da bhagavadgita um verso enigmÁtico · significa, nem nada que se lhe aproxime, que seja a melhor....

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UM VERSO ENIGMÁTICO DA BHAGAVADGITA revistapandava.pt NÚMERO 2 | DEZEMBRO 2019 O que é o Karma , segundo H.P. Blavatsky O Sonho de Ravana e as doenças da alma As origens e o significado dos mantras Yoga : a Ciência da Alma UM VERSO ENIGMÁTICO DA BHAGAVADGITA UM VERSO ENIGMÁTICO DA BHAGAVADGITA

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UM VERSO ENIGMÁTICODA BHAGAVADGITA

rev i s tapandava .p tNÚMERO 2 | DEZEMBRO 2019

O que é o Karma , segundo H.P . BlavatskyO Sonho de Ravana e as doenças da a lmaAs or igens e o s ignif icado dos mantrasYoga : a Ciência da Alma

UM VERSO ENIGMÁTICODA BHAGAVADGITAUM VERSO ENIGMÁTICODA BHAGAVADGITA

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UM VERSO ENIGMÁTICO DABHAGAVADGITA

O SONHO DE RĀVANAE AS DOENÇAS DA ALMA

A ORIGEM E O SIGNIFICADODOS MANTRAS

MAJJHIMA NIKAYA 58:ABHAYARAJAKUMARASUTTA

– José Carlos Fernández

- José Carlos Fernández

– Ricardo Louro Martins

– Do Sutta Pittaka

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Director da Nova Acrópole em Portugal

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20 39

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CONTEÚDOS

YOGA: A CIÊNCIA DA ALMA– G. R. S. Mead (1863 - 1933)

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LIÇÃO DE BUDA SOBRE OTAMANHO DOS ÁTOMOS– José Carlos Fernández

– Helena Petrovna Blavatsky(1831 - 1891)

– Jorge Angel Livraga(1930 - 1991)

35O QUE É O KARMA?

NOTAS SOBRE ABHAGAVADGITA

Revista organizada por voluntários daOrganização Internacional Nova Acrópole - Portugal Director: José Carlos FernándezDirector Adjunto: Ricardo Louro MartinsDesign: Cristhiano Guglielmin Web: www.revistapandava.ptEmail: [email protected]

Propriedade e direitos:

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UM VERSO ENIGMÁTICO DABHAGAVADGITAPor José Carlos Fernández

Bhagavadgita (literalmente "Canção do Mestre") éum dos grandes clássicos da literatura universal e dafilosofia. Ela aparece num dos livros[1] do Mahabharata,o grande épico Hindu, obra monumental e deensinamentos sublimes dentro da tradição Védica,atribuída ao sábio Vyasa. Na verdade, o nome Vyasa significa “compilador” e nãosabemos quem é o autor. É inclusivamente difícil datarcronologicamente tanto o Mahabharata quanto aBhagavadgita, e talvez tenham sido trabalhosindependentes, tendo sido o segundo incluído noprimeiro. O Mahabharata narra a morte de Krishna e ocomeço do Kaliyuga, devendo, por isto, ser posterior a3.102 a.C.[2] Além disto, assim como a Ilíada, preservou-se por viaoral por um período indefinido, sendo escrito somente apartir do século V a.C. O Mahabharata, como a própriaBíblia, é um compêndio de diferentes livros, dediferentes épocas, e talvez alguns sejam muito maisvelhos do que imaginamos.

O Mahabharata pertence ao que é chamado de“tradição”, smriti (memória), mas a Bhagavadgita, com18 livros e 700 versos, embora faça parte dela, échamada de Upanishad e incluída na “revelação santa”(shruti) , tal como os próprios Vedas. H.P. Blavatsky, no final do século XIX, disse que estestextos devem ser “lidos” usando-se sete chaves deinterpretação diferentes (alquímica, psicológica,fisiológica, astronómica, histórica, matemática, etc.),motivo pelo qual é muito difícil sabermos o que osacontecimentos narram, se eles são histórico-factuais,processos de transformação da natureza, ouastronómicos… Os historiadores Ocidentais englobaramtoda esta obra na categoria do “mito”, negandocategoricamente a sua historicidade, como tinhamanteriormente feito com a cidade de Tróia, a Ilíada eOdisseia. No entanto, a cidade de Dvaraka, na qualKrishna reinou, foi encontrada coincidentemente aNoroeste da costa da Índia, em 2001, fazendo-nos rever,assim, tudo o que pensávamos saber sobre esta sagaformidável.

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Cena da Bhagavadgita. Arjuna pede instrução a Krishna.

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A Bhagavadgita é a jóia filosófica da Índia, que chegouao Ocidente pela primeira vez com traduções para oPortuguês. Shopenhauer elogiou-a e David Thoreaudisse sobre ela: “De manhã, banho o meu intelecto na estupenda ecosmogónica filosofia da Bhagavadgita, diante da qual o nossomundo moderno e a sua literatura parecem ser insignificantes etriviais.” Gandhi traduziu-a do Sânscrito e aprendeu-a de cor;H.P. Blavatsky introduziu-a nos textos que os seusdiscípulos tinham de estudar e meditar e em geral todosos membros da Escola Esotérica; Shri Aurobindotambém fez uma tradução e comentou-a em vários dosseus estudos, e Vivekananda, entre outras centenas defilósofos e místicos, dedicou-lhe a sua atenção. O próprio George Lucas foi inspirado pela Bhagavadgitae pelo Mahabharata para realizar o Star Wars, segundodisse o próprio em várias entrevistas, tambémincentivado pela filosofia e recomendações de JosephCampbell, outro dos amantes deste livro. NaOrganização Internacional Nova Acrópole, este é umdos livros que estudamos com assiduidade. A cena ondeArjuna, o principal herói deste magno poema, está nomeio dos dois exércitos opostos (Kauravas e Pandavas),antes do início da guerra, é muito inspiradora. Arjunarepresenta a consciência humana nas grandesencruzilhadas, entre uma natureza divina e outra bestialque reclamam o seu espaço para viver nela. De qualquer forma, o objectivo deste pequeno artigonão é o de mencionar a Bhagavadgita em geral, mas simapenas um dos seus versos (shlokas), o 46º do segundocapítulo (Estância), o capítulo chamado “ensinamentoesotérico”. Para vermos, assim, a grande dificuldade quemuitas vezes temos em compreender estes textos emSânscrito, quase todos eles metáforas, analogias ecomparações de incrível profundidade. Há dificuldade até em traduzi-los, porque a línguaSanscrítica é muito sintética, quase matemático-conceptual, mais do que discursiva, e ao passá-la paraas línguas actuais (embora façam parte do patrimónioIndo-Europeu), mutilamos muitas das alusões, ou temosde fazer circunlóquios longos, que no final, velam ouescondem mais do que esclarecem o significadooriginal.

Literalmente, diz: यावानथ� उदपानसव�त: स�लतोदक |तावा�सव�ष वदष�ा�ण�य�वजानत: || 46 || yāvānartha udapānesarvatah samplutodake tāvānsarvesu vedesubrāhmanasyavijānatah yāvān – tudo isso; arthah – tem por finalidade; uda-pāne– num poço de água; sarvatah – em todos os aspectos(ou desde - por, em direção a – todas as partes);sampluta-udake – num grande lago; tāvān – tantos, demodo similar; sarvesu – todos; vedesu – Vedas;brāhmanasya – do homem que conhece o SupremoBrahman (que alcançou a iluminação); vijānatah – quemtem completo conhecimento. Na Bhagavadgita traduzida por Ramacharaka, queconsultou muitas versões para fazer um texto unificadoem Inglês, o yogi  Ocidental vê-se obrigado aacrescentar explicações prévias como primeiroparágrafo: “Assim como a água que flui de uma fonte cheia para um vasode acordo com a forma e capacidade de cada um, assim osensinamentos espirituais não proporcionam senão a parte quecada qual é capaz de receber conforme o grau da sua evolução. Para o Brahmane iluminado, os Vedas são tão proveitososcomo se a sua mente fosse um vaso capaz de receber toda a águade uma fonte inesgotável.” Na versão de Annie Besant, discípula de H.P. Blavatsky edirectora da Sociedade Teosófica desde 1907 até à suamorte, em 1933: “Tão proveitosos são os Vedas para o Brahmane iluminado,quanto a água de um lago cheio até a borda.” Na edição da Nova Acrópole de Espanha, que faz umcompêndio de várias: “Para um sábio dotado de visão espiritual, os Vedas têm tantautilidade como um poço que foi coberto por uma inundação.” Na de Shri Aurobindo, um dos grandes filósofos emísticos do século XX:

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“Há tanta utilidade nas águas de um poço que as águas deuma inundação o cercam por toda parte, quanta a que existe emtodos os Vedas para o Brahmane que possui o conhecimento.” Swami Mukundananda traduz assim: “Tudo aquilo para que serve um pequeno reservatório de águaserve em todos os aspectos um grande lago. Do mesmo modo,aquele que alcança e compreende a Verdade Absoluta tambémcumpre o propósito de todos os Vedas. “ Na tradução de Swami Prabhupada, no seu “BhagavadGita, tal como ele É”: “Todos os propósitos que cumpre um pequeno poço, podemcumpri-los imediatamente um grande depósito de água. Deigual modo, todos os propósitos dos Vedas podem ser cumpridospor aqueles que conhecem o propósito por detrás deles.” É muito audaz esta afirmação do “Bhagavad Gita, talcomo ele É”, porque se o compararmos com as palavrasem Sânscrito, uma por uma, esta é uma das mais “livres”e imprecisas de todas as traduções. Ademais, ocomentário feito pelo autor não tem nada que ver,absolutamente nada, com a máxima. Que seja aBhagavadgita que está em mais casas Ocidentais nãosignifica, nem nada que se lhe aproxime, que seja amelhor. Na minha opinião, é a versão mais dogmática,estreita de pensamento e menos filosófica de quasetodas as que conheço. Literalista e rígida, dentro dodevocional

devocional (bhakti), um perigo, pois, por natureza, odevocional deve ser fluídico e versátil, como o própriomovimento da água que corre, ou da chama que se elevano céu. A versão que foi divulgada “à martelada”, mesmoque entregue gratuitamente, não a torna numa versãomenos sectária, ficando longe de uma interpretaçãológica e natural do texto. Na versão de Gandhi, que além de traduzir adiciona-lhecomentários: “Na medida em que um poço é útil quando uma inundação oinvade todo, na mesma medida os Vedas são úteis para umBrahmane que possui conhecimento.” Na tradução de Adiyen Nasanudasan “Para o Brahmane que conhece o Ser, os Vedas são de um usosemelhante ao de um lago cheio para uma pessoa sedenta.” Na tradução de A. Mahadeva Shastri: “A mesma utilidade que existe num lago, se o compararmoscom uma inundação de água que se espalha por toda parte, amesma (utilidade) existe em todos os Vedas para um Brahmaneiluminado.” Destacamos, como exemplo, entre os comentários, o dogrande Ramanuja (1077-1157), de caráter devocional [3]:

SEMPRE HÁ UM LADO BOM

Arjuna escolheu Krishna para ser o condutor do seu carro.

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“Nem tudo o que é ensinado nos Vedas é oportuno para serpraticado por todos. Um lago que transborda em água éconstruído para todos os tipos de propósitos, como a irrigação,etc. A pessoa sedenta irá usar apenas o que lhe é necessário paramatar a sede, e nunca tudo. Da mesma forma, um aspiranteiluminado que busca a libertação, só levará dos Vedas aquilo quecontribui directamente para a sua Libertação, e nada mais." De outra perspectiva, a do maior dos filósofosVedanticos, Shankaracharya, no seu famoso comentáriosobre a Bhagavadgita, analisando este verso diz: “Qualquer que seja a utilidade – para tomar banho, beber oualgo do género – para o qual ela serve um poço, ou um tanque, oumuitos outros pequenos depósitos de água, todas essasutilidades são apenas, no máximo, as utilidades oferecidas porum fluxo de água que se estende por toda parte; isto é, autilidade do primeiro está incluída na do segundo. Do mesmomodo, qualquer utilidade que exista no ritual Védico estáincluída na utilidade do recto conhecimento de um Brahmaneque renunciou ao mundo e conquistou totalmente a verdade emrelação à Realidade Absoluta; sendo, nesta comparação, talconhecimento a água que transborda por toda parte. O shrutidisse: “Tudo o que de bom as pessoas fazem, tudo isso é possuídopor alguém que sabe o que ele (Raikva) conhece”. O mesmo podeser dito aqui. Deste modo, a um homem que está destinado parao trabalho é necessário realizar trabalhos (que estão aqui nolugar dos poços e tanques de água), antes que ele esteja aptopara a senda do conhecimento”.

As dificuldades em traduzir estes textos deixa-nos claroque estas máximas são diamantes facetados queirradiam luz-verdade em muitas direcções, e que cadaum entende aquela para o qual está preparado, ou queestá mais em concordância com a sua natureza intima. De todas estas interpretações, eu tomarei um texto doprofessor Jorge Angel Livraga (1930-1991), que emboranão seja nenhuma referência explícita à Bhagavadgita,pode acertar, como uma flecha, no alvo com osignificado interno deste shloka. Na sua “Oração doDiscípulo” ele diz: “Senhor, dá-me uma gota do teu entendimento, que será paramim como um mar através do qual navegarei e alcançarei ascostas com que sonho.” Notas[1] Mais especificamente, no Bhismaparva.[2] Mais especificamente, o início do Kaliyuga ou Idade dasTrevas, data-se em 17 de Fevereiro de 3102 a.C., numaconjugação de seis dos nossos planetas no signo de Peixes. A suaduração é estimada de acordo com a cronologia Hindu em432.000 anos.[3] Comentário ligado à tradução de Aniyen Nasanudasan queaparece várias linhas antes.

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Bhagavadgita  faz parte do grande épicoHindu Mahabharata. Neste épico é narrada a luta entredois grupos rivais que disputavam entre si a conquistada gloriosa cidade de Hastinapura. É difícil de identificar exactamente quando é que aBhagavadgita foi escrita, pois as opiniões sobre oassunto são muito diversas. Para alguns, a sua idade éde 5000 anos ou mais, e para outros, é reduzida paraquatro ou dez séculos após a era Cristã. De qualquerforma, não importa especificar a idade desta obra, pois,em última análise, a sua Mensagem é tão antiga quantoo próprio Homem. Através das suas páginas, podemosencontrar não apenas a história do Homem como tal,mas a de todo o universo. Tudo o que existe encontra asua explicação na Bhagavadgita. Isto torna-se mais claro se procurarmos o significadoetimológico da Bhagavadgita: o “Cântico do Senhor” ouo “Cântico do Mestre”. Entendemos por ‘Cântico’ aquelas palavras mágicas daDivindade que, com o seu imenso fluxo de

Divindade que, com o seu imenso fluxo deconhecimento, nos mostram o significado da vida. Estamúsica não é para os ouvidos externos; pois somente osouvidos da alma podem percebê-la e voar com ela. Estaé a melodia perfeita que nos fala sobre a lei do mundo, epoder ouvi-la é começar a viver harmoniosamente deacordo com a lei. À medida que mergulhamos mais profundamente nestaobra, a nossa atenção é atraída por cinco elementossimbólicos de especial importância. A CIDADE DE HASTINAPURA Também chamada de Cidade dos Elefantes ou Cidade daSabedoria. O que representa esta cidade e por quemotivo está relacionada com os elefantes e a sabedoria?Para responder a isto devemos recordar queos Orientais fazem uso de muitos símbolos e que apósanalisar o comportamento, a aparência, a conduta e oscostumes do elefante, eles escolheram-no como umsímbolo da Sabedoria.

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NOTAS SOBRE ABHAGAVADGITAPor Jorge Angel Livraga (1931 - 1991)

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Narayana como Krishna a entregar a Gita Upadesha a Arjuna. Wikipedia

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Apesar da sua aparência grande e pesada, ele caminhadevagar: tem tal sensibilidade que os seus passos nãointerferem no menor carreiro de formigas. Os olhos doelefante são pequenos, eles não se destacam em relaçãoao seu tamanho e, da mesma forma, no Sábio, a visão domundo exterior pouco importa; mas quem poderáabranger o que os seus olhos internos vêem? As orelhassão grandes, acostumadas a ouvir muito, mas também aentender muito. No entanto, quando aquele elefante gentil ouve na selvao grito da sua manada, não há obstáculo capaz de odeter: corre e arrasa tudo para se juntar à voz que ochama. É assim também que o Sábio funciona: quando aVoz Superior o chama para a elevação, não háobstáculos no mundo material que o possam retardar. Sem dúvida, Hastinapura é a Cidade da Sabedoria: oReino que todo o Homem acordado anseia e deveconquistar.

Essa é a única possessão do ser humano, porque não éuma sabedoria perecível ou fruto de uma culturaespecífica. É o Conhecimento Eterno que não mudacom o tempo. É o que forma a essência de todas ascoisas: ele nunca nasceu e também não morrerá. OS KURUS OU KAURAVAS Eles simbolizam a personalidade do Homem com osseus múltiplos defeitos. É a imagem do ser mundano,totalmente dividido na ânsia de responder àsnumerosas solicitações. Ele é o Homem que, tãopreocupado com o que vê fora de si, se esquece de olharpara dentro. É aquele que perdoa os seus vícios porquese sente mais à vontade em não lutar contra eles. Ele équem silencia, pela força, a voz da sua consciência,porque dói ser-se imperfeito, porque o incomoda aquiloque ouve; mas, ao mesmo tempo, sofre quando imaginaqualquer esforço para se corrigir.

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Yudhishthira, o mais velho dos cinco Pandavas, chega a Hastinapura no final da guerra de Kurukshetra no épico Mahabharata. Wikipedia

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Esse conforto, essa inércia, são sinais de morte, porquese a cidade de Hastinapura, a dos altos ideais, não forconquistada, onde viveremos quando a personalidademorrer? OS PANDAVAS É a imagem de toda a humanidade. Cada um de nóstrava, ou algum dia travará, a mesma batalha que Arjuna.Quem nunca sentiu o desejo de vencer? Quem nãoentendeu que esta superação é acompanhada deesforço e dor? Quem, em algum momento, não seassombrou perante esta perspectiva? ARJUNA Mentiríamos se disséssemos que nunca nos sentimosabatidos perante as dificuldades. Mas tambémmentiríamos se tentássemos convencer-nos de que émelhor não lutar. Há algo que nos faz sentir maisseguros, mais acompanhados: o saber que não estamossozinhos na luta. Se nos virarmos e perguntarmos aquem está ao nosso lado, veremos que de maneirasemelhante à nossa, esse ser também está a travar assuas batalhas. Sentir e saber que toda a Humanidade trabalha para asuperação, é o maior incentivo que podemos ter paranos unirmos e a não perdermos um instante, porqueuma fraqueza nossa poderia pôr em causa o trabalho domundo. E não vamos pensar apenas nos Homens. Já vimos umaplanta crescer e observámos a paciência que uma florprecisa de ter até se abrir? Se toda a Natureza colaborano mesmo plano, o Homem, sendo dotado de razão evontade, vai desistir? Não. Não vamos desanimar. Apequena derrota de um dia não significa a batalhaperdida. A batalha é vencida dia após dia, semeandoesforços, ganhando vida. O Homem, para ser chamadoassim, deve ganhar este nome com trabalho. Não sãoHomens todos os que nascem, mas sim aqueles que sefazem a si mesmos. Não vamos pensar que estas sãopalavras vazias; também não acreditamos que seconsiga alguma coisa aprendendo-as de cor: énecessário vivê-las. Sentir os “puxões” do que estáacima e do que está abaixo diariamente, e ir traçando ocaminho.

Seguir esta Voz significa levantarmo-nos com esforçodas nossas próprias ruínas e reconstruirmo-nos, masdesta vez para cima. O Homem percebe o Divino ecompadece-se da sua pobre condição humana, anula-a,reconstrói-a, aperfeiçoa-a, até que se assemelhe aomodelo proposto. KRISHNA Representa, na  Bhagavadgita, a encarnação daDivindade Suprema, mas ele também é o Mestre, oconselheiro que abre o caminho a Arjuna. Possivelmenteacreditamos que na rotina da nossa vida diária nãoencontraremos nenhum Krishna para nos ajudardurante a batalha, mas pensemos um pouco melhor: nãovamos procurar um Krishna exterior, porque seaprendermos a conhecer o nosso Eu Superior,encontraremos o Grande Mestre. Como reconhecer onosso Eu Superior? Quando nos tocam o coraçãopalavras de amor, de arrependimento pelos erros, detotal altruísmo; quando ouvimos palavras que nosenvergonham por vivermos de forma tão antagónica aestas; quando tentamos afogar esta voz, porquepensamos que obedecer-lhe representa um sacrifício,então, este é o Eu Superior que nos está a falar. Sim, ésem dúvida difícil agir de acordo com a voz doaltruísmo. É possível que no início da luta haja maisdores do que alegrias. Mas, no final deste caminho, aFelicidade Suprema espera-nos: sermos nós mesmos,permitirmo-nos caminhar na  direcção  desse Eu que énaturalmente capaz de percorrer o Caminho.

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O QUE É O KARMA?EXCERTO DO LIVRO A CHAVE PARA A TEOSOFIA, EDIÇÃO DA NOVA ACRÓPOLE

Por Helena Petrovna Blavatsky

NQUIRIDOR.: Mas o que é o Karma? TEÓSOFO.: Como já lhe disse, nós consideramo-lo a LeiÚltima do Universo, a raiz, a origem e a fonte de todasas outras leis que existem por toda a Natureza.O Karma é a lei infalível que ajusta o efeito à sua causa,nos planos físico, mental e espiritual da existência. Ecomo nenhuma causa deixa de produzir o seu devidoefeito, da maior à menor, desde a perturbação cósmicaaté ao movimento da sua mão, e como tudo produzaquilo que lhe é semelhante, o  Karma  é aquela leiinvisível e desconhecida que ajusta sábia, inteligentee equitativamente todo o efeito à sua causa, rasteando aúltima até ao seu produtor. Ainda que esta seja em simesma incognoscível, a sua acção é perceptível.  INQ.: Portanto, este é, uma vez mais, o «Absoluto», o«Incognoscível», não constituindo uma mais-valiaenquanto explicação para os problemas da vida. TEÓ.: Pelo contrário. Pois ainda que não saibamos o queé o  Karma  per se  e na sua essência, sabemos,  defacto,  como  é que ele age, podendo assim definir edescrever o seu modo de acção com exactidão.

descrever o seu modo de acção com exactidão.Só  não  conhecemos a sua  Causa  última, da mesmaforma que a filosofia moderna admite universalmenteque a Causa última de uma coisa é «incognoscível».  INQ.: E o que tem a Teosofia a dizer como resposta àsnecessidades mais práticas da humanidade? Queexplicação é que esta oferece perante o terrívelsofrimento e a horrível necessidade que prevalecementre as chamadas «classes inferiores»?  TEÓ.: Para ser exacta, de acordo com a nossa doutrina,todos estes grandes males sociais – a distinção declasses na Sociedade e a dos géneros nas questõesquotidianas, bem como a distribuição desigual dodinheiro e do trabalho – devem-se todos àquilo que,concisa mas verdadeiramente, denominamosde KARMA. INQ.: Mas não corresponderão certamente todos estesmales, que parecem abater-se sobre as massas de formaalgo indiscriminada, ao Karma  efectivamente merecidoe INDIVIDUAL.

I

Edição de 1952 do livro A Chave da Teosofia, de HPB

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H. P. Blavatsky (1831-1891) foi, no seu tempo, um ser humano dotado de um conhecimento inigualável, mas, acima de tudo, oque a destaca é a sabedoria, uma sabedoria revestida da humildade de um mestre – que era – que sempre se intitulou dediscípulo, atribuindo todo o saber que transmitia aos seus Mestres. Muitas foram as obras e inumeráveis os artigos que deixou.Entre eles conta-se “A Chave para a Teosofia”, uma obra muito especial em que, sob a forma de entrevista, H. P. Blavatskysintetiza o seu trabalho, os seus desígnios e os mais importantes conceitos daquilo que Ela denomina “Religião-Sabedoria”, ouseja, o religare do ser humano consigo mesmo e com toda a existência, através da Sabedoria. A versão integral desta obrasurge, assim, pela primeira vez, em língua portuguesa, trazida pela Nova Acrópole e pelo Agnimile: Círculo de EstudosOrientais, por se considerar uma jóia do conhecimento e por representar, ao mesmo tempo, o sonho de H. P. Blavatsky – que oé, na verdade, de toda a humanidade – de se chegar a uma consciência mais luminosa e mais fraterna. Encomendas em www.nova-acropole.pt

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TEÓ.: Não, estes não podem ser assim tão estritamentedefinidos nos seus efeitos, a ponto de nosdemonstrarem que cada ambiente individual e que ascondições particulares da vida onde cada pessoa seencontra não sejam mais do que o  Karma  retributivoque o indivíduo gerou numa vida passada. Não nospodemos esquecer do facto de que todo o átomo estásujeito à lei geral que governa a totalidade do corpo aoqual pertence e aqui entramos no mais amplo rasto dalei  Kármica. Não se apercebe de que o agregadodos Karmas  individuais se converte naquele da nação àqual estes indivíduos pertencem e que, posteriormente,a soma total dos Karmas Nacionais se converte naqueledo Mundo? Os males que mencionou não sãoparticulares nem do indivíduo, nem sequer da Nação,mas são mais ou menos universais, e é sobre esta amplalinhagem da interdependência Humana que a leido  Karma  encontra a sua descendência legítima euniforme. INQ.: Deverei compreender, portanto, que a leido Karma não é necessariamente uma lei individual?  TEÓ.: Foi precisamente isso que eu quis dizer. Seriaimpossível que o  Karma  pudesse reajustar o equilíbriodo poder na vida e no progresso do mundo, a não serque possuísse uma linha de acção vasta e geral. Éconsiderada uma verdade entre os Teósofos que ainterdependência da Humanidade é a causa daquilo queé chamado  Karma  Distributivo e é esta lei que dáresposta à grande questão do sofrimento colectivo e doseu alívio. Aliás, é uma lei oculta aquela que determinaque nenhum homem pode sobrepor-se às suasimperfeições individuais, sem elevar, por pouco queseja, todo o corpo do qual é parte integrante. Da mesmaforma, ninguém poderá pecar, nem sofrer os efeitos deum pecado, sozinho. Na verdade, não existe tal coisacomo o «Separatismo»; e aquilo que mais se aproximadeste estado egoísta, dentro do que as leis da vidapermitem, está na intenção ou motivo. INQ.: E será que não existem meios através dos quaiso Karma distributivo ou nacional possa ser concentradoou reunido, por assim dizer, e ser levado à sua execuçãonatural e legítima sem todo este sofrimentoprolongado? TEÓ.: Regra geral, e dentro de certos limites quedefinem a época a que pertencemos, a lei do Karma nãopode ser acelerada nem retardada na sua execução. Masde uma coisa estou certa, o limite da possibilidade deambas as direcções nunca foi alcançado. Escute o s

ambas as direcções nunca foi alcançado. Escute oseguinte recital de um momento do sofrimento nacionale depois pergunte-se a si mesmo, admitindo o poder deacção do  Karma  individual, familiar e distributivo, senão é possível modificar extensivamente e, de umaforma geral, aliviar estes males. Aquilo que estouprestes a ler-lhe é da pena de uma Salvadora da Pátria,uma que, tendo-se superado a Si mesma, e tornando-selivre de escolher, elegeu servir a Humanidade,suportando sobre os seus ombros, pelo menos tantoquanto os de uma mulher podem suportar,o Karma Nacional. Isto é o que ela diz: Sim, de facto a Natureza fala-nos sempre,não acha? Só que às vezes fazemos tanto barulho queabafamos a sua voz. É por isto que é tão relaxante sair dacidade para nos aninharmos um pouco nos braços da Mãe.Recordo-me da tarde em Hampstead Heath, quandocontemplámos o pôr-do-sol; Oh, mas tamanho era osofrimento e a miséria entre os quais este sol se punha! Umasenhora trouxe-me ontem uma grande cesta de floressilvestres. Achei que parte da minha família do East End deLondres tinha mais direito a ela do que eu, portanto levei-asesta manhã para uma paupérrima escola em Whitechapel.Gostaria que tivesse visto como aquelas caras pálidas seiluminaram! A seguir ofereci refeições a algumas crianças numa cantina.Era numa rua traseira, estreita e cheia de pessoas aosencontrões; havia um cheiro indescritível a peixe, carne eoutros alimentos, tudo a fumegar sob um sol que, emWhitechapel, em vez de purificar, apodrece. A cantina era aquinta-essência de todos os odores. Pastéis de carneindescritíveis a 1  penny  cada, pedaços de «comida»repugnantes e enxames de moscas, um autêntico altar deBelzebu! Por toda a parte, criancinhas à procura de restos,uma delas, com a face de um anjo, reunia caroços de cerejacomo forma de dieta leve e nutritiva. Voltei para o Oeste com todos os nervos em franja,questionando-me se se poderia fazer alguma coisa com certaszonas de Londres, excepto engoli-las num terramoto e daraos seus habitantes um novo começo, depois de um mergulhonalgum Letes purificador, de onde nenhuma memóriapudesse emergir! E depois recordei-me de Hampstead Heath,e – reflecti. Se através de algum sacrifício, alguém pudesseadquirir o poder de salvar esta gente, o custo não mereceriaser contabilizado; mas, sabe, ELES também têm de mudar –mas como é que isto pode ser feito? Na sua actual condição,não serão capazes de beneficiar de nenhum ambiente onde seos colocasse; e, ainda assim, nas suas circunstâncias actuais,continuariam a putrefazer-se. Isto quebra-me o coração, estamiséria sem fim e sem esperança, e a sua brutal degradação,que é simultaneamente a sua expansão e a sua raiz. É comouma continuariam a putrefazer-se. Isto quebra-me o coração,esta miséria sem fim e sem esperança, e a sua brutaldegradação, que é simultaneamente a sua expansão e a suaraiz. É como uma figueira; cada ramo enraíza-se e projectanovos

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degradação, que é simultaneamente a sua expansão e a suaraiz. É como uma figueira; cada ramo enraíza-se e projectanovos rebentos. Que tamanha diferença existe entre estessentimentos e a pacífica cena de Hampstead! E, no entanto,nós, que somos os irmãos e as irmãs destas pobres criaturas,somos os únicos que têm direito a utilizar  HampsteadHeaths para recuperar forças e salvar Whitechapels. [1] INQ.: Esta é uma triste mas belíssima carta e julgo querepresenta com dolorosa veracidade a terrível obradaquilo a que chamou  Karma  «Familiar» e«Distributivo». Oh! Parece não haver esperança denenhum alívio breve, para além daquela de umterramoto ou de algum tipo de afundamento geral. TEÓ.: Que direito temos nós de pensar assim, quandometade da humanidade se encontra em situação depoder gerar um alívio imediato das privações sofridaspelos seus semelhantes? Quando todo o indivíduo tivercontribuído com o que puder para o bem comum, comdinheiro, com trabalho e com um pensamentoenobrecedor, então, e só então, é que o equilíbriodo  Karma  Nacional será alcançado. Até lá, não temosquaisquer razões, ou o direito, de dizer que existe maisvida na Terra do que aquela que a Natureza podesuportar. Está reservado às almas heróicas, aosSalvadores da nossa Raça e Nação, o encontrar da causapara esta pressão desigual do  Karma  retributivo e oreajustar, através de um esforço supremo, o equilíbriodo poder e salvar as gentes de um afundamento moral,que é um mal mil vezes mais desastroso e permanentedo que uma catástrofe física equivalente e na qual vocêparece encontrar a única saída possível para estamiséria acumulada.  INQ.: Bom, diga-me, então, como é que vocês definemgeralmente esta lei do Karma?  TEÓ.: Nós definimos o  Karma  como a Lei dereajustamento, que tende sempre a restabelecer oequilíbrio que foi perturbado no mundo físico e aharmonia que foi interrompida no mundo moral.Também dizemos que o Karma  nem sempre age destaou daquela maneira, mas que age sempre por forma arestaurar a Harmonia e preservar a balança doequilíbrio, em virtude do qual o Universo existe.  INQ.: Dê-me um exemplo.  TEÓ.: Dar-lhe-ei, mais adiante, um exemplo completo.Agora, imagine um lago. Uma pedra cai na água fazendocom que esta se agite em ondas.

Estas ondas oscilam para a frente e para trás até que,por fim, graças àquele processo que os físicos definemcomo lei de dissipação da energia, são levadas à suaestabilidade, e a água regressa à sua condição de serenatranquilidade. Da mesma forma, toda a acção, em todosos planos, produz agitação na perfeita harmonia noUniverso e as vibrações produzidas continuarão aenrolar-se para a frente e para trás, se a sua área forlimitada, até que o equilíbrio seja restaurado. Mas umavez que cada uma destas agitações tem início emlugares específicos, torna-se óbvio que o equilíbrio e aharmonia só podem ser restaurados se todas estasforças que foram colocadas em movimentoconvergirem  para o mesmo lugar  de onde partiram. Eaqui tem a prova de como as consequências das acções,pensamentos, etc., de um homem, reagirãosobre ele com a mesma força com que foram colocadasem movimento. INQ.: Mas não vejo nenhum carácter moral nesta lei.Parece-me tratar-se simplesmente de uma lei físicaonde a acção e a reacção são iguais e opostas.  TEÓ.: E não me surpreende que o diga. Os Europeusapegaram-se demasiadamente ao hábito inveterado deconsiderarem o certo e o errado, o bem e o mal, comotópicos de um código legislativo arbitrário, querestabelecido pelos homens, quer imposto sobre eles porum Deus Pessoal. Contudo, nós, Teósofos, dizemos queo «Bem» e a «Harmonia», tal como o «Mal» e a«Desarmonia», são sinónimos. Para além disto,acreditamos que toda a dor e sofrimentos são resultadode uma falta de Harmonia e que a única e terrível causada perturbação da Harmonia é, sob que forma for,o egoísmo. Como tal, o Karma retribui a todo o homemas consequências exactas das suas próprias acções, semolhar ao seu carácter moral; mas uma vez que elerecebe o que lhe é devido por tudo o que faça, é óbvioque tanto será obrigado a expiar todo o sofrimento quecausou, quanto a colher em alegria e felicidade os frutosde toda a felicidade e harmonia que ajudou a produzir.Mas para o ajudar a compreender, o melhor a fazer écitar-lhe certos passos de livros e artigos escritos pelosnossos Teósofos – daqueles que têm uma noçãocorrecta do Karma. INQ.: Gostaria muito que o fizesse, uma vez que a vossaliteratura parece ser muito poupada neste tema. TEÓ.:Porque esta é a mais difícil de todas as nossas doutrinas.Há pouco tempo, apareceu a seguinte crítica da pena deum Cristão:

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Admitindo-se que o ensinamento Teosófico em questão estácorrecto e que o «Homem deve ser o seu próprio salvador,deve vencer-se a si mesmo e conquistar o mal que existe nasua natureza dual, por forma a obter a emancipação da suaalma», o que fará o Homem uma vez que tenha despertado e,até certo ponto, se tenha reconvertido, do mal e daperversidade? Como é que ele alcançará a emancipação ou operdão ou a remissão do mal e da perversidadeanteriormente cometidos? A isto, o Sr. J. H. Connelly [2]  responde, com muitapertinência, que ninguém poderá esperar «operar omecanismo teosófico sobre carris teológicos.» Ele diz oseguinte: A possibilidade de nos furtarmos à nossa responsabilidadeindividual não existe dentro dos conceitos da Teosofia. Nestafé não existe tal coisa como o perdão, ou a «remissão do mal eda perversidade anteriormente cometidos», que não sejamfeitos através de uma punição adequada, claro está, doinfractor e de um restabelecimento da harmonia que nouniverso tenha sido perturbada pelas suas más acções. O errofoi seu, e ainda que os outros possam sofrer as suasconsequências, a expiação não pode ser feita por ninguémsenão por ele mesmo. A suposta condição (…) na qual um homem tenha «despertadoe, até certo ponto, que se tenha reconvertido, do mal e daperversidade», é aquela onde um homem deverá tercompreendido que as suas acções são más e merecedoras decastigo. Nesta compreensão, um sentimento deresponsabilidade pessoal é inevitável e o alcance destesentimento de terrível responsabilidade terá de sernecessariamente proporcional ao seu despertar e«reconversão». Mas, logo após esta compreensão do erro, eleé levado a aceitar a doutrina da expiação vicária. É-lhe dito, igualmente, que deve arrepender-se, mas nãoexiste nada mais fácil do que isso. É uma adorável fraqueza danatureza humana, aquela de estarmos tão dispostos alamentar o mal que fizemos quando somos chamados àatenção, quer quando sofremos, quer quando usufruímos dosseus frutos. Provavelmente, uma análise mais aprofundada dosentimento demonstrar-nos-ia que nos arrependemos maisda aparente necessidade de recorrermos ao mal, como meiode atingirmos os nossos objectivos, do que propriamente domal em si mesmo. Por mais atractiva que seja para a mente comum estaperspectiva de se lançarem «aos pés da cruz» o fardodos nossos pecados, esta não serve ao estudanteteosófico. Ele não compreende como é que o pecador,apenas por ter adquirido conhecimento sobre a suamaldade, possa tornar-se merecedor de qualquerperdão ou remissão da sua perversidade passada; nemcomo é que o arrependimento e a vida recta que esteagora inicia, podem suspender, a seu favor, a leiuniversal da relação entre a causa e o efeito. Oresultado das suas más acções continuará a existir e osofrimento causado aos outros por maldade não éremido. O estudante teosófico considera, na suaequação, o resultado que a perversidade tem sobre oinocente. Ele não considera apenas o pecador, mas

agora inicia, podem suspender, a seu favor, a leiuniversal da relação entre a causa e o efeito. Oresultado das suas más acções continuará a existir e osofrimento causado aos outros por maldade não éremido. O estudante teosófico considera, na suaequação, o resultado que a perversidade tem sobre oinocente. Ele não considera apenas o pecador, mastambém as suas vítimas. O mal é uma infracção das leis da harmonia quegovernam o universo, como tal, a pena deve recair sobreo violador destas leis. Cristo alertou: «Não peques mais,para que não te aconteça coisa ainda pior»[3], S. Paulodisse: «trabalhai com temor e tremor pela vossasalvação»[4], «Pois o que um homem semear, também ohá-de colher»[5]. Esta última, aliás, é umaextraordinária tradução metafórica de uma mais antigafrase dos  Purānas, que diz: «o homem come dos seusactos».[6] Este é o princípio da Lei do Karma, tal como é ensinadopela Teosofia. Sinnett, no seu Esoteric Buddhism, defineo Karma como «a lei da causalidade ética», mas «lei daretribuição», como a Madame Blavatsky o traduz, estámais correcto. Este poder: E mais. O  Karma  recompensa o mérito tão infalível eamplamente quanto castiga o demérito. É o resultadode toda a acção, pensamento, palavra e feito, e atravésdele moldam-se os homens, bem como as suas vidas eocorrências. A filosofia Oriental rejeita a ideia da criaçãode uma nova alma para cada recém-nascido. Estaacredita num número limitado de mónadas, queevoluem e se tornam cada vez mais perfeitas através daassimilação de personalidades sucessivas. Estaspersonalidades são o produto do  Karma  e é atravésdo  Karma  e da reencarnação que a mónada humanaregressa, no tempo devido, à sua origem – a divindadeabsoluta.[8]

«Justo, embora misterioso,guia-nos à perfeiçãoPor caminhos onde não pisaramnem a Culpa, nem a Punição.»[7]D a v i d M a l l e t ,E u r y d i c e . A T r a g e d y

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E. D. Walker, no seu Reincarnation[9], dá-nos a seguinteexplicação: Resumindo, a doutrina do  Karma  ensina que somos hojeaquilo que fizemos de nós próprios com as acções do passadoe que construímos a nossa eternidade futura com as acçõesdo presente. Não existe destino para além daquele que nóspróprios determinamos. Não existe outra salvação nemcondenação que não seja aquela que provocamos. (…) Comoesta doutrina não dá abrigo a acções condenáveis, e comoexige uma virilidade genuína, é menos atractiva para asnaturezas fracas do que os fáceis dogmas religiosos daexpiação vicária, do perdão e das conversões no leito demorte. (…) Naquilo que diz respeito à justiça eterna, a ofensa eo castigo estão inseparavelmente unidos como uma sóocorrência, pois não existe real diferença entre a acção e asua consequência. (…) É o  Karma, ou as nossas acçõespassadas, aquilo que nos traz novamente à vida terrena. Amorada do espírito muda conforme o seu  Karma, eeste  Karma  proíbe qualquer continuação prolongada numaúnica condição, pois este está sempre em mudança. Enquantoa acção for governada por motivos materiais e egoístas, oefeito desta acção continuará a manifestar-se emrenascimentos físicos. Só o homem perfeitamente altruísta éque pode esquivar-se à gravitação da vida material. Poucos oconseguiram fazer, mas é este o objectivo da humanidade. Connelly cita o seguinte, da Doutrina Secreta: Aqueles que acreditam no  Karma  têm também de acreditarno  destino, o qual, desde o nascimento até à morte, todo ohomem tece em seu redor, fio a fio, tal como uma aranha fazcom a sua teia; e este destino tanto é guiado pela voz celestedo protótipo  invisível que nos é exterior, quanto pelo nossomais familiar homem interior astral, que é frequentemente omau génio da entidade encarnada chamada de homem. Ambosguiam o homem exterior, mas só um deles é que podeprevalecer; e desde o início da rixa invisível que a severa eimplacável lei da compensação  intervém e segue o seu curso,acompanhando fielmente as suas flutuações. Quando é tecidoo último fio e o homem fica aparentemente envolto na teiados seus próprios actos, ele fica totalmente dominado peloimpério do seu destino autocriado. (…) Um Ocultista ou um Filósofo não falarão nem na bondadenem na crueldade da Providência; pelo contrário,identificando-a com o  Karma-Némesis, ensinará que esta,independentemente de tudo o resto, protege os bons e velapor eles nesta vida, tal como o fará nas vidas futuras; e quecastiga os malfeitores – sim, até ao seu sétimo nascimento.Até que, resumindo, os efeitos produzidos pela suaperturbação, até do seu menor átomo, do Infinito Mundo daharmonia, tenham sido finalmente corrigidos. Pois o únicodecreto do  Karma  – um decreto eterno e imutável – é aHarmonia absoluta, tanto no mundo da matéria, quanto nomundo do Espírito. Portanto, não é o Karma que recompensaou que castiga, mas somos nós próprios que nosrecompensamos ou castigamos, dependendo de setrabalhamos com a natureza, através dela e

recompensamos ou castigamos, dependendo de setrabalhamos com a natureza, através dela e juntamente comela, obedecendo às leis das quais depende esta Harmonia, ouse as quebramos. Nem os caminhos do  Karma seriamimpenetráveis se os homens trabalhassem em união eharmonia, em vez de o fazerem em desunião e conflito. Pois anossa ignorância sobre estes caminhos – a que uma parte dahumanidade chama de desígnios da Providência, obscuros ecomplexos; outra vê neles a acção do Fatalismo cego; e umaterceira, só como possibilidade, não lhe daria deuses nemdemónios por guia – certamente desapareceria, se fôssemoscapazes de os atribuir a todos à sua verdadeira causa. (…) Admiramo-nos perante o mistério da nossa própria criação edos enigmas da vida que não somos capazes de resolver edepois queixamo-nos de ser devorados pela grande Esfinge.Mas, na verdade, não existe um único acidente nas nossasvidas, um mau dia, ou um só azar, que não possa ser traçadoaté às nossas próprias acções nesta ou noutra vida. (…) A Lei do  KARMA  está indestrinçavelmente entrelaçada comaquela da Reencarnação. (…) só esta doutrina, mantemos, écapaz de nos explicar o misterioso problema do Bem e do Male reconciliar o homem com a terrível e aparente  injustiça davida. Nada além de tal certeza é capaz de acalmar o nossorevoltado sentimento de injustiça. Porque, quando aquele quenão está familiarizado com esta nobre doutrina olha à suavolta e observa as desigualdades de nascimento e de fortuna,de intelecto e capacidade; quando vê serem dadas honras atolos e a depravados, a quem a fortuna prestou os seusfavores por mero privilégio de nascimento, enquanto que osseus vizinhos mais próximos, com todo o seu intelecto enobreza de virtudes – que, por todas as razões, mais amereciam – morrem de fome e falta de simpatia; quando vêtudo isto e tem de virar-lhes a cara, incapaz de aliviar osofrimento imerecido, com zumbido nos ouvidos e dor nocoração devido aos gritos de dor que o rodeiam – só esteabençoado conhecimento do  Karma  o pode prevenir deamaldiçoar a vida e os homens, bem como o seu supostoCriador.[10] (…) Esta Lei – quer Consciente, quer Inconscientemente – nãopredestina nada nem ninguém. Esta existe, verdadeiramente,da e na Eternidade, pois é a própria ETERNIDADE; e, comotal, uma vez que nenhum acto pode ter a mesma natureza quea eternidade, não se pode dizer que aja, porque é a própriaACÇÃO. Não é a Onda que afoga o homem, mas sim oacto  pessoal  do infeliz que se coloca, deliberadamente, a simesmo sob a acção  impessoal  das leis que governam omovimento do Oceano. O Karma não cria nem projecta nada.É o homem quem projecta e cria as causas, a lei Kármica  sóajusta os seus efeitos; cujo ajustamento não é uma acção, masharmonia universal, que tende sempre à recuperação da suaposição original, como um ramo que, ao ser demasiadamentedobrado, ressalta com um vigor correspondente.

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Helena Petrovna Blavatsky em 1877

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Se provocasse a deslocação do braço que o tentou desviar dasua posição natural, diremos que foi o ramo que deslocou onosso braço ou que foi a nossa própria insensatez que noscausou a dor? O Karma nunca pretendeu destruir a liberdadeintelectual e individual, como o Deus inventado pelosMonoteístas. Este não envolveu os seus decretos na escuridãocom o propósito de confundir o homem; nem castigará aqueleque ousar penetrar nos seus mistérios. Pelo contrário, aqueleque desvela, através do estudo e da meditação, os seusconfusos caminhos e derrama luz sobre as suas vias obscuras,em cujos enroladouros tantos homens perdem a vida devidoao tão ignorantes que são sobre o labirinto da vida, trabalhapara o bem dos seus semelhantes. O  KARMA  é uma leiAbsoluta e Eterna no Mundo da manifestação; e como só podeexistir um Absoluto, assim como Uma Causa eternamentepresente, os crentes no  Karma  não podem ser consideradosnem Ateus, nem materialistas – e ainda menos, fatalistas[11]:porque o Karma é uno com o Desconhecido, do qual ele é umaspecto dos seus efeitos no mundo fenoménico.[12] Outro competentíssimo escritor Teosófico, o Sr. P.Sinnett, no Purpose of Theosophy, diz[13]: Todo o indivíduo cria Karma, quer bom, quer mau, em todasas acções e pensamentos da sua ronda diária e dissolve nestavida, simultaneamente, o  Karma  gerado pelas acções edesejos da última. Quando vemos pessoas afligidas pordoenças congénitas, podemos assumir, com algumasegurança que estas doenças são os inevitáveis resultados decausas que elas mesmas geraram num nascimento anterior.Poder-se-á argumentar que, como estas doenças sãohereditárias, não podem ter nada que ver com umaencarnação passada; mas devemos recordar-nos de que esteEgo, o Homem real, a individualidade, não tem uma origemespiritual na linhagem onde encarnou, mas sim que é atraído– pelas afinidades que, no seu anterior modo de vida, trouxedo seu entorno para a cadeia que o transporta –, quandochega a hora de renascer, para o lar mais apropriado para odesenvolvimento dessas tendências. (…) Esta doutrina do  Karma, se bem entendida, está feita paraguiar e auxiliar aqueles que compreendem a sua verdade,num modo de vida superior e melhor, pois não nos deveremosesquecer de que, não só as nossas acções, mas também osnossos pensamentos, são inquestionavelmente seguidos poruma multidão de circunstâncias que influenciarão, para obem e para o mal, o nosso próprio futuro e, mais importanteainda, o futuro de muitos dos nossos companheiros. Se ospecados por omissão ou comissão pudessem, de algumaforma, dizer respeito só a nós próprios, a questãodo Karma do pecador seria da menor importância. O facto decada pensamento e acção, bons ou maus, gerarem ao longo davida uma influência correspondente sobre os outrosmembros da família humana, permite-nos ir desenvolvendoum rigoroso sentido de justiça, de moralidade e de altruísmo,tão necessários à felicidade e ao progresso futuros. Umcrime, uma vez cometido, ou um mau pensamento projectadopela mente, tornam-se irrevogáveis – nenhumarrependimento, maior ou menor, poderá impedir os seusresultados no futuro. O arrependimento, se for sincero,impedirá o homem de repetir os seus erros; mas não o poderásalvar, nem a si, nem aos outros, dos efeitos daqueles que jáforam cometidos, que o alcançarão, infalivelmente, nesta vidaou na próxima encarnação.[14]

arrependimento, maior ou menor, poderá impedir os seusresultados no futuro. O arrependimento, se for sincero,impedirá o homem de repetir os seus erros; mas não o poderásalvar, nem a si, nem aos outros, dos efeitos daqueles que jáforam cometidos, que o alcançarão, infalivelmente, nesta vidaou na próxima encarnação.[14] O Sr. J. H. Connelly prossegue: Aqueles que crêem numa religião baseada em tal doutrinamal podem esperar por compará-la com outra onde o eternodestino do homem seja determinado pelos acasos de umaúnica e breve existência terrena, durante a qual lhe éoferecida a promessa de que «como cai a árvore, é comofica»[15]; na qual a sua mais iluminada esperança, quandonele desperta o conhecimento da sua maldade, é aquela dadoutrina da expiação vicária, mas onde até esta é falível, pelomenos a julgar pela Confissão de Fé Presbiteriana: «Pelo decreto de Deus e para a manifestação da sua glória,alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vidaeterna e outros preordenados para a morte eterna. Estes homens e estes anjos, assim predestinados e preordenados,são particular e imutavelmente designados; o seu número é tãocerto e definido que não pode ser nem aumentado nemdiminuído. (…) Como Deus destinou os eleitos para a glória (…)não há nenhum outro que seja remido por Cristo, que sejaeficazmente chamado, justificado, adoptado, santificado ousalvo, além dos eleitos. Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pelaqual ele concede ou recusa a misericórdia conforme lhe apraz,para a glória do seu soberano poder sobre as suas criaturas, oresto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, decidiuDeus não contemplar e ordená-los para a desonra e para a irapor causa dos seus pecados.»[16] Isto é o que o hábil defensor diz. Nem nos resta nadamelhor a fazer do que encerrar este tema, como ele faz,com a citação de um poema magnífico. Conforme assuas palavras: A requintada beleza da descrição do Karma de Edwin Arnold,no  The Light of Asia, é tentadora a ponto de a querermosreproduzir aqui, mas é demasiado longa para uma citaçãocompleta. Segue-se uma porção da mesma: «O Karma – toda essa soma de uma almaQue é as coisas que fez e os pensamentos pensados, O «Eu» que teceu, com a trama do tempo sem-fimAtravessada sobre a urdidura invisível dos actos. Antes do princípio e sem fim, Como espaço eterno e, com certeza, guiado,É fixado um Poder divino dirigido ao bem,E apenas as suas leis perduram.Ele não esquecerá ninguém;Quem o contraria só perde, e quem o serve sai vitorioso;

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Ao bem oculto ele paga com paz e bem-aventurança, Ao mal escondido, com dor.Ele tudo vê e tudo regista;Faz o bem – ele recompensa! Faz um malE retribuição igual será preparada,Ainda que o Dharma se demore.Ele não conhece a ira nem o perdão, verdade verdadeira!A sua fita mede, a sua irrepreensível balança pesa;Para ele o tempo é nada, amanhã julgará,Ou daqui a muitos dias.Tal é a lei que caminha para a justiça,Da qual ninguém se desvia, a qual ninguém impede.  O seu coração é amor, a sua metaÉ doce paz e realização. Obedece.»[17] Ora, peço-lhe que compare as nossas opiniõesTeosóficas sobre o Karma, a lei da Retribuição, e que mediga se não são muito mais filosóficas e justas do queeste dogma cruel e absurdo que transforma «Deus»num insensato inimigo; nomeadamente, naquele dogmaonde «só os eleitos» é que serão salvos, e tudo o restocondenado à perdição eterna! INQ.: Sim, compreendo o que quer dizer; mas gostariaque me desse um exemplo concreto da acção do Karma. TEÓ.: Isso não posso fazer. Só podemos ter a certeza,como já tive oportunidade de lhe dizer, que as nossasvidas e circunstâncias presentes são o resultado directodas nossas próprias acções e pensamentos em vida, quejá são passado. Mas nós, que não somos nem Videntes,nem Iniciados, não podemos saber nada sobre osdetalhes da acção da lei do Karma. INQ.: Poderá alguém, ainda que de entre Adeptos ouVidentes, seguir este processo  Kármico  dereajustamento em todo o seu detalhe? TEÓ.: Certamente. «Aqueles que sabem» podem fazê-lo,através da exercitação de poderes que, aliás, existem deforma latente em todos os homens. Notas:Este artigo foi traduzido por Ricardo Louro Martins, Membro-Voluntário da Nova Acrópole, que elaborou também as seguintesnotas.[1]  Assinado por um nome demasiadamente respeitado e bemconhecido para que seja dado a qualquer um. (N. da A.)[2] James Henderson Connelly (1840-1903). (N. do T.)[3] João 5.14. (N. do T.)[4] Filipenses 2.12. (N. do T.)[5] Gálatas 6.7. (N. do T.)

[6] Visnupurāna 1.1.17: «yatah svakrtabhuk pumān». (N. do T.)[7] David Mallet, Eurydice. A Tragedy, London, A. Millar, 1731, p. 58. (N.do T.)[8] Ver «Theosophy and Christianity irreconcilable»,  The HomileticReview  29, 1895; J. A. Anderson, «From Orient to Occident:Karma», The New Californian 1.2, 1891; etc. (N. do T.)[9] Reincarnation: A Study of Forgotten Truth, New York, AmericanPublishers Co., 1888, pp. 299-300, 302-303. (N. do T.)[10] Aqueles que rejeitam a doutrina do Karma devem recordar-se dofacto de  ser absolutamente impossível  tentar responder aosPessimistas com outros dados. Uma compreensão firme dos princípiosda Lei  Kármica  derruba toda a base da estrutura criada pelosdiscípulos de Schopenhauer e von Hartmann. (N. da A.)[11] Alguns Teósofos, por forma a tornar o Karma mais compreensívelà mente Ocidental, uma vez que esta está mais acostumada à filosofiaGrega do que à Ária, tentaram traduzi-lo por  Némesis. Tivesse estasido compreendida na Antiguidade pelos profanos, como o foi pelosIniciados, e a tradução seria irrepreensível. Tal como está, foidemasiadamente antropomorfizada pela imaginação Grega para quenos permita utilizá-la sem uma explicação elaborada. Entre os Gregosprimitivos, «de Homero a Heródoto, ela não era uma deusa, mas simum  sentimento moral», diz-nos Decharme, o entrave ao mal e àimoralidade. Aquele que a transgride, comete um sacrilégio aos olhosdos deuses, e é perseguido pela Némesis. Mas, com o tempo, este«sentimento» foi deificado, e a sua personificação tornou-se numadeusa sempre fatal e punitiva. Assim, se quisermos unir o  Karma  àNémesis, isto terá de ser feito tendo em conta o triplo carácter daúltima, viz., enquanto Némesis, Adrasteia e Témis. Pois, enquanto quea última é a deusa da Ordem e da Harmonia Universais, a qual, comoNémesis, possui poderes para reprimir, com pena severa, todo oexcesso e manter o Homem dentro dos limites da Natureza e darectidão, Adrasteia – a «inevitável» – representa Némesis enquantoefeito imutável das causas criadas pelo próprio Homem. Némesis,enquanto filha de Diké, é a deusa justa, que reserva a sua ira só paraaqueles que ficaram enlouquecidos pelo orgulho, egoísmo e impiedade.(Mesomedes,  Hino a Némesis  2: «kyanōpi theá, thýgater Díkas». VerRichardo Brunck,  «Μεσομήδης 1: Ύμνος εις Νέμεσιν»  in  AnalectaVeterum Poetarum Graecorum, vol. 2, Argentorati, 1773, p. 292; P.Decharme,  Mythologie de la Grèce Antique, Paris, Garnier Frères,1886,  p.  304.) Resumindo, enquanto que Némesis é uma deusamitológica e exotérica, ou um Poder personificado e antropomorfizadoem vários aspectos, o Karma é uma verdade altamente filosófica, umaexpressão nobre muitíssimo divina da intuição primitiva do Homemem relação à Divindade. É uma doutrina que explica a origem do Mal, eque enobrece os nossos conceitos sobre o que a Justiça divina eimutável deve ser, em vez de degradar a Divindade desconhecida eincognoscível, tornando-a no caprichoso e cruel tirano a quechamamos Providência. (N. da A.)[12] Secret Doctrine 1.639, 643-644; 2.303-306. (N. do T.)[13] A Edição da Chave de Katherine Tingley substitui esta citação porexcertos de um artigo anónimo, publicado por W. Q. Judge. Ver«Karma», The Path 1.6, 1886: «Pode dizer-se que o Karma, regra geral, é a continuação da naturezada acção, onde cada acto contém em si mesmo o seu passado e seu ofuturo. Todo o defeito que possa existir num acto deve estar implícitono próprio acto, caso contrário nunca poderia manifestar-se. O efeitonão é mais do que a natureza do acto e não pode existir distinto da suacausa. O Karma só produz a manifestação daquilo que já existe; sendoacção, este produz a sua manifestação no tempo, como tal, pode dizer-se que o Karma  é a mesma acção noutro ponto do tempo. Para alémdisto, como é evidente, não só existe uma relação entre a causa e oefeito, como também uma relação entre a causa e o indivíduo queexperimenta o seu efeito. Se assim não fosse, qualquer homem poderiacolher o efeito das acções de outro homem. De facto, parece que àsvezes colhemos os efeitos da acção dos outros, mas isto é apenasaparente.

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Na verdade, é a nossa própria acção: “(…) mais nada te obriga,mais ninguém te impede, da tua morte e da tua vida.”(Edwin Arnold, The Light of Asia 8.215) É, portanto, necessário, por forma a compreender a naturezado Karma e a sua relação com o indivíduo, considerar a acção em todosos seus aspectos. Todo o acto procede da mente. Para lá da mente nãoexiste acção e, como tal, não existe Karma. A base de todo o acto é odesejo. O plano do desejo, ou egoísmo, é, em si mesmo, acção e matrizde todo o acto. Este plano pode ser considerado não-manifestado, noentanto, tem uma manifestação dual a que chamamos de causa eefeito, ou seja, o acto e as suas consequências. Na verdade, tanto o actocomo as suas consequências são os efeitos, uma vez que a causa estáno plano do desejo. O desejo é, portanto, a base da acção e a suaprimeira manifestação no plano físico e o desejo determina acontinuação do acto na sua relação kármica com o indivíduo. Para queum homem se liberte dos efeitos kármicos de qualquer acto, ele deveráevoluir para um estado onde já não exista uma base na qual este actopossa realizar-se. A ondulação na água causada pela acção de umapedra estender-se-á até ao mais longínquo limite da sua expansão:mas é limitada pela costa.

O seu curso termina quando deixa de haver uma base, ou meioadequado, aos quais possam pertencer; este perde a sua força e deixade existir. Portanto, o Karma depende tanto da personalidade actualpara se cumprir, quanto dependeu da anterior para se gerar. Podemoscompreender melhor a questão através de um exemplo. Uma sementede mostarda, por exemplo, produzirá uma árvore de mostarda, e nadaoutra coisa, mas para que se produza, é necessário que a cooperaçãoentre o solo e a cultura exista. Sem a semente, por mais que o terrenoesteja lavrado e regado, não gerará só por si a planta, mas a semente éigualmente ineficiente sem o acto conjunto do solo e da cultura.» (N.do T.) [14] A. P. Sinnett, The Purpose of Theosophy, Boston, Occult PublishingCo., 1888, pp. 15-16, 18-19. (N. do T.) [15] Provérbio Inglês baseado no Eclesiastes  11.3: «Quer a árvore caiapara o sul ou para o norte, onde cair, aí ficará.» (N. do T.) [16]  Confissão de Fé de Westminster. Ver  The Humble Advice of theAssembly of Divines, London, E. Tyler, 1647. (N. do T.) [17]  Edwin Arnold,  The Light of Asia or The Great Renunciation(mahābhiniskramana): being the Life and Teaching of Gautama, London,Trübner & Co., 1879, 6.172, 8.215, 218-219. (N. do T.)

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omo diziam os pitagóricos, a carne (soma) con-verte-se numa tumba (sema), na qual a alma morre emvida. Só a sabedoria, o despertar da consciência e oretorno do sentido profundo da vida podem devolver-lhe o seu vigor. Mas, pelo contrário, as “afeições” damatéria, contaminando-a, de novo a adoecem e amatam.

O Sonho de Rāvana  é um livro de autor anónimo queapareceu por parcelas em vários números da revista daUniversidade de Dublin nos anos 1854 e 1855. Aindaquase desconhecido por um grande público, o futuro,sem dúvida, fará justiça e convertê-lo-á num dos livrosmais belos, profundos e transformadores alguma vezescritos. Noutros artigos temos já explicado o enredo do mesmoe ainda seleccionado fragmentos. O estudo introdutórioe as notas de Ricardo Louro Martins sãoverdadeiramente notáveis, um trabalho de filósofo eerudito, um pandita Ocidental. Interpretando uma das visões da Titã Ravana, na qualcaminha por uma terra sombria e desolada, o autordescreve num parágrafo, de modo magistral, as doençasque matam a alma. Como no Novo Testamento, quando Jesus disse quedeixassem que os mortos enterrassem os mortos, éaludido que quando a alma “entra” no corpo, entranuma letargia semelhante à morte. Como diziam osPitagóricos, a carne (soma) converte-se numa tumba(sema), na qual a alma morre em vida. Só a sabedoria, odespertar da consciência, o retorno do sentidoprofundo da vida, pode devolver-lhe o seu vigor. E pelocontrário os “afeições” da matéria, contaminando-a, denovo a adoecem e a matam. Todos os animais selvagens

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O SONHO DE RĀVANAE AS DOENÇAS DA ALMAPor José Carlos Fernández

C

Escultura representando Ravana. British Museum

“O intrépido Guerreiro, com o seuprecioso sangue vital brotando das suasferidas abertas e profundas, atacará denovo o inimigo, e o expulsará da força,antes que ele mesmo expire.”

F R A G M E N T O D E “ O S S E T E P O R T A I S ”D O L I V R O A V O Z D O S I L Ê N C I O ,T R A D U Z I D O P O R H . P . B L A V A T S K Y

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(sema), na qual a alma morre em vida. Só a sabedoria, odespertar da consciência e o retorno do sentidoprofundo da vida podem devolver-lhes o seu vigor. E,pelo contrário, as “afeições” da matéria, contaminando-a, de novo a adoecem e matam. Todos os animaisselvagens devoradores da alma, corporizaçõessemelhantes a sombras, da nossa própria ignorância,são os que habitam no reino de Tamas, a inércia damatéria, o estado de decomposição ou de opacidade daluz que é própria. “Doenças da alma” é um termo mais acertado efilosófico que o de “pecados”, também válido. Sefazemos a comparação com o corpo, não é só umasimples mancha (pecado), um buraco pelo qual desliza,quase inadvertidamente, o líquido precioso, o fluidodourado da nossa vida interior. São também diversasrupturas de harmonia, formas de caos que a almapadece e deve superar se quiser continuar o seutrabalho aqui na terra e encontrar a felicidade do devercumprido e retornar à sua verdadeira natureza no céu.São mais que faltas, que debilitam as forças da alma, sãovícios, que a sufocam. A enumeração tem semelhanças,evidentemente, com os pecados capitais: luxúria, gula,avareza, preguiça, ira, inveja, soberba, ainda que otratamento que faz seja mais filosófico. O próprio Ravana simboliza o Eu Inferior, o espíritoprisioneiro da ilusão do Eu com 10 cabeças, o que afilosofia Hindu chama Ahamkara, a raiz da doença, acegueira da alma que deixa de reconhecer o seu mundoe experimenta o vazio da sede de possessão (quando narealidade nada há a possuir), a sede da viver (quando aalma é em si mesma vida eterna), a sede da sensação(quando não há nada que não conheça, que não sinta emsi mesma sem necessidade de a buscar na matéria e nasimagens que se reflectem nela).

O texto escolhido de O Sonho de Rāvana diz assim: “Ó homem trágico! Donde provem tanta morte na tua Vida?Por Deus! É porque a destruída moral interna reina sobretudo, manifestando-se desta forma. As almas dos homensmorrem no momento que nascem, esta vida é a sua autópsia,e a doença manifesta-se em todos. Um morreu enlouquecidopelo orgulho, outro exaltado pela raiva, um leproso por causada sensualidade, outro sofria da febre da ambição, o outro umdesejo insaciável de ganhar mais, outro pelo veneno malignoda vingança, outro da icterícia do ciúme, outro devido aocancro insaciável da vingança, outro devido ao excesso deamor-próprio, outro da paralisia da apatia. Muitas sãodoenças, mas a morte é o resultado comum para todas elas.  Se aqui triunfa a morte: a morte física e moral. Os mortos dãoà luz mais mortos, o morto leva o morto à funerária, o mortocaminha pelas ruas saudando a outros mortos, e negoceiacom eles, compra e vende, casa-se e constrói: e durante todoesse tempo não sabe que todos eles não são mais que sombrase fantasmas! Esta terra de silêncio e de sombras, pela qual atua alma caminhou na tua visão, ó Titã! É o Mundo no qual oteu corpo morto caminha agora desperto.” É espantosa a perspicácia do autor, como descreve odano que produz cada uma destas doenças. Como olendário quadro de Dorian Grey, embora no exteriorsejamos, mais ou menos sempre semelhantes a nósmesmos, dentro a doença, se não a combatemos, vaiadulterando e arruinando a nossa verdadeira naturezaaté que seja irreconhecível. Certamente que todas estasenfermidades estão em maior ou menor grau em cadaum de nós, ou somos afligidos por elas em diversosmomentos da nossa vida (se queremos ser optimistas,pois a realidade é que só em diversos momentos da vidaconseguimos ver o céu estrelado do ideal através, alémdelas, pois são rainhas neste mundo material).

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O Titã Ravana junto a Sita

Edição ilustrada da epopeia Ramayana

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O Sonho de Rāvaṇa, das Edições Nova Acrópole

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O orgulho  ou a soberba enlouquece-nos, já nemsabemos quem somos, nem somos capazes de ver quemnos rodeia. Faz-nos confundir o amigo com o inimigo evice-versa, a calma vai-se, a vida converte-se numpesadelo e desaparece o respeito pelo próximo,atentando assim contra a dignidade de quem seaproxima ou simplesmente de quem temos que sofrer. A ira, além do dano que podemos exercer sobre osoutros, faz a alma frenética, sujeitando-a a uma pressãoque facilmente pode romper, produzir fissuras, leva-a auma excitação excessiva e actividade caótica ondeperde a visão, como o navegante que no meio datormenta é incapaz de definir o curso. A sensualidade  é para a alma uma lepra, desfá-la empedaços, pedaços da sua “pele” e “carne” caem mortospor querer abraçar o que está morto (pois é a almaquem dá a vida, e sair fora de si mesma leva-a à morte) eobtém com ele prazer. Tal é a atracção do canto dassereias para os tripulantes do barco sagrado, pedaçosde carne da alma, lançam-se no abismo. A ambição é como uma febre que nos faz arder, e talvezassim cremos que estamos mais vivos, mas não, o queestamos é mais doentes, drogados pelas sensações deuma carreia que não vai a lugar nenhum, pois as metasnão saciam nem devolvem a paz. A ganância  é um desejo insaciável de ganhar mais, deacumular o que jamais possuiremos de verdade, nempoderemos levar mais além das portas da morte. Umadoença incurável, segundo os Egípcios, e com ela obarco da vida fica preso na areia, ou na lama, por pesardemasiado. A necessidade de vingança é um veneno que corrói asentranhas, a vida deixa de ter sentido, pois o seu ácido écorrosivo, só encontra satisfação na reparação daofensa, seja real ou imaginária.

Os ciúmes  são uma icterícia que nos consome, abilirrubina da alma dispara e sucumbe sem vidadeixando a besta que vive dentro de cada um semcontrolo, dando espaço, pois o fígado psíquico já não écapaz de regular harmonicamente o delicado mundodos sentimentos e emoções. A inveja é, na sua alegoria, como um cancro para a alma,uma sombra obscura que mata as suas fibras maistenras, transmutando-as alquimicamente no inverso, denada serve já e o inimigo segue crescendo dentro. O excesso de amor-próprio mata-nos porque converte-nos numa pequena ilha no meio de um oceano hostil,num deserto ao qual nenhum caminho chega. A almaanimada e vinculada por raios de luz e fluxos de vida atudo o que existe é prisioneira sem alimento numaprisão estreita. Como diziam os Clássicos, os bandidoslançam pedras contra a donzela da sua alma,apedrejam-na e ferem-na. A apatia ou preguiça  da alma converte-se numaparalisia, os braços da alma que nos permitem querer efazer, caem sem vida, imobilizam-se, as pernas ficamrígidas. Se o veneno da cicuta avança no sangue da vidainterior, o coração detém-se e convertemo-nos emautómatas. O que fazemos já é mecânico, a barca já nãoé uma barca que nos permita realizar os Sonhos e quenos leve às Fontes, é um pedaço de madeira inerte que éarrastado para o mar. A inércia, que é um atributo dapedra que vive dentro de nós, converteu a alma empedra, cuja essência é puro dinamismo, puraadaptabilidade, pura sensibilidade e resposta. De todo o modo, o caminho leva-nos sempre a viver denovo, e anima-nos a combater contra estas doenças eassim descobrir novos horizontes. Nesta terra sombria edesolada, como descreve o autor, a alma sempre nossorri e nos convida a segui-la.

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A ORIGEM E O SIGNIFICADODOS MANTRASPor Ricardo Louro Martins

e propagavam uma doutrina que haveria, num futuromais ou menos distante, de pertencer a todo o homem,levando-o a encontrar a sua própria nobreza interior,ainda que fossem levados a protegê-la, em segredo, docontágio do profano. Este mundo Védico era entendido como bom e solidárioapenas por este motivo, por representar um palco deexperiências necessárias à elevação moral e espiritualdo homem através da posse de um conhecimentoancestral. Mas este conhecimento e transformação dahumanidade dependia de poetas inspirados, que porserem capazes de captar as mais poderosas verdades, astransmitiam por meio de palavras, poderosas na via deexposição escolhida e no significado, que era mais oumenos evidente. A literatura oral destes sacerdotes-poetas, capazes de captar e de transmitir as ideias deuma forma directa, recebeu o nome de veda, «visão» ou«conhecimento», daí termos dado à sua língua Indo-Europeia o nome de Védico ou Sânscrito Védico, aqueleque é veículo deste conhecimento. Uma das maioresdificuldades que temos, fruto da distância temporal econceptual, está em sermos capazes de distinguir asdiferentes

s mantras são uma produção Védica, e como tal, aforma mais directa de os considerarmos terá de iniciarnecessariamente numa contextualização dos mesmosnaquilo que é possível conhecer da mais remota culturae civilização Indianas. Muito resumidamente, temos deter em consideração que estes  mantras  surgem numasociedade sem escrita e, portanto, oral, sobretudopastoral, admiradora e dependente do cavalo, e cujosmembros (os que criavam e faziam uso dos mantras) seconsideravam a si mesmos Aryas ou «nobres». Nunca édemais recordar que ainda que este «sentimento denobreza» que a civilização védica imprimia a si mesmapudesse ser utilizado como diferenciação qualitativa dasdemais culturas ou dos demais grupos sociais, este eraum sentimento estritamente moral, pois sabiam, ou pelomenos acreditavam, que possuíam os meios necessários(presentes nos  mantras  Védicos) para que a humani-dade lidasse e se libertasse da sua condição miserável einferior, alcançando-se assim uma posição (interior)superior, i.e., elevada e nobre. No entanto, se quisermosconsiderar os  Aryas  como uma elite social, devemosprocurar vê-los mais como uma elite elitizante do quecomo uma elite elitista, no sentido em que transmitiame propagavam uma doutrina que haveria, num futuromais ou menos distante, de pertencer a todo o homem,levando-o a encontrar a sua própria nobreza interior,ainda que fossem levados a protegê-la, em segredo, docontágio do profano.

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diferentes designações do poeta. Estes sãochamados rishi, kavi, muni  e vipra. É óbvio que na suaépoca seriam tipos de poetas diferentes, mas é-nos hojepraticamente impossível distingui-los. As váriastentativas feitas, sempre insatisfatórias, permitemdefini-los de uma forma genérica, onde o kavi é aqueleque entra em contacto com o mundo divino, tal comoo  rishi, com a diferença de que o primeiro não énecessariamente um sacerdote, e o segundo o é.O muni é um asceta. O kavi é o poeta que, por possuirum conhecimento esotérico, vê com o seu olho mentalaquilo que está oculto para os outros. Por sua vez,o  vipra  é aquele que vibra, ferve e experimenta averdade pelo entusiasmo. No entanto, aquilo que os define é também o que osconfunde, pois todos entram em contacto com o mundodivino, todos cumprem uma acção «sacerdotal», todosvibram com a verdade e todos possuem esteconhecimento que é esotérico e oculto para os demais. Por outro lado, a autoria dos poemas e dos mantras é-nos sempre confusa pela grande unidade e continui-dade que encontramos na sua produção, e pelo factodos poemas serem sempre uma transferência hierár-quica de um plano superior para um plano inferior. Emtodo o caso, não importa quem recita o mantra, mas simo mantra que passa por ele, já que o poeta é entendidocomo um veículo para o mesmo. Isto não quer dizer que os poetas-videntes não sejamexaltados e individualizados ocasionalmente em algunshinos (e.g.,  Rigveda  3.53.15-16). Os  mantras  nascemassim como expressões criadas por poetas inspirados,que eram depois utilizados em rituais que conferiampoder e visão sobre os seus participantes. A par disto,são várias as personagens divinas que encarnam os sonsutilizados durante o ritual, como Brihaspati,Brahmanaspati, Vacaspati e Vac. Destas quatrodivindades aquela que se foi destacando mais foi afigura de Vac enquanto «apoteose do feitiço» e«exaltação do som mágico». A relação que a palavratinha com o coração, que representava o seu centro eorigem, deu lugar à articulação da deusa do discurso,Vac, com a vaca (gauri), que representa na palavra amediadora entre o invisível e o mundo dos homens,responsável por alimentar (transmitir) a visão e odiscurso.

Esta relação entre Vac e  gauri  está subentendida nadeusa Dhisana, personificação da inteligência dodiscurso, da amamentação e da inspiração poética, ecujo nome é comparável a um dos epítetos do planetaVénus, dhishnya, o «piedoso». A palavra feminina Vac éequiparável ao Grego Lógos, ambas com o significado de«discurso». A Vac-mulher  e a Vac-palavra  foramtratadas pela mitologia indiana de forma semelhante,enquanto procriadora, sedutora e destruidora, emsuma, como inspiração e criação. O  Mantra  começou por ser o nome dado a qualquerporção do  Rigveda  que fosse utilizada como prece oufórmula mágica. Esta ideia desenvolveu-se àquela defrase ou aforismo repetidos para que a atenção humanase concentrasse nela, durante um processo ao qualpodemos chamar de meditação. Ganhou igualmente osentido de frase poderosa que, através da sua repetiçãomental ou verbal, geraria determinados efeitos,relacionados com o conteúdo do  mantra, massobretudo, com    seu significado oculto. É também umsom, uma palavra ou uma fórmula frásica associada adeterminada força mental, religiosa ou oculta, queproporciona o contacto de quem a pronuncia com oaspecto divino que veicula. Parece, no entanto, haver pouca relação entreos mantras védicos e os da tradição posterior, já que osprimeiros geraram um corpus poético original ecomplexo, enquanto que os seguintes foram repetiçõese reformulações. Ainda assim, pode-mos encontraralguma continuidade no facto dos primeiros nasceramda intuição poética (dhi–) dos poetas, com a finalidadede conhecer, controlar e influenciar as divindades e ospoderes do cosmos, e dos seguintes servirempara controlar os poderes do homem e do cosmos, bemcomo proporcionar algum tipo de experiência religiosa. Outro dos aspectos que demonstra a continuidade douso dos mantras desde a época védica, é a sua exactidãogramatical e fonética, bem como o ênfase e o ritmo,responsáveis pela sua eficácia. A falha num destesrequisitos transforma o mantra numa arma «mortífera»que se vira contra o seu recitador. Daí ser um actoexclusivo da nobreza, i.e., daqueles que alcançaram umnobreza interior, onde já não há lugar para o egoísmonem para as tendências da personalidade.

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Qualquer um que faça, nos nossos dias, usodestes mantras sem ter alcançado esta nobreza interiorestá, em boa verdade, a brincar com o fogo. Por outrolado, salvo no caso da transmissão directa, nós sórepetimos aquilo que não compreendemos verdadeira-mente, ou que ainda não incorporámos totalmente.Portanto, é bom recordarmos que a repetição daquiloque não conhecemos e que não compreendemos podetornar-se negativo, pois quando queremos que umacriança aprenda, deixamo-la brincar com tudo aquiloque lhe seja inofensivo e que lhe outorgará um poder nofuturo, mas não a deixamos entrar dentro de um tanquede guerra, para que dispare mísseis ao acaso, não lhedamos armas para que, pela repetição, atinja algumasabedoria, pois o mais provável é que se fira e fiqueimpossibilitada de aprender o que quer que seja.Julgamos, pois, que fica clara a nossa posição, nãofalamos de  mantras  para encorajar a sua repetiçãoisenta de significado e perigosa, mas sim para encorajara capacidade de raciocínio e de visão que todospossuímos.

Pois, mais do que uma palavra, a intuição poética éexpressada sobretudo pelo verbo  dhi-, que tem osignificado de «visão», enquanto faculdade sobre-natural, própria dos videntes, de «ver» com a mente ascoisas como elas são, de adquirir um conhecimentodirecto e «repentino» da verdade, dos poderes divinos eda relação dos homens com os mesmos. No mesmocampo semântico que o verbo  dhi-  encontramos osderivados de  man-, como  mantu  «pensamento inten-cional», mas também  mati,  manman  e  mantra, todoscom o sentido de produto «material do pensamento» oudo «sentimento inspirado» do poeta. O pensamento indiano não faz uma distinção claraentre os (três) tipos de visão, como tal coloca-os emsequência numa continuidade natural, que vai da visãofísica à visão poética e desta à visão divina. A mesmacontinuidade é demonstrada na relação dos homensordinários com os videntes e destes com os deuses, algoque podemos igualmente substituir pela continuidadediscípulo-mestre-deus.

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Isto permite-nos compreender que os  mantras  nãoeram necessariamente captados devido a uma visãodiferente ou alterada, mas sim por uma «elevação»dessa mesma visão. Depois desta «imagem» ser captadapela visão, ela era transmitida pela apreensão mentalprópria de cada vidente e por meio de metáforas, quepodem dividir-se em três estados contínuos: o poderque a visão tem de a captar; a luminosidade que permiteidentificá-la; e o local oculto e interno onde esta seencontra. Que Gonda resume no seu conceito do«lampejo da introspecção». Os poemas do Rigveda  são chamado  mantras  pelomenos desde o séc. VIII a.C., no Shatapatha-Brahmana  (1.31.28) e já possuem aquilo que melhordefine um mantra: são textos eficazes. Para termos umanoção do uso do Rigveda  como um conjuntode mantras, podemos observar a obra Rigvidhana, já queé uma exposição prática para o uso mágicodos  mantras  no quotidiano. A crença na eficáciados mantras  é algo comum à cultura Indiana, tanto nopassado como no presente, pois para estaos  mantras  são reais e palpáveis, são ferramentasmentais que devem de ser consideradas sagradas,podem ser dominadas e bem, ou mal, utilizadas. Aindaque sejam utilizados em contexto religioso,os  mantras  não se esgotam nele. Um texto político,económico e militar como o  Arthaśāstra  (séc. IV a.C.)refere a importância dos  mantras  como instrumentosque permitem compreender o que permanece invisívele inalterável, fortalecer a compreensão daquilo que évisto, remover a dúvida e a parcialidade. Outro texto, o Rajatarangini (séc. XII), refere Mantrikas(encantadores) que protegiam as plantações, porexemplo. O mantra foi, portanto, assumindo ao longo daHistória todo o tipo de função, adaptando-se avariadíssimos contextos. Isto levou os académicos acrer que recitar um  mantra, tal como hoje ocompreendemos e seja que mantra for, é o mesmo querecitar outra coisa qualquer. A tradição Indiana, poroutro lado, vê no mantra algo totalmente oposto, ondeo  mantra  é um instrumento de poder, com umpropósito muito específico e que deve de ser usado demaneira igualmente específica. Por algum motivo, istofez com que todos os mantras, fossem ou não mantras,começassem a diferir entre si e que cada letra doalfabeto ganhasse o direito de ser tratado comoum mantra.

Esta transformação da  palavra que encontra poder nosignificado  em  palavra que encontra poder nosom existe já no mantra védico, mas os seus usos foramamplamente exagerados devido à proliferação ocasionalde diferentes tipos de «iniciação» (diksha) que nadativeram que ver com a iniciação original na ciênciados  mantras. Onde os «discípulos» coleccionam«iniciações» e «mestres», como quem coleccionasouvenirs. Bharati, ao referir o que acabámos de ver, cita umacrítica, ainda assim simbólica, presente noSkandapurana, onde existiu certa vez um monge queteve trinta e três iniciações, dadas por trinta e trêsmestres, um dos quais era um corvo. Isto desvenda emsi uma verdade, que é a da nossa ignorância. Por umlado, o excesso de racionalismo protege-nos da boa oumá utilização do  mantra, por outro, a devoção cegadeixa-nos desprotegidos e à mercê dos efeitos dasnossas acções. Uma das maiores dificuldades de compreendermoso mantra dá-se quando o tentamos equiparar à oraçãono Ocidente. Como a oração Ocidental é uma conversacom Deus, na forma de súplica ou de adoração, nemsempre é possível compreendermos como é que umahistória narrativa pode servir de oração no Oriente, emenos ainda quando esta é impessoal, prática eaparentemente «irracional». O  mantra, ou a ciência dos  mantras  (mantrashastra),pode e deve ser primeiro definido de acordo com o seusignificado. A palavra  mantra  em Sânscrito significaliteralmente «instrumento do pensamento», derivadodo Proto-Indo-Europeu  *men-  «pensar». É formadopela raiz verbal man– «pensar», «reflectir», «imaginar»,etc., e pelo sufixo –tra, formando um substantivo neutroque designa o instrumento que cumpre a acção dopensamento, como «aquilo que produz o pensamento»,«que guia o pensamento», etc. Como na palavra kshetra,formada por kshe– «possuir», «habitar» e pelo sufixo –tra, com o sentido final de «terreno», «campo», etc. Araiz  man-, que encontramos em  mantra, mas tambémem palavras relacionadas com o pensamentointrospectivo como  mati,  manas,  manisha  e  manman,refere-se mais a uma contemplação do divino do que aum pensamento concreto.

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Neste sentido, é de todo útil separar esta ideia de umpensamento contemplativo daquela que descreve umpensamento mundano, menos associado com estamente que tende às coisas divinas (manas) do que comaquela mente que tende aos desejos e às paixões(kamamanas). Mantra significa, em primeiro lugar, «hinosagrado», Neste sentido, podemos compreender um mantra comoo nome que foi primeiro dado a fórmulas, versos,sequências de palavras e hinos, de eficácia mágica,religiosa ou espiritual, que são recitados, segredados,visualizados mentalmente ou cantados durante umritual, mas que por possuírem uma vertente moralprática, uma «conduta fixa» ou «vertical» (dandaniti,composto formado por  niti  «conduta» e  danda «hastevertical»), passou também a designar um conselho,projecto, plano ou segredo. O facto da palavra mantra estar tão relacionada com opensamento quanto com a palavra, levou Panini arelacionar a  man– «pensar» com a  mna  «falar», o quenos permite compreender  mantra  também como«instrumento da fala», mais concretamente, a forma deleitura dos textos sagrados. O sentido original do sufixo–tra  não terá sido aquele de «instrumento para», massim o de partícula do particípio passado, ou seja,«[aquilo que foi] pensado», «[aquilo que foi] dito», comoem tantra «[aquilo que foi] esticado», «desvelado», etc.,logo, é a exposição de uma ideia que alguém pensou(captou) por nós, um ditado ou um costume dosAntigos. Por outro lado, o mantra manteve-se como uminstrumento (-tra) de uma actividade expressa pela raizverbal man-, como tal expressa um instrumento para apercepção mental, para uma ideia bem elaborada, mastambém é um instrumento que auxilia o poeta a darcontinuidade à sua reflexão, daí a ideia de «repetição»,regressar e beber uma vez mais da fonte.

Ainda com o mesmo sentido de «ferramenta para», ser-nos-á útil, enquanto filósofos e analogistas pornatureza, considerarmos alguma palavras derivadas daraiz verbal man-: mati «pensamento», «memória»;manana, «pensativo»; manana, «deliberadamente»; ma-nasa, «mente», «coração»;  manas, «mente»; manaska,«pouco inteligente»;  manashyu, «desejar»; mana,«devoção»;  manana, «devoto»;  manayu, «desejoso»;manisha, «pensamento», «conceito»;  manu,«pensamento»; manus, «homem»;  manojava,«velocidade do pensa-mento»; manotr,«inventor»;  mantu, «conselheiro»; mantri, «pensador»;mantra, «fórmula»; mantri/ mantrin, «ministro»;mandhatri, «sério»; manman, «compreensão»; manya,«achar», «considerar»;   manyu, «mente»; manvantara,«idade de Manu»;  mana, «opinião»;  √mna,«repetir»; sumati, «boa mente»; sumna, «benevolência».E daqui apreendermos várias aplicações possíveis. Por outro lado, um  mantra  é formado de acordo comum padrão específico, está baseado em tradiçõesesotéricas codificadas e passa de geração em geraçãono decurso de uma iniciação prescrita. A fonte de poderde um  mantra advém da acessibilidade e daintrospecção eloquente do poeta nos mistérios divinos,de onde nascem os hinos Védicos. Vários nomes podemser utilizados em substituição do termo mantra, com osignificado de hino, oração, bem como sons ou palavraspotentes, Como  brahman, stobha,  bija,  kavaca, dharanie  yamala, o que faz com que a própria palavramantra acabasse por ganhar um significado amplo e porvezes impreciso. Os mantras Védicos tendem a ser deuso quotidiano e linguístico enquanto que os mantrasTântricos tendem a ser redentores e alinguísticos. (Fim da primeira parte. Continua no próximo número.)

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Om mani padme hūm

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YOGA: A CIÊNCIA DA ALMAORIGINALMENTE PUBLICADO NA REVISTA THE PATH DE AGOSTO DE 1892. TRADUÇÃO DO AGNIMILE: CÍRCULO DE ESTUDOS ORIENTAIS

Por G. R. S. Mead (1863 - 1963)

esejo falar-vos com a maior simplicidade possível arespeito da mais importante ciência do mundo – aciência da alma – chamada Yoga em Sânscrito.Provavelmente alguns de vós poderão não saber que oactual e restrito significado da palavra «ciência» só foimoda por um breve momento dos períodos temporaisdas eras, e que «ciência» entre os Antigos antepassadosda nossa raça Ária [i.e., Indo-Europeia] significou algomais do que o simples uso cuidado e inteligente dosnossos cinco sentidos, auxiliado de instrumentosmecânicos. Actualmente, no Ocidente, a afirmação de que oconhecimento é atingível não só através dos cincosentidos é vista como uma impertinência ignorantepelos altos pelos altos sacerdotes da ciência e pelosseus fiéis

devotos; mas na medida em que todos nós dêmosinevitavelmente a honra devida ao escrutínioadmiravelmente paciente e meticuloso que resgatou oOcidente das garras de um pesadelo eclesiástico, temostambém de aprender que o recentemente estabelecidopapado da moderna ciência é o vigia das nossas almas eo ditador da nossa existência espiritual. Em oposição àsempre crescente negação que vai obscurecendo osideais e paralisando as intuições dos Homens, mulherese crianças de hoje, o actual movimento Teosófico, peloseu próprio título, afirma numa entoação invariável queo conhecimento real deve ser adquirido; que o Homemé, por um lado, algo mais do que um animal de cincosentidos e, por outro, que não necessita de esperar quea morte lhe feche as portas e assegure as coisasespirituais.

D

samatvam yoga ucyateoYoga é chamado equanimidade

B H A G A V A D G Ī T Ā   2 . 4 8 D

Assim deverás estar em perfeita harmonia com tudo quanto vive erespira; dirigindo-te aos Homens com amor como se eles fossem teuscondiscípulos, discípulos de um Mestre, e filhos de uma doce mãe.

A V O Z D O S I L Ê N C I O , H . P . B L A V A T S K Y

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George Robert Stowe Mead (22 de Março de 1863 - 28 de Setembro de 1933) foi um escritor, editor, tradutor,esoterista e um influente membro da Sociedade Teosófica. Nasceu em Nuneaton, Warwickshire, Inglaterra numafamília de militares e estudou no The King's School em Rochester e no St John's College em Cambridge. Mead tornou-se membro da Sociedade Teosófica em 1884. Ele deixou o magistério em letras em 1889 e tornou-se o secretáriopessoal de Helena Blavatsky, o qual permaneceu até a morte dela em 1891. Durante este tempo foi também editorassistente da revista teosófica mensal Lucifer. Quando se tornou o editor renomeou-a para The Theosophical Review.Após a morte de Blavatsky, inconformado com os rumos que a Sociedade Teosófica estava a tomar sob a presidênciade Annie Besant, veio a sair desta, assim como vários outros teósofos. Após a saída fundou a Quest Society e a revistaThe Quest para continuar os seus estudos esotéricos. Posteriormente, Carl Jung fez-lhe uma visita para agradecer assuas traduções de documentos gnósticos.

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A antiquíssima ciência da alma afirma que o Homem éum ser imortal, divino e espiritual, cujo tabernáculocarnal não passa de uma estadia ou prisão temporárias;que os seus sentidos físicos, longe de serem os seusúnicos meios de conhecimento, são quase sempreinvariavelmente amarras auto-impostas que oagrilhoam no seu calabouço apertado, onde, de facto, daforma mais miserável, irá morrer, não o tivesse libertadomisericordiosamente o sono [Hipno], o irmão mais novoda morte [Tânato], durante a noite e o levado por ummomento de volta à sua morada da liberdade. Masaquele que começou a aspirar pela libertação destaescravidão, começa simultaneamente a ver a naturezailusória da prisão e dos grilhões do corpo; a forma comque estes nos privam do nosso bom senso, e nos fazemconsiderar a prisão como a um palácio e os grilhõescomo coroas de flores de perfume adocicado. Enquantolunáticos no asilo dos sentidos, que é o que somos,poucos de nós chegam alguma vez a contemplar o factoda varinha mágica do sono transformar um terço dasnossas vidas num vazio impenetrável, e que a morte,essa grande condutora de almas, pode a todo omomento colocar-nos a mão sobre o ombro. Na maioria das vezes, se um Homem chegasse de todo apensar, ele observaria o sono com admiração e a mortecom respeito. O sono e a morte guardam dois portais.Através de um, o Homem passa e repassa diariamentenum desmaio; através do outro, ele passa para não maisvoltar. Em todo o caso, assim nos  parece. É verdade,isto  parece  ser assim; mas a ciência da alma não lidacom  parecenças, esta deixa as aparências para odomínio dos cinco sentidos e da mente cerebral, econcentra o seu estudo nas realidades e noconhecimento directo. O Yoga nega que o sono seja umvazio e a morte o fim da existência; este defende apossibilidade do conhecimento dos mistérios do sonoao despertar e dos mistérios da morte em vida; e diz-nos que as portas do sono e da morte podem serpassadas e repassadas com plena consciência.Este Yoga, ou ciência da alma, é tão preciso e exacto noseu procedimento quanto os nossos mais rígidosmétodos científicos; mas ao passo que a ciência físicalida com fenómenos físicos, a ciência psíquica lida coma alma das coisas. Os Mestres do Yoga afirmam da formamais definitiva e firme que a existência, natureza, vida ehistória da alma tem sido e pode ser exacta erigorosamente demonstrada e comprovada no seupróprio domínio tal como o mais conhecido factocientífico, assim chamado, no universo natural.

A negação por parte desses ignorantes sobre o tema, eos uivos da imprudência por provas físicas e objectivasdaquilo que é pela sua própria natureza imaterial esubjectiva, não podem ter um verdadeiro peso para oestudante. A vulgaridade intelectual e a astúcia baratanão poderão enfraquecer mais a realidade eterna danatureza espiritual do Homem imortal, do que cuspir aosol possa afectar o deus do dia. E agora, qual é o significado do Yoga? Foram-lhe dadasmuitas definições, e claro que esta mesma ciência foichamada por outros nomes, em tempos diferentes, pordiferentes culturas, em várias línguas. Este é um temarepleto de tecnicidades, pois existe uma vasta literaturaque o trata com clareza e da forma mais técnica, e, numsentido mais amplo, todas as Escrituras Sagradas domundo são manuais desta ciência.

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Templo hindu de Shiva Mandir em Bangalore

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No presente artigo, contudo, todas as tecnicidades serãoevitadas, e por isto mesmo tomei a liberdade de definiro Yoga  como ciência da união do Homem com a origem doseu ser, com o seu verdadeiro Eu. Verá imediatamente oleitor que a reivindicação da nossa ciência é a doconhecimento directo. Não quer isto dizer que o estudantese torne imediatamente omnisciente, ou que obtenha, de umsó salto, o total conhecimento das coisas em si mesmas. Demodo nenhum. O caminho do conhecimento puro é umcaminho longo e árduo, de uma auto-disciplina severa e deum esforço generoso e infatigável. Mas o caminho eleva-senuma montanha, e assim a visão estende-se de tal forma, quecada passo sucessivo conquistado é da natureza doconhecimento directo, se comparado com os estadosanteriores. Neste momento, somos como Homens quemantêm os seus olhos tenazmente fixados no chão que têm aseus pés, que ainda nem sequer olharam para o universovisível tal como ele é. Existem múltiplos estados deconhecimento da alma, imensuráveis degraus de união com oEu, pois finalmente este Eu é o EU Único de tudo quanto foi,é e será.

Seria presunção minha imaginar que toda a genteconcordará comigo nas minhas definições, e naturalmentetodos são livres de encontrar palavras melhores e maisapropriadas para revestir as ideias de acordo com a suacompetência. Existe, contudo, uma necessidade que seabate sobre todos os Homens nas suas repetidas errânciasna terra, «uma necessidade que a alma tem de extinguir-seno infinito», tal como foi dito, e o gélido frio da negação nãopode amenizar o fogo deste desejo divino, nem pode aactuação superficial de qualquer religião de boca satisfazereste ardor. Esforçando-me por dar alguma ideia sobre o que é a ciênciaprática do  Yoga, encontro-me em desvantagem paratransmitir o meu objectivo devido à pobreza da nossalinguagem comum na adaptação desta terminologia. Todosnós já falámos alguma vez acerca da alma, da mente e daconsciência, mas poucos de nós têm algum conhecimentosobre a infinidade de ideias que cada um destes termosimplica.

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Ascetas perante o templo de Shiva. Página de um manuscrito de Kedara Kalpa, aprox. 1815, atribuído ao culto de Purku na Índia, estado deHimachal Pradesh (antigo reino de Kangra). Cor de água opaca em papel. Walters Art Museum, Baltimore, Maryland, W. 859.

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Neste artigo, a alma deve ser entendida comosignificante de toda a natureza do Homem à parte doseu corpo físico, a mente como o principio pensante, e aconsciência como todo o limite do Homem, todo o seuser. A mente é o pensador, o principio auto-conscienteno Homem, os recursos do seu conhecimento. É este oprincipio, portanto, que é tanto o conhecedor quanto oseu instrumento no Yoga. Esta mente é geralmente distinguida em dois aspectospara que se tenha uma compreensão mais clara.Provavelmente estes serão mais facilmentecompreendidos como o «eu sou» e o «eu sou eu» noHomem, ideias que são geralmente empregadas pelosautores Teosóficos para distinguir a  individualidade dapersonalidade. A personalidade é a soma de todas essasimpressões, como são chamadas no Oriente, queformam a nossa consciência quanto ao sermos esta ouaquela pessoa em particular, quanto ao sermos o actor ea vítima em todos os eventos da vida. Tudo o quefazemos, ou dizemos, ou pensamos deixa umaimpressão no nosso carácter, quer sejamos conscientesdisso ou não; e uma impressão uma vez induzida nanossa natureza plástica tende a repetir-se por si mesmamecanicamente e a formar hábitos que, como sabemos,se tornam instintivos. Se as impressões são más, forma-se um hábito perverso. A soma de todas estasimpressões é chamada de personalidade, ou, para fazeruso de outra analogia, as vibrações despertadas pelosnossos actos, palavras e pensamentos inseparáveis danossa natureza plástica, numa escala ascendente desubtileza e rapidez, de acordo com o seu plano deacção, até àquelas de substância invulgar que somosactualmente capazes de conceber, e que provavelmentepodem ser chamadas de objectos do pensamento, já queeste aspecto inferior da mente é substancial, senãomaterial. O aspecto mais elevado da mente, pelo contrário, aindividualidade, ao qual eu chamei de «eu sou», é deuma natureza divina e espiritual. Esta não é substancial,mas sim uma essência espiritual pura, divina, imortal,imemorial; esta não morre, nem ganha vida, mas é portodas as idades. Agora, a mente inferior é sempre vacilante e variável,extraviando-se para as coisas dos sentidos; esta é umMazepa[1] agrilhoado pelas mãos e pelos pés ao cavaloda paixão e do desejo.

No Oriente, é chamado órgão interno para o distinguirdos órgãos externos, e temos primeiro de aprender alibertá-lo das suas amarras antes de que possamos pôros nossos pés no primeiro degrau da escada doverdadeiro conhecimento. As incessantes mudanças que ocorrem na menteinferior são chamadas modificações do órgão interno; eestas têm de ser mantidas pelo punho firme da vontadeespiritual desperta e tornada imóvel, se de factopretendermos alcançar algum sucesso na ciênciado Yoga. Imagine o leitor uma folha de papel com algo escritosobre ela, amarrotada numa bola, girandotumultuosamente na calha de um moinho. Tal é a menteinferior em cada um de nós. E se quisermos ler a escritaque nos relata o mistério da vida, temos primeiro deresgatar a bola de papel da calha do moinho daspaixões, e depois desamarrotar cuidadosamente o papelpor forma a alisar os vincos que nos impedem de ler oque lá está escrito, para que, por fim, possamosaprender sobre o  de onde  e o  para onde  da nossaperegrinação. Uma analogia frequentemente utilizada nas obrasOrientais, a respeito da mente superior e inferior, éaquela da lua reflectida nas ondas de um lago. Quantomais a superfície está agitada, mais a lua será vistaapenas como reflexo quebrado e instável, e não antesque desapareça toda a ondulação é que será reflectidauma verdadeira imagem do Homem divino nas nossasalmas. Mais uma vez, a mente inferior é como um espelho demetal coberto de pó e ferrugem; e até que estes sejamremovidos nenhuma imagem será vista; ou, novamente,a mente deve ser tão firme quanto a chama de umalamparina num local protegido de todos os ventos. Fim da primeira parte. Continua no próximo número. ------- Nota:[1]   Ver Lord Byron, Mazeppa, 1819. (N. do T.)

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LIÇÃO DE BUDA SOBRE OTAMANHO DOS ÁTOMOSPor José Carlos Fernández

uando lemos este fragmento no excelente poema ALuz da Ásia, de Edwin Arnold, sobre Buda, pensamosque a medida que ele dá sobre os "átomos do sol" - esobre as potências de dez que a matemática chama de"grandes números" e os Hindus antigos de “lotos” - sãosimbólicos ou, em última análise, todo o conhecimentoda Índia antiga se baseia em superstições estranhas.Atordoados, lemos o trabalho do matemático, teólogo epoeta védico Subash Kak [1], no qual ele demonstra, porum comentário dos Vedas do século X, que osBrahmanes - ou pelo menos quem escreveu o texto,Bhatta Bhaskara - conheciam a velocidade da luz comincrível precisão. De onde eles tiraram esse conhecimento, com quemetodologias? No seu livro Números Notáveis, o matemático LambertoGarcía del Cid fala-nos do número 108.470.495.616.000e diz que é o número com o qual Siddhartha Gautama, ofuturo Buda (desde criança) responde à pergunta domatemático Arjuna de quantos átomos alinhadosformam um  yojana (a distância do avanço do exércitoreal em um dia e estimado em cerca de 14,6 km). Ele nãodiz isso, mas o texto em que se baseia pertence ao LalitaVishtara Sutra, que é um dos grandes clássicos sobre avida de Buda, na tradição Mahayana.

Q

Descrição dos ´"átomos últimos" do plano físico, segundo o livroOccult Chemistry de Annie Besant e Charles Leadbeater

“Vou-te medir quantos átomos de solExistem nas extremidades de um yojana.Então, rápida e habilmente, o pequenopríncipeExplicou o total de átomos reais.Vishvamitra ouviu-o espantadoE ele disse olhando para o rosto da criança:Tu és o professor dos teus professores; tu enão euÉs um guru. Oh, eu te adoro, docepríncipe!”

A L U Z D A Á S I A , E D W I N A R N O L D

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E também é ele quem “ajuda a Natureza e trabalha com ela, e a natureza oconsidera como um dos seus criadores e lhe obedece. Ediante dele abrirá as portas de seus recintos secretos erevelará diante dos seus olhos os tesouros escondidosnas profundezas do seu seio puro e virginal. Nãopoluído pela mão da matéria, ela mostra os seustesouros apenas aos olhos do Espírito, um olho quenunca se fecha e para o qual não há véu em todos osseus reinos.”

- A Voz do Silêncio, H.P. Blavatsky

Francis Aston (1877-1945), descobridor dos isótopos, aoestudar o néon – e pelo qual ganhou o Prémio Nobel deQuímica em 1922-, fê-lo estudando ansiosamente estelivro de  Química Oculta, de visão intra-atómica pormétodos clarividentes. Ele próprio afirmou isso nasprimeiras entrevistas e artigos, mas eles recomendaramque, se ele quisesse receber o Nobel, não deveriamencionar que tinha seguido as indicações dosteosofistas místicos, passo a passo. Estavam decididos anão aceitar interferências, essa nova Inquisição, comsuas novas missas erguidas com muros de fogo (apropósito, muitos cientistas mártires do século XXqueimaram, senão a carne, o prestígio e as carreiras)sob ¡VADE RETRO Alquimia!

real em um dia e estimado em cerca de 14,6 km). Ele nãodiz isso, mas o texto em que se baseia pertence ao LalitaVishtara Sutra, que é um dos grandes clássicos sobre avida de Buda, na tradição Mahayana. O surpreendente é que, quando fazemos a operação(dividindo um yojana, 14,6 km, pelo número indicadopelo Buda, 108.470.495.616.000), isso nos dá uma medidade 1,34 x 10exp-10 metros, ou seja, 1,34 Angstrom.Quando a medição do átomo de hidrogénio (“um átomodo sol”) é, aproximadamente, de acordo com nossacomunidade científica, 1x 10exp-10 metros, ou seja, 1Angstrom. Ou seja, esse número de átomos alinhadosefetivamente dá-nos a distância de um yojana! QUANTO CONHECIMENTO ADMIRÁVEL E INEXPLI-CÁVEL! E não menos surpreendente é ir ao Vishnu Purana e verque o termo com o qual eles designam a unidadeindivisível, ou átomo, que é Paramanu, mede 1,5 x 10exp-15 metros, e a medição do núcleo atómico éprecisamente – de acordo com a Física Atual Nuclear –1,7x 10 exp-15 metros. Ou seja, é uma medida, como aanterior, quase idêntica. Que instrumentos a Ciência Védica usou? A visãointerior, como nos contam os Rishis, com a qualexaminaram os interiores, não apenas da matéria, masde qualquer matéria que eles quisessem estudar? Foiassim que nasceu a Doutrina Secreta, comentada por H.P. Blavatsky, a síntese da soma de todo o conhecimentoacessível à mente humana e compilada em milhares devolumes em bibliotecas ocultas em criptassubterrâneas? Lembre-se das experiências desse tipode Annie Besant e Leadbeater que  refletiram no seulivro  Occult Chemistry, em 1908. E esses personagenseram discípulos, não sábios perfeitos, muito menos,portanto imaginamos que a visão interior deles nãodeveria estar totalmente focada. O sábio perfeito é aquele que, como diz o texto místico“Voz do Silêncio”, do budismo Vajrayana: “Se ergue como uma coluna branca em direção aoOcidente e, de frente, o sol nascente do pensamentoeterno derrama suas primeiras e mais gloriosas ondas.A sua mente, semelhante a um mar calmo semfronteiras, estende-se pelo espaço sem limites. Na suapoderosa mão direita, ele tem a vida e a morte”.

- A Voz do Silêncio, H. P. Blavatsky

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Primeira edição do livro Química Oculta,de Annie Besant e Charles Leadbeater

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Página do livro Occult Chemistry, com desenhos dos vários tipos de átomos, desde o físico até ao etérico.

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suas novas missas erguidas com muros de fogo (apropósito, muitos cientistas mártires do século XXqueimaram, senão a carne, o prestígio e as carreiras)sob ¡VADE RETRO Alquimia! Mas pouco importa, a verdade é como ouro entre osoutros metais, é pura, inalterável, permanece idêntica asi mesma enquanto tudo o resto se torna pó.

É mais poderosa do que todas as formas mentaistraçadas na imaginação, porque é indestrutível esempre encontra paladinos que, sem os seus raios, nãotemem nada... e assim a ciência avança e a alma humanacresce, século a século, milénio a milénio. E aqueles queatacam hoje, defenderão essas verdades amanhã, poisessa é a evolução da ciência e o despertar daconsciência.

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ANEXO - Tabela de medidas para chegar a um yojana, segundo a wikipédia inglesa

Nota:[1] É o artigo “A Velocidade da Luz na Cosmologia Purânica”, que se pode ler aqui:https://www.researchgate.net/publication/2179548_The_Speed_of_Light_and_Puranic_Cosmology

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MAJJHIMA NIKAYA 58:ABHAYARAJAKUMARASUTTAMAJJHIMA NIKAYA (COLECÇÃO DE DISCURSOS MÉDIOS) É O SEGUNDO DOSCINCO NIKAYAS, OU COLECÇÕES, DO SUTTA PITAKA.

1. ASSIM EU OUVI.  Numa certa ocasião,  o  Bem-Aventurado[1] estava perto de Rajagaha[2], no Bambual,no Santuário de Esquilos. 2. Quando o Príncipe Abhaya[3] foi ter comNighanta Nataputta[4], depois de lhe prestar reverência,sentou-se ao seu lado. Então Nighanta Nataputta disse-lhe: 3. “Vem, Príncipe, refuta a doutrina contemplativade  Gotama  e esta admirável notícia a teu respeitoespalhar-se-á por grandes distâncias:  ‘O  Prínciperefutou a doutrina contemplativa de Gotama, que é tãoforte e poderosa.’” “Mas como, venerável senhor,poderei eu refutar a sua doutrina?” “Vem, príncipe, vai ter com o contemplativo Gotama ediz-lhe o seguinte: ‘venerável senhor, poderia o discursoabsoluto do Tathagata[5] ser indesejável e desagradávelpara os outros?’

Se o contemplativo Gotama, ao ser assim questionado,responder: ‘O  Tathagata, príncipe, poderá proferir umdiscurso indesejável e desagradável para os outros’,então dir-lhe-ás: ‘Então, venerável senhor, qual é adiferença entre o senhor e uma pessoa comum? Umapessoa comum também proferiria um discursoindesejável e desagradável para os outros.’ Mas se o  contemplativo Gotama, ao ser assimquestionado, responder: ‘O  Tathagata, príncipe, nãoproferiria um discurso indesejável e desagradável paraos outros’, então dir-lhe-ás: ‘Então, venerável senhor, que tens a declarar sobre astuas palavras sobre o Devadatta[6]: “Devadatta estádestinado aos estados de privação, Devadatta estádestinado ao inferno, Devadatta permanecerá noInferno por  Éones[7], Devadatta é incorrigível?”Devadatta está zangado e descontente com este vossodiscurso.’

Ao Príncipe Abhaya

Buda com o Rei Bimbisara. British Library, Or. 14405, ff.28-29.

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Quando o  contemplativo  Gotama  for confrontado comestas perguntas que são como um pau de dois bicos, elenão será capaz de responder (cuspir) ou calar (engolir).É como se um espigão de ferro estivesse preso nagarganta de um homem, ele também não seria capaznem de o engolir, nem de o cuspir, ou atirar com elepara fora; por isso, príncipe, também o contemplativoGotama, quando confrontado com estas questões, quesão um pau de dois bicos, por ti, também ele, não serácapaz nem de calar (engolir), nem de responder(cuspir).” 4. “Sim, venerável senhor”, respondeu o PríncipeAbhaya. Levantou-se do seu lugar, depois deprestar reverência a Nighanta Nataputta, mantendo-o àsua direita, saiu e dirigiu-se ao Bem-Aventurado. Depoisde lhe prestar reverência, sentou-se ao seu lado, olhoupara o sol e pensou: “Hoje já é muito tarde para refutar adoutrina do  Bem-Aventurado. Refutarei a doutrina doBem-Aventurado, amanhã, na minha própria casa.”Então disse ao Bem-Aventurado: “Venerável Senhor,que o  Bem-Aventurado, juntamente com outros três,aceite o meu convite para a refeição de amanhã.” OBem-Aventurado consentiu em silêncio. 5. Sabendo que o Bem-Aventurado tinha anuído,levantou-se do seu lugar, depois de lheprestar  reverência, mantendo-o à direita, partiu.Quando a noite acabou e amanheceu, o  Bem-Aventurado vestiu-se, pegou na sua tigela e no manto,foi para casa do Príncipe Abhaya e sentou-se no lugarpreparado para o efeito. O Príncipe Abhaya, serviu esatisfez, com as suas próprias mãos, o  Bem-Aventurado com comida boa e variada. Quando o Bem-Aventurado  acabou de comer e largou a sua tigela, oPríncipe Abhaya, tomou um assento mais baixo, sentou-se a seu lado e disse-lhe: 6. “Venerável senhor, seria o  Tathagata  capaz de umdiscurso indesejável e desagradável para os outros?” “Não há uma resposta categórica, de sim ou não, paraessa pergunta, Príncipe.” “Então,  venerável senhor, neste caso os Niganthasperderam.” “Porque dizes isso, Príncipe: ‘Então,  venerável senhor,neste caso os Niganthas perderam’?”

O Príncipe Abhaya conta ao  Bem-Aventurado  toda aconversa que tivera com Nighanta Nataputta. 7.  Naquele  momento, uma criança estava deitada debruços no colo do Príncipe Abhaya, então, o  Bem-Aventuradodisse ao Príncipe Abhaya: “O que é que tupensas, Príncipe? Se tu ou a tua ama não estivessem aprestar atenção esta criança  colocasse  um  graveto  ouuma pedrinha na boca, o que lhe farias?” “Venerável senhor, eu o tiraria da sua boca. Se nãopudesse tirar de uma vez, colocaria a sua cabeça naminha mão esquerda, e com um dedo encurvado (emgancho) da minha mão direita, tiraria mesmo quetivesse que fazer sangue. O porquê disto? Porque tenhocompaixão pela criança.” 8. “Da mesma forma, Príncipe: no caso de um discursoque o  Tathagata  sabe que é falso,  incorrecto  e nãobenéfico, indesejável para os outros e que também não ébem-vindo: esse discurso o  Tathagata  não profere. Sedissesses que o discurso do  Tathagata  é verdadeiro ecorreto, mas não benéfico, nem bem-vindo e indesejávelpara os outros: tal discurso o  Tathagata  também nãoprofere. O discurso que o  Tathagata  sabe que éverdadeiro, correto e benéfico, mas que não é bem-vindo e  que é  indesejável para os outros: tal discurso,o  Tathagata, sabe quando o proferir. O discurso queo  Tathagata  sabe que é falso,  incorrecto  e não ébenéfico, mas que é bem-vindo e desejável para osoutros: tal discurso, o  Tathagata, não profere. Odiscurso que o  Tathagata  sabe que é verdadeiro,correto, mas não é benéfico, e é bem-vindo e desejávelpara os outros: tal discurso, o Tathagata, não profere. Odiscurso que o  Tathagata  sabe que é verdadeiro,correto, benéfico, e é bem-vindo e desejável para osoutros: tal discurso, o Tathagata sabe quando proferir. Qual a razão disto? Porque o Tathagata tem compaixãopelos seres.” 9. “Venerável senhor,  quando sábios  guerreiros, sábiosBrahmanes8, sábios chefes de família e sábioscontemplativos, formulam uma pergunta, e depois acolocam ao Bem-Aventurado, já havia na mente doBem-Aventurado o pensamento: ‘Se eles me vieremperguntar isto, eu respondo aquilo’? Ou a respostaocorre ao Tathagatana altura?”

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O sermão do fogo em Varanasi. British Library, Or. 14297, f.36.

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10. “Quanto a isso, Príncipe, devo fazer-te uma contrapergunta. Responde como quiser. O que é que tupensas, Príncipe? Conheces bem as partes de umacarruagem?” “Sim, venerável senhor, conheço.” “O que é que tu pensas, Príncipe, quando vão tercontigo e te perguntam: ‘Qual é o nome desta parte dacarruagem?’  Já  estava na tua mente o pensamento: Seeles me vierem perguntar isto, eu respondo aquilo’? Oua resposta ocorre-te na altura?” “Venerável senhor, eu sou bastante conhecido comococheiro e conheço muito bem todas as partes dacarruagem. A resposta surgir-me-ia no momento.” 11.  “Da mesma forma, Príncipe,  quando sábios guerrei-ros, sábios Brahmanes, sábios chefes de família e sábioscontemplativos, formulam uma pergunta, e depois acolocam ao  Tathagata, a resposta ocorre ao Tathagatano momento. Porque é que isto acontece?” Porque ‘oelemento da natureza das coisas’9  foi completamenteabsorvido pelo  Tathagata, através dessa completaimpregnação, ele encontra as respostas no momento.” 12. Quando disse isto, o Príncipe Abhaya disse: “Magnífico, venerável senhor! Magnífico, venerávelsenhor! O Bem-Aventurado tornou o  dhamma10  clarode várias maneiras… A partir de hoje, que o Bem-Aventurado se lembre de mim como o seguidor leigoque foi ter com ele em busca de refúgio para a vida.” Notas: 1) BEM-AVENTURADO:  Bhagava; refere-se a  SiddharthaGautama (Siddhatha Gotama), o Buda. 2) RAJAGAHA: significa ‘Morada do Rei’, era a capital do Reinode Magadha e é cenário de muitos eventos na vida de Buda. Acidade tinha duas partes, a cidade antiga construída entre ascolinas e a nova cidade localizada na planície, um pouco aonorte das colinas. Ambas estavam cercadas por enormesmuralhas. Os dois lugares favoritos do Buda são o Bambual euma baixa colina rochosa chamada Pico dos Abutres, logodepois do portão leste da cidade.  Rajagaha actualmente  échamada de Rajgir e fica no moderno estado indiano de Bihar,no norte da Índia.

3) PRÍNCIPE ABHAYA: era filho do rei Bimbisara de Magadha,porém não era o herdeiro ao trono. 4) NIGANTA: O professor Jainista da mesma época do Buda, émencionado nos escritos budistas como um dos principaisinimigos de Buda. 5) TATHAGATA: Em vez do título “Buda”, Siddhartha Gautamaàs vezes era chamado de “Tathagata”. O título Tathagata é umtanto paradoxal e pode significar alternativamente “Assimvem” ou “Assim se foi”. Numa das poucas declaraçõesmísticas que ele proferiu, o Buda disse que o  Tathagata  é“corpo do Dhamma, corpo supremo, o Dhammaque se torna, osupremo que se torna”. 6) DEVADATTA:  Devadatta era filho do irmãode  Shuddhodana,  Suprabuddha, era primo de Buda.  Oseu nome significa “dado por Deus”. Quando o Buda retornoua Kapilavastu pela primeira vez após a sua iluminação, váriosjovens  Shakyas, incluindo Devadatta, decidiram tornar-semonges. Por alguns anos, Devadatta provou ser um mongebom e diligente. O Buda nomeou-o, juntamente com outros,como um monge exemplar. Mas as coisas mudaram,Devadatta tornou-se gradualmente orgulhoso. Mais tarde, elepercebeu que o Buda se estava a afastar das práticas ascéticastradicionais e conseguiu que outros monges concordassemcom ele.  Confrontando o Buda nesta questão, Devadattainsistiu que ele tornasse várias práticas obrigatórias paratodos os monges. As exigências de Devadatta foram recusadase, assim, ele e os seus apoiantes separaram-se do Buda e dosseus discípulos. A tradição diz-nos  que os seus apoiantesacabaram por o abandonar para retornar ao Buda e que maistarde ele morreu desacreditado e sozinho. 7) ÉON:  é um termo utilizado para designar“o que é parasempre”, um período longo de tempo ou a eternidade. 8) BRAHMANES: Sacerdotes.  9) ELEMENTO NATUREZA DAS COISAS”: (dhammadhatu)refere-se ao conhecimento  omnisciente  do Buda. É a“natureza mais profunda, ou essência”. 10) DHAMMA:  Dharma  em Sânscrito, é uma palavra commúltiplos significados. Geralmente é usado para se referir atodo o  corpus  dos ensinamentos do Buda. Nesse sentido,o Dhamma é o segundo dos três refúgios. Também é usado nosentido de ‘verdade’, ‘actualidade’ ou ‘como as coisas são’.Outro significado comum do  dhamma  é “justiça” ou“rectidão”.

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O conhecimento de si mesmo é a chave

de todo o conhecimento superior e da

compreensão da Natureza ; é o primeiro

passo na transformação de nós próprios.

No entanto, nem sempre pensamos,

sentimos ou agimos como gostaríamos.

Temos sentimentos indesejados,

alegrias fugazes e relacionamentos

complicados.

Uma sábia gestão emocional pode

resolver muitos dos nossos problemas,

ajudando-nos a conviver com tudo o que

nos rodeia.

Há na natureza uma harmonia com a

qual podemos entrar em sintonia.

A sociedade e a harmonia nas

relações são construídas por

indivíduos conscientes e ativos

nessa construção de um mundo

melhor.

A f i losofia dá-nos pistas sobre como

quebrar as correntes da ignorância

pessoal , do preconceito e do medo

para uma sociedade mais aberta e

mais l ivre.

www . n o v a - a c r o p o l e . p t

Uma vida com sentido não é algo assim

tão distante como se poderia pensar.

Ela está enraizada no exercício das

nossas melhores capacidades inatas

como a força de vontade, amor e

empatia, criat ividade, coragem e

resi l iência, atenção e serviço ao outro.

A prática das virtudes próprias do ser

humano confere um sentido a cada um

dos nossos actos e integra-nos com o

caminho da humanidade.

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