cultura afro-brasileira no ensino fundamental: … · sequencia didático-pedagógica, o hip-hop...
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SILVA, Laura Célia. Professora Especialista em História da Escola Estadual Deputado Aníbal Khury. Ensino Fundamental- Guaratuba - Pr MORAES, Eulália Maria Aparecida de. Doutora , Orientadora e Professora Adjunta – Departamento de História – FAFIPAR/UNESPAR – Paranaguá - Pr
CULTURA AFRO-BRASILEIRA NO ENSINO FUNDAMENTAL: HISTÓRIA, CULTURA E CIDADANIA ATRAVÉS DO HIP-HOP
Professora PDE: SILVA, Laura Célia.
Orientadora: Prof. Dra. MORAES, Eulália Maria A de Moraes.(orientadora).
Neste artigo é apresentado o resultado de uma pesquisa-ação desenvolvida a partir do tema: História e cultura afro-brasileira e africana. O trabalho visou explorar a influência da musicalidade africana na cultura brasileira. Dilatando as fronteiras culturais, os alunos do nono ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Deputado Aníbal Cury, Guaratuba, Paraná, refletiram por meio de práticas de ensino diferenciadas, sobre o movimento afro reggae atendo-se em um de seus segmentos, o Hip Hop. Assim, apresenta-se neste artigo os resultados de uma pesquisa-ação que centrou-se na história, na cidadania e na cultura da linguagem informal do Hip Hop, de onde partiu-se para o estímulo da sensibilidade, ritmo, equilíbrio e bem-estar. Em conformidade com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a proposta didático/pedagógica e a metodologia foram adaptadas através das diretrizes curriculares nacionais que asseguram à Escola seu papel social. Assim, entre as justificativas que levaram à todo esse trabalho, tem-se as prescrições da Lei 11. 645/ março de 2008, ou seja, a obrigatoriedade do estudo da Cultura Afro-brasileira e indígena no ensino Fundamental e Médio. Logo, compreende-se que a cultura do Hip Hop, faz parte de uma realidade urbana cada vez mais presente entre os alunos e mesmo sob a acusação de uma proximidade com a violência, o movimento cresce e é inegável a atração que o ritmo exerce sobre os jovens. Palavras-chave: História, Afrodescendência ; Afroreggae/Hip Hop; Cidadania
1. APRESENTAÇÃO
A ESCOLA PÚBLICA DIALOGA COM A CULTURA AFRODESCENDENTE
A escola pública brasileira, nas últimas décadas, passou a atender um
número cada vez maior de estudantes oriundos das classes populares. Ao assumir
essa função, que historicamente justifica a existência da escola pública, intensificou-
se a necessidade de discussões contínuas sobre o papel do ensino básico no
projeto da sociedade que se quer para o país.
O trabalho com a cultura afro-brasileira no geral, como para a música e suas
influências, significa a adoção de um currículo disciplinar que destaca a escola como
lugar de socialização do conhecimento, pois essa é a função da instituição escolar e,
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é também, extremamente importante para os estudantes de classes menos
favorecidas, que têm nela uma oportunidade, algumas vezes única, de acesso ao
mundo letrado, do conhecimento científico, da reflexão filosófica e do contato com a
arte (CURITIBA, 2008).
Em acordo com a Lei 11.645/março de 2008, os objetivos que nortearam a
temática história e cultura afro-brasileira e africana, foram: explorar a influência da
música africana na cultura/música brasileira, levando aos alunos não apenas aos
conhecimentos pertinentes à cultura em estudo, como também sobre o movimento
afro reggae tendo com um dos seus segmentos o Hip-hop. Estimulando também,
outros fatores como: sensibilidade, ritmo, equilíbrio, bem-estar, facilitando a
concentração e o desenvolvimento do raciocínio, entre outras questões que
contribuíssem na formação integral do educando.
Juntamente a esse objetivo geral, buscou-se mais especificamente
reconhecer a influência da cultura africana sobre o afro reggae direcionando-se para
a cultura urbana do Hip-hop; procurando no decorrer do projeto de intervenção,
elaborar e acumular, fontes bibliográficas e materiais metodológicos que
contribuíssem como fonte para os trabalhos referentes à cultura afro-brasileira para
a escola; e por fim elaborar práticas de ensino que levassem os alunos a
entenderem o Hip-hop como um segmento da cultura africana que buscou
visibilidade na sociedade, mostrando-se na linguagem e ritmo músicas que recebem
a influência da cultura africana, até se chegar ao Hip-hop.
Dessa forma, o pensamento crítico foi despertado através do diálogo nas
atividades voltadas para a reflexão da influência da cultura afro-brasileira, passando
brevemente pelo afroreggae (um movimento amplo que defende a visibilidade e
valorização das várias vertentes assumidas pela cultura afrodescendente) até o Hip-
hop (que pode ser considerado, uma das vertentes, impulsionadas pela busca de
visibilidade da cultura afro-brasileira).
Destaca-se também que na implementação do projeto de intervenção e na
sequencia didático-pedagógica, o Hip-hop não foi colocado como uma cultura
americanizada, resultado do desenvolvimento dos jovens urbanos, mas algo muito
além, e que para ser entendido, precisou ser associado ao Afroreggae na cultura
brasileira, para então aproximar os alunos de todo o arsenal social e político que
carrega o movimento Hip-hop na atualidade.
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Assim o reggae e o Hip-hop, têm muitos pontos em comum, embora sejam
seguidos por jovens ou grupos diferentes na sociedade, nasceram igualmente por
questões problemáticas de desigualdade social e racial.
Para Lopez (2004), as matrizes africanas que contribuíram para moldar a
cultura brasileira são muito interessantes e atrativas para os educandos. Das
―congadas‖ ao ―samba‖, passando pelos ―afoxés‖ e ―blocos afro‖, portanto, a
presença de elementos musicais da África é marcante na história brasileira, como
ainda hoje se evidencia nas escolas de samba e nos sambas-enredo. Mas
atualmente se constata também uma progressiva interferência de grupos sociais
urbanos, que é aonde se encontram traços do movimento Hip-hop.
A implementação na escola aconteceu em seis momentos específicos
distribuídos em aulas, que não seguiram uma sequência específicas, pois
dependiam do saber prévios dos alunos, e das informações que foram
transpassadas didaticamente e de maneira gradativa, conforme o conhecimento que
eles iam adquirindo, aumentava-se o grau de complexidade das práticas de ensino.
Observou-se que os alunos do nono ano, já amadurecidos com os
conhecimentos da disciplina relacionados à compreensão de que são cidadãos
participantes da história, tiveram a oportunidade de ver a sua história e sua imagem
refletidas positivamente.
1.1 RAZÕES PARA A PESQUISA
A cultura afro-brasileira foi adotada nas etapas do Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE sob a perspectiva de inclusão social,
resgate e identificação dos educandos reconhecendo-os como indivíduos que
fazem parte da história, contemplando principalmente a diversidade cultural e
uma nova racionalidade não linear. Atendo-se portanto, em práticas de ensino na
disciplina de história, que não deram lugar para verdades prontas e definitivas, e
sim dialogaram com várias vertentes, como por exemplo, o grafitte um dos
segmentos do hip-hop, envolve-se com pontos de vista de arte e estética, além
da conscientização quanto a marginalização, que no caso, volta-se para a
pichação.
Dentro desse contexto, surgiam muitos questionamentos perante a temática
e em como trabalhá-la de maneira significativa e atrativa. Entre as indagações, tem-
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se: Como explorar a influência efetiva da Cultura Africana sobre o Hip-hop em
alunos de 9° ano, Ensino Fundamental II, de maneira que o conhecimento
juntamente a música, venham a estimular a sensibilidade, o ritmo, a concentração e
a reflexão da importância desta influência na sociedade brasileira?
Assim, ateve-se em razões que impulsionassem a pesquisa e sobretudo
considerando-se os alunos como um todo, conforme as orientações das Diretrizes
Curriculares (CURITIBA, 2008), que explicitam sobre a organização do currículo
para o ensino de História, onde este deve ter como referência, os Conteúdos
Estruturantes, entendidos como conhecimentos que aproximam e organizam os
campos da História, incluindo-se o estudo da História e Cultura Afro-descendente.
1.2 A HISTÓRIA E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
Debater sobre a cultura afro-descendente na escola, não é uma questão
simples, mas complexa que exige planejamento e, sobretudo, conhecimento. A
complexidade em se trabalhar com este tema refere-se para a questão da
necessidade de se desmistificar o preconceito tão presente na atualidade.
Entretanto é necessário se tomar um direcionamento nas escolas, que se
envolva com a importância do trabalho com a cultura afrodescendente, não apenas
por ser exigido em lei, ou estar incluído no currículo e projeto pedagógico. O fato é
que, há exigências e pouco investimento em materiais ou subsídios que auxiliem
neste trabalho, o qual acaba ficando restrito a data de 20 de novembro, ―Dia da
consciência Negra‖ é a associações com o conteúdo da escravidão, perpassando-
se assim por concepções tradicionais da civilização africana, como por exemplo, o
tráfico de escravos, a mão-de-obra, os castigos sofridos pelos escravos, entre
outros, quais levam a qualificação do africanos como negros, colocando sua cor de
pele acima da grande leva cultural que trouxe para o Brasil.
Destaca-se que algumas escolas, ainda trabalham desta maneira, mas não
por falta de interesse dos professores, ou por ter de se seguir um planejamento, ou
ainda a carga horária, entre outros desafios do cotidiano escolar. Trata-se da
necessidade de bibliografia e material sobre o assunto, enfatizando-se as influências
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na arte, na música, na dança, na religião, na língua portuguesa, entre tantas outras
para que de fato se desmistifique o preconceito e principalmente, valorize a cultura
africana resgatando e identificando-se esta dentro da cultura brasileira.
Como professora de história, afro-descendente acredito que é de
fundamental importância ressaltar a cultura dos povos africanos, bem como a
influência desta cultura sobre a música brasileira, já que as manifestações culturais
afro-descendentes foram muitas vezes desprezadas, desestimuladas e até
proibidas. Em especial, se optou pelo caminho do afroreggae e a cultura urbana que
vem sendo atingida pelo Hip-hop.
Assim, nesta pesquisa-ação tomou-se de uma lado a tentativa de mostrar e
transpassar alguns elementos da cultura afro-descendente, mas deixando de lado
outros elementos, uma vez que se trata de uma cultura muito ampla, com elementos
que se complementam, e que devem ser resgatados dentro da sociedade nacional.
Outro fator a se explicar é o fato de no colégio encontrarem-se muitos
alunos que vivem problemas sociais, muitos deles até associados a criminalidade,
além de outras conseqüências sociais e raciais. Percebendo que o hip-hop já faz
parte de suas realidades em estilo de música e de vestir-se, considera-se que é a
partir desta realidade que se pode intervir trabalhando várias questões positivas,
mostrando, por exemplo a crítica que se pode fazer com o rap, ou através do grafite.
Enfim, o lado significativo longe do preconceito que muitos interpretam o hip-hop
dentro da sociedade em Guaratuba-Pr.
Com relação aos alunos do 9° (nono) ano, por serem estes mais maduros
para entenderem a questão de problemas e críticas sociais, como também que
percebem que a sociedade acaba dividindo-se em subgrupos sociais, que buscam
visibilidade e expressão, e esse fator pode e tem um lado positivo, se acionado
corretamente dentro dos ditames saudáveis para a sociedade.
Neste contexto, tas são algumas justificativas que estimularam a
intervenção na escola, dentro da temática da cultura afro-brasileira e africana.
Assim, o todo o trabalho desenvolvido, poderá contribuir como fonte para outros
profissionais interessados em trabalhar com a cultura afro-brasileira na escola, em
especial o Hip-hop que é tão presente na vida dos educandos. Também porque é
prescrito em Lei (11.645/março de 2008), a obrigatoriedade do estudo da cultura
afro-brasileira no ensino fundamental e médio, tanto em escolas públicas como
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privadas, e é orientado nas Diretrizes Curriculares da educação Básica para o
Ensino de história. Sobre esta ultima justificativa, tem-se:
Espera-se que, ao concluir a Educação Básica, o aluno entenda que não existe verdade histórica única, e sim que verdades são produzidas a partir de evidencias que organizam diferentes problematizações fundamentadas em fontes diversas, promovendo a consciência da necessidade de uma contextualização social, política e cultural em cada momento histórico (CURITIBA, 2008, p. 69).
Assim, percebe-se que ao se propor o estudo das influências e relações
culturais na disciplina de história, entende-se a cultura como aquela que permite
conhecer os conjuntos de significados que os homens conferiram à sua realidade
para explicar o mundo. Uma vez que, a palavra cultura é polissêmica, ou seja, não
há um único significado. Portanto, além da compreensão e resgate histórico, na
essência do estudo com a música encontra-se a sensibilidade, o ritmo, o equilíbrio,
proporcionando um estado agradável de bem-estar, concentração e
desenvolvimento do raciocínio, entre outros pontos positivos de se trabalhar com
música dentro do contexto escolar.
2. A CULTURA AFRO-BRASILEIRA NAS ESCOLAS APÓS A LEI 11.645:
GRUPOS MUSICAIS E VISIBILIDADE SOCIAL
A escola pública brasileira, nas últimas décadas, passou a atender um
número cada vez maior de estudantes oriundos das classes populares. Ao assumir
essa função, que historicamente justifica a existência da escola pública, intensificou-
se a necessidade de discussões contínuas sobre o papel do ensino básico no
projeto da sociedade que se quer para o país.
O trabalho com a cultura afro-brasileira no geral, como para a música e suas
influências, significa a adoção de um currículo disciplinar que destaca a escola como
lugar de socialização do conhecimento, pois essa é a função da instituição escolar e,
é também, extremamente importante para os estudantes de classes menos
favorecidas, que têm nela uma oportunidade, algumas vezes única, de acesso ao
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mundo letrado, do conhecimento científico, da reflexão filosófica e do contato com a
arte (CURITIBA, 2008).
Com base em Oliveira (2001), entende-se que até o final da década de 70,
os estudos sobre a situação do negro no Brasil, ficavam concentrados basicamente
em três áreas: medicina, psicologia e antropologia tendo como foco principal o
folclore e as religiões afro-brasileiras. Porém no inicio dos anos 80, surge na
universidade uma nova vertente teórica, elaborada em sua maioria, por
pesquisadores Militantes do Movimento Social Negro, que estrategicamente vem
forjando espaços políticos para a inserção de suas propostas nos diferentes campos
do conhecimento. Um exemplo de conquista deste movimento entre outros
segmentos da sociedade, que procura a valorização e resgate da cultura afro-
descente, foram as Leis 10.639 de 09 de Janeiro de 2003 e a mais recente, Lei n°
11.645 de março de 2008.
Destaca-se que estas Leis alteraram a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação N° 9134/96, para incluir obrigatoriamente na rede de ensino a temática
―História e Cultura Afro-Brasileira‖.
Para cumprir essa importante tarefa, os educadores podem colocar em
prática a concepção de educação proposta por Paulo Freire, autor das obras
―Pedagogia do oprimido‖, ―Conscientização‖, ―Educação e Prática da liberdade‖ entre
outras. A base desta pedagogia é o diálogo, que é o principal instrumento da
educação como prática de liberdade e essencial quando os agentes se
comprometem com o pensamento crítico, que só se concretiza quando há humildade
e esperança (OLIVEIRA, 2001).
Dessa forma, buscou-se trabalhar o pensamento crítico despertado através
do diálogo nas atividades voltadas para a reflexão da influência da cultura afro-
brasileira, passando brevemente pelo afro reggae (um movimento amplo que
defende a visibilidade e valorização das várias vertentes assumidas pela cultura
afrodescendente) até o Hip-hop (que pode ser considerado, uma das vertentes,
impulsionadas pela busca de visibilidade da cultura afro-brasileira).
É sob este ponto de vista que o projeto de intervenção ateve-se em práticas
de ensino que não colocavam o Hip-hop como uma cultura americanizada, resultado
do desenvolvimento dos jovens urbanos, mas algo muito além, e que para ser
entendido, precisava saber o que foi o Afroreggae na cultura brasileira, para então
aproximar os alunos de todo o arsenal social e político que carrega o Hip-hop.
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Assim o reggae e o Hip-hop, têm muitos pontos em comum, embora sejam
seguidos por jovens ou grupos diferentes na sociedade, nasceram igualmente por
questões problemáticas de desigualdade social e racial.
Para Lopez (2004), as matrizes africanas que contribuíram para moldar a
cultura brasileira são muito interessantes e atrativas para os educandos. Das
―congadas‖ ao ―samba‖, passando pelos ―afoxés‖ e ―blocos afro‖, a presença de
elementos musicais da África é marcante na história brasileira, como ainda hoje se
evidencia nas escolas de samba e nos sambas-enredo. Mas atualmente se constata
também uma progressiva interferência de grupos sociais urbanos, que é aonde
encontram-se traços do movimento Hip-hop.
Cabe utilizar uma citação de Lopez (2004, p.3), que abre caminhos para a
compreensão da música africana e sua amplitude:
A cultura brasileira e, logicamente, a rica música que se faz e consome no país estruturam-se a partir de duas básicas matrizes africanas, provenientes das civilizações conguesa e iorubana. A primeira sustenta a espinha dorsal dessa música, que tem no samba sua face mais exposta. A segunda molda, principalmente, a música religiosa afro-brasileira e os estilos dela decorrentes. Entretanto, embora de africanidade tão expressiva, a música popular brasileira, hoje, ao contrário da afro-cubana, por exemplo, distancia-se cada vez mais dessas matrizes.
Assim, o posicionamento ao se trabalhar com a música proveniente da
civilização africana e a influência na cultura brasileira, além de se resgatar, abre-se
espaço para um estilo e gosto musical, mais urbano que parte também das classes
desfavorecidas da sociedade, quais buscam de diferentes maneiras visibilidade com
o Hip-hop, ou ainda através do afro reggae.
O afro reggae é extremamente associado a questão social desde o seu
surgimento que juntamente a outras bandas de Reggae, foi mais a fundo centrando-
se em uma valorização dos estilos associados a cultura afro-descendente.
De acordo com Maia & Capdeville (2008), desde 1960, muitas bandas de
Reggae surgiram impulsionadas pelos cânticos rastafáris que puxavam pelo lado
africano, enfatizando a repetição rítmica, ou assumidamente ligada ao movimento.
Mas este projeto, não tem a intenção em explorar a banda afro reggae, e sim o
grupo cultural que surgiu a partir dela e que muito tem influenciado nos rumos
positivos de valorização das vertentes da cultura afro-descendente no Brasil.
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Neste sentido, entre as bandas de Reggae do país, o AfroReggae, fez um
caminho inverso das outras. Esta banda surgiu através de um projeto social criado
em 1993, na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro. O grupo cultural Afro-Reggae, que
gravita em torno do Reggae, tem como foco a divulgação e a valorização da cultura
negra voltada para jovens ligados nos ritmos musicais como Reggae, Soul, Hip-hop
e outros. O objetivo do Afroreggae sempre ateve-se em uma intervenção com a
população afro-brasileira, atuando, principalmente, na comunidade de origem de
seus membros: Vigário Geral (MAIA & CAPDEVILLE, 2008).
Entre as várias ações e projetos desenvolvidos pelo grupo cultural
Afroreggae, pode-se citar a criação do Núcleo Comunitário de Cultura, que iniciou no
local suas atividades de amparo a jovens carentes e com potencial de se envolver
com a criminalidade, que passavam a integrar projetos sociais motivados por
atividades como dança, percussão, futebol, reciclagem de lixo e capoeira.
A preocupação com a sua comunidade e os jovens que convivem a
preconceitos e criminalidade, agravou-se após a chacina de Vigário Geral, em
agosto de 1993, pois, os fundadores e a comunidade perceberam ainda mais a
necessidade de uma evolução do projeto social do Afroreggae como instrumento de
representação, defesa e auxílio para a comunidade. A partir deste momento, o
projeto consolidou-se e, em 1997, o núcleo contou com apoio de personalidades
como Caetano Veloso e Regina Casé. Assim, o afroreggae foi crescendo, e como
exemplo disso, tem-se que já atua em várias comunidades, dentre elas: Vigário
Geral, Morro do Cantagalo, Parada de Lucas e Complexo do Alemão (MAIA &
CAPDEVILLE, 2008).
Assim, o grupo cultural Afroreggae é uma banda que atua também como
ONG, assim em parcerias trabalham de maneira interventiva e criativa nas
comunidades. Uma de suas parcerias importantes de se citar neste projeto, refere-
se a MV Billl, que em parceria com o Grupo cultural Afro Reggae, desenvolve o
projeto Conexões Urbanas, que tem como objetivo levar entretenimento e cultura
para as comunidades carentes. Nascido na Cidade de Deus, MV Bill, o Mensageiro
da Verdade, iniciou sua história junto ao movimento Hip Hop em 84, sendo que foi
um dos fundadores da ONG Central Única das Favelas, a CUFA, que através do
conceito do movimento Hip Hop, busca elevar a autoestima das comunidades
desenvolvendo projetos sociais e culturais (MAIA & CAPDEVILLE, 2008).
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Enfim, a ligação entre o afro reggae e o hip-hop, centra-se em mesmas
questões sociais e culturais voltadas para a cultura afrodescendentes e as lutas
enfrentadas até então. Diante do exposto anteriormente, percebe-se que as
atividades proporcionadas através do hip-hop em comunidades carentes tem
refletido de maneira positiva, principalmente por fazer parte da realidade dos jovens,
é esse caminho que o projeto quer seguir, além de trabalhar aspectos históricos
conforme a Lei 11.645/março de 2008.
Na sequência será debatido mais especificamente sobre o hip-hop e sua
importância na atualidade e realidade dos educandos, pois, desta forma pode-se
alcançar uma educação humanizadora, sem preconceitos e que não oprime,
estimulando no ser humano seu poder criador, sua historicidade, despertando sua
capacidade de fazedor de cultura.
2.1 O HIP-HOP E A RUA COMO PALCO DE EXPRESSÃO
Com base em Silva (2000), a Cultura Hip-hop pode ser entendida pela união
de diversas manifestações artísticas representadas principalmente pelo DJ (Disk
Jokei), personagem encarregado da base melodiosa dos raps, o MC (Mestre de
Cerimônia), encarregado das elaborações de poemas (canções) e na performance
poética das apresentações, enquanto o break é a manifestação corporal dessa
cultura; além do grafite a arte de desenhar e escrever em muros, paredes e qualquer
vazio.
Não se trata de simples manifestações de pensamento ou expressão,
geralmente são questões que envolvem o conhecimento, como por exemplo, o
conhecimento no caso do rap é fundamental, pois resgata a carga da cultura
africana, perpassando também um passado de lutas. Além do mais, observa-se a
presença de uma auto-identificação do povo negro, com este movimento gerador de
uma série de alterações nas manifestações artísticas da contemporaneidade. Por
conseqüência de assentir toda uma carga histórica de luta dos afro-descendentes.
Assim, no caso do rap, além de ser um estilo musical, também é uma ideologia com
um modo exclusivo de encarar a realidade repleta de situações que se não fossem
impulsionadas através do afroreggae e as especificidades do Hip-hop, ficariam
limitadas aos subúrbios das grandes cidades.
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No Brasil, o Hip-hop surgiu nos anos 80, reunindo jovens de periferias em
torno de uma atividade, a dança, no desenrolar foi criando seu espaço, herdando as
bandeiras de luta do movimento negro, assim também passou a se expressar por
meio dos quatro elementos: o Dj, o Mc, o break e o grafite. É importante se destacar
que com o Hip-hop, o rap, a mistura de ritmo e poesia, é de origem jamaicana,
adquiriu grande força mesmo com letras agressivas e questionadoras, contra as
imposições das leis, as injustiças sociais, violência nas favelas, a desvalorização do
negro na sociedade, sexo, drogas, dentre outros.
Compreende-se que os jovens de início e alguns ainda adotam as ruas
como o palco de expressão das suas inquietações, aspirações e da rebeldia de um
povo marginalizado, estes jovens ritmam, poetizam, dançam e grafitam uma nova
estética.
Dessa forma, explica Matsunaga (2004), que ao nos depararmos com os
movimentos juvenis, como o movimento hip hop, compreende-se que esses grupos
conseguem fornecer aos jovens espaços para a identificação quanto ao lugar que
moram, ao lugar que ocupam no tecido social, à sua condição juvenil, às suas
particularidades culturais entre outros aspectos. Possibilitam aos jovens que dele
fazem parte, construir uma identidade coletiva.
Martins (2005) complementa o pensamento explorado acima, dizendo que
ao trabalhar com o hip-hop, tem-se também o resgate de uma dimensão social da
subjetividade, evitando assim o modelar do indivíduo com base em um único sujeito
determinante, mas em diferentes circunstâncias do espaço híbrido, dando margem
ao aparecimento de um eu plural inquieto.
Portanto trabalhar com o hip-hop foi uma maneira de mostrar a influência na
cultura brasileira ainda na atualidade, que muitos pensam que ficou restrita ao
samba, ao reggae, axé, capoeira, etc. Além de mostrar a questão da valorização,
crítica e criatividade para os educandos. Assim, a pesquisa visou também,
demonstrar que, é possível tornar as aulas mais atrativas e juntamente tomar o Hip
Hop como um objeto de estudo para além da explicitação de eventuais aspectos
―positivos‖ que este desempenharia junto aos jovens marginalizados.
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3. A ARTE, A PESQUISA E A AÇÃO NA SUA APLICABILIDADE
A metodologia adotada em todo o processo de pesquisa, incluindo-se o
projeto de intervenção, a elaboração do caderno pedagógico, a implementação do
mesmo e a criação deste artigo, foi a pesquisa-ação.
Trata-se de uma ação educativa que só se justifica com o envolvimento da
comunidade e sua orientação para as possíveis soluções de problemas em processo
de mudança. Assim, ―tornam-se possíveis, descobertas na realidade local, a partir
da ação daqueles que vivem na própria região e com eles implementa-se o processo
de sistematização‖ (MELO NETO, 2006).
Nesse sentido, na pesquisa-ação não há separação entre conhecimento e
ação, busca-se realizar a prática para atuar e intervir na realidade dos educandos,
visando uma mudança, uma transformação de comportamentos.
Nessa perspectiva o professor em processo de pesquisa, analisa sua
ação/prática, intervindo na realidade dos educandos, e nessa coleta de ações
visando mudança, o pesquisador assume uma postura de investigador,
identificando-se especificidades da turma e do contexto escolar.
Cabe utilizar uma citação de Thiollent (2008), que explica a respeito da
pesquisa-ação como uma modalidade da pesquisa qualitativa e suas possibilidades
de aplicação, principalmente a aplicabilidade dessa modalidade na educação
visando aperfeiçoarem-se as práticas de ensino em sala de aula.
A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2008, p. 14).
Assim, compreende-se que a pesquisa-ação contribui para que o
investigador obtenha informações e chegue a soluções por um meio a partir de
procedimentos variados. Logo, buscou-se trabalhar a história e a cultura africana e
afro-brasileira, a partir da associação com o afro-reagge e o hip-hop, visando
amenizar o preconceito e valorizar a riqueza de tal cultura, atingindo-os com a
musicalidade, estética e sensibilidade.
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4. O RESULTADO DA IMPLEMENTAÇÃO: A PRÁTICAS NO ENSINO DE HISTÓRIA E A CONSCIENTIZAÇÃO
A sequência de atividades implementadas, seguiram os planejamentos do
projeto de intervenção e da unidade didática, abrindo-se espaço principalmente para
o diálogo com os educandos, visando romper qualquer barreira desencadeada pelo
preconceito. O qual ainda se fazia presente entre os saberes prévios dos alunos, no
início da implementação.
No total a implementação aconteceu por meio de 6 (seis) ações, interligadas
por informações que foram passadas gradativamente, sempre se retomando as
abordagens anteriores, para que o aluno tivesse um raciocínio contínuo e não um
saber fragmentado.
O primeiro contato com o nono ano deu-se através de uma explicação sutil
do projeto de intervenção, adequando-se à linguagem dos educandos, explicou-se
sobre as possibilidades de atividades que seriam feitas, a importância da cultura
afro-brasileira e a forte presença na realidade deles, como também na cultura
urbana cada vez mais presente entre os jovens, o hip-hop, visando estimula-los para
as próximas atividades/reflexões.
Assim, explicou-se o projeto e sua finalidade dentro do ensino de história e
da cultura afrobrasileira. Também foram passados vídeos de estímulo e
conscientização perante o Hip Hop e a cultura em estudo: ―Cultura hip-hop‖. Para
finalizar uma atividade para sistematizar o conhecimento discutido inicialmente, a
partir de um texto impresso e discussão com os educandos.
Na segunda atividade implementada possibilitou-se que os alunos
assistissem o filme ―Beat Street - A Loucura do Ritmo‖, na sequência foi estimulada
uma discussão pra explanar sobre o filme com o hip hop e a cultura
afrodescendente, trabalhando-se pontos positivos e negativos que a cultura hip-hop
pode influenciar. Por fim responderam um questionário aplicado na intenção de
direcionar e sistematizar a compreensão do filme, finalizando com um debate,
organizado e encaminhado pelo professor.
O filme Beat Street - A Loucura do Ritmo é um drama musical, dirigido por
Taylor Hackford e estrelado por Jamie Foxx. A violência dos anos 1980 dá lugar ao
mundo de dançarinos, cantores de rap, grafiteiros e DJs. É o mundo novo do break,
uma verdadeira revolução na música, na arte pop e na dança. Na trilha sonora, hoje
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clássicos dos mestres do rap como Kool Moe Dee, DJ Jazzy Jay, Afrika Bambaataa
e Grand Master Flash & The Furious Five, entre outros (FILMESBLACK, 2009).
Trabalhar com a História e Cultura Africana nas escolas é uma questão
complexa, que exige uma postura flexível diante do preconceito entre os educandos.
Cabe citar Oliva (2003), sobre a problemática que se encontra ―A história da África‖,
o que de uma hora para outra exigiu-se o ensino diferenciado, porém a realidade é
carregada de desafios, principalmente de material disponível para os professores:
[...] fica evidente que ensinar a História da África, mesmo não sendo uma tarefa tão simples, é algo imperioso, urgente. As limitações transcendem—ao mesmo tempo em que se relacionam—os preconceitos existentes na sociedade brasileira, e se refletem, de um certo modo, no descaso da Academia, no despreparo de professores e na desatenção de editoras pelo tema (OLIVA, 2003, p. 455).
Nota-se um momento de adaptação e de mudanças com a questão da
inserção da temática história africana/cultura afro-brasileira nos currículos escolares,
como também nos Projetos Políticos Pedagógicos.
Considerando-se as particularidades e complexidade que perpetua na cultura
africana, a próxima prática de ensino, visou seguir a discussão sobre o rap,
retomando primeiramente as questões do filme. Em seguida, explicou-se através de
slides, sobre a música dentro da cultura afro descendente e afro brasileira,
direcionando-se para a música do hip hop, focando principalmente o RAP. Na
seqüência trabalhou-se especificamente com um RAP Coisa de Negro (Marcio
Brown) (2011) interpretando a música, e depois cantando juntamente aos alunos.
Foi uma atividade muito interessante que causou discussões significativas,
pois o rap apresentava uma letra rica em significados como:
Vibração treme o chão. Aquilo que se aprende só com seu irmão. É na hora que vamos vê, Não te deixa na mão. Tem uma posição e não é um vacilão é firmão. As ruas ensinam ser sobrevivente (MARCIO BROWN, 2011).
Muitas questões foram trabalhadas e apontadas pelos educandos, que
usaram suas realidades para interpretar o rap, a linguagem, as gírias, a vida urbana
e seus desafios, entre outras questões que fundamentaram essa prática de ensino
que só fortaleceu a questão do afrodescendente a sua busca por visibilidade. Além
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da interpretação, os alunos em duplas ou trios, foram estimulados a produzirem
alguns rap’s englobando a vida urbana, o hip-hop, a cultura afrodescendente, mas
tudo com um olhar positivo perante a sociedade.
Dando continuidade, na prática seguinte, aconteceram as apresentações
dos Rap’s, nas quais já foi se detectando o quanto os alunos estavam mais
conscientes quanto ao preconceito e a importância dessa cultura e sua influência na
cultura brasileira.
Num próximo momento, aprofundou-se os conhecimentos dos educandos,
iniciando com uma retomada das atividades anteriores, apresentando-lhes que seria
explicado especificamente sobre movimento hip hop, arte, história e hip hop, enfim,
a associação entre esses assuntos. Também dialogou-se quanto aos elementos que
compõem o hip-hop: Dj, Grafite, Rap, Mc, a canção e o break que é a dança.
Iniciou-se com alguns vídeos sobre hip hop e a arte de grafitar: Grafite e hip-
hop; Arte Urbana e A arte de grafitar. Em seguida, despertou o olhar dos educandos
para a arte, alertando a diferença entre Grafite e Pixação, então construíram grafites
com as suas assinaturas (Tags), para elaboração de um painel para exposição.
―Tag‖ é o nome que se usa para a assinatura, ou seja, os artistas que
compõem grafites criam suas assinaturas, as quais assinam sempre os seus
trabalhos, logo, se tornarem-se famosos, a assinatura (TAG) será reconhecida em
qualquer lugar do mundo.
Por fim, na ultima atividade implementada os alunos foram organizados em
dois grandes grupos, os quais se prepararam pra fazer uma apresentação de hip
hop, a escolha deles, usando-se do RAP, ou da dança (break) , juntamente ao som
(Dj) ou grafite. Assim, algumas aulas foram utilizadas para ensaio. No ultimo dia os
resultados dos trabalhos foram mostrados à comunidade escolar, com as
apresentações, painel de grafites e painel explicativo sobre o hip hop. Muitos frutos desta iniciativa foram colhidos, como por exemplo: o interesse
de participação da comunidade local, melhoria da disciplina de alguns alunos
considerados indisciplinados e desinteressados pela escola e da autoestima dos
participantes. Além de influenciar no conhecimento sobre a importância da cultura
afrodescendente dentro da cultura afro-brasileira, as práticas de ensino favoreceram
na socialização e conscientização.
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4.1 EXPERIÊNCIAS DO GRUPO DE TRABALHOS EM REDE – GTR, 2011
No Grupo de Trabalhos em Rede – GTR 2011, os professores da rede
estadual de ensino do Paraná, escolhem os grupos por temas, neste sentido, o
professor PDE atua como tutor direcionando as discussões e tarefas a partir dos
trabalhos/atividades que produz: como projeto de intervenção, unidade didática,
práticas da implementação, experiências, além de outras discussões que são
levantadas para uma melhor troca de experiências das outras realidades escolares.
Entre os professores que participaram do GTR sobre ―Cultura afro-brasileira
no ensino fundamental: história, cultura e cidadania através do Hip-hop‖, muitos
estavam envolvidos em atividades diferenciadas para o ensino da história e cultura
africana. Também, abordaram a importância dos encaminhamentos metodológicos,
pois a disciplina de história necessita de uma exploração interessante com recursos
atrativos e significativos para a construção do conhecimento dos educandos.
Esse momento do PDE foi importante não somente para observar outras
realidades, como também, desafios que outros professores enfrentam no dia-a-dia
em sala de aula. Além de contribuir em alguns aspectos com a prática de ensino,
também verificou-se a aproximação entre teoria e prática, ou seja, pressupostos
teóricos metodológicos apontados pelos professores que amenizam problemas e
complexidades na sala de aula.
Para uma melhor visualização dessas contribuições do GTR, na sequência
tem-se algumas citações retiradas do fórum de discussão ou do diário:
[...] O Educando aprende a desenvolver o senso crítico e reflexivo a partir de conhecimentos contextualizados [...]. O projeto é pertinente porque realiza a interdisciplinaridade, principalmente com a arte, dialoga outras disciplinas e leva o aluno a desenvolver o senso crítico, a liberdade de expressão e a autonomia de pensamento (PROFESSOR GTR, 2011).
[...] Além de apreender história, os educandos participaram dela fazendo um exercício de memória, imaginação e criatividade. Compreender o Hip-hop como um movimento associado ao Afro reage, a questão da visibilidade destas classes sociais desprivilegiadas relacionando-se a presença da cultura africana, levará a um conhecimento global (PROFESSOR GTR, 2011).
Shmidt e Cainelli (2009, p. 34) complementam os pensamentos dos
professores nas citações anteriores, de que o que se procura é uma prática docente
distanciada o mais possível da imagem do ―professor-enciclopédia‖, detentor do
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saber, buscando a construção de um ―professor-consultor‖, que contribui para a
construção do conhecimento de seus alunos em sala de aula.
Outro professor colocou sobre a educação de qualidade e igualitária, a qual
presa-se no mundo contemporâneo:
[...] Muitos enfrentamentos são postos a todo momento no âmbito educacional das Escolas Públicas, desafiando educadores e educandos com vistas a uma educação de qualidade e igualitária, onde todos tenham condições de transpor seus próprios limites. Partindo desses desafios, um dos aspectos importantes e que merece total empenho é com relação a maneira como são conduzidos os trabalhos no interior de um estabelecimento de ensino, onde todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem precisam estar realmente engajados para atingir um mesmo objetivo: qualidade na educação (PROFESSOR GTR, 2011).
[...] A questão educacional em nossos estabelecimentos vem passando por grandes problemas como: a violência, evasão, drogas, desinteresse, entre outros, problemas que devem ser resolvidos de forma rápida e eficaz. O hip-hop pode amenizar esses problemas envolvendo o aluno de maneira consciente, produzindo o grafite e sendo reconhecido por meio de sua arte, como também o rap, tão presente. Logo, esses elementos do hip-hop podem ser usados para amenizar problemas sociais e educacionais (PROFESSOR GTR, 2011).
A educação igualitária pressupõe ao atendimento por igual com todos os
educandos, dando oportunidades a eles de uma educação de qualidade. Por isso,
antes de se pensar em conteúdos, temáticas importantes para o contexto escolar,
deve-se pensar na sala de aula não como um ambiente onde se transmitem
informações, mas um espaço onde se estabelece uma relação em que interlocutores
constroem significados e sentidos atendo-se às realidades de seus educandos,
podendo assim contribuir na sua formação integral.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final de todo o processo percorrido os objetivos foram alcançados,
sobretudo o objetivo geral que era explorar a influência da música africana na
cultura/música brasileira, levando aos alunos não apenas os conhecimentos
pertinentes à cultura em estudo, como também sobre o movimento afroreggae tendo
como um dos seus segmentos o Hip-hop.
Logo, as práticas de ensino de história possibilitaram juntamente à
aprendizagem o estímulo de outros fatores como: sensibilidade, ritmo, equilíbrio,
bem-estar, facilitando a concentração e o desenvolvimento do raciocínio, entre
outras questões que contribuíssem na formação integral do educando.
A proposta aqui demonstrada foi uma sugestão de como se trabalhar com o
hip-hop atendo-se na valorização da história e cultura afro-brasileira. Mas há
diferentes formas de se trabalhar com essa associação de temáticas, tanto na
disciplina de história como em outras.
O fundamental e que se considere o aluno como sujeito participante que se
reconheça como sujeito da história. Outra questão importante é de que muitos
avanços aconteceram após a promulgação da Lei 11.645 entre eles iniciativas como
a demonstrada aqui passaram a acontecer nas realidades das escolas, visando
trabalhar de maneira diferente essa cultura que até então vinha sendo abordada
superficialmente.
Destaca-se que na elaboração do projeto de intervenção e da unidade
didática, seguiu-se as orientações da Lei 11.645/2008 e das Diretrizes Curriculares,
somados aos pensamentos da pedagogia do oprimido e da educação voltada para o
diálogo, portanto uma soma de fatores que deram certo na prática. Comprovando-se
também, a pesquisa-ação é uma modalidade que possibilita a união entre teoria e
prática.
Por fim, os educandos do nono ano da Escola Estadual Anibal Khuri, tiveram
a oportunidade de ver a sua história e sua imagem refletida positivamente, pois
trata-se de uma realidade em que grande parte dos educandos são advindos de
classe social desprivilegiada, logo a partir das práticas de ensino abriu-se espaço
para a transformação da escola em um espaço plural de ideias e culturas.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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2010/2008/Lei/L11645.htm>., acessado em 3/09/2010.
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