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ROBERTA AGOSTINI ROHR
CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DAS ESPÉCIES DE
PEQUENOS MAMÍFEROS NÃO VOADORES EM ÁREA DE MATA
ATLÂNTICA LOCALIZADA NO MORRO DO COCO, VIAMÃO, RIO
GRANDE DO SUL
Canoas, 2008.
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ROBERTA AGOSTINI ROHR
CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DAS ESPÉCIES DE
PEQUENOS MAMÍFEROS NÃO VOADORES EM ÁREA DE MATA
ATLÂNTICA LOCALIZADA NO MORRO DO COCO, VIAMÃO, RIO
GRANDE DO SUL
Trabalho de conclusão apresentado à banca examinadora do curso de Ciências Biológicas do UNILASALLE – Centro Universitário La Salle – como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biologia, sob a orientação da Profª. Dra. Cristina Vargas Cademartori.
Canoas, 2008.
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TERMO DE APROVAÇÃO
ROBERTA AGOSTINI ROHR
CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DAS ESPÉCIES DE
PEQUENOS MAMÍFEROS NÃO VOADORES EM ÁREA DE MATA
ATLÂNTICA LOCALIZADA NO MORRO DO COCO, VIAMÃO, RIO
GRANDE DO SUL
Trabalho de conclusão aprovado como requisito parci al para a obtenção do grau de bacharel do Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário La
Salle – UNILASALLE pela seguinte avaliadora:
Profª. Dra. Cristina Vargas Cademartori UNILASALLE
Canoas, 28 de Novembro de 2008.
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AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos
Primeiramente, quero agradecer a Deus, por tudo! Gostaria de agradecer a minha família, minha mãe, meu pai e minha irmã, por sempre
estarem ao meu lado. Obrigada mãe, por tudo! Você é muito especial! Amo muito vocês! Ao meu querido e amado esposo Diego, pelo apoio incondicional, por sempre estar por perto quando eu mais precisei, por me entender sempre. Obrigada, por estar sempre comigo, por me amar, me apoiar, incentivar, etc. Te amo muitoooooooo! À minha querida madrinha Iracema, por ter me carregado por muitos anos no colo, por fazer as minhas vontades e por me amar como uma filha querida. À minha tia Sandra, por me agüentar por muitos anos indo a sua casa, só por ir, pois adorava e ainda adoro a sua companhia e a do seu esposo, o tio Osmar. Tia, tu és uma pessoa vencedora! Aos meus sogros, Anna Maria e Paulo Afonso, pelo carinho, apoio e tudo mais! Quero agradecer as minhas queridas colegas de faculdade, Aneline, Talita, Márcia, Simone, Lú, Suzana, Luciane, entre tantas outras, pelas nossas saídas a campo maravilhosas, pelas risadas.... Levo vocês no meu coração. E também aos meus colegas da faculdade, Daniel, Everton, Tiago, obrigada pelas risadas e pela força no meu TCC. A outros colegas que também fizeram e fazem parte da minha história acadêmica, Marcel, Fabiano, Giliandro, etc. Quero agradecer uma amiga muito especial que me ajudou e me agüentou nestes seis anos de faculdade, a minha querida e amada amiga Rita de Cássia, obrigada por estar sempre do meu lado, por puxar a minha orelha quando necessário, por falar a verdade sempre e por ser a minha “miga” querida do coração, como você já disse, para toda a vida. Te adoro de mais!
Um beijo especial a minha amiga Cristiane Mattje, que me acompanhou nos últimos semestres de faculdade, e em quem eu vi uma pessoa muito especial e amiga. Obrigada pela força morro acima, pelas risadas, pelos desabafos, pelo molho de creme de leite (uma delicia), pelo apoio e por tudo mais...
A Rosane, Fernado, Sr. Clódis, aos irmãos Lasallistas, ao Sr. Edemar e sua esposa e a todos que me auxiliaram de alguma maneira no TCC. Quero agradecer a minha querida orientadora a Profª. Drª. Cristina Cademartori, obrigada pelo apoio, pela mão amiga, pelo conhecimento e pelo exemplo de profissional que representa, correta, justa e amiga. Obrigada por tudo! E por fim aos meus queridos professores Giovani Piva, Eduardo Forneck, Jairo Cândido, Sérgio Bordignon, Francisco Koller e minha orientadora, e aos professores que não se encontram mais no Unilasalle, como a amada e insubstituível Lílian Timm, Isabel Junqueira, Flávio Garcia e Ingrid Heydrich, com quem estou tendo oportunidade de trabalhar como bolsista e quem admiro muito. Quero agradecer a todos do fundo do meu coração, vocês foram a base e inspiração para minha formação.
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RESUMO
O objetivo deste estudo foi conhecer as espécies de pequenos roedores presentes no Morro do Coco, localizado no município de Viamão, RS, entre as coordenadas 30°16’15”S e 51°02’54”W, a 50 km de Porto Alegre. A formação florestal encontrada pertence ao Domínio Mata Atlântica. Existem poucos trabalhos publicados sobre a área de estudo, sendo a maioria deles sobre a flora local. As amostragens realizaram-se mensalmente, entre junho e novembro de 2008, durante três noites consecutivas. Para tanto, foram utilizadas 40 armadilhas do tipo Tomahawk, de dois tamanhos (9x9x22cm e 14x14x30cm), distribuídas em intervalos de 10 m, ao longo de uma transecção que se estendeu da base do morro até o seu topo. Foram capturados 20 exemplares de roedores, sendo 17 pertencentes à espécie Akodon montensis Thomas, 1913 e três, à espécie Sooretamys angouya [= Oryzomys angouya (G. Fischer, 1814)]. Houve quatro recapturas, duas para cada espécie, totalizando 24 capturas. O sucesso de captura foi equivalente a 5,97%. Palavras-chave: pequenos mamíferos, Akodon montensis, Sooretamys angouya, remanescente da Floresta Atlântica.
ABSTRACT
The purpose of this study was to know the species of small rodents in the Morro do Coco, located in Viamão, state of Rio Grande do Sul, between the coordinates 30°16’15”S and 51°02’54”W, 50km away from Porto Ale gre. The forest formation is part of the Atlantic Rainforest Domain. There are few published studies on the area, most of them about the local flora. The samplings were carried out monthly, between June and November 2008, over three consecutive nights. We used 40 Tomahawk traps of two sizes (9x9x22cm and 14x14x30cm), distributed in 10m intervals along a transection from the base of the hill until its top. We captured 20 rodents, 17 specimens of Akodon montensis Thomas, 1913 and three Sooretamys angouya [= Oryzomys angouya (G. Fischer, 1814)]. There were four recaptures, two for each species, in a total of 24 catches. The trapping success was 5.97%. Key words: small mammals, Akodon montensis, Sooretamys angouya, remnant of the Atlantic Rainforest.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7
1.1 Conservação da Mata Atlântica ................. ........................................................ 8
1.2 Pequenos Mamíferos ............................ ............................................................ 10
1.3 Papéis Ecológicos Desempenhados pelos Pequenos Mamíferos ................ 11
1.4 Estado de Conservação dos Roedores no Rio Grand e do Sul ..................... 12
1.5 Estudos Realizados com Pequenos Mamíferos em Ár eas de Mata Atlântica .................................................................................................................................. 13
2 MATERIAIS E MÉTODOS ............................. ........................................................ 16
2.1 Área de Estudo ................................ .................................................................. 16
2.2 Procedimentos de Amostragem ................... ................................................... 17
2.3 Análise Quantitativa .......................... ................................................................ 18
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................... ................................................... 19
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................ ....................................................... 27
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 28
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1 INTRODUÇÃO
Ao contrário do continente africano, onde os grandes mamíferos podem ser
vistos nas savanas, no Brasil, a maioria é de pequeno porte e dificilmente
observada. Geralmente vivem camuflados entre a vegetação, iniciando as suas
atividades no início da noite e se recolhendo ao amanhecer (REIS et al., 2006).
Segundo Costa et al. (2005), o Brasil é o primeiro país em diversidade
biológica, acolhendo cerca de 14% da biota mundial e a maior diversidade de
mamíferos, com mais de 530 espécies descritas, sendo que existem ainda muitas
espécies novas a serem descobertas e catalogadas, principalmente de roedores,
marsupiais e morcegos. A taxa média de aumento na descrição de mamíferos
neotropicais é de um novo gênero e oito novas espécies por ano (PATTERSON
apud COSTA et al., 2005).
Pouquíssimos locais de floresta úmida neotropical foram adequadamente
inventariados e listas locais de espécies são, geralmente, incompletas. Essa
escassez de conhecimento dificulta iniciativas de conservação e manejo, assim
como análises regionais (COSTA et al., 2005). Segundo Pardini, Umetsu (2006), os
padrões de distribuição das espécies, de diversidade e da estrutura das
comunidades de pequenos mamíferos não voadores relacionados aos ambientes
observados no bioma Mata Atlântica ainda são pouco conhecidos. Em decorrência
disso, levantamentos da fauna de roedores são de extrema importância, uma vez
que estes compreendem o grupo de mamíferos mais amplamente distribuído,
diversificado, abundante e ecologicamente bem sucedido, são componentes comuns
de todas as formações vegetais brasileiras e constituem a base da dieta alimentar
da maioria das espécies de carnívoros silvestres ameaçados (CADEMARTORI et al.,
2003).
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Segundo Ávila-Pires apud Cademartori et al. (2003), o Estado do Rio Grande
do Sul constitui-se em uma região ímpar do ponto de vista ecológico, visto que pode
ser considerado uma área de transição faunística, na qual se encontram elementos
provenientes das zonas meridional e central da América do Sul, ou seja, das sub-
regiões Guiano-Brasileira e Pampeana. Desta forma, tornam-se urgentes medidas e
a efetivação de uma prática que vise à conservação e ao manejo de áreas
remanescentes, especialmente de Mata Atlântica.
Contribuições ao conhecimento de espécies de pequenos mamíferos podem
auxiliar na caracterização do estado de conservação de determinado local, pois os
mamíferos, em geral, estão incluídos entre os animais que respondem mais
rapidamente à degradação ambiental, sendo utilizados como eficientes bio-
indicadores ambientais. Os roedores, em especial, adeqúam-se a essa finalidade na
medida em que suas populações se apresentam suscetíveis às modificações
ambientais, inclusive, com marcada sazonalidade (CADEMARTORI et al., 2003).
No que diz respeito à área de estudo, localizada no Morro do Coco, existem
apenas seis trabalhos publicados, sendo que cinco deles tratam sobre a sua
vegetação (KNOB, 1978; BACKES, 1981; BACKES, 1999; BACKES, 2000;
BACKES, 2001) e o outro disponibiliza algumas informações sobre a fauna e a flora
(FZBRS, 1976). Em virtude disso, este trabalho tem como finalidade contribuir para o
conhecimento da riqueza e composição de espécies de pequenos mamíferos
encontrados na área referida.
1.1 Conservação da Mata Atlântica
A Mata Atlântica é uma das florestas tropicais que apresenta maior
diversidade de espécies arbóreas, por suas condições de umidade e calor, e
também uma grande diversidade de outros seres vivos. Essa condição é resultado
da distribuição Norte-Sul da floresta, da existência de consideráveis diferenças
geológicas, de altitude nas serranias costeiras cobertas por ela e de importantes
transformações que a região sofreu em função de intensas mudanças climáticas nos
diferentes períodos geológicos. Isso promoveu uma maior variação de climas,
temperaturas, insolação e solos, aumentando a possibilidade de evolução e
diversificação de espécies (LINO, 2003).
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A Mata Atlântica é a segunda maior floresta tropical do continente americano
e já cobriu cerca de 1,5 milhões de km2. Com 92% desta área no Brasil, penetrava
até o leste do Paraguai e nordeste da Argentina. Hoje cobre menos de 100.000 km2,
cerca de 7% de sua extensão original. Possui mais de 8.000 espécies endêmicas de
plantas vasculares, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, sendo considerada um dos
25 hotspots mundiais de diversidade biológica (TABARELLI et al., 2005).
A destruição deste bioma vem prolongando-se desde a chegada dos
portugueses ao Brasil, com a exploração madeireira da Caesalpinia echinata (Pau-
Brasil), espécie endêmica e atualmente em perigo de extinção, e, posteriormente,
com o desmatamento para a instalação de colônias. Atualmente, essa destruição
mostra-se através da remoção da vegetação para cultivos agrícolas e para criação
de gado. Sabe-se que a Mata Atlântica abriga 70% da população brasileira, além
das maiores cidades e os mais importantes pólos industriais do Brasil. A economia
dessas regiões é muito diversificada, sendo predominantemente agropecuária nos
estados da região Sul e no interior de São Paulo. As zonas industriais, concentradas
basicamente em torno das principais áreas metropolitanas e dos eixos de
desenvolvimento, geram pressões sobre a biodiversidade à medida que necessitam
de recursos naturais e energia para suprimento das atividades (CONSERVAÇÃO
INTERNACIONAL DO BRASIL, 2000).
A Mata Atlântica é um bioma extremamente heterogêneo, pois junto com a
floresta tropical, abrange formações mistas de araucária ao sul, com distintas
dominâncias de lauráceas, e florestas decíduas e semi-decíduas no interior, com
várias formações se encontrando e fazendo associações com este bioma, como
mangues, restingas, formações campestres de altitude e brejos - florestas úmidas
que resultam das precipitações em meio a formações semi-áridas no nordeste
brasileiro (TABARELLI et al., 2005). A grande diversidade biológica e o alto grau de
endemismo resultante fazem com que o bioma seja considerado, por alguns autores,
como mais complexo e diversificado que muitas florestas da Amazônia
(PASSAMANI, 2003).
Considerando-se a fauna de mamíferos brasileiros, das 524 espécies
descritas, 250 espécies ocorrem na Mata Atlântica, com 65 endemismos (FONSECA
et al., 1996). Das 209 espécies de roedores e marsupiais que ocorrem no Brasil, há
pelo menos 23 espécies de marsupiais e 79 de roedores na Mata Atlântica, das
quais 39% e 46%, respectivamente, são endêmicas (FONSECA et al., 1996).
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1.2 Pequenos Mamíferos
Segundo Cademartori (2005), o conceito de pequenos mamíferos é
freqüentemente empregado para designar mamíferos não voadores de pequenas
dimensões, embora não haja definições conclusivas acerca desse conceito na
literatura. Inclui espécies da ordem Rodentia (roedores), entre outras, cuja massa
média dos indivíduos adultos não ultrapassa 1 kg.
Os roedores compõem a ordem mais representativa da classe Mammalia.
Aproximadamente 43% das espécies de mamíferos que habitam o continente sul-
americano pertencem a essa ordem, constituindo cerca de 450 espécies, das quais
249 estão incluídas na família Cricetidae (REIG apud CADEMARTORI et al., 2003).
No Brasil, existem 71 gêneros e 235 espécies de roedores reconhecidos (OLIVEIRA,
BONVICINO, 2006).
Segundo Mattevi, Andrades-Miranda (2006), os primeiros cricetídeos que
invadiram a América do Sul, no final do Terciário (Plioceno Inferior), encontraram
uma ilimitada oportunidade de se irradiarem em vários tipos de habitats. Neste
período, nenhum pequeno mamífero (com exceção dos diminutos e não-
competitivos marsupiais) tinha preenchido os nichos que então foram explorados a
partir da rápida ocupação e proliferação dos cricetídeos. Estes avançaram do norte
para o sul, através da Cordilheira dos Andes, e do oeste para o leste, cruzando
planícies montanhosas da Bolívia e sul do Brasil. Assim, são, em sua maioria, sul-
americanos em sua diversidade e distribuição, e com um marcado endemismo na
América do Sul.
Os roedores são membros importantes de quase todas as faunas, desde o
Paleoceno Superior, e tornaram-se diversificados e abundantes durante o Eoceno
na América do Norte e Eurásia, vivendo até o Recente (DAWSON apud MATTEVI,
ANDRADES-MIRANDA, 2006). São cosmopolitas, nativos da maioria dos
ecossistemas terrestres, exceto em algumas ilhas árticas e oceânicas, Nova
Zelândia e Antártica (MATTEVI, ANDRADES-MIRANDA, 2006).
Muitas espécies de roedores são herbívoras e alimentam-se tanto de
variedades diferentes de plantas quanto de seus derivados, como sementes e
brotos. Algumas são insetívoras e outras possuem uma dieta mais onívora,
ingerindo uma variedade de insetos, vermes, ovos e frutos (HONEYCUTT, 2003).
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A estrutura social em roedores é altamente variável. Algumas espécies são
solitárias, enquanto outras são mais sociais. Muitas das espécies fossoriais tendem
a ocupar sistemas de túneis com maior ou menor grau de sobreposição e
sociabilidade. Outras espécies tendem a ser gregárias, vivendo em colônias, com
uma estrutura bem definida de fêmeas relacionadas, que permanecem com seu
grupo natal, e machos que se dispersam para grupos vizinhos. O número e o
tamanho de grupos em roedores são influenciados por muitos fatores relacionados à
disponibilidade de recursos e ao custo de dispersão (HONEYCUTT, 2003). A
enorme variação morfológica, nos hábitos de vida e alimentares são atributos que
fizeram da ordem um dos grupos de mamíferos com maior sucesso evolutivo
(MATTEVI, ANDRADES-MIRANDA, 2006).
Segundo Cademartori et al. (2003), apesar da América do Sul sustentar uma
das mais ricas faunas de roedores, a ecologia e o comportamento de muitas
espécies permanecem como lacunas no conhecimento científico. Até a década de
80, especialmente, os trabalhos realizados no Brasil eram voltados para a área de
saúde pública ou tinham enfoque sistemático. A partir de então, estudos com
enfoque ecológico passaram a ser realizados em florestas úmidas tropicais, devido
às altas taxas de degradação e fragmentação.
1.3 Papéis Ecológicos Desempenhados pelos Pequenos Mamíferos
Nas florestas tropicais, a forma mais freqüente de dispersão das sementes é
através dos animais (zoocoria). Cerca de 60% a 90% das espécies vegetais dessas
florestas são adaptadas a esse tipo de transporte de propágulos. Esse processo
envolve animais mais generalistas do que na polinização, ou seja, uma espécie que
possui fruto zoocórico geralmente atrai animais de espécies, habitats, tipos e
tamanhos bastante distintos (REIS, KAGEYAMA, 2003). Segundo Silva (2003), os
mamíferos, juntamente com as aves, formam os grupos mais diversificados e mais
bem adaptados à dispersão de sementes das angiospermas. Na verdade, embora
controverso, é sugestivo o fato de que a grande irradiação desse grupo de plantas
coincidiu com a expansão das diversas ordens de aves e mamíferos a partir do
Cretáceo.
Dentre os mamíferos, somente algumas ordens têm papel de destaque na
dispersão de sementes. Nos trópicos americanos, estas compreendem os
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marsupiais (gambás e cuicas), quirópteros (morcegos), primatas (a maioria das
espécies) e alguns carnívoros (cachorro-do-mato, lobo-guará, quatis). Espécies de
outras ordens (anta, veado, porcos-do-mato, etc.) também podem contribuir para a
dispersão de algumas plantas, eliminando as sementes na íntegra (SILVA, 2003).
Os roedores, por sua vez, desenvolveram algumas adaptações que lhes permitem
quebrar e digerir as sementes, podendo dispersar acidentalmente algumas
sementes que escapam à sua predação. Dependendo do tamanho, as sementes são
ingeridas junto com a polpa e posteriormente defecadas, ou a polpa é mastigada e
as sementes descartadas sem atravessarem o tubo digestivo (SILVA, 2003).
1.4 Estado de Conservação dos Roedores no Rio Grand e do Sul
Segundo Christoff (2003), existem, no Rio Grande do Sul, três espécies de
roedores ameaçadas, pertencentes às famílias Agoutidae, Dasyproctidae e
Ctenomyidae.
As espécies ameaçadas são: Agouti paca (Linnaeus, 1766), chamada
popularmente de Paca, pertencente à família Agoutidae, cuja categoria de ameaça
no Rio Grande do Sul é Em Perigo, não se encontrando ameaçada mundialmente;
Dasyprocta azarae Lichtenstein, 1823 (Cutia), da família Dasyproctidae, e Ctenomys
flamarioni Travi, 1981 (Tuco-tuco-branco), da família Ctenomyidae. Estas últimas
encontram-se na categoria Vulnerável, tanto no Rio Grande do Sul como no mundo
(CHRISTOFF, 2003). Essas três espécies possuem como principais ameaças, em
maior ou menor grau, a destruição e descaracterização dos habitats em que vivem.
Agouti paca e D. azarae enfrentam, ainda, outro problema, a caça predatória,
comum em várias regiões do estado (CHRISTOFF, 2003).
Algumas ações que poderiam minimizar o risco de extinção dessas espécies
consistem na proteção dos remanescentes florestais ao longo da área de ocorrência,
bem como na implementação de medidas para a recuperação de habitats e na
coibição da caça ilegal no estado (CHRISTOFF, 2003).
Segundo Christoff (2003), existem espécies com escassez de registros e de
informações biológicas básicas para que sejam colocadas na lista de espécies
ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul, como Wilfredomys oenax (Thomas,
1928), popularmente chamada de rato-do-mato, pertencente à família Cricetidae.
Esse roedor está incluído na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção, na
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categoria Criticamente em Perigo. Trata-se de uma espécie ainda muito pouco
conhecida, descrita inicialmente a partir de material coletado no início do século
passado, em São Lourenço do Sul. Embora o estudo sobre roedores de pequeno
porte no Rio Grande do Sul tenha sido incrementado a partir do início da década de
1980, a ocorrência de indivíduos dessa espécie no estado não tem sido verificada de
forma expressiva. Cabe ressaltar, conforme destaca o autor, que avaliações prévias
sobre seu status de conservação têm sido embasadas em um conjunto de dados
que apresenta considerável fragilidade, sendo apropriada, portanto, a sua inclusão
entre as espécies com Dados Insuficientes.
1.5 Estudos Realizados com Pequenos Mamíferos em Ár eas de Mata Atlântica
Segundo Cherem, Perez (1996), levantamentos faunísticos, a princípio,
devem ser considerados preliminares, principalmente em se tratando de áreas
continentais. No estado de Santa Catarina, a maior parte dos estudos sobre
mamíferos são listas taxonômicas, com comentários relacionados às capturas
(GRAIPEL et al., 2006).
São registrados dois estudos para o município de Três Barras, localizado no
planalto norte do estado de Santa Catarina, abrangendo áreas com Florestas de
Araucária e Mata Ciliar (Floresta Nacional), o de Cherem, Perez (1996), que
realizaram um levantamento de mamíferos não voadores, e o de Wallauer et al.
(2000), um levantamento de mamíferos em geral. Outro estudo para o estado de
Santa Catarina é o de Graipel et al. (2001), no qual é apresentada uma lista com
alguns comentários sobre os mamíferos terrestres não voadores da Ilha de Santa
Catarina, Florianópolis. Há também uma lista de mamíferos, produzida por Cherem
et al. (2004), que apresenta a relação das espécies de mamíferos de ocorrência
confirmada para Santa Catarina, tomando-se por base exemplares depositados em
coleções ou referências bibliográficas.
Botelho et al. (2007) realizaram um estudo sobre pequenos mamíferos
terrestres no Parque Nacional do Gafanhoto, localizado às margens da MG-050 e do
Rio Pará, em Divinópolis, Minas Gerais. Este estudo trata, também, da abundância
relativa e razão sexual desses mamíferos.
Pardini, Umetsu (2006) utilizaram levantamentos já existentes de pequenos
mamíferos em uma área de Mata Atlântica contínua na Reserva Florestal do Morro
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Grande, em São Paulo, para produzir uma lista de espécies e caracterizar a
estrutura da comunidade de pequenos mamíferos não voadores. Descrevem como a
diversidade se distribui no espaço e no tempo na reserva e investigam como é
afetada pelos métodos de amostragem utilizados. Também em São Paulo, Briani et
al. (2001) realizaram um inventário da mastofauna em fragmento de mata mesófila
semidecídua no interior do estado (Fazenda São José), nos municípios de Rio Claro
e Araras.
Vaz (2005) realizou um levantamento de mamíferos silvestres da região de
Pedra Branca, município de Paraty, no estado do Rio de Janeiro, a partir de
exemplares depositados na coleção do Museu Nacional. O autor menciona que
apesar deste acervo ter mais de 50 anos, nunca foi objeto de maiores estudos.
Afirma ainda que a maioria das espécies colecionadas ainda ocorre no local,
baseando-se no estado de conservação da cobertura florestal, nas dificuldades de
acesso à região, no fato da área estar incluída parcialmente nos limites do Parque
Nacional da Serra da Bacaina e devido à baixa densidade humana.
Passamani et al. (2005) apresentam um levantamento preliminar dos
mamíferos não voadores em remanescentes de Mata Atlântica de propriedade da
Samarco Mineração S.A., município de Anchieta, Espírito Santo. Os mamíferos
foram capturados em diferentes áreas (vegetação secundária, exótica e alagado),
por meio de armadilhas colocadas no chão, fixadas em galhos e plataformas
suspensas, ou tiveram o registro confirmado através de evidências diretas e
indiretas durante censos diurnos e noturnos.
O Rio Grande do Sul também possui uma lista de mamíferos elaborada por
Avila-Pires (1994), baseada em expedições científicas para a coleta de material
zoológico (que se restringiram a áreas costeiras) e em material proveniente das
coleções zoológicas (nas quais a maioria das espécies está pobremente
representada por poucos espécimes).
Kasper et al. (2007) realizaram um estudo no Vale do Taquari, na região
Central do Rio Grande do Sul, com o intuito de ampliar o conhecimento sobre os
mamíferos da região, cuja vegetação é representada pela Mata Atlântica (Floresta
Estacional Decidual). Os autores destacam a importância da continuidade dos
levantamentos e da criação de Unidades de Conservação para a manutenção e
conservação da mastofauna local e regional. As informações foram obtidas a partir
de registros de campo e de dados provenientes da coleção científica do Museu de
15
Ciências Naturais do Centro Universitário UNIVATES. Cademartori et al. (2002 e
2003), por sua vez, registraram as espécies de roedores ocorrentes em duas áreas
de Floresta Ombrófila Mista, localizadas em São Francisco de Paula, Rio Grande do
Sul.
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2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Área de Estudo
A área de estudo está localizada no município de Viamão, RS, entre as
coordenadas 30°16’15”S e 51°02’54”W, a 50 km de Por to Alegre e a cerca de 15 km
do farol de Itapuã. Situa-se no Morro do Coco (Figura 1), assim denominado devido
à freqüência de Syagrus romanzoffiana (coqueiro). A formação vegetal encontrada é
em parte primária e, em parte, secundária, ambas em ótimo estado de conservação,
pertencendo a Floresta Latifoliada Tropical (BACKES, 1981). A área de estudo
possui cerca de 35 ha e faz divisa com outras propriedades, havendo, portanto,
grande extensão de mata contínua.
Figura 1. Morro do Coco, localizado no município de Viamão, RS, entre as coordenadas 30°16’15”S e 51°02’54”W. Fonte: Autoria própria, 2008.
17
O morro em questão faz parte do Planalto Sul-rio-grandense e é um dos
muitos existentes nos municípios de Porto Alegre, Viamão, Guaíba, entre outros
municípios da região. Pelo lado sul, faz divisa com as águas do lago Guaíba e forma
a enseada de Itapuã, já nas proximidades do canal que o comunica com a Laguna
dos Patos. Sua altitude máxima é de 136 m. Geologicamente, é formado por granito
róseo com textura macrocristalina (KNOB, 1978; BACKES, 2000; BACKES, 2001).
Segundo Rambo (2000), a região que inclui o Morro do Coco, assim como a
maior parte do município de Viamão, faz parte da formação Serra do Sudeste,
abrangendo a parte montanhosa do estado, situada em continuação ao litoral, a
oeste das lagoas Mirim e dos Patos. As formações vegetais dessa região são
condicionadas por fatores climáticos e edáficos. O somatório dos fatores climáticos
permite o desenvolvimento de matas e as variações regionais são derivadas dos
distintos tipos de solos. Em função dessas variações edáficas, podem originar-se:
campo limpo, campo sujo, campo arbustivo, capões, matas, etc.
Malagarrida apud Backes (1999), utilizando indicadores biológicos,
determinou o “trópico fitogeográfico”, delimitando a região da flora tropical e
subtropical, onde, com exceção de uma pequena área junto ao litoral norte, todas as
regiões do Rio Grande do Sul são do tipo subtropical. Já Backes (1981) considerou
a formação do Morro do Coco como uma continuidade das formações tropicais,
destacando a vegetação arbórea e a sua riqueza florística com abundantes epífitas.
Segundo IBGE apud Backes (1999), a formação do Morro do Coco é
considerada uma área de “tensão ecológica”, isto é, constituída pela interpenetração
de floras de duas ou mais regiões fitogeográficas. Segundo este critério, a formação
em estudo resultaria do contato da Savana (campos) com a Floresta Subtropical e a
Floresta Tropical Úmida.
O clima da região, de acordo com Backes (2000), é do tipo Cfa, segundo a
classificação de Koeppen, isto é, clima subtropical com influência dominante da
configuração territorial (C), com inverno fresco (f) e verão quente, com temperatura
média do mês mais quente superior a 22ºC (a).
2.2 Procedimentos de Amostragem
As amostragens foram efetuadas ao longo de três noites consecutivas, no
período de junho a novembro de 2008. Para tanto, foram utilizadas 40 armadilhas do
18
tipo Tomahawk, de dois tamanhos (9x9x22cm e 14x14x30cm), distribuídas em
intervalos de 10 m, ao longo de uma transecção que se estendeu da base do morro
até o seu topo. A primeira saída a campo, realizada em junho de 2008, constituiu-se
em uma pilotagem, servindo para o reconhecimento e definição da área de
amostragem.
Como isca, foram utilizadas fatias de batata-doce ou milho cobertas com
pasta de amendoim (amendocrem).
As armadilhas foram expostas desde a manhã do primeiro dia até a manhã do
quarto dia, quando eram retiradas. Foram revisadas diariamente pela manhã para a
verificação de capturas, troca de iscas ou correção de eventuais problemas
ocorridos. Esse processo foi repetido ao longo de todos os dias de permanência em
campo.
Mediante a captura de algum animal, procedia-se com a determinação da
espécie, do sexo, observação de indicadores do estado reprodutivo (mamas
aparentes, vulva perfurada e testículos decíduos), obtenção da massa corporal e de
medidas biométricas (comprimento cabeça-corpo, da cauda, da orelha e do pé
posterior). Posteriormente, fixava-se um brinco metálico numerado no pavilhão
auditivo e liberava-se o espécime no ponto de captura.
2.3 Análise Quantitativa
Para a quantificação do esforço de captura, foram consideradas apenas as
armadilhas efetivamente expostas, conforme descrito em Cademartori et al. (2004).
Assim, o esforço total de captura foi calculado multiplicando-se o número de
armadilhas efetivamente expostas em cada expedição pelo número de noites e,
finalmente, pelo número de expedições.
O sucesso de captura consiste na razão entre o número de capturas e o
esforço total de captura, multiplicado por 100. Para o cálculo do sucesso de captura,
foram desconsideradas recapturas consecutivas do mesmo indivíduo na mesma
expedição, o que caracterizaria aprendizado, causando distorções nos resultados.
19
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período de estudo, foram capturados 20 exemplares de roedores, sendo
17 pertencentes à espécie Akodon montensis Thomas, 1913 e três, à espécie
Sooretamys angouya [= Oryzomys angouya (G. Fischer, 1814)], de acordo com a
Figura 2. Houve quatro recapturas, duas para cada espécie (Figuras 3 e 4),
totalizando 24 capturas. O esforço total de captura correspondeu a 402 armadilhas-
noite, desconsiderando-se a pilotagem. O sucesso de captura foi equivalente a
5,97%.
0
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5
6
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06 a 08 dejun/2008
25 a 28 dejul/2008
29 de ago a 01 deset/2008
26 a 29 deset/2008
31 de out a 03 denov/2008
Períodos
N
Akodon montensis Sooretamys angouya
Figura 2. Número de pequenos roedores capturados de junho a novembro de 2008 no Morro do Coco, Viamão, RS. Fonte: Autoria própria, 2008.
20
Pardini, Umetsu (2006) realizaram um estudo na Reserva Florestal Morro
Grande, onde as espécies mais abundantes foram Akodon montensis e Sooretamys
angouya. Essa reserva é caracterizada por mata secundária, elevada produtividade
e maior proporção de biomassa nas folhas do que em madeira (GUARIGUATA,
OSTERTAG apud PARDINI, UMETSU, 2006), provavelmente oferecendo maior
disponibilidade de frutos e artrópodes, enquanto a disponibilidade de frutos carnosos
no sub-bosque é maior em matas de estádios sucessionais iniciais (DE WALT apud
PARDINI, UMETSU, 2006). Essas informações assemelham-se aos resultados
obtidos neste trabalho, uma vez que a área de estudo se caracteriza pela
predominância de mata secundária pertencente ao Domínio Mata Atlântica.
Akodon montensis
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06 a 08 dejun/2008
25 a 28 dejul/2008
29 de ago a 01de set/2008
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31 de out a 03de nov/2008
Períodos
Nº
de C
aptu
ras
e R
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s
Capturas
Recapturas
Figura 3. Total de capturas e recapturas da espécie Akodon montensis obtidas de junho a novembro de 2008, no Morro do Coco, Viamão, RS. Fonte: Autoria própria, 2008.
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Sooretamys angouya
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06 a 08 dejun/2008
25 a 28 dejul/2008
29 de ago a 01de set/2008
26 a 29 deset/2008
31 de out a 03de nov/2008
Períodos
Nº
de C
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e R
ecap
tura
s
Capturas
Recapturas
Figura 4. Total de capturas e recapturas da espécie Sooretamys angouya obtidas de junho a novembro de 2008, no Morro do Coco, Viamão, RS. Fonte: Autoria própria, 2008.
As duas espécies registradas pertencem a ordem Rodentia, família
Cricetidae, subfamília Sigmodontinae.
Espécies pertencentes ao gênero Akodon possuem tamanho pequeno a
médio, comprimento da cauda pouco menor do que o do corpo. A coloração do
dorso varia do castanho-claro ao castanho-escuro, sem limite definido com a
coloração do ventre, que é amarelo-acinzentada ou branco-acinzentada, com as
bases dos pêlos acinzentadas. As orelhas são grandes, pouco pilosas. A superfície
superior das patas é clara. A cauda é pouco pilosa e com escamas epidérmicas
aparentes. Apresentam quatro pares de mamas: peitoral, pós-axial, abdominal e
inguinal. Possuem hábito terrestre, habitam formações florestais, áreas abertas
adjacentes e campos de altitude ao longo de toda a Mata Atlântica, Campos do Sul,
áreas florestais da Caatinga e formações vegetais abertas e fechadas do Cerrado
(BONVICINO et al., 2008).
No Brasil, existem 10 espécies registradas para o gênero, sendo que apenas
quatro têm ocorrência confirmada no Rio Grande do Sul: A. azarae, A. montensis, A.
22
paranaensis e A. reigi (BONVICINO et al., 2008). A espécie encontrada na área de
estudo foi A. montesis (Figura 5). Indivíduos desta espécie são noturnos, com
padrão bicrepuscular de atividade (GRAIPEL et al., 2003). Possuem hábito terrícola.
Sua dieta é insetívoro-onívora. O comprimento varia de 175 a 230 mm. A pelagem
dorsal apresenta uma coloração marrom-escura, mais clara nas laterais do corpo, e
a pelagem ventral, um tom ocre-claro; a base de todos os pêlos apresenta um tom
cinza-chumbo. A cauda, com comprimento menor do que a cabeça e corpo reunidos,
é pouco pilosa e fracamente bicolor, sendo dorsalmente mais escura (FONSECA et
al., 1996; CADEMARTORI et al., 2002; CADEMARTORI et al., 2003; SOUZA et al.,
2004).
Figura 5. Fêmea de Akodon montensis capturada em julho de 2008 no Morro do Coco, Viamão, RS. Fonte: Autoria própria, 2008.
Espécies pertencentes ao gênero Sooretamys possuem tamanho grande,
cauda maior do que o comprimento do corpo. A coloração do dorso é castanho-
escura, com os pêlos mais claros nas laterais e limite pouco definido com o ventre,
que é amarelado. A cauda é pouco pilosa. As patas são longas e estreitas,
geralmente com a superfície superior recoberta de pêlos amarelados e a parte
central mais escura. Apresentam quatro pares de mamas: peitoral, pós-axial,
abdominal e inguinal. Possuem hábito terrestre, habitam formações florestais da
Mata Atlântica (BONVICINO et al., 2008). Este gênero foi descrito recentemente
23
para abrigar a espécie antes referida como Oryzomys angouya (Weksler et al.,
2006).
No Brasil, há registro de apenas uma espécie, S. angouya (Figura 6), que se
distribui pela região costeira, do estado do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul; pelo
interior, no leste de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, ao oeste de Santa Catarina.
Possui pelagem dorsal que varia do castanho-escuro ao castanho-avermelhado ou
ao amarelo, com pêlos mais claros na lateral e limite bem ou pouco definido com o
ventre, cuja pelagem é abruptamente pálida, superficialmente esbranquiçada ou
amarelada, mas com pêlos sempre com aparência acinzentada. As patas são longas
e estreitas, geralmente com a superfície superior recoberta de pêlos claros, e a
cauda é pouco pilosa, unicolorida, toda preta e muito maior que o comprimento do
corpo e da cabeça juntos. Possui comprimento total variando de 355 a 424 mm
(CADEMARTORI et al., 2003; OLIVEIRA, BONVICINO, 2006; UMETSU, PARDINI,
2006; WEKSLER et al., 2006). Devido à presença de cauda longa, patas traseiras
bem desenvolvidas e sua capacidade de saltar, esta espécie foi associada ao hábito
escalador por Bueno (2003). Sua dieta é onívora, constituindo-se de frutos, brotos e
sementes (FONSECA et al., 1996; BONVICINO, 1997; OLIVEIRA, BONVICINO,
2006).
Figura 6. Macho de Sooretamys angouya capturado em agosto de 2008 no Morro do Coco, Viamão, RS. Fonte: Autoria própria, 2008.
24
As espécies registradas podem viver no mesmo habitat. Contudo, A.
montensis apresenta hábitos mais generalistas, enquanto S. angouya habita
somente formações da Mata Atlântica (BONVICINO et al., 2008).
Galiano et al. (2007), em trabalho desenvolvido no Horto Florestal Municipal
de Erechim, em um ambiente com Taquara-lixa, teve como segunda espécie mais
capturada Akodon montensis, demonstrando a plasticidade desta espécie. Outros
autores que corroboram esta informação são Briani et al. (2001), que observaram,
em um fragmento do Domínio Mata Atlântica cercado por plantações de cana-de-
açúcar, a presença de A. montensis e Oligoryzomys nigripes. As espécies não se
mostraram restritas à floresta, ocorrendo também em áreas abertas, sendo que A.
montensis também foi uma das duas espécies mais freqüentes no estudo.
Houve maior captura de fêmeas do que de machos, com 12 e oito
exemplares, respectivamente, excluindo-se quatro recapturas. Este resultado
assemelha-se aqueles obtidos por Graipel, Santos-Filho; Cárceres, Monteiro-Filho;
Quental et al. apud Graipel et al. (2006), nos quais, em fragmentos florestais
isolados, as fêmeas foram mais abundantes. No entanto, difere dos resultados
obtidos pelos mesmos autores em extensões florestais maiores, onde o maior
número de capturas de machos é atribuído, normalmente, aos maiores
deslocamentos que eles realizam, o que é considerado um padrão entre os
mamíferos.
Três dos espécimes de A. montensis, capturados nos meses de julho e
setembro, apresentaram mamas aparentes, indicando atividade reprodutiva.
Dos 20 indivíduos amostrados, quatro foram recapturados, um deles no
mesmo período de amostragem, dois um mês depois, na amostragem seguinte, e o
quarto dois meses após a sua captura. Este último registro refere-se a uma fêmea
da espécie S. angouya, enquanto os outros três referem-se a dois machos de A.
montensis e um macho de S. angouya. Os deslocamentos observados variaram
entre 40 m e 50 m, destacando-se que o macho de S. angouya deslocou-se apenas
10 m, bem menos que os machos de A. montensis (Tabela 1).
25
Tabela 1. Recapturas das espécies de roedores obtidas de julho a novembro
de 2008, no Morro do Coco, Viamão, RS.
Espécie Sexo Estação de captura Estação de Recaptura
Akodon montensis ♂ 28 33
♂ 8 4
Sooretamys angouya ♂ 3 4
♀ 24 20
Fonte: Autoria própria, 2008.
Em estudo realizado por Saraiva (2007), em um fragmento florestal próximo
ao Morro do Coco, na propriedade denominada Lar Nazaré, foram evidenciadas três
espécies de roedores, duas comuns a este estudo e uma terceira, Oligoryzomys
nigripes (Olfers, 1818), ainda não registrada, provavelmente devido ao pouco tempo
de amostragem.
Briani et al. (2001) observaram que todas as espécies capturadas em seu
estudo são comuns em áreas de Domínio Mata Atlântica no interior de São Paulo,
sendo que duas delas não são restritas à floresta, ocorrendo também em áreas
abertas, como A. montensis e O. nigripes. Akodon montensis foi também uma das
duas espécies mais freqüentes de roedores, tal como no Morro do Coco.
Outros trabalhos também apresentam resultados similares aos obtidos neste
estudo, tal como o de Cherem, Perez (1996), que realizaram um levantamento no
município de Três Barras, localizado no planalto norte do Estado de Santa Catarina,
abrangendo principalmente áreas de Florestas com Araucária e Mata Ciliar. Os
autores capturaram cinco espécies pertencentes à família Cricetidae, sendo A.
montensis a espécie com maior número de capturas. Kasper et al. (2007) também
observaram, em fragmentos da Floresta Estacional Decidual, localizada no Vale do
Taquari, porção Central do Rio Grande do Sul, na encosta da Serra Geral, a
presença de pelo menos 59 espécies de mamíferos, compreendidas em oito ordens
e 23 famílias. Registram seis espécies de roedores silvestres pertencentes à família
Cricetidae. Entre os roedores capturados, estão A. montensis, S. angouya e O.
nigripes, sendo estas as espécies mais abundantes do estudo. Este resultado
também coincide com os resultados obtidos no Morro do Coco.
Passamani et al. (2005), em estudo realizado em uma área de Mata Atlântica,
constituída principalmente por vegetação secundária, além de área de alagado e
26
vegetação exótica (plantio de eucalipto), recortada por um conjunto de lagoas com
vegetação ciliar, capturaram 20 espécies de pequenos mamíferos, sendo os
pequenos roedores representados por apenas três espécies, com somente uma
pertencente à família Cricetidae. A família mais representativa foi Didelphidae, com
oito espécies, resultado este que difere de estudos realizados em outras áreas de
Mata Atlântica, onde o número de espécies de roedores normalmente é maior que o
de marsupiais. Outra pesquisa que apresenta dados semelhantes é a de Souza et
al. (2004), que investigaram um remanescente de Mata Atlântica conservado e um
fragmento alterado, localizados na Paraíba, onde foram capturadas cinco espécies
de marsupiais e apenas uma espécie de pequeno roedor da família Cricetidae.
Conforme Passamani et al. (2005), tais resultados devem-se, em parte, ao fato dos
marsupiais serem mais oportunistas, podendo ocupar os diferentes habitats,
inclusive áreas com certa interferência antrópica.
27
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Mata Atlântica possui uma grande diversidade de mamíferos e, apesar da
progressiva destruição, permanece como um dos ecossistemas mais ricos em
espécies da mastofauna. Segundo a literatura, muitas espécies foram descobertas
nos últimos anos e ainda há muitas a serem descritas. Assim, levantamentos
faunísticos se tornam importantes para o conhecimento e conservação da
biodiversidade local e regional, pois servem como embasamento para futuras
pesquisas, planos de manejo, além de ampliar o conhecimento científico. A área de
estudo é representada por um remanescente do Domínio Mata Atlântica,
relativamente extenso e bem preservado, podendo sustentar populações viáveis de
pequenos mamíferos.
28
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