contributo dia mundial da paz 2014 reflexão conjunta

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Quinta do Cabeço, Porta D ● 1885-076 Moscavide ● Tel: 218 855 480 ● Fax: 218 855 475 E-mail: [email protected] Site: www.ecclesia.pt/cnjp Comissão Nacional Justiça e Paz FRATERNIDADE, FUNDAMENTO E CAMINHO PARA A PAZ Reflexão conjunta da Comissão Nacional Justiça e Paz e Comissões Diocesanas A Comissão Nacional as Comissões Diocesanas Justiça e Paz subscritoras, na sequência da intenção manifestada no encontro de Fátima e interpeladas pela riqueza da Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2014, entendem tecer algumas reflexões: 1. Em Portugal, como de resto em muitos locais do mundo, o sofrimento dos outros, que são nossos irmãos, entra-nos pela porta dentro e endurece os nossos corações tornando-nos indiferentes. Esta «globalização da indiferença» tem que ser combatida, no interior das nossas comunidades cristãs e não só. Nem o sofrimento nem a dor são virtuais. Jesus Cristo deu-nos um Mandamento Novo: «Que vos ameis uns aos outros como Eu vos Amei». Quem ama não tolera o sofrimento alheio, qualquer que seja a sua origem É urgente, portanto, um regresso à mensagem evangélica e à defesa da dignidade humana por todos os cristãos. 2. Na Europa e em Portugal não existem situações de guerra, mas há conflitos armados sangrentos noutras partes do mundo que não podem ser esquecidos. Alguns destes conflitos prolongam-se há já vários anos, mas outros regressam ou irrompem inesperadamente. É preciso não nos habituarmos às situações de guerra e pressionar os poderes políticos com vista à sua resolução. Por outro lado, é dever dos países que não têm conflitos armados conceder refúgio aos que fogem de condições extremamente penosas, quando não com risco da própria vida. A Europa e Portugal estão muito longe de acolherem com generosidade os refugiados de guerra. Há a convicção que o número de refugiados tem vindo a aumentar. É necessário lutar para que seja garantido que os refugiados não sejam considerados descartáveis e que sejam apoiadas activamente as Organizações que trabalham em sua defesa. 3. As dificuldades económicas têm gerado fenómenos preocupantes de migração populacional em situação irregular e às quais, por vezes, aparecem associados, os fenómenos de tráfico de seres humanos. Em Portugal estão monitorizados alguns destes casos. O Papa tem-se referido a elas, nesta Mensagem e noutras intervenções. Mesmo que o país viva uma situação económica e financeira difícil, estes nossos irmãos não podem ser esquecidos. Para acorrer às situações que diariamente são relatadas pelos media serão insuficientes actuações a nível nacional e impõe-se a adopção de uma verdadeira estratégia europeia de coordenação do acolhimento e de partilha dos custos envolvidos Face à gravidade dos problemas, há que encontrar soluções justas e equilibradas, reflectindo e promovendo a discussão destes temas e estando atento às situações locais degradantes que precisam de ser denunciadas.

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Page 1: Contributo dia mundial da paz 2014   reflexão conjunta

Quinta do Cabeço, Porta D ● 1885-076 Moscavide ● Tel: 218 855 480 ● Fax: 218 855 475

E-mail: [email protected] ● Site: www.ecclesia.pt/cnjp

Comissão Nacional Justiça e Paz

FRATERNIDADE, FUNDAMENTO E CAMINHO PARA A PAZ

Reflexão conjunta da Comissão Nacional Justiça e Paz e Comissões Diocesanas

A Comissão Nacional as Comissões Diocesanas Justiça e Paz subscritoras, na sequência da

intenção manifestada no encontro de Fátima e interpeladas pela riqueza da Mensagem do Papa

Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2014, entendem tecer algumas reflexões:

1. Em Portugal, como de resto em muitos locais do mundo, o sofrimento dos outros, que são nossos

irmãos, entra-nos pela porta dentro e endurece os nossos corações tornando-nos indiferentes. Esta

«globalização da indiferença» tem que ser combatida, no interior das nossas comunidades cristãs e

não só. Nem o sofrimento nem a dor são virtuais. Jesus Cristo deu-nos um Mandamento Novo: «Que

vos ameis uns aos outros como Eu vos Amei». Quem ama não tolera o sofrimento alheio, qualquer

que seja a sua origem É urgente, portanto, um regresso à mensagem evangélica e à defesa da

dignidade humana por todos os cristãos.

2. Na Europa e em Portugal não existem situações de guerra, mas há conflitos armados sangrentos

noutras partes do mundo que não podem ser esquecidos. Alguns destes conflitos prolongam-se há já

vários anos, mas outros regressam ou irrompem inesperadamente. É preciso não nos habituarmos às

situações de guerra e pressionar os poderes políticos com vista à sua resolução. Por outro lado, é

dever dos países que não têm conflitos armados conceder refúgio aos que fogem de condições

extremamente penosas, quando não com risco da própria vida. A Europa e Portugal estão muito

longe de acolherem com generosidade os refugiados de guerra. Há a convicção que o número de

refugiados tem vindo a aumentar. É necessário lutar para que seja garantido que os refugiados não

sejam considerados descartáveis e que sejam apoiadas activamente as Organizações que trabalham

em sua defesa.

3. As dificuldades económicas têm gerado fenómenos preocupantes de migração populacional em

situação irregular e às quais, por vezes, aparecem associados, os fenómenos de tráfico de seres

humanos. Em Portugal estão monitorizados alguns destes casos. O Papa tem-se referido a elas, nesta

Mensagem e noutras intervenções. Mesmo que o país viva uma situação económica e financeira

difícil, estes nossos irmãos não podem ser esquecidos. Para acorrer às situações que diariamente são

relatadas pelos media serão insuficientes actuações a nível nacional e impõe-se a adopção de uma

verdadeira estratégia europeia de coordenação do acolhimento e de partilha dos custos envolvidos

Face à gravidade dos problemas, há que encontrar soluções justas e equilibradas, reflectindo e

promovendo a discussão destes temas e estando atento às situações locais degradantes que precisam

de ser denunciadas.

Page 2: Contributo dia mundial da paz 2014   reflexão conjunta

Quinta do Cabeço, Porta D ● 1885-076 Moscavide ● Tel: 218 855 480 ● Fax: 218 855 475

E-mail: [email protected] ● Site: www.ecclesia.pt/cnjp

4. A pobreza e a excessiva desigualdade dos rendimentos põem a paz em perigo. É também

relativamente a estas situações que o Papa faz apelo à “vocação à fraternidade e a possibilidade da

sua traição”. Daí que seja tão importante relembrar o lugar ocupado pelo princípio do destino

universal dos bens no desenvolvimento das acções a empreender para lutar contra situações de

injustiça. A pobreza e as desigualdades de rendimentos estão a aumentar a nível europeu e em

Portugal, o que se traduz numa negação da fraternidade. «A fraternidade gera paz social porque cria

um equilíbrio entre liberdade e justiça, entre responsabilidade pessoal e solidariedade, entre bem

dos indivíduos e bem comum», refere a Mensagem do Papa Francisco. É nossa obrigação estar

presente junto dos mais desfavorecidos e lutar para que as suas necessidades imediatas sejam

satisfeitas e não esquecer as causas geradoras das desigualdades, as quais tem que ser removidas a

prazo.

5. “As sucessivas crises económicas devem levar a repensar adequadamente os modelos de

desenvolvimento económico e a mudar os estilos de vida”. Esta convicção expressa na Mensagem, dá

continuidade à doutrina já referida nas encíclicas Populorum Progressio e Solicitudo Rei Socialis,

designadamente no que se deve entender por desenvolvimento integral e por solidariedade.

Há que revisitar estas encíclicas, pese embora algumas actualizações que entretanto deverão ter

lugar. A reflexão ai decorrente permitirá encontrar caminhos para a construção de uma sociedade à

medida da dignidade humana e recusar modelos económicos e sociais onde poucos se alimentam em

mesas fartas e a grande maioria se contenta com as migalhas que caem da mesa. Como é referido:

«Isto implica não deixar-se guiar pela avidez do lucro e pela sede de poder» De facto, não se pode

pactuar com políticas que visam quase exclusivamente resolução de problemas financeiros e

cumprimento de metas estabelecidas por entidades externas e não dar prioridade a politicas que

visem o desenvolvimento integral das pessoas e dos povos.

6. A sustentabilidade ambiental também está relacionada com a fraternidade, uma vez que se

reconhece que «a fraternidade ajuda a cultivar a natureza». Um ambiente saudável e equilibrado

ajuda os seres humanos a serem mais irmãos. Dominar a terra, conforme se refere no Livro do

Génesis, não quer dizer destruir a terra. Todos temos a obrigação de impedir que poderes públicos ou

económicos, comentam atentados à «Mãe Natureza» ameaçando o presente e tornando o futuro

inviável. Esta é uma área que não pode ser considerada pelos cristãos como pouco importante.

Em conclusão destas constatações e reflexões, a Comissão Nacional e as Comissões Justiça e Paz

Diocesanas assumem o compromisso continuar a aprofundar o conteúdo da Mensagem do Papa Francisco

para o Dia Mundial da Paz e de tudo fazer para que a sociedade portuguesa se torne mais fraterna, e

assim, mais justa e pacífica.