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COTIDIANO E CONSUMO NA CIDADE DE LONDRINA (1960- 2000) Unidade Temática Londrina 2008

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CCOOTTIIDDIIAANNOO EE CCOONNSSUUMMOO NNAA

CCIIDDAADDEE DDEE LLOONNDDRRIINNAA

((11996600-- 22000000))

UUnniiddaaddee TTeemmááttiiccaa

Londrina 2008

2

Autor: Elza Nice Souza Silva Orientador: Prof. Dr. Gilmar Arruda NRE: Londrina Escola: Colégio Estadual “Prof. Ubedulha C. de Oliveira” - Ensino Fundamental e Médio Disciplina: História Disciplina da relação interdisciplinar 1: Artes Disciplina da relação interdisciplinar 2: Língua Portuguesa Conteúdo estruturante: Relações Culturais Conteúdo específico: Urbanização e Industrialização do Paraná. Série: 3° ano do Ensino Médio

COTIDIANO E CONSUMO NA CIDADE DE

LONDRINA ( 1960-2000) Esse texto está dividido em duas partes, sendo que a 1°

parte contém as reflexões teórico historiográficas sobre o

cotidiano e do consumo na cidade de Londrina a partir da

expansão da cafeicultura na região Norte do Paraná e da

industrialização brasileira baseada na substituição de importações

incentivadas pelos governos de Getúlio Vargas e de Juscelino

Kubistichek. O período abordado fica entre os anos de 1954 até o

final do século XX, com ênfase nas décadas de 60, 70 e 80,

época em que as mudanças são mais significativas para a cidade

devido ao processo resultante do auge e do declínio da

cafeicultura.

As informações desse texto servirão posteriormente para

os alunos analisarem fotografias familiares visando identificar

aspectos do consumo cotidiano retratados.

A 2° parte apresenta propostas de atividades didáticas que

serão desenvolvidas com os alunos como parte da

implementação do Plano de Trabalho do PDE proposto

anteriormente. No final das atividades será desenvolvido um

artigo científico contendo as avaliações tanto dos estudos

realizados quanto da implementação em sala de aula.

3

O Norte do Paraná, especificamente em nosso caso, Londrina, foi uma

região que se desenvolveu no rastro da expansão da agricultura cafeeira. No

ano de 1950, o município de Londrina contava com 72.444.habitantes, número

bastante elevado para uma cidade que havia sido fundada há menos de 30

anos atrás, e que em 1935 contava com 15.000 habitantes. Podemos constatar

que essa densidade demográfica, incomum para a região naquela época, era o

resultado mais concreto do sucesso da ocupação das terras rochas do Norte

do Paraná. Observando os dados demográficos e comparando com a área de

plantio e produção de café, no pós anos 30, período da ocupação e

conseqüente transformação da paisagem na região, percebemos que ambos

estão diretamente relacionados. Os dados estatísticos abaixo confirmam essa

afirmação.

Tabela n°1

PRODUTO ÁREA COLHIDA (ha.)

1948 1959 1975 1985 1990 1997

115 39.060 24.308 10.096 12.786 4.185

VOLUME(t)

1948 1959 1975 1985 1990 1997

CAFÉ

10.200 57.726 30.445 11.120 5.429 6.278 Fonte-Londrina. Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento. Atlas do

Município de Londrina [mapa] / Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento;

Coordenadora: Cecília César Eller. Londrina: A Secretaria, 2000.

1 Atlas (89 p): tab, mapas. Página 51.

Devo comentar que os anos disponíveis para a consulta na fonte que

localizei eram apenas esses que apresentei e que acrescentei os dados até

1997 por que farei referência aos mesmos ao longo do texto.

A tabela a seguir complementa as informações mostrando o crescimento

da população do município de Londrina, possibilitando uma comparação entre

a população urbana e rural. São dados relevantes para analisarmos as

4

mudanças no perfil da cidade em decorrência do processo de auge e declínio

da agricultura cafeeira na cidade e na região.

Tabela n°2

POPULAÇÃO RURAL

1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000

37.182 57.439 64.573 34.771 23.424 16.432 13.696

POPULAÇÃO URBANA

1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000

34.230 77.382 163.528 266.940 366.676 396.121 433.396

TOTAL

1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000

71.412 134.821 228.101 301.711 390.100 412.553 447.065 IBGE- Censos Demográficos 1950, 1960,1970, 1980, 1991 e 2000; Contagem da

População 1996 (1) Taxa Média Geométrica de incremento anual da população. Fonte – Perfil

do Município de Londrina – 2004 ( Ano Base 2003); Página 25.

Infelizmente não consegui localizar dados referentes aos mesmos anos,

porém, a proximidade entre os mesmos são o suficiente para nos oferecer uma

idéia da proximidade da relação entre a população da cidade e o cultivo do

café. Nos primeiros anos citados a relação é direta com o aumento

populacional e ao longo dos anos a mesma aparece em relação ao

contingente de população rural e urbana, mas, deixaremos esses dados para

comentar mais adiante. A citação abaixo complementa nossas colocações:

“Na década de 1940, terminada a Segunda Grande

Guerra, a economia cafeeira apresentou rápida recuperação no

mercado internacional. Os preços da rubiácea não paravam de

subir. As lavouras cresceram, de forma acelerada, em toda a

região, fomentando a necessidade de número cada vez maior

de mão-de-obra. Criou-se uma fama de riqueza, atraindo de

5

forma crescente e descontrolada um número cada vez maior de

migrantes e imigrantes.” 1

A pesquisa em jornais locais, especificamente a Folha de Londrina,

constante do acervo da Biblioteca Municipal, da década de 1950 e início da

década de 1960 confirma que a agricultura era realmente a base econômica da

cidade. Ao analisar os produtos oferecidos nos comercias publicados nos

jornais, numa relação direta com o tema proposto, o cotidiano e consumo,

observa-se que a grande maioria dos produtos tem utilidade para os

agricultores. São bombas para água, motores elétricos e a gasolina autos e

tratores, ferramentas, máquinas agrícolas, sementes e defensivos.

Havia também a oferta de produtos para uso pessoal e doméstico,

atestando o processo de industrialização pelo qual o país estava passando e

também a existência de consumidores com poder de compra na região.

Apesar de que a incidência da oferta desses produtos nos jornais era bem

menor do que a dos produtos destinados aos agricultores.

Na década de 1950, os produtos já eram bastante diversificados. São

oferecidos produtos elétricos modernos, como a geladeira, o rádio , o aspirador

de pó e a enceradeira. Confirmando que a cidade caminhava lado a lado com

os grandes centros urbanos do país, apesar da distância. Seus habitantes não

estavam isolados e privados dos confortos possibilitados pelo processo de

industrialização que se iniciava no país. Esse fato revela uma característica

essencial do capitalismo, ocupar todos os mercados consumidores, pois, na

busca pelo lucro não existem distâncias inviáveis ou fronteiras intransponíveis.

Existe no comercial um forte apelo ao que é “moderno”, às “últimas

novidades”.

O texto constante do cartão que encabeça o anúncio traz a seguinte

quadrinha:

“Compre agora pelo preço antigo

O melhor e mais moderno artigo.”

É oferecida até uma cama automática, como “última novidade”. A

primeira vista parece ser uma cômoda com gaveta e portas, mas o texto que 1 LEME,Edson Holts. Noites Ilícitas- histórias e memórias da prostituição em Londrina.. Londrina: EDUEL. 2005.página 29

6

acompanha o anúncio revela a dupla utilidade do móvel. É a criatividade a

serviço do capital e do mercado. Outra característica importante desse sistema

econômico, inovar para ter sempre o que oferecer, embora muitos produtos

não sobrevivam a uma única temporada no mercado. consumidor.

Foto-n°01

Folha de Londrina 12/12/1954: 05

Autor- Elza Nice Souza Silva (11/11/2008)

Em Londrina, ao lado da agricultura e do comércio, outra atividade

econômica que se desenvolvia era o setor de agroindústria, ou seja, o

beneficiamento e embalagem dos produtos agrícolas. O arroz, o açúcar e o

café, são produtos que em 1954 já eram oferecidos aos consumidores

7

embalados em pacotes a partir de 1 kg. Sinais da modernidade e

industrialização latentes no país chegando até a região via agricultura.

As imagens abaixo são referências documentais desse processo,

destacando que o açúcar, como podemos observar na imagem, é um produto,

que vem no rastro da cafeicultura. Observem essa influência na

contextualização da propaganda: “Para o seu cafezinho de todas as horas...”

Foto n°02

Folha de Londrina 19/09/1954: 02

Autor- Elza Nice Souza Silva (27/11/2008)

Foto n° 03

Folha de Londrina 12 /12/1954: 07

Autor- Elza Nice Souza Silva (03/12/2008)

8

Foto n°04

Folha de Londrina /10/1954: 05

Autor- Elza Nice Souza Silva (11/11/2008)

As imagens são um retrato do sucesso da agricultura na cidade. Foi

esse resultado que a Companhia de Terras do Norte do Paraná, responsável

pelo início da urbanização da região, encarregou-se de espalhar na forma de

propaganda favorável em todo território nacional e também em outros países.

Assim, a demanda de população para a área ocorreu rapidamente, como

comprova Nadir Cancian. E fato, gerou diversos problemas para a cidade,

sendo eles referentes à educação, saúde, trabalho e segurança da população.

As duas referências abaixo complementam essa afirmação.

“Em 1950 o Norte Novo contava com nove municípios,

e sua população aumentara em 943,3% desde 1940...”2

“No caso de Londrina, a chegada diária e sempre

crescente de levas de migrantes não veio acompanhada da

abertura proporcional do número de postos de trabalho, tanto

2 CANCIAN, Nadir Aparecida. Cafeicultura paranaense (1900-1970). Curitiba, GRAFIPAR, 1981.Página 189.

9

no campo como na cidade. O aumento da miséria e da

marginalidade acabou sendo uma conseqüência.”3

Londrina, que havia sido projetada para receber cerca de 30 mil

habitantes na visão da Companhia de Terras do Norte do Paraná, já contava

em 1960 com 134.821 habitantes e era conhecida desde a década de 1950,

como a “Capital Mundial do Café”.

Cidade geradora de riquezas para os poucos produtores de café, a

terra rocha mundialmente famosa por ser a mais apropriada para o cultivo da

rubiácea, era também o palco da exploração dos trabalhadores rurais, que em

decorrência dos diversos fatores constantes da citação abaixo, empreenderam

a partir do final da década de 1960 e com maior intensidade ao longo da

década de 1970, uma evasão da zona rural e conseqüente aumento da

população urbana, agravando ainda mais os problemas já enfrentados pela

população citadina.

“...meados dos anos 60, quando vem a modernização

selvagem da agricultura. O pequeno proprietário, o posseiro e o

parceiro miseráveis não serão somente vítimas das peripécias

da natureza. Nem o assalariado permanente do vai -e-vem da

exportação do café e do açúcar, das oscilações da colheita do

café devido à geada ou às pragas. Agora, milhões de homens,

mulheres e crianças serão arrancados do campo, pelo trator,

pelos implementos agrícolas sofisticados, pelos adubos e

inseticidas, pela penetração do crédito, que deve ser honrado

sob pena da perda da propriedade ou da posse.”4

Com relação às mudanças que se processaram nesse período destaca-

se que na contínua por lucros, os proprietários rurais introduziram o cultivo de 3 LEME,Edson Holts. Noites Ilícitas- histórias e memórias da prostituição em Londrina.. Londrina: EDUEL. 2005.página 31

4 MELLO, João Manoel Cardoso de e NOVAIS, Fernando A. Capitalismo Tardio e Sociabilidade Moderna in: História da Vida Privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. 1998: Páginas 579; 580.

10

outros produtos como por exemplo o soja, trigo e milho, porém, o excedente de

mão-de-obra no campo não foi absorvido, sendo esse mais um fator para o

êxodo rural. Os dados da Tabela n°2 confirmam essas afirmações, podemos

observar que o crescimento da população urbana foi muito intenso também ao

longo das décadas de 60, 70,80 e 90.

“ Tais questões resultaram no fato de que os antigos

colonos eram obrigados a ocupar terrenos públicos e

particulares, para formar aglomerados urbanos sem nenhum

tipo de infra-estrutura ou equipamento urbanístico. Constitui-se,

portanto, um novo perfil de morador nas maiores cidades do

Norte do Paraná: os trabalhadores rurais vivendo na periferia

urbana.”5

Apesar de todos os problemas da urbanização acelerada, o crescimento

da população urbana acarretou alterações significativas no perfil econômico da

cidade, Londrina adquiriu características de cidade comercial se transformando

num pólo regional de serviços. Numa época de intensas mudanças nos hábitos

de consumo cotidianos com a industrialização do país e o aumento da oferta de

muitos produtos no mercado. Podemos identificar relatos dessas mudanças a

nível nacional nos textos de Mello e Novais citados abaixo:

“ Dispúnhamos também de, todas maravilhas

eletrodomésticas: o ferro elétrico(...); o fogão a gás(...); o

liquidificador e a batedeira de bolo; a geladeira; o secador de

cabelos; a máquina de barbear (...); o aspirador de pó (...); a

enceradeira; (...); a máquina de lavar roupas; o rádio a válvula

deu lugar ao rádio transistorizado, AM e FM, ao rádio de pilha,

(...); a eletrola, a vitrola hi-fi, o som esterofônico, o aparelho de

som, o disco de acetato, o disco de vinil, o LP de 12 polegadas,

a fita: a TV preto-e-branco, depois a TV em cores, com controle

remoto; o videocassete; o ar condicionado.”6

5 SOUZA, Éder Cristiano de: Os excluídos do café: As classes populares e as transformações no espaço urbano de Londrina. 1944-1969. Tese de Mestrado pela Universidade Estadual de Maringá em 2008: Página 184;185.

6 MELLO, João Manoel Cardoso de e NOVAIS, Fernando A. Capitalismo Tardio e Sociabilidade Moderna in: História da Vida Privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. 1998: Páginas 564

11

Londrina absorveu muito dessas mudanças. Nos anúncios dos jornais

nós constatamos que ocorre uma diversificação nos produtos ofertados em se

tratando das marcas e modelos e também das lojas que assinam os anúncios.

Na década de 1950 e início da década de 1960 existe a predominância de dois

estabelecimentos na concorrência pelos consumidores da cidade: Casas

Fuganti e Hermes Macedo. As mudanças se processaram rapidamente, no

mesmo ritmo do aumento populacional e em 1963 foi inaugurado o que pode

ser considerado como o primeiro shopping center da cidade, o Centro

Comercial, conjunto de três torres de apartamentos e salas comerciais

instalados na rua Piauí no centro da cidade, mais especificamente localizados

em frente a Concha Acústica. É possível perceber pelos anúncios dos jornais o

crescimento do comércio da cidade e o surgimento de concorrentes na área ,

observem nas imagens abaixo uma pequena amostra da diversificação dos

estabelecimentos comerciais:

Foto n°05

Folha de Londrina 24/12/1961: 10

Autor- Elza Nice Souza Silva (11/11/2008

12

Foto n° 06

Folha de Londrina 08/11/1961: 04

Autor- Elza Nice Souza Silva (11/11/2008)

Foto n°07

Folha de Londrina 07/12/1965: 10

Autor- Elza Nice Souza Silva (11/11/2008)

13

Foto n° 08

Folha de Londrina 01/11/1970: 07

Autor- Elza Nice Souza Silva (11/11/2008)

O perfil do consumidor londrinense também se alterou, verifica-se

reflexos dessas transformações nos comerciais publicados nos jornais. Não é

só a oferta intensificada de eletrodomésticos mas também os produtos

destinados à área comercial e urbana como calculadoras e registradoras para

os estabelecimentos comerciais que se multiplicaram na cidade; as roupas

práticas de tecido sintéticos; veículos urbanos como a lambreta e o fusca;

serviços de telefonia interno e externo. Essas mudanças se concretizaram no

cotidiano londrinense nas décadas de 1960 e 1970.

Em muitos dos anúncios que ilustram esse texto pode-se observar que a

cidade passava por outras mudanças importantes, o aumento na oferta de

serviços, como por exemplo, médicos especialistas e dentistas, é uma prova

concreta de que a cidade estava adquirindo um novo perfil.

14

Foto n° 09

Folha de Londrina 10/12/1961: 07

Autor- Elza Nice Souza Silva (11/11/2008

Foto n° 10

Folha de Londrina 10/12/1969: 08

Autor- Elza Nice Souza Silva (11/11/2008)

15

Foto n° 11

Folha de Londrina 15/11/1961: 04

Autor- Elza Nice Souza Silva (11/11/2008)

Foto n°12

Folha de Londrina 12/12/1971: 07

Autor- Elza Nice Souza Silva (11/11/2008)

16

As mudanças se refletiram também nos hábitos de consumo de

produtos alimentícios, pois, os produtos industrializados ofereciam uma

facilidade a mais na preparação das refeições. A indústria usa como vantagem

para seus produtos, a aparência higiênica de suas embalagens, contrastando

com a dos produtos vendidos por quilo nos armazéns, que eram retirados de

tonéis ou sacos de algodão, pesados ao gosto do freguês e embalados na hora

em sacos de papel. O texto abaixo ilustra muito bem essas mudanças:

“Veio, também, o predomínio esmagador do

alimento industrializado. O arroz, o feijão, o açúcar, as farinhas,

de trigo, de rosca, de mandioca, já empacotadas de fábrica (...).

Chegou o extrato de tomate; a lata de ervilha, de palmito, de

milho, de legumes picados; o leite condensado; o leite em pó

(...); o creme de leite; o iogurte; novas espécies de biscoito e

macarrão (...).”7

Em Londrina, pelo que verificamos na pesquisa de jornais, o hábito de

consumir produtos enlatados e embalados demorou um pouco mais a se

estabelecer, apesar de observarmos já em 1954, como relatamos nesse

mesmo texto, a oferta de alguns produtos embalados (açúcar, arroz e café) as

mudanças nesse aspecto do consumo cotidiano foram mais lentas e

gradativas, refletindo uma permanência dos costumes rurais, reflexo da origem

de seus habitantes. Outro comentário cabível para esse assunto é o fato de

que o processo de industrialização do Brasil, que a princípio ficou restrito aos

grandes centros urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro, possa ter influenciado

o tipo de consumo de produtos alimentícios devido ao preço que os mesmos

chegavam aqui.

Londrina se adaptou às mudanças econômicas as quais esteve sujeita

ao longo da História. No texto de Arias Neto, lemos que:

7 MELLO, João Manoel Cardoso de e NOVAIS, Fernando A. Capitalismo Tardio e Sociabilidade Moderna in: História da Vida Privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. 1998: Páginas 564 e 565.

17

“Ao longo da década, a cafeicultura foi sendo

gradativamente desalojada por novas atividades agropecuárias

e industriais. Em 1970, havia 442 em Londrina, a maioria de

pequeno porte, voltadas para produção de bens de consumo

não- duráveis e ocupando pouca mão-de-obra... Nesse

período, o setor primário- a agricultura e pecuária- e o setor

terciário- o comércio, prestação de serviços e uma forte

atividade imobiliária- se consolidam como as principais

atividades econômicas da cidade”8

Nesse contexto de mudanças econômicas e conseqüentemente sociais,

ainda na década de 1970 Londrina recebeu o primeiro hipermercado da

região, e uma avalanche de novos produtos e marcas, tiveram a sua disposição

uma vitrine para os olhos dos consumidores londrinenses.

Foto n° 13

Folha de Londrina 03/12/1977: 10

Autor- Elza Nice Souza Silva (27/11/2008)

Nesse mesmo período a fotografia deixa de ser objeto apenas de

profissionais com o lançamento no mercado de câmeras mais acessíveis

8 ARIAS NETO,José Miguel- O Eldorado: Representações da política em Londrina- 1930/1975: Editora UEL, 1998: Páginas 245, 246.

18

financeiramente e também de mais fáceis de operar. Como o contexto do

comercial abaixo revela: Fotografar é tão fácil como uma “brincadeira”

As pessoas passam a consumir um produto que possibilita a elas terem

em suas mãos documentos históricos para esse trabalho que nos propusemos

a desenvolver com os alunos

Foto N° 14

Folha de Londrina 20/12/1970: 07

Autor- Elza Nice Souza Silva (27/11/2008)

Embora tenhamos identificado muitas mudanças significativas para

análise histórica, vamos delimitar nosso trabalho no consumo cotidiano das

pessoas nos anos de 1960 a 2000, a partir das fotografias e álbuns das

famílias dos alunos.

“Mesmo com salários baixos, o grosso dos

trabalhadores comuns pôde se incorporar, ainda que mais ou

menos precariamente, aos padrões de consumo moderno.”9

9 MELLO, João Manoel Cardoso de e NOVAIS, Fernando A. Capitalismo Tardio e Sociabilidade Moderna in: História da Vida Privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. 1998: Página 622.

19

Partindo da afirmação citada levantamos as seguintes questões: Até que

ponto o aumento na oferta de produtos favoreceu os moradores da cidade?

Quais classes sociais tiveram acesso aos produtos ofertados? Existiu uma

simultaneidade entre o acesso aos produtos pelas classes mais abastadas e da

população menos favorecida financeiramente? Isso é, ambas puderam adquirir

os produtos na mesma época?

As fotografias, estão caladas, nas gavetas, nas caixas, nos álbuns de

família, mas sabemos que elas têm muito a nos dizer, vamos buscar na leitura

dessas fontes documentais imagéticas respostas para nossas indagações.

ATIVIDADES

N° 1- SONDAGEM CONCEITUAL INICIAL:

Questões a serem respondidas individualmente por todos os alunos das

turmas envolvidas no período de uma aula de 50’. Os dados familiares serão

solicitados com antecedência, pois, serão importantes para a datação das

fotografias.

COLÉGIO ESTADUAL “UBEDULHA C. DE OLIVEIRA”

NOME __________________________TURMA________DATA_______

Data de nascimento do aluno(a)_______

Mora com: ___________

Data de nascimento dos responsáveis:________________________________

Responda as questões abaixo com suas palavras da maneira

mais completa possível, não se preocupe com o resultado, apenas responda a

partir de seus conhecimentos.

1) O que é consumo para você?

2) Que tipos de produtos você consome hoje e acha que seus pais ou

avós não consumiam?

20

3) Você acha que eles não consumiam esses produtos por que eles não

existiam ou por outro motivo? Justifique.

N° 2 Estudo do texto e imagens Vamos fazer a leitura e discussão do texto e das imagens propostos na

primeira parte dessa Unidade como forma de localizar os alunos no contexto

do projeto. Prevemos para tal atividade a utilização de 6 horas aula entre os

dias 05/ 03/2009 e o dia 31/03/2009.

N°3 Recolher copiar e adquirir a permissão para utilização

das fotografias Entre os dias 23 /03/2009 e 130/04/2009 vamos solicitar que os alunos

levem as autorizações para uso das fotografias de suas famílias para casa e as

tragam de volta devidamente acompanhadas das fotografias

AUTORIZAÇÃO

Autorizo a utilização da(s) fotografia(s) cadastrada(s) com os

números :_____________________________________________________

no projeto Cotidiano e Consumo em Fotografias de família (1960-2000) da

Professora Elza Nice Souza Silva. Não haverá nenhum ônus financeiro para a

utilização da referida imagem.

Aluno(a)____________________________________________

N°____________Turma___________Data__________________

Nome do responsável__________________________________

Assinatura do responsável______________________________

21

N° 4 Classificação das fotografias Essa atividade está prevista para ser realizada entre os dias 06 /04/2009 a

29/04/2009 utilizando 4 horas aula. Seguiremos alguns critérios para classificar as fotografias: em primeiro lugar a

datação, depois o ambiente se é interno ou externo e em terceiro lugar o tipo

de consumo que podemos observar, sendo que nos deteremos em consumo

alimentar, móveis e eletrodomésticos e vestuário.

A análise histórica de fotografias deve ser direcionada de maneira que a

observação seja minuciosa e completa. Todos os detalhes devem ser alvos do

nosso interesse. Portanto devemos seguir um passo a passo que garanta que

nada vai ser esquecido ou deixado de lado, pois o que buscamos não é o que

vemos num primeiro olhar, mas sim o que está além dessa primeira impressão.

Iniciaremos coletando dados a respeito da fotografia escolhida, para

essa etapa utilizaremos uma ficha como essa:

FICHA PARA ANÁLISE DE FOTOGRAFIAS

Aluno(a) responsável pela fotografia ( nome e turma)

Número da fotografia e da autorização para utilização da mesma

Fotógrafo( identificar se é profissional ou amador)

Tamanho da foto Data da fotografia Qualidade da imagem quanto a nitidez

Condições de conservação da fotografia

Local Tema Pessoas fotografadas

Objetos fotografados Situação fotografada

22

Caracterização das pessoas fotografadas

Elementos da paisagem ou do ambiente fotografado

Tempo ( dia/noite) Após essa coleta de dados partiremos para a observação da fotografia,

anotação de nossas impressões a respeito das mesmas e levantamento de questões. Utilizaremos a seguinte ficha para direcionar o trabalho

ROTEIRO PARA ANÁLISE HISTÓRICA DE FOTOGRAFIAS

OBSERVAÇÃO: -Estude a fotografia por alguns minutos. -Examine individualmente cada item da foto. Para tornar a análise mais completa, divida a fotografia na sua imaginação e estude cada seção. Verifique os detalhes de cada uma, pensando inclusive na profundidade da imagem, ou seja o que está em primeiro plano, segundo plano etc. - Após a observação faça uma lista das pessoas, objetos e atividades presentes na fotografia. DEDUÇÃO Com base nas suas observações e anotações liste o que você pode deduzir através da fotografia, sobre o cotidiano e o consumo das pessoas retratadas. COMPARAÇÃO Organize-se em grupos de 4 alunos e compare a (as) fotografia(as) que você analisou com outras do mesmo período (no mínimo três) analisadas por seus amigos e complemente suas deduções. Em seguida vocês deverão analisar as anotações que cada um fez e produzir um texto identificando o cotidiano e os hábitos de consumo no período.

5- Produção Final e avaliação Para encerrar atividades os alunos deverão elaborar uma ou mais páginas de

Scrapboock artesanal ( técnica de organizar páginas para álbuns de

fotografias utilizando diversos materiais decorativos) , contextualizando as

23

fotografias que analisaram . Para isso, deverão produzir um texto com suas

conclusões a respeito do consumo cotidiano de suas famílias observado a

partir das fotografias. Para essas atividades contaremos com os professores

das disciplinas de Artes e Português das turmas envolvidas

BIBLIOGRAFIA

ARIAS NETO,José Miguel- O Eldorado: Representações da política em Londrina- 1930/1975: Editora UEL, 1998. ARQUIVO DA FOLHA DE LONDRINA DA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE LONDRINA. (Décadas de 1950,1960,1970 e 1980.) CANCIAN, Nadir Aparecida. Cafeicultura paranaense (1900-1970). Curitiba, GRAFIPAR, 1981. IBGE- Censos Demográficos 1950, 1960,1970, 1980, 1991 e 2000; Contagem

da População 1996 (1) Taxa Média Geométrica de incremento anual da

população. Fonte – Perfil do Município de Londrina – 2004 ( Ano Base 2003);

LEME, Edson Holts. Noites Ilícitas- histórias e memórias da prostituição em Londrina.. Londrina: EDUEL. 2005.página 31

LONDRINA. Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento. Atlas do

Município de Londrina [mapa] / Secretaria Municipal de Agricultura e

Abastecimento; Coordenadora: Cecília César Eller. Londrina: A Secretaria,

2000.

MELLO, João Manoel Cardoso de e NOVAIS, Fernando A. Capitalismo Tardio e Sociabilidade Moderna in: História da Vida Privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. 1998: SOUZA, Éder Cristiano de: Os excluídos do café: As classes populares e as transformações no espaço urbano de Londrina. 1944-1969. Tese de Mestrado pela Universidade Estadual de Maringá em 2008.