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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SULCENTRO DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
STELLA SANCHES DE OLIVEIRA
IMPLANTAO E ORGANIZAO DO CURSO GINASIAL NO SUL DE MATOGROSSO: EXPRESSES DE UM PROJETO DE MODERNIZAO (1917-1942)
CAMPO GRANDE - MS2014
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STELLA SANCHES DE OLIVEIRA
IMPLANTAO E ORGANIZAO DO CURSO GINASIAL NO SUL DE MATOGROSSO: EXPRESSES DE UM PROJETO DE MODERNIZAO (1917-1942)
Tese apresentada ao Curso de Ps-Graduao emEducao, da Universidade Federal de Mato Grossodo Sul, como requisito parcial obteno do ttulode Doutora.Orientadora: Prof. Dr. Eurize Caldas Pessanha.
Coorientadora: Prof. Dr. Cynthia Greive Veiga.
CAMPO GRANDE - MS2014
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Oliveira, Stella Sanches de.Implantao e organizao do curso ginasial no Sul de Mato
Grosso: expresses de um projeto de modernizao (1917-1942) /Stella Sanches de Oliveira. -- Campo Grande, MS, 2014.
282f. ; 30 cm.
Orientadora: Eurize Caldas Pessanha.Tese (doutorado) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Centro de Cincias Humanas e Sociais/ Programa de Ps-Graduao emEducao.
1. Curso ginasial. 2. Modernizao. 3. Ensino secundrio. 4. Sul deMato Grosso. I. Pessanha, Eurize Caldas. II. Ttulo.
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STELLA SANCHES DE OLIVEIRA
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao, do Centro de Cincias
Humanas e Sociais, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como requisito parcial obteno do ttulo de Doutora.
COMISSO JULGADORA:
__________________________________________Prof. Dr. Eurize Caldas PessanhaUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul
__________________________________________Prof. Dr. Cynthia Greive VeigaUniversidade Federal de Minas Gerais
__________________________________________Prof. Dr. Vera Teresa ValdemarinUniversidade Estadual PaulistaJlio de Mesquita F.
__________________________________________Prof. Dr. Silvia Helena de Andrade Brito
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
__________________________________________Prof. Dr. Fabiany de Cssia Tavares SilvaUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul
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DEDICATRIA
As trs pessoas que mais admiro em minha vida:
Elvis, meu marido, exemplo de homem e de companheiro. Estar casada com uma grande
pessoa como Elvis foi fundamental para mim, momentos de tenses e aflies eram
suavizados com seu apoio tornando essa longa jornada dias bons e que sero sempre
lembrados.
Edna, minha me, que esteve absolutamente todos os dias desse doutorado ao meu lado,
fazendo um papel crucial: encorajando-me no trabalho de cada dia. Que, ainda hoje, me ligouaflita com a tese que no se encerrava de uma vez.
Manoel, meu pai, apoio incondicional a todos os meus projetos, torcendo, orando e,
principalmente, acreditando em mim e se orgulhando.
A vocs trs muito, muito obrigada e que ao olharem para esse trabalho saibam: boa parte
dele s foi possvel por estarem comigo!
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AGRADECIMENTOS
Ao Senhor, o meu Deus e amigo fiel, que mais uma vez esteve comigo em todo tempo.A Ele toda a honra e glria.
A minha orientadora, Eurize Pessanha, grande mestre, que sempre com pacincia
soube pegar na minha mo quando precisei e solt-la em momentos que eu devia avanar
sozinha. Ter vivido mais esse itinerrio com ela foi motivador e instigante. Sua leveza e
sabedoria em conduzir a orientao sempre garantiram momentos interessantes e divertidos.
Ela me deixou como legado o prazer de realizar uma pesquisa. Em nenhum momento desses
quatro anos, eu me senti desestimulada ou desanimada, tenho plena certeza de que isso foi
possvel pela convivncia com minha orientadora. Por isso, o Doutorado para mim no foi um
peso ou desespero de se livrar da pesquisa. E alm de tudo, por meio de seu Projeto Procad
Casadinho, recebi um verdadeiro presente: a oportunidade de fazer um perodo sanduche na
UFMG. A experincia de seis meses foi fundamental para o aprofundamento da pesquisa sob
a orientao da Prof. Cynthia Veiga, que se tornou, mais tarde, minha coorientadora da tese,
e com exigncia, ao mesmo tempo, austera e divertida, me possibilitou conhecimento, trocas
de ideias, risos e uma vontade de querer cada vez mais estar nesse meio acadmico. Na
UFMG, pude participar dos trabalhos do grupo dela do GEPHE/FAE, que devo dizer, um
exemplo de organizao e comprometimento com cada participante, desde graduando at ps-
doutorando. Nessa mistura, conheci pessoas incrveis, gentis e sempre dedicadas a
transformar meus dias em Belo Horizonte mais fceis: Selpa, Talita, Teresa, Felipe, Adlia,
Larissa. Alm desse grupo, tambm estiveram comigo nesse perodo sanduche: Prof. Mnica
Jinzenji, Prof. Marcus Taborda, Leide Cota, Lana Mesquita e Kelly Jlio.
Voltando ao Programa de Ps-Graduao de Educao da UFMS, agradeo as
professoras da banca: Fabiany Silva, que estando comigo nessa longa jornada do stricto
sensu, vem me ensinando o trabalho da pesquisa, do ensino e da solidariedade de emprestar
textos e livros, sempre! Prometo no incendiar a tese com nenhum paradigma!; Silvia Brito,
grande exemplo de professora e pesquisadora, tem estado comigo desde o inco do mestrado.
Ao Horcio que sempre estiveram prontos a ajudar nas burocracias. Em especial, Prof. Vera
Valdemarin (UNESP/Rio Claro) tambm de minha banca, que me desafiou a construir as
expresses de cultura escolar nas especificidades de Mato Grosso e me abriu os olhos para as
Crnicas salesianas.
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As queridas colegas de Doutorado: Mrian Xavier, pessoa que, literalmente, no poupa
esforos para ajudar uma amiga e galardoadora de uma amizade incondicional; Clia Piatti e
Patrcia Carvalho, as conheci como alunas de francs e depois nos tornamos colega de turma,
foi uma honra para mim. Alm delas, em BH, tambm fui agraciada com a amizade e
cuidados de Rita Lages e de sua filha, Marina, que me acolheram com um amor e dedicao
em sua casa que no h como retribuir. A respeito dessas cinco mulheres, devo dizer que
minha admirao por elas absoluta: lutadoras, bonitas e de bem com a vida, aquele tipo de
mulher que a Naturae O Boticrio colocariam em suas propagandas de olhos fechados.
Agradeo a Deus por ter me dado o privilgio de conviver com vocs esse tempo.
Agradeo a Lourdes, que, com muita dedicao, me deu apoio tcnico domstico:
cuidou de minha casa e de todas aquelas tarefas que ficam cada vez mais de lado a medidaque se aproxima a entrega da tese. Ao meu irmo, Vinicius, e cunhada, Gabriella, que
torceram por mim e se preocuparam com todas as etapas desse trabalho. minha sobrinha,
Manoella, e minha amiguinha, Ludimila, que passaram algum tempo ouvindo: A tia t
fazendo tese, no pode ir. E ao sobrinho Rafael, de 3 anos, que ao me convidar para viajar
com a famlia e eu dizer que no podia, concluiu: tia, se voc no tavafazendo tese, voc ia
na praia com a gente. Essas crianas deram o tempero perfeito para esse perodo, inclusive
quando eu escrevia bastante, me dava um bnus e a brincar com elas!Tive apoios tcnico, terico e metodolgico importantssimos: de Helose Vargas,
discente de Pedagogia da UFMS, que organizou todas as fotografias que fiz das fontes e
depois das referncias das fontes. Foi um trabalho e tanto!; de Wanderlice Assis, com seu
conhecimento das normas da ABNT; agradeo as Prof. Jacira Pereira e Prof. Regina Cestari
de Oliveira, que me ajudaram muito com ideias, discusses e dissertaes emprestadas;
agradeo aos funcionrios que me abriram as portas dos acervos nas escolas Colgio
Imaculada Conceio, Colgio Santa Teresa, Escola Estadual Maria Leite, Colgio DomBosco, Colgio Nossa Senhora Auxiliadora.
Agradeo ao apoio financeiro da bolsa de pesquisa da Coordenao de
Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) e da bolsa sanduche do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq). Enfim, espero ter alcanado
a relevncia histrica que tanto persegui nesta pesquisa e, assim, retribuir sociedade o
investimento a mim confiado pela instncia pblica brasileira.
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RESUMO
A partir do final do sculo XIX, o estado de Mato Grosso se inseria em um projeto demodernizao baseado em um iderio enaltecedor da civilizao, da modernidade, doprogresso e da educao, dando incio a um desenvolvimento urbano traduzido em melhoriasem vrias reas da sociedade. Na poro sul do estado, a luta por autonomia em relao preponderncia do norte, concentrador de maior parte dos investimentos na educao e outrossetores, avanava em novas possibilidades propiciadas na economia corumbaense eexpectativas geradas pela ferrovia em solo campo-grandense. Nesse contexto, inscreve-se oobjeto de pesquisa, a saber, o curso ginasial, primeiro ciclo dos estudos secundrios,caracterizado pela exclusividade de acesso ao curso superior, exames de admisso, seriaode pelo menos cinco anos, currculo baseado no conjunto de disciplinas escolares especficaspara os estudos secundrios, programas e metodologias, obrigatoriedade e equiparao aoColgio Pedro II. Busca-se resposta para o questionamento: como se deu a implantao docurso ginasial no Sul de Mato Grosso e quais finalidades lhe eram atribudas? Com objetivo
de investigar a implantao e a organizao dos cursos ginasiais, especificamente nas cidadesde Corumb e de Campo Grande, entre 1917 e 1942, tomou-se como fontes de pesquisadocumentos oficiais e aqueles produzidos na escola. Foram selecionados documentos deacervos de escolas de Corumb e Campo Grande, do Center for Research Libraries, doArquivo Pblico de Mato Grosso e do Instituto Memria do Poder Legislativo, dentre osquais Mensagens de presidentes de estado, Regimentos escolares, Relatrios de inspeoprvia e permanente, Atas das provas parciais e atas de exame de admisso, Relatos dasvisitas de inspetores federais, Crnicas da congregao salesiana. guisa de concluses, possvel falar de uma cultura escolar do curso ginasial no Sul de Mato Grosso expressada naorganizao dos espaos, tempos, conhecimentos e sujeitos escolares. A investigao permiteidentificar a inculcao do comportamento cultivado, e nesse sentido, o pudor, a moral, a
vergonha, a gentileza deviam transformar o jovem em exemplo para sociedade. Assim como,noes de civilidade, higienismo, sanitarismo e urbanidade interiorizadas pela sociedade seestabeleceram em cdigos de postura prprios da cidade e da modernidade. O estabelecimentodo curso ginasial respondeu ao propsito nacional de consolidar uma cultura cvica deidentificao aos ideais republicanos, por meio do enaltecimento de personalidades histricase do estabelecimento de marcos e datas, alm de preparar o jovem para as fileirasprofissionais nos setores poltico e pblico e profisses liberais. Festas, cultos e desfilescvicos foram recursos utilizados para construir na juventude sul-mato-grossense arepresentao da ptria, do civismo, do cidado til nao. Essa instrumentao simblicade elementos patriticos, nacionalistas e republicanos qualificou a cultura escolar do cursoginasial.
Palavras-chave: curso ginasial; Modernizao; ensino secundrio; Sul de Mato Grosso.
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ABSTRACT
From the end of the nineteenth century, the state of Mato Grosso was inserted in amodernization project based on uplifting ideals of civilization, modernity, progress andeducation. Thus promoting urban development and improvements in various areas of society.The southern portion of the state struggled for independence from the dominance of thenorthern area, concentrator of most investments in education and other sectors. Newpossibilities emerged for the southern area through the expansion of the economy in the cityof Corumb and the railroad in Campo Grande. Enrolled in this scenario was the developmentof the former high school. Within this context, the research aims at the former high school,established as the first cycle of secondary education characterized by exclusivity foruniversity admissions, entrance exams, grading of at least five years, curriculum-based set ofspecific school subjects for secondary education, programs and methodologies, and theobligation to equate the Ginasium Colgio Pedro II. The research seeks to answer to thequestion: how was the implementation of the former high school in southern Mato Grosso and
for which purposes? Aiming to investigate the implementation and organization of the formerhigh school, specifically in the cities of Corumb and Campo Grande, between 1917 and1942, the research examined old official school documents from the holdings of schools, theCenter for Research Libraries, the Public Archives of Mato Grosso and the Memory Office ofthe Legislative Power. Among the documents examined where messages of presidents ofstate, school regiments, inspection reports, memorandums of entrance examinations, reportsof visits by federal inspectors and chronicles of the salesian congregation. The conclusionspoint out the existence of a school culture for the secondary school in the south of MatoGrosso expressed in the organization of space, time, knowledge and school subjects. Theinvestigation identified the imposition of a cultivated behavior, with qualities such asmodesty, morality, shame, kindness, seeking to transform the youngster as an example for the
society. Therefore, notions of civility, hygiene, sanitation, and urbanity were internalized bythe society, establishing themselves in the behavior codes of the city and modernity. Theestablishment of the former high school answered to the purpose of consolidating a nationalcivic culture, promoting the identification to the republican ideals through the study ofhistorical personalities and the setting of milestones and dates, thus preparing the youngster tothe professional ranks in the political and public sectors and liberal professions. The schoolculture of the former high school strived with the ideals of civility, the South Mato Grossoyoungster raised to be a useful citizen of the nation, using as instruments patriotic, nationalistand republican symbolic elements, such as parties, church meetings and civic parades.
Keywords: former high school; Modernization; secondary education; southern Mato Grosso.
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RSUM
Depuis la fin du XIXe sicle, l'tat de Mato Grosso (Brsil) a t insr dans un projet demodernisation fond sur un idal difiante de la civilisation, la modernit, le progrs etl'ducation lanant un dveloppement urbain traduit par des amliorations, dans de diffrentsdomaines de la socit. Dans le sud de l'tat, la lutte pour l'autonomie de la domination dunord centralisateur de la plupart des investissements dans l'ducation et d'autres secteurs,avanait de nouvelles possibilits offertes dans l'conomie de Corumb et des attentesproduites par le chemin de fer instal Campo Grande. Dans ce contexte, sinscrit lobjet derecherche savoir, le premier cycle de l'enseignement secondaire, appel gymnase,caractris par l'exclusivit dentre dans luniversit, les examens d'admission, la priode destudes d'au moins cinq ans, lensemble des disciplines scolaires spcifiques fond sur lecurriculum d'enseignement secondaire, les programmes et les mthodes, l'enseignementobligatoire et la comparaison au Colgio Pedro II. Nous cherchons rpondre la question:comment a t la mise en uvre de lenseignement secondaire dans le sud du Mato Grosso et
quelles taient ses finalits? Visant tudier la mise en uvre et l'organisation lenseignementsecondaire, en particulier dans les villes de Corumb et Campo Grande, entre 1917 et 1942,nous avons pris comme sources de recherche des documents officiels et ceux produits dans lescoles. Nous avons slectionn des documents historiques dans les archives scolaires deCorumb et Campo Grande, le Centre for Research Libraries, lArchive publique de MatoGrosso et lInstitut mmoire du pouvoir lgislatif, parmi lesquels les Messages de prsidentsd'tat, les Rgiments de l'cole, les Rapports de linspection prliminaire et permanente, lesRcits des examens partiels et des examens dadmission, les Rapports de visites desinspecteurs, les Chroniques de la congrgation salsienne. En guise de conclusion cestpossible parler dune culture scolaire de lenseignement secondaire dans le sud de MatoGrosso exprime dans lorganisation des espaces, des temps, des connaissances et des sujets
scolaires. La recherche permet identifier linculcation du comportement cultiv et, dans cesens la pudeur, la morale, la honte, la gentillesse devaient transformer le jeune en exemplepour la socit. Ainsi que, des notions de civilit, dhyginisme, d'assainissement, etd'urbanisme intriorises par la socit se sont tablies dans des codes propres de la ville et dela modernit. Lorganisation de lenseignement secondaire a rpondu le but national deconsolider une culture didentification aux idaux rpublicains travers llvation depersonnalits historiques et de dfinition des dates historiques ainsi que de prparer les jeunesaux filires professionnelles dans les secteurs politique et publique et professions librales.Des ftes, des cultes et des dfils civiques ont t des ressources utilises pour construire la
jeunesse du Sud de Mato Grosso la reprsentation de la patrie, du civisme, du citoyen utile la nation. Ces outils symboliques des lments patriotiques, nationalistes ont qualifi la
culture scolaire de lenseignement secondaire.
Mots cls: gymnase, Modernisation, enseignement secondaire, sud de Mato Grosso.
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Estrutura educacional e nomenclatura do ensino secundriobrasileiro no perodo republicano de acordo com as reformaseducacionais ........................................................................... 22
Quadro 2 - Disciplinas e nmero de horas de aulas por semanaestabelecidos pelo Decreto 735, de 11 de junho de 1926.......... 114
Quadro 3 - Distribuio das aulas semanais nos seis anos de curso dedisciplinas humansticas e cientficas, de acordo com oDecreto 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925, aprovado noDistrito Federal ...................................................................... 116
Quadro 4 - Distribuio das aulas semanais nos seis anos de curso dedisciplinas humansticas e cientficas de acordo com oDecreto 735, de 11 de julho de 1926, aprovado em Cuiab................................................................................................ 116
Quadro 5 - Pontos de provas de disciplinas para o Exame de Admisso doGinsio N. S. Auxiliadora ......................................................... 137
Quadro 6 - Descrio das instalaes do prdio do LiceuCampograndense ....................................................................... 150
Quadro 7 - Descrio das instalaes do prdio do Ginsio Dom Bosco ... 154
Quadro 8 - Descrio das instalaes do prdio do Ginsio N. S.Auxiliadora ................................................................................ 156
Quadro 9 - Descrio das instalaes do prdio do Ginsio ImaculadaConceio .................................................................................. 159
Quadro 10 - Nmero de aulas mensais das disciplinas humansticas -Portugus, Francs, Ingls, Latim, Histria, Geografia - por
srie de acordo com os anos letivos .......................................... 192
Quadro 11 - Nmero de aulas mensais das disciplinas cientficas Matemtica, Cincias, Histria Natural, Fsica, Qumica porsrie de acordo com os anos letivos .......................................... 193
Quadro 12 - Transferncias recebidas e expedidas das escolas e quantidadede alunos. Colgio Santa Teresa, 1933; Ginsio Municipal deCampo Grande, 1935; Ginsio N. S. Auxiliadora, 1936; LiceuCampograndense, 1942 ............................................................. 220
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Nmero de escolas pblicas de ensino primrio noestado de Mato Grosso .................................................... 85
Tabela 2 - Nmero de escolas particulares de ensino primrio noestado de Mato Grosso em 1919 .................................. 85
Tabela 3 - Rendimento dos alunos do Liceu Cuiabano, 1911- 1920 87
Tabela 4 - Relao das subvenes do governo do estado de MatoGrosso s instituies privadas de educao secundria,em 1928........................................................................... 107
Tabela 5 - Matrculas efetuadas no Liceu Cuiabano e na Escola
Normal em 1929.............................................................. 108
Tabela 6 - Matrculas efetuadas nos estabelecimentos particularesem Campo Grande em 1929........................................... 108
Tabela 7 - Quantidade de alunos da 1 srie ginasial do LiceuCampograndense que obtiveram notas com mdiainferior, igual e superior a mdia mnima 30, no anoletivo de 1939................................................................... 219
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Pgina da ata de exame de admisso do Gymnasio Pestalozzi27/03/1926............................................................................... 134
Figura 2 - Planta de uma sala de aula do Liceu Campograndense com adisposio dos mveis - quadro negro, carteiras e mesa doprofessor -, das janelas e da porta, 1941 ................................. 152
Figura 3 - Planta de uma sala de aula do Ginsio Feminino N. S.Auxiliadora com a disposio dos mveis- quadro negro,carteiras e mesa do professor -, das janelas e da porta, 1937... 158
Figura 4 - Visita da turma da 4 srie ginasial do Ginsio ImaculadaConceio ao Arsenal da Marinha, Corumb, 1943 ............... 176
Figura 5 - Turma de formandas do Curso Ginasial do GinsioImaculada Conceio, Corumb, 1942 .................................. 180
Figura 6 - Turma de formandas do Curso Ginasial e do CursoSecretariado do Ginsio Imaculada Conceio, Corumb,1943 ...................................................................................... 181
Figura 7 - Corredor de saudao das alunas do Ginsio Imaculada
Conceio na parada cvica para recepo de Getlio Vargasem Corumb, MT, em 28/07/1941 .......................................... 182
Figura 8 - Corredor de saudao das alunas do Ginsio ImaculadaConceio na parada cvica para recepo de Getlio Vargasem Corumb, MT, em 28/07/1941 .......................................... 183
Figura 9 - Termo de visitas do inspetor federal Valeriano Maia aoGinsio Municipal de Campo Grande, 1935........................... 235
Figura 10 - Termo de visitas do inspetor federal Joo de Oliveira Garcia
Imaculada Conceio, 1937 ................................................... 237
Figura 11 - Anotao de inspeo ao Ginsio Dom Bosco de ValerianoMaia, 10/08/1942..................................................................... 238
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LISTA DE ABREVIATURAS
ABE Associao Brasileira de Educao
APMT Arquivo Pblico de Mato Grosso
CNDL Comisso Nacional do Livro Didtico
CRL - Center Research Libraries
DES Diviso de Ensino Secundrio
DNE Diretoria Nacional de Ensino
DNE Departamento Nacional de Educao
IMPL Instituto Memria do Poder Legislativo
INL Instituto Nacional do LivroUCDB Universidade Catlica Dom Bosco
UFGD Universidade Federal da Grande Dourados
UFMS Universidade Ferderal do Mato Grosso do Sul
UFMT Universidade Federal do Mato Grosso
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
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SUMRIO
INTRODUO ....................................................................................................... 16
1 O ENSINO SECUNDRIO NO BRASIL........................................................... 33
1.1 A LITERATURA SOBRE ENSINO SECUNDRIO ........................................ 341.2 INSTITUIES DE ENSINO SECUNDRIO ................................................. 361.3 ENSINO SECUNDRIO NA VISO DOS REFORMADORES ..................... 44
2 A EDUCAO NO PROCESSO DE MODERNIZAO EM MATOGROSSO ................................................................................................................... 57
2.1 MODERNIZAO E EDUCAO EM MATO GROSSO .............................. 582.1.1 Representaes da educao dos presidentes de estado de Mato Grosso ...... 73
2.2 A EDUCAO ESCOLAR EM MATO GROSSO EM FINS DO SCULOXIX AO INCIO DO XX ......................................................................................... 81
2.2.1 O ensino primrio .......................................................................................... 822.2.2 O ensino ps-primrio .................................................................................... 862.2.3 O Liceu Cuiabano .......................................................................................... 892.2.4 Educao confessional em Mato Grosso - os salesianos ............................... 94
2.3 EDUCAO COMO FATOR DE PROGRESSO: DEFESA DAEDUCAO SECUNDRIA CIENTFICA EM MATO GROSSO ....................... 96
2.4 MODERNIZAO E ENSINO SECUNDRIO EM MATO GROSSO .......... 105
2.5 A ADEQUAO DE MATO GROSSO REFORMA NACIONAL DEENSINO SECUNDRIO .......................................................................................... 111
3 IMPLANTAO E ORGANIZAO DO CURSO GINASIAL NO SULDE MATO GROSSO .............................................................................................. 118
3.1 IMPLANTAO DAS INSTITUIES DE CURSO GINASIAL ................. 1193.1.1 Instalao e inaugurao das instituies de Corumb: Colgio Salesiano
Santa Teresa, Colgio Imaculada Conceio, Ginsio Corumbaense, GinsioMaria Leite .............................................................................................................. 1203.1.2 Instalao e inaugurao das instituies de Campo Grande: InstitutoPestalozzi/Ginsio Dom Bosco, Colgio Nossa Senhora Auxiliadora, LiceuCampograndense .................................................................................................... 1283.1.3 Os primeiros exames de admisso aos cursos ginasiais no Sul de MatoGrosso..................................................................................................................... 131
3.2 ORGANIZAO DO CURSO GINASIAL NO SUL DE MATO GROSSO .. 1423.2.1 Espao institucional: o colgio ...................................................................... 1443.2.1.1 Localizao do edifcio escolar ................................................................ 146
3.2.1.2 Instalaes do externato ........................................................................... 1493.2.1.3 Instalaes do internato ............................................................................ 1533.2.1.4 Salas especiais, gabinetes, laboratrios, museus ...................................... 160
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3.2.1.5 Sanitarismo e higienismo como expresso de urbanidade emodernizao ....................................................................................................... 163
3.2.2 Tempo escolar ............................................................................................... 165
3.2.2.1 Festas, desfiles e rituais cvicos ................................................................ 175
3.2.3 Organizao do conhecimento escolar ......................................................... 1853.2.3.1 Propostas educacionais dos cursos ginasiais: finalidades confessional elaica .................................................................................................................... 1943.2.3.2 Mtodos, materiais e prticas .................................................................. 202
3.2.4 Sujeitos escolares .......................................................................................... 2103.2.4.1 Ginasianas e ginasianos ............................................................................ 2123.2.4.2 Lentes, catedrticos, docentes: os professores .......................................... 2253.2.4.3 Outros sujeitos ........................................................................................... 233
CONSIDERAES FINAIS .................................................................................... 243
REFERNCIAS ........................................................................................................ 255
ANEXOS ................................................................................................................... 277
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INTRODUO
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No Mestrado, tomei como objeto de pesquisa a histria de uma disciplina escolar do
Colgio Estadual Campo-grandense, criado em 1938, primeiro ginsio pblico de Campo
Grande, poca estado de Mato Grosso. Estudando a histria da instituio escolar me
deparei com a dificuldade de encontrar estudos sobre a histria da educao do sul de Mato
Grosso1 que contemplassem o perodo anterior a diviso do estado2. Despertava-me, dessa
forma, o interesse pelo ensino secundrio da regio.
Lanando olhares nas primeiras leituras sobre o assunto, observei um movimento de
aparecimento de escolas de ensino secundrio a partir de 1917, em Corumb e Campo
Grande, cidades de maior expresso econmica e poltica na poro sul do estado. O resgate
histrico do tema mostrou que, entre fins da dcada de 1910 e fins dcada de 1930, a
formao do jovem para alm do ensino primrio, tanto visando o ensino superior quanto aformao normal e profissional passou por um processo de expanso.
Assim, colgios de ensino primrio passaram a oferecer a formao secundria
propedutica para acesso ao ensino superior, formao profissional e de professores primrios
pelo ensino normal, ao mesmo tempo em que teve lugar uma sequncia, ainda que incipiente,
de instalaes de escolas secundrias privadas em Corumb e Campo Grande. Tendo em
mos a informao de que, entre 1917 e 1938, as cidades de Corumb e Campo Grande
tiveram implantados oito cursos secundrios3
, decidi pesquisar este ramo de ensino.A pesquisa aqui proposta justifica-se pela necessidade de se conhecer com maior
nitidez a histria da educao do estado de Mato Grosso, em especial da regio sul do estado,
no que concerne implantao do ensino secundrio pela instalao das instituies escolares
e oferta e organizao do curso secundrio que dava acesso ao ensino superior, geralmente
conhecido como curso ginasial, a despeito das sucessivas alteraes de nomenclatura
observadas na legislao do perodo.
Ao final do sculo XIX, o estado de Mato Grosso se insere no que consenso ahistoriografia regional chamar de projeto de modernizao. Embora no tenha sido
homogneo em todo o territrio do estado, o processo de modernizao mostrou traos mais
1Essa poro do estado de Mato Grosso era constituda pelas seguintes cidades: Corumb, Miranda, Santana doParanaba, Nioaque, Coxim, Campo Grande, Aquidauana e Bela Vista; municpios que desmembrados em vriosoutros, viriam a constituir o estado de Mato Grosso do Sul. (QUEIROZ, 1997, p. 115-116). 2A diviso do estado de Mato Grosso ocorreu em 11 de outubro de 1977, pela qual passaram a existir os estados:Mato Grosso, com capital em Cuiab, e Mato Grosso do Sul, com capital em Campo Grande.3Os cursos secundrios foram abertos nas instituies: Colgio Salesiano Santa Teresa, 1917; InstitutoPestalozzi, 1917; Ginsio Corumbaense, 1918; Ginsio Municipal Maria Leite, 1928; Colgio Osvaldo Cruz,1927; Colgio Nossa Senhora Auxiliadora, 1934; Colgio Imaculada Conceio, 1937; Liceu Campograndense,1938.
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evidentes na capital e em algumas cidades do sul do estado, particularmente em Corumb e
Campo Grande.
Inserido no contexto mundial por meio da exportao de minrios, extrao da
borracha, erva-mate e pecuria, alm da dinmica prpria das casas comerciais que permitiam
regio estabelecer um intercmbio comercial com o centro financeiro do pas, o estado de
Mato Grosso deu incio a um desenvolvimento urbano traduzido em melhorias na estrutura
das cidades, como novas vias e ruas, instalaes mais adequadas de estabelecimentos e
surgimento de novos espaos urbanos.
Em 1914, a inaugurao da ferrovia em Campo Grande ligando Mato Grosso ao oeste
de So Paulo aponta para novas transformaes, ao passo que a diversificao social torna-se
mais complexa no sentido da exigncia de outras necessidades, interferindo no consumo eproduo regionais.
Essas mudanas regionais no podem ser observadas de forma isolada, elas
compuseram o amplo movimento nacional da necessidade poltica de consolidar o ideal
republicano, mesmo que localizados nos grandes centros a leste do pas. Afinal, a transio da
forma de governo imperial para o republicano excluiu a participao popular, ficando tal
processo poltico distante de ser um exemplo democrtico.
A concepo positivista assumida pelos republicanos tinha como suporte idealizador aideia de progresso, modernizao dos povos e a evoluo da humanidade pelas cincias. As
cincias naturais ganharam prestgio e a formao do homem apto s exigncias da vida
moderna teria na escola a responsvel pela dispensao dos conhecimentos cientficos. Nesse
sentido, a educao foi considerada via de regenerao da populao brasileira.
Tornado um empreendimento para o governo local mato-grossense, o progresso social
do estado articulava-se ao ideal nacional, e este ao internacional, de preparao do homem
moderno, escolarizado, disciplinado e apto ao trabalho industrial: o abandono do tipodesocupado, no acostumado ao trabalho sistemtico, e a busca pelo ideal do cidado livre,
civilizado, colaborador da ordem para o progresso do estado e, assim, o da nao.
A educao e a cultura passam a ser consideradas pilares para se alcanar o progresso.
Desta feita, investimentos na reorganizao da instruo pblica primria e na formao de
professores tornaram-se uma nova demanda poltica e social. O fenmeno de expanso do
ensino secundrio no sul de Mato Grosso contou com investimentos do governo estadual e
municipal subsidiando a iniciativa privada com dinheiro, cedncia de terreno ou anulao de
impostos. As discusses e opinies postas nas mensagens dos governantes mato-grossenses
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do perodo imperial e republicano, entre 1879 e 1930, mostraram efetivo interesse pela
educao.
No projeto de modernizao de Mato Grosso, a educao participaria com a
progressiva instalao e/ou encampao de instituies escolares, ocorrida desde as primeiras
dcadas do sculo XX, nos vrios nveis de formao, assim como a introduo de novas
prescries s instrues primria e secundria.
O perodo delimitado da pesquisa inicia-se em 1917. Nesse ano ocorreu a implantao
dos primeiros cursos ginasiais no Sul de Mato Grosso: no Colgio Salesiano Santa Teresa, em
Corumb, e no Instituto Pestalozzi, em Campo Grande. O perodo encerra-se em 1942, porque
foi o ano em que o Liceu Campograndense (Colgio Estadual Campo-grandense), primeiro
ginsio pblico de Campo Grande, criado em 1938 e funcionando de forma irregular nos anossubsequentes, consegue a aprovao por Inspeo Prvia, garantindo seu funcionamento sem
mais interrupes.
Ter como objeto de pesquisa o curso ginasial, um ramo de ensino extinto atualmente
(cf. Quadro 1), exige algumas consideraes sobre sua nomenclatura e significado enquanto
educao secundria.
Essa etapa mdia que permitia o acesso aos cursos superiores recebeu vrias
denominaes ao longo da histria da educao brasileira: instruo secundria, ensinosecundrio, educao secundria, curso ginasial, curso secundrio fundamental. Assim como
as instituies de ensino secundrio receberam trs denominaes diferentes: Liceu, Colgio e
Ginsio.
De acordo com Gasparello (2004, p. 50), o termo liceu, emprestado da Frana,
associado aula de ensino cientfico, modernidade e Repblica, alm de ter em si a
ideia de utilidade social do secundrio foi preterido, no Brasil, em favor do termo colgio,
que carregava o sentido de cultura clssica e desinteressada. Este ltimo termo era maisapropriado grandeza de um imperador, ao homenage-lo emprestando seu nome
instituio de ensino secundrio da capital do pas, o Imperial Collegio de Pedro II.
Gasparello (2004, p. 49, grifos da autora) explica que o termo colgio seria a casa, e
a corporao de pessoas que seguem a vida literria na Universidade, como teria o sentido
de Seminrio com os colgios organizados pelos religiosos. Figurando na Constituio de
1824, o termo collegio foi o escolhido para denominar a instituio oficial secundria do
Imprio, nesse sentido possvel considerar a forte marca deixada pelos jesutas na educao
brasileira com suas instituies de ensino das humanidades no sculo XVIII. (SILVA, 1969).
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Silva (1969) e Haidar (1972) tecem observaes sobre a proposta apresentada pela
Comisso de Instruo Pblica da Cmara de Deputados do Imprio, em 1826, onze anos
antes do nascimento do Colgio Pedro II, fundamentada nas ideias do francs Condorcet.
Tempos depois, o Ato Adicional de 1834 atribuiu responsabilidade da instruo pblica
primria e secundria s Provncias, sendo a fundao de Liceus Provinciais oriunda da nova
determinao.
Olhando mais de perto a constituio desses Liceus Provinciais, v-se que ali no era
dispensado apenas o ensino da cultura geral humanstica e desinteressada, mas tambm uma
formao profissional. No Liceu Provincial de Niteri, segundo Gasparello (2004), havia
cursos profissionais formando engenheiros e professores de ensino primrio. Quanto ao Liceu
da Bahia, Dick (2001) aponta um debate no final do sculo XIX propondo que no Liceu nohouvesse apenas o ensino das humanidades, mas um ensino prtico e profissional.
Uma diferena importante entre a funo dos liceus provinciais e os colgios no
Brasil, no perodo imperial, era a de que os estudos realizados nos liceusno permitiam que o
jovem entrasse nas academias de ensino superior, atribuio exclusiva dos colgios.
Segundo Antunha (1980), a palavra ginsio comea a ser adotada a partir da Reforma
Benjamin Constant, em 1891, para designar o curso referente ao ensino secundrio, momento
em que os termos liceu e colgio comeam a deixar de nominar instituies de ensinosecundrio justamente por serem associados ao Imprio. importante lembrar que, com essa
primeira reforma de ensino da Repblica, o Colgio Pedro II teve seu nome alterado para
Ginsio Nacional4.
Ao concluir os quatro anos de estudos primrios, o jovem tinha trs caminhos como
opo para os estudos ps-primrio: o ensino secundrio5, o ensino tcnico-profissional (curso
comercial, secretariado, mecnico, arteso, etc.) e o ensino normal (formao de professores
primrios). Dentre as trs opes, apenas o ensino secundrio permitia acesso ao ensinosuperior. No Brasil, desde o Imprio at os anos iniciais da dcada de 1960, quando se deu a
4O primeiro nome da instituio secundria oficial do Imprio implantada, em 1837, foi Imperial Collegio dePedro II. Assim que foi adotada a forma de governo Repblica, em 1889, o nome da instituio foi alterado paraInstituto Nacional de Instruo Secundria e, logo depois, em 1890, na Reforma Benjamin Constant, paraGinsio Nacional. Finalmente, com a Reforma Rivadvia Corra, em 1911, chamou-se Colgio Pedro II.(GONDRA; SCHUELER, 2008).5Cursava-se o ensino secundrio ou realizando os exames parcelados (at 1925), ou concluindo o curso seriado
secundrio. Os exames parcelados foram extintos oficialmente no Decreto n 16. 782-A, de 13 de junho de 1925,contudo por meio de outros decretos complementares a brecha da realizao dos exames parcelados continuouaberta mesmo aps o Decreto n 19.890/1931. As caractersticas, questes e problemas sobre o ensino secundriosero tratados no Captulo 1.
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aprovao da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional6, em 1961, prevaleceu
a desarticulao dos nveis de ensino na etapa entre o primrio e o superior.
No perodo da pesquisa 1917 a 1942 , os cursos ginasiais do Sul de Mato Grosso
estiveram sob vigncia de quatro reformas educacionais de ensino secundrio, marcados em
fundo escurecido no Quadro 1.
As discusses precursoras das reformas Carlos Maximiliano e Rocha Vaz aspiraram o
que Antunha (1980 p. 216) chamou de modelo ginasial por agregar ensino integral, regular
e seriado, sendo que o esboo desse modelo teve incio pela reforma Rocha Vaz, em 1925.
O termo ginsioaparece no art. 158 do Decreto n 11.530, de 18 de maro de 1915,
Reforma Carlos Maximiliano, ao ser referenciado como curso gymnasial oferecido no
Collegio Pedro II. Isto , ginsio representa um curso. Conforme se acompanha a seguir:Em ambas as seces se far em cinco annos um curso gymnasialsuficiente para ministrar
aos estudantes solida instruco fundamental, habilitando-os a prestar, em qualquer academia,
rigoroso exame vestibular. (BRASIL, 1915, grifo meu).
Na reforma seguinte, Rocha Vaz7, oficializada pelo Decreto n 16.782-A, de 13 de
janeiro de 1925, o termo ginsio muda de sentido e passa a se referir instituio, como
sinnimo de colgio ou escola. A letra a do art. 10 tem exemplo: pelo total das taxas
estabelecidas para certides de exames prestados perante as juntas examinadoras, nomeadaspara os colgios e ginsiosque as obtiverem (BRASIL, 1925, grifo meu); o art. 62 refora a
ideia de instituio: [...] o candidato dever juntar atestados de aprovao nas cadeiras de
portugus, geografia do Brasil e histria ptria, prestada no Colgio Pedro II, nos ginsios
equiparados, ou na forma prevista neste regulamento [...]. (BRASIL, 1925, grifo meu).
6Lei n 4.024, de 20 de dezembro de 1961. (BRASIL, 1961).7 A reforma acabou sendo designada por dois nomes: o de Joo Luiz Alves, Ministro da Justia e NegciosInteriores poca da formulao da reforma, e o de Rocha Vaz, diretor da Faculdade de Medicina do Rio deJaneiro, participante da elaborao e forma final do projeto da reforma. (SILVA, 1969).
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Quadro 1 - Estrutura educacional e nomenclatura do ensino secundrio brasileiro no perodorepublicano de acordo com as reformas educacionais.Legislao Nome e durao do curso ps-primrioReforma Benjamin Constant -
Decreto n 981, de 8 de novembrode 1890.
Curso mdio - 7 anos
Reforma Epitcio Pessoa - Decreton 3.890, 1 de janeiro de 1901.
Ensino secundrio - 6 anos
Reforma Rivadvia - Decreto n8.659, de 5 de abril de 1911.
Curso fundamental - 6 anos
Reforma Carlos Maximiliano -Decreto n 11.530, de 18 de marode 1915.
Curso gymnasial - 5 anos
Reforma Joo Luiz Alves-RochaVaz - Decreto n 16.782-A, de 13 de
junho de 1925.
Ensino secundrio - 6 anos
Reforma Francisco Campos -Decreto n 19.890, de 18 de abril de1931.
Curso secundriofundamental - 5 anos
Curso secundriocomplementar - 2 anos
Reforma Gustavo Capanema - Lein 4.244, de 9 de abril de 1942.
1 Ciclo: CursoGinasial - 4 anos
2 Ciclo: Cursos Clssico*;Cientfico* - 3 anos
LDB de 1961- Lei n 4.024, de 20de dezembro de 1961.
Ciclo Ginasial 4 anos
Ciclo Colegial - 3 anos
Lei n 5.692, de 11 de agosto de1971.
1 grau** 8 anos 2 grau - 3 anos
LDB de 1996 - Lei n 9.394, de 20de dezembro de 1996. Ensino Fundamental- 8 anos*** Ensino Mdio - 3 anos
*conforme opo aluno entre um dos dois cursos.** aglutinao das quatro sries do primrio com as quatro do curso ginasial.*** nove anos a partir de 2008.Fonte: Nagle (2001); Oliveira (2009); Silva (1969); Souza (2008); Zotti (2004).
O Decreto n 19.890, de 18 de abril de 1931, que legislou a Reforma Francisco
Campos, veio inaugurar o ensino secundrio dividido em dois ciclos: curso secundrio
fundamental e curso secundrio complementar. A denominao curso secundrioesclarece aoque se referia o curso e tambm caracterizava o primeiro ciclo, fundamental. Dando-lhe o
sentido de fase inicial, porque era seguido pelo complementar, como fase mais avanada.
Portanto, ironicamente, durante toda a dcada de 1930, no houve base legal para chamar o
curso secundrio de ginsioou curso ginasial.
Dessa forma, o nome utilizado pela Reforma Maximiliano para se referir ao objeto
dessa pesquisa foi curso ginasial, pela Rocha Vaz, ensino secundrio, pela Francisco
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Campos, curso secundrio fundamental8, somente com a Reforma Gustavo Capanema, em
1942, que o termo curso ginasial foi retomado, dando novo nome ao primeiro ciclo do
ensino secundrio.
Quanto historiografia atual da educao, Souza (2009) trata o ensino secundrio
como ramo do ensino mdio, Brito (2001) chama de ensino mdio o conjunto composto pelos
ensino secundrio, ensino pedaggico (normal) e ensino comercial e, para Dallabrida (2009),
o ensino secundrio um nvel de escolarizao entre o curso primrio e o ensino superior,
at a dcada de 1950, ele era o nico curso ps-primrio que preparava e habilitava os
estudantes para o ingresso nos cursos superiores, diferenciando-se dos cursos tcnico-
profissionalizantes e normal. (p. 186).
As mensagens dos presidentes de estado Assembleia Legislativa do estado de MatoGrosso, uma das fontes dessa pesquisa, mostram impreciso na nomenclatura. Relatando
notcias do Liceu Cuiabano, em 1895, o presidente do estado, Manoel Jos Murtinho, referia-
se ao estabelecimento por ensino pblico secundrio e ento anunciava que seu diretor havia
solicitado alterao do plano de estudos referendado no Ginsio Nacional. O governante
defendia que o Liceu Cuiabano fosse transformado em um simples curso de humanidades, e
separando-se deste completamente o curso normal. (MATTO GROSSO, 1895, p. 12).
Murtinho explicava que os ensinos pertenciam a esferas distintas, sendo que sua juno, comose encontrava sua situao naquele momento, s fazia atrapalhar ambos trabalhos.
Em 1910, Pedro Celestino Corra da Costa classificou a Escola de Aprendizes e
Artfices do estado como uma escola profissional, alegando que naquele estabelecimento
havia uma escola de instruo primria e uma de desenho.
Joaquim Augusto da Costa Marques, presidente do estado em 1912, separava os
ensinos, explicando que, no Lyceu de Artes e Officios So Gonalo, em Cuiab, havia ensino
nas oficinas, cursos de instruo primria e curso de instruo secundria. Portanto, o termoensino secundrio, que habilitava o jovem a entrar no curso superior, estava separado do
ensino profissional.
O diretor geral de educao, Franklin C., discorreu sobre a tentativa de trs alunas do
Curso Normal Dom Bosco, anexo ao Colgio Nossa Senhora Auxiliadora, de pularem um ano
do curso normal, indo diretamente para o 3 ano, por j terem realizado a 2 srie ginasial:
8
O curso secundrio complementar foi criado no Liceu Cuiabano pela Lei n 49, de 10 de outubro de 1936,porm, no Sul de Mato Grosso, o segundo ciclo do ensino secundrio apareceu aps 1942, com a ReformaCapanema. (MATO GROSSO, 1936).
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Aceitar a doutrina (sic) das requerentes negar a necessidade da existencia de umcurso normal para o preparo de professores. Seria ento bastante que se creasse nosGymnasios ou nos cursos commerciaes a cadeira de psycologia e didactica. O que certo, porem, que o curso normal sendo um curso techinico profissional nenhumarelao tem com um curso gymnasial, cujo fim principal fornecer aos alunos um
conhecimento geral de sciencias que facilite depois os estudos nas academiassuperiores. Se assim , em se tratando de um curso gymnasial, o que no se dir comrelao a um curso commercial? Em verdade, diz o ilustre Director do Instituto depsychologia experimental Dr. M. Bomfim, as Escolas Normaes so escolasrigorosamente profissionais. Ha no seu programma as disciplinas necessarias ainstruco geral, mas no com esse intuito que ellas ahi esto includas. Nessasescolas as disciplinas do programma servem de (sic), mas da educao profissional.As escolas normaes so principalmente escolas de methodos; por essa razo queellas tm uma organizao parte; distincta dos institutos de instruco secundaria.(OFCIO..., 1932, grifos do diretor).
O diretor se manifestou terminantemente contrrio ao pedido das alunas, tratando o
caso como insulto concepo de formao de professor primrio. Demonstrou seu
entendimento de ensino normal como sendo um ensino profissional, de modo a justificar a
impossibilidade de continuidade entre o curso ginasial e o curso normal.
Diante desses argumentos, as fontes revelaram que no havia um rigor no que a
nomenclatura se referia ao ser utilizado o termo ensino secundrio, podendo, portanto,
significar qualquer curso realizado quando se havia concludo o ensino primrio.
Para evitar qualquer ambiguidade com relao ao objeto de pesquisa, apresento o que
eu delimitei nesta pesquisa como ps-primrio, ensino secundrio, educao secundria ecurso ginasial. Em primeiro lugar, os termos so apropriados na pesquisa para se referirem
aos estudos realizados pelo jovem, aps a concluso do ensino primrio, visando a entrada em
um curso superior, entre 1917 e 1942, portanto, no englobam o ensino tcnico-profissional,
nem o ensino normal.
O termops-primriodesignar todos os ensinos, cursos e/ou educao aps o ensino
primrio para se referir a ensino tcnico-profissional juntamente com o ensino normal e o
curso ginasial. Isto , quando houver necessidade de falar sobre os trs ramos de forma geralenglobando a formao tcnica-profissional, de professores primrios e do jovem que iria
fazer o curso superior ser utilizadops-primrio.
Os termos ensino secundrio e educao secundria designam o nvel de estudos,
diferenciando-se, do ensino primrio e do ensino superior. Enquanto curso ginasiald nome
ao primeiro ciclo dos estudos secundrios caracterizados pelos exames de admisso, pela
seriao de pelo menos cinco anos (conforme a reforma vigente em cada ano), por um
currculo baseado no conjunto de disciplinas escolares especficas para os estudos
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secundrios, por programas e metodologias dessas disciplinas escolares, pela obrigatoriedade,
pela (tentativa de) equiparao ao Colgio Pedro II.
Por ter sido o curso ginasialoferecido por instituio de ensino com nome Ginsio,
mesmo no perodo em que a legislao brasileira no lhe concedeu esse termo (Reforma
Rocha Vaz e Reforma Francisco Campos), dele me apropriarei em todo o texto desta tese.
Realizar um estudo do ensino secundrio levou a questionamentos dos processos
histricos em torno de seu surgimento no Sul de Mato Grosso, sua misso, objetivos, metas e
fins, isto , elementos que pudessem dar forma, uma caracterizao ao ensino secundrio
naquele momento e lugar. Assim, busco construir respostas para a questo: como se deu a
implantao do curso ginasial no Sul de Mato Grosso e quais finalidades lhe eram atribudas?
A hiptese sobre a implantao do curso ginasial no Sul de Mato Grosso de que,entre finais da dcada de 1910 e incio da dcada de 1940, a organizao do curso ginasial fez
parte da dinmica de modernizao da regio na perspectiva de atender s demandas por
educao, pautadas nos estudos humansticos mas com ascenso dos estudos cientficos, s
noes de civilidade e urbanidade interiorizadas pela sociedade Ocidental desde fins do
sculo XIX, e de bom comportamento regulado por conteno e pela moral e preparao do
jovem para as fileiras profissionais no setor poltico e pblico e profisses liberais. Do mesmo
modo, o estabelecimento do curso ginasial respondeu ao propsito nacional de consolidar umacultura cvica de identificao aos ideais republicanos e exaltao Ptria, por meio de
enaltecimento de personalidades histricas identificadas momentos de importncia para a
histria poltica do pas, de estabelecimentos de marcos, datas e festas simblicas.
Durante as duas primeiras dcadas do sculo XX, houve sucessivas tentativas por
parte das vrias instncias da sociedade (instituio religiosa, laica, municipalidade e o
estado) de constituir e consolidar o curso ginasial, em Corumb e Campo Grande. Contudo,
nenhuma das iniciativas foi exitosa. Essa fase, entre 1917 e 1930, marcou-se pela existnciado curso ginasial no Colgio Salesiano Santa Teresa (Corumb), Instituto Pestalozzi (Campo
Grande), Ginsio Corumbaense (Corumb), o Colgio Osvaldo Cruz (Campo Grande) e
Ginsio Municipal Maria Leite (Corumb).
A partir dessa realidade, possvel considerar a implantao e a organizao do curso
ginasial no Sul de Mato Grosso a partir do Decreto n 19.890/1931. Certamente, conforme a
historiografia da educao demonstra em outros estados, o advento desse Decreto propiciou a
organicidade necessria para que o curso ginasial se consolidasse e adquirisse identidade para
atender a finalidades especficas.
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Enquanto que, uma segunda fase, entre 1931 e 1942, pode ser delineada na histria da
implantao do curso ginasial no Sul de Mato Grosso. Com a consolidao de algumas das
instituies j mencionadas, o Colgio Salesiano Santa Teresa (Corumb), o Ginsio
Municipal Maria Leite tornado estadual com o nome Ginsio Maria Leite (Corumb), o
Instituto Pestalozzi tornado Ginsio Municipal Dom Bosco transferido para os padres
salesianos (Campo Grande); bem como o desaparecimento de outras, o Ginsio Corumbaense
(Corumb), e por fim, novas iniciativas, o Colgio Imaculada Conceio (Corumb), o
Colgio Nossa Senhora Auxiliadora (Campo Grande) e o Liceu Campograndense.
Assim que identifiquei formas e prticas culturais prprias do ensino secundrio na
realidade da histria da educao do Sul de Mato Grosso, perspectivas para o estudo da
cultura escolar no curso ginasial foram abertas. Recorrendo a Viao Frago (1998, 2002),busquei enxergar que, mesmo existindo inmeras semelhanas entre as instituies
educativas, elas so singulares e possuem particularidades.
Este autor tem uma concepo bastante ampla de cultura escolar, no sentido de que ela
no consequncia ou produto especfico dos sistemas educativos, mas tem a mesma origem
da escola estando presente nas vrias dimenses da instituio, ao mesmo tempo em que
repousa sobre a sociedade.
Para Viao (2002, p. 73-74), a cultura escolar
[...] constituda por um conjunto de teorias, ideias, princpios, normas, rituais,inrcias, hbitos e prticas (formas de fazer e pensar, mentalidades ecomportamentos) sedimentadas ao longo do tempo em forma de tradies,regularidades e regras de jogo no questionadas, e compartilhadas por seus atores,no seio das instituies educativas. Tradies, regularidades e regras de jogo que setransmitem de gerao em gerao e que proporcionam estratgias: a) para integrar-se em certas instituies e interagir nelas mesmas; b) para conduzir, principalmentena aula, as tarefas cotidianas que de cada um se espera e fazer frente s exigncias elimitaes que tais tarefas implicam ou envolvem; c) para sobreviver s sucessivasreformas, reinterpretando-as e adaptando-as, a partir de tal cultura ao seu contexto e
necessidades.
A maneira como Viao (2002) concebe cultura escolar pertinente para a opo de
como analisar a escola e o que se passa dentro dela. Em primeiro lugar, entender que a escola
produz uma cultura prpria, alm disso, considerar que a organizao escolar adquire sentidos
que podem ser investigados por fazerem parte de sua histria.
Essa concepo permite pensar que teorias, ideias, normas, rituais, hbitos so
elementos importantes na constituio de uma instituio escolar porque revelam muito do
ensino que ali foi dispensado e dos atores sociais que fizeram parte daquele contexto.
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A caracterstica fundamental da cultura escolar para Viao (2002) o fato de ser
duradoura, pois uma vez institucionalizada pelas tradies, regularidades e regras presentes na
escola, supe-se que pode revelar traos das finalidades de ensino por seu carter de
consolidao e permanncia.
Para Viao (2002), a cultura escolar torna os cdigos culturais regulares, permanentes
e repetitivos ao longo do tempo.
Suas particularidades caractersticas seriam a continuidade e persistncias no tempo,sua institucionalizao e uma relativa autonomia que a permite gerar produtosespecficos como as disciplinas escolares. A cultura escolar seria, em sntese, algoque permanece e que dura; algo que as sucessivas reformas no conseguem mais quearranhar superficialmente, que sobrevive a elas, e que constitui um sedimentoformado ao longo do tempo. (p. 74).
O espao, o tempo e as disciplinas escolares interferem em aspectos de continuidade,
identidade e permanncia enquanto elementos ou categorias da cultura escolar.
A escola um espao fsico, um territrio, possui uma arquitetura que, a depender de
fatores econmico-sociais e polticos, pode ser concebida para fins especficos educacionais.
De acordo com o momento histrico, o espao escolar tem suas caractersticas, como foi o
caso dos grupos escolares e dos palcios da instruo secundria. O espao escolar
elaborado para cumprir objetivos especficos e sofre interferncias frequentes dos agentes que
ali transitam.
As salas de aula, o ptio, os sanitrios, os laboratrios, o teatro, a biblioteca, a quadra
de esportes, a cantina, o refeitrio so espaos elaborados para cumprir uma funo na ao
pedaggica e que, com o passar do tempo, adquirem novas funes sociais e culturais. A
respeito do espao escolar Viao Frago e Escolano (1998, p. 69) analisam:
[...] uns marcos para o aprendizado sensorial e motor e toda uma semitica quecobre diferentes smbolos estticos, culturais e, ainda, ideolgicos. E, em suma,
como a cultura escolar, da qual forma parte, uma forma silenciosa de ensino.Qualquer mudana em sua disposio, como lugar ou territrio modifica suanatureza cultural e educativa.
Quando ao tempo escolar, este resulta igualmente da construo institucional e,
enquanto produto cultural, no pode ser tomado por neutro. O tempo tem carter
organizacional e mltiplo, como o tempo do professor, do aluno, da administrao que so
diferentes. Um tempo sempre regulado e ocupado, linear, ascendente e segmentado uma
das caractersticas da instituio escolar. (VIAO FRAGO, 1998, p. 178). Nesse sentido, o
tempo materializado pelos ciclos, nveis, cursos, calendrios, ano acadmico, frias, diviso
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das disciplinas, semestre, quadros de horrios. Construdo social e culturalmente para
organizar a vida de pessoas, o tempo vivenciado no apenas por quem est na escola
cotidianamente, mas tambm pela famlia e a comunidade em geral influenciados
indiretamente.
As disciplinas sendo um produto tipicamente escolar conformam-se em necessidades
de ordenamento e regras em torno da coerncia e de finalidades. Segundo Chervel (1998), as
disciplinas escolares se constituem em um corpo de conhecimentos, com uma lgica interna,
articulados a temas especficos, organizados em programas com contedos de ideias simples e
precisas.
Na histria do ensino secundrio brasileiro, os discursos se deram em torno de sua
finalidade social baseada no teor produtivo ou no teor do conhecimento intelectual. Em outraspalavras, os discursos se basearam nos estudos secundrios prticos, calcados nas disciplinas
cientficas ou de formao pela cultura geral desinteressada, calcados nas disciplinas
humansticas.
Articulado a esse quadro conceitual, o procedimento metodolgico consolidou-se em
torno de questes da histria no que concerne operao de buscar e selecionar documentos
transformando-os em fontes da pesquisa. Em relao busca por essa matria-prima,
necessrio problematizar a importncia dos acervos e arquivos enquanto lugar privilegiado dedepsito, em relao seleo dos documentos, a ideia de documento-monumento contribui
para entender o estatuto das fontes histricas.
Vidal (2005) assevera que a essncia dos arquivos est em sua capacidade de dar
acesso a informaes histricas sobre a escola, sobre uma populao que a frequentou e
frequenta, de prticas que ali foram produzidas, bem como das relaes interpostas com a
prpria cidade e, em um sentido mais amplo, com a regio.
Pensar em arquivo pressupe a ideia de acervo organizado, arquivo escolar,preservao, armazenamento e colaborao da instituio no entendimento da importncia da
pesquisa para aquele historiador que a visita e na permisso em acessar o acervo ou o arquivo.
Alguns desses documentos tm valor temporrio e outros, valor permanente e jamaisdevero ser eliminados. [...] documentos de valor histrico ou documental devem serconservados no arquivo permanente das instituies. Os arquivos permanentes dasinstituies escolares constituem-se como espaos de memria, depositrios defontes produzidas e acumuladas na trajetria do fazer pensar pedaggico docotidiano das escolas. (PESSANHA, OLIVEIRA, ASSIS, 2011).
Le Goff (1990) chama ateno para a responsabilidade do trabalho de historiador em
relao ao documento.
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O documento no incuo. antes de mais nada o resultado de uma montagem,consciente ou inconsciente, da histria, da poca, da sociedade que o produziram,mas tambm das pocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvezesquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silncio. Odocumento uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o ensinamento (para
evocar a etimologia) que ele traz devem ser em primeiro lugar analisadosdesmistificando-lhe o seu significado aparente. (p. 548).
A concepo de documento/monumento cunhada pelo autor de que monumentos so
heranas do passado e documentos so as escolhas do historiador. O sentido de monumento se
liga produo de uma memria perpetuada das sociedades histricas intencionalmente ou
no. Fica claro o posicionamento do autor quanto a no neutralidade do historiador:
O documento monumento. Resulta do esforo das sociedades histricas paraimpor ao futuro voluntria ou involuntariamente determinada imagem de siprprias. No limite, no existe um documento-verdade. Todo o documento mentira. Cabe ao historiador no fazer o papel de ingnuo. (LE GOFF, 1990, p.548).
Esse posicionamento do historiador em relao ao estabelecimento de documento e
fonte levanta uma questo sobre a neutralidade do pesquisador. Este deve tomar o cuidado de
no afastar a anlise do tempo histrico e dos interesses da sociedade, evitando cair na
inocncia de que o historiador e o produto de seu trabalho so neutros.
Para a realizao desta investigao alguns acervos e arquivos foram visitados. Em
Cuiab/MT, estive no Arquivo Pblico de Mato Grosso (APMT) e no Instituto Memria do
Poder Legislativo (IMPL). Em Corumb/MS, fui Escola Estadual Maria Leite, ao Colgio
Imaculada Conceio e ao Colgio Salesiano Santa Teresa; em Campo Grande/MS, tive
acesso aos acervos do Colgio Salesiano Dom Bosco, do Colgio N. S. Auxiliadora e da
Escola Estadual Maria Constana Barros Machado, bem como da Cmara Municipal de
Campo Grande.
Alm desses acervos fsicos, acervos eletrnicos tambm foram utilizados: o stioeletrnico do Center Research Libraries (CRL), e os Arquivos digitalizados da Escola
Estadual Maria Constana Barros Machado (Campo Grande/MS) de Pessanha & Assis
(2011), que so fotografias de grande parte do acervo documental do Liceu Campograndense,
o que tornou a tarefa do garimpo das fontes mais gil, fazendo com que realizasse apenas
duas visitas ao arquivo escolar em questo.
Dessa forma, a base emprica da pesquisa se constitui por um corpus documental
impresso e digital, de documentos da escrita escolar produzidos nas escolas, assim como os
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no necessariamente produzidos pela escola, mas ali localizados; e de legislao e mensagens
de governantes estaduais.
Do acervo das escolas foram selecionados os Regimentos que estabeleciam o cdigo
de comportamento, limites, deveres e direitos de todos os sujeitos escolares (aluno, professor,
diretoria, funcionrios administrativos) e explicitavam as finalidades de ensino da instituio
e sua proposta educacional, Relatrios mensais organizados pelos inspetores federais
contendo nome e nmero de alunos matriculados e transferidos, notas, contedos de aulas e
de provas, quadro de horrios; Relatrios de inspeo prvia e permanente contendo
informaes sobre o prdio escolar como as instalaes e adequaes fsicas para uma escola
secundria como salas especiais de disciplinas escolares especficas, as funes dos
funcionrios, o histrico da escola, a distribuio do tempo, os mtodos e materiais utilizadospara o ensino secundrio.
Atas das provas parciais e atas de exame de admisso foram documentos que
permitiram informaes sobre quantos alunos se inscreveram, quantos participaram das
provas, as notas que receberam, os participantes da banca examinadora.
A escrita produzida pelos inspetores em forma de Relatos das visitas s escolas que
eles deviam fazer com regularidade e comprov-las, em uma espcie de livro de ponto de
presena foi um recurso fundamental para identificar prticas de professores no interior dassalas de aula. As Introdues dos relatrios foram espaos privilegiados de registro das
opinies e entendimento desses inspetores sobre os mais variados assuntos pedaggicos,
didticos, administrativos, burocrticos, j que os documentos componentes dos relatrios
eram feitos pela prpria escola.
Um documento fundamental para conhecer as rotinas escolares e, por consequncia,
rotinas religiosas, devido sua funo na congregao religiosa, foram as Crnicas
produzidas pelas escolas salesianas tanto femininas quanto masculinas. Os relatos dasCrnicas so mensais em um livro do tipo ata, sempre por um religioso ou uma religiosa.
No Colgio Santa Teresa, havia alm das Crnicas, Atas das sesses de reunies, que
registravam o relacionamento da direo da instituio com professores, funcionrios, alunos,
comunidade externa escola. No Colgio Salesiano Dom Bosco e no Colgio N. S.
Auxiliadora, ambos de Campo Grande, no foram encontradas Crnicas.
Como documentos oficiais, selecionei Mensagens de presidentes de provncias, no
perodo imperial, e de estados, no perodo de 1921 a 1930, Assembleia Legislativa de Mato
Grosso, e a legislao educacional: exposio de motivos de reformas educativas, decretos e
leis. Essas fontes foram selecionadas com o intuito de traar as diretrizes legais do ensino
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secundrio, as prescries normativas e curriculares, a concepo de ensino secundrio e as
finalidades de ensino em um dado momento histrico elaboradas pelos setores dirigentes que
faziam parte do poder institucionalizado.
As correspondncias escolares como Circulares e Ofcios das instncias
municipais, estaduais e federais, particularmente, foram encontradas apenas nas escolas
Colgio N. S. Auxiliadora (Campo Grande) e Colgio Imaculada Conceio (Corumb). As
Circulares esboam o modo centralizado e arbitrrio caractersticos do Estado Novo, que
por meio da Diviso de Ensino Secundrio (departamento do Ministrio da Educao e Sade
Pblica), estabeleceu normas e detalhes (como por exemplo, a cor do giz a ser usada nas
aulas!) para o curso ginasial, buscando interferir diretamente na prtica escolar do professor,
na disciplina dos alunos e na burocratizao da administrao.Nas duas instncias pblicas em Cuiab - APMT e IMPL -, tive acesso a Relatrios
do Liceu Cuiabano e a Legislao estadual sobre ensino secundrio, tendo o Liceu
Cuiabano como referncia para outras instituies no estado.
De posse de tal arcabouo terico-metodolgico e do corpusdocumental descrito, o
objetivo principal da pesquisa investigar a implantao e a organizao dos cursos ginasiais
no Sul de Mato Grosso, especificamente nas cidades de Corumb e de Campo Grande, entre
1917 e 1942. Articulando a objetivos mais especficos, busco ainda analisar as prticas e asrepresentaes do ensino secundrio e a finalidade social do curso ginasial. O estudo no se
detm na histria de cada instituio, mas no estabelecimento do ensino secundrio no Sul de
Mato Grosso.
A tese est organizada em trs captulos. No Captulo 1, apresento um estudo histrico
do ensino secundrio no Brasil, baseado na pesquisa bibliogrfica sobre o ensino secundrio
em Mato Grosso e alguns outros estados brasileiros. Analiso os principais estudos histricos
produzidos no estado de Mato Grosso do Sul, que tiveram como objeto o ensino secundriono Sul de Mato Grosso. Finalizo o Captulo 1 com uma anlise da viso dos reformadores da
educao nova sobre o ensino secundrio, na dcada de 1930, sobretudo os questionamentos
em torno de suas finalidades cultural e social.
O Captulo 2, denominado A educao no processo de modernizao em Mato
Grosso, aborda as noes dos termos modernizao e progresso presentes nas
representaes de educao secundria nas mensagens apresentadas de presidentes de estado
de Mato Grosso Assembleia Legislativa, entre 1911 e 1926. Realizando um levantamento da
histria da educao escolar em Mato Grosso, em fins do sculo XIX ao incio do XX,
discorro sobre o ensino primrio, os cursos ps-primrio, o Liceu Cuiabano e o trabalho
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educacional dos salesianos como expresso da educao confessional em Mato Grosso.
Analiso a concepo de educao dos dirigentes do estado como fator de progresso e a defesa
de um ensino secundrio cientfico em Mato Grosso. Uma reflexo feita sobre a relao
entre a modernizao e ensino secundrio em Mato Grosso. Em seguida, analiso a adequao
de Mato Grosso, em 1926, reforma nacional de ensino secundrio, de 1925, demonstrando a
finalidade do ensino secundrio a partir da presena ou ausncia das disciplinas cientficas e
humansticas propostas pelas reformas.
O Captulo 3, Implantao e organizao do curso ginasial no Sul de Mato Grosso,
dividido em duas grandes partes. Uma denominada Implantao das instituies de ensino
secundrio, outra, Organizao do curso ginasial no Sul de Mato Grosso.
Em relao implantao do curso ginasial no Sul de Mato Grosso, trato dasinstalaes e inauguraes das oito instituies que ofereceram o curso ginasial no Sul de
Mato Grosso a partir de 1917, abordando os primeiros exames de admisso, a partir de 1926.
Sobre a organizao do curso ginasial no Sul de Mato Grosso, ao longo da dcada de
1930 at 1942, tratei do espao institucional do colgio pela localizao do edifcio escolar,
instalaes do externato pblico e internatos salesianos, das salas especiais, tambm
chamadas de gabinetes e laboratrios e finalizo pela anlise das noes de sanitarismo e
higienismo esboando uma expresso de urbanidade e modernizao. Em seguida, a respeitodo tempo escolar foram analisadas, atividades, calendrios e horrios mostrando o sentido da
regularidade e da rotinizao no tempo escolar do curso ginasial. Uma diversidade de festas e
rituais cvicos, ao lado das formaturas, academias (apresentaes culturais) e oratrios
festivos salesianos no curso ginasial foram exploradas. Na terceira seo dessa parte, busquei
compreender a finalidade de ensino no Sul de Mato Grosso ao analisar a organizao do
conhecimento do curso ginasial. Nas particularidades histricas da regio, identifiquei
propostas educacionais baseadas, uma, em finalidade laica e outra, em finalidadeconfessional. Foi feito, ainda, um panorama dos mtodos, materiais pedaggicos e prticas de
professores, prprios do curso ginasial, anotados pelos inspetores federais. Por fim, estudei os
sujeitos escolares - alunos, professores, diretores, inspetores e funcionrios -, imersos em um
cotidiano imbudo da formao de hbitos e comportamentos republicanos, cvicos e
patriticos.
Em seguida, apresento as Consideraes Finais que foram possveis a partir da
pesquisa, as Referncias com as fontes e a bibliografia, e finalizo o texto da tese com Anexos.
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CAPTULO 1O ENSINO SECUNDRIO NO BRASIL
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Ao lado de ideais civilizatrios e das prementes exigncias da sociedade por
modernizao e progresso do pas, pelo desenvolvimento industrial e pela regenerao do
povo por meio da educao, a educao secundria brasileira era discutida e debatida desde
finais do sculo XIX. Propostas pensaram sua organizao por meio de reformas, da insero
dos estudos cientficos e saberes mais prticos, da composio de uma finalidade prpria do
ensino secundrio e da articulao entre os nveis, os ensinos primrio, secundrio e superior.
Por meio da histria de algumas instituies escolares em estados brasileiros, o
objetivo desse primeiro captulo problematizar aspectos histricos que envolveram o ensino
secundrio no Brasil, entre fins do sculo XIX e primeira metade do XX.
1.1 Literatura sobre o ensino secundrio
Os trabalhos de Zotti (2004), Sociedade, educao e currculo no Brasil, de
Gasparello (2004), Construtores de identidades: a pedagogia da nao nos livros didticos
da escola secundria brasileira e, de Souza (2008), Histria da organizao do trabalho
escolar e do currculo no sculo XX (ensino primrio e secundrio no Brasil), permitiram a
anlise do currculo, os debates empunhados entre intelectuais e educadores da predominncia
da cultura humanstica ou cientfica no currculo para o ensino secundrio, bem como
especificidades da organizao dos ginsios enquanto instituies escolares. As obras A
fabricao escolar das elites o Ginsio Catarinense na Primeira Repblica,
(DALLABRIDA, 2001) e O tempo dos ginsios ensino secundrio em Santa Catarina,
(DALLABRIDA; CARMINATI, 2007) so as que mais se aproximam do objeto em questo,
envolvendo ainda a questo da cultura escolar religiosa.
Sobre a histria da educao do Sul de Mato Grosso, a tese de Brito (2001), Educao
e sociedade na fronteira oeste do Brasil: Corumb (1930-1954) se torna o trabalho que
fornece a base histrica sobre a regio, com valiosos dados estatsticos sobre a educao
mato-grossense no somente de Corumb como de Campo Grande.
Com o levantamento de 70 trabalhos entre teses e dissertaes, alguns deles devem ser
mencionados pela aproximao quanto ao objeto de estudo deste trabalho, periodicidade,
anlise do currculo9 do curso ginasial, seleo de uma instituio escolar como lcus e
objeto de pesquisa. Em Gatti (2010) conto ainda com a anlise da relao entre a escola e a
9Esta tese est baseada na compreenso de currculo de Souza (2005), para quem o currculo um instrumento
oficial, determinado por legislao nacional e estadual, resultante de lutas, conflitos no seio das foras polticasque podem ter como agentes no apenas governantes, mas tambm intelectuais organizados em associaes. Ocurrculo se torna compreensvel a partir de uma organizao oficial, uma normatizao e uma legislaoeducacional, com dispositivos definidores de contedos, prticas, comportamentos, conhecimentos.
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(2009); Almeida (2009) tiveram como objeto o Liceu Campograndense enquanto instituio
escolar ou algum de seus aspectos, como por exemplo, as disciplinas escolares e a cultura
escolar adotando seus diferentes nomes de acordo com o perodo histrico abordado como
Colgio Estadual Campo-grandense ou Escola Estadual Maria Constana Barros Machado.
Desse resultado, com exceo do trabalho de Souza (1998) que da UCDB, todos os
trabalhos foram produzidos no Programa de Ps Graduao em Educao da UFMS.
V-se tambm que apesar das instituies educativas salesianas terem sido as mais
pesquisadas na rea de histria da educao em Mato Grosso do Sul, o Colgio Salesiano
Dom Bosco o nico estabelecimento de ensino secundrio que ainda no foi objeto de
pesquisa.
1.2. Instituies de ensino secundrio
As primeiras instituies de ensino secundrio surgidas no Brasil foram instaladas
durante o Imprio: o Liceu de Pernambuco, fundado em 1826, o Liceu da Bahia, em 1836, e o
Colgio Imperial de Pedro II, fundado em 1837 no Rio de Janeiro capital do Imprio. Como
adverte Silva (1969), os dois ltimos no resultam de criao original, mas foram
reorganizados com a complementao de aulas e cadeiras j em vigncia das instituies
desmontadas, no caso da instituio da corte, o Seminrio de So Joaquim. De tradio
religiosa, como era a marca da origem dos colgios, o Colgio Imperial carregou em sua
concepo o ensino clssico com nfase no ensino do latim, inovando ao introduzir os estudos
cientficos e das lnguas vivas.
Muito se discute sobre o termo ensino secundrio, que pode ser encontrado
designando a escola secundria moderna na Frana, nas primeiras dcadas do sculo XIX,
para a qual era reservado o ensino clssico aos filhos da elite. Segundo Chervel (1998), a ideia
de identificar os ensinos em graus, o primrio, o secundrio e o superior, se propaga a partirdo ministrio de instruo pblica de Guizot. O ensino do latim tornou-se uma fronteira
separando o dito ensino secundrio do primrio, cujo programa no dispunha tal matria.
Em Parecer de 1862, assinado pelo Conselheiro Calgeras, ex-professor de Histria do
Collegio Pedro II, h uma construo do conceito de colgio contendo alguns requisitos,
entendidos por bsicos, para uma instituio de ensino secundrio ser assim considerada.
Segundo Gasparello (2004, p. 52, grifos da autora):
Todos os elementos utilizados na definio de instituio colegialestavam presentesno lugar institucional do Colgio de Pedro II: possua alunos internos e meio-
pensionistas, e contava, no corpo docente, com vrios professores de diversas
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matrias. A autoridade maior da instituio o Reitor no era responsvel apenaspor alunos externos, mas tambm pelos professores. Na sua funo de educar,tornava-se responsvel por tudo que ocorria e fosse falado e ensinado noestabelecimento. Cuidados especiais eram tomados em relao aos alunos quepermaneciam, como internos, na instituio.
Como caracterstica de qualquer instituio educativa, at receber este nome em 1911,
o Colgio Pedro II teve como primeira designao Imperial Collegio de Pedro II, inaugurado
em 1837, na data de aniversrio de seu patrono ainda menino. Na Repblica, com vistas
descaracterizao da identidade imperial, foi alterado para Instituto Nacional de Instruo
Secundria e logo depois, em 1890, na Reforma Benjamin Constant, para Ginsio Nacional.
(GONDRA; SCHUELER, 2008).
Enfocando a dimenso social, espacial e temporal do Colgio Pedro II, Gasparello
(2004) analisa o fato de a instituio ser muito prxima Corte por levar o nome do
imperador, localizar-se na capital Rio de Janeiro e ser agraciada com a presena do prprio
em certas atividades do Colgio. Concebido para ser referncia nacional, no discurso de
fundao o qualificaram como modelo de instruo secundria, suas principais atribuies
foram a regulamentao de exames preparatrios para o ensino superior e a poltica de
equiparao, na qual toda instituio privada ou pblica secundria era obrigada a ter o
mesmo padro que o Colgio para funcionar oficialmente aplicando exames.
A composio social da instituio garantia o ntido carter elitista da educao
secundria com a presena das classes mais abastadas. Os alunos eram filhos de
representantes de oligarquias agrrias, de grandes comerciantes, de altos funcionrios da corte
e de polticos, at mesmo os professores compunham um grupo intelectual da corte de
escritores, jornalistas, mdicos, advogados. Os alunos que conseguiam completar os sete anos
de estudos regulares e sequenciais aps um rgido sistema de exames recebiam o ttulo de
Bacharel em Letras. Com esse honroso ttulo, o jovem poderia matricular-se em qualquer
Academia do Imprio sem passar pelos exames preparatrios. (GASPARELLO, 2004;ZOTTI, 2009).
Gasparello (2004) observa que a educao religiosa crist no foi prevista nos
primeiros planos de estudos do Colgio como disciplina, mas que os professores tinham como
uma de suas atribuies, lembrar os alunos de seus deveres para com Deus, oficializada por
decreto em um dos primeiros anos da escola. Essa oficializao discriminada no trabalho de
Zotti (2009), no qual se pode perceber que no eram poucos os detalhes quanto s instrues
religiosas para o aluno da instituio, reunindo um conjunto de homilias, indicaes para diasde missa, contedos de aula de histria religiosa crist e o catecismo.
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Em 1856, o Colgio Pedro II teve o primeiro programa de ensino organizado, antes
disso o que havia impressos eram os programas de exames finais, como mostram Gasparello
(2004) e Vechia e Lorenz (1998). A implantao de um programa remete ideia de
organicidade e de controle do trabalho escolar, sobretudo, do lente10da cadeira, esta assim
chamada e que pode ser entendida como disciplina escolar.
O Colgio de Pedro II com todo esse aparato - forma e estrutura - representava o
ensino secundrio nacional, caracterizando a tentativa do governo central de organizar o
ensino secundrio fora da lgica das aulas avulsas ou cursos preparatrios. (ZOTTI, 2009, p.
179). O direcionamento do governo central foi de manter um nico estabelecimento desde o
Imprio at o incio da Repblica.
A preparao das elites foi o objetivo da proposta do Colgio de Pedro II, que seconclua com a sua formao nas faculdades. Foi uma instituio criada para aformao de elites afinadas com o projeto civilizador do Imprio, alm danecessidade que o governo tinha de formar quadros para as funes pblicas. Nessesentido, no somente uma educao para a elite em detrimento do povo em geral. uma escolha do governo geral, como um mecanismo fundamental para a prpriasobrevivncia deste, atravs da formao de grupos afinados com os seus interesses.(ZOTTI, 2009, p. 180).
O currculo com a configurao das matrias (ou disciplinas escolares) foi um
instrumento fundamental para a caracterizao desse ensino elitizado, tanto em relao
seleo cultural quanto quantidade do nmero de aulas das disciplinas e o tempo de
ministrao das aulas.
Ainda que a ateno do Poder Central fosse voltada quase que exclusivamente para o
colgio da capital, liceus provinciais e ginsios foram instalados no pas desde o sculo XIX.
Portanto, vale a pena debruar-me sobre a histria de algumas dessas instituies com a
inteno de resgatar a realidade da educao secundria nas provncias ou nos estados
brasileiros.
Em relao historiografia da educao brasileira durante a primeira dcada de 2000,
houve um aumento considervel de estudos sobre as instituies de ensino secundrio de todo
o pas. Esto presentes, a seguir, estudos sobre o Liceu Provincial na Bahia, o Atheneu
Sergipense, o Primeiro Gymnasio da Capital (So Paulo), o Ginsio Mineiro em Belo
Horizonte e o Ginsio Catarinense.
Em 1836, em Salvador, foi fundado o Liceu Provincial da Bahia. Conforme Dick
(2001), a abertura de uma instituio secundria teria vindo sanar o problema da
10Eram os professores catedrticos, isto , professores concursados detentores vitalcios de uma cadeira, de umadisciplina escolar. (BRAGA, 2005).
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desorganizao das aulas avulsas, denominadas de cadeiras maiores, disseminadas em toda a
provncia, no entanto, o antigo sistema de aulas isoladas e a matrcula por disciplinas
permaneceram.
Os estudos secundrios no Liceu Provincial da Bahia no davam acesso s Academias,
a instituio tinha como objetivo oferecer um estudo terminal habilitando o jovem de camadas
intermedirias para o mercado de trabalho geralmente para os cargos pblicos. (DICK, 2001).
Ao invs de ser um estudo terminal, acabou por tornar-se um curso propedutico voltado para
os exames preparatrios, sem poder na verdade ingressar o aluno no ensino superior. Nessa
contradio, percebemos que o Liceu Provincial, procurando ter um curso para
profissionalizar, a fim de atender formao de uma burocracia estatal, tem um currculo
propedutico, no conseguindo ser nem uma coisa nem outra (DICK, 2001, p. 18), o queprovocava um fenmeno de fuga dos alunos para as instituies privadas, que tinham
condies de habilit-los para as Academias.
Em suma, o ensino secundrio pblico na Bahia enfrentou o problema de concorrncia
com as instituies privadas que podiam oferecer disciplinas avulsas focadas nos exames
preparatrios, ao passo que a finalidade do Liceu era a formao pensando em insero no
servio pblico, mesmo que suas disciplinas fossem em sua maioria de humanidades. As
vrias tentativas de renovao no regulamento, ao longo do sculo XIX, no tiveram sucesso.Na Repblica, muda-se o direcionamento, sempre na tentativa de desmanchar a
identidade das instituies educativas ligadas ao Imprio. Nesse sentido, o nome do Liceu
Provincial da Bahia passa a ser Instituto Oficial de Ensino Secundrio no Estado da Bahia
(1890) com habilitaes em Bacharel em Cincias, Bacharel em Letras e o Curso Comercial,
contando com 23 cadeiras tericas e prticas, alm de desenho linear, msica, ginstica e
contabilidade. (DICK, 2001).
Denominado pela literatura local Casa de educao literria, segundo Alves (2005),o Atheneu Sergipense foi instalado, em 1870, resultado de uma renovao na regulamentao
da instruo pblica de Sergipe, pela qual foram centralizadas as aulas avulsas dos estudos de
Humanidades, criando dois cursos, o de Humanidades, com durao de quatro anos e o curso
Normal, de dois anos.
O curso de Humanidades do Atheneu Sergipense preconizava a formao para o
ingresso ao curso superior por isso oferecia o ensino das cadeiras exigidas nos exames
preparatrios e oferecia tambm a formao prtica profissional de magistrio primrio, o
curso Normal, no tendo, dessa maneira, finalidade exclusiva de ensino propedutico. As
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matrculas no curso de Humanidades eram por cadeiras, fazendo com q