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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO OESTE

LUCIA ALMA MULLER

UNIDADE DIDÁTICA

MONGE JOÃO MARIA: SUAS LENDAS, SUAS FONTES DE ÁGUA SANTA E A

PRÁTICA DO BATISMO.

MANGUEIRINHA – PARANÁ

2010

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UNIDADE DIDÁTICA – PDE – 2010.

1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

1.1 Professor PDE: Lucia Alma Muller

1.2 Área: Paraná: História e Historiografia

1.3 NRE: Pato Branco

1.4 Professor orientador IES: Ariel José Pires

1.5 IES vinculada: UNICENTRO – Guarapuava

1.6 Escola de implementação: Escola Estadual Misael Ferreira Araújo –

Mangueirinha, PR.

1.7 Público objeto da intervenção: Alunos da 5ª Série da referida escola.

MONGE JOÃO MARIA: SUAS LENDAS, SUAS FONTES DE ÁGUA

SANTA E A PRÁTICA DO BATISMO.

A Lei nº 13.381/01 obriga a Rede Pública Estadual, no Ensino Fundamental

e Médio, trabalhar os conteúdos da História do Paraná, tendo assim, como

metodologia, partir das histórias locais, regionais passando depois pela História do

Brasil e Geral. Neste sentido estudaremos a Guerra do Contestado analisando a

presença do monge João Maria, com suas lendas, fontes de água santa com a

prática do batismo.

QUEM FOI JOÃO MARIA? EM QUAL MOVIMENTO SOCIAL E QUA L REGIÃO

ESTEVE PRESENTE?

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O monge João Maria fez parte no movimento chamado Guerra do

Contestado, e permaneceu no imaginário religioso dos sertanejos, que em vista de

sua peregrinação e atenção à vida dos mesmos, viam nele e em sua pregação, um

refúgio, uma segurança para garantir seus direitos à vida e à terra.

O QUE FOI O CONTESTADO? ONDE ACONTECEU? QUANDO? QUA IS

FORAM SUAS CAUSAS? QUEM PARTICIPOU? QUAL A RELAÇÃO DO MONGE

COM O CONTESTADO?

O Contestado foi um dos mais importantes acontecimentos da História do

Sul do Brasil, que ocorreu entre 1912 e 1916, na região de fronteira entre Santa

Catarina e Paraná, num território de 48 mil km2, entre vastos campos e matas.

Não há uma relação de causa e efeito entre os limites interestaduais e a

guerra, porém a indefinição das divisas entre os dois estados “marcou

profundamente a natureza da ocupação demográfica da região e o perfil social e

político destas comunidades” (MACHADO, 2004, p. 123). Foi um conflito armado

entre a população civil cabocla e os representantes do poder Estadual e Federal

Brasileiro. Mas, segundo Machado, 2004, “talvez fosse mais adequado a

denominação “Guerra no Contestado”, pelo fato de o conflito não ser uma guerra

entre os estados de Paraná e Santa Catarina, em disputa pela região litigiosa” (p.

35).

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QUEM ERA JOÃO MARIA?

Era o personagem e líder religioso do Contestado. “João

Maria, para essa gente, é santo. É São João Maria. Faz

milagres. Atende aos que lhe imploram proteção. Restitui-

lhes a saúde, conserta-lhes as dificuldades da vida

quotidiana” (CABRAL, 1979, p. 276). Ele se fazia próximo

dos sertanejos e “sua atividade foi ligada à localização de

vertentes de água, logo batizados pela população de

águas do monge ou águas santas, que os sertanejos

acreditavam (e ainda acreditam) possuir poderes

terapêuticos especiais” (MACHADO, 2009, p. 292).

O movimento social do Contestado iniciou-se como um fenômeno religioso de exaltação milenar com fortes características messiânicas, mantendo basicamente estas características místicas, com maior ou menor intensidade, até a sua liquidação final, neste aspecto, o contestado apresentou um certo ineditismo pelo fato de a principal liderança mística – o monge José Maria – ter sido morto no primeiro combate, no faxinal do Irani, em outubro de 1912. Porém a expectativa pela “volta” do monge, além de provocar uma nova reunião de seu grupo inicialmente restrito de seguidores no ano seguinte, acabou por agregar diferentes segmentos sociais, como posseiros e sitiantes expulsos de suas terras, comunidades negras e caboclos do planalto, ervateiros, trabalhadores desempregados pela estrada de ferro, médios fazendeiros, antigas lideranças federalistas e opositores políticos dos coronéis de Curitibanos, Canoinhas, Lages, Rio Negro, Timbó e União da Vitória (MACHADO, 2007, p. 25).

� Analisando a citação acima, qual a característica particular da Guerra do

Contestado?

� Quais os motivos e participantes do Contestado?

� Localize e pinte no mapa acima o território contestado pelos estados de

Santa Catarina e do Paraná.

Placa do Poço de Água Santa, Covo – Mangueirinha - PR. Arquivo pessoal, 2009.

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Os autores em sua maioria admitem três monges com o mesmo nome, que

andaram pelo território do Contestado. O primeiro João Maria, chamado de João

Maria de Agostini, chegou ao Brasil vindo de Piemonte da Itália em 1844, fazendo

suas peregrinações pelo sudeste e sul do país. “João Maria, a par de prescrições

religiosas, aconselhava, como no Campestre, a água que ali perto corria. Para todas

as enfermidades e para todas as queixas” (CABRAL, 1979, p.132). Era um homem

religioso simples, “mantinha ele os seus hábitos de ascetismo. Nada aceitava, salvo

algumas ofertas de frutos e leite. Se lhe deixavam outros alimentos ou dinheiro,

quando não recusava de imediato, distribuía-os aos pobres logo depois” (CABRAL,

1979, p.133). Devido a esta vida errante, peregrina, João Maria não aceitava que

pessoas o seguissem em suas andanças.

O segundo monge surgiu em 1890, era Anastás Marcaf, e adotou o nome de

João Maria de Jesus, talvez por ter ouvido falar tanto do primeiro monge, resolveu

adotar a personalidade do eremita facilitando a sua missão, que segundo um sonho

que tivera, teria recebido a missão de levar “uma vida ascética e um tempo

delimitado de peregrinação e de provação” (MONTEIRO, 1984, p. 89). Mas, segundo

Cabral, 1979,

Este João Maria é que, em verdade, é o santo, o que é reputado como tal pelas nossas populações sertanejas, não o primeiro, cujos contatos com o povo foram muito rápidos e fugazes. São deste as fotografias que correm – e não de Agostini, que não as deixou de si; são deste os milagres que se contam e as lendas que se formaram. Este e não o outro, a quantos conseguem distinguir dos monges, é que é o santo; neste é que toda gente acredita, que toda a população sertaneja venera e de quem correm os prodígios (p.163).

A verdade é que para a população do Contestado os dois são como um só.

“Aliás, o santo não é João Maria de Agostini nem João Maria de Jesus, é apenas

João Maria, São João Maria” (CABRAL, 1979, p.166). Ele atendia todas as pessoas

que a ele se achegavam, dando uma palavra de conforto, um remédio e o batismo

que muitos buscavam nas suas fontes sagradas, “pois criam que o seu batismo

traria felicidade aos pobres que deitavam no mundo” (CABRAL, 1979, p.178). Muitos

esperavam a sua passagem para batizar o filho, podendo passar alguns anos, e o

convidavam como padrinho e /ou davam o mesmo nome ao filho.

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Já o terceiro monge apareceu na região do Contestado em 1911 no

município de Campos Novos – SC. “Dizia-se irmão do Monge João Maria

d’Agostinho e passou a adotar o nome de José Maria de Santo Agostinho. Receitava

ervas, como fizeram seus antecessores” (FACHEL, 1995, p.54). E sendo ex-militar,

Miguel Lucena de Boaventura, admitia os ajuntamentos e organizou acampamentos,

participou e morreu na primeira batalha da Guerra do Contestado. Mas, “para os

sertanejos não importava a identidade de José Maria, não tinha sentido perguntar

por isso – importava, sim, que José Maria estava lá com eles, era como eles e,

sobretudo, demonstrava na sua prática diária ter o poder do sagrado” (AURAS,

1984, p. 59).

AS LENDAS DE JOÃO MARIA:

As lendas de João Maria conhecidas pela população são muitas, mas são

três as que se referem à cidade de Mangueirinha – PR, e citadas no livro “Lendas e

Contos populares do Paraná”, coordenado por Renato Augusto Carneiro JR, da

Secretaria de Estado da Cultura, Curitiba, 2005, nas páginas 30 a 32, cujas lendas

foram relatadas por Stelamaris Grassi Serpa, professora e moradora do citado

município.

A primeira lenda a que se refere à presença de João Maria em Mangueirinha

é a da “História do Queijo”. Conta-se que a mulher do Coronel Misael Ferreira de

Araújo, ao saber que o monge passaria pela fazenda, disse que daria um queijo ao

santo, mas o coronel disse que chegaria só a metade, pois o monge era sozinho,

mesmo assim a esposa deu o queijo inteiro. Ao receber o queijo, João Maria cortou

e deu a metade de volta ao Coronel Misael dizendo que tal parte não lhe pertencia.

A segunda é a “História da galinha”, também contada por Cabral, 1979, p

330. Estava o monge acampado na comunidade do Covó, próximo da fonte de água.

� Para os caboclos do Contestado, quantos João Maria existiam? Justifique.

� A tua família tem alguma devoção a ele? Se sim, conte alguma experiência.

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Uma senhora ao procurá-lo para pedir conselhos, resolve levar de presente uma

galinha. Tenta pegar a galinha no terreiro, mas como não estava conseguindo, então

grita “Oh! Galinha do diabo”! Depois consegue pegá-la. Pois bem, ao dar a galinha,

João Maria diz que não queria, pois a galinha já tinha sido dada ao diabo.

A terceira lenda é a “História do peixe”. Numa de suas passadas por

Mangueirinha, o monge quis pousar numa família. O homem logo o convidou para

dormir em sua casa, mas sua mulher não aceitou dar sua cama a um andarilho e o

colocou para dormir na estrebaria. Na hora do jantar, tendo por prato um peixe, o

marido quis levar também para João Maria, mas a mulher não permitiu de novo e

disse que daria a sobra. No mesmo instante, a filha do casal se afogou com um

osso, desesperados e não conseguindo tirar, lembraram do santo, que logo o

homem foi chamá-lo para salvar a filha. João Maria não aceitou e disse ao homem

que a criança tinha se afogado não com o osso, mas sim com o peixe. Para salvar a

filha ele próprio devia colocar a mão na cabeça da menina e dizer: “home bão, muié

malina, osso de peixe pra baixo e pra cima”. Feito isso, o osso saiu na mesma hora

e a menina foi salva.

OS MANDAMENTOS DE JOÃO MARIA:

Os “mandamentos de são João Maria” ditos como “Leis da natureza”,

recolhido pelo pesquisador Euclides Felippe junto a Emídio Conceição, capelão leigo

da “água santa” de Curitibanos, citado nas notas por Machado, 2004, são:

� Que tal encenarmos as lendas de João Maria do município de Mangueirinha

– PR!

� Tem alguma lenda do monge em vosso município? Pesquise no livro: JR,

Renato Augusto Carneiro (Coord.). Lendas e Contos Populares do

Paraná. Curitiba, Secretaria de Estado da Cultura, 2005. Cadernos Paraná

da Gente Nº. 3.

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1. Não se deve queimar folhas, cascas e nem palhas das plantações que dão mantimentos. O que a terra dá emprestado, quer de volta; 2. É errado jogar palhas de feijão nas encruzilhadas. É o mesmo que comer e virar o coxo. A terra se ofende; 3. Ao cortar uma árvore ou pé de mato, não se deixa mamando (agonizando). Se corta por inteiro. Enquanto as plantas agonizam, os negócios da gente também vão abaixo; 4. Quem descasca a cintura das árvores para secá-las, também vai encurtando sua vida. Árvore é quase bicho e bicho é quase gente; 5. (...) 6. A terra é nossa mãe. A água é o sangue da terra-mãe. Cuspir e urinar na água é o mesmo que escarrar e urinar na boca de sua mãe; 7. O pai da vida é Deus. A mãe da vida é a terra. Quem judia da terra é o mesmo que estar judiando da própria mãe que o amamentou; 8. Quem não sabe ler o livro da natureza é analfabeto de Deus

(p. 230).

PRÁTICA DO BATISMO NOS POÇOS DE ÁGUA SANTA

A prática do batismo nas fontes vem de muito longe e continua ainda hoje, quer

queira ou não a igreja oficial. Já antes do Contestado tinha-se o costume de ter dois

batismos: um doméstico e o outro eclesiástico. Auras, 1984, afirma que existia:

Um “batismo doméstico”, intraclasse (os padrinhos apresentam a mesma condição econômica-social dos pais da criança), efetuado por algum morador ou – o que era preferível – pelo monge, na oportunidade de sua eventual presença; outro, “batismo eclesiástico”, interclasse (os padrinhos escolhidos gozavam de melhor condição econômica-social; geralmente recaía sobre o “coronel”), realizado pelo padre, na oportunidade também de sua eventual presença (p. 34).

Os fazendeiros batizavam os filhos dos peões e agregados e como

compadres que se tornavam, estabeleciam uma relação de compromissos, o

� O que lhe chamou a atenção dos Mandamentos da Natureza atribuídos a

João Maria?

� O que estes mandamentos nos ensinam hoje?

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fazendeiro dava auxilio ao afilhado e recebia lealdade e obediência do compadre,

era também uma forma de regular e legitimar a subordinação social. Já o batismo

entre os amigos, os compadres da mesma classe, era sim “um importante vínculo de

respeito mútuo, amizade e solidariedade” (MACHADO, 2007, p. 68), principalmente

se o próprio João Maria batizasse e fosse o padrinho.

O batismo doméstico tinha e tem por local apropriado as fontes de água

santa.

Em Mangueirinha há três poços: dois próximos da cidade e um na Reserva

Indígena. São fontes que inspiram devoção, muitos buscam da água para beber,

Poço de Água Santa, Covó – Mangueirinha PR. Arquivo pessoal - 2009

Poço de Água Santa, Reserva Indígena – Mangueirinha PR. Arquivo pessoal - 2010

Poço de Água Santa, Bela Vista – Mangueirinha PR. Arquivo pessoal - 2010

� Observe nas citações abaixo a relação e compromisso que afilhados e

padrinhos assumiam!

“Assim, o agregado escolhe o fazendeiro como padrinho do filho porque o

fazendeiro é patrão. Ao mesmo tempo, é leal a esse patrão porque ele é seu

compadre.” (MONTEIRO, 1974, p. 13).

Quando o afilhado é criança, espera-se dele para com o

padrinho a manifestação de obediência; e, deste para com

ele, o exercício atual de autoridade. Ao afilhado cabe o

respeito unilateral (assimétrico); ao padrinho, uma certa

responsabilidade material e moral (MACHADO, 1974, p.

63).

� Ainda existe esta relação entre padrinho e afilhados nos dias atuais?

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para passar em dores do corpo e para o sacramento do batismo. No poço do Covó,

é forte a prática da procissão na sexta-feira santa, com saída de madrugada numa

caminhada de 16 km. Os motivos são vários, vão desde agradecimentos de graças

alcançadas, pedidos de ajuda ao monge João Maria, sacrifício quaresmal e aventura

para os mais jovens.

� Há algum poço do monge João Maria em vosso município? Realizam aí o

batismo?

� Faz-se procissão no poço na sexta-feira santa? Já participaste de alguma

procissão? Qual? Quais eram os objetivos?

� Quais os simbolismos presentes nas imagens acima? O que eles

representam?

� Vamos fazer uma visita nos poços de água santa, coletando depoimentos

e fotos.

� Qual a importância de termos uma boa fonte de água em nossa terra?

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E NO TEMPO E NO TERRITÓRIO CONTESTADO, COMO VIVIAM OS

CABOCLOS QUE TANTO SE IDENTIFICAVAM COM O MONGE?

Nas terras contestadas, os caboclos e

pequenos posseiros viviam nas sedes e nos distritos

dos municípios, de forma simples em comunidades,

em seus casebres feitos com rachões de pinheiro e

telhados de folhas de palmeiras, com suas práticas

religiosas e o trabalho de mutirão, chamado de

“puxirão”, onde os vizinhos se ajudavam nos trabalhos

da roça. “O grupo partilhava o trabalho de roçada,

capina ou colheita, coletivamente, tendo um final

festivo, com farta alimentação e regado com muita bebida e cantoria” (TONON,

2009, p.322). Estavam divididos socialmente entre um

grupo minoritário que tinham as posses de grandes

porções de terras, os coronéis, em contrapartida com o

grupo majoritário, sem posse legal de terras: os ervateiros,

os peões e os agregados – morador agregado na fazenda

que recebia um pedaço de terra de favor. Para Queiroz

(1981), a sociedade era assim dividida: “a) coronéis, b) fazendeiros, c) criadores ou

meio-fazendeiros, d) lavradores, e) agregados, f) peões” (p. 43). Estes últimos eram

responsáveis pelo trabalho pesado.

A economia principal do planalto girava em torno da agricultura de

subsistência, principalmente o milho, feijão, abóbora e melancia; da criação de

porcos alimentados com o pinhão no inverno e milho no verão e da coleta de pinhão

que, segundo Queiroz (1981), “O pinheiral é o paiol dos pobres” (p. 37), e coleta da

erva-mate, que trocavam principalmente com os tropeiros em passagem pela região.

Conservavam a carne de porco na banha depois de frita, era “a geladeira dos

pobres”.

Arquivo pessoal, 2010.

Arquivo pessoal, 2010.

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Suas condições sociais, políticas, econômicas e religiosas não eram as

melhores, não eram assistidos nem pelos políticos nem pelos sacerdotes. No

entanto não se sentiam abandonados, pois o monge, ou os monges, João Maria

passavam fazendo suas rezas e profecias de novos tempos, de felicidade, de fartura

e de justiça. “Representava ele um lenitivo, um consolo, e uma esperança para os

oprimidos. João Maria se identificava com eles e eles com João Maria” (FACHEL,

1995, p.56).

Uma das principais cidades, no início do século XX, do lado catarinense era

Lages, chamada a “princesa da Serra” e do lado paranaense União da Vitória e

Palmas. Palmas

chegou a ter, na sede, cerca de 2500 habitantes. Era movimentado centro comercial. Exportava erva-mate, gado e eqüino, lã, crinas, queijos e carnes. Importava sal, arroz, café, farinha, ferragens e louças. Anualmente eram vendidas para fora do município cerca de 10000 reses. Também era considerável o comércio do mate e o do milho (QUEIROZ, 1981, p. 42)

Uma questão que afetou a vida tranquila dos colonos posseiros na terra do

Contestado foi a construção da ferrovia que ligava Rio Grande do Sul a São Paulo,

na linha entre União da Vitória e Marcelino Ramos – RS, concluída em 1910 e de

União da Vitória a Rio Negro, concluída em 1913, passando pelas terras

contestadas entre o Paraná e Santa Catarina, rasgando uma vasta porção de terras

férteis devolutas, com grandes áreas de ervais e pinheirais.

Esta ferrovia teve seu princípio em 1889, com D. Pedro II dando a concessão

ao engenheiro Teixeira Soares, para tudo organizar e providenciar para a sua

construção. Em 1904 - 1905, a empresa norte-americana Brazil Raiway Company,

assumiu o controle da construção da estrada de ferro São Paulo – Rio Grande,

tendo a cessão gratuita de 15 a 30 km das terras marginais da estrada, para serem

colonizadas.

Que contradição é esta! Os norte-americanos vieram “colonizar” onde já

era habitado e onde já havia os colonos, os posseiros, os índios! Ainda, conforme

o ditado: “Cavalo dado de presente não se olha os dentes”, mas olharam, sim, os

pinheirais, os ervais, e para tê-los em maior número, construíram a estrada de

ferro em zig zag!

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Este “presente”, a empresa norte-americana, tomou posse em 1909 e 1910:

A Brazil Railway fez cumprir seu domínio sobre os terrenos devolutos das margens de até 15 quilômetros de cada lado do leito da sinuosa estrada de ferro, o objetivo era preparar este território adjacente para a exploração de madeira e venda de terras a imigrantes estrangeiros ou a filhos de colonos já nascidos no país (MACHADO, 2004, p. 148).

A partir de 1911 aconteceu a expulsão dos posseiros das terras marginais

da estrada de ferro sem pena nem dó, o que aumentou, e muito, o número da massa

marginalizada que buscaram refúgio no Monge João Maria.

Para a construção desta obra nas terras contestadas, ser de forma rápida, a

empresa buscou arrebanhar pessoas da cidade do Rio de Janeiro, de Santos,

Salvador, Recife, chegando ao final da obra ser entre 8 a 10 mil operários. Ao findar

suas atividades os operários foram dispensados e abandonados, muitas vezes não

pagos e nem mesmo reconduzidos à terra natal, o que aumentou em muito a

situação precária dos habitantes dessas terras.

As consequências da expulsão dos colonos de suas terras foram muitas,

não só a perda do terreno, mesmo sendo posseiros, mas também tiveram perdas

culturais, sociais e religiosas. Tonon (2009), afirma:

Focando o cultural, as perdas foram infinitas, o espaço socialmente construído, no qual estão enterrados seus ancestrais, no qual conviveu profundamente com a religiosidade popular, tendo nas festas, nos monges e no mutirão a construção de uma identidade, que a modernidade hostilizou e rejeitou (p.330).

Em relação ao caminho das tropas de mulas, um dos únicos caminhos que

unia o Centro do Brasil ao Extremo Sul, rasgando o território de Serra-Acima numa

rede de atalhos e picadas, as consequências foram também imensas:

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O antigo caminho das tropas foi à extinção quase completa, levando à depressão econômica trilhas inteiras pontilhadas de vendas, locais de pouso, descanso e invernada das tropas, principalmente no interior dos municípios de Lages, Campos Novos, Curitibanos e Canoinhas. A ferrovia São Paulo – Rio Grande obtinha suas mais altas rendas da receita de passagens e mercadorias; sendo irrisórias as receitas provenientes de transporte de animais, o antigo Caminho das Tropas de mulas foi substituído pela ferrovia, e o transporte dos animais deixou de existir (MACHADO, 2004, p. 143).

O MONGE PRESENTE NA REVOLTA QUE NASCE NA LUTA POR “F ALTA

DE ESPAÇO”!

O monge José Maria não estava mais sozinho, um bando de caboclos

estava com ele, o que aos olhos do governo de Santa Catarina e dos fazendeiros

não lhes parecia bem.

Para livrar-se desse grupo, o governo de Santa Catarina, convenceu José

Maria a se deslocar com o grupo dos fanáticos para além do Rio do Peixe, no

território sob a jurisdição do governo do Paraná. Este por sua vez não recebeu de

bom grado. “Para evitar um confronto do qual nem sabia a razão, José Maria

preferiu abandonar Taquaruçu em setembro de 1912, seguindo para o oeste,

“atravessando Campos Novos, transpondo o rio do Peixe para viver entre os

� Que tal, fazermos um levantamento histórico com as famílias do

município que foram "expulsas" de suas terras por causa das barragens,

por exemplo, da Itaipu, do Itá, do Salto Caxias, do Segredo, de Chapecó,

ou outra! Ou ainda, com as famílias de assentamentos dos sem-terra.

� Visite o site WWW.museudocontestado.com.br e brinque de construtor da

estrada de ferro e relate a sua experiência.

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habitantes dos campos de Palmas, mais precisamente do faxinal do Irani, onde

contava com amigos” (MACHADO, 2004, p. 183).

Para o Paraná não se tratava de um grupo de sem-terras em busca de um

pedaço de terra, de marginais em busca de refúgio, sob a mística dos monges João

Maria, mas “era a invasão dos catarinenses, organizados para acabar naquela

região o uti-possedetis, que era o elemento de convicção dos direitos do Paraná

sobre as terras contestadas” (CABRAL, 1979, p.205).

Com esse pensamento, ou com essa desculpa, e tendo uma polícia mais

numerosa e atuante, e oficiais da Guarda Nacional (coronéis como: “Juca Pimpão e

Domingos Soares, de Palmas; Amazonas Marcondes e Cleto Silva de União da

Vitória; Arthur de Paula e Agostinho Ribeiro, no Timbó; Fabrício Vieira, no médio do

vale do Iguaçu; a família Pacheco, em Três Barras; Nicolau Bley, em Rio Negro”

(MACHADO, 2004, p. 129)), o governo paranaense age com força e rapidez.

O MONGE SEM MEDO SE FAZ UM COM OS COLONOS!

O governo do Paraná envia uma repressão policial-militar, comandada por

João Gualberto, para convencer o monge José Maria a debandar o seu grupo, a

� Analise a citação abaixo e justifique o título acima: O Contestado é uma

revolta que nasceu por “falta de espaço”.

Esta causa é, sem dúvida, a absoluta falta de condições de vida para o caboclo morador de Serra-Acima, resultado de uma estrutura política-social profundamente injusta e autoritária. Para o homem errante do planalto, órfão do Estado, não fazia a menor diferença se o chão por ele pisado pertencia ao Paraná ou a Santa Catarina. O governo de ambos os Estados, assim como o governo da república, era exercido por pessoas diretamente responsáveis pela criação e manutenção dessa estrutura opressiva que o asfixiava. (AURAS, 1984 p. 127)

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dispersar os invasores. Mas ele reafirmou que não havia questão nenhuma com o

governo do Paraná nem com outro qualquer, que não estava para briga, mas que se

fosse atacado reagiria. Pediu três dias para dispersar o grupo e sair em paz do

território contestado pelo Paraná, porém não lhe deram. No dia 22 de outubro de

1912 atacaram o reduto em Irani, houve um grande confronto com inúmeras mortes,

entre muitos caboclos e seu líder religioso, o monge José Maria e um terço das

forças policiais e seu comandante, João Gualberto.

A partir deste momento e em resposta aos ataques, eles se armaram com

“quarenta carabinas, três mil cartuchos, a metralhadora e quatro fitas carregadas

com duzentos e cinquenta tiros, (que, acréscimo meu) foram abandonados pelos

soldados no Irani e, logicamente, incorporados ao precário arsenal de defesa dos

caboclos” (AURAS, 1984, p.70) e começaram uma luta sangrenta e temida,

conhecida como a Guerra do Contestado, entre os anos 1912 a 1916, com muitas

batalhas e mortes.

MESMO MORTO, O MONGE CONTINUA PRESENTE E UNIDO AOS COLONOS!

José Maria - João Maria, mesmo não estando mais entre eles, continua

sendo o líder da guerra, porém, representados por jovens-virgens-videntes, como:

Teodora, Eusébio Ferreira dos Santos, Querubina, Manoel, menino Linhares e Maria

Rosa, que legitimavam o poder dos adultos, que requeriam a liderança pela

facilidade de estratégias e organização militar, citando alguns: Chiquinho Alonso,

Venuto Baiano, Olegário Ramos, Alemãozinho, Castelhano, Aleixo Gonçalves de

Lima, Papudo, Adeodato Manoel Ramos.

Os colonos lutaram ora com os militares do Paraná e os vaqueanos - civis

que os auxiliavam, ora com os de Santa Catarina, não em vista dos limites entre os

dois estados nas terras contestadas, mas em vista de um pedaço de chão e de

melhorias para viver, em união e sob as palavras do Monge João Maria – José

Maria. Com Manoel, em 1913, eles passaram a cortar o cabelo “rente” à cabeça e

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por isso foram chamados de “pelados” enquanto que as forças do governo eram

chamadas de “peludos”.

Houve muitas lutas e movimentação dos caboclos, fazendo suas cidades

santas, pois como afirma Auras (1984): “Crescia, então, a fé e a quantidade de

seguidores do monge (bem como o arsenal de defesa deles). José Maria, ao lado de

São Sebastião, estendia o seu manto protetor sobre a ‘cidade santa’” (p. 82). Os

redutos eram locais onde os caboclos sentiam-se protegidos, ali tudo era partilhado,

traziam seus bens e colocavam ao uso de todos. “Está claro que, para a quase

totalidade dos fiéis, viver no reduto era bem melhor que viver fora dele” (AURAS,

1984, p. 87). Dentre eles destacamos os redutos de Taquaruçu, Caraguatá, Bom

Sossego, Caçador, Santa Maria, Curitibanos, Canoinhas, Perdizes, Timbozinho,

Potiguara, São Miguel e Pedras Brancas.

Acredita-se que, em janeiro de 1915, mais de 10 mil pessoas estivessem morando no super-reduto conturbado. Em Santa Maria, não havia lavouras em extensão suficientes para alimentar toda aquela população. O gado arrebanhado era consumido com rapidez por uma população crescente. Para agravar a situação, uma nova epidemia de tifo abateu-se sobre a população; diariamente, mais de 30 pessoas eram liquidadas pelo tifo e enterradas em vala comum (MACHADO, 2004, p. 306).

Os líderes dos redutos usavam de muitas práticas religiosas (rezar, benzer,

etc.), mas quando acirrou o conflito com as forças policiais, as práticas militares com

suas estratégias, passaram a ter importância no preparo dos caboclos. Mesmo

assim, a prática comunitária continuava tendo central atenção: “Quem tem, mói;

quem não tem, mói também, e no fim todos ficarão iguais” (Jornal “Diário da Tarde”,

22/02/1914, in AURAS, 1984, p. 88).

Após 1914 os sertanejos começaram a saquear as fazendas próximas dos

redutos. Para Monteiro, (1974), “saquear não significa a mera expropriação do

inimigo, mas a reapropriação pela Irmandade daquilo que, de direito, lhe pertencia”

(p. 15).

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FOME, UMA DAS CAUSAS DO FIM DA GUERRA!

Em janeiro de 1915, o general Setembrino estabeleceu um duro cerco aos

colonos, não permitiu a entrada de alimentos, impediu a caça, o comércio de troca,

enfim, foram forçados à fome. Isto levou muitos caboclos a se entregarem, tornando

prisioneiros do governo. Portanto, a fome foi uma das grandes causas do fim da

guerra, juntamente com as batalhas intensivas das forças federais e estaduais aos

redutos.

Há registro de caboclos que ao se entregar ao governo, cruzaram o rio

Iguaçu, e se tornaram posseiros no Paraná, realizando a coleta do mate, e terem

com isso apenas e estritamente o necessário para a sobrevivência. Porém muitos

iam para as prisões já superlotadas, daí eram tirados diariamente “levas de

desgraçados”, para na primeira curva serem degolados, por Pedro Ruivo, isso com

frequência acontecia na prisão de Canoinhas. Pedro Ruivo com “seus homens

agiam com extrema violência, matando, roubando, estuprando mulheres e

incendiando casas. Esta violência, aliada à certeza de impunidade, permitiu o Pedro

Ruivo apropriar-se de muitos bens” (AURAS, 1984, p. 131). Muita gente morreu

depois da guerra, simplesmente executada quando se rendiam.

Havia verdadeiros campos de concentração, na porção norte das terras

contestadas, e, famílias inteiras eram conduzidas a trabalhos forçados, para com

isso, ressarcir os prejuízos provocados. Até mesmo o governador de Santa Catarina,

encaminhou 243 famílias para a região do Paraná, apesar de demonstrar

preocupação com o despovoamento do Estado.

Entre dezembro de 1915 e janeiro de 1916 “estima-se que 4 mil sertanejos

apresentaram-se em Canoinhas e 6 mil, em Curitibanos. Em sua maioria, os

� Como se justifica que, mesmo morto, o monge José Maria – João Maria

continua sendo o grande líder da Guerra do Contestado?

� Qual era a grande lema da prática comunitária existente nos redutos?

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sertanejos apresentavam em condições miseráveis” (MACHADO, 2004, p. 321).

Muitos chegaram a se alimentarem de couro cru, cavalos e até cachorros.

O fim da guerra se deu principalmente pela fome, e a deserção dos

sertanejos, divergência no reduto por causa de rendição ou não às tropas do

governo. E só mais tarde, no dia 20 de outubro de 1916, no Palácio do Catete o

presidente Venceslau Brás acompanhado por Afonso Alves de Camargo, autoridade

do Paraná, e Felipe Schmidt de Santa Catarina, assinou a Convenção de Limites

entre os Estados de Santa Catarina e Paraná. Este ficou com 20.310 km² e aquele

com 27.510 km² das terras da região do Contestado.

Segundo Cabral (1979), este acordo deu as condições que os sertanejos

esperavam alcançar com a luta.

Depois que cada Estado entrou na posse do gozo que lhe tocou na divisão feita, cada um cuidou carinhosamente da sua parte. Colônias instalaram-se umas após outras. Escolas surgiram. Igrejas construíram-se e sacerdotes ensinaram as verdades evangélicas ao povo. A Justiça instalou-se, coroando a obra de um policiamento melhor. A ordem estabeleceu-se. A segurança tornou-se maior. O trabalho surgiu em maior escala – e a economia entrou em ascensão, baixando o índice do desajustado, o marginalizado (p.348).

Eis alguns exemplos de municípios divididos pelo acordo dos limites:

Terras contestadas por Paraná e Santa Catarina Município paranaense Município catarinense

Palmas e Clevelândia Palmas e Clevelândia Chapecó

União da Vitória União da Vitória Porto União

Rio Negro Rio Negro Mafra

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O Contestado fez parte da história do Paraná e o monge João Maria com

seus sinais, como os poços de água santa, a prática do batismo e as procissões

realizadas nas sextas-feiras santas nas fontes, continuam presentes ainda hoje no

sudoeste do Paraná e em Santa Catarina, espaço onde ocorreu a chamada Guerra

do Contestado, luta pela terra e direitos à vida, tendo no monge, um refúgio, uma

segurança.

CRONOGRAMA:

Como ação pedagógica está previsto a contribuição na produção do

conhecimento da história local e regional, com incentivo a pesquisa de campo e

bibliográfica na escola e construção de material didático, que propicie a melhoria do

ensino da História do Paraná na Escola Estadual Coronel Misael Ferreira Araújo –

Mangueirinha, PR.

A intervenção será de 14 h/a, durante os meses de setembro e outubro, com

os alunos da 5ª série A do turno matutino e com a 5ª série D do turno vespertino, da

Escola Estadual Coronel Misael Ferreira Araújo – Mangueirinha, PR, de modo a

fazer um comparativo nas duas turmas, uma estudando apenas o conteúdo

apresentado nos livros didáticos, como um fato social e histórico do Brasil, e a outra,

o Contestado como História do Paraná de forma próxima e reflexiva,

contextualizando na história local e regional.

O cronograma fica assim organizado:

� Que tal pesquisar a origem e história do seu município!

� Faça uma árvore genealógica dos municípios de sua região.

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4 h/a - primeira semana de setembro;

Estudo da Unidade Didática;

5 h/a – segunda semana de setembro;

Visita em loco (2 h/a na comunidade do Covó, 2 h/a na Reserva Indígena e 1 h/a na Bela Vista), com entrevistas a pessoas indicadas, coletas de depoimentos, fotos;

3 h/a – terceira semana de setembro;

Produção dos resultados pertinentes ao estudo;

2 h/a - primeira semana de outubro;

Exposição do resultado à comunidade escolar.

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