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07/08/2017 Cura para uma cidade cinza - O Beltrano http://www.obeltrano.com.br/portfolio/cura-para-uma-cidade-cinza/ 1/18 compartilh Cura para uma cidade cinza Projeto Circuito Urbano de Arte (Cura) inaugura mirante fachadas cegas de prédios do hipercentro, vistos da rua 31/07/2017 Exposição sobre a ditadura é prorrogada 31/07/2017 “Garganta” nasceu numa roda de bar 31/07/2017 O outro lado dos ídolos não nos interessa 28/0 A chance ec uma refor

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Cura para uma cidade cinza

Projeto Circuito Urbano de Arte (Cura) inaugura mirante de arte urbana, com quatro murais pintados nasfachadas cegas de prédios do hipercentro, vistos da rua Sapucaí

31/07/2017

Exposição sobre aditadura é prorrogada

31/07/2017

“Garganta” nasceunuma roda de bar

31/07/2017

O outro lado dos ídolosnão nos interessa

28/07/2017

A chance econômica deuma reforma política

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Texto: Lucas Simões Fotos: Beto Hektor

Há dez dias, a rua Sapucaí foi transformada por gra�tes e pinturas. Na semana passada, do charmosomirante em frente à Benfeitoria, no bairro Floresta, era possível ver cinco artistas suspensos emandaimes, espalhando os últimos lances de tinta spray pelos ares e �nalizando gigantescas pinturas deaté 50 metros de altura, em quatros prédios do hipercentro de Belo Horizonte. No �m do dia, exaustosdo trabalho intenso, eles observavam as próprias obras quase acabadas: uma baita provocação àcidade.

“É importante frisar que não estamos apenas colorindo a cidade. Vai muito além disso, é um resgate,um ato político, como todo ato artístico”, adianta a artista Priscila Amoni sobre o impacto que o projetoCURA – Circuito Urbano de Arte começou a criar instantaneamente na capital mineira. No domingo,

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uma festa na Benfeitoria comemorou a �nalização dos grandes murais, o primeiro passo de umaproposta maior para a cidade.

chocar com as obras enquanto passam pela cidade. As pessoas começaram a enxergar telas onde haviaapenas empenas cinzas, fachadas vazias. Isso é demais”, se empolga Juliana Flores.

As empenas ou laterais cegas que estimularam a ação do CURA foram comumente usadas para permitira construção de prédios lado a lado, sem espaço entre eles. Como a prática de engenharia foi proibidana década de 1980, as que já existiam foram mantidas em cinza. “Houve um período em que podia terpublicidade nessas empenas. Mas, depois, em BH, até esses anúncios foram proibidos e elas �caramcompletamente cinzas mesmo. Resolvemos usar as empenas para dar outra perspectiva à cidade”,completa Juliana.

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Inspiração

Uma ideia que habita o imaginário da capital mineira há quase duas décadas. Isso porque o CURA éabertamente inspirado no pioneirismo do artista Hugues Desmaziéres, francês responsável por pintarpelo menos sete empenas emblemáticas em Belo Horizonte, entre 1985 e 1995, incluindo o famosoretrato de Tiradentes: uma arte de fundo azul marcante, registrada na empena do prédio de número 39da rua Rio de Janeiro, esquina com a avenida do Contorno.

Quase todas as obras de Desmaziéres, a maioria referente a ilusões de ótica e debates sobre progressoe questões ambientais, foram deterioradas ou apagadas, incluindo Tiradentes, sumido dos horizontesda capital em 2014. “Aquilo fazia parte de uma memória intensa para a cidade. Elas marcarammomentos, infâncias, inspirações, um mundo de possibilidades daquela Belo Horizonte. Agora,queremos propor algo similar com essa Beagá contemporânea”, diz Juliana.

O CURA prezou por trazer uma diversidade artística além das fronteiras geográ�cas da capital, numatentativa de também enxergar a metrópole “de fora”. É a missão dada aos artistas convidados Tereza

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Dequinta e Robérzio Marqs, deFortaleza (CE), e da muralistaespanhola Marina Capdevilla. Alémdeles, o projeto conta com belo-horizontinos Priscila Amoni, tambémidealizadora do CURA, e Thiago Mazza.

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Das obras mais impactantes, a pintura de Priscila Amoni traduz a perspectiva audaciosa e intensa doCURA ao estampar uma mulher negra rodeada de plantas medicinais da cabeça aos pés, com asugestiva palavra “coragem” grafada quase ao acaso, no meio do imenso desenho que preenche aempena do Hotel Rio Jordão, na Rua Rio de Janeiro, 147, com vertiginosos 50 metros de altura e 16metros de largura. É o segundo mural mais alto já gra�tado no país, atrás apenas da pintura feita peloartista carioca Toz, no Hotel Marina, no Rio de Janeiro, marcada em um edifício de 26 andares, com 75metros de altura e 10 metros de largura.

“No primeiro dia da pintura, eu tive uma grata surpresa ao chegar perto da superfície. Por que vi que, aolado de várias inscrições publicitárias, no meio da minha empena tinha a palavra ‘garagem’ escrita. E eufaço há anos um trabalho de intervenção transformando as ‘garagens’ da cidade em ‘coragem’. Mudo asletras, faço a intervenção nos portões dos outros e dou o fora. Então, quando cheguei para fazer odesenho, decidi manter o ‘garagem’, agora adaptado para ‘coragem’, como já fazia antes”, diz Amoni.

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“Na minha arte, estou falando de resgatar a ancestralidade negra, de elevar o poder feminino eestampar isso no hipercentro, onde a cidade passa. Estou falando da medicina indígena, das �orestasmortas. Cada planta que pintei representa uma coisa. A dracena é a planta de Iansã e representa força.A lavanda e o alecrim são a calma e a alegria. A marada, que brota na cabeça da mulher, é onde nasce abeleza. Nós, artistas, trazemos uma mensagem forte re�etindo a cidade, não apenas enchendo suasparedes de cor”, a�rma Amoni.

altamente realista. Além disso, em tom provocativo e despojado – como idosos que representa deforma pouco convencional em seus murais -, Capdevilla decidiu abordar o carnaval político de BeloHorionte.

Sua pintura carrega um choque de cores vibrantes que fazem alusão ao carnaval nascido na icônicaPraia da Estação, em 2009, incluindo na obra o desenho de um estandarte em homenagem aomovimento que impulsionou a festa momesca na cidade. “Quando recebi o convite, resolvi me inspirarem Belo Horizonte. Me contaram do carnaval e do fator político. Ouvi muito sobre isso, e quisrepresentar esse movimento, já que é algo novo para mim e diz muito sobre a expressão da cidade. NaEspanha não tem carnaval, não tem isso”, diz Marina, empolgada.

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Também pela primeira vez na cidade, Tereza Dequinta e Robézio Marqs formam o Acidum Project há 11anos, em Fortaleza, espalhando por aí suas pinturas com in�uência surrealista, repleta de lendasurbanas e cenários lisérgicos. Eles �caram encarregados de pintar a maior empena do projeto, noEdifício Rio Tapajós, também na rua da Bahia, 235, com escala de tem 22,5 metros de altura e mais 37metros de largura. “Haja tinta”, brinca Robérzio. O casal propôs pintar um mural repleto de códigos esigni�cados sobre diálogos possíveis entre Belo Horizonte e seus moradores.

“Normalmente nós pintamos murais verticais, que são menos complexos. Esse em Belo Horizonte éhorizontal e, isso, de alguma forma, foi um ponto de partida para brincar com o horizonte da cidade e arelação de comunicação horizontal que seus moradores podem ter com ela. O mural tem vários códigose fala muito sobre relação de distância de dois personagens distintos, mas que podem se comunicarbem”, diz Robézio.

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“Como a gente trabalha muito o surrealismo, tem sempre uma coisinha que você vai descobrindo aospoucos na pintura. Ela não é uma coisa �xa ou identi�cável de primeira. Ou seja, é uma tela urbana quevai literalmente dialogar com a cidade, aos poucos. Será uma re�exão constante e mutável, com calma”,completa Tereza.

Uma calma re�exiva que não cabe à bela obra do gra�teiro Thiago Mazza, estampada no EdifícioSatélite, na rua da Bahia, 478, em uma empena de 37 metros de altura e 11 metros de largura. Talvez amais provocativa do projeto, mesmo sem querer. Antes mesmo de ser concluída, a pintura de um galo euma raposa prestes a iniciar um duelo causou uma pequena guerra entre torcedores de Atlético eCruzeiro nas redes sociais. E pelo simples fato de o galo estar desenhado na parte superior da empena,enquanto a raposa é retratada na parte inferior.

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Sobre a polêmica, Mazza garante que sua pintura não tem qualquer intenção de provocar os torcedoresrivais. “Eu esperava a polêmica, mas tentei minimizar ao máximo. O Galo vem por cima porque ele éuma ave. Se eu fosse fazer um gato e um passarinho, o gato viria no chão e o passarinho estariavoando. É a mesma coisa. Independente do Galo estar por cima, a Raposa é muito feroz, a boca delavista de perto é até maior que o Galo. Mas isso vai servir para as pessoas re�etirem sobre o tamanho dapaixão delas por futebol e o quanto elas podem mudar a percepção das coisas a partir desa paixão”, dizo artista.

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Além disso, ele garante que a inspiração para o desenho não nasceu “necessariamente” da rivalidadehistórica entre os clubes belo-horizontinos. E, sim, durante uma residência artística na Rússia sobrecontos de fadas, quando retratou a fábula “O Galo e a Raposa”, escrita pelo francês Jean de La Fontaineno século XVII. “Nessa residência na Rússia, me deparei com a fábula do galo e da raposa e, como eugosto muito de animais e meu trabalho tem muito de natureza e animal, decidi investir nisso. Fiz odesenho dos animais. Já tinha esse esboço e tinha muita vontade de fazer isso na minha cidade”, diz.

“É claro que eu pensava na associação óbvia entre os times, porque são seus mascotes. Pintei doisanimais, símbolos do futebol da cidade. Não provoco nenhum dos lados apaixonados por futebol. Éassim como na fábula: a raposa sempre tentando dar o bote no galinheiro, a pintura representa essecon�ito eterno. Então, espero que ela crie uma discussão saudável, que aquela esquina da rua da Bahiavire a esquina do Galo e da Raposa”, a�rma Mazza.

Bastidores

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Juliana Flores e Janaína Macruz, que com Priscila Amoni idealizaram o CURA

Com os quatro murais praticamente prontos, passar mais de dez horas por dia em cima de um andaimee um balancinho agitando spray, carregando latas de tinta, capacetes e outros acessórios de segurança,não foi tarefa simples para os artistas.

“A minha principal di�culdade foi ter que usar o balancinho no andaime. Tem que estar muito atentapara não deixar cair nada lá embaixo porque pode acontecer”, diz Mariana Capdevilla. “Eu desço váriasvezes para conferir como está a pintura. O pessoal manda fotos de longe para a gente ter noção, temum drone também capturando imagens, mas não consigo ver só no celular. Às vezes desço, então, eisso demora um pouco mais o processo”, diz Thiago Mazza.

A curadora Juliana Flores explica que todosos artistas do CURA pintaram com oschamados balancinhos, estruturasacopladas em andaimes. E não com osLIFTs, plataformas móveis controladas porum braço mecânico, que permitem aoartista se afastar e se aproximar das obras.“Quando �zemos o projeto, os prédios queescolhemos para abrigar as quatroprimeiras pinturas não podiam receber ainstalação do LIFT, pelas limitações doPatrimônio Histórico. A única opção foramos balancinhos, que são uma pegada maisroots. Pouca gente usa isso para grandesmurais porque realmente exige mais doartista, é menos prático”, diz Juliana.

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Expansão

A 2ª edição do CURA – Circuito de Arte Urbana já tem patrocínio garantido pela Lei Rouanet e deveacontecer a partir de junho de 2018. Neste ano, o projeto foi viabilizado pela Lei Municipal e Incentivo àCultura, com patrocínio do Instituto Unimed e da Ambev. A curadora Juliana Flores diz que a ideia épintar entre 10 e 12 murais somente no hipercentro, “fechando” o chamado Circuito CURA na região,visto inteiramente da rua Sapucaí.

“Iríamos fazer sete murais desta vez, mas não tivemos perna para tanto. Vai �car para a próxima edição.Mas vamos continuar no centro e pintar o máximo possível. Temos muitas fachadas ainda comempenas, como o Edifício Príncipe de Gales (na rua Tupinambás, 179) e o Hotel Nacional Inn (ruaEspírito Santo, 215)”, destaca Juliana.

Além disso, ela diz que o levantamento feito pela curadoria do projeto junto à Fundação Municipal deCultura (FMC) também revelou outras potenciais áreas para receber mirantes de arte a céu aberto na