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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 20
08
Versão On-line ISBN 978-85-8015-039-1Cadernos PDE
VOLU
ME I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
A RELAÇÃO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO E PESQUISA NA FORMAÇÃO DE DOCENTES EM NÍVEL MÉDIO:
REFLEXÕES SOBRE UMA PROPOSTA DE TRABALHO
ÁREA: PEDAGOGIANOME DO PROFESSOR PDE: LUCIANA HERVATININOME DO ORIENTADOR: SANDRA REGINA CASSOL CARBELLO
2009
A RELAÇÃO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO E PESQUISA NA FORMAÇÃO DE DOCENTES EM NÍVEL MÉDIO:
REFLEXÕES SOBRE UMA PROPOSTA DE TRABALHO
LUCIANA HERVATINI*
SANDRA REGINA CASSOL CARBELLO**
RESUMO
O presente artigo pretende trazer as discussões sobre da utilização da Pesquisa como recurso teórico-metodológico do Estágio Supervisionado nos Cursos de Formação de Docentes na Modalidade Normal em nível Médio. Os estudos realizados derivaram-se de um projeto de pesquisa e de uma proposta de intervenção em uma escola pública da rede paranaense. A partir dos pressupostos teóricos estudados, apresentamos as possibilidades de trabalho, as limitações e os avanços encontrados por professores do Curso de Formação de Docentes ao buscar efetivar a unidade teórico-metodológica em suas práticas pedagógicas cotidianas com o Estágio Supervisionado. Para tanto, tomamos como ponto de partida alguns trabalhos desenvolvidos na área de prática de formação e a pesquisa, tendo como nossos interlocutores Lüdke (2007; 2008), Saviani (2008), Pimenta (2006; 2008), Demo (2003; 2004). Os resultados aqui apresentados ressaltam a importância do Estágio Supervisionado na formação de docentes indicando a pesquisa como possibilidade de trabalho com esta disciplina.
PALAVRAS-CHAVE: Formação de Docentes. Estágio Supervisionado. Pesquisa.
ABSTRACT
This article intends to bring the discussions up about the utilization of the Research as a theoretical- methodical resource of the Supervised Traineeship in the Docent Formation Courses in the Normal Mode in high school. The studies which were done were derived from a research project and from a proposal of intervention in a public school of the Parana Estate network. From the theoretical assumptions which were studied, we introduce the possibilities of work, the limitations and the advances found by teachers of the Docent Formation Course which seek to carry out the theoretical- methodical unit in its daily pedagogical practices with the Supervised Traineeship. For this, we got as a start point some works developed in the formation and research practice area, having as our reference Lüdke (2007; 2008), Saviani (2008), Pimenta (2006; 2008) and Demo (2003; 2004). The results here presented highlight the importance of the Supervised Traineeship in the docent formation, pointing the Research as a possibility of work with this Subject.
KEY WORDS: Docent Formation. Supervised Traineeship. Research.
* Pedagoga do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – da Rede Estadual de Ensino do Paraná. ** Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá e professora orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aosmesmos lugares ...
É o tempo da travessia ...E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...À margem de nós mesmos...”
(Fernando Pessoa)
1. INTRODUÇÃO
As discussões que abordam a formação de professores em nível Médio e, por
conseguinte, a formação teórico-prática articulada pela disciplina de Estágio
Supervisionado sempre estiveram vinculadas à sua validade enquanto habilitação ao
magistério, sua qualidade na formação de docentes neste nível de ensino e sua
viabilidade articulada ao sistema de ensino e às políticas educacionais do país.
Diante da necessidade destas discussões e das vivências pedagógicas de professores
e alunos do Curso de Formação de Docentes1 em foco, é que se faz premente o estudo
sobre a disciplina de Estágio Supervisionado do referido curso. Para esta reflexão
trazemos as considerações sobre a Pesquisa enquanto instrumento teórico-
metodológico para as atividades relacionadas à área de Prática de Ensino, entendendo
que o olhar investigativo e reflexivo nas ações didático-pedagógicas dos alunos e
professores, contribui de forma decisiva para a formação de docentes.
O levantamento das questões que envolvem esta temática está articulado às nossas
experiências, bem como ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE2
realizado no biênio 2008 – 2009, e deu-se a partir de pesquisa e estudos realizados
com professores do referido curso, em especial com os professores que ministram a
disciplina de Estágio Supervisionado como Proposta de Intervenção/ Implementação
Pedagógica.
1 Com o nome atual de Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em Nível Médio, na Modalidade Normal. De acordo com a Secretaria de Estado da Educação do Paraná amparada pela Resolução CEB nº 2, de 19 de abril de 1999.
2 Programa implantado pelo Governo do Estado do Paraná, para melhoria da formação continuada dos professores da rede pública de ensino e para a otimização das ações educacionais das escolas as quais estes professores estão vinculados. Maiores informações sobre o Programa podem ser encontradas no site http://www.pde.pr.gov.br.
Para compor este texto, em um primeiro momento, faremos um breve histórico da
configuração das atividades da área de Prática de Ensino na formação de professores
no Brasil e do curso de formação de professores em nível Médio no Paraná. Após,
delimitaremos os referenciais teóricos e conceituais que permearam as discussões dos
professores participantes do grupo de estudos sobre o Estágio Supervisionado, tendo
por base os aspectos que caracterizam a pesquisa, a unidade teórico-prática, a práxis
e o papel do professor de Estágio Supervisionado na formação de docentes.
Finalizando, apresentaremos o processo de construção das propostas didático-
metodológicas do Grupo de Estudos sobre a Pesquisa no Estágio para a disciplina de
Estágio Supervisionado no Curso de Formação de Docentes objeto do presente
estudo.
2. BREVE HISTÓRICO DA PRÁTICA DE ENSINO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL E NO PARANÁ
Os estudos sobre o Estágio Supervisionado e a Pesquisa como referencial teórico-
metodológico nos cursos de formação de docentes precisam ter como premissa a
retomada, ainda que breve, da história da Prática de Ensino na formação de
professores no Brasil e, em especial, no Estado do Paraná. Para tanto, tomamos como
referência os estudos de Pimenta (2006) e de Almeida (2004).
No Brasil, a Prática de Ensino foi desenvolvida pelas escolas Normais no final da
década de 1920, sob a influência da Escola Nova3 evidenciando-se nas escolas-
modelo e nas escolas de aplicação anexas às Escolas Normais, com formação teórica
baseada na aplicação de modelos pedagógicos ideais.
Com legislação própria em cada Estado do País, na década de 1930 o Curso Normal
passa a oferecer a formação para professores em exercício sem habilitação
profissional, levando o Paraná a buscar uma reforma educacional que atendesse a
3 Tendência pedagógica com forte influência da Psicologia e da Sociologia na Educação, com ênfase no aluno como centro do processo de ensino. Para aprofundamento desta e outras tendências pedagógicas com influência no Brasil, indicamos a leitura de SAVIANI, Dermeval. História da Idéias Pedagógicas no Brasil. Campinas, S.P.: Autores Associados, 2008.
esta realidade. À época não se precisava se formação para atuar no Curso Primário se
daria nos moldes de disciplina do curso ou como parte do processo formativo.
A partir da Reforma Capanema, com a edição do Decreto-Lei n.º 8530, de 02 de
janeiro de 1946, a Lei Orgânica do Ensino Normal, procurando corrigir a situação
diferenciada e desigual de cada Estado, regula a Prática de Ensino e organiza sua
competência às disciplinas de Didática e Prática de Ensino e Metodologia do Ensino
Primário. Sabemos que a homogeneidade nesta regulamentação não se efetivou em
todos os Estados de forma imediata, pois as diferenças pedagógicas, estruturais,
físicas e econômicas, impediam tal uniformidade.
Nos anos 50 e 60, mesmo sendo um período de ênfase na consolidação da rede de
ensino, com o aumento das escolas primárias e das matrículas no Curso Normal,
ocorre certa descaracterização do curso e da Prática de Ensino, Destaca-se o
argumento de que esta formação era específica para as mulheres, ou seja, uma
formação feminina, com caráter vocacional e materno, sendo as escolas consideradas
como a ‘extensão do lar’.
Em fins da década de 60 e início da de 70 já se apontava a necessidade de uma nova
organização do ensino no Brasil, porém a que tivemos aprofundou o distanciamento
entre a formação de professores com a prática de formação e o ensino primário. A Lei
N.º 5692/71 trouxe como grande marca dessa reformulação as habilitações
profissionalizantes do 2º Grau, entre elas de Técnico em Magistério. Com a profissão
legalmente reconhecida, o que ocorreu foi o atendimento à demanda do mercado de
trabalho. Essa caracterização técnica e mercadológica incentivou as discussões da
década de 1980 com o movimento dos educadores em busca do reconhecimento da
escola como uma instituição social caracterizada pela produção do saber científico e
dos conhecimentos historicamente acumulados. Neste sentido, tomamos os conceitos
de Saviani (1980) presente nos estudos de Pimenta (2006) ao nos referirmos à prática
de formação, com caráter de 'formação-ação' com 'consciência' da realidade e com
base numa sólida 'fundamentação teórica'.
No bojo das discussões da década de 1980, surge o movimento de superação,
incorporado pelas universidades, institutos de pesquisa e associações de educadores,
o qual almejava o acesso ao ensino superior, amputado pela profissionalização
compulsória no ensino de 2º grau pela Lei nº 5692/71 e melhores condições de
trabalho e formação de professores. A descaracterização do Ensino Normal para a
atuação no ensino primário, promovida pela lei, e a expansão desordenada das
faculdades isoladas e particulares acabaram não tendo relação com a realidade do
ensino de 1º e 2º graus no país, não atendendo assim as necessidades que o sistema
educacional enfrentava, como sendo
[...] consolidar o processo de ampliação quantitativa da escolarização básica e iniciar sua melhoria quantitativa. O que apontava para um aspecto fundamental das políticas de ensino, que era a formação de professores e suas condições de trabalho. (PIMENTA, 2006, p.56)
Com esta realidade, o movimento buscava a superação do tecnicismo, psicologismo e
positivismo na educação e na formação de professores. Apesar das consideráveis
críticas e discussões, não houve grandes avanços com relação à Habilitação
Magistério, pois considerava-se que, para aquele momento histórico e naqueles
moldes “[...] não apresentava nenhum compromisso com a democratização da
escolaridade e da sociedade.” (PIMENTA, 2006, 59).
No Paraná, estas discussões tiveram seu espaço, e em 1983 as reformulações
curriculares em todos os níveis de ensino – concluídas entre 1989 e 1990 – atingiram o
curso de Habilitação Magistério. Foram desenvolvidas propostas de avaliação
curricular, tendo como um dos principais pontos de retomada a forma como vinha se
desenvolvendo o estágio. Esta reformulação resultou na Deliberação nº. 02/90 do
Conselho Estadual de Educação – PR, trazendo entre outras características do curso,
o currículo com duração de quatro anos e as aulas de estágio destinadas ao professor
de Didática. Ficando ainda, bastante evidente a ausência de um trabalho coletivo dos
professores do curso e pouca, ou nenhuma, atividade interdisciplinar ou com temas
afins.
Na década de 1990, mais especificamente no período de 1992 a 1996, houve a
implantação de uma proposta com experiências bem-sucedidas. Dentre as
adequações, propôs-se o contato dos alunos com as escolas-campo de estágio desde
a primeira série do curso, o envolvimento das demais disciplinas com as discussões
metodológicas e de concepções educacionais referentes ao estágio, além do
aprofundamento e reorganização dos fundamentos da educação. Porém em 1996,
interpretando de maneira própria os artigos 64 e 82 da LDBEN nº. 9394/96, a
Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED/PR – impôs o fechamento dos
cursos profissionalizantes, inclusive do Magistério, em nome do PROEM – Programa
de Melhoria e Expansão do Ensino Médio4. Esta medida acabou por ‘ilhar’ os cursos
que resistiram5 e fragmentar as práticas de formação, visto que cada escola
direcionava o Estágio Supervisionado da maneira que entendia ser a melhor,
adaptando-o às suas realidades. Sem desconsiderar a formação docente em nível
Superior, a LDBEN nº. 9394/96 admite a formação inicial do professor da Educação
Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental em nível Médio como aponta o
artigo da lei
Art. 62 – A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena em universidades e institutos superiores de educação admitida como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, 1996)
Em 2003 iniciou-se, no Paraná, um processo de discussão da questão com a
participação da Secretaria de Estado da Educação, da Associação de Professores -
APP/Sindicato, de representantes das escolas que mantiveram o curso aberto no
Estado e das Instituições de Ensino Superior públicas, que deram suporte técnico e
pedagógico para a elaboração da nova Proposta Curricular do Curso de Formação de
Docentes em Nível Médio Modalidade Normal do Estado do Paraná (SEED/PR, 2006),
a qual está em vigor atualmente.
Como podemos perceber, o Estágio Supervisionado, como parte da formação de 4 Sobre o processo de cessação dos Cursos de Magistério no Paraná imposto pelo PROEM, indicamos
o trabalho de ALMEIDA, Cláudia Mara. A Política de Cessação do Curso de Magistério no Estado do Paraná: das razões alegadas às que podem ser aventadas. Dissertação de Mestrado, UFPR, 2004.
5 Das 308 escolas em funcionamento no Estado do Paraná naquele período, apenas 14 escolas resistiram à cessação dos Cursos de Magistério no Paraná. A relação completa destas escolas e dos Núcleos Regionais de Educação aos quais são subordinadas, consta na Proposta Curricular do Curso de Formação de Docentes em Nível Médio Modalidade Normal do Estado do Paraná (SEED/PR, 2006).
professores e como disciplina dos cursos de formação em nível Médio, passou ao
longo da história da educação brasileira por várias determinações que influenciaram e
ainda influenciam as ações pedagógicas próprias dos professores e alunos destes
cursos, bem como, a própria estrutura curricular.
A observação histórica, a partir da prática realizada como reprodução de modelos de
ensino-aprendizagem considerados adequados nas Escolas Normais, da qual se
passou para o tecnicismo dos métodos e situações controladas de aprendizagem,
chegando-se à descaracterização da formação de professores primários em nível
médio pelas políticas educacionais, mostra o descompasso histórico que teve a
formação teórica dos professores em relação às práticas docentes realizadas no
ensino primário. Tal realidade comprova a necessidade de compreender a
configuração do Estágio Supervisionado nos cursos de formação de docente de nível
Médio, bem como de se pensar em possibilidades didático-pedagógicas que venham a
contribuir para uma efetiva unidade teórico-prática e em ações investigativas e
reflexivas nas atividades relacionadas a esta formação profissional.
Neste sentido, tomamos como base para uma proposta de trabalho com os
professores do Curso de Formação de Docentes, de maneira especial com os
professores da disciplina de Estágio Supervisionado, a utilização da Pesquisa como
recurso teórico-metodológico. Sendo esta, de caráter investigativo e reflexivo, de
compreensão dos saberes pedagógicos que permeiam o processo ensino-
aprendizagem e suas relações intra e extra escolares.
3. ESTÁGIO SUPERVISIONADO E PESQUISA: REFLEXÕES EM PAUTA
A Proposta Curricular do Curso de Formação de Docentes em Nível Médio, Modalidade
Normal, do Estado do Paraná (SEED/PR, 2006), atendendo a Deliberação nº. 010/99
do Conselho Estadual de Educação do Paraná, traz encaminhamentos para a Prática
de Formação, os quais possibilitam práticas pedagógicas articuladoras entre os
diferentes saberes. Oferece maior carga horária para a disciplina de Estágio
Supervisionado e busca a integração do currículo do curso e a articulação com as
demais disciplinas. Traz a concepção da prática de formação como um trabalho
coletivo, desenvolvido em diferentes momentos e, envolvendo a participação de todos
os professores e profissionais que atuam neste curso, e da própria organização do
trabalho pedagógico da escola. Apresenta também, temas ou propostas de trabalho da
Prática de Formação – Estágio Supervisionado indicados em sua ementa, a saber:
Sentidos e significados do trabalho docente. Pluralidade cultural, as diversidades, as desigualdades e a educação. Condicionantes da infância e da família no Brasil e a organização da educação. A ação docente, as práticas pedagógicas e a formulação da didática na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Fundamentos teórico-metodológicos da pesquisa. (SEED/PR, 2006, p.94).
Diante da configuração mais ampla do Estágio Supervisionado, ou seja, da unidade
teórico-prática proporcionada pelas atividades que compõem e organizam esta
disciplina, buscamos o conceito de práxis para mediar as reflexões próprias desta área
de formação. Para esta abordagem nos reportamos a Pimenta (2006) ao entendermos
que este termo é específico ao trabalho pedagógico do professor em serviço.
Concordamos com a autora quando afirma que:
Um curso não é a práxis do futuro professor. É a formação teórica (teórico-prática) do professor para a práxis transformadora. Isto é, é pela ação do sujeito professor, enquanto professor, que ele exerce a práxis transformadora (PIMENTA, 2006, p.106).
A práxis entendida como a atividade própria do “professor em exercício” advém
também de sua formação escolar, de seus valores adquiridos e experiências
vivenciadas. Consideramos que o termo mais apropriado para a unidade entre teoria e
prática dos cursos de formação de docentes seria 'prática de formação'. A práxis é aqui
conceituada como 'princípio curricular' pela compreensão de que, durante o processo
de formação inicial, o aluno tem contato com experiências que se aproximam do efetivo
trabalho docente profissional. Ao atuar na instituição-concedente, o estagiário passa
por situações que, mesmo no contexto real, são alteradas, por serem parte de um
estágio, um período a ser objeto de observação e intervenção, sendo apenas um
recorte da realidade escolar; mas é nos momentos de prática de formação no Estágio
que os futuros professores têm a oportunidade de exercitar as reflexões a partir da
realidade escolar observada e vivenciada.
Por compreendermos a unidade entre a teoria e a prática como base para toda e
qualquer reflexão que se pretenda desenvolver no campo das práticas de formação do
docente é que trazemos a Pesquisa como referencial teórico-metodológico.
Entendendo que é na relação intencional entre o pensar e o agir que a formação de
docentes adquire maior consistência. É o que sugere Frigotto (1995) com o conceito de
um “detour”, um ir-e-vir de conceitos e explicações da realidade escolar, ao ser
proporcionado na disciplina de Estágio Supervisionado, sendo este o principal
elemento da pesquisa enquanto 'enfoque teórico', subsidiando a análise das
informações vindas das ações práticas de estágio. Não deixemos de considerar a
Pesquisa como 'encaminhamento metodológico', no sentido de tornarem significativas
as ações pedagógicas, na medida em que são estudadas de modo sistematizado, com
organização, planejamento e o tratamento das informações próprios do ato
investigativo e científico.
A vivência da Pesquisa no Curso de Formação de Docentes supõe um esforço coletivo
de professores que estes tenham a clareza de seu próprio trabalho pedagógico e à
função da pesquisa, e que exercitem a reflexão sobre suas práticas docentes na
perspectiva de formar professores-pesquisadores. Quanto a este papel, Ghedin (2004)
nos lembra que:
A idéia do professor como pesquisador está ligada, portanto, à necessidade dos professores de pesquisar e experimentar sobre sua prática enquanto expressão de determinados ideais educativos. Este processo de formação favorece a compreensão dos alunos ou estimula seu pensamento crítico. (p.683)
Quanto à construção de saberes pelo futuro professor e à relação com as demais áreas
de formação, o mesmo autor ainda afirma: “Assumir o estágio como prática orientada
pela pesquisa pode ser uma maneira para criar condições para o surgimento de
atitudes mais interdisciplinares”. (GHEDIN, 2004, p.679)
Destarte, formar o professor-pesquisador demanda posturas investigativas também
daquele que o forma. Lima (2006), amparada em estudos de Gauthier6 (1998) destaca
alguns saberes docentes que julgamos pertinentes ao profissional que medeia as
6 Ver trabalho na íntegra em GAUTHIER, C. Por uma Teoria da Pedagogia. Ijuí:Ed.Ijuí, 1998.
ações pedagógicas nos cursos de formação, entre outros, aqueles saberes que
contribuem para a articulação da unidade teórico-prática, ou seja, o saber experiencial,
o saber disciplinar/curricular, o saber da tradição pedagógica e o saber da ação
pedagógica.
De acordo com estes autores, não basta apenas a formação acadêmica do professor
de Estágio, sendo necessários outros saberes, que são adquiridos, construídos e
formados ao longo de sua vida profissional, os quais devem ser levados em
consideração para a formação de futuros professores. Assim, entendemos que
compreender a Pesquisa como instrumento teórico-metodológico para a disciplina de
Estágio Supervisionado pressupõe domínio dos referidos conceitos primordiais para a
formação docente. É com base no quadro conceitual da relação teórico-prática, que os
professores atuantes no Curso de Formação de Docentes em questão realizaram as
discussões do grupo de estudos, tendo como norte de possibilidade pedagógica a
Pesquisa e como reflexão crítica os avanços ainda necessários à sua efetivação.
Como abordagem inicial para uma proposta de intervenção que contemplasse o
Estágio Supervisionado no Curso de Formação de Docentes, propomos a utilização da
Pesquisa como instrumento que contribuísse para a unidade teórico-prática, como
afirmamos anteriormente. Para tal intervenção, produzimos na primeira etapa do PDE
uma Unidade Temática7, para embasar as discussões de um grupo de estudo a ser
realizado com professores envolvidos com a formação de docentes em nível Médio.
O grupo de estudos realizou-se por meio de curso de extensão para implementação do
Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, proposto como parte das atividades do
PDE. Com o objetivo de oportunizar aos professores que participassem desse grupo,
um espaço para discutir as questões relativas ao Estágio Supervisionado, sugerindo a
Pesquisa como instrumento teórico-metodológico.
O estudo da Unidade Temática foi organizado ao longo dos 08 (oito) encontros,
perfazendo o total de 32 (trinta e duas) horas. A temática compreendeu os seguintes
subtítulos: A formação de professores no Brasil e no Estado do Paraná; O Estágio
7 HERVATINI, Luciana. A Pesquisa Como Referencial Teórico-Metodológico No Estágio Supervisionado Do Curso De Formação De Docentes. Programa de Desenvolvimento Educacional. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Curitiba. 2008.(material didático)
Supervisionado na atual Proposta Curricular do Curso de Formação de Docentes e a
Relação Teoria-Prática; A Pesquisa como referencial Teórico-Metodológico para o
Estágio Supervisionado; e O Papel do Professor de Estágio Supervisionado e a
Pesquisa.
Ao iniciarmos as discussões com os professores do Curso de Formação de Docentes,
o qual a partir de agora denominaremos GE – Estágio e Pesquisa, procuramos refletir
sobre o Estágio Supervisionado nos cursos de formação de docentes em nível Médio,
compreendendo que foram vários os fatores que interferiram no surgimento e
configuração desta disciplina. De modo mais determinante, discutimos as relações de
produção e de expansão sócio-econômica da sociedade brasileira nas primeiras
décadas do século XX e, consequentemente o crescimento econômico e populacional
do Estado do Paraná, com a demanda de reformas e reorganização do sistema
educacional brasileiro ainda em formação, o qual sofreu influências pedagógicas da
Escola Nova e do Tecnicismo, e mais tarde, dos determinantes neoliberais da
sociedade capitalista moderna.
Com base em em autores como Miguel (1997), Piconez (2007), Pimenta e Lima (2008),
Saviani (2008) e outros, procuramos entender que, no contexto histórico, as relações
sócio-políticas sempre foram determinantes para a formação teórico-prática dos
professores.
As vivências socializadas pelos professores do GE – Estágio e Pesquisa foram
relevantes no sentido de conseguirem fazer a relação dos aspectos históricos
estudados, assim como das situações experienciadas em sua vida escolar e no seu
processo de formação como professores.
Com a revisão histórica do Curso Normal e as configurações atuais da formação de
professores, foi possível estabelecermos a relação com as características, e as
distorções, que o Estágio Supervisionado teve ao longo da criação e atuação das
Escolas Normais no Brasil e na organização da formação de professores em nível
Médio no Paraná, entre elas, a utilização das atividades práticas como modelo de
ensino - ou seja, como meio de instrução para o ensino primário sem estar vinculada a
sua formação teórica - e a caracterização da Prática de Ensino como disciplina que,
posteriormente, veio a configurar o Estágio Supervisionado.
De acordo com as considerações históricas estudadas e socializadas no GE – Estágio
e Pesquisa, foi possível estruturarmos as reflexões partindo das conceituações
necessárias ao tema e apontarmos possibilidades de um trabalho pedagógico na área
da Prática de Ensino com melhor consistência e unidade teórico-prática.
Para tanto, buscamos analisar a Proposta Curricular do Curso de Formação de
Docentes e a atual configuração do Estágio Supervisionado neste curso. Percebemos
os avanços na concepção e nos encaminhamentos desta disciplina, os quais nos
permitem delinear as contribuições na formação de professores mediante a análise das
demais disciplinas que compõem a matriz curricular do Curso de Formação de
Docentes e das possibilidades de melhor articulação dos conteúdos com o Estágio
Supervisionado. Para tal, é necessário que se estabeleça a relação teoria-prática no
sentido da práxis e da prática em formação. Pautados na ação-reflexão-ação,
utilizamos como referência para as discussões os trabalhos de Pimenta (2006) Piconez
(2007), Maciel (2004), Lüdke (2007).
Não são poucos os autores e discursos pedagógicos segundo os quais a área de
Prática de Ensino é fundamental para o processo de formação de professores e que
constitui o eixo articulador das demais áreas do conhecimento nos cursos. O contexto
da discussão entre a teoria e a prática abordada no GE – Estágio e Pesquisa
apresenta uma relação de autonomia e dependência entre elas na formação do
professor, ou seja, mostra que teoria e prática são campos com especificidades
próprias, mas precisam convergir para um mesmo ponto: o da reflexão crítica, da
observação intencional e da reorganização de ações e estudos. Candau e Lellis (1989)
em prefácio de Piconez (2007) assim apresentam a relação de unidade entre teoria e
prática
Todos os componentes curriculares devem trabalhar a unidade teoria-prática sob diferentes configurações, para que não se perca a visão de totalidade da prática pedagógica e da formação como forma de eliminar distorções decorrentes da priorização de um dos dois pólos. (p.05)
A partir da premissa que a organização do trabalho pedagógico nestes cursos estrutura
a construção do saber do professor em início de formação, é que se apresenta a
Pesquisa como proposta para a formação teórico-prática da disciplina de Estágio, uma
interessante possibilidade curricular que pode contemplar ações integradas que
incluam a amplitude de saberes adquiridos no Estágio Supervisionado nestes cursos.
Para esta proposta de trabalho buscamos os fundamentos nos estudos de Lüdke
(2007) e Demo (2003; 2004) sobre a Pesquisa na educação e na formação de
professores. Entendemos que a ideia da Pesquisa como componente do trabalho e da
própria formação dos professores está vigente em vários estudos de pesquisadores,
tendo sua importância reconhecida entre educadores e alunos; porém, ainda é pouco
utilizada em nossas escolas e, não raras vezes, de maneira equivocada, burocratizada
e improdutiva.
Ao enfocarmos a Pesquisa no Estágio Supervisionado, abrimos um debate sobre o
professor-pesquisador e os elementos teórico-práticos que se encontram no contexto
de formação de professores. Como elemento fundamental trazemos as questões
referentes ao ato investigativo, a importância da reflexão fundamentada e das ações
conscientes e intencionais.
A utilização da Pesquisa no processo educativo e formativo compreende a condição
essencial do professor enquanto pesquisador, ou seja, que saiba 'manejar' a pesquisa
com princípio de cientificidade e com atitude cotidiana. Destarte, educar/formar pela
Pesquisa possui característica emancipatória para os sujeitos nela envolvidos, na
medida em que buscam o conhecimento para poderem pensar criticamente, realizam
questionamentos frente à realidade social e inserem-se em um processo reconstrutivo
permanente.
Isto não significa dizer que a Pesquisa na formação de professores e na disciplina de
Estágio Supervisionado tenha a incumbência de transformar alunos e professores em
cientistas da educação, especialistas teóricos da docência, mas é essencial a postura
reflexiva e investigativa para a construção do conhecimento e da formação profissional.
Demo (2003) aponta que a pesquisa no professor o coloca diante de desafios
educativos como reconstruir seu próprio projeto pedagógico, sendo capaz de produzir
e inovar sua prática didática, para isso é “[...] condição fatal da educação pela pesquisa
que o professor seja pesquisador. Mais que isto, seja definido principalmente pela
pesquisa.” (p.38)
A adoção da Pesquisa como instrumento teórico-metodológico deve ser vista como
fruto de um trabalho coletivo da escola, com participação ativa dos professores na
redefinição, reestruturação e reorganização da proposta inicial ao longo do curso. Para
tanto, esta organização deve levar em consideração a definição e redefinição periódica
dos eixos temáticos para as séries e as adequações necessárias, como também a
constante reflexão sobre os encaminhamentos para as atividades teóricas e práticas.
Não se pode perder de vista que as atividades práticas – como as observações e as
regências – estão diretamente ligadas às escolas-campo de estágio, sendo
imprescindível a estruturação do contato com as instituições de ensino, por meio da
elaboração de roteiros, relatórios, fichas e documentos que legalizem e viabilizem as
diferentes atividades de Estágio. Esta questão documental, embora necessária não
pode ser o principal foco de contato com as escolas-campo de estágio, sob o risco de
se perderem de vista as relações pessoais e o contato com as vivências e situações
reais do cotidiano escolar, fundamentais para a reflexão e compreensão dos
fenômenos que compõem o espaço escolar explorado pelo estagiário.
Outros 'fazeres' pressupõem um trabalho coletivo, como: a seleção de leituras e
referenciais teóricos que, condizentes com os princípios filosóficos e pedagógicos do
curso, dêem embasamento para os estudos e pesquisas; o aprofundamento dos níveis
de problematização e reflexão dos eixos trabalhados de acordo com os referenciais de
cada disciplina; a organização de atividades que coloquem os alunos em contato com
diferentes modalidades de ensino, levando em conta a compreensão da pluralidade e
diversidade na educação, com base nos suportes teóricos necessários, além da
viabilização de condições para que o professor possa planejar, acompanhar e avaliar o
processo de atuação dos alunos na realidade escolar, como docente em práticas
pedagógicas.
Ao discutirmos estas questões no GE – Estágio e Pesquisa, ficou evidente que o papel
do professor formador é crucial para a efetivação de uma proposta como esta, mas não
se podem deixar de considerar as implicações sócio-históricas e das políticas
educacionais vigentes. É consenso entre as professoras do grupo, a necessidade de
uma postura consciente e intencional do professor de Estágio Supervisionado, da
organização do curso e das escolas envolvidas, como também da viabilidade teórico-
metodológica da Pesquisa na formação de docentes. Ademais, não é possível a
efetivação de uma proposta de trabalho pedagógico sem o comprometimento do
coletivo da escola, principalmente nas ações que reivindicam melhores condições de
trabalho, tempo e recursos para o estudo de grupo, como também os critérios de
distribuições de aulas que atendam aos direitos dos professores e ao mesmo tempo
garantam a continuidade do trabalho pedagógico ligado aos cursos de formação de
docentes e à disciplina de Estágio Supervisionado.
Diante destas considerações, defendemos a Pesquisa como ato investigativo para a
identificação, estudo e intervenções durante a formação dos professores, devendo ser
assumida como instrumento teórico-metodológico que exige uma postura própria, uma
ação pedagógica pautada em atitudes reflexivas, críticas e emancipatórias. Cabe ao
coletivo da escola às conjunturas estruturais do sistema de ensino, encaminhar
atividades significativas que levem a uma formação profissional para a cidadania, a
autonomia intelectual e a responsabilidade social, compreendendo que
[...] ascender do empírico ponto de partida, conhecido apenas na sua exterioridade [...] ao conhecimento efetivo das forças, mediações e determinações múltiplas que produzem esta realidade, exige um processo, uma elaboração. (FRIGOTTO, 1995, p.29)
Do ponto de vista operacional, o estágio orientado pelo exercício da Pesquisa pode
permitir, nas atividades pedagógicas de observação, regência e miniaulas, como
também na própria investigação dos conteúdos didático-metodológicos, um olhar
pautado na realidade experienciada e a compreensão das múltiplas relações sociais e
de ensino-aprendizagem que a permeia, com destaque ao contexto “[...] da realidade,
no qual os fatos existem originária e primordialmente”. (KOSIC,1976, p.48)
É neste sentindo que se pensou em uma melhor adequação da atual proposta
curricular para os Cursos de Formação de Docentes em nível Médio pelo GE – Estágio
e Pesquisa, partindo da compreensão do real vivido e das contribuições dos
referenciais teóricos discutidos. As professoras participantes destacaram que, a
primeira ação a ser desenvolvida para esta finalidade é a previsão e sistematização de
momentos de discussão para levantamento das possibilidades e limitações da
disciplina e das ações dos professores de Estágio. Tais medidas permitirão retomar
com todos os professores que atuam no curso de formação de docentes em nível
médio objeto deste estudo a compreensão histórica do Curso Normal e as
características atuais da formação de professores no Brasil e no Paraná, elemento
indispensável para a compreensão da função social da formação de professores neste
nível de ensino.
Estes encontros, assegurados como formação continuada ou como retomadas de
planejamentos, possibilitariam a análise das disciplinas que compõem a matriz
curricular do curso para um planejamento de ensino com melhor articulação dos
conteúdos com o Estágio Supervisionado. Permitiriam também aos professores e
alunos do Curso, desde o primeiro ano, a compreensão dos principais conceitos
filosóficos, sociológicos e epistemológicos que envolvem a disciplina de Estágio
Supervisionado, além da reflexão sobre a própria função do professor de Estágio
Supervisionado, visto que ainda é necessário discutir e abordar os saberes e
habilidades necessários para sua atuação neste curso.
Queremos reforçar que a organização do trabalho pedagógico dos Cursos de
Formação de Docentes pelas escolas que os ofertam, passa por situações que vão
além de sua alçada interna e local. As condições que limitam e dificultam a efetivação
da unidade teórico-prática na disciplina de Estágio Supervisionado não são apenas de
caráter pedagógico ou de atuação dos professores, mas, sobretudo, decorrentes de
políticas públicas de educação que, em suas determinações, descaracterizam a
continuidade de um trabalho consistente nas escolas e nos referidos cursos.
Tomamos aqui, como exemplo, a questão da rotatividade de professores nestes
Cursos, seja pela maneira como é realizada a distribuição de aulas no início do ano,
seja pelas constantes substituições à professores licenciados, afastados ou
aposentados. É preciso respeitar os direitos dos professores em relação a sua carreira,
mas o mérito da questão está no sentido de que, mesmo com uma proposta
pedagógica, curricular ou de curso construída de forma consciente e coletiva, sua
efetivação é comprometida pela descontinuidade daqueles que dela fizeram parte.
Muitas vezes quem assume as aulas de Estágio Supervisionado são professores
temporários, o que exige, por parte da escola e dos responsáveis pelos Cursos de
Formação de Docentes, uma constante retomada de reflexões, delimitações de ações
coletivas e reorganizações de seus planos de ensino.
Não é intuito deste trabalho fazermos uma análise das políticas públicas para os
Cursos de Formação de Professores em nível Médio. Entendemos que esta é uma
questão séria e que merece uma reflexão específica, como já tem sido feita por
educadores e pesquisadores nesta área. Concordamos com Pimenta (2006) quando
conclui que
Os diferentes sentidos que essa prática tem para a formação variaram [e variam] conforme o entendimento histórico-social da profissão do professor, embutido nas finalidades histórico-sociais que se atribuam à própria educação escolar básica. Assim, se altera conforme a população que veio constituindo o alunado dos cursos de magistério[...], conforme o desenvolvimento teórico das disciplinas profissionalizantes[...], conforme a valorização/desvalorização social e econômica do professor primário; conforme a deterioração da formação dos professores primários em geral, no bojo da deterioração do ensino; conforme a influência de educadores críticos nos aparelhos do Estado [ou fora dele, nos movimentos] ou de educadores tecnocratas[...]; e conforme a deterioração das condições de trabalho dos professores em geral.(p. 78)
É pertinente, portanto, destacarmos este elemento de reflexão ao pensarmos um bom
trabalho pedagógico no Estágio Supervisionado com a utilização da Pesquisa, pois as
práticas pedagógicas não estão desvinculadas do contexto sócio-político.
CONCLUSÃO
Ao fazermos as considerações finais deste trabalho voltamo-nos ao tema que o
norteou: a Pesquisa no Estágio Supervisionado nos Cursos de Formação de Docentes
em nível Médio, com o objetivo de subsidiar, por meio de referencial teórico,
discussões que enriquecessem o trabalho desta área de formação. Ao delimitarmos a
temática tínhamos como questão norteadora a necessidade de se utilizar um
instrumento teórico-metodológico que efetivasse a relação da unidade teoria-prática
desenvolvida no Estágio Supervisionado destes cursos.
A proposta teve como norte o trabalho com a Pesquisa na construção de saberes
docentes para a articulação da unidade teoria-prática. Àluz de referenciais teóricos,
buscaram-se caminhos esclarecedores que delimitassem e subsidiassem a utilização
deste instrumento para que as ações, amparadas pela Pesquisa, cumpram seu papel,
que é a produção de conhecimento ao experienciar vivências que gerem ações
investigativas, criando espaços de reflexões próprias do ato de pesquisar.
As discussões, fundamentadas em teorias e nas experiências vividas pelas
professoras do GE – Estágio e Pesquisa, proporcionaram um novo impulso à
organização do trabalho pedagógico relacionado à disciplina de Estágio
Supervisionado nos Cursos de Formação de Docentes da escola em que o trabalho foi
implementado. Esse fato gerou alguns avanços além do esperado para a proposta de
implementação apresentada, entre eles, a tomada de decisão do grupo em relação às
mudanças no Plano de Curso e no Plano de Prática de Formação.
As contribuições das professoras do GE – Estágio e Pesquisa foram permeadas pela
preocupação de esclarecer os encaminhamentos de Estágio Supervisionado a fim de
ampliar os conhecimentos adquiridos, para a superação de um trabalho docente
imediato e baseado em informações fragmentadas e descontextualizadas. A
observação dos fenômenos educativos vistos em sua parcialidade instala esta noção
do imediato e não permite que o futuro professor compreenda a natureza e as relações
do trabalho pedagógico na sala de aula e na própria sociedade, de modo concreto e
histórico. Esta é a clareza transformadora propiciada pelo exercício da Pesquisa na
formação de professores, a qual foi reafirmada pelas professoras do GE – Estágio e
Pesquisa que, no coletivo, apontaram ações que possibilitam sua viabilidade e os
resultados esperados.
Nos debates destacou-se a importância de momentos de discussão sistematizada e
incorporada à uma prática corrente na escola para o levantamento das possibilidades
da disciplina e das ações dos professores de Estágio, como também a necessidade de
uma reorganização curricular que possa ser enviada à Secretaria de Educação do
Paraná. Para o Plano de Prática de Formação na escola, foram propostas atividades
para o Estágio Supervisionado a serem socializadas com o coletivo de professores,
com a finalidade de readequar das atividades que permeiam as diferentes séries do
curso. Entre essas atividades citamos: Projeto Cine-Conhecimento, elaboração de
caderno temático, projetos de docência e miniaulas, estudos de caso, publicações de
produções realizadas, apresentações de seminários e pôsteres, oficinas pedagógicas e
outras. Tais atividades devem criar situações de aprendizagem que levem o aluno em
formação profissional a desenvolver-se com criatividade, com senso de
responsabilidade e que consigam realizar o enfrentamento racional de problemas do
cotidiano no exercício da reflexão e do pensamento filosófico e científico. Devem
proporcionar aos futuros professores a realização de práticas pedagógicas que formem
atitudes para o bem coletivo e a capacidade de fazer um exame crítico da natureza e
das relações sociais.
A atual Proposta Curricular para os Cursos de Formação de Docentes em Nível Médio
no Paraná,embora necessite de reformulações, traz a configuração do conhecimento a
ser construído pelos alunos destes cursos e os fundamentos pelos quais seus
professores-formadores precisam estar amparados. Pelo estudo e discussão deste
documento, pelas fundamentações advindas dos educadores e pesquisadores e pelas
experiências de vida pessoal e profissional das professoras do GE – Estágio e
Pesquisa, foi possível entendermos o papel do aluno e do professor no processo de
formação de docentes, o significado de serem sujeitos de sua própria história, com a
grande responsabilidade de serem protagonistas de novos arranjos sócio-históricos.
Destarte, a Pesquisa, como instrumento teórico-metodológico, pode ir além da relação
de unidade teórico-prática pela ação-reflexão-ação: ela tem um compromisso ainda
mais amplo que é o de propor uma ação pedagógica para um projeto de escola e de
sociedade que se almeja.
Acreditamos que as intensas discussões e reorganização dos encaminhamentos
pedagógicos próprias da disciplina de Estágio Supervisionado mediadas pelo exercício
da Pesquisa nos moldes em que foi abordado, contribuíram substancialmente para a
formação continuada das professoras envolvidas no processo de implementação desta
proposta. Entendemos que toda a análise de uma determinada realidade e as
possibilidades de intervenção sobre ela não ocorre no imediato, e que seus resultados
não aparecem espontaneamente, mas são construídos por um processo de trabalho
coletivo, participativo, com continuidade e em constantes retomadas de percurso. Esta
proposta, iniciada pelo PDE, tem ainda uma intensa caminhada de trabalho, já que são
muitas as possibilidades ao longo da organização das ações que foram elencadas pelo
GE – Estágio e Pesquisa que se pretende efetivar e também muitos são os avanços
ainda necessários a serem apontados.
Termos nos dedicado a este trabalho durante o processo de pesquisa, de elaboração
de material teórico de apoio e a implementação do grupo de estudos, reforça-nos a
convicção de que todo o trabalho de formação de professores que envolve a reflexão
de concepções e ações, a investigação da realidade que nos cerca com compromisso
ético e responsabilidade social, tende a melhorar a qualidade do ensino. Não se pode,
por outro lado, deixar de considerar a responsabilidade própria do poder público, em
termos de políticas de Estado e não de políticas transitórias de governo, para a
educação e em especial para a formação de professores.
Ainda há muito a ser feito, mas podemos concluir que uma parcela de contribuição já
foi oferecida e espera-se que, a partir deste trabalho, outras possibilidades se
construam, novas contribuições se incorporem a estas, para que, assim, a disciplina de
Estágio Supervisionado efetive-se com melhores resultados no seu papel articulador
entre os diferentes saberes nos Cursos de Formação de Docentes e no
desenvolvimento profissional dos futuros professores.
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