de instituiÇÕes escolares: uma discussÃo vívia de …sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe7/pdf/03-...
TRANSCRIPT
FICHA DA VIDA ESCOLAR DO ALUNADO COMO FONTE PARA A HISTÓRI A DE INSTITUIÇÕES ESCOLARES: UMA DISCUSSÃO
Vívia de Melo Silva
Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE/UFPB) [email protected]
Palavras-chave: Fontes; Fichas da vida escolar; Colégio Estadual de Campina Grande. Primeiras palavras A reflexão apresentada nesse trabalho decorre das discussões desenvolvidas no interior
da disciplina Tópicos em História da Educação: Gêneros híbridos em fontes escritas, orais e
iconográficas, vinculada ao Programa de Pós-graduação em Educação da UFPB. Ademais,
integra algumas das inquietações passadas pela a autora desse texto durante a pesquisa de
doutoramento - ainda em andamento - mais precisamente no momento de deparar-se com
fontes encontradas no chamado “arquivo morto” do colégio Estadual de Campina Grande. A
discussão enfatiza as fichas da vida escolar de estudantes como possibilidade de fonte para
apreender significados quanto à história de uma instituição escolar.
Abrimos parênteses para brevemente especificar algumas considerações acerca da
pesquisa de doutoramento que ora estamos desenvolvendo. Essa pesquisa tem como objetivo
contribuir para a constituição de um conhecimento histórico sobre o Colégio Estadual de
Campina Grande, refletindo sobre sua importância histórico-educacional para a cidade de
Campina Grande-PB. Procuramos, de modo específico, investigar quais os motivos que
possibilitaram a criação e instauração desse colégio; refletir sobre a relação do colégio em
foco com a cidade de Campina Grande; identificar o perfil dos alunos, professores e
funcionários que integraram essa instituição, por fim, discutir práticas escolares desenvolvidas
nessa instituição, como: práticas disciplinares, exposições escolares ou mostra de
conhecimento, atividades esportivas, desfiles cívicos e métodos de ensino. Para esse último
objetivo, o intento é trabalhar com os sentidos empreendidos pela comunidade campinense,
principalmente com a memória de ex-alunos, ex-professores e ex-funcionários, referentes a
essas manifestações escolares.
O recorte temporal dessa pesquisa de doutorado vai de 1953 até 1971. O ano de 1953
por ser a inauguração do Colégio e o ano de 1971, por se referir ao momento em que os
estabelecimentos do segundo ciclo do ensino secundário, através da lei nº. 5.692 de 11 de
2
agosto de 1971, passam a ser instituições de ensino de 2º grau, o que significou um marco na
história do ensino secundário público no Brasil.
Instituições escolares uma possibilidade de pesquisa histórico-educacional
Os trabalhos sobre história de instituições escolares têm aumentado
consideravelmente nos últimos vinte anos no campo das pesquisas em História da Educação.
A propagação desses estudos pode ser materialmente percebida nos principais eventos da
área, como os organizados pela Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE), nas
produções de monografias, de dissertações e de teses, no âmbito respectivamente dos cursos
de Pedagogia e História e nos Programas de Pós-Graduação em Educação, nas linhas de
pesquisas vinculadas à área da História da Educação.
Estudar uma instituição escolar significa mergulhar em um mar de complexidades.
Dizemos isso com base em Justino Magalhães (2004) que tem imprimido uma pertinente
discussão teórica a respeito dessa possibilidade de pesquisa.
No Brasil, estudos sobre instituições escolares tornaram-se meios para se discutir
questões inerentes ao processo de escolarização, antes relegadas por investigações respaldadas
no paradigma da História dita tradicional.
As pesquisas sobre instituições escolares, segundo Nosella e Buffa (2008),
desenvolveram-se, sobretudo, nos anos de 1990. Entretanto, estes estudiosos ressaltam que
esse tipo de estudo surgiu anterior a esse tempo, sendo que com foco diferenciado em três
momentos: o primeiro que se concentra nos anos de 1950 e1960, tendo como principal ênfase
o estudo da educação e sociedade, sendo a instituição escolar locus de investigar a relação
entre esses dois campos. O segundo, entre os anos de 1970 e 1980, com a criação e expansão
dos cursos de pós-graduação. Nesse momento, o “tema instituições escolares, se não ausente,
era um pretexto para ilustrar o desenho do movimento histórico geral” (NOSELLA &
BUFFA, 2008, p.15). E, finalmente, o terceiro momento, que se inicia nos anos 1990, no qual,
teoricamente, é marcado pela crise dos paradigmas e pela inovação de abordagens, objetos de
estudo, problemas e fontes no campo histórico-educacional. Para esses autores,
É justamente nesse terceiro momento que são privilegiados temas como cultura escolar, formação de professores, livros didáticos, disciplinas escolares, currículo, práticas educativas, questões de gênero, infância e, obviamente, as instituições escolares. (NOSELLA & BUFFA, 2008, p.16).
3
Para Magalhães (2004), a investigação de uma instituição educativa configura-se
como objeto “epistêmico”. Essa configuração se estrutura, conforme o mesmo, na
historiografia da escola e da escolarização, na instituição educativa como totalidade em
organização e devir, na análise institucional como matriz conceitual interdisciplinar e na
pedagogia institucional como modelo científico e orgânico-funcional.
O autor antes citado reforça que o estudo de uma instituição educativa
[...] diz respeito à cultura material e simbólica, quer dizer, às condições materiais e de funcionamento, à gramática escolar e à escolarização, e refere-se à representação, à apropriação das aprendizagens e à qualificação e reconhecimento da mais-valia educacional pelos grupos, indivíduos e organizações. (MAGALHÃES, 2004, p.112)
É pertinente explicitar, segundo o autor citado, que é possível distinguir duas
orientações para os que trabalham com a história de instituições escolares:
A primeira dessas abordagens é uma resposta à interpelação sobre o estatuto da escola no quadro mais amplo da educação e da instrução. Qual o conceito e o significado da escola, como representação simbólica, como praxeologia e como lugar – lugar de formação, lugar de controle, de disciplina e de subjetivação? As principais derivações dessa construção científica são a historiografia do processo de escolarização, como abordagem suficiente para a compreensão e a explicação da gênese e da evolução da instituição escolar, e a legitimação de uma historiografia setorial, com base em dimensões e segmentações de caráter funcional, organizacional, didático, ideológico. Uma segunda linha de orientação científica visa à construção da escola como um objeto historiográfico específico, correspondendo ao desafio de uma problemática integrativa e de uma síntese conceitual, metodológica, informativa – cultura escolar, gramática escolar [...].Uma derivação fundamental de eixos de sentido vertical e horizontal, internas a uma realidade geográfica e política, ou transversais a quadros histórico-geográficos mais amplos. (MAGALHÃES, 2004, P.120)
Portanto, nossa investigação toma essa segunda orientação proposta por Magalhães
para desenvolver esta pesquisa.
Atualmente, são focos nos estudos de uma instituição escolar: origem, criação,
construção e instalação de diferentes modelos de escolas – a título de exemplo, colégios,
Liceus, grupos escolares; organização do espaço escolar e a relação com as propostas
pedagógicas; estudos sobre o currículo da escola/das escolas; discussão sobre as relações
entre o corpo docente, discente e funcionários; práticas escolares, cultura material escolar,
entre outras.
4
Ao mesmo tempo, nesses estudos é possível estabelecer uma vinculação da escola com
a cidade, na medida em que se relaciona, por exemplo, a implantação, as práticas escolares, a
organização do espaço escolar, a composição do quadro docente e de funcionários de um dado
estabelecimento de ensino com “a organização e vida econômica, política e cultural da
cidade” (GATTI JÚNIOR & PESSONHA, 2005, p.82).
Os estudos histórico-educacionais sobre instituições escolares se alargaram/alargam
consideravelmente nos últimos anos, recebendo fortes influências da renovação
historiográfica, possibilitando, consequentemente, uma ampliação de abordagens, objetos e
fontes para esses estudos. É, portanto, considerando essa ampliação de possibilidades de
fontes que vislumbramos as fichas da vida escolar de estudantes como fonte para a história do
Colégio Estadual de Campina Grande.
Uma reflexão teórica Antes mesmo de adentrar nas discussões a respeito da ficha da vida escolar de
estudantes como possibilidade de fonte para a história de instituições escolares, consideramos
pertinente realizar breves ponderações a respeito das fontes no âmbito das pesquisas em
História da Educação.
É relevante destacar, inicialmente, que consideramos as fontes como documentos ou
vestígios materiais elaborados no passado, sejam esses longínquos ou mais ligados ao tempo
presente, não direcionados ao historiador, mas para atender as necessidades específicas do
momento no qual foram produzidos. Compreendemos, portanto, que os documentos, os
resquícios materiais e fragmentos que marcam uma época, um momento, estão impregnados
pelo seu tempo e são utilizados por nós historiadores para contribuir com a formulação de
conhecimentos sobre um dado objeto, no nosso caso, do Colégio Estadual de Campina
Grande.
É crucial também evidenciar que compartilhamos com a noção de que todo documento
selecionado para o trabalho do historiador é composto de parcialidade. Em outras palavras,
“documento algum é neutro, e sempre carrega consigo a opinião da pessoa e/ou do órgão que
o escreveu [ou o formulou]” (BACELLAR, 2005, p.63).
Todavia, vem à tona a questão: sempre foi possível explorar nos trabalhos científicos
de perspectiva histórica qualquer vestígio, documento, fragmento do passado como fonte de
pesquisa?
De acordo com Cadiou (2007, p.120), “a evolução técnica modificou as distinções
estabelecidas entre as fontes, e cada período histórico recebeu uma tipologia diferente”. A
5
princípio, o foco estava centrado em documentos originais escritos, sendo posteriormente
alargado para testemunhos coletados oralmente ou por escrito, por fontes impressas (jornais,
publicações oficiais etc.) e iconográficas, até, como em nossos dias, por fontes audiovisuais.
É sabido que a grande contribuição, no âmbito da historiografia, para a ampliação das
fontes no campo das pesquisas em história, e mais particularmente na área da História da
Educação, está vinculada ao alargamento das possibilidades de pesquisas nessas áreas.
Nesse sentido, é emblemática a obra Faire de l’histoíre dos franceses Jacques Le Goff
e Pierre Nora. Essa nova perspectiva de fazer história buscava romper com orientações
respaldadas no positivismo, marxismo e na Escola Metódica. Sobre esse assunto Pinheiro
(2011, p.247), com base em Nora e Le Goff, destaca:
Há de se considerar que o movimento ampliou enormemente o horizonte dos historiadores, quando estes aprofundaram o rompimento com os referenciais metodológicos assentados no positivismo, no empirismo clássico e na chamada Escola Metódica, iniciada no final dos anos 20 com os Analles. Que, desta feita, estava também incorporada um proposição de ruptura em relação às finalidades marxistas, às abstrações weberianas ou às intemporalidades estruturalistas.
O mesmo estudioso ainda acrescenta:
Foi, portanto, no âmbito dessa efervescente conjuntura de grandes questionamentos a tudo aquilo que estava historicamente acomodado e a academicamente instituído [...] Essa obra [Faire de l’histoíre ] que já tinha obtido repercussão na França, quando foi traduzida para a língua portuguesa, provocou, também aqui, no Brasil, grandes debates, principalmente com os marxistas, tornando-se rapidamente, uma das mais importantes referências no âmbito das discussões teóricas e metodológicas acerca de como produzir o conhecimento histórico. (PINHEIRO, 2011, p.248)
Na versão brasileira, a obra de Le Goff e Nora, ficou organizada em três volumes, com
o seguintes títulos: 1) História: novos problemas; 2) História: novos objetos e 3) História:
novas abordagens. Essas publicações ajudaram e ainda ajudam a pensar nas possibilidades de
ampliação das fontes de pesquisa histórica.
Consideramos também uma outra contribuição para a ampliação de fontes para o
estudo historiográfico a perspectiva da Nova História Cultural, um dos domínios da teoria da
História. Para Pesavento (2005, p. 15), trabalhar com a História Cultural significa “pensar a
cultura como um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para
explicar o mundo”.
Esse novo olhar na História, chamado de Nova História Cultural, é fundamentado,
conforme Pensavento (2005), em alguns conceitos chaves, a saber: representação e
6
imaginário; retorno da narrativa; entrada da ficção, nas palavras do referido autor e, por fim, a
ideia das sensibilidades.
Sobre a representação, refere-se à presentificação de um ausente. Essa categoria no
âmbito da História Cultural,
Mais do que o conceito de mentalidade, ela [a representação] permite articular três modalidades da relação com o mundo social: em primeiro lugar, o trabalho de classificação e de delimitação que produz as configurações intelectuais múltiplas, através das quais a realidade é contraditoriamente construída pelos diferentes grupos; seguidamente, as práticas que visam fazer reconhecer uma identidade social, exibir uma maneira própria de estar no mundo, significar simbolicamente um estatuto e uma posição; por fim, as formas institucionalizadas e objectivadas graças às quais uns ‘representantes’ (instâncias colectivas ou pessoas singulares) marcam de forma visível e perpetuada a existência do grupo, da classe ou da comunidade. (CHARTIER, 1990, p.23)
O imaginário está relacionado à “um sistema de idéias e imagens de representação
coletiva que os homens, em todas as épocas, construíram para si, dando sentido ao mundo”
(PESAVENTO, 2005, p. 43).
Sobre a narrativa, o autor mencionado salienta a construção dessa narrativa no âmbito
da história sob diferentes olhares, claro que não perdendo de vista o fato histórico. Nesse
sentido, estabelecendo regimes de verdade e não certezas acabadas.
Com relação à ficção, Pesavento (2005) destaca a aproximação entre a história e a
literatura, não perdendo de foco os procedimentos científicos.
Portanto, todas essas categorias de análise sugeridas pela Nova História Cultural,
auxiliam também na ampliação das fontes.
No âmbito da História da Educação muitos estudos vêm demonstrando a propagação
de diferentes fontes para pesquisas nessa área. Nessa direção, alguns destaques podemos
realizar. Iniciamos com os eventos da área, os quais têm dado abertura para estudos relativos
às fontes, deixando quase sempre um eixo temático e mesas redondas como espaço de
socialização concernente às questões dessa natureza na história da Educação. Os Congressos
organizados pela SBHE; os eventos nacionais coordenados pelo HISTEDBR, Grupo de
Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação no Brasil”; os Congressos
Iberoamericanos de História da Educação Latino-americana e os Congressos Luso-brasileiros
de História da Educação, são exemplos nesse sentido.
Em seguida, temos uma vasta produção de artigos em periódicos da área, como a
própria Revista Brasileira de História da Educação. Além das produções em livros, como o
7
“Fontes, História, e Historiografia da Educação”, organizados por Lombardi e Nascimento,
pela Autores Associados; “Práticas de Memória Docente”, de Mignot e Cunha, pela editora
Cortez; “História da Educação no Brasil: Matrizes interpretativas, abordagens e fontes”,
publicado pela editora da EDUFES,organizado por Xavier, Tambara e Pinheiro.
Especificamente sobre a discussão de fontes nas pesquisas relativas à história de
instituições escolares, é importante ressaltar que ampliou de forma considerável. Tem-se
enfatizado desde documentos de caráter oficial, como as leis, decretos, resoluções, até, de
caráter mais particular como: cadernos de alunos, anotações de professores, diários de classe,
livro de ponto, planta baixa de prédios escolares, cartas, bilhetes e muitos outros fragmentos
materiais do passado de uma dada escola. Portanto, é nessa direção que podemos vislumbrar
mais possibilidades de fontes para estudos históricos de instituições educativas, dada a
amplitude de vestígios documentais que podem ser encontrados no seu interior.
Fichas da vida escolar de estudantes: uma fonte fecunda
As fichas da vida escolar do alunado são documentos produzidos pelos
estabelecimentos escolares para registrar dados relevantes ao colégio sobre os discentes.
Geralmente, são estruturados de forma padronizada pela própria instituição de ensino ou por
órgão responsável, a serem preenchidos por cada escola.
Essas fichas do estudante explanam dados pessoais: origem, filiação, cidade natal, vida
estudantil anterior ao ensino secundário, freqüência escolar, notas das matérias cursadas, entre
outros dados. Há também um enriquecido material que acompanha essas fichas, quais sejam:
evidências sobre vacinação, atestados de saúde, requerimentos de matrículas, advertências de
professores, solicitações de transferências entre outros dados sobre cada aluno.
É importante explicitar que as fichas e os vestígios materiais dos estudantes, antes
citados, no nosso estudo, foram encontrados, em estado desgastado, no arquivo do antigo
Colégio Estadual de Campina Grande, hoje Escola Estadual Elpídio de Almeida. Essas fichas
estão organizadas em pastas individuais, delimitadas para compor toda documentação
concernente à vida escolar dos discentes, como especifica a informação na terceira capa da
pasta:
8
Foto 1: Texto publicado na terceira capa das pastas da vida escolar do aluno.
Fonte: Acervo documental da Escola Estadual Elpídio de Almeida.
As fichas e a documentação que as acompanham têm como finalidade além de reunir
toda informação e dado dos discentes separadamente, servir, posteriormente, para elaboração
de documentos escolares, como: históricos escolares, declarações, entre outros. Também são
úteis para relevantes informações estatísticas, considerando que no momento, meados do
século XX, os avanços tecnológicos e a informatização ainda não compunham o cenário
educacional de catalogação de dados.
Para a história da educação, esses documentos podem ser materiais valiosíssimos,
principalmente para história de instituição escolar, lembrando que esse “principalmente” diz
respeito ao foco dado ao uso dessa fonte, o que significa que não estamos deixando de fora a
utilização desse documento para estudos que focalizam gênero, as reformas educacionais, a
cultura escolar, a cultura material escolar, entre outros. Enfatizamos para o estudo de
instituições escolares porque são documentos dos próprios estabelecimentos de ensino.
Avaliemos, portanto, os dados de um aluno do Colégio Estadual de Campina Grande.
9
Fotos 2 e 3: Pasta de um aluno do Estadual de Campina Grande, da década de 1960.
Fonte: Acervo documental da Escola Estadual Elpídio de Almeida.
Essas imagens compunham a pasta da vida escolar do aluno do colégio em estudo. Na
primeira foto, temos a capa da pasta, na qual encontramos dados pessoais do estudante, como:
filiação, data de nascimento e cidade natal, ano de matrícula, informação de transferência (se
for o caso) e um espaço delimitado para observações. A segunda imagem, trata-se do
requerimento de matrícula feito pelo estudante ao responsável pela instituição de ensino.
Nesse requerimento, repetem-se as informações pessoais do aluno apresentadas na capa da
pasta. Para um estudo que buscar trabalhar com o perfil dos estudantes de uma instituição
escolar as informações apresentadas são bastante úteis.
Ademais, reunindo um considerável número de pastas de alunos de um determinado
ano ou vários anos, podemos cruzar os dados pessoais dos estudantes e focalizar um aspecto.
Por exemplo, traçar uma estatística quanto à cidade onde o estudante nasceu, em um
determinado período. No caso do nosso estudo, sobre o Colégio Estadual de Campina Grande,
essa informação é bastante preciosa, já que buscamos perceber o número de alunos de outras
cidades que passaram a estudar nesse colégio, principalmente nos primeiros anos de seu
funcionamento. De uma forma mais ampla, é possível discutir, ainda, o movimento das
10
famílias de outras cidades que procuraram instalar morada em Campina Grande, como forma
de ir em busca de melhores condições sociais, culturais e econômicas de vida em meados do
século XX, dada a modernização e urbanização da referida localidade.
A ficha propriamente dita da pasta do aluno é a seguinte:
Foto 3 e 4: Frente e verso da ficha individual de um aluno do Estadual de Campina Grande, ano 1962.
Fonte: Acervo documental da Escola Estadual Elpídio de Almeida.
Como podemos observar nas imagens antes apresentadas, muitos aspectos podem ser
enfatizados para análise: a freqüência escolar do aluno, inclusive por mês; o desempenho
escolar, mediante as notas; o turno e série cursados, entre outras questões, dependendo do
objetivo da pesquisa.
Focalizemos, nessa ocasião, a segunda fotografia (foto 4), cujos dados explicitam
notas por disciplinas ou matérias escolares. Esse documento, ao registrar as notas do aluno
por disciplina cursada em uma determinada série, indica-nos, diretamente, o programa
curricular do Colégio Estadual de Campina Grande, usando o exemplo da fotografia, da
quarta série do Curso Ginasial. Essa informação curricular ao ser discutida com base na
11
proposta oficial do período pode corroborar ou não com a determinação legal do período,
possibilitando uma ampla discussão no cruzamento de outras fontes. Portanto, pode ser
bastante fecunda para a reflexão da constituição do saber escolar no estabelecimento foco de
pesquisa.
A partir da ficha individual do aluno, ainda é possível refletir sobre o próprio
funcionamento da escola, mediante as informações sobre arguições registradas por mês e
matérias a cada aluno; instrumentos de avaliação, tais como: exercícios, provas (orais e
escritas) de acordo com as chamadas épocas e médias ponderadas.
Embora de forma breve, esse texto salienta que a ficha da vida escolar do aluno nos
possibilita uma multiplicidade de leituras para o estudo em História de Instituições Escolares.
É, sem dúvidas, uma fecundidade documental. Todavia, não nos esquecemos do alerta que
Galvão e Lopes (2011, p. 07) apresentam “o ponto de partida para se fazer história não são as
fontes, mas os problemas e as perguntas que o(a) pesquisador(a) coloca ao passado e,
consequentemente, aos vestígios que dele restaram – as fontes”. Portanto, as fichas de
estudantes por si só não constituirá conhecimento histórico, uma vez que é fundamental a
problematização das mesmas por parte do pesquisador.
Referências
BACELLAR, Carlos. Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 23-79. CADIOU, François [et al]. As fontes. In:________. Como se faz a história: historiografia, método e pesquisa. Tradução de Giselle Unti. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007, p. 120-140. CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Tradução de Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1990. FARIA FILHO, Luciano M. de. Dos pardieiros aos palácios: cultura escolar e urbana em Belo Horizonte na Primeira República. Passo Fundo: UPF, 2000. GALVÃO, A. M. de O.; LOPES, E. M. T. (Orgs.) Boletim Vida Escolar: uma fonte e múltiplas leituras sobre a Educação no início do século XX. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. GATTI JUNIOR, Décio; PESSONHA, Eurize Caldas. História da Educação, Instituição e Cultura Escolar. IN: GATTI JUNIOR, Décio; INÁCIO FILHO, Geraldo (orgs.). História da educação em perspectiva: ensino, pesquisa, produção e novas investigações. Campinas, SP: Autores Associados: Uberlândia, MG: EDUFU, 2005, p. 71-90.
12
LOMBARDI, J.C.; NASCIMENTO, M.I.M. (orgs). Fontes, história e historiografia da educação. Campinas, SP: Autores Associados: HISTEDBR; Curitiba, PR: Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR); Palmas, PR: Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), 2004 MAGALHÃES, Justino Pereira de. Tecendo nexos: História das instituições escolares. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2004. MIGNOT, A.C.V.; CUNHA, M.T.S. (orgs.). Práticas de memória docente. São Paulo: Cortez, 2003. (Coleção Cultura, Memória e Currículo, v.3) NOSELLA, Paolo; BUFFA, Ester. Instituições escolares: por que e como pesquisar. Disponível em http://www.utp.br/Cadernos_de_Pesquisa/pdfs/cad_pesq5.pdf#page=5. Acesso, 18 de setembro de 2009. PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e história cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. (Coleção História & Reflexão, 5) PINHEIRO, Antonio Carlos Ferreira. Da Era das cadeiras isoladas à Era dos grupos escolares na Paraíba. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. ______. As Novas abordagens no campo da História da Educação Brasileira. In: XAVIER, L; TAMBARA, E.; PINHEIRO, A. C. P. F.. História da Educação no Brasil: Matrizes interpretativas, abordagens e fontes predominantes na primeira década do século XXI. Vitória: EDUFES, 2011, p.247-265. SAVIANI, Dermeval. Instituições escolares no Brasil: conceito e reconstrução histórica. In: NASCIMENTO, Maria Isabel Moura. [et.al.] (orgs.). Instituições escolares no Brasil: conceito e reconstrução histórica. Campinas, SP: Autores Associados, 2007,p. 03-27. XAVIER, L; TAMBARA, E.; PINHEIRO, A. C. P. F.. História da Educação no Brasil: Matrizes interpretativas, abordagens e fontes predominantes na primeira década do século XXI. Vitória: EDUFES, 2011. SOUZA, Rosa Fátima de. Templos de Civilização: a implantação da Escola Primária Graduada no estado de São Paulo (1890-1910). São Pulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.