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ANA ROSA DE OLIVEIRA
CORRELAÇÃO DOS PRINCIPAIS FATORES
PROGNÓSTICOS NO CÂNCER DE MAMA ENTRE
MULHERES JOVENS E IDOSAS ATENDIDAS NO SERVIÇO
DE MASTOLOGIA DA MATERNIDADE CARMELA DUTRA
DE FLORIANÓPOLIS/SC
FLORIANÓPOLIS (SC)
2005
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ANA ROSA DE OLIVEIRA
CORRELAÇÃO DOS PRINCIPAIS FATORES
PROGNÓSTICOS NO CÂNCER DE MAMA ENTRE
MULHERES JOVENS E IDOSAS ATENDIDAS NO SERVIÇO
DE MASTOLOGIA DA MATERNIDADE CARMELA DUTRA
DE FLORIANÓPOLIS (SC)
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Santa Catarina, para obtenção
do título de Mestre em Ciências Médicas.
FLORIANÓPOLIS (SC)
2005
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O48c Oliveira, Ana Rosa de Correlação dos principais fatores prognósticos no câncer de mama entre mulheres jovens e idosas atendidas no Serviço de Mastologia da Maternidade Carmela Dutra de Florianópolis / Ana Rosa de Oliveira; orientador: Paulo Fontoura Freitas – Florianópolis, 2005. 63f. Dissertação – (Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde, 2005. Inclui bibliografia
1. Ciências médicas. 2. Mamas – Câncer. 3. Fatores prognósticos. 4. Mulheres jovens. 5. Mulheres idosas. I. Freitas, Paulo Fontoura. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. III. Título.
CDU: 61
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ANA ROSA DE OLIVEIRA
CORRELAÇÃO DOS PRINCIPAIS FATORES
PROGNÓSTICOS NO CÂNCER DE MAMA ENTRE
MULHERES JOVENS E IDOSAS ATENDIDAS NO SERVIÇO
DE MASTOLOGIA DA MATERNIDADE CARMELA DUTRA
DE FLORIANÓPOLIS
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Santa Catarina, para obtenção
do título de Mestre em Ciências Médicas.
Coordenadora: Profa. Dra. Marcia M. M. Pizzichini
Orientador: Prof. Dr. Paulo Fontoura Freitas
Co-orientador: Prof. MSc. Carlos Gilberto Crippa
FLORIANÓPOLIS (SC)
2005
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Aos meus pais, Sidneya e Altino (in
memoriam), minha gratidão pelo amor,
carinho e dedicação à minha formação pessoal
e profissional.
Aos meus filhos, Arthur e Pedro Henrique, por
toda a paciência, pela espera e horas de
ausência em prol da minha profissão.
Ao Carlos Gilberto, amigo, chefe e
companheiro, que me incentivou a alcançar
mais esta etapa da minha vida profissional.
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AGRADECIMENTOS
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a elaboração deste
trabalho.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS:
Ao Prof. Dr. Paulo Fontoura Freitas, Md,PhD, epidemiologista, orientador desta
dissertação, pela atenção, pelas valiosas sugestões, ensinamentos, incentivo e amizade durante
a elaboração deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Armando José d’Acampora, Md,PhD, cirurgião, incentivador do meu
ingresso no Mestrado de Ciências Médicas.
Ao Sr. Ivo Dedicácio Soares e Simone Julia Nunes, funcionários da secretaria do
Mestrado, que sempre se mostraram disponíveis e atentos às minhas necessidades.
Ao Prof. Dr. João Péricles da Silva Júnior, Md,PhD, patologista, pelo incentivo,
participação e sugestões, fundamentais na elaboração deste trabalho.
À Ana Maria de Barros Santos, secretária do Laboratório AP (Anatomia
Patológica), pela dedicação e prontidão sempre que solicitada.
Aos “amigos do peito” do Serviço de Mastologia da Maternidade Carmela Dutra
pelo apoio e auxílio na elaboração desta dissertação.
À Direção da Maternidade Carmela Dutra por aprovar a realização desta pesquisa
e disponibilizar os prontuários do ambulatório e de internação das pacientes estudadas, assim
como também a todos os funcionários envolvidos neste processo.
À Direção do Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON) pela disponibilização de
prontuários e pela gentileza e préstimo com que fui atendida e recebida.
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Ao Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Infantil Joana de Gusmão.
Ao Serviço de Radioterapia da Casa de Saúde São Sebastião.
Ao Serviço de Radioterapia do Hospital de Caridade.
À Nádia M. M. de Oliveira, pela ajuda em momentos que só ela poderia me
substituir.
À minha mãe, Sidneya Gaspar de Oliveira, pelas inúmeras revisões gramaticais.
Às pacientes anônimas, que contribuíram com seus dados. Sem elas este trabalho
não se concretizaria.
À Stella Maris Büchele pela formatação e apoio na elaboração deste trabalho.
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Lista de siglas
CEPON Centro de Pesquisas Oncológicas
GH Grau Histológico
GN Grau Nuclear
HEMOSC Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina
INCA Instituto Nacional do Câncer
IPN Índice Prognóstico de Nottingham
MCD Maternidade Carmela Dutra
OMS Organização Mundial da Saúde
RH Receptores Hormonais
RE Receptores de Estrogênio
RP Receptores de Progesterona
SEER Surveillance, Epidemiology and End Results
SOE Sem Outra Especificação
SBR Classificação de Scarff, Bloom e Richardson, para Grau Histológico
TNM Tamanho do tumor (T), Avaliação dos Linfonodos (N), Metástases (M)
UICC União Internacional contra o Câncer
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Lista de ilustrações
Quadro 1: Categorias relacionadas aos fatores prognósticos/preditivos para câncer de
mama ............................................................................................................. 17
Quadro 2: Definição e operacionalização das variáveis anátomo-patológicas e
biológicas relacionadas ao prognóstico do câncer de mama avaliadas
neste estudo ................................................................................................. 25
Quadro 3: Características anátomo-patológicas e biológicas com valor prognóstico ..... 29
Quadro 4: Análise multivariada (regressão logística) dos fatores anátomo-patológicos
e biológicos que se mostraram associados com prognóstico de câncer de
mama, de acordo com grupo de idade ........................................................... 31
Quadro 5: Dados da literatura referentes ao comprometimento axilar em duas faixas
etárias ............................................................................................................. 36
Quadro 6: Resultados das pesquisas do efeito prognóstico da idade jovem ao
diagnóstico de câncer de mama baseado em dados clínicos, com
informação de outros fatores prognósticos publicados após 1990 .............. 44
Quadro 7: Critérios histológicos para graduação pela classificação de Scarff; Bloom e
Richardson ...................................................................................................... 62
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SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................................... 12
SUMMARY ...................................................................................................................... 13
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 14
2 OBJETIVOS ................................................................................................................. 22
3 MÉTODOS ................................................................................................................... 23
3.1 População e Amostra ................................................................................................ 23
3.1.1 Critérios de inclusão ................................................................................................. 23
3.1.2 Critérios de exclusão ................................................................................................ 24
3.2 Variáveis Estudadas .................................................................................................. 24
3.3 Processamento e Análise Estatística dos Dados ...................................................... 26
4 RESULTADOS ............................................................................................................. 28
5 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 33
6 CONCLUSÕES ............................................................................................................ 46
7 NORMAS ADOTADAS ............................................................................................... 47
8 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 48
9 ANEXOS ....................................................................................................................... 55
Anexo A - Parecer da Comissão de Ética ......................................................................... 55
Anexo B - Ficha clínica de mastologia ............................................................................. 56
Anexo C - Estadiamento anátomo-patológico do carcinoma mamário (pT) .................... 60
Anexo D - A graduação mais comumente estabelecida para carcinomas mamários é a
modificada da classificação proposta por Scarff, Bloom e Richardson85 .... 62
Anexo E - Índice Prognóstico de Nottingham .................................................................. 63
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RESUMO
Introdução: O estudo apresenta informação a respeito de 199 pacientes com 65 anos ou mais
e de 101 pacientes com menos de 35 anos, submetidas ao tratamento cirúrgico do câncer de
mama na Maternidade Carmela Dutra (MCD) de Florianópolis-SC.
Objetivo: Comparar a ocorrência de fatores prognósticos anátomo-patológicos e biológicos
relacionados com o câncer de mama, em mulheres com até 35 anos e 65 ou mais anos de
idade.
Métodos: Estudo com delineamento do tipo descritivo, a partir de levantamento de dados de
prontuários de mulheres com câncer de mama, atendidas pelo Serviço de Mastologia da MCD
de Florianópolis/SC, no período de janeiro/1992 a dezembro/2004.
Resultados: Das mulheres com até 35 anos, o comprometimento linfonodal, o tipo
histológico medular, o estadio pós-operatório III, os graus histológico e nuclear 3
apresentaram incidências maiores, comparadas ao grupo de maior idade. Entre as mulheres do
grupo de 65 ou mais anos de idade, apenas positividade para receptor hormonal e Índice
Prognóstico de Nottingham (IPN) mais favorável apresentaram uma maior incidência. Ainda
que o grau nuclear 3 e o tipo histológico medular tenham mantido um efeito importante nas
jovens, perderam a significância estatística após o ajuste para confundimento. Apenas a
negatividade para receptor hormonal, nas pacientes jovens, manteve uma diferença
estatisticamente significante, após ajuste, utilizando Regressão Logística.
Conclusão: Os fatores prognósticos avaliados, tamanho do tumor, comprometimento
linfonodal axilar, estadiamento pós-operatório, graus histológico e nuclear e IPN não
diferiram, de maneira estatisticamente significativa, ao comparar sua incidência nos dois
grupos estudados. A negatividade na expressão do receptor hormonal apresentou significância
estatística, sendo maior nas pacientes jovens comparadas às idosas.
Descritores: câncer de mama, fatores prognósticos, mulheres jovens, mulheres idosas.
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SUMMARY
Introduction: This study presents information concerning 199 women with age equal or
above 65 and 101 women aging up to 35 years, who had undergone surgery for breast cancer
in the Carmela Dutra Maternity (MCD) in Florianópolis, Santa Catarina, Brazil.
Objective: The purpose of this study was to compare the incidence of pathological and
biological prognostic factors for breast cancer in women younger than 35 years and older than
65 years old.
Methods: A retrospective descritive study, was conducted based on data from the Breast
Cancer Database at MCD in Florianópolis, Santa Catarina, Brazil, collected between january
1992 and december 2004.
Results: Lymphonodal involvement, medular type and nuclear grade 3 were more frequent
among women from the youngest group. Among women older than 65 years only positive
hormonal receptor and Nottingham Prognostic Index showed higher incidences. Although,
nuclear grade 3 and medular type had kept their effect, these results lost statistical
significance at the 95% confidence level after adjusting for confounding. Among women from
the youngest group, only negative hormonal receptor maintened statistical significance after
adjustment.
Conclusion: Among the breast cancer prognostic factors, investigated in this study, tumor
size, lymph nodal involvement, post operative staging, histological and nuclear grade and the
Nottingham prognostic index have shown similar results when comparing their incidence
according to age groups. Only negative hormonal receptor remained higher among the
youngest age group compared to the older one.
Key words: breast cancer, prognostic factors, young women, elderly women.
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1 INTRODUÇÃO
O conhecimento dos fatores que influenciam o diagnóstico, o tratamento e a
evolução do câncer de mama tem atraído a atenção de vários estudiosos, já que se trata da
neoplasia maligna mais comum entre as mulheres dos países desenvolvidos, representando,
aproximadamente 20% de todos os tumores malignos1,2. Nos Estados Unidos da América
(EUA), estima-se aproximadamente 212.118 casos novos para 2005 e que, neste momento,
dois milhões de mulheres que lá moram estão sendo diagnosticadas e tratadas para câncer de
mama3,4,5,6.
No Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de
mama, excetuando o câncer de pele não melanoma, também é a neoplasia maligna mais
freqüente, seguido do câncer do colo uterino e do cólon/reto, sendo estes numa incidência de
duas e quatro vezes menores, respectivamente. Em 2005, são esperados no país cerca de
49.470 casos novos, com um risco estimado de 53 casos a cada 100.000 mulheres7.
Nos dez registros de Câncer de Base Populacional, em funcionamento no Brasil,
os maiores valores das taxas médias de incidência anuais ajustadas por idade por 100.000
mulheres foram encontradas em: São Paulo 1997-1998: 94,0; Distrito Federal 1996-1998:86,
1; Porto Alegre 1993-1997: 66,5. A menor taxa foi observada em Belém 1996-1998: 22,28.
Além da alta incidência, no Brasil, o câncer de mama é também a primeira causa
de óbito por câncer em mulheres, com um coeficiente de mortalidade padronizado por idade,
mostrando tendência ascendente ao longo dos anos8,9,10. A taxa bruta de mortalidade por
câncer de mama apresentou uma variação percentual de 76% nas últimas décadas, passando
de 5,77 em 1979, para 10,15 mortes por 100.000 mulheres em 20027.
O prognóstico do câncer de mama é relativamente bom, se diagnosticado nos
estadios iniciais. Estima-se que a sobrevida média geral cumulativa, após cinco anos, seja de
65% (variando de 53% a 74%) nos países desenvolvidos, e de 56% (49% a 61%) para os
países em desenvolvimento. Na população mundial, a sobrevida média, após cinco anos, é de
61%7. Infelizmente, (em nosso meio) a taxa de mortalidade é alta, principalmente pelo
elevado número de casos avançados7.
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Quanto ao sexo, a prevalência do câncer de mama em homens com relação às
mulheres é de 1 para 70-130 (homens/mulheres), ao redor do mundo2,9,10, por conseguinte, o
ambiente endócrino associado com o ser feminino é um forte determinante de risco. Segundo
a Associação Americana de Câncer (ACS), em 2004, cerca de 40.110 mulheres e 470 homens
morreram por câncer de mama nos EUA3.
A idade média do diagnóstico do câncer de mama, no Brasil, é de 52 anos, sendo
que, na cidade de São Paulo, houve uma variação etária anual, passando dos 50-60 anos
(1983) a 65-75 anos (de 1988 a 1993)11.
Antes dos 35 anos, o diagnóstico do câncer de mama é raro, mas acima desta faixa
etária, sua incidência cresce rápida e progressivamente7,12. Estima-se que 1% a 5% dos casos
se encontrem em mulheres abaixo dos 35 anos13,14,15,16,17,18,19, e em menos de 1% dos casos, as
mulheres tenham idade inferior a 30 anos20.
Os dados de vários trabalhos na literatura mostram uma incidência maior da
neoplasia acima dos 65 anos, com cerca de 48% dos casos de câncer de mama ocorrendo
nessas mulheres, e mais de 30% ocorrendo em mulheres com idade superior a 70 anos6,21,22,23.
Conforme Yancik e Ries21, a prevalência e incidência do câncer de mama podem aumentar
em 30%, na próxima década, se a expansão da população idosa se mantiver como
hodiernamente.
A definição de juventude e senilidade para faixa etária de incidência de câncer de
mama tem sido discutida nos diversos estudos sobre o tema. No entendimento de Crippa e
cols.16 não há consenso na definição de idade jovem para mulheres com câncer de mama, já
que várias faixas etárias têm sido aplicadas, incluindo idade de 30, 35 e 40 anos. No outro
extremo, também se encontra o mesmo problema conceitual, com pacientes idosas sendo
consideradas as com idade maior que 65, 70, 75, 80 e até 85 anos22,24,25.
O mais aceito na literatura é de até 35 anos para jovem e, além de 65 anos, para
idosa23,24,25,26,27,28. Seguindo este conceito, no presente estudo, foi adotada a definição de
Bossemeyer citado por Fernandes Melo29, baseada no período reprodutivo e no perfil
hormonal, considerando na idade jovem, mulheres com 35 anos ou menos, no auge da
produção hormonal, e como idosas ou senescentes, as mulheres com mais de 65 anos, que há
mais de uma década estariam sem a ação hormonal endógena.
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A evolução do câncer de mama, após o diagnóstico, atrai a atenção de vários
pesquisadores na tentativa de encontrar os fatores relacionados ao prognóstico, que na prática
clínica auxiliariam, tanto na escolha do tratamento adequado para cada paciente, como na
predição de possíveis recidivas17,30,31,32,33,34.
Um fator prognóstico poderia ser definido como um parâmetro possível de ser
mensurado no momento do diagnóstico e que serviria como preditor da sobrevida ou do
tempo livre de doença17,35.
Os fatores prognósticos são importantes no tratamento do câncer de mama para a
identificação de subgrupos de pacientes que se beneficiariam com as terapêuticas mais
agressivas, evitando nas pacientes que têm um prognóstico excelente, o tratamento sistêmico
complementar. Conseqüentemente, o conhecimento destes fatores integraliza uma parte do
processo de decisão do tratamento médico e é também parte do suporte para os pacientes e
seus familiares17,18,35,36,37,38,39,40,41,42.
Dingra e Hortobagyi32 organizaram os potenciais fatores prognósticos para o
câncer de mama em quatro grupos, aos quais denominaram geração. Na primeira geração,
estão agrupados os assim chamados fatores anatômicos (o tamanho do tumor, o
comprometimento dos linfonodos, os subtipos histológicos) e a idade; na segunda geração,
estão incluídos aqueles indicando características patológicas quantitativas (o grau histológico,
a necrose tumoral, a ploidia, o índice mitótico) e a responsividade endócrina (receptores de
estrogênio e de progesterona); na terceira geração, estão incluídos os fatores moleculares
específicos reguladores de crescimento (amplificadores de oncogenes e supressores de genes);
e, finalmente, na quarta geração, são incluídos os preditores de metástases específicos para os
diferentes órgãos (micrometástases em medula óssea, polimorfismo de L-myc, vimentin, etc).
Os fatores apresentados como de terceira e quarta gerações ainda se apresentam
como grandes promessas, estando hoje a sua utilização restrita aos estudos experimentais, que
buscam vencer este desafio que é o desenvolvimento de marcadores prognósticos definitivos
para o câncer de mama feminino32,41,43,44.
As recomendações sobre os fatores prognósticos ou preditivos para o câncer de
mama, elaborados durante a conferência patrocinada pelo Colégio Americano de Patologistas,
realizada em junho de 199945,46, são divididas em três categorias: na categoria 1, são
colocados os fatores prognósticos ou preditivos já comprovados como importantes e úteis no
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manejo clínico da paciente; na categoria 2, estão os fatores promissores como prognósticos ou
preditivos, com algumas evidências na literatura; os fatores, na categoria 3, incluem os que
ainda não foram suficientemente estudados para estabelecer seu real valor prognóstico. O
Quadro 1 apresenta estas categorias.
QUADRO 1: Categorias relacionadas aos fatores prognósticos/preditivos para câncer de mama.
CATEGORIA 1
FATORES PROGNÓSTICOS OU PREDITIVOS JÁ
COMPROVADOS
CATEGORIA 2
FATORES PROMISSORES COMO PROGNÓSTICOS OU PREDITIVOS
CATEGORIA 3
FATORES QUE AINDA NÃO FORAM SUFICIENTEMENTE ESTUDADOS PARA DEMONSTRAR VALOR PROGNÓSTICO
OU PREDITIVO
Estágio TNM
Tipo histológico Marcadores de proliferação celular(MIB-1) Ploidia do DNA
Grau histológico c-erbB-2 Angiogênese tumoral
Contagem de mitoses P53 EGFR
Receptores hormonais Invasão vascular ou linfática Transformador do fator alfa de crescimento
Bcl2, PS2 e catepsina –D
FONTE: Eisenberg (p.26)47.
É consensual, na literatura, que os fatores prognósticos mais reprodutíveis são as
características demográficas como a idade, a menopausa e a etnia; características do tumor,
como o tamanho tumoral, o estado linfonodal, o subtipo histológico e os marcadores
biológicos, que medem ou que estão associados a processos biológicos supostamente
envolvidos na progressão tumoral (oncogenes alterados, genes supressores, fatores de
crescimento)35,40,48,49.
A relação da idade, com os fatores prognósticos e desfecho do câncer de mama, é
controversa devido a inúmeros fatores de confundimento50,51,52. Um deles, já comentado, é a
falta de consenso de idade cronológica para definir juventude e velhice no câncer de mama.
Atualmente, é aceito que as mulheres jovens tenham um prognóstico pior do que as mulheres
de maior idade, mas é controverso se a idade jovem ao diagnóstico é um fator independente
de mau prognóstico ou se a idade jovem está apenas associada com um perfil pior de fatores
prognósticos53,14,54,55,56.
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Em análise multivariada, Bonnier et al.50 demonstraram que a idade inferior a 35
anos é um fator independente de risco. As mulheres jovens têm um maior risco de recorrência
local.
Para Pierga52, apesar de várias investigações avaliarem a influência da idade como
fator independente na biologia e no resultado clínico, ainda não há conclusão definitiva10.
O tamanho do tumor está diretamente relacionado ao risco de recidiva, sendo que,
nos casos de pacientes com ausência de comprometimento metastático dos linfonodos
axilares, o tamanho do tumor torna-se o melhor preditor da possibilidade de
recidiva17,42,43,57,58,49,56,59. Igualmente, o risco de comprometimento dos linfonodos axilares é
diretamente proporcional ao volume tumoral; quanto maior o tumor, maior o risco de
linfonodos comprometidos49,56,57.
Embora seja um importante fator prognóstico, a condição dos linfonodos axilares,
no momento do diagnóstico, apresenta como característica ser tempo dependente, sendo,
portanto, limitado e não suficiente para prognosticar a evolução do câncer de mama47.
Segundo Fitzgibbons45 e Eisenberg47, 20% a 30% das pacientes com carcinoma de
mama irão recidivar, mesmo quando não apresentam comprometimento dos linfonodos
axilares.
Com relação ao tipo histológico, os carcinomas infiltrativos ductais e lobulares,
tanto em sua forma pura ou combinada a outros tipos de tumor, são as formas mais comuns de
câncer de mama. A prevalência do carcinoma ductal invasivo varia de 50-75% e, a do lobular
invasivo, de 5-15% de todos os carcinomas invasivos da mama, dependendo dos critérios
diagnósticos utilizados pelos patologistas, bem como dos diagnósticos das formas puras e
associadas59. Albain60 refere que as pacientes com tumores ductais infiltrativos geralmente
apresentam maior incidência de linfonodos axilares positivos e piores prognósticos clínicos
que as pacientes com tipos de tumores infiltrativos menos comuns.
A determinação do grau histológico dos tumores há muito vem sendo reconhecida
como tendo um alto potencial de avaliar o prognóstico do câncer de mama.
Segundo Alvarenga59, após revisão da literatura, dois tipos principais de métodos
de graduação emergiram do conceito original de Greenhough, em 1925; um, baseado no uso
de fatores morfológicos múltiplos e, outro, apoiado nas características nucleares. Ambos os
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métodos provaram fornecer informações prognósticas significativas e a escolha do método
depende, na prática, das escolas, sendo o grau nuclear de Black mais popular nos Estados
Unidos e o método de SBR (Scarff, Bloom e Richardson) na Europa e Austrália.
Estudos clássicos como o de Bloom e Richardson61, sugerem que o grau
histológico poderia aperfeiçoar a determinação prognóstica superior ao estadiamento
linfonodal isolado30,40,62. Embora a graduação histológica não seja utilizada no estadiamento
TNM da União Internacional Contra o Câncer (UICC)63, ela apresenta as características
arquiteturais do tumor: a formação tubular (como uma expressão da diferenciação glandular) ,
a morfologia do núcleo (grau nuclear) e o número de mitoses, que são considerados fatores
significativos de prognóstico2,17,51,57,64, recebendo cada item uma pontuação específica,
permitindo a elaboração de um escore e de uma graduação (Anexo D).
O grau nuclear é a avaliação citológica do núcleo celular em comparação com o
núcleo das células do epitélio mamário normal. Em função da graduação nuclear não envolver
o padrão de crescimento do tumor, este procedimento é aplicável para tumores que não apenas
o carcinoma ductal infiltrante, mas também para outros subtipos de carcinoma de mama.
Como referido anteriormente, o sistema mais aplicado para a avaliação do grau nuclear é o de
Black et al., e é usualmente apresentado em três categorias: bem diferenciado (grau 3),
intermediário (grau 2) e pouco diferenciado (grau 1). Por convenção, a seqüência numérica
usada para o grau nuclear é oposta ao grau histológico. Outros autores propuseram que a
seqüência fosse a mesma do grau histológico. Para evitar confusão, é sugerido por
Tavassoli65,66 e Carvalho67, que o ideal seria descrever o grau nuclear sem utilizar os
numerais.
Baseados nos achados de que tamanho tumoral, condição dos linfonodos axilares
e grau histológico são os mais importantes fatores prognósticos do câncer de mama, os
europeus elegeram o IPN para estes tumores2. Este índice foi obtido a partir de um estudo
realizado em 1982, em que nove fatores foram analisados em 387 pacientes. Destes, somente
os três citados anteriormente resistiram à análise multivariada, permitindo a criação de um
índice (Anexo E).
O IPN foi aplicado em inúmeras séries e tem demonstrado alta reprodutibilidade e
confirmado seu valor prognóstico67.
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Para estar de acordo com as exigências do IPN, o grau histológico é efetuado em
todos os tipos de carcinomas invasivos da mama, independentemente do tipo histológico.
É também importante o conhecimento de fatores preditivos, que são definidos
como qualquer medida associada a uma resposta ou à sua falha em uma terapia particular. Um
exemplo de fator preditivo é o estado do receptor de estrogênio (RE) no tumor, que prevê a
resposta à terapia hormonal35.
Desde que foi demonstrado que o crescimento do carcinoma de mama é regulado
por estrógenos, a presença de receptores específicos do mesmo, em tumores mamários, é
comprovada quando se realiza a terapia ablativa desse hormônio, produzindo-se remissão
clínica em pacientes com câncer de mama. Os tumores que respondem à terapia hormonal
expressam altos níveis de receptores de estrogênio, enquanto que os tumores que não
respondem têm níveis baixos ou indetectáveis32,42,44,68.
Cerca de dois terços dos cânceres de mama expressam a proteína receptora para
hormônios, sendo, então, considerados positivos para receptores hormonais (RH). A
positividade dos tumores para receptores de estrogênio varia de 60 a 81%, enquanto que para
os receptores de progesterona, de 44% a 61%44.
O valor prognóstico dos receptores hormonais é maior nas mulheres pós-
menopausadas. As pacientes com tumores positivos para receptor de progesterona mostram
um maior intervalo de tempo livre de doença e maior sobrevida44. Os tumores positivos para
receptor de estrogênio estão associados a uma maior sobrevida livre de doença e, também, a
uma maior probabilidade de resposta à terapia hormonal44.
Conforme mostram claramente as características epidemiológicas, o câncer de
mama é uma doença ligada fortemente ao sexo feminino e, por conseqüência, ao perfil
hormonal próprio da mulher. Uma mulher jovem, no menacme, no auge da idade reprodutiva,
vive um ambiente hormonal oposto ao da mulher idosa, com falência ovariana total, com
esteróides sexuais em níveis mínimos. Assim, é considerável pensar que o câncer de mama,
ocorrendo dentro de momentos de exposição hormonal em extremos tão diferentes, possa ter
um comportamento evolutivo distinto, especialmente se os níveis de estrogênio e
progesterona atuarem em seus fatores prognósticos.
Baseando-se no perfil hormonal e nos conhecimentos de comprovada evidência
científica da categoria 145,46, apresentados no Quadro 1, conferem-se e comparam-se os
-
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fatores prognósticos do câncer de mama nas pacientes de dois grupos etários distintos, jovens,
abaixo dos 35 e idosas, acima dos 65 anos, atendidas pelo Serviço de Mastologia da
Maternidade Carmela Dutra (MCD), em Florianópolis/SC, que é considerada como Centro de
Referência em Saúde da Mulher, no Estado de Santa Catarina (Ofício DIAM nº 0083 de
13/2/92). Nessa Maternidade são atendidas pacientes de vários locais do Estado, o que
capacita, na conclusão, considerar-se os resultados como sendo o do perfil da mulher
catarinense, dado este inexistente na literatura.
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2 OBJETIVOS
1) Comparar fatores prognósticos anátomo-patológicos e biológicos de
comprovada evidência científica em mulheres com idade igual ou inferior a 35 anos, e igual
ou superior a 65 anos, com o diagnóstico de câncer de mama. Os fatores são:
• tamanho do tumor;
• comprometimento linfonodal axilar;
• estadiamento pós-operatório;
• grau histológico;
• grau nuclear;
• positividade para receptores hormonais (estrogênio e progesterona).
2) Calcular e interpretar, para os dois grupos etários estudados, o Índice Prognóstico
de Nottingham.
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3 MÉTODOS
Trata-se de um estudo observacional com delineamento do tipo descritivo em
dados de prontuários de mulheres com câncer de mama, atendidas pelo Serviço de Mastologia
da MCD de Florianópolis/SC, no período entre 1º de janeiro de 1992 e 31 de dezembro de
2004.
Os dados foram obtidos a partir da ficha clínica utilizada, rotineiramente, pelo
Serviço de Mastologia (Anexo B) e complementados com os prontuários médicos hospitalares
da MCD e do Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON).
3.1 População e Amostra
Do total de 1485 pacientes submetidas a tratamento cirúrgico para câncer de
mama, no período de 1º de janeiro de 1992 a 31 de dezembro de 2004 e atendidas pelos
cirurgiões do Serviço de Mastologia da MCD de Florianópolis/SC, 300 preencheram os
critérios de inclusão estabelecidos nesta pesquisa.
3.1.1 Critérios de inclusão
• Pacientes do sexo feminino, com idade igual ou inferior a 35 anos e idade igual
ou superior a 65 anos, com diagnóstico histológico de carcinoma invasor de
mama;
• Pacientes com estadiamento pós-operatório I, II ou III, pelo critério tamanho,
comprometimento axilar, presença de metástases (TNM) da União
Internacional Contra o Câncer (UICC)63 (Anexo C).
-
25
3.1.2 Critérios de exclusão
• Pacientes com estadiamento pós-operatório “0” (intraductal) ou IV (com
metástase à distância) (segundo critérios TNM da UICC63 - Anexo C);
• Pacientes submetidas a tratamento oncológico clínico primário (neoadjuvante)
com quimioterapia ou hormonioterapia;
• Outras formas de neoplasia maligna da mama que não carcinoma.
3.2 Variáveis Estudadas
As definições e operacionalizações das variáveis estudadas, na análise descritiva
dos casos, estão detalhadas no Quadro 2, a seguir. Foram elas: tamanho do tumor,
comprometimento axilar, estadiamento pós-operatório pelo critério TNM da UICC63, tipo
histológico, grau histológico, grau nuclear, positividade para proteína receptora de estrogênio
e progesterona e IPN.
-
26
QUADRO 2: Definição e operacionalização das variáveis anátomo-patológicas e biológicas
relacionadas ao prognóstico do câncer de mama avaliadas neste estudo.
NOME DA VARIÁVEL DEFINIÇÃO OPERACIONALIZAÇÃO
Idade Até 35 anos completos ou acima de 65 anos, no momento da confirmação diagnóstica
Variável numérica em anos completos de vida
Tamanho do tumor
Medido em centímetros de forma contínua, para fins de análise, agrupada em: T1: até 2 cm T2: de 2,1 a 5 cm T3: acima de 5,1 cm
Variável contínua
Comprometimento axilar
Medido de forma contínua, para fins de análise, agrupada em: L0 = sem comprometimento L1 = 1 a 3 linfonodos comprometidos L2 = mais de 4 linfonodos comprometidos
Variável contínua
Estadiamento patológico (pós-operatório)
Avaliação do tamanho do tumor, (medido em cm) do comprometimento de linfáticos axilares e de metástases à distância, pelos critérios de anatomia patológica da UICC63.
Variável categórica baseada no estadiamento anátomo-patológico pós-operatório (TNM da UICC63)
Tipo histológico
1 = ductal 2 = lobular 3 = medular 4 = outros (tubular, apócrino, adenocístico, secretório, oat-cell, cribriforme)
Variável qualitativa
Grau histológico (Anexo D) 1 = bem diferenciado 2 = moderadamente diferenciado 3 = pouco diferenciado
Variável qualitativa
Grau nuclear (*) 1 = bem diferenciado 2 = moderadamente diferenciado 3 = pouco diferenciado
Variável qualitativa
Receptores hormonais Receptores de estrogênio e progesterona Positivo, negativo Variável qualitativa
IPN (Anexo E) 1 (inferior a 3,4) = bom prognóstico 2 (entre 3,41 e 5,4) = prognóstico intermediário 3(superior a 5,4) = mau prognóstico
Variável qualitativa
(*) foi adotado numeração igual ao grau histológico, para facilitar a compreensão, graduado após revisão do laudo descritivo do anátomo-patológico. FONTE: SAME MCD, janeiro/1992 a dezembro/2004.
-
27
3.3 Processamento e Análise Estatística dos Dados
A informação coletada foi digitada, utilizando o Programa Epidata 3.0 e um banco
de entrada para os dados, criados com o mesmo software. O Programa Epiinfo 6.04 foi
utilizado na primeira fase exploratória dos dados, quando a correção e validação da
consistência também foram efetuadas.
O Programa SPSS 8.0 foi utilizado na condução das Análises Multivariadas. A
análise dos dados seguiu um processo de complexidade crescente. O primeiro passo foi a
análise exploratória de associações entre os grupos de idade e potenciais fatores associados
com o prognóstico, através das análises univariadas (teste x2). Nesta etapa, diferenças nas
proporções de acordo com grupos específicos dos determinantes e idade são detectados e a
significância estatística destas diferenças, obtida pelo teste do qui-quadrado e expressa pelo
valor de “p” no nível de confiança de 95% (alpha
-
28
positividade dos RH foi de 10%69, após análise do estudo imunohistoquímico pelo
Laboratório de Patologia Clínica do Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina
(HEMOSC)70,71,72,73,74.
A aprovação do projeto de pesquisa pela Comissão de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) encontra-se no Anexo A.
-
29
4 RESULTADOS
Das 1485 pacientes investigadas, 101 (6,8%) tinham até 35 anos, com uma idade
mínima de 15 anos. A idade média deste grupo foi de 31,7, com moda de 35 e mediana de 33
anos.
O grupo de idade igual ou superior a 65 anos foi composto por 199 (13,4%)
mulheres, com idade máxima de 92 e média de 71,6 anos. A moda e mediana foram de 72
anos.
A faixa intermediária, entre 36 e 64 anos, que não foi objeto do estudo, foi
composta por 1184 (79,7%) mulheres.
O Quadro 3, a seguir, apresenta a incidência dos fatores prognósticos estudados de
acordo com as faixas etárias de interesse e as respectivas significâncias estatísticas para as
diferenças encontradas ao comparar os dois grupos.
-
30
QUADRO 3: Características anátomo-patológicas e biológicas com valor prognóstico.
CARACTERÍSTICAS IDADE 65 ANOS VALOR DO P(*)
Tamanho tumoral
T < 2cm 48 (47,5%) 91 (46,4%) 0,85
T 2,1-5 cm 46 (45,5%) 92 (46,9%) 0,81
T> 5,1 7 (6,9%) 13 (6,6%) 0,29
Linfonodo
Negativo 49 (48,5%) 98 (53%) 0,47
Positivo 52 (51,5%) 87 (47%) 0,47
1-3 linfonodos 34 (65,3%) 53 (60,9%) 0,59
acima de 4 linfonodos 18 (34,6%) 34(39%) 0,59
Estadiamento
I +II 87 (87%) 163 (91,1%) 0,28
III 13 (13%) 16 (8,9%) 0,28
Tipo histológico
Ductal 81 (80,2%) 154 (77,4%) 0,57
Lobular 3 (3%) 11 (5,5%) 0,32
Medular 9 (8,9%) 5 (2,5%) 0,01
Outros 8 (7,9%) 29 (14,6%) 0,09
Grau histológico
1+2 53(67,9%) 102 (77,3%) 0,13
3 25 (32,1%) 30 (22,7%) 0,13
Grau nuclear
1+2 46 (64,8%) 87 (79,1%) 0,03
3 25 (35,2%) 23 (20,9%) 0,03
Receptores Hormonais
Positivo 40 (57,1%) 73 (86,9%) 0,00000
Negativo 30 (42,9%) 11 (13,1%) 0,00000
IPN
1+2 71 (92,2%) 119 (90.8%) 0,73
3 6 (7,8%) 12 (9,2%) 0,73
1 41 (53,2%) 72 (54,9%) 0,81
2 30 (39%) 47 (35,9%) 0,65
3 6 (7,8%) 12 (9,2%) 0,73
(*) P (qui-quadrado) = testa a existência de diferenças estatisticamente significativas (95% de confiança) ao comparar as faixas etárias abaixo de 35 e acima de 65 anos. FONTE: SAME MCD, janeiro/1992 a dezembro/2004.
-
31
O tamanho tumoral foi obtido para 297 pacientes, sendo inferior a 5cm em 92%
dos casos. Entre as mais jovens o tamanho médio foi de 2,75 cm (DP 1,7) e discretamente
maior do que entre as mais idosas que foi de 2,59 cm (DP 1,6).
A avaliação do comprometimento linfonodal axilar foi obtida para 286 pacientes,
sendo 101 no grupo mais jovem e 185 no grupo de idade mais avançada. O comprometimento
axilar foi positivo em 48,6% das pacientes, considerando ambos os grupos. Ao comparar a
ocorrência de comprometimento linfonodal axilar em cada grupo, a positividade foi um pouco
mais freqüente nas mulheres jovens 51,5%, comparadas ao grupo mais idoso 47%. Quando se
comparou o número de linfonodos comprometidos, observou-se uma ocorrência maior nas
jovens com 1 a 3 linfonodos positivos. Essas diferenças não alcançaram significância
estatística no nível de 95% de confiança.
Em relação ao estadiamento pós-operatório da neoplasia, observado em 279
pacientes, 91,1% das mulheres acima de 65 anos e 87% das com menos de 35 anos
apresentaram-se nos estadios mais precoces (I e II). Apesar de a incidência de estadio mais
avançado (III) ter aparecido levemente maior nas pacientes mais jovens, não houve diferença
estatisticamente significante.
A avaliação do tamanho tumoral, comprometimento dos linfonodos axilares e
estadiamento pós-operatório, de acordo com os grupos etários estudados, não apresentou
diferença estatisticamente significativa no nível de confiança de 95%.
Os dados referentes ao grau histológico foram avaliados em 210 pacientes. As
pacientes com mais de 65 anos apresentaram tumores com características mais favoráveis: os
graus histológicos 1 e 2 foram os mais encontrados com uma incidência de quase 10% a mais
no grupo acima de 65 anos do que no grupo jovem.
O cálculo do IPN foi realizado em 208 pacientes e constatou-se que 91,3% das
mulheres estavam em categorias de escores mais favoráveis, independentes do grupo etário.
Quando se avaliou a significância estatística não houve variação no cálculo do “p”,
independente da associação escolhida (1+2 ou 2+3).
Ainda que tenha sido encontrado um excesso de 10% na incidência do grau
histológico 3 entre as pacientes mais jovens e IPN com escore discretamente mais elevado
entre as pacientes mais idosas, estas diferenças não encontraram significância estatística.
-
32
Os dados de tipo histológico foram obtidos para 300 pacientes. Ao comparar a
distribuição de acordo com a idade, observou-se que o tipo ductal foi o mais incidente
(78,3%) nos dois grupos e que as pacientes jovens apresentaram uma maior incidência do tipo
medular (8,9%) em relação ao grupo mais velho (2,5%). Diferenças importantes foram
observadas na estratificação dos tipos especiais (cribriforme, tubular, oat-cell, apócrino,
adenocístico, secretório), evidenciando quase o dobro da incidência entre as mais velhas,
comparadas às jovens, porém sem significância estatística.
O grau nuclear foi obtido para 181 das pacientes e teve uma incidência maior nas
categorias grau 1 e 2, em ambas as faixas etárias. Ainda, pacientes jovens, apresentaram um
excesso de 15% no grau nuclear menos diferenciado (grau 3).
Os dados dos receptores hormonais (de estrogênio e progesterona) foram obtidos
para 154 mulheres e demonstraram nas pacientes acima dos 65 anos maior positividade
(86,9%) do que nas pacientes abaixo de 35 anos (57,1,7%).
As diferenças encontradas foram estatisticamente significantes no nível de
confiança de 95% entre as pacientes jovens para o excesso de tipo histológico medular e entre
as idosas, para o excesso de grau nuclear 1 e 2 e receptores hormonais positivos.
Os fatores anátomo-patológicos e biológicos mostrando associação com idade
foram incluídos em um modelo de Análise Multivariada e os resultados são apresentados no
Quadro 4.
QUADRO 4: Análise multivariada (regressão logística) dos fatores anátomo-patológicos e
biológicos que se mostraram associados com prognóstico de câncer de mama, de
acordo com grupo de idade.
FATOR RC (*) BRUTA RC AJUSTADA (**) VALOR DE P (***)
Grau nuclear 3 2,05 2,36 0,08
Receptor estrogênio negativo 4,97 7,96 P
-
33
Ao ajustar para efeito de confundimento, considerando-se os dois fatores
anátomo-patológicos e o fator biológico previamente selecionados, apenas o receptor de
estrogênio negativo manteve efeito e significância estatística. Ainda que grau nuclear 3 e tipo
histológico medular tenham mantido um efeito importante, perderam a significância
estatística após o ajuste.
-
34
5 DISCUSSÃO
O câncer de mama representa, nos países ocidentais, umas das principais causas
de morte em mulheres2. As estatísticas indicam o aumento da freqüência desta neoplasia,
tanto nos países desenvolvidos, quanto nos países em desenvolvimento11,75. De acordo com
dados da literatura, a probabilidade de desenvolver câncer de mama aumenta com a idade, e
embora prevaleça na pós-menopausa, a doença ocorre, em praticamente, todas as faixas
etárias a partir da idade reprodutiva10. É uma doença que pela sua alta freqüência e pelos
efeitos psicológicos do diagnóstico e tratamento, afeta a sexualidade e a própria imagem
pessoal feminina7,12.
Neste estudo, em 1485 casos, encontrou-se uma amostra de 6,8% dos tumores
ocorrendo em mulheres com 35 anos ou menos, e 13,4% em mulheres com 65 anos ou mais
de idade. A literatura pesquisada tem demonstrado resultados semelhantes nas jovens, porém
nas idosas os dados são discrepantes. É possível que esta ocorrência seja devido à expectativa
de vida da mulher brasileira ser menor que a das pacientes de outros estudos, realizados em
outros países, e de que pacientes nesta faixa etária possam ter apresentado comorbidades que
as impediram de realizar o tratamento cirúrgico na MCD, necessitando de hospital de alta
complexidade.
A história natural do câncer de mama ainda não é bem compreendida, já que seu
comportamento evolutivo não se reproduz de maneira uniforme em todas as mulheres. Busca-
se explicar esta divergência comportamental de alguns tumores que possuem as mesmas
características clinicas, com os conhecimentos adquiridos através dos fatores prognósticos que
envolvem o contexto geral do câncer de mama. Assim, têm-se além do diagnóstico da doença
em si, aspectos de achados clínicos e biológicos que se associam as diferenças de tempo livre
de doença e a sobrevida global11.
Dentro dos critérios de Dingra e Hortobagy32, publicados em 1996, e do Consenso
do Colégio Americano de Patologia de 199945, abordados na introdução, fixa-se neste estudo
a discussão entre os fatores prognósticos com evidência científica comprovada, ou seja,
tamanho tumoral, comprometimento dos linfonodos axilares, estadiamento pós-operatório,
-
35
tipo e grau histológico, receptores hormonais e IPN. Pierga e cols.52, em análise univariada,
descrevem estes fatores como independentes da idade e do estado menopausal.
O tamanho do tumor, juntamente com a condição dos linfonodos axilares, é um
dos mais importantes indicadores prognósticos para o câncer de mama, tanto que se
constituem na base do estadiamento TNM estabelecido e promulgado pela UICC2,35,57,61,65.
Segundo Foxcroft76, quando se compara o tamanho do tumor em dois grupos de
mulheres, com menos de 40 anos e com mais de 40 anos, e se desconsidera os tumores
encontrados em exames de rastreamento, a proporção de tumores com menos de 1 cm é de
15,5% versus 12%76.
Vários autores15,18,56 encontraram tumores de maior volume e estadios mais
avançados nas pacientes jovens. Já Rodrigues53 observou uma tendência do diagnóstico de
tumores menores nas pacientes mais jovens - essas observações estão em contradição com os
autores acima que admitem o pior prognóstico em mulheres jovens, devido à dificuldade e
retardo do diagnóstico.
La Rochefordiere et al.77, em estudo realizado no Institut Curie, não observaram
diferenças significativas no tamanho do tumor, entre as pacientes estudadas com menos de 33
anos, de 34-40 anos e mais de 40 anos.
Na série de Schmidt, das 183 pacientes com menos de 35 anos, em que o tamanho
tumoral pôde ser avaliado, a média foi de 2,6 cm, com 85% das pacientes tendo tumores
menores que 5 cm78.
Nos relatos de Daidone23, do Istituto Nazionalli de Tumori of Milan, as pacientes
com menos de 35 anos tiveram uma menor proporção de tumores pequenos do que as
pacientes com mais de 65 anos. Em relação aos tumores com mais de dois centímetros, no
entanto, não houve diferença entre os dois grupos.
Encontramos neste estudo, os tumores medindo em quase sua totalidade (92%)
menos que 5 cm e, embora nas jovens a média do tamanho tenha sido discretamente maior
que nas idosas (2,75 cm versus 2,59 cm), a diferença não parece significativa e reproduz a
maioria dos estudos pesquisados.
O tamanho do tumor guarda relação direta com o comprometimento axilar43.
Mersin et al.36 postulam que existe um contínuo entre tumores com baixa velocidade de
-
36
crescimento, com envolvimento linfonodal axilar tardio e os tumores mais agressivos com
metástases precoces para axila.
O estudo conduzido pelo The Surveillance, Epidemiology and End Results
(SEER), nos Estados Unidos em 1989, com avaliação de 24.740 pacientes, confirmou a
importância prognóstica com relação ao tamanho do tumor primário, em pacientes com
linfonodos axilares negativos. A menor sobrevida foi a das pacientes com quatro ou mais
linfonodos positivos, independente do tamanho do tumor. Para tumores menores que dois
centímetros, os sem comprometimento axilar ou com 1 a 3 linfonodos positivos tinham de
77% a 99% de sobrevida relativa em cinco anos, enquanto aqueles com 4 ou mais linfonodos
positivos no máximo 64% de sobrevida49.
Como o tamanho do tumor é, em média, maior nas pacientes jovens e os estadios
mais avançados são mais prevalentes neste grupo, inferiu-se, também, que o acometimento
dos linfonodos axilares fosse mais comum nestas pacientes. Encontrou-se aqui, uma
prevalência estatística. O excesso na proporção de linfonodos axilares comprometidos, em
estadios mais avançados nas jovens, dá-se por conta do grupo de 1 a 3 linfonodos
comprometidos.
Nas séries de Yildirim18 e de La Rochefordiere77, não houve diferença na
distribuição de metástases axilares entre pacientes jovens e idosas. Já Kroman56 e Bun24
encontraram uma maior proporção de comprometimento axilar nas pacientes jovens.
Montoro80 descreve ter encontrado axila comprometida em 54% dos casos de
pacientes com menos de 35 anos, com o exame médio de 21,7 linfonodos por peça operatória.
Entre as pacientes com axila positiva, predominou o grupo com até três gânglios
comprometidos, representando 23,8% das axilas estudadas.
Nos dados do Instituto Nazionali Tumori of Milan, descritos por Daidone23, 32%
das pacientes jovens e 47% das pacientes com mais de 65 anos não tiveram comprometimento
axilar. Quando se avaliou o comprometimento de 1 a 3 linfonodos, 33,1% das jovens e 26,2%
das idosas estavam neste subgrupo; no 3º grupo, com mais de quatro linfonodos
comprometidos, as jovens tiveram 34,3% e as idosas, 26,4%23. Houve uma maior proporção
de pacientes jovens com comprometimento axilar, do que de idosas.
O comprometimento axilar das pacientes com menos de 35 anos da série de
Schmidt, em 1991, foi observado em 83 pacientes, sendo 42 com 1 a 3 linfonodos
-
37
comprometidos e, 41, com mais de 4 linfonodos comprometidos. Sessenta por cento não
apresentaram comprometimento axilar78.
O Quadro 5 apresenta alguns dados da literatura pesquisada referentes ao
comprometimento axilar, comparando as diferentes faixas etárias. Observamos uma
concordância dos nossos resultados e, embora se tenha demonstrado um discreto predomínio
de comprometimento axilar nas pacientes jovens, não houve significância estatística,
QUADRO 5: Dados da literatura referentes ao comprometimento axilar em duas faixas etárias.
COMPROMETIMENTO LINFONODAL (%)
ESTUDO N 35 anos e para Daidone e este estudo significa > 65 anos. FONTE: SAME MCD, 1992-2004, DAIDONE25, YILDIRIM20, SCHMIDT79, MONTORO81.
Ellis et al.31 dividiram os tipos histológicos mais comuns dos carcinomas
invasivos da mama, com relação ao prognóstico, em quatro grupos: No primeiro, de tumores
com prognóstico excelente (sobrevida de 10 anos acima de 80%): carcinoma tubular,
mucinoso (colóide) e cribriforme (tipos especiais) e carcinoma túbulo-lobular; no segundo, de
tumores de bom prognóstico (sobrevida de 10 anos entre 60% e 80%): carcinoma tubular
misto, carcinoma lobular clássico e carcinoma ductal invasivo, associado com tipos especiais
(carcinoma tubular, mucinoso ou cribriforme); no terceiro, de tumores de prognóstico
moderado (sobrevida de 10 anos de 50% a 60%): carcinoma medular, carcinoma papilífero
invasivo e carcinoma lobular alveolar; e, finalmente, no quarto, de tumores de prognóstico
ruim (sobrevida de 10 anos menor de 50%): carcinoma ductal invasivo SOE, carcinoma misto
ductal e lobular, carcinoma lobular sólido e carcinoma lobular misto31,59. É reconhecido que
-
38
tumores tubulares, mucinosos e cribriformes têm um excelente prognóstico, enquanto o
lobular e o medular têm um grau intermediário com relação ao tipo ductal puro30, 64.
O grupo de pacientes jovens tende a ter menos tumores do tipo lobular ou tipos
especiais bem diferenciados, que estão associados com uma vantagem na sobrevida quando
comparados com tumores ductais sem tipo especial. Existe uma significativa idade mais baixa
do diagnóstico, nos tumores medulares e medulares atípicos e, mais alta, nos carcinomas
mucóides e lobulares na pós-menopausa15,26.
Em dados apresentados por Silva Mendonça82, a grande maioria dos tumores
descritos era do tipo histológico ductal infiltrante (91,8%) e apenas 4,1% de tumores lobulares
e tipos especiais 4,1%. Este também foi o achado de Leal81, Foxcroft76, Xiong82, Gebrim27 e
Carter49, cujos estudos encontraram o carcinoma ductal infiltrante, correspondendo ao tipo
histológico mais freqüente.
Esses também foram os achados do Istituto Nazionali Tumori of Milan23, em que
o tipo histológico mais comum, foi o ductal infiltrante; em segundo lugar, nas jovens o
medular e, nas idosas o lobular.
Também nossos dados reproduzem os achados da literatura, se assemelhando
especialmente aos achados de Daidone,23 com predomínio do carcinoma ductal infiltrante em
ambos os grupos, sendo em segundo lugar , nas jovens, o tipo medular e, nas idosas o lobular.
A diferença encontrada nas mulheres jovens ocorreu em relação ao estudo de
Montoro80,1998, que referiu a incidência em segundo lugar de carcinoma lobular ao invés de
medular.
Quanto ao grau histológico, vários estudos têm demonstrado a existência de uma
associação entre o grau histológico e a sobrevida no câncer invasor de mama30,31,33,83. A
determinação do grau histológico é, atualmente, reconhecida como um importante fator
prognóstico e deveria ser incluída como componente do diagnóstico histológico do câncer de
mama30, principalmente após as modificações do método de Patley e Scarff, primeiramente
por Bloom e Richardson61 e, mais recentemente, por Elston e Ellis30,59.
As dificuldades primárias da graduação histológica ocorrem devido a falta de
concordância entre diversos observadores60,84.
-
39
A adequada fixação e preservação do tecido são pré-requisitos para permitir a
graduação histológica apropriada dos tumores mamários. Durante muito tempo propuseram-se
que se graduasse apenas os carcinomas ductais invasores. Atualmente, recomenda-se que
todos os carcinomas invasivos da mama sejam submetidos à graduação histológica, com
exceção do carcinoma medular. Mesmo os chamados “tipos especiais” (tubular, mucinoso e
cribriforme) devem ser graduados, pois o prognóstico excelente ocorre somente nos tumores
bem diferenciados. Isto não é verdade para o carcinoma medular, que tem melhor prognóstico
do que seu grau poderia sugerir59. Não há concordância entre alguns autores, como Falzoni,
que diz que não se aplica a graduação de Scarff, Bloom e Richardson (SBR) nos carcinomas
lobulares, e que deve constar, dos relatórios, o grau nuclear e os subtipos presentes (clássico,
sólido, alveolar e tubulo-alveolar)85.
O sistema mais utilizado de graduação histológica é o de Nottingham, que
corresponde ao sistema de graduação de Scarff, Bloom, Richardson, modificado por Elston e
Ellis. Esses autores introduziram a importância do diâmetro do campo microscópico, na
avaliação do índice mitótico, e estenderam a graduação histológica a todos os tumores
mamários invasores, com exceção do carcinoma medular. Por este método, o grau histológico
é baseado na avaliação do índice de formação tubular, pleomorfismo nuclear e contagem
mitótica. Um escore de um a três é dado a cada um destes elementos86. O sistema de escore
por pontos serviu para dar mais objetividade num método essencialmente subjetivo59 (Anexo
D).
Segundo Elston et al.30, existe uma forte correlação entre grau histológico e
prognóstico: em ambos, o intervalo livre de doença e a sobrevida global são piores naquelas
pacientes com tumores pouco diferenciados, comparado àqueles bem diferenciados.
A sobrevida em 20 anos, entre pacientes com neoplasias graus 1, 2 e 3 de Scarff-
Bloom-Richardson (SBR) é estimada em 41, 29 e 21%67.
No estudo de Foxcroft76, o grau histológico dos carcinomas invasivos foi
determinado em 78% das pacientes com menos de 40 anos e 79,5% das pacientes com mais
de 40 anos. Houve significância estatística para associação entre o grau de diferenciação e a
idade com as mulheres jovens, apresentando uma maior proporção de tumores
indiferenciados. Mesmo quando tumores do mesmo tamanho foram comparados, esta
diferença persistiu.
-
40
Rodrigues53 percebeu que, quanto ao grau histológico, o alto grau prevaleceu em
46% dos tumores de pacientes jovens, embora entre os dois grupos não se tenha encontrado
diferenças significativas.
Autores como Kothari15, Guerra40, Han19 e La Rochefordiere77, como confirmado
na presente investigação, encontraram nos seus grupos de mulheres com menos de 35 anos,
tumores com grau histológico mais alto.
Na análise de pacientes com mais de 65 anos, realizada por Gebrim27, a
distribuição do grau histológico foi, respectivamente, 36,6% para GH 1; 41,7% para GH 2, e
21,7% para GH 3, onde se observou uma menor prevalência dos tumores de alto grau.
Nossos dados estão de acordo com a literatura, tendo sido observada uma maior
incidência dos graus histológicos 1 e 2 em ambos os grupos. Também concordante, a
observação de um predomínio de grau histológico 3 nas jovens em relação às idosas, porém
estatisticamente, sem significância.
Quando o grau é estimado em tumores de tipo histológico especial, ele é
usualmente apropriado. Por exemplo, carcinomas lobulares invasivos são usualmente
designados como GH 2 e, a curva de sobrevida dos carcinomas lobulares sobrepõe aquela
para todos os tumores grau 2; similarmente, os tipos especiais, como o tubular ou cribriforme
invasivo, invariavelmente têm um excelente prognóstico, comparável com aqueles de grau 1.
O carcinoma medular da mama é talvez o único tumor que se opõe a esta regra. Por definição,
estes tumores têm grau histológico 3, mas são geralmente considerados como de bom
prognóstico. As séries de Elston, entretanto, apesar do uso de critérios bem rigorosos, não
foram capazes de demonstrar uma sobrevida maior para pacientes com carcinoma medular,
quando comparadas com outros tumores GH 330.
Tumores bem diferenciados tendem a ter um baixo índice proliferativo, enquanto
tumores pouco diferenciados têm índices altos. As associações entre grau histológico,
receptores de fator de crescimento e produtos de oncogenes também foram demonstradas em
alguns estudos30,65.
Apesar do grau histológico servir como um fator independente de prognóstico,
Bloom61 demonstrou que o valor prognóstico seria maior se combinado com o estadiamento
linfonodal.
-
41
Na busca de resposta mais efetiva para a evolução destes tumores, os europeus
adotaram o IPN que reflete o prognóstico do câncer de mama aliando tamanho tumoral,
condição dos linfonodos axilares e grau histológico, sendo que quanto maior o IPN, pior o
prognóstico30.
O IPN foi estabelecido, na presente amostra, em 208 pacientes com similaridade
nos dois grupos, em relação ao prognóstico, havendo predomínio de índices favoráveis em
ambos os grupos etários.
O valor do estudo dos receptores de estrogênio e progesterona, na previsão da
resposta ao tratamento hormonal do câncer de mama avançado, tem forte embasamento,
sendo a expressão de receptores hormonais um fator mais preditivo de resposta ao tratamento
hormonal do que propriamente fator prognóstico23,32,38,39,43,44,51,82.
Os receptores de estrogênio e progesterona estão altamente associados com a
idade da paciente ao diagnóstico, sendo significativamente mais positivos nos tumores de
mulheres na pós-menopausa88. Os receptores hormonais não estão relacionados com a história
familiar, paridade ou idade da menarca. A maioria dos tumores positivos para receptor de
progesterona são também positivos para receptor de estrogênio44,65.
Segundo Kothari15, os carcinomas nas jovens apresentam uma baixa incidência de
positividade para receptores de estrogênio e progesterona e, se considerarmos que os tumores
nas jovens são normalmente de alto grau, estes achados não são surpreendentes.
Guerra40, avaliando 108 pacientes com menos de 35 anos, referiu positividade
para receptor de estrogênio em 36 (33%) e, para progesterona, em 40 pacientes (37%).
Nos achados de Montoro80, em 20 avaliações possíveis, das 68 pacientes com
menos de 35 anos, verificou-se 50% de tumores com receptor positivo de hormônios.
O estudo de Rodrigues53 não apresentou diferença na incidência da expressão de
receptor de estrogênio na pré e pós-menopausa. Em ambos os grupos, a maioria dos tumores
foi receptor de estrogênio positivo.
Daidone23 apresentou que positividade para receptores de progesterona em
tumores de pacientes com mais de 65 anos, apesar de mais alta do que a observada em
tumores de mulheres com menos de 35 anos, não difere da positividade do receptor de
progesterona nas pacientes entre 50 e 64 anos.
-
42
Os achados nesta análise coincidem com os dos autores citados, com as pacientes
idosas tendo a positividade aos receptores hormonais praticamente 30% maior que as
pacientes jovens. Quando se avalia a positividade para ambos os receptores, as idosas têm o
dobro da prevalência, o que lhes confere um bom prognóstico.
Também se observou que existe o triplo de pacientes com receptores hormonais
negativos no grupo jovem. Segundo Eisenberg44, em sua revisão da literatura sobre
marcadores tumorais, “a maioria dos autores mostra que existe uma associação positiva entre
a presença de receptores hormonais (RH) e um prognóstico mais favorável.”
Stierer et al.89 mostraram uma associação significativa entre tumores positivos
para receptores hormonais e baixo grau histológico, baixo pleomorfismo nuclear, baixa
atividade mitótica e pacientes pós-menopausa. O estado dos RH não estava associado,
significativamente, com a condição dos linfonodos axilares. Também encontraram que a
determinação de RE, o tamanho do tumor, o estado dos linfonodos axilares, o grau
histológico, a atividade mitótica e o pleomorfismo nuclear foram de valor prognóstico para
sobrevida livre de doença e, também, sobrevida global das pacientes.
Nos dados pesquisados observou-se, também, que não houve relação entre a
positividade dos receptores hormonais e o comprometimento axilar e grau histológico em
ambos os grupos etários.
Alguns estudos mostram que o benefício significativo dos receptores de
estrogênio e progesterona aparece até cinco anos de seguimento; após esse período, as
pacientes que apresentaram receptores positivos ou negativos tiveram quase a mesma chance
de sobrevida43,69,90.
Segundo a literatura, a taxa de resposta aos antiestrogênios é de 70 a 80% para
tumores positivos para ambos os receptores; 46% para os tumores negativos para receptor de
estrogênio, mas positivo para receptor de progesterona; 27% para tumores positivos para
receptor de estrogênio, mas negativo para progesterona e apenas 11% para os tumores
negativos para ambos receptores44,85. Este é um dado que oferece opção de terapia hormonal
para as pacientes, demonstrando ser a expressão da proteína hormonal, mais um fator
preditivo de resposta do que um fator prognóstico puro e simples.
Acredita-se que a presença do receptor hormonal seja um fator indireto de bom
prognóstico, já que para as pacientes que apresentam a positividade, é oferecido de rotina o
-
43
uso de terapia antiestrogênica, que conhecidamente oferece quimioproteção, que se reflete em
uma maior sobrevida livre de doença.
Na opinião de vários autores, a melhor sobrevida é verificada no grupo de
mulheres com idade entre 45 e 49 anos, podendo o estadiamento clínico ser um fator de
tendenciosidade, se for levado em consideração que, na média, esse grupo de mulheres tem o
diagnóstico estabelecido mais precocemente que aquelas dos demais grupos
etários17,18,24,50,69,77,91.
Rosenberg83 que apresenta os dados do SEER, onde foram analisadas 72.367
pacientes, dos 21 aos 90 anos, conclui que as mulheres jovens e as mais velhas têm sobrevida
menor que as mulheres de meia idade, e também encontraram relação entre o estadiamento, o
grau e tamanho tumoral e uma menor sobrevida, nestes grupos etários. Os achados do SEER
vão ao encontro da crença geral entre os clínicos, de que as pacientes jovens tendem a ter
formas mais agressivas de doença, apesar de que se deva observar que não existe programa de
rastreamento em mulheres com menos de 40 anos, portanto, existe menos chance de se
encontrar a doença localizada83.
Segundo Goldhirch e col.55, uma proporção significativa de mulheres jovens com
câncer de mama tem prognóstico ruim, em parte, devido à apresentação mais agressiva da
doença.
Muitas pacientes jovens, com câncer de mama, compartilham das mesmas
características do tipo de tumor, envolvimento linfonodal, localização e tamanho de seus
pares mais velhos. Especificamente, a juventude não parece predispor a paciente com câncer
de mama a um estágio mais letal ou maior comprometimento regional ao momento do
diagnóstico. O prognóstico da paciente jovem, com estadio I ou II, e sem comprometimento
axilar é similar ao de pacientes mais velhas em relação à sobrevida em 5 ou 10 anos.
Entretanto, pacientes no estadio II, com comprometimento axilar, têm sobrevida pior que seus
pares de maior idade78.
O rápido crescimento dos tumores nas pacientes jovens poderia explicar as altas
taxas de recidivas locais precoces ou à distância. Em contraste, o crescimento lento da doença
poderia justificar o aparecimento mais tardio da recorrência nas pacientes mais velhas, e em
longo prazo, as taxas cumulativas de falha poderiam não ser maiores nas jovens que nas mais
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44
velhas. Diferente de Adami54 e Sant92, La Rochefordiere e cols.77 não encontraram uma
variação no risco de morte nas mulheres jovens ao longo do tempo.
Os achados de Xiong82 são de que a idade jovem ao diagnóstico é um fator
independente de mau prognóstico. As observações de que as mulheres com menos de 30 anos
têm pior evolução, apesar da terapia empregada, enfatizam a necessidade de entender a
biologia do câncer de mama nas mulheres jovens e o desenvolvimento de novas estratégias de
tratamento para este grupo de pacientes.
Durante os últimos anos, houve uma mudança gradual na atitude que está,
provavelmente, destinada a afetar profundamente a investigação do câncer. As informações
que emergiram sobre as pesquisa do genoma e alta tecnologia são utilizadas para desenvolver
avanços em termos de diagnóstico, prevenção e tratamento. Conseqüentemente, a abordagem
tradicional clínico-patológica do estadiamento tumoral poderá ser combinada com resultados
de expressão genética e protéica. Juntos, eles auxiliarão na identificação de assinaturas
moleculares associadas ao prognóstico e resposta ao tratamento41.
Estudos recentes comprovam que os fatores anátomo-clínicos preponderam sobre
marcadores biológicos no prognóstico do câncer de mama sem comprometimento axilar e
persiste discutível a correlação entre receptores de estrogênio, gene supressor P-53 e
oncogene c-erbB-293.
O Quadro 6, a seguir, apresenta os resultados de grandes pesquisas do efeito da
idade jovem no prognóstico, baseado em estudos clínicos publicados após 1990. Estes
estudos, geralmente concluíram que as pacientes jovens tinham um pior perfil de padrão
prognóstico, quando comparadas com pacientes de mais de 40 anos. Particularmente, as
pacientes jovens tinham uma maior possibilidade de ter comprometimento metastático axilar,
maior grau de anaplasia, e uma maior taxa de tumores com receptores negativos. Baseado
apenas nesses fatores, é esperado que a sobrevida das pacientes jovens seja prejudicada.
Kroman14, em sua análise, coloca que ao ajustar para os fatores prognósticos mais
comuns, como o tamanho do tumor, o comprometimento metastático linfonodal axilar, o grau
histológico, a positividade do receptor de estrogênio na análise do período livre de doença e
sobrevida global, que a idade permanece como um fator prognóstico negativo independente14,
ainda que alguns autores reivindiquem que a idade jovem isolada funcionaria como um
-
45
hospedeiro para a maior freqüência de fatores prognósticos adversos, e que a idade jovem
sozinha não conferiria um risco independente para a mulher.
QUADRO 6: Resultados das pesquisas do efeito prognóstico da idade jovem ao diagnóstico de câncer de
mama, baseado em dados clínicos, com informação de outros fatores prognósticos
publicados após 1990.
REFERÊNCIA DEFINIÇÃO DE IDADE JOVEM NÚMERO DE
PACIENTES JOVENS
EFEITO PROGNÓSTICO INDEPENDENTE DA IDADE JOVEM AO DIAGNÓSTICO
Schmidt
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46
A escolha dessas duas faixas etárias se deu com o objetivo de avaliar a influência
hormonal ovariana, na evolução do câncer de mama. O que se observou foi que os fatores
prognósticos são praticamente os mesmos nos dois grupos. Mas, para que se possa concluir,
efetivamente, se a idade isolada é fator independente de prognóstico, sugere-se prosseguir
com esta linha de pesquisa, compondo uma curva de sobrevida livre de doença e mortalidade
nestes dois grupos, que determinará, com precisão, a influência da idade na evolução do
câncer de mama.
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47
6 CONCLUSÕES
Os fatores prognósticos avaliados para câncer de mama, tamanho do tumor,
comprometimento linfonodal axilar, estadiamento pós-operatório, graus histológico e nuclear,
e Índice Prognóstico de Nottingham não diferem de maneira absoluta nos dois grupos
estudados.
Apenas o receptor de estrogênio negativo manteve efeito e significância
estatística.
-
48
7 NORMAS ADOTADAS
Ficha catalográfica (descritores):
BIREME – Centro Latino-Americano e do Caribe de informações em Ciências da Saúde.
DeCS – Descritores em Ciências da Saúde 3.ed.São Paulo: Bireme, 1996.
Relatório:
Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo Seres Humanos – Resoluções 196/96 e
251/97 do Conselho Nacional de Saúde – Brasil.
Normas para elaboração de Dissertação do Curso de Mestrado em Ciências Médicas.
Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde, Mestrado em Ciências
Médicas. Florianópolis-SC, 2001.
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submitted to biomedical journals. Ann Inter Med, 1997, 126:36-4795.
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