decÁlogo de patologia dual · a sociedade espanhola de patologia dual, a fundação de patologia...
TRANSCRIPT
DECÁLOGO DE
PATOLOGIA DUAL
A adicção é uma perturbação mental e não um
ato voluntário e vicioso
Szerman N (1,2,4,5) Martinez-Raga J(1,2,4,5), Baler R (3), Roncero C (1,2,4,5), Vega P(1,4,5), Basurte I (1,2,4,5), Grau-
López L (1,2,4), Torrens M (1,2,4), Casas M (1,2,4,5), Franco C (1,4), Giampaolo Spinnato (1), Maremmani Angelo
G.I(1), Maremmani I (1), Daulouede, JP (1), Aguerretxe-Colina A(1), Ruiz P.(1)
1 World Association on Dual Disorders. 2 WPA Section on Dual Disorders. 3 National Institute on Drug Abuse (USA)4 Sociedad
Española de Patología Dual.5 Fundación de Patología Dual
A Sociedade Espanhola de Patologia Dual, a Fundação de Patologia
Dual, a Associação Mundial de Patologia Dual e a Secção de Patologia
Dual da Associação Mundial de Psiquiatria esclarecem:
A adicção é uma doença mental e não um ato voluntário ou um vício.
• A patologia dual é a presença na mesma pessoal duma perturbação adictiva e
outra perturbação mental e está relacionada com alterações neurobiológicas e
ambientais, envolvidas nos comportamentos de adicção a substâncias e
comportamentais. Ninguém escolhe ter uma adicção e esta não se desenvolve
em pessoas entregues ao prazer, ao vício ou com “debilidade de carácter”.
• Estas Organizações científicas nacionais e internacionais elaboram um decálogo
na defesa do conceito de adicção como um problema mental, face a algumas
opiniões públicas que o questionam sem fundamento científico.
• Os doentes com doenças mentais, incluindo as adicções, devem ter acesso a um
único modelo assistencial multidisciplinar que integre e/ou coordene a rede de
saúde mental e a rede de adicções, evitando assim o chamado “síndroma da
porta equivocada”.
• Devido a considerar-se a adicção como uma perturbação mental/cerebral,
produziram-se medidas preventivas, abordagens terapêuticas e políticas de
saúde pública eficazes para a sua abordagem.
Madrid, junho de 2017 – Os comportamentos adictivos constituem uma perturbação mental,
como foi demonstrado pela investigação científica e neurociências. Existem processos
neurobiológicos e ambientais envolvidos nos comportamentos adictivos tanto a substâncias
(tabaco, cocaína, cannabis, álcool…), como comportamentais (jogo, sexo, alimentação). Porém,
apesar de entender a adicção como perturbação mental/cerebral, ter conduzido à criação de
medidas preventivas, abordagens terapêuticas e políticas de saúde pública eficazes, este
conceito continua a ser questionado por alguns coletivos, como asseguram a Sociedade
Espanhola de Patologia Dual (SEPD), a Fundação de Patologia Dual e a Associação Mundial de
Patologia Dual (WADD).
“O motivo que leva a que se questione a adicção como uma perturbação mental poderá ser,
entre outros, o desconhecimento dos mecanismos neurobiológicos subjacentes a estes
1
comportamentos, que a investigação em neurociências começa a esclarecer”, como explica a
Dra. Nora Volkow, diretora do National Institute on Drug Abuse (NIDA) nos Estados Unidos da
América. Na sua opinião “O conceito de adicção como uma perturbação da mente/cérebro,
desafia valores profundamente arraigados na opinião pública, sobre a autodeterminação e
responsabilidade pessoal no uso de drogas pelas pessoas adictas como um ato voluntário e
hedonista”.1
Recentemente, algumas opiniões publicadas sem fundamento científico, questionam os avanços
das neurociências e atribuem ao doente adicto a responsabilidade de comportamentos
prazerosos e, em ultima instância, viciosos. A este respeito, a SEPD e a APPD querem esclarecer
que: ”Ninguém escolhe ter uma adicção”. Os fatores sociais põem em contacto a população
com as drogas ou substâncias, contudo, são os fatores individuais que determinam a
vulnerabilidade à adicção.2 Só 10% das pessoas expostas a substâncias virão a ter uma adicção e,
dentre estas, a grande maioria sofre, para além da adicção, de outra perturbação mental,
apresentando o que se chama patologia dual. “Nem todos os que consomem têm adicção, e o
que a sofre não a escolhe”, explicam estas associações.
Por tudo isto, a SEPD, a Fundação Patologia Dual, a WADD e a Secção de Patologia Dual da
Associação Mundial de Psiquiatria (WPA) elaboraram o seguinte decálogo:
Szerman N (1,2,4,5) Martinez-Raga J(1,4,5), Baler R (3), Roncero C (2,3,4,5), Vega P(4,5), Basurte I (4,5), Grau-López, Torrens M (1,2,4), Casas M (1,2,4,5), Ruiz P.(4) 1 World Association on Dual Disorders 2 WPA Section on Dual Disorders 3 National Institute on Drug Abuse (USA) 4 Sociedad Española de Patología Dual 5 Fundación de Patología Dual
1- As adicções constituem, segundo as atuais classificações internacionais da
Organização Mundial de Saúde e da Associação Americana de Psiquiatria (CID e
DSM)3 uma perturbação mental como outras, e não um problema de vontade,
falta de “carater” ou vicio, daqueles que os sofrem.
2- A comunidade científica identificou as evidências que apoiam o seu
reconhecimento como uma perturbação de clara base cerebral, tal como as
outras doenças mentais, tendo dado lugar ao chamado “modelo da adicção como
doença do cérebro”1.
3- Como nas outras perturbações mentais, as atuais classificações permitem uma
valorização dimensional das adicções: leve, moderada ou grave. Neste ultimo
caso, poderá haver dependência fisiológica e a sua evolução pode ser crónica e
com frequentes recaídas3.
4- Somente 10% das pessoas em contato com substâncias ou situações com
propriedades adictivas, sofrerão de uma adicção. Essa percentagem da população
exposta a substâncias ou a situações adicitivas, desenvolverão uma perturbação
de saúde mental chamada Perturbação por Consumo de Substâncias e/ou
Adicção. Estas pessoas apresentam suscetibilidade e vulnerabilidade devido a
fatores individuais, genéticos, psicopatológicos e ambientais1.
5- As adicções apresentam-se, na sua grande maioria, associadas a perturbações
mentais, situação clinica reconhecida e denominada Patologia Dual4, que surgem
2
em, pelo menos 70%, segundo estudos epidemiológicos espanhóis e
internacionais, dados que, com as evidências atuais, estarão provavelmente
infradiagnosticadas5. As perturbações mentais de qualquer tipo cursam em mais
de 50% dos doentes, com usos problemáticos ou adictivos de substâncias6. As
atuais evidencias cientificas indicam que não se trata de duas perturbações
diferentes, mas de distintas manifestações clinicas que interagem e se
apresentam, de acordo com as circunstâncias individuais e ambientais, de forma
conjunta ou sequencial, independentemente de se apresentarem, primeiro uma
ou outra.7,8
6- Os estudos epidemiológicos não incluem as adicções comportamentais ou
adicções sem substância, como a perturbação por jogo e outras, reconhecidas
agora como equivalentes, pelas suas semelhanças clinicas e neurobiológicas, com
as perturbações adictivas com substâncias. Sem dúvida, também estas adicções
se desenvolvem em pessoas vulneráveis e com outras perturbações mentais.9
7- As perturbações adictivas e a patologia dual podem estar associadas a outras
doenças médicas, como as infecciosas por exemplo, formando parte integrante
do próprio processo de patologia dual. 10
8- O efeito das substâncias com capacidade adictiva é diferente, às vezes
antagónica, em grupos diferentes de pessoas, o que integra na patologia dual, o
conceito de Medicina de Precisão ou personalizada para tratar os doentes.11
Assim, o enfoque da patologia dual permite um tratamento bio-psico-social
personalizado, centrando o tratamento nas pessoas e não nas substâncias.
9- Os doentes com perturbações mentais, incluindo as adicções, devem ter acesso a
um único modelo assistencial multidisciplinar que integre e/ou coordene a rede
de saúde mental e a rede de adicções. A existência como até ao presente, de duas
portas, adicções e saúde mental, para um único doente, conduz ao que foi
chamado de “síndrome da porta equivocada”. Todos os doentes têm direito a ser
adequadamente avaliados por profissionais especializados e a receber uma
assistência integral em patologia dual, baseada nas evidências científicas. A
existência de duas redes assistenciais não é suficientemente eficaz nem eficiente
e deixa muitos doentes sem diagnóstico de patologia dual, como ficou claro no
estudo epidemiológico de Madrid, e portanto sem acesso a um tratamento
integral.12,13
10- O conceito de patologia dual, baseado na neurociencia14, ciência de carater
marcadamente multidisciplinar, é o único que garante uma abordagem integral
destes doentes nas suas vertentes biológicas e, de forma inseparável, como em
qualquer outra doença mental, os cuidados psicológicos e sociais.
3
11- O efeito das substâncias com capacidade adictiva é diferente, às vezes antagónico, em diferentes grupos de pessoas, o que integra a patologia dual, o conceito de Medicina de Precisão ou personalizada para tratar os doentes que as
sofrem.11 O enfoque da patologia dual permite, assim, um tratamento bio-psico- social personalizado para individualizar o tratamento nas pessoas e não nas substâncias.
12- Os doentes com perturbações mentais, incluindo as adicções, devem ter acesso a único modelo assistencial multidisciplinar que integre e/ou coordene a rede de saúde mental e a rede de adicções. A existência como até agora de duas portas, adicções e saúde mental, para um único doente, conduz ao chamado “síndrome da porta equivocada”. Todos os doentes têm direito a ser adequadamente avaliados por profissionais especializados e a receber uma assistência integral em patologia dual, baseada em evidências científicas. A existência de duas redes assistenciais não é suficientemente eficaz nem eficiente e deixa muitos doentes sem diagnóstico de patologia dual, como revelou o estudo epidemiológico de
Madrid, e portanto sem acesso a um tratamento integral.11,12
13- O conceito de patologia dual, baseado na neurociência14, ciência de caracter marcadamente multidisciplinar, é o único que garante uma abordagem integral destes doentes nas suas vertentes biológica e de forma inseparável, como em qualquer outra perturbação mental, os cuidados psicológicos e social.
Nos anos oitenta do século passado os doentes com doença mental foram integrados
definitivamente no Sistema Nacional de Saúde, com a exceção daqueles que sofriam de
forma relevante de adicções, exclusão que discriminou estas pessoas, relegadas a cuidados
em redes diferentes. Por tudo isto, estas sociedades científicas afirmam: “Na abordagem das
pessoas com adicções e com patologia dual, devem-se aplicar todos os conhecimentos
científicos, tanto da medicina como da psiquiatria e da psicologia atual. O tratamento baseado
nas evidências científicas deve centrar-se no doente, ser integral, de qualidade e de livre acesso. Isto
ajudará a não repetir os erros do passado e evitará a estigmatização grave tanto dos doentes como das
suas famílias.
Referências Bibliográficas:
1- Volkow N, Koob G, McLellan T. Neurobiologic Advances from the Brain Disease Model of Addiction. N Engl J
Med 2016;374:363-71.
2- Volkow ND. Addiction and co-occurring mental disorders. Director’s perspective”, NIDA Notes 2007; 21:2.
3- American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). Arlington, VA:
American Psychiatric Publishing, 2013.
4
4- Szerman N, Martínez-Raga J, Peris L, Roncero C, Basurte I, Vega P, Casas M. Rethinking Dual
Disorders/Pathology. Addict Disord Their Treat2013; 12:1–10.
5- Arias F, Szerman N, Vega P, Mesias B, Basurte I, Morant C, Ochoa E, Poyo F, Babín F. Madrid study on the
prevalence and characteristics of outpatients with dual pathology in community mental health and substance
misuse services. Adicciones. 2013;25(2):118-27.
6- Lev-Ran S, Imtiaz S, RehmJ,LeFollB. Exploring the association between lifetime prevalence of mental illness and
transition from substance use to substance use disorders: results from the National Epidemiological Survey of
Alcohol and Related Conditions (NESARC)”, Am J Addict 2013; 22:93-98.
7- Leyton M, Vezina P.Dopamine ups and downs in vulnerability to addictions. A neurodeveloptmental model.
Trends Pharmacol Sci. 2014;35(6):268-76.
8- Szerman N, Martinez-Raga J. Dual disorders: two different mental disorders? Adv Dual Diagn 2015; 8:1-4.
9- Kessler RC, Hwang I, laBrie R et al. DSM-IV pathological gambling in the National Comorbidity Survey Replication
2008; Psychol Med 38: 1351-1360.
10- Roncero C, Barral C, Rodríguez-Cintas L, Pérez-Pazos J, Martinez-Luna N, Casas M, Torrens M, Grau-López L.
Psychiatric comorbidities in opioid-dependent patients undergoing a replacement therapy programme in Spain:
The PROTEUS study. Psychiatry Res. 2016 Sep 30;243:174-81. doi: 10.1016/j.psychres.2016.06.024. Epub 2016 Jun
17. PubMed PMID: 27416536.
11- Van Os J, Delespaul P, Wigman J, Myin-Germeys I, Vichers M. Beyond DSM and ICD: introducing “precision
diagnosis” for psychiatry using momentary assessment technology: World Psychiatry 2013 12; 2: 113-117
12 - Minkoff K. Individuals with Co-occurring Psychiatric and Substance Use Disorders. Psychiatric Services 2001
Vol. 52, 5: 597-599.
13- Greenfield SF and Weiss RD. Emerging topics in addiction. Introduction. Harvard review of Psychiatry 2015; 23
(2): 61-62
14- Volkow N. Drug abuse and mental illness: progress in understanding comorbidity. Am J Psychiatry 2001;
158:1181-1183.
Sobre a SEPD
A Sociedade Espanhola de Patologia Dual (SEPD), líder a nível internacional neste campo, é uma
sociedade cientifica-médica sem fins lucrativos, constituída no ano de 2005 e integra atualmente
mais de 2.000 profissionais multidisciplinares que desenvolvem o seu trabalho no âmbito clinico,
docente e/ou investigação do que denominamos Patologia Dual.
5
O objetivo desta Sociedade é promover programas I+D+i nesta área, e formar, difundir e
consciencializar sobre a problemática da patologia dual entre os profissionais, a administração
pública e a sociedade em geral.
Mais informações: http://www.patologiadual.es/ y http://www.fundacionpatologiadual.org/
@Sepd_es
Gabinete de Prensa
Berbés Asociados
Irene Fernández/ Clara Compairé / Paula Delgado
Telf 91 563 23 00
+34 661 67 82 83/+34 697 55 99 61 /+34 678889612
Secretaría Técnica
SEPD
Tel. +34 91 361 26 00
Tilesa Kenes Spain
C/ Eraso, 36
28009 Madrid
6
ENTIDADES ADHERIDAS AL DECALOGO DE PATOLOGIA DUAL
7
OTHER ORGANIZATIONS ADHERED TO THE JOIN STATEMENT
ON DUAL DISORDERS
Association Française de Psycho-addictologie, Moroccan Association of
Private Psychiatrists, Moroccan Society of Psychiatry, Société Européenne
Addiction Toxicomanies Hépatites et Sida, Association BIZIA7