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  O ENFOQUE CTS E A EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA: ORIGENS, RAZÕES E CONVERGÊNCIAS CURRICULARES Irlan von Linsingen Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Mecânica,  NEPET – Núcleo de Es tudos e Pesquisas em Educação Tecnológica, Cent ro Tecnológico. CEP 88.040-900 – Florianópolis – SC – Brasil. Correio eletrônico: [email protected] .br  RESUMO Algumas características da trajetória histórica do enfoque CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) e o que ele apresenta para transformações significantes no ensino de engenharia, na perspectiva de atendimento do que é proposto nas novas diretrizes curriculares brasileiras, são abordados nesse artigo. Argumenta-se sobre a pertinência de adotar o enfoque CTS como um facilitador de transfor- mações importantes, através da explicitação e problematização de possíveis obstáculos interpostos à educação em engenharia conseqüentes da assunção de uma concepção restrita ou equivocada das relações entre ciência, tecnologia, sociedade e natureza, que orienta implicitamente os processos de formação de engenheiros. Extraem-se do enfoque CTS contribuições para a incorporação de fa- tores explicativos das múltiplas imbricações da engenharia, numa dimensão até agora mantida a-  partada do seu ensino por supostamente não lhe dizer respeito, que é a dimensão sócio-eco- sistêmica da tecnologia.  Palavras-chave:  Educação tecnológica, Currículo, Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS), Inova- ção social. PORQUE CTS COMO REFERENCIAL  Neste artigo são exploradas possíveis causas de obstáculos interpostos à educação em engenharia como conseqüência da assunção de uma concepção restrita das relações entre ciência, tecnologia, socie- dade e natureza, que orienta implícita ou explicita- mente os processos de formação das capacidades na engenharia. Para que se possa entender um pouco melhor como crenças e pressupostos que conferem sustentação a atitudes hegemônicas no ensino de engenharia ini-  bem o envolvimento formal dos especialistas técni- cos com os aspectos que possibilitam uma maior  participação pública e uma ampliação do campo de competência de sua atividade, é imperativo saber onde e como tais pressupostos se originam. De partida é assumido que tais crenças e pressupos- tos são tidos como auto-evidentes na área técnica, a  ponto de serem considerados “naturais” da atividade da engenharia, de modo que não chegam a constitu- ir, em princípio, questões que poderiam ser formal- mente consideradas como pontos de inflexão que  justificassem a abertura de um campo de estudos  próprio, destinado à compreensão da coisa técnica e das inter-relações que ela engendra. Os problemas técnicos, por essa ótica, requerem apenas soluções técnicas em sentido estrito, para as quais existem metodologias laboriosamente estruturadas. Trata-se, evidentemente, de uma posição que ex-  pressa uma visão internalista – e em muitos casos ingênua – da engenharia, a partir da qual os proble- mas reais são transformados em estruturas freqüen- temente bastante complexas, mas das quais são eli- minados todos os aspectos ditos não-técnicos, o que equivale dizer, nesse contexto, socioculturais. A posição a esse respeito aqui defendida é que, ao contrário, a importância e clara interferência da tecnologia no mundo atual e o seu poder de penetra- ção em todos os recantos provoca a emergência de contradições naqueles pressupostos que afeta o que e o como fazer da engenharia, com evidente conse- qüência sobre a sua estrutura pedagógica, requeren- do uma nova forma de abordagem conceitual da coisa técnica e de suas relações. Desse modo, a identificação e problematização des- ses pressupostos, no campo disciplinar, pressupõe operar sobre uma base “externa” do conhecimento da engenharia e, também, na visão “filtrada” da vivência pessoal como professor e pesquisador. É aqui que o enfoque CTS pode ser valioso para a explicitação de pressupostos que podem estar obsta- culizando a ampliação da visão do campo de atuação das engenharias, principalmente no que se refere aos seus comprometimentos sociais mais amplos. O enfoque CTS é bastante amplo e interagente, tor- nando necessário estabelecer os limites de nossa

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  • O ENFOQUE CTS E A EDUCAO TECNOLGICA: ORIGENS, RAZES E CONVERGNCIAS CURRICULARES

    Irlan von Linsingen Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Mecnica,

    NEPET Ncleo de Estudos e Pesquisas em Educao Tecnolgica, Centro Tecnolgico. CEP 88.040-900 Florianpolis SC Brasil. Correio eletrnico: [email protected]

    RESUMO Algumas caractersticas da trajetria histrica do enfoque CTS (Cincia, Tecnologia e Sociedade) e o que ele apresenta para transformaes significantes no ensino de engenharia, na perspectiva de atendimento do que proposto nas novas diretrizes curriculares brasileiras, so abordados nesse artigo. Argumenta-se sobre a pertinncia de adotar o enfoque CTS como um facilitador de transfor-maes importantes, atravs da explicitao e problematizao de possveis obstculos interpostos educao em engenharia conseqentes da assuno de uma concepo restrita ou equivocada das relaes entre cincia, tecnologia, sociedade e natureza, que orienta implicitamente os processos de formao de engenheiros. Extraem-se do enfoque CTS contribuies para a incorporao de fa-tores explicativos das mltiplas imbricaes da engenharia, numa dimenso at agora mantida a-partada do seu ensino por supostamente no lhe dizer respeito, que a dimenso scio-eco-sistmica da tecnologia.

    Palavras-chave: Educao tecnolgica, Currculo, Cincia-Tecnologia-Sociedade (CTS), Inova-o social.

    PORQUE CTS COMO REFERENCIAL Neste artigo so exploradas possveis causas de obstculos interpostos educao em engenharia como conseqncia da assuno de uma concepo restrita das relaes entre cincia, tecnologia, socie-dade e natureza, que orienta implcita ou explicita-mente os processos de formao das capacidades na engenharia.

    Para que se possa entender um pouco melhor como crenas e pressupostos que conferem sustentao a atitudes hegemnicas no ensino de engenharia ini-bem o envolvimento formal dos especialistas tcni-cos com os aspectos que possibilitam uma maior participao pblica e uma ampliao do campo de competncia de sua atividade, imperativo saber onde e como tais pressupostos se originam.

    De partida assumido que tais crenas e pressupos-tos so tidos como auto-evidentes na rea tcnica, a ponto de serem considerados naturais da atividade da engenharia, de modo que no chegam a constitu-ir, em princpio, questes que poderiam ser formal-mente consideradas como pontos de inflexo que justificassem a abertura de um campo de estudos prprio, destinado compreenso da coisa tcnica e das inter-relaes que ela engendra. Os problemas tcnicos, por essa tica, requerem apenas solues tcnicas em sentido estrito, para as quais existem metodologias laboriosamente estruturadas.

    Trata-se, evidentemente, de uma posio que ex-pressa uma viso internalista e em muitos casos ingnua da engenharia, a partir da qual os proble-mas reais so transformados em estruturas freqen-temente bastante complexas, mas das quais so eli-minados todos os aspectos ditos no-tcnicos, o que equivale dizer, nesse contexto, socioculturais.

    A posio a esse respeito aqui defendida que, ao contrrio, a importncia e clara interferncia da tecnologia no mundo atual e o seu poder de penetra-o em todos os recantos provoca a emergncia de contradies naqueles pressupostos que afeta o que e o como fazer da engenharia, com evidente conse-qncia sobre a sua estrutura pedaggica, requeren-do uma nova forma de abordagem conceitual da coisa tcnica e de suas relaes.

    Desse modo, a identificao e problematizao des-ses pressupostos, no campo disciplinar, pressupe operar sobre uma base externa do conhecimento da engenharia e, tambm, na viso filtrada da vivncia pessoal como professor e pesquisador. aqui que o enfoque CTS pode ser valioso para a explicitao de pressupostos que podem estar obsta-culizando a ampliao da viso do campo de atuao das engenharias, principalmente no que se refere aos seus comprometimentos sociais mais amplos.

    O enfoque CTS bastante amplo e interagente, tor-nando necessrio estabelecer os limites de nossa

  • incurso terica nesse campo de conhecimento para evitar disperses excessivas. Antes, porm, cabe realizar uma breve incurso na estrutura do movi-mento CTS, revelando suas origens e razes que levaram aos desdobramentos e importncia que assumem hoje, principalmente para os pases em desenvolvimento que, como o Brasil, esto subme-tidos a uma presso tecnolgica em muitos aspectos no compatvel com suas condies culturais e eco-nmicas.

    Numa perspectiva mais particular, trata-se tambm de pensar numa endogenizao da tecnologia, vista como assimilao crtica e criativa, como processo atravs do qual seriam estabelecidas algumas carac-tersticas da tecnologia nos pases perifricos, que no exclui a sua importao, mas que seja adequada s demandas definidas por uma poltica de C&T com compromissos sociais amplos (Vessuri, 2001). Nesse sentido, a transferncia de tecnologia trans-forma-se em parte do processo de assimila-o/gerao de tecnologia (Herrera, apud Dagnino, 2000). No h nesse processo a inteno de um encapsulamento da sociedade que opta por um de-senvolvimento cientfico e tecnolgico desse tipo, mas implica conquistar autonomia para definir de que maneira essa sociedade particular deseja funcio-nar, em que base tecnolgica deseja proceder.

    Ao nvel ideolgico trata-se, entre outras coisas, de um processo de ruptura com a viso tradicional de cincia e de tecnologia que segue de uma desociden-talizao (ou deseuropizao), o assumir a cincia como cultura, o passar do predomnio de atores sociais que so 'porteiros' que abrem as portas para as tecnologias forneas do mundo desenvolvido ao apogeu de vetores tecnolgicos endgenos, o rees-truturar disciplinas cientficas que constituem reser-vatrios de conhecimentos elaborados por outras culturas, a reavaliao do sentido comum local e a re-construo de tradies, assim como a participa-o social na criao de tecnologia (Vessuri, 2001, p. 242).

    Contudo, para poder mudar preciso conhecer onde se escondem as resistncias e reticncias, torn-las visveis, debat-las e, a partir da, buscar formas mais adequadas a critrios democraticamente esco-lhidos. A histria pode nos auxiliar nessa busca.

    Na seqncia, realiza-se uma breve abordagem his-trica do movimento CTS e de seus desdobramen-tos, que resultaram nas atuais concepes que so empregadas como referenciais para as discusses realizadas e para as propostas de mudana no pro-cesso de formao de engenheiros, com ampliao do campo de competncia da engenharia, centrado na complexidade relacional das novas concepes e imbricaes de sociedade e de tecnologia, ou da sociedade tecnolgica. ORIGENS E DESDOBRAMENTOS DO MOVIMENTO CTS

    Os estudos CTS, ou estudos sociais da cincia e da tecnologia, embora no sejam novos, comeam a tomar um novo e importante rumo a partir de meados de 1960 e incio dos anos 70, como resposta ao cres-cimento do sentimento generalizado de que o desen-volvimento cientfico e tecnolgico no possua uma relao linear com o bem-estar social, como se tinha feito crer desde o sculo 19. O sonho de que o avano cientfico e tecnolgico geraria a redeno dos males da humanidade estava chegando ao fim, por conta da tomada de conscincia dos acontecimentos sociais e ambientais associados a tais atividades. Tanto na Amrica do Norte quanto na Europa, os estudos CTS surgem como uma reconsiderao crtica do papel da cincia e da tecnologia na sociedade, embora com orientaes distintas (Mitcham, 1990).

    num clima de tenso gerado pela guerra do Vietn, pela guerra fria, pela difuso miditica de catstrofes ambientais e dos horrores provocados pelo aparato tecnolgico de destruio posto a servio da morte (napalm desfolhante, armas qumicas e biolgicas), dos efeitos da ampliao do poder destrutivo das armas nucleares revelados nos testes no Pacfico e nos desertos da Amrica do Norte (e pelos esforos que levaram assinatura do tratado de limitao de tais testes), dos movimentos ambientalistas e da contracul-tura que se iniciavam, e tambm da crtica acadmica da tradio positivista da filosofia e da sociologia da cincia, que se estabelecem as condies para uma nova forma de ver as interaes entre cincia, tecno-logia e sociedade.

    Desde seu incio, os estudos e programas CTS segui-ram trs grandes direes: no campo da pesquisa, como alternativa reflexo acadmica tradicional sobre a cincia e a tecnologia, promovendo uma nova viso no-essencialista e socialmente contextualizada da atividade cientfica; no campo das polticas pbli-cas, defendendo a regulao social da cincia e da tecnologia, promovendo a criao de mecanismos democrticos facilitadores da abertura dos processos de tomada de deciso sobre questes de polticas cientfico-tecnolgicas; e, no campo da educao, promovendo a introduo de programas e disciplinas CTS no ensino mdio e universitrio, referidos nova imagem da cincia e da tecnologia, que j se estende por diversos pases (na Europa e na Amrica Latina, e nos EUA) (Bazzo, von Linsingen, Pereira, 2003).

    Essas trs direes renem tradies CTS bastante diferentes norte-americana e de pases europeus , e so conectadas pelo chamado silogismo CTS, base-ado em trs premissas. A tradio europia, centrada na pesquisa acadmica dos antecedentes sociais da mudana cientfico-tecnolgica, trata o desenvolvi-mento cientfico e tecnolgico como um processo conformado por fatores culturais, polticos e econ-micos, alm de epistmicos. A segunda premissa considera a mudana cientfico-tecnolgica como um fator determinante principal que contribui para moldar nossas formas de vida e de ordenamento institucional, sendo assunto pblico de primeira grandeza. Rene os

  • resultados da tradio norte-americana, mais pragm-tica, que se preocupa mais com as conseqncias sociais e ambientais da mudana cientfico-tecnolgica e com os problemas ticos e reguladores suscitados por tais conseqncias. A terceira premissa a de que todos compartilhamos um compromisso democrtico bsico.

    A natureza valorativa desta ltima justifica a conclu-so de que, para tanto, deveramos promover a avali-ao e o controle social do desenvolvimento cientfi-co-tecnolgico, o que significa construir as bases educativas para a participao social formada, assim como criar mecanismos institucionais para tornar possvel tal participao (Gonzlez Garca, Cerezo e Lujn, 1996, p. 227).

    Essa perspectiva educacional, ao nvel da formao em engenharia no Brasil, deve ser analisada com o necessrio cuidado, uma vez que a participao social formada do engenheiro implica uma reorientao da estrutura curricular e pedaggica que altera de modo substancial a atual orientao essencialmente tcnica que a estrutura, que de forma sistemtica exclui da formao de engenheiros a abordagem das imbrica-es da engenharia com a sociedade, o que aponta para a necessidade de incluso de temas CTS na for-mao tecnolgica.

    Duas obras bem diferentes, publicadas em 1962, constituram um marco importante para o movimento CTS. Os livros Silent Spring (Primavera Silenciosa) da biloga Rachel Carson e A estrutura das revolu-es cientficas do historiador e filsofo da cincia Thomas Kuhn teriam sido marcantes para a ao e reflexo dos estudos CTS. O primeiro, ao expor srias questes relativas aos riscos associados aos insetici-das qumicos como o DDT, alimenta a reao dos movimentos sociais, principalmente ecologistas, paci-fistas e da contracultura, contribuindo de vrias ma-neiras para a criao dos movimentos ambientalistas (Cutcliffe, 1990). O segundo, ao considerar novos enfoques para a atividade cientfica que se contra-pem concepo tradicional, desencadeia um novo mpeto de reflexes acadmicas no campo da Histria e da Filosofia da cincia (Mitcham, 1989). A partir da obra de Kuhn a filosofia toma conscincia da impor-tncia da dimenso social e das razes histricas da cincia, ao mesmo tempo em que inaugura um estilo interdisciplinar que tende a diluir as fronteiras clssi-cas entre as especialidades acadmicas.

    Para situar melhor as orientaes e objetivos dos estudos CTS atuais, cabe considerar que o movimento CTS tem na sua origem duas vertentes. Uma, ativista social, constituda por grupos com interesses e ten-dncias diversas que estavam mais ligados reivindi-cao social, tais como pacifistas, ecologistas, defen-sores de direitos civis e advogados de consumidores. Outra, como programa acadmico, orientada para o ensino e pesquisa das questes pblicas, no mbito universitrio, da qual participavam cientistas, enge-nheiros, socilogos e humanistas.

    Para um perodo histrico de transformaes sociais singulares como o da dcada de 1960, que certamente j possua uma trajetria histrica que vinha se for-mando desde pelo menos o incio do sculo 20, ambas as obras contribuem para que nas duas vertentes do movimento CTS se desenvolva a orientao para uma reconsiderao da perspectiva moderna sobre o papel da cincia e da tecnologia na sociedade, o que acaba se apresentando, em 1999, como um novo contrato social1 para a cincia e a tecnologia.

    De fato, a imagem da tecnologia como benfeitora da humanidade j comea a sofrer crticas antes da Se-gunda Guerra Mundial, com o surgimento de obras como Tcnica e Civilizao de Lewis Mumford (1934), Meditao da Tcnica de Ortega y Gasset (1939), e posteriormente com Heidegger (1954), Jacques Ellul (1954), Habermas (1968) e outros.

    Talvez o mais influente precursor intelectual do mo-vimento CTS tenha sido Charles P. Snow, que numa conferncia Rede em 1959, apresentada em Notre Dame, cujo teor seria transformado em livro2 logo a seguir, inaugurou o debate sobre o distanciamento progressivo entre duas culturas (incomunicveis), uma formada por cientistas e outra por humanistas (Cutcliffe, 1990). De forma mais precisa, Snow discu-te o abismo existente entre cincia e literatura. Seu crdito foi justamente o de ter tornado aparente a existncia de duas culturas que supostamente se o-pem. Entretanto, foi a metfora das duas culturas que se tornou marcante para a perspectiva CTS, e atualmente voltou a ser retomada com fora, dada a notvel atualidade do tema e a sua capacidade de provocar debates relevantes das questes que envol-vem as interaes da cincia e da tecnologia com a sociedade.

    Essa metfora bastante significativa para as refle-xes pedaggicas da engenharia, na medida que pos-sibilita fazer emergir questes relacionadas s intera-es da engenharia com o seu entorno sociocultural, notadamente ausentes na formao profissional, bem como de aspectos da complexidade das relaes entre cincia, tecnologia e sociedade, a que se acrescenta necessariamente a natureza, transformada pelo con-junto das aes cientfico-tecnolgicas.

    Conseqncias sobre a atividade cientfico-tecnolgica Passados mais de quarenta anos do incio do movimento de desencantamento3 cientfico-

    1 O novo contrato social para a C&T, reclamado em fruns como o Congresso de Budapeste (1999), implica num ajustamento da cincia e da tecnologia aos padres ticos que j governam outras atividades sociais, isto , democratiz-las, para estar ento em condies de influir sobre suas prioridades e objetivos, reorientando-os para as autnticas necessidades sociais, ou melhor, aquelas necessidades que emanem de um debate pblico sobre o tema (Palacios et alii, In: Bazzo, von Linsin-gen, Pereira, 2003) < http://www.campus-oei.org/salactsi/budapestdec.htm>. 2 As duas culturas e uma segunda leitura: Uma verso ampliada das duas culturas e a revoluo cientfica. Traduo de Geraldo G. de Souza e Renato A. Rezende Neto. So Paulo : Edusp, 1995.

  • mento de desencantamento3 cientfico-tecnolgico, a lista de problemas atribudos cincia e tecnologia parece crescer mais que suas inegveis benesses, contribuindo para isso tanto a academia quanto a mdia, o que concorre para o acirramento das contra-dies da percepo pblica da cincia e da tecnolo-gia.

    Por conta disso, constata-se um crescente descrdito social no conhecimento dos especialistas, que antes detinham autoridade inquestionvel em suas reas. Agora, a sociedade civil no apenas questiona como procura interferir diretamente nos rumos das coisas tecnolgicas. Por outro lado, criam-se resistncias por parte de engenheiros e tecnlogos, que se sentem de-tentores do conhecimento tcnico. comum ouvirmos declaraes do tipo: a comunidade no pode se ma-nifestar em assunto de competncia tcnica, por no dominar conhecimentos tcnicos. Trata-se presumi-velmente de um impasse ideolgico provocado por um desconhecimento das implicaes sociais da ativi-dade tcnica por parte dos especialistas. Mas tambm est relacionado a uma inadequao dos significados da tecnologia.

    Entretanto, a forma tradicional de entendimento con-ceitual da cincia e da tecnologia como atividades autnomas, neutras e benfeitoras da humanidade, cujas razes esto firmemente fincadas no sculo passado, continua a ser utilizada na academia para legitimar suas atividades. Para Gonzlez Garca, Ce-rezo e Lujn, esta concepo tradicional, assumida e promovida pelos prprios cientistas e tecnlogos, a que em nossos dias continua sendo usada para legiti-mar formas tecnocrticas de governo e continua ori-entando o projeto curricular em todos os nveis de ensino (Gonzlez Garca, Cerezo e Lujn, 1996, p. 26).

    neste contexto que surgem e se desenvolvem os estudos CTS, constituindo uma resposta da comunidade acadmica internacional crescente onda de insatisfao com a concepo tradicional da cincia e da tecnologia. Em essncia, trata-se de ressaltar a dimenso social (e prtica) da cincia e da tecnologia, opondo-se a uma viso anacrnica sobre a natureza especial da cincia como forma autnoma de conhecimento e a tecnologia como cincia aplicada; contribuem desse modo para a desmistificao da imagem tradicional da cincia-tecnologia (idem), que tem orientado entendimentos e aes desde a revoluo industrial. Particularmente, foi a imagem da tecnologia como cincia aplicada que contribuiu para a concepo pedaggica adotada na engenharia, sendo esse um dos principais motivos de se buscar na abordagem CTS uma releitura dessa prtica 3 Este termo empregado aqui como indicativo de que a explicitao de aspectos mais delicados da atividade cientfico-tecnolgica resultou numa perda de credibilidade no carter benfeitor e neutro da cincia e da tecnologia, materializada pela reao social e acadmica a partir da dcada de 1960. Esse termo procura incluir tambm uma positividade no fato de que o desencantamento pode desencadear uma tomada de conscincia sobre as diferentes possibilidades da C&T, tornando mais consciente o carter das suas produes.

    educacional, para uma maior compreenso das suas implicaes.

    A CONCEPO CLSSICA DE C&T E A PERSPECTIVA DA ENGENHARIA Para essa fase inicial dos estudos e pesquisas educa-cionais com comprometimentos social e ambiental explcitos na rea tcnica, percebendo a pertinncia de uma abordagem mais prxima de demandas identifi-cadas com os atores da rea tcnica, adoto com refe-rncia ao enfoque CTS, que assumida a concepo clssica das relaes entre cincia, tecnologia, socie-dade e natureza que expressa o desenvolvimento como um processo no qual mais conhecimento cient-fico determina linearmente mais tecnologia que implica mais domnio e submisso da natureza que conduz a mais desenvolvimento econmico, que resulta em mais desenvolvimento social (associado a mais bem-estar). O modelo linear de desenvolvimen-to se estabelece num contexto de neutralidade e autonomia alheio a qualquer processo de valorao axiolgica, e que se traduz incondicionalmente em benefcios para a humanidade.

    Esta concepo emerge com notvel freqncia no mundo acadmico e confere sustentao a muitos dos discursos que se assentam em argumentao tcnica, esta considerada essencialmente neutra. Essa forma de ver estaria associada imagem da tecnologia como brao armado da cincia pura, ou seja, a tecnologia seria reduzida aplicao da cincia, ou a tecnologia seria a aplicao da cincia construo de artefatos, ou apenas identificada com os artefatos.

    A vinculao unvoca da cincia tecnologia sugerida pelo modelo linear de desenvolvimento estabelece tambm uma oportuna comunho da tecnologia com os preceitos clssicos de neutralidade e autono-mia imputados atividade cientfica4, preceitos estes que tambm se manifestam nos atos pedaggicos da engenharia, embora seja difcil justific-los logica-mente, sobretudo na atualidade, em face das evidn-cias das interaes complexas da tecnologia com a sociedade, como mostram os acontecimentos socio-tcnicos que se tem assistido e dos quais se participa direta ou indiretamente.

    Segundo essa mesma concepo parcelar, a engenha-ria exerceria um papel de mediao significativo entre cincia e tecnologia, na medida que as suas produ-es, que se materializam em artefatos tecnolgicos, estariam centralmente relacionadas apropriao e aplicao de princpios cientficos, que serviriam

    4 A concepo clssica ou concepo herdada da cincia, legado do positivismo lgico (Carnap, Reichenbach, Hempel, Nagel), concebia o desenvolvimento cientfico como um processo regulado por um rgido cdigo de racionalidade que, complementado pelo princpio tico de honestidade profissional, fazia de tal desenvolvimento um processo progressivo de aproximao da verdade. Nessa concepo, o progresso cientfico s era possvel se a busca da verdade regulada unicamente pela equao lgica + experincia constitusse o objetivo exclusivo do empreendimento cientfico, de modo que qualquer valor, por mais benemrito que fosse, era visto como uma interferncia que s podia obstaculizar ou deter o desenvolvimento do conhecimento (Gonzlez Garca, Cerezo e Lujn, 1996).

  • igualmente para realimentar tecnologicamente o pr-prio desenvolvimento cientfico. Nesse sentido os engenheiros, a cuja atividade se atribui intensidade, eficcia e qualidade, exerceriam um papel importante na tecnocincia5. Trata-se de uma parte j consider-vel da cincia, mas no a toda a cincia atual. A e-mergncia da tecnocincia no implica a subsuno da cincia, da tcnica e da tecnologia. Estas quatro modalidades de saber continuam existindo hoje em dia e possvel distingui-las entre si (Echeverra, 2001, p. 222). A engenharia no contexto da tecnoci-ncia seria apenas uma das diversas modalidades de atividade da engenharia.

    A engenharia, em termos gerais, desenvolve-se nos mais diversos contextos e nas mais diferentes condi-es e, nesse sentido, a prpria idia de engenharia se relaciona mais idia de processo de transformao ligada ao quefazer da sociedade e portanto relacio-nada cultura , o que lhe confere um estatuto pr-prio de atividade de inmeras faces e finalidades, que no possui compromisso exclusivo com a cincia de concepo tradicional, embora dela se utilize.

    Quando a engenharia usada como suporte pesquisa cientfica, ou participa diretamente da atividade cien-tfica, deve faz-lo em condies especficas, com desenvolvimento de capacidade cognitiva para esse fim, de modo a possibilitar uma interlocuo frutfera entre cientistas e engenheiros que, em vrios casos, pode chegar a diluir a delimitao de seu campo de competncia. Os engenheiros, nesse caso, podem assumir postura cientfica. Esta conotao, entretanto, no pode ser considerada como tendncia geral da engenharia, posto que essa atividade possui envolvi-mentos muito mais amplos que os dos interesses da cincia como atividade que se ocupa principalmente em desvelar verdades do universo.

    Do mesmo modo, apesar de fortes ligaes, a enge-nharia no possui compromisso exclusivo com a empresa, como se esfora por faz-lo o poder hege-mnico j de dentro das instituies de ensino , caso em que emerge sutil, mas firme, a defesa do supostamente intrnseco carter neutro e benfeitor da atividade. Com isso reduzem-se as chances do reco-nhecimento do necessrio desenvolvimento de capa-cidade crtica do engenheiro ou, o que se tornou fre-qente, atribui-se a este apenas o carter de crtica do produto tcnico, ou seja, restrita ao desenvolvimento tcnico, caracterstico do feitio internalista (ou esot-rico) que se atribui atividade. Essa defesa se d normalmente pela via cruel da indiferena e do no-debate, que oculta as interaes substantivas (ou os 5 Tecnocincia A importncia outorgada a instrumentos e tcnicas dentro de algumas tendncias da tradio europia promoveu [] o tratamento conjunto da cincia e da tecnologia. Um exemplo a [] rede de atores de Latour e Callon, segundo a qual a cincia no consiste em pura teoria nem a tecnologia em pura aplicao, seno que ambas, fundidas no termo tecnocincia (como algo vivo e distinto de nossa percepo oficial delas: a cincia e tecnologia) consistem de redes de cujos ns tambm fazem parte todo tipo de instrumentos relevantes. Os produtos da atividade cientfica, as teorias, no podem, portanto, continuar sendo separados dos instrumentos que participam de sua elaborao (Gonzlez Garca, Cerezo e Lujn, 1996, p. 87).

    envolvimentos mais amplos) da engenharia.

    Nos sentidos aqui expostos, o currculo de engenharia possui um compromisso com a generalidade, alm daquele que j possui com a especificidade. Mas, mais do que generalidade, esse mesmo currculo de-veria se ocupar com a complexidade do conhecimento da engenharia, complexidade que emerge das imbri-caes da engenharia com os outros atores sociais.

    As diretrizes curriculares para os cursos de engenharia no Brasil6, em seu artigo 3, sugerem a abordagem dessa perspectiva. Entretanto, a implementao dessas transformaes, a maioria delas fruto de presses externas (de outros atores sociais), exige uma releitura das prticas seculares da engenharia. O fato que no h correspondncia entre a prtica pedaggica e as concepes de mudana expressas nas diretrizes. H certamente razes bastante fortes para que isso acon-tea desse modo, e provavelmente as mais importan-tes estariam relacionadas com as assunes que se manifestam na defesa de pressupostos histricos asso-ciados com essa prtica. E por essa razo que o enfoque CTS constitui uma forma bastante adequada de aproximao e explicitao dessas tendncias, j que a sua aceitao e o contexto das intervenes que se manifestam a partir dele so mais prximos e por isso mais aceitveis pelos atores da rea tcnica.

    CTS E O CONTEXTO DA EDUCAO EM C&T NOS EUA E NA EUROPA Os programas de Cincia, Tecnologia e Polticas Pblicas (STPP) nos EUA surgiram como uma res-posta a necessidades sentidas no interior das comuni-dades cientficas e tecnolgicas, sendo que nas institu-ies tecnolgicas mais importantes dos EUA esta-vam proximamente relacionados com as escolas de engenharia, e no por acaso. A presena da cincia na Segunda Guerra Mundial revelou, por um lado, que a gesto de cincia e tecnologia em suas novas e complexas interaes com o governo e a sociedade exige capacidades especiais. A experincia no suficiente para que os engenheiros aprendam a faz-lo, e os gestores tradicionais carecem, em geral, da educao e habilidades necessrias para comunicar-se efetivamente com o pessoal cientfico (Mitcham, 1990, p. 16). Essa participao da cincia e da enge-nharia, como mostram Mayor e Forti (1998) se inten-sifica no perodo da guerra fria, indicando que a tec-nocincia atual est tambm profundamente relacio-nada com a indstria blica. Desafortunadamente, os fatos que emergiram aps setembro de 2001 nos EUA favoreceram a retomada dos investimentos massivos no sistema industrial-militar.

    Tais fatos revelam a influncia da cincia e da tecno-logia para as sociedades, bem como a importncia dos tecnlogos nesse processo de construo da condio humana e refora, em nvel mundial, a necessidade de uma reorientao e contnua anlise das polticas 6 Resoluo CNE/CES 11, de 11 de maro de 2002.

  • pedaggicas das instituies de ensino tecnolgico, a par da participao social mais ampla nas polticas pblicas de cincia e tecnologia.

    Os programas CTS nos EUA foram criados nos finais da dcada de 1960 como resposta a influncias externas da cincia e da tecnologia, basicamente, como j comenta-do, em decorrncia das presses dos movimentos ambi-entalistas e de consumidores, que fizeram emergir uma preocupao pblica com os rumos da mudana tecno-lgica, que acabaram por provocar a criao de diversas organizaes tais como a Agncia de Proteo Ambien-tal e o Escritrio de Avaliao Tecnolgica.

    A Alemanha, em decorrncia de sua aproximao com a filosofia da tecnologia e com a crtica filosfica em geral, da mesma maneira que est envolvida com a tcnica de modo muito abrangente, esteve sempre imersa numa tenso entre o tecnocatastrofismo e o tecnootimismo.

    A filosofia da tecnologia nasceu oficialmente na Alemanha em 1877, com a publicao do livro de Ernst Kapp (contemporneo de Marx) intitulado Grundlinien einer Philosophie der Technik (Funda-mentos de uma filosofia da tcnica), no qual desen-volve a concepo da tecnologia como uma complexa projeo das faculdades e atividades humanas. Mit-cham, considerando que o termo alemo Technik pode ser traduzido por tecnologia e engenharia, prefere referir-se a Kapp como a pessoa que alcunhou a expresso filosofia da tecnologia ou filosofia da engenharia (Mitcham, 2001, p. 34).

    Na perspectiva CTS atual, a tecnologia tende a ser vista mais como forma de organizao social, com interaes complexas, incorporando aspectos que no so comuns concepo tradicional de engenharia, o que sugere que as duas expresses podem ser utiliza-das com enfoques diferentes no tratamento da questo tecnolgica. Nesse sentido, engenharia e tecnologia so coisas distintas, embora umbilicalmente ligadas.

    Da mesma maneira, Peter Engelmeier (1855-1941), um dos fundadores da engenharia profissional russa, defendia h mais de cem anos uma formao no apenas tcnica dos profissionais de engenharia. Ele afirmava que se os engenheiros iro ocupar seu lugar legtimo nos assuntos do mundo, no s devem ser formados em seus campos tcnicos, mas tambm na compreenso sobre o impacto e a influncia social da tecnologia. (Engelmeier, apud Mitcham, 2001, p. 34). Esse um ponto fundamental para as reflexes realizadas neste artigo, posto que um dos desdobra-mentos da abordagem CTS est relacionado pers-pectiva de uma educao em engenharia. A essa perspectiva associa-se a idia da alfabetizao cient-fica e tecnolgica presente nos objetivos educacionais CTS, com a conotao de uma formao em engenha-ria que considere a interdisciplinaridade (no apenas tcnica) como necessidade para o engenheiro da soci-edade tecnolgica.

    O ENFOQUE CTS E O ESPAO DE RELA-ES DA ENGENHARIA Os estudos CTS constituem um campo de trabalho de carter crtico com relao tradicional imagem es-sencialista da cincia e da tecnologia, e de carter interdisciplinar para o qual concorrem disciplinas como a filosofia da cincia e da tecnologia, a sociolo-gia do conhecimento cientfico, a teoria da educao e a economia da mudana tecnolgica. Os estudos CTS buscam compreender a dimenso social da cincia e da tecnologia, tanto do ponto de vista de seus antece-dentes sociais como de suas conseqncias sociais e ambientais, quer dizer, tanto no que toca aos fatores de natureza social, poltica ou econmica que modu-lam a mudana cientfico-tecnolgica, como no que concerne s repercusses ticas, ambientais ou cultu-rais dessa mudana (Bazzo, von Linsingen, Pereira, 2003).

    A caracterizao desse novo enfoque das relaes entre cincia, tecnologia e sociedade fundamental-mente contrria imagem tradicional da C&T as-sumida como atividade autnoma que se orienta ex-clusivamente por uma lgica interna e livre de valora-es externas , na medida que transfere o centro de responsabilidade da mudana cientfico-tecnolgica para os fatores sociais, ou seja, o fenmeno cientfico-tecnolgico passa a ser entendido como processo ou produto inerentemente social onde os elementos no epistmicos ou tcnicos (como valores morais, con-vices religiosas, interesses profissionais, presses econmicas etc.), desempenham um papel decisivo na gnese e consolidao das idias cientficas e dos artefatos tecnolgicos (idem, p. 126).

    Em termos de ensino de engenharia, essa mudana de eixo pode significar uma transformao radical nos processos cognitivos, na medida que a atividade en-genheiril, pensada como atividade meio, passaria a ser orientada por uma lgica distinta da que hoje a estru-tura, orientada para a tcnica como meio e no um fim em si mesma. Em termos histricos, entende-se que a tcnica possui apenas carter procedimental, e assim o passado traduzido como algo "superado" e ao futuro atribudo o significado de "aperfeioamen-to" dos procedimentos. Nesse universo de meios, que visa exclusivamente ao aperfeioamento e potencia-mento da prpria instrumentao, no qual o mundo da vida torna-se totalmente dependente do aparato tcni-co, os humanos acabam por tornar-se funcionrios deste aparato (Galimberti, 1999). Na perspectiva aqui abordada, visa-se superao dessa condio.

    Porque h uma dinmica social que envolve a tudo e a todos nesses tempos de exultao das tecnologias de informao e comunicao (TIC), pode-se considerar que a prxis acadmica da engenharia constitui-se de uma mescla de concepes das relaes CTS, com-posta tanto pela concepo tradicional das relaes entre cincia, tecnologia e sociedade quanto por con-cepes mais progressistas, no havendo uniformida-de entre e nas diversas modalidades de engenharia. Contudo, de acordo com a compreenso aqui desen-

  • volvida, admite-se que ainda h prevalncia das rela-es tradicionais na conformao dessa prxis, e que configuram muitas das resistncias existentes ao pro-cesso de mudana.

    Basicamente, parte-se da concepo linear que enxer-gava a cincia como processo de desocultamento dos aspectos essenciais da realidade, de desvelamento de leis que a governam em cada parte do mundo natural e social. Essas leis, universais, possibilitariam a trans-formao da realidade com o concurso dos procedi-mentos das tecnologias, que constituiriam cincia aplicada produo de artefatos. Nessa concepo, tanto cincia quanto tecnologia, e por extenso todas as reas tcnicas que lhes do sustentao, deveriam estar alheias a interesses, opinies e valoraes. Os resultados de uma tal cincia e tecnologia seriam colocados a servio da sociedade para que ela decidis-se sobre seus usos, de tal modo que dessa relao resultariam os instrumentos cognitivos e prticos que proporcionariam a melhoria contnua da vida humana e do bem-estar social.

    Atualmente, apesar de delimitaes relativamente rgidas dessas fronteiras nas reas tcnicas, percebe-se a inadequao dessa separao, principalmente no que diz respeito relao entre cincia e tecnologia, apro-ximao que j ocorre h bastante tempo. A ciso entre conhecimentos cientficos e artefatos tecnolgi-cos no muito adequada, j que fica cada vez mais evidente que para a configurao daqueles muitas vezes necessrio contar com estes. O oposto ainda mais evidente para engenheiros e tecnlogos. O co-nhecimento cientfico da realidade e sua transforma-o tecnolgica no so processos independentes e sucessivos, seno que se acham entrelaados em uma trama na qual constantemente se juntam teorias e dados empricos com procedimentos tcnicos e artefa-tos.

    Por seu turno, a relao entre tecnologia e sociedade, para os engenheiros, apresenta-se to profundamente enraizada que parece no haver qualquer razo para debates. Identificada com artefatos, e portanto com um dos produtos da atividade da engenharia, de uma suposta evidente imbricao, acabou por tornar-se oculta e, de modo mais contundente, no pertencente ao espao da atividade tcnica como tal, mas apenas ao espao da tica da engenharia.

    Nessa acepo, a imbricao entre tecnologia e socie-dade esteve sempre presente atravs da prpria defini-o de engenharia, como normatizadora da atividade, pelo menos at meados da dcada de 1990: a ativida-de da engenharia deve estar voltada para o bem-estar da sociedade. Mas j no se apresenta dessa maneira, tendo sofrido modificaes para uma relao mais flexvel, contexto-dependente (Mitcham, 2001): em atendimento s "demandas da sociedade". Rapida-mente essa conexo tende a transformar-se em mera retrica tica, ou em transferncia de responsabilidade para outras reas do conhecimento, justamente em razo de conflitos e contradies que a postura moral

    provoca com as novas relaes de mercado, e mesmo com a intensificao da divulgao dos efeitos nem sempre benficos da tecnologia. Em qualquer caso, na relao tecnologia-sociedade manteve sempre uma rigidez dos limites de interao, ou seja, uma separa-o estratgica, j que valores e interesses mais impl-citos, imagina-se, no pertencem ao campo da tcnica, abrindo espao para as atitudes tecnocrticas, o que foi plenamente absorvido pelo iderio da engenharia.

    Entretanto, o tecido tecnocientfico no existe mar-gem do prprio contexto social em que se desenvolve, e no qual os conhecimentos e os artefatos adquirem relevncia e valor. Desse modo, as imbricaes entre cincia, tecnologia e sociedade apresentam uma com-plexidade muito maior do que as decorrentes das relaes imaginadas entre campos estanques que se comunicam, mas sem interpenetrao, apontando para uma anlise mais cuidadosa e abrangente das recipro-cidades, ao invs da simples aplicao da clssica relao linear entre elas.

    A PERSPECTIVA EDUCACIONAL CTS PARA A ATIVIDADE ACADMICA No mbito acadmico, desde os primeiros pro-gramas vinculados a universidades como a da Pensilvnia na Amrica do Norte e de Edimburgo no Reino Unido nas dcadas de 1960 e 1970, CTS j considerado um campo consolidado em vrias universidades e centros educativos em outros pases.

    Em pases da Amrica Latina, como Argentina, Co-lmbia, Cuba e Brasil, embora recente, o enfoque educacional CTS j est presente na pesquisa e na educao em e sobre cincia e tecnologia (Ibarra e Cerezo, 2001). No Brasil, os estudos CTS, com a conotao aqui emprestada, so desenvolvidos na Unicamp e na UFSC, com orientaes diferenciadas, em decorrncia das suas origens e dos seus objetivos.

    Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tais estudos esto mais diretamente orientados para a educao CTS com maior tradio no mbito da edu-cao de nvel mdio e, mais recentemente, consoli-dando tambm uma posio para a educao de nvel universitrio e formao docente, atravs do recm-criado Programa de Ps-graduao em Educao Cientfica e Tecnolgica (2001) vinculado ao Centro de Cincias Fsicas e Matemticas (CFM) e ao Centro de Educao (CED), mas com aporte intercentros e, desse modo, de carter intrinsecamente interdiscipli-nar. Mas sua origem bem anterior, uma vez que deriva do Programa de Ps-graduao em Educao, originalmente vinculado ao Centro de Educao da UFSC, mas operando em bases semelhantes desde 1986. A ampliao da interdisciplinaridade do programa, com a participao formal, entre outros, do Centro Tecnolgico da UFSC um indicativo de uma de-manda e de uma perspectiva interdisciplinar que prpria do enfoque CTS, desde sua origem, e sugere

  • uma salutar aproximao entre centros at ento con-siderados incomunicveis. Esse novo programa possui, justamente por essa forma constitutiva, um compromisso com a ampliao das perspectivas for-madoras do que em CTS poderia se identificar com a conscincia social da Cincia e da Tecnologia por parte de seus atores. Ao mesmo tempo, ao trabalhar numa perspectiva de alfabetizao cientfica e tecno-lgica, pode viabilizar uma maior aproximao nego-ciada da C&T com o pblico em geral, conferindo transmisso de poder social, objetivando a supera-o da ao tecnocrtica, e tambm com o sentido proposto pelo novo contrato social para a cincia e a tecnologia. Enfoque CTS no ensino de engenharia na UFSC Embora a preocupao com os aspectos pedaggicos e epistemolgicos da educao tenha uma trajetria que j comea em meados da dcada de 1980, como atestam trabalhos divulgados em congressos e em livro (Pereira; Bazzo, 1997), um envolvimento mais explcito e formal com o enfoque CTS comea a se configurar a partir de 1997 atravs de uma tese de doutorado em educao do Programa de Ps-graduao em Educao (CED/UFSC), que se trans-forma posteriormente em livro (Bazzo, 1998). Esse trabalho trata de aspectos educacionais e epistemo-lgicos do ensino de engenharia, e se ocupa tambm em defender a introduo do enfoque CTS no ensino de engenharia, propondo a formao de professores de engenharia com esse vis, o que era uma novida-de para a rea tcnica. Essa imbricao da pesquisa em educao na UFSC com o enfoque CTS visando rea tcnica, d-se como conseqncia de um in-tercmbio realizado com pesquisadores do departa-mento de filosofia da Universidade de Valncia, Espanha, constituindo esta uma outra vertente CTS que seria incorporada ao Programa de Ps-Graduao em Educao Cientfica e Tecnolgica.

    Simultaneamente, trabalhos tratando de questes educacionais da rea tcnica com enfoque CTS, publicados em congressos da rea, comeam a dar corpo ao que viria a se transformar em 1997 no Ncleo de Estudos e Pesquisas em Educao Tecno-lgica (NEPET). (Bazzo; Pereira; von Linsingen, 2000)

    Em 2002, com uma abordagem mais orientada para a identificao e explicitao de pressupostos balizadores da prxis da engenharia e de seu ensino empregando o enfoque CTS como referencial, outra tese de doutorado (von Linsingen, 2002) prope a introduo de temas identificados com questes relevantes da rea tecnolgica com o recurso didti-co da transversalidade nas disciplinas tcnicas dos cursos de graduao e de ps-graduao, buscando uma aproximao com as propostas transformadoras presentes nas novas diretrizes curriculares para os cursos de graduao em engenharia no Brasil. Da mesma forma, corroborando e ampliando as perspec-tivas abertas na tese anterior, reala a necessidade de uma formao profissional contnua e interdiscipli-nar do docente de engenharia, sugerindo que tal formao poder ser mais relevante se for orientada

    para as potencialidades oferecidas pelo enfoque CTS. Em 2003, consolidando uma atuao conjunta do NEPET com a OEI (Organizao de Estados Ibero-americanos), publicado em verso portuguesa o livro Introduo aos estudos CTS (Cincia, Tecno-logia e Sociedade) (Bazzo; von Linsingen; Pereira (Eds.), 2003). Algumas conseqncias prticas dessa trajetria na rea tcnica se verificam atravs da proposta e pos-terior introduo de uma disciplina optativa para os cursos de graduao em engenharia abordando as-pectos das interaes entre cincia, tecnologia e sociedade. Essa trajetria decorre de uma sincronia com preo-cupaes atuais que tem afetado a prtica tecnolgi-ca e a atividade engenheiril, decorrentes de presses sociais e tecnolgicas de diferentes atores. Buscando consolidar-se como programa de pesquisa e de educao na rea tecnolgica, o enfoque CTS est se mostrando como fonte fecunda para a crtica do processo educacional das reas tcnicas, incluin-do as engenharias e os cursos tcnicos, com potenci-alidades transformadoras. Como conseqncia, duas tendncias complementa-res passam a alimentar as atividades no mbito do NEPET. Uma, de carter mais terico, voltada para a pesquisa e a reflexo do processo tecnolgico e do quefazer da atividade engenheiril na perspectiva CTS, e outra de carter mais pragmtico voltada para uma prtica educacional transformadora na rea tcnica. No caso da formao tcnica universitria, no surpreendente que a perspectiva da educao tecnol-gica com enfoque CTS tenha seguido essa trajetria. A par das polticas universitrias nacionais, o status de excelncia acadmica na rea da engenharia mec-nica, indicativo do alinhamento da atividade acadmi-ca com as polticas pblicas de Cincia e Tecnologia e interesses hegemnicos, precipitou a emergncia de tenses internas no que diz respeito natureza da atividade acadmica e ao carter da formao profis-sional com disputas curriculares , como reflexos das disputas de poder. Essas tenses acabaram por fazer emergir contradies discursivas e comporta-mentais centradas precisamente em pressupostos de origem positivista e tambm em concepes alternati-vas sobre a natureza do conhecimento tcnico e de sua finalidade e, em tal contexto, criaram-se condi-es propcias para a construo de uma percepo da quase completa ausncia de uma formao tcnica socialmente referenciada e contextualizada segundo o enfoque aqui abordado.

    A orientao CTS adotada neste artigo, que tambm a que anima as reflexes e aes no mbito do NEPET, confere poder explicativo para muitas das

  • indagaes e inquietaes relativas s imbricaes da engenharia com a cincia, a tecnologia, a sociedade e a natureza, por um vis novo e qui mais sincrnico com o pensamento e as aes da rea tcnica, abor-dando temas que, embora faam parte da atividade da engenharia, normalmente no so considerados na formao tecnolgica. esse vis que permite identi-ficar lacunas e obstculos socioepistmicos na forma-o tcnica, como os decorrentes do no-reconhecimento formal das imbricaes sociais da tcnica na formao de engenheiros, ou o da forma-o sociotcnica de carter unilateralmente tecnocien-tfico, ou ainda o da viso de tecnologia como proces-so social e dos artefatos tecnolgicos como construto sociocultural.

    Embora cincia e tecnologia possuam profundas ligaes, h que se reconhecer que a formao cient-fica difere da formao tecnolgica em muitos aspec-tos, e que as atividades de cientistas e tecnlogos so distintas, inclusive por suas trajetrias e determina-es histricas. Alm disso, de acordo com a linha argumentativa deste trabalho, a tecnologia no se reduz aplicao da cincia, podendo ser caracteriza-da como uma atividade social complexa para a qual concorrem atividades e interesses os mais diversifica-dos, de modo que os artefatos, como um dos produtos dessa atividade, possuem qualidades no apenas tc-nicas stricto sensu. Por conta disso, algumas das a-proximaes entre cincia e tecnologia no mbito da formao tcnica devem ser analisadas com o devido cuidado, principalmente no que respeita ao carter mesmo da produo tcnica e de sua abrangncia e significncia social, num momento histrico de acele-rao (e do reconhecimento) dos envolvimentos soci-ais da tecnologia, e das novas compreenses que da decorrem.

    O reconhecimento da sincronia das transformaes tecnolgicas com o processo de mundializao eco-nmica, e os modos como modificam a vida em soci-edade, altera a prpria forma de ver a tecnologia e a formao tcnica, no sentido de que os aspectos so-cioculturais subsumidos na tcnica no podem deixar de ser considerados como elementos de formao, sob pena de formar profissionais cada vez mais alheios ao papel social especial que lhes cabe nesse mundo, especialmente quando se admite a cada vez mais notria interferncia social e ambiental associada atividade da engenharia.

    CTS EM NVEL UNIVERSITRIO Um elemento chave dessa mudana da imagem da cincia e da tecnologia propiciado pelos estudos CTS consiste na renovao educativa, tanto em contedos curriculares como em metodologias e tcnicas didti-cas. Neste sentido tm-se desenvolvido os programas educativos CTS, implantados no ensino superior de numerosas universidades desde finais dos anos 1960 (Solomon, 1993; Yager, 1993; VV.AA. 1998).

    Em linhas gerais, no mbito do ensino superior, pretende-se que os programas CTS sejam oferecidos

    como especializao de ps-graduao (especializa-o, mestrado) ou como complemento curricular para estudantes de diversas procedncias. Trata-se, por um lado, de proporcionar uma formao humanstica bsica a estudantes de engenharia e cin-cias naturais. O objetivo desenvolver nos estudantes uma sensibilidade crtica acerca dos impactos sociais e ambientais derivados das novas tecnologias ou a implantao das j conhecidas, formando por sua vez uma imagem mais realista da natureza social da cin-cia e da tecnologia, assim como do papel poltico dos especialistas na sociedade contempornea.

    Por outro lado, trata-se de oferecer um conhecimento bsico e contextualizado sobre cincia e tecnologia aos estudantes de humanidades e cincias sociais. O objetivo proporcionar a estes estudantes, futuros juzes e advogados, economistas e educadores, uma opinio crtica e informada sobre as polticas tecnol-gicas que os afetaro como profissionais e como cida-dos. Assim, essa educao deve capacit-los para participar de forma frutfera em controvrsias pbli-cas ou em discusses institucionais sobre tais polti-cas.

    A polmica ciso da vida intelectual e prtica do ocidente em dois grupos diametralmente opostos, separados por um abismo de incompreenso mtua, levantada por Snow, referia-se s culturas humanstica e cientfico-tecnolgica. O propsito principal da educao CTS tratar de fechar essa brecha entre duas culturas, posto que tal brecha constitui um terre-no frtil para o desenvolvimento de perigosas atitudes tecnfobas (e tambm tecnfilas), e ainda mais a de dificultar a participao cidad na transformao tecnolgica das formas de vida e de ordenamento institucional.

    Dadas as novas orientaes educacionais que essa perspectiva oferece ao nvel de formao bsica, de um processo que j se encontra em andamento, com notvel poder de penetrao e consolidao, pode-se considerar que, uma vez implementada essa forma-o em nvel mdio, um impacto sobre a formao universitria se far notar, provocando a emergncia de questes sociotcnicas que no eram explicita-mente apresentadas na formao universitria, de modo que no mnimo conveniente que as estrutu-ras universitrias se atenham a considerar seriamente a incluso da perspectiva CTS na formao profis-sional, especialmente nas reas tcnicas.

    Uma ao disciplinar, com tratamento transversal, destinada a suprir parte dessa carncia formativa para os alunos de todas as modalidades de engenharia constitui, e assim entendida no contexto desta refle-xo, uma importante contribuio para uma formao voltada para a viso ampliada do comprometimento social da engenharia. Aes que so consideradas importantes, nesse momento, passam pela estrutura-o de programas de formao de professores de engenharia e de polticas institucionais de fomento

  • formao CTS para professores de engenharia de todo o pas, entre outras. A orientao, no entendimento aqui defendido, que aspectos da histria, da sociolo-gia e da filosofia da cincia e da tecnologia deveriam consubstanciar os programas de formao de profes-sores, alm dos aspectos didtico-pedaggicos (prati-camente inexistentes ou desvirtuados nos atuais mo-delos de estgio-docncia dos programas de Ps-graduao).

    Considera-se, contudo, que para o ensino de engenha-ria esta uma condio necessria, mas no suficien-te. Acredita-se ser necessrio que, alm de proporcio-nar formao humanstica bsica conforme expresso anteriormente, o prprio conhecimento tecnocientfi-co deva ser conceitualmente transformado e que a sua preparao didtica incorpore essas concepes da natureza social e cultural da cincia e da tecnologia, alm dos tradicionais critrios econmicos e de efic-cia j incorporados e dados como naturais e ima-nentes na tcnica.

    A consolidao de uma educao tecnolgica que contemple a abordagem das imbricaes CTS ao nvel do conhecimento tecnocientfico, como aqui tratadas, pode ser favorecida por meio de trs aes concatena-das: a assuno curricular da interdisciplinaridade como necessidade para o tratamento pedaggico dos assuntos cientficos, tecnolgicos, sociais e ecolgi-cos; o tratamento transversal da temtica CTS na abordagem disciplinar das reas tcnicas; e uma ade-quada transposio didtica7 que permita a explicita-o das imbricaes sociotcnicas do conhecimento tecnocientfico. AGRADECIMENTOS O autor agradece comisso organizadora do COCIM, em especial ao prof. Luiz Sanchez e ao Ing. Hugo Cayo Vilca, pela oportunidade oferecida e por sua gentileza e pronto atendimento na resoluo de questes relativas publicao deste artigo.

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