coronel ubiratan guimarÃes e sua aÇÃo no carandiru
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Este trabalho pretende apresentar a acusação do Coronel Ubiratan Guimarães, que foi quem comandou o Massacre do Carandiru, demostrando que o responsável pelos crimes sucedidos deu-se pela atitude do mesmo ao autorizar que a Policia Militar entrasse no local e tomasse as atitudes que lá foram tomadas.Diante dos altos índices de violência ocasionados por crimes cada vez mais bárbaros, a sociedade, em sua maioria, demonstra um sentimento de “vingança” ao opinar sobre a ação policial realizada em 02 de outubro de 1992.Muitos defendem a ideia de que “bandido bom é bandido morto”, e ainda “se fosse uma boa pessoa não estaria na cadeia”.Porém, não podemos compartilhar desses pensamentos, e por isso denominamos como massacre a intervenção policial no Carandiru, portanto condenamos a ação comandada pelo Coronel Ubiratan Guimarães, com base em estudos técnicos, principalmente no que tange ao número de marcas de tiros no interior das celas e à quantidade de perfurações causadas pelas armas de fogo nos corpos dos presos. É fato que alguns detentos foram fuzilados com rajadas de metralhadoras HK- 47, a qual é utilizada pelas forças armadas para treinamento em caso de guerra, tamanha a sua potência e poder de destruição, conforme comprovação da perícia.O que a sociedade, por muitas vezes não compreende, é que muitos daqueles presos eram réus primários e outros aguardavam julgamento, estavam ali para pagar a sua dívida com o Estado e com a própria sociedade, no entanto jamais poderiam ser executados da maneira que foram numa ação desastrosa e executada por policiais despreparados e desmotivados.Não podemos esquecer que todos aqueles presos executados tinham mãe, mulher, irmãos e filhos e que estes carregarão a falta do seu pai e a marca da violência policial em suas vidas.TRANSCRIPT
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ESAMC
PROJETO INTERDISCIPLINAR
CORONEL UBIRATAN GUIMARES E SUA AO NO CARANDIRU
SANTOS - SP 2013
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ESAMC
ADNIR MELLO BRBARA BATISTA DANIELLE OLIVEIRA FLVIO FAITANINI
GABRIELLA COSTA GREICE CHINAIDHER
LETCIA ALVES LETCIA MARCON
PRISCILA OLIVEIRA VVIAN FAUSTINO
PROJETO INTERDISCIPLINAR
CORONEL UBIRATAN GUIMARES E SUA AO NO CARANDIRU
SANTOS - SP 2013
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ADNIR MELLO BRBARA BATISTA DANIELLE OLIVEIRA FLVIO FAITANINI
GABRIELLA COSTA GREICE CHINAIDHER
LETCIA ALVES LETCIA MARCON
PRISCILA OLIVEIRA VVIAN FAUSTINO
PROJETO INTERDISCIPLINAR CORONEL UBIRATAN GUIMARES E SUA AO NO
CARANDIRU
Projeto Interdisciplinar, apresentado a Escola Superior de Administrao, Marketing e Comunicao (ESAMC), como parte das exigncias para a obteno de nota nas disciplinas de Teoria Geral do Direito, Teoria Geral do Estado, Direito Civil e Direito Penal. Orientador: Professor Marcelo Amaral Colpaerth Marcochi.
SANTOS - SP 2013
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ADNIR MELLO BRBARA BATISTA DANIELLE OLIVEIRA FLVIO FAITANINI
GABRIELLA COSTA GREICE CHINAIDHER
LETCIA ALVES LETCIA MARCON
PRISCILA OLIVEIRA VVIAN FAUSTINO
PROJETO INTERDISCIPLINAR
CORONEL UBIRATAN GUIMARES E SUA AO NO CARANDIRU
Banca Examinadora:
Gisele Bernardo Gonalves Hunold - Professora de Teoria Geral do Direito- ESAMC
_________________________________________________________
Leandro Matsumota - Professor de Teoria Geral do Estado- ESAMC _________________________________________________________
Fabricio Posocco - Professor de Direito Civil- ESAMC
_________________________________________________________
Marcelo Amaral Colpaerth Marcochi - Professor de Direito Penal- ESAMC
_________________________________________________________
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DEDICATRIA
Dedicamos este projeto a todos que acreditaram no nosso potencial: as nossas famlias e aos nossos professores que no mediram esforos para nos
apoiar e incentivar o grupo.
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AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me concedido sabedoria para a realizao deste
projeto. Aos nossos queridos professores Marcelo Marcochi, Fabricio Posocco, Gisele Bernardo Gonalves Hunold, Leandro Matsumota e Sinval Morae por suas consultorias e conhecimentos que contriburam para o desenvolvimento do trabalho.
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EPGRAFE
Lembrem-se dos presos como se vocs estivessem na priso com eles. Lembre-se dos que so torturados, pois voc tambm tem um corpo.
(TARSO, Apstolo Paulo de)
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SUMRIO
INTRODUO.............................................................................................. 11
1. TEORIA GERAL DO DIREITO ................................................................ 12
1.1. CONCEITO DE DIREITO, MORAL E JUSTIA ................................ 13
1.1.1. DIREITO ..................................................................................... 13
1.1.2. MORAL ....................................................................................... 13
1.1.3. JUSTIA ..................................................................................... 14
1.2. O CONFRONTO ENTRE DIREITO, JUSTIA E MORAL ................. 14
1.3. DIFERENA ENTRE JUSTIA, MORAL E DIREITO ....................... 15
1.4. A EXISTNCIA DAS LEIS AMORAIS E IMORAIS ........................... 15
1.5. PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS ................................................... 15
2. TEORIA GERAL DO ESTADO ................................................................ 21
2.1. ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO .......................................... 22
2.1.1. POPULAO ............................................................................. 22
2.1.2. TERRITRIO ............................................................................. 23
2.1.3. GOVERNO ................................................................................. 23
2.1.4. SOBERANIA ............................................................................... 23
2.1.5. JUSTIA ..................................................................................... 24
2.2. CENRIO POLTICO ........................................................................ 25
2.3. SISTEMA PRISIONAL ...................................................................... 27
2.4. FACES ......................................................................................... 28
2.5. DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................................ 29
2.6. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO ...................................... 31
2.6.1. ATO ILCITO ............................................................................... 31
2.6.2. DANO ......................................................................................... 32
2.6.3. NEXO CAUSAL .......................................................................... 32
2.6.4. O DEVER DO ESTADO DE GUARDA DOS PRESOS .............. 32
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3. DIREITO CIVIL ........................................................................................ 35
3.1. DIREITOS DA PERSONALIDADE .................................................... 35
3.1.2. DIREITO VIDA, INTEGRIDADE FSICA, HONRA E A
DIGNIDADE ....................................................................................................... 37
4. DIREITO PENAL ...................................................................................... 42
4.1. TEORIA DO CRIME .......................................................................... 42
4.2. FATO TPICO .................................................................................... 42
4.2.1. CONDUTA .................................................................................. 43
4.2.2. RESULTADO .............................................................................. 44
4.2.3. NEXO CAUSAL OU RELAO DE CAUSALIDADE ................. 44
4.2.4. TIPICIDADE ............................................................................... 44
4.3. ANTIJURICIDADE ............................................................................ 45
4.3.1. CAUSAS EXCLUDENTES OU JUSTIFICATIVAS ...................... 45
4.4. ESTADO DE NECESSIDADE ........................................................... 46
4.5. LEGTIMA DEFESA .......................................................................... 46
4.6. EXERCCIO REGULAR DE DIREITO ............................................... 47
4.7. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL .............................. 48
4.8. OBEDINCIA HIERRQUICA .......................................................... 49
4.9. EXCESSO DOLOSO E CULPOSO ................................................... 50
5. TESE DE ACUSAO ............................................................................. 51
ANEXOS ....................................................................................................... 55
ANEXO A - SNTESE DO ESTUDO SCIO JURDICO ELABORADO
PELO PROFESSOR DE DIREITO DA UNIVERSIDADE CNDIDO MENDES
- IPANEMA E DA ESCOLA DE CINCIAS JURDICAS DA UNIVERSIDADE
DO RIO DE JANEIRO (UNI-RIO). ......................................................................... 60
INTRODUO .......................................................................................... 60
DESCRIO DOS FATOS QUE OCORRERAM NO PAVILHO 9
DA CASA DE DETENO DO CARANDIRU, SO PAULO. ............................ 61
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ANTECEDENTES DE 104 PRESOS MORTOS NO MASSACRE ......... 65
ANEXO B - RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO ........................... 66
ANEXO C - RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO NA
CONSTITUIO DE 1988 E OS DIREITOS DOS DETENTOS ............................ 68
DECISO: REBELIO. CARANDIRU. RESPONSABILIDADE
CIVIL OBJETIVA. DEVER DE INDENIZAR ....................................................... 69
RESPONSABILIDADE CIVIL DETENTO FALECIDO EM
REBELIO OCORRIDA NA CASA DE DETENO INDENIZAO
DEVIDA EMBARGOS INFRINGENTES COM VOTO VENCIDO QUE
ENTENDE IMPROCEDENTE A AO EMBARGOS REJEITADOS. ............. 69
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO PODER PBLICO -
PRINCPIO CONSTITUCIONAL ........................................................................ 72
ANEXO D - ACRDOS .............................................................................. 76
ACRDOS JULGADOS PELO TJ-SP EM RELAO A ALGUMAS
DAS VTIMAS DO CARANDIRU ........................................................................... 76
ANEXO E - ENTREVISTA COM O PERITO DR. OSWALDO NEGRINI ...... 80
EX-PMS SO JULGADOS 20 ANOS DEPOIS DE MASSACRE .......... 84
ANEXO F - O PAVOR CHEGA COM OS PMS ............................................ 84
ANEXO G - MASSACRE DO CARANDIRU MATRIA DO JORNAL
FOLHA DE SO PAULO ........................................................................................... 89
ANEXO H IMAGENS DO MASSACRE DO CARANDIRU ......................... 94
ANEXO I - FOTOS DO ARMAMENTO UTILIZADO NA INVASO CASA
DE DETENO ................................................................................................. 97
REFERNCIAS ............................................................................................ 55
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INTRODUO
Este trabalho pretende apresentar a acusao do Coronel Ubiratan
Guimares, que foi quem comandou o Massacre do Carandiru, demostrando
que o responsvel pelos crimes sucedidos deu-se pela atitude do mesmo ao
autorizar que a Policia Militar entrasse no local e tomasse as atitudes que l
foram tomadas.
Diante dos altos ndices de violncia ocasionados por crimes cada vez
mais brbaros, a sociedade, em sua maioria, demonstra um sentimento de
vingana ao opinar sobre a ao policial realizada em 02 de outubro de 1992.
Muitos defendem a ideia de que bandido bom bandido morto, e
ainda se fosse uma boa pessoa no estaria na cadeia.
Porm, no podemos compartilhar desses pensamentos, e por isso
denominamos como massacre a interveno policial no Carandiru, portanto
condenamos a ao comandada pelo Coronel Ubiratan Guimares, com base
em estudos tcnicos, principalmente no que tange ao nmero de marcas de
tiros no interior das celas e quantidade de perfuraes causadas pelas armas
de fogo nos corpos dos presos. fato que alguns detentos foram fuzilados com
rajadas de metralhadoras HK- 47, a qual utilizada pelas foras armadas para
treinamento em caso de guerra, tamanha a sua potncia e poder de destruio,
conforme comprovao da percia.
O que a sociedade, por muitas vezes no compreende, que muitos
daqueles presos eram rus primrios e outros aguardavam julgamento,
estavam ali para pagar a sua dvida com o Estado e com a prpria sociedade,
no entanto jamais poderiam ser executados da maneira que foram numa ao
desastrosa e executada por policiais despreparados e desmotivados.
No podemos esquecer que todos aqueles presos executados tinham
me, mulher, irmos e filhos e que estes carregaro a falta do seu pai e a
marca da violncia policial em suas vidas.
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TEORIA GERAL DO DIREITO
"Se existe algo que a histria do conhecimento humano nos pode ensinar como tm sido vos os esforos para encontrar, por meios racionais, uma norma absolutamente vlida de comportamento justo, ou seja, uma norma
que exclua a possibilidade de tambm considerar o comportamento contrrio como justo (KELSEN, Hans).
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1. TEORIA GERAL DO DIREITO
1.1. CONCEITO DE DIREITO, MORAL E JUSTIA
de suma importncia saber diferenciar o que Direito, Moral e
Justia. Ao primeiro olhar temos uma ideia de que todas estas definies tm o
mesmo significado, porm, cada uma distinta em sua essncia.
1.1.1. DIREITO
A palavra direito tem origem no Latim directus que significa reto ou colocado em linha reta. No latim clssico, ius era o termo usado para designar o direito objetivo, o conjunto de normas (que evoluiu para direito). O termo ius (jus) originou a criao de palavras como justo, justia, entre outras.1
No h um consenso sobre o conceito de direito. A esse respeito
divergem juristas, filsofos e socilogos, desde tempos remotos. o conjunto
das normas gerais e positivas, que regulam a vida social (REDBRUCH,
Introducin a la filosofia del derecho, p. 47). Da necessidade de justia nas
relaes humanas que nasce o direito.
Existe uma marcante diferena entre o ser do mundo da natureza e o
dever ser do mundo jurdico. Os fenmenos da natureza, sujeito s leis
fsicas, so imutveis, enquanto o mundo jurdico, o do dever ser, caracteriza-
se pela liberdade na escolha da conduta. Direito, portanto, a cincia do
dever ser.
1.1.2. MORAL
Moral o conjunto de regras adquiridas atravs da cultura, da educao, da tradio e do cotidiano, e que orientam o comportamento humano dentro de uma sociedade. O termo tem origem no Latim morales cujo significado relativo aos costumes2.
Entendese que a moral designada pelas pessoas, no havendo,
portanto delimitao de territrio. Sendo assim, existem pessoas em qualquer
parte do mundo que seguem uma mesma norma moral.
1 "Significado de Direito, o que Direito?". Disponvel em www.significados.com.br.
Acesso 12/04/2013. 2 "Significado de Moral, o que Moral?". Disponvel em www.significados.com.br.
Acesso 12/04/2013.
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A essncia deste elemento que o surgimento da moral do prprio
ser humano, sendo assim impostas pela sociedade. uma espcie de coao,
onde a sano para quem pratica a imoralidade apenas a punio social.
possvel que pessoas desconhecidas tenham as mesmas referncias
de moralidade.
1.1.3. JUSTIA
Justia significa respeito igualdade de todos os cidados, e um
termo que vem do latim. o principio bsico e tem como objetivo manter a
ordem social atravs da preservao dos direitos em sua forma legal.
Em Roma, a justia representada por uma esttua, com olhos vendados, significando que "todos so iguais perante a lei" e "todos tm iguais garantias legais", ou ainda, "todos tm iguais direitos". A justia deve buscar a igualdade entre todos.3
Para Hans Kelsen a discusso sobre a Justia um dever da tica,
pois a cincia capacitada para estudar normas jurdicas, morais, o certo e o
errado, e tambm o que justo ou injusto.
O ser justo exprime o pensamento de que o indivduo deve agir
igualmente para ambas as partes, ou a que julgar ser a correta.
J Aristteles apresenta a justia como uma virtude humana quando
diz, vemos que todos os homens entendem por justia aquela disposio de
carter que torna as pessoas propensas a fazer o que justo, que as faz agir
justamente e desejar o que justo (tica a Nicmaco, v. 1. 1129-10. Na
edio examinada, p. 81), ou em sua definio de perptua vontade de dar a
cada um o que seu, segundo uma igualdade (LIMONGI, Rubens Frana.
Manual de direito civil, v. 1, p. 7).
1.2. O CONFRONTO ENTRE DIREITO, JUSTIA E MORAL
''Teu dever lutar pelo direito, mas no dia em que encontrares o direito
em conflito com a justia, luta pela justia'' diz Eduardo Couture no seu
''Mandamento dos Advogados''.
3 "Significado de Justia, o que Justia?". Disponvel em www.significados.com.br.
Acesso 12/04/2013.
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Moral, direito e justia, embora sejam conceitos distintos, oferecem
concepes estreitamente relacionadas. Vemos que o direito pretende garantir
a justia; apesar da moral, em alguns contextos tambm usar este princpio, a
respeito de sua relao com o justo ser muito relativa, quase nunca se
referindo pelo conceito.
Sendo assim um grande problema, porque o Direito deveria garantir a
Justia, mas acaba sendo influenciado pela Moral estabelecida.
1.3. DIFERENA ENTRE JUSTIA, MORAL E DIREITO
A moral, bem como a justia, parece ser baseada no mesmo ideal: s
moral do ponto de vista de quem julga, ou seja, pode ser moralmente certo a
determinado sujeito matar o prprio filho, enquanto que para a sociedade em
si, tal atitude totalmente hedionda. Se cada pessoa pudesse agir apenas de
acordo com seus ideais morais, teramos um caos eminente. Ento surge o
direito, que visa normatizar a moral dominante (o que nem sempre seguido
risca), para que se tenha estabilidade social.
Por fim, pode-se dizer que, tanto a justia quanto a moral, tm carter
extremamente subjetivo, pois dependem, to-somente, do juzo do agente a
definio destes conceitos. Da mesma maneira, em relao aos fatos que
sero julgados, o cidado julgador ter sempre seus prprios juzos de valor.
1.4. A EXISTNCIA DAS LEIS AMORAIS E IMORAIS
''Quero lembrar que h leis imorais, indignas, injustas. O garrote vil, na
Espanha, era lei. A escravido, no Brasil, era lei (GUIMARES, Ullysses). O
legislador ao elaborar uma lei, dever analisar alm da utilidade e da
capacidade da norma e seus devidos efeitos, se a soluo proposta para o
problema a ser resolvido possui vinculao com os usos e costumes sociais.
A lei no pode ser uma criao singular ou algo imposto, muito menos
ser produzida sem que em seu processo de elaborao discuta-se a
consequncia moral que seu efeito ir produzir.
1.5. PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS
Os princpios so norteadores das aes humanas, abrangem a
interpretao de todas as normas jurdicas e so fixados na experincia
histrica da humanidade e na sua evoluo cientfico-filosfica. Servem como
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orientao interpretativa das normas constitucionais, seja ao legislador
ordinrio durante a elaborao de normas infraconstitucionais, seja aos juzes
mediante a aplicao do direito ou aos cidados no momento de realizao de
seus direitos.
Como observa o professor Celso Antnio Bandeira de Mello:
Princpio por definio, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposio fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o esprito e servindo de critrio para sua exata compreenso e inteligncia, exatamente por definir a lgica e a racionalidade do sistema normativo, no que confere a tnica e lhe d sentido harmnico. 4
O renomado doutrinador Rizzatto Nunes alude:
O princpio , assim, um axioma inexorvel e que, do ponto de vista do Direito, faz parte do prprio linguajar desse setor de conhecimento. No possvel afast-lo, portanto. O valor sofre toda influncia de componente histrico, geogrfico, pessoal, social, local etc. e acaba se impondo mediante um comando de poder que estabelece regras de interpretao jurdicas ou no. Por isso, h muitos valores e so indeterminadas as possibilidades de deles falar. Eles variaro na proporo da variao do tempo e do espao, na relao com a prpria histria corriqueira dos indivduos. O princpio, no. Uma vez constatado, impe-se sem alternativa de variao. 5
No sistema jurdico brasileiro, os princpios fundamentais esto
estabelecidos na Carta Magna, a qual define os parmetros e princpios que
norteiam todo o ordenamento jurdico, por ela, so apresentadas as premissas
que conduzem a interpretao dos direitos e deveres do indivduo e do grupo
social a que pertence. Como leciona Rizzato Nunes, os princpios
constitucionais so as vigas mestras, alicerces dos quais se constri o sistema
jurdico e que do estrutura e coeso a todo o ordenamento jurdico.
Para compreender a importncia dos princpios constitucionais
preciso situar o cenrio histrico que antecedeu a Constituio de 1988. O
Brasil passava por um longo perodo de instabilidades e gestes ditatoriais. No
dia 1 de abril de 1964, o pas passou a viver sob o regime militar. Este perodo
4 (MELLO, Celso Antnio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. So
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1991, p. 230) 5 (NUNES, Luiz Antnio Rizzato. O princpio constitucional da dignidade da pessoa
humana. Doutrina e jurisprudncia, So Paulo: Saraiva, 2002, p. 37.)
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ditatorial perdurou por vinte e um anos, com intensas efervescncias por
transformaes sociais, polticas e econmicas. Neste perodo, havia conflitos
entre o governo e a oposio, foram utilizados recursos como: censura, tortura,
terrorismo e guerrilha nos movimentos de oposio e de represso.
Este o cenrio que marcou o momento histrico, poltico e jurdico da
sociedade brasileira, que incidiu a elaborao da Constituio Federal
Brasileira, pela qual, procurou traduzir os anseios do povo e a busca por
grandes transformaes.
A Constituio Federal da Repblica Federativa do Brasil de 1988
destaca como essncia, os princpios promoo e proteo aos direitos
fundamentais e sociais da pessoa humana. O legislador constituinte condenou
as prticas como a tortura, sob todas as suas modalidades, comuns poca da
ditadura; o racismo e outras formas de humilhaes. O legislador desta forma
colocou a pessoa humana como um fim em nossa sociedade e no como um
simples meio de alcanar objetivos econmicos.
Conforme ensinamento de Canotilho apud Afonso: a Constituio o
estatuto jurdico do fenmeno poltico, e foi elaborada com vistas nos ideais
democrticos, sociais e republicanos, em que a dignidade da pessoa humana
um dos fundamentos da Repblica Federativa do Brasil e por ela foram
positivados os direitos e garantias fundamentais, numa estrutura textual que
refora a proteo do indivduo, do Estado e suas finalidades.
No prembulo da Constituio, percebe-se a preocupao do
legislador constituinte em proporcionar aos cidados o resgate da dignidade da
pessoa humana, atravs do saneamento dos grandes males impostos durante
o perodo da ditadura. Notadamente, pela sua apreenso quanto reduo das
desigualdades sociais; pela melhor distribuio de renda; pela erradicao da
pobreza; pela promoo do acesso ao trabalho, ao lazer, moradia,
educao e das condies para manter-se saudvel e desenvolver-se
economicamente.
Conforme pode-se constatar:
PREMBULO DA CF- Ns, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assemblia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrtico, destinado a assegurar o exerccio dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justia como valores
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supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundadas na harmonia social e comprometidas, na ordem interna e internacional, com a soluo pacfica das controvrsias, promulgamos, sob a proteo de Deus, a seguinte CONSTITUIO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
A Constituio Federal apresenta seus Princpios Fundamentais do art.
1 ao art. 4:
Art. 1 A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo poltico. Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio.
Art. 2 So Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio. Art. 3 Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidria; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.
Art. 4 A Repblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaes internacionais pelos seguintes princpios: I - independncia nacional; II - prevalncia dos direitos humanos; III - autodeterminao dos povos; IV - no-interveno; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - soluo pacfica dos conflitos; VIII - repdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperao entre os povos para o progresso da humanidade; X - concesso de asilo poltico. Pargrafo nico. A Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao econmica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica Latina, visando formao de uma comunidade latino-americana de naes.
O princpio da dignidade da pessoa humana deve ser enaltecido, pois a
pessoa humana o valor mximo da democracia e sua dignidade deve
prevalecer a qualquer outro princpio em decorrncia do Estado Democrtico
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de Direito. Constitucionalmente, os direitos e garantias fundamentais, dentre
eles os positivados como Direitos Sociais so decorrentes da dignidade
humana, desta forma Rizzato Nunes assevera:
A razo jurdica uma razo tica, fundada na garantia da intangibilidade da dignidade da pessoa humana, na aquisio da igualdade entre as pessoas, na busca da efetiva liberdade, na realizao da justia e na construo de uma conscincia que preserve integralmente esses princpios. 6
Em consonncia com o entendimento de Rizzato Nunes, Chaves de
Camargo certifica:
A pessoa humana, pela condio natural de ser, com sua inteligncia e possibilidade de exerccio de sua liberdade, se destaca na natureza e se diferencia do ser irracional. Estas caractersticas expressam um valor e fazem do homem no mais um mero existir, pois este domnio sobre a prpria vida, sua superao, a raiz da dignidade humana. Assim, toda pessoa humana, pelo simples fato de existir, independentemente de sua situao social, traz na sua superioridade racional a dignidade de todo ser. No admite discriminao, quer em razo do nascimento, da raa, inteligncia, sade mental, ou crena religiosa.7
O contedo e a consagrao constitucional do princpio da dignidade
da pessoa humana, bem como os demais princpios constitucionais, devem ser
analisados na elaborao de leis para situar os direitos fundamentais. Os
direitos de acesso educao, sade, ao trabalho, moradia, previdncia,
assistncia social, dentre outros direitos sociais e garantias fundamentais so
essenciais para viver dignamente.
Os direitos e garantias fundamentais devem ser observados em
conformidade aos direitos humanos, estes so previstos pela Constituio
Federal em seu art. 5, e demais leis e tratados internacionais. Ao analisar a
eficcia dos direitos e garantias aos presos no Brasil, percebe-se atravs de
estudos e pesquisas, que o sistema carcerrio infelizmente, ainda, no
coaduna com os princpios basilares do pas, pois diariamente os direitos
6 (NUNES, Luiz Antnio Rizzato. O princpio constitucional da dignidade da pessoa
humana. Doutrina e jurisprudncia, So Paulo: Saraiva, 2002, p. 26.) 7 (CAMARGO, A. L. Chaves. Culpabilidade e Reprovao Penal. So Paulo:
Sugestes Literrias, 1994.
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fundamentais de seres humanos que j encontram-se privados de sua
liberdade so violados.
preciso compreender que o preso conserva os demais direitos adquiridos enquanto cidado, que no sejam incompatveis com a "liberdade de ir e vir", medida que a perda temporria do direito de liberdade em decorrncia dos efeitos de sentena penal refere-se to-somente locomoo. Isso invariavelmente, no o que ocorre. 8
8 (CARVALHO, Salo de. Penas e Garantias: uma Leitura do Garantismo de Luigi
Ferrajoli no Brasil).
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TEORIA GERAL DO ESTADO
A sociedade, o Estado e o Direito no surgem de decretos divinos, mas dependem da ao concreta dos homens na Histria" (CHAU, Marilena).
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2. TEORIA GERAL DO ESTADO
2.1. ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO
Para discorrermos sobre Cincias Polticas, devemos a priori
compreender o conceito de Estado e seu surgimento.
Com base na Histria Geral, a palavra Estado aparece
frequentemente com o passar dos sculos, desde o Estado Egpcio, da Polis
grega e da Civitas romana, at o sculo XVI, onde na Inglaterra foi empregado
pela primeira vez o significado com referncia ordem pblica constituda,
estando em constante evoluo at os dias atuais. Deguit afirmava O Estado
a criao exclusiva da ordem jurdica e representa uma organizao da fora a
servio do direito.
Para que o Estado possa existir e exercer sua funo, so necessrios
trs elementos constitutivos: populao, territrio e governo.
2.1.1. POPULAO
Entende-se como populao o conjunto de pessoas que habitam o
planeta Terra ou qualquer diviso territorial, sendo considerada tambm a
quantidade numrica de um Estado e elemento formador deste, onde no
depende de justificativa, pois sem populao no possibilidade de formao ou
existncia do Estado.
Doutrinadores defendem a tese de que a caracterstica bsica e
primordial de populao corresponde unidade tnica, ou seja, caractersticas
nacionais como as que constituram Israel, China, Roma e Grcia. Outros
divergem dessa afirmao, sustentam que o elemento basilar de populao se
entende em sentido amplo, ou seja, reunio de indivduos de vrias origens, os
quais se estabelecem em carter definitivo, e a posteriormente se organizam
politicamente.
Por muitas vezes populao e nao so usados erroneamente como
sinnimos. Nao uma realidade sociolgica, de ordem subjetiva onde o
Estado uma realidade jurdica. Para melhor fixao do conceito cotejando a
definio dada por Mancini una societ naturali di uomini, da unit di territrio,
di origine, di costumi e di lingua, conformata di vita e di conscienza sociale.
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23
2.1.2. TERRITRIO
Considera-se como territrio a base fsica de mbito geogrfico, que
delimita os poderes do Estado pelas fronteiras polticas. Para Friedrich Ratzel,
o territrio representa uma poro do espao terrestre identificada pela posse,
sendo uma rea de domnio de uma comunidade ou Estado.
O Estado moderno rigorosamente territorial. Esse elemento fsico,
tanto quanto os outros dois - populao e governo -, indispensvel
configurao do Estado, segundo as concepes pretritas e atuais do direito
pblico. Afirma Queiroz Lima.
Para Pedro Calmon o territrio elemento sagrado e inalienvel do
povo. o espao certo e delimitado onde se exerce o poder do governo sobre
os indivduos.
2.1.3. GOVERNO
Delegao de soberania nacional, conjunto das funes necessrias
manuteno da ordem jurdica e da administrao pblica, afirma Sahid Maluf
em seu livro Teoria Geral do Estado.
Apesar de no existir consenso na conceituao de Estado, os
doutrinadores concordam que a soberania elemento de composio do
Estado, com o argumento de que a soberania exatamente a fora geradora e
justificadora do elemento governo.
O governo do povo, pelo povo e para o povo expresso de Abraham
Lincoln traduz claramente como que deveria ser o governo que a Constituio
Federal de 1988 idealiza.
2.1.4. SOBERANIA
Autoridade superior que no pode ser limitada por nenhum outro poder.
A soberania se compreende no exato conceito de Estado. Estado no-
soberano ou semi-soberano no Estado afirma Sahid Maluf.
O Brasil uma Repblica Federativa composta pela Unio, estados e
municpios, onde atribudo a distintos e independentes rgos o exerccio do
poder. A Unio composta por trs poderes harmnicos e independentes
sobre si: Legislativo, Executivo e Judicirio.
O Brasil adota a forma de regime governamental democrtico Estado
Democrtico - que defendido pela Constituio Federal de 1988, vale lembrar
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24
que o nosso pas uma Repblica, ou seja, os representantes so eleitos pelo
povo por meio de votao.
Prembulo: Ns, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrtico, destinado a assegurar o exerccio dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justia como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a soluo pacfica das controvrsias, promulgamos, sob a proteo de Deus, a seguinte CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Art. 1 A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo poltico. Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio.
2.1.5. JUSTIA
A palavra justia pode ser compreendida como: 1) a firme vontade de
dar a outros o que devido e assegurado por leis vigentes ou 2) aquilo que
deve fazer acordo com o direito, equidade e razo. Vale ressaltar que o
significado de justia recorrente, ou seja, o que justia hoje, talvez no seja
amanh.
O conceito de justia refere-se por muitas vezes ao Poder Judicial,
pena ou ao castigo pblico. Cabe ainda ressaltar que justia social faz
referncia ao conjunto de decises, normas e princpios razoveis com um
determinado coletivo social.
O que est presente hoje, infelizmente em nosso pas a omisso, o
Governo omisso em vrios assuntos de carter social, no assegurando a
tutela estatal, por meio do contrato social.
O contrato social possui o respaldo da vontade geral, que no se constitui meramente da somatria das vontades particulares, mas que se coloca na posio de representar o interesse comum. A vontade geral mais que simplesmente a vontade de todos (somatria dos interesses particulares), pois aquela visa
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25
realizao do interesse comum e pblico, e esta visa aos interesses particulares.9
Uma das caractersticas da vontade geral ser sempre reta, sem
desvios, em outras palavras, nunca se enganando, se corrompendo ou se
desvirtuando, o engano est presente no julgamento que dela emana ou que
dela se faz.
Essa convico social vem, portanto, definida por seus caracteres
como til, equivalente e legtima, onde prevalece a igualdade e a comunidade
dos fins. (Rousseau, Du contract social, 1992, Livro II, Captulo IV, p. 59)
Complementa Sahid Maluf Mais que isso, no contrato est eminente noo de que se trata de uma relao em que prevalece a paridade de direitos e deveres, pois em contra partida adeso dos particulares e sua obedincia s leis proclamadas como comuns, est o imperativo de que o soberano deve se condicionar observncia delas e deve obedecer finalidade do pacto, o interesse comum. H ai um pacto sinalagmtico.10
Contudo, o Estado por muitas vezes no respeita a vontade coletiva,
abandonando o contrato social e ignorando a Constituio Federal, um
descaso com o direito e deveres que dado a ele usa a soberania em favor
prprio por aqueles que deveriam proteger e representar os anseios do povo.
2.2. CENRIO POLTICO
Em maro de 1991, a OAB SP condenava a atitude do governo do
Estado, na poca chefiado por Antnio Fleury, ao transferir a administrao do
sistema penitencirio da Secretria da Justia para a Segurana Pblica. No
ano seguinte, em 2 de outubro de 1992 ocorreu o Massacre do Carandiru, com
nmeros oficiais de 111 presos mortos, 110 feridos e a queda do ento
secretrio de Segurana Pblica, Paulo Franco de Campos.
A invaso da Casa de Deteno ocorreu s vsperas das eleies
municipais. A prefeita da cidade era Luiza Erundina, do PT, mas j era
previsvel que a oposio liderada por Paulo Maluf venceria. O cenrio poltico
estava cada vez mais tendendo para o lado das foras sociais politicamente
conservadoras e culturalmente preconceituosas. Tendncia essa que
9 (Rousseau, Du contract social, 1992, Livo II, Captulo III, p. 54) 10 (Curso de Filosofia do Direito, 9 Edio 2011, p. 294)
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acreditava que a delinquncia era um sinal de autoridade fraca no controle
sobre o mal que s tendia a expandir. Mal, que se encarna em negros,
pobres, imigrantes do Nordeste do Brasil, filhos de mes solteiras, drogados, e
em geral, todos os que vivem nas promiscuas favelas e cortios. Os adeptos a
essa poltica social no apoiavam os direitos humanos, o devido processo
legal ou solues judiciais, na verdade, desconfiavam dessas alternativas e as
identificavam como direitos que privilegiavam bandidos. Defendem, de fato, a
policia que mata, a ampliao da pena de morte, e as execues sumrias,
principalmente se o crime envolve violncia. Desse conservadorismo, podemos
ouvir a tese de que a chacina, na verdade, foi uma faxina.
Na poca, confrontavam-se duas hipteses pela opinio pblica,
verses opostas do que supostamente aconteceu que levou at os fatos
ocorridos. Uma considerava o ocorrido uma chacina desnecessria, vinda de
uma ao policial criminosa, e de outro lado a verso de que o episodio foi
resultado de um confronto entre policiais e detentos.
Fleury, o governador do Estado de So Paulo na poca, e ex-secretrio
de Segurana Pblica do governador Orestes Qurcia, no havia adotado uma
poltica de segurana pblica que viesse a coibir a violncia policial ilegal at o
caso do Carandiru. Essa alta na violncia policial no Estado de So Paulo pode
ser constatada no perodo de 1982 1992 quando se confere o nmero de
civis mortos e feridos em supostas aes policiais. Em reao publicao do
nmero de civis mortos em confronto com a polcia militar, o secretrio de
Segurana Pblica do governo Fleury havia declarado: No d para dar boto
de rosa para marginal (Folha de So Paulo, 07/08/1991), declarao que pode
ser interpretada como uma sinalizao para o uso da violncia no combate
criminalidade.
Vale observar que nos cinco anos anteriores invaso do Carandiru, a
polcia militar vinha aumentando significativamente sua contribuio para a taxa
geral de homicdios, em 1987, a policia militar cometeu 7% dos homicdios, em
1989, 10%,e no ano anterior invaso, um quarto dos homicdios da Grande
So Paulo. Em setembro de 1992, o jornal Folha de So Paulo noticiou que a
polcia militar matava, durante o governo Fleury, um civil a cada sete horas.
No dia do Massacre, onde os olhos estavam voltados para as eleies,
o que motivou o retardo na divulgao de informaes e encobrimento das
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reais dimenses dos fatos, o governador Fleury e o Secretrio de Segurana
do Estado, Pedro Franco de Campos, somente concederam informaes
relativamente completas sobre o nmero de mortos vinte e quatro horas depois
do evento, no dia 3 de outubro, por volta das 17 horas, quase no final da
votao.
No dia da suposta rebelio, a Secretaria Estadual de Segurana
Pblica admitiu apenas oito mortes (Folha de So Paulo, 27/09/1994, p. 6), j
que a divulgao do fato prejudicaria o desempenho do candidato do PMDB,
partido de Fleury, Aloysio Nunes Ferreira Filho, que no alcanou o 2 turno.
Porm, at o dia 3 de outubro foram encontrados cadveres, funcionrios da
Casa de Deteno encontraram 10 mortos na cela 375 E, sentados ou
deitados, com sinais de fuzilamento, bem como um cadver na cela em frente e
mais dois mortos no 4 e 5 andar, situao que levou desconfiana aos fatos
ditos, que ainda perdura pela opinio pblica, de que o nmero de vtimas seja
bem superior a 111 detentos mortos.
2.3. SISTEMA PRISIONAL
A histria do sistema penitencirio do Estado de So Paulo comea em
1892, quando por meio de um decreto (n 28) criada a Secretria da Justia.
At o incio de 1979, as prises do Estado estavam subordinadas ao
Departamento dos Institutos Penais do Estado - DIPE, rgo pertencente
Secretaria da Justia. E ento, com a edio de outro decreto (n 13.412,
13/03/1979), o DIPE foi transformado em Coordenadoria dos Estabelecimentos
Penitencirios do Estado - COESPE - na poca com quinze unidades prisionais
-, que ficou no comando at maro de 1991 quando este foi passado para a
segurana pblica, que ficou com a responsabilidade at dezembro de 1992.
O Governo do Estado compreendeu ento, que era exigida uma
comisso prpria para coordenar o sistema penitencirio, que tinha uma tarefa
especial com caractersticas prprias e necessitado de uma soluo, que pode
ser resumida em um sistema carcerrio eficiente, dentro de um Estado
democrtico, onde o direito de punir consequncia da poltica social, a
servio de toda a sociedade, mas fundado nos princpios de humanizao da
pena, sem que dela se elimine o contedo retributivo do mal consequente do
crime. E por decorrncia dessa preocupao foi criada, por meio de outro
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decreto (n 36.463, de 26/01/1993), a Secretria da Administrao
Penitenciria - SAP, que tem como caracterstica o dever de visar a
ressocializao dos condenados.
Hoje, em Hortolndia III, no interior, h 500 vagas para 1.650 presos. O
complexo penitencirio da cidade formado por trs presdios, trs centros de
deteno provisria e um centro de progresso penitenciria. As unidades
receberam parte dos presos do Carandiru no perodo de desativao e
imploso do complexo, em 2002, e ganharam o apelido de Carandiru caipira.
Em 1992, So Paulo tinha 32 unidades penitencirias, com taxas de 94,4
presos por 100 mil habitantes. O total chegou a 481 presos por 100 mil
habitantes nos dias de hoje, espalhados em 156 unidades em todo o Estado.
Na poca do massacre, o Carandiru tinha pouco mais que o dobro de presos
(7.257 para 3,5 mil). A situao no sistema penitencirio hoje pior do que h
20 anos, afirma a professora de Polticas Pblicas da Universidade Federal do
ABC Camila Nunes Dias. Situao que se transformou num problema para os
funcionrios das penitencirias, que passaram a reclamar da falta de
segurana e do excesso de tarefas. Vira um problema srio fazer uma revista
ou uma blitz. Esto entrando no sistema 3 mil novos detentos por ms, e o
ritmo de construo de presdios no acompanha, afirma o presidente do
Sindicato dos Agentes do Sistema Penitencirio, Daniel Grandolfo.
2.4. FACES
PCC Primeiro Comando da Capital, CV Comando Vermelho, CRBC
Comando Revolucionrio Brasileiro da Criminalidade, CDL Comando
Democrtico da Liberdade, ADA Amigos dos Amigos, A Verdade Justia
Infernal ou Seita Satnica, CDD Comando Drago Dourado, PCI Primeiro
Comando do Interior, o PCABC Primeiro Comando do ABC, TCP Terceiro
Comando Paulista, CVC Comando Vermelho da Capital, CVJC Comando
Vermelho Jovem da Criminalidade, so essas as faces criminosas do Estado
de So Paulo que vivem num contexto de guerra declarada umas contra as
outras, e em sua maioria, todas se colocam contra o PCC, o que fica claro no
Art. 7 do Estatuto da CBRC, que diz "onde quer que o CRBC estiver, no
podero existir integrantes do PCC, pois os mesmos atravs da ganncia,
extorso, covardia, despreparo, incapacidade mental, desrespeito aos
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visitantes, estupro de visitantes, guerras dentro de seus prprios domnios, vem
colaborando para a vergonhosa coatizao do aparato penal do Estado de So
Paulo".
As organizaes criminosas dedicam-se ao trfico de drogas e outras
prticas criminosas dentro da priso, contando do lado externo com redes mais
ou menos estruturadas de proteo e gerao de fundos. Possuem regras de
convivncia que, caso descumpridas, pode gerar, inclusive, a pena de morte.
Para os promotores Mrcio Friggi e Fernando Pereira da Silva, que
atuaram na acusao dos PMs no julgamento do massacre do Carandiru, a
morte dos 111 presos foi fundamental para a formao do PCC.O PCC
comeou depois do massacre. No estatuto do PCC, h uma clusula a respeito
disso, disse Silva.
Art. 13, Estatuto do PCC - Temos que permanecer unidos e
organizados para evitarmos que ocorra novamente um massacre semelhante
ou pior ao ocorrido na Casa de Deteno em 02 de outubro de 1992, onde 111
presos foram covardemente assassinados, massacre este que jamais ser
esquecido na conscincia da sociedade brasileira. Porque ns do Comando
vamos mudar a prtica carcerria, desumana, cheia de injustias, opresso,
torturas, massacres nas prises (Suposto estatuto do Primeiro Comando da
Capital divulgado em jornais e noticirios brasileiros no ano de 2001).
O PCC organizou-se a partir de 1993. Foi fundado no dia 31 de agosto
de 1993, no Interior da Casa de Custdia e Tratamento de Taubat. Comeou
a se articular a partir de 1992, como consequncia do Massacre do Carandiru.
Participaram de sua fundao Mizael Aparecido da Silva (Miza), Jos Mrcio
Felcio (Geleio), Marcos William Herbas Camacho (Marcola), Jos Eduardo
Moura da Silva (Bandejo), Csar Augusto Roriz Silva (Csinha), Bicho Feio,
DA F, e Cara Gorda, que colocam como objetivo mudar a prtica carcerria
desumana, cheia de injustias opresso, torturas, massacres nas prises.
2.5. DIREITOS FUNDAMENTAIS
Direitos Fundamentais so aqueles direitos atribudos a todos os
cidados em comum, reconhecidos e positivados na esfera do direito
constitucional. Difere-se do termo Direitos Humanos, apesar de ser muitas
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vezes usado como sinnimo. Foram criados para proteger os indivduos do
Estado.
Dentro do Estado Democrtico de Direito, que defende o principio da
dignidade da pessoa humana, no podemos tolerar o agravamento das penas
de prises com punies ilegais, como a tortura, as humilhaes e at mesmo
execues sumrias, como as que aconteceram no Carandiru em 1992. Os
elementos constitutivos da pena devem estar na suspenso dos direitos e no
no castigo fsico. As prises no podem ficar obscuras e excludas de
transparncia social, at porque os maiores lesados so os prprios cidados,
pois em seu nome se comete tais abusos sob a justificativa da proteo social,
colocando a sociedade em risco de conviver com uma violncia
institucionalizada.
Art. 5, III da Constituio Federal Brasileira ningum ser submetido a tortura nem tratamento desumano ou degradante; Art. 5, XLIX da Constituio Federal Brasileira assegurado aos presos o respeito integridade fsica e moral. Art. 1, da Lei de Execuo Penal A execuo penal tem por objetivo efetivar as disposies de sentena ou deciso criminal e proporcionar condies para a harmnica integrao social do condenado e do internado. Art. 10, da Lei de Execuo Penal A assistncia ao preso e ao internado dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno convivncia em sociedade.
Atualmente, as prises no recuperam, nem buscam a ressocializao
dos detentos, pelo contrrio, contribui para sua organizao em faces
criminosas dentro da prpria Casa de Deteno. O sistema prisional acabou
por se tornar uma escola para delinquentes, onde sua superpopulao leva ao
escasso das condies humanas, violncia e diversas rebelies com os
piores resultados possveis. O grande smbolo de violao ao Art. 5, XLIX da
Constituio Federal Brasileira a prpria Casa de Deteno, pelo seu grau de
corrupo interna. Pode-se dizer que no o grau atingido pela crise dentro do
sistema penitencirio brasileiro, acaba por fazer com que o Poder Pblico
perca sua autoridade e controle.
Alm disso, seria hipocrisia abordamos somente o que aconteceu
naquele dia, devemos levar em conta que aquilo foi o resultado de vrios
descuidos, por exemplo, a Constituio em seu Art. 6 diz: So direitos sociais
a educao, a sade, a alimentao, o trabalho, a moradia, o lazer, a
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31
segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e a infncia, a
assistncia aos desamparados. E no isto que vemos, pois falta educao e
segurana, principalmente em grandes cidades como So Paulo, e isso que faz
com que as pessoas busquem outros caminhos para conseguirem o que o
governo no os proporciona, caminhos mais fceis, que so este, o do crime.
Pesquisas mostraram que entre as vtimas, 80% ainda esperavam uma
sentena definitiva da Justia, ou seja, ainda no tinham sido condenados. S
9 entre os presos tinham recebido pena acima de 20 anos. Quase metade dos
mortos 51 presos tinha menos de 25 anos, e 35 presos tinham entre 29 e
30 anos. No dia do Massacre, 66% dos detentos recolhidos eram condenados
por assaltado, apenas 8% representavam homicdios. Os exames de balstica
sugerem a inteno premeditada de matar, o que nos faz crer que para o Poder
Pblico mais fcil colocar um fim no mundo criminoso, mesmo que de forma
ilegal e trgica, do que proporcionar meios que possam integrar esses jovens
de 25 anos sociedade.
2.6. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
Art. 37, 6 da Constituio Federal As pessoas jurdicas de direito pblico e as de direito privado prestadoras de servios pblicos respondero pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsvel nos casos de dolo ou culpa. A responsabilidade civil do Estado objetiva, no necessitando de culpa. Provado o fato, o dano e o nexo causal, surge o dever de indenizar. Art. 927 do Cdigo Civil (Lei N. 10.406, de janeiro de 2002) Aquele que, por ato ilcito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo. Pargrafo nico: Haver obrigao de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
2.6.1. ATO ILCITO
Art. 186 do Cdigo Civil (Lei N. 10.406, de janeiro de 2002) Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete o ato ilcito. Art. 187 do Cdigo Civil (Lei N. 10.406, de janeiro de 2002) Tambm comete ato ilcito o titular de um direito que, ao exerc-
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lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econmico ou social, pela boa-f ou pelos bons costumes. O ato ilcito traduz-se em um comportamento voluntrio que
transgrida um dever.
2.6.2. DANO
Dano consiste no prejuzo sofrido, seja ele individual ou coletivo, moral
ou material, econmico e no econmico, estando sempre presente a noo de
prejuzo.
2.6.3. NEXO CAUSAL
o que une a conduta ao dano. por meio do exame da relao
causal que se conclui quem foi o causador do dano. A responsabilidade
objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensar o nexo causal.
2.6.4. O DEVER DO ESTADO DE GUARDA DOS PRESOS
O preso, a partir da sua priso ou deteno submetido guarda, vigilncia e responsabilidade da autoridade policial, ou da administrao penitenciria, que assume o dever de guardar a vigilncia e se obrigar a tomar medidas tendentes preservao da integridade fsica daquele, protegendo-o de violncias contra ele praticadas, seja por partes de seus prprios agentes, seja por parte de companheiros de cela ou de outros reclusos com os quais mantm contato, ainda que espordico. 11
Assim, qualquer leso que esse preso sofra enquanto submetido s
imposies do regime prisional, seja de ordem material, fsica ou moral, por
ao dos agentes pblicos (toda pessoa que possui dever de exercer alguma
atividade em prol do Estado e das pessoas jurdicas componentes de sua
administrao) ou terceiros leva responsabilidade do Estado, no admitindo a
alegao de ausncia de culpa.
Sendo, a polcia militar a servio do Estado, como defensora e
protetora da sociedade, ou seja, cabendo a prestao de seus servios para
manter a ordem social e evitar catstrofes de tal teor, como a do Massacre, e
entre os cidados que a mesma deve proteger esto includos detentos
independente do crime que tenham eles cometidos, como pode esses mesmos
policiais, a quem a sociedade confia seu maior patrimnio, sua vida e
segurana, invadirem uma priso onde, por testemunhos de agentes
11 (STOCO, Rui, Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudncia, 7 ed.,
Revista dos Tribunais, 2007).
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penitencirios que estavam l no dia 2 de outubro de 1992, no havia rebelio,
apenas uma briga entre faces, disparando contra os presos a quem deviam
proteger e resguardar seus direitos fundamentais com metralhadoras, fuzis e
pistolas automticas, visando principalmente a cabea e o trax, o que nos
esclarecido por peritos a inteno de dolo. Alm de usar cachorros para atacar
os detentos feridos. Foram constatadas, nos 111 detentos mortos, sendo 103
vtimas de disparos, 515 balas ao todo, o que exclui a tese de legtima defesa
pelo nmero de projteis e o local atingido por cada um deles.
"Os presos foram agredidos gratuitamente pelos PMs. No havia
nenhuma ameaa por parte dos detentos", ressaltou Marco Antnio de Moura
em seu depoimento no Tribunal da Barra Funda em So Paulo, 15/04/2013.
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DIREITO CIVIL
Os presos que ajudavam a levar os corpos eram fuzilados tambm. As escadas descendo sangue e gua parecendo uma cascata (Moacir dos Santos,
diretor da diviso de segurana e disciplina do Carandiru).
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3. DIREITO CIVIL
3.1. DIREITOS DA PERSONALIDADE
Conforme dispe o art. 5. da Constituio da Repblica Federativa do
Brasil Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a
inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e
propriedade, nos termos seguintes.
Os Direitos da Personalidade previstos no art.11 do Cdigo Civil datado
de 10 de janeiro de 2002, tm como finalidade proteger a pessoa e seus bens
mais essenciais, sem qualquer distino, sendo estes direitos intransmissveis
e irrenunciveis, no podendo seu exerccio sofrer limitao voluntria, com
exceo aos casos previstos em lei.
Maria Helena Diniz, com apoio na lio de Limongi Frana, os
conceitua como:
Direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe prprio, ou seja, a sua integridade fsica (vida, alimentos, prprio corpo vivo ou morto); a sua integridade intelectual (liberdade de pensamento, autoria cientfica, artstica e literria); e a sua integridade moral (honra, recato, segredo profissional e domstico, identidade pessoal, familiar e social).
A Constituio Federal de 1988 preocupou-se em proteger a
personalidade, dando nfase aos aspectos da personalidade da existncia
humana, elencando direitos e garantias que se referem ao aspecto individual
quanto coletivo, alm de dar grande credibilidade ao princpio da dignidade da
pessoa humana como gerador da tutela de personalidade.
Aponta Guillermo Borba (1991, v.1:315) que, pela circunstncia de
estarem intimamente ligados pessoa humana, os direitos da personalidade
possuem as seguintes caractersticas:
(a) so inatos ou originrios porque se adquirem ao nascer,
independendo de qualquer vontade;
(b) so vitalcios, perenes ou perptuos, porque perduram por toda
vida. Alguns se refletem at mesmo aps a morte da pessoa. Pela mesma
razo so imprescritveis porque perduram enquanto existir a personalidade,
isto , a vida humana. Na verdade, transcendem a prpria vida, pois so
protegidos tambm aps o falecimento;
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(c) so inalienveis, ou mais propriamente, relativamente indisponveis,
porque, em princpio, esto fora do comrcio e no possuem valor econmico
imediato;
(d) so absolutos, devendo ser respeitados por todos erga omnes.
Os direitos da personalidade so, portanto, direitos subjetivos de
natureza privada.
O princpio constitucional da igualdade perante a lei a definio do conceito geral da personalidade como atributo natural da pessoa humana, sem distino de sexo, de condio de desenvolvimento fsico ou intelectual, sem gradao quanto origem ou a sua procedncia.12
Podemos entender como direitos da personalidade, aqueles
pertencentes tutela da pessoa humana, como a intimidade, a vida privada, a
imagem das pessoas, e o que elas presumem ser sua honra, tanto objetiva
como subjetiva.
Declarados pela Constituio Federal como direitos inviolveis e de
extrema importncia a dignidade e a integridade, para o bem estar e realizao
como pessoa em qualquer meio social que venha a conviver, assegurando
direito a indenizao por danos materiais ou morais decorrentes de tal violao.
Art. 5., X da Constituio da Repblica Federativa do Brasil So inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem da pessoa, assegurado o direito de indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao.
A personalidade identificada no ser, por isso, o mesmo deve gozar
da titularidade de tais direitos, no podendo ser considerado como objeto
qualquer e sem valor. Sintetizando, o indivduo abriga essa personalidade e
esse direito desde o seu nascimento, e leva consigo o direito vida, sade,
honra, liberdade, integridade moral e fsica, o direito ao nome prprio entre
outros inerentes a sua pessoa, no qual deve ser resguardada a proteo, seja
na ordem constitucional, administrativa, processual ou civil.
Os direitos primordiais da personalidade so indisponveis, como o
direito vida, integridade fsica e moral, o uso do nome, no podero ser
sonegados ou suprimidos de algum, mesmo em sentena penal.
12 (PEREIRA,Caio Mario da Silva, 2007, p. 240).
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O valor da integridade fsica de extrema importncia, uma vez que
compreende a sade individual. Os direitos individuais podem ser abarcados
como o respeito experimentado que garante a dignidade humana de qualquer
pessoa, em qualquer circunstncia que se encontre, sujeita a qualquer risco
que exponha sua defesa.
A pessoa quando lecionada fsica ou verbalmente, poder ter
prejudicada sua honra, imagem e reputao perante seu semelhante. O
sentimento ou conscincia de dignidade podem ser resumidos na qualidade
moral, que leva o indivduo a cumprir seus deveres perante a si e os demais,
representando boa reputao, mrito e virtude de acordo com a lei. J a honra,
o sentimento de dignidade que leva o homem a procurar merecer e manter a
considerao pblica.
[...] A glria deve ser conquistada, a honra, por sua vez, basta que no
seja prejudicada (AMARANTE, Aparecida, 1988, p. 55).
3.1.2. DIREITO VIDA, INTEGRIDADE FSICA, HONRA E A
DIGNIDADE
O direito da personalidade tem como objetivo garantir a integridade
fsica e psquica. Por muitas vezes, se no todas, este direito violado nas
penitencirias brasileiras, sendo a causa maior das rebelies, pois seres
humanos desejam ser tratados de forma digna.
A integridade humana um direito incondicional e absoluto, sendo
apresentada em nossa Constituio como principio fundamental, em seu Art.
1., III, a dignidade da pessoa humana.
A violao da integridade psquica est relacionada ao tratamento
desumano, dispensado aos detentos. Caracteriza-se pela tortura psicolgica,
humilhao, ameaas, palavras e frases degradantes, em sua maioria proferida
por autoridades que deveriam resguardar esses direitos, tais como agentes
penitencirios e policiais.
As indignidades de fala e ao exigidas do internado correspondem s indignidades de tratamento que outros lhe do. Os exemplos padronizados so aqui as profanaes verbais ou gestos: pessoas, equipe, dirigente e outros internados do ao indivduo nomes obscenos, podem xing-lo, indicar suas
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qualidades negativas, goz-lo, ou falar a respeito com outros internados como se no estivesse presente. 13
Em tese, o desrespeito aos direitos da personalidade do detento
incentiva e colabora para sua permanncia na criminalidade. O preconceito
social declara que por ser bandido, o indivduo perde todos seus direitos
dignidade e civilidade. Pensamento este refletido nas pssimas condies
que se encontram os detentos do nosso pas, jogados e esquecidos em celas
obscuras, o que faz com que eles esqueam que so seres humanos, trazendo
tona um resultado que no poderia ser diferente, onde ao invs de
ressocializar, o detido passa a nutrir um dio cada vez maior da sociedade.
Rousseau, j dizia, o homem nasceu puro, a sociedade que o
corrompe. Os presos precisam de ajuda, de respeito, apoio fsico e psquico
para terem esperana de recuperarem sua moral, sua dignidade.
notrio que as condies de deteno e priso no sistema carcerrio
brasileiro violam basicamente todos os direitos humanos, e que as autoridades
agem com descaso e praticam atos violentos contra os presos.
Art. 5., XLIX da Constituio da Repblica Federativa do Brasil assegurado aos presos o respeito integridade fsica e moral. Art. 41 da Lei de Execuo Penal (7.210/1984) - Constituem direitos do preso: I - alimentao suficiente e vesturio; II - atribuio de trabalho e sua remunerao; III - Previdncia Social; IV - constituio de peclio; V - proporcionalidade na distribuio do tempo para o trabalho, o descanso e a recreao; VI - exerccio das atividades profissionais, intelectuais, artsticas e desportivas anteriores, desde que compatveis com a execuo da pena; VII - assistncia material, sade, jurdica, educacional, social e religiosa; VIII - proteo contra qualquer forma de sensacionalismo; IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; X - visita do cnjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI - chamamento nominal; XII - igualdade de tratamento salvo quanto s exigncias da individualizao da pena; XIII - audincia especial com o diretor do estabelecimento; XIV - representao e petio a qualquer autoridade, em defesa de direito;
13 (GOFFMAN, Erving, Manicmios, Prises e Conventos, 7 ed., Ed. Perspectiva,
2001)
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XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondncia escrita, da leitura e de outros meios de informao que no comprometam a moral e os bons costumes.
O professor e filsofo Romualdo Flvio, assevera que nossas cadeias
so na verdade depsitos de presos com condies precrias, como a
superlotao, falta de higiene e a inexistncia de acompanhamento hospitalar
que acarreta na propagao de doenas. Os direitos bsicos relevantes
dignidade do detento so claramente ignorados, j que hoje podemos ver cerca
de 40 presos ocupando uma cela minscula que pode chegar a ter menos de
12 metros quadrados.
Sem as devidas condies que lhe garantam uma coexistncia digna, o
carter violento dos detentos pode desenvolver-se cada vez mais.
Segundo relatrio da Inter-American Commission Reports &
Documents citado por Romualdo Flavio, no que tange a situao dos direitos
humanos no Brasil, nos mostrado que muitos presos no recebem qualquer
assistncia quanto as suas necessidades bsicas, como alimentao (que na
maioria das vezes j chega ao preso estragada) e vesturios (o nmero
reduzido de peas muitas vezes faz com que o preso permanea com a roupa
suja e/ou molhada, o que pode ocasionar diversas doena como a pneumonia).
Alm disso, o devido acompanhamento mdico poderia evitar situaes de
maus tratos, espancamentos e os mais diversos tipos de violncia que ali
ocorrem contra os detentos, que comumente resulta em bito.
Se j no bastasse, quando uma pessoa privada de sua liberdade e mantida
sem qualquer ocupao, entra num complexo estado que faz com que seus
nicos pensamentos sejam voltados para planos de fuga, com tendncia a
ideias perigosas.
A falta de ocupao (emprego e educao) dentro das casas de
deteno acaba sendo fonte de criminalidade, tornando os presos, muitas
vezes, piores do que entraram.
Alm de ajeitar as celas, lavar corredores, limpar banheiros etc., os detentos precisam ter a chance de demonstrarem valores que, muitas vezes, encontram-se obscurecidos pelo estigma do crime. Existem casos de detentos que demonstram dotes artsticos, muitos deles se revelando excelentes pintores de quadros e painis de parede, alm de habilidades com esculturas, montagens, modelagens, marcenaria etc. Tambm, decoram as celas de acordo com sua criatividade e sua personalidade. Estas artes devem ser incentivadas, pois uma
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forma de ocupar o preso, distraindo-o e aumentando sua auto-estima. a chance de mostrar a ele de que existe a esperana de um amanh melhor alm das grades que o separam do mundo exterior.14
O Estado e a sociedade no deveriam permitir que os indivduos
encarcerados tivessem violados os direitos atribudos a sua personalidade
como pessoa humana.
14 . (DROPA, Romualdo Flvio. "DIREITOS HUMANOS NO BRASIL: EXCLUSO
DOS DETENTOS")
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DIREITO PENAL
Quem mata mais ladro ganha medalha de prmio! O ser humano descartvel no Brasil" (MC's, Racionais. Dirio de um detento).
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4. DIREITO PENAL
4.1. TEORIA DO CRIME
O crime pode ser conceituado como material, formal ou analtico.
O aspecto material aquele que busca estabelecer a essncia, o porqu
de determinado fato ser considerado crime e outro no. Dessa forma, crime
pode ser definido como todo fato humano que, com inteno ou falta de
cuidado, lesa ou expe a perigo bens jurdicos considerados fundamentais para
a existncia da coletividade e paz social.
No aspecto formal, considera-se infrao penal tudo aquilo que o
legislador descreve como tal. Crime qualquer ao legalmente punvel
(MAGGIORE, Giuseppe, Diritto penale, 5 ed. Bolonha, Nicola Zanelli, 1951,
v.1, p. 189). Crime toda ao ou omisso proibida pela lei sob ameaa de
pena (FRAGOSO, Heleno Cludio, Lies de direito penal: parte geral, 4 ed.
Rio de Janeiro, Forense, 1980, p. 148).
J o aspecto analtico aquele que busca estabelecer os elementos
estruturais do crime, com a finalidade de propiciar a correta e mais justa
deciso sobre a infrao penal e seu autor. Nesse ngulo, o crime todo fato
tpico e ilcito.
4.2. FATO TPICO
Para que possamos dizer que um fato concreto possui tipicidade
necessrio que ele esteja no modelo descrito e/ou previsto na lei penal, ou
seja, precisa existir uma adequao entre o fato concreto e o tipo penal. So
elementos do fato tpico:
- A conduta (ao ou omisso) dolosa ou culposa;
- O resultado (somente nos crimes materiais);
- A relao de causalidade ou nexo causal (somente nos crimes
materiais);
- A tipicidade.
Se o fato concreto no apresentar um desses elementos, no fato
tpico, portanto, no pode ser considerado crime.
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4.2.1. CONDUTA
Conduta a ao ou omisso humana consciente e dirigida
determinada finalidade (JESUS, Damsio de, p. 211). um comportamento
humano, no estando inclusos, portanto, os fatos naturais, do mundo animal e
os atos praticados pelas pessoas jurdicas. A conduta exige vontade do agente.
As formas de conduta so as de ao e omisso:
Ao: comportamento positivo, movimentao corprea, fazer.
Omisso: comportamento negativo, absteno de movimento, no fazer.
A teoria constitucional adotada pelo direito penal possui colocao de
dolo e culpa no fato tpico, igualmente a teoria finalista, acrescida do controle
material dos princpios constitucionais do direito penal sobre o contedo do fato
tpico.
O dolo vontade e a conscincia manifestada pela pessoa de realizar
a conduta. J a culpa, considerada um tipo aberto, pois abrange diversos
tipos de conduta, sendo ela o elemento normativo da mesma, necessrio
comparar cada caso concreto com as respectivas circunstncias envolvidas,
normalmente a culpa ligada imprudncia ou negligncia.
Os elementos da conduta so quatro:
- a vontade;
- a finalidade;
- a exteriorizao (inexiste enquanto enclausurada na mente);
- e a conscincia.
Esclarecendo, portanto o motivo pelo qual uma conduta poder ser
realizada somente pelas pessoas humanas, pois estas so as nicas dotadas
de vontade e conscincia para buscar uma finalidade.
A conduta basicamente a realizao material da vontade humana,
mediante prtica de um ou mais atos. J o ato apenas uma parte da conduta,
quando a mesma apresentada sob forma de ao.
Constituem elementos da conduta um ato de vontade dirigido a um fim e a manifestao dessa vontade (atuao), que abrange o aspecto psquico (campo intelectual derivado de comando cerebral) e o aspecto mecnico ou neuromuscular (movimento ou absteno de movimento). 15
15 (JESUS, Damsio de, p. 211).
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A voluntariedade no significa que a vontade seja livre, que se queira o
resultado. O ato voluntrio quando existe uma deciso por parte do agente.
A conduta voluntria, ainda quando a deciso do agente no tenha sido
tomada livremente, ou quando este a tome motivado por coao ou por
circunstncias extraordinrias, uma vez que isso se resolve no campo da
culpabilidade e no no da conduta, pois em ambas as situaes a conduta
sempre existir. Conduta no significa conduta livre (PIERANGELLI, Jos
Henrique, Conduta: pedra angular da teoria do delito, RT 573/318).
A vontade domina a conduta dolosa ou culposa. Na ao dolosa, a
voluntariedade alcana o resultado, j na culposa, a voluntariedade limita-se
causa do resultado.
A inexistncia de voluntariedade leva ausncia de conduta pela falta
de um dos seus elementos essenciais, vontade.
4.2.2. RESULTADO
No basta a conduta para que o crime exista, pois exigido o segundo
elemento do fato tpico, que o resultado, e pode ser definido como a
modificao no mundo exterior provocada pela conduta. O efeito natural da
ao que configura a conduta tpica, ou seja, o fato tipicamente relevante
produzido no mundo exterior pelo movimento corpreo do agente e a ele ligado
por relao de causalidade (FRAGOSO, Heleno Cludio).
O resultado pode ser fsico (dano, por exemplo), fisiolgico (leso,
morte) ou psicolgico (o temor no crime de ameaa, o sentimento do ofendido
na injria etc.) (JESUS, Damsio E. de).
4.2.3. NEXO CAUSAL OU RELAO DE CAUSALIDADE
Trata-se do elo entre a conduta do agente e o resultado, o qual
possibilita demonstrar se a conduta deu ou no causa ao resultado.
4.2.4. TIPICIDADE
O conceito de tipo pode ser expresso como um modelo criado pela lei
penal, onde descrito o crime e todos os seus elementos, de modo que as
pessoas saibam que s cometeram um delito, ao realizar uma conduta idntica
quela positivada, assim podemos levar em conta o princpio da legalidade,
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onde no h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia
cominao legal (Art. 5, XXXIX da Constituio Federal).
O tipo composto pelos seguintes elementos: ncleo, designado por
um verbo (matar, ofender, constranger, subtrair, expor, iludir etc.); referncias
ao sujeito ativo, em alguns casos (funcionrio pblico, me etc.); referncias ao
sujeito passivo (algum, recm-nascido etc.); objeto material (coisa alheia
mvel, documento etc.), que em alguns casos pode ser confundido com o
sujeito passivo (no homicdio, o elemento algum o objeto material e o
sujeito passivo); referncias ao lugar, tempo, ocasio, modo de execuo,
meios empregados e em alguns casos, o fim visado pelo agente.
Portanto, a tipicidade o enquadramento integral ou correspondente
conduta praticada no fato concreto, conforme constante na lei (tipo legal),
sendo assim para que se tenha um crime preciso que a conduta conste no
tipo legal.
4.3. ANTIJURICIDADE
A antijuridicidade possui alguns sinnimos para melhor compreenso,
so eles: ilicitude, ilegal e injusto. Alguns doutrinadores tambm se referem ao
termo como: justificantes, todos os termos possuem os mesmos significados,
que a justificao de um fato tpico, ou seja, quando o agente age em funo
de alguma causa, seja ela estado de necessidade, legitima defesa, estrito
cumprimento do dever legal ou exerccio regular do direito. E isso faz com que
o fato tpico seja excludo, no mais ilcito devido razo do ato praticado,
chamamos isso de: excludentes de ilicitude.
4.3.1. CAUSAS EXCLUDENTES OU JUSTIFICATIVAS
Art. 23 do Cdigo Penal - No h crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legtima defesa; III - em estrito cumprimento do dever legal ou no exerccio regular de direito.
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4.4. ESTADO DE NECESSIDADE
Art. 24 do Cdigo Penal - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que no provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito prprio ou alheio, cujo sacrifcio, nas circunstncias, no era razovel exigir-se. 1 - No pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. 2 - Embora seja razovel exigir-se o sacrifcio do direito ameaado, a pena poder ser reduzida de um a dois teros.
Para que se possa atestar a ao como estado de necessidade, so
necessrios alguns requisitos.
Primeiro requisito - Perigo.
Segundo requisito - Este perigo citado como primeiro requisito no
pode ter sido causado voluntariamente pelo prprio agente.
Terceiro requisito - O perigo deve ser atual, isto , agir no momento em
que est acontecendo.
Quarto requisito - Agir com proporcionalidade entre o bem sacrificado
do fato tpico e o bem que a pessoa est salvando.
Quinto requisito - um requisito subjetivo, agir com conscincia sob o
fato.
4.5. LEGTIMA DEFESA
Art. 25 do Cdigo Penal - Entende-se por legtima defesa, quem
usando moderadamente dos meios necessrios, repele injusta
agresso, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Para agir em legtima defesa, o agente passivo reage injusta
agresso atual ou eminente, usando brandamente os meios necessrios,
sempre em direito prprio ou de terceiros.
Existem quatro elementos para ser considerada legtima defesa:
Primeiro elemento - A agresso um elemento fundamental, pois para
que a pessoa possa se defender tem de estar sujeita a algum tipo de ao.
Exemplo: Um assalto.
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Segundo elemento - Agresso injusta, alm de ocorrer a agresso,
necessria que a mesma seja injusta. Exemplo: Um policial, com mandado de
priso, chega casa de X e o mesmo se recusa a acompanh-los e os policiais
usam de fora para que o acusado obedea ao mandado.
Terceiro elemento - Agresso atual ou eminente, isto , uma agresso
que est acontecendo ou est prestes a acontecer. Quem deve nos proteger
o Estado, mas se em uma situao de perigo ele no est presente para
garantir a segurana necessria, o mesmo no pode punir quem agir em
legtima defesa.
Quarto elemento - Proporcionalidade, o sujeito passivo no pode agir
com desproporcionalidade ao fato. Exemplo: Se X agride Y com um tapa no
rosto, este no poder dar trs tiros no agressor, pois ir agir
desproporcionalmente ao ocorrido.
Quinto elemento - Este elemento causa grande discusso entre os
doutrinadores, contudo segundo a corrente majoritria, o requisito subjetivo
agir com conscincia em legtima defesa. Exemplo: A mata B, logo em seguida
se tem notcia que B estava prestes a assaltar algum, A no poder alegar
que agiu em legtima defesa, pois sua inteno era matar B e no salvar a
pessoa que estava prestes a ser assaltada.
4.6. EXERCCIO REGULAR DE DIREITO
Quando uma ao juridicamente permitida, no poder ser proibida
pelo direito, sendo assim o exerccio de um direito, sempre que nos seus
devidos limites, no pode ser considerado antijurdico. Ento, qualquer pessoa
poder exercitar um direito ou vontade prevista em lei.
Por exemplo, um exerccio regular do direito a correo dos filhos
pelos pais, mas necessrio que se obedea aos limites legais para isso, que
no se ultrapasse aqueles j traados pela lei, ou haver abuso de direito,
excesso, no caso citado, podendo o pai responder por maus tratos quando
houver abuso nos meios de correo e disciplina (Art. 36, CP).
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4.7. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL
No Cdigo Penal est expresso quando a omisso penalmente
relevante e estabelece quais hipteses aquele que est sendo omisso deve
agir para evitar o resultado.
Art. 13, 2 do Cdigo Penal (Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940) A omisso penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigao de cuidado, proteo ou vigilncia; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrncia do resultado.
A primeira hiptese (alnea a) trata do dever decorrente da imposio
legal, do dever legal, ou seja, sempre que o agente tiver por lei, a obrigao de
cuidado, proteo e vigilncia para com os bens jurdicos. Na segunda hiptese
(alnea b), a lei abrange o dever procedente de uma manifestao voluntria,
por contrato ou no, aqui o dever jurdico no decorre da lei, mas de um
compromisso assumido por qualquer meio, nesse caso o omitente responder
pelo resultado, a no ser que este no lhe atribua dolo ou culpa, o que retira a
hiptese de crime, por ausncia de conduta. A terceira e ltima hiptese (alnea
c), chamada ingerncia na norma, ou comportamento anterior, onde o
sujeito com seu comportamento anterior ao resultado criou o risco para a
produo do mesmo.
Quem cumpre um dever legal, isto , toda e qualquer obrigao direta ou
indiretamente derivada por lei, dentro dos limites previstos no pratica crime a
no ser que dentro desta ao haja o excesso.
O poder ou dever de agir aquele que demonstra a quem se aplica a
obrigao jurdica de agir ou no ser omisso, impedindo o sujeito ativo de
cometer determinado ato.
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4.8. OBEDINCIA HIERRQUICA
Considerada uma das causas excludentes de culpabilidade, refere-se a
prtica do crime "em estrita obedincia ordem, no manifestamente ilegal, de
superior hierrquico".
Art. 22 do Cdigo Penal - Se o fato cometido sob coao irresistvel ou em estrita obedincia a ordem, no manifestamente ilegal, de superior hierrquico, s punvel o autor da coao ou da ordem.
exigido que a ordem no seja manifestamente ilegal, uma vez que, ao
se perceber a ilicitude da ordem, o sujeito no deve agir - "ordem absurda no
se cumpre". O subordinado tem a possibilidade de apreciar o carter da ordem,
inclusive quando de crime militar (art. 38, 2, do CPM, preconiza "se a ordem
do superior tem por objeto a prtica de ato manifestamente criminoso, ou h
excesso nos atos ou na forma da execuo, punvel tambm o inferior"),
ficando claro que no se deve obedecer a uma ordem quando observada sua
ilicitude. Damsio acentua que se h potencial conscincia de ilicitude da
ordem, o subordinado responde pelo delito.
Para que seja garantido o cumprimento da ordem, excluindo a
culpabilidade do subordinado, necessrio que a mesma:
- Seja emanada de autoridade competente;
- Tenha o agente atribuies para a prtica do ato; e
- No seja a ordem manifestamente ilegal.
No isento de culpabilidade aquele que obedecer ordem de
autoridade incompetente ou o que praticar a conduta fora de suas atribuies.
A lei alude apenas da subordinao hierrquica que de Direito
Administrativo, onde os funcionrios de menor graduao so subordinados
aos chefes, assim como os soldados em relao aos cabos e/ou sargentos,
etc., sendo excludas as relaes de pai para filho, religiosas, dentre outras.
E para que seja vista como causa excludente, necessrio que o agente
pratique o fato em estrita obedincia ordem, sendo responsabilizado aquele
que se excede na prtica do ato.
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4.9. EXCESSO DOLOSO E CULPOSO
Art. 23 do Cdigo Penal Pargrafo nico: o agente, em qualquer das hipteses deste artigo, responder pelo excesso doloso ou culposo.
Em todas as justificativas necessrio que o agente no exceda os
limites traados pela lei.
Excedendo-se o agente na conduta de preservar o bem jurdico,
responder por ilcito penal se atuou dolosa ou culposamente. Por exemplo, o
agente que podendo apenas ferir a vtima, acaba lhe causando a morte.
No que tange legtima defesa, pode-se afirmar que h excessos
quando o agente no faz uso moderado dos meios necessrios, os excede, ou
seja, percebendo a desproporo entre a ofensa e a reao se exclui a
hiptese de legtima defesa.
Em relao ao cumprimento do dever legal e exerccio regular de um
direito, indispensvel que o agente atue de acordo com o ordenamento
jurdico. Caso ocorra desnecessariamente dano maior que o permitido, as
causas excludentes de ilicitude sero desqualificadas, adquirindo o agente o
dever de responder pelas leses causadas.
O excesso considerado doloso quando o agente deseja um resultado
antijurdico desnecessrio e no autorizado por lei. culposo quando o agente
deseja um resultado proporcional, mas devido ao seu descuido acaba incidindo
um resultado excessivo.
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5. TESE DE ACUSAO
Conforme explanado anteriormente, a palavra Direito representa o
que reto, e est intimamente relacionada aos termos justo e justia, os quais
nos remetem ideia de respeito a igualdade entre todos os cidados.
A partir desse pressuposto, podemos afirmar que a invaso da Casa de
Deteno de So Paulo Carandiru, em 2 de outubro de 1992, por volta das
16h30, realizada por aproximadamente 300 policiais fortemente armados sob o
comando do Coronel Ubiratan Guimares, ignorou o significado da palavra
justia, resultando ao final de trinta minutos a execuo sumria de 111
detentos.
"Os presos foram acuados e executados dentro das suas prprias
celas sem chance de defesa, porque eles no estavam armados. No havia
qualquer vestgio de tiro contra os policiais" (Perito criminal Osvaldo Negrini
Neto).
importante pontuar que o Estado, o qual deveria garantir os direitos
fundamentais, por muitas vezes omisso, no que se refere aos aspectos
sociais e principalmente ao sistema prisional.
poca do ocorrido, o pas passava por mudanas econmicas,
sociais e polticas, como a adeso ao sistema do Estado Democrtico de
Direito e a elaborao de nova Constituio Federal.
O princpio da dignidade humana, presente na nova Carta Magna, foi
claramente ignorado, pois aqueles 111 detentos no foram vistos como seres
de direito e possuidores de dignidade, dignidade essa, elencada ao longo do
nosso artigo 5 da Constituio Federal, que defende todos os direitos acerca
da personalidade humana, como o direito vida, honra, integridade fsica,
entre outros.
O episdio do Carandiru evidenciou um sistema carcerrio precrio,
falido, alm do total despreparo da polcia e de um Estado omisso, incapaz de
controlar situaes complexas.
indiscutvel a necessidade da entrada da polcia para conter a
rebelio, era seu dever, conforme estabelece a responsabilidade civil do
Estado o policial por ser um agente pblico, se torna garantidor da integridade
fsica dos detentos.
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Como elenca Tatiana Merlino, da Redao do Brasil de Fato, o Coronel
Ubiratan Guimares estava no comando das tropas que invadiram o pavilho 9
da Casa de Deteno de So Paulo, o Carandiru. Para conter uma suposta
rebelio os policiais deixaram 111 mortos. Entre eles, 80% no tinham sido
condenados; a maioria estava presa por roubo, e aproximadamente metade
tinha menos de 25 anos de idade. A percia constatou que 86 presos foram
agredidos no chamado corredor polons e vrios detentos estavam
ajoelhados, ou mesmo deitados, quando foram mortos. Para escapar dos tiros,
muitos se jogaram entre as dezenas de corpos no cho, fingindo-se de mortos.
Apesar de existir desde 1984 uma estratgia militar de invaso da
Casa de Deteno o plano Boreal os oficiais no a puseram em prtica.
Ficou evidente que a situao era crtica e havia a necessidade da
polcia control-la, mas da terminar em 111 mortos no h nexo, como afirmou
o desembargador Fernando Antonio Torres Garcia em julgamento dos PMs.
Vale ressaltar que independentemente da retirada do Coronel Ubiratan
no incio da operao, por ter sido ferido aps uma exploso, ele j havia
ordenado a invaso, sendo assim, todos aqueles 300 policiais estavam
obedecendo suas ordens, o que no exime sua responsabilidade, podendo
citar o concurso de pessoas previsto no Cdigo Penal.
Art. 29. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)
1 - Se a parti