correio da manhà (transcrições)

51
CORREIO DA MANHÃ – TRANSCRIÇÕES 1903 – mar – 05 “Pingos e Respingos” 1903 – mar – 22 “Innocencia”, Arthur Azevedo 1904 – jul – 14 “Bibliotheca Nacional” – iluminação 1905 – set – 03 Deputado pesquisador 1913 – out – 01 “Um ladrão original” 1915 – abr – 11 “Pingos e respingos” Curso de biblioteconomia 1917 – jun – 06 “Pingos e Respingos” 1910 – jul- 12 1919 – jul – 13 “Pingos e Respingos” – Senado Federal na BN 1920 – fev – 07 Anúncio de emprego 1920 set 28 – Perversidade de desordeiro 1921 – dez – 10 O presidente da República visita uma exposição 1921 – jul – 07 “Pingos e Respingos” Iluminação da BN 1922 – fev – 27 Anúncio de carteira de eleitor perdida

Upload: felippe-spinetti

Post on 27-Oct-2015

29 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

CORREIO DA MANHÃ – TRANSCRIÇÕES

1903 – mar – 05 “Pingos e Respingos”

1903 – mar – 22 “Innocencia”, Arthur Azevedo

1904 – jul – 14 “Bibliotheca Nacional” – iluminação

1905 – set – 03 Deputado pesquisador

1913 – out – 01 “Um ladrão original”

1915 – abr – 11 “Pingos e respingos” Curso de biblioteconomia

1917 – jun – 06 “Pingos e Respingos”

1910 – jul- 12

1919 – jul – 13 “Pingos e Respingos” – Senado Federal na BN

1920 – fev – 07 Anúncio de emprego

1920 set 28 – Perversidade de desordeiro

1921 – dez – 10 O presidente da República visita uma exposição

1921 – jul – 07 “Pingos e Respingos” Iluminação da BN

1922 – fev – 27 Anúncio de carteira de eleitor perdida

1923 – jan – 09 BN e o problema da instrução popular

1924 – jul – 13 Para ler no Bonde

1924 – mai – 20 Fechamento para catalogação

1926 – jul – 03 Críticas ao atendimento na BN

1928 – jan – 25 “Já não bastava o cupim”

Page 2: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

1928 – mai – 11 “Para ler no Bonde. A Bibliotheca”.

1929 – dez – 01 “Leitura para cegos”

1929 – jan – 25 “Biblioteca para as moscas”

1930 – abr – 20 “Amor aos livros”

1930 – jul – 20 “Pingos e respingos”. Subtração de página de livro

1930 – mai – 17 “Fazer a Avenida”

1930 – mar – 07 Crítica – eleição de Júlio Prestes

1931 – abr – 02 Mau estado dos livros da BN

1932 – fev – 03 Embaraços aos leitores

1932 – jan – 02 Mau estado da BN

1934 – jul – 13 Críticas ao mau estado da BN

1935 – ago – 09 Pingos e Respingos

1935 – jun – 06 Queda do elevador da BN

1936 – abr – 15 Funcionário da BN exonerado por atividade subversiva

1936 – jan – 01 Furto de Livro

1936 – jan – 08 O abandono da Biblioteca

1936 – jun – 19 Repartições pobres – Livros Raros

1936 – mai – 17 O milagre de Xangô

1937 – abr – 10 Pingos e Respingos Mulheres, homens e futebol

1937 – ago – 17 Mau estado da BN

1937 – jan – 15 Pingos e respingos

1937 – jul – 08 Obras na BN

1937 – nov – 14 Livros para estudantes pobres

1938 – jan – 11 Funcionário da BN nas barcas

1938 – jan – 28 Livros de Anchieta na BN

Page 3: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

1938 – jan – 29 “Os setenta baús”

1938 – nov – 05 Um exemplo bem á vista

1939 – jun – 28 Entorno da BN – rua México

1939 – out – 15 Frequencia na BN

1939 – set – 13 A freqüência na BN

1950 set 12 Cidades e cemitérios de livros

1951 dez 16 Relógio perdido – anúncio

1952 – dez – 24 Lançamento dos Anais da BN

1952 nov 25 Pingos e Respingos

1952 – out – 21 Anatole France no Brasil

1952 – set – 07 Borboleta (I)

1952 – set – 09 Borboleta II

1952 – set – 11 Borboleta III

1953 – jun – 27 A BN e seus problemas

1953 – mar – 28 A Bibliografia de Machado de Assis

Page 4: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Períodico :Jornal do Commercio.

Título: “Pingos e Respingos” – ameaça de incêndio.

Autor: Cyrano & C.

Data: Quinta-feira, 5 de março de 1903.

Página: Capa

A Tribuna é o único jornal carioca que advoga a metamorphose do S. Pedro em livraria pública.

No fanatismo por essa idéa entoa o orgão: Não podemos continuar no edifício onde está a Bibliotheca Nacional,

ameaçada de ser destruída de uma hora pra outra por qualquer incêndio...Homessa! Então qualquer incêndio pode destruir a Bibliotheca Nacional?Ardeu a grande Ópera de Paris tem tem havido muito fogo no Sacco do Alferes,

e a Bibliotheca nunca foi queimada. ---

Título: Innocencia (crônica).

Autor: Arthur de Azevedo.

Data: Domingo, 22 de marco de 1903.

Página: Capa

Nos botequins da Rua do Ouvidor há, e sempre houve, um grupo de mocinhos desocupados, grupo que se renova de cinco em cinco anos, e para o qual não existe no domínio da litteratura e da arte, esforço alheio que mereça, não digo louvor, mas symphatía e respeito.

Esses críticos, ferozes e no emtanto inoffensivos, que ninguem sabe de onde surgiram, e um belo dia se somem sem deixar vestígio de sua passagem pelos ditos botequins, não perdoam a quem não os tome a sério, nem lhes tire o chapéu, nem se approxime deles.

Os pandegos não produzem nada, absolutamente nada; si têm talento escondem-no o mais que podem; mas para elles a publicação de um livro novo brasileiro, seja qual fôr, seja de quem fôr, é um crime desde que o autor não os conheça, e tenha já o dente do siso.

Domingos Olympio, que acaba de cometter a grave imprudência de dar à publicidade, sem os consultar, o seu magnífico romance Luzia Homem, deve estar com as orelhas quentes... Nenhum dos taes mocinhos leu esse romance nem nunca o lerá, mas estou certo que a sete horas, nenhum deixou de lhe dar, pelo menos, uma alfinetada ou um beliscão.

Entretanto, si meu illustre confrade resolver fazer parte do cenaculo, e pagar de vez em quando, o café ou o caldo de canna, será immediatamente proclamado um talento de primeiríssima ordem, embora seu romance continue a não ser lido por aquelle pessoal da arrella.

---

Page 5: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Há mais de vinte annos, alguns desses mocinhos, que naturalmente eram outros, mas parecem os mesmos sempre, tal qual os aprendizes marinheiros, estavam sentados em volta de uma mesa do café de Londres e, a proposito de Innocencia., um dos livros mais apreciados de nossa litteraturinha, diziam do autor o que Mafoma poupou do toucinho.

A discussão era animada, mas não calorosa, porque entre os circunstamtes havia uam unidade de vistas admiravel: para todos elles em geral e cada um em particular, o romancista era uma besta.

Um senhor de meia idade, que, sentado a outra mesa, saboreava lentamente o seu cafésinho, e ouvia com attenção e sorpresa, toda a aquella sequencia de vituperios, ergueu-se de repente, deixou o butequim, e voltou da rua dez minutos depois, trazendo uma brochura na mão.

Escragnolle Taunay continuava na sua medonha posição de cabeça de turco.O desconhecido sentou no mesmo lugar onde já estivera, pediu outra chícara de

café, e esperou pacientemente que o grupo debandasse.Esperou meia hora. Levantou-se afinal um dos críticos, precisamente o que mais

indignado parecia contra o romancista, e, despedindo-se dos companheiros sahiu, dizendo que ia dali à Bibliotheca Nacional consultar algumas obras, consulta que se tornava indispensável para a conclusão de um trabalho de fôlego que tinha entre as mãos. O homem da brochura sahiu também, e acompanhou-o, a certa distância, até o Largo de São Francisco, onde viu tomar um bond de Catumby.

Entrou no mesmo carro, sentou-se no mesmo banco que elle, e perguntou-lhe, sorrindo, com muita familiaridade:

- Então a Bibliotheca Nacional mudou-se para o Catumby?- Como? Perguntou, sorpreso, o terrível mocinho.- Sou capaz de apostar, volveu o outro, que você nunca entrou na Bibliotheca

Nacional.- Que tem o senhor com isso?- Sou também capaz de apostar que você nunxa leu a Innocencia.- Ora essa!- Eu estava no café de Londres e ouvi todos os improprerios que você e seus

amigos disseram desse romance que não leram.- Mas por que suppõe o senhor que não li?- Não supponho: tenho certeza. Vocês deram a língua durante uma hora, e

appenas provaram que estavam mettendo as botas num trabalho que não conheciam.O mocinho não respondeu.- Ora, como você parecia o mais intelligente do grupo...O mocinho sorriu.-... ou, pelo menos, o mais verboso, o mais eloqüente.O mocinho tornou a sorrir...-... acompanhei-o até cá para offerecer-lhe este exemplar da Innocencia, e pedir-

lhe que o leia, para depois julgal-o. - Perdão, mas...balbuciou o mocinho.- Não diga que leu, não insista nessa mentira...Mentir é tão feio! Vá para casa,

leia o romance, e trate de fazer justiça a Taunnay.Dizendo isto, o homem deixou a brochura sobre o banco, e apeou-se. O bond

seguiu.Dous dias depois o cavalheiro de meia edade e o mocinho se encontraram na

Rua do Ouvidor.

Page 6: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

- O senhor tinha toda razão: Innocência é uma bella obra, de uma simplicidade encantadora e eminentemente brasileira!

- Ainda bem! Agora, meu amiguinho, faça com que seus companheiros mudem também de opinião, e deixem de arrastar o pobre Taunay pela rua da Amargura.

- Não sei si o conseguirei. São uns animaes, e quando empacam... – Mas que romance! Que bucolismo!... O senhor lembra-se daquela descripção...?

O senhor interrompeu:- Não me lembro de nada! Pois eu tenho lá tempo de ler romances?- Que! Pois não leu Innocencia?- Certamente que não! Entrei n’um café, vi uma súcia (com perdão da palavra vi

uma súcia de meninos a dizer mal de um livro que visivelmente não conhecia, e quis dar uma lição a você, que da roda me pareceu mais esperto.

Do caso que ahi fica mal narrado, mo lembrei, por ter vindo agora a lume a nova edição de Innocencia.

Escragnolle Taunay foi um dos nossos homens de letras mais aboccanhados pelos críticos de botequim. Dizia-se que elle próprio dava consummo às suas sucessivas edições do seu famoso romance, e que o solicitava, quando não os escrevia, os louvores com que o exaltavam.

Agora que ele dorme o somno eterno, [ilegível], creio, essa calumnia, e mais uma vez, ficara provado que a morte é a melhor amiga dos brasileiros notáveis.

Título: “Bibliotheca Nacional”.

Autor: ---

Data: Quinta-feira, 14 de julho de 1904

Página: 4

Esta repartição inaugura hoje, em substituição a pequenas lâmpadas, a olluminação externa do edifício, fornecida por três poderosas lâmpadas de arco aberto para 30 ampéres, cada uma, com intensidade mínima de 1.800 velas e máxima de 1.250. No interior do prédio foi collocado um apparelho de resistência com interruptor e fusível.

As lâmpadas que são fabricadas pela firma Schuckert & C., de Nuremberg, Suissa, illuminarão, conforme a experiência da feita, toda a extensão do Largo da Lapa, produzindo bellissimo effeito.

São das mais possantes que existem nesta capital. O seu diâmetro é de 60 centímetros, mais ou menos.O dr. Manoel Cícero, diretor da Bibliotheca, fez acquisição das mesmas por

intermédio dos srs. Hanpt, Böhn & C., estabelecidos nesta praça.

Título: “Pingos e Respingos” – deputado pesquisador.

Autor: ---

Data: Domingo, 3 de setembro de 1905.

Page 7: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Página: Capa.

O pessoal da Bibliotheca Nacional foi sorprehendido hontem com a vinda do deputado Epaminondas Gracindo. S. a, entrou convencido, pediu o diccionario de Aulete e poz se a procurar uma palavra que não conseguiu encontrar depois de folhear o volume durante meia hora.

Graças a uma tira de papel encontrada sobre a mesa, puderam saber o que o parlamentar alagoano procurava a palavra – coligação.

Título: Um Ladrão Original – Foi Preso Hontem Um Indivíduo que Furtava Páginas dos Livros da Bibliotheca Nacional – No quarto do Rapinante Foi Encontrado um Bahú Cheio.

Autor: ---

Data: Quarta-feira, 1 de outubro de 1913

Página: 3

A Bibliotheca Nacional, há tempos, a certa hora do dia, tinha uma freqüência extraordinária.

Essa concorrência, na sua maioria, contava com estudantes de preparatórios ou acadêmicos e que aproveitando os intervallos das aulas iam consultar os livros didacticos ou matar o tempo, lendo bons livros.

Depois dessa concorrência foi rareando e hoje está bastante reduzida.E quando agora um rapaz convida o collega a ir à Bibliotheca é quase certa a

resposta:- Qual! Não vale a pena.- Porque?- Ora! Há uma porção de livros com falta de páginas...O outro se convence.A coisa chegou aos ouvidos do director do estabelecimento. Os emrpregados

passaram a exerceruma séria vigilância aos consultantes.Hontem, descobriu-se senão o único, ao menos um dos ladrões de paginas de

livros.Um empregado da Bibliotheca viu-o rasgar a página de um livro, deu o alarme, o

sujeito foi preso.Na delegacia, deu elle o nome de Maia Villacomdense e disse residir à rua Sete

de Setembro n. 37.Interrogado pela autoridade, Maia confessou que, de facto, havia arrancado

várias páginas de livros da Bibliotheca Nacional.Suspeitando o dr. Costa Ribeiro, delegado do 5º distrito, de que Maia tivesse

livros furtadoseem sua residência, para ali seguiu acompanhado de Maia e procedeu a uam rigorosa busca.

Com grande espanto da autoridade, ao ser aberta uma grande mala, foi esta encontrada repleta de páginas de livros.

Interrogando Maia a respeito da precedência dessas páginas, a autoridade obteve como resposta que ellas provinhas dos livros da Bibliotheca.

Essas paginas foram apprehendidas e evadas para a delegacia do 5º districto.

Page 8: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Maia foi recolhido ao xadrez.

Título: “Foi Hontem Inaugurado o Curso de Bibliotheconomia, na Bibliotheca Nacional”.

Autor: ---

Data: Domingo, 11 de abril de 1915.

Página: 3

Observação: Há uma imagem com algumas das personalidades presentes no evento, no início da reportagem. Em baixo da foto há a seguinte descrição:

“Um aspecto do salão da Bibliotheca, ao ser inaugurado o curso de bibliotheconomia. Em baixo, à esquerda, o dr. Constancio Alves, lendo seu discurso”.

---A Bibliotheca Nacional inaugurou hontem o seu curso de Bibliotheconomia.A reunião foi presidida pelo dr. Manoel Cícero Peregrino da Silva, director geral

daquella repartição, tendo aos lados os srs. Senador Ruy Barbosa, dr. Silva Ramos, os directores da secção dr. Aurélio Lopes de Souza e João Gomes do Rego e Alfredo Mariano, secretario da Bibliotheca.

No inicio da secção, o dr. Manoel Cícero convidou o secretário a proceder a leitura dos nomes dos matriculandos no curso e, em seguida, proferiu algumas phrases referentes aos cursos de bibliotheconomia, dando depois a palavra ao dr. Constancio Alves, director da 1ª secção, que inaugurou as aulas, fazendo uma apreciada e correcta exposição sobre “A funcção do bibliothecario”.

O orador explicou como se póde tornar um bom bibliothecario e adquirir osto pelos livros e pella ordem de sua collocação. Contou diversos casos de pessoas que não tinham o mínimo cuidado com os livros, citando Chateaubriand, entre estas e, falando sobre outras que tinha por elles desvelos, referiu-se ao dr. Ruy Barbosa.

A conferência do dr. Constancio Alves sobre o seu programma de bibliographia, deixou ao auditório, que attenciosamente o ouvia, uma boa impressão.

Além de muitas famílias e cavalheiros estiveram presentes à reunião todos os alumnos matriculados no curso de Bibliotheconomia.

O programma de bibliographia, organizado pelo orador, é o seguinte:I – O livro na antiguidade; 2 – O livro na edade média; 3 – a invenção da

imprensa. Transição do livro manuscripto para o impresso; 4 – Typographia. Composição e impressão; 5 – Encadernação; 6 – O papel. História e fabricação; 7 – Impressores e editores celebres; 8 – Encadernadores celebres; 9 – Commercio de livros; 10 – Incunabulos. Livros raros e preciosos; 11 - Ornamentação do livro impresso. A illustração. O ex libris; 12 – Características dos livros antigos e modernos. Falsificações bibliographicas; 13 – O livro moderno. Editores e escriptores; 14 – Bibliographos, bibliophilos, bibliomaniacos. Suas variedades. Curiosidades bibliographicas; 15 – O jornal. A revista. O avulso; 16 – Classificação. Systemas principaes; 17 – Classificação decimal. . Suas modificações; 18 – O formato dos livros; 19 – A catalogação. Catálogos. A ficha. Arrumação dos livros e preparo para catalogação; 20 – O catalogo. Fontes de informação. Repertórios; 21 – Conservação e restauração de livros. Causas do seu

Page 9: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

estrago e destruição; 22 – A imprensa no Brasil. Livros e jornaes. Impressores e editores. Livreiros. Alfarrabistas. Boletim bibliographico. Bibliographia nacional. Fontes de informação.

II – A Bibliotheca – 23. – Bibliothecas. Historia. Bibliothecas na antiguidade e nos tempos modernos. 24. – Construcção das bibliothecas modernas. Local. Edifício. Salas de deposito, de consulta pública e de trabalho dos empregados. Illuminação. 25. – Mobiliaria especial das bibliothecas. 26. – A Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro. Fundação e phases de seu desenvolvimento.

III. – A Administração – 27. – Pessoal. Estudos geraes e estudos technicos. Exames e concursos. Distribução do serviço. Horas de trabalho. Concursos bibliographicos. Annaes e outras publicações.

28. – Secretaria e archivo. Correspondência Official. Escripturação. Contablidade. Orçamento. Legislação. Regulamentos.

29. – Direitos autoraes. Serviço de permutações internacionaes. Serviço de informações. Empréstimo domiciliar. Acquisição e remessa de livros, manuscriptos, estampas e peças numismáticas para as secções. Officinas graphicas.

30. – Bibliothecas publicas e especiaes, universitárias e populares. Organização.Esse programma, bem como os de paleographia, diplomática, iconographia e

numismática, foi distribuído, impresso, às pessoas presentes.A conferência terminou às 10 horas da noite, sendo o orador saudado pelos

assistentes.

Título: “Pingos e Respingos” – morosidade nos serviços.

Autor: Cyrano & C.

Data: Quarta-feira, 6 de junho de 1917.

Página: Capa

Registra um vespertino a queixa do tenente O’Reilly que, tendo ido à Bibliotheca Nacional consultar um livro, esperou por elle três quartos de hora, sem sucesso.

Ora, com três quartos e o frio que faz, o tenente O’Reilly devia ter pedido um Oreillev...

Título: ---

Autor: ---

Data: Terça-feira, 12 de julho de 1910.

Página: Capa.

Há muito tempo estamos assistindo a um curioso espetáculo: a Bibliotheca Nacional, de portas fechadas, à espera que o sr. Nilo Peçanha, com honra da sua visita de instalação do novo edifício, favoreça o povo carioca com o dignus est entrare.

Page 10: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Entre os frequentadores da Bibliotheca muitos não passam de pessoas que ali vão matar o dia, com a leitura dos jornaes diários e de romances de fancaria; mas, além destes, há muita gente estudiosa, para quem o fechamento da Bibliotheca, meses e meses seguidos, constitue um damno irreparável.

Parece que, para o governo desta feliz terra, os elementos constitutivos d’uma bibliotheca pública são dois: primeiro, um bello edifício, que tenha custado alguns milhares de centos e que assombre os estrangeiros...por fora: segundo, uma coleção de livros que já esteve e dia... no amno de 1870. Para que leitores? Poupa-se-lhes assim o trabalho de irem até lá procurar obras que na Bibliotheca não se encontram, quase todas as obras de valer dos escriptores contemporâneos.

Si este é o pensamento do governo, não insistiremos mais nesta questão. Ao contrário, louvar-lhe-emos o develo com que procura evitar ao publico massadas, contrariedades e perda de tempo.

Título: Pingos & Respingos

Autor: Cyrano & C.

Data: Domingo, 13 de julho de 1919.

Página: 2.

O Senado vai ter novo prédio, no mesmo local.Enquanto durar a construcção, é quase certo que as suas sessões se realizem na

Bibliotheca Nacional. Na Bibliotheca Nacional! Mas que ironia do destino.

Título: Classificados (Anúncio)

Autor: ---

Data: Sabbado, 7 de fevereiro de 1920.

Página: 9.

Precisam-se dois serralheiros para construcção de ferro, nas obras do Conselho Municipal, frente à Bibliotheca Nacional. (F 29832) D.

Título: “Peversidade de desordeiro”.

Autor: ---

Data: Terça-feira, 28 de setembro de 1920.Página: 4.

Pouco antes de duas horas da manhã de hoje, notou o vigia que um individuo galgava a grade da Bibliotheca Nacional, lado da Avenida, e deu o alarme. O individuo procurou fugir, e, detido pelo vigia e por um policial, allegou que ali entrára para

Page 11: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

dormir. Na occasião, porém, era conduzido para fora, o bandido sacou um punhal e feriu gravemente o vigia, com um golpe na região thoraxica.

O infeliz, que reside à rua Oito de Dezembro n. 135, foi socorrido pela Assistência e em grave estado removido para a Santa Casa. O seu agresso é o desordeiro e vagabundo Leonel Teixeira Freitas, preto e que foi autuado no 5º districto.

Título: Na Bibliotheca. O presidente da Republica visitou uma exposição.

Autor: ---

Data: Sabbado, 10 de dezembro de 1921

Página: 12

Em companhia do capitão de mar e guerra Raphael Brusque e do major Cunha Pitta, o presidente da Republica visitou hontem à tarde , a exposição do pinto paraense Theodoro Braga, instalada na Bibliotheca Nacional.

O certâmen compõe-se de mapas do Pará e dos municípios, de originaes de geografia e de historia desse Estado e de outros motivos históricos. Sobresae um grande quadro, intitulado Padre Antonio Vieira.

Receberam s. ex., além do artista distinguido com a visita, o dr. Manoel Cicero, diretor da Bibliotheca, e os membros da comissão do Centenario que ali trabalham.

O presidente da Republica examinou demoradamente todas as telas, troca idéas com o pintor, a quem s. ex. felicitou ao retirar-se.

Título: Pingos & Respingos – problema na iluminação.

Autor: Cyrano & C.

Data: Terça-feira, 7 de julho de 1921.

Página: 2.

Alguns frequentadores nocturnos do salão de leitura da Bibliotheca Nacional queixam-se da Light, que os deixa às escuras.

Explica-se o caso. A Light tem umas velhas turras com os estudantes e dahi divertir-se com aquelles que estudam... fóra de casa.

Título: --- (anúncio)

Autor: ---

Data: Segunda-feira, 7 de julho de 1921.

Página: 4.

Page 12: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Perdeu-se no dia 22, na Avenida da Central, carteira de eleitor de Americo Rodrigues da Silva. Será gratificado quem entregar na Bibliotheca Nacional. (M 23844) Q

Título: ---

Autor: ---

Data: Terça-feira, 9 de Janeiro de 1923.

Página: 2.

Varios paizes da America estão empenhados na obra de ampliar a instrucção para do povo. Para isso cogitam não somente abrir escolas, mas também fundar bibliotecas populares em grande escala. Nesses estabelecimentos, todas as classes sociaes, as mais ricas e as mais humildes, encontram as obras compatíveis ao seu grão de cultura e à sua mentalidade.

Nós poderíamos fazer o mesmo, no Brasil, arguirão os defensores da nossa instrução popular. Essa afirmativa, porém, deve ser mais seriamente examinada. Em primeiro logar, possuindo uma percentagem tão extensa de analfabetos, como possuímos, as nossas bobliothecas [bibliotecas] populares pouco menos seriam que inúteis: para que realmente, taes bibliotecas, se 80% do povo não sabe ler os livros lá guardados?

Depois há outro argumento: a insana dificuldade de se conseguir um livro, em nossos salões de leitura. Essa dificuldade é de tal ordem que já levou um cidadão humorista affirmar o seguinte: - que o melhor salão de somno do Rio é a Bibliotheca Nacional. Se assim é, para que comdemnar a tal supplicio os pobres homens do povo? Não será uma fórma de incompatibilizal-os definitivamente com os livros de estudos?

É preciso que recebamos uma inspiração do céo, para que consigamos resolver o grave problema da nossa instrucção popular.

Título: “Para ler no bonde – O Gosto da Moda”.

Autor: Abat- Jour

Data: Domingo, 13 de julho de 1924.

Página: 2

Causou uma certa surpresa, em casa do meu amigo visconde de Matto Bravo, a noticia de que durante o mez de junho findo, à Bibliotheca Nacional, só um consulente havia apparecido para ler um volume da Historia do Brasil. E este, ao que se desconfiava, era um professor alemão, residente nesta capital.

Trocámos idéas a respeito. A senhora viscondessa achava o meio um tanto egoísta e indiferente, apegado, apenas, ao terra-à-terra da vida. Repugnava-lhe o mercantilismo dos modernos. O senhor visconde, portuguez à antiga, miguelista por temperamento e admirador das glorias do seu paiz, iaum pouco além, animado com a conversa. Varão de sessenta anos, os cabelos brancos e as suissas brancas armando-lhe a cabeça e a face de uma singular austeridade, dir-se-ia que ali estava, reencarnada, a

Page 13: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

alma de algum remoto brigadeiro comtemporaneo do marquez de Pombal. Falava grosso, esmurrava a mesa e queiva-se da gôta. No fundo, um excellente homem...

- É o que lhes digo, repisava ele. Que é que sabemos dos nossos maiores? Quem se lembra de um Vasco da Gama, e de um Affonso d’Albuquerque? Aqui mesmo quem se recorda de um Vidal de Negreiros, de um Henrique Dias, de um José Clemente Pereira? Ninguém. Anda tudo com a memoria chumbada. Não se lê nada das nossas tradições; alega-se até que ellas cheiram a mofo!

Foi, então, que Mlle. Joanninha, a encantadora filha do fidalgo casal, vinte annos desabrochando numa papoula maravilhosa, primeiro pr}emio de tango e fox-trot do Fluminense e discurse laureada do Curso Valois, interveiu, interrompendo o pae:

- Para que me servem essas múmias dos outros séculos? Que me interessam as chronicas dos que já se foram? Tudo isso é bolorento. Há dias, num chá do Palace, indagando de um rapaz do football, o que significava essa coisa de Confederação do Equador, ele me explicou que foi uam guerra entre o Chile e o Perú. Velharias insipidas!

E sorvendo o góle de chá, Mlle. Concluiu, nos fazendo calar:- Prefiro que me falem de Rodolpho Valentino, de Rmon Navarro, de Thómas

Meighan ou de Milton Sills. Divertem e seduzem...Felicitei-a, curvando-me respeitosamente.

Título: ---

Autor: ---

Data: Terça-feira, 20 de maio de 1924.

Página: 4

Deverá ser fechada, em outubro ou novembro próximo, para um serviço geral de catalogação, a Bibliotheca Nacional. Em dezembro, será a mesma reaberta, com os seus livros nos logares e os seus serviçoes, todos, normalizados.

É crença geral no Brasil que a nossa Bibliotheca é uma das maiores do mundo. E, no entanto, o seu logar é, quase, o 50º, se não ficar, ainda, abaixo, em uma classificação rigorosa. Basta dizer que temos, apenas, 500.000 volumes quando a de Paris tem 3.500.000, a de Washington 2.918.000, a de Nova York 2.637.000, a do British Museum, de Londres, 2.500.000, a da Universidade de Cambridge 2.101.000, a de Gravenhage.....2.000.000, a de Berlim 1.750.000, a de Munich, 1.350. 000; e assim por deante. Seis ou oito cidades dos Estados Unidos têm bibliotecas mais ricas que as nossas.

É verdade que nós possuímos, mais por uma casualidade do que por esforço, alguns exemplares preciosos. Vieram elles às nossas mãos por doação, por herança, jámais por acquisição. Que governo destinaria cincoenta contos à compra da Biblia, ou duzentos, à de um manuscripto de Christovão Colombo?

Consolemo-nos, entretanto, com a idéa de termos, um dia, um estabelecimento modelar, e, quiçá, o primeiro desta parte do continente. Se nos faltar quem leia os livros, sobre-nos o orgulho de ter muito livro pra ler.

Título: ---

Page 14: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Autor: ---

Data: Terça-feira, 3 de julho de 1926.

Página: 4Desde outubro de 1924, está defesa a quem quer que seja na Bibliotheca

Nacional, “a consulta de periódicos, que somente serão postos à disposição do publico depois da respectiva encardenação”, consoante ordem textual.

Ora, como tudo na Bibliotheca Nacional é feito com morosidade e tardiamente, em virtude de sua verba deficiente e do seu pessoal reduzidíssimo, não se justifica facilmente o abuso da singularíssima determinação. Se esta, em face do silencio forçado que atravessamos se lmitasse tão somente aos periódicos de caracter político, nada teríamos a objectar; mas abrange a tudo, mesmo até as publicações de feição educativa, literária, scientificas etc.

Num paiz, como o nosso, onde infelizmente ainda se lê tão pouco é de causar os mais ponderados reparos que a Bibliotheca Nacional esteja fugindo à sua integral finalidade...Um absurdo, na verde.

Título: “Já não bastava o cupim para destruir a maior bibliotheca da America do Sul – a grande cúpula central do edifio ameaça ruinas!”

Autor: ---

Data: Quarta-feira, 25 de janeiro de 1928.

Página: 3.

Observação: Foto da fachada da BN com a legenda – “A parte central do edifício da Bibliotheca Nacional, vendo-se no alto a parte externa da cupola principal”.

Por volta de 1 hora da tarde, hontem, pela ocasião de maior movimento na sala principal de leitura da Bibliotheca Nacional, vários vidros da cúpula-mór do edifício, desprendendo-se foram cair, numa saraivada furiosa sobre o grupo de leitores ali reunidos.

Por uma felicidade enorme, três vidros de uma espessura de quase uma polegada, não attingiram senão os moveis, inutilizando muitos delles.

O maior bloco caiu sobre a mesa de onde, justo naquelle momento se levantara o sr. Walfrido dos Santos, morador à rua das Larangeiras n. 148, que escapou milagrosamente de perecer esmagado.

Um nosso companheiro de redaacção, actualmente em diárias consultas naquella casa, quasi foi attingido por um estilhaço;

Segundo sabemos o actual director da Bibliotheca, há mais de seis annos vem pedindo ao governo providências sobre a referida cúpula, colocada justamente sobre a mais concorrida das salas de leitura onde por vezes se reúnem para mais de cem pessoas.

Peor que a referida sala de leitura, segundo ainda fomos informados, estão os salões onde funccionava a Camara, fechados ao expediente da Bibliotheca – e o que é mais interessante – não entregues até hoje, ao actual director, o sr. Mario Bhering!...

Page 15: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Já não bastavam as traças que nestes dois últimos annos devem ter devorado para mais de 100.000 volumes de nossa maior bibliotheca: era necessário que sobre a cabeça dos leitores e funccionários da casa desabasse os vitraux...

Positivmente a Republica é madrasta dos letrados.

Título: “Para ler no bonde – A Bibliotheca”

Autor: Os olhos de Napoleão

Data: Terça-feira, 3 de julho de 1926.

Página: 2.

Na avenida, em frente à Bibliotheca. A porta de uma casa de cartões postaes. Um cavalheiro dirige-se ao dono do negócio.

- O sr. póde me indicar onde fica a Bibliotheca Nacional?- Pois não. É ali.- Se não fosse abusar da sua bondade, eu podia merecer a fineza de emprestar-

me um lápis?- Pois não. Está aqui esta lapiseira ao seu dispôr. Como, porém, é objecto de

estimação, peço que m’a restitua ao voltar. Não se demora, não é assim?- Não senhor. É um instantinho. Vou ali copiar. O noivado do sepulchro e já

volto. É questão de meia hora.Trinta annos depois volta o cavalheiro, com a barba grande, o cabello crescido,

trôpego. Dirige-se à casa dos cartões postaes e não a encontrando entra num bar. Fala ao primeiro homem que encontra.

- Foi o senhor o cavalheiro amável que me emprestou esta lapiseira?- Não, senhor. Mas, por que?-Porque há pouco eu pedi a um homem gentil que me cedesse um lápis e elle...- Emprestou-lhe essa lapiseira. E, como era o typo desse homem!- Alto, cheio de corpo, calvo.- Ah! Já sei. Coitado!- Coitado!- Sim! Morreu de uma apoplexia, há 30 annos!- Há 30 annos? Não é possível! Pois eu entrei na Bibliotheca Nacional para

copiar O noivado do sepulchro!...- E copiou!- Não copiei, não senhor. O chefe me disse que voltasse amanhã, porque hoje é

ponto facultativo e o pessoa tinha ficado em casa.

Título: “Na Bibliotheca Nacional – Leitura para cegos”

Autor: ---

Data: Domingo, 1 de dezembro de 1929.

Página: 6.

Page 16: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Os cegos que não dispõem actualmente de uma bibliotheca onde possam passar algumas horas entregues ao prazer da leitura, a não ser no Instituto Benjamin Constant, situado em local afastado da cidade, encontrarão dentro de pouco tempo, na Bibliotheca Nacional, uma colleção de livros no systema Braille, que lhes depertará interesse. Os livros que muito breve aquelles que são privados da visão poderão ter ao seu alcance, foram generosamente doados à Bibliotheca Nacional pela viscondessa de Cavalcante, brasileira por todos os títulos illustre, residente na Europa, e que há longo tempo vem dedicando o mlehor do seu esforço à causa dos cegos. O serviço que a actual administração da Bibliotheca Nacional pretende ultimar merece, sem duvida, a sympathia de todos os que se interessam pelos mais improtantes problemas sociaes do nosso paiz, e tem a recommendar os elevados dotes de espirito e de coração da illustre brasileira que, embora afastada da patria, teve sua attenção despertada pela situação dos nossos patrícios cegos. Sabedoria da possibilidade de ser creada na Bibliotheca Nacional, uma colleção Braille destinada aos cegos, nos moldes das existentesem Paris, Berlim e Nova York, a respeitavel senhora remetteu cerca de 80 livros, em francez, para inicio da referida colleção, prometendo de futuro enviar obras de escriptores brasileiros, editadas à sua custa, onde figurarão trabalhos de Constâncio Alves, Magalhães de Azevedo e Catullo Cearense.

Creada a colleção Braille um numero reduzido de livro, certamente progredirá pois não faltarão pessoas caridosas e de boa vontade que queiram empregar uma parte de seu tempo em uma tão util obra, procurando seguir o exemplo altamente dignificante da viscondessa de Cavalcante.

Título: “Bibliotheca para as moscas”

Autor: ---

Data: Sexta-feira, 25 de janeiro de 1929.

Página: 4.Causou justo espanto, ao sr. Mario Bouchardet Junior, o facto que com elle se

passou na Bibliotheca Nacional. Indo aquelle estabelecimento, visital-o , começou a percorrer suas diversas dependências pela seção de cartographia, onde o visitante examinou alguns livros e dispunha-se a percorrer as outras dependências, quando lhe advertiu o guarda que só com licença do director poderia fazel-o, mas como esse fosse inacessível, na sua condição de funccionario graduado, dirigiu-se ao seu secretario que o dissuadiu do propósito que levava, pois não havia, na casa, nenhum funccionario que o acompanhasse...

Essa ausência de empregados, na Bibliotheca Nacional, parece que é al quotidiana. Soubemos, também, de um cavalheiros, que lá comparecendo, outro dia, para consultar uma colleção antiga do Correio da Manhã, foi advertido que, não havendo ascensoristas para conduzir os elevadores, e sendo volumosas e pesadas as collecções encadernadas de jornaes, teria de esperar outro dia para satisfazer a sua curiosidade.

Assim, pelo que se vê, andam as coisas a matroca na Bibliotheca Nacional.

Título: “Reforma em Perspectiva – Amor aos Livros”

Autor: ---

Page 17: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Data: Domingo, 20 de abril de 1930.

Página: [ilegível].

O papa Pio XI, que foi durante muito tempo, antes de ser elevado ao Supremo Pontificado, bibliothecario do Vaticano, dedica especial carinho aos milhares de livros e documentos ali guardados. Avalia-se em sesseta mil o número de manuscriptos dessas collecções, sendo superior a quinhentos mil os livros raros e dignos de attenção. Toda essa riqueza, porém, estava ameaçada pela humanidade, pelos bichos, etc... Por isso o chefe da Egreja Catholica contratou technicos americanos – os Estados Unidos estão positivamente na moda! – a construcção e a installação das novas bibliothecas do Vaticano.

Ora, quando se ouve falar em livros e se vêem demonstraões de amor a elles, é lícito lembrar o que se passa com nossa bella Bibliotheca Nacional que sem ter a riqueza da do Vaticano, muito serviria para a diffusão da cultura nacional, se ao bom aspecto externo daquelle estabelecimento correspondesse a ordem interna, o carinho no trato dos impressosque existem dentro daquelle edifício. Sem ordem, uma bbliotheca constitue coisa supérflua e inútil.

 Título: “Pingos & Respingos – roubo de páginas”

Autor: Cyrano & Cia.

Data: Domingo, 20 de julho de 1930.

Página: 2.

Um preparatoriano que costumava ir estudar na Bibliotheca Nacional foi preso quando procurava subtrair folhas de um livro de História Natural.- Ah! Está a inconveniência de ser-me applicado! Ponderou, ao ler a notícia, um preparatoriano vadio.

Título: “A Avenida”.

Autor: ---

Data: Sabbado, 17 de maio de 1930.

Página: 3.

“Fazer a Avenida” já é uma phrase habitual das elegantes cariocas.A avenida é a rua mas “chic” do Rio.Nella é que há o “footing” mais selecto da capital do paiz.O seu movimento anto de vehículos no asphalto como de pedestres, nas calçadas

é intensíssimo, principalmente à tarde.

Page 18: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

A Avenida tem as casas comerciaes mais importantes do Rio, os “arranha-céos” mais elevados, os prédios mais sumntuosos e os cinemas mais modernos e freqüentados de todo o Rio.

Funccionam de meio-dia à meia-noite na Avenida, nada menos de dez cinemas, quase todos falados. Nella se vêem quatro grandes hotele e os edifícios do Senado Federal, do Conselho Municipal, além do Club Militar, do Club Naval, do Lyceo, da Associação dos Empregados no Commercio, Bibliotheca Nacional, Club de Engenharia e muito muitos outros.

A Avenida possue uma historia pouco curiosa, porque é, relativamvente, de recente construcção.

Abriu-a o senador Paulo de Frontin.As obras de sua construcção duraram de 1904 a 1906;Tem, portanto, 24 annos de edade.Chamou-se Avenida Cenral e hoje é conhecida como Avenida Rio Branco ou,

simplesmente, “Avenida”.

Título: “A Faixa da Bibliotheca”.

Autor: ---

Data: Sexta-feira, 7 de março de 1930.

Página: 4.

Desde há dias tem produzido escândalo a grande faixa branca, com caracteres negros bem fortes, que a Bibliotheca Nacional exhibe ao longo de suas janellas do centro, annunciando ao povo que o sr. “Julio Prestes venceu”...

O facto não pôde passar sem registr de estranhesa. A Bibliotheca é uma repartição pública que não tem nada que ver com a política nem com as competições partidárias. Mesma quando não houvesse a menor sombra de dúvidas sobre a victoria do sr. Julio Prestes, ella não devia fazer uma coisa tão aberrante de todas as normas e do bom senso.

É profundamente lamentável que o sr. Mario Bhering tivesse consentido na collocação daquella faixa facciosa. S isso pôde agradar, problematicamente, ao governo, o que aliás colloca muito mal o director da Bibliotheca...Título: “As collecções da Bibliotheca Nacional”.

Autor: ---

Data: Quinta-feira 2 de abril de 1931.

Página: 4.

Os frequentadores da Bibliotheca Nacional estão alarmados com o estado de seus livros. De varios delles recebemos informações preciosas, em que relatam que por vezes chamaram a attenção do encarregado da sala ed leitura para o grande numero de traças vivas em livros que lhes eram fornecidos para consulta.

Page 19: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Apezar disso, a obra voltava para a estante, sem a menor desinfeccção recebendo o funccionário com enfado, a denuncia, como se ella fosse uma impertinência do consulente.

A Bibliotheca fecha 30 dias por anno “para limpeza das collecções”, mas ao que parece esses dias valem como se fosse de férias, porque as desinfecção ou não se faz ou se realiza apenas num pequeno grupo de estantes.

O sr. Francisco Campos tem fama de ser amigo de livros. Dê disso uma prova zelando e fazendo zelar o riquíssimo patrimonio da nossa Bibliotheca Nacional.

Título: “Com A Bibliotheca Naciona – Os embaraços que estão sendo oppostos aos leitores”.

Autor: ---

Data: Quarta-feira, 3 de fevereiro de 1932.

Página: 7.

A adopção do registro forçado dos consultantes da Bibliotheca Nacional está levantando protestos.

Allega-se que a medida é para evitar que os livros sejam damnificados por vandalos e malfeitores, mas isso seria impedido se a Bibliotheca exercesse a fiscalização que é do seu dever. Há necessidades urgentes de consultas à Bibliotheca que vão ser prejudicadas pela medidad de exigência de carteira de identidade, comprovante de residência, etc.

Sem essas providências que fecham as portas da Bibliotheca aos estudiosos e aquelles que della carecem para resolução de duvidas urgentes, o estabelecimento tem vivido com as suas collecções preciosas a salvo de damnificações.

O que se pretende, impedindo o livre accesso do publico, é suprimir o serviço de fiscalização que não póde ser posto à margem num estabelecimento daquella especialidade.

Título: “A Bibliotheca Nacional”.

Autor: ---

Data: Sabbado,2 de janeiro de 1932.

Página: 4.

Nenhuma repartição está a reclamar maior atttenção do governo do que a Bibliotheca Nacional onde existe um verdadeiro thesouro de preciosidades. A sua organização actual é falha e não corresponde a sua importancia. Possuimos collecções riquíssimas, obras raríssimas, documentos valiosíssimos, cuja conservação se deve principalmente ao amor de dois ou tres velhos serventuarios.

A melhor demonstração de que muita coisa ali se desorganiza está na suppressão das officinas de encadernação e typographia, alvitre que custa crer podesse ser tomado a sério, tão absrudo elle é mesmo para os leigos.

Uma visita do ministro da Educação, inesperada, à Bibliotheca daria ensejo a que elle verificasse irregularidades commentadas por todos os seus frequentadores,

Page 20: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

entre as quaes a menor é a formação de grupos de funccionarios pelos corredores emquanto as salas de leitura e outras secções ficam ao inteiro abandono.

Dá bem a idéa do descuido em que se encotnra esse importante serviço o facto da suspensão da frequencia por um mez, para revisão de collecções e outros misteres que podiam e deviam ser realizados sem a perturbação das consultas.

Título: “Pelo menos a vassoura”.

Autor: ---

Data: Sexta-feira, 13 de julho de 1934.

Página: 4.

Nada menos de cincoenta e nove professores argentinos desembarcaram há poucos dias em Santos, em visita ao Estado de São Paulo.

Annuncia-se para breve uma outra viagem de intellectuaes platinos ao Rio.É de esperar que todos esses amigos dos livros desejem conhecer a nossa

Bibliotheca Nacional, notavel pelas riquezas que encerrra; mas seria lamentavel que a encontrassem no estado de penuria em que a mesma se debate.

Tudo naquella casa é indigencia, desleixo, immundicie, desde a roupa enxovalhada dos empregados subalternos que attendem, displicentemente, o leitor na portaria, na sala d fichario ou na sala publica, até o chão do vestibulo, onde todo o marmore é molhado de cusparadas. Na cornija do entalhamento, justo a balaustrada do primeiro andar, amontoam-se pontas de cigarro e cinza de tres mezes, no minimo.

Construido desastradamente para bibliotheca, mas sem sala de leitura, o edifício é presentemente uam especie de casa de commodos, e casa do mais sórdido aspecto, que um café-caneca, no primeiro andar, vergonhosamente completa.

É possível que o Ministério da Educação não disponha de meios para tirar da miseria a Bibliotheca Nacional, desprovida de recursos pecuniarios e de pessoa idoneo e bastante parar as funcções de alto indice cultural que lhe compete.

Mas não pôde o mesmo Ministério esquece que também é o Ministério de Saúde Pública, e, em defesa desse título, se ao outro pouco apreço sabe dar, deve mandar quanto antes realizar na Bibliotheca Nacional uma limpeza pelo menos de vassoura.

Título: “Pingos e Respingos”.

Autor: Cyrano & Cia.

Data: Sexta-feira, 9 de agosto de 1935.

Página: 4.

E. P. chama, no Globo, a attenção do governo para a Bibliotheca Nacional, repartição que orçamentos esqueceram.

Nem tanto assim: a Bibliotheca Nacioanl tem tido, ultimamente, grandes melhoramentos internos, com forno, fogão e todo o material proprio para incendio.

Que mais quer E. P. para alimentar o fogo...sagrado?

Título: “A cabine desprendeu-se, ferindo o ascensorista”.

Page 21: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Autor: Cyrano & Cia.

Data: Quinta-feira, 6 de junho de 1935.

Página: 8.

Quando procedia, hontem a reparos na rêde de um dos elevadores installados no edifício da Bibliotheca Nacional, foi victima de lamentável accidente o cabineiro Rufino Maristins dos Santos, de 51 annos, casado, residente, à rua das Opalas, 135. Rufino subiu na cabine do elevador, vistoriando o cabo quando este, partindo-se, determinou a queda brusca da referida cabine, que se projectou pesadamente em baixo. Em consequencia recebeu Rufino fractura do humero além de contusões generalizadas.

Depois de medicação na Assitência foi o pobre homem internado no Hospital São Francisco de Assis, ali ficando sob os cuidados médicos do dr. Carvalho Ferreira. A polícia do 5º districto foi scientificada do facto.

Título: “Exonerado do Cargo por Exercer Actividade Subversiva”.

Autor: ---

Data: Quarta-feira, 15 de abril de 1936.

Página: 2.

O presidente da Republica, por decreto assignado na pasta da Educação, exonerou Lafayette de Moura do cargo de auxiliar da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro, por exercício de actividade subversiva das instituições políticas e sociaes, tendo em vista os termos da emenda n. 3, a Constituição da Republica e ainda os elementos de convicção e prova colhidos pela Polícia.

Título: “Furtaram Livros da Bibliotheca Nacional – Preciso quem nada tinha com o facto”.

Autor: ---

Data: Quarta-feira, 1 de janeiro de 1936.

Página: 11.

Um guarda municipal de ronda hontem, na esplanada do Castello, observou que dois individuos vindos dos fundos da Bibliotheca Nacional traziam livros sob os braços. Ao se verem presentidos, os larapios desandaram a correr. Passava perto o empregado da Leopoldina Railway, João de Carvalho, morador a rua dos Cardosos, 54, casa 4, em Cascadura, e os ladrões, num golpe de defesa jogaram os livros aos prés de Carvalho, continuando em fuga.

O guarda municipal, não podendo prender os larapios, levou João de Carvalho ao districto proximo, supponde ser elle connivente na historia. João se explicou e foi, depois, posto em liberdade.

Page 22: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Título: “O abandono da Bibliotheca”.

Autor: ---

Data: Sexta-feira, 8 de janeiro de 1936.

Página: 4.

Há poucas noites atrás foram pilhados em flagrante alguns indivíduos que, na mais completa calma, já havia escado com um anzol, innumeros volumes da Bibliotheca Nacional, servindo-se para esse trabalho de uma janella dos fundos do edifício, que ficára aberta!

A direcção da Bibliotheca, para tranquillizar sem duvida o publico, mandou publicar que se tratava apenas de Annaes do Senado, relativos ao anno ed 1873.

Apenas! Eis o que não é lisonjeiro para o Senado. Mas, pondo embora de parte a classificação da mercadoria, o facto é que está provado que os livros da Bibliotheca Nacional pódem ser subtraidos. Se há ladrões para Annaes e, por conseguinte, de máo gosto, nada impede que elles appareçam tambem para os livros preciosos e raros.

Como quer que seja, o que se vê é que a Bibliotheca Nacional está desprovida de guardas e nem há, à noite, ronda necessária à defesa do patrimonio que ella representa. Conclusão: o serviço acha-se pelo menos desorganizado.

É esta, aliás, a impressão que logo se tem quando se entra na Bibliotheca, que é talvez a única repartição publica onde os serventes não estão uniformizados. Pelo detalhe da indumentaria, avalia-se o resto...

Título: “O “Valeroso Lucideno” da Bibliotheca Nacional”.

Autor: ---

Data: Terça-feira, 2 de junho de 1936.

Página: 4.

Os debates travados em torno da commemoração do tri-centenario da chegado ao Brasil de Mauricio de Nassau, emprestaram incontestável interesse ao Valeroso Lucideno, de Fred Manoel Calado, contemporaneo e amigo intimo do principe.

O chronista vivia no começo da guerra numa casa de campo, perto de Porto Calvo.

Entrando em contacto com os officias da Companhia das Indias, na defesa da população portocalvense, conseguiu impôr-se a consideração de muitos delles, entre os quaes Astichofsky, que se referiu em carta, com enthusiasmo, aos conhecimentos de latinidade e às virtudes daquelle religioso.

Mauricio de Nassau tornou-se amigo de Frei Manoel Caldo, que foi um dos frequentadores do Palacio de Friburgo e testemunho presencial dos factos que relatou nas suas chronicas.

Sabe-se ainda que ao autor do Valeroso Lucideno ouviu, em confissão, na villa de Porto Calvo, Domingos Calabar, enforcado e esquartejado em 22 de junho de 1635.

Trata-se, assim, de uma obra cheia de palpitante interesse e rara. São poucas as instituições que a possuem.

Page 23: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

A Bibliotheca Nacional tem mais de um exemplar. Mas, as pessoas que ali vão para consultal-a, são informadas de que os volumes não se encontram nos seus devidos logares, tornando-se, dessa maneira, impossível a leitura.

É tempo de reparar esse equívoco, proporcionando-se ao publico a leitura de um livro que precisa ser divulgado.

Título: “O Milagre de Xangô”.

Autor: ---

Data: Domingo, 17 de maio de 1936.

Página: 3.

Vamos olhando curiosamente em torno. Há as escadarias do Conselho Municipal, as do Theatro Municipal, as da Bibliotheca Nacional.

Provavelmente os párias da cidade maravilhosa não são só aquelles sentados em frente ao massiço architetonico da majestosa Cinelandia. Não são aquelles os mais miseráveis. Olhemos para essas imponentes escadarias! Aquella mancha na escadaria do Conselho... Quer como é um homem deitado... Eil-o! Os guardas em regra são creaturas humanas e mais tolerantes do que geralmente se crê, Lá está o guarda de costas fingindo que não vê a mancha, maculando a megestosa escadaria...

Subamos agora as escadarias da Bibliotheca Nacional. Cuidado! O guarda olha-nos desconfiados como quem diz: “Que vão fazer aquelles dois sujeitos lá em cima? Pixadores? Uhm!”

Penetremos um instante nessa magestosa entrada da Bibliotheca Nacional: há aqui espaço de sobra pra se esconder algumas dezenas de pobres diabos sem técto e sem pão. Mas isso é prohibido e com razão.

A fealdade da miséria vive conspurcar as linha majestosas desse bellissimo edifício.

Cada pobre que aqui se abrigasse seria uma triste macula. O Estado precisa zelar...

Comtudo, oh...Aquella velha mendiga conseguiu illudir a vigilância do guarda, ou aproveita-se

da sua tolerancia... Lá está ella aninhada num canto escuro, deitada sobre um jornal. Eil-a a dois passos. Ergueu-se tremula, andrajosa, olhinhos fundos a fitar-nos temerosamente, como um cão sem dono, famelico, miseravel, com medo do chicote, ou dos pontapés dos moleques. Teme que sejamos da polícia, que empunhemos o latego da lei e gritar-lhe enfurecidos, enxotando-a:

“Sae coruja moxibenta, arranjauma cafúa para esconder a tua miséria, ó creatura vil”.

O seus olhinhos fundos brilham contra a luz de uma lampada lá fóra. Está prompta a sair humildemente como o mais miseravel dos cães. Cão que não rosna nem morde, cão vagabundo, velho, exhausto que só pode ganir e fugir. E com a sua alma de cão velho só nos póde enxergar, também, sob a forma de cães. Para ella nós somos dois enormes cães policiaes que vamos atalcal-a, mordel-a, estraçalhal-a nos dentes.

E por falar em cães! Ella estava neste momento ambalada num dos mais bellos sonhos que lhe mitigam a desgraça.

Sonhou que tinha ido à macumba fazer um ebó contra a urucubaca. Xangô, que não estava de calundú, apiedou-se da sua miseria e resolveu transformal-a num cão. Um

Page 24: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

lúlú! Um lúlú de mulher rica, um lúlú mimado, bem tratado, alimentado com o que há de mais delicioso, um lúlú que dormia aninha em coxins de seda. Que boa vida a de um lúlú de gente rica! Quantas vezes melhor que a de um camunbembem, roto, esfaimado, sem abrigo e sem pão!

A nossa chegada perturbou o sonho da felicidade da pobre mendiga. Deixemol-a.

Título: “Pingos & Respingos – Homens, mulheres, livros e football”.

Autor: ---

Data: Sabbado, 10 de abril de 1937.

Página: 2.

Para o curso de Bibliotheconomia, aberto na Bibliotheca Nacional, inscreveram-se vinte e seis alumnos, dos quaes dezenove mulheres e sete homens.

O facto é eloquente: enquanto as moças se approximam dos livros, os rapazes tratam ed approximar-se do “goal” nos campos de football...

Caminhamos para o regimen do matriarchado.

Título: “A Bibliotheca”.

Autor: ---

Data: Terça-feira, 17 de agosto de 1937.

Página: 4.

Os que frequenam a Bibliotheca Nacional há muito que vêm observando a pobreza que domina aquella casa de estudos. Há falta de livros e as mais interessantes revistas de observação e de pesquisas deixam de ser assignadas. Por outro lado, o material de installação é precaríssimo, a luz deficiente. Os próprios livros velhos, cujas encadernações apodrecem, não podem ser reparados.Escusa mesmo levar alli visitas estrangeiras, tão vexatória é a installação do edifício, a começar pelo gabinete da administração.

Constando tanta decadência, o director queixa-se da avareza orçamentária do legislador, quanto às doações da Bibliotheca. Entretanto, admira ver hoje que, emquanto não há dinheiro para tantas coisas indispensáveis, sempre se encontra recurso para a demolição do muro de cantaria, que guarnecia o edifício da cidade dos livros, muro que será substituído por outro.

Estranhável é que a direecção da Bibliotheca não soffra remorsos em tolerar que as verbas conseguidas, após tanta penúria, sejam empregadas numa obra de destruição, quando muito há o que construir.

Título: “Pingos & Respingos”.

Autor: Cyrano & Cia.

Data: Sexta-feira, 15 de janeiro de 1937.

Page 25: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Página: 2.

O Ministério da Educação vae ficar todo locallizado no edifício Rex, conforme resolução do ministro Capanema.

- Quer isso dizer que a Bibliotheca Nacional vae emfim respirar, livre dos hospedes que há seis annos lhe occupam as salas e corredores.

- Qual! São capazes de installar alli um tanque de gazolina ou uma fabrica de explosivos.

Título: “A Bibliotheca Nacional”.

Autor: ---

Data: 8 de julho de 1937.

Página: [ilegível].

Iniciaram finalmente as obras da Bibliotheca Nacional reclamadas há muito como de urgente necessidade.

Todos quantos freqüentavam a Bibliotheca lamentavam o injustificável abandono em que se encontrava. Desde o sagua até as salas de leitura, o edifício reclamava reparos mais ou menos importantes. Tudo sujo, esburacado...

Os pedidos de augmenti de verbas para reparos de dotações maiores para a conversação das collecções, de reforma do quadro de pessoal subalterno, insufficiente, sempre foram recusados. Negava-se à Bibliotheca taes recursos, mas, durante o exercício, o Poder Legislativo votava creditos em montante equivalente a outro orçamento e que dariam de sobra não para por em ordem os serviços do estabelecimento, mas para construir outros edifícios.

O sr. Gustavo Capanema venceu as resistências. Tanto insistiu, tanto persistiu que acabou conseguindo o que era indispensável. A Bibliotheca reformada.

Que a reforma não fique, porém, apenas no prédio, nas pinturas, nas reconstrucções... É preciso que attinja também o pessoal, para augmental-o de accordo com as necessidades do serviço, dotando-se seu quadro de elementos em condições de tratar com o publico e de zelar conevientemente pelo vallioso patrimônio que ali se guarda.

Título: “Livros para estudantes pobres”.

Autor: X.Y.Z.

Data: Domingo, 14 de novembro de 1937.

Página: 8.

Todos sabem quanto é caro o ensino publico e particular no Brasil. Este último, então, está –se tornando verdadeiramente extorsivo, constituindo verdadeira industria. O que a maioria ignora, porém, é que há estabelecimentos de ensino particular, com

Page 26: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

internato ou sem elle, que accusam em seus livros um lucro liquido annual de várias centansa de centos de réis.

Na Republica Argentina, o governo corre em auxilio dos estudantes, facilitando-lhes a carreira o mais que póde. No caso dos livros didacticos, por exemplo, que também attingem preços absurdos, a Bibliotheca Nacional Argentina intervem de um modo deveras edificante. Ella pede constantemente ao publico que lhe mande livros usados, compêndios, sobretudo, de alumnos que já passaram ao curso ou anno superior, e não precisam mais dos livros usados. A instituição conta, para realizar esta sympathica obra, com uma secção especial, que em dois annos já distribuiu gratuitamente, depois de prévia desinfecção, e por todo o território da Republica, mais de 12.000 livros de texto; usados e novos, graciosamene offertados por particulares e casas editoras.

E , para que o gesto seja mais completo e edificante de entregar gratuitamente, seja qual for a distancia esses livros à Bibliotheca Nacional, que por sua vez os distribue equitativamente.

Não poderíamos fazer o mesmo aqui, como a vantagem de podermos dizer que a Bibliotheca Nacional sempre faz alguma coisa?...

Título: “Os Passageiros não Cabiam na Barca – E o mestre, temendo conseqüências, pediu, domingo, em Paquetá, a intervenção da polícia”.

Autor: ---

Data: Terça-feira, 11 de janeiro de 1938.

Página: 6.

As praias se encheram, domingo último, em Paquetá, de uma multidão dos enamorados da ilha. A terra a que Pedro Bruno dedica o melhor de sua intelligencias é a mesma a que o dr. Adolpho Motta Filho, alto funcionário da Bibliotheca Nacional e figura bastante conhecida dos antigos moradores da ilha, costuma, tangido pela saudade, vencido pelo “béguin” que Paquetá, inteiro, lhe inspira, visitar toda a semana, mas de modo que define a paixão louca, infinita, que aquellas praias e aquelllas ondas lhe causam. Não está nessa visita o estranho do caso. Visitar diariamente a ilha seria, emfim, um acto banal se o dr. Adolpho Motta Flho morasse, por exemplo, lá. Mas não. O “Bidunga”, como a elle lhe chamam na intimidade, reside à rua Barão de Mesquista, 174, e, entre a casa e a repartição, não tem necessidade de tomar barca. Os antigos residentes daquelle “céo profundo, que começa neste mundo e não sabe onde acabar” não vêem na barca, olhos fitos no mar, as mãos no bolso, em attitude de quem mede uma saudade ou calcula a grandeza de um remorso. É que o dr. Adolpho Motta, deixando, À tarde, a Bibliotheca Nacional, desceu, a pé, a avenida, tomou um bonde à esquina de Assembléa, saltou no Pharoux e foi, direito, às borboletas da Cantareira, onde deixou 500 réis da passagem, com destino a Paquetá. Emquanto a barca não sae, o dr. Adolpho Motta passa os olhos pelos jornaes. Uma vezes iniciada a viagem os olhos se lhe voltam para o fundo da bahia, na doce contemplação do ponto em que elle pensa estar sonhando a sua sonhadora Paquetá.

- Quem é aquelle? – indaga, por vezes, algum noviciado na ilha.E o Pedro Bruno, que o conhece demais:- Pois não sabe? É o Motta, antigo chefe da secção da Bibliotheca Nacional.E o artista, conta, então, ao amigo, a história do Bidunga:

Page 27: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

- Elle tem a mania – diz Pedro Bruno, iniciando – de tomar, às vezes, a barca e se deixar levar à ilha onde, entretanto, não salta porque volta na mesma barca. Faz a viagem até cá apenas, como diz, para matar saudades. É, não há duvida, um dos muitos admiradores anonymos que Paquetá possue. Mas é daquelles quem eu mais estimo pela delicadeza dessa homenagem que elle apresenta, religiosamente, semanalmente, a perola da Guanabara.

O episodio ahi fica como reflexo do quanto Paquetá é querida por esse mundo afora. Por isso mesmo, domingo, suas praias se encheram de enamorados. As ruas regorgitavam. Movimento intenso em todos os seus recantos. O peor é que, à noite, a barca das 7,15 não pôde com tanta gente. Havia em Paquetá, para mais de 14 mil pessoas!

À hora da partida houve atropelo. Tinha que haver. Todos queriam logar que a certa altura, já não havia. E de tal modo que o mestre da barca, temendo conseqüências graves, appellou para a policia. Foi chamando o delegado local, o dr. Edgard Machado, qual, comparecendo, fez evacuar a “Gragoatá”, ficando, assim, na ilha, metade dos passageiros. A autoridade communicou-se depois, com a Cantareira pedindo fizesse enviar à ilha depois, com a Cantareira pedindo fizesse enviar à ilha dos Amores uma segunda barca, que lá chegou, de facto, às 10 horas da noite.

Nesta vieram os que não couberam na primeira, tendo ficado em Paquetá, poeticamente ao relento, ou, como dizia o poeta, ao clarão sonhador da lua cheia, muitos dos que, domingo, a visitaram.

Esse acontecimento de domingo na ilha a que Pedro Bruno idolatra e o dr. Adolpho Motta não sabe mais como adorar.

Título: “Inéditos de Anchieta – Não existem na Bibliotheca Nacional”

Autor: ---

Data: Sexta-feira, 28 de janeiro de 1938.

Página: 2.

A propósito de seu “contra-a-mão” há dias publicado, recebeu o sr. Gondin da Fonseca a carta abaixo do dr. Rodolpho Garcia, director da Bibliotheca Nacional:

“Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1937. Meu caro Gondin da Fonseca. – O brilhante contra-a-mão de hoje contém, entre outras informações eruditas e certas, uma carecedora de rectificação, que seu bem conhecido espírito de tolerância há de permitir. É quando o jornalista escreve que se conservam ainda inéditos muitos escriptos de Anchieta, “não tendo sido publicados nos últimos cem annos pelas Bibliotheca Nacional por falta de verba”.

A verdade é que, desde os primeiros volumes dos Annaes da Bibliotheca, o que ali havia sobre Jesuítas do séculos XVI foi sendo impresso por Teixeira de Mello, Vale Cabral e Capistrano de Abreu, de modo que ficou esgotado o material existente.

Nos Materiaes e Achegas para a Historia e Geographia do Brasil, de 1886, Capistrano publicou as Informações e Fragmentos históricos, de Anchieta; Vale Cabral, as Cartas do Brasil, de Nóbrega; e Teixeira de Mello, as Cartas avulsas dos Jesuítas, que apezar de impressas, só chegaram a ser divulgadas recentemente.

Desde 1923 que Afrânio Peixoto e este seu creado se preoccupam com o assumpto: Nas Publicações da Academia Brasileira foram re-editadas as Cartas, de

Page 28: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Nóbrega, pelo seu mesmo creado, as Informações de Anchieta, pelo saudoso Antonio de Alcântara Machado, e as Cartas avulsas, por Afrânio Peixoto.

Se existisse material anchietano inédito na Bibliotheca, eu já teria trazido à luz, como fiz no anno próximo passado, nos quatro volumes dos Documentos Históricos então saídos, com relação aos Provimentos seculares e eclesiásticos e aos Mandados dos três primeiros governadores geraes, onde (perdoe-me a immodestia) se encontram verdadeiras revelações históricas, como sejam a data da fundação da cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos e as entradas na Companhia no Brasil, e de Rodrigo de Freitas, o grande companheiro de Fernão Cardim.

Mas a prosa ia longe, e o meu fim era dizer que não existe mais nada de inédito, infelizmente, na Bibliotheca Nacional sobre Anchieta e os outros: os que vieram antes de mim devoraram tudo...

Esta informação é para seu uso particular; mas se quizer transmitil-a aos seus leitores, sob qualquer forma, não me oponho.

Candidamente, seu amigo e admirador. – Rodolpho Garcia.”

Título: “Contra a mão – Os setenta bahús”

Autor: Gondin da Fonseca

Data: Sabbado, 29 de janeiro de 1938.

Página: 2.

O dr. Rodolpho Garcia, que é um sábio em questões históricas, escreveu-me ante-hontem uma carta (hontem publicada por este jornal) declarando não possuir a Bibliotheca Nacional uma única pagina inédita de Anchieta, ao contrario do que eu affirmara no meu contra-a-mão do dia não sei quantos. Creio que do dia 27.

Se elle diz isso é por que sabe. Ora, já os latinos affirmavam que satius est recurrere , quam currere male, - que mais vale mudar de conselho que perseverar no erro. Eu mudo de conselho. Mudo, mas cobro pela mudança. Vou-lhe dizer, meu caro Rodolpho Garcia, por que motivo suppunha dormirem na Bibliotheca varios inéditos de Anchieta.

Em primeiro logar, o que delle existe impresso é muito pouco. O jesuita foi um grande trabalhador, poetou muito em tupy, em latim, em hespanhol e em portuguez, escreveu diversos autos (“espécie de antecipação de cinema, literatura para quem não sabia ler” - comenta Capistrano) e redigiu uma memoria sobre as missões da Companhia, de que só nos chegaram excerptos. Conheço perfeitamente tudo o que delle se publicou até hoje, mas o Rodolpho Garcia sabe(de sciencia certa e bem melhor do que eu!) que isso representará talvez uma quinta parte, se tanto, do que deveria estar publicado. Há muito mais ou, pelo menos, houve muito mais.

Agora escute. Um dia, como eu lamentasse, deante do meu velho e fallecido amigo José Geraldo Bezerra de Menezes, a dispersão das obras do grande jesuita, elle ergueu as asas ao ar, deu agitadamente varios passos na calçada da rua com as suas compridas pernas de cegonha e, de oculos tremulos na ponta do nariz me asseverou ter offerecido à Bibliotheca setenta bahús com ineditos de Baptista Caetano de Almeida Nogueira, onde muita coisa havia de Anchieta. José Geraldo era um santo e eu o adorava. Ninguem saia mais historia do Brasil que elle (o proprio Capistrano respeitava-o)) e ninguem fornecia de mais boamente informações a quantos o procuravam.

Page 29: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Folheei-o centenas de vezes em sua casa, na rua, onde o via. Era catholico de communhão diaria, saia nas procissões vestido com um habito franciscano, - e advogava gratuitamente, no foro de Nichtheroy, todas as causas de pretos pobres.

Alto, magro, louro, de nariz transparente, labios finos e olhos azues claros (aryano puro!) berrava que tinha costella de indio e de preto, - unicamente para justificar com o sangue todo o seu immenso affecto a essas duas raças espoliadas e escravizadas pelo branco. Tal era elle. Como João da Ega disse do velho Thomaz de lencar, “o bom Deus fel-o num dia de grande verve e depois quebrou a fôrma”.

Quando elle affirmou haver doado a Bibliotheca setenta bahús com inéditos de Baptista Caetano e de Anchieta, logo calculei que esses setenta bahús seriam apenas sete, pois José Geraldo exagerava um pouco. Os seus alumnos (o meu bom amigo leccionava de graça, em bairros pobres) chamavam-lhe, com uma grande ternura, o Exagerado Bezerra de Menezes. Se agora V. Me diz que não tem nada ahi de Anchieta por publicar, então é porque os taes bahús seriam ainda menos do que sete e diriam apenas respeito a obras de Baptista Caetano.

De qualquer maneira a sua carta elucidou um ponto obscuro e deu-me ensejo para falar no meu amigo José Geraldo, mestre querido a quem tanto quis e que tanto me ajudou no incio da minha carreira. Eu pouco sei de historia do Brasil. Mas esse pouco que sei, devo-o a elle.

Título: “Um exemplo bem a vista”

Autor: ---

Data: Sabbado, 5 de novembro de 1938.

Página: 4.

Ninguém conhece com exactidão o motivo racional da mutilação do edifício da Bibliotheca Nacional. Apararam-lhe o terraço de ambos os lados, metendo nos cantos uam escada horrorosa e deixando um espaço cuja utilidade desafia a intelligencia de quantos passam por ali.

Destruída a belleza do edifício, pintaram de verde as janellas e abandonaram, no espaço furtado à esthetica estructural, pedras, latas , pedaçoes de madeira, etc... enfim tudo que constitue o entulho das obras. Esse lixo permanece ali há mezes, exposto aos olhos de quantos por lá passam, na mais lamentável demonstração de desleixo que conhecemos.

Não custaria muito, nem à direcção da Bibliotheca nem a à Prefeitura, a remoção desse lixo que ora diminue ora augmenta com toda espécie de detrictos para ali atirados.

Se assim acontece com uam repartição federal, alojada na Avenida Rio Branco, póde-se bem imaginar o que vae pelos bairros e pelos subúrbios, com referencia a limpeza da cidade.

Título: “Ali, na rua México”

Autor: ---

Data: Sexta-feira, 28 de junho de 1939.

Página: 4.

Page 30: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

A rua México é uma via publica moderna do trecho que estava destinado a ser o mais moderno – no tempo e no gosto – desta nossa capital, se o plano do Castello não estivesse sendo deformado pelo poder da inesthetica, associado à complacência lastimável da “technica” official. Seja como for, a Explanada, se não mereceu o carinho de certa engenharia, deveria merecer outros cuidados, porque, afinal, mal-tratada aqui, felizmente deslembrada pelos autores de mostrengos ali, ainda pôde dizer alguma coisa de que será o futuro do Rio.

Mas o caso é que, além do mais, aquella zona está entregue à própria sorte. E o ponto mais abandonado, a tal respeito, é, precisamente, a rua México. Nesta, o terreno que fica nos fundos do bello edifício da Bibliotheca Nacional. Ali, o lixo vive accumulando, o capim livremente cresce, como se se tratasse recanto mais esquecido do mais remoto subúrbio, e, peor que tudo, é ponto de “residência” de vagabundos e desoccupados, que jogam foot-ball.

Parece-nos que não seria difficil pôr-se termo a esse estado de coisas.

Título: “Leituras”

Autor: ---

Data: Domingo, 15 de outubro de 1939.

Página: 4.

O numero das pessoas que frequentam a Bibliotheca Nacional é geralmente pouco sabido.

Imagina-se que aquelle amplo edifício da Avenida serve apenas para guardar os livros e abrigar os funccionarios da Bibliotheca. Puro engano. Quem se postar na praça fronteira e observar durante meia hora o movimento notará, talvez supreso, uma espécie de actividade de formigueiro com as entradas e sahidas dos consulentes, em regra estudantes, muitas vezes figuras conhecidas das letras e até um ou outro acadêmico.

Foi o que apuramos há poucos dias, de resto em ligeira inspecção. Isto induziu-nos a mais completas verificações.

A média da freqüência diária é na Bibliotheca Nacional de cerca de duzentas pessoas. Toda essa gente não vae só em busca de livros, mas de manuscriptos, de cartas geographicas (estas agira um pouco peremptas), de peças iconographicas, de periódicos. O que mais se lê são obras de literatura e logo a seguir de direito, legislação e jurisprudência. De modo um tanto arbitrário, dividem-se depois os consulentes pelos trabalhos de agricultura, commercio e industria; de bellas artes; de bibliographia; sciencias medicas; de sciencias naturaes; de choro-graphia e historia do Brasil; de encyclopedia e polygraphia; de jogos e sports; de occultismo, theosophia e espiritismo; de paleographia e diplomacia; de pedagogia; de política e administração; de religião; de sociologia.

A língua mais consultada é o portuguez; acima de todas as outras estrangeiras, com enorme distancia della, o francez. O inglez – niguem diria! – supera o hespanhol. O italiano equilibra-se com o allemão, e o latim é a menos solicitada das línguas.

Título: “A Bibliotheca Nacional”

Autor: ---

Page 31: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Data: Quarta-feira, 13 de setembrobro de 1939.

Página: 4.

A Bibliotheca Nacional tem regular freqüência. Em seu grande salão de consulta há sempre gente a ler, a estudar. Os consulentes são, na sua maioria, jovens estudantes, que ali vão colher notas e apontamentos em livros que não encontram nas bibliothecas das academias.

Também o movimento é só no grande salão.Na sala de revistas e Impressos, quasi ninguém. Há uma razão para sso! A

Bibliotheca não tem provisão regular de revistas. Tudo ali é falho e quase imprestável. E é pena. Estudantes de engenharia e de medicina, que não dispõem de recursos, não podem dar quimze ou vinte mil rés por uma revista technicam e dahi procurarem a Bibliotheca Nacional na esperança de remediar em parte suas dificuldades. Soffrem a decepção de uma vez, e não voltam mais.

Não basta que a Bibliotheca tenha boa installação e seus funccionarios sejam solícitos e attenciosos. É preciso que o Ministério da Educação a trate com mais attenção.

Título: “MÚSICA – Cidades e Cemitérios de Livros”

Autor: Eurico Nogueira França

Data: Terça-feira, 12 de setembro de 1950.

Página: 11.

Uma causa flagrante de precariedade da formação cultural dos músicos entre nós é a inexistência de bibliotecas bem aparelhadas. Refiro-me especialmente a bibliotecas do Estado sobre ciência e arte musicais, que hoje de modo algum contribuem para suprir os artistas de indispensáveis conhecimentos, nem permitem o acesso a obras e coleções musicais de primordial importância. A biblioteca da Escola Nacional de Musica, outrora satisfatória, durante o exerciicio de Luiz Heitor Correa de Azevedo, é hoje, mais do que nunca – sua decadência se processa há longos anos – um cemitério de livros, um confuso depósito de livros cujo acesso é quase praticamente inacessível, no amontoado anárquico de estantes. É uma biblioteca acéfala, seu bibliotecário especializado, quando cumpre que as bibliotecas musicais sejam dirigidas por técnicos com formação musical completa.

Chamarei, ao contrario, de cidade dos livros as coletividades de volumes, em que cada membro, representando o espírito humano, genial ou medíocre, eterno ou precário, pode circular de mão em mão e influir sobre cada um de nós. O sr. Josué Montelo, diretor da Biblioteca Nacional governa, sem dúvida, uma cidade de livros, que nos oferece a oportunidade da escolha e do demorado convívio de obras primas. Mas – e contribuir para que assim não seja é a finalidade deste artigo – há partes mortas naquele acervo. Sei que a administração do sr. Josué Montelo se vem caracterizando, entre outros títulos, pela recuperação constante de material que se achava praticamente perdido nos desvãos da Biblioteca. E nada mais oportuno do que perdir-lhe estender essas providências às coleções musicais, não só as que pertencem a Biblioteca, mas também a uma que se acha lá guardada, encaixotada (provisoriamente morta), e que não

Page 32: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

pertence ainda, mas deveria pertencer à Biblioteca – a grandemente valiosa coleção de quinze mil volumes “Abrahão de Carvalho”.

Mercedes Reis, musicista de excelente formação e bibliotecario de carreira que serviu durante largo tempo em Washington, na divisão de música da União Pan-americana de regresso ao Rio, há poucos meses foi convidada pelo diretor Josué Montelo a contribuir para que as obras sobre música e partituras da Biblioteca Nacional revertessem integralmente à vida. Tenho em mãos o projeto elaborado por ela, e que me parece preencher, dentro da mais moderna e eficiente técnica, os requisitos que o problema oferece. Não cansarei o leitor com detalhes de biblioteconomia. Basta dizer que se trata de criar uma Seção de Música na Biblioteca Nacional, cujo acervo inicial seria a “Coleção Tereza Cristina Maria”, que proveio da biblioteca geral do Palacio da Boa Vista, e as obras já constantes do fichário, mas dispersas por várias seções. E talvez o contingente mais valioso a engrossar essa nova cidade de livros seriam os quinze mil volumes e as partituras de Abrahão de Carvalho – coleção cujo projeto de compra pelo govêrno, ao que sei, transitou pela Câmara, e recebeu inclusive parecer favorável de uma Comissão nomeada pelo ministro da Educação, mas que se encontra depositada na Biblioteca Nacional à espera de que o govêrno se disponha de fato a adquiri-la.

A biblioteca de Abraão de Carvalho constitui mesmo, creio, a maior e mais completa do gênero que existe na América do Sul.

Resulta de um esforço pertinaz do colecionador esclarecido, afeito a descobrir as obras raras, seguindo-lhes o rastro. Assim edificou peça a peça, por várias décadas, a sua cidade de livros, subtraindo, de certo, na ronda constante às livrarias e aos sebos, uma parcela do orçamento a coisas de utilidade material. É esse esforço singular. Conta Abrahão de Carvalho que certa vez um livreiro do Rio recebeu vultosa partida de livros europeus sobre música, e de cada edição, naturalmente, ele logo comprou um exemplar. Lembrou-se depois de adquirir algumas duplicatas. Mas voltando à livraria, nada mais encontrou, dos volumes recém-chegados. Todos vendidos? Não. Todos devolvidos à casa editora. Não havia mercado. Não se diga porém que não havia leitores. Pois o que falta, é, em geral, poder aquisitivo entre os que se interessam por música.

Há bastante tempo não vejo essa coleção, mas recordo que lá se encontra, por exemplo, entre outras preciosidades, o “Indez da Livraria de Música de Dom João IV” o rei compositor de música sacra. Biblioteca desaparecida no terremoto que destruiuLisboa no ano de mil setecentos... (abro o Larousse) de mil setecentos e setenta e cinco. Da primeira edição só se conhecem dois exemplares do “Index”: o da Biblioteca Nacional de Paris e o da Torre do Tombo de Portugal. O exemplar pertence a Abrahão de Carvalho e uma edição fac-símile do que existe na Biblioteca de Paris. Há também dois outros volumes de ensaios críticos, sobre essa biblioteca do rei; Joaquim de Vasconcelos, autor, aliás, da ediçao fac-simile, e de Souza Viterbo. Uma raridade bibliográfica é também o “Missal Pontifical” de Estevam Gonçalves Netto, cujas páginas são organadas de maravilhosas iluminuras. Um “Antifonario”, em pergaminho do Convento de Santa Cruz, de Coimbra, data de 1781. É exemplar único, visto ser escrito a mão, no pergaminho. Em suma, livros e livros, e mais livros sobre música.

Seria lamentável se se dispersasse essa biblioteca. Cabe, repito, ao governo adquiri-la, incluindo-a na Seção a ser criada da Biblioteca Nacional, onde, como todo acervo já existente, de livros sôbre música e manuscritos beneficiaria de organização conveniente, para fins utilíssimos de consulta.

Page 33: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Título: “Anuncio”

Autor: ---

Data: Domingo, 16 de dezembro de 1951.

Página: 17.

PERDEU-SE uma pulseira relógio de ouro na Avenida Rio Branco entre Biblioteca Nacional e Teatro Municipal. Pede-se entregar à rua Saint Ramain 382 apt. 701 ou telefonar para 27-8424 ou 17-1256 PI 42-4231.

Título: “Notas Históricas – Anais da Biblioteca Nacional”

Autor: Roberto Macedo

Data: Quarta-feira, 24 de Dezembro de 1952. Página: 6.

Mais uma iniciativa útil da Biblioteca Nacional, dirigida pelo sr. Eugenio Gomes.

Trata-se de um índice geral dos setenta volumes de Anais já publicados.Em “Explicação” preliminar, o sr. José Honório Rodrigues, diretor da Divisão de

Obras Raras e Publicações. Informa haver sido o “índice” elaborado pelas bibliotecárias Celuta Moreira Gomes e Aida Furtado Lins. E promete ainda – notícia alviçareira para estudiosos – índices anotados das revistas dos Insitutos Históricos de Pernabumco, Ceará e Rio Grande do Norte, cuja confecção caberia ao próprio sr. José Honório Rodrigues, à bibliotecaria Acyl de Medeiros e aos alunso do professor Alvaro Salgado, do Colégio Melo e Sousa.

Louve-se a ideia do trabalho de equipe, capaz de auxiliar publicações oficiais e despertar na mocidade o gosto pelos estudos bibliográficos, cada vez mais imprescindíveis ao historiador.

Quanto ao “Índice Dos Anais da Biblioteca Nacional”, em si, basta dizer que doravante nêle o leitor encontrará, na indispensável ordem alfabética, a ementa de todos os assuntos contidos, em setenta volumes, a partir 1876.

É absolutamente impossível, nas poucas linhas, de uam croniqueta realçar o valor dêsse repositório.

O roteiro sintético, traçado pelo então diretor , Ramiz Galvão, no pórtico do Volume I, teve opr fim apontar o itinerário:

“Valiosamente auxiliados pelos dignos cheges da seção e mais empregados da Biblioteca, desejo inserir nesta publicação: os nossos inéditos mais preciosos, notícia assins dos livros raros e altamente estimáveis que povoam as nossas estantes, como das peças mais curiosas que compõem nosso gabinete de estampas, trabalhos bibliográficos sobre os mais célebres escritores e amadores nacionais, - enfim tudo que interesse não só à bibliografia em geral, mas ainda, e em particular, à bibliografia brasileira, que até hoje ainda não teve senão raros cultores e registros incompletos”.

Respeitado êsse programa a coleção dos Anais da Biblioteca Nacional equivale a um tesouro, que periódicamente se opulenta.

Page 34: CORREIO DA MANHÃ (Transcrições)

Título: “Pingos & Respingos”

Autor: Cyrano & C.

Data: Terça-feira, 25 de novembro de 1952

Página: 4

De uma reportagem (em A Manhã) sobre a Biblioteca Nacional: “Oh, bendito o que semeia livros, livros a mancheias, e manda o povo pensar...(Olavo Bilac)”.

A repórter (Nádia Morlay) podia, estando na Biblioteca, onde há lviros a mancheias, aproveitar a oportunidade e consultar as Espumas Flutuantes, de Castro Alves. Para não continuar a pensar errado.

Título: “Escritores e Livros – Anatole France no Brasil”

Autor: J. C.

Data: Terça-feira, 21 de outubro de 1952.

Página: 10.

Quando Anatole France esteve no Brasil – conta Jean Jacques Breousson, secretário do escritor – foi visitar a Biblioteca Nacional em companhia de Constâncio Alves. Em dado momento, pega Anatole certo volume cujas páginas estavam completamente comidas pelas traças: mas somente as margens, porque o texto parecia intacto.

Comentou Antole:- Não resta dúvida que estes bichos daqui tem espírito crítico...

Título: “Borboleta”.

Autor: R. B.

Data: Domingo, 7 de setembro de 1952.

Página: 2.

Era uma borboleta. Passou roçando em meus cabelos, e no primeiro instante pensei que fosse uma bruxa ou qualquer um outro desses insetos que fazem vida urbana; mas, como olhasse, vi que era uma borboleta amarela.

Era na esquina da Graça Aranha com Araújo Porto Alegre; ela borboletava junto ao mármore negro do Grande Ponto; depois desceu, passando em face das vitrinas de conservas e uísques; eu vinha ma mesma direção; logo estávamos defronte da A.B.I. Entrou um instante no hall, entre duas colunas; seria um jornalista? – pensei com certo tédio.