dâmaso (os maias)

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Escola Secundária de Santa Maria Ano Letivo 2012/2013 Plano da Exposição Oral Disciplina: Português Data da Exposição Oral: 13 de Maio de 2013 Trabalho realizado por: Filipa Santos, nº10, 11ºI Índice Introdução 3

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Trabalho sobre a personagem dos Maias

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Page 1: Dâmaso (Os maias)

Escola Secundária de Santa Maria

Ano Letivo 2012/2013

Plano da Exposição Oral

Disciplina: Português

Data da Exposição Oral: 13 de Maio de 2013

Trabalho realizado por: Filipa Santos, nº10, 11ºI

Índice

Introdução 3

Biografia do Autor 3

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Dâmaso Salcede

Obras de Eça de Queirós 4

Caracterização física 5

Caracterização psicológica 5

Comparação com a atualidade 10

Conclusão 10

Introdução

Este Plano foi realizado no âmbito da disciplina de Português.Esta personagem foi-me atribuída pela professora de Português. Fiquei muito satisfeita porque é uma das minhas personagens favoritas por ser uma figura caricata.

Neste trabalho falarei sobre a biografia do autor, mencionarei algumas das suas obras, a caracterização da personagem, a comparação com a atualidade (recorrendo a um exemplo) e a apreciação/conclusão.

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Dâmaso Salcede

Na realização deste plano tive dois objetivos:

Caracterizar esta personagem; Relacioná-la com a atualidade (recorrendo a outra pessoa que seja parecida com

Dâmaso).

Espero que este trabalho seja apelativo e informativo e consiga caracterizar o melhor possível esta personagem tão polémica.

Biografia do autor

José Maria Eça de Queirós nasceu na Póvoa do Varzim em 25 de novembro de 1845. Curiosamente (e escandalosamente para aquela época), foi registado como filho de José Maria d`Almeida de Teixeira de Queirós e de mãe ilegítima.

O seu nascimento foi fruto de uma relação ilegítima entre D. Carolina Augusta Pereira de Eça e do então delegado da comarca José Maria d`Almeida de Teixeira de Queirós. D. Carolina Augusta fugiu de casa para que a sua criança nascesse afastada do escândalo da ilegitimidade.

O pequeno Eça foi levado para casa de sua madrinha, em Vila do Conde, onde permaneceu até aos quatro anos. Em 1849, os pais do escritor legitimaram a sua situação, contraindo matrimónio. Eça foi então levado para casa dos seus avós paternos, em Aveiro, onde permaneceu até aos dez anos. Só então se juntou aos seus pais, vivendo com eles no Porto, onde efetuou os seus estudos secundários.

Em 1861, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Aqui, juntou-se ao famoso grupo académico da Escola de Coimbra que, em 1865, se insurgiu contra o grupo de escritores de Lisboa, a apelidada Escola do Elogio Mútuo.

Esta revolta dos estudantes de Coimbra é considerada como a semente do realismo em Portugal. No entanto, esta foi encabeçada por Antero de Quental e Teófilo Braga contra António Feliciano de Castilho, pelo que, na Questão Coimbrâ, Eça foi apenas um mero observador.

Terminou o curso em 1866 e fixou-se em Lisboa, exercendo simultaneamente advocacia e jornalismo. Dirigiu o Distrito de Évora e participou na Gazeta de Portugal com folhetins dominicais, que seriam, mais tarde, editados em volumes com o título Prosas Bárbaras.

Em 1869 decidiu assistir à inauguração do Canal do Suez. Viajou pela Palestina e daí recolheu variada informação que usou na sua criação literária, nomeadamente nas obras O Egipto e A Relíquia.

Por influência do seu companheiro e amigo universitário, Antero de Quental, entregou-se ao estudo de Proudhon e aderiu ao grupo do Cenáculo. Em 1870, tomou parte ativa nas Conferências do Casino (marca definitiva do início do período realista em Portugal) e iniciou, juntamente com Ramalho Ortigão, a publicação dos folhetins As Farpas.

Decidiu entrar para o Serviço Diplomático e foi Administrador do Concelho em Leiria. Foi na cidade do Lis que elaborou O Crime do Padre Amaro. Em 1873 é nomeado Cônsul em Havana, Cuba. Dois anos mais tarde, foi transferido para Inglaterra, onde residiu até 1878. Foi em terras

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Dâmaso Salcede

britânicas que iniciou a escrita d` O Primo Basílio e começou a arquitetar Os Maias, O Mandarim e A Relíquia. De Bristol e Newcastle, onde residia, enviou frequentemente correspondência para jornais portugueses e brasileiros. No entanto, a sua longa estadia em Inglaterra encheu-o de melancolia.

Em 1886, casou com D. Maria Emília de Castro, uma senhora fidalga irmã do Conde de Resende. O seu casamento é também sui generis, pois casou aos 40 com uma senhora de 29.

Nos últimos anos, escreveu para a imprensa periódica, fundando e dirigindo a Revista de Portugal. Sempre que vinha a Portugal, reunia em jantares com o grupo dos Vencidos da Vida, os acérrimos defensores do Realismo que sentiram falhar em todos os seus propósitos.

Morreu, em Paris, em 1900.

Obras de Eça de Queirós

O Mistério da Estrada de Sintra, 1870O Crime do Padre Amaro, 1875A Tragédia da Rua das Flores, 1877-78O Primo Basílio, 1878O Mandarim, 1880As Minas do Rei Salomão, 1885, traduçãoA Relíquia, 1887Os Maias, 1888Uma Campanha Alegre, 1891O Tesouro, 1893Adão e Eva no Paraíso, 1897Suave Milagre, 1898Correspondência de Fradique Mendes, 1900A Ilustre Casa de Ramires, 1900A Cidade e as Serras, 1901, póstumaContos, 1902, póstuma

Prosas Bárbaras, 1903, póstumaCartas da Inglaterra, 1905, póstumaEcos de Paris, 1905, póstumaCartas Familiares e Bilhetes de Paris, 1907, póstumaNotas Contemporâneas, 1909, póstumaÚltimas Páginas, 1912, póstumaA Capital, 1925, póstumaO Conde de Abranhos, 1955, póstumaAlves & Companhia, 1925, póstumaO Eggipto, 1926, póstuma

Caracterização Física

Dâmaso é um homem fisicamente caricato:

“Rapaz baixote, gordo” (Pág. 112) , frisado como um noivo de província, de face invariavelmente corada; o que o torna muito pouco atrativo.

Vestido de modo ridículo “de camélia ao peito e gravata azul-celeste” (Pág. 112)

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Dâmaso Salcede

“(...) Com o seu ar bochechudo, e mole, que se envergonhou do surdo despeito que o atravessara, tomou-lhe o braço, teve duas palavras amáveis. - Dâmaso, tu não me compreendeste. Eu não te quis fazer zangar...” (Pág. 191)

“(..) os olhos bugalhudos...” (Pág. 265)

“(...)parecia agora mais bochechudo e mais nédio. As coxas roliças estalavam-lhe de gordura dentro da calça de casimira preta”( Pág. 268)

“ E Dâmaso, depois de sorrir, de tossir, de dar um jeito ao bigode, estendeu a mão para acariciar também Niniche sobre os joelhos de Carlos”(Pág. 269)

“(...) Dâmaso deitava olhares pelo Chiado, risonho, ovante, barrigudo, como um conquistador nos seus domínios”. (Pág. 306)

“(...) esse imbecil de grossas nádegas...” (Pág 406)

Caracterização Psicológica

Dâmaso é uma súmula de defeitos...

Repare-se no nome: Dâmaso Cândido de Salcede. E, logo de seguida, no cartão de visita: por baixo do nome, «as suas honras - COMENDADOR DE CRISTO - , ao fundo a sua «adresse», corrigida para dar lugar a «esta outra mais aparatosa - GRAND HÔTEL, BOULEVARD DES CAPUCINES, CHAMBRE N.º 103». (Pág. 135)Depois de uma apresentação como esta, nada a fazer. Dâmaso Salcede está condenado a ser o que é – um narcisista assumido. Lisboeta novo-rico, janota e pedante, filho de um agiota, o velho Silva, e sobrinho de «Mr.  de  Guimaran».

Digno de alguém que achava Daudet «confusote»:

“Gostava também do bric-a-brac; mas apanhava-se muita espiga, e as cadeiras antigas, por exemplo, não lhe pareciam cómodas para a gente se sentar. A leitura entretinha-o, e ninguém o pilhava sem livros à cabeceira da cama; ultimamente andava às voltas com Daudet, que lhe diziam ser muito chic, mas ele achava-o confusote”. (Pág. 135)

É mesquinho ,convencido, cobarde; não tem dignidade:

“(...)- Ouve lá. Se continuas a falar de mim e de pessoas das minhas relações, do modo como tens falado, e que não me convém, arranco-te as orelhas.O conde acudiu, metendo-se entre eles:- Maia, por quem é! Aqui no Chiado...- Não é nada, Gouvarinho, disse Carlos detendo-o, muito sério e muito sereno. É apenas um aviso a este imbecil.- Eu não quero questões, eu não quero questões!... balbuciou o Dâmaso, lívido, enfiando para dentro duma tabacaria.E Carlos voltou, com sossego, para junto dos seus amigos”. (Pág. 306)

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Dâmaso Salcede

Presumido e gabarola, provinciano e tacanho, só tem uma preocupação na vida: o “chique a valer”:

Procura aparentar um “ar de bom senso e de finura” (Pág.121), é considerado provinciano, tacanho e apenas com uma preocupação, que seja “chique a valer”.

Rodeados de ironia somos apresentados a Dâmaso Salcede e aos seus inúmeros defeitos: pretensioso, superficial, ridículo, despropositado, obcecado pelo chique - conhecido pela sua frase “Chique a valer!”

“Aquelas lições, que ele solicitara por amor do chic, iam-se-lhe tornando odiosas. E nessa tarde como sempre, apenas se enchumaçou com o plastrão de anta, se cobriu com a caraça de arame, começou a transpirar, a fazer-se branco. Diante dele Craft de florete na mão, parecia-lhe cruel e bestial, com aqueles seus ombros de Hercules sereno, o olhar claro e frio. Os dois ferros rasparam. Dâmaso estremeceu todo.- Firme, gritou-lhe Carlos.O desgraçado equilibrava-se sobre a perna roliça; o florete de Craft vibrou, rebrilhou, voou sobre ele; Dâmaso recuou, sufocado, cambaleando e com o braço frouxo...- Firme! berrava-lhe Carlos” (Pág. 144)

Aproxima-se de Carlos, que admira e inveja, por interesse e desejo de condição social:

“(...) Ega, quantas vezes o tenho dito: V. Ex.ª é a coisa melhor que há em Lisboa!Carlos, baixava a cabeça, mordendo o riso. Dâmaso, repetia, do fundo do peito.- Olhe que isto é sincero, Sr. Maia! Acredite v Ex.ª que isto é do coração!Era realmente sincero. Desde que Carlos habitava Lisboa, tivera ali, naquele moço gordo e bochechudo, sem o saber, uma adoração muda e profunda; o próprio verniz dos seus sapatos, a cor das suas luvas eram para o Dâmaso motivo de veneração, e tão importantes como princípios. Considerava Carlos um tipo supremo de chic, do seu querido chic, um Brumel, um d’Orsay, um Morny, - uma «destas coisas que só se veem lá fora», como ele dizia arregalando os olhos. Nessa tarde sabendo que vinha jantar com o Maia, conhecer o Maia, estivera duas horas ao espelho experimentando gravatas, perfumara-se como para os braços duma mulher; - e por causa de Carlos mandara estacionar ali o coupé, às dez horas, com o cocheiro de ramo ao peito”. (Pág. 127)

“(...)Depois ao sair, muito sério, quase comovido, perguntou ao Sr. Maia (se o Sr.Maia não fazia segredo) quem era o seu alfaiate. E desde esse dia, não o deixou mais” (Pág. 136)

“(...)Carlos fugiu vexado. Chegou a odiá-lo; respondia-lhe só com monossílabos; dava voltas perigosas com o dog-cart se lhe avistava de longe a bochecha, a coxa roliça. Debalde: Dâmaso Cândido Salcede filara-o, e para sempre”.(Pág. 136)

“Mas melhor ainda foi a manhã em que Carlos, um pouco incomodado e ainda deitado, o recebeu no quarto, como entre rapazes... daí datava a sua intimidade: começou a tratar Carlos por você. Depois, nessa semana, revelou aptidões úteis. Foi despachar à alfândega (Vilaça achava-se no Alentejo) um caixote de roupa para Carlos. Tendo aparecido num momento em que Carlos copiava um artigo para a Gazeta Médica ofereceu a sua boa letra, letra prodigiosa, de uma beleza litográfica; e daí por diante passava horas à banca de Carlos, aplicado e vermelho, com a ponta da língua de fora, o olho redondo, copiando apontamentos, transcrições de Revistas, materiais para o livro... Tanta dedicação merecia um tu de familiaridade. Carlos deu-lho”.(Pág. 136)

“Dâmaso, no entanto, imitava o Maia com uma minuciosidade inquieta, desde a barba que começava agora a deixar crescer até à forma dos sapatos.Lançara-se no bric-à-brac. Trazia sempre o coupé cheio de lixos arqueológicos, ferragens velhas, um bocado de tijolo, a asa rachada de um bule... E se avistava um conhecido, fazia parar, entreabria a portinhola como um ádito de sacrário, exibia a preciosidade”. (Pág. 137)

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Dâmaso Salcede

Obcecado pelo “chique a valer”, vive dividido entre a admiração por Carlos, que considera "um tipo supremo de chique", e os ciúmes e a inveja que a superioridade do amigo e a sua relação com Maria Eduarda lhe provocam.

De facto, esta personagem do "chique a valer" é exibicionista, indiscreta nos contactos com Maria Eduarda, caluniadora, cobarde, traidora, interesseira, mentirosa:

“Carlos encolheu os ombros. Como podia ela acreditar no Dâmaso? Devia conhecer-lhe bem a tagarelice, a imbecilidade...” Pág. 284

“O Dâmaso anda ai, por toda a parte, falando de ti e dessa senhora, tua amiga... A ti chama-te pulha, a ela pior ainda. É a velha história; diz que te apresentou, que te meteste de dentro, e como para essa senhora é uma questão de dinheiro, e tu és o mais rico, ela lhe passou o pé. Vês daí a infamiasinha. E isto tagarelado pelo Grémio, pela Casa Havaneza, com detalhes torpes, envolvendo sempre a questão de dinheiro. Tudo isto é atroz. Trata de lhe pôr cobro”(Pág. 303)

Conversa entre Carlos e Maria Eduarda:

“Uma tarde falaram do Dâmaso. Ela achava-o insuportável, com a sua petulância, os olhos bugalhudos, as perguntas néscias. V. Exc.ª acha Nice elegante? V. Exc.ª prefere a capela de S. João Baptista a Notre-Dame?...- E então a insistência de falar de pessoas que eu não conheço! A Sr.ª condessa de Gouvarinho, e os chàs da Sr.ª condessa de Gouvarinho, e a frisa da Sr.ª condessa de Gouvarinho, e a referência que a Sr.ª condessa de Gouvarinho tem por ele...! E isto horas! Eu às vezes tinha medo de adormecer...” (Pág. 265)

Torna-se grotesco pela imbecilidade das suas opiniões e toilettes, pela inconveniência das suas maneiras e da sua linguagem:

“- Se as coisas chegassem a esse ponto, se pusessem assim feias, eu cá, à cautela, ia-me raspando para Paris...Ega triunfou, pulou de gosto na cadeira. Eis ali, no lábio sintético de Dâmaso, o grito espontâneo e genuíno do brio português! Raspar-se, pirar-se!... “(Pág. 121)

“- Ora essa! exclamou Dâmaso, erguendo-se. Ora essa! Queria ver, se fosse contigo... É uma besta! É um selvagem!” (Pág. 139)

“Arredondava o olho, ameaçador. Desde o seu feito no Grémio, quando o raquítico apavorado emudecera diante dele, Dâmaso ia-se tornando feroz.Pela menor coisa falava em «quebrar caras.»- A ninguém! repetia ele, com puxões ao colete. Desconsiderações, a ninguém!” (Pág. 140)

tenta convencer-se e convencer os outros do fascínio irresistível que supostamente desperta no sexo oposto, não obstante as suas conquistas estarem confinadas a espanholas de reputação muito duvidosa:

Considera-se um excelente galã, muito apetecido pelas mulheres, por quem, aliàs, não sabe ter consideração nem respeito.

“ Esta é boa, exclamou Dâmaso ao mesmo tempo, com uma palmada na coxa. Olha quem aqui me aparece! A Suzana! A minha Suzana!Carlos não despegara os olhos da Página.- Oh Carlos, acrescentou ele, fazes favor? Ouve. Ouve esta que é boa.

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Dâmaso Salcede

Esta Suzana é uma pequena que eu tive em Paris... Um romance! Apaixonou-se por mim, quis-se envenenar, o diabo!... Pois diz aqui o Fígaro que debutou nas Folies-Bergeres. Fala nela... É boa, hein? E era rapariguita chic... E oFígaro diz que ela teve aventuras, naturalmente sabia o que se passou comigo... Todo o mundo sabia em Paris. Ora a Suzana!... Tinha bonitas pernas. E custou-me a ver livre dela! “ (Pág. 137)

Interminável, torrencial e inundante a falar, convencido ao ponto de considerar que as mulheres “sofriam a fascinação da sua pessoa e da sua toilette”:“Dâmaso era interminável, torrencial, inundante a falar das «suas conquistas», naquela sólida satisfação em que vivia de que todas as mulheres, desgraçadas delas, sofriam a fascinação da sua pessoa e da sua toilette. E em Lisboa, realmente, era exacto. Rico, estimado na sociedade, com coupé e parelha, todas as meninas tinham para ele um olhar doce. E no démimonde, como ele dizia, «tinha prestígio a valer.» Desde moço fora celebre, na capital, por por casas a espanholas; a uma mesmo dera carruagem ao mês; e este fausto excepcional tornara-o bem depressa o D. João V dos prostíbulos. Conhecia-se também a sua ligação com a viscondessa da Gafanha, uma carcassa esgalgada, caiada, rebocada, gasta por todos os homens válidos do país: ía nos cinquenta anos, quando chegou a vez do Dâmaso - e não era decerto uma delícia ter nos braços aquele esqueleto rangente e lúbrica; mas dizia-se que em nova dormira num leito real, e que augustos bigodes a tinham lambuzado; tanta honra fascinou Dâmaso, e colou-se-lhe às saias com uma fidelidade tão sabuja, que a decrépita criatura, farta, enojada já, teve de o enxotar à força e com desfeitas. Depois gozou uma tragédia: uma actriz do Príncipe Real, uma montanha de carne, apaixonada por ele, numa noite de ciúme e de genebra, engoliu uma caixa de fósforos; naturalmente daí a horas estava boa, tendo vomitado abominavelmente sobre o colete do Dâmaso que chorava ao lado - mas desde então este homem de amor julgou-se fatal! Como ele dizia a Carlos, depois de tanto drama na sua vida quase tremia, tremia verdadeiramente de fitar uma mulher...”( Pág 138).

Possuidor de grande bazófia e sendo um enorme cobarde, difama pública e anonimamente Carlos, mas retrata-se logo em seguida:

É presumido, cobarde e sem dignidade. É dele a carta anónima enviada a Castro Gomes, que revela o envolvimento de Maria Eduarda com Carlos.

“Quem escreveu a carta anónima ao Castro Gomes foi o Dâmaso!Carlos olhou para ele:- Achas?... Sim, talvez... Com efeito quem havia de ser?- Não foi mais ninguém, menino. foi o Dâmaso! “( Pág. 353)

É dele também, a notícia contra Carlos n' A Corneta do Diabo.

“Ega encolheu os ombros, deu um risco lento no chão com a bengala. E mais lentamente ainda foi considerando que o inspirador da Corneta devia ser alguém familiar com Castro Gomes; alguém frequentador da rua de S. Francisco; alguém conhecedor da Toca; alguém que tinha, por ciúme ou vingança, um desejo ferrenho de magoar Carlos; alguém que sabia a história de Maria; e enfim alguém que era um covarde...- Estàs a descrever o Dâmaso! exclamou Carlos, pálido e parando” (Pág. 389)

“Reconhecera a letra do Dâmaso!Carlos examinou os papéis lentamente. Era uma carta do Dâmaso ao Palma, curta e em calão, remetendo o artigo, recomendando-lhe «que o apimentasse». Era o rascunho do artigo, laboriosamente trabalhado pelo Dâmaso, com entrelinhas. Era a lista, escrita pelo Dâmaso, das pessoas que deviam receber a Corneta: vinha lá a Gouvarinho, o ministro do Brasil, D. Maria da Cunha, El-Rei, todos os amigos do Ramalhete...”(Pág. 391)

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“Carlos já esboçara sumariamente o plano dessa liquidação. Queria mandar desafiar o Dâmaso como autor comprovado dum artigo de jornal que o injuriava. O duelo devia ser à espada ou ao florete, um desses ferros cujo lampejo, na sala de armas do Ramalhete, fazia empalidecer o Dâmaso. Se contra toda a verosimilhança ele se batesse, Carlos fazia-lhe algures, entre a bochecha e o ventre, um furo que o cravasse meses na cama. Senão a única explicação que Carlos aceitaria do Sr. Salcede seria um documento...”(Pág. 392)

“Era assinar uma carta afirmando que tudo o que fizera publicar na Corneta sobre o Sr. Carlos da Maia e certa senhora fora invenção falsa e gratuita. Só isto o salvava. Doutro modo, Carlos um dia, no Chiado, em S. Carlos, escarrava-lhe na cara”(Pág. 401)

O seu carácter é tão baixo, que se retrata, a si próprio, como um bêbado, só para evitar bater-se em duelo com Carlos:

“(...)Ora, desde que o Dâmaso se declarava borracho, a sua honra ficava salva. Era um homem de bem que apanhara uma carraspana e que cometera uma indiscrição... Nada mais!”. (Pág 404)

“(...)E ao fim de uma semana a Sr.ª D. Rachel saberia inevitavelmente que o escolhido do seu coração era por confissão própria um caluniador e um bêbedo!...”(Pág 407)

nada tem de inteligente, de honrado ou de nobre:

“Carlos leu a carta do Dâmaso. E foi um imenso assombro:- Isto é incrível!... Chega a ser humilhante para a natureza humana!- O Dâmaso não é o género humano, acudiu Ega. Que diabo esperavas tu? Que ele se batesse?” ( Pág. 406)

consegue casar com uma filha dos Condes de Águeda que se apressa a traí-lo:

Acaba casado, traído, mas igualmente feliz e cheio de si.

“ E foi um espanto para Carlos. O quê! O nosso Dâmaso! Casado!?... Sim, casado com uma filha dos condes de Águeda, uma gente arruinada, com um rancho de raparigas. Tinham-lhe impingido a mais nova...”( Pág. 505)

“E o óptimo Dâmaso, verdadeira sorte grande para aquela distinta família, pagava agora os vestidos das mais velhas.- É bonita?- Sim, bonitinha... Faz aí a felicidade dum rapazote simpático, chamado Barroso.- O quê, o Dâmaso, coitado...- Sim, coitado, coitadinho, coitadíssimo... Mas como vês, imensamente ditoso, até tem engordado com perfídia!” (Pág. 506)

condensa toda a estupidez, futilidade e ausência de valores da sociedade:

Representa o novo riquismo e os vícios da Lisboa da segunda metade do séc. XIX. Completamente falso e pretensioso, vive das aparências, da ostentação de gosto e de riqueza.

“Dâmaso largara o Fígaro para meter um charuto na boquilha; depois desapertou os últimos botões do colete, deu um puxão à camisa para mostrar melhor a marca que era um S enorme sob uma coroa de conde, e de pálpebra cerrada, com o beiço trombudo, ficou mamando gravemente a boquilha...- Tu estàs hoje em beleza, Dâmaso, disse-lhe Carlos que deixara também a Revista e o contemplava com melancolia”(Pág. 139)

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Dâmaso Salcede

copia qualquer moda ou comportamento importado do estrangeiro, principalmente de França:

Dá asas à sua vaidade e futilidade falando dos pormenores das suas

viagens e exibindo uma predileção pelo estrangeiro, “...é direitinho

para Paris! Aquilo é que é terra! Isto aqui é um chiqueiro...” (Pág.113).

Antipatriótico – tinha um desprezo enorme por Lisboa que classifica de chinfrim:

“Considerava Lisboa chinfrin, e só estava bem em Paris - sobre tudo por causa do género «fêmea» de que em Lisboa se passavam fomes: ainda que nesse ponto a Providencia não o tratava mal” (Pág. 135)

Comparação com a atualidade Na atualidade, existem muitas pessoas com comportamentos iguais aos de Dâmaso. Uma delas, na minha opinião é José Castelo Branco.

José Castelo Branco tornou-se famoso pelos seus modos exuberantes, extravagantes e polémicos. Na sua juventude, chegou a vestir-se como uma mulher para passagens de modelos, passado esse que o próprio assume. Castelo Branco, apesar de não ter as mesmas características físicas de Dâmaso, tem alguns comportamentos considerados polémicos. Veste muitas vezes de modo ridículo, como Dâmaso, é exibicionista, muito vaidoso, muitas vezes é um pouco grosseiro a falar, fala mal dos outros, é interesseiro, é convencido, gabarola, é fútil e só se preocupa com o “chique a valer”. Imita os comportamentos estrangeiros, vive das aparências, da ostentação e da riqueza.

Conclusão

Os Maias é considerado um clássico da literatura portuguesa, uma obra exemplar cuja excelência é capaz de resistir ao tempo.Escrito por Eça de Queirós, foi publicado pela primeira vez em 1888, é uma das suas obras mais conhecidas e uma das mais importantes de toda a literatura portuguesa.

Claramente um clássico. Bom. Com os seus exageros em termos de alongamento das situações, e uma linguagem «Chique a Valer!», como diria Dâmaso. É necessária alguma persistência, para não nos deixarmos ficar a meio, mas a história flui mais a partir de metade.

Um livro que nos transporta para um Portugal em pleno século XIX, para uma sociedade onde amores proibidos constituem o trama central desta história repleta de interesse. Uma obra intemporal que, ainda hoje, se mantém como uma afiada e aguda crítica aos vícios da sociedade.

Uma galeria de personagens onde Eça, com uma sublime ironia, desvenda as atitudes e vícios de toda uma sociedade que, sob uma màscara de hipocrisia, vivia em opulência ridícula e presunçosa.

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Dâmaso Salcede

Gostei muito de fazer este trabalho. Constato que há muitas pessoas como Dâmaso atualmente, infelizmente...

Mas...este livro não seria o mesmo sem a existência de Dâmaso Salcede...

Um livro “Chique a valer!”.

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