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De objetos do ensino a patrimônio: Estudo comparativo dos objetos científicos e de ensino nos laboratórios de física do Colégio Pedro II e do Ginásio Pernambucano Bruno Melo de Araújo [email protected] Universidade Federal de Pernambuco Victor Emmanuel Teixeira Mendes Abalada [email protected] Universidade Estadual do Rio de Janeiro Emanuela Sousa Ribeiro [email protected] Universidade Federal de Pernambuco Marcus Granato [email protected] Museu de Astronomia e Ciências Afins Introdução Este trabalho visa analisar comparativamente a cultura material relativa ao ensino da física em duas instituições de ensino, Colégio Pedro II, localizado no Rio de Janeiro e, o Ginásio Pernambucano, localizado no Recife. Esta análise enfoca os objetos científicos e de ensino existentes, no início do século XX, nos laboratórios de física dos referidos colégios e que, no caso do Colégio Pedro II, atualmente se constituem como Patrimônio Cultural da Ciência e Tecnologia, que compreende o: [...] legado tangível e intangível relacionado ao conhecimento científico e tecnológico produzido pela humanidade, em todas as áreas do conhecimento, que faz referência às dinâmicas científicas, de desenvolvimento tecnológico e de ensino, e a memória e ação dos indivíduos em espaços de produção de conhecimento cientifico. Estes bens, em sua historicidade, podem se transformar e, de forma seletiva lhe são atribuídos valores, significados e sentidos, possibilitando sua emergência como bens de valor cultural (CARTA DO RIO DE JANEIRO, 2017, p.2). Ao longo da trajetória de vida das instituições de ensino a atribuição de valor cultural aos objetos de ciência e tecnologia nem sempre ocorre, contudo, o

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Page 1: De objetos do ensino a patrimônio: Estudo comparativo dos ... · Colégio Pedro II dos anos de 1927 e 1929 os objetos de ensino da física das duas instituições de ensino, consideradas

De objetos do ensino a patrimônio:

Estudo comparativo dos objetos científicos e de ensino nos laboratórios de física do Colégio Pedro II e do Ginásio Pernambucano

Bruno Melo de Araújo

[email protected] Universidade Federal de Pernambuco

Victor Emmanuel Teixeira Mendes Abalada

[email protected] Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Emanuela Sousa Ribeiro

[email protected] Universidade Federal de Pernambuco

Marcus Granato

[email protected] Museu de Astronomia e Ciências Afins

Introdução

Este trabalho visa analisar comparativamente a cultura material relativa ao

ensino da física em duas instituições de ensino, Colégio Pedro II, localizado no Rio de

Janeiro e, o Ginásio Pernambucano, localizado no Recife. Esta análise enfoca os objetos

científicos e de ensino existentes, no início do século XX, nos laboratórios de física dos

referidos colégios e que, no caso do Colégio Pedro II, atualmente se constituem como

Patrimônio Cultural da Ciência e Tecnologia, que compreende o: [...] legado tangível e intangível relacionado ao conhecimento científico e tecnológico produzido pela humanidade, em todas as áreas do conhecimento, que faz referência às dinâmicas científicas, de desenvolvimento tecnológico e de ensino, e a memória e ação dos indivíduos em espaços de produção de conhecimento cientifico. Estes bens, em sua historicidade, podem se transformar e, de forma seletiva lhe são atribuídos valores, significados e sentidos, possibilitando sua emergência como bens de valor cultural (CARTA DO RIO DE JANEIRO, 2017, p.2).

Ao longo da trajetória de vida das instituições de ensino a atribuição de valor

cultural aos objetos de ciência e tecnologia nem sempre ocorre, contudo, o

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conhecimento acerca da trajetória destas instituições e do tipo de objetos de ciência e

tecnologia que foram predominantemente utilizados e/ou preservados, é extremamente

importante para colaborar em futuras atribuições de valor cultural. Além da pesquisa

histórica - que, por si só já é importante -, trata-se de estabelecer parâmetros

comparativos para valorar objetos de ciência e tecnologia identificados no país, ou em

determinada região ou mesmo em instituições específicas. Certamente não se trata de

hierarquizar objetos mais ou menos relevantes, pelo contrário, trata-se de reconhecer

que os bens possuem diversos valores, conforme explicam Silva e Silva: A valoração patrimonial tem como finalidade proporcionar uma dimensão distintiva auxiliar para os gestores e/ou agentes patrimoniais na decisão sobre o que preservar, subsidiando em relação ao contexto apurado, quais estratégias de conservação e proteção utilizar (SILVA; SILVA, 2011, p.4)

Deste modo, a presente pesquisa tem a intenção de comparar a partir do relatório

de Gestão do Ginásio Pernambucano do ano de 1931-1934 e do Relatório de Gestão do

Colégio Pedro II dos anos de 1927 e 1929 os objetos de ensino da física das duas

instituições de ensino, consideradas modelares na época, a fim de buscar identificar um

perfil do laboratório de ensino de física desejável pela legislação escolar, pelas práticas

docentes nacionais e internacionais na primeira metade do século XX, bem como

possível dentro da realidade socioeconômica brasileira do período. Para tanto,

escolhemos trabalhar com duas das mais antigas e importantes instituições de ensino

brasileiras ainda em atividade. Sua importância e interesse sob a ótica do patrimônio de

C&T reside não apenas em sua antiguidade e subsequente longevidade enquanto

estabelecimentos educacionais, mas, também, em seu papel enquanto espaços primeiros

e privilegiados de pesquisa e ensino científico no Brasil entre o século XIX e início do

XX, dada a tardia fundação de instituições próprias e com instalações adequadas para

tal.

Um último aspecto metodológico que consideramos importante sublinhar, acerca

do recorte cronológico e disciplinar que elegemos - dos laboratórios de ensino de física -

, diz respeito à possível integração do ensino de física no ensino médio com o ensino de

física nas faculdades de engenharia que se desenvolveram ao longo da primeira metade

do século XX em todo o Brasil. O estudo de objetos científicos da área da física é

especialmente relevante para demonstrar a articulação entre o ensino e a produção

científica, posto que tipo de formação influenciava o acesso ao ensino superior e vice-

versa (NICIOLI JUNIOR, MATTOS, 2007).

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Utilizamos, para a pesquisa de fontes primárias, documentos impressos e

manuscritos, e fotografias sobre objetos de ensino e instrumentos científicos ainda

existentes no Colégio Pedro II e que existiram no Ginásio Pernambucano. É uma

limitação da pesquisa não possuir dados sobre o uso efetivo destes objetos científicos e

de ensino. Esperamos que a comparação entre os laboratórios do Colégio Pedro II e do

Ginásio Pernambucano seja um primeiro passo no sentido de conhecer os parâmetros

aceitáveis para o ensino de física fora do ideal proposto pelo Colégio Pedro II,

caracterizando a cultura científica comum aos colégios que foram equiparados1 e

efetivamente funcionaram/funcionam em todo o país, e onde poderão ainda existir

objetos de ciência e tecnologia que possam receber atribuição de valor cultural.

Breve histórico dos colégios analisados

Se a fundação do colégio Pedro II, em 1837, representou um marco no

desenvolvimento e normatização do ensino nacional, foi o Ginásio Pernambucano, de

fato, o primeiro estabelecimento de ensino secundário fundado no Brasil, sob o nome de

Liceu Provincial, em 1825, ainda que suas atividades tenham se iniciado somente no

ano seguinte (RAUL NETO, BARBOSA, BERARDO, 2017, p. 5).

O Ato Adicional de 1834 instituiu as Assembléias Legislativas provinciais, com

o poder de elaborar o seu próprio regimento, que, desde que estivesse em harmonia com

as imposições gerais do Estado, poderia legislar sobre, dentre outras coisas, a instrução

pública, de modo que era repassado ao poder local o direito de criar estabelecimentos

próprios, além de regulamentar e promover a educação até o nível secundário (GODOY,

2007, p. 13).

As reformas administrativas a partir de 1854, durante o II Reinado, buscaram

tornar efetivas situações anteriormente esboçadas e melhor regulamentar disciplinas,

conteúdos e estabelecimentos de ensino, apontando para uma divisão da instrução

pública entre a educação formal para as elites (categoria na qual se enquadrariam os

estabelecimentos aqui focados) e uma educação voltada para o trabalho, destinada aos

órfãos desvalidos (GODOY, 2007, p. 14).

1 Desde a fundação do Colégio de Pedro II em 1838, sucessivos legisladores tentaram transformá-lo em modelo, não apenas para as escolas do Rio de Janeiro, mas para todo o ensino secundário brasileiro. Paulatinamente, a equiparação a essa instituição foi o mecanismo encontrado pelo governo para tornar uniforme o ensino secundário em todo o país.

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Durante todo esse período, o Ginásio Pernambucano, que manteve o nome de

Liceu Provincial até 1855, funcionou regularmente, mesmo tendo suas instalações e

grade curricular alteradas diversas vezes. Sua origem estava relacionada ao Seminário

Episcopal Nossa Senhora da Graça, o Seminário de Olinda,2 fundado ainda em tempos

de colônia, em 1800, dedicado tanto ao ensino religioso, quanto ao científico, que, após

a revolução de 1817, ao restringir-se ao ensino de Teologia, Dogmática e Cantochão,

deu espaço para seus (ex-)docentes idealizarem o Liceu (RAUL NETO; BARBOSA;

BERARDO, 2017, p. 5).

Em 1837, era decretada uma lei com as linhas gerais da instrução pública da

província. Ficavam as escolas de primeiras letras e de humanidades subordinadas ao

Liceu da capital, ensinando-se, neste estabelecimento, as seguintes disciplinas:

gramática latina; retórica; filosofia; aritmética e geometria; inglês; desenho; francês;

geografia e história; foromia; física; cálculo, e comércio (MOACYR, 1939, p 487). Tal

decreto aumentava e reforçava a importância do futuro Ginásio Pernambucano no

panorama do ensino da província, bem como demonstrava, a exceção das disciplinas de

cunho mais prático, alinhamento de pensamento com o currículo primeiro do Colégio

Pedro II, que, em seu decreto de estabelecimento, expedido no final do mesmo ano de

1837, apontava que lá seriam lecionadas: as línguas latina, grega, francesa e inglesa;

retórica e os princípios de geografia; história; filosofia; zoologia; mineralogia; botânica;

química; física; aritmética; álgebra; geometria, e astronomia (BENETI, 2014, p. 77).

A própria lei que mudou o nome da instituição, transformando o Liceu em

Ginásio Pernambucano, mudou-lhe, também, o currículo. Em 15 de maio de 1855,

sancionada a lei nº 369, a grade curricular do colégio passou a ser composta de 12

matérias no curso sistemático (além de haver o ensino de música, dança, ginástica,

natação e equitação), a saber: latim, em duas cadeiras; grego; francês; inglês; alemão;

desenho; história e geografia, em duas cadeiras; matemáticas; filosofia racional e moral;

ciências naturais, em duas cadeiras; língua e literatura nacional; eloquência, e poética.

Acentuava-se, assim, o caráter humanístico do ensino, e, ao mesmo tempo em que a

física era suprimida enquanto disciplina independente, as ciências naturais eram

inseridas em duas cadeiras.

2 Interessante ressaltar que foi neste Seminário que a química teve, pela primeira vez, seus saberes ensinados em nível superior no Brasil, juntamente com a história natural e a física experimental, dentro da cátedra de filosofia natural (FREITAS-REIS; FARIA, 2015, p. 2).

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Um destaque a esta instituição se dá com o ingresso do professor responsável

pela cadeira de ciências naturais, ocupando-a de 1855 até 1863. Louis Jacques Brunet

criou em 1857 o “Museo do Gymnasio”, um museu de história natural com importante

coleção, ainda hoje existente e que contemporaneamente foi renomeado em homenagem

ao naturalista francês (GONZALES, 2016).

No mesmo ano da mudança de nome, também foi assentada a pedra fundamental

de um edifício próprio para a instituição, situado na rua da Aurora, bairro da Boa Vista,

em área de expansão urbana do Recife. Inaugurado em 1866, este viria a abrigar a sede

definitiva do Ginásio. Os equipamentos e as instalações, muito alterados com o tempo,

seja por perdas ou adições ao espólio, fruto de reformas educacionais ou esforços de

professores (SANTANA; RIBEIRO, 2016), dentro do contexto de Pernambuco entre

fins do século XIX e início do XX, eram de especial relevância (ao menos na região), a

ponto do ensino prático da Escola de Farmácia de Pernambuco, fundada em 1903, ser

realizado, nos primeiros anos de existência da instituição, nos gabinetes e laboratórios

do Ginásio Pernambucano – bem como da Escola de Engenharia e na farmácia do

Hospital Pedro II (VELLOSO, [s.d.]).

A chegada do regime republicano impôs novas mudanças de nomes e

curriculares. Após a reforma educacional nacional instituída por Benjamin Constant,

passou a chamar-se, em 1893, Instituto Benjamin Constant, retomando o nome de

Ginásio Pernambucano em 1899 e mantendo-o até 1935, quando foi renomeado Colégio

Estadual de Pernambuco, até, por fim, estabelecer-se definitivamente como Ginásio

Pernambucano, em 1975. Porém, de maior relevo dentro do contexto estudado, foram

momentos como a inauguração do novo gabinete de Física e Química, com

equipamentos majoritariamente importados de Paris, que ocorreu no contexto da

Reforma Benjamin Constant (BEZERRA, 2012, p. 243). Note-se, também, que, após

anos de seus exames serem considerados válidos em território nacional, foi somente

neste mesmo período, mais precisamente em 1894, que foi equiparado e teve suas

condições ajustadas ao Ginásio Nacional, como foi designado o colégio Pedro II no

interregno entre 1890 e o ano de 1909 (BEZERRA, 2012, p. 242).

As origens do Pedro II, por sua vez, remontam ao século XVIII, quando foi

criado o Abrigo de Órfãos de São Pedro. Em 1739, o Bispo D. Frei Antônio de

Guadalupe fundou o Colégio de Órfãos de São Pedro, para meninos órfãos de pais

pobres, sendo transformado depois em Seminário de São Joaquim, funcionando, a partir

de fins de 1766, na Rua Larga. Nesse momento, o Rio de Janeiro passava a abrigar dois

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seminários, o de São Joaquim e o, também fundado pelo Bispo D. Frei Antônio de

Guadalupe, Seminário de São José. Com a vinda da Corte, em 1808, conflitos entre a

Coroa e o bispo levaram à reforma e posterior encerramento do Seminário de São

Joaquim, de modo que, em 1818, suas instalações eram cedidas a tropas portuguesas, e,

com isso, eram transferidos para o Seminário de São José aqueles alunos certos da

vocação eclesiástica, ao passo que os demais passavam a fazer parte do corpo de

artífices das tropas instaladas nas suas acomodações (DÓRIA, 1997).

Em 1821, após o retorno da Família Real a Portugal, atendendo ao clamor

popular, o Príncipe Regente D. Pedro restabeleceu o Seminário São Joaquim,

devolvendo a ele todos os seus bens. No entanto, mesmo após retornar às atividades, a

situação do Seminário não melhorou imediatamente. Sua posição de protagonista no

cenário educacional brasileiro retornaria apenas em 1837, quando Araújo Lima,

segundo Regente do Brasil Império, e o Ministro Bernardo de Vasconcellos, avaliando-

lhe a decadência, decidiram encampa-lo e “transformaram o seminário em

estabelecimento modelo de letras secundárias” (DÓRIA, 1997, p.23), criando, assim, o

Imperial Collegio de Pedro Segundo.

De acordo com Vera Lúcia Andrade, o Colégio Pedro II foi “agência oficial de

educação e cultura, co-criadora das elites condutoras do país, (...) criado para ser

modelo da instrução pública secundária do Município da Corte e demais províncias, das

aulas avulsas e dos estabelecimentos particulares existentes” (ANDRADE, 1999, p.12).

O modelo escolhido para esse projeto buscou seguir de perto planos de estudos de

instituições francesas, de modo que seus Estatutos, aprovados pelo Regulamento de nº 8

de janeiro de 1838, eram, em diversos pontos, “copiados dos regulamentos dos Collèges

da França; apenas foram modificadas nos aspectos necessários” (VECHIA; LORENZ,

2012, p. 35).

Os planos de estudos tinham caráter enciclopédico e apesar dessa inspiração no

ensino francês, que, desde as reformas napoleônicas, buscava balancear o ensino das

letras e das ciências, o viés humanístico era brutalmente acentuado, uma vez que uma

educação clássica era vista como meio de desenvolver as capacidades intelectuais e

morais daqueles destinados a exercer as mais altas funções da sociedade, da elite. De tal

modo, uma análise do plano de estudos originalmente pensado para o colégio Pedro II e

sua respectiva carga horária evidencia que “as Humanidades eram responsáveis por

62% da carga horária total [...], e desse total, 50% era atribuído ao estudo de Latim e

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Grego, enquanto 9% e 12% foram dedicados aos de ciências e de matemática,

respectivamente, e 11% aos estudos sociais” (VECHIA; LORENZ, 2012, p. 36).

No período compreendido entre a fundação do Colégio e 1930 ocorreram

diversas reformas educacionais, nas quais o currículo do colégio foi reformulado em

termos de sua estrutura e composição, mais especificamente, no que se refere ao número

de séries e ao número e tipo de disciplinas distribuídas. Durante a maior parte deste

período, nova ênfase nas ciências não pareceu ser despendida até a reforma Rocha Vaz,

em 1925, última reforma antes do período Vargas, com aumento de carga horária nas

disciplinas científicas (separando o ensino de física e química e, consequentemente,

aumentado a carga de cada disciplina) e ênfase na experimentação (OLIVEIRA;

SANTOS, 2015).

As diretrizes da reforma permitiram que novo insuflo fosse direcionado para as

áreas práticas e materiais do ensino, de modo que Escragnolle Dória relata nas

memórias do colégio que “crédito de 150 contos votado pelo Congresso para os

gabinetes de ciências físicas e naturais permitiu em 1927, no Externato, aparelhar os

gabinetes de Física e Química” (DÓRIA, 1997, p. 235).

A preocupação com a existência desses locais e seu aparelhamento, se veio a ser

reforçada com o tempo, estava presente desde a promulgação dos Estatutos, que já

indicavam a necessidade da criação de gabinetes científicos. Apesar das primeiras

referências a gabinetes “de physica e chimica” do internato e do externato - como o

colégio se dividiu, durante um período -, constarem em um relatório apresentado pelo

diretor Dr. Carlos de Laet, apenas em 1919 (GRANATO et al., 2010, p. 133), já em

1839, a instituição fazia pedidos de empréstimos de objetos de física e ciências naturais

ao Museu Nacional (GRANATO, SANTOS, 2014, p. 236).

A reforma Francisco Campos, no período Vargas (1930), veio a expandir, mais

uma vez, a presença das ciências no currículo, agora, pela primeira vez, representadas

em todas as séries do ciclo fundamental, sendo, também, reforçado o papel da

experimentação (OLIVEIRA; SANTOS, 2015). Nesse contexto, se o colégio já possuía

um local “modesto e acanhado, embora bem cuidado” (ROXO apud OLIVEIRA;

SANTOS, 2015) para a realização das aulas práticas de química, o gabinete foi

amplamente reformando em 1932 (OLIVEIRA; SANTOS, 2015), porém, somente em

1938, um laboratório exclusivo para o ensino da disciplina foi criado, de acordo com a

própria placa existente em sua entrada (OLIVEIRA, 2014, p. 5).

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Embora essa expansão das ciências tenha atingido limites com o passar do

tempo e o caráter experimental do ensino tenha, eventualmente, recaído em segundo

plano, o Colégio Pedro II permaneceu em crescente expansão. Hoje em dia, para além

da atual unidade Centro, espalha-se por vários campi, localizados em diversos bairros da

cidade do Rio de Janeiro, como São Cristóvão, Tijuca, Humaitá, Engenho Novo e

Realengo, além de ter unidades nos municípios vizinhos de Niterói e Duque de Caxias.

Objetos de ensino de física no início da década de 1930

O advento da República no Brasil provocou uma série de transformações no

país. Sendo um período marcado por mudanças econômicas e políticas que refletiam

diretamente sobre a matéria do ensino. Nesse cenário, o Colégio Pedro II continua a

figurar como uma instituição de referência, status que só se modifica na década de 1960.

Durante os primeiros anos da República, o sistema de ensino tornou-se efetivo e,

consequentemente, as disputas políticas em torno desse tema se aprofundaram. Para o

ensino das ciências, podemos destacar a influência positivista, trazida pelo Ministro da

Instrução, Benjamim Constant, que em 1890, incluía na educação básica brasileira o

conteúdo das ciências fundamentais (Matemática, Astronomia, Física, Química,

biologia e sociologia).

No ano de 1903, o aprofundamento do debate sobre a aprendizagem das

Ciências Naturais foi alvo de um projeto de lei que implementava a obrigatoriedade de

laboratórios para desenvolver os conteúdos de física e química. A organização desses

espaços sofreu forte influência francesa. A partir de estudos dos estatutos do Colégio

Pedro II, Glads Maria Sampaio (2007) aponta que o estatuto vigente neste momento foi

elaborado A partir de consultas aos estatutos dos modelos educacionais da Prússia, da Alemanha, da Holanda e da França, tendo sido escolhido o modelo francês. A influência francesa foi particularmente evidenciada no ensino de ciências. O colégio não só seguia o currículo, isto é as disciplinas organizadas por séries, como também adotava os livros didáticos franceses sendo que os programas de ensino muitas vezes, foram elaborados tomando-se por base os conteúdos destes livros. A adaptação do modelo francês incorporou determinadas características daquele modelo, principalmente o caráter preparatório para os cursos superiores e o predomínio das humanidades no currículo do ensino secundário (SAMPAIO, 2007, p.3)

A incorporação do modelo francês de ensino foi uma tônica do colégio Pedro II

e seguida pelos colégios a ele equiparados. Sampaio (2004) ao realizar estudo sobre

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livros de física utilizados pela escola entre os anos 1838 a 1926, identificou o uso único

e exclusivo de obras francesas: La physique réduite en tableaux raisones au programme

du cours de physique fait à l’ecole polytechnique de Etienne Barruel, entre os anos de

1838 a 1856; Elements de Chimie, precedes de notions de Physique, MRT de Guérin-

Varry, entre os anos de 1856 a 1858; Lições Elementares de Physica de Dr. Meirelles,

entre os anos de 1858 a 1869; Traité Élementaire de Physique de Adolf Ganot, entre os

anos de 1869 a 1876; Lições normaes de Physica D. Pouille de Damiens, entre os anos

de 1876 a 1881; Traité élémentaire de Physique de Adolf Ganot, entre os anos de 1881

a 1890; Traité de Physique Élementaire de Drion e Fernet, entre os anos de 1890 a 1892

e, Traité élémentaire de physique de Adolf Ganot, entre os anos de 1892 a 1926

(SAMPAIO, 2004, p.139).

Apesar de ter previsão de criação de um gabinete de física na estrutura do

colégio Pedro II, sua efetivação se processou em momentos isolados entre os anos de

1838 e 1925, no entanto

No ano de 1925, devido a Reforma Rocha Vaz, ocorreu o desdobramento das disciplinas de Física e Química e as áreas obtiveram um maior desenvolvimento na abordagem educacional com avanços mais significativos. Ao ensino teórico, foi então acrescentada a questão do ensino prático, a necessidade de modernização didática e com isso a efetiva montagem de seus laboratórios próprios (FERREIRA et. Al., 2013, p.133).

Podemos afirmar que o uso dos laboratórios ganhou destaque neste momento da

instituição, sendo incluídas atividades práticas nestes espaços. As observações feitas

pelo Professor Francisco Venancio Filho, no ano de 1927, evidenciam as mudanças

efetivadas no referido local. tomadas de corrente contínua e alternada, de diferentes voltagens, água, gaz e algumas ar comprimido e vácuo; lanterna de projeção, para projetarem-se experiências para grande auditório, galvanômetro, indispensável para todas as experiências de eletricidade, e muitas de ótica e calor (FILHO, 1927, p. 209).

O laboratório de Física do Colégio Pedro II foi equipado considerando-se “as

necessidades do ensino moderno”, o diretor do estabelecimento indica que as

orientações seguidas seriam no sentido de proporcionar uma observação mais direta dos

fenômenos e um maior aproveitamento de sua compreensão por meios experimentais,

de forma a despertar no aluno o que ele designa como “uma actividade pesquizadora

(...), de acordo com a materia ensinada” (ROXO, 1930, p.117).

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As reformas realizadas no Colégio Pedro II, foram seguidas de maneira

semelhante pelo Ginásio Pernambucano e registradas em relatório de gestão do ano de

1931, levando a crer que o modelo de ensino apropriado na França e trazido para o

Brasil estava sendo multiplicado para os colégios de referência dos estados da

federação.

Em relatório do ano de 1931, a instituição pernambucana, apresentava as

alterações realizadas para melhor acomodar a estrutura do laboratório de física. Nas

palavras do diretor: Dispõe hoje d’um espaço de cento e noventa e três metros quadrados com novos aparelhos e com os antigos reformado, todos promtos para funcionamento a qualquer hora. Dividido em duas secções dispõe o professor de quadro negro, meza para preleções, meza para demonstrações, revestidas de cerâmica e com agua, electricidade e gaz, tudo em perfeito funcionamento, além de quarenta cadeiras typo americano para os alunos. Este gabinete tem prestado reaes serviços e o professor da cadeira já não reclama conta a falta de material e a dificuldade de transporte do verdadeiro deposito em que se achavam para a sala de aulas (RELATÓRIO, 1931, p.5).

É apresentada de forma nítida as semelhanças realizadas nos dois

estabelecimentos, o que nos leva a supor da tentativa de homogeneização de atividades

de ensino da física no país. Ainda se destaca nesse relatório, a descrição das áreas da

física e os respectivos objetos presentes no Ginásio, dividindo-se da seguinte forma:

Mecânica e Barologia com 95 objetos, Termologia com 43 objetos, Sonologia com 22

objetos, Photologia com 26 objetos, Electrologia e Magnestismo com 96 objetos e,

material complementar com 20 objetos (Relatório, 1931, s/n).

Ao analisarmos o livro utilizado no Colégio Pedro II nesse período - Traité

Élémentaire de Physique - encontramos uma obra dividida em 10 partes, no qual é

possível identificar os temas abordados: mecânica (instrumentos de medida, dinâmica,

gravitação e hidrostática), ondulatória (movimento harmônico simples – MHS e

acústica), eletricidade (eletrostática, eletrodinâmica e eletromagnetismo), magnetismo,

termologia (termometria, calorimetria, estudo dos gases) e óptica (óptica geométrica,

óptica física), o que também nos indica a integração e/ou complementação dos recursos

didáticos - livro e equipamentos. Segundo Sampaio (2011) o livro apresentava

informações atualizadas sobre as últimas descobertas da física da época e o uso do

laboratório fazia parte do conteúdo programático dos alunos.

Em pesquisa no Núcleo de Documentação e Memória – NUDOM -, do Colégio

Pedro II, não foi possível encontrar documentos que apresentassem um inventário dos

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equipamentos existentes na instituição neste período. No entanto, sendo um colégio de

referência para demais instituições no país, a documentação encontrada no Ginásio

Pernambucano pode iluminar aspectos desses objetos que compunham um determinado

momento da escola e que podem ser comparados com objetos localizados dispostos na

instituição carioca atualmente3. Para construir tal relação, apresentamos a tabela 01,

com os dados referentes aos laboratórios de física aqui estudados:

Tabela 01. Organização dos objetos por área de conhecimento nos laboratórios de Física do

CPII/RJ e GP/PE na década de 19304

COLÉGIO PEDRO II GINÁSIO PERNAMBUCANO Mecânica e Barologia – armário 2 e 5 (155 objetos de C&T)

Mecânica e Barologia (95 objetos de C&T)

Termologia – armário 7 e 8 (147 objetos de C&T)

Termologia (43 objetos de C&T)

Acústica – armário 3 (51 objetos de C&T) Sonologia (22 objetos de C&T)

Ótica – armário 1, 6 e 9 (129 objetos de C&T) Photologia (26 objetos de C&T)

Eletricidade – armário 4 e 10 (160 objetos de C&T)

Electrologia e magnetismo (96 objetos de C&T)

Material complementar (20 objetos de C&T)

Elaborada pelos autores

O laboratório de física do Colégio Pedro II ocupava, em 1930, um espaço de 300

m2 com equipamentos adquiridos por concorrência pública e que eram provenientes em

sua maioria da Alemanha e Estados Unidos (ROXO, 1930, p.118). Neste mesmo

período, o Ginásio Pernambucano tinha um laboratório de 193 m2 , apresentando assim,

um espaço considerável para realização de suas atividades. Podemos afirmar que em

relação ao espaço dedicado ao laboratório temos uma proporcionalidade espacial e, com

relação ao quantitativo de objetos, apesar de separados temporalmente5 e sem a

3 Levantamento realizado pelo Projeto valorização do Patrimônio Científico e Tecnológico realizado pelo Museu de Astronomia e Ciências Afins -MAST. Disponível em: <http://www.mast.br/projetovalorizacao/inicio.html> Acesso em: 21 Ago. 2018. 4 A tabela foi organizada a partir dos dados constantes nas seguintes fontes: Relatório concernente aos anos letivos de 1927 a 1929: apresentado ao Exmo. Sr. Diretor Geral do Departamento Nacional do Ensino pelo Prof. Euclides de Medeiros Guimarães Roxo. Relatório apresentado ao Exmo. SNR. Secretário da Justiça, Educação e Interior pelo DR. Ricardo José da Costa Pinto Triênio (1931-1934), Relatório de Atividades, referente ao Projeto Thesaurus de Acervos Científicos em Língua Portuguesa (BRASIL, 2009). 5 Ressaltamos que os dados relativos à distribuição das áreas da Física no laboratório do CPII foram inferidos a partir de relatório contemporâneo (BRASIL, 2009), o qual reproduz as áreas indicadas nos

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existência dos objetos no Ginásio Pernambucano, podemos também considerar

equivalência entre os objetos encontrados nas duas instituições.

O número de objetos de C&T existentes no Colégio Pedro II variou no tempo e

algumas fontes primárias dão indícios da ampliação de seu conjunto e o investimento

nesse tipo de artefatos para a instrução dos alunos, como um inventário de 1930,

contendo aproximadamente 1500 objetos do laboratório de Física, e outro inventário de

1962, contendo 2.050 objetos do laboratório (GRANATO, SANTOS, 2014).

Atualmente, o Colégio Pedro II abriga uma coleção proveniente deste

laboratório de física, perfazendo um total de 971 objetos (GRANATO, SANTOS, 2014,

p.241), número bem inferior aos anteriormente apresentados nos inventários, resultado

provável do descarte de objetos desgastados pelo uso e pelas condições inadequadas de

guarda. Por outro lado, é um número ainda significativo e a qualidade dos artefatos

atesta a importância que a instituição atribuía ao ensino experimental. Devemos

salientar ainda que estes objetos acumulados reúnem uma multiplicidade de

temporalidades, formas de pensar, ensinar e construir conhecimento sobre a física.

Ao compararmos as duas instituições, guardando as devidas proporções

estruturais podemos considerar que as áreas da física representadas eram semelhantes,

demonstrando uma busca de homogeneização dos conteúdos e de práticas, visto que os

laboratórios refletiam essa preocupação e o conjunto de objetos observados na tabela

afirmam esse ideal. Vale salientar ainda que estes dados coincidem com o livro didático

tomado como referência para o ensino da física.

Pensando assim, mesmo com a atual inexistência dos objetos no Ginásio

Pernambucano, os documentos da instituição nos fornecem dados sobre a estrutura de

um laboratório de física e, consequentemente, um conjunto de atividades que envolviam

a organização do ensino da disciplina, a circulação de professores, equipamentos e

saberes.

Ao relacionarmos a lista de equipamentos do Ginásio Pernambucano com o livro

de Adolph Ganot e os objetos encontrados no Colégio Pedro II, encontramos um

conjunto representativo. Objetos como Plano inclinado (GANOT, 1860, p.40), aparelho

para demonstração de princípios de alavancas (GANOT, 1860, p.790), pêndulos

(GANOT, 1860, p.47), balança ordinária (GANOT, 1860, p.30), balança de Quintenz/

balança de Roberval (GANOT, 1860, p.36), máquina de Atwood (GANOT, 1860, p.41),

armários da instituição. De tal modo, se os objetos representados podem não constituir quantitativa ao que existia no início dos anos 1930, reproduzem a divisão da época quanto as áreas da Física.

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Anel de Gravesande (GANOT, 1860, p.213), dentre outros objetos, articulam diferentes

contextos e temporalidades propiciando a valoração dos objetos do ensino de física

enquanto patrimônio cultural.

Figura 1 (a, b e c) – Anel Gravesande (GANOT, 1860, p.214); Anel Gravesande (PORTUGAL, 2013, s/n); Trecho de relatório com listagem dos objetos do Ginásio Pernambucano (RELATÓRIO, 1931)

O conjunto de possibilidades de análises é exemplificado a partir da incidência

do Anel Gravesande, objeto usado para demonstrações de dilatação cúbica pelo

aumento da temperatura. Este objeto é descrito no livro de Ganot, no relatório do

Ginásio Pernambucano e figura entre os objetos presentes no acervo do Colégio Pedro

II, sendo já alvo de investigação do projeto Thesaurus de Acervos Científicos em Língua

Portuguesa. Este mesmo trabalho de comparação deve ser feito para cada um dos

objetos identificados em cada uma das fontes.

Considerações finais

A preservação dos conjuntos de instrumentos de ensino nas escolas secundárias

brasileiras está em processo. Poucas são as iniciativas que se dedicam a essa atividade.

Especialmente, no caso do Colégio Pedro II, destaca-se a importância de continuar os

estudos e ações em desenvolvimento, pela importância nacional que o Colégio possuiu

como referência de qualidade, e que mantém, de certa forma, até os dias de hoje. Além

disso, esses estudos contribuem para o reconhecimento do conjunto como patrimônio

cultural.

A coleção de instrumentos de ensino do Laboratório de Física pode ser

caracterizada como patrimônio por se enquadrar em quesitos de importância histórica,

educacional e cultural. Destaca-se nesta atribuição de valores o fato desta coleção

A B

C

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pertencer a uma das primeiras instituições de ensino secundário do Brasil - instituída

para servir de modelo educacional para o país. Assim, a materialidade associada às

práticas de ensino nessa instituição torna-se fonte documental e testemunho, incluindo

valores atribuídos tanto pelos alunos e professores da instituição, pesquisadores da

História da Educação, da Museologia e do Patrimônio. A perspectiva de preservação do

conjunto aponta inclusive para a socialização desse patrimônio em âmbito mais geral,

propiciando que outros setores da sociedade possam também vir a atribuir valores e

ampliar a potencialidade de comunicação do conjunto.

As pesquisas realizadas até o momento permitiram identificar a presença de

objetos do ensino de física provenientes da década de 1930 no Colégio Pedro II, mas é

necessário maior aprofundamento no sentido de minimizar as dúvidas. Acreditamos que

a realização de outros estudos poderá evidenciar uma relação mais ampla de

laboratórios de física do país, com objetos e práticas participando de um cenário

complexo de organização desta modalidade de ensino. Perceber as transformações,

processos da disciplina e seus objetos são passos essenciais para o reconhecimento

destes bens como patrimônio cultural.

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