das entranhas da mãe terra eu brotei. nasci pequeno, não mais que diminuto olho dágua. tão logo...
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Das entranhas da mãe Das entranhas da mãe Terra eu brotei. Terra eu brotei.
Nasci pequeno, não mais que Nasci pequeno, não mais que diminuto olho d’água. diminuto olho d’água.
Tão logo aflorei à superfície, Tão logo aflorei à superfície, encontrei meu encontrei meu
berço já pronto; tudo que tinha a berço já pronto; tudo que tinha a fazer fazer
era correr montanha abaixo. era correr montanha abaixo.
Minha pequena água nada Minha pequena água nada impunha, impunha,
a tudo se submetia.a tudo se submetia.Sentia-me frágil e oprimido.Sentia-me frágil e oprimido.
Meus pequeninos afluentes, quase
desprezíveis, pouco me valiam.
Como poderia chegar ao mar?
Qualquer insignificante galho, qualquer
ingênua pedra, até mesmo uma pequena
folha poderia mudar meu curso.
No entanto, as primeiras chuvas
trouxeram-me grande alento.
Aí sim, nada me deteria, tudo eu arrastaria
-as montanhas ouviriam minha voz,
rugindo eu ameaçaria os vales.
Bastaria esperar uma simples e pequena
tempestade, para eu transformar meu
discreto veio em torrencial e caudaloso rio.
Minhas volumosas águas doces chegariam triunfantes ao meu
estuário assustando o salgado oceano.
Quando chegou o pródigo verão, logo
descobri minha própria grandeza e nada demorou
para que ela me surpreendesse.
Mas, poucas horas presenciaram minha
correnteza avassaladora, a minha tão
desejada glória foi passageira.
tornei-me poderoso, impus minha força, estendi meu domínio,
determinei meu próprio caminho.
Quando chegou o inverno, despediram-se as chuvas; baixaram-
se as águas; eu me vi no meu anterior volume, porém, agora, minhas águas
turvas e barrentas corriam dentro de um leito estranho,
profundo.
Minha aventura foi custosa para todos que
estavam ao meu redor; as pedras que sustinham
minhas margens, muitas rolaram, as poucas que resistiram conservando-se
em seus lugares, perderam suas vestes de puro limo;
árvores, que me franqueavam suas
refrescantes sombras, perderam seus galhos, suas raízes foram arrancadas; os arbustos floridos que perfumavam
minhas águas, foram lavados e açoitados pela enxurrada;
os pássaros que se banhavam nas minhas
cristalinas águas, desabrigados, foram cantar distantes do meu
assoreado berço.
Desolado, sonhando agora com uma plácida foz,
voltei aos meus modestos e fiéis tributários;
entendi que só poderia ver o mar se contasse com a ajuda de cada um daqueles tênues filetes d’água.
(Elias Barbet)
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Música “Apres l'explosion“(Ennio Morricone)