copa sem escola_12-5-14.2
DESCRIPTION
Série de reportagens "Copa sem escola", produzida pelo jornalista Bruno Moreno e o fotojornalista Samuel Costa. Segunda da série.TRANSCRIPT
Emcontraposição às di-ficuldades que enfren-tou com a remoção emfunção da duplicaçãoda avenida Pedro I, naregião de Venda Nova,emBeloHorizonte, a fa-mília da salgadeiraAlédia Aparecida OttoPereira,de37anos, con-tou com a sorte e a soli-dariedade de pessoasquenemconhecia. Prin-cipalmente para conse-guir vaga na escola pa-ra os quatro filhos.A família foi desapro-
priada em setembro doano passado e, como ti-nha pouco tempo parasair, escolheu uma casa
em um bairro de SantaLuzia, na Grande BH. Aintenção era ficar o maisperto possível dos paren-tes, já que alguns perma-neceram próximo à anti-ga residência.Na mudança, Alédia e
família perceberam queo local era muito perigo-so. Três dias depois, ochefe do marido dela oviudesesperadono traba-lho e ajudou a conseguiruma casa para alugar nomunicípio de Confins.Assim, em menos de
uma semana eles fize-ramduasmudanças. De-pois de arrumar o tetoparamorar, faltava a es-
cola das crianças. Assim,com ajuda atémesmo doprefeito da cidade, con-seguiram vaga para to-dos os filhos. “Não tive
ajuda lá em Belo Hori-zonte, mas aqui me rece-beram mui to bem emeus filhos não ficaramfora da escola. Foi sorte,
solidariedade e Deus”,aponta a salgadeira.
FAMÍLIAComo a casa em SantaLuzia está para venderoualugar, eles não conse-guiram ainda utilizar osrecursos da indenizaçãopara comprar outro imó-vel, e estão arcando como aluguel, o que nuncahavia feito parte dos gas-tos da família.Apesar disso, estão to-
dos satisfeitos. “Aqui eles(os filhos) têmmuita ami-zade.As pessoas nos rece-beram muito bem, temosumavista linda.Masapar-te ruimé que ficamos lon-ge da nossa família. Ago-ra está cada um em umlugar”, lamenta Alédia. l
Morar relativamenteperto do Centro de BeloHorizonte, em frente àUniversidade Federald e M i n a s G e r a i s(UFMG),naavenidaAn-tônio Carlos, na Pampu-lha, era um sonho paraaestudanteRejianeSan-tos Rodrigues, de 18anos. Filha de um casalde ex-moradores derua, que ocuparam aárea há pouco mais deuma década, ela viu suafamília ser desapropria-daparaumaobradaCo-pa doMundo, em 2011.A casa que foi possível
ser comprada com o di-nheiro da indeniza-ção,nobairroAl-to Boa Vista,v iz inho aoCitrolândia,em Betim,na GrandeBH, f ica aaproximada-mente40quilô-metros de onde afamília morava.O casal, quando deci-
diu sair das ruas e mon-tar uma família, pensouem dar tudo o que fossepossível para a filha queviria. E foi com isso emmente que, assimque semudaram para Betim,os pais procuraramumaescola para que Rejianepudesse continuar os es-tudos. Entretanto, de-morou para conseguirescola.“No começo foi difícil.
Fiquei dois meses paraconseguir vaga. Eu emi-nha mãe ficávamos ten-tando. Quando conse-
gui, era no turno da noitee ficava com um poucodemedo ao voltar pra ca-sa. Hoje já me acostu-mei”, lembra a garota.
VILAUFMGSegundo a Prefeiturad e B e l o Ho r i z o n t e(PBH), na Vila RecantoUFMG, 130 famílias fo-ram remov idas , em2011, para a constru-ção de um viaduto dea c e s s o à a v e n i d aAbrahão Caram. Outrasobras na capital foramfeitas em função da Co-pa do Mundo e deman-daram remoções, comoa duplicação da aveni-da Pedro I e a Via 210(no bairro Betânia). Nototal, na capital minei-ra, foram 708 famíliasremovidas, de acordocom a PBH.Rejiane é uma das cer-
ca de 900 crianças e ado-lescentes em idade esco-lar em Belo Horizonteque foram afetadas dire-tamente pelas obras daCopa do Mundo.
PREFERÊNCIAHoje, passados três anosda mudança, ela estáacostumada com a vizi-nhança e gosta de ondemora. “Não queria ir paraumapartamento por cau-sa dos cachorros”, conta.Mas, ao mesmo tempo,
lamenta estar longe daUFMG, já que ela deve seformar neste ano no ensi-no médio. “Quero cursarpsicologia. Se ainda mo-rasse em frente à UFMG,seria ótimo”, afirma. l
Solidariedade para superar as dificuldades
l> Família sai de BeloHorizonte para Betim e peregrinação embusca de vaga emescola foi sofrida
Recomeço a 40quilômetrosde distância do antigo lar “Oqueéo
devido
atendimen-
to,nonosso
entender?A
pessoatem
quesairda
situaçãoem
quese
encontraeir
parauma
outraigual
oumelhor.
Elanunca
podepiorar
aqualidade
devidaem
razãodessa
intervenção
pública”
Anaí
Arantes
Rodrigues,
defensora
pública
estadualem
SãoPaulo
“Nósfomos
muitobem
recebidos
aqui(na
cidadede
Confins)e
estamos
gostando.
Contamos
comaajuda
demuita
gente.Mas
sentimos
faltada
nossa
família,que
ficou
separada”
Alédia
Pereira,
salgadeira,
desapropriada
nasobras
daavenida
PedroI
DESAPROPRIADA–Rejianedemoroudoismesesparaencontrarumavaganaescolapróximaàsuanovacasa,distante40quilômetrosdeondemorava
“No começo foidifícil. Eu eminhamãeficávamos
tentando vaga”,diz Rejiane
DIFÍCILADAPTA-ÇÃO–A
famíliadeAlédianãoconseguiu
vivernacasa
compradacomo
dinheirodaindenizaçãoefoiprecisoajudapara
serestabele-
ceremConfins,naGrandeBH
hojeemdia.com.br 23BeloHorizonte,segunda-feira,12.5.2014
HOJEEMDIAMinas