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CONTRIBUIÇÕES DE P+L NA GESTÃO DE
RESÍDUOS DAS ATIVIDADES DE PANIFICAÇÃO: ESTUDO DE CASO EM PANIFICADORAS DA
CIDADE DE CAMPINA GRANDE - PB
SHARITA SANTANA DA SILVA (UFCG ) [email protected]
Adriana Salete Dantas de Farias (UFCG ) [email protected]
Durante muito tempo os problemas ambientais eram restritos a alguns países, no entanto, com o aumento da produção e do consumo, a degradação ambiental passou a assolar todo o planeta. Além disso, o crescimento da população mundial, fez com que as empresas produzissem mais, afetando a disponibilidade e a qualidade dos recursos naturais. Diante deste contexto, algumas organizações começaram a adotar práticas gerenciais responsáveis, a fim de minimizar a geração de resíduos. Uma ferramenta que pode auxiliar no alcance dessas práticas é a Produção mais Limpa. Esta ferramenta foi adaptada pelo CNTL/SENAI-RS (2007) para aplicação em vários setores de atividades econômicas nacionais. Por isso, foi escolhida como base teórica para realização deste trabalho, cujo objetivo foi identificar as atividades de tratamento dos resíduos gerados em processos produtivos de panificação em Campina Grande à luz dos princípios de P+L. Essa pesquisa é de natureza descritiva, em função de que foram identificados os resíduos gerados em três panificadoras locais e as respectivas formas de tratamento. Os resultados evidenciaram que embora as panificadoras realizem atividades de tratamento dos principais resíduos gerados, como: o reuso e a reciclagem interna, porém a natureza dessas atividades é corretiva, visto que os resíduos continuam sendo gerados.
Palavras-chaves: P+L; Gestão Ambiental Empresarial; Atividades de Panificação.
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Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
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1. Introdução
A questão ambiental tornou-se um dos temas mais debatidos nos últimos anos.
Durante muito tempo acreditou-se que o planeta Terra teria capacidade ilimitada, podendo
receber e assimilar resíduos indefinidamente. Consequentemente, os recursos naturais se
tornaram escassos. Essa condição de escassez fez com que a sociedade passasse a exigir um
maior controle no uso dos recursos naturais e no descarte de resíduos urbanos e industriais,
favorecendo o estabelecimento de legislações próprias e submetendo quase todos os
segmentos industriais a regulamentação ambiental.
Neste contexto, algumas organizações tiveram que adotar práticas estratégicas de
destinação e tratamento de resíduos, a fim de minimizar os impactos gerados por seus
processos produtivos. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de
Resíduos (ABTRE, 2006). O Brasil tem gerado cerca de 3,3 milhões de toneladas de resíduos
industriais por ano e somente 10% desse total é tratado. A maior parte dos rejeitos é
depositada em lixões a céu aberto e/ou em lençóis freáticos.
Para auxiliar as organizações na adaptação das novas exigências legais e/ou para
desenvolver nos processos produtivos atividades com menor impacto ambiental, várias
ferramentas de gestão empresarial ambiental têm sido desenvolvidas. Uma dessas ferramentas
é a Produção mais Limpa ou P+L. Esta ferramenta atua de forma preventiva em relação aos
aspectos ambientais, analisando a origem dos resíduos com o objetivo de eliminá-lo na fonte,
ou, na impossibilidade, minimizar a geração de resíduos e seu descarte sem tratamento na
natureza.
Para Gasi e Ferreira (2006) a Produção mais Limpa reflete uma mentalidade de
produzir com mínimo impacto, dentro dos atuais limites tecnológicos e econômicos, não se
contrapondo ao crescimento e considerando que os resíduos são produtos com valor
econômicos negativo, que geram despesas e podem ser evitados.
No Brasil a Produção mais Limpa (P+L) tem sido empregada nos mais variados
setores e atividades econômicas, a exemplo do setor de alimentos, construção civil,
confecções, gráficas, matadouros, frigoríficos e panificadoras. Entre estes setores, pode-se
destacar o setor de panificação, que é um dos segmentos industriais que mais cresce no Brasil.
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Formado por micro e pequenas empresas que atendem em média 44 milhões de
clientes por dia (21,5% da população nacional), o setor de panificação nacional constituindo-
se num importante gerador de emprego e renda. Atualmente, em função desse setor, são
gerados cerca de 802 mil empregos diretos e 1,85 milhões de forma indireta (PROPAN,
2013).
Pela importância deste setor, é necessário que haja desenvolvimento de suas atividades
no sentido de torná-las menos impactantes ambientalmente e, assim, possa gerar benefícios
sociais e econômicos. A P+L pode contribuir para a melhoria do desempenho ambiental das
atividades de panificação, promovendo a eficiência no uso de matérias-primas e a
minimização de resíduos industriais. Com bases nessas argumentações, o problema proposto
para investigação nessa pesquisa é apresentado da seguinte forma: Como são realizadas as
etapas produtivas de empresas de panificação na cidade de Campina Grande-PB e como
são tratados os resíduos gerados? Para responder a essa questão, é objetivo desse trabalho
identificar o tratamento dos resíduos gerados em processos produtivos de empresas de
panificação de Campina Grande – PB, à luz dos princípios da P+L.
A utilização da P+L como ferramenta de gestão ambiental, pode permitir, com base na
observação de seus princípios, uma avaliação das diferentes etapas produtivas do setor, a fim
de verificar em que medida os princípios da P+L já estão presentes nas empresas e quais ainda
necessitam ser incorporados.
2. Modelos de Produção mais Limpa (P+L)
2.1 Modelo de Gasi e Ferreira (2006)
Para Gasi e Ferreira (2006), o processo de implantação de P+L tem início com o
reconhecimento da necessidade de sua aplicação, que é proveniente do cumprimento da
legislação ambiental específica, do atendimento as exigências dos clientes, da pressão
exercida pelos concorrentes, do alinhamento as políticas ambientais e do atendimento à
demanda da comunidade. As ações de P+L obedecem a uma hierarquia de prioridades
balizadas pelos pressupostos dessa ferramenta.
O primeiro nível visa à eliminação dos resíduos, através do ecodesign, reformulação
de produtos, substituição de matérias-primas e inovação tecnológica. Se a eliminação total
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não for possível, um segundo nível é desenvolvido a fim de minimizar a geração de
resíduos descartados pelo processo produtivo, através da reintegração ou reutilização na
fonte. Na impossibilidade de reintegração, um terceiro nível objetiva desenvolver processos
de reciclagem dentro do processo produtivo, através da revalorização e retorno de resíduos
na forma de material reciclado.
O quarto nível consiste no desenvolvimento de reciclagem fora do processo
produtivo, trata-se de um canal reverso de reciclagem que tem como suprimento de seu
sistema produtivo, os resíduos gerados nos outros processos que são revalorizados e voltam
para os ciclos produtivos de outras empresas como matéria-prima secundária. Por fim, quando
não há mais nenhuma possibilidade de revalorização o modelo de P+L prever o tratamento e
disposição dos resíduos de forma ambientalmente segura na natureza.
2.2 Modelo do CNTL/SENAI-RS (2007)
O modelo do CNTL/SENAI-RS (2007) propõe que a priorização das oportunidades
esteja fundamentada na prevenção da geração dos resíduos, onde as possíveis modificações
ocorrem nos níveis de aplicações de P+L. O primeiro nível sugere observações de caráter
preventivo, como forma de reduzir os resíduos na fonte. Esta ação é alcançada através da
modificação do produto, que pode incluir substituição completa do produto; uso de materiais
recicláveis; redução do número de componentes; melhor aproveitamento da matéria-prima,
entre outros.
Uma alternativa para alcançar a minimização dos resíduos na fonte é a modificação
no processo produtivo, através de:
Boas práticas de P+L: consistem em limpezas periódicas, uso cuidadoso de matérias-
primas, alterações no layout físico, treinamento e capacitação de funcionários.
Substituição de matérias-primas: reduz perdas por manuseio operacional, através da
substituição de materiais tóxicos por atóxicos e não renováveis por renováveis.
Modificação tecnológica: ocorre pela utilização de equipamentos mais eficientes e
substituição completa da tecnologia, permitindo o rastreamento de perdas e a diminuição do
risco de acidentes de trabalho.
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A redução de resíduos e emissões também pode ser alcançada através de ações de
reciclagem interna, nível 2. Onde se considera que os resíduos não podem ser evitados,
busca-se reintegrá-los ao processo produtivo, através da utilização de sobras de matérias-
primas. Quando essa prática não elimina totalmente os resíduos, procede-se então para a
reciclagem externa ou reintegração do ciclo biogênico através da segregação de resíduos na
fonte. Após a aplicação dessas etapas, o programa de P+L pode ser considerado como
implementado.
Diante deste contexto pode-se observar que o modelo proposto por Gasi e Ferreira
(2006) visa à conceituação de P+L e a identificação de uma hierarquia de prioridades.
Enquanto que o modelo do CNTL/SENAI-RS (2007) parte do conceito para a prática
adaptando os princípios de P+L para setores específicos. Dessa forma, os modelos
examinados se mostram complementares podendo contribuir significativamente para a
solução dos problemas ambientais no âmbito empresarial, uma vez que a prioridade está na
identificação de opções de não geração de resíduos e prevenção da poluição na fonte.
3. Metodologia da Pesquisa
A presente pesquisa é descritiva, pois buscou identificar e descrever as etapas do
processo produtivo de empresas do setor de panificação, à luz de P+L. Segundo Hair Jr et al
(2005) esse tipo de pesquisa pode ser muito útil quando se busca investigar práticas
inovadoras de produção e gestão, e quando se aplica a temas de estudos relativamente novos,
como é o caso dos estudos de P+L. Em relação aos procedimentos técnicos, adotou-se o
estudo de caso, que consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos,
permitindo o amplo e detalhado conhecimento destes (GIL, 2002).
O presente trabalho analisará o processo produtivo de três empresas: uma panificadora
pública que utiliza o forno elétrico na sua produção, e duas de iniciativa privada (uma que
utiliza o forno elétrico e outra que utiliza o forno à lenha). Os nomes utilizados para
identificar as empresas estudadas nessa pesquisa são fictícios, a fim de preservar a identidade
das organizações.
A primeira etapa da pesquisa consistiu na revisão da literatura em torno dos conceitos
e metodologia de aplicação da P+L, tendo como base o modelo de Produção mais Limpa em
panificadoras e confeitarias, desenvolvido pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas -
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CNTL, que permitiu a estruturação de um roteiro para coleta e análise dos dados primários da
pesquisa. O tratamento dos dados ocorreu de modo qualitativo, através da análise comparativa
entre os conceitos contidos no modelo do CNTL/SENAI-RS (2007) e a prática da empresa.
4. Apresentação e análise dos resultados
4.1 A Panificadora Superpão
A primeira empresa é Panificadora Superpão, localizada na cidade de Campina
Grande, Paraíba. Essa empresa faz parte de um Projeto da Prefeitura Municipal de Campina
Grande que busca beneficiar famílias carentes e Instituições vinculadas a Prefeitura.
Inicialmente o Projeto se limitava a distribuição do leite de soja, mas com o passar dos anos
foi incorporado à fabricação do pão francês. Hoje são produzidos diariamente cerca 4.000
pães e 350 litros de leite, que são doados de segunda a quinta-feira no próprio
estabelecimento.
Todos os materiais são acondicionados em cima de paletes de madeira na área de
estoque. O critério de utilização dos materiais é o FIFO (First-In-First-Out ou primeiro que
entra é o primeiro que sai). Desta forma, a matéria-prima é consumida conforme o prazo de
validade, os mais antigos são colocados em cima, facilitando a reposição no processo
produtivo e a organização do ambiente de trabalho.
O processo de fabricação do pão francês inicia-se com a pesagem dos ingredientes:
farinha de trigo, fermento, sal, açúcar e reforçador. Em seguida esses componentes são
misturados na mexedeira com o acréscimo da água, batendo por alguns minutos até atingir o
aspecto ideal. Depois, a massa é cortada, pesada, dividida e prensada. Nesse instante o pão é
fracionado em unidades de 50 gramas com tamanhos e volumes iguais para posterior
modelagem. Depois de modelados os pedaços de massa crua são colocados em assadeiras e
postos para fermentar em câmaras de crescimento por aproximadamente uma hora. Neste
momento são feitos pequenos cortes em cima da massa a fim de estabelecer o formato padrão.
Devido à perecibilidade do pão, ele não poderá ser armazenado por muito tempo.
Tendo em vista esta situação, a Panificadora Superpão só possui um ciclo de produção,
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assando os pães uma hora antes da entrega, proporcionado assim a satisfação dos
consumidores e reduzindo a armazenagem dos produtos acabados. No entanto, quando o
número de beneficiários é menor do que a quantidade produzida, os pães são doados aos
funcionários e a Instituições vinculadas a prefeitura.
No que diz respeito à distribuição do pão, tanto as famílias cadastradas no Programa,
quanto as Unidades atendidas, se dirigem a empresa para pegar a sua quantidade diária de
pães (5 pães por família) eximindo a Superpão de qualquer responsabilidade de transporte.
4.1.1 Principais resíduos gerados na Panificadora Superpão
A pesagem de ingredientes é de fundamental importância na qualidade do pão. No
entanto, ainda existe a geração de alguns resíduos durante esta etapa do processo produtivo. A
seguir serão apresentados os tipos de resíduos e sua destinação:
Sacos de ráfia: Semanalmente são gastos cerca de 16 sacos de farinha, que são doados
uma vez no mês para armazenagem de ração animal, sendo de total responsabilidade dos
beneficiários o transporte do material doado.
Embalagens plásticas: Por semana são gastos cerca de 4 sacos de açúcar e 5 de
reforçador, que são jogados diretamente no lixo.
Embalagens de papelão: Servem para acomodar os pacotes de reforçador. Depois de
usadas, são reaproveitadas para depositar o lixo da Empresa.
Para a Superpão todos os resíduos gerados na pesagem dos ingredientes são
considerados poucos, correspondendo a 10% da quantidade do material utilizado na produção.
Durante o corte da massa, é verificada a presença de:
Garrafas plásticas: Semanalmente são gastos cerca de 3 garrafas de óleo na produção
do pão, correspondendo a 10% do material utilizado, que são destinados a Coleta Urbana.
Terminado o processo produtivo do pão, ainda existe:
Farelo de pão: Quando os pães são dispostos nas caixas de armazenagem, caem farelos
que correspondem a 10% da produção. Este resíduo é destinado à doação.
Após ter sido verificado os tipos de resíduos e sua destinação, foi verificada que a
Superpão realiza ações de reuso externo (nível 3), quando a empresa faz a doação dos sacos
de ráfia e do farelo de pão para a criação de animais. Embora a quantidade de resíduos, seja
considerada pouca (10% da quantidade de material utilizado na produção) ainda existe a
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oportunidade de melhorias, tendo em vista que a maior parte dos rejeitos é jogada no lixo e
não se sabe qual o seu destino.
4.2 A Panificadora Megapão
A Panificadora Megapão (nome fictício), instalada na cidade de Campina Grande,
Paraíba. Quando foi fundada em 1998, a empresa não possuía produção própria, todos os
produtos eram comprados e revendidos na instituição, até que em 2002 a produção passou a
ser interna. Atualmente a Megapão produz cerca de 4.000 pães e 200 itens diversificados, que
são produzidos de segunda a sábado das 05h às 18h.
A entrega de materiais na Panificadora Megapão é feita pelos fornecedores, através de
carros e caminhões. Estes itens são armazenados e organizados no estoque, segundo o prazo
de validade, que varia de 75 dias a um ano. Sendo de total responsabilidade dos padeiros a
verificação dos produtos em falta e a vencer.
Para uma produção de 1.300 pães, é preciso: 50 kg de farinha de trigo; 1,1 kg de sal;
1,5 kg de fermento biológico; 0,5 kg de reforçador e 28 litros de água. Esses ingredientes são
misturados na mexedeira por aproximadamente 15 minutos, em seguida a massa é cilindrada
até ficar lisa. Quando atingir o aspecto ideal, será cortada e dividida em unidades de 2,2 kg,
que serão fracionadas na máquina de prensar, assumindo a quantidade de 30 pães com o peso
médio de 50g. Neste momento os pedaços de massa, passam pela modeladora, sendo
polvilhados com fubá. Depois de modelados, os pães são dispostos em assadeiras e
encaminhados para descansar em armários climatizados por um período de 1 hora.
Os produtos acabados são expostos em balcões e prateleiras. Porém permanecem por
pouco tempo, uma vez que, a procura por alimentos frescos, tem aumentado gradativamente.
Porém quando a quantidade de pães produzidos é superior a procura, as sobras são doadas
para os funcionários. Neste caso, podemos verificar que todos os itens fabricados, são
vendidos na própria empresa, desta forma o cliente é responsável pelo transporte dos
produtos.
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4.2.1 Principais resíduos do processo produtivo na Panificadora Megapão
De acordo com o levantamento realizado na panificadora Megapão, os resíduos estão
presentes em praticamente todas as etapas do processo de produção do pão francês. Na parte
de pesagem é possível identificar os seguintes resíduos:
Sacos de ráfia: São gastos semanalmente 24 sacos de farinha, que são guardados e
vendidos de forma trimestral para uma distribuidora de alimentos.
Embalagens plásticas: Envolvem o açúcar, o sal e o reforçador, sendo destinados a
Coleta urbana.
Embalagens de papelão: Servem para acomodar os pacotes de reforçador. Depois de
usadas, são reaproveitadas para depositar o lixo da Empresa.
Para a Megapão todos os resíduos gerados na pesagem dos ingredientes são
considerados de médio porte, com um percentual entre 10% e 20% da quantidade do material
utilizado na produção.
Durante a cilindragem o desperdício se torna mais evidente:
Resíduo de massa cilindrada: Diariamente são gerados cerca de 1,8 kg de resíduo de
massa cilindrada. Esse valor é considerado alto, representando um percentual acima de 20%
dos resíduos, que são guardados e doados uma vez por semana.
Resíduo de farinha de trigo: O resíduo de massa que fica depositado em máquinas e
equipamentos corresponde a 10% da produção, que são guardados e doados.
Durante o corte da massa, é verificada a presença de:
Garrafas plásticas: Semanalmente são gastos cerca de 8 garrafas de óleo, que são
destinadas a Coleta Urbana.
Durante a modelagem, observa-se a presença de:
Resíduo de fubá: Ao final de cada dia, todo o resíduo de fubá que
recolhido e reservado para doação. Sua representatividade é de 10% da produção.
Encerradas as atividades produtivas, ainda existe:
Farelo de pão: Caem durante a saída dos pães para as caixas de armazenamento.
Correspondendo a 10% do material utilizado, sendo reservado para doação.
Dados os resíduos listados anteriormente, é possível verificar apenas ações de reuso
externo (nível 3), quando a empresa vende os sacos de farinha de trigo para uma distribuidora
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de alimentos e quando doa seus dos resíduos de massa, farinha e fubá para a criação de
animais.
4.3 A Panificadora Sotrigos
A terceira pesquisa foi realizada na sede da Sotrigos (nome fictício), na cidade de
Campina Grande, Paraíba. A empresa atua no mercado desde 1950, produzindo diariamente
cerca de 6.500 pães e diversos tipos de alimentos.
A ordem da produção de pães é feita com base na demanda do dia anterior. O padeiro
inicia o processo produtivo com a pesagem dos ingredientes (farinha de trigo, açúcar, sal e
reforçador) que são misturados na mexedeira com o acréscimo de água. Em seguida a massa é
passada diversas vezes pelo cilindro, até atingir um aspecto consistente. Depois de cilindrada,
é cortada e pesada em unidades de 2,2 kg, que serão prensadas e fracionadas por uma divisora
em unidades de 50 g. Com o tamanho definido, a massa é modelada e colocada em assadeiras
que serão encaminhadas para câmaras de fermentação. Nessas câmaras, o pão obtém o
tamanho ideal para ser assado.
Nem todos os produtos fabricados pela panificadora, são vendidos no mesmo dia em
que são feitos. Itens como: pão de forma, biscoito e bolachas são fabricados em grandes
quantidades e colocados em prateleiras a disposição do cliente. Caso algum deles esteja perto
de se vencer, são doados para funcionários e instituições de caridade. Quanto à sobra de pão,
ela é reutilizada para a fabricação de farinha de rosca e torrada.
4.3.1 Principais resíduos do processo produtivo da Sotrigos
Na etapa de pesagem de ingredientes encontramos os seguintes resíduos:
Sacos de farinha de trigo: São gastos semanalmente 30 sacos de farinha de trigo. Estes
resíduos são guardados e vendidos uma vez no mês para uma distribuidora de alimentos.
Resíduos de embalagens plásticas: São decorrentes do fermento e reforçador, essas
embalagens, são destinadas a Coleta Urbana.
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Para a Panificadora Sotrigos todos os resíduos gerados na pesagem dos ingredientes
são considerados poucos, correspondendo a 10% da quantidade do material utilizado na
produção.
Na etapa de mistura, verificamos a presença de:
Resíduo de massa misturada: Normalmente os resíduos de massa, correspondem a
10% da produção. Estes resíduos são reintegrados na produção para a fabricação de torradas e
farinha de rosca.
Na cilindragem encontramos:
Resíduo de farinha na cilindragem: O resíduo de massa que fica depositado em
máquinas e equipamentos corresponde a 10% da produção. Estes resíduos são reutilizados
para fazer torradas.
No cozimento, é usada a lenha para assar os pães. Ela gera os seguintes resíduos:
Fumaça: é emitida através do forno a lenha.
Resíduo de madeira: Quanto ao volume de resíduos verificou-se um percentual acima
de 20% da quantidade de material utilizado para assar os pães, o que constitui uma grande
quantidade de resíduos, que são destinados a coleta Urbana.
Tomando como base os níveis de aplicação da Produção mais Limpa, proposto pelo
CNTL, pode-se verificar que a Sotrigos contempla ações de nível 2 e 3: Reciclagem interna
(nível 2) - todo o resto de massa e de farinha de trigo, são reutilizados para fazer torradas e
farinha de rosca; Reciclagem externa (nível 3) - ocorre durante a venda de sacos de ráfia para
outras empresas.
4.4 Análise comparativados resultados das panificadoras Superpão, Megapão e
Sotrigos
A Empresa Superpão utiliza o forno elétrico no seu processo produtivo. Seus resíduos
são considerados poucos, correspondendo a 10% da quantidade de material utilizado. Estes
resíduos são destinados a doação e a coleta urbana, contemplando desta forma, apenas o nível
3 de aplicação de P+L.
A Panificadora Megapão também utiliza o forno elétrico na sua produção. Porém nesta
empresa os resíduos são considerados mais evidentes, estando presente em todas as etapas do
processo produtivo, chegando a 10% nas etapas de pesagem, corte, modelagem e resfriamento
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e acima de 20% na cilindragem. Estes resíduos são destinados a venda, doação e coleta
urbana, contemplando assim, apenas o nível 3 da Produção mais Limpa.
A Panificadora Sotrigos ainda utiliza o forno à lenha na sua produção. Esse forno é o
grande gerador de resíduos da organização, chegando a gerar um percentual acima de 20% de
resíduos durante o cozimento. No entanto não foi verificada uma grande incidência de
resíduos nas demais etapas do processo produtivo, visto que toda a sobra de massa e farinha
de trigo é destinada a fabricação de torradas e farinha de rosca. Bem como os sacos de farinha
são vendidos para uma Distribuidora de alimentos. Desta forma a empresa consegue
contemplar os níveis 2 e 3 de aplicação de P+L.
Diante do exposto, pode-se afirmar que cada uma das empresas estudadas consegue
perceber ainda que limitadamente a importância de produzirem de forma mais limpa. A
tendência, diante dos novos hábitos de consumo, do apelo pela sustentabilidade e das
exigências das legislações vigentes, é que o processo de panificação venha a contemplar todos
os níveis de aplicação da Produção mais Limpa. Este é um grande desafio que só pode ser
experimentado através do esforço das panificadoras em aplicarem esta ferramenta em seus
processos produtivos.
5. Considerações Finais
Em relação aos resíduos gerados em cada etapa do processo produtivo, verificou-se
que as empresas Superpão e Megapão, geram menos resíduos durante a produção do pão. No
entanto se limitam a ação de nível 3, através da doação dos resíduos de massa e da venda dos
sacos de farinha. A panificadora Sotrigos, por sua vez, tem um processo produtivo mais
impactante por conta da lenha, porém, em termos de aplicação dos princípios de P+L é a
empresa que tem o maior número ações, aplicando o nível 2 e 3 em sua produção, através da
reintegração dos resíduos de massa para confeccionar outros produtos.
No processo de cilindragem, recomenda-se a padronização no processo produtivo de
todas as panificadoras, através da reutilização dos resíduos de massa. Neste sentido sugere-se
que a panificadora Megapão utilize uma bandeja de maior diâmetro abaixo do cilindro,
fazendo com que 1,8 kg de farinha de trigo, retornem a produção. Com a reutilização deste
resíduo a empresa conseguirá atingir as ações de nível 2, aumentando assim o seu ganho.
Quanto à panificadora Sotrigos, sugere-se a substituição do forno à lenha pelo elétrico, desta
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forma a empresa ganhará o respeito das pessoas que moram nas proximidades do
estabelecimento e preservará o meio ambiente.
REFERÊNCIAS
ABETRE – Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de resíduos. Disponível em:
<http://www.abetre.com.br>. Acesso em: Agosto, 2013.
BARTHOLOMEU, D.B.; CAIXETA-FILHO, J.V. Logística ambiental de resíduos sólidos. São Paulo:
Editora: Atlas, 2011.
CNTL/SENAI- RS. Produção mais Limpa em padarias e confeitarias. Departamento Regional do Rio Grande
do Sul. Porto Alegre: Centro Nacional de tecnologias Limpas - SENAI, 2007.
GASI, T. M. T.; FERREIRA, E. Produção Mais Limpa. In: VILELA JR., A.; DEMAJOROVIC, J. Modelos e
ferramentas de gestão ambiental: desafios e perspectivas para as organizações. São Paulo: SENAC, 2006.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2002.
PROPAN - Programa de Desenvolvimento da Alimentação, Confeitaria e Panificação. Disponível em:
<http://www.propan.com.br>. Acessado em Jul. 2013.
HAIR JR, J. F; BABIN, B; MONEY, A. H; SAMOUEL, P. Fundamentos de Métodos de Pesquisa em
Administração. Porto Alegre: Bookman, 2005.