cota no processo (com timbre) - mppr.mp.br · iii e artigo 37, § 4º, da constituição federal, e...
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA
CÍVEL DA COMARCA DE CENTENÁRIO DO SUL/PR
URGENTE
PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ,
pelo Promotor Substituto ao final subscrito, com fulcro no artigo 129, inciso
III e artigo 37, § 4º, da Constituição Federal, e na Lei Federal nº 8.429/92,
vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, CUMULADA COM AÇÃO
CONDENATÓRIA POR OBRIGAÇÃO DE FAZER / NÃO-FAZER
E PRECEITO COMINATÓRIO
em face de
VERALICE PAZZOTTI, brasileira, casada, Prefeita
Municipal de Centenário do Sul/PR (mandato 2005/2012), portadora do RG
nº 739.507 SSP/PR, CPF 174.477.989-91, residente na Rua Prefeito José
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Climácio da Silva, 302, Município e Comarca de Centenário do Sul/PR,
consoante fatos e fundamentos a seguir deduzidos:
I – DOS FATOS
A requerida é a atual Prefeita Municipal de Centenário
do Sul, atualmente exercendo o segundo mandato eletivo consecutivo
(2005 a 2012) por força de reeleição.
Pelo apurado, nas eleições em que conquistou estes
mandatos, a requerida utilizou o amarelo como cor predominante de sua
campanha política, apesar de ser filiada ao PMDB, partido cujas cores
representativas são o vermelho e o preto.
No pleito eleitoral de 2012, por impossibilidade de
concorrer ao terceiro mandato consecutivo, a demandada passou a apoiar
o Sr. Adriano Tavares dos Santos, ex-Secretário Municipal de Saúde em
sua gestão, cujo nome adotado na propaganda eleitoral é “Adriano da
Saúde”.
Do mesmo modo que a requerida, tal candidato
escolheu entre as cores da campanha o amarelo e o vermelho (com nítida
predominância do amarelo), conforme se infere dos documentos anexados
aos autos – fotos dos carros, adesivos, bandeiras, faixas e “santinhos” (fls.
29/34, do procedimento nº MPPR 0033.12.000163-2).
Vê-se, ainda, pela foto acosta na fl. 42 do procedimento
nº MPPR 0033.12.000163-2, que foram estampados nos carros da
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vigilância sanitária municipal um logotipo grande em amarelo, adotado
durante os mandatos exercidos pela requerida1.
Portanto, inequívoco que a cor amarela representa um
elemento/símbolo identificador da gestão exercida pela requerida com o
auxílio do candidato apoiado.
É sabido que no ano de 1986 foi aprovada a Lei
Municipal 814/86, que institui as cores oficiais do município de Centenário
do Sul: VERDE, BRANCO e VERMELHO, as mesmas cores da bandeira
do Município.
Ocorre que a requerida, sabendo da obrigatoriedade
de se utilizar as cores oficiais do município nos prédios públicos e
atos concretos de gestão, pintou a parte externa do Hospital
Municipal “Doutor Lauro Macedo Sobrinho” da cor amarela,
claramente com o intuito de promover-se – já que esta cor sempre foi
uma “marca” em suas campanhas eleitorais – e beneficiar o
candidato que está sendo apoiado por esta nas eleições.
Diante desse quadro, esta Promotoria de Justiça de
Proteção ao Patrimônio Público de Centenário do Sul/PR, com vistas à
resolução extrajudicial da inconstitucionalidade, oficiou recomendando à
ora ré que repintasse o referido Hospital no prazo de cinco dias.
Em ofício, ainda no mesmo dia, assim respondeu a
requerida:
“Vimos, pelo presente, em atendimento ao ofício nº 236/12 de
lavra de Vossa Excelência, manifestarmo-nos da forma que
segue:
1 O que pode melhor ser visto em melhor qualidade em duas das fotos acostadas no CD de fls. 44, do
procedimento MPPR 0033.12.000163-2.
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Preliminarmente cabe esclarecer que não houve por parte da
Administração Pública Municipal intenção em beneficiar nenhum
candidato às eleições municipais, quando da escolha da cor
usada para pintar o hospital Municipal “Dr. Lauro Macedo
Sobrinho”. A cor usada não possui nenhum cunho político, vez
que as cores do partido da atual Prefeitura Municipal são preto e
vermelho.
Informamos ainda que a cor da tinta não é compatível com a
selecionada no mostruário apresentado pelo construtor da obra,
razão pela qual a administração já havia entrado em contato com
o mesmo, o qual comparecerá amanhã na sede da Prefeitura
Municipal, para esclarecimentos acerca da alteração no tocante à
cor inicialmente escolhida.”
No último dia do prazo de cinco dias fixado para a
repintura, demonstrando visão míope do conteúdo da Recomendação
Administrativa e do ordenamento jurídico, a ora ré enviou novo ofício
afirmando inexistir irregularidade e requerendo a desconsideração da
recomendação expedida:
“Versa o oficio acima mencionado sobre recomendação do
Promotor Substituto da Comarca de Centenário do Sul, acerca de
Recomendação para que seja repintado o Hospital Municipal “Dr.
Lauro Macedo Sobrinho”, aduzindo para tanto que através de
denúncia anônima chegou ao conhecimento da Promotoria de
Justiça que há fortes indícios de que o Executivo Municipal, ao
pintar o hospital visou beneficiar o candidato que vem apoiando
nas eleições municipais, já que esta seria a cor de sua Bandeira.
O Douto Promotor Substituto, busca amparo na Lei Municipal nº
814/86 e não Lei Municipal 814/06 conforme declinado no retro
ofício, argumentando para tanto que o amarelo não está no rol
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das cores representativas do município, previstas no artigo 8º da
Lei. No entanto, nos demais artigos da Lei, não há vedação de
que os próprios públicos não possam ser pintados de outras cores
senão aquelas eleitas como representativas do município.
Seguindo nesta seara o Douto Promotor Público Substituto,
recomenda como forma de atenuar problemas futuros, que no
prazo de 5 (cinco) dias seja repintado o referido hospital com
verba particular da representante do Município.
Preliminarmente cabe esclarecer que a cor escolhida para pintura
da parte externa do Hospital não foi a cor amarela e sim a cor
girassol, da marca Grafftex (catálogo de cores em anexo), como
consta da declaração firmada pelo engenheiro responsável pela
obra. Conforme Vossa Excelência poderá comparar pelo catálogo
da marca Futuras Tintas (em anexo), é visível a diferença entre a
cor amarela e a cor girassol. Em segundo podemos afirmar que a
escolha da cor não possui ligação com a bandeira do candidato
apoiado pelo Poder Executivo, como assevera o Douto Promotor
Substituto. Se assim fosse dir-se-ia o mesmo dos uniformes os
alunos das Escolas Municipais que sabidamente foi
confeccionado em dois tons de verde, a cor da bandeira do outro
candidato ao cargo de prefeito. Cabe destacar que quando da
escolha da cor dos uniformes escolares já havia propaganda
sobre a cor eleita pelo outro candidato, e não houve qualquer tipo
de ingerência quanto a mesma.
Com todo o respeito à pessoa do Douto Promotor substituto, não
há como se falar e a cor foi escolhida por ser a cor da bandeira de
um dos candidatos pois, como já dito anteriormente a cor dos
uniformes escolares é a do outro candidato cuja evidência é muito
maior em razão ao número de alunos que transitam todos os dias
pelas ruas do nosso município.
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Quando da escolha da cor girassol, a Chefe do Executivo
Municipal trocou ideias com alguns servidores, os quais
aprovaram a cor e em visita in loco sugeriram que os detalhes
fossem feitos na cor areia, cores harmoniosas ente si.
Apenas para conhecimento de Vossa Excelência, a atual
Prefeitura do Município de Centenário do Sul, é filiada ao PMDB –
Partido do Movimento Democrático Brasileiro, representado pelas
cores vermelha e preta.
O que se pode concluir de uma denúncia anônima baseada em
inverdades é que a mesma tem apenas o condão de rixa política,
com o intuito exclusivo de causar dissabores à Administração
Pública Municipal.
Durante a gestão da atual Administração foram efetuadas pinturas
na sede da Prefeitura Municipal, na Cozinha Comunitária, na
Cozinha Central, na Biblioteca Cidadã, na Biblioteca Central, no
Centro Comunitário, no Departamento de Educação, na Quadra
do Escola Municipal São José, na Quadra e Muros da Escola
Municipal José de Anchieta, nas Escolas Municipais, nas Creches
Municipais, no Posto de Saúde Central, na Sede do Conselho
Tutelar, na Sede do Departamento de Obras entre outros próprios
públicos, tendo sido utilizadas inúmeras cores e dentre elas a cor
verde.
Pelas razões aqui elencadas, requer-se que o Douto Promotor
Substituto desconsidere a recomendação feita, em face de que
como poderá ser constada pela juntada dos catálogos de cores
(marcas grafftex e futura tintas), pela declaração do engenheiro
responsável pela obra e pelo pedido de compras, ficou provado
que a cor utilizada foi girassol e não amarela.
Nestes termos,
Pede e aguarda acolhimento às razões apresentadas.”
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Diante desta nova investida, necessário se fez a
expedição de nova recomendação, desta vez com a advertência detalhada
de todas as possíveis consequências pelo descumprimento, nos seguintes
termos principais:
“(...) CONSIDERANDO que, nos termos do art. 37, caput, da
Constituição Federal de 1988, a administração pública direta e
indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência;
CONSIDERANDO dispor o parágrafo primeiro do art. 37 da
CF/88, que “a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo,
informativo ou de orientação social, dela não podendo constar
nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal
de autoridades ou servidores públicos.”;
CONSIDERANDO que, segundo ensinamentos de Hely Lopes
Meireles, “o princípio da impessoalidade referido na Constituição
de 1988 (art. 37, caput) nada mais é do que o clássico princípio
da finalidade, o qual impõe ao administrador público que só
pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é unicamente
aquele que a norma de direito indica expressa ou virtualmente
como objetivo do ato, de forma impessoal. Esse princípio também
deve ser entendido para excluir a promoção pessoal de
autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações
administrativas (CF, art. 37, § 1º)..” 2
2 In Direito Administrativo Brasileiro, 20ª edição, Editora Malheiros, São Paulo, 1995, pág. 85.
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CONSIDERANDO que a Lei de Improbidade Administrativa,
em seu artigo 11 da Lei nº 8.429/92, prevê que o desrespeito
aos princípios constitucionais, dentre os quais o princípio da
impessoalidade, constitui-se em ato de improbidade
administrativa;
CONSIDERANDO, portanto, que a utilização de símbolos que
caracterizem a promoção pessoal de agentes públicos é vedada
pelo ordenamento jurídico pátrio;
CONSIDERANDO que o uso de cores, na gestão pública,
coincidentes com aquelas utilizadas em campanha eleitoral
por determinado partido político, coligação ou candidato,
pode ser caracterizado como símbolo voltado para a
promoção pessoal deste;
CONSIDERANDO que as cores que identificam o candidato a
prefeito Adriano Tavares dos Santos, que está sendo apoiado
pela atual Prefeita Municipal de Centenário do Sul, senhora
Veralice Pazzotti, são vermelho e amarelo, conforme se
verifica nos adesivos e bandeiras da campanha eleitoral, e
que a cor amarela, neste exato momento em que está em
curso o período de campanha eleitoral, foi utilizada na pintura
do Hospital Municipal Lauro Macedo Sobrinho, ligando a
pessoa do citado candidato, Ex-Secretário Municipal de
Saúde, à celebração da reforma do referido hospital;
CONSIDERANDO que esta Promotoria de Justiça já oficiou à
Prefeita Municipal recomendando a repintura do hospital, e esta,
em expediente claramente procrastinatório, oficiou no último dia
do prazo estipulado para a repintura pleiteando reconsideração da
determinação;
RESOLVE:
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1) RECOMENDAR à senhora Veralice Pazzotti, Prefeita Municipal
de Centenário do Sul, que até o dia 07/09/2012 (sexta-feira)
repinte a parte externa do Hospital Municipal Lauro Macedo
Sobrinho, utilizando recursos particulares, e aplique no mesmo
prédio cores que não proporcionem identificação com partidos
políticos, candidatos ou coligação.”
Vê-se, portanto, que a requerida foi alertada da clara
inconstitucionalidade a que estaria incidindo, e mesmo assim,
deliberadamente, manteve-se inerte, consoante fotos de fl. 44, do
procedimento MPPR 0033.12.000163-2 (inseridas em disco de dados em
que consta data de criação do arquivo), retiradas após o escoamento do
prazo fixado para a repintura.
E ainda que inicialmente inexistisse por parte da ré
intenção de beneficiar o candidato “Adriano da Saúde” (considerando-se
que tenha existido absurda coincidência na escolha da cor), os fatos
concretos claramente relacionam a pessoa deste candidato à obra
realizada no citado hospital “amarelo”, demarcando nítida propaganda
política subliminar.
Por este viés argumentativo, ainda que anteriormente
inexistisse o dolo típico dos atos de improbidade administrativa, tal
elemento subjetivo passou a existir, já que a ré, sabendo que a pintura
favoreceria um dos candidatos no pleito eleitoral, mesmo alertada, quedou-
se inerte, passando a ofender, por omissão, os postulados constitucionais
da legalidade (por ofensa à Constituição e à Lei Municipal que instituiu as
cores municipais), moralidade e da impessoalidade, princípios que,
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segundo artigo 4º, da lei 8429/92, devem ser observados pelo gestor da
coisa pública3.
De qualquer sorte, o descumprimento deliberado da
Recomendação Administrativa já evidencia o dolo de improbidade
administrativa, face o desinteresse em regularizar situação de fato
decorrente de agir administrativo ilegal e impessoal.
Saliente-se, ademais, que é inegável que a utilização da
cor amarela na parte externa do hospital teve um propósito específico:
gerar autopromoção à requerida e conferir vantagem eleitoreira ao
candidato que está sendo apoiado por esta nas eleições.
Tal conclusão é cristalina e pode facilmente ser
extraída de elementos concretos anexados aos autos.
Em maio de 2012 foi instaurado, pelo Ministério Público
de Centenário do Sul, “Procedimento Preparatório Eleitoral” (nº
0033.12.000078-2 – cópia em anexo) para apuração de suposta
“propaganda política através de fotos de prédios públicos que ainda serão
construídos (...)”. Na parte inferior da fl. 06 deste procedimento (nº
0033.12.000078-2), denúncia encaminhada à ouvidoria do Tribunal
Regional Eleitoral relata que o “Secretário de Saúde de Centenário do
Sul-Paraná, está usando o facebook para fazer propaganda política,
usa fotos de prédios da saúde que ainda serão construídos no
município, fazendo propaganda do uso da ambulância e outras coisas
mais (...)”.
Na instrução de tal procedimento, o Parquet colheu o
depoimento de ELAINE VIEIRA DE FREITAS (fl. 13, do procedimento nº
3 Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita
observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos
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MPPR 0033.12.000078-2), funcionária pública municipal concursada
desde 1991, que afirmou, in verbis:
“(...) que recentemente, acessando a rede social ‘Facebook’, a
declarante notou que o Sr. Adriano Tavares incluiu fotos de uma
Viatura do SAMU, de um Projeto da Creche, da cozinha
comunitária, fotos com deputados, fotos do hospital, fotos do
projeto da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), além de
declarações de agradecimento pelo período que ocupou a função
de Secretário de Saúde, com a informação de que estaria a se
desincompatibilizar, vez que se trata de pré-candidato à Prefeitura
Municipal de Centenário do Sul; que exibidas quatro impressões
oriundas da página do ‘facebook’ a declarante reconhece como
sendo algumas das que se encontram no perfil pessoal do Sr.
Adriano; que exibida uma foto em tamanho menor, acompanhada
de comentários de pessoas no ‘facebook’, reconhece como uma
das que constam no perfil; que não tem conhecimento se o perfil
do Sr. Adriano é aberto ao público ou restrito aos amigos”.
As tais fotos referidas por Elaine realmente existiam,
conforme apurou e colacionou o Ministério Público no citado procedimento
(nº 0033.12.000078-2, fls. 15/21). Destaca-se a fotografia alocada na parte
superior da fl. 19, onde o candidato apoiado pela requerida postou uma
foto do mencionado hospital, antes da reforma, trazendo os seguintes
dizeres: “Breve vamos entregar a população de Centenário o Hospital
Municipal, reformado para melhor acomodação de nossos munícipes”
(grifo nosso).
Diante destes elementos, não seria crível que o hospital,
após toda esta divulgação do candidato “Adriano da Saúde”, fosse, por
assuntos que lhe são afetos.
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mera coincidência, pintado de amarelo, justamente a cor utilizada na
campanha deste candidato.
O hospital, conforme se depreende das fotografias de
fls. 06/09 (onde a mureta frontal ainda não está pintada) e 38 (em que está
registrado o hospital antes da pintura4 - também inserida, com melhor
qualidade, no CD de fl. 44) do procedimento nº MPPR 0033.12.000163-2,
era da cor bege (ou palha), confrontação que demarca que a requerida,
intencionalmente, inseriu cor mais escura e idêntica à utilizada na
campanha do candidato “Adriano da Saúde”. Nestas mesmas fotos é
possível constatar a grande diferença entre a cor anterior e o novo
“amarelo” (ou “girassol” como informou a ré), afastando-se, assim,
qualquer alegação de acidente na escolha das cores.
Aliás, ao comparar as fotos do hospital já pintado de
amarelo (fls. 06/10 do procedimento nº MPPR 0033.12.000163-2) com as
fotografias dos carros, adesivos, bandeiras, faixas e santinhos utilizados
na campanha eleitoral do candidato “Adriano da Saúde” (fls. 29/34, do
mesmo procedimento), a inarredável conclusão é de que se trata
exatamente da mesma cor5.
Do mesmo modo, não há como a requerida esquivar-se
de responsabilidade alegando que as cores de seu partido são o vermelho
e o preto, porquanto, comprovadamente, tanto esta como o candidato
“Adriano da Saúde” usaram a cor amarela na campanha eleitoral
respectiva.
4 Na mesma foto é possível perceber a grande diferença entre a antiga cor do hospital e a cor
amarela (estampada em uma calçada na parte inferior da fotografia). 5 O que inclusive pode ser constatado na foto de fl. 40 do procedimento MPPR 0033.12.000163-2
(e CD de fl. 44), onde há uma bandeira do candidato apoiado na parte frontal do hospital já pintado de amarelo.
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Acrescente-se que, consoante fotos alocadas no CD de
fl. 44 do procedimento nº MPPR 0033.12.000163-2, o entorno do hospital é
um ponto em que as bandeiras do candidato apoiado comumente são
balançadas, certamente objetivando angariar votos dos utilizadores do
serviços de saúde local.
Ora Excelência, é de clareza solar que tal pintura foi
proposital! O candidato era Secretário Municipal de Saúde na gestão
da requerida, deu ampla divulgação aos feitos do município
referentes à saúde, anunciou que entregariam o hospital reformado, e
ao final, cerca de 02 (dois) meses antes pleito eleitoral, mesmo antes
de concluída a reforma, o hospital é pintado da mesma cor utilizada
na campanha do candidato.
Não há dúvidas, diante destes elementos, que a pintura
do hospital na cor amarela visou introduzir elemento identificador de
gestão pessoal e beneficiar o candidato apoiado pela requerida.
Desse modo, chega o momento de ser restabelecida a
ordem constitucional violada, pondo um desfecho à improbidade apontada,
razão pela qual se bate nas portas do Poder Judiciário, porto seguro dos
postulados de um Estado que se almeja Democrático, Constitucional,
Social e de Direito.
II – DO DIREITO
II.1 - DA COMPETÊNCIA DO JUÍZO SINGULAR
Tradicionalmente, o nosso direito constitucional positivo
prevê que determinadas autoridades públicas devem responder às ações
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penais originalmente nos Tribunais (Tribunais de Justiça, Superior Tribunal
de Justiça e Supremo Tribunal Federal).
A ação civil pública por ato de improbidade
administrativa, que, como é sabido, não tem natureza penal, deve ser
processada e julgada em primeira instância, não havendo que se falar em
foro por prerrogativa de função em favor de autoridades.
Faz-se essa observação em razão da infeliz conduta de
legisladores em tentar, pela via ordinária e com absoluta lesão à isonomia,
ampliar a competência da Corte Maior e de outros Tribunais do país,
estendendo o foro por prerrogativa de função para ações de improbidade
administrativa. A Lei 10.628/02, que referendava tamanha aberração
jurídica, foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal
(ADIN 2797), vinculando todos os órgãos jurisdicionais6 no sentido da
inexistência de foro privilegiado em matéria de improbidade administrativa.
Inequívoca, pois, a competência desse E. Juízo Singular
para a análise do caso.
II. 2 - DA LEGITIMIDADE ATIVA
O Ministério Público é instituição constitucionalmente
incumbida de promover a defesa do patrimônio público e dos demais
interesses difusos, dentre os quais, a probidade administrativa e os
princípios que regem a administração pública (legalidade, impessoalidade,
6 Em sede de controle concentrado de constitucionalidade vige o artigo § 2º, do art. 102 da Constituição
Federal, com redação dada pela Emenda 45, in verbis: “§ 2º. As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.”
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moralidade, publicidade, eficiência), conforme artigos 127, caput, 129,
inciso III, 37, caput e § 4º, todos da Constituição Federal.
Assim, a legitimidade do Parquet, in casu, deita raízes
no próprio Pacto Fundante, conforme expressa redação do inciso III, do
artigo 129:
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...) III -
promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção
do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos;”
No plano infraconstitucional, guiada pela diretriz anterior,
a Lei 8.429/92 também atribuiu, de forma expressa, legitimidade ativa ao
Ministério Público para a propositura de ação de improbidade
administrativa. Verbis:
“Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta
pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada,
dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.”
II. 3 - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
De outro canto, a mesma Lei (8.429/92) dispõe que será
punido qualquer agente público, servidor ou não (artigo 1º, caput), que
pratique ato de improbidade administrativa, considerando-se para efeitos
da referida norma como agente público todo “aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
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vínculo, mandado, cargo, emprego ou função (artigo 2º)” nas entidades
públicas.
É certo que o cargo de Prefeito Municipal enquadra-se
no conceito legal de agente público.
Impende registrar, ainda, que de acordo com o comando
insculpido no artigo 3º, da Lei de Combate à Improbidade Administrativa7
também deveria (poderia) figurar no polo passivo da demanda o agente
beneficiado com o ato de improbidade (no caso presente, o candidato
“Adriano da Saúde”). Todavia, o estágio atual das investigações não
comprovou, com a certeza necessária, que referido candidato teve poder
de decisão na prática do ato ímprobo, o que, ao nosso sentir, o impede de
figurar no polo passivo da ação. Nada obsta que, aflorando novos
elementos, venha tal agente a ser processado em ação idêntica, já que o
litisconsórcio que aqui ocorreria, segundo entendimento adotado pelo
Colendo Superior Tribunal de Justiça, é Facultativo.
II.4 - DAS CORES OFICIAIS DO MUNICÍPIO DE
CENTENÁRIO DO SUL-PR; DAS CORES UTILIZADAS NA CAMPANHA
ELEITORAL DO CANDIDATO “ADRIANO DA SAÚDE”; E DAS CORES
ESTAMPADAS NA PARTE EXTERNA DO HOSPITAL MUNICIPAL
LAURO MACEDO SOBRINHO
Os símbolos municipais, quaisquer que sejam, criam a
relação de identidade do município perante a comunidade.
7 Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente
público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
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Tais símbolos devem ser concebidos sem vinculação à
ideologia política do administrador, mas sim respeitando os valores das
pessoas que compõem a comunidade.
A possibilidade de adoção de símbolos encontra raízes
na própria Constituição Federal de 1988:
“Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República
Federativa do Brasil.
§1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o
hino, as armas e o selo nacionais.
§2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter
símbolos próprios.”
Com escora no permissivo constitucional, o município de
Centenário do Sul aprovou a Lei Municipal 814/86 (fl. 04, do procedimento
MPPR 0033.12.000163-2), que na sua ementa já diz:
“Dispõe sobre a forma e a apresentação dos Símbolos do
Município de Centenário do Sul.”
Já em seu corpo reza:
“A Bandeira Municipal de Centenário do Sul será oitavada, sendo
as oitavadas de verde constituídas por oito faixas vermelhas
carregadas de faixas brancas dispostas duas a duas no sentido
horizontal, vertical, em banda e em barra e que partem de um
círculo branco central, onde é aplicado o Brasão Municipal.
O estilo da bandeira obedece á tradição hierárquica portuguesa
da qual herdamos os cânones e regras; com direito de opção
pelos estilos oitavados, sextavados, esquartelados em cruz ou
santor e terciados, tendo por cores as mesmas constantes do
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campo do escudo e ostentando ao centro uma figura geométrica,
onde se aplica o Brasão.
O Brasão ao Centro da Bandeira obedece à mesma tradição,
simbolizando o Governo Municipal e o círculo onde ele é aplicado
representa a própria cidade-sede do Município. As faixas
simbolizam o Poder Municipal que se expande a todos os
quadrantes do território, e as oitavas assim constituídas,
representam as propriedades rurais existentes no território
municipal.
A Bandeira Municipal terá as dimensões oficiais adotadas para a
Bandeira Nacional. São adotadas como cores oficiais
representativas do Município: o VERDE, o BRANCO e o
VERMELHO, que poderão ser usadas sem quaisquer
restrições.” (grifou-se)
Demonstrado, desta forma, com uma clareza meridiana,
que as cores representativas do município de Centenário do Sul são
VERDE, BRANCO e VERMELHO, o que impõe à Prefeita Municipal, ora
ré, que observe o cumprimento desta lei, seja para obstar qualquer forma
de promoção pessoal, seja para evitar a identificação do município com
outras cores.
De outro canto, como dito alhures, o candidato apoiado
pela nobre Prefeita Municipal vem utilizando em sua campanha política as
cores amarelo e vermelho, com nítida predominância do amarelo,
conforme se depreende das fotografias dos carros, adesivos, bandeiras,
faixas e “santinhos” colacionados nesta oportunidade (fls. 29/34, do
procedimento nº MPPR 0033.12.000163-2).
Ressalte-se, por oportuno, que o fato de a requerida ser
filiada ao PMDB, partido que adota como cores representativas o vermelho
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e o preto, não afasta a ofensa ao princípio da impessoalidade. Com efeito,
apesar desta constatação, esta sempre utilizou a cor amarela em sua
campanha política (conforme informado por ela própria perante esta
Promotoria de Justiça), assim como fez o candidato “Adriano da Saúde”.
Necessário frisar, por fim, que conforme fotos acostadas
a esta inicial, a ora ré utilizou a cor amarela na parte externa do Hospital
Municipal Lauro Macedo Sobrinho, claramente visando correlacionar a
conquista da reforma do mesmo à sua administração e à candidatura do
candidato por ela apoiado (que como dito, é ex-Secretário Municipal de
Saúde).
II.5 - DOS ATOS DE IMPROBIDADE QUE ATENTAM
CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – ARTIGO
11, DA LEI 8.429/92
Sobre a violação dos princípios que norteiam a atividade
administrativa, inicialmente, importante colacionar o magistério de alguns
doutrinadores.
Adriano Andrade, Cleber Masson e Landolfo Andrade
apresentam valiosa lição sobre a força dos princípios administrativos
previstos na Carta Federal:
“Se a violação de um princípio, por si só, já é considerada a mais
grave das ilegalidades, na medida em que implica ofensa não
apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o
sistema de comandos, é forçoso reconhecer que no regime
jurídico-administrativo o desrespeito aos princípio regentes da
atividade estatal assume contornos ainda mais nocivos, seja pela
natureza e importância dos valores neles traduzidos, seja pela
M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná
20
ausência de codificação no Direito Administrativo.” (Interesses
Difusos e Coletivos Esquematizado, Ed. Método, pág. 685)
Em idêntico sentido, o mestre Celso Antônio Bandeira
de Mello:
“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma
norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não
apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o
sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
constitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido,
porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão
de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu
arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isto porque,
ao ofendê-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e aluem-se todas
as estruturas nelas forçadas.” (Curso de Direito Administrativo,
27ed., Editora Atlas, p. 63)
Seguindo este espírito, o legislador constituinte,
objetivando aumentar a efetividade dos princípios da legalidade, igualdade,
impessoalidade, moralidade, probidade e a própria ilesividade do patrimônio
público, determinou no art. 37, § 4º, da Constituição Federal, regras
asseguradoras de tais postulados:
“Art. 37 - A administração pública direta, indireta ou fundacional, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e, também, ao seguinte:
(...)
§ 4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
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21
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei sem prejuízo da ação penal cabível.”
No dizer de PAULO BONAVIDES:
“(...) as regras vigem, os princípios valem; o valor que neles se
insere se exprime em graus distintos. Os princípios, enquanto
valores fundamentais, governam a Constituição, o regime, a ordem
jurídica. Não são apenas a lei, mas o direito em toda a sua
extensão, substancialidade, plenitude e abrangência (...)” 8
Por sua vez, escoliam EMERSON GARCIA e ROGÉRIO
PACHECO ALVES:
“em um país onde a corrupção encontra-se arraigada,
caracterizando-se como verdadeira chaga social, afigura-se
sempre oportuna a tentativa de sistematização dos princípios que
delineiam o obrar do agente probo. Aperfeiçoado o estudo e
identificada a origem, melhores resultados serão auferidos na
coibição da improbidade.” (“Improbidade Administrativa”, Ed.
Lumen Júris, 2002)
Como visto, as condutas da requerida não observaram
os deveres de legalidade (no sentido de ofensa à Lei Constitucional e Lei
Municipal), impessoalidade (imparcialidade ou isonomia) e moralidade.
Com efeito, a legalidade, como princípio da
administração (CF, art. 37, caput), significa que o administrador público
está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e
às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob
8 In Curso de Direito Constitucional, Malheiros, 5ª ed., 1994, p. 260;
M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná
22
pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil
e criminal, conforme o caso.
Pelo princípio da legalidade, o ato de todo agente
público deve ser realizado nos termos e limites da lei, sendo vedada
qualquer conduta que contrarie as disposições legais ou, ainda, que
procure praticar ato visando fim proibido em lei.
As condutas da requerida ensejaram clara violação
ao artigo 37, “caput” e § 1º, da Carta Fundante, artigo 4º, da Lei
8429/929, bem como à Lei 814/06 do Município de Centenário do
Sul/PR.
Traçando contornos a respeito do princípio da
legalidade, afirma CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELO:
“Assim, o princípio da legalidade é o da completa submissão da
Administração às leis. Esta deve tão-somente obedecê-las,
cumpri-las, pô-las em prática. Daí que a atividade de todos os
seus agentes, desde o que lhe ocupa a cúspide, isto é, o
Presidente da República, até o mais modesto dos servidores, só
pode ser a de dóceis, reverentes, obsequiosos cumpridores das
disposições gerais fixadas pelo Poder Legislativo, pois esta é a
posição que lhes compete no Direito brasileiro. Michel
Stassinopoulos, em fórmula sintética e feliz, esclarece que, além
de não poder atuar contra legem ou praeter legem, a
Administração só pode agir secundum legem.” (Curso de Direito
Administrativo Brasileiro, 17ª ed. Malheiros, 2004, p.92).
9 Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita
observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.
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23
Contudo, ao agente público, não basta agir
expressamente conforme a lei. É preciso, também, que aja de forma
impessoal na condução dos negócios públicos.
O princípio da impessoalidade, conforme lecionam à
unanimidade as obras de Direito Administrativo, deve ser entendido sob
duas perspectivas: num primeiro sentido, a impessoalidade significa
que o autor dos atos estatais é o órgão ou entidade e não a pessoa
do gestor.
Na segunda acepção a impessoalidade exige que o
administrador realize os atos de seu mister de acordo com a finalidade
pública e nunca agindo para beneficiar ou afetar determinadas
pessoas, pela simples razão de serem essas mesmas pessoas amigas ou
desafetas do administrador.
Nos dizeres de Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio
Martires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco:
“Corolário do princípio maior da legalidade, que a rigor o absorve
– a lei é expressão da vontade geral –, o princípio da
impessoalidade consubstancia a idéia de que a Administração
Pública, enquanto estrutura composta de órgãos e de pessoal
incumbidos de gerir a coisa pública, tem de desempenhar esse
múnus sem levar em conta interesses pessoais, próprios ou de
terceiros, a não ser quando o atendimento de pretensões parciais
constitua concretização do interesse geral.” (Curso de Direito
Constitucional, 4ª ed, Editora Saraiva (pag. 883)
FÁBIO MEDINA OSÓRIO leciona que:
“A impessoalidade deve marcar a atividade administrativa.
Enquanto o impulso de ação de particulares é calcado nas
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24
vantagens pessoais, na ação administrativa, ao contrário, a
atuação humana deve ser desinteressada. Importa aqui, apenas a
busca de atendimento ao interesse geral de utilidade pública, ou
por um ângulo mais filosófico, do bem comum”10
EMERSON GARCIA, com maestria adverte:
“Violado o princípio da impessoalidade, a conduta do agente
poderá ser enquadrada na tipologia da Lei n. 8.429/92,
caracterizando a improbidade administrativa. [...] ao violar o
princípio da impessoalidade, o agente público infringe o dever
jurídico previsto no art. 4º da Lei n. 8.429/92 e, ipso facto, sua
conduta se coaduna ao art. 11, caput e inc. I, da Lei n.
8.429/92.”11
Desconsiderando o princípio da impessoalidade, a
requerida Veralice Pazzotti, visando beneficiar o candidato por ela
apoiado (“Adriano da Saúde”), pintou, cerca de dois meses antes das
eleições municipais, o Hospital Municipal Lauro Macedo Sobrinho
com a cor amarela, demarcando evidente autopromoção e benefício a
este candidato, na inegável busca de correlacionar a pessoa do
candidato, que era Secretário de Saúde Municipal, à conquista da
reforma do referido Hospital, que custou aos cofres públicos,
segundo jornal publicado pelo município de Centenário do Sul no
final de 2011, “R$ 663,6 mil” (fls. 36, do procedimento MPPR
0033.12.000163-2).
10 in “Improbidade Administrativa”, Ed. Síntese, 1997, p. 127; 11 GARCIA, Émerson, ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 384;
M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná
25
Exige-se, ainda, que o agente público aja conforme o
princípio da moralidade administrativa.
Segundo HELY LOPES MEIRELLES, o princípio da
moralidade administrativa tem o seguinte conteúdo, verbis:
“A moralidade administrativa constitui, hoje em dia, pressuposto
de validade de todo o ato da Administração Pública (CF, art. 37,
caput). Não se trata - diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito
- da moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida
como o ‘conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina
interior da Administração. Desenvolvendo sua doutrina, explica o
mesmo autor que o agente administrativo, como ser humano
dotado de capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir
o Bem do Mal, o honesto do desonesto. E, ao atuar, não poderá
desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que
decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o
conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas
também entre o honesto e o desonesto. Por considerações de
Direito e de moral, o ato administrativo não terá que obedecer
somente à lei jurídica, mas também à lei ética da própria
instituição, porque nem tudo que é legal é honesto, conforme já
proclamavam os romanos: ‘nom omne quod licet honestum est’’. A
moral comum, remata Hauriou, é imposta ao homem para sua
conduta externa, a moral administrativa é imposta ao agente
público para sua conduta interna, segundo as exigências da
instituição a que serve e a finalidade de sua ação: o bem comum.
[...]
O inegável é que a moralidade administrativa integra o Direito
como elemento indissociável na sua aplicação e na sua finalidade,
erigindo-se em fator de legalidade. Daí porque o TJSP decidiu,
com inegável acerto, que ‘o controle jurisdicional se restringe ao
exame da legalidade do ato administrativo; mas por legalidade ou
M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná
26
legitimidade se entende não só a conformação do ato com a lei,
como também com a moral administrativa e com o interesse
coletivo” grifou-se (Malheiros Editores, 1993, 19a. ed., págs. 83/83
e 85)
Sobre o princípio da moralidade, MARIA SYLVIA
ZANELLA DI PIETRO ensina-nos:
“[...] sempre que em matéria administrativa se verificar que o
comportamento da Administração ou do administrado que com ela
se relaciona juridicamente, embora em consonância com a lei,
ofende a moral, os bons costumes, as regras de boa administração,
os princípios de justiça e de eqüidade, a idéia comum de
honestidade, estará havendo ofensa ao princípio da moralidade
administrativa.”12
Ainda, oportunas as lições de Gilmar Ferreira Mendes,
Inocêncio Martires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco:
“Sendo o direito o mínimo ético indispensável à convivência
humana, a obediência ao principio da moralidade, em relação a
determinados atos, significa que eles só serão considerados
válidos se forem duplamente conformes à eticidade, ou seja, se
forem adequados não apenas às exigências jurídicas, mas
também às de natureza moral. A essa luz, portanto, o princípio da
moralidade densifica o conteúdo dos atos jurídicos, e em grau tão
elevando que a sua inobservância pode configurar improbidade
administrativa e acarretar-lhe a suspensão dos direitos políticos, a
perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, sem prejuízo da ação penal cabível, se a
sua conduta configurar, também, a prática de ato tipificado como
12 in “Direito Administrativo”, Editora Atlas, 5ª edição, 1995, pág. 71;
M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná
27
crime, consoante o disposto no § 4º do art. 37 da Constituição.”
(Curso de Direito Constitucional, 4ª ed, Editora Saraiva - pag. 883)
Pelas lições transcritas, nota-se que o princípio da
moralidade deve mesclar a moralidade jurídica, extraída do conjunto de
regras internas da Administração, com a moralidade comum. Este princípio
determina à Administração Pública o respeito aos padrões de ética e de
honestidade, ditados tanto pela moral jurídica, interna da própria
Administração, como pelo senso de moralidade pública comum, ou seja, os
standards comportamentais que a sociedade deseja, correspondentes ao
anseio popular de ética na Administração para o atingimento do bem
comum.
Para ilustrar, vale a transcrição de escólio de
ALEXANDRE DE MORAES13:
“Pelo princípio da moralidade administrativa, de difícil
conceituação doutrinária, não bastará ao administrador o estrito
cumprimento da estrita legalidade; deverá ele, no exercício de sua
função pública, respeitar os princípios éticos de razoabilidade e
justiça, pois a moralidade constitui, a partir da Constituição de
1988, pressuposto de validade de todo ato da Administração
Pública.
A Constituição Federal, ao consagrar o princípio da moralidade
administrativa como vetor da atuação da Administração Pública,
igualmente consagrou a necessidade de proteção à moralidade e
responsabilização do administrador público amoral ou imoral.
Dessa forma, deve o Poder Judiciário, ao exercer o controle
jurisdicional, não se restringir ao exame estrito da legalidade do
ato administrativo, mas entender por legalidade ou legitimidade
13 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional administrativo. São Paulo: Atlas, 2002, p. 101;
M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná
28
não só a conformação do ato com a lei, como também com a
moral administrativa e com o interesse coletivo.”
Diante dos fatos supra colacionado, visando a
requerida promoção à custa do erário público, faltou com a
honestidade e ofendeu frontalmente o princípio da moralidade
administrativa.
Como dito, a ré, agindo na forma já propalada, feriu os
princípios que regem a Administração Pública, notadamente a legalidade,
impessoalidade e moralidade.
Aliás, no intuito de barrar condutas desta espécie, o
legislador constituinte, a partir dos princípios fundamentais do Estado
Democrático de Direito (CF, art. 1.º), do qual os vetores da Administração
Pública, introduzidos no caput do art. 37, nada mais são do que corolários,
a saber, a legalidade, a moralidade, a impessoalidade, a publicidade e a
eficiência da ação administrativa, inseriu regra expressa visando coibir
condutas demarcadoras de promoção pessoal.
Dessa feita, a publicidade de obras públicas restringe-se
apenas aos casos em que haja caráter educativo, informativo ou de
orientação social, não podendo nela constar nomes, símbolos ou
imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridade ou servidor
público.
Transcreve-se, por absoluta pertinência, o § 1º do art. 37
da Carta Fundamental:
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
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29
ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
de 1998)
§1.º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo,
informativo ou de orientação social, dela não podendo
constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem
promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.”
Traçando contornos bem detalhados sobre a citada
norma, lecionam Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo:
“A segunda acepção do princípio da impessoalidade está
ligada à idéia de vedação à pessoalização das realizações da
Administração Pública, à promoção pessoal do agente
público. Está consagrada no § 1º do art. 37 da Constituição,
nestes termos:
(...)
Observa-se que esse segundo desdobramento do princípio da
impessoalidade tem por escopo proibir a vinculação de atividades
da Administração à pessoa dos administradores, evitando que
estes utilizem a propaganda oficial para sua promoção pessoal.
Assim, uma obra pública realizada, por exemplo, pelo Estado do
Rio de Janeiro, nunca poderá ser anunciada como realização de
José da Silva, Governador, ou de Maria das Graças, Secretária
Estadual de Obras, pela propaganda oficial. Será sempre o
‘Governo do Estado do Rio de Janeiro’ o realizador da obra,
VEDADA A ALUSÃO A QUALQUER CARACTERÍSTICA DO
GOVERNANTE, INCLUSIVE A SÍMBOLOS RELACIONADOS A
SEU NOME.
O Supremo Tribunal Federal costuma ser bastante rigoroso na
interpretação dessa vedação explicitada no § 1º do art. 37 da
M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná
30
Constituição Federal. Com efeito, entende a Corte Suprema que
nenhuma espécie de vinculação entre a propaganda oficial e a
pessoa do titular do cargo público pode ser tolerada, nem mesmo
quando se trata de utilização, na publicidade do governo, de
elementos que permitam relacionar a mensagem veiculada com o
partido político do administrador público. Ilustra enfaticamente tal
posição do Pretório Excelso este excerto da emenda da decisão
proferida no RE 191.668/RS, rel. Min. Menezes Direito, em
15.04.2008:
‘1. O caput e o parágrafo 1º do artigo 37 da Constituição
Federal impedem que haja qualquer tipo de identificação
entre a publicidade e os titulares dos cargos alcançando os
partidos políticos a que pertençam. O rigor do dispositivo
constitucional que assegura o princípio da impessoalidade vincula
a publicidade ao caráter educativo, informativo ou de orientação
social é incompatível com a menção de nomes, símbolos ou
imagens, aí incluídos slogans, que caracterizem promoção
pessoal ou de servidores públicos. A possibilidade de vinculação
do conteúdo da divulgação com o partido político a que pertença o
titular do cargo público mancha o princípio da impessoalidade e
desnatura o caráter educativo, informativo ou de orientação que
constam do comando posto pelo constituinte dos oitenta.’” (Direito
Administrativo Descomplicado, 17ª ed., revista e atualizada, Ed.
Método - pag. 201/202)
Ainda comentando a norma constitucional, MÁRIO
SÉRGIO DE ALBUQUERQUE SCHIRMER e JOÃO PEDRO GEBRAN
NETO14, com acerto, esclarecem:
14 SCHIRMER, Mário Sérgio de Albuquerque e GEBRAN NETO, João Pedro. Publicidade Estatal na Constituição Federal de
1988. In RDP 97/201.
M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná
31
“Fazendo uma interpretação histórica do dispositivo constitucional,
nota-se que o espírito da norma não é impedir a publicidade dos
atos administrativos, mas reprimir o culto ao personalismo, isto é,
a promoção pessoal de governantes vaidosos e interesseiros.
Assim salientou o Autor da emenda que deu origem ao art. 37, §
1.º , da CF: ‘É justo e necessário que os órgãos públicos, em
qualquer âmbito ou nível, tenham seus programas e estruturas de
divulgação, não só para orientação e a educação informal das
comunidades, como para dar permanente ciência da correta
aplicação dos recursos públicos, além da prestação de contas
obrigadas por lei. Entretanto, valendo-se de inúmeros
subterfúgios, muitos governantes têm utilizado recursos
orçamentários desmesurados para verdadeiros programas de
culto à personalidade, que dão origem, inclusive aos desvios de
recursos e à corrupção’ (Plenário da Constituinte, Dep. Airton
Cordeiro, 13. 1. 88)” grifou-se
A presente regra veda o agir administrativo de promoção
de autoridades ou servidores públicos, quer por meio da menção de
nomes, quer pela adoção de símbolos ou imagens aptos a
estabelecerem um liame pessoal entre aqueles e o objeto divulgado
(ex: obras, etc.) 15.
Os Tribunais têm repudiado atitudes dessa natureza,
como exsurge dos julgados abaixo:
“1. O caput e o parágrafo 1º do artigo 37 da Constituição
Federal impedem que haja qualquer tipo de identificação
entre a publicidade e os titulares dos cargos alcançando os
15
In casu, embora não tenha havido publicidade no sentido formal com a cor amarela, existiu, ao menos,
uma divulgação de forma velada/subliminar, pois apesar de estar sendo reformado, o hospital continuou em
parte funcionando, e as bandeiras do candidato apoiado comumente ficam estampadas em seu entorno.
M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná
32
partidos políticos a que pertençam. O rigor do dispositivo
constitucional que assegura o princípio da impessoalidade vincula
a publicidade ao caráter educativo, informativo ou de orientação
social é incompatível com a menção de nomes, símbolos ou
imagens, aí incluídos slogans, que caracterizem promoção
pessoal ou de servidores públicos. A possibilidade de
vinculação do conteúdo da divulgação com o partido político
a que pertença o titular do cargo público mancha o princípio
da impessoalidade e desnatura o caráter educativo, informativo
ou de orientação que constam do comando posto pelo constituinte
dos oitenta.” (STF RE 191.668/RS, rel. Min. Menezes Direito, em
15.04.2008)
“Publicidade de caráter autopromocional do Governador e de seus
correligionários, contendo nomes, símbolos e imagens, realizada
às custas do erário. Não observância do disposto na segunda
parte do preceito constitucional contido no art. 37, § 1º." (STF RE
217.025-AgR, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 05/06/98)
“ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. OFENSA AOS PRINCÍPIOS
NORTEADORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ART. 37,
CF/88. PINTURA DE IMÓVEIS E BENS PÚBLICO MUNICIPAIS
COM CORES PARTIDÁRIAS UTILIZADAS EM CAMPANHA
ELEITORAL. CONFECÇÃO DE PANFLETOS EM
COMEMORAÇÃO AO DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE.
PRESENÇA DO NOME DOS AGENTES POLÍTICOS.
APARENTE FINALIDADE EDUCATIVA. ATO DE PROMOÇÃO
PESSOAL REALIZADO PELO PREFEITO E VICE-PREFEITO.
DANO AO ERÁRIO. AÇÃO JULGADA PROCEDENTE.
M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná
33
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.” (TJ RN AC 39376 RN
2009.003937-6, Relator Des. Cláudio Santos, em 21/07/2009)
Por oportuno para o deslinde da causa, importante
transcrever alguns trechos do acórdão supra:
"Considerando que a figura política do candidato sempre foi
associada a cores utilizadas por estes enquanto membro de
um determinado partido político ou coligação, infere-se que o
ato praticado pelos recorridos foi movida por interesse
escuso, travestido de discricionariedade, de induzir a
população, essencialmente os menos esclarecidos, e
estabelecer um liame direto entre as obras provenientes da
administração e o partido político ou grupo mencionado em
linhas pretéritas, cujas cores encontram-se estampadas nas
fachadas dos prédios públicos deste Município, em bancos de
praça, em pontos de ônibus, ferindo gravemente os princípios da
impessoalidade, da moralidade e da eficiência, dentre outros";
[...]
"O gestor público em referência tinha discricionariedade,
traduzida em um juízo de conveniência e oportunidade, de
escolher o momento adequado para pintar os prédios
públicos, bem como as cores a serem empregadas, desde
que tais cores, de alguma forma, não relacionem sua pessoa
ou seu partido diretamente com a administração";
[...]
"Não há dúvidas que a personalização do patrimônio público viola,
no mínimo, os princípios da impessoalidade (o administrador ou
partido político é facilmente identificado nas cores dos bens
públicos, havendo personalização do patrimônio); da moralidade
(entendida como violação dos deveres de lealdade e boa-fé); da
M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná
34
eficiência (não é eficiente gastar dinheiro público com promoção
pessoal, já que o dinheiro é desperdiçado com algo
desnecessário); da legalidade em sentido amplo (art. 37, § 1º,
CF/88); da supremacia do interesse público (no caso sob análise,
o administrador preferiu garantir interesses particulares de
promoção pessoal do que o interesse público de conservação dos
bens); da indisponibilidade do interesse público (o administrador
agiu como se dono do patrimônio público fosse e não mero
gestor) e da publicidade (o administrador torna pública as ações
de conservação de prédios públicos mas com o objetivo de
promoção pessoal)".
Em remate, colaciona-se trecho de acórdão do Tribunal
Superior Eleitoral:
“o uso de cores pode vir a ser fator de identificação,
dependendo da maneira pela qual é feita essa associação.
Assim, o uso sistemático de uma cor ligada a uma pessoa,
candidato, administração, partido político, etc. pode vir a ser
equiparada aos conceitos de imagem ou símbolo para efeitos no
disposto no § 1º do art. 37 da Constituição da República, ou seja,
sua utilização pode vir a configurar quebra da impessoalidade,
que deveria ser observada nas propagandas institucionais" (TSE.
Recurso Especial Eleitoral n. 19.492. Relator Min. Fernando
Neves).
Portanto, a conduta desvirtuada da requerida,
objetivando, além de sua autopromoção, conferir vantagem eleitoreira
ao candidato que vem apoiando, reprise-se, agride princípios
nucleares do ordenamento jurídico, auferindo benefícios pessoais e
políticos indevidos à custa do erário, acarretando infringência aos
M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná
35
preceitos do art. 37, “caput” e seu § 1º, da Constituição Federal,
artigo 4º, da Lei 8429/92 e Lei Municipal 814/86, de forma a perpetrar
ato de improbidade administrativa.
Caracterizado está, portanto, o ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 11, caput, e inciso I, da Lei nº 8.429/92, na
modalidade de violação aos princípios regentes da gestão pública.
“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que
atenta contra os princípios da administração pública
qualquer ação ou omissão que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou
diverso daquele previsto na regra de competência;”
Por tudo isso, necessária se faz uma decisão destemida
do Poder Judiciário, determinando à requerida Prefeita Municipal, em
estrita harmonia e conformidade com os princípios constitucionais que
norteiam a Administração Pública, que promova a correção das situações
ilegais já consolidadas, bem como abstenha-se da prática de novas
condutas autopromocionais, impondo-se, também, as sanções previstas
na Lei nº. 8.429/92 (artigo 12, inciso III).
O País aguarda um novo tempo, onde impere,
verdadeiramente, o Estado Democrático e Constitucional de Direito, a Lei, a
impessoalidade, a moralidade e a honestidade na Administração Pública. A
penalização dos responsáveis por atos de improbidade, além da própria
punição (justa e merecida) também encarna o exemplo, para que futuros
administradores não incidam nos mesmos erros.
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36
II.6 - DA EVIDÊNCIA DO DOLO TÍPICO DOS ATOS DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Diferente das circunstâncias objetivas, em que a
comprovação facilmente se promove com a reunião de fotografias,
mensagens impressas e outros elementos tangíveis, a aferição do dolo,
circunstância subjetiva arraigada na intenção do agente, demanda
avaliação mais apurada.
Mas em que pese esta dificuldade, o caso sub examine
traz fartos elementos comprovando a intenção escusa da requerida.
Registre-se, por primeiro, que o dolo restou comprovado
em duas oportunidades.
Conforme já relatado no tópico “dos fatos”, em maio de
2012, cinco meses antes das eleições municiais, o candidato apoiado pela
requerida já anunciava na rede social “facebook” os feitos alcançados para
a saúde pública local (inclusive a reforma do Hospital Municipal Lauro
Macedo Sobrinho), notadamente porque o mesmo era o Secretário
Municipal de Saúde e visava candidatar-se ao cargo de Prefeito. É notório,
na localidade, que tal candidato é relacionado a tudo que envolve a área
da saúde na administração da requerida.
Acrescente-se que até a presente data (10/09/2012) a
reforma do hospital não foi integralmente concluída, e apesar disso, cerca
de dois meses antes das eleições, a parte externa do Hospital foi pintada e
com a cor utilizada na campanha pelo candidato apoiado, com nítido
propósito de demonstrar ao eleitorado que a reforma do hospital foi
realizada e com auxílio do referido candidato.
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Ademais, também conforme já salientado, há grande
diferença de tonalidade entre a cor anterior do hospital (bege ou palha) e o
amarelo atualmente estampado, mais um elemento que reforça a intenção
escusa.
Portanto, por um primeiro ângulo, comprovado está o
dolo em violar os princípios administrativos da legalidade, impessoalidade
e moralidade, já que não há dúvidas de que a escolha da cor teve nítido
proposito eleitoral.
Ainda que fosse equivocada a conclusão anterior (de
que na própria escolha da cor houve intenção eleitoreira), o fato é que está
incontestável a existência de ofensa à impessoalidade, ensejadora de
desequilíbrio no pleito eleitoral16.
Explico.
O candidato “Adriano da Saúde” por grande período foi
Secretário Municipal de Saúde na Gestão da requerida, só tendo se
afastado da administração desta para concorrer às eleições municiais
(desincompatibilização).
16
José Jairo Gomes, Direito Eleitoral, 5ª ed, revista, atualizada e ampliada, Ed. Del Rey: “(pag. 168) A ação administrativo-estatal deve necessariamente pautar-se pelo atendimento do interesse público. Não só por ação pode-se abusar do poder político, como também por omissão. Atenta a essa realidade, a Lei n. 9504/97 proibiu aos agentes públicos, servidores ou não, a consumação de certas condutas, denominadas condutas vedadas. São previstas nos artigos 73 a 78 daquele diploma. (pág. 265) É intuitivo que a máquina administrativa não pode ser colocada a serviço de candidaturas no processo eleitoral, já que isso desvirtuaria completamente a ação estatal, além de desequilibrar o pleito – ferindo de morte a isonomia que deve permear as campanhas e imperar entre os candidatos – e fustigar o principio republicano, que repudia tratamento privilegiado a pessoas ou classes sociais. No Brasil, é público e notório que agentes públicos se valem de suas posições para beneficiar candidaturas. A esse respeito, ressalta Castro (2006:311) que o uso da máquina administrativa sempre foi prática corriqueira nas eleições, oportunidade em que “as obras públicas se avolumam, não param as inaugurações e as campanhas publicitárias são intensificadas, sempre associando-se os benefícios levados ao povo como Administrador de então”. Isso, que seja em benefício próprio, quer seja em benefício de terceiros.”
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Tal candidato, ainda, conforme já foi comprovado, fez
divulgação dos feitos adquiridos durante sua gestão, inclusive da tão
tratada reforma do hospital.
Diante disso, é notório, em toda cidade, que todas as
melhoras ocorridas na saúde pública local tiveram o auxílio do referido
candidato.
A situação se agrava quando, já sendo notória esta
correlação, a administração municipal pinta o hospital, cuja reforma
já foi divulgada pelo candidato, na cor amarela, justamente a utilizada
na campanha eleitoral deste.
A utilização, ainda que por absurda coincidência, da
cor amarela, já traz vantagens indevidas ao candidato à custa da
máquina administrativa. Isto causa evidente DESEQUILÍBRIO NO
PLEITO ELEITORAL, além de INCUTIR CONTORNOS DE
PESSOALIDADE NO BEM PÚBLICO REFORMADO. Portanto,
incontestável a ofensa ao postulado da impessoalidade (além da
ilegalidade por inobservar a Lei Municipal 814/06), o que demandaria
urgente repintura para restabelecer a ordem constitucional.
Diante deste fato (repito, ainda que não tenha
existido dolo na escolha da cor), o Ministério Público advertiu a
requerida, expedindo a recomendação 01/2012 (cujo teor já foi em
parte transcrito), dando a ela ciência da irregularidade e ofensa a
princípios administrativos constitucionais, e sugerindo que
repintasse o referido hospital para restabelecer o respeito aos
postulados da impessoalidade / legalidade e o equilíbrio no pleito
eleitoral.
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Mesmo assim, após duas recomendações
deflagradas por este agente ministerial, a requerida manteve-se
inerte, ofendendo, ao menos por ATO OMISSIVO E DELIBERADO, os
citados princípios constitucionais (incluindo-se aqui, também, a
moralidade em razão da omissão proposital).
Logo, evidente está, ao menos, ofensa aos
princípios da legalidade, impessoalidade e moralidade perpetrada
mediante conduta omissiva.
Mas esta omissão claramente teve um propósito:
esperar o fim do período eleitoral para que durante este o candidato
apoiado pela requerida possa ser beneficiado, fato que necessita
imediata intervenção do Poder Judiciário para que seja expurgada a
vantagem indevida angariada à custa do erário público (por medida
liminar que na sequência será postulada). Tal situação demonstra,
mais uma vez, o dolo intrínseco ao ato de improbidade administrativa.
Comprovando a possibilidade de responsabilização por
ato de improbidade administrativa perpetrado mediante conduta omissiva,
transcreve-se, mais uma vez, o artigo 11, “caput”, da Lei 8429/92:
“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta
contra os princípios da administração pública qualquer ação OU
OMISSÃO que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:” (grifou-se)
Destarte, seja pela intencional escolha de cor com nítido
propósito de promover-se e promover o candidato apoiado (conduta
comissiva), seja pela omissão deliberada após a advertência de que a
escolha trouxe benefício ao candidato “Adriano da Saúde” (conduta
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omissiva), claramente praticou a requerida ato doloso de improbidade
administrativa que ofende os princípios da administração pública.
II.7 - DAS SANÇÕES CÍVEIS APLICÁVEIS AO CASO
EM COMENTO
A conduta ora constatada, a par de possivelmente
configurar infração eleitoral, deve ser punida, também, na seara cível,
conforme mandamento da própria Constituição Federal (artigo 37):
“§ 4º: Os atos de improbidade administrativa importarão a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.”
A punição de tais atos de improbidade deverá ocorrer na
forma do artigo 12, da Lei 8.429/92, o qual estabelece que cada
modalidade de ato ímprobo tem gradação específica. Considerando que a
violação ocorreu mediante ofensa a princípios administrativos, o caso
requer a aplicação, cumulativa, das sanções transcritas no artigo 12,
inciso III, da mesma Lei.
“Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e
administrativas previstas na legislação específica, está o
responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
cominações, que podem ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: (Redação
dada pela Lei nº 12.120, de 2009).
(...)
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se
houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos
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de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o
valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
prazo de três anos.
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz
levará em conta a extensão do dano causado, assim como o
proveito patrimonial obtido pelo agente.”
3 - DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA.
In casu, é imperioso o deferimento da medida liminar
para cessar, imediatamente, o desequilíbrio existente nas eleições
municipais do ano de 2012, bem como restabelecer a ordem constitucional
violada, impondo-se a imediata repintura do Hospital Municipal Lauro
Macedo Sobrinho.
No magistério de RODOLFO DE CAMARGO
MANCUSO, a Lei nº 7.347/85 possibilita a concessão de tutela liminar
tanto através de ação cautelar própria (artigo 4º), quanto incidentemente
na própria ação civil pública (artigo 12) 17.
Não obstante a discussão a respeito da natureza jurídica
da liminar18 prevista no art. 12, da Lei nº 7.347/85 (“Poderá o juiz
conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em
decisão sujeita a agravo.”), isto é, se cautelar ou tutela antecipada, a ser
deferida desde que presentes os requisitos do fumus boni iuris (cautelar)
17
Ver Ação Civil Pública, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1989, pág. 103, depois 113/114. 18 Entendemos que se trate de antecipação dos efeitos da tutela.
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ou a verossimilhança da alegação (tutela antecipada - art. 273, CPC, c/c
art. 19, da Lei 7.347/85), e ainda, do periculum in mora (requisito comum
às cautelares e tutelas antecipadas), impõe-se a sua concessão (liminar).
No tocante ao primeiro pressuposto, ratificam-se os
argumentos insertos no corpo desta peça inaugural, podendo-se cogitar,
no caso presente, de grau acentuado de probabilidade, isto é, de carga
cognitiva suficiente a superar o mero fumus boni iuris, ou ainda, a mera
verossimilhança. Destarte, seja qual for o entendimento do Julgador
singular, satisfeito o requisito em questão.
Quanto ao segundo, percebe-se que a demora natural
da prestação da tutela jurisdicional (processo de cognição plena e
exauriente), por si só, acarretará dano de impossível ou difícil reparação. A
concessão da liminar tem por finalidade impedir que a pintura postada na
obra pública citada, que notoriamente traz benefício eleitoreiro ao
candidato “Adriano da Saúde”, continue a gerar desequilíbrio nas eleições
(que ocorrerão em menos de 01 (um) mês). Ora, quanto mais tempo
permanecer essa situação, maiores serão os benefícios auferidos pelo
candidato em questão à custa do patrimônio municipal, em nefasta
violação continuada aos princípios constitucionais administrativos. A
propósito, é digno de nota que caso o candidato apoiado venha a vencer
as eleições, o dano causado aos opositores não poderá ser reparado.
Em outros termos, a visualização da cor amarela no
Hospital Municipal, diariamente, pelo povo de Centenário do Sul/PR, fará
com que os eleitores, subliminarmente, vinculem a obra realizada à figura
do candidato “Adriano da Saúde”, não se distinguindo, aos olhos dos
cidadãos, a pessoa jurídica de direito público interno da pessoa física do
candidato, período no qual este continuará a favorecer-se.
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43
Em resumo, o provimento satisfativo esperado no
presente feito, caso não seja concedida a liminar, mostra-se ameaçado
ou, por que não dizer, comprometido pela ineficácia da inserção tardia do
comando jurisdicional na realidade fática.
É de se registrar, ainda (caso o Juízo entenda tratar-
se de tutela antecipada), que a concessão do pleito liminar não gera
perigo de irreversibilidade (artigo 273, § 2º, do CPC19). Com efeito, se
houver prejuízo à ré, este será meramente patrimonial – o preço da
pintura da parte externa de um hospital 20 –, o que facilmente pode
ser a ela devolvido. De outra banda, caso a liminar não seja deferida,
irreparável será o dano causado aos demais candidatos concorrentes
à eleição, já que permanecerão, até o término do pleito – que se
avizinha –, sendo prejudicados por uma manobra ilegal e reprovável.
Neste contexto, ante a peculiaridade da relação jurídica
de direito material trazida à seara do processo, com ou sem manifestação
inicial do poder público, protesta-se pela concessão da liminar, no
sentido de determinar que a requerida Veralice Pazzotti, Prefeita Municipal
de Centenário do Sul, via obrigação de fazer, efetive a repintura da parte
externa do Hospital Municipal Lauro Macedo Sobrinho, no prazo de 03
dias, utilizando recursos particulares, e aplique no mesmo prédio cores
que não propiciem identificação com partidos políticos, candidatos ou
19 § 2
o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do
provimento antecipado. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 1994) 20 Cabe salientar, aqui, que a vantagem eleitoral decorrente da realização de obras públicas não encontra amparo no direito, já que o uso da máquina administrativa não pode favorecer nenhum dos candidatos nas eleições. Portanto, embora a repintura possa ser prejudicial ao candidato “Adriano da Saúde”, isto não lhe retira um “direito”, mas expurga da realidade fática uma odiosa “inconstitucionalidade” que traz vantagem a seu favor.
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coligações, abstendo-se, ainda, de promover novas ilegalidades da
mesma natureza.
Requer-se, também, na forma do art. 11 da Lei nº
7.347/85, c/c arts. 287 e 461, todos do Código de Processo Civil, seja
fixada multa diária no importe de R$ 1.000,00 (um mil reais), para o
caso de eventual descumprimento do provimento jurisdicional liminar.
Ao nosso sentir, ainda que o Juízo entenda inexistir
improbidade administrativa por ausência de dolo, é imperioso, para
expurgar a pessoalidade inserida na obra pública e afastar o desequilíbrio
existente do pleito eleitoral, o deferimento da medida liminar.
4 - DO PEDIDO E DOS REQUERIMENTOS
Diante de tudo que foi exposto, o Ministério Público do
Estado do Paraná, por meio do agente signatário, REQUER:
a) a autuação da presente petição inicial e dos
documentos que a instruem (procedimentos MPPR 0033.12.000163-2 e
MPPR 0033.12.000078-2), bem como o seu recebimento e processamento
segundo o rito estabelecido na Lei n. 8.429/92.
b) A concessão de medida liminar, no sentido de
determinar que a Prefeita Municipal de Centenário do Sul, Sra. Veralice
Pazzotti, via obrigação de fazer, efetive a repintura da parte externa do
Hospital Municipal Lauro Macedo Sobrinho, no prazo de 03 dias,
utilizando recursos particulares, e aplique no mesmo prédio cores que não
propiciem identificação com partidos políticos, candidatos ou coligações,
abstendo-se, ainda, de promover novas ilegalidades da mesma natureza,
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45
fixando-se multa diária no importe de R$ 1.000,00 para cada dia de
descumprimento.
c) Seja oficiado à Prefeitura Municipal de Centenário do
Sul, requisitando, no prazo de dez dias:
c.1) que remeta a relação das remunerações mensais
percebidas pela ré Veralice Pazzotti, com o fim de, em sendo procedente a
presente demanda, possibilitar ao Juízo a aplicação da cominação prevista
no art. 12, inciso III, da Lei 8.429/92;
c.2) que informe qual a exata data de início e término da
“pintura” da parte externa do Hospital Municipal Lauro Macedo Sobrinho;
c.3) que informe quais pendências existem para o
término da reforma do referido hospital, bem como qual o tempo
aproximado para conclusão.
d) Seja notificada a Prefeitura Municipal de Centenário
do Sul para, nos termos do art. 17, § 3º, da Lei 8.429/92, na condição de
pessoa jurídica interessada, querendo, integrar a lide.
e) a notificação da requerida Veralice Pazzotti no
endereço constante desta petição inicial, para oferecer manifestação
escrita, nos termos do art. 17, § 7o, da Lei 8.429/92.
f) após a resposta da requerida, seja recebida a inicial,
procedendo-se à citação da ré para integrar o polo passivo da relação
jurídico-processual, dando-lhe oportunidade para, se quiser, apresentar
resposta, no prazo legal, sob pena de revelia, devendo constar do
mandado a advertência do artigo 285, segunda parte, do Código de
Processo Civil.
g) a produção de todas as provas necessárias à
demonstração do alegado, verbi gratia, testemunhal, depoimento pessoal,
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documental e pericial, esta última, se necessário, bem como a juntada de
documentos supervenientes, muito embora se trate de causa em que está
presente a possibilidade do julgamento antecipado da lide, vez que se trata
de prova eminentemente documental, não havendo, em princípio,
necessidade de prova oral e pericial (CPC, art. 330, I, segunda parte, do
Código de Processo Civil).
h) após o devido processo legal, a condenação da
requerida Veralice Pazzotti na obrigação de fazer consistente na repintura
da parte externa do Hospital Municipal Lauro Macedo Sobrinho, utilizando
recursos particulares, e aplicando no mesmo prédio cores que não
propiciem identificação com partidos políticos, candidatos ou coligações.
Postula-se, ainda, a condenação da requerida em obrigação de não-fazer,
coibindo-a de, na gestão do Município, adotar condutas violadoras dos
princípios que regem a administração pública. Por fim, pugna-se pela
fixação de multa diária, na forma dos arts. 287 e 461, todos do CPC, para
hipótese de eventual descumprimento.
i) após o devido processo legal, a condenação da
requerida Veralice Pazzotti nas sanções do art. 12, inciso III, da Lei n.
8.429/92, cominadas para os atos que atentam contra os princípios da
administração pública (LIA, art. 11), quais sejam: ressarcimento integral do
dano (que será apurado em sede de liquidação de sentença), perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos de 3 (três) a 5 (cinco)
anos; pagamento de multa civil de até 100 (cem) vezes o valor da
remuneração percebida pelo agente, montante a ser fixado por este Douto
Juízo; proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
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intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de
3 (três) anos.
j) a condenação da requerida ao pagamento das
despesas processuais e verba honorária de sucumbência, cujo
recolhimento deste último deve ser feito ao Fundo Especial do Ministério
Público do Estado do Paraná, criado pela Lei Estadual n. 12.241, de 28 de
julho de 1998 (DOE n. 5302, de 29 de julho de 1.998), nos termos do artigo
118, inciso II, alínea “a”, parte final da Constituição do Estado do Paraná;
k) observância do art. 18 da Lei 7.347/85 e do art. 27 do
Código de Processo Civil quanto aos atos processuais requeridos pelo
Ministério Público;
l) a intimação pessoal do Ministério Público para
acompanhar todos os atos que integram o processo ora instaurado;
m) seja emprestada e reconhecida PRIORIDADE DE
TRAMITAÇÃO à presente Ação Civil Pública, tendo em vista que a
demanda tutela interesse público coletivo (primazia do interesse
público sobre o privado), medida imprescindível para a efetividade do
acesso à Justiça, devendo o Juízo determinar que a serventia promova a
anotação de tal privilégio na capa de rosto dos autos. e
n) sejam encaminhadas a este órgão de execução do
Ministério Público 02 (duas) cópias integrais dos autos – com despacho
inicial -, com vistas ao eventual oferecimento de representação criminal e
ciência ao Poder Legislativo (infração político-administrativa).
Dá-se à causa o valor de R$ 100,00 (cem reais), por ser
inestimável.