é necessário
relembrar alguns aspectos da teoria da prova documental no Direito Brasileiro. Assim
neste tópico será tratado da prova documental de acordo com a doutrina tradicional,
aplicada apenas aos documentos físicos. As adaptações do contexto tradicional para a
realidade atual do documento eletrônico serão realizadas no tópico seguinte.
17
Para que o juiz possa formar o seu convencimento no processo de
conhecimento e decidir sobre o seu objeto, é necessário a colheita de provas para
justificar a sua decisão. Todo o material probatório servirá de base para que o
magistrado possa formar o seu juízo de valor acerca dos fatos alegados pelas partes. A
partir deste contexto, é imperioso avaliar as normas e princípios que regem a teoria
geral da prova, para depois analisar a prova documental no direito brasileiro. Segue-se,
neste entendimento, com as palavras de Alexandre Freitas Câmara sobre a teoria geral
da prova:
Denomina-se prova a todo elemento que contribui para a formação da
convicção do juiz a respeito da existência de determinado fato. Quer isto
significar que tudo aquilo que for levado aos autos com o fim de convencer o
juiz de que determinado fato ocorreu será chamado de prova.27
O Código Civil de 2002 também faz menção em um título dedicado à regulamentação
do direito probatório (arts. 212 a 232).
Nesse sentido, para a análise da prova documental no direito brasileiro far-
se-á remissão aos dispositivos de Direito Processual, bem como aqueles incluídos no
Código Civil de 2002.
No que concerne ao objeto às provas podem ser classificadas em provas
documentais, testemunhais e periciais. A prova testemunhal se caracteriza por toda
afirmação oral. Já a documental é toda afirmação escrita ou gravada. Compreendidas
também por uma fotografia que não deixa de ser consideradas gravações de uma
imagem. Ademais abrange instrumentos contratuais, como por exemplo, uma escritura
pública de compra e venda de determinado imóvel. Por fim, a prova material na qual
abrange qualquer outro meio de prova (pericial, inspeções judiciais etc.).28
A lei processual civil brasileira admite quaisquer meios de prova, desde que,
legais e moralmente legítimos, para a prova dos fatos, conforme o art. 332 do CPC.
Assim os meios legais de prova são aqueles descritos na lei, como por exemplo, a prova
documental, testemunhal, confissão (provas típicas). Já os meios moralmente legítimos
mesmo que não descritos na lei são reconhecidos pelo Direito, pois podem ser utilizados
no processo por não violarem a moral e os bons costumes (provas atípicas).
27
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. vol 1. 11 ed., Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2004. p. 395. 28
Idem, p. 398
18
O Direito Processual Civil brasileiro admite como meio de prova típico,
aqueles descritos em lei como: depoimento pessoal, confissão, exibição de documento
ou coisa, prova documental, testemunhal, pericial, inspeção judicial, sendo a prova
documental o objeto do tema.
Passa-se agora, pois, a análise da prova documental no direito brasileiro para
aplicabilidade da validade deste meio de prova ao estudo das várias formas de
manifestação do documento eletrônico.
Como já analisado o documento representa à escrita ou a gravação de um
fato, se materializando em instrumentos escritos, filmes, gravações de sons e outras
formas.
O documento em si é considerado como fonte de prova, ou seja, é onde se
pode extrair sobre a ocorrência de determinado fato ou ato nele representado. Já a prova
documental é o veículo ou meio através do qual essa fonte é levada ao processo para a
formação da convicção do juiz.
Assim, pode haver coisas representativas de determinados fatos, mas que não
chegam ao processo por meio da prova documental, por exemplo, através de perícia
(utilizará outro procedimento de colheita de prova). Por outro lado, se a coisa é um
documento e deve ser apreciada pelo juiz de forma direta, o ingresso ocorrerá por meio
da prova documental e se sujeita ao seu modo de produção.
O destaque da prova documental ao ser comparada com os outros meios
probatórios está intimamente ligada à característica do documento, ou seja, a sua
estabilidade, pois representa um fato permanente e duradouro. Assim “o documento é
considerado uma fonte segura de prova”.29
É claro, que não se pode deixar de manifestar que todo meio de prova tem
suas vantagens e desvantagens, até mesmo aquelas produzidas por meio eletrônico.
Assim a legislação (art. 131 do CPC) manifesta que não há hierarquia entre eles
podendo o magistrado formar seu convencimento de forma livre, desde que,
devidamente fundamentada a sua decisão. Assim a prova documental esta em igualdade
com os outros meios sejam aqueles descritos na lei ou outros obtidos de forma atípica.
Merece destaque para o desenvolvimento do tema o conceito atribuído pela
doutrina ao autor do documento. “Autor do documento é a pessoa a quem se atribui a
29
DIDIER Jr., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil.
vol. 2, Salvador/BA: JusPODIVM, 2008. p. 139.
19
sua formação, isto é a quem se atribui a sua paternidade”.30 Assim a autoria pressupõe a
existência do documento, pois é da sua essência que se derive de um ato humano.
Um dos elementos do documento é o meio físico com que se materializa. Já
o meio virtual de materialização do mesmo deve ser reconhecido pelos diversos
mecanismos tecnológicos que servirá de base para a validade da prova documental
produzida em meio eletrônico.
Considerando-se a noção de documento em meio físico de materialização, ou
suporte, a doutrina, às vezes, subdivide a sua autoria. A autoria material representa a
pessoa que criou diretamente o suporte para a representação do fato, pode ser, por
exemplo, aquela pessoa que escreveu o documento ou até mesmo fotografou
determinado objeto. Já a autoria intelectual é atribuída à pessoa a mando de quem essa
criação é feita, pode ser, por exemplo, a pessoa que ditou o que deveria estar escrito
naquele documento ou que contratou ou solicitou a captação de uma imagem fotográfica
ou de uma gravação. Assim dispõe o nosso Código de Processo Civil (art. 371).31,32
.
O grande questionamento quanto à validade da prova é investigar a autoria
do documento para que se possa definir a confiabilidade atribuída ao mesmo. Em regra,
normalmente a autoria de determinado documento é provada pela assinatura do autor. Já
aqueles documentos não assinados a possibilidade de provar a sua autoria se dá pela
análise grafológica, caso o autor negue a sua autoria. Os documentos particulares
normalmente fazem prova contra o seu autor. Caso não seja possível a demonstração da
autoria do mesmo este documento não terá força probante.
Assim os assentos domésticos, bem como os livros empresariais são
documentos lavrados indiretamente por outrem a mando do seu autor e normalmente
não são assinados. Nesse caso, dificilmente servirão como prova, se o suposto autor
negar-lhe a sua paternidade. Porém, se o documento for assinado, servirá como
identificador para a prática de atos processuais no caso do processo judicial eletrônico
(art. 2º, da Lei nº 11.419/06) e identificação para o pronunciamento dos juízes no
processo, conforme dispõe o art. 164, parágrafo único do CPC, acrescentado pela Lei nº
11.419/06.
30
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. Vol. 2, 18 ed., São Paulo:
Saraiva, 1997. p. 386. 31
DIDIER Jr.. op. cit., p. 140. 32
O artigo 371, do Código de Processo Civil, diz que:”Reputa-se autor do documento particular: I –
aquele que o fez e o assinou; II – aquele, por conta de quem foi feito, estando assinado; III – aquele que,
mandando compô-lo, não o firmou, porque, conforme a experiência comum, não se costuma assinar,
como os livros comerciais e assentos domésticos”.
20
Existem aqueles documentos que representam o fato diretamente sem que
haja a necessidade de intervenção subjetiva de alguém. É o caso, por exemplo, de uma
fotografia. Ela representa um fato tal como ocorreu e não caracteriza a descrição por um
sujeito. Em outros casos, mais freqüentes, o fato é materializado no documento por
meio da transcrição de idéias e pensamentos expressados por alguém. Nesse sentido,
por exemplo, determinado texto escrito representa um fato tal qual como visto ou
declarado pelo autor deste documento. Assim, são considerados como indiretos e nesse
caso, a identificação da autoria é essencial para caracterizar a veracidade do mesmo e
ter valor probante, pois podem fazer prova contrária contra o seu autor. Assim são as
orientações do Código de Processo Civil vigente.33
Outro conceito a ser relembrado e de importância impar para o
desenvolvimento do tema se liga à idéia da autenticidade do documento, ou seja, uma
vez demonstrada a autoria cumpre investigar se aquela manifestação realmente é do
autor do documento. Assim é autêntico “o documento quando a autoria aparente
corresponde à autoria real, isto é, quando ele efetivamente provém do autor nele
indicado”.34.
No caso de documento público essa autenticidade se presume, pois faz prova
da sua formação (art. 364 do CPC). Na mesma circunstância tem-se o documento
particular, onde o tabelião reconheceu a firma de seu signatário, com a declaração que
foi aposta na sua presença (art. 369 do CPC). Em todos os casos descritos, pode-se dizer
que a presunção é iuris tantum, ou seja, admite-se prova em contrário.
Já o documento particular que não tenha a firma reconhecida pelo tabelião é
considerado autêntico se a parte contra ele produzida não impugnar a sua autenticidade
no prazo legal da contestação se o for o réu, ou em 10 dias nos demais casos, contados
da data da intimação para dizer sobre o mesmo.
Augusto Tavares Rosa Marcacini ao manifestar sobre a autenticidade de
determinado documento atribui que a mesma não pode ser confundida com a sua
veracidade.
33
O art. 368 do CPC manifesta que “as declarações constantes do documento particular, escrito e
assinado, ou somente assinado, presumem-se verdadeiras em relação ao seu signatário (grifamos). O
art. 373 do CPC, diz que o documento particular, “(...) prova que o autor fez a declaração, que lhe é
atribuída. Já o art. 376 do CPC, dispõe que, “as cartas, bem como os registros domésticos provam contra
quem os escreveu (grifamos). Por fim, o art. 378 do mesmo código atribui ainda que “os livros
comerciais provam contra o seu autor”. Nesta esteira visualiza-se que não se pode admitir no nosso
ordenamento jurídico a auto-produção de prova em favor próprio. 34
DIDIER Jr. op. cit., p. 143.
21
A autenticidade não se confunde com a veracidade do documento. A falsidade
documento – oposto da veracidade – pode ser material ou ideológica. A
falsidade material é vicio presente no próprio documento: ou sua criação é
falsa (p. ex. atribuindo-se falsamente a sua autoria mediante assinatura falsa),
ou a falsidade decorre da adulteração de documento verdadeiro ou autêntico.
Já no caso de falsidade ideológica o documento é autêntico e não foi
adulterado, mas o seu autor declarou fatos inverídicos. A falsidade ideológica
ao contrário da material, não pode ser constatada pelo exame do documento,
que materialmente nada contém de errado. Já a apuração da falsidade material,
esta é normalmente feita mediante perícia sobre o corpo do documento, seja
para conferir a assinatura, seja para buscar vestígios de adulteração posterior.35
O documento também pode ser declarado falso desde que assinado pelo
autor em branco foi preenchido de forma abusiva.36
Impugnado o documento particular faz nascer um incidente próprio. Assim
cabe à parte que produziu o documento o ônus de provar que ele advém do autor
indicado, nos termos do art. 389, II, do CPC. Somente a impugnação do documento
particular faz cessar a sua autenticidade (art. 388, I, do CPC).
Assim, pode-se concluir que a parte que traz o documento ao processo é que
tem que provar a autenticidade da assinatura, ou seja, o ônus da autoria. Caso seja
demonstrada ou incontroversa a autoria resta a quem alega provar a eventual
adulteração do documento ou o seu preenchimento abusivo se o mesmo foi subscrito em
branco.
No que se refere ao valor probatório das cópias, certidões, traslados de
documentos37, bem como as reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros
fonográficos e, em geral, qualquer reprodução mecânica ou eletrônica de fatos ou coisas
(art. 384, do Código de Processo Civil c/c art. 225, do Código Civil) , quando levados
aos autos, detém, via de regra, o mesmo valor probante que os documentos originais,
35
MARCACINI, op. cit., p. 76. 36
Idem. 37
Art. 365 do Código de Processo Civil dispõe, “fazem a mesma prova que os originais: I – as certidões
textuais de quaisquer peças dos autos, do protocolo das audiências, ou de outro livro a cargo do escrivão,
sendo extraídas por ele ou sob sua vigilância; II – os traslados e as certidões extraídas por oficial público,
de instrumentos ou documentos lançados em suas notas; III – as reproduções dos documentos públicos,
desde que autenticadas por oficial público ou conferidas em cartório, com os respectivos originais; IV –
as cópias reprográficas de peças do próprio processo judicial declaradas autênticas pelo próprio advogado
sob sua responsabilidade pessoal, se não lhes for impugnada a autenticidade; V – os extratos digitais de
bancos de dados, públicos e privados, desde que atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que as
informações conferem com o que consta na origem; VI – as reproduções digitalizadas de qualquer
documento, público ou particular, quando juntado aos autos pelos órgãos da Justiça e seus auxiliares, pelo
Ministério Público e seus auxiliares, pelas procuradorias , pelas repartições públicas em geral e por
advogados públicos ou privados, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração antes ou
durante o processo de digitalização. Os originais dos documentos digitalizados devem ser preservados
pelo seu detentor até o final do prazo do ajuizamento da ação rescisória, nos termos do parágrafo primeiro
do artigo transcrito.
22
fazendo prova dos fatos ou coisas através deles representados, se aquela parte contrária
o admitir, expressa ou tacitamente, a sua conformidade, ou seja, não impugnar a
exatidão do mesmo.
O mesmo raciocínio vale para a parte contra quem o documento foi
produzido. Não basta a mera impugnação genérica desse documento para dar ensejo ao
incidente de verificação ou reconhecimento previsto no art. 385 do Código de Processo
Civil, mas é necessário que a parte contrária indique expressamente os reais motivos de
suspeitar que a cópia é divergente do documento original. Não se pode esquecer que
existem aqueles que utilizam tais mecanismos para procrastinar o processo, suscitando
incidentes temerários, pois o art. 3º do CPC,38 é claro, em manifestar que é proibido
contestar (pode-se também entender impugnar) sem interesse.
Também à fotografia carrega consigo o mesmo entendimento já descrito. Se
a parte contra quem foi produzida, lhe admitir a sua autenticidade, ou seja, não for
impugnada a sua exatidão pela parte contrária faz prova dos fatos ou das coisas nela
representada (art. 383, CPC c/c art. 225, CC).
O avanço da era digital demonstra que há casos que sequer existem
negativos a serem exibidos como, por exemplo, nas câmeras digitais. Nesse caso, não há
como exigir da parte que apresentou a fotografia. Eventual impugnação quanto à sua
autenticidade pode ser suprimida mediante perícia na própria fotografia ou no arquivo
eletrônico correspondente.
Com base nas premissas apresentadas nesse tópico segue-se para o
reconhecimento da validade do documento eletrônico no direito brasileiro.
5 A VALIDADE DO DOCUMENTO ELETRONICO NO DIREITO
BRASILEIRO
5.1 Documento Eletrônico sem Assinatura
Muito se tem discutido nos diversos ramos do Direito a importância da
inserção da tecnologia da informação como papel preponderante para o
desenvolvimento do comércio eletrônico via Internet, do processo judicial eletrônico,
38
A Lei Federal nº 11.419/006, que dentre outras coisas veio regulamentar o processo eletrônico, diz que:
“Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos com garantia da origem
e seu signatário, na forma estabelecida nesta Lei, serão considerados originais para todos os efeitos
legais” (art. 11).
23
do contrato eletrônico, com a utilização da assinatura eletrônica e digital, e
conseqüentemente o valor probatório do documento eletrônico. Para isso, é importante
conhecermos a legislação brasileira que reconhece a validade do documento eletrônico e
o estudo das diversas formas de materialização do contrato eletrônico.
O documento eletrônico para ter força probante é imperioso discutir algumas
características do documento tradicional para avaliar a força probatória que o mesmo
possui diante do ordenamento jurídico brasileiro.
Sabe-se que a identificação de documentos, ou seja, a autoria normalmente é
analisada pela assinatura. Mas há determinados documentos que não é de costume
assinar. A parte em determinado processo que junta documentos que não contém
assinatura, uma vez contestada a sua autoria terá o ônus de prová-la.
A legislação pátria admite, como analisado anteriormente, o valor probatório
das cópias, certidões, traslados de documentos, bem como as reproduções fotográficas,
cinematográficas, os registros fonográficos e, em geral, qualquer reprodução mecânica
ou eletrônica de fatos ou coisas - art. 384, do Código de Processo Civil c/c art. 225, do
Código Civil - quando levados aos autos, detêm, via de regra, o mesmo valor probante
que os documentos originais, fazendo prova dos fatos ou coisas através deles
representados, se aquela parte contrária o admitir, expressa ou tacitamente, a sua
conformidade, ou seja, não impugnar a exatidão do mesmo.
O legislador com a vigência do novo Código Civil - art. 22539-
indubitavelmente admitiu a existência e validade do documento eletrônico “puro”, ou
seja, seguindo as orientações legais basta que o arquivo eletrônico represente um fato ou
coisa para ter valor probatório e ser reconhecido judicialmente.
Diante desses novos significados é que será reconhecida a validade jurídica
de um documento eletrônico com e sem assinatura, por exemplo, um contrato
eletrônico, a prática de atos processuais segundo a lei de informatização do processo
judicial eletrônico, o reconhecimento do e-mail como prova.
Por essa razão, várias propostas de normatização sobre comércio eletrônico
no Brasil, bem como diversos dispositivos legais reconhecem a validade jurídica dos
documentos eletrônicos com ou sem assinatura.
39
Art. 225 do CC/02 - “As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos, e, em
geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônica (grifamos) de fatos ou coisas fazem prova
plena destes, se a parte contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão.
24
Assim, o art. 225 do novo Código Civil reconheceu a validade do chamado
documento eletrônico puro, pois admite que as reproduções eletrônicas de fatos ou
coisas fazem prova plena desses, desde que a parte contra quem foi exibido, não lhes
contestar a exatidão. Também quebrou as barreiras doutrinárias daqueles que sequer
reconheciam a validade probatória de determinado documento eletrônico.
Para confirmar as orientações seguidas pelo novo Código Civil, a Lei
Modelo da Uncitral para o comércio eletrônico40 (Comissão das Nações Unidas para
Leis de Comércio Internacional), prevê em seu art. 5º, que a estrutura de uma base de
dados não pode ser negada os seus efeitos legais, a validade, bem como a sua
exeqüibilidade perante a estrutura legal pelo simples fato de estar sob a forma de dados.
Com efeito, a discussão jurídica anterior sobre a invalidade do documento
eletrônico ou a exigência de reconhecimento da autoria e integridade por meio da
criptografia assimétrica, para a sua eficácia probatória, não mais atende, por exemplo, às
exigências do novo Código Civil, pois o legislador admitiu como existente e válido o
documento eletrônico “puro”, ou seja, sem a necessidade de ser assinado
eletronicamente (assinatura digital).
Observa-se que a regra referendada no novo Código Civil (art. 225) não
quebra a confiança com relação à eficácia probatória do documento eletrônico “puro”
(sem assinatura), já que admite a impugnação, o repúdio, quer seja, relacionado à
autoria, bem como a sua integridade. Então, caberá instaurar um procedimento
probatório baseado no livre convencimento do juiz e estruturado com base em um
conjunto probatório capaz de dar sustentabilidade ao ato ou fato representado.
No ponto de vista da tecnologia da informação não se pode deixar de
manifestar que aqueles documentos que estão devidamente assinados com a técnica da
criptografia assimétrica (assinatura digital) apresentam uma maior eficácia probatória,
pois a utilização desse mecanismo é capaz de provar a autoria (autenticidade), bem
como a integridade do documento eletrônico.
Assim, as dificuldades quanto à eficácia probatória do documento eletrônico
“puro” comparado àqueles que detêm o reconhecimento do traço personalíssimo do
autor (assinatura digital) devem ser superadas, cabendo reconhecê-lo com a eficácia
40
Excerto do Relatório da “United Nations Commission on Internacional Trade Law” (UNCITRAL),
apresentado na 29ª Assembléia Geral realizada entre 28 de maio a 14 de junho de 1996, 51 Sessão,
Suplemento no. 17 (a/51/17). Texto traduzido e disponível: .www.direitodarede.com.br. Data de Acesso:
15 de setembro de 2008.
25
probatória de um documento quando estruturado com todos os outros elementos e
circunstâncias envolvidas na sua produção e eventual transmissão, além da
possibilidade de sua impugnação baseado no livre convencimento do juiz e no conjunto
probatório capaz de dar sustentabilidade aos fatos ou atos descritos neste documento.
Carlos Alberto Rohrmann justifica tal pretensão, ao analisar a prova dos
contratos realizados pelo simples download de um programa de computador pela
Internet, referendado como de clickwrap, já que muitas vezes reconhece-se a sua
formação sem ter a assinatura digital. Portanto, a prova teria que ser feita por outros
meios e este documento eletrônico teria valor probante até mesmo por meio de uma
prova testemunhal.41
A questão da prova, bastante controvertida se se considerar apenas a existência
de documentos eletrônicos, documentos digitais, acabaria sendo enfrentada
quando da análise em juízo, e, neste caso, dentro do conjunto probatório do
processo, outros meios de prova (como perícias, por exemplo) poderiam ser
utilizados para o juiz decidir da maneira informada que lhe conviesse. [...] a
prova fica mais fácil quando usada contra o proponente se este não impugnar a
prova eletrônica ou, ainda, se se tratar de empresas, consoante o disposto no
art. 225 e 226 do Código Civil de 2002.42
Podemos também manifestar que o art. 371, III, do Código de Processo
Civil43, também faz remissão aos documentos que normalmente não se costumam
assinar. Nesse sentido, há a presunção relativa de que a autoria deve recair sobre a
pessoa que mandou transcrevê-lo.
Segundo Leonardo Neto Parentoni:
Inicialmente , poder-se ia cogitar da aplicação do art. 371, III, do Código de
Processo Civil, que trata dos documentos que comumente não se costuma
assinar. Neste caso, há presunção relativa de que é autor a pessoa que mandou
compor o documento. Exemplo são os e-mails. Ainda que não assinados,
presumem-se que tenham sido escritos pelo titular da conta.44
41
ROHRMANN. op. cit., p. 64. 42
ROHRMANN. op. cit., p. 64/65. 43
Código de Processo Civil: art. 371 – Reputa-se autor do documento particular:
I – aquele que o fez e o assinou.
II – aquele, por conta de quem foi feito, estando assinado.
III – aquele que, mandando compô-lo, não o firmou, porque, conforme a experiência comum, não se
costuma assinar, como livros comerciais e assentos domésticos. 44
PARENTONI. op. cit.,, p. 138.
26
No mesmo entendimento o art. 154 do CPC45, que determina que os atos e
termos processuais não necessitam de forma especial a menos que a lei exija.46
Assim aqueles documentos que sequer possuem assinatura também devem
ser reconhecidos como válidos nos termos da legislação brasileira e o surgimento do
art.225 do Código Civil de 2002 atribui validade e eficácia jurídica aos documentos
eletrônicos “puros”.
Nesse sentido, no próximo tópico será discutido a validade jurídica dos e-
mails, quando apresentados em determinado processo como objeto de prova, mesmo
que não assinados.
5.1.1 E-mail como meio de prova
A análise da eficácia probatória da mensagem eletrônica evidencia-se nos e-
mails não contestados (integridade). Por outro lado, aqueles seguros com senha e, desde
que, não sejam contestados possuem alguma força probante quanto a sua
autenticidade.47
A prática nos tem demonstrado que a materialização impressa no formato de
e-mail pode ser facilmente adulterada em computador, conseqüentemente, podem não
ser aptas a comprovar que certa mensagem eletrônica foi enviada ou recebida.
Nesse caso, quando for alegado que os impressos em formato de e-mails
foram simulados em computador é necessário que faça uma perícia no provedor de
serviço48 para provar a adulteração.
Nos e-mails em que seu conteúdo (integridade) e autoria foram contestados é
necessário à realização de uma perícia informática, para averiguar se houve o envio ou
recebimento da mensagem eletrônica através da comunicação entre os endereços
eletrônicos respectivos, com a devida identificação dos arquivos de log e o endereço
IP.49
45
Código de Processo Civil: art. 154 – Os atos e termos processuais não dependem de forma determinada
senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se validos os que, realizados de outro modo, lhe
preencham a finalidade essencial. 46
Idem. 47
Essas são as orientações da jurisprudência alemã ao analisar a força probatória dos e-mails: “Somente
e-mails não contestados tem alguma força probante, quanto a sua integralidade e somente e-mails seguros
por senhas e não contestados, têm alguma força probante, quanto à autenticidade”. Cf. MARQUES,
Cláudia Lima Marques. Confiança no Comércio Eletrônico e a Proteção do Consumidor, São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 175, nota de rodapé nº 92. 48
Os provedores de serviços são aqueles que prestam serviço de conexão à Internet e juntamente com o
mesmo podem ser ofertados o e-mail server. 49
Alguns usuários possuem um endereço IP fixo na Internet. Neste sentido, todas as conexões feitas por
eles por meio da rede podem ser individualizadas a partir deste endereço.
27
Entretanto, muitas vezes a perícia no servidor ou provedor de acesso à
Internet é insuficiente para provar a autoria e integridade daquela mensagem eletrônica.
O problema da eficácia probatória dos e-mails quando contestados como
prova em juízo muitas vezes é dificultado, pois os servidores dificilmente conseguem
manter o conteúdo dessas mensagens eletrônicas remetidas ou recebidas, o que
demonstra a inviabilidade da questão probatória quanto a sua autenticidade.
Nesse sentido, a autenticidade de determinada mensagem eletrônica é
demonstrada quando “diga respeito à pessoa do signatário do documento e não do
equipamento que este utilize”.50 Enfim, a autenticidade é a garantia relativa à autoria
daquele documento produzido em meio eletrônico. Já a integridade de determinado
documento eletrônico deve ser demonstrada diante da garantia de sua inalterabilidade
por conta daquele que recebe ou pelo individuo que tenha acesso a ele.51
Por conseguinte, o subscritor de determinada mensagem eletrônica não é
fácil de ser detectado, pois mesmo que seja apurada a autoria de determinado usuário no
servidor, averiguando que foi realmente a pessoa que enviou o e-mail, por exemplo, há
a possibilidade de outra pessoa ter-se utilizado dos dados do usuário e de seu
computador, para enviar a mensagem eletrônica a um terceiro, em nome deste usuário.
Muitas vezes, a prova pericial é inviável para provar a autoria e integridade da
mensagem eletrônica em juízo, por isso, a necessidade de estruturar-se, em alguns
casos, o documento eletrônico com base em um sistema complexo de criptografia
(criptografia assimétrica).
Assim, a valoração pura e simples de prova documental com base em meros
impressos de e-mails pelo julgador poderá ser inviável e temerosa. Deve ser conjugada
com outros meios de prova num contexto probatório único ou deve ser reconhecida a
sua eficácia probatória desde que, essas mensagens sejam aceitas pela parte contrária.
5.2 Documento eletrônico com assinatura eletrônica (gênero)
Com efeito, a partir do momento que o desenvolvimento tecnológico ganha
contornos não só nas negociações empresariais e comumente nas relações particulares
entre pessoas a insegurança e as fraudes disseminam. É certo que muitas comunicações
veiculadas em meio eletrônico sequer demandam a necessidade de identificação das
50
CLEMENTINO. op. cit., p. 95 51
CLEMENTINO. op. cit., p. 96.
28
partes. Outras, contudo, a segura identificação dos indivíduos é exigida principalmente
aqueles que demandam a realização de negócios jurídicos.
O primeiro conceito técnico atribuído para resolver o problema de
identificação no meio virtual é a chamada assinatura eletrônica. O excerto do Relatório
da United Nations Comission on Inernational Trade Law (UNCITRAL), representada
como guia para a incorporação no direito interno desta Lei Modelo para o Comércio
Eletrônico, elaborada pela Comissão das Nações Unidas prevê a validade jurídica de
qualquer tipo de mensagem de dados (art. 5º). E ainda, dispõe, que quando a lei exigir a
assinatura de uma pessoa, esta determinação será satisfeita referente a uma base de
dados quando for utilizado um método capaz de identificar a pessoa que concorda com a
informação e que esse método seja capaz de confirmar esta aprovação sobre a
mensagem de dados. Acrescente-se que, tal método deve ser confiável, como apropriado
para a finalidade a ser preenchida por essa mensagem de dados, sob quaisquer
circunstâncias, inclusive sob acordos (art.7º).52
Ainda dispõe essa Lei Modelo sobre a eficácia probatória da mensagem de
dados (art. 9º). Exige-se que seja atribuída com base na segurança do modo como ela é
gerada, armazenada e transmitida, tudo isso, para garantir a integridade dessas
informações (saber se essa informação permanece completa e inalterada), conforme a
forma com que esse emitente da mensagem é identificado e quaisquer outros fatores
relevantes para identificar a autoria e integridade desse documento.53 Essas formas de
identificação podem ocorrer por meio da assinatura eletrônica. O termo em si é amplo,
já que, representa formas de identificação utilizada no meio eletrônico. Normalmente o
uso da assinatura eletrônica se dá por meio de senhas, códigos, identificadores. E, uma
das espécies, é a assinatura digital.
Para tanto, é necessário, primeiramente, identificar a diferença entre
assinatura eletrônica e digital. A assinatura eletrônica é o gênero que têm como uma das
espécies a assinatura digital, esta envolve processo de criptografia assimétrica (técnica
mais segura que outros tipos de assinatura eletrônica) e utiliza de certificado digital para
dar validade ao documento eletrônico emitido por uma terceira parte conhecida como
“Autoridade Certificadora”.
52
Excerto do Relatório da “United Nations Commission on Internacional Trade Law” (UNCITRAL),
apresentado na 29ª Assembléia Geral realizada entre 28 de maio a 14 de junho de 1996, 51 Sessão,
Suplemento no. 17 (a/51/17). Texto traduzido e disponível: www.direitodarede.com.br. Data de Acesso:
15 de setembro de 2008. 53
Idem.
29
5.2.1 Documento eletrônico com assinatura eletrônica (não digital)
Para demonstrar o desdobramento da assinatura eletrônica em diversas
tecnologias, Petrônio Calmon afirma que, “diversas tecnologias podem ser adotadas para se
construir uma assinatura eletrônica, dentre elas, a biometria, a criptografia assimétrica, esta
caracterizada ou não pela utilização de chaves públicas”.54
Dentre as tecnologias citadas, por
exemplo, a biometria pode ser considerada como um identificador para determinado ato
ou fato:
A biometria utilizada em meios eletrônicos se desdobra em várias técnicas
capazes de identificar o indivíduo. Tem-se, “desde a digitalização da assinatura escrita
sobre papel até a verificação das impressões digitais, da íris, da circulação sanguínea
nas veias da mão ou de outra característica humana, procedida por um leitor
apropriado”.55
As vantagens da biometria aparecem quando a identificação ocorrer de
forma presencial, ou seja, é muito comum a sua utilização no caso de identificação
utilizando as impressões digitais para dar acesso, por exemplo, a determinadas pessoas
em prédios, empresas, faculdades, pois os caracteres do corpo humano são capazes de
individualizá-las, distinguindo-as de qualquer outra pessoa.
Por outro lado, apresenta diversas razões desvantajosas dependendo da
finalidade a que se presta. Uma delas ocorre nos casos de identificação de pessoas à
distância, pois não há como saber se aqueles caracteres foram enviados realmente pela
pessoa que se diz ser. Assim, é possível, outra pessoa estar passando por ela e enviando
informação ao sistema que já estava antes armazenada; ou a própria estar enviando da
memória do computador, sem ser identificada (medida) no momento em que a
mensagem é transmitida. Também a biometria não é secreta, pois qualquer hacker pode
interceptar a mensagem em que são transmitidos os caracteres pessoais de alguém.56
Afasta-se, então, a técnica da biometria para o uso em meio eletrônico quando for
utilizada para as comunicações à distância.
Outra técnica bastante comum de identificação é a utilização da “assinatura
digitalizada” que, na verdade, não pode ser confundida com a assinatura digital, pois
54
CALMON. op. cit., p. 22. 55
CALMON. op. cit., p. 23. 56
Idem.
30
representa “uma imagem escaneada de uma assinatura manuscrita”.57 Por isso, não é
capaz de comprovar a autoria e integridade de determinado documento eletrônico, já
que representa uma simples cópia da assinatura manuscrita que pode ser extraída por
qualquer pessoa.
Assim, passa-se a conceituar e explicar as técnicas da criptografia simétrica e
assimétrica para compreender o que a assinatura digital representa para a eficácia e
validade de determinado documento eletrônico, inclusive em face do contrato
eletrônico.
5.2.2 Documento eletrônico com assinatura digital
A assinatura digital é uma técnica indispensável para autenticidade e
integridade das relações jurídicas ocorridas em meio eletrônico, por exemplo, um
contrato gerado em meio eletrônico, bem como para a prática de alguns atos
processuais segundo a Lei nº 11.419/06.58
De todas as discussões propostas quanto ao conjunto de problemas
relativos à eficácia probatória do documento eletrônico há caminhos técnicos
propostos para garantir a autoria e a integridade desse documento que atualmente
materializa-se naqueles documentos eletrônicos com assinatura digital.
Deste conjunto de problemas relativos à matéria de prova do contrato, surgiu a
proposta daquilo que se chama “assinatura digital”. Trata-se de um recurso da
técnica da computação que visa a atribuir a cada pessoa um código
identificador bastante protegido para estabelecer a sua identidade na Internet.
Depois da solução técnica, surge a adequação jurídica.59
Nesse contexto, a “assinatura digital” primeiramente deve ser explicada
no ponto de vista da técnica da informática, para só depois ser adequado à questão
jurídica, já que é um mecanismo tecnológico capaz de conferir aos documentos
eletrônicos segurança o suficiente para permitir que não sejam adulterados, ou seja,
mantém íntegro o seu conteúdo (integridade) e capaz de identificar o responsável
pela sua transcrição (autenticidade).
57
PARENTONI. Leonardo Neto. Documento Eletrônico: aplicação e interpretação pelo Poder
Judiciário. Curitiba: Juruá, 2007 p. 140. 58
O art. 1º, §2º, inciso III, alínea “a”, Lei nº 11.419/06, regulamenta a assinatura digital baseada em
certificado digital, emitida por Autoridade Certificadora Credenciada, nos termos da MP 2200-02/2001
como uma das formas de identificação das partes e capaz de conferir a integridade de determinado
documento eletrônico, bem como instrumento tecnológico hábil para pratica de atos processuais no
processo judicial eletrônico. 59
ROHRMANN. op. cit., p. 66-67.
31
Assim, essa estabilidade jurídica pode ser garantida ao “vendedor que
negocia e celebra contratos com a pessoa certa (ou com a pessoa que diz ser quem é)
como a de eventuais exigências legais quanto à obrigatoriedade da presença da
assinatura das partes em certos contratos”.60
A assinatura digital é considerada um substituto eletrônico para a
assinatura manual. Todavia, não pode ser considerada como uma imagem
digitalizada da assinatura manual, pois não é uma mera cópia digital da assinatura
manuscrita. Além do mais, a assinatura digital desempenha o papel de proteger a
mensagem digital transmitida (integridade), uma vez que o conteúdo do texto é
codificado através de algoritmos de criptografia e qualquer interceptação indesejada
que faça mudança no conteúdo do documento impossibilita a autenticação da
assinatura digital por meio das autoridades certificadoras.
Nesse sentido, a assinatura digital é viabilizada pelo método da
criptografia assimétrica ou chamada de criptografia com a utilização das chamadas
chaves públicas, sendo que, a disponibilização desse mecanismo é feito por meio das
autoridades certificadoras capazes de promover a autenticação dos documentos
eletrônicos assinados com a assinatura digital através da emissão de certificados.
Para uma melhor compreensão da criptografia assimétrica, é necessário conhecer
primeiramente o que vem a ser método da criptografia, conjugado com os dois tipos,
a simétrica e a assimétrica (assinatura digital).
A criptografia simétrica utiliza a mesma chave para cifrar a mensagem
quanto para decifrar. O que inviabilizaria a comunicação quando tratamos em um
universo ilimitado de pessoas.61
Por outro lado, a criptografia assimétrica ou de chave pública, é
considerada uma técnica de identificação recente. O método consiste na utilização de
duas chaves ou códigos, “uma a ser aplicada pelo remetente e outra pelo receptor da
mensagem”62, essas chaves são denominadas chave pública e privada, é o que atribui
a criação da assinatura digital.
60
ROHRMANN. op. cit., p. 67-68. 61
A “cifragem” de determinada mensagem pode ser entendida como o processo de converter a
informação comum (texto plano) em algo intelegível, o qual chama de texto cifrado. Já a “decifragem” é
a tarefa contrária, dada uma informação intelegível caracteriza a conversão em texto plano. 62
MENKE. op. cit., p. 46.
32
O método da chave pública e privada para a criptografia assimétrica pode
ser transcrito nos seguintes termos:
A chave privada é de único e exclusivo domínio do titular da chave de
assinatura, enquanto que a chave pública poderá ser amplamente divulgada.
Elas constituem combinação de letras e números bastante extensa, que não
são criadas por usuário, mas sim por programas de computador. O que
interessa saber é que as chaves se complementam e atuam em conjunto. O
remetente “assina” a sua mensagem aplicando a ela a sua chave privada ( que
fica armazenada usualmente em cartões inteligentes, dispositivos similares a
um cartão de crédito), enquanto que o receptor, ao receber a mensagem,
aplicará a chave pública do remetente para verificar se ela efetivamente dele
se originou.63
A princípio é praticamente impossível decifrar uma chave privada a
partir da sua correspondente chave pública, isto porque as chaves criptográficas
assimétricas possuem tamanhos diferenciados. Na verdade, variam de acordo com o
grau de segurança desejado. Assim, quanto maior for o tamanho da chave,
respectivamente, maior será o seu grau de segurança.
Diferentemente que acontece com o par de chaves públicas na
criptografia simétrica. Na assimétrica, a diversidades de chaves (chave pública e
privada) permite a comunicação com um universo ilimitado de pessoas e para a
prática de diversos fins, desde o fechamento de um contrato até a prática de atos
processuais por meio eletrônico, e, principalmente, é um mecanismo que não exige
um contato direto com o interlocutor (destinatário) e nem um contato prévio. É tudo
que a sociedade moderna estava precisando para marcar cada vez mais a atualidade
em que se vive, estruturada na impessoalidade.
Assim, pode-se atribuir que a criptografia é uma metodologia em que se
aplicam complexos procedimentos matemáticos que transformam determinada
informação em uma seqüência de bits de modo a não permitir seja tal informação
alterada ou conhecida por terceiros. Basicamente, o funcionamento da criptografia
envolve o uso de dois tipos básicos que pode ser a simétrica e a assimétrica. Na
primeira, o programa que codifica o texto em caracteres alfanuméricos indecifráveis,
vale-se de uma mesma “chave” para “criptografar” quanto para “descriptografar” a
63
Idem.
33
mensagem. Já a criptografia “assimétrica”, a chave utilizada para criptografar uma
mensagem é a chave privada que é de conhecimento apenas de seu dono (garantia de
sigilo), enquanto que a chave utilizada para “descriptografar” é outra (chave
pública).64
Nesse sentido:
A criptografia simétrica não é a mais adequada para o comércio eletrônico,
uma vez que há a necessidade do compartilhamento da chave privada de certa
pessoa com as demais partes envolvidas nas transações, o que levaria uma
grande sensação de insegurança na confiabilidade do método. Já a
criptografia assimétrica, a chave privada é de conhecimento apenas de seu
dono e não circula pela rede de computadores. Nota-se que há uma garantia
de sigilo e, conseqüentemente, de segurança muito maior do que a mera
utilização de uma senha que circularia por meio eletrônico, a qual poderia ser
interceptada.65
Essa mensagem de dados trocada pelos usuários pode ser, por exemplo,
um contrato de compra e venda, compra de ações ou até mesmo a emissão de um
título de crédito virtual. Note-se, que a grande vantagem desse sistema de
criptografia assimétrica é a garantia, por exemplo, de realizar atos processuais via
rede de computadores com segurança, pois a chave privada de criptografia não é do
conhecimento de terceiros, tudo isso para evitar eventuais fraudes.
Nesse sentido, a assinatura digital é gerada para cada documento digital,
a partir de seus dados mediante a utilização de uma chave privada de criptografia
associado a um certificado digital. Em cada documento enviado por meio eletrônico,
o computador utiliza os dados do documento mais a chave privada de criptografia de
seu titular para que possa gerar uma assinatura digital específica.
Daí o documento ao ser enviado ao seu destino se vale da chave pública
correspondente da chave privada do assinante para checar se o documento foi
enviado com a criptografia desta chave privada. Na realidade, o destinatário recebe
um documento eletrônico com um certificado digital certificando que a chave
privada utilizada para gerar a assinatura digital é realmente a do titular que realizou a
mensagem. Sendo que, este certificado é emitido por uma Autoridade Certificadora,
64
ROHRMANN. op.cit., p. 70-72. 65
ROHRMANN. op.cit., p. 70-71.
34
que pode ser credenciada a uma Infra-Estrutura de Chaves Públicas
governamentais.66
Para isso, é reconhecido o papel das Autoridades Certificadoras, como
um terceiro de confiança das partes envolvidas no processo de certificação.
5.2.2.1 Funcionalidade do certificado digital
A funcionalidade prática da assinatura digital também envolve uma terceira
parte desinteressada e alheia à transação, com o intuito de fornecer o par de chaves e
assegurar a identidade das partes. Esse é o papel das autoridades certificadoras
responsáveis em averiguar a real identidade do solicitante do certificado (pessoa física
ou jurídica).
Nesse sentido, o certificado assume o papel de identificador digital do seu
portador, e pode trafegar na Internet, bem como pode ser utilizado na transmissão de
mensagens via correio eletrônico. Percebe-se que o fornecimento de certificado digital
pode ser comparado a um serviço de identificação de emissão de carteiras de identidade.
Porém, conforme descrito acima, o certificado é emitido com determinado prazo de
validade.67 Assim, deve aquele futuro proprietário do par de chaves primeiramente
comparecer pessoalmente em um terceiro de confiança68 para que promova o cadastro
de seus dados pessoais, com a apresentação de documentos necessários69 e, após, solicite
a emissão de certificado digital.
66
Foi criada uma Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira governamental denominada ICP-Brasil,
nos termos da MP 2200-2/01. 67
Consoante o item 6.3.2 da Resolução 7 do Comitê Gestor da ICP-Brasil, de 12 de dezembro de 2001,
prevê que os certificados de assinaturas digitais poderiam ser emitidos pelo máximo de 1 ano (certificados
do tipo A1 e S1), de dois anos (certificados dos tipos A2 e S2) e de três anos (certificados dos tipos A3,
S3, A4 e S4). Disponível no site http://www.iti.gov.br/twiki/pub/Certificacao/Resolucoes/. Acesso em 30
de setembro de 2008. 68
Sobre as funções desempenhadas pelas Autoridades de Registro, o art 7 da MP. 2200-2/01 dispõe: “Às
AR, entidades operacionalmente vinculadas a determinada AC, compete identificar e cadastrar usuários,
na presença destes, encaminhar solicitações de certificados às AC e manter registro de suas operações.
Disponível no site http://www.iti.gov.br/twiki/pub/Certificacao/MedidaProvisoria. Acesso em 30 de
setembro de 2008. 69
Os documentos necessários para a emissão de certificados digitais para a pessoa física são: cédula de
identidade ou passaporte, se estrangeiro; cadastro de Pessoa Física (CPF), comprovante de residência,
número de Identificação Social (PIS/PASEP, ou INSS), se aplicável, cadastro específico no INSS (CEI),
e, no caso de certificado com maior segurança exigem outro documento oficial com fotografia, do tipo
A4S4. Já as pessoas jurídicas serão necessárias os seguintes documentos: registro comercial, no caso de
empresário individual, ato constitutivo, contrato social ou estatuto, devidamente registrado, para as
sociedades empresárias (no caso de sociedade anônima deve ser acrescentado o documento de eleição dos
administradores), prova de inscrição no CNPJ, prova de inscrição no cadastro específico do INSS (CEI),
se aplicável. Além disso, o responsável pelo certificado da Pessoa Jurídica deve ser identificado (pessoa
35
Uma vez recebido o certificado emitido por essas certificadoras, não restará
dúvidas de que realmente a assinatura digital é do seu respectivo remetente, o que
carrega consigo uma segurança no fechamento, por exemplo, de um contrato de compra
e venda por meio da rede de computadores.
Poderão ser titulares de certificados digitais emitidos por Autoridades
Certificadoras, tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica. No entanto, a pessoa
jurídica deverá ter um representante legal (pessoa natural) responsável pela utilização da
chave privada relacionada à respectiva chave pública constante do certificado. Quando
se recebe uma mensagem assinada digitalmente, na prática, esta mensagem já vem
acompanhada do certificado emitido por aquele que enviou a mensagem, em que
constará, além de outros dados, a chave pública.70
Nesse sentido, há a presunção de que aquele documento eletrônico é
realmente do emissor da mensagem, ou seja, daquele que a assinou (autor) e também,
que não foi alterado ao longo do percurso (se manteve íntegro), pois é possível através
da técnica da assinatura digital confirmar se aquela mensagem foi ou não adulterada,
por mínima que seja, se houver alteração em um caractere do documento eletrônico
originalmente assinado não pode a Autoridade Certificadora emitir certificado.
A presunção a que se refere é iuris tantum, ou seja, admite-se prova em
contrário. Assim, o titular da chave de assinatura para que possa negar a sua autoria, terá
o ônus de comprovar a utilização indevida de sua chave privada por um terceiro não
autorizado (terceiro de má-fé), por exemplo, no caso de roubo ou furto. Daí a
responsabilidade pela guarda da chave privada será do seu titular, ou seja, o titular do
certificado digital, é o mesmo caso, para as senhas de bancos, são de responsabilidades
do proprietário da conta, sendo, pessoal e intransferível. Qualquer furto do cartão sem a
devida comunicação na instituição bancária ou o caso do proprietário do cartão revelar a
sua senha sem o devido cuidado a terceiros gera a responsabilidade do titular. Nas
mesmas condições pode-se considerar para o proprietário do certificado digital.
Ressalta-se, que podem essas autoridades certificadoras ser credenciadas e
fiscalizadas por uma entidade ligada ao governo (AC-Raiz).71 O que pode acarretar
física). Tais exigências encontram-se na Resolução nº 31 de 29 de janeiro de 2004. Disponível no site
http://www.iti.gov.br/twiki/pub/Certificacao/Resolucoes. Acesso em 30 de setembro de 2008. 70
MENKE. op. cit., p. 50. 71
A Medida Provisória 2200-2 institui a ICP-Brasil (Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileiras), cuja
função é dar autencidade, integridade e validade jurídica aos documentos eletrônicos, bem como das
transações eletrônicas seguras. E a Autoridade Certificadora Raiz (AC-Raiz) representada pelo Instituto
de Tecnologia da Informação (ITI) é competente para emitir, expedir, distribuir, revogar e gerenciar os
36
maior confiabilidade aos usuários dessas chaves públicas quando utilizarem
certificadoras ligadas a uma Infra-Estrutura de Chaves Públicas governamental.
É possível assegurar a devida integridade do documento eletrônico no que
concerne a utilização da assinatura digital, pois essa técnica é capaz de realizar a
conferência da assinatura digital atribuída ao respectivo titular do documento eletrônico.
Todavia, aqueles documentos que não são assinados, no que concerne a tecnologia da
informação, é fácil promover a sua interceptação por terceiros de má-fé e capazes de
adulterar o seu conteúdo. No entanto, a legislação brasileira reconhece a sua validade
jurídica (por exemplo, art. 225 do CC/02) desde que não sejam contestados pela parte
contrária.
Ademais, para os documentos eletrônicos com assinatura eletrônica
(digital), inexiste a possibilidade de o documento ser assinado em branco e preenchido
de forma abusiva, pois qualquer preenchimento posterior seja ele abusivo ou não,
invalidaria a assinatura eletrônica.72
No que se refere às cópias, qualquer reprodução eletrônica do documento
eletrônico manteria as mesmas características do documento original. Nesses termos,
não há que se falar em cópia de documentos eletrônicos, pois todas as reproduções são
igualmente consideradas como originais. Já a cópia eletrônica de um documento físico
poderia existir se se tratar da digitalização da sua imagem, até mesmo com a sua
assinatura digitalizada (mera cópia digitalizada da assinatura manuscrita que foi
transcrita pelo computador), ou cópia física do documento eletrônico (impressão em
papel de seu conteúdo). Por exemplo, um contrato eletrônico protegido com assinatura
digital. Com relação a este segundo caso, a cópia do documento eletrônico quando
materializada em papel pode servir como prova, apenas é necessário à parte manifestar
que se trata de uma reprodução de documento que está em seu formato original em meio
eletrônico, e, nesta esteira, declarar que se acha protegida pela assinatura digital, pois
equivale a sua assinatura manual (autenticidade). Daí não impugnada a validade da
cópia pela parte contrária, terá a mesma eficácia probatória que o seu original.
Porém, se a outra parte contestar a veracidade da cópia, é necessário
confrontá-la com o documento eletrônico original. E por se tratar de uma assinatura
digital é tecnicamente possível provar a integridade e autenticidade desse documento.
certificados emitidos pelas Autoridades Certificadoras de nível subseqüente ao seu. Sendo que, a sua
função fica restrita ao gerenciamento da emissão dos certificados das AC subseqüentes, ela mesma não
pode emitir certificados ao usuário final (art. 5, MP 2200-2/01). 72
MARCACINI. op. cit., p. 91.
37
Assim, a parte que argüir a sua falsidade poderá ser considerada litigante de má-fé
quando se refere aos documentos eletrônicos em que autoria e integridade são provadas
por meio da assinatura digital.73
Por outro lado, os pontos que devem ser considerados, para caracterizar a
falsidade do documento eletrônico se referem à possibilidade de um terceiro de má-fé
apropriar-se da chave privada e a questão da autenticidade da chave pública.
Quanto ao primeiro questionamento, foi tratado que o titular da chave deve
guardá-la com segurança e não fornecer a sua chave privada e a “senha” que dá acesso a
ela, sob pena de ser responsabilizado por negligência. É importante repisar que caso o
terceiro de má-fé tenha acesso a essa chave privada (sigilosa), poderá subscrever os
documentos como se fosse o seu verdadeiro titular. Assim, é necessário que o
proprietário da chave privada prove a apropriação indevida e o uso ilícito da chave
pública. Com isso, o juiz deve negar valor jurídico aquele documento eletrônico.
Um dos caminhos para solucionar a problemática no que se refere à
possibilidade de caracterizar a autenticidade da chave pública, no ponto de vista da
tecnologia da informação, é resolvido, através da emissão de certificados eletrônicos de
autenticidade, que representam “a assinatura eletrônica, por uma terceira pessoa, da
chave pública a ser certificada”, essa é a funcionalidade das Autoridades
Certificadoras.74 Já sob o prisma jurídico, os certificados emitidos pelas Autoridades
Certificadoras representariam “o significado de uma declaração, dada pelo agente
certificante, de que a chave pública em questão realmente pertence ao titular
indicado”.75
Outro ponto que pode gerar discussão e controvérsia se refere à eficácia
probatória da autenticidade de determinada chave pública. Assim, pergunta-se: De quem
seria o ônus da prova, se argüido que a chave pública não é autentica? Para responder a
esse questionamento utiliza-se o artigo 389, inciso III, do Código de Processo Civil,
pois dispõe que, compete aquele que produziu o documento, provar-lhe a sua autoria.
Dessa forma, ao confrontar esse dispositivo com a técnica da criptografia assimétrica,
compete à parte que produziu aquele documento eletrônico comprovar a autenticidade
da chave pública que alega ser daquele respectivo titular e, que, respectivamente,
corresponderia à assinatura digital.
73
MARCACINI. op. cit., p. 90. 74
MARCACINI. op. cit., p. 93. 75
MARCACINI, op. cit., p. 90.
38
Todavia, no caso da apropriação indevida da chave privada verdadeira, o
ônus da prova caberá a quem alegar o fato. Assim, quando for suscitada a dúvida da
veracidade daquela chave privada é possível que ela seja revogada, nos termos da MP
2200-2/01.76 Nesse sentido, é necessário dar publicidade a essa revogação e também à
possibilidade técnica da conferência quanto às datas da revogação ou da assinatura
indevidamente utilizada por esse terceiro que se apropriou indevidamente da chave
privada. Com isso, é importante analisar as técnicas eficazes capazes de provar a data do
documento eletronicamente assinado e conhecer a legislação brasileira sobre o assunto
(MP 2200-1/01).77
Nesse sentido, é importante o estudo de forma detalhada sobre a certificação
digital diante do modelo hierárquico atribuído pela Infra-Estrutura de Chaves Públicas
no Brasil (ICP-Brasil), nos termos da MP 2200-2/01.
6 Considerações Finais
Conforme as orientações descritas sobre o tema, a validade do documento
eletrônico independe de norma expressa, pois, quando a lei no seu contexto, utiliza as
expressões “documento” e “assinatura” há de se considerar a extensão dos seus
significados também às novas formas de materialização, qual seja, o documento
produzido em meio eletrônico e a assinatura que não atende à mera subscrição da
assinatura manual materializada no papel, mas as diversas manifestações que a técnica
da tecnologia digital faz com se abstraia a noção de assinatura eletrônica (gênero).
Nesse contexto, as dificuldades quanto à eficácia probatória do documento
eletrônico “puro” (documento eletrônico sem assinatura eletrônica) comparado àqueles
que detêm o reconhecimento do traço personalíssimo do autor (assinatura digital)
devem ser superadas, cabendo reconhecê-lo com a eficácia probatória de um documento
quando estruturado com todos os outros elementos e circunstâncias envolvidas na sua
produção e eventual transmissão, além da possibilidade de sua impugnação baseado no
livre convencimento do juiz e no conjunto probatório capaz de dar sustentabilidade aos
fatos ou atos descritos nesse documento.
76
Art. 6, MP 2200-2/01 – Às AC, entidades credenciadas a emitir certificados digitais vinculando pares
de chaves criptográficas ao respectivo titular, compete emitir, expedir, distribuir, revogar e gerenciar os
certificados, bem como colocar à disposição dos usuários listas de certificados revogados e outras
informações pertinentes e manter o registro de suas operações. 77
Consoante entendimento: MARCACINI, Augusto Tavares. Direito e Informática: uma abordagem
jurídica sobre criptografia. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 96-97.
39
Por conseguinte, deve-se reconhecer diversas “modalidades” de documentos
eletrônicos e as várias discussões que foram abordadas, quanto à eficácia probatória
desde um documento eletrônico sem assinatura até aquele documento eletrônico que
estiver seguro com a técnica da assinatura digital, pois, a força probante desse
mecanismo tecnológico leva ao entendimento de que aqueles documentos assinados
com essa técnica equivale à assinatura manuscrita, pois é capaz de garantir tanto a
autenticidade (autoria) quanto a integridade (conteúdo) dos documentos protegidos com
a assinatura digital (princípio da equivalência funcional).
Nesse sentido, um ponto de grande importância é que um documento
digitalmente assinado por meio de autoridade certificadora dentro da ICP-Brasil (art. 10,
§1º, MP 2200-2) presume-se verdadeiros em relação aos seus signatários, nos termos do
art. 219 do Código Civil de 2002, ou seja, presume-se que esse documento eletrônico
foi assinado pelo titular do certificado digital. Porém, discutiu-se que tal presunção não
é absoluta, já que a esse titular caberá desconstituir tal presunção de autoria quando, por
exemplo, ele emprestar sua chave privada de criptografia a terceiros e, por
conseqüência, corre o risco de um terceiro de má-fé assinar digitalmente documentos
que serão imputados ao titular daquela chave. Portanto, a chave privada é intransferível
e sigilosa do titular daquele documento digitalmente assinado.
Por outro lado, discute-se que também os documentos eletrônicos
digitalmente assinados fora do processo de certificação da ICP-Brasil (art. 10, §2º da
MP 2200-2) possuem certa força probante (autoria e integridade de documentos em
forma eletrônica), quando admitidos pelas partes como válido e devidamente aceito pela
pessoa a quem foi oposto o documento. Todavia, se um terceiro venha a opor o
documento digital contra o assinante, cabe ao autor provar de que fora realmente o
titular do certificado digital emitido fora da ICP-Brasil.
Outra circunstância que foi analisada é o caso de documentos digitais que
contém meras assinaturas eletrônicas, como por exemplo, senhas, biometria, método da
criptografia simétrica, etc. Nesses casos, esses documentos quanto à origem de sua
assinatura eletrônica são reconhecidos a sua eficácia probatória desde que aceitos pelas
partes que previamente elegeram esse método de identificação no meio virtual,
conforme as orientações previstas no art. 10, §2º da MP. 2200-2.
Para aqueles casos de escritos, sons, ou imagens fixados diretamente em
arquivos digitais que não contém a assinatura digital, como por exemplo, o caso das
fotografias, gravações de sons ou arquivos que contenham textos de escritos digitais.
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Todos esses casos de documentos eletrônicos, que não contém a assinatura digital para
conferir a autenticidade e integridade a esses documentos podem ser resolvidos com
perícia técnica da computação, caso seja argüida a falsidade pela parte contrária. Se,
porém, nada seja contestado pela outra parte, é de se reconhecer a eficácia probatória
desses documentos digitais e conferir a sua força probante conforme o conjunto de
provas envolvidas no processo.
7 JURISPRUDENCIA CORRELATA AO TEMA
São poucos os julgados adequados á ilustração do tema. Primeiramente, há
de avaliar um julgado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais:
EMENTA: AÇAO ORDINÁRIA-DOCUMENTO ELETRONICO-
PRESUNÇAO DE VERACIDADE-ASSINATURA DIGITAL-FÉ
CESSADA PELA NEGAÇAO DA AUTENTICIDADE –
RESTABELECIMENTO- ONUS DA PARTE QUE PRODUZIU O
DOCUMENTO.
Se de um lado as declarações constantes dos documentos em forma eletrônica
presumem-se verdadeira em relação aos seus signatários (art. 10, parágrafo
primeiro da MP 2.200-2/2001), de outro, negada a assinatura, cessa a fé do
documento (art. 388 do CPC). Assim, negada a aposição da assinatura
(digital), caberia ao banco para restabelecer a fé do documento, fazer a prova
da autenticidade. Afinal, nos termos do art. 389, II, do CPC, em se tratando de
contestação de assinatura , a prova afirmativa de autenticidade incumbe à parte
que produziu o documento. Por ser tratar de recibo virtual de saque, produz o
documento, ou seja, traz ao mundo dos autos, a parte que o invoca a fim de
sustentar uma pretensão (MINAS GERAIS, 2007).
Sobre o mesmo tema discutido, abstrai-se a validade do documento
eletrônico pela não impugnação da exatidão do conteúdo, nos termos do já citado art.
225 do CC/02, bem como o art. 383 do CPC. Assim, o Tribunal de Justiça de Minas
Gerais decidiu neste sentido, para atribuir ao julgador a faculdade de considerar o
documento eletrônico como meio de prova do contrato eletrônico, conforme a
circunstância do caso, com base nos fundamentos do art. 383 do CPC.
APELAÇAO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. MENSALIDADES
ESCOLARES. DOCUMENTOS ELETRONICOS. FORÇA PROBANTE.
INTELIGENCIA DO ART. 383 DO CPC. COBRANÇA INDEVIDA.
AUSENCIA DE PROVA. REPETIÇAO DE INDEBITO.
IMPOSSIBILIDADE. RECURSO NÃO PROVIDO. Os documentos
eletrônicos gozam de força probante porque encontram respaldo no artigo 383
do CPC. O réu ao alegar a existência excessiva de dívida atrai para si o ônus
da prova, porque fato modificativo do direito do autor. Ausente a prova de que
a parte está cobrando valor já anteriormente pago, não há que se falar de
repetição de indébito. Apelação conhecida e não provida (MINAS GERAIS,
2005).
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A primeira decisão refere-se à equiparação legal do documento digitalmente
assinado mediante emprego de processo disponibilizado, autorizado, fiscalizado e
vinculado à Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-BR). E a segunda
decisão refere-se a casos de consenso na não impugnação da declaração documentada,
conforme discutiu-se ao longo do tema.
Assim, há de se considerar em todos esses casos a utilização da
hermenêutica jurídica para decidir a legitimidade do documento gerado em meio
eletrônico, e a sua aceitabilidade jurídica, desde que respeitado o devido processo legal,
além das atenções do princípio do contraditório e da ampla defesa, todos garantias
constitucionais.
Além de encontrar respaldo nas disposições do art. 332 do CPC: “Art. 332 –
Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados
neste Código, são hábeis a provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou
defesa”.
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