da escola pÚblica paranaense 2009 - … filenesta pesquisa foram desenvolvidas as atividades...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
Adelmo Iurczaki1 João Edmilsom Fabrini2
CONHECENDO A VIDA DOS ESTUDANTES DE UMA ESCOLA DE ACAMPAMENTO SEM –TERRA
Resumo
Este artigo tem por finalidade apresentar os resultados referentes à pesquisa realizada no Programa de Desenvolvimento Educacional PDE turma 2009 realizada nos anos de 2009 e 2010. Nesta pesquisa foram desenvolvidas as atividades inerentes ao proposto pelo projeto as quais as experiências estão sistematizadas neste trabalho final que compreende pesquisa bibliográfica, orientações do professor orientador, desenvolvimento de pré-projeto, aplicação de atividades pedagógicas na escola onde se desenvolveu a implementação de pesquisa e material didático pedagógico e pesquisa de campo que sintetiza tal documento. A pesquisa realizada ocorreu no Colégio Padre Pedro Canisio Henz no município de Cascavel, onde os alunos visitaram a Escola Itinerante Zumbi dos Palmares, Acampamento 1º de Agosto, no mesmo município. A proposta de trabalho foi realizar a visita e fazer com que os alunos da escola urbana visualizassem a vivencia da comunidade acampada e os olhassem com outra ótica, não os marginalizando com geralmente a mídia tem feito, concepção reproduzida muitas vezes pelos estudantes. Palavras chaves: Educação, Escola Itinerante, movimentos sociais.
Resumem El presiente articulo tien la finalidad presentar los dados referentes a la pesquisa desarojada em Programa de Desenvolvimento Educacinal do Paraná turma 2009, desarojada entre 2009 y 2010. Donde foram desarojadas las atividades inerentes
1 Professor da rede publica estadual do Paraná, Núcleo Regional de Cascavel.
2 Professor da Universidade do Oeste do Paraná, Unioeste, Marechal Candido Rondon.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL
a lo projeto las quais las experiencias estão sistematizadas en este trabajo final que compreende la pesquisa bibliográfica, orientaciones de lo profesor orientador, desarojo de pré projeto, aplicacion de las actividades pedagógicas em la escola donde se desarojou la implementacion de la pesquisa e materiales didáticos pedagógicos e pesquisa en campo la qual sintetisa el documiento. La pesquisa ocorieu en lo Colégio Padre Pedro Cansio Henz en município de Cascavel, onde los alumnos visitaram la escuela itinerante Zumbi dos Palmares, Acampamiento 1º de Agosto, en el miesmo município. La proposta de trabajo em realisar la visita e fazer com que los alumnos da escuela urbana visualisasem la vivencia de la comunidad acampada e los mirasen com outra ojos, no los marginalizando com generalmete la mídia tiene echo y es la lectura que estos hacen, asi dasarojamos la visita com los alumnos que demostraran lo interes e la motivacion em conocer lo nuevo. Palavras chaves: Educacion, escola itinerante, movimientos sociales.
1 – Introdução
Ao longo de um ano realizamos diversas atividades do Programa de
Desenvolvimento Educacional, PDE do Estado do Paraná.
Entre elas, cursos na área de Geografia e de Fundamentos da Educação.
Elaboramos um projeto de pesquisa que serviu de referência para a produção
deste artigo, além das orientações feita pelo orientador professor Doutor João
Edmilsom Fabrini da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de
Marechal Candido Rondon. Realizamos a implementação do projeto na escola,
projeto este que fora utilizado como a produção de material didático pedagógico,
com desenvolvimento das atividades praticas realizado no Colégio Estadual Padre
Pedro Canisio Henz, no município de Cascavel, da qual obtemos resultados
práticos, que fazem parte do programa e que estarão sendo disponibilizados como
produção de material didático pedagógico.
Nosso objetivo era fazer com que os alunos do 1º ano do Ensino Médio
da rede urbana Colégio Padre Pedro Canisio Henz, pudessem visualizar a
realidade vivida pelos acampados do Acampamento 1º de Agosto. Desta forma,
propomos uma visita dos alunos do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual
Padre Pedro Canisio Henz, Bairro Jardim Veneza em Cascavel a Escola Itinerante
Zumbi dos Palmares, Acampamento 1º de Agosto no município de Cascavel.
Neste trabalho apresentaremos também parte dos resultados obtidos a
partir da realização do trabalho de campo com os alunos. Para tanto, iremos,
primeiramente, apresentar algumas reflexões de teóricos a respeito do assunto e
situar o leitor no contexto geral do presente trabalho. Abordaremos as idéias
principais referentes à trajetória histórica da Escola Itinerante, a qual está ligado a
um movimento social, o MST.
2 – Os movimentos sociais
Os Movimentos Sociais tem uma importância significativa no contexto
político do Brasil. Eles também serviram para a conquista de melhorias na vida
dos camponeses ao lutar pela realização da reforma agrária no Brasil.
Os Movimentos Sociais se desenvolveram tanto no campo quanto nas
cidades a partir das necessidades de melhoria nas condições de vida da
população, A obra de Gohn (1995) intitulada “História das lutas e movimentos
sociais no Brasil” foi essencial para a elaboração desta caracterização das
manifestações sociais presentes na trajetória da sociedade brasileira.
Entre esta e outras obras podemos destacar o histórico turbulento que
culminou com os movimentos sociais da atualidade.
Os movimentos tinham dificuldades de se estabelecer ou de permanecer no poder, sendo em maior ou menor tempo massacrados, nas várias regiões do país, pelas forças da legalidade colonial ou imperial. As alianças de classe existentes eram tênues e contraditórias. Homens brancos livres (pequenos produtores ou comerciantes) almejavam diminuição dos impostos e liberdade para a comercialização; soldados e outros militares queriam aumentos de soldos; padres e religiosos queriam a não-restrição a seus trabalhos, então perseguidos pelas leis pombalinas; índios-trabalhadores, no Pará, queriam a liberdade de viver segundo seus costumes e cultura; negros alforriados queriam empregos etc. (GOHN,1995, p. 23-24)
Gohn (2001) caracteriza as problemáticas mais recentes da sociedade
brasileira a qual da origem e sustentação ao desenvolvimento dos atuais
movimentos sociais no campo:
Invasões de terras, acampamentos de multidões, passeatas, mutirões comunitários para a construção de habitações populares etc. são exemplos de práticas dos movimentos comunitários em luta pela posse da terra, acesso à moradia, contra loteamentos irregulares, pela reconstrução de casas construídas recentemente pelo poder público e em precário estado de conservação, contra alugueis extorsivos, pelo rebaixamento de prestações da casa própria, por creches e outros equipamentos educacionais nos locais de moradia, por transportes, postos de saúde e saneamento básico; em suma, por tudo aquilo que diz respeito à moradia, a terra e aos equipamentos urbanos.(p. 39).
A partir da década de 70, os movimentos sociais têm buscado a
construção de uma sociedade mais igualitária. Esses movimentos buscam uma
convivência mais solidária e lutam pela autonomia dos movimentos sociais fora do
âmbito da máquina estatal, e entre as bandeiras de luta esta a escola.
Souza (2005) destaca que na primeira metade do século XX os
movimentos no campo eram freqüentes e estes mudam o espaço de ação. No
decorrer do século, tanto movimentos urbanos quanto rurais passaram a utilizar o
espaço da cidade para manifestarem as suas bandeiras de luta. A partir de 1950
os movimentos rurais e urbanos adquirem maior visibilidade em decorrência de
manifestações em espaços públicos, onde reivindicavam moradia, educação e
voto direto.
No campo diretamente as relações de produção mudam e isso fez com
que houvesse mudança na organização e nas reivindicações dos trabalhadores,
As relações de trabalho sofreram mudanças o trabalho escravo é substituído pela agricultura familiar caracterizada pelo trabalho das famílias nas plantações de café através da relação de troca, onde o colono3 podia plantar entre as fileiras do café, produtos para a subsistência como feijão, milho, arroz; em algumas outras relações estabelecia a mesma parceria com o fazendeiro e podia receber o pagamento pelos trabalhos prestados na fazenda, para o fazendeiro, em dinheiro, ou como na colheita de café, onde o colono recebia uma porcentagem de produto, no caso café, pelo volume do produto colhido. (IURCZAKI, 2007, p. 12)
3 Colono aqui se refere ao agricultor que exerce trabalho ao fazendeiro e que não é proprietário de
terras, ver Martins, 2003.
Com a mecanização e a quimificação das lavouras as relações de
produção sofreram alterações, como a substituição da mão de obra dos
trabalhadores por máquinas e a produção principalmente para a exportação
aumentou o valor agregado a terra, processo que desencadeou em diversos
conflitos no campo.
Com o problema da violência em torno da terra e das lutas em busca de
melhores condições de vida e de equipamentos para a população rural, houve a
organização das pessoas buscando sanar suas dificuldade e assim surge o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
3 – MST: Trajetória histórica
Nas décadas de 1960 e 1970 houve grandes transformações no campo e
conseqüentemente nas cidades, devido ao êxodo rural que acentuou-se resultante
da mecanização e quimificação no campo.
O preço das terras se elevou devido ao valor da produção de grãos que
possibilitava grandes lucros, com os lucros alguns proprietários, com maior poder
aquisitivo, foram incorporando as pequenas propriedades, diminuindo o número de
pequenos agricultores. O uso de máquinas e a utilização de produtos químicos
também substituíram os trabalhadores do campo, os quais foram se aglomerando
nas cidade, aumentando os problemas urbanos.
A cidade não deu conta de absorver toda a mão de obra dos
trabalhadores oriundos do campo e ao mesmo tempo a infra-estrutura ficou
comprometida. Houve falta de escola, saúde, e logo residências, além do emprego
que a maioria não conseguia por falta de qualificação para o trabalho urbano.
Com toda esta problemática se acentuando, os trabalhadores rurais se
organizam e desenvolveram luta coletiva. Nas cidades, os trabalhadores oriundos
do campos também se organizam, uma vez que os anseios e as necessidades
eram as mesmas de uma grande parte da população. Assim, surge o MST, que
logo se organizou em vários estados, tornando-se um grande movimento social.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra hoje é uma grande
organização com atuação em todo o Brasil. O movimento tem participado das
mais diversas ações e também apóia lutas de muitas outras categorias de
trabalhadores, com significativo respeito e reconhecimento de suas ações.
O surgimento do MST está ligado à luta histórica pela terra que é
retomada na década de 1970 devido a todas as problemáticas apresentadas
conforme afirma Caldart (2000).
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, também conhecido como Movimento dos Sem Terra ou MST, é fruto de uma questão agrária que é estrutural e histórica no Brasil. Nasceu da articulação da luta pela terra que foram retomadas a partir do final da década de 70, especialmente na região Centro Sul do país, e aos poucos expandiu-se pelo Brasil inteiro. O MST teve sua gestação no período de 1979 a 1984 e foi criado formalmente no Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra, que aconteceu de 21 a 24 de janeiro de 1984 em Cascavel, no estado do Paraná. Hoje o MST está organizado em 22 estados e segue com os mesmos objetivos definidos no neste Encontro de 84 e ratificados no I Congresso Nacional realizado em Curitiba, no ano de 1985, também no Paraná: lutar pela terra, pela reforma agrária e pela construção de uma sociedade mais justa, sem explorados nem exploradores. (CALDART, 2000, p. 3)
O movimento, enquanto organização formal4 teve sua origem na região
oeste do Paraná e estendeu a atuação para praticamente todo o território
brasileiro.
O movimento tem seu inicio na região sul do país, mas se estende por outros estados através da igreja e através das migrações dos colonos, mas principalmente pela crise econômica e a alternativa de volta ao campo, a qual faz aparecer vários grupos de sem terra nas periferias das grandes cidades. (IURCZAKI, 2007, p. 25)
Para GRYZBOWSKI a luta dos acampados do MST está relacionada à
situação em comum em que vivem o que os faz buscar melhorias. Isso os mantém
unidos não somente em torno da luta por reforma agrária, mas atuam também na
tentativa de sanar as dificuldades imediatas que tem encontrado.
O sentido político da luta dos sem-terra não decorre das relações mais imediatas que eles mantém, mas está no fato de terem em comum a situação de excluídos, devido à estrutura agrária vigente, e de exigirem do Estado medidas que lhes garantam o acesso à propriedade da terra e a sua re integração econômica e social como
4 Organização formal, quando foi criado o MST, por que os movimentos reivindicatórios aconteciam
em varias regiões do país.
pequenos proprietários. Os sem-terra não se defendem, mas tomam a iniciativa, ocupando áreas e, sobretudo, organizando acampamentos. Criam situações de fato, obrigando o Estado a intervir, através de juízes, policiais, INCRA, políticos. A não ser nas ocupações, os sem-terra não são hostilizados diretamente pelos grandes proprietários. A pressão destes é feita, sobretudo, através de suas organizações. (GRYZBOWSKI, 1987, p. 24)
A organização e as lutas constantes trazem a tona outras problemáticas
enfrentadas por grande parte da população rural, problemas que logo se tornaram
objeto de luta do movimento. Desta forma não só a reforma agrária passa a ser
defendida, mas outras bandeiras de luta são assumidas pelo movimento, entre
elas a de escola pública e educação de qualidade para os camponeses que nem
sempre tiveram a atenção que necessitavam por parte dos governantes.
Assim, não é somente a reforma agrária ou a luta pela terra que passa a
ser defendida pelo movimento, o que o faz notável no cenário nacional e
internacional, mas a busca de superação de uma série de necessidades imediatas
da população rural, as quais passaram a ser defendida juntamente com a reforma
agrária, entre estas lutas está à educação de qualidade a partir também da
formalização da escola pública no acampamento.
A educação do campo é uma proposta dos movimentos sociais que tem
como fundamento a clareza do lugar social que a educação pode ocupar no
projeto de construção de uma sociedade mais justa, humana e igualitária. A
educação do campo é aquela que se propõe a trabalhar os interesses, a política, a
cultura e a economia dos diversos grupos de trabalhadores e trabalhadoras do
campo, nas diversas formas de organização e o permanente processo de
produção de valores, conhecimentos e a igualdade sócio econômica dessa
população. A educação do campo tem o propósito de atender os anseios dos
camponeses no seu local de vivência, de resgatar a sua história, valorização do
ser humano e respeito ao meio ambiente.
Um dos principais espaços de resistência dos trabalhadores sem-terra
são os acampamentos, espaço onde os sem-terra permanecem em tempo
indeterminado lutando pelo assentamento; um processo lendo e demorado. Assim,
os acampados mudam de e com os acampamentos, até que consigam a posse da
terra e desta maneira construam residência fixa em seu pedaço de chão.
Como uma parte dos acampamentos geralmente localiza-se em um lugar
de difícil acesso e longe dos centros urbanos, a freqüência a escola torna-se
comprometida, além disso, há uma certa discriminação e exclusão das crianças
oriundas dos acampamentos. Uma das soluções para este problema de falta de
escola foi organizar e criar escolas dentro do acampamento. Neste contexto,
foram criadas as escolas itinerantes, e são itinerantes por que mudam com os
acampados conforme realizam as ocupações.
4 – Os acampamentos
Os acampamentos são locais de resistência dos trabalhadores sem-terra
e ao mesmo tempo tem importância significativa na sua organização. Neste local,
ocorrem às reuniões e são tomadas decisões inerentes às ações que o movimento
realiza. É local também de articulação das lutas, mas principalmente da vivência
em comunidade, onde várias experiências são colocadas, como é o caso da
organização coletiva e busca de transformações e construção de uma sociedade
mais justa e humana.
A forma de organização no acampamento é simples, porém atribui
responsabilidade a todos e cobra-se a participação de todos, a qual é respeitada
através da representatividade no coletivo.
4.1 – A escola do acampamento
As crianças dos acampamentos quando estudam nas escolas das
cidades, muitas vezes, são discriminadas. Além da discriminação, os conteúdos
trabalhados nestas escolas não vão de encontro da realidade vivida por elas, pois
não atende as especificidades do trabalho com a terra. Por isso, os acampados
passaram a luta pela instalação de escolas que atendessem diretamente as
necessidades dos acampados, ou seja, foi pensado na construção de escolas
itinerantes nos acampamentos.
A escola itinerante é constituída para atender a demanda imediata da população acampada, que por estarem em uma área rural geralmente é de difícil acesso e distante de escolas, por ser um acampamento, as pessoas permanecem no local de forma provisória, podem mudar de lugar ou permanecer por muito tempo, depende do governo, do fazendeiro dono das terras e vários outros fatores, assim, se o acampamento mudar por qualquer um destes motivos ou por outro, a escola muda com as pessoas, por isso escola itinerante. (IURCZAKI, 2007. p. 92)
A instalação de escolas nos acampamentos é um fato recente,
considerando a história da educação no Brasil, a 1ª escola itinerante implantada
ocorreu no ano de 1996 no estado do Rio Grande do Sul.
No Paraná, as escolas itinerantes foram instaladas e começaram a
atender os acampados no final do ano de 2003 inicio de 2004. Atualmente, são
11 escolas itinerantes em acampamentos de todo o Paraná. A partir da
instalação e organização das escolas Itinerantes, elas também foram
reconhecidas e regularizadas oficialmente pelo Governo do Estado do Paraná,
que é o responsável e mantenedor destas escolas públicas.
5 – A Escola Zumbi dos Palmares no acampamento 1º de Agosto
O acampamento 1º de Agosto está situado a cerca de trinta quilômetros
da sede do município de Cascavel. O acampamento foi montado numa grande
fazenda do município de Cascavel (fazenda Cajati), onde existem mais três
acampamentos, ou seja, o acampamento Dorcelina Folador, Casa Nova e 1º de
Maio.
No acampamento 1º de Agosto residem aproximadamente 1.000 famílias.
No acampamento existem Igrejas, estabelecimento comercial de produtos básicos,
farmácia de ervas medicinais e uma escola onde estudam mais de 200 alunos. Ao
redor do acampamento são criados animais e plantados produtos que servem
para a subsistência dos acampados. O excedente da produção é pequeno, o qual
é vendido e auxilia na remuneração das famílias.
Na primeira ocupação do complexo Cajati, formado por 08 imóveis, foi
formado um grande acampamento, o Dorcelina Folador, onde foi instalada a
primeira escola itinerante do Estado do Paraná. Posteriormente, foram ocupadas
outras áreas e formados outros acampamentos no complexo de fazendas da
Cajati, como foi o caso do acampamento 1 de agosto. Assim, a Zumbi dos
Palmares que estava no acampamento Dorcelina Folador foi transferida para o
acampamento 1 de agosto.
Conforme relato em caderno da Escola Itinerante podemos observar
como se deu esta transferência do acampamento e da escola:
O amanhecer do primeiro dia de Agosto de 2004, num dia frio, com geada em meio à pastagem e muita neblina, o novo território foi ocupado. Tudo estava para ser construído e, novamente, aos poucos o acampamento ia se reerguendo juntamente com o sol que aos poucos os aquecia. Inicialmente foram erguidos grandes barracões coletivos das brigadas. As atividades da escola foram reiniciadas no segundo dia da ocupação, cada educador após o tempo formatura escolheu o seu local para dar aula, no meio da plantação de aveia, a céu aberto. O tema gerador daquele dia de estudo foi OCUPAÇÃO. Sentados no chão com o quadro de escrever firmado na cerca de arame farpado do latifúndio, improvisou-se espaços de estudos. [...] (Cadernos da Escola Itinerante – MST, ano VIII – nº 1)
A Escola Itinerante Zumbi dos Palmares, está vinculada ao Núcleo
Regional de Educação de Laranjeiras do Sul e tem toda sua organização
documental a partir da Escola base Colégio Estadual Iraci Salete Strozak
localizada no município de Rio Bonito do Iguaçu. Todas as escolas itinerantes são
vinculadas a duas escolas estaduais, denominadas escolas bases.
A Escola Itinerante Zumbi dos Palmares, oferta Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Médio, além de Educação de Jovens e Adultos.
A estrutura de funcionamento das escolas itinerantes é a mesma das
demais escolas rurais e urbanas no estado do Paraná, com exceção da
organização nas séries iniciais que é de responsabilidade do MST e não da
prefeitura como nas demais escolas públicas. Assim, na Escola Itinerante Zumbi
dos Palmares as turmas de Educação Infantil e séries iniciais do Ensino
Fundamental têm professores que geralmente são oriundos do próprio
acampamento e vinculados ao Movimento Social.
A formação dos professores que atuam nas séries iniciais é realizada pelo
MST que tem um grupo responsável no setor de educação, o qual atua em
parceria com o governo do estado, prefeituras e universidades. Este é o caso da
Unioeste que mantém um curso de Pedagogia do Campo, o qual forma
professores para atuarem nos acampamentos, além de curso de pós-graduação
em Educação do Campo, ainda oferece cursos periódicos de formação continuada
em parceria com o setor de educação do MST. Outras universidades no Paraná
também oferecem cursos para a formação de professores que atuam nos
acampamentos e assentamentos.
Já os professores de 5ª a 8ª séries e Ensino Médio que trabalham as
disciplinas do currículo elaborado pelo Estado não têm obrigatoriedade de
freqüentar cursos de formação especifica para atuar nestas escolas. No entanto,
atuando nos acampamentos os professores da rede publica estadual, que
ministram aulas aos alunos de 5ª a 8ª séries e Ensino Médio, realizam a formação
continuada especifica voltada a Educação do Campo oferecida pela SEED e pelo
movimento dos trabalhadores rurais sem-terra.
Foi nesta escola itinerante que realizamos nossa visita com os alunos do
Colégio Estadual Padre Pedro Canisio Henz, colégio localizado no bairro cascavel
Velho, considerado periférico da cidade de Cascavel. Este bairro é formado em
sua maioria por trabalhadores assalariados e informais dos quais muitos tem
origem no campo.
Os filhos dos trabalhadores urbanos que estudam no Colégio Estadual
Padre Pedro Canisio Henz têm a compreensão dos movimentos sociais,
principalmente do MST, reproduzida, maioria das vezes, pela imprensa
comprometida com os interesses da classe dominante. Por isso, propomos uma
visita ao acampamento 1º de Agosto com os alunos do 1º ano do Ensino Médio do
Colégio Padre Pedro Canisio Henz para que pudessem conhecer a vida dos
estudante de uma escola de acampamento, no caso, a Escola Zumbi dos
Palmares. Dessa forma, os estudantes da escola urbana puderam ter
conhecimento da realidade a partir da observação e convivência com estudantes
acampados.
6 – Visita ao acampamento
A Escola Itinerante Zumbi dos Palmares desenvolve as atividades
curriculares baseada na educação voltada para os camponeses, proposta que
nasce com os movimentos sociais e consta nos documentos da educação do
campo do Estado do Paraná.
Antes de realizarmos a visita com os alunos do 1º ano do Ensino Médio
do Colégio Estadual Padre Pedro Canisio Henz a Escola Itinerante Zumbi dos
Palmares desenvolvemos algumas aulas com o objetivo de situá-los no contexto
histórico dos movimentos sociais, bem como preparar atividades que seriam
desenvolvidas durante a visita.
Na primeira aula apresentamos aos alunos o problema da concentração e
distribuição desigual de terras no Brasil verificadas através de gráficos da
estrutura fundiária, apresentados a seguir:
menos de 10
10 a - 100
100 a - 1.000
1.000 e mais
1950
1960
1970
1975
1980
1985
1995/6
0
500000
1000000
1500000
2000000
2500000
3000000
3500000
Fonte: IBGE Org.: OLIVEIRA, A.U.
Brasil: Estrutura Fundiária - Nº de Estabelecimentos (1950 a 1995/6)
Fonte: Oliveira (2006).
menos de 10
10 a - 100
100 a - 1.000
1.000 e mais
1950
1960
1970
1975
1980
1985
1995/6
0
20000000
40000000
60000000
80000000
100000000
120000000
140000000
160000000
180000000
em hectares
Fonte: IBGE Org.: OLIVEIRA, A.U.
Brasil: Estrutura Fundiária - Área Ocupada (1950 a 1995/6)
Fonte: Oliveira (2006).
O primeiro gráfico demonstra o número de estabelecimentos no Brasil e o
segundo a área ocupada por estes estabelecimentos. De um lado, verifica-se que
existe um grande número de pequenos estabelecimentos ocupando uma área
reduzida de terra. De outro, verifica-se que um pequeno número estabelecimentos
acima de 1.000 hectares ocupa uma grande área agriculturável do Brasil.
Com isso demonstramos a concentração da estrutura fundiária do Brasil,
ou seja, grande parte das terras brasileiras pertence a um pequeno número de
proprietários e os pequenos proprietários dividem uma parcela pequena das
terras, indicando a desigualdade existente.
Outro dado também apresentado aos alunos foi o número de conflitos e
assassinatos no campo em que os fazendeiros, geralmente, contratam pistoleiros
e milícias privadas que são responsáveis pela retirada das famílias de posseiros,
principalmente na região Amazônica. Os conflitos também ocorrem entre as forças
policiais e os sem-terra quando são realizados os despejos de imóveis ocupados.
O gráfico a seguir apresenta o número de famílias acampadas, morte e tentativas
de assassinados no período de 1986 a 2006.
NÚMERO DE FAMILIAS EM ACAMPAMENTOS, MORTES E TENTATIVAS DE ASSASSINATOS 1986-2006.
http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/estrutura_fundiaria.htm
A partir deste gráfico podemos perceber o grande número de
assassinatos e ameaça de mortes que ocorrem nos acampamentos e que estão
ligadas a conflitos pela posse da terra. Com estes dados realizamos a discussão a
respeito do problema estrutural brasileiro.
Em seguida apresentamos o histórico do MST, a origem e as suas
bandeiras de luta, em que o movimento não quer somente a terra, mas condições
favoráveis para permanência dos trabalhadores no campo, com possibilidades de
produção e manutenção das terras, alem de uma vida digna com todos os
equipamentos oferecidos pelo Estado para a o bem estar das famílias, oriundas
dos acampamentos.
Depois de apresentada a trajetória do MST, foi relacionada à existência
das ocupações e acampamentos com os problemas das cidades como falta de
moradia, desemprego, enchentes, violência, dentre outros. Estes problemas
fizerem com muitos trabalhadores se organizassem nos movimentos sociais para
retornar ao campo.
A partir deste contexto procuramos entender por surgem os movimento
sociais, as ocupações, acampamentos, lutas, conflitos, etc. Foi enfatizado o papel
do acampamento para a manutenção do movimento e qual a sua dinâmica de
organização como espaço de resistência.
Foi apresentado aos alunos dados da “infraestrutura” do acampamento,
composta basicamente por um conjunto de barracos de chão batido. Falamos a
respeito dos alunos que estudam nas escolas Itinerantes que são pessoas pobres
e orpimidas que vivem na sociedade capitalista.
Preparamos também questionários e os roteiros de observação a serem
aplicados aos acampados de 1º de Agosto. Durante o trajeto da escola ao
acampamento os alunos observaram os elementos físicos e humanos do espaço
agrária local como a dimensão da propriedade, distância até o acampamento, os
tipos de cultivos, ocupação da terra, relevo, ambiente, etc.
Ao chegar ao acampamento houve um diálogo entre os alunos do
acampamento e os alunos do Colégio Estadual Pa Pedro Canisio Henz os quais
apresentaram a forma de organização escolar e da comunidade. Responderam
aos questionamentos uns dos outros, assistiram a uma mística5 apresentada pelos
alunos da Escola Zumbi dos Palmares representando a vida dos trabalhadores do
campo.
No Colégio Estadual P. Pedro Canisio Henz, os alunos fizeram discussão
em grupo a respeito da visita e prepararam apresentações de trabalhos para os
colegas das outras turmas do Ensino Médio. Os alunos apresentaram através de
fotos, cartazes e painéis o que observaram e aprenderam no acampamento.
Assim, foi possível verificar que os meios de comunicação social, sobretudo a
televisão, com a qual os alunos do ensino médio obtêm grande parte das
informações, apresentam informações parciais e destorcidas. Portanto, foi
possível conhecer a realidade agrária a partir da escola e das atividades
realizadas na visita ao acampamento.
7 – Considerações
5 A mística é uma apresentação realizada pelos membros do acampamento, e retrata a vivencia e a
historia da comunidade.
As atividades desenvolvidas na escola contribuíram de forma significativa
para que os alunos compreendessem a vida dos estudantes da escola Zumbi dos
Palmares no acampamento 1 de agosto. Através da visita ao Acampamento 1º de
Agosto os alunos observaram e tiveram informações dos próprios acampados a
respeito da situação vivida por eles, e desta forma puderam re-elaborar o conceito
que tinham de acampamento e acampados e dos movimentos sociais.
Também a visita proporcionou o contato com pessoas que estão em luta
para construir seu lugar social no campo. Muitos alunos conheceram as
dificuldades vividas no acampamento como a falta de infra-estrutura, condições de
higiene, saúde, etc. Os alunos ficaram surpresos com a falta de chuveiro elétrico,
banheiro e vaso sanitário improvisado, por exemplo.
Outro aspecto observado pelos alunos é o fato de os sem-terra serem
considerados agressivos, violentos e bandidos. A visita permitiu verificar que esta
é uma concepção equivocada.
A preocupação com a produção de alimentos para subsistência livre de
agrotóxicos e de também chamou a atenção dos alunos do Colégio Padre Pedro
Canísio Henz, levando a perceber em loco que a produção de alimentos para na
sua maior parte é produzido pelas pequenas propriedades.
O fato dos alunos poderem apresentar aos colegas o relatório da visita a
outras turmas fez com que estes buscassem ainda mais informações a respeito
dos movimentos sociais, principalmente do MST.
Percebemos que maioria dos alunos consideraram importante da visita e
demonstraram na oralidade e através dos textos escritos por eles que a imagem e
a imaginação que tinham dos sem terra é bem diferente da realidade observada
no acampamento. Esta nova idéia do acampamento está sendo repassada aos
colegas e pais.
8 – Referências
CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra, São Paulo: Expressão Popular, 2000. Escola Itinerante do MST: História, Projeto e Experiências. Setor de Educação do MST e Secretaria de Estado da Educação do Paraná, coordenação da Educação
do Campo. Cadernos da Escola Itinerante – MST. Ano VIII – Nº 1 abril 2008. Curitiba: 2008. FABRINI, João E. A resistência camponesa nos assentamentos de sem-terra. Cascavel: EDUNIOESTE, 2003. FERNANDES, B. M. Questão agrária pesquisa e MST. São Paulo: Cortez, 2001. GOHN, M. G. História dos movimentos e lutas sociais. São Paulo: Loyola, 1995. GOHN, M. G. Movimentos sociais e educação. São Paulo: Cortez, 2001. GRZYBOWSKI, C. Caminhos e descaminhos dos movimentos sociais no campo. Petrópolis: Vozes, 1987. IURCZAKI, Adelmo. Escola Itinerante: uma experiência de Educação do Campo no MST. Curitiba, UTP, 2007, 154 p. Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação Universidade Tuiuti do Paraná: 2007. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Geografia e os Movimentos Sociais. Palestra dia do Geógrafo, 29/05/06, Marechal Candido Rondon, PR, 2006. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A Geografia das Lutas no Campo. 6. ed. São Paulo: Contexto, 1996. PARANÁ, Diretrizes curriculares do Estado do Paraná Geografia. Curitiba: 2008. PROJETO POLITICO PEDAGÓGICO. Escola Itinerante de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio, Educação Profissional e Modalidade de Educação de Jovens e Adultos para Acampados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Estado do Paraná. Curitiba. 2006. SOUZA, M. A. Educação do campo: propostas e práticas pedagógicas do MST. Curitiba: 2005.
Anexos
Fotos da visita elaboração e apresentações dos trabalhos, realizada pelos alunos.
Foto da sala de aula, elaboração das apresentações (fonte autor)
Foto da sala de aula, elaboração das apresentações (fonte autor)