defesa sanitária e animal

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Page 1: Defesa Sanitária e Animal

DOCÊNCIA EM

SAÚDE

DEFESA SANITÁRIA ANIMAL

Page 2: Defesa Sanitária e Animal

1

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2012 – Portal Educação

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167

Portal Educação

P842d Defesa sanitária animal / Portal Educação. - Campo Grande: Portal

Educação, 2012.

298p. : il.

Inclui bibliografia

ISBN 978-85-8241-236-7

1. Defesa sanitária. 2. Vigilância sanitária. 3. Prevenção e incidência de

doenças - Animal. I. Portal Educação. II. Título.

CDD 614

Page 3: Defesa Sanitária e Animal

2

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 12

2 O AGRONEGÓCIO ................................................................................................................... 14

3 OS PRINCIPAIS PRODUTOS PECUÁRIOS NO AGRONEGÓCIO .......................................... 15

3.1 AVES ......................................................................................................................................... 15

3.2 BOVINOS .................................................................................................................................. 15

3.3 SUÍNOS ..................................................................................................................................... 16

3.4 O COMÉRCIO INTERNACIONAL ............................................................................................. 17

3.5 RESPONSABILIDADES DO PAÍS IMPORTADOR ................................................................... 19

3.6 RESPONSABILIDADES DO PAÍS EXPORTADOR ................................................................... 20

4 DEFINIÇÕES GERAIS DE IMPORTÂNCIA EM DEFESA SANITÁRIA .................................... 22

5 NOTIFICAÇÃO .......................................................................................................................... 28

5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ..................................................................................................... 30

5.1.1 Plano de contingência ............................................................................................................... 31

5.1.2 Sistema Nacional de Emergência Sanitária – SINAESA ........................................................... 31

5.1.3 Recepção da informação ........................................................................................................... 33

5.1.4 Registro da notificação .............................................................................................................. 34

5.1.5 Atenção da Notificação e Investigação ...................................................................................... 35

5.1.6 Vigilância Sanitária dos Animais Terrestres .............................................................................. 35

6 NOÇÕES DE EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................... 37

Page 4: Defesa Sanitária e Animal

3

6.1 DEFINIÇÕES DE EPIDEMIA ..................................................................................................... 37

6.1.1 Fatores do Agente ..................................................................................................................... 39

6.1.2 Fatores dos Hospedeiros ........................................................................................................... 39

6.1.3 Fatores ambientais .................................................................................................................... 40

7 PROGRAMA NACIONAL DE ERRADICAÇÃO DA FEBRE AFTOSA ..................................... 41

7.1 FEBRE AFTOSA ....................................................................................................................... 41

7.1.1 Família Picornaviridae ............................................................................................................... 41

7.1.2 Etiologia ..................................................................................................................................... 43

7.1.3 Epidemiologia ............................................................................................................................ 45

7.1.4 Transmissão .............................................................................................................................. 46

7.1.5 Patogenia .................................................................................................................................. 47

7.1.6 Sinais clínicos e lesões .............................................................................................................. 47

7.1.7 Aspectos imunológicos .............................................................................................................. 49

7.1.8 Diagnóstico laboratorial ............................................................................................................. 49

7.1.9 Diagnóstico diferencial ............................................................................................................... 50

7.1.10 Prevenção e controle ................................................................................................................. 51

7.1.11 Imunização ................................................................................................................................ 52

8 PROGRAMA NACIONAL DE ERRADICAÇÃO E CONTROLE DA FEBRE AFTOSA –

PNEFA ................................................................................................................................................. 54

9 LEGISLAÇÃO ........................................................................................................................... 56

9.1 REINHOLD STEPHANES ......................................................................................................... 57

9.2 TENDIMENTO ÀS SUSPEITAS DE DOENÇA VESICULAR E AOS FOCOS DE FEBRE

AFTOSA .............................................................................................................................................. 61

Page 5: Defesa Sanitária e Animal

4

9.3 AÇÕES EM UM FOCO CONFIRMADO DE FEBRE AFTOSA .................................................. 64

9.4 ATUAÇÃO NA REGIÃO DO FOCO ........................................................................................... 65

10 MEDIDAS SANITÁRIAS NA ZONA AFETADA ........................................................................ 67

10.1 INTERDIÇÃO DE PROPRIEDADES ......................................................................................... 67

10.1.1 Interdição de todas as propriedades da área afetada ................................................................ 67

11 JUSTIFICATIVAS DAS RESTRIÇÕES NAS ZONAS DEFINIDAS ........................................... 68

11.1 SACRIFÍCIO DE ANIMAIS ........................................................................................................ 68

11.2 DESTINO DAS CARCAÇAS ..................................................................................................... 68

11.3 MEDIDAS EM CONCENTRAÇÃO DE ANIMAIS ....................................................................... 69

11.4 PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO ............................................................................................ 69

11.5 PLANO HEMISFÉRICO DE ERRADICAÇÃO DA FEBRE AFTOSA (PHEFA) .......................... 70

11.6 PLANO DE AÇÃO PARA O PLANO HEMISFÉRICO DE ERRADICAÇÃO DA FEBRE

AFTOSA NAS AMÉRICAS (PHEFA 2005-2009) ................................................................................. 71

11.7 PROPÓSITO DO PROJETO ..................................................................................................... 72

11.8 ESTRATÉGIAS ......................................................................................................................... 72

11.8.1 Bases e Aspectos críticos .......................................................................................................... 72

11.8.2 Critérios Centrais ....................................................................................................................... 73

11.8.3 Caracterização Regional de Risco ............................................................................................ 73

11.8.4 Ação Conjunta ........................................................................................................................... 76

11.8.5 Complementaridade aos Programas Nacionais ........................................................................ 76

11.8.6 Valores ...................................................................................................................................... 77

Page 6: Defesa Sanitária e Animal

5

11.8.7 Marco Normativo Internacional .................................................................................................. 78

11.8.8 Investigação e Desenvolvimento ............................................................................................... 78

12 OBJETIVOS ESPECÍFICOS OU COMPONENTES .................................................................. 79

12.1 INTERVENÇÃO EM ÁREAS DE PERSISTÊNCIA DA FEBRE AFTOSA E COM

DEBILIDADES ESTRUTURAIS E OPERACIONAIS ........................................................................... 79

12.2 SISTEMA DE PREVENÇÃO DE ÁREAS LIVRES DE FEBRE AFTOSA ................................... 80

12.2.1 Objetivo ..................................................................................................................................... 80

12.2.2 Estratégia ................................................................................................................................. 81

12.2.3 Atividades .................................................................................................................................. 81

13 SANIDADE AVÍCOLA ............................................................................................................... 83

14 O VÍRUS DA INFLUENZA AVIÁRIA ......................................................................................... 84

14.1 PATOLOGIA .............................................................................................................................. 86

14.2 DISTRIBUIÇÃO DO VIA ............................................................................................................ 87

14.3 EPIDEMIOLOGIA DO VIA ......................................................................................................... 88

14.4 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 89

15 O VÍRUS DA DOENÇA DE NEWCASTLE (VDN) ..................................................................... 91

15.1 SITUAÇÃO DO VDN NA AVICULTURA INDUSTRIAL .............................................................. 91

15.2 A DOENÇA DE NEWCASTLE ................................................................................................... 92

15.3 PATOGENIA .............................................................................................................................. 92

15.4 DISTRIBUIÇÃO DO VDN .......................................................................................................... 93

15.5 EPIDEMIOLOGIA DO VDN ...................................................................................................... 94

15.6 DIAGNÓSTICO ETIOPATOGÊNICO DA DOENÇA DE NEWCASTLE ..................................... 95

Page 7: Defesa Sanitária e Animal

6

15.7 SINTOMATOLOGIA CLÍNICA ................................................................................................... 95

15.8 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ................................................................................................ 96

15.9 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ............................................................................................. 97

16 MICOPLASMOSE AVIÁRIA ..................................................................................................... 98

16.1 ETIOLOGIA ............................................................................................................................... 98

16.2 TRANSMISSÃO ........................................................................................................................ 99

16.3 PERÍODO DE INCUBAÇÃO ...................................................................................................... 99

16.4 SINAIS CLÍNICOS ..................................................................................................................... 99

16.5 LESÕES PÓS-MORTEM .......................................................................................................... 100

16.6 SALMONELOSE AVIÁRIA ....................................................................................................... 101

16.7 LEGISLAÇÃO APLICADA ........................................................................................................ 101

17 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAÇÃO DA BRUCELOSE E DA

TUBERCULOSE - PNCEBT E ESTUDO DA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE NAS

ESPÉCIES DE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA ................................................................................... 122

17.1 SITUAÇÃO SANITÁRIA NACIONAL ........................................................................................ 122

17.2 BRUCELOSE BOVINA ............................................................................................................. 124

17.3 EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................................... 125

17.4 PATOLOGIA ............................................................................................................................. 127

17.5 ACHADOS CLÍNICOS .............................................................................................................. 128

17.6 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 129

17.7 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ................................................................................................ 130

17.8 TUBERCULOSE BOVINA ........................................................................................................ 130

17.9 ETIOLOGIA .............................................................................................................................. 130

Page 8: Defesa Sanitária e Animal

7

17.10 EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................................... 131

17.11 PATOLOGIA ............................................................................................................................. 132

17.12 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 133

18 INSTRUÇÃO NORMATIVA DAS Nº06, DE 08 DE JANEIRO DE 2004 ................................... 135

18.1 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAÇÃO DA BRUCELOSE E DA

TUBERCULOSE ANIMAL – PNCEBT ................................................................................................ 138

18.2 DIVISÃO DE BRUCELOSE E TUBERCULOSE – DBT ............................................................ 139

18.3 CERTIFICAÇÃO DE PROPRIEDADES LIVRES DE BRUCELOSE E TUBERCULOSE .......... 152

18.4 CERTIFICAÇÃO DE PROPRIEDADES MONITORADAS PARA BRUCELOSE E

TUBERCULOSE ................................................................................................................................ 153

18.5 CONTROLE DO TRÂNSITO DE REPRODUTORES E NORMAS SANITÁRIAS PARA

PARTICIPAÇÃO EM EXPOSIÇÕES, FEIRAS, LEILÕES E OUTRAS AGLOMERAÇÕES DE

ANIMAIS ............................................................................................................................................ 154

18.6 HABILITAÇÃO E CAPACITAÇÃO DE MÉDICOS VETERINÁRIOS ........................................ 154

18.7 PAPEL DO MÉDICO VETERINÁRIO DO SETOR PRIVADO ................................................... 155

18.7.1 Médico veterinário cadastrado .................................................................................................. 155

18.7.2 Médico veterinário habilitado .................................................................................................... 156

18.7.3 Papel do produtor ..................................................................................................................... 156

18.7.4 Diagnóstico e apoio laboratorial ............................................................................................... 158

18.7.5 Participação do serviço oficial .................................................................................................. 159

18.7.6 Educação sanitária ................................................................................................................... 159

18.7.7 Método de Elaboração da Proposta de Programa .................................................................... 160

19 PROGRAMA NACIONAL DE SANIDADE DOS EQUÍDEOS – PNSE ..................................... 161

Page 9: Defesa Sanitária e Animal

8

20 ANEMIA INFECCIOSA EQUINA .............................................................................................. 163

20.1 DEFINIÇÃO .............................................................................................................................. 163

20.2 ETIOLOGIA .............................................................................................................................. 164

20.3 PROPRIEDADES FÍSICAS, QUÍMICAS E ANTIGÊNICAS ...................................................... 165

20.4 RESISTÊNCIA A AGENTES FÍSICOS E QUÍMICOS ............................................................... 165

20.5 EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................................... 166

20.6 TRANSMISSÃO ....................................................................................................................... 166

20.7 PATOGÊNESE ......................................................................................................................... 168

20.8 SINAIS CLÍNICOS .................................................................................................................... 169

20.9 RESPOSTA IMUNE.................................................................................................................. 170

20.10 TRATAMENTO ......................................................................................................................... 171

20.11 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 171

20.12 PREVENÇÃO E CONTROLE ................................................................................................... 173

20.13 VACINAS CONTRA A AIE ........................................................................................................ 175

21 MORMO ................................................................................................................................... 177

21.1 HISTÓRICO .............................................................................................................................. 177

21.2 SINTOMAS ............................................................................................................................... 178

21.3 TRANSMISSÃO ...................................................................................................................... 179

21.4 ESTADOS COM NOTIFICAÇÃO DE MORMO ........................................................................ 179

22 NORMAS PARA A PREVENÇÃO E O CONTROLE DA A.I.E. .............................................. 180

23 NORMAS PARA O CONTROLE E A ERRADICAÇÃO DO MORMO ...................................... 190

24 PROGRAMA NACIONAL DE SANIDADE SUÍDEA ................................................................ 197

Page 10: Defesa Sanitária e Animal

9

24.1 PESTE SUÍNA CLÁSSICA ....................................................................................................... 197

24.1.1 IMPORTÂNCIA ......................................................................................................................... 197

24.2 ETIOLOGIA ............................................................................................................................. 198

24.3 ESPÉCIES AFETADAS ........................................................................................................... 198

24.4 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA ............................................................................................... 198

24.5 TRANSMISSÃO ....................................................................................................................... 199

24.6 PERÍODO DE INCUBAÇÃO ..................................................................................................... 200

24.7 SINAIS CLÍNICOS ................................................................................................................... 200

24.8 LESÕES PÓS-MORTEM .......................................................................................................... 202

24.9 MORBIDADE E MORTALIDADE .............................................................................................. 203

24.10 DIAGNÓSTICO CLÍNICO ........................................................................................................ 204

24.11 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ............................................................................................... 204

24.12 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ............................................................................................ 205

25 AS AÇÕES RECOMENDADAS EM CASO SUSPEITO DE PESTE SUÍNA CLÁSSICA ....... 206

25.1 NOTIFICAÇÃO DAS AUTORIDADES ..................................................................................... 206

25.1.1 Controle ................................................................................................................................... 206

26 PESTE SUÍNA AFRICANA ...................................................................................................... 207

27 DOENÇA DE AUJESZKY (PSEUDORAIVA)........................................................................... 211

27.1 CONTEÚDO ............................................................................................................................. 211

28 ANEXO - NORMAS PARA A ERRADICAÇÃO DA PESTE SUÍNA CLÁSSICA (PSC) ........... 213

29 ANEXO I - NORMAS PARA O CONTROLE E A ERRADICAÇÃO DA DOENÇA DE

AUJESZKY (DA) EM SUÍDEOS ......................................................................................................... 221

Page 11: Defesa Sanitária e Animal

10

30 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DA RAIVA DOS HERBÍVOROS E OUTRAS

ENCEFALOPATIAS ........................................................................................................................... 237

30.1 RAIVA DOS HERBÍVOROS ..................................................................................................... 237

30.2 ETIOLOGIA .............................................................................................................................. 238

30.3 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA ............................................................................................... 239

30.4 PATOGENIA ............................................................................................................................. 239

30.4.1 FONTES DE INFECÇÃO .......................................................................................................... 239

30.4.2 CICLO NO ORGANISMO ......................................................................................................... 239

30.4.3 PRINCIPAIS LOCAIS DE REPLICAÇÃO ................................................................................. 240

30.5 EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................................... 240

30.6 ASPECTOS CLÍNICOS ............................................................................................................ 242

30.7 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 245

30.7.1 Clínico....................................................................................................................................... 245

30.7.2 Diagnóstico laboratorial ............................................................................................................ 245

30.7.3 Técnicas diagnósticas .............................................................................................................. 245

31 ENCEFALOPATIA ESPONGIFORME BOVINA ....................................................................... 248

31.1 IMPORTÂNCIA ......................................................................................................................... 249

31.2 TRANSMISSÃO ....................................................................................................................... 249

31.2.1 A causa da EEB e das outras EETs ......................................................................................... 250

31.3 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 251

31.3.1 Controle, profilaxia e tratamento ............................................................................................... 251

32 COLETA DO ENCÉFALO DE BOVINOS PARA EXAME LABORATORIAL ............................. 254

Page 12: Defesa Sanitária e Animal

11

32.1 RECOMENDAÇÕES GERAIS .................................................................................................. 254

32.2 RETIRADA DO ENCÉFALO ..................................................................................................... 256

32.3 SELEÇÃO DAS AMOSTRAS A SEREM COLHIDAS ............................................................... 258

32.4 COLETA DE AMOSTRAS PARA A BACTERIOLOGIA E VIROLOGIA .................................... 258

32.5 COLETA E FIXAÇÃO DE MATERIAL PARA EXAME HISTOLÓGICO .................................... 260

33 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DA RAIVA DOS HERBÍVOROS ............................ 261

33.1 RESPONSABILIDADES INSTITUCIONAIS ............................................................................. 261

33.2 SITUAÇÃO ATUAL DA RAIVA NOS HERBÍVOROS NO BRASIL ............................................ 262

33.3 NOTIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE RAIVA ........................................................................ 263

33.4 AS AMOSTRAS ENCAMINHADAS AO LABORATÓRIO DEVERÃO SEMPRE SER

ACOMPANHADAS DO FORMULÁRIO ÚNICO DE REQUISIÇÃO DE EXAMES PARA

SÍNDROME NEUROLÓGICA ............................................................................................................. 265

33.5 ESTRATÉGIA DO PROGRAMA ............................................................................................... 265

33.6 CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DE RISCO ......................................................................... 265

33.7 VACINAÇÃO DOS HERBÍVOROS DOMÉSTICOS .................................................................. 269

33.8 CONTROLE E COMERCIALIZAÇÃO DAS VACINAS ANTIRRÁBICAS E PRODUTOS

VAMPIRICIDAS .................................................................................................................................. 270

33.9 CONTROLE DOS TRANSMISSORES ..................................................................................... 271

33.10 CADASTRO E MONITORAMENTO DE ABRIGOS .................................................................. 274

33.11 OUTRAS MEDIDAS DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ...................................................... 274

33.12 ATUAÇÃO EM FOCOS ............................................................................................................ 275

33.13 COLHEITA DE MATERIAIS E EXAMES DE LABORATÓRIO .................................................. 277

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 289

Page 13: Defesa Sanitária e Animal

12

1 INTRODUÇÃO

O Brasil nos últimos anos passou a figurar como um país de grande importância no

comércio internacional de produtos de origem animal e, com isso teve que se adequar as

questões sanitárias mundiais. A sanidade animal no âmbito mundial é coordenada pela

Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), sediada em Paris na França. Cabe a OIE definir os

preceitos sanitários que os países que pretendem figurar no comércio internacional de animais,

seus produtos e subprodutos devem seguir.

No âmbito nacional a defesa sanitária animal fica a cargo do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA) que pode, e normalmente o faz, delegar a competência da

defesa sanitária nos Estados, as respectivas secretarias estaduais de agricultura.

Podemos considerar que até meados da década de 90 o Brasil tinha pouca ou

nenhuma representatividade em termos quantitativos dos produtos de origem animal que eram

comercializados no mundo.

A partir daí o MAPA iniciou um processo de modernização do sistema de defesa

sanitária animal, os estados aumentaram o número de fiscais e o governo iniciou um plano de

ação para colocar o nosso produto em outros mercados.

A carne bovina brasileira, um produto de qualidade diferenciada, seja pela genética de

nossos animais, seja pela forma de criação deles, unidas a um sistema de criação-produção que

comparado com os países concorrentes de nossos produtos é um dos mais baratos e confiáveis

do mundo, colocou o Brasil no começo do século XXI entre os maiores exportadores de carne

bovina. Não menos importante e em franco crescimento os setores avícola e suinícola também

passaram a figurar dentre os cinco maiores exportadores do mundo.

Decorrente de todos os fatores expostos, a defesa sanitária se viu obrigada a dar um

salto em qualidade e é sobre esta defesa e os fatores que influenciam diretamente nela que

vamos discutir neste curso.

Segundo a OIE, a vigilância em saúde animal representa a soma de todos os recursos,

estruturas e procedimentos, organizados com o objetivo de demonstrar a ausência da

doença/infecção ou determinar sua emergência e sua distribuição na população animal. Assim,

Page 14: Defesa Sanitária e Animal

13

representa um componente essencial para detectar doenças; monitorar séries históricas,

estabelecer programas de controle ou erradicação de doenças endêmicas ou exóticas; apoiar as

solicitações para obtenção de certificados nacionais e internacionais de livre de doença ou

infecção; fornecer informações para análise de risco; e apoiar as medidas sanitárias adotadas

nos programas zoossanitários. No caso específico da febre aftosa, deve contribuir para o

desenvolvimento da capacidade de notificação rápida pelo serviço veterinário oficial e reação

imediata de todas as instâncias do sistema nacional de atenção à sanidade agropecuária quando

da ocorrência de emergência de doença vesicular em qualquer ponto do território brasileiro.

Diante do conceito acima, pode-se afirmar que no Brasil existe um sistema de

vigilância em saúde animal. Seu estabelecimento ocorreu com maior ênfase a partir da década

de 60, com objetivo principal de combater e erradicar a febre aftosa. Desde então, o sistema vem

se consolidando a cada ano, incluindo atividades como, por exemplo: ampliação e fortalecimento

das estruturas do serviço veterinário oficial; aplicação de estratégias de educação sanitária e

comunicação social, inspeção e vistoria a propriedades rurais; controle e fiscalização das

campanhas de vacinação; controle e fiscalização do trânsito de animais; atendimentos a

suspeitas de doenças dos animais; e realização de inquéritos e monitoramentos

soroepidemiológicos, essa evolução foi iniciada visando tornar o Brasil livre da febre aftosa, mas

hoje o sistema funciona para as outras doenças também como a doença de Newcastle, a peste

suína, o mormo e outras doenças de notificação compulsória.

Page 15: Defesa Sanitária e Animal

14

2 O AGRONEGÓCIO

O agronegócio brasileiro se firma como um grande fornecedor de alimentos e

agroenergia. Em primeiro lugar porque os estoques mundiais de alimentos estão diminuindo em

ritmo mais acelerado do que a produção; e em segundo, o fato de o Brasil ser um dos poucos

países com tecnologia, terra e recursos naturais para atender essa grande demanda. A grande

extensão territorial do País, em especial no sentido norte-sul, aliada a um clima diversificado,

chuvas regulares e bem distribuídas, energia solar abundante, quase 13% de toda a água doce

disponível no planeta e 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de alta

produtividade fazem dele um país com vocação natural para a agropecuária.

O desempenho que o agronegócio brasileiro tem apresentado é resultado de uma

revolução que a agricultura brasileira vem produzindo nos últimos anos: uma revolução

silenciosa, feita com a incorporação de tecnologias e recursos humanos altamente capacitados,

amparados por uma pesquisa de ponta.

Assim, o País pode produzir com qualidade e cada vez mais, com maior produtividade,

reduzindo-se a necessidade de novas expansões de área: desenvolvimento aliado à

conservação dos recursos naturais. Isso é produção com respeito ao meio ambiente. Os

números impressionam: nos últimos quinze anos, a área plantada com grãos aumentou 24%,

enquanto a produção aumentou 114%, um crescimento de 73% de produtividade. A

consequência deste sucesso, bem como grande parte de sua explicação, está na participação

cada vez mais importante que o agronegócio brasileiro vem conquistando no cenário mundial. O

País já é um dos maiores atores do mercado internacional e uma das principais fontes de

fornecimento de alimentos para o mundo. Projeções da Organização das Nações Unidas (ONU)

indicam que o Brasil deve tornar-se, até 2015, o maior produtor agrícola do mundo.

Page 16: Defesa Sanitária e Animal

15

3 OS PRINCIPAIS PRODUTOS PECUÁRIOS NO AGRONEGÓCIO

3.1 AVES

Desde 1994 quando o MAPA instaurou o Programa Nacional de Sanidade Avícola

(PNSA) que a avicultura nacional deu um salto de qualidade, juntando o tripé de maior

importância em produção pecuária que é qualidade, sanidade e preço passamos a competir de

forma definitiva no comércio avícola. O Brasil foi o terceiro maior produtor mundial de carne de

frango em 2007. Nesse ano, somente os Estados Unidos e a China produziram mais que o

Brasil. Essa produção quadruplicou desde 1990, passando de 2,4 milhões de toneladas em 1990

até atingir 9,7 milhões de toneladas em 2007.

A parceria entre indústria e avicultores permite excelência técnica em todas as etapas

da cadeia produtiva, resultando em reduzidos custos de transação e na qualidade, que atende às

mais exigentes demandas dos consumidores de todo o mundo. O Governo, por meio do Sistema

de Inspeção Federal (SIF) e do PNSA, assegura o cumprimento das normas de sanidade e a

vigilância constante quanto a epidemias e condições sanitárias, tornando possível o controle e a

erradicação das principais doenças comerciais em aves. As principais regiões produtoras são os

estados de Santa Catarina e Paraná, mas o Centro-Oeste vem apresentando grande expansão

na sua avicultura também.

3.2 BOVINOS

O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, com mais de 195 milhões de

cabeças. Em 2004, assumiu a liderança nas exportações mundiais, com volume exportado de

Page 17: Defesa Sanitária e Animal

16

1,2 milhões de toneladas e faturamento de US$ 2,5 bilhões. Em 2005, o volume exportado foi de

1,4 milhões de toneladas, gerando uma receita de US$ 3 bilhões. A produção é de 8,5 milhões

de toneladas (em equivalente carcaça), garantindo ao País a posição de 2º produtor mundial.

Entretanto os focos de Febre Aftosa ocorridos em Mato Grosso do Sul no final de 2005 frearam

as exportações nacionais, imposições sanitárias de todo mundo foram impostas ao Brasil e

pouco a pouco estamos retomando esse mercado. O boi verde, isto é, o gado criado

fundamentalmente com alimentação a pasto é um diferencial na produção brasileira. O gado

criado a pasto é mais barato e mais seguro sanitariamente falando, uma vez que a Encefalopatia

Espongiforme Bovina (Mal da vaca louca) é transmitida aos animais por meio da alimentação

com rações contendo resíduos de proteína de ruminantes na formulação.

O clima tropical e a água em abundância permitem que o gado brasileiro seja criado a

pasto, alimentado com capim de forma natural. Os elevados investimentos em genética

propiciaram um grande incremento da produtividade, permitindo o aumento da produção de

carne com menor utilização de área.

Para garantir a qualidade e a sanidade do rebanho, o Governo implantou o Sistema

Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov), que permite

garantir a origem dos produtos de origem bovina e bubalina.

3.3 SUÍNOS

A produção mundial de carne suína, de acordo com os dados da Organização das

Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), teve um crescimento estimado de

2% em 2008, totalizando 98,5 milhões de toneladas, depois de declínio de 3% em 2007,

devido à ocorrência de enfermidade que levou ao sacrifício de quase 1 milhão de animais na

China, o maior produtor mundial. Em 2006 e 2007, o declínio da produção chinesa interrompeu

um crescimento contínuo desde 1997, em que a produção mundial cresceu a uma taxa média

anual de 3,0%. Considerando o período entre 1997 e 2007, a taxa anual foi 2%. A China é o

Page 18: Defesa Sanitária e Animal

17

principal produtor de carne suína com 46% do total mundial, seguida da União Europeia,

Estados Unidos e Brasil, com 23% 14% e 3%, respectivamente. Partindo de um nível de

produção menor, a produção brasileira foi a que apresentou maior taxa de crescimento média

anual, 6,6% ao ano entre 1990 e 2007 e de 3% entre 1997 e 2007. A União Europeia, por

outro lado, apresentou a menor taxa de crescimento entre os principais produtores, cerca de

1% ao ano. Tanto China, quanto Estados Unidos apresentaram taxas de incremento em torno

da média de 2% ao ano.

3.4 O COMÉRCIO INTERNACIONAL

Por que queremos colocar nossos produtos no mercado internacional? Temos

condições de fazer isso? O que precisamos fazer para figurar de forma importante nesse

comércio? Se conseguirmos responder essas perguntas e melhor ainda, se conseguirmos nos

adequar a elas significa dizer que o Brasil está apto a brigar “lá fora” para colocar nossos

produtos nas prateleiras de norte americanos, franceses, russos, japoneses, etc. Mas por que

realmente queremos vender nossos agroprodutos para eles? A resposta é simples, eles

pagam muito melhor, às vezes, várias vezes mais que o comércio interno. Então a matemática

é simples: “vou vender para outros países, pois vou ganhar muito mais (pode pensar um

pecuarista)”.

A grande questão é estar adequado sanitariamente para atender esses mercados.

O comércio internacional de animais e produtos de origem animal depende de uma

combinação de fatores que devem ser levados em consideração para garantir o livre comércio,

sem que isso implique em riscos inaceitáveis à saúde humana e animal. Devido às possíveis

variações nas situações envolvendo a saúde animal, diversas opções são propostas pelo

Código Sanitário. Antes de se determinar os requerimentos para o comércio, devem ser

Page 19: Defesa Sanitária e Animal

18

consideradas as condições de saúde animal no país exportador, no país ou países de trânsito

e no país importador. As autoridades veterinárias dos países membros devem basear seus

requerimentos de importação nos padrões, diretrizes e recomendações da OIE, a fim de

otimizar a harmonização dos aspectos sanitários do comércio internacional.

Estes requerimentos devem incluir os modelos de certificado aprovados pela OIE,

encontrados na Parte 4 do Código Sanitário. Os requerimentos de certificação devem ser

exatos e concisos, e devem explicitar as necessidades do país importador. Para que isso

ocorra, é útil e necessário o encontro das autoridades veterinárias dos países importador e

exportador. Isso irá permitir a determinação de requerimentos exatos, de modo que o

veterinário certificador possa se necessário, ter em mãos uma nota de instruções que explique

o entendimento entre as autoridades veterinárias envolvidas. Se Membros de uma autoridade

veterinária desejarem visitar outro país para fins de interesse profissional da autoridade

veterinária do primeiro, a autoridade veterinária do país a ser visitado deverá ser informada.

As exportações têm sido muito importantes para o desempenho da economia brasileira

e têm alcançado marcas inéditas. As exportações em 2005 alcançaram uma cifra de quase US$

118,3 bilhões, com saldo positivo de US$ 44,7 bilhões. Fatores de grande influência no bom

desempenho das exportações brasileiras foram a abertura de novos mercados, principalmente

na Ásia, no Oriente Médio, na Europa Oriental e África; a recuperação de mercados importantes

como os Estados Unidos, Argentina e Alemanha; e a diversificação de produtos.

Somente o cuidado com os rumos da economia não bastaria para que o Brasil

aumentasse sua importância no comércio internacional. A formulação de políticas públicas que

lograram agilizar e desburocratizar os trâmites da exportação foram cruciais para o desempenho

exportador: a informatização dos despachos aduaneiros e a instituição de regimes especiais de

exportação que barateiam os custos para o exportador e também para o importador que adquire

insumos a serem utilizados na produção.

A promoção comercial também teve sua importância, na montagem de rodadas de

negócios, na participação em feiras internacionais e na conscientização do setor empresarial por

meio da difusão da cultura exportadora. Mesmo com esse progresso, o Brasil tem ainda

participação tímida no comércio internacional, de pouco mais de 1%, e busca, por meio dos

esforços integrados da iniciativa privada e do setor público, aumentar essa marca.

Page 20: Defesa Sanitária e Animal

19

3.5 RESPONSABILIDADES DO PAÍS IMPORTADOR

1. Os requerimentos de importação incluídos no certificado veterinário

internacional devem garantir que os produtos introduzidos no país importador estejam de

acordo com o nível nacional de proteção que foi determinado para a saúde humana e animal.

Os países importadores devem restringir seus requerimentos àqueles justificáveis para tal

nível de proteção.

2. O certificado veterinário internacional não deve incluir requerimentos para a

exclusão de patógenos ou doenças animais que estejam presentes no território do país

importador e que não sejam sujeitos a qualquer programa oficial de controle. Os requerimentos

que se aplicam a patógenos ou doenças sujeitas a programas oficiais de controle em um país

ou zona não devem dar aos produtos a serem importados um nível de proteção mais alto do

que aquele dado pelas medidas aplicadas no país ou zona aos mesmos patógenos e doenças.

3. O certificado veterinário internacional não deve incluir requerimentos para

agentes ou doenças que não sejam listados pela OIE, a não ser que o país importador tenha

identificado tal agente como capaz de apresentar um risco significativo, depois da condução,

de maneira científica, da análise de risco para os produtos importados.

4. A transmissão, pela autoridade veterinária, de certificados ou da comunicação

dos requerimentos para importação a outras pessoas além da autoridade veterinária do outro

país requer que também sejam enviadas cópias destes documentos a esta autoridade

veterinária. Esse importante procedimento evita atrasos e dificuldades que podem surgir entre

a autoridade veterinária e as partes envolvidas na transação comercial, quando a

autenticidade dos certificados ou licenças não puder ser verificada. Essa informação é

normalmente responsabilidade das autoridades veterinárias. Entretanto, ela pode ser gerada

Page 21: Defesa Sanitária e Animal

20

5. por veterinários do setor privado no local de origem dos animais, quando este

procedimento for adequadamente aprovado e validado pela autoridade veterinária.

3.6 RESPONSABILIDADES DO PAÍS EXPORTADOR

1) Um país exportador deve estar preparado para fornecer as seguintes informações

aos países importadores, quando requerido:

a) Informações sobre a situação de saúde animal e sobre os sistemas de informação

em saúde animal para determinar se aquele país está livre ou tem zonas livres das doenças

listadas pela OIE, incluindo regulamentos e procedimentos estabelecidos para manter a

condição de zona livre;

b) Informações imediatas e regulares sobre a ocorrência de doenças transmissíveis;

c) Detalhes sobre a capacidade do país em aplicar medidas de controle e prevenir

doenças listadas relevantes;

d) Informação sobre a estrutura dos Serviços Veterinários e sua autoridade;

e) Informações técnicas, particularmente sobre análises biológicas e vacinas

aplicadas em todo ou em parte do território nacional;

2) As Autoridades Veterinárias dos países exportadores devem:

a) apresentar procedimentos oficiais para autorizar o trabalho de veterinários

certificadores, definindo suas funções e deveres assim como as condições envolvendo a

possível suspensão ou terminação destas funções;

b) Garantir que sejam dados instruções e treinamento adequado aos veterinários

certificadores;

Page 22: Defesa Sanitária e Animal

21

c) Monitorar as atividades dos veterinários certificadores a fim de verificar a sua

integridade e imparcialidade.

3) A chefia dos Serviços Veterinários do país exportador é, em última instância,

responsável pela certificação veterinária para o comércio internacional.

Responsabilidades no caso de um incidente ocorrer após a importação O comércio

internacional envolve uma responsabilidade ética contínua. Desse modo, se, após a

exportação, dentro dos períodos de incubação conhecidos para as várias doenças, a

Autoridade Veterinária verificar o aparecimento ou reaparecimento de uma doença que tenha

sido especificamente incluída no certificado veterinário internacional, esta Autoridade tem a

obrigação de notificar o país importador, de modo que os animais importados sejam

inspecionados e submetidos a exames, e sejam tomadas medidas adequadas para limitar a

disseminação da doença, para o caso de a doença ter sido inadvertidamente introduzida. Da

mesma forma, se após a importação uma doença aparecer nos animais importados dentro de

um período de tempo consistente com o período de incubação da doença, a Autoridade

Veterinária do país exportador deve ser informada de modo que a doença possa ser

investigada, uma vez que esta pode ser a primeira informação disponível sobre a ocorrência

da doença em um rebanho anteriormente livre. A Autoridade Veterinária do país importador

deve ser informada do resultado da investigação, já que a fonte de infecção pode não ser o

país exportador.

Page 23: Defesa Sanitária e Animal

22

4 DEFINIÇÕES GERAIS DE IMPORTÂNCIA EM DEFESA SANITÁRIA

Para a aplicação do Código Terrestre utilizado pela Organização Mundial de Saúde

Animal (OIE):

O objetivo desse item é, principalmente, apresentar e discutir alguns termos utilizados

tradicionalmente pelos profissionais do serviço veterinário oficial na rotina de suas atividades de

vigilância veterinária.

A OIE define vigilância epidemiológica como a investigação contínua de uma

população para a detecção da ocorrência da doença/infecção com propósitos de prevenção e

controle, e envolve o exame (clínico ou laboratorial) de parte dessa população.

Nos serviços veterinários sul-americanos, foi comum o uso da expressão “sistemas de

atenção e vigilância sanitária animal”, pressupondo a existência de dois sistemas distintos: um

de atenção e outro de vigilância. No caso do Brasil, essa terminologia está presente

principalmente nos documentos técnicos e normativos produzidos até final da década de 90, com

destaque para o sistema de classificação das unidades da Federação segundo os níveis de três

riscos para febre aftosa. Esses dois sistemas, na realidade, são complementares entre si, e

muitas vezes se confundem, sendo que só se concebe a existência de um bom sistema de

vigilância sanitária ou epidemiológica a partir da existência de um estruturado sistema de

atenção veterinária. De forma didática e resumida, pode‐se dizer que o sistema de atenção

veterinária representava a estrutura necessária para a prática da vigilância epidemiológica.

Assim, o termo “atenção” englobava as informações referentes aos recursos físicos (escritórios,

veículos, meios de comunicação, material de consumo, laboratório etc.), humanos (quantidade,

qualidade e distribuição do pessoal) e aqueles associados aos campos político e jurídico (linha

de comando, vontade política e instrumentos legais), enquanto o termo “vigilância sanitária”

envolvia as informações relacionadas às operações como, por exemplo, número de visitas a

propriedades rurais, número de animais inspecionados, resultados dos estudos

soroepidemiológicos, entre outros.

Page 24: Defesa Sanitária e Animal

23

No presente texto, o termo vigilância veterinária será empregado para significar as

atividades de vigilância epidemiológica no campo da saúde animal, incluindo aqui os aspectos

estruturais ou de atenção.

A estrutura de vigilância veterinária envolve, em cada instância do sistema de atenção

à sanidade agropecuária nos níveis federal e estadual, a coordenação da informação em saúde

animal, dos laboratórios, da padronização dos procedimentos, dos recursos humanos, materiais

e financeiros. O sistema de vigilância veterinária também é responsável pelo estabelecimento da

estrutura legal e administrativa apropriada, pela aplicação de todos os recursos necessários para

melhorar o desempenho da eficiência dos controles, incluindo pessoal, equipamentos, veículos e

recursos financeiros. Também é responsável pelo treinamento do pessoal e por desenvolver

mecanismo para envolver os serviços de outros setores governamentais, privados e os

produtores no sistema de vigilância veterinária.

Com base no exposto e independentemente da terminologia empregada, há, de certa

forma, um consenso técnico em considerar como sistema de vigilância veterinária o conjunto de

elementos e atividades empregado com quatro objetivos:

(1) impedir o ingresso de fontes de infecção e de contaminação,

(2) detectar essas fontes quando elas se estabelecerem em seu território,

(3) notificar sua localização rapidamente às autoridades veterinárias e, por último,

(4) coordenar a reação imediata para a total erradicação dessa ameaça aos rebanhos ou para o

controle dos focos e o restabelecimento da condição livre das zonas ou compartimentos

afetados, dependendo da espécie e do sistema de produção envolvido.

Alguns autores classificam as ações da vigilância em primária, secundária e terciária,

enquanto outros, de primeira, segunda e terceira barreiras. Essa classificação, apesar de

didática, apresenta dificuldades e limitações, uma vez que uma mesma ação, dependendo do

seu objetivo, pode ser enquadrada em diferentes categorias. Por exemplo, a vacinação contra a

febre aftosa pode ser considerada do tipo terciária quando empregada para contenção de um

foco ou do tipo primária quando realizada com mesmo objetivo, mas no país vizinho ou em uma

Page 25: Defesa Sanitária e Animal

24

zona infectada dentro de um país com zona livre da doença. Ainda em relação à vacinação, seu

emprego durante as campanhas de massa é de enquadramento discutível entre as três

categorias, uma vez que não tem a intenção de impedir o ingresso de fontes de infecção, mas de

cortar o ciclo de transmissão e diminuir a velocidade de disseminação da doença quando a

barreira primária for violada.

Outro exemplo é o controle de trânsito de animais, podendo ser usado como barreira

terciária para atendimento a uma emergência sanitária, ou como barreira primária nas fronteiras

com zonas de diferentes condições sanitárias.

Outra classificação muito empregada é a definição das ações executadas como

medidas passivas ou ativas. O termo vigilância passiva tem sido empregado, geralmente, para

caracterizar as atividades rotineiras envolvendo o atendimento às suspeitas de ocorrência de

doenças ou a descrição da população animal de uma região.

Entretanto, pode representar qualquer uso de informação obtida sem a finalidade

específica de vigilância; isto é, são situações em que não há programação ou planejamento de

uma ação específica em busca de comprovar a ocorrência ou ausência de um determinado

evento sanitário.

A vigilância ativa, segundo a FAO, envolve, por sua vez, esforços intensivos para

detectar a presença ou comprovar a ausência da doença ou infecção. Esse termo é empregado,

geralmente, para o levantamento de dados produzidos especialmente para investigação

epidemiológica dos rebanhos, incluindo a busca deliberada e detalhada de evidências da doença

na população animal com objetivo de confirmar sua presença ou ausência. Exemplo claro desse

tipo de vigilância são os monitoramentos e inquéritos soroepidemiológicos.

Segundo a OIE, os componentes de um programa de vigilância ativa, bem-sucedido,

devem considerar, pelo menos:

a) integração entre as atividades de campo e os serviços dos laboratórios;

b) visitas regulares às propriedades para entrevistar produtores e trabalhadores rurais,

repassar informações técnicas, realizar exames clínicos, realizar necropsias e colher amostras

Page 26: Defesa Sanitária e Animal

25

para exame laboratorial, inclusive de soro sanguíneo. A visita deve ser sempre justificada pelo

plano de vigilância ativa ou qualquer outra estimativa epidemiológica que tenha identificado

áreas críticas ou propriedades de maior risco;

c) utilização de indicadores de produção, estudos socioeconômicos e culturais que

tenham alguma relação com o sistema de produção pecuária relacionado às espécies

susceptíveis à febre aftosa; e

d) realização de inquéritos sorológicos para avaliar a presença de circulação do vírus

da febre aftosa.

Segundo as estratégias empregadas, a vigilância veterinária da febre aftosa pode,

ainda, ser agrupada nas seguintes categorias: vigilância clínica, vigilância sorológica e vigilância

virológica.

A vigilância clínica, como o próprio nome indica, tem o objetivo de detectar sinais

clínicos de doença vesicular mediante a inspeção dos animais susceptíveis.

A vigilância sorológica, por sua vez, tem o objetivo de detectar anticorpos específicos

contra o vírus da febre aftosa. Essas duas categorias devem, na verdade, ser empregadas de

forma associada.

Os exames laboratoriais complementares devem ser usados para diferenciar os casos

de doenças vesiculares detectadas clinicamente assim como a vigilância clínica deve ser usada

para complementar a vigilância sorológica.

No caso da vigilância sorológica, a OIE considera que uma reação positiva à prova de

detecção de anticorpos contra o vírus da febre aftosa pode ter quatro causas: infecção,

vacinação, presença de anticorpos maternos transmitidos de matriz imune que pode persistir, em

média, até seis meses de idade, ou reações cruzadas (heterofilia). Isso exige que a análise dos

resultados laboratoriais seja realizada de forma associada ao contexto clínico, epidemiológico e

agropecuário da população investigada, e, dentro das possibilidades e necessidades técnicas,

seja confirmada por meio da vigilância virológica.

Essa última é usada, conforme o Manual de Provas de Diagnóstico e Vacinas para os

Animais Terrestres da OIE, para isolar e identificar o vírus da febre aftosa em populações de

Page 27: Defesa Sanitária e Animal

26

risco, para confirmar casos clínicos de doença vesicular ou casos de animais soropositivos.

Deve‐se considerar, entretanto, que os testes virológicos, por serem altamente específicos, são

suficientes para confirmar um foco de febre aftosa. Por outro lado, por terem baixa sensibilidade,

não são suficientes para descartar a ocorrência de febre aftosa a partir de casos confirmados de

doença vesicular.

A vigilância clínica é a menos específica enquanto a vigilância virológica é a menos

sensível. A vigilância sorológica tem um desempenho intermediário porque ela tem mais

especificidade que a vigilância clínica e mais sensibilidade que a vigilância virológica, o que a

torna uma ferramenta de vigilância bastante versátil.

Zonas onde tem sido realizada vacinação em massa por vários anos consecutivos

precisam combinar as três formas de vigilância para minimizar os efeitos da hiper‐imunização na

vigilância sorológica.

Independente da denominação empregada, a vigilância epidemiológica aplicada à

saúde animal, ou vigilância veterinária, é constituída pelas seguintes atividades:

(1) obtenção e registro de informações epidemiológicas relevantes;

(2) consolidação e análise dos dados recolhidos;

(3) decisão e estabelecimento dos procedimentos preventivos;

(4) execução das operações de emergência e

(5) notificação e divulgação de comunicados com informações sobre a doença e sobre

os resultados das medidas aplicadas em todos os meios disponíveis para atingir grande parte

dos envolvidos pelo sistema de vigilância (retroalimentação).

Essas atividades devem ser motivo de constante avaliação, como forma de classificar

a qualidade do serviço de vigilância veterinária.

Page 28: Defesa Sanitária e Animal

27

Entre as características de um sistema de vigilância veterinária destacam‐se os

parâmetros de sensibilidade, especificidade e oportunidade que, segundo o PANAFTOSA, são

entendidos como:

• sensibilidade: capacidade de detecção de suspeitas de doenças com sinais clínicos

ou evidências epidemiológicas compartilhados por um grupo de doenças, no caso da febre

aftosa, compartilhados pelas doenças vesiculares. O conjunto de atendimentos pelo serviço

veterinário oficial de notificações apresentadas pela comunidade representa um dos principais

indicadores para avaliação desse parâmetro de classificação. A ausência ou o reduzido número

de notificações em um período longo de tempo gera dúvidas quanto à qualidade, confiabilidade e

sensibilidade do sistema de vigilância;

• especificidade: capacidade do sistema em dar um diagnóstico definitivo. É muito

importante para a vigilância veterinária da febre aftosa, considerando os objetivos do PNEFA

para as zonas onde não há evidências de circulação do vírus, manter um estrito monitoramento

das ocorrências de casos correlatos por meio do acompanhamento da incidência de todas as

doenças vesiculares; e

• oportunidade: definida como a capacidade de apresentar dados e informações a

tempo de garantir a rapidez de aplicação das ações sanitárias como resposta à situação

epidemiológica identificada.

No item seguinte serão abordadas as atividades referentes à obtenção e ao registro

das informações básicas para o sistema de vigilância veterinária das doenças vesiculares.

Trata‐se do conjunto mínimo de informações que os serviços veterinários oficiais deverão

recolher, registrar, consolidar e comunicar periodicamente, de acordo com as regras de

gerenciamento do PNEFA.

Page 29: Defesa Sanitária e Animal

28

5 NOTIFICAÇÕES

Organização do sistema de informação em defesa sanitária

• A necessidade de lutar contra as doenças animais no mundo inteiro fez com que fosse criado o Escritório Internacional de Epizootias (OIE), graças ao Acordo Internacional, assinado em 25 de janeiro de 1924. Em maio de 2003 tornou-se o Escritório se converteu na Organização Mundial de Saúde Animal, mas manteve a sua histórica sigla OIE.

• A Organização Mundial do Comércio (OMC) tem reconhecido as normas ditadas pela OIE, que em 2008 contava com 172 países e territórios membros. A OIE mantém relações permanentes com outras 36 organizações internacionais e regionais, e dispõe de escritórios regionais e sub-regionais em todos os continentes.

• A defesa sanitária animal, no território brasileiro, é de competência do MAPA.

• O MAPA pode delegar suas competências às unidades da federação, desde que a unidade disponha de estrutura organizacional e técnica para exercer as atividades.

Page 30: Defesa Sanitária e Animal

29

Page 31: Defesa Sanitária e Animal

30

FONTE: MAPA, 2009

5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Dentre os especialistas em defesa sanitária animal, uma certeza é unânime. Um

serviço de defesa sanitária só é bem executado quando a informação flui de maneira rápida e

objetiva. Nesse ramo de atividade o tempo faz o diferencial, talvez poucas horas que se demore

a mais para as autoridades sanitárias tomarem decisões importantes em relação a um possível

foco de uma doença de rápida difusão como a febre aftosa, pode ser desastrosa. Deverá existir

nos países um sistema de prevenção e emergência sanitária que permita concentrar os esforços

e disponha de recursos humanos, materiais e financeiros necessários, a fim de executar as

atividades requeridas na prevenção e no rápido controle e erradicação de focos de febre aftosa

Page 32: Defesa Sanitária e Animal

31

em nível nacional, prevendo os riscos de sua difusão no menor tempo possível, e coordenando

as operações em níveis, regionais e internacionais.

Um programa de vigilância para enfermidades do Código Terrestre, de acordo com a

diretiva da OIE, deve incluir um sistema de alerta precoce que abarque a produção, a

comercialização e a cadeia de transformação, para informar sobre casos suspeitos de uma

determinada enfermidade que deverão ser investigados imediatamente e, se não se podem

esclarecer as dúvidas por meio de pesquisas epidemiológicas e clínicas, serão tomadas as

ações que se descrevem.

5.1.1 Plano de contingência

Como parte de um plano de contingência, o Serviço Oficial deve contar com os nomes

completos de cada um dos dirigentes que o integram, titulares e substitutos, com seus cargos,

endereço oficial (e particular, se necessário), telefone (s), fax, correio eletrônico, telefone celular

ou pessoal e as funções a serem desenvolvidas no Nível Central.

Essa lista corresponderia aos funcionários oficiais por cada Direção ou Departamento

do Ministério da Agricultura integrante e dos Ministérios de apoio, como o da Defesa, o Ministério

da Fazenda, da Saúde, do Meio Ambiente, além das secretarias estaduais correspondentes e

dos funcionários privados com identificação da representação, das associações de produtores,

da sociedade ou do Colégio de Veterinários.

5.1.2 Sistema Nacional de Emergência Sanitária – SINAESA

Page 33: Defesa Sanitária e Animal

32

É a organização técnica do tipo administrativa e operacional que o Executivo

conformou com apoio da Administração Veterinária, integrando todos os ministérios, órgãos e

instituições relacionadas ao setor de saúde animal, que devem atuar com poderes delegados

especiais e com a capacidade de resposta rápida expressada em horas e eficaz para eliminar

uma enfermidade exótica, satisfazendo assim, o comércio e as normativas internacionais e

simultaneamente contribuindo para a solução de ressarcimento econômico pelos gastos e

perdas que as operações originem. Deve ser criado por regulamento específico e contar com

fontes próprias de recursos de fácil mobilização.

Assim como para o nível nacional, cada unidade do serviço local ou regional terá os

vínculos estabelecidos, coordenados e dispostos pelas autoridades nacionais, evitando que, no

momento do desenvolvimento das operações de emergência, sejam gerados atrasos

organizacionais.

As atividades estarão coordenadas de forma permanente entre os diferentes níveis

(central, regional e local), além do contato com as autoridades de governo, por intermédio do

Comitê de Crise ou Emergência.

Devem-se preparar alternativas estratégicas a serem consideradas, antes de decisões

técnicas-políticas, que serão revisadas com intervalos regulares.

Em circuitos pecuários com fatores epidemiológicos similares, é aconselhável dispor de

planos de contingência de caráter regional, convenientes e coordenados.

É preciso que o sistema conte com a participação representativa de todas as unidades

do Serviço Oficial, de instituições e organismos públicos e privados que tenham relação direta ou

indireta com a solução do problema. O SINAESA deverá ser previamente regulamentado.

Deve-se dispor de uma estrutura de funcionamento que facilite a coordenação entre os

diferentes integrantes do sistema de emergência nos níveis centrais e no nível local, onde se

desenvolvem as operações.

A legislação vigente deverá determinar a obrigação por parte dos proprietários,

encarregados ou possuidores a qualquer título de animais suscetíveis a enfermidades

vesiculares, de notificar a suspeita de possuir animais enfermos.

Page 34: Defesa Sanitária e Animal

33

A mesma obrigação corresponderá aos veterinários e profissionais vinculados à

agropecuária em geral, a todos os funcionários dependentes dos serviços oficiais do país, aos

administradores e funcionários de matadouros ou plantas de abate de animais, indústrias

leiteiras, de suínos, etc., aos administradores ou funcionários de feiras de gado e

transportadores. Todos terão a obrigação de notificar ao Serviço Veterinário Oficial, local ou

central, a existência de qualquer animal com sintomas suspeitos ou evidentes da enfermidade.

No caso de haver dificuldades em contatar o serviço veterinário oficial, notificar-se-á à

autoridade policial mais próxima a existência de qualquer animal com sinais ou sintomas

suspeitos de febre aftosa.

Esta legislação se adequará às mudanças estratégicas que sejam necessárias para

detectar e rapidamente efetivar o controle e a erradicação da febre aftosa.

Para alcançar esse objetivo, é necessário um programa permanente de

conscientização da comunidade, especialmente do setor pecuário, e uma atitude alerta dos

serviços oficiais de saúde animal devidamente treinados para a emergência.

5.1.3 Recepção da informação

Realizada uma comunicação da existência de animais com quadros clínicos similares à

febre aftosa por um produtor, veterinário, funcionário oficial ou terceira pessoa, o primeiro passo

a realizar-se pelo serviço oficial receptor da notificação é proceder de imediato à confirmação da

existência ou não da enfermidade no menor tempo possível.

Essa notificação pode ter diferentes vias, sendo as mais habitualmente utilizadas pela

unidade veterinária local:

• do proprietário sobre observação de sintomas de enfermidade vesicular em animais

de sua propriedade;

Page 35: Defesa Sanitária e Animal

34

• do encarregado da propriedade;

• de vizinhos;

• do veterinário privado que atende a propriedade;

• detecção pelo veterinário oficial;

• após a realização de pesquisa epidemiológica.

5.1.4 Registro da notificação

Será realizado com data e hora, em formulário, caderno numerado ou cartão da

repartição correspondente.

• Dados mínimos a obter na notificação inicial, em formulário de Registro da

Comunicação na repartição local:

1. Localização (estado/município);

2. Nome do informante;

3. Data e hora de recepção;

4. Telefone do informante (celular, comercial e do domicílio);

5. Notificação recebida por: (indicar o nome);

6. Nome do proprietário;

7. Identificação da propriedade (nome, número do registro);

8. Localização da propriedade;

9. Superfície (em Ha);

10. Espécies supostamente afetadas e número;

Page 36: Defesa Sanitária e Animal

35

11. Data do provável início;

12. Sintomas clínicos observados;

13. Veterinário atuante na propriedade;

14. Funcionário encarregado pelo registro da notificação.

5.1.5 Atenção da Notificação e Investigação

Instruções primárias ao notificante – instruir ao notificante, caso seja o proprietário ou

responsável pelos animais, a necessidade de imobilização dos animais suspeitos, mantendo-os

nos locais que se encontram.

Reunir a informação cadastral e de movimento de animais – Será estabelecido que,

com os funcionários administrativos, se reúna a informação epidemiológica e cadastral básica

durante a atenção da suspeita, estimando o número e censo de todas as propriedades situadas

dentro da zona que abranja um raio de 5 e 10 km ao redor da propriedade suspeita.

Utilização do Sistema de Informação Geográfica - Utilizar o Sistema de Informação

Geográfica (GIS) em Rede e, se possuir, o Sistema Nacional de Identificação e Registro Animal,

o que permite estudar os movimentos para e da propriedade notificada, nos últimos 30 dias. A

informação incluirá a propriedade notificada, propriedades limítrofes e a zona comprometida,

também a informação cartográfica, com vias de acesso, número e tipos de propriedade,

população animal, existência de lugares de concentração e comercialização de animais,

mobilização de animais, antecedentes de vacinações, focos anteriores, etc.

Contato com a autoridade policial - Informar à autoridade policial a possibilidade de

efetuar a interdição transitória de propriedade com a suspeita de enfermidade vesicular, até novo

aviso.

5.1.6 Vigilância Sanitária dos Animais Terrestres

Page 37: Defesa Sanitária e Animal

36

Em geral, a vigilância sanitária tem por objetivo demonstrar a ausência de doença ou

infecção, determinar a presença e distribuição de uma doença ou infecção e para detectar o

mais precocemente possível a presença de doenças exóticas ou emergentes. O tipo de

vigilância exercida depende dos resultados que são necessários para tomar decisões. As

seguintes recomendações podem ser aplicadas a todas as doenças, agentes patogênicos e das

espécies sensíveis contempladas no Código Terrestre e sua finalidade é apoiar o

desenvolvimento de metodologias de vigilância. Exceto nos casos em que já se descreva um

método específico de acompanhamento de uma doença ou infecção no Código Terrestre, as

recomendações irão servir para aperfeiçoar os métodos descritos por vigilância de uma

determinada doença ou infecção. Nos casos em que não existem informações detalhadas sobre

uma determinada doença ou infecção, os métodos de vigilância devem ter como base as

recomendações do capítulo 1.4 do Código Terrestre.

A vigilância sanitária dos animais é uma ferramenta essencial da sanidade animal,

indispensável para detectar enfermidades, seguir a evolução de uma doença, o combate às

doenças endêmicas e exóticas, o apoio aos pedidos de reconhecimento da inexistência de

doença ou infecção, para fornecer dados o processo de análise dos riscos, a melhoria da saúde

animal e saúde pública e justificar a adoção de medidas sanitárias. Os dados fornecidos pelas

ações de vigilância determinarão a qualidade dos relatórios de acompanhamento saúde e devem

fornecer as informações necessárias para realizar rigorosa análise de risco tanto para o

comércio internacional quanto para tomar decisões em nível nacional.

Page 38: Defesa Sanitária e Animal

37

6 NOÇÕES DE EPIDEMIOLOGIA

Segundo o dicionário Aurélio da língua portuguesa, podemos definir epidemiologia

como o estudo das inter-relações dos vários determinantes da frequência e distribuição de

doenças num conjunto populacional. Também existem outras importantes definições como:

Oxford English Dictionary: O ramo da ciência médica que trata das epidemias. Kuller LH: é o

estudo das epidemias (doenças) e sua prevenção. Anderson G. quoted in Rothman KL: é o

estudo da ocorrência da doença.

6.1 DEFINIÇÕES DE EPIDEMIA

1. Ocorrência em uma região ou comunidade de casos de uma doença; condutas

relacionadas a doenças específicas, ou outros eventos claramente relacionados à saúde além

daquele esperado.

2. Doença que surge rapidamente num lugar e acomete, há um tempo, grande número

de indivíduos.

3. Surto de agravação de uma endemia.

Essas definições de epidemiologia envolvem uma série de termos que vamos conhecer

agora:

• Estudo: a epidemiologia como disciplina básica da saúde pública humana e

veterinária, tendo seus fundamentos no método científico.

• Frequência e distribuição: a epidemiologia preocupa-se com a frequência e o padrão

dos eventos relacionados com o processo saúde-doença na população. A frequência inclui não

só o número desses eventos, mas também as taxas ou riscos de doença nessa população.

Page 39: Defesa Sanitária e Animal

38

• Determinantes: uma das questões centrais da epidemiologia é a busca da causa e

dos fatores que influenciam a ocorrência dos eventos relacionados ao processo saúde-doença.

Com esse objetivo, a epidemiologia descreve a frequência e distribuição desses eventos e

compara sua ocorrência em diferentes grupos populacionais com distintas características

demográficas, genéticas, imunológicas, comportamentais, de exposição ao ambiente e outros

fatores, assim chamados fatores de risco. Em condições ideais, os achados epidemiológicos

oferecem evidências suficientes para o emprego de medidas de prevenção e controle.

• Estados ou eventos relacionados à saúde: geralmente a epidemiologia concentra-se

nas epidemias relacionadas às doenças infectocontagiosas.

• Específicas populações: como já foi salientada, a epidemiologia preocupa-se com a

saúde coletiva de grupos de indivíduos que vivem numa comunidade ou área.

Qual o objetivo da epidemiologia?

Medir a frequência de uma determinada doença em uma população.

Para avaliar a frequência de uma determinada doença devemos levar em consideração

os seguintes critérios:

a. Classificar e caracterizar a doença.

b. Saber qual o componente de um caso de uma doença.

c. Encontrar uma fonte para busca de casos.

d. Definir a população de risco da doença.

e. Definir o período de tempo do risco da doença.

f. Fazer medidas das frequências da doença.

g. Relacionar casos à probabilidade na população e tempo de risco.

A Tríade Epidemiológica (fig.1): Agente, Hospedeiro e o Ambiente

Page 40: Defesa Sanitária e Animal

39

O triângulo epidemiológico ou simplesmente tríade é um tradicional modelo de estudo

das causas e efeitos das doenças infectocontagiosas. São avaliados: os agentes externos, a

susceptibilidade dos hospedeiros e o ambiente de forma geral. Neste modelo, o ambiente

influencia o agente, o hospedeiro, e a via de transmissão do agente a partir de uma fonte para o

hospedeiro.

Fig. 1 Tríade epidemiológica

FONTE: Jorge Granja, 2009

6.1.1 Fatores do Agente

Os agentes envolvidos geralmente são micro-organismos infecciosos (vírus, bactéria,

parasita ou fungos). Geralmente, esses agentes devem estar presentes para que ocorra a

doença, ou seja, são necessários, mas nem sempre são suficientes para causar doença.

6.1.2 Fatores dos Hospedeiros

Fatores intrínsecos do hospedeiro são fatores que influenciam um indivíduo da

exposição, sensibilidade, ou resposta a um agente causal. Idade, espécie, raça, sexo, status

imunológico, genética são apenas alguns dos muitos fatores que afetam um indivíduo na

probabilidade de exposição a um agente.

Page 41: Defesa Sanitária e Animal

40

6.1.3 Fatores ambientais

Os fatores ambientais são fatores extrínsecos que afetam o agente e as oportunidades

para exposição. Geralmente, os fatores ambientais incluem fatores físicos, tais como geologia,

clima, e meio físico (por exemplo, currais, exposições agropecuárias).

Page 42: Defesa Sanitária e Animal

41

7 PROGRAMA NACIONAL DE ERRADICAÇÃO DA FEBRE AFTOSA

7.1 FEBRE AFTOSA

7.1.1 Família Picornaviridae

Na família Picornaviridae incluem-se cinco gêneros de importância veterinária (quadro

1), cada um dos quais correspondentes a vírus que produzem doenças em animais domésticos.

A palavra picornavirus (pico – pequeno) descreve os menores vírus encontrados na natureza. Os

vírus apresentam capsídeo de simetria icosaédrica com diâmetro que pode variar de 22 a 30 nm

(fig 1). Seu capsídeo é composto de 60 subunidades, cada constituída de quatro proteínas

estruturais principais (VP1, VP2, VP3 e VP4). Cada uma dessas proteínas é derivada por

clivagem sistemática de uma única proteína precursora. As proteínas VP1, VP2 e VP3 são

expressas no capsídeo viral e a proteína VP4 localiza-se internamente na partícula viral e está

intimamente associada ao RNA viral. O receptor responsável por adsorção viral a membranas

celulares localiza-se na proteína VP1, bem como também possui o principal epítopo indutor de

resposta humoral.

Seu genoma consiste numa molécula de RNA fita simples sentido positivo que tem a

função de RNA mensageiro, sendo, portanto, um RNA genômico infeccioso.

Page 43: Defesa Sanitária e Animal

42

Quadro 1. Picornavírus de importância veterinária

Gênero Vírus Principais espécies

afetadas

Doença

Aphthovírus (fig. 1) Vírus da febre aftosa

A, O, C, SAT1, SAT2,

SAT3 e Ásia 1

Todos os animais

biungulados

Febre aftosa

Enterovírus Vírus da doença

vesicular dos suínos

suídeos Doença vesicular dos

suínos

Cardiovírus Vírus da

encefalomiocardite

suídeos Encefalomiocardite

Rhinovírus Rhinovírus bovino bovídeos Rinite

Hepatovírus Vírus da hepatite A

dos símios

Primatas Hepatite

Vírus sem

classificação de

gênero

Rhinovírus equino 2 Equídeos Rinite

Aphthovirus

Fig. 2 - Forma tridimensional do vírus da Febre Aftosa

FONTE: Disponível em: <http://nano-d.inrialpes.fr/?page_id=69>. Acesso em: 21/09/2009.

Page 44: Defesa Sanitária e Animal

43

Geralmente refere-se ao vírus da febre aftosa, a doença de maior importância na

pecuária mundial. A febre aftosa é uma doença altamente contagiosa que infecta todos os

animais biungulados. Classificada na lista A da OIE, tem alto pode de difusão, atingindo grandes

extensões territoriais em pequenos intervalos de tempo. Provavelmente a primeira discrição da

febre aftosa ocorreu em 1514, quando Fracastorius descreveu uma doença similar na Itália. Mais

de 400 anos depois, Loeffler e Frosch demonstraram que um agente filtrável provocava a febre

aftosa, doença conhecida no mundo pelo nome em inglês, foot and mouth disease. Surtos da

doença ainda ocorrem em praticamente todas as regiões do mundo, com exceção da Oceania e

América do Norte.

7.1.2 Etiologia

Hoje são conhecidos no mundo sete sorotipos do vírus da febre aftosa (quadro 2 e fig.

2) (O, A, C, Ásia 1 e os três tipos identificados no continente africano, os South African territory

(SAT) 1, 2 e 3. Os aphthovirus são vírus sem envelope com aproximadamente 27nm de

diâmetro, seu genoma é composto por uma fita simples de RNA e sua replicação é feita no

citoplasma da célula hospedeira. Análise do RNA genômico realizada pelo Laboratório Mundial

de Referência para Febre Aftosa revelou que existe uma heterogeneidade pronunciada entre os

sete subtipos.

Quadro 2. Distribuição geográfica dos vírus da febre aftosa

Região Vírus

África O, A, C, SAT1, SAT2 e SAT3

América Central e do Norte Livre dos vírus

América do Sul O, A, C

Page 45: Defesa Sanitária e Animal

44

Ásia O, A, C e Ásia 1

Caribe Livre dos vírus

Europa O, A, C

Oceania Livre dos vírus

Fig. 3 Distribuição geográfica dos vírus da febre aftosa

FONTE: Grubman e Baxt. 2004.

Resistência a agentes físicos e químicos

Temperatura: Preservado por refrigeração e congelamento, é inativado por

temperaturas superiores a 50°C.

pH: Inativado a pH <6,0 ou >9,0

Desinfetantes: Inativado por hidróxido de sódio (2%), carbonato de sódio (4%) e

ácido cítrico (0,2%). Resistente aos iodóforos, aos compostos quaternários de amônia,

hipoclorito e fenol, especialmente na presença de matéria orgânica.

Page 46: Defesa Sanitária e Animal

45

Sobrevivência: Sobrevive nos gânglios linfáticos e na medula óssea com pH

neutro, porém é inativado nos músculos a pH <6,0, depois do rigor mortis. Pode persistir na

forragem contaminada e no meio ambiente por até um mês, dependendo da temperatura e do

pH. O vírus permanece na carne congelada por até três meses e por até dois meses em alguns

embutidos. Couros podem servir como fonte de infecção por longos períodos.

7.1.3 Epidemiologia

A febre aftosa afeta uma grande variedade de hospedeiros, em áreas endêmicas

provoca grandes prejuízos econômicos, uma vez que o comércio de animais susceptíveis, seus

produtos e subprodutos ficam severamente prejudicados. O vírus é endêmico na América do Sul,

África, em partes da Europa e Ásia (focos esporádicos em zonas livres da doença). Sua ampla

gama de hospedeiros, sejam espécies domésticas ou silvestres, podem resultar em animais

infectados de forma natural, na diversidade dos mecanismos de transmissão e na rapidez da

disseminação da doença. A epizootiologia da febre aftosa é complexa: a cepa viral, a espécie

hospedeira e o meio ambiente têm diversas interações. Infecções assintomáticas, principalmente

em animais vacinados, têm sido importante na manutenção do vírus da natureza. Outras

espécies como cães, gatos e pequenos roedores embora não apresentem sintomas da doença

podem atuar como reservatórios do vírus.

Os principais reservatórios são os animais biungulados (casco partido) (fig. 3),

bovídeos (bovinos e búfalos domésticos), ovinos, caprinos, suínos, todos os ruminantes

selvagens e suídeos. Os camelídeos (camelos, dromedários e lhamas) têm baixa

susceptibilidade.

O reconhecimento de que a febre aftosa limita a eficácia da produção animal em

diversas áreas do mundo, tem auxiliado em estudos mais aprofundados na epidemiologia da

doença.

Os Estados Unidos estão livres da enfermidade desde 1922. A Grã-Bretanha foi

afetada por uma epidemia em 2001 e teve que sacrificar cerca de 7 milhões de bovinos, caprinos

Page 47: Defesa Sanitária e Animal

46

e ovinos ao custo de aproximadamente US$ 15 milhões, o Brasil ainda sofre fortes restrições em

função dos focos ocorridos em 2005 e 2006 na região de fronteira do Brasil com o Paraguai no

Estado de Mato Grosso do Sul.

Figura 4: Anatomia do casco

FONTE: Disponível em: http://www.rehagro.com.br/siterehagro/publicacao.do?cdnoticia=1133>. Acesso em: 25/10/2009.

7.1.4 Transmissão

A principal via de infecção em ruminantes é por meio da inalação de aerossóis (fig. 4),

entretanto infecções também podem ser produzidas mediante a ingestão de alimentos

infectados, inoculação de vacinas contaminadas, inseminação com sêmen infectado, secreções,

assim como contato com roupas, instrumentos veterinários, dentre outros materiais que podem

carregar o vírus mecanicamente.

Page 48: Defesa Sanitária e Animal

47

Fig. 5 – Inalação das partículas virais

FONTE: Clip-Art da microsoft (adaptado)

7.1.5 Patogenia

Nos animais infectados pela via respiratória, se produz uma replicação primária na

faringe, seguida de viremia, onde levará o vírus para outros órgãos e tecidos, provocando assim

a sintomatologia clínica conhecida da doença. Partículas virais são encontradas nas fezes, na

urina, na saliva, no leite, no sêmen, nas vesículas e no sangue durante o período de viremia. O

vírus da febre aftosa pode persistir na faringe dos animais infectados durante um longo período,

mesmo depois de o animal ter se recuperado da sintomatologia clínica. Em bovinos é possível

encontrar o vírus até dois anos depois de o animal ter sido infectado, nos ovinos esse período é

em torno de seis meses, nos cervídeos não há persistência viral.

O transporte viral, do sistema vascular para o epitélio onde as lesões se desenvolvem,

ocorre pela papila, uma vez que as lesões parecem começar como uma única célula infectando

o extrato espinhoso adjacente à papila.

7.1.6 Sinais clínicos e lesões

Vesículas se desenvolvem em vários locais, geralmente nas patas (fig.5), na boca

(fig.6), no úbere (fig.7) e na língua (fig.8), após um período de incubação entre 2 e 14 dias,

Page 49: Defesa Sanitária e Animal

48

dependendo da dose infectante, do subtipo viral, do status imunológico do animal, da espécie

acometida e das condições ambientais. Os animais apresentam anorexia, depressão e queda na

produção de leite. Os animais apresentam salivação intensa (fig.9), manqueira e acentuado

emagrecimento em virtude da dificuldade de se alimentar. Lesões epiteliais da febre aftosa

compreendem 1) formação de vesículas por lise de células infectadas com liberação de líquido

intracelular, 2) edema intracelular e 3) lesões dessecadas produzidas pelo extravasamento de

líquidos do edema sem desenvolvimento de vesículas. Em uma forma mais virulenta o vírus da

febre aftosa infecta a musculatura cardíaca causando alterações degenerativas e necrose. Em

geral os sinais clínicos são mais graves nos bovinos e suínos, porém todas as espécies de casco

fendido podem apresentar sintomas.

Nos bovinos, geralmente, o período de incubação é de dois a oito dias, aparece febre,

perda de apetite e depressão. Em 24 horas os animais apresentam salivação intensa e

aparecem vesículas nas mucosas orais e nasais, nos espaços interdigitais e também nas

glândulas mamárias. A maioria das lesões causadas por surtos de febre aftosa são decorrentes

de infecções bacterianas secundárias, incluindo mastite, laminite e pneumonia. Em bezerros de

até seis meses de idade o vírus pode provocar miocardite, ocasionado a morte do animal. A

mortalidade fica em torno de 3% em animais adultos e de 50% em animais jovens. Nos bezerros,

a mortalidade alcança 85%, por problemas cardíacos. A morbidade é muito alta, podendo chegar

a 100%.

Fig.6 – Lesões nas patas de um suíno Fig.7 – Lesões na gengiva de um bovino

FONTE: www.cfsph.iastate.edu

Page 50: Defesa Sanitária e Animal

49

Fig.8 – Lesões no úbere de uma vaca Fig.9– lesões da língua de um bovino

FONTE: Disponível em: <www.cfsph.iastate.edu>. Acesso em: 25/10/2009.

7.1.7 Aspectos imunológicos

Após duas semanas da vacinação são encontrados anticorpos IgM séricos nos

animais. A duração da imunidade é maior em bovinos do que em suínos, mas aparentemente

não é superior a 12 meses. Como são conhecidos mais 70 subtipos do vírus da febre aftosa e

como os vírus RNA possuem a capacidade de estar constantemente sofrendo modificações no

seu genoma, há a possibilidade de surtos de febre aftosa mesmo em regiões onde ocorre a

vacinação sistemática, além dos fatores como transporte, conservação, manuseio e aplicação da

vacina interferir nesse processo.

7.1.8 Diagnóstico laboratorial

Como a febre aftosa é uma doença de notificação compulsória, sempre que forem

observados animais com sintomas de doenças vesiculares as autoridades devem ser notificadas

imediatamente. O diagnóstico da febre aftosa deve ser rápido, principalmente em países que

usualmente são livres da enfermidade ou estão implantando programas de erradicação da

doença. Como a doença é indistinguível clinicamente de outras enfermidades, como, por

Page 51: Defesa Sanitária e Animal

50

exemplo, a estomatite vesicular, o diagnóstico laboratorial se torna obrigatório. Normalmente os

materiais colhidos para diagnóstico incluem: líquido vesicular, fragmento das lesões, soro

sanguíneo e fluido esôfago-faringeano coletado por probang (fig.9). O diagnóstico sorológico

pode ser feito por fixação de complemento, ELISA, imunodifusão em gel de ágar e neutralização

viral. Os vírus presentes nas amostras clínicas (líquido vesicular) podem ser propagados em

cultivos celulares (inoculação em células tireoidianas de bovinos e células renais de suínos,

bezerros e carneiros, inoculação em linhagens de células BHK-21, IB-RS-2 e em animais de

laboratório). Microscopia eletrônica e imunoeletromicroscopia podem ser utilizadas para um

diagnóstico mais rápido. Técnicas de diagnóstico molecular, como a reação em cadeia da

polimerase (RCP) são utilizadas para identificação do material genômico viral.

Fig.10 – Coleta de probang

FONTE: Disponível em: <http://www.rescuingthepast.co.uk/days_medicine_chest.html>. Acesso em: 25/10/2009.

7.1.9 Diagnóstico diferencial

A febre aftosa apresenta três doenças clinicamente indistinguíveis a ela, a estomatite

vesicular (fig.10), a doença vesicular dos suínos e o exantema vesicular dos suínos, as duas

últimas são exóticas no Brasil. Peste bovina, doença das mucosas, rinotraqueíte infecciosa

bovina, língua azul, mamilite bovina, diarreia viral bovina e estomatite papulosa bovina são

doenças que também fazem diagnóstico diferencial com a febre aftosa.

Page 52: Defesa Sanitária e Animal

51

Fig.11 - Ruptura de vesícula na gengiva de um bezerro com estomatite vesicular

FONTE: Disponível em: <http://medical-dictionary.thefreedictionary.com/_/viewer.aspx?path=vet&name=gr409.jpg>. Acesso em: 25/10/2009

7.1.10 Prevenção e controle

A febre aftosa, mais que qualquer outra enfermidade, tem influenciado no

desenvolvimento de regulamentos internacionais dirigidos a minimizar o risco e a introdução de

doenças infecciosas dos animais em um país. Nas normas internacionais atuais é proibida a

entrada de animais oriundos de regiões onde há diagnóstico confirmado de febre aftosa em

países onde a doença é erradicada. Não existem tratamentos específicos contra a febre aftosa.

Sendo o sacrifício sanitário (Fig.11) obrigatório em países que integram a OIE.

Fig.12 – “Rifle sanitário” em área focal

FONTE: Disponível em: <http://www.lanacion.com.ar/nota.asp?nota_id=445966>. Acesso em: 27/10/2009

Page 53: Defesa Sanitária e Animal

52

O conhecimento oportuno, pela Administração Veterinária, sobre o aparecimento de

casos de enfermidades suspeitas, confundíveis com a Febre Aftosa e outras vesiculares tem

importância decisiva. Deve-se assegurar que a legislação vigente inclua a obrigatoriedade, por

parte dos proprietários e responsáveis por animais, de médicos veterinários e funcionários do

setor agrícola, público e privado; de administradores de matadouros, feiras e remates e dos

cidadãos em geral de notificar, ao Sistema Nacional de Emergência Sanitária Animal (SINAESA)

ou ao veterinário oficial local ou a autoridade pública mais próxima, a existência de qualquer

animal com sintomas evidentes ou suspeitos de enfermidade vesicular.

Proteção de zonas livres mediante controle e vigilância do trânsito de animais

susceptíveis na região de fronteiras entre países de condição sanitária distintas. Sacrifício de

animais infectados, recuperados e de animais susceptíveis que entraram em contato com

indivíduos infectados. Desinfecção dos locais e de todo material infectado (fômites, veículos,

roupas, etc.). Destruição de cadáveres e dos produtos e subprodutos de animais susceptíveis na

zona infectada, além de medidas de quarentena.

7.1.11 Imunização

A vacinação contra a febre aftosa (fig.12), obrigatória nas áreas sob programas de

controle e erradicação da doença e nas espécies animais determinadas segundo as estratégias

adotadas, deve ser regularmente efetuada pelo proprietário ou por vacinadores treinados. A dose

vacinal e a via de aplicação devem obedecer a normas aprovadas no registro oficial e constante

da rotulagem da vacina. No Brasil, as vacinas utilizadas são inativadas, trivalentes, elaboradas

com os tipos de vírus da febre aftosa, denominados "O", "A" e "C", utilizando adjuvante oleoso e

que tenham sido previamente aprovadas no controle oficial de qualidade.

Page 54: Defesa Sanitária e Animal

53

Fig.13 – Vacinação contra febre aftosa

FONTE: Disponível em: <http://www.diariocorreo.com.ec/archivo/2009/06/09/inicia-el-combate-contra-la-aftosa>. Acesso em: 25/10/2009

Page 55: Defesa Sanitária e Animal

54

8 PROGRAMA NACIONAL DE ERRADICAÇÃO E CONTROLE DA FEBRE AFTOSA – PNEFA

O Brasil, sob a coordenação do MAPA e com a participação dos serviços veterinários

estaduais e do setor agroprodutivo, segue na luta contra a febre aftosa, dentro da meta de sua

eliminação do Continente Sul-Americano até o ano 2009, de acordo com Plano Hemisférico de

Erradicação da Febre Aftosa (PHEFA).

O PNEFA tem como estratégia principal a implantação progressiva e manutenção de

zonas livres da doença, de acordo com as diretrizes estabelecidas pela OIE.

A primeira zona livre de febre aftosa com vacinação no Brasil foi reconhecida em maio

de 1998. Nos anos seguintes, o processo de ampliação da zona livre foi pontuado por

reintroduções do vírus da febre aftosa, a primeira no Rio Grande do Sul, nos anos de 2000 e

2001, com origem do agente na Argentina e Uruguai, respectivamente, e a segunda no Mato

Grosso do Sul e Paraná, em 2005. Na Figura 1 pode ser avaliada uma síntese da evolução

geográfica do reconhecimento de zonas livres de febre aftosa no país, no período de 1998 até

2009.

A ocorrência dos focos no Sul do Estado de Mato Grosso do Sul em outubro de 2005

provocou um grande impacto socioeconômico. A situação sanitária levou à suspensão do

reconhecimento de zona livre com vacinação dos Estados do Mato Grosso do Sul e do Paraná,

onde foram registrados focos da doença, e dos demais estados incluídos nas Resoluções da OIE

de reconhecimento da zona livre nos anos 2000 e 2001 (Resolução XVII, 68ª e 69ª Seção

Geral). Dessa forma, juntamente com o Estado do Mato Grosso do Sul, foi suspenso o

reconhecimento para os Estados da Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Sergipe e Tocantins,

e com o Estado do Paraná, foi suspenso o reconhecimento de Goiás, Mato Grosso, Minas

Gerais, São Paulo e do Distrito Federal.

Ao final de 2007 foram concluídas as atividades de saneamento na área interditada

onde ocorreram os focos do Mato Grosso do Sul, com a comprovação de ausência de atividade

viral por meio de inquérito soroepidemiológico. Em 2008 o Estado de Mato Grosso do Sul

restabelece o status de área livre de febre aftosa com vacinação. Os focos de 2005 foram os

Page 56: Defesa Sanitária e Animal

55

últimos registrados em território nacional, o MAPA juntamente com a Agência Estadual de

Defesa Animal e Vegetal em Mato Grosso do Sul instituíram a zona de alta vigilância (ZAV), que

é uma faixa de 15 km da linha de fronteira entre Brasil e Paraguai. A vacinação do rebanho

bovino e bubalino tem sido a maior arma do serviço de defesa sanitária contra o vírus.

A vacinação sistemática e obrigatória contra a febre aftosa vem sendo empregada em

grande parte da América do Sul como ferramenta central dos programas nacionais de

erradicação da doença, sendo adotada de forma oficial no Brasil desde a década de 60.

Campanhas de vacinação adequadamente projetadas, implementadas e avaliadas, que

empregam vacinas de qualidade e potência comprovadas e que alcançam coberturas imunitárias

elevadas, conseguem diminuir drasticamente a susceptibilidade populacional ao vírus, reduzindo

o risco de apresentação clínica da doença e interferindo no processo infeccioso por meio da

inibição ou redução da multiplicação viral nos animais expostos. Com isso, obtém-se uma

redução progressiva e sustentada da replicação do vírus, tanto pela diminuição drástica do

número de suscetíveis na população, como pela diminuição crítica de oferta viral, fazendo com

que, dessa forma, seja erradicado. Esses elementos representam a base conceitual que

sustenta a obtenção da condição sanitária de livre de febre aftosa com vacinação em territórios e

populações suscetíveis, submetidos à vacinação sistemática.

Page 57: Defesa Sanitária e Animal

56

9 LEGISLAÇÃO

A Instrução Normativa nº44 de 02 de outubro de 2007 determina as diretrizes para

erradicação da febre aftosa em território nacional e diz o seguinte:

O MINISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, no

uso das atribuições que lhe confere o art. 2º, do Decreto nº 5.741, de 30 de março de 2006,

tendo em vista o disposto no anexo do citado Decreto, nos arts. 10 e 71 do Regulamento do

Serviço de Defesa Sanitária Animal, aprovado pelo Decreto no 24.548, de 3 de julho de 1934, e

o que consta do Processo nº 21000.004530/2007-81, resolve:

Art. 1º Aprovar as diretrizes gerais para a Erradicação e a Prevenção da Febre Aftosa,

constante do Anexo I, e os Anexos II, III e IV, desta Instrução Normativa, a serem observados

em todo o Território Nacional, com vistas à implementação do Programa Nacional de

Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA), conforme o estabelecido pelo Sistema

Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária.

Art. 2º Esta Instrução Normativa entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 3º Ficam revogadas a Portaria SDSA nº 11, de 3 de novembro de 1983, a Portaria

Ministerial nº 121, de 29 de março de 1993, a Portaria SDA nº 185, de 1º de dezembro de 1993,

as alíneas 'a', 'b', 'c', 'd', 'e', do inciso I, do art. 11, da Portaria nº 162, de 18 de outubro de 1994,

a Portaria nº 82, de 28 de junho de 1996, a Instrução Normativa SDA nº 11, de 13 de março de

2001, a Instrução Normativa SDA nº 47, de 26 de setembro de 2001, a Instrução Normativa SDA

nº 5, de 17 de janeiro de 2003, a Portaria nº 40, de 14 de julho de 2003, e a Instrução Normativa

SDA nº 82, de 20 de novembro de 2003.

Page 58: Defesa Sanitária e Animal

57

9.1 REINHOLD STEPHANES

DIRETRIZES GERAIS PARA A ERRADICAÇÃO E A PREVENÇÃO DA FEBRE AFTOSA

CAPÍTULO I

Art. 1º O Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA)

emprega as definições técnicas e científicas estabelecidas por órgãos e instituições

internacionais dos quais o País é membro signatário, em especial a Organização Mundial de

Saúde Animal (OIE).

Parágrafo único. Para fins desta Instrução Normativa, consideram-se as seguintes

definições (adaptado):

I - animais susceptíveis: bovinos, bubalinos, ovinos, caprinos, suínos, ruminantes

silvestres e outros nos quais a infecção foi demonstrada cientificamente;

II - área de proteção sanitária: área geográfica estabelecida em torno dos focos de

febre aftosa, de acordo com a estratégia para contenção e eliminação do agente infeccioso. A

definição dos seus limites geográficos é de responsabilidade do serviço veterinário oficial,

levando em consideração as características epidemiológicas da doença, os sistemas de

produção pecuária predominantes, a estrutura de comunicação e de rede viária disponível e a

presença de barreiras naturais capazes de impedir a disseminação da doença. Sua implantação

deve ser realizada por meio de ato específico que deverá incluir as ações sanitárias a serem

executadas. A área de proteção sanitária deverá abranger:

a) área perifocal: área imediatamente circunvizinha ao foco de febre aftosa,

compreendendo, pelo menos, as propriedades rurais adjacentes ao mesmo. Como apoio à sua

delimitação, pode ser empregado um raio de três quilômetros traçado a partir dos limites

geográficos do foco confirmado;

b) área de vigilância: área imediatamente circunvizinha à área perifocal. Como apoios à

sua delimitação podem ser considerados as propriedades rurais localizadas até sete quilômetros

Page 59: Defesa Sanitária e Animal

58

dos limites da área perifocal; e área tampão: área imediatamente circunvizinha à área de

vigilância, representando os limites da área de proteção sanitária.

Como apoio à sua delimitação pode ser considerado as propriedades rurais localizadas

até quinze quilômetros dos limites da área de vigilância;

III - doença vesicular infecciosa: conjunto de doenças transmissíveis caracterizadas,

principalmente, por febre e pela síndrome de claudicação e sialorreia, decorrente de vesículas ou

lesões vesiculares nas regiões da boca, focinho ou patas, podendo também ser encontradas na

região do úbere. Nessa categoria estão a febre aftosa e a estomatite vesicular, além de outras

doenças confundíveis, que podem apresentar lesões ulcerativas ou erosivas durante sua

evolução clínica;

IV - emergência veterinária: condição causada por focos de doenças com potencial

epidêmico para produzir graves consequências sanitárias, sociais e econômicas, que

comprometem o comércio nacional e internacional, a segurança alimentar ou a saúde pública, e

que exigem ações imediatas para seu controle ou eliminação, visando ao restabelecimento da

condição sanitária anterior, dentro do menor espaço de tempo e com o melhor custo-benefício;

V - material patogênico: material de risco biológico para febre aftosa, colhido de casos

confirmados de doença vesicular infecciosa ou de qualquer animal susceptível à febre aftosa

localizado em zona infectada, incluindo:

a) amostras de vírus da febre aftosa;

b) amostras de soro sanguíneo, de sangue total ou de qualquer material infeccioso;

c) excreta, tecido, órgão e qualquer outro material que se envie a laboratório

especializado, para fins de diagnóstico;

VI - miúdos in natura: órgãos e vísceras de animais susceptíveis, não submetidos a

quaisquer tratamentos físicos ou químicos;

VII - Plano de Contingência: documento que estabelece os princípios, estratégias,

procedimentos e responsabilidades em caso de uma emergência veterinária, com o intuito de

treinar, organizar, orientar, facilitar, agilizar e uniformizar as ações necessárias à resposta rápida

para o controle e eliminação da doença;

Page 60: Defesa Sanitária e Animal

59

VIII - Plano de Ação: parte do plano de contingência que inclui os procedimentos

específicos para investigação de casos suspeitos de doença vesicular e atuação durante

ocorrência de focos de febre aftosa;

IX - sacrifício sanitário: eliminação de todos os animais que representam risco para

difusão ou manutenção de agente biológico, segundo avaliação epidemiológica do serviço

veterinário oficial, seguida de destruição das carcaças por incineração, enterramento ou qualquer

outro processo que garanta a eliminação do agente infeccioso e impeça a propagação da

infecção, acompanhada de limpeza e desinfecção;

X - serviço veterinário oficial: instituição pública de defesa sanitária animal;

XI - sistema de emergência veterinária: conjunto de recursos, estruturas e

procedimentos, organizado com o objetivo de desenvolver a capacidade de detecção rápida e

pronta reação na ocorrência de doenças, visando a seu controle ou erradicação. Inclui a

elaboração de planos de contingência e de ação;

XII - tipos de casos na investigação de doenças vesiculares:

a) caso suspeito de doença vesicular: notificação apresentada por terceiros ao serviço

veterinário oficial indicando a possibilidade de existência de um ou mais animais, apresentando

sinais clínicos compatíveis com doença vesicular infecciosa;

b) caso confirmado de doença vesicular: constatação pelo serviço veterinário oficial de

animais apresentando sinais clínicos compatíveis com doença vesicular infecciosa, exigindo

adoção imediata de medidas de biossegurança e de providências para o diagnóstico laboratorial;

c) caso descartado de doença vesicular: todo caso suspeito de doença vesicular

investigado pelo serviço veterinário oficial cujos sinais clínicos não são compatíveis com doença

vesicular infecciosa;

d) caso ou foco de febre aftosa: registro, em uma unidade epidemiológica, de pelo

menos um caso que atenda a um ou mais dos seguintes critérios:

1. Isolamento e identificação do vírus da febre aftosa em amostras procedentes de

animais susceptíveis, com ou sem sinais clínicos da doença, ou em produtos obtidos desses

animais;

Page 61: Defesa Sanitária e Animal

60

2. Detecção de antígeno viral específico do vírus da febre aftosa em amostras

procedentes de casos confirmados de doença vesicular, ou de animais que possam ter tido

contato prévio, direto ou indireto, com o agente etiológico;

3. Existência de vínculo epidemiológico com outro foco de febre aftosa, constatando-

se, também, pelo menos uma das seguintes condições:

3.1. Presença de um ou mais casos confirmados de doença vesicular;

3.2. Detecção de anticorpos contra proteínas estruturais ou capsidais do vírus da febre

aftosa em animais não vacinados contra essa doença; ou

3.3. Detecção de anticorpos contra proteínas não estruturais ou não capsidais do vírus

da febre aftosa, desde que a hipótese de infecção não possa ser descartada pela investigação

epidemiológica;

e) caso descartado de febre aftosa: todo caso confirmado de doença vesicular que não

atenda aos critérios para confirmação de caso ou foco de febre aftosa; XIII - unidade

epidemiológica: grupo de animais com probabilidades semelhantes de exposição ao vírus da

febre aftosa. Dependendo das relações epidemiológicas estabelecidas e da extensão da área

das propriedades rurais envolvidas, pode ser formada por uma propriedade rural, por um grupo

de propriedades rurais (ex.: assentamentos rurais ou pequenos vilarejos), por parte de uma

propriedade rural, ou por qualquer outro tipo de estabelecimento onde se concentram animais

susceptíveis à doença (ex.: recintos em um parque de exposições ou leilões). A constituição de

uma unidade epidemiológica é de responsabilidade do serviço veterinário oficial, que deve se

fundamentar em análises técnicas e avaliações de campo. No caso de envolver mais de uma

propriedade rural, deverá ser considerada a existência de contiguidade geográfica;

XIV - vínculo epidemiológico: termo empregado para estabelecer a possibilidade de

transmissão do agente infeccioso entre casos confirmados da doença e animais susceptíveis,

localizados ou não em uma mesma exploração pecuária. Pode ser estabelecido pela

movimentação animal, pela proximidade geográfica que permita o contato entre doentes e

susceptíveis ou pela presença de outros elementos capazes de carrear o agente infeccioso. A

caracterização do vínculo epidemiológico é de responsabilidade do serviço veterinário oficial,

fundamentando-se em análises técnicas e avaliações de campo;

Page 62: Defesa Sanitária e Animal

61

9.2 ATENDIMENTO ÀS SUSPEITAS DE DOENÇA VESICULAR E AOS FOCOS DE FEBRE

AFTOSA

Art. 4º As doenças vesiculares infecciosas são de notificação compulsória. Todo

médico veterinário, produtor rural, transportador de animais, profissionais que atuam em

laboratórios veterinários oficiais ou privados e em instituições de ensino e pesquisa veterinária

que tenham conhecimento de casos suspeitos de doença vesicular, ficam obrigados, em prazo

não superior a 24 horas do conhecimento da suspeita, a comunicar o fato ao serviço veterinário

oficial.

§ 1º No caso de o notificante ser proprietário ou responsável pela exploração pecuária

com casos suspeitos de doença vesicular, deverá interromper a movimentação dos animais,

produtos e subprodutos de origem animal, até autorização por parte do serviço veterinário oficial.

§ 2º A notificação da suspeita poderá ser efetuada pessoalmente ou por qualquer meio

de comunicação disponível, resguardado o direito de anonimato.

§ 3º Todas as notificações de casos suspeitos de doença vesicular devem ser

registradas pelo serviço veterinário oficial, que deverá atendê-las dentro do prazo de 12 (doze)

horas contadas a partir de sua apresentação, seguindo as orientações constantes no plano de

ação adotado pelo serviço veterinário oficial.

§ 4º A infração ao disposto no caput deste artigo deverá ser devidamente apurada pelo

serviço veterinário oficial que, quando for o caso, representará contra o infrator junto ao

Ministério Público.

§ 5º Caso o infrator seja médico veterinário, além do disposto no § 4º deste artigo, o

serviço veterinário oficial deverá encaminhar denúncia formal ao Conselho Regional de Medicina

Veterinária.

§ 6º O serviço veterinário oficial nas unidades da Federação é responsável pela

implantação de campanhas educativas de esclarecimento, informando e preparando a

comunidade para imediata notificação de casos suspeitos de doença vesicular.

Page 63: Defesa Sanitária e Animal

62

Art. 5º O desenvolvimento e a manutenção do sistema de vigilância epidemiológica da

febre aftosa envolvem as seguintes ações:

I - manutenção de estrutura administrativa apropriada para os casos de emergência

veterinária, que deverá fazer parte do plano de contingência;

II - notificação imediata de casos suspeitos de doença vesicular e pronta reação nos

casos confirmados;

III - elaboração de plano de ação para atendimento e investigação epidemiológica dos

casos confirmados de doença vesicular e dos focos de febre aftosa;

IV - realização de treinamentos e simulações para execução dos planos de ação;

V - desenvolvimento de capacidade operacional adequada, destacando os laboratórios

de diagnóstico;

VI - elaboração de atos e disciplinamento de procedimentos prevendo a participação

de outros setores governamentais e privados para pronta reação;

VII - desenvolvimento de capacidade para aplicação de todos os recursos necessários

para conter a propagação da doença, incluindo pessoal, equipamento, recursos financeiros e

medidas governamentais que amenizem os impactos econômicos e sociais decorrentes.

§ 1º O MAPA é o órgão responsável para coordenar a implantação e a gestão do

sistema de emergência veterinária.

§ 2º O serviço veterinário oficial deverá cumprir todas as recomendações determinadas

pelo plano de ação para doenças vesiculares.

Art. 6º O registro e a comunicação da ocorrência de casos suspeitos ou confirmados

de doença vesicular devem seguir criteriosamente o sistema de comunicação definido e

coordenado pelo MAPA.

Art. 7º A constatação de caso confirmado de doença vesicular implica a adoção de

medidas sanitárias para identificação e contenção do agente etiológico. Nesse caso, a

investigação epidemiológica deve prosseguir para determinação de origem e abrangência do

problema sanitário. As ações imediatas envolvem:

Page 64: Defesa Sanitária e Animal

63

I - registro e comunicação da ocorrência às instâncias superiores por meio do

formulário de atendimento inicial e dos fluxos definidos pelo MAPA;

II - definição e interdição da unidade epidemiológica com casos confirmados de doença

vesicular;

III - colheita de material para diagnóstico laboratorial, acompanhada de avaliação

clínica e epidemiológica;

IV - realização de investigação epidemiológica inicial, considerando análise do trânsito

de animais susceptíveis; e

V - suspensão temporária do trânsito de animais e de produtos de risco oriundos de

propriedades rurais limítrofes ou com vínculo epidemiológico com a unidade epidemiológica onde

foram confirmados os casos de doença vesicular.

Art. 8º A interdição especificada no art. 7º desta Instrução Normativa compreende:

I - lavratura de auto de interdição, dando ciência do ato aos produtores rurais ou seus

representantes que possuam explorações pecuárias na unidade epidemiológica envolvida,

incluindo orientações quanto às medidas de biossegurança necessárias;

II - proibição de saída de animais susceptíveis ou não à doença e de quaisquer outros

produtos ou materiais que possam veicular o agente viral, assim como o trânsito de veículos e de

pessoas não autorizadas.

§ 1º No caso de impossibilidade de armazenagem do leite na unidade epidemiológica,

o serviço veterinário oficial decidirá e orientará sobre a destruição do leite no local, ou autorizará

o seu transporte, sob controle oficial e em meio de transporte apropriado, para o local mais

próximo onde se realizarão os procedimentos que assegurem a destruição do agente viral.

§ 2º As proibições contidas nos incisos deste artigo poderão ser substituídas por

medidas de biossegurança definidas pelo serviço veterinário oficial, resguardadas as garantias

zoossanitárias para impedir a difusão do agente viral.

§ 3º Para fins de investigação de casos suspeitos de doenças vesiculares, controle de

focos, realização de monitoramentos ou inquéritos para avaliação de circulação viral, ou outra

Page 65: Defesa Sanitária e Animal

64

atividade de importância para a erradicação da doença, o serviço veterinário oficial poderá

suspender temporariamente a vacinação contra a febre aftosa e a movimentação de animais da

exploração pecuária envolvida ou de regiões consideradas de risco sanitário.

9.3 AÇÕES EM UM FOCO CONFIRMADO DE FEBRE AFTOSA

Promover a declaração de emergência sanitária no nível nacional.

1) O foco deve ser declarado emergência nacional através da normativa legal

correspondente.

2) Elaborar e publicar os decretos e resoluções necessárias de apoio às atividades de

emergência.

3) Suspender as exportações de produtos de origem animal oriundos da região afetada

e os de risco eventual.

4) Informar, por meio do Ministro da Agricultura, a Presidência da República e convocar

o Comitê de Emergência Nacional ou Comitê de Crises, para coordenar e dar o apoio aos

serviços veterinários.

5) Estabelecer a alternativa a seguir de acordo com o Plano de Contingência,

considerando-se que os períodos de tempo que devem transcorrer antes de poder solicitar a

restituição do status dependerão da alternativa que se tenha adotado (Artículo 2.2.10.7. do

Código Terrestre.) (19). A OIE reconhece quatro estratégias possíveis:

5.1. Sacrifício de todos os animais clinicamente afetados e de todos os animais

suscetíveis em contato com eles;

5.2. Sacrifício de todos os animais clinicamente afetados e de todos os animais

suscetíveis em contato com eles; vacinação dos animais que apresentam risco e sacrifício

consecutivo dos animais vacinados;

Page 66: Defesa Sanitária e Animal

65

5.3. Sacrifício de todos os animais clinicamente afetados e de todos os animais em

contato com eles, e vacinação dos animais que apresentam um risco, sem sacrifício consecutivo

de todos os animais vacinados;

5.4. Vacinação sem sacrifício dos animais afetados nem sacrifício consecutivo dos

animais vacinados.

6) Convocar imediatamente os integrantes do SINAESA central.

7) Dispor dos recursos humanos, materiais e financeiros na emergência.

8) Iniciar o programa de comunicações sistemáticas previsto durante a emergência.

9) Prover de dados epidemiológicos precisos todos os níveis para:

9.1. Informar a população geral;

9.2. Informar e instruir o setor pecuário;

9.3. Informar e instruir a indústria pecuária;

9.4. Promover a cooperação na emergência.

10) Será realizada a reformulação ou confirmação da quarentena estabelecida

anteriormente, quando a presença de febre aftosa é confirmada, com reformulação e/ou

ratificação das barreiras sanitárias iniciais.

11) Será assegurado o cumprimento dos termos, com a participação da força pública e

da segurança, durante as 24 horas do dia, até o cessar das medidas.

9.4 ATUAÇÃO NA REGIÃO DO FOCO

Depois dos procedimentos descritos acima, vamos trabalhar a região focal

propriamente dita, mas primeiramente vamos entender os termos comumente utilizados.

Page 67: Defesa Sanitária e Animal

66

Fig.14 – Regiões do Foco

FONTE: PNEFA – Disponível em: <www.agricultura.gov.br>. Acesso em: 25/10/2009.

Page 68: Defesa Sanitária e Animal

67

10 MEDIDAS SANITÁRIAS NA ZONA AFETADA

10.1 INTERDIÇÃO DE PROPRIEDADES

10.1.1 Interdição de todas as propriedades da área afetada

Lavrar o documento que declara a interdição das propriedades e dar as

instruções apropriadas para prevenir a difusão da enfermidade.

Imobilização interna, na propriedade com a suspeita da enfermidade, dos grupos

de animais afetados, no mesmo lugar em que se encontrem.

De acordo com as disposições sanitárias vigentes, restringir a saída da

propriedade afetada de pessoas e/ou elementos que possam veicular o vírus a outras

propriedades ou lugares com animais suscetíveis a enfermidades vesiculares, sem a autorização

correspondente.

Ordenar que não se admitam visitas de pessoas de outras propriedades

pecuárias ou daquelas que, por seu trabalho, percorrem lugares com animais: inseminadores,

inspetores de registros genealógicos, controladores e coletores de leite, comerciantes e outros.

Para os estabelecimentos produtores de leite, estes deverão comunicar o fato

imediatamente à Planta Receptora (em forma oral e escrita, com registro de constância, mês, dia

e hora de tal comunicação), para que se adotem as medidas no circuito de coleta e na planta,

devendo ter presentes as Alternativas do Plano de Contingência.

Ao sair da propriedade afetada, regressar diretamente à base de operações,

sem deter-se a visitar qualquer lugar onde existam animais suscetíveis a enfermidades

vesiculares, não podendo visitar outros prédios até o término de 72 horas.

Comunicar detalhadamente ao superior imediato a novidade sanitária em sua

jurisdição. Isso não invalida a necessidade que, de acordo com a circunstância, use seu critério

profissional para atuar de acordo com as leis do país.

Page 69: Defesa Sanitária e Animal

68

11 JUSTIFICATIVAS DAS RESTRIÇÕES NAS ZONAS DEFINIDAS

Os animais de espécies suscetíveis a enfermidades vesiculares, infectados pelo vírus,

seja em estado de incubação, seja com sintomatologia clínica, representam os meios mais

comuns de transmissão da enfermidade.

Portanto, é a principal medida de controle o impedimento de movimentação de animais

de uma área afetada ou, na sua impossibilidade, restringi-lo e condicioná-lo a controles estritos

por parte do serviço oficial, enquanto durem as medidas de interdição da área afetada.

11.1 SACRIFÍCIO DE ANIMAIS

O sacrifício dos animais enfermos e seus contatos têm como objetivo circunscrever, in

situ, a principal fonte de vírus e sua difusão, o que deve ser realizado no menor tempo possível e

dentro das práticas determinadas de bem-estar animal descritas pela OIE.

11.2 DESTINO DAS CARCAÇAS

Todos os produtos que se obtenham dos animais sacrificados são considerados

infectados e devem ser submetidos a tratamentos apropriados para destruir possíveis vírus

residuais.

As carnes, em particular, deverão ser tratadas conforme o disposto pelo Código

Terrestre no Anexo 3.6.2, artículo 3.6.2.1. (19), quando não sejam destruídas por enterramento

ou incineração.

Page 70: Defesa Sanitária e Animal

69

11.3 MEDIDAS EM CONCENTRAÇÃO DE ANIMAIS

Na zona afetada ficam proibidas qualquer concentração de animais suscetíveis (feiras,

leilões, exposições), por determinação da autoridade sanitária competente, por períodos que

sejam necessários.

11.4 EVOLUÇÃO GEOGRÁFICA DO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DE ZONA LIVRE DE

FEBRE AFTOSA NO BRASIL

Page 71: Defesa Sanitária e Animal

70

11.5 PLANO HEMISFÉRICO DE ERRADICAÇÃO DA FEBRE AFTOSA (PHEFA)

A febre aftosa foi relatada no Brasil em 1895 após sua descrição na Argentina e

Uruguai, coincidindo com a importação sistemática de reprodutores bovinos de raças europeias

no surgimento da indústria frigorífica. As importações ocorreram desde a colonização, mas só

apareceu a febre aftosa após a doença afetar os rebanhos da Península Ibérica no final do

século XIX. A ocorrência da doença contribuiu para a criação, em 1909, do MAPA. Em 1950

foram estabelecidas as normas de profilaxia da doença.

A década de 60 teve como marco a institucionalização da campanha de combate à

febre aftosa, primeiro programa de luta contra a doença, envolvendo o Banco do Brasil com linha

de crédito àqueles que adotassem as ações preconizadas. Paralelamente ocorreu a implantação

de infraestrutura laboratorial, o treinamento de pessoal e a conscientização dos produtores,

iniciando-se o controle sistemático da doença com a produção de vacina, notificação de focos e

diagnóstico da doença.

Na década de 70 foi implantado o sistema de informação, que revelou maior número

de focos em razão da vigilância e capacidade de identificação mais apurada.

O marco da década de 80 foi a redução dos focos, com ênfase na caracterização dos

ecossistemas e estrutura de produção como determinantes da doença. Esses estudos e as

novas exigências internacionais relacionadas ao processo de globalização implantadas no início

dos anos 90 resultaram em maior apoio ao programa.

Nos anos 90 destaca-se a implantação da política de erradicação com regionalização

das ações e meta de país livre, que objetivava que o Brasil estaria livre da Aftosa em 2005.

Em outubro de 2005, no Sul de Mato Grosso do Sul, nos municípios da região de

fronteira com o Paraguai (Mundo Novo, Eldorado e Japorã) foram debelados focos da

enfermidade, retardando desta forma a tão almejada erradicação da Febre Aftosa.

Como os micro-organismos não conhecem e não respeitam as divisas entre os países

é lógico e sensato que haja planos de ordem internacional para controle e erradicação de

enfermidades com grande poder de difusão como é o caso da Febre Aftosa.

Page 72: Defesa Sanitária e Animal

71

A Febre Aftosa é uma enfermidade altamente contagiosa, que desde sua introdução no

Continente em 1870 originou enormes danos à pecuária das Américas, tanto em perdas diretas

de carne e leite ocasionando menor disponibilidade de alimentos de origem animal para a

população, afetando os níveis de vida do habitante rural, restringindo a comercialização interna e

entre os países da região, assim como a opção de colocar excedentes de produção nos

mercados mundiais.

Estes aspectos são ainda mais relevantes ao considerar-se que na região encontra-se

a maior pecuária comercial do mundo, com capacidade de abastecer grande parte da demanda

mundial de proteína animal.

Ainda assim, a presença da febre aftosa na região representa um risco permanente,

em especial para os países e zonas declaradas livres, considerando as características do

intercâmbio, em termos do movimento de bovinos e transporte de produtos de origem animal,

assim como aqueles advindos dos constantes incrementos do turismo entre os países do

continente.

Desde a criação do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (PANAFTOSA –

OPAS/OMS), em 1951, desenvolveu-se uma ação permanente de investigação, planejamento,

transferência de conhecimento, capacitação e avaliação de estratégias sanitárias para o

combate da enfermidade, o que permitiu importantes avanços em matéria de diagnóstico,

controle e produção de vacinas, conhecimento epidemiológico sobre a forma de apresentação da

doença e dos fatores associados a sua ocorrência, implicando na elaboração do Plano

Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa (PHEFA) que orientou desde 1988 os Programas

Nacionais de Controle e Erradicação da enfermidade.

11.6 PLANO DE AÇÃO PARA O PLANO HEMISFÉRICO DE ERRADICAÇÃO DA FEBRE

AFTOSA NAS AMÉRICAS (PHEFA 2005-2009)

Page 73: Defesa Sanitária e Animal

72

11.7 PROPÓSITO DO PROJETO

Cumprir com os objetivos e metas do Plano Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa

(PHEFA), alcançando a eliminação da enfermidade no Continente Americano, em um prazo máximo

de cinco (5) anos a partir de 2005, fortalecendo e complementando os esforços que se desenvolvem

por meio dos programas nacionais de prevenção e erradicação da enfermidade no marco do PHEFA,

aprovado pelos países do continente em 1988.

11.8 ESTRATÉGIAS

11.8.1 Bases e Aspectos críticos

A estratégia do projeto considera como marco central as seguintes bases e aspectos

críticos:

Desenvolvimento de um processo permanente de caracterização dos fatores

associados aos diferentes ambientes nos quais a febre aftosa se mantém com características de

endemismo, como foi identificado no prognóstico,

Desenvolvimento de estratégias específicas de intervenção nos ditos ambientes

para eliminar o endemismo, no marco dos critérios estabelecidos pelo PHEFA,

Aplicação de critérios científico-técnicos para verificar o progresso na erradicação da

enfermidade, fundamentados em uma eficiente vigilância epidemiológica, verificações de terreno e

aplicação de provas diagnósticas, assim como de instalações que manipulem vírus, em todo o

continente,

Estabelecimento de instâncias independentes e imparciais para a revisão e

apreciação do progresso nesta etapa de erradicação, como é o caso da Comissão Hemisférica

de Erradicação da Febre Aftosa, (COHEFA) e da Reunião Inter-Americana de Ministros de

Saúde e Agricultura (RIMSA).

Page 74: Defesa Sanitária e Animal

73

11.8.2 Critérios Centrais

Com base nos documentos disponíveis em PANAFTOSA – OPAS/OMS e os gerados

no marco da Conferência de Houston se estabeleceram os seguintes critérios de ação prioritária:

- Fortalecer o sistema de informe de ocorrência de febre aftosa;

- Fortalecimento da rede de Laboratórios de Diagnóstico, com ênfase no diagnóstico

diferencial;

- Criação de bancos de vacina e/ou antígeno;

- Melhoramento dos sistemas de prevenção/resposta às emergências;

- Caracterização epidemiológica da presença e/ou ausência de vírus C

Aplicaram-se nas zonas críticas identificadas, um conjunto de ações especificamente

desenhadas para interromper a cadeia epidemiológica da enfermidade, das quais as mais

importantes centralizam-se: no aumento do nível imunitário da população, com vacinas

epidemiologicamente adequadas produzidas em condições de biossegurança, na mitigação do

risco de trânsito e comercialização de animais suscetíveis, nos sistemas de informação e vigilância,

nos sistemas de prevenção, nos sistemas de detecção precoce e o diagnóstico clínico e de

laboratório em condições de biossegurança adequados, incluindo o diagnóstico diferencial, junto à

execução nas zonas de ações de educação sanitária, comunicação social e capacitação.

Essas estratégias se completarão com os critérios que expostos a continuação:

11.8.3 Caracterização Regional de Risco

Com base ao anterior a estratégia está dirigida em primeiro término em quebrar às

condições de endemismo, fundamentada em um critério de caracterização regional de risco de

apresentação da febre aftosa, em base à situação atual em que, dada à intervenção dos

sistemas de atenção veterinária existentes, realizados durante a execução dos programas

Page 75: Defesa Sanitária e Animal

74

nacionais e aos quinze anos de aplicação do PHEFA se identificam zonas onde persistem

condições de endemismo, associadas às características produtivas predominantemente

extrativo-extensivas e precárias condições de manejo. Nas ditas zonas coexistem debilidades

estruturais dos sistemas de atenção veterinária, assim como condições de trânsito de pessoas,

transporte de animais e produtos de origem animal, manipulação de vírus sem medidas de

biossegurança que incrementam notoriamente os riscos de apresentação e disseminação da

enfermidade. Estas zonas são basicamente as seguintes:

A zona do Chaco Boliviano, Paraguaio e norte da Argentina;

Zonas do Equador e Venezuela;

Zona norte da Bolívia e “nor-oriental” do Paraguai, fronteiras com Brasil;

Zonas de risco desconhecido nos estados do norte do Brasil.

Adicionalmente, devem ser consideradas como zonas ou áreas de preocupação as

Zonas bi ou tri nacionais da Fronteira no Cone Sul, Área Andina e Amazônia, que se assinalam a

continuação, em particular pelas características culturais de intercâmbio nas referidas áreas:

Argentina-Brasil-Uruguai; Zona “nor-oriental” do Paraguai e estados de Paraná e

Mato Grosso do Sul do Brasil; Zona de fronteira do “sudoeste” do Paraguai e o norte de Formosa

na Argentina; Bolívia-Chile e Peru; Peru-Equador; Equador-Colômbia; Colômbia-Venezuela

(Llanos e Costa Atlântica); Brasil-Venezuela-Guiana; Brasil-Colômbia.

Com o propósito de diferenciar o risco epidemiológico que existe naqueles territórios do

continente que ainda não alcançaram a designação de livres sem ou com vacinação segundo os

critérios da OIE, foram estabelecidos três (3) níveis de função do grau de avanço de seus

programas, tomando como unidade de trabalho as unidades territoriais definíveis, entendidas estas

como a primeira divisão político-administrativa de cada país.

As categorias propostas para esta classificação são as seguintes:

1. Livre: livre sem vacinação (de acordo com a definição da OIE sobre o assunto);

2. Livre com vacinação (de acordo com a definição da OIE sobre o assunto);

3. Nível 1: Área de baixo risco;

4. Nível 2: Área de risco intermediário;

5. Nível 3: Área de risco alto ou desconhecido.

Page 76: Defesa Sanitária e Animal

75

Elaborou-se para tal fim, um conjunto de parâmetros e uma matriz de classificação

destes níveis, que se inclui a continuação e também no Anexo No. 1, referente ao Informe do

Subgrupo do Plano de Ação do GIEFA (Bogotá-Colômbia, Julho 21 a 23, 2004).

Tabela de Caracterização dos Programas de Erradicação da Febre Aftosa

PARÂMETROS DE

CARACTERIZAÇÃO

NÍVEIS DO PROGRAMA (RISCO)

1. Baixo 2. Intermediário 3. Alto ou

Desconhecido

Política Sanitária Controle-

Erradicação

Erradicação Controle

adequado

Controle Mínimo

(ou não existente)

Características da produção Conhecida e

atualizada

Conhecida Pouco conhecida

Características epidemiológicas

da área

Conhecida e

atualizada

Conhecida e

atualizada

Conhecimento

deficiente

Sistemas de atenção veterinária Efetiva Boa Deficiente

Participação social Efetiva Boa Deficiente ou

ausente

Sistema de vigilância Efetiva Boa Deficiente ou

ausente

Casos clínicos Ausência >2

anos

Ausência <2

anos ou

presença

ocasional

Presença alta e/ou

recorrente

Cobertura vacinal >90% >80%, <90% <80%

Controle/fiscalização de

movimentos

Efetivo Bom Deficiente

Page 77: Defesa Sanitária e Animal

76

Programa de prevenção Efetivo Bom Deficiente

11.8.4 Ação Conjunta

Reitera-se mesmo assim a necessidade da ação conjunta, e em particular a tomada de

decisões importantes que exijam a participação de mais de um país (sistema de atenção

veterinária) em forma coordenada e com a participação de todos os envolvidos, com a presença

permanente do setor privado, para o qual se deve reforçar e estimular todas as instâncias

regionais e sub-regionais de cooperação e coordenação:

- RIMSA;

- COHEFA;

- Comissão Sul Americana de Luta contra a Febre Aftosa (COSALFA);

- Comitê Norte Americano de Saúde Animal (NAFTA);

- Organização Internacional Regional de Saúde Agropecuária (OIRSA);

- Comitê Veterinário Permanente (CVP);

- Convênio de Saúde Animal da Bacia do Prata (Bacia do Prata);

- Comitê de Diretores de Saúde Animal da Área Andina;

- Comitês de Convênios de Fronteiras, etc.

Ainda assim, se pede fortalecer a colaboração dos organismos internacionais de

cooperação em matéria de saúde animal, tanto entre eles como com os países que os integram.

11.8.5 Complementaridade aos Programas Nacionais

O projeto propõe como essencial à necessidade de fortalecer e complementar as

ações e esforços que se desenvolvem por meio dos programas nacionais de controle e

erradicação da Febre Aftosa, para cujo efeito se estima imprescindível que os níveis políticos, as

Federações e Associações de produtores pecuários, e demais integrantes da cadeia pecuária,

Page 78: Defesa Sanitária e Animal

77

renovem o compromisso de fortalecer estes programas nacionais e de respeito, aporte

pecuniário e participação nas decisões técnicas, para a erradicação da enfermidade.

Este critério de complementaridade permitirá estabelecer a contrapartida do projeto, em

base os recursos que cada um dos países da região destina os seus próprios programas nacionais

de prevenção e erradicação da enfermidade.

Neste ponto deve se mencionar a imprescindível necessidade de estabelecer, com

base em contratos e subcontratos definidos no capítulo de Execução do projeto, os

compromissos que devem adquirir, tanto os países e zonas que farão uso dos recursos do

projeto, como daqueles que sem fazer uso dos mesmos devem avançar com seus próprios

meios para a consecução do objetivo de erradicação planteado no PHEFA.

11.8.6 Valores

Ainda assim, a estratégia de ação do projeto considera como essenciais a aplicação

dos valores de Transparência, em particular a respeito do aporte de informações oportunas e

rapidamente disponíveis sobre a situação da enfermidade e/ou daquelas confundíveis, em um

determinado território, assim como sobre os aspectos que influem em sua apresentação e de

outros parâmetros relevantes ao desenvolvimento dos projetos (ex. Biossegurança dos

Laboratórios de Diagnóstico e Produtores de Biológicos e de diagnóstico), no qual o processo de

Auditorias cumprirá um rol essencial; de Solidariedade e Equidade, em termos de contribuir e

colaborar horizontalmente com aqueles países ou zonas com menores recursos, considerando

ainda que sejam aqueles em que a obtenção de benefícios é menor e mais lenta; a de

Fundamento Científico Técnico, para que todos os integrantes do sistema de atenção

veterinária (serviço oficial e agente privado) respaldem e apoiem as decisões técnicas sem a

sobreposição de outros critérios. Estes valores são considerados essenciais para a

concretização das metas estabelecidas e para garantir o aporte e fluxo dos recursos

internacionais públicos ou privados destinados ao programa de erradicação.

Page 79: Defesa Sanitária e Animal

78

11.8.7 Marco Normativo Internacional

O projeto se insere no marco normativo internacional, tanto no que se refere às normas

e procedimentos estabelecidos no Código Sanitário dos Animais Terrestres e no Manual de

Provas de Diagnóstico e Vacinas para Animais Terrestres da Organização Mundial de Sanidade

Animal (OIE), como no que corresponde ao Acordo Sanitário e Fitossanitário da Organização

Mundial do Comércio (OMC).

11.8.8 Investigação e Desenvolvimento

Neste ponto é importante destacar a necessidade da continuidade do processo de

investigação e desenvolvimento que está sendo desenvolvido por alguns países, pelo Centro

Panamericano de Febre Aftosa – OPAS/OMS, assim como por outros Centros de excelência no

Canadá e Estados Unidos, e inclusive incentivar estes processos, dentro do marco das

legislações nacionais, considerando que estamos nas etapas finais do processo de erradicação

da enfermidade.

O intercâmbio de materiais entre centros de investigação deve ser feito sempre

atendendo os regulamentos nacionais e internacionais para manter a integridade de informação

e a biossegurança requerida.

Propõe-se a criação de um Fundo especial para Investigação e Desenvolvimento que

será gerenciado pelo GIEFA tanto na obtenção de doadores como no estabelecimento de linhas

de investigação específicas e as formas de aplicação.

Page 80: Defesa Sanitária e Animal

79

12 OBJETIVOS ESPECÍFICOS OU COMPONENTES

12.1 INTERVENÇÃO EM ÁREAS DE PERSISTÊNCIA DA FEBRE AFTOSA E COM

DEBILIDADES ESTRUTURAIS E OPERACIONAIS

Como assinalado no prognóstico, às zonas nestas condições são basicamente as

seguintes: a) a Zona do Chaco Sul-Americana; b) Zonas do Equador e Venezuela; c) zona norte

da Bolívia e nor-oriental do Paraguai, fronteiras com Brasil, e d) a Zona de Risco Desconhecido

dos Estados do Norte do Brasil, onde além de ocorrer nos últimos anos a presença de febre

aftosa, observa-se que os sistemas de atenção veterinária, integração real do setor público e

agente privados, ainda não se estabeleceram totalmente e persistem definições incompletas das

respectivas funções.

Consequentemente, os aspectos estritamente técnicos a considerar para a erradicação

da enfermidade são os mencionados a continuação:

Cadastro atualizado de criadores e efetivos da pecuária;

Vacinação sistemática duas vezes ao ano de 100% dos bovinos, com vacina de

composição e qualidade comprovadas, de acordo com as recomendações da OIE sobre o

assunto;

Controle oportuno e eficiente de 100 % dos focos;

Coleta e envio de amostras da totalidade dos eventos de enfermidade vesicular

detectados;

Remissão, para efeito de Referência, das cepas relevantes detectadas no

campo, aos laboratórios da rede e à PANAFTOSA – OPAS/OMS mantendo as contra amostras

respectivas;

Investigação epidemiológica e análise de 100% das amostras dos eventos

detectados, realizando o diagnóstico diferencial, nas condições de biossegurança que exige a

situação do país ou zona;

Sistema de vigilância epidemiológica e informação ativa, com cobertura das

áreas com pecuária;

Page 81: Defesa Sanitária e Animal

80

Controle eficiente do movimento de bovinos, sobre responsabilidade oficial;

Produção de vacinas adequadas1 obedecendo como mínimo os estándares

internacionais e condições de biossegurança que exige o avanço alcançado pelo Plano

Hemisférico de Erradicação.

Controle Oficial de 100% das partidas de vacinas produzidas.

Avanço na declaração de zonas livres de Febre Aftosa, com e sem vacinação,

de acordo com as normativas da OIE e em base a decisões coordenadas com os países

limítrofes.

Adicionalmente a ele faz-se imprescindível construir o sistema de atenção

veterinária, entendido este como a existência de um serviço oficial adequadamente estruturado,

flexível e com cobertura total do território, com a participação comprometida dos agentes da

cadeia produtiva pecuária e da comunidade, a clara definição das funções de cada um, assim

como a disponibilidade de recursos e capacidade operacional para desenvolver o programa

técnico definido.

Com base ao anterior, se estabelece a necessidade de que os países que se

encontram comprometidos pela condição assinalada neste capítulo, a saber, Bolívia, Equador,

Venezuela e Brasil, desenvolvam seus planos de trabalho e/ou incorpore em seu Projeto

Nacional de Erradicação da Febre Aftosa, o plano de ação pertinente, de acordo com o marco

que se inclui a continuação. Os custos derivados das atividades descritas incluem-se no

presente projeto, dada a importância que as mesmas têm para a consecução das metas

traçadas.

12.2 SISTEMA DE PREVENÇÃO DE ÁREAS LIVRES DE FEBRE AFTOSA

12.2.1 Objetivo

Manter a condição de zonas livres de Febre aftosa em territórios que não estão

afetados pela enfermidade, seja por estar erradicada ou por serem historicamente livres dela.

Page 82: Defesa Sanitária e Animal

81

12.2.2 Estratégia

Estabelecer um programa de prevenção da Febre aftosa nos territórios livres, com

participação do setor público e privado, que contemple ações de prevenção de introdução da

enfermidade, e no caso de eventual ingresso, detecção precoce da enfermidade e programa de

controle e erradicação emergencial. As ações de prevenção deverão ser desenhadas, em base a

estruturação de sistemas de vigilância de presença da FA a nível global e, com detalhe em

regiões e zonas epidemiologicamente relacionadas e as análises de risco de vulnerabilidade e,

receptividade de cada país ou zona livre.

Nestas áreas onde a participação do setor privado é ainda mais importante e, em

especial, nas zonas e países da América Central, que colidam com áreas onde ainda persiste a

enfermidade, é necessário impulsionar a coordenação entre o setor privado e o setor público

para a realização do presente programa.

12.2.3 Atividades

a. Sistema de vigilância da presença da Febre Aftosa extrafronteiras.

Montagem de um sistema de vigilância sobre presença de febre aftosa a nível mundial,

continental e regional para adequar as ações de prevenção, com a preparação do setor público e

do setor privado.

b. Análises de risco de vulnerabilidade e receptividade

Estabelecer o nível de risco de vulnerabilidade e receptividade dos territórios

jurisdicionais e da população bovina existente em cada uma das unidades de atenção veterinária

do país e zona livre.

c. Sistema de prevenção de ingresso.

Page 83: Defesa Sanitária e Animal

82

- Estabelecer requisitos sanitários de importações e trânsito de animais e produtos

animais de risco.

- Controle em postos de controle internacional de entrada e trânsito de carga,

passageiros e equipamentos acompanhados.

d. Sistema de detecção precoce e controle inicial.

Estabelecer e/ou fortalecer um sistema de atenção de notificação de suspeitas da

enfermidade vesicular que permita a rápida identificação da eventual ocorrência de FA, e

estabelecer as medidas iniciais de controle para evitar sua disseminação.

e. Sistema de erradicação emergencial.

Dispor de um sistema de intervenção e resposta emergencial frente à aparição da FA

em uma zona livre, que permita eliminar rapidamente a infecção e recuperar em curto prazo o

status de livre.

f. Elaboração de uma Matriz de Caracterização dos Programas de Controle da febre

aftosa em países ou zonas sem a enfermidade.

Elaborar entre técnicos do setor público e privado uma matriz de Caracterização dos

Programas de Controle da Febre Aftosa, baseados nas auditorias em cada país, que permita

definir o nível de risco de ingresso da enfermidade, tomando em conta o esforço de prevenção

de cada país.

Page 84: Defesa Sanitária e Animal

83

13 SANIDADE AVÍCOLA

Não há dúvidas de que o melhoramento genético tem proporcionado a indústria avícola

produzir e comercializar frangos com maior peso, melhor rendimento, maior conversão alimentar

em menor tempo, aumentando assim a produtividade e a lucratividade do ramo. Mas não

podemos esquecer que esses fatores são dependentes de outros não menos importantes, como:

nutrição, ambiente criatório, manejo nas diferentes fases do processo e, especialmente,

sanidade.

A modernização da avicultura industrial, incrementada principalmente pelas inovações

tecnológicas obtidas pelo setor privado, colocou o Brasil entre os maiores produtores no

mercado internacional de aves de corte. A importância econômica e social da avicultura

brasileira levou o Governo a procurar um planejamento adequado dos diferentes setores

relacionados a esta atividade comercial. Esta política teve como objetivo elaborar normas que

estabelecessem diretrizes de controle de doenças, possibilitando a aceitação dos produtos

nacionais no mercado internacional. Este posicionamento levou o Ministério da Agricultura e do

Abastecimento a instituir o PROGRAMA NACIONAL DE SANIDADE AVÍCOLA (PNSA). Este

programa sanitário de defesa animal compreende, entre outros aspectos, uma série de normas

para o controle da Influenza Aviária, da Doença de Newcastle, das Salmoneloses e

Micoplasmoses aviárias.

Page 85: Defesa Sanitária e Animal

84

14 O VÍRUS DA INFLUENZA AVIÁRIA

O Vírus da Influenza foi primeiramente isolado em 1901, entretanto ele não foi

identificado como influenza A até 1955. O Vírus da Influenza, família Orthomyxoviridae, gênero

Influenzavirus A (fig.15), é o agente etiológico de uma das mais importantes doenças em todo o

mundo, tanto para a população humana quanto para a avicultura industrial e seu diagnóstico

precoce em laboratórios credenciados é preconizado pelas autoridades sanitárias. A partícula

viral, com aproximadamente 100 nm, é envelopada e altamente pleomórfica. Seu genoma de

RNA fita simples possui oito segmentos, dos quais três codificam os principais antígenos HA

(H1-H16) e NA (N1-N9) que caracterizam os subtipos e para nucleoproteína (NP) que determina

o tipo.

Fig.15 - Micrografia eletrônica do vírus da Influenza Aviária

FONTE: Disponível em: <http://whataversity.wordpress.com>. Acesso em: 27/10/2009.

O vírus altamente virulento da Influenza Aviária causa a conhecida "fowl plague",

denominada de highly pathogenic avian influenza (HPAI), com índice de mortalidade próximo de

100%. Estes vírus têm se restringido aos subtipos H5 e H7, embora nem todos os vírus desses

subtipos causem HPAI. Estudos antigênicos e genéticos sugerem que as pandemias de 57 na

Ásia e 68 em Hong Kong foram causadas pela cepa de recombinação genética entre o vírus

aviário e humano (Guan et al. 1996). O VIA provoca doenças em animais marinhos, como

baleias, outros mamíferos também são acometidos por essa enfermidade, tais como suínos,

cavalos e humanos (Fig.16). Aves aquáticas e selvagens são consideradas os principais

Page 86: Defesa Sanitária e Animal

85

reservatórios naturais do VIA, estas aves são comumente assintomáticas, podem eliminar vírus

por longos períodos e podem estar ainda infectadas com mais de uma cepa.

Fig.16 - Distribuição dos subtipos de influenza nas diferentes espécies (adaptado)

FONTE: Disponível em: <http://www.bangkokpost.com/leisure/leisurescoop/21851/saving-for-the-world-of-tomorrow>. Acesso em: 27/03/2009.

Page 87: Defesa Sanitária e Animal

86

14.1 PATOLOGIA

Lesões macroscópicas da Influenza Aviária variam dependendo da patogenicidade do

vírus, tendo sido descritos edema de cabeça (Fig.17), hemorragias (Fig.18), vários tipos de

congestão (Fig.19), secreções e necroses. Vírus da Influenza Aviária e outros vírus Influenza A,

virulentos, produzem edema, hiperemia, hemorragia (Fig.20 e Fig.21) e focos perivasculares

envolvendo somente o miocárdio, baço, pulmões e cérebro, e, em menor extensão fígado e rins,

sinais de encefalite podem ocorrer devido ao avanço das lesões do sistema nervoso central.

Fig. 17 - Edema de cabeça e barbela provocados pelo VIA

FONTE: Disponível em: <www.cfsph.iastate.edu>. Acesso em: 27/03/2009.

Fig.18 - Hemorragia na traqueia Fig.19 - Congestão na musculatura

FONTE: Disponível em: <www.cfsph.iastate.edu>. Acesso em: 01/04/2009.

Page 88: Defesa Sanitária e Animal

87

Fig.20 - Pontos hemorrágicos no proventrículo Fig.21 - Hemorragia nos intestinos

FONTE: Disponível em: <www.cfsph.iastate.edu>. Acesso em: 01/04/2009.

14.2 DISTRIBUIÇÃO DO VIA

Em praticamente, todas as regiões do mundo têm sido descritos isolamentos de vírus

Influenza A (CDC, 2009) (Fig.22) a partir de espécimes, oriundas de aves selvagens que por

meio de migração (Fig.21) possibilitam à expansão da doença as áreas mais diversas do

planeta. A extensão pode variar de pequenos surtos focais até grandes epidemias mundiais ou

pandemias. Diversas cepas desse vírus foram isoladas simultaneamente, também de aves

ornamentais, domésticas ou de granjas nos vários continentes do mundo, mostrando uma larga

diversidade antigênica, com isolamento relacionado ou não a quadros clínicos.

Fig.22– Migração de aves selvagens

FONTE: Disponível em: <http://www.bonitobrazil.com.br/fotos/noticias/exp_647_0.jpg>. Acesso em: 01/04/2009.

Page 89: Defesa Sanitária e Animal

88

Fig.23 - Distribuição mundial do vírus da gripe aviária H5N1 em aves e humanos

FONTE: Disponível em: <www.cdc.gov/flu/avian>. Acesso em: 01/04/2009.

14.3 EPIDEMIOLOGIA DO VIA

Slemons et al em 1974 foi o primeiro a achar que patos selvagens (Fig.9),

aparentemente saudáveis, poderiam eliminar vírus nas fezes. Estudos longitudinais em patos

selvagens no Canadá estabeleceram que o vírus da influenza A tem se propagado em aves

aparentemente saudáveis. Cada um dos nove subtipos de neuraminidases (NA) e dos 16

subtipos de hemaglutininas do vírus influenza tem sido isolado de patos selvagens e de outras

aves, principalmente aquáticas. No hemisfério norte os vírus influenza que acometem os patos

selvagens são predominantemente encontrados nos meses de agosto a setembro e no

hemisfério sul de novembro a março. As aves são infectadas ainda jovens e disseminam o vírus

por meio da migração, e acima de 30% das aves disseminam o vírus durante todo o ano por

meio das fezes. Apesar de certos tipos de influenza predominarem em patos selvagens, em

particular os migratórios, pode haver grandes variações genéticas de vírus de ano para ano. O

vírus da influenza se apresenta apatogênico nos patos selvagens devido a adaptação do vírus

neste hospedeiro por centenas de anos, e assim o vírus conseguiu perpetuar não causando

danos a esses animais. Essa ideia é confirmada pelos estudos filogenéticos dos genes do vírus

influenza, que sugerem que aves marítimas migratórias representam o reservatório de todos os

vírus da influenza A. O que caracteriza que esse animal tem grande importância na

epidemiologia do vírus.

Page 90: Defesa Sanitária e Animal

89

Fig.24 - Patos selvagens

FONTE: Disponível em: <http://img166.imageshack.us/i/z1as9.jpg/#q=wild%20ducks>. Acesso em: 01/04/2009.

14.4 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico convencional de infecção pelo Vírus da Influenza A é baseado em

isolamento e caracterização sorológica. Porém, para tipificação sorológica é necessária a

utilização de soros específicos para as 16 variantes de HA e 9 de NA, etapa indispensável,

embora exaustiva, para a identificação da amostra viral. Com as inovações da tecnologia

molecular, como técnica alternativa, a amplificação das regiões codificadoras da glicoproteínas

de envelope HA e NA, seguida do sequenciamento nucleotídico, pode caracterizá-las com

melhor eficiência. Caracterização molecular de amostras do VIA vem sendo realizada como

alternativa para metodologia clássica. A partir de amostras virais cultivadas ou espécimes

clínicos, procede-se à amplificação molecular pela técnica de RT-PCR, seguida do

sequenciamento nucleotídico. Para esta finalidade, a região genômica codificadora da proteína

HA é utilizada, caracterizando os Influenzavírus. Por meio do sequenciamento nucleotídico,

pode-se caracterizar a variante molecular e, por conseguinte, tipar o novo isolado viral.

Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), a influenza aviária de

notificação obrigatória é uma infecção em aves comerciais causada por qualquer vírus da

influenza do tipo A, pertencente ao subtipo H5 ou H7, ou ainda por qualquer vírus de influenza

aviária que apresente índice de patogenicidade intravenosa (IPIV) superior a 1,2 ou que seja

causador de mortalidade superior a 75%, conforme descrito abaixo. Os vírus de influenza aviária

Page 91: Defesa Sanitária e Animal

90

de notificação obrigatória são divididos em duas categorias, onde podem ser de alta ou baixa

patogenicidade, conforme descrito a seguir:

a) Os vírus de influenza aviária de alta patogenicidade de notificação obrigatória têm

um IPIV superior a 1,2 em frangos de seis semanas de idade, ou causam mortalidade de 75%

em frangos de quatro a oito semanas de idade, infectados por via intravenosa.

b) Os vírus de influenza aviária dos subtipos H5 e H7 devem ser seqüenciados no sítio

de clivagem da molécula hemaglutinina (HA0). Neste caso, se houver identificação de múltiplos

aminoácidos básicos, outro indicativo de virulência, será considerado vírus influenza aviária de

alta patogenicidade de notificação obrigatória.

c) Os vírus de influenza aviária de baixa patogenicidade de notificação obrigatória são

todos os vírus da influenza do tipo A, pertencentes aos subtipos H5 ou H7, que não são vírus de

influenza aviária de alta patogenicidade de notificação obrigatória.

Ainda de acordo com o Código Sanitário para Animais Terrestres da OIE, aves

comerciais (ou de criação) são “todas as aves domésticas utilizadas para produção de carne e

ovos para consumo humano e outros produtos comerciais, para o repovoamento de aves de

caça ou para a reprodução de todas essas categorias de aves.”

A ocorrência de infecção pelos vírus de influenza aviária de notificação obrigatória é

demonstrada nos seguintes casos:

a) isolamento e identificação de vírus de influenza aviária de alta ou baixa

patogenicidade, de declaração obrigatória, ou a detecção do RNA viral específico deste tipo de

vírus influenza, em aves comerciais ou em um produto derivado; ou

b) detecção, em aves comerciais, de anticorpos contra os subtipos H5 ou H7 do vírus

da influenza aviária de declaração obrigatória, que não sejam consecutivos a uma eventual

vacinação.

No caso de resultados positivos esporádicos, a infecção pode ser descartada mediante

investigação epidemiológica completa, na qual não sejam demostradas outras evidências de

infecção.

Page 92: Defesa Sanitária e Animal

91

15 O VÍRUS DA DOENÇA DE NEWCASTLE (VDN)

O Vírus da Doença de Newcastle (VDN) (Fig.25), família PARAMYXOVIRIDAE, gênero

Avulavirus, é o agente etiológico de uma das mais importantes doenças na Avicultura Industrial e

seu diagnóstico de rotina em laboratórios oficiais é preconizado pelas autoridades sanitárias. A

partícula viral, com aproximadamente 150 nm, é envelopada e altamente pleomórfica. Seu

genoma de RNA fita simples, 15 Kb, codifica seis proteínas e está contido em um capsídeo de

simetria helicoidal. Nove sorotipos de paramixovírus aviários são descritos. As amostras do VDN

pertencem ao sorotipo 1 e apresentam pequena variação antigênica.

Fig.25 – Micrografia eletrônica do VDN

FONTE: Disponível em: <http://www.pnas.org/content/103/21/8197/F4.expansion.html>. Acesso em: 01/04/2009.

15.1 SITUAÇÃO DO VDN NA AVICULTURA INDUSTRIAL

A modernização da Avicultura Industrial, incrementada principalmente pelas inovações

tecnológicas obtidas pelo setor privado, colocou o Brasil entre os maiores produtores no

mercado internacional de aves de corte. A importância econômica e social da Avicultura

Brasileira levou o Governo a procurar um planejamento adequado dos diferentes setores

relacionados a esta atividade comercial. Esta política procurou elaborar normas que estabeleçam

diretrizes de controle de doenças, possibilitando a aceitação dos produtos nacionais nos

mercados mundiais. Este posicionamento levou o Ministério da Agricultura a instituir o

PROGRAMA NACIONAL DE SANIDADE AVÍCOLA (PNSA). Este programa de defesa animal

Page 93: Defesa Sanitária e Animal

92

compreende, entre outros aspectos, uma série de normas para o controle da Doença de

Newcastle, Influenza Aviária, Salmoneloses e Micoplasmoses Aviárias.

15.2 A DOENÇA DE NEWCASTLE

A Doença de Newcastle tem sido identificada na maioria das espécies de aves

silvestres e domésticas no mundo todo. Infecções experimentais e naturais sugerem que o vírus

é usualmente transmitido por aerossóis para o trato respiratório ou alimentar. O VDN é

considerado um dos patógenos mais importantes na avicultura e amostras lentogênicas como a

Hitchner B1, La Sota ou Ulster têm sido largamente empregadas como vacinas, no controle da

Doença de Newcastle. As vacinas vivas apresentam baixo custo de produção e podem ser

aplicadas pelas vias naturais de entrada da infecção (trato respiratório e alimentar). A vacinação

ativa a imunidade respiratória local e sistêmica, induzindo a proteção após três dias da

inoculação, dependendo da via de inoculação. Um dos problemas associados ao uso de

algumas amostras vacinais vivas é a interferência da imunidade maternal com o estabelecimento

da proteção pós-vacinal. Neste caso, a vacinação não protegerá contra a doença, resultando em

mortalidade de aves jovens, derivadas de matrizes vacinadas. No sentido de eliminar-se este

problema, vacinas recombinantes têm sido desenvolvidas. A vacinação de aves em todo o

mundo também dificulta o estudo da distribuição geográfica do vírus da Doença de Newcastle.

15.3 PATOGENIA

Amostras de VDN causam quadros clínicos altamente variáveis, quanto à

sintomatologia e severidade de lesões. A heterogeneidade entre as amostras de campo e

amostras de laboratório do VDN é reconhecida desde os anos 60. Experimentalmente,

subpopulações virais, distinguíveis pela morfologia da placa de lise em cultura de células, são

comumente observadas. Estas subpopulações virais podem diferir entre si em patogenicidade,

Page 94: Defesa Sanitária e Animal

93

em afinidade de ligação com anticorpos monoclonais e em outras propriedades físicas e

biológicas. Estas observações podem ser associadas à grande diversidade de isolados e

amostras virais de VDN conhecidas, que podem induzir a enormes diferenças quanto à

severidade das lesões em um mesmo hospedeiro, como as galinhas domésticas. Amostras de

VDN podem produzir quadros clínico-patológicos que variam entre a mortalidade aguda

acompanhada de lesões hemorrágicas a infecções respiratórias e entéricas inaparentes. Na

tentativa de simplificar esta matéria, uma classificação baseada em sinais clínicos em galinhas

define 5 “patotipos”. A caracterização da patogenicidade de um novo isolado de VDN durante

muito tempo foi baseada na extensão dos sinais clínicos, lesões e mortalidade em galinhas

inoculadas e ovos embrionados, como se observa na classificação em “patotipos”, abaixo:

Forma viscerotrópica velogênica - infecções agudas e letais em galinhas de todas as

idades com lesões hemorrágicas no trato digestivo.

Forma neurotrópica velogênica - infecções agudas, quase sempre fatais em aves de

todas as idades. Caracteristicamente são observados sinais neurológicos e respiratórios graves.

Forma mesogênica - infecções menos patogênicas com mortes apenas em aves

jovens.

Forma lentogênica - infecções brandas ou inaparentes do trato respiratório cujas

amostras são frequentemente utilizadas como vacinas vivas.

Forma entérica assintomática - infecções intestinais apatogênicas causadas

geralmente por vírus lentogênicos. Mais recentemente a classificação mudou, podendo ser

observada no tópico “diagnóstico”.

15.4 DISTRIBUIÇÃO DO VDN

A distribuição mundial do VDN é dependente das tentativas de controle e erradicação

feitas em diversos países. Três panzootias da Doença de Newcastle ocorreram desde a primeira

Page 95: Defesa Sanitária e Animal

94

identificação da doença. Esta disseminação foi associada ao

comércio internacional de aves, principalmente psitacídeos e

pombos de corrida. Já foram estabelecidas infecções de VDN

em, pelo menos, 241 espécies de pássaros representando 27

das 50 ordens da Classe. É possível que todas as aves sejam

susceptíveis à infecção.

15.5 EPIDEMIOLOGIA DO VDN

Aves ornamentais e silvestres mantidas em cativeiro

(incluindo as de zoológicos), as aves criadas para consumo, tipo

“fundo de quintal”, plantéis comerciais, onde não ocorre à prática

da vacinação, e aves de vida livre são consideradas importantes na epidemiologia do VDN. Além

do comércio interno e externo legalizado, aves exóticas são comercializadas ilicitamente, em

grande escala, devido ao forte interesse econômico. Estas aves não vacinadas, eventualmente,

podem albergar amostras do VDN potencialmente perigosas para a Avicultura Industrial. De

forma que, uma pesquisa sorológica em amostragens destas aves, seguido de tentativas de

isolamento e caracterização de amostras de VDN, será de grande interesse no estudo da

Doença de Newcastle. Em síntese, considerando a epidemiologia deste vírus, que tem como

reservatório aves não vacinadas, torna-se necessária uma vigilância sanitária constante para a

eventual detecção de novas amostras virais patogênicas, que ameacem a produção da

Avicultura Industrial. Casos de infecções velogênicas em avestruzes e outras aves exóticas

importadas para o País corroboram com o contexto aqui exposto.

Page 96: Defesa Sanitária e Animal

95

15.6 DIAGNÓSTICO ETIOPATOGÊNICO DA DOENÇA DE NEWCASTLE

Segundo definição do Escritório Internacional de Epizootias (OIE), regulamentada pela

Portaria da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do MAPA n.º 183 de 08/11/94, o agente da

doença de Newcastle Velogênica é classificado como sendo: "Qualquer estirpe aviária do

paramixovírus tipo I, com Índice de Patogenicidade Intracerebral em pintos de 01 (um) dia (IPIC),

superior a 0,7 (cepa velogênica)". Uma vez que o VDN pode produzir quadros clínico-patológicos

altamente variáveis, o diagnóstico etiopatogênico deve ser, convencionalmente, baseado no

isolamento seguido da caracterização biológica da patogenicidade da amostra viral. De maneira

que, para a determinação etiopatogênica é indispensável à caracterização da patogenicidade do

novo isolado, por meio da inoculação em aves adultas, em condições controladas, já que é

possível a incidência de amostras apatogênicas do VDN, em aves apresentando quadros

clínicos semelhantes à Doença de Newcastle. Anticorpos monoclonais também têm sido

utilizados para diferenciação de amostras virais. Determinantes antigênicos caracterizados pelo

uso de anticorpos monoclonais têm sido empregados para agrupamento de isolados de VDN. A

estimativa da patogenicidade esperada de um novo isolado pode se basear na patogenicidade

caracterizada para outros membros do mesmo grupo antigênico. Tal avaliação, presentemente,

não pode substituir os testes biológicos de patogenicidade, mas pode ser utilizada, em conjunto

com outras informações, para justificar outras análises do isolado viral. De maneira que, a

inoculação em aves ou ovos embrionados susceptíveis deve ser feita para a determinação do

perfil de patogenicidade da amostra viral, mesmo considerando-se as dificuldades práticas

envolvidas.

15.7 SINTOMATOLOGIA CLÍNICA

Doença de Newcastle deve ser considerada, especialmente em lotes de frangos,

quando as taxas de morbidade e mortalidade são elevadas e os sintomas forem compatíveis

com a doença. Mortes inesperadas por vezes é o primeiro sinal. Não há lesões patognomônicas,

Page 97: Defesa Sanitária e Animal

96

no entanto, algumas lesões podem ser sugestivas, especialmente quando várias carcaças são

examinadas. Podem apresentar perda de apetite, severa desidratação, febre, tosse, espirros,

diarreia (normalmente esverdeada) (Fig.26), tremores, torcicolo (Fig.27), opistótono,

incoordenação motora, e em aves de postura, pode ocorrer queda na produção de ovos.

Fig.b26 – Diarreia Fig.27 – Torcicolo

FONTE: Disponível em: <http://partnersah.vet.cornell.edu/avian-atlas>. Acesso em: 01/04/2009.

FONTE: Disponível em: <www.daff.gov.au>. Acesso em: 01/04/2009.

15.8 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

O diagnóstico diferencial da doença de Newcastle na forma velogênica inclui outras

causas de septicemia, enterite, doenças respiratórias e/ou sinais neurológicos. Nas aves “fundo

de quintal”, essas doenças incluem cólera, a gripe aviária altamente patogênica, laringotraqueíte,

psitacose, micoplasmose, bronquite infecciosa, aspergilose, e problemas de manejo, tais como

falta de água, comida e alterações térmicas significantes.

Page 98: Defesa Sanitária e Animal

97

15.9 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Newcastle pode ser diagnosticada por isolamento de PMVA-1 a partir de aves

infectadas. Este vírus é geralmente recuperado pela inoculação de amostras clínicas (suabe de

traqueia ou cloaca) em ovos embrionados de galinha com 9-11 dias de incubação. Líquidos

alantoicos retirados dos ovos são testados para verificar se há atividade hemaglutinante e

quaisquer agentes que reagirem positivos são examinados pelo teste de inibição da

hemaglutinação (HI) com um soro padrão específico para PMVA-1.

Caracterização da patogenicidade dos isolados virais

A morte de embriões de galinha inoculados em menos de 60 horas, entre 60 e 90

horas e em mais de 90 horas de incubação pode classificar o isolado em velogênico,

mesogênico e lentogênico, respectivamente. Também serão realizadas caracterizações do

índice de patogenicidade intracerebral (ICPI) em pintos de um dia e patogenicidade intravenosa

(IVPI) em galinhas com seis semanas.

Page 99: Defesa Sanitária e Animal

98

16 MICOPLASMOSE AVIÁRIA

Mycoplasma gallisepticum (MG) é o Mycoplasma sp., mais importante

economicamente para as aves de produção. Infecções com esse patógeno podem causar

perdas econômicas siginificativas em granjas avícolas com doença respiratória crônica, redução

de a eficiência alimentar, diminuição do crescimento e da produção de ovos. As carcaças

enviadas ao abate também podem ser descartadas. Infecções com esse agente devem ser

notificadas ao serviço veterinário oficial. O MG já foi erradicado nas aves de produção de alguns

países, como é o caso dos Estados Unidos, mas mesmo lá ainda continua endêmico numa série

de outras espécies de aves.

16.1 ETIOLOGIA

A micoplasmose aviária pode ser causada por várias espécies de Mycoplasma sp.

(Fig.28) (família Mycoplasmataceae), incluindo o MG, M. synoviae, M. iowae. Infecções por MG

são comumente conhecidas como Doença respiratória crônica (DRC) de frangos. As estirpes

podem variar muito em relação ao seu grau de patogenicidade dependendo da espécie de aves

que é acometida.

Fig.28 – Colônia de Mycoplasma sp.

FONTE: Disponível em: <http://student.nu.ac.th/u46410908/Mycoplasma.jpeg>. Acesso em: 01/04/2009

Page 100: Defesa Sanitária e Animal

99

16.2 TRANSMISSÃO

MG é transmitido durante o contato direto entre as aves, bem como por meio fômites.

Propagação por aerossol ocorre em distâncias curtas e podem ser responsáveis pela

transmissão dentro de um plantel. MG também é transmitida verticalmente em ovos.

16.3 PERÍODO DE INCUBAÇÃO

Experimentalmente aves infectadas desenvolvem sintomas após 6 a 21 dias. Em

infecções naturais, o período de incubação é variável; aves infectadas podem ser assintomáticas

durante dias ou meses.

16.4 SINAIS CLÍNICOS

Infecções por MG variam de assintomáticas a graves, dependendo da estirpe

infectante e outros fatores. Outras infecções graves são observadas quando as aves estão

infectadas com o vírus da doença de Newcastle concomitantemente, vírus da bronquite

infecciosa, Escherichia coli e outros patógenos.

Frangos infectados geralmente desenvolvem sintomas respiratórios que podem incluir

tosse, espirros, descarga nasal e dispneia. Conjuntivite (Fig. 29) com um exsudato espumoso

ocular é comum em perus e ocorre ocasionalmente em frangos e em outras espécies de aves. A

produção é menor em plantéis infectados, com diminuição de peso, conversão alimentar e

produção de ovos. Os sintomas da MG se desenvolvem normalmente lentamente, bem como o

curso da doença pode ser prolongada. No entanto, doença respiratória aguda, por vezes ocorre

em aves jovens, especialmente perus.

Page 101: Defesa Sanitária e Animal

100

Fig.29 – Conjuntivite severa causada por MG

FONTE: Disponível em: <http://whyfiles.org/300bird_conserv/index.php?g=3.txt>. Acesso em: 05/04/2009.

16.5 LESÕES PÓS-MORTEM

Em casos simples nos frangos, as lesões costumam incluir leve sinusite, traqueíte e

aerosaculite (Fig.30). Se a galinha é infectada simultaneamente com E. coli, espessamento dos

sacos aéreos, acúmulos de exsudatos, pericardite fibrinopurulenta e peri-hepatite podem ser

vistos. Em perus, grave sinusite mucopurulenta pode ser encontrada.

Fig.30 – aparência turva dos sacos aéreos em frangos com sete semanas de vida

FONTE: Disponível em: <www.fao.org/docrep/003/t0756e/T0756E08.htm#ch7.2.4>. Acesso em: 05/04/2009.

Page 102: Defesa Sanitária e Animal

101

16.6 SALMONELOSE AVIÁRIA

A Salmonelose Aviária é causada por um grupo de bactérias do gênero Salmonella

(Fig.316). Cerca de 2.300 diferentes linhagens de salmonelas, foram identificados, e estes são

colocados em grupos chamados de "sorovares" com base nos seus antígenos ou substâncias

que desencadeiam a resposta imunológica pelo hospedeiro, tais como a produção de anticorpos

específicos para o antígeno. A Pulorose (S. pullorum) e o Tifo Aviário (S. gallinarum) são duas

enfermidades clássicas e distintas das aves de produção que têm recebido grande atenção

devido aos seus impactos econômicos.

Fig.31 – Micrografia eletrônica de uma Salmonella typhi

FONTE: Disponível em: <www.britannica.com/EBchecked/topic-art/460700/35251/Electron-micrograph-of-a-metal-shadowed-whole-cell-of-Salmonella>. Acesso em: 05/04/2009.

16.7 LEGISLAÇÃO APLICADA

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, DO ABASTECIMENTO E DA REFORMA AGRÁRIA

Page 103: Defesa Sanitária e Animal

102

PORTARIA Nº 193, DE 19 DE SETEMBRO DE 1994.

O Ministro de Estado da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, no uso

das atribuições que lhe confere o Art. 87, da Constituição da República e considerando:

A importância da produção avícola para a economia do País;

Os avanços obtidos pelo setor privado na área tecnológica, posicionando o Brasil em

segundo lugar no mercado internacional de carne de aves;

A estrutura dos serviços veterinários públicos e privados de apoio ao setor nas áreas

de campo, laboratório e inspeção;

A atual situação sanitária da avicultura que viabiliza a implantação de estratégias de

combate e/ou erradicação das principais doenças das aves;

A possibilidade e conveniência de estabelecer programas de cogestão das instituições

públicas e privadas, resolve:

Art. 1º - Instituir o Programa Nacional de Sanidade Avícola no âmbito da Secretaria de

Defesa Agropecuária - SDA, envolvendo o Departamento de Defesa Animal - DDA e

Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal - DIPOA.

Art. 2º - Delegar competência ao Secretário de Defesa Agropecuária, para baixar

Normas para o controle e/ou erradicação das principais doenças das aves, bem como

estabelecer as áreas prioritárias e estratégias de atuação.

Art. 3 º - Criar o Comitê Consultivo do Programa de Sanidade Avícola, atribuindo ao

Secretário de Defesa Agropecuária a competência de estabelecer as entidades que serão

representadas no mesmo.

Page 104: Defesa Sanitária e Animal

103

Parágrafo único - O Conselho será presidido pelo Titular da Secretaria de Defesa

Agropecuária (SDA) e será secretariado pelo Diretor do Departamento de Defesa Animal da

SDA.

Art. 4º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se as

disposições em contrário.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO SECRETARIA DE

DEFESA AGROPECUÁRIA

INSTRUÇÃO NORMATIVA SDA Nº 32, DE 13 DE MAIO DE 2002

O SECRETÁRIO DE DEFESA AGROPECUÁRIA DO MINISTÉRIO DA

AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, no uso da atribuição que lhe confere o art.

83, inciso IV, do Regimento Interno da Secretaria, aprovado pela Portaria Ministerial nº 574, de 8

de dezembro de 1998, tendo em vista o disposto na Portaria Ministerial nº 193, de 19 de

setembro de 1994, e o que consta do Processo nº 21000.006729/2001-59, resolve:

Art. 1º Aprovar as Normas Técnicas de Vigilância para doença de Newcastle e

Influenza Aviária, e de controle e erradicação para a doença de Newcastle.

Art. 2º Esta Instrução Normativa entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 3º Fica revogada a Portaria SDA nº 183, de 8 de novembro de 1994.

NORMAS TÉCNICAS DE VIGILÂNCIA PARA DOENÇA DE NEWCASTLE E

INFLUENZA AVIÁRIA E DE CONTROLE E DE ERRADICAÇÃO DA DOENÇA DE NEWCASTLE

(ADAPTADO).

Page 105: Defesa Sanitária e Animal

104

1. A presente norma define as medidas de vigilância para doença de Newcastle e

influenza aviária e de controle e erradicação a serem aplicadas à doença de Newcastle:

1.1. Na vigilância realizada no ponto de ingresso, visando o controle sanitário das aves

e do material genético de aves importado.

1.2. Nos estabelecimentos avícolas de controles permanentes e de controles

eventuais.

1.3. Nas propriedades que mantenham aves para comercialização ou de criação, nos

criadouros avícolas de subsistência e demais locais de alojamento de aves em cativeiro.

Das definições importantes em avicultura

Para efeito desta norma, entende-se:

LABORATÓRIOS OFICIAIS: são os laboratórios da rede do MAPA;

LABORATÓRIOS CREDENCIADOS: são os laboratórios de outras instituições

federais, estaduais, municipais ou privados, que tenham sido habilitados e reconhecidos pelo

MAPA, para a realização de diagnóstico laboratorial dos agentes das doenças a que se referem

estas normas;

MÉDICO VETERINÁRIO CREDENCIADO: é o médico veterinário oficial, estadual e

municipal, privado ou profissional liberal, que recebeu delegação de competência do serviço

oficial federal para emissão de Guia de Trânsito Animal (GTA) ou similar;

RESPONSÁVEL TÉCNICO: é o médico veterinário responsável pelo controle higiênico-

sanitário dos plantéis do estabelecimento de criação de aves, devidamente registrado no MAPA;

CERTIFICADOS SANITÁRIOS: são certificados de inspeção sanitária;

GUIA DE TRÂNSITO ANIMAL (GTA): é o documento obrigatório para trânsito de aves,

ovos férteis e aves de 1 (um) dia para qualquer movimentação e finalidade;

FORM IN: é o formulário padronizado pelo DDA, utilizado para abertura de foco de

doenças e realização de investigação epidemiológica;

Page 106: Defesa Sanitária e Animal

105

FORM COM: é o formulário padronizado pelo DDA, complementar de investigação;

ESTADOS DO PROGRAMA: são os estados definidos pelo DDA, que desenvolvem

ações de monitorização sanitária das doenças que compõem o PNSA e a vigilância

epidemiológica permanente das doenças aviárias;

UNIDADE EPIDEMIOLÓGICA: trata-se de uma unidade do estabelecimento avícola,

que permite que as aves ali alojadas sejam tratadas e alimentadas de modo totalmente separado

e por pessoal distinto dos demais empregados;

MONITORAMENTO DOS PLANTÉIS: é o acompanhamento sanitário e análise

laboratorial, por meio de testes sorológicos e de outras provas, em outros materiais biológicos ou

não, e análises epidemiológicas das condições de saúde das aves alojadas em um

estabelecimento avícola e interpretação adequada dos resultados;

AVES COMERCIAIS: geração de aves destinadas à produção de carnes, ovos,

derivados e subprodutos;

AVE SUSCEPTÍVEL: compreendem-se todas as aves domésticas, silvestres, exóticas

e ornamentais;

AVE INFECTADA: é qualquer ave na qual tenha sido oficialmente constatada a

presença do vírus da doença de Newcastle ou da influenza aviária, mediante comprovação

laboratorial conclusiva;

PRODUTO ANIMAL: compreende carne, ovos, penas, sangue, vísceras e ossos do

animal susceptível;

CARNE DE AVES: entende-se por carne de ave a parte muscular comestível das aves

abatidas, declaradas aptas à alimentação humana por inspeção veterinária oficial antes e depois

do abate;

CARCAÇA: entende-se pelo corpo inteiro de uma ave após insensibilização ou não,

sangria, depenagem e evisceração, na qual papo, traqueia, esôfago, intestinos, cloaca, baço,

órgãos reprodutores e pulmões tenham sido removidos. É facultativa a retirada dos rins, pés,

pescoço e cabeça;

Page 107: Defesa Sanitária e Animal

106

SUBPRODUTOS: farinhas de carne, de sangue, de penas e de vísceras; resíduos de

incubação; cama aviária; pele e couro; pena e pluma; e fâneros;

VEÍCULO: qualquer meio de transporte por terra, água ou ar;

FOCO: é o estabelecimento no qual foi constatada a presença de uma ou mais aves

afetadas pela doença de Newcastle ou pela influenza aviária;

ÁREA PERIFOCAL: é aquela circunvizinha ao foco, cujos limites serão estabelecidos

pelo serviço oficial;

ZONA DE PROTEÇÃO: é a área com um raio de 3 (três) km ao redor do foco,

considerada como zona infectada;

ZONA DE VIGILÂNCIA: é a área com um raio de 7 (sete) km a partir da zona de

proteção ao redor do foco;

ZONA DE PROTEÇÃO + ZONA DE VIGILÂNCIA: raio de 10 (dez) km ao redor do foco

(Fig.32);

Fig.32 - Divisão da área afetada em zonas de proteção e vigilância a partir do foco.

Fonte: MAPA

VAZIO SANITÁRIO: é o tempo em que deverá permanecer as instalações de um

estabelecimento avícola despovoada, após ocorrência de um foco, tendo sido eliminadas as

aves e realizada a lavagem e a desinfecção do galpão;

Page 108: Defesa Sanitária e Animal

107

SACRIFÍCIO SANITÁRIO: é o sacrifício de todas as aves enfermas, suspeitas de

contaminação ou relacionadas por questão de biossegurança, seus contatos diretos e indiretos;

DESTRUIÇÃO: eliminação de aves, seus produtos, subprodutos, carne ou carcaças,

por meio de qualquer método físico ou químico que assegure total inativação dos vírus da

doença de Newcastle e da influenza aviária;

VACINAÇÃO EMERGENCIAL: é a vacinação empregada como meio de controle da

doença, após ter sido registrado um ou mais focos ou quando a situação epidemiológica ou

sanitária assim indicar;

ESTABELECIMENTO AVÍCOLA: é o local onde são mantidas as aves para qualquer

finalidade, podendo ser constituído de um ou vários núcleos;

ESTABELECIMENTOS AVÍCOLAS DE CONTROLES PERMANENTES: são as granjas

de seleção genética de reprodutoras primárias (linhas puras), granjas bisavoseiras, granjas

avoseiras, granjas matrizeiras, granjas de aves reprodutoras livres de patógenos específicos

(SPF) e os incubatórios destes estabelecimentos;

ESTABELECIMENTOS AVÍCOLAS DE CONTROLES EVENTUAIS: são os

estabelecimentos avícolas produtores de ovos comerciais, de frango de corte, de exploração de

outras aves silvestres e/ou ornamentais, e/ou exóticas ou não, e os incubatórios destes

estabelecimentos;

GALPÃO: é a unidade física de produção avícola, caracterizada como unidade de um

núcleo, que aloja um grupo de reprodutores, aves para produção de carne e/ou de ovos, da

mesma idade (exceção das linhas puras de seleção genética) e da mesma espécie;

NÚCLEO: é a unidade com área física adequadamente isolada, de manejo comum,

constituída de um ou mais galpões;

LOTE: grupo de aves de mesma finalidade, origem e idade, alojadas em um ou vários

galpões;

Das exigências a serem cumpridas pelos estabelecimentos avícolas

Page 109: Defesa Sanitária e Animal

108

1. Para atender ao PNSA, os estabelecimentos avícolas de controles permanentes e

eventuais deverão:

1.1. Estar registrados na SFA, ou cadastrados, nos casos definidos pelo MAPA, no

serviço oficial do estado em que se localizam;

1.2. Estar sob vigilância e controle do SSA/SFA ou da Secretaria Estadual de

Agricultura ou do órgão executor deste, do estado em que se localizam;

1.3. Nos casos definidos em legislação do MAPA, deverão ser assistidos por médico

veterinário responsável técnico, registrado junto à SFA, ou da Secretaria Estadual de Agricultura

ou do órgão executor destas, no estado em que se localizam, quando delegada essa atividade;

1.4. Proceder à notificação imediata às autoridades sanitárias, de qualquer suspeita de

ocorrência da doença de Newcastle e da influenza aviária;

1.5. Utilizar somente imunógenos, desinfetantes, antígenos, soros controles e "kits"

registrados no MAPA, observados os números de partida, nome do fabricante e os prazos de

validade.

Da notificação

1. Os médicos veterinários, proprietários ou qualquer outro cidadão, que tenham

conhecimento de ocorrência ou de suspeita da ocorrência da doença de Newcastle e da

influenza aviária, ficam obrigados a comunicar o fato imediatamente ao serviço oficial (Decreto nº

24.548, de 03/07/34, e Portaria Ministerial nº 070/94, de 03/03/94).

1.1. A notificação poderá ser efetuada pessoalmente, por telefone, rádio, fax, correio

eletrônico ou qualquer outro meio disponível.

2. A infração ao disposto no item 1 será investigada pelo serviço oficial, que utilizará os

meios disponíveis para apuração de responsabilidades.

2.1. No caso de médico veterinário, além do citado ou disposto no item 2, o serviço

oficial deverá proceder de acordo com a legislação profissional específica.

Page 110: Defesa Sanitária e Animal

109

3. Deve ser realizada a notificação de suspeita ao serviço oficial, preferencialmente por

meio da unidade veterinária local, e enviado para laboratório oficial ou credenciado pelo MAPA,

para este fim, de qualquer material de lesão sugestiva da doença encontrada na fiscalização, no

abate ou na realização de necrópsia.

4. Nos matadouros, ocorrendo a constatação da(s) doença(s), deverão ser suspensos

os abates até a conclusão dos trabalhos de limpeza e desinfecção recomendados segundo os

critérios estabelecidos pelo DIPOA e realizada a comunicação imediata ao serviço oficial.

Das estratégias de atuação

1. A vigilância da doença de Newcastle e da influenza aviária e o controle e a

erradicação da doença de Newcastle serão executados em todos os estados da federação.

1.1. A influenza aviária por ser considerada exótica nos plantéis industriais de aves no

Brasil, deverá ser avaliado o risco de introdução no país, e se manter sob vigilância permanente.

1.2. Em função da importância econômica da avicultura e das características

epidemiológicas, será realizado o estudo de atividade viral, visando à implantação de zona livre

da doença de Newcastle em área de produção industrial, no país e a vigilância para doença de

Newcastle e influenza aviária, nos estados do programa definidos como prioritários pelo

PNSA/MAPA.

2. A profilaxia, o controle e a erradicação destas doenças consistem na aplicação das

seguintes medidas de defesa sanitária animal:

2.1. Notificação de suspeita de focos da doença de Newcastle e da influenza aviária;

2.2. Assistência aos focos;

2.3. Adoção de medidas de biossegurança;

2.4. Realização de medidas de desinfecção;

2.5. Sacrifício sanitário;

2.6. Vazio sanitário;

Page 111: Defesa Sanitária e Animal

110

2.7. Análise epidemiológica;

2.8. Vacinação de rotina ou emergencial dos plantéis;

2.9. Controle e fiscalização de animais susceptíveis;

2.10. Controle de trânsito;

2.11. Outras medidas sanitárias.

Da assistência aos focos

1. DA SUSPEITA:

1.1. Todas as notificações de suspeita ou de ocorrência da doença de Newcastle e da

influenza aviária, esta segunda, considerada exótica nos plantéis industriais de aves do país,

deverão ser imediatamente investigadas pelo serviço oficial, dentro das normas de segurança

sanitária, com envio de amostras para laboratório oficial ou credenciado pelo MAPA, para este

fim.

1.2. A notificação de suspeita destas doenças implicará na adoção das seguintes

medidas sanitárias:

1.2.1. Interdição da propriedade ou do estabelecimento avícola, abertura de FORM IN

e adoção de medidas sanitárias específicas, com imediata colheita de amostras para remessa ao

laboratório da rede oficial ou quando autorizado pelo MAPA para laboratório credenciado pelo

MAPA, para este fim, acompanhado de uma via do FORM IN;

1.2.2. Registro de todas as categorias de aves, indicando-se o número de aves mortas,

com e sem sinais clínicos da(s) doença(s) por categoria;

1.2.3. Manutenção das aves nos locais de alojamento ou confinadas em outros locais

estabelecidos a critério do fiscal federal agropecuário ou do médico veterinário oficial, onde

possam permanecer isoladas, sendo proibida a sua movimentação;

Page 112: Defesa Sanitária e Animal

111

1.2.4. Controle pelo fiscal federal agropecuário ou pelo médico veterinário oficial de

qualquer movimento de pessoas, animais, veículos, carnes, carcaças, detritos, dejetos, camas,

fômites e estruturas que possam propagar a(s) doença(s);

1.2.5. Utilização dos meios adequados de desinfecção nas entradas e saídas de cada

instalação do estabelecimento avícola, de acordo com as recomendações do OIE;

1.2.6. Condução de inquérito epidemiológico com abertura de FORM IN e

posteriormente de FORM COM, para a determinação da origem da infecção e de sua

propagação;

1.2.7. Sequestro da carne das aves produzidas e dos ovos no período de incubação da

doença.

2. DA CONFIRMAÇÃO:

2.1. Confirmando-se o diagnóstico laboratorial da doença de Newcastle ou da influenza

aviária, definidas no Capítulo II, dessa norma, por meio de provas laboratoriais conclusivas,

serão adotadas, na propriedade onde foi identificado o foco, as seguintes medidas pelo fiscal

federal agropecuário ou pelo médico veterinário oficial:

2.1.1. Sacrifício imediato no local de todas as aves presentes no estabelecimento

avícola;

2.1.2. Destruição de todas as aves que tenham morrido ou tenham sido sacrificadas;

2.1.3. Destruição ou tratamento apropriado de todos os resíduos, tais como: ração,

cama e fezes, e dos fômites susceptíveis de estarem contaminados;

2.1.3.1. O tratamento deverá ser efetuado em conformidade com as instruções do

fiscal federal agropecuário ou do médico veterinário oficial, de forma que possa ser assegurada a

destruição dos vírus da doença de Newcastle ou da influenza aviária.

2.1.4. Destruição da carne de todas as aves provenientes da granja e abatidas durante

o período de incubação da doença;

Page 113: Defesa Sanitária e Animal

112

2.1.5. Destruição dos ovos e dos subprodutos produzidos durante o período provável

de incubação da doença;

2.1.6. Limpeza e desinfecção completa das instalações de criação;

2.1.7. Estabelecer o vazio sanitário de, no mínimo, 21 (vinte e um) dias antes da

reintrodução de aves no estabelecimento avícola, iniciado após a realização dos processos de

desinfecção;

2.1.8. A critério do serviço oficial, pela avaliação epidemiológica e de risco sanitário,

estas medidas poderão ter sua aplicação estendida a outros estabelecimentos avícolas;

2.1.9. O serviço oficial procederá a investigação epidemiológica em todas as

propriedades com aves, estabelecimentos avícolas e dos demais locais de alojamento de aves

da área, zona de proteção, constituída num raio de 3 (três) quilômetros e um raio de 7 (sete)

quilômetros ao redor do foco, a partir da zona de proteção (zona de vigilância), determinadas

com base em fatores de origem geográfica, administrativa, ecológica e epizootiológica

relacionados com a doença, registrando todas as visitas e as ocorrências constatadas;

2.1.10. O serviço oficial estabelecerá a proibição de movimentação e retirada de aves

das propriedades e dos estabelecimentos avícolas, dentro da zona de vigilância, no período

mínimo de 21 (vinte e um) dias, exceto as destinadas ao abate sanitário em matadouro,

preferencialmente com SIF, situado dentro da zona de vigilância, designado e acompanhado

pelo fiscal federal agropecuário ou pelo médico veterinário oficial.

3. Nos locais onde estejam armazenados os materiais sequestrados, será realizada

limpeza e desinfecção das instalações e destruição dos produtos e subprodutos.

4. ZONA DE PROTEÇÃO:

4.1. Deverão ser adotadas medidas com relação à zona de proteção, conforme segue:

4.1.1. Visita imediata pelo serviço oficial e de acompanhamento posterior a todas as

propriedades com aves, estabelecimentos avícolas e locais de alojamento de aves, realizando

Page 114: Defesa Sanitária e Animal

113

avaliação clínica das aves alojadas e tomada de amostras para exames laboratoriais, registrando

todas as visitas e as ocorrências constatadas;

4.1.2. Manutenção de todas as aves no seu alojamento ou em outro lugar que permita

isolamento, a critério do serviço oficial;

4.1.3. Utilização de sistemas de desinfecção apropriados, segundo critérios do serviço

oficial, nas entradas e saídas da propriedade ou do estabelecimento avícola;

4.1.4. O serviço oficial procederá o controle de movimentação, dentro desta zona, de

pessoas, de materiais, de equipamentos e de veículos que representem risco sanitário;

4.1.5. O serviço oficial adotará a proibição de movimentação e retirada de aves, ovos,

esterco, ração, subprodutos de aves, fômites da propriedade ou do estabelecimento avícola em

que se encontrem, salvo com autorização do serviço oficial competente para o transporte, nas

seguintes condições:

4.1.5.1. Aves para seu abate imediato, preferentemente em um matadouro com SIF,

situado na área infectada ou, se não for possível, a um situado fora desta, quando avaliado,

designado e acompanhado pelo fiscal federal agropecuário ou pelo médico veterinário oficial;

4.1.5.2. Pintos de um dia ou aves para uma exploração situada dentro da zona de

vigilância e que não tenha outras aves alojadas;

4.1.5.3. Ovos para incubação e nascimento num incubatório dentro das zonas de

proteção ou de vigilância, designado pelo fiscal federal agropecuário ou pelo médico veterinário

oficial, controlados e realizados em máquinas separadas.

4.1.5.3.1. Os ovos e suas embalagens deverão ser desinfectados antes do transporte

ao incubatório.

4.1.6. Os deslocamentos citados deverão ser realizados diretamente sob controle do

serviço oficial e autorizados após a inspeção sanitária da propriedade ou do estabelecimento

avícola, realizada pelo fiscal federal agropecuário ou pelo médico veterinário oficial;

4.1.7. Os meios de transporte empregados deverão ser limpos e desinfectados antes e

depois da sua utilização;

Page 115: Defesa Sanitária e Animal

114

4.1.8. A retirada do esterco, da ração e dos subprodutos das aves fica condicionada ao

controle do transporte e destino pelo serviço oficial, quando, após avaliação criteriosa, não

representar risco de disseminação da(s) doença(s);

4.1.9. O serviço oficial adotará a proibição de realização de feiras, mercados,

exposições e demais concentrações de aves de qualquer tipo;

4.1.10. O serviço oficial procederá a introdução de aves-sentinelas na propriedade foco

despovoada;

4.1.11. O serviço oficial estabelecerá a realização de controle sorológico, em

laboratório oficial ou credenciado pelo MAPA para este fim, das aves-sentinelas a cada sete dias

até completar o período de vazio sanitário mínimo de 21 (vinte e um) dias;

4.1.12. As medidas aplicadas na zona de proteção se manterão até conclusão do

diagnóstico laboratorial e do inquérito epidemiológico, por pelo menos 21 (vinte e um) dias

depois da realização, na propriedade ou no estabelecimento avícola infectado, das operações

preliminares de limpeza e desinfecção ou por determinação do serviço oficial. Após essas

medidas, a zona de proteção passará a fazer parte da zona de vigilância.

5. ZONA DE VIGILÂNCIA

5.1. Deverão ser adotadas medidas com relação à zona de vigilância, conforme segue:

5.1.1. Investigação em todas as propriedades com aves, estabelecimentos avícolas e

locais de alojamento de aves, num raio de 10 (dez) quilômetros, registrando todas as visitas e as

ocorrências constatadas;

5.1.2. Proibição pelo serviço oficial de movimentação de aves e ovos dentro da zona,

nos primeiros 15 (quinze) dias;

5.1.3. Manutenção de todas as aves no seu alojamento ou em outro lugar que permita

isolamento, a critério do serviço oficial;

5.1.4. Proibição pelo serviço oficial de movimentação e retirada de aves da propriedade

e do estabelecimento avícola dentro da zona de vigilância, exceto as destinadas a abate

Page 116: Defesa Sanitária e Animal

115

sanitário em matadouro preferencialmente com SIF, situado dentro da zona de vigilância ou

próximo, quando avaliado e designado pelo fiscal federal agropecuário ou pelo médico

veterinário oficial;

5.1.5. Proibição pelo serviço oficial de retirada de ovos para fora da zona de vigilância,

salvo se enviados a um incubatório para incubação e nascimento, avaliado e designado pelo

fiscal federal agropecuário ou pelo médico veterinário oficial, sendo a incubação controlada e

realizada em máquinas separadas;

5.1.5.1. Estes ovos e as suas embalagens deverão ser desinfectados antes do

transporte ao incubatório.

5.1.6. Proibição de retirada e utilização do esterco, ração e subprodutos de aves sem

autorização do serviço oficial;

5.1.7. Proibição pelo serviço oficial de realização de feiras, mercados, exposições e

demais concentrações de aves de qualquer tipo;

5.1.8. Controle pelo serviço oficial de movimentação, dentro desta zona, de pessoas,

de materiais, de equipamentos e de veículos que representem risco sanitário.

5.2. As medidas aplicadas na zona de vigilância se manterão até conclusão do

diagnóstico laboratorial e do inquérito epidemiológico por pelo menos 30 (trinta) dias, por

determinação do serviço oficial, após realização, na exploração infectada, das operações

preliminares de limpeza e desinfecção.

6. As operações descritas neste capítulo poderão circunscrever-se àquelas áreas do

estabelecimento que formem uma unidade epidemiológica, desde que assegurada pelo serviço

oficial a improbabilidade de propagação da(s) doença(s) às demais unidades não infectadas.

Capítulo VIII

Da colheita de amostras e do encaminhamento para realização de provas laboratoriais

Page 117: Defesa Sanitária e Animal

116

1. Locais e eventos onde se realiza a colheita de material:

1.1. De aves procedentes de qualquer país, no ponto de ingresso (porto, aeroporto ou

fronteira) ou no quarentenário, por ocasião da inspeção veterinária para o desembaraço de

entrada;

1.2. Na suspeita de ocorrência de foco avaliada pelo serviço oficial;

1.3. Na realização do projeto de estudo de atividade viral, visando à implantação de

zona livre para doença de Newcastle em área de produção industrial no país e vigilância da

doença de Newcastle e da influenza aviária, para o monitoramento de plantéis avícolas nacionais

pelo serviço oficial de defesa sanitária animal e de inspeção de produtos de origem animal,

dentro das suas áreas de competência.

2. Amostras

2.1. Para isolamento e identificação do vírus, devem ser obtidas amostras de aves

vivas ou após necrópsia das aves sacrificadas, ou daquelas que morreram com sintomas clínicos

sugestivos da doença de Newcastle ou da influenza aviária.

2.1.1. Aves vivas:

2.1.1.1. Soro;

2.1.1.2. Suabe de cloaca;

2.1.1.3. Suabe de traqueia;

2.1.1.4. Fezes frescas.

2.1.2. Aves necropsiadas (coletar assepticamente, isolado ou em "pool"):

2.1.2.1. Baço;

2.1.2.2. Cérebro;

2.1.2.3. Coração;

Page 118: Defesa Sanitária e Animal

117

2.1.2.4. Fezes;

2.1.2.5. Fígado;

2.1.2.6. Humor aquoso;

2.1.2.7. Intestino;

2.1.2.8. Proventrículo;

2.1.2.9. Pulmão/traqueia;

2.1.2.10. Sacos aéreos;

2.1.2.11. Suabe oronasal;

2.1.2.12. Tonsilas cecais.

2.2. Em caso de suspeita de foco, visando a reduzir o risco de disseminação e difusão

do(s) vírus da(s) doença(s) durante o transporte até o laboratório, recomenda-se a realização de

necrópsia no local, com colheita de material e acondicionamento adequado, para envio ao

laboratório oficial ou designado pelo MAPA.

3. Colheita e acondicionamento das amostras

3.1. Deverão ser colhidas em PBS, pH 7.2, contendo antibióticos.

3.2. Devidamente identificadas, refrigeradas, lacradas e acondicionadas em caixas

isotérmicas;

3.3. Acompanhadas de FORM IN ou de formulário de colheita padronizado pelo DDA,

devidamente preenchido;

4. Conservação e estocagem

4.1. As amostras destinadas a exames virológicos deverão ser mantidas sob

refrigeração, preferencialmente congeladas até seu processamento.

Page 119: Defesa Sanitária e Animal

118

4.2. As amostras destinadas à sorologia deverão ser mantidas congeladas a - 20ºC,

até o seu processamento.

4.3. Após a emissão do resultado, as amostras deverão ser mantidas congeladas a -

20ºC, por um período mínimo de 30 (trinta) dias.

Do diagnóstico laboratorial

1. Os procedimentos e as provas laboratoriais, para o diagnóstico da doença de

Newcastle e da influenza aviária, são determinados por normas específicas da SDA/MAPA,

podendo ser realizadas algumas das seguintes provas:

1.1. Ensaio imunoenzimático (ELISA);

1.2. Teste de hemaglutinação (HA);

1.2. Teste de inibição da hemaglutinação (HI);

1.3. Tempo médio de morte embrionária (TMM);

1.4. Índice de patogenicidade intracerebral (IPIC);

1.5. Índice de patogenicidade intravenosa (IPIV);

1.6. Imunodifusão em agar gel (AGP);

1.7. Técnicas de biologia molecular.

2. Outras provas somente poderão ser utilizadas quando devidamente aprovadas pelo

MAPA.

Do estudo de atividade viral para doença de Newcastle e vigilância para doença de

Newcastle e influenza aviária.

Page 120: Defesa Sanitária e Animal

119

1. Serão realizadas atividades profiláticas visando o controle da introdução, em

território nacional, de possíveis agentes de doenças exóticas, como da influenza aviária, na

vigilância epidemiológica e sanitária permanente da doença de Newcastle:

1.1. No ponto de ingresso, no momento do desembarque, na fiscalização sanitária do

material genético (das aves ou dos ovos férteis), pelo serviço de vigilância aeroportuária

(SVA/SFA/MAPA);

1.2. Na quarentena oficial, das aves ou da incubação dos ovos férteis, pelo serviço

oficial.

2. A colheita de material de aves de um dia, ovos férteis ou suabes de cloaca e

traqueia, originários de qualquer país, terá seu encaminhamento ao laboratório oficial, em

embalagem lacrada pelo MAPA, para realização de exames laboratoriais, para identificação dos

agentes das doenças, acompanhado de formulário de colheita padronizado.

3. O projeto de estudo de atividade viral para doença de Newcastle, e vigilância da

doença de Newcastle e da influenza aviária para o monitoramento dos plantéis avícolas

nacionais, nos diferentes estados da federação, será implantado pelo MAPA, observando a

situação epidemiológica das doenças, considerando a situação de doença exótica para influenza

aviária nos plantéis brasileiros, industriais de aves:

3.1. Será implantado inicialmente em área de produção industrial, podendo ser

expandido para outros sistemas de produção de acordo com a avaliação do projeto e por

determinação do MAPA.

3.2. Os estados participantes do projeto serão definidos pelo MAPA.

3.3. As colheitas periódicas de soro sanguíneo, suabes de traqueia e suabes de cloaca

das mesmas aves, de um único lote realizadas em matadouros com SIF, podendo ser feitas

colheitas nos estabelecimentos de criação por determinação do MAPA.

3.4. Os exames laboratoriais realizados serão testes sorológicos, isolamento e

caracterização viral;

Page 121: Defesa Sanitária e Animal

120

3.5. As atividades relativas à colheita de amostras poderão ser realizadas pelos SSA,

SIF das SFA`s/MAPA ou pelas Secretarias Estaduais de Agricultura ou órgãos executores

destas, quando delegada esta atividade, de acordo com o projeto em pauta.

Das medidas de limpeza e desinfecção

1. As medidas de limpeza e desinfecção adotadas no controle dos focos seguirão os

critérios estabelecidos pelo manual do OIE e em manuais específicos do MAPA.

Da vacinação

1. A vacinação sistemática contra a doença de Newcastle é facultativa nos estados da

federação, observando-se a situação epidemiológica local.

2. De acordo com a situação epidemiológica de cada região, após avaliação do serviço

oficial, a vacinação das aves contra a doença de Newcastle poderá ser obrigatória em

propriedades e nos estabelecimentos avícolas de controles permanentes e de controles

eventuais, podendo ser regularmente efetuada.

3. Caberá ao serviço oficial federal, em situações emergenciais das doenças,

estabelecer esquemas de vacinação por área.

4. A vacinação contra estas doenças somente poderá ser realizada com vacinas

registradas e aprovadas pelo MAPA (Decreto nº 1.662, de 06/10/95, e Portaria Ministerial nº 186,

de 13/05/97), seja como medida de ordem profilática ou de controle da doença.

5. No caso da influenza aviária, por se tratar de doença exótica no país, a vacinação

somente poderá ser realizada quando autorizada pelo MAPA, após comprovação da ocorrência

da doença, avaliação de risco e análise da situação epidemiológica.

Page 122: Defesa Sanitária e Animal

121

Do trânsito

1. No intuito de evitar a introdução e a propagação dessas doenças, por ocasião da

expedição da GTA para aves susceptíveis ou para o trânsito interestadual de aves destinadas ao

abate nos matadouros, deverão ser exigidas pelo emitente, entre outras, as seguintes condições:

1.1. Nos estabelecimentos de produção abastecedores de mercados internacionais:

1.1.1. As aves devem ser provenientes de propriedade ou de estabelecimento avícola,

no qual 90 (noventa) dias anteriores não tenham sido constatados nenhum foco da doença de

Newcastle e da influenza aviária, e que nas proximidades do mesmo, num raio de 10 (dez) km,

não tenha sido constatado nenhum caso destas doenças nos últimos 30 (trinta) dias;

1.1.2. Observada a situação epidemiológica local e o Capítulo XIII, desta norma, os

requerentes pelo trânsito de aves susceptíveis em áreas consideradas de risco deverão

comprovar que as mesmas não foram vacinadas contra a doença de Newcastle, no mínimo 30

(trinta) dias antes do abate.

2. As aves susceptíveis serão impedidas de transitar quando desacompanhadas da

GTA, expedida em conformidade com estas normas, devendo a autoridade competente lavrar o

respectivo Termo de Ocorrência e determinar o retorno à origem, sem prejuízo das demais

sanções cabíveis.

3. Para realização do trânsito interestadual, é obrigatória a utilização de GTA. Para o

trânsito intraestadual, é obrigatória a utilização de GTA, podendo ser utilizada, em casos

excepcionais justificados, a aceitação do documento similar de trânsito estabelecido no âmbito

estadual.

4. Os veículos transportadores de aves susceptíveis deverão ser lavados e

desinfectados, de acordo com orientação do serviço oficial.

5. O transporte de resíduos e subprodutos de aviários deverá ser realizado em veículos

protegidos ou fechados.

Page 123: Defesa Sanitária e Animal

122

17 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAÇÃO DA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE - PNCEBT E ESTUDO DA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE NAS ESPÉCIES DE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

17.1 SITUAÇÃO SANITÁRIA NACIONAL

A brucelose, causada por Brucella abortus (Fig.33) e a tuberculose, causada por

Mycobaterium bovis (Fig.34) estão disseminadas por todo o território nacional, porém a sua

prevalência e distribuição regional não estão bem caracterizadas. Sabe-se que a brucelose

atinge tanto o gado de corte quanto o gado de leite, enquanto que a tuberculose é um problema

mais sério para os produtores de leite. Ambas as enfermidades afetam a população de

bubalinos.

Fig.33 – Brucella abortus Fig. 34 – Mycobaterium bovis

FONTE: Disponível em: <http://pathmicro.med.sc.edu>. Acesso em: 07/04/2009.

FONTE: Disponível em: <www.advite.com/BenhLaoBo.htm>. Acesso em: 07/04/2009.

O último diagnóstico nacional da brucelose bovina foi realizado em 1975, tendo sido

estimada 4,0% a porcentagem de animais soropositivos na Região Sul, 7,5% na Região

Sudeste, 6,8% na Região Centro-Oeste, 2,5% na Região Nordeste e 4,1% na Região Norte.

Posteriormente, outros levantamentos sorológicos por amostragem, realizados em alguns

estados, revelaram pequenas alterações na prevalência de brucelose: no Rio Grande do Sul a

prevalência passou de 2,0%, em 1975, para 0,3% em 1986; em Santa Catarina passou de 0,2%,

em 1975, para 0,6% em 1996; no Mato Grosso do Sul a prevalência estimada em 1998 foi de

6,3%, idêntica ao valor encontrado em 1975 para o território mato-grossense; em Minas Gerais

passou de 7,6%, em 1975, para 6,7% em 1980. Em 2002, novo levantamento da situação da

Page 124: Defesa Sanitária e Animal

123

brucelose em Minas Gerais revelou prevalência próxima a 1% de animais positivos,

demonstrando a eficácia de um programa de vacinação bem conduzido. No Paraná, a

prevalência estimada em 1975 foi de 9,6%, passando para 4,6% de bovinos positivos em 1989.

Encontra-se em fase final o estudo epidemiológico nacional da brucelose, com metodologia

padronizada. Os dados de notificações oficiais indicam que a prevalência de animais positivos se

manteve entre 4% e 5% no período de 1988 a 1998.

Os dados de notificações oficiais de tuberculose bovina indicam prevalência média

nacional de 1,3% de animais infectados, no período de 1989 a 1998. Levantamento realizado em

1999, no Triângulo Mineiro e nas regiões do centro e sul de Minas Gerais, envolvendo

aproximadamente 1.600 propriedades e 23.000 animais, estimaram a prevalência aparente de

animais infectados em 0,8%. No mesmo estudo foram detectadas 5% das propriedades com

animais reagentes, sendo importante destacar que esse valor subiu a 15% no universo de

propriedades produtoras de leite com algum grau de mecanização da ordenha e de tecnificação

da produção.

Anteriormente, o controle da brucelose estava regulamentado pela Portaria Ministerial

23/76, mas as medidas não vinham atingindo a eficácia desejada, em razão da ausência de um

programa estruturado que criasse estímulos para os pecuaristas adotarem as ações sanitárias

mais adequadas. O mesmo aplica-se ao controle da tuberculose, cujas normas e procedimentos

de controle somente com este Programa passaram a estar regulamentados nacionalmente.

Quanto à brucelose e à tuberculose dos suínos, o controle é feito de acordo com as

normas de certificação de granjas de suínos, da Secretaria de Defesa Agropecuária, que

estabelecem procedimentos de diagnóstico e controle na população de matrizes.

A brucelose ovina e caprina de importância epidemiológica, causada por Brucella

melitensis, não foi até hoje diagnosticada no Brasil. A epididimite ovina, causada por Brucella

ovis, não é considerada nas medidas propostas neste programa, em virtude de ser doença de

características distintas, estando seu controle a cargo do Programa Nacional de Sanidade de

Caprinos e Ovinos. Não existem dados sobre tuberculose ovina e caprina no Brasil que

justifiquem a implantação de medidas específicas visando o controle sistemático da doença em

pequenos ruminantes.

Page 125: Defesa Sanitária e Animal

124

17.2 BRUCELOSE BOVINA

A Brucella abortus é o micro-organismo casual, e pelo menos nove biótipos foram

identificados, incluindo um número de cepas variantes. Aproximadamente 5% das infecções são

oriundas do biótipo 1.

A Brucella abortus assim como as demais espécies do gênero são cocobactérias

Gram-negativas (Fig.35), imóveis, não capsuladas nem esporuladas, aeróbias ou microaerófilas.

As Brucella abortus encontram-se em geral isolados e, em menor frequência, aos

pares, unidos pelas extremidades ou em pequenos grupos. Sua respiração é aeróbica, mas

algumas cepas requerem um complemento de 5 % a 10 % de CO2 para seu crescimento.

A temperatura ótima para as Brucellas sp. é de 37°C. Muito sensíveis ao calor, são

destruídas em 10 minutos quando colocadas a 63°C. Também são muito sensíveis ao álcool a

96° e ao mertiolate a 1/10.000. No entanto, são muito resistentes ao frio e a dessecação.

Fig. 35 - Bactérias Gram-negativas FONTE: Disponível em: <www.marvistavet.net/html/body_ear_infections.html>. Acesso em: 07/10/2009.

De acordo com Correa e Correa (1992), como as salmonelas, as Brucella sp. não são

espécies-específicas, mas têm eletividade de espécie; B. abortus tem como eleição a infecção

de bovinos; B. suis, B. ovis e B. canis as espécies sugeridas pelo próprio nome (suínos, ovinos e

cães); B. melitensis está mais adaptada a infectar caprinos.

Quanto à resistência, as espécies de gênero Brucella são bastante sensíveis aos

desinfetantes comuns, e a luz; em cadáveres ou tecidos contaminados enterrados podem resistir

Page 126: Defesa Sanitária e Animal

125

vivas por um a dois meses em clima frio, mas morrem em 24h no verão ou regiões quentes. A

pasteurização as mata e, portanto, também a simples fervura.

17.3 EPIDEMIOLOGIA

As bruceloses são enfermidades de distribuição mundial ainda que haja países que as

erradicaram como os nórdicos ou as mantêm controladas como os E.U.A., Canadá entre outros

países. Todas as espécies domésticas são sensíveis com a ressalva da adaptação, assim, B.

abortus geralmente infecta os bovinos, mas pode-se encontrá-la, causando enfermidade em

outros animais e o mesmo vale para as outras espécies de Brucella.

A infecção ocorre nos bovinos de todas as idades, porém é mais comum nos animais

sexualmente maduros, particularmente nos bovinos leiteiros.

O sexo, a estação do ano e o clima não têm influência na apresentação da doença,

mas a idade sim, pois as Brucellas são muito mais infectantes para animais púberes, ainda que

possam ocorrer em impúberes. Os bezerros mesmo que se infectem por mamar leite

contaminado, ou mais tarde ainda durante sua fase impúbere, geralmente eliminam o agente,

entretanto há alguns casos bem comprovados de transmissão vertical em bovinos, isto é,

bezerras nascidas de vacas doentes em que houve longo silêncio do agente que mais tarde foi

isolado dessas fêmeas. Não há transmissores nem vetores especiais e os principais

reservatórios são os próprios animais doentes. As fontes de infecção mais comuns são a água,

alimentos e fômites contaminados por aborto.

A morbidade é bastante variável. A doença se mantém endêmica e propriamente não

há letalidade nem mortalidade, a não ser que se computem os fetos abortados ou neonatos

doentes que vêm a morrer; o adulto infectado não morre pela enfermidade. A única ocasião em

que a brucelose se comporta como epidemia, causando surto de abortos, é quando recém-

ingressa numa criação. Vários inquéritos sorológicos têm sido feitos em bovinos e, no Brasil

praticamente todos têm assinalado mais de 10% de bovinos positivos.

As consequências das doenças bovinas são as perdas de bezerros devido ao aborto

(Fig.36) com seis meses ou posterior (por volta de um terço dos animais infectados abortam),

esterilidade ou infertilidade do macho e até da fêmea.

Page 127: Defesa Sanitária e Animal

126

Fig. 36 – Aborto em vacas FONTE: Disponível em: <www.adelo.com.ar/noticias/brucelosis.php>. Acesso em: 07/04/2009.

Ingestão, contato direto, inalação e inoculação acidental são as formas de infecção

brucélica. Leite e derivados, em especial o queijo fresco, são as fontes mais frequentes de

infecção por ingestão em humanos (Fig. 37). A pasteurização do leite reduziu bastante o risco

desse tipo de infecção, embora seja ainda muito difundido, em todo o país, o hábito de se tomar

leite cru.

Via de entrada das Brucellas no corpo humano

Fig. 37 - FONTE: Adaptado - Disponível em: <www.umm.edu/esp_imagepages/17102.htm>. Acesso em: 07/04/2009.

A infecção por contato é frequente em pessoas que trabalham com animais ou seus

produtos, tais como, veterinários, magarefes (Fig. 6), funcionários de frigoríficos e os que

ordenham vacas e cabras. As Brucellas penetram na pele íntegra, mas pequenas lesões

facilitam o contágio. Esterco e pasto são fontes de bactérias viáveis durante meses após a

contaminação. Assim, o local onde o feto foi abortado é fonte de infecção, mesmo que o contato

com indivíduo seja apenas com o capim.

Page 128: Defesa Sanitária e Animal

127

17.4 PATOLOGIA

A doença é transmitida através da ingestão, penetração da pele e da conjuntiva

intactas, bem como da contaminação do úbere durante a ordenha. O micro-organismo não se

multiplica no meio ambiente, porém persiste meramente, e a viabilidade do micro-organismo fora

do hospedeiro é muito influenciada pelas condições ambientais existentes. A pastagem sobre o

pasto infectado ou o consumo de outros alimentos e dos suprimentos de águas contaminadas

pelos corrimentos e pelas membranas fetais de vacas infectadas, bem como o contato com fetos

abortados e bezerros recém-nascidos infectados são os modos mais comuns de disseminação.

O feto, ao ser abortado, deixa retenção placentária (Fig. 38) e nas células

cotiledonárias podem ser observadas imensas quantidades do agente; geralmente apresenta-se

um pouco edematoso, o que pode ser difícil de estimar; pode apresentar líquido

serossanguinolento na cavidade abdominal e na torácica e, quase sempre apresenta

broncopneumonia, que microscopicamente mostra predomínio amplo de macrófagos sobre o

componente neutrofílico.

Fig. 38 – Vaca com retenção de placenta FONTE: Disponível em: <www.mcguido.vet.br/pat__gestação_1.htm>. Acesso em: 07/04/2009.

Depois do aborto, a Brucella tende a ser eliminada do útero, porém em muitos animais

resta endometrite difusa de longa duração, que interfere com a fertilidade e fecundidade das

vacas. Em geral, por período de alguns meses é possível isolar Brucella no útero.

Os órgãos em que as Brucellas permanecem nas vacas são as mamas e linfonodos

mamários, causando granulomatose geralmente discreta, ás vezes, com a presença de alguns

Page 129: Defesa Sanitária e Animal

128

gigantócitos de tipo Langhans. Outros locais, dos quais pode ser eventualmente isoladas após

anos são os linfonodos pélvicos e faríngeos, eventualmente do fígado e baço.

O micro-organismo passa do ponto de entrada via linfáticos para os nódulos linfáticos

regionais e após multiplicação para o duto torácico via corrente sanguínea para os órgãos

parenquimatosos e outros tecidos. As Brucellas são principalmente intracelulares em macrófagos

e focos granulomatosos se desenvolvem em tecidos linfáticos, fígado, baço, medula óssea, e

outras localizações. Em certas ocasiões estes focos granulomatosos ou nódulos podem formar

abscessos.

A predileção que as Brucellas têm pela placenta, fluídos fetais e testículos do touro é

atribuída ao eritritol. Esse álcool poli-hídrico tem se mostrado estimulante do crescimento de

Brucellas.

17.5 ACHADOS CLÍNICOS

Os achados clínicos dependem do estado imune do animal. No gado prenhe não

vacinado altamente susceptível, o abortamento após o quinto mês de gestação é uma

característica da doença nos bovinos. Nas gestações subsequentes, o feto normalmente é

gerado a termo, embora um segundo ou, mesmo um terceiro abortamentos possam ocorrer na

mesma vaca. As retenções de placenta e metrite são sequelas comuns de abortamentos. As

infecções mistas costumam ser a causa da metrite, que pode ser aguda, com septicemia e óbito

em seguida, ou crônica levando a esterilidade.

Com o passar do tempo e gestações a frequência de abortamentos diminui, os

abortamentos são mais restritos para as novilhas de primeiro parto e também as recém-

introduzidas no rebanho, isso ocorre porque os outros animais do rebanho adquiriram resistência

parcial ao agente. Nos anos recentes, particularmente nas áreas onde a vacinação é

extensamente praticada, uma forma insidiosa da doença pode desenvolver-se disseminada

muito mais lentamente, sendo por consequência muito menos abortamentos.

Alguns autores ressaltam que nos touros a orquite (Fig. 39) e a epididimite ocorrem

ocasionalmente. A bolsa escrotal pode ser acometida com edema doloroso, agudo, duas vezes o

tamanho normal, embora os testículos possam não se encontrar macroscopicamente

aumentados de volume. O edema persiste por um longo e considerável período, e o testículo

Page 130: Defesa Sanitária e Animal

129

sofre necrose de liquefação e é normalmente destruído. As vesículas seminais podem ser

acometidas, e seu aumento de volume detectado na palpação retal.

Fig. 39 – Touro com orquite.

FONTE: Disponível em: <www.limousin.com.br/pages/artigos/vendo.asp?ID=63>. Acesso em: 10/04/2009.

Os touros acometidos normalmente ficam inférteis, quando a orquite é aguda, mas

poderão retomar a fertilidade normal se um testículo estiver intacto. Tais touros serão potenciais

disseminadores da doença, se forem usados para a inseminação artificial.

17.6 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de brucelose pode ser feito tanto pela identificação da bactéria

(diagnóstico direto) como pela pesquisa da resposta imunológica à infecção (diagnóstico

indireto). O diagnóstico direto de brucelose se faz por meio da bacteriologia e coloração direta,

utilizando os tecidos e produtos dos animais infectados (tecidos fetais e placentários, sangue,

útero, testículos, leite, queijo e secreções genitais). O diagnóstico indireto pode ser feito pela

pesquisa de anticorpos, através da sorologia.

A Brucella abortus pode ser recuperada a partir da placenta, porém a recuperação

mais conveniente é por meio de cultura pura a partir do estômago e pulmões de um feto

abortado. A maioria das vacas para de eliminar micro-organismos a partir do trato genital quando

a involução uterina termina. Permanecem focos de infecção em algumas partes do sistema

reticuloendotelial, especialmente nos linfonodos paramamários e no úbere. A Brucella abortus

pode ser, em geral, isolada das secreções do úbere não lactante.

Page 131: Defesa Sanitária e Animal

130

17.7 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Para o diagnóstico diferencial entram doenças que cursam com a causa sendo

abortamentos, tais como, Tricomoníase, Vibriose, Leptospirose, IBR, Micoses, Listeriose e

Aborto epizoótico a vírus.

17.8 TUBERCULOSE BOVINA

Ha séculos a relação entre a tuberculose dos animais e a do homem constitui motivo

de preocupação para as autoridades sanitárias. São numerosas as referências feitas

anteriormente à era bacteriana, ao perigo que representa para o homem o consumo de carne de

animais sofrendo de caquexia e é muito provável que nesta designação estivesse incluída a

tuberculose bovina. No Talmud, codificado em fins do século II, os rabinos proibiam ao povo

hebreu utilizar-se de carne de bovinos em cujos pulmões fossem encontradas lesões ulcerativas.

17.9 ETIOLOGIA

O agente causador da tuberculose é um bacilo álcool-ácido resistente, ou seja, que

quando corado pela fucsina a quente, não se descora pelo álcool acido clorídrico (coloração de

Ziehl-Neelsen). Pertence à Ordem Actinomycetales e ao gênero Mycobacterium sp. As espécies

causadoras da tuberculose clássica foram agrupadas no "Complexo Mycobacterium

tuberculosis", constituído pelo M. tuberculosis, M. bovis e M. africanum, este último ainda não

isolado no Brasil.

O bacilo é moderadamente resistente ao calor, dissecação e diversos desinfetantes.

Permanece viável em estábulos, pasto e esterco por até dois anos, até um ano na água e por até

10 meses nos produtos de origem animal contaminados. Agentes desinfetantes como fenólicos,

formólicos, álcool e em especial pelo hipoclorito de sódio são bastante eficientes no combate ao

bacilo, contudo sua ação pode ser afetada pela concentração do produto, o tempo de exposição,

a temperatura e a presença de matéria orgânica. Compostos de amônio quaternários e

Page 132: Defesa Sanitária e Animal

131

clorexidine não destroem o bacilo. O calor úmido a 60°C mata o bacilo rapidamente. A

pasteurização, consistindo no tratamento do leite a 62,8 - 65,6°C por 30 minutos ou 71,7 °C por

15 segundos mata, além das micobactérias, a maioria dos microrganismos não esporulados. É

rapidamente destruído pela luz solar direta em ambiente seco. Em condições de umidade,

temperatura e ao abrigo da luz solar, se mantém viável por longos períodos, como até dois anos

no interior dos estábulos.

17.10 EPIDEMIOLOGIA

A tuberculose bovina é determinada por M. bovis e possui distribuição mundial,

concentrando-se principalmente em países em desenvolvimento e em criações intensivas, como

em bovinos leiteiros. A tuberculose bovina concentra-se principalmente na América do Sul, que

também detém a maior população bovina. Na América Latina e Caribe existem

aproximadamente 300 milhões de bovinos, dos quais 73,7% estão em áreas com prevalência de

tuberculose maior que 1%.

Em países desenvolvidos, estima-se que as perdas econômicas decorrentes da

tuberculose alcançam 10% da produtividade do gado leiteiro afetado. Muitas espécies são

descritas como hospedeiras de M. bovis, como bovinos, humanos, búfalos e diversos outros

animais domésticos e silvestres. Alguns são hospedeiros terminais e desenvolvem uma doença

autolimitante. Em alguns países animais silvestres participam como reservatórios silvestres de

M. bovis para animais domésticos.

A tuberculose é uma doença primordialmente respiratória e basicamente de

transmissão aerógena entre as espécies. Os animais infectados são a principal fonte de

infecção, sendo a via orofaríngea a porta de entrada mais comum. Pastos e alimentos

contaminados são de menor importância na transmissão da doença. O bovino, uma vez

infectado, já é capaz de transmitir a doença a outros, mesmo antes do desenvolvimento de

lesões teciduais. O agente pode ser eliminado pela respiração, pelo corrimento nasal, leite,

fezes, urina, secreções vaginais e uterinas e pelo sêmen. A ingestão de leite contaminado é a

principal via de transmissão para animais jovens e também o homem. A transmissão

transplacentária é considerada muito rara ou inexistente nos bovinos. As vias de transmissão

menos comum são a intrauterina e o coito, por meio de sêmen contaminado.

Page 133: Defesa Sanitária e Animal

132

17.11 PATOLOGIA

A tuberculose bovina é uma enfermidade de evolução crônica, caracterizada pela

formação de lesões do tipo granulomatoso, de aspecto nodular, denominada tubérculo. (Fig. 40)

Sendo a porta principal de entrada do bacilo da tuberculose em bovinos o alvéolo pulmonar,

encontra-se uma predominância de lesões em gânglios brônquicos e/ou mediastínicos. Uma vez

atingido o alvéolo, o bacilo é capturado por macrófagos e o seu destino será determinado pelos

seguintes fatores: virulência do micro-organismo, carga infectante e resistência do hospedeiro.

Em animais debilitados, os bacilos proliferam-se apresentando lesão do tipo exsudativo, com

edema, acúmulo inicial de polimorfonucleares e, posteriormente, monócitos. Essas lesões

raramente evoluem para um tipo produtivo de caráter crônico, com formação de tubérculos

caracterizados por formações nodulares. Tais formações nodulares são constituídas por uma

parte central, onde se encontram células gigantes tipo Langhan’s, uma falsa média de células

epitelioides, circundada por uma camada periférica de fibroblastos, linfócitos e monócitos.

Fig. 40 – Pulmão e linfonodo bovino com diversos nódulos de aspecto caseoso. FONTE: Disponível em: <http://www.cfsph.iastate.edu/DiseaseInfo/ImageDB/TUB/TUB_001.jpg>. Acesso em:

10/04/2009.

A lesão tuberculoide do parênquima pulmonar propaga-se ao linfonodo satélite,

tendendo a generalizar-se. A lesão caseosa pode sofrer um processo de amolecimento,

disseminando-se por contiguidade ou pelas vias linfáticas e sanguíneas, formando lesões micro

ou macroscópicas em diversos órgãos.

Page 134: Defesa Sanitária e Animal

133

17.12 DIAGNÓSTICO

A tuberculose bovina é diagnosticada in vivo pelo exame clínico e o teste tuberculínico;

após a morte, pelos exames post mortem, histopatológico e bacteriológico.

O teste tuberculínico (Fig. 41) é uma resposta de hipersensibilidade tardia mediada por

linfócitos T sensibilizados, deflagrada em indivíduos previamente expostos ao bacilo tuberculoso.

O uso da tuberculina foi testado primeiramente por Koch, em 1882, como possível cura para a

tuberculose em humanos, contudo, a tuberculina de Koch possuía proteínas estranhas oriundas

do caldo de carne utilizado para cultivo da micobactéria e que induzia resposta não específica.

Então, Dorset desenvolveu um meio sintético sem proteínas para o cultivo de bacilo tuberculoso.

Fig. 41 – Inoculação intradérmica de tuberculina.

FONTE: PNCEBT

Distinguem-se três tipos de preparações de tuberculinas: 1) a O.T. (Old Tuberculin) nos

moldes originalmente desenvolvidos por Kock; 2) a HCSM (heat concentrated sintetic medium)

ou tuberculina preparada em meio sintético e concentrada pelo calor; e 3) PPD (purified protein

derivate). A tuberculina HCSM também pode ser chamada de O. T., pois a princípio não mais se

admite a produção de tuberculinas que não sejam preparadas em meio totalmente sintético. As

tuberculinas O. T. e PPD não são comparáveis biologicamente, pois possuem composições

distintas e diferentes relações dose e efeito. A tuberculina O. T. é obtida a partir da concentração

pelo calor de um filtrado de cultura de M. tuberculosis ou M. bovis, dependendo do país, para

uso intradérmico em mamíferos. As estirpes mais utilizadas são C, DT, PN e H37Rv de

M.tuberculosis e AN5 de M. bovis, pois são as estirpes de maior produção de nitrogênio proteico

Page 135: Defesa Sanitária e Animal

134

e estáveis em laboratório. O filtrado possui substâncias produzidas pelo bacilo vivo, como

metabólitos e originários da ruptura deste. É um composto de proteínas, polipeptídeos e

carboidratos que podem desencadear uma resposta de hipersensibilidade tardia em indivíduos

sensibilizados.

A reação tuberculínica caracteriza-se por ser um infiltrado de células mononucleares

no local da aplicação, com formação de edema mais ou menos pronunciado (Fig. 42).

Fig. 42 – Reação positiva a tuberculinização

FONTE: PNCEBT

Essa é uma reação de hipersensibilidade tardia mediada por linfócitos T sensibilizados.

Alguns animais, ainda que infectados, não respondem aos testes tuberculínicos. Fatores como,

infecção recente, final de gestação e desnutrição podem ocasionar falsos negativos aos testes.

Contudo, animais em estado avançado de infecção podem manifestar o fenômeno de anergia,

definido como ausência de reatividade cutânea à tuberculina em indivíduos previamente

sensibilizados, cujo mecanismo ainda não está bem elucidado. Animais recém-infectados

também não respondem ao teste tuberculínico. A resposta nos bovinos aparece comumente

após 30 a 50 dias da infecção.

Page 136: Defesa Sanitária e Animal

135

18 INSTRUÇÃO NORMATIVA SDA Nº 06, DE 08 DE JANEIRO DE 2004

Art. 1º Aprovar o Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e

Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal.

Art. 2º Subdelegar ao Diretor do Departamento de Defesa Animal competência, no que

couber, para baixar atos complementares a este Regulamento.

Art. 3º Esta Instrução Normativa entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 4º Fica revogada a Instrução Normativa SDA nº 2, de 10 de janeiro de 2001.

MAÇÃO TADANO

Publicada no DOU Nº 07, de 12 de janeiro de 2004, Seção 1, págs. 6-10.

REGULAMENTO TÉCNICO DO PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E

ERRADICAÇÃO DA BRUCELOSE E TUBERCULOSE ANIMAL

Capítulo I

Das Definições

Art. 1º Para efeitos deste Regulamento, considera-se:

I - brucelose: zoonose causada pela Brucella abortus, caracterizada por causar

infertilidade e aborto no final da gestação, afetando principalmente as espécies, bovina e

bubalina;

II - tuberculose: zoonose de evolução crônica, causada pelo Mycobacterium bovis, que

provoca lesões granulomatosas, afetando principalmente as espécies, bovina e bubalina;

Page 137: Defesa Sanitária e Animal

136

III - serviço de defesa oficial: é o serviço de defesa sanitária animal, nos níveis federal,

estadual ou municipal;

IV - unidade local do serviço de defesa oficial: escritório do serviço de defesa animal

estadual que, sob coordenação de médico veterinário oficial, é responsável pelas ações de

vigilância e atenção veterinária em um ou mais municípios;

V - serviço de inspeção oficial: é o serviço de inspeção de produtos de origem animal,

nos níveis federal, estadual ou municipal;

VI - sacrifício: é o abate sanitário de animais reagentes aos testes de diagnóstico para

brucelose ou tuberculose, realizado em estabelecimento sob serviço de inspeção oficial, de

acordo com a legislação pertinente;

VII - destruição: é o procedimento de eliminação de animais reagentes aos testes de

diagnóstico para brucelose ou tuberculose no próprio estabelecimento de criação, obedecendo a

critérios definidos pelo Departamento de Defesa Animal;

VIII - estabelecimento de criação: local onde são criados bovinos ou bubalinos sob

condições comuns de manejo;

IX - estabelecimento de criação em certificação: estabelecimento de criação que está

cumprindo os procedimentos de saneamento previstos neste Regulamento, visando obter o

certificado de livre de brucelose e tuberculose;

X - estabelecimento de criação livre de brucelose: estabelecimento de criação que

obteve certificado de livre de brucelose após concluir saneamento para esta enfermidade e

mantém rotina de diagnóstico prevista neste Regulamento;

XI - estabelecimento de criação livre de tuberculose: estabelecimento de criação que

obteve certificado de livre de tuberculose após concluir saneamento para esta enfermidade e

mantém rotina de diagnóstico, prevista neste Regulamento;

XII - estabelecimento de criação monitorado para brucelose e tuberculose:

estabelecimento de criação especializado em pecuária de corte que mantém rotina de

diagnóstico, em fêmeas com idade igual ou superior a 24 (vinte e quatro) meses e em machos

reprodutores, de acordo com o previsto neste Regulamento;

Page 138: Defesa Sanitária e Animal

137

XIII - laboratório credenciado: laboratório que recebe, por delegação de competência

do Departamento de Defesa Animal, ato de credenciamento para realização de diagnóstico

laboratorial de brucelose ou tuberculose;

XIV - laboratório oficial credenciado: laboratório de instituição federal, estadual ou

municipal, que tenha sido credenciado pelo Departamento de Defesa Animal, para realizar

diagnóstico laboratorial de brucelose ou tuberculose;

XV - laboratório de referência: laboratório pertencente à rede do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

XVI - médico veterinário cadastrado: médico veterinário que atua no setor privado,

cadastrado no serviço de defesa oficial estadual para executar a vacinação contra a brucelose

ou outras atividades previstas no Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e

Tuberculose Animal;

XVII - médico veterinário habilitado: é o médico veterinário que atua no setor privado e

que, aprovado em Curso de Treinamento em Métodos de Diagnóstico e Controle da Brucelose e

Tuberculose, reconhecido pelo Departamento de Defesa Animal, está apto a executar

determinadas atividades previstas no Programa Nacional de Controle e Erradicação da

Brucelose e Tuberculose Animal, sob a supervisão do serviço de defesa oficial estadual e

federal;

XVIII - médico veterinário oficial: médico veterinário do serviço de defesa oficial;

XIX - proprietário: é todo aquele que seja possuidor, depositário ou, a qualquer título,

mantenha em seu poder ou sob sua guarda bovinos ou bubalinos;

XX - rebanho: conjunto de animais criados sob condições comuns de manejo, em um

mesmo estabelecimento de criação;

XXI - animais de rebanho geral: animais não registrados em entidades reconhecidas

pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

XXII - animais registrados: animais de valor zootécnico, registrados em entidades

reconhecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

Page 139: Defesa Sanitária e Animal

138

XXIII - teste de rotina: é o primeiro teste de diagnóstico para brucelose ou tuberculose,

usualmente aplicado em grande número de animais com condição sanitária desconhecida para

aquelas enfermidades, visando identificar animais com suspeita de infecção ou de obter

diagnóstico conclusivo;

XXIV - teste(s) confirmatório(s): um ou mais testes utilizados para obter diagnóstico

conclusivo em animais que apresentaram previamente reação em teste de rotina;

XXV - teste de rebanho: um ou mais testes de diagnóstico aplicados simultaneamente

em todos os animais presentes num rebanho, excluindo-se aqueles que, de acordo com este

Regulamento, não devem ser submetidos a testes de diagnóstico para brucelose ou tuberculose;

XXVI - prevalência: número total de animais infectados em um determinado momento,

divididos pelo número total de animais em risco de adquirir a infecção, no mesmo momento;

XXVII - incidência: número de novos casos de animais infectados em uma determinada

população, durante um período de tempo especificado;

XXVIII - sensibilidade de diagnóstico: capacidade de um teste de diagnóstico classificar

como positivos animais infectados;

XXIX - especificidade de diagnóstico: capacidade de um teste de diagnóstico classificar

como negativos animais não infectados.

18.1 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAÇÃO DA BRUCELOSE E DA

TUBERCULOSE ANIMAL – PNCEBT

O Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal

(PNCEBT) foi instituído em 2001 pelo MAPA com o objetivo de diminuir o impacto negativo

dessas zoonoses na saúde comunitária e de promover a competitividade da pecuária nacional. O

PNCEBT introduziu a vacinação obrigatória contra brucelose bovina e bubalina em todo o

território nacional e definiu uma estratégia de certificação de propriedades livres ou monitoradas

onde essas enfermidades são controladas com rigor.

Page 140: Defesa Sanitária e Animal

139

18.2 DIVISÃO DE BRUCELOSE E TUBERCULOSE – DBT

Endereço eletrônico: [email protected]

Telefone: (0_ _61) 3218-2646 e 3218-2652 Fax: (0_ _61) 3224-4180

Endereço:

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Departamento de Saúde Animal

Coordenação Geral de Combate a Doenças

Divisão de Brucelose e Tuberculose

Esplanada dos Ministérios – Bloco “D” - Anexo “A” – Sala 307

70043-900 – BRASÍLIA - DF

Objetivos específicos do programa

1) Baixar a prevalência e a incidência de casos de brucelose e de tuberculose;

2) Criar um número significativo de propriedades certificadas que ofereçam ao

consumidor produtos de baixo risco sanitário.

Estratégias

A estratégia de ação deste programa é clara: a certificação de propriedades livres e de

propriedades monitoradas, de adesão voluntária, é instrumento que os produtores e o setor

agroindustrial podem utilizar para agregar valor aos seus produtos. Assim sendo, este não é um

programa apenas do governo federal e dos governos estaduais, mas sim um projeto que envolve

o setor produtivo e suas comunidades, o setor industrial e os consumidores, não esquecendo os

Page 141: Defesa Sanitária e Animal

140

médicos veterinários que atuam no setor privado. Em outras palavras, o setor público atua como

agente certificador dentro de um processo que envolve diretamente toda a cadeia produtiva.

São também preconizadas medidas sanitárias compulsórias, de eficácia comprovada,

como a vacinação de bezerras entre os três e oito meses de idade contra a brucelose e o

controle do trânsito de animais destinados à reprodução, objetivando baixar a prevalência e

incidência de casos dessas doenças, até níveis compatíveis com ações sanitárias mais

drásticas, que caracterizam um programa de erradicação. Prevê-se que no espaço de uma

década seja possível reduzir a prevalência de propriedades afetadas para valores próximos a

1%, nos estados que implantarem o programa dentro do cronograma previsto. Deve ser

ressaltado que a vacinação contra brucelose tem prioridade máxima neste Programa.

Para garantir a qualidade técnica das ações do programa, foi elaborada uma série de

medidas que visam: (a) capacitar médicos veterinários e laboratórios, tanto oficiais como

privados; (b) padronizar e modernizar os métodos de diagnóstico utilizados; (c) permitir as ações

de fiscalização e monitoramento que cabem ao serviço oficial de defesa animal; e (d) melhorar a

integração deste com o serviço oficial de inspeção de produtos de origem animal.

• Propostas Técnicas

Da Vacinação Contra a Brucelose

É obrigatória a vacinação de todas as fêmeas das espécies bovina e bubalina, na faixa

etária de três a oito meses.

§ 1º A marcação das fêmeas vacinadas é obrigatória (Fig. 43), utilizando-se ferro

candente, no lado esquerdo da cara, com um V, conforme figura a seguir, acompanhada do

algarismo final do ano de vacinação.

Page 142: Defesa Sanitária e Animal

141

Fig. 43 - Bezerra vacinada contra brucelose

FONTE: Disponível em: <www.indea.mt.gov.br>. Acesso em: 10/04/2009.

§ 2º Excluem-se do disposto no § 1º as fêmeas destinadas ao Registro Genealógico,

quando devidamente identificadas, e as fêmeas identificadas individualmente por meio de

sistema aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

A vacinação será efetuada sob a responsabilidade técnica de médico veterinário

cadastrado, utilizando dose única de vacina viva liofilizada, elaborada com amostra 19 de

Brucella abortus (B19).

Parágrafo único. Onde não houver médicos veterinários cadastrados ou em regiões

onde eles não atenderem plenamente a demanda do PNCEBT, o serviço de defesa oficial

poderá assumir a responsabilidade técnica ou mesmo a execução da vacinação.

O cadastro de médicos veterinários será gratuito.

É proibida a utilização da vacina B19 em machos de qualquer idade e em fêmeas com

idade superior a 8 (oito) meses.

É obrigatória a comprovação da vacinação das bezerras na unidade local do serviço de

defesa oficial, no mínimo uma vez por semestre.

Parágrafo único. A comprovação da vacinação será feita por meio de atestado emitido

por médico veterinário cadastrado, de acordo com normas e usando modelo a ser definido pelo

Departamento de Defesa Animal.

Page 143: Defesa Sanitária e Animal

142

A vacinação de fêmeas com idade superior a oito meses poderá ser autorizada com

imunógenos que não interferem nos testes de diagnóstico, nas condições definidas pelo

Departamento de Defesa Animal.

O Diretor do Departamento de Defesa Animal poderá alterar as estratégias e normas

de vacinação de acordo com a evolução da situação epidemiológica dos Estados ou parte deles.

Da Produção, Controle e Comercialização de Vacinas Contra a Brucelose.

A produção e o controle de todas as partidas de vacina liofilizada obedecerão às

normas do Departamento de Defesa Animal.

Para comercialização de vacina será exigida a apresentação de receita emitida por

médico veterinário cadastrado, a qual ficará retida no estabelecimento comercial à disposição da

fiscalização do serviço de defesa oficial.

Parágrafo único. O estabelecimento responsável pela comercialização da vacina fica

obrigado a comunicar a compra, venda e estoque de vacina, na unidade local do serviço de

defesa oficial estadual, utilizando modelo estabelecido pelo Departamento de Defesa Animal.

A demanda anual de vacinas em cada Estado deverá ser notificada pelo serviço de

defesa oficial estadual ao serviço de defesa oficial federal no Estado, até o mês de novembro do

ano anterior.

Da Produção, Controle e Distribuição de Antígenos para Diagnóstico de Brucelose.

Os antígenos a serem utilizados nos testes sorológicos para diagnóstico de brucelose

serão o antígeno acidificado tamponado, o antígeno para soroaglutinação lenta e o antígeno

para o teste do anel em leite, produzido e controlado, segundo normas aprovadas pelo

Departamento de Defesa Animal.

Parágrafo único. Outros antígenos poderão ser utilizados para diagnóstico de

brucelose, após aprovação e nas condições definidas pelo Departamento de Defesa Animal.

Page 144: Defesa Sanitária e Animal

143

A distribuição de antígenos será controlada pelo serviço de defesa oficial, devendo os

mesmos ser fornecidos somente a médicos veterinários habilitados, a laboratórios credenciados,

a laboratórios oficiais credenciados e a instituições de ensino ou pesquisa.

§ 1º O médico veterinário habilitado responsável pela aquisição do antígeno deverá

fornecer ao serviço de defesa oficial relatório de utilização do mesmo, segundo condições a

serem definidas pelo Departamento de Defesa Animal.

§ 2º A partir da data de publicação deste Regulamento, até 31 de julho de 2004,

médicos veterinários cadastrados serão autorizados a adquirir antígeno para diagnóstico

sorológico de brucelose, respeitando as condições estabelecidas pelo Departamento de Defesa

Animal.

Do Diagnóstico Indireto da Brucelose

A realização de testes de diagnóstico indireto para brucelose deverá obedecer a este

Regulamento e seguir recomendações complementares determinadas pelo Departamento de

Defesa Animal.

Os testes sorológicos de diagnóstico para brucelose serão realizados em:

I - fêmeas com idade igual ou superior a 24 meses, vacinadas entre três e oito meses

de idade;

II - fêmeas não vacinadas e machos, com idade superior a oito meses.

§ 1º Fêmeas submetidas a testes sorológicos de diagnóstico para brucelose no

intervalo de 15 dias antes do parto até 15 dias após o parto deverão ser retestadas entre 30 a 60

dias após o parto.

§ 2º Excluem-se dos testes sorológicos de diagnóstico para brucelose os animais

castrados.

Page 145: Defesa Sanitária e Animal

144

O teste do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT) (Fig. 44) será utilizado como teste

de rotina, de acordo com as seguintes condições e critérios:

Fig. 44 - Mistura entre o soro sanguíneo e o AAT

FONTE: Disponível em: <www.rehagro.com.br>. Acesso em: 10/04/2009.

I - ser realizado por médico veterinário habilitado, por laboratório credenciado, por

laboratório oficial credenciado ou, até 31 de julho de 2004, por médico veterinário cadastrado;

II - a presença de qualquer aglutinação (Fig. 45) classificará o animal como reagente

ao teste;

III - animais não reagentes são considerados negativos;

IV - animais reagentes poderão ser submetidos a teste confirmatório ou, a critério do

médico veterinário habilitado, ser destinados ao sacrifício ou destruição.

Fig. 45 – Reação positiva no AAT

FONTE: PNCEBT

Page 146: Defesa Sanitária e Animal

145

O teste do 2-Mercaptoetanol (2-ME) (Fig. 46) será utilizado como teste confirmatório,

em animais reagentes ao teste do AAT, de acordo com as seguintes condições e critérios:

I - ser realizado por laboratório credenciado ou laboratório oficial credenciado;

II - a interpretação do teste obedecerá às Tabelas 1 e 2:

Fig. 46 – Teste do 2-Mercaptoetanol

FONTE: PNCEBT

Tabela 1 – Interpretação do teste do 2-ME para fêmeas com idade igual ou superior a

24 meses, vacinadas entre três e oito meses de idade.

Teste de soroaglutinação lenta

(UI/mL)

Teste do 2-mercapto-etanol

(UI/mL)

Interpretação

≤50 <25 Negativo

≥100 <25 Inconclusivo

≥25 ≥25 positivo

Page 147: Defesa Sanitária e Animal

146

Tabela 2 – Interpretação do teste do 2-ME para fêmeas não vacinadas e, machos com

idade superior a oito meses.

Teste de soroaglutinação

lenta (UI/mL)

Teste do 2-mercapto-etanol

(UI/mL)

Interpretação

≤25 <25 Negativo

≥50 <25 Inconclusivo

≥25 ≥25 Positivo

III – animais reagentes inconclusivos poderão ser a critério do médico veterinário

habilitado:

a) submetidos ao teste de fixação de complemento; ou

b) retestados em um intervalo de 30 a 60 dias, usando o teste do 2-ME, sendo

classificados como reagentes positivos se apresentarem, no reteste, resultado positivo ou

segundo resultado inconclusivo; ou

c) destinados ao sacrifício ou destruição.

Da Produção, Controle e Distribuição de Tuberculinas

Serão utilizadas somente tuberculinas PPD (Derivado Protéico Purificado) bovina e

aviária, produzidas e controladas de acordo com normas estabelecidas pelo Departamento de

Defesa Animal.

O controle da distribuição de tuberculinas será efetuado pelo serviço de defesa oficial,

devendo as mesmas ser fornecidas somente a médicos veterinários habilitados e a instituições

de ensino ou pesquisa.

Page 148: Defesa Sanitária e Animal

147

§ 1º O médico veterinário habilitado responsável pela aquisição da tuberculina deverá

fornecer ao serviço de defesa oficial relatório de utilização da mesma, segundo condições a

serem definidas pelo Departamento de Defesa Animal.

Do Diagnóstico Indireto da Tuberculose

Para o diagnóstico indireto da tuberculose, serão utilizados testes alérgicos de

tuberculinização intradérmica em bovinos e bubalinos com idade igual ou superior a seis

semanas, a serem realizados por médico veterinário habilitado ou, até 31 de julho de 2004, por

médico veterinário cadastrado.

Parágrafo único. Fêmeas submetidas a teste de diagnóstico para tuberculose no

intervalo de 15 dias antes do parto até 15 dias após o parto deverão ser retestadas entre 60 a 90

dias após o parto, obedecendo a um intervalo mínimo de 60 dias entre testes.

É obrigatória a utilização de material próprio para tuberculinização, seguindo as

determinações do Departamento de Defesa Animal.

O Teste Cervical Simples (TCS) é o teste de rotina recomendado, observando-se as

seguintes condições e critérios:

I – deve ser realizado com inoculação intradérmica de tuberculina PPD bovina, na

dosagem de 0,1 mL, na região cervical ou na região escapular de bovinos, devendo a inoculação

ser efetuada de um mesmo lado de todos os animais do estabelecimento de criação;

II – o local da inoculação será demarcado por tricotomia e a espessura da dobra da

pele medida com cutímetro antes da inoculação;

III – após 72 horas, mais ou menos 6 horas da inoculação, será realizada nova medida

da dobra da pele, no local de inoculação da tuberculina PPD bovina;

Page 149: Defesa Sanitária e Animal

148

IV – o aumento da espessura da dobra da pele (ΔB) será calculado subtraindo-se da

medida da dobra da pele 72 horas, mais ou menos 6 horas, após a inoculação, a medida da

dobra da pele no dia da inoculação da tuberculina PPD bovina;

V – os resultados em bovinos serão interpretados de acordo com a Tabela 3:

Características da reação

∆B (mm) Sensibilidade Consistência Outras

alterações

Interpretação

0 a 1,9 - - - Negativo

2,0 a 3,9 Pouca dor Endurecida Delimitada Inconclusivo

2,0 a 3,9 Muita dor Macia exsudato,

necrose

Positivo

≥4,0 - - - Positivo

VI – os animais reagentes inconclusivos poderão ser submetidos a teste confirmatório,

em um intervalo de 60 a 90 dias ou, a critério do médico veterinário habilitado, ser considerados

positivos e destinados ao sacrifício ou à destruição;

O teste da prega caudal (TPC) pode ser utilizado como teste de rotina, exclusivamente

em estabelecimentos de criação especializados na pecuária de corte e de acordo com as

seguintes condições e critérios:

I – a tuberculina (PPD) bovina será inoculada por via intradérmica na dosagem de 0,1

mL, seis a dez centímetros da base da cauda, na junção das peles pilosa e glabra, devendo a

inoculação ser efetuada de um mesmo lado da prega caudal de todos os animais do

estabelecimento de criação;

II – a leitura e interpretação dos resultados serão realizadas 72 horas, mais ou menos

6 horas, após a inoculação da tuberculina, comparando-se a prega inoculada com a prega do

lado oposto, por avaliação visual e palpação;

Page 150: Defesa Sanitária e Animal

149

III – qualquer aumento de espessura na prega inoculada classificará o animal como

reagente;

IV – os animais reagentes poderão ser submetidos a teste confirmatório, num intervalo

de 60 a 90 dias, ou, a critério do médico veterinário habilitado, ser destinados ao sacrifício ou

destruição.

O Teste Cervical Comparativo (TCC) é o teste confirmatório utilizado em animais

inconclusivos ao Teste Cervical Simples e reagentes ao Teste da Prega Caudal. É também

recomendado como teste de rotina para estabelecimentos de criação com ocorrência de reações

inespecíficas, estabelecimentos certificados como livres e para estabelecimentos de criação de

bubalinos, visando garantir boa especificidade diagnóstica, devendo ser utilizado de acordo com

as seguintes condições e critérios:

I – as inoculações das tuberculinas PPD aviária e bovina serão realizadas por via

intradérmica, na dosagem de 0,1 mL, na região cervical ou na região escapular, a uma distância

entre as duas inoculações de 15 a 20 cm, sendo a PPD aviária inoculada cranialmente e a PPD

bovina caudalmente, devendo a inoculação ser efetuada de um mesmo lado de todos os animais

do estabelecimento de criação;

II – os locais das inoculações serão demarcados por tricotomia e a espessura da dobra

da pele medida com cutímetro, antes da inoculação;

III – após 72 horas, mais ou menos 6 horas, da inoculação, será realizada nova medida

da dobra da pele, no local de inoculação das tuberculinas PPD aviária e bovina;

IV – o aumento da espessura da dobra da pele será calculado subtraindo-se da medida

da dobra da pele 72 horas, mais ou menos 6 horas, após a inoculação, a medida da dobra da

pele no dia da inoculação para a tuberculina PPD aviária (ΔA) e a tuberculina PPD bovina (ΔB).

A diferença de aumento da dobra da pele provocada pela inoculação da tuberculina PPD bovina

(ΔB) e da tuberculina PPD aviária (ΔA) será calculada subtraindo-se ΔA de ΔB.

V – os resultados do teste comparativo em bovinos serão interpretados de acordo com

a Tabela 4:

Page 151: Defesa Sanitária e Animal

150

Tabela 4 – Interpretação do teste cervical comparativo em bovinos

ΔB-ΔA (mm) Interpretação

ΔB<2,0 - Negativo

ΔB<ΔA <0 Negativo

ΔB≥ΔA 0,0 a 1,9 Negativo

ΔB>ΔA 2,0 a 3,9 Inconclusivo

ΔB>ΔA ≥4,0 Positivo

VI – os animais reagentes inconclusivos poderão ser submetidos a um segundo teste

cervical comparativo, num intervalo mínimo de 60 dias entre os testes, ou, a critério do médico

veterinário habilitado, ser considerados positivos e destinados ao sacrifício ou à destruição,

conforme disposto no Capítulo IX;

VII – os animais que apresentarem dois resultados inconclusivos consecutivos serão

classificados como reagentes positivos;

VIII – os resultados em bubalinos poderão ser interpretados de acordo com a Tabela 4,

até a determinação de critérios de interpretação específicos para essa espécie.

Dos Animais Reagentes Positivos aos Testes de Diagnóstico para Brucelose ou

Tuberculose

Animais reagentes positivos a teste de diagnóstico para brucelose ou tuberculose

serão marcados a ferro candente no lado direito da cara com um “P” (Fig. 47) contido num

círculo de oito centímetros de diâmetro, conforme figura a seguir.

Page 152: Defesa Sanitária e Animal

151

Fig. 47 – Animal marcado com “P”

FONTE: Disponível em: <www.boiapasto.com.br>. Acesso em: 15/014/2009.

Animais reagentes positivos deverão ser isolados de todo o rebanho e sacrificados no prazo

máximo de 30 (trinta) dias após o diagnóstico, em estabelecimento sob serviço de inspeção

oficial, indicado pelo serviço de defesa oficial federal ou estadual.

§ 1º Animais reagentes positivos deverão ser imediatamente afastados da produção

leiteira.

§ 2º O serviço de inspeção oficial do estabelecimento onde será realizado o sacrifício

deverá ser notificado da chegada dos animais com antecedência mínima de 12 horas, de forma

a permitir a adoção das medidas previstas na legislação pertinente.

§ 3º Animais reagentes positivos deverão chegar ao estabelecimento de abate

acompanhado de Guia de Trânsito Animal (GTA), informando condição de positivo, conforme

previsto na legislação pertinente.

Na impossibilidade de sacrifício em estabelecimento sob serviço de inspeção oficial,

indicado pelo serviço de defesa oficial federal e estadual, os animais serão destruídos no

estabelecimento de criação, sob fiscalização direta da unidade local do serviço de defesa oficial,

respeitando procedimentos estabelecidos pelo Departamento de Defesa Animal.

É proibido o egresso de animais reagentes positivos e de animais reagentes

inconclusivos do estabelecimento de criação, salvo quando comprovadamente destinados ao

Page 153: Defesa Sanitária e Animal

152

sacrifício em estabelecimento sob serviço de inspeção oficial, indicado pelo serviço de defesa

oficial federal ou estadual.

18.3 CERTIFICAÇÃO DE PROPRIEDADES LIVRES DE BRUCELOSE E TUBERCULOSE

A certificação de propriedades livres de brucelose e de tuberculose tem como objetivo

padronizar o controle dessas enfermidades, dentro dos princípios técnicos sugeridos pelo Código

Zoosanitário Internacional e aceitos internacionalmente. A adesão é voluntária, uma vez que as

normas sanitárias exigidas só serão efetivamente cumpridas quando os pecuaristas se

beneficiarem da condição sanitária adquirida. A experiência no país demonstra que se o

combate a doenças endêmicas como a brucelose e a tuberculose, cujo controle é baseado em

teste e sacrifício de animais, consistirem apenas em exigências sanitárias, sem que sejam

criados incentivos e mecanismos de compensação, a probabilidade de sucesso é reduzida. Tais

incentivos encontram-se em fase de desenvolvimento, em colaboração com a indústria.

O saneamento das propriedades que entram em processo de certificação é feito,

testando todos os animais e sacrificando os reagentes positivos. Os testes em todo o rebanho

são repetidos até obter três resultados sem um único animal reagente positivo, ao longo de um

período mínimo de nove meses. Uma vez saneada, a propriedade obtém o certificado de livre, e

a manutenção desse status depende do cumprimento de todas as regras e normas sanitárias

estabelecidas. As propriedades certificadas ficam obrigadas a repetir os testes anualmente, em

todos os animais. Deve destacar-se a exigência de dois testes negativos para o ingresso de

animais na propriedade, se os animais não forem provenientes de outra propriedade livre. Os

testes de diagnóstico para brucelose são realizados exclusivamente em fêmeas com idade igual

ou superior a 24 meses, desde que vacinadas entre três e oito meses, e em machos e fêmeas

não vacinadas, a partir dos oito meses de idade. São submetidos a testes de diagnóstico para

tuberculose todos os animais com idade igual ou superior a seis semanas.

As atividades de saneamento para certificação de propriedades livres de brucelose e

tuberculose são realizadas por médicos veterinários que atuam no setor privado, desde que

Page 154: Defesa Sanitária e Animal

153

devidamente habilitados pelo MAPA. Para ser habilitado exige-se que o profissional seja

aprovado em curso de treinamento em métodos de diagnóstico e controle da brucelose e da

tuberculose, que inclui, ainda, noções de encefalopatias espongiformes transmissíveis.

O Estado de Sergipe teve a primeira propriedade certificada como livre de brucelose e

tuberculose no Brasil. O certificado foi dado a um estabelecimento leiteiro do município de Porto

da Folha.

18.4 CERTIFICAÇÃO DE PROPRIEDADES MONITORADAS PARA BRUCELOSE E

TUBERCULOSE

Em virtude da dificuldade de aplicação das normas técnicas estabelecidas para

propriedades livres a parte importante da pecuária de corte, criou-se a certificação de

propriedade monitorada para brucelose e tuberculose, também de adesão voluntária. Nestas, os

testes de diagnóstico são realizados por amostragem. Se não forem detectados animais

reagentes positivos, a propriedade recebe o atestado de monitorada para brucelose e

tuberculose. Se forem encontrados animais reagentes positivos, os animais não incluídos na

amostragem inicial são submetidos a teste de diagnóstico e todos os animais reagentes positivos

são sacrificados ou destruídos. Somente após esta etapa a propriedade receberá o certificado de

monitorada para brucelose e tuberculose. Em propriedades monitoradas, os testes são

realizados apenas em fêmeas com mais de 24 meses e em machos reprodutores, com

periodicidade anual para brucelose e a cada dois anos para tuberculose. Só poderão ingressar

na propriedade animais com dois testes negativos ou provenientes de propriedades de condição

sanitária igual ou superior. À semelhança das propriedades livres, as propriedades monitoradas

são obrigadas a ter supervisão técnica de médico veterinário habilitado.

O certificado de propriedade monitorada para brucelose e tuberculose é atribuído

exclusivamente a fazendas de gado de corte. O MAPA entende que esta pode ser uma forma

eficaz de diminuir a prevalência destas enfermidades em propriedades com grande número de

animais e de criação extensiva, enquanto garante o reconhecimento oficial de um trabalho

Page 155: Defesa Sanitária e Animal

154

sistemático de vigilância e saneamento. Para as indústrias exportadoras de carne, é muito

importante poder dar garantias aos mercados consumidores de que o seu produto provém de

propriedades onde o controle destas doenças é feito de forma sistemática, aplicando o conceito

de gestão de risco.

O Estado de Rondônia foi pioneiro no processo de certificação do PNCEBT no Brasil,

ao atribuir o 1º certificado sanitário relacionado a brucelose e tuberculose a uma propriedade do

País (monitorada para brucelose e tuberculose).

18.5 CONTROLE DO TRÂNSITO DE REPRODUTORES E NORMAS SANITÁRIAS PARA

PARTICIPAÇÃO EM EXPOSIÇÕES, FEIRAS, LEILÕES E OUTRAS AGLOMERAÇÕES DE

ANIMAIS

Existe legislação específica que determina a exigência, para animais destinados à

reprodução, de atestado negativo para brucelose e tuberculose. Estas normas foram adaptadas

ao regulamento do programa nacional, em particular quanto aos métodos de diagnóstico

utilizados. Está prevista, em prazo a ser determinado pelo MAPA, a exigência de origem em

propriedade com certificado de livre ou de monitorada, para todos os machos e fêmeas

reprodutores que transitem entre estados ou que participem em exposições.

18.6 HABILITAÇÃO E CAPACITAÇÃO DE MÉDICOS VETERINÁRIOS

O Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose

envolve um grande número de ações sanitárias profiláticas e de diagnóstico a campo, sendo

assim necessário habilitar médicos veterinários do setor privado, que vão atuar por delegação de

competência do MAPA e das Secretarias de Agricultura dos estados. A vacinação contra

brucelose deverá ser realizada sob responsabilidade de médicos veterinários. A compra de

Page 156: Defesa Sanitária e Animal

155

vacina só poderá ser efetuada apresentando receita emitida por médico veterinário, em razão de

tratar-se de uma vacina viva atenuada. Estes profissionais ficarão obrigatoriamente cadastrados

no serviço veterinário oficial de seu estado de atuação.

Para a execução das atividades de diagnóstico a campo e participação no programa de

certificação de propriedades livres ou monitoradas, o MAPA somente habilita médicos

veterinários que tenham sido aprovados em curso de treinamento em métodos de diagnóstico e

controle de brucelose e da tuberculose, previamente reconhecido pelo MAPA, conforme lista

divulgada nesta página eletrônica.

18.7 PAPEL DO MÉDICO VETERINÁRIO DO SETOR PRIVADO

18.7.1 Médico veterinário cadastrado

É o médico veterinário que atua no setor privado, cadastrado no serviço de defesa

oficial estadual para executar a vacinação contra brucelose ou outras atividades previstas no

Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal. É de sua

competência:

a) emissão de receituário para aquisição de vacinas contra a brucelose;

b) execução da vacinação contra a brucelose das bezerras de três a oito meses de

idade;

c) responsabilidade técnica pela vacinação de bezerras contra a brucelose realizada

por vacinadores treinados e cadastrados;

d) emissão de atestados de vacinação contra brucelose.

Page 157: Defesa Sanitária e Animal

156

18.7.2 Médico veterinário habilitado

É o médico veterinário que atua no setor privado e que, aprovado em curso de

Treinamento em Métodos de Diagnóstico e Controle da Brucelose e da Tuberculose,

reconhecido pelo Departamento de Saúde Animal, está apto a executar determinadas atividades

previstas no Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal,

sob a supervisão do serviço de defesa oficial estadual e federal. É de sua competência:

1) realização de testes de diagnóstico de rotina para brucelose (Antígeno Acidificado

Tamponado – AAT e Teste do Anel em Leite – TAL) e de rotina e confirmatórios para tuberculose

em bovinos e bubalinos;

2) responsabilidade técnica pelo processo de saneamento das propriedades, visando à

certificação de LIVRE ou MONITORADA para brucelose e tuberculose;

3) Proceder a marcação dos animais positivos aos testes de diagnóstico para

brucelose e tuberculose com a letra “P”, de acordo com o Regulamento Técnico do PNCEBT;

4) desencadear as providências para a correta eliminação dos animais positivos, de

acordo com a legislação vigente, seja para o abate sanitário ou destruição;

5) cumprir o Regulamento Técnico do PNCEBT e outras normas complementares

estabelecidas pelo Departamento de Saúde Animal e pelo serviço de defesa sanitária animal do

Estado onde foi habilitado.

18.7.3 Papel do produtor

A observação do produtor às normas e práticas estabelecidas pelo Regulamento do

Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal representa

a garantia da eficácia da maioria das ações preconizadas pelo Programa. O Programa

estabelece medidas de caráter compulsório e de adesão voluntária a serem observadas pelo

produtor. As medidas de caráter compulsório consistem na vacinação das bezerras de três a oito

Page 158: Defesa Sanitária e Animal

157

meses de idade contra a brucelose, na eliminação de animais com diagnóstico positivo para

brucelose ou tuberculose e no cumprimento das exigências previstas ao transitar com os seus

animais. A vacinação das bezerras constitui a principal medida estabelecida pelo Programa para

o controle e erradicação da brucelose e deve ser realizado por médico veterinário cadastrado no

serviço oficial de defesa sanitária animal ou por vacinador devidamente treinado, desde que sob

a supervisão de um médico veterinário cadastrado. A certificação de propriedades livres ou

monitoradas para brucelose e tuberculose constitui medida de adesão voluntária. Tanto as

medidas compulsórias quanto voluntárias têm por fundamento a redução de risco da ocorrência

de brucelose e tuberculose na propriedade, visando não somente à saúde dos animais, como

também à saúde do produtor, de seus familiares, tratadores e trabalhadores da propriedade e

consumidores, visto o caráter zoonótico e o aspecto ocupacional relacionado à transmissão

dessas doenças, principalmente às pessoas que lidam com animais e seus produtos. Ao detectar

animais positivos aos testes para brucelose e tuberculose no rebanho, o produtor deve

providenciar o imediato afastamento da produção e isolamento dos outros animais, sendo

recomendado o procedimento de exame em todo o rebanho, na faixa etária recomendada,

visando ao saneamento da propriedade. O leite não poderá ser usado para consumo humano,

nem para alimentação de qualquer espécie animal. Os animais doentes deverão ser marcados

com um “P” com ferro candente no lado direito da cara, devendo essa marcação ser realizada

pelo médico veterinário habilitado que realizou os testes de diagnóstico. No prazo máximo de 30

dias, a contar da data da realização dos testes, deverão ser encaminhados ao abate em

estabelecimento com inspeção sanitária oficial, ou destruídos na propriedade, desde que sob

acompanhamento do serviço oficial de defesa sanitária animal. Essas ações envolvem o médico

veterinário habilitado que realizou os exames, o serviço de defesa sanitária oficial e o serviço de

inspeção oficial.

Ao adquirir animais, o produtor deve exigir atestados negativos de testes de brucelose

e tuberculose, minimizando, desta forma, o risco de introdução destas doenças em seu rebanho.

A adesão pelo produtor à certificação de propriedades livres ou monitoradas, além do

benefício sanitário, propicia-lhe benefícios econômicos, pela redução dos prejuízos ocasionados

pelas doenças, pela maior credibilidade sanitária e pela agregação de valor aos seus produtos,

sendo fomentada pelas indústrias de carnes e produtos lácteos.

Page 159: Defesa Sanitária e Animal

158

18.7.4 Diagnóstico e apoio laboratorial

A eficácia de um programa nacional de combate a qualquer doença depende em parte

da qualidade e padronização dos meios de diagnósticos utilizados. No contexto deste programa,

são determinados os testes de diagnóstico indiretos aprovados e seus critérios de utilização e

interpretação. São eles:

• BRUCELOSE - (1) o Teste do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT), que é muito

sensível e de fácil execução, constitui o único teste de triagem, realizado por médicos

veterinários habilitados; (2) os animais que reagirem a esse teste poderão ser submetidos a um

teste confirmatório, o 2-Mercaptoetanol, que é mais específico, sendo esta prova executada em

laboratórios credenciados ou em laboratórios oficiais credenciados; (3) o Teste de Fixação de

Complemento (FC), ou outro que o substitua, é realizado em laboratórios oficiais credenciados

para efeitos de trânsito internacional e para diagnóstico de casos inconclusivos ao teste do 2-

Mercaptoetanol; (4) o Teste do Anel em Leite (TAL) pode ser utilizado para monitoramento da

condição sanitária de propriedades certificadas.

• TUBERCULOSE - (1) a tuberculinização por meio do Teste Cervical Simples (TCS) é

adotada como prova de triagem devido a sua boa sensibilidade; (2) o Teste da Prega Caudal

(TPC) também é utilizado como prova de triagem, porém exclusivamente em gado de corte; (3) o

Teste Cervical Comparativo (TCC) é a única prova confirmatória, podendo ainda ser usada como

prova de triagem em rebanhos com histórico de reações inespecíficas, em estabelecimentos

certificados como livres e em estabelecimentos com criação de bubalinos, visando garantir boa

especificidade diagnóstica.

Os testes acima mencionados colocam o diagnóstico de brucelose e de tuberculose no

Brasil em sintonia com os padrões internacionais e, em particular, com as recomendações do

Código Zoosanitário Internacional. Entretanto, o MAPA pretende atualizar e melhorar o padrão

de diagnóstico, à medida que novos e melhores testes forem surgindo no mercado.

Page 160: Defesa Sanitária e Animal

159

18.7.5 Participação do serviço oficial

A credibilidade das atividades propostas neste programa, principalmente a certificação

de propriedades está diretamente associada às ações de monitoramento e fiscalização do

serviço veterinário oficial. Uma vez que este delega parte das ações sanitárias, o seu papel de

órgão certificador de qualidade e fiscalizador de pontos críticos do processo é certamente

otimizado. Por exemplo, o serviço oficial pode, em qualquer momento, realizar diagnósticos por

amostragem em propriedades certificadas e fazer um acompanhamento direto dos testes finais

que conferem o certificado de propriedade livre. Um ponto fundamental é a integração do serviço

de inspeção de produtos de origem animal neste programa, em virtude do seu papel tanto na

proteção ao consumidor como na vigilância epidemiológica. Com este objetivo, deve existir um

fluxo sistemático de informações nosológicas entre o serviço de inspeção e o serviço de defesa.

18.7.6 Educação sanitária

Todas as atividades propostas precisam ser claramente entendidas pelos pecuaristas e

consumidores. Só isso vai caracterizar o programa como um projeto da sociedade brasileira e

permitir que as ações sanitárias sejam efetivamente cumpridas. Neste sentido, é muito

importante que todas as medidas estabelecidas pelo PNCEBT sejam precedidas e

acompanhadas por um trabalho de educação sanitária. Deve-se salientar o papel importante que

as autoridades regionais de saúde pública desempenham neste processo.

Page 161: Defesa Sanitária e Animal

160

18.7.7 Método de Elaboração da Proposta de Programa

A proposta de Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da

Tuberculose foi elaborada por um grupo de trabalho instituído pelo MAPA no dia 1º de junho de

2000. Deste grupo participaram especialistas e pesquisadores em epidemiologia, em medicina

veterinária preventiva, e em serviços de inspeção e defesa sanitária animal. Durante os trabalhos

do grupo foram ouvidos representantes de entidades de classe, laboratórios produtores de

vacina e de antígenos, entidades e empresas ligadas às cadeias produtivas do leite e da carne,

pesquisadores e especialistas de universidades e institutos de pesquisa e representantes dos

serviços de defesa sanitária de todos os estados brasileiros. As propostas de programa

encaminhadas ao MAPA foram consideradas por este grupo de trabalho. Dessa forma, a

proposta de ação que está sendo implementada no País, resulta de amplo debate sobre o

problema e incorpora a opinião de técnicos e entidades envolvidas.

Page 162: Defesa Sanitária e Animal

161

19 PROGRAMA NACIONAL DE SANIDADE DOS EQUÍDEOS - PNSE

PNSE - Marcos legais

Decreto n° 24.548, de 3 de julho de 1934: Aprova o Regulamento do

Serviço de Defesa Sanitária Animal.

Portaria n° 200, de 18 de agosto de 1981: Inclui a anemia infecciosa

equina (AIE) na relação de doenças passíveis de aplicação de medidas de defesa

sanitária animal.

Portaria n° 84, de 19 de outubro de 1992: Aprova as normas para o

credenciamento e monitoramento de laboratórios de AIE.

Instrução de Serviço n° 17, de 16 de novembro de 20 01: Determina a

adoção de medidas sanitárias em razão da ocorrência de influenza equina.

Instrução Normativa n° 12, de 29 de janeiro de 2004: Aprova as normas

para o credenciamento e monitoramento de laboratórios para diagnóstico sorológico do

mormo por meio da técnica de Fixação do Complemento.

Instrução Normativa n° 24, de 5 de abril de 2004: Aprova as normas

para o controle e a erradicação do mormo.

Instrução Normativa n° 45, de 15 de junho de 2004: Aprova as normas

para a prevenção e o controle da AIE.

Decreto nº 5.741, de 30 de março de 2006: Regulamenta os arts. 27-A,

28-A e 29-A da Lei no 8.171, de 17 de janeiro de 1991, e organiza o Sistema Unificado

de Atenção à Sanidade Agropecuária.

Instrução Normativa n° 17, de 8 de maio de 2008: Institui o Programa

Nacional de Sanidade dos Equídeos - PNSE no âmbito do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento.

Ações - PNSE 2008

• Elaborar o Regulamento Técnico;

• Revisar os atos normativos;

• Regularizar o fornecimento de insumos;

Page 163: Defesa Sanitária e Animal

162

• Realizar treinamentos para MV;

• Reforçar a fiscalização nos laboratórios; e

• Elaborar normas para controle de outras doenças.

Page 164: Defesa Sanitária e Animal

163

20 ANEMIA INFECCIOSA EQUINA

20.1 DEFINIÇÃO

A AIE é definida como uma infecção persistente que provoca episódios de febre,

anemia e hemorragia, além de trombocitopenia, leucopenia, supressão transitória da resposta

imunológica e aumento significativo nos índices de cobre e de enzimas hepáticas. É causada

pelo retrovírus pertencente à subfamília Lentivirinae que possui a capacidade de infectar a

família dos Equídeos (SILVA et al., 2001).

Popularmente conhecida como Febre-do-Pântano, teve seu primeiro diagnóstico na

França do século XX por Carré e Vallé e no Brasil os primeiros casos ocorreram no Rio Grande

do Sul e no Rio de Janeiro em 1.968. Na região do Pantanal não existe informações precisas

sobre os primeiros casos, porém fazendeiros e técnicos da região relatam que as primeiras

ocorrências datam de 1974. Atualmente a doença apresenta distribuição mundial e encontra

altas prevalências entre os equinos, no Brasil central estima-se que a incidência esteja em torno

dos 50% (MAYR; GUERREIRO, 1988; SILVA et al., 2001).

O Brasil é o terceiro maior criador de cavalos do mundo, fica atrás apenas de México e

China e este mercado segue em franca expansão no cenário nacional, aumentando cada vez

mais sua participação na cadeia do agronegócio. A importância dos equídeos para o mercado

nacional está relacionada diretamente com os setores de lazer, cultura e turismo, bem como são

utilizados em larga escala como ferramenta de trabalho na pecuária de corte, tanto no Brasil

central como na região sul (ALMEIDA et al., 2006).

O crescente desenvolvimento da equideocultura brasileira, tanto para atender as

necessidades internas quanto as exportações de carne de equinos, bastante apreciada em

alguns países da Europa e da Ásia, tem na presença da AIE um grande impeditivo, pois a falta

de tratamento e a fácil transmissão se traduzem em prejuízos aos criadores, além de atuar como

Page 165: Defesa Sanitária e Animal

164

barreira para o estabelecimento de comércio internacional (SANTOS et al., 1996; SILVA et al.,

2001; PENA et al.,2006).

20.2 ETIOLOGIA

A etiologia da AIE foi identificada no início do século XX e posteriormente estabeleceu-

se sua classificação, qual seja pertencente a família Retroviridae e gênero Lentivirus. As

primeiras pesquisas com o vírus demonstraram que este agente viral era infeccioso e filtrável.

Pesquisas recentes demonstram que o vírus causador da AIE mantém estreita relação com o

vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). De forma abrangente as Lentiviroses causam nos

organismos que acometem infecções persistentes, também é característica deste gênero de

vírus a mutação antigênica quando de sua entrada em um organismo, dando origem,

invariavelmente, a novas variantes do vírus, fato que acaba por inviabilizar a produção de

vacinas (MAYR; GUERREIRO, 1988; HIRSH; ZEE, 2003).

O vírus da AIE é um retrovírus (RNA) de fita simples que depende de um DNA

intermediário para sua replicação. Este fato faz com que a propagação seja mais lenta que

comumente se verifica em vírus desta categoria, mas que não utilizam uma molécula de DNA

para a replicação. É comum que um mesmo animal mantenha em seu organismo uma grande

variedade antigênica, em geral, todas diferentes entre si (HIRSH; ZEE, 2003). A figura 48 é uma

representação de um lentivírus.

Figura 48: Representação de Lentivirus

FONTE: Disponível em: <http://cache.eb.com.eb/image?id=19285&rendTypeId=4>. Acesso em: 20/04/2009.

Page 166: Defesa Sanitária e Animal

165

As características etiológicas do vírus explicam em parte a imensa dificuldade em criar

vacinas eficazes para combater a AIE, pois o vírus mantém um comportamento físico e químico

que não segue padrões; o vírus se multiplica intracelularmente, logo, anticorpos neutralizantes

não conseguem atingi-lo; ao infectar um organismo o vírus altera sua imunocompetência celular,

gerando raros e ineficientes anticorpos (HIRSH; ZEE, 2003).

20.3 PROPRIEDADES FÍSICAS, QUÍMICAS E ANTIGÊNICAS

O vírus da AIE é composto por duas glicoproteínas codificadas no envoltório (gp90 =

SU e gp45 = TM) e de quatro proteínas não glicosiladas maiores (p26 = CA, p15 = MS, p11 = NC

e p9) (HIRSH; ZEE, 1999; RADOSTITS et al., 2000).

O genoma deste vírus é mutagênico e quando submetido à pressão seletiva pelo

sistema imune do hospedeiro, ocorrem mutações em segmentos do genoma, o que dá origem a

um novo modelo de variantes antigênicas das proteínas do envoltório (HIRSH; ZEE, 2003).

20.4 RESISTÊNCIA A AGENTES FÍSICOS E QUÍMICOS

O vírus da AIE é rapidamente inativado por desinfetantes comuns que contenham

detergentes. O vírus também é inativado por hidróxido de sódio, hipoclorito de sódio, clorexidina

e pela maioria dos solventes orgânicos. Quando aquecido a 58°C durante tempo superior a 30

minutos, o vírus presente no soro equino não é infeccioso para outros animais, contudo, a 25°C

pode permanecer por até 96 horas em agulhas hipodérmicas (MAYR; GUERREIRO, 1988;

HIRSH; ZEE, 2003).

Page 167: Defesa Sanitária e Animal

166

20.5 EPIDEMIOLOGIA

Os equinos, independente de raça, idade ou sexo, são susceptíveis a AIE, logo esta

doença tem sido diagnosticada em todos os continentes. Pesquisas já demonstraram que o

percentual de soropositividade de uma determinada região está diretamente relacionado à

densidade demográfica da população de equinos, o que se traduz em aumento no risco de

transmissão entre animais soropositivos e animais soronegativos. Outros fatores que podem ser

correlacionados com a epidemiologia da AIE são a abundância e proximidade de vetores, bem

como uso indiscriminado de utensílios para toda a manada, aumentando sobremaneira o risco

de infecção (FELICIO et al., 2005; SILVA et al., 2001).

Radostits et al. (2000), confirmaram que o aumento na população de insetos

hematófagos em decorrência de condições climáticas favoráveis (como exemplo cita-se os

tabanídeos que tem predileção por ambientes quentes e úmidos), contribuem decisivamente no

aumento de casos de AIE quando se mantém em um mesmo plantel animais saudáveis e

animais portadores da doença.

A dificuldade em apontar dados epidemiológicos fidedignos advém do fato que esta

doença quando diagnosticada nos animais de uma determinada propriedade, exige que os

mesmos sejam sacrificados, o que faz com que muitos criadores não procurem realizar testes

sorológicos. Esta atitude contribui para a perpetuação e disseminação da doença. Outro fator

que contribui para a falta de dados estatísticos verídicos deve-se ao fato de que esta doença

apresenta-se muitas vezes por meio da forma subclínica, não evidenciando maiores sinais que

justifiquem para proprietário destinar-lhe cuidados especiais (ALMEIDA et al., 2006).

20.6 TRANSMISSÃO

A transmissão da AIE se dá por meio de várias situações, principalmente por meio da

forma horizontal na qual estão envolvidos o uso compartilhado de materiais cirúrgicos, materiais

Page 168: Defesa Sanitária e Animal

167

de montaria como freio, esporas e outros, por meio do aleitamento materno, sêmen contaminado

ou ainda pela picada de insetos hematófagos. A transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho

pela placenta ainda é discutida (RADOSTITS et al.,2000; SILVA et al., 2001).

Basicamente o processo que permite que um animal se contamine com o vírus da AIE

ocorre quando este mantém contato com o sangue de um animal infectado. O surgimento dos

primeiros sinais clínicos pode variar bastante, desde 15 até 60 dias após a exposição ao vírus.

Em alguns casos os animais podem desenvolver a forma latente da doença, se tornando

portadores inaparentes (FELICIO et al., 2005; RADOSTITS et al.,2000; SILVA et al., 2001).

Os insetos hematófagos desempenham o papel mais importante na cadeia natural da

doença atuando como vetores. Várias espécies de dípteros hematófagos estão relacionadas à

transmissão mecânica, em que os tabanídeos (mutucas – Tabanus bovis) são os de maior

importância. Os dípteros contaminam-se durante o ato de hematofagia de um animal

contaminado. O título viral do animal infectado também influencia na capacidade de transmissão

pelos insetos hematófagos, pois, quanto maior a quantidade de vírus no sangue do animal que

está sendo sugado, maior será a probabilidade de transmissão quando este mesmo inseto picar

outro animal (ISSEL et al., 1990 apud SILVA et al., 2001).

Embora seja possível controlar ou até mesmo eliminar a transmissão pela intervenção

do homem, o mesmo não ocorre com relação ao risco de transmissão por insetos hematófagos

(SILVA et al., 2001).

Fatores como temperatura e pluviosidade influenciam diretamente na população de

vetores. Embora a maioria das espécies de mutucas ocorra durante o ano todo, sua maior

abundância ocorre na primeira metade da época chuvosa, o que sugere que este período seja o

de maior risco de transmissão (RADOSTITS et al., 2000; SILVA et al., 2001). A figura 2

demonstra um inseto hematófago, popularmente conhecido como mutuca.

Page 169: Defesa Sanitária e Animal

168

Figura 49: Tabanus sp.

FONTE: Disponível em: <http://www.geocities.com/brisbane_flies/Tabanidae.htm>. Acesso em: 20/04/2009.

Silva et al. (2001), relata que não existem métodos eficazes de controle dos tabanídeos

e ações desta natureza podem incorrer no risco de desequilíbrio biológico, o que traria

consequências drásticas para a natureza de um modo geral. Dessa forma, é preciso levar em

consideração que insetos desta natureza possuem um raio de ação limitado, o que favorece a

segregação entre animais soropositivos e soronegativos evitando, com relativa eficiência, a

disseminação da doença.

20.7 PATOGÊNESE

A patogênese da AIE inicia-se quando ocorre a entrada primária e infecção dos

macrófagos teciduais. Os macrófagos atingidos são destruídos em um curto espaço de tempo e

ocorre a liberação dos vírus e dos componentes virais. Tão logo o organismo percebe a

existência de moléculas estranhas ao seu ambiente e do reconhecimento dos componentes

antigênicos, inicia-se a produção de anticorpos (MAURY, 1994; SELLON et al., 1995).

Os primeiros sinais clínicos, como a febre, a glomerulonefrite, a anemia, e a

trombocitopenia são decorrentes da formação de complexos, antígeno-anticorpo. Em algumas

situações pode-se observar hemólise causada por complexos específicos que ativam o sistema

reticuloendotelial. Também se verifica a eritropoiese temporária deficiente de ferro causada pela

liberação tardia de ferro dos macrófagos (MAURY, 1994; SELLON et al., 1995).

Page 170: Defesa Sanitária e Animal

169

Após essas ocorrências iniciais percebe-se o abrandamento dos processos

patológicos, sobretudo à medida que os anticorpos neutralizantes do vírus limitam a

multiplicação viral nos macrófagos e o material genético do vírus é incorporado ao genoma do

hospedeiro tornando-se latente (MAURY, 1994; SELLON et al., 1995).

O reinício dos sintomas clínicos pode ocorrer de duas formas. Por meio de algum

processo de imunossupressão no animal, ou então porque há o surgimento de uma nova

variante antigênica do vírus com reinício do ciclo. As alterações antigênicas ocorrem em função

das alterações na glicoproteína de superfície do vírus (MAURY, 1994; SELLON et al., 1995).

Na grande maioria dos casos as recidivas tornam-se mais espaçadas e o animal torna-

se permanentemente assintomático. Nessas situações, em geral, a resposta imune do

organismo hospedeiro adequou-se as exigências que o organismo invasor exige principalmente

aos epítopos antigênicos comuns em todas as cepas do vírus da AIE (MAURY, 1994; SELLON

et al., 1995).

20.8 SINAIS CLÍNICOS

A AIE se manifesta sob as formas, aguda, crônica ou inaparente, o que resulta na

apresentação clínica variável de acordo com a forma presente. Quando o animal acometido pela

AIE apresenta a forma aguda, os sintomas desenvolvem-se entre sete a 21 dias após a infecção.

Nessas situações os animais podem apresentar sintomas inespecíficos como febre, anemia,

hemorragias, petéquias, edemas nos membros, fraqueza e falta de apetite, também pode ser

presenciados episódio de sudorese profusa e secreção nasal serosa. Na forma aguda a maioria

dos sinais clínicos relatados ocorre em até cinco dias e o animal pode se restabelecer após este

período ou então, depende de suas condições físicas, evoluir para o óbito (PNSE, 2008; HIRSH;

ZEE, 2003).

A forma mais encontrada da AIE é a crônica e nestes casos raramente o animal evolui

para óbito (Fig. 50). São sintomas comuns na forma crônica, febre recorrente e fraqueza que se

Page 171: Defesa Sanitária e Animal

170

caracteriza por falta de rendimento quando o animal é submetido à atividade física. Nesses

casos os episódios duram, em média, entre três e cinco dias com intervalos que podem chegar a

meses (PNSE, 2008; HIRSH; ZEE, 2003).

Figura 50: Equino positivo para AIE

FONTE: Disponível em: <www.cpap.embrapa.br>. Acesso em: 20/04/2009.

Quando o equino acometido possui a forma inaparente ou latente, esse se apresenta

como um animal sadio, porém, atua como reservatório da doença e contribui decisivamente na

epidemiologia da doença (PNSE, 2008).

20.9 RESPOSTA IMUNE

O vírus da AIE provoca uma forte resposta imune nos indivíduos acometidos. Essa

resposta é detectável entre sete e 10 dias após infecção. Radostits et al., (2000) lembram que os

principais sinais clínicos e lesões da AIE são atribuídos à resposta do hospedeiro ao vírus, e não

propriamente ao dano viral direto ao tecido.

Pena et al., (2006) explicam que o genoma do vírus da AIE é constituído por uma

dupla-fita de RNA sensopositivo. Esta dupla fita possui duas glicoproteínas em seu envelope, Gp

Page 172: Defesa Sanitária e Animal

171

45 e Gp 90 e quatro glicoproteínas no nucleocapsídeo, sendo a p26 a mais importante para o

diagnóstico sorológico. Apesar da p 26 ser a mais importante para o diagnóstico, são as

glicoproteínas Gp 45 e Gp 90 que são responsáveis pela resposta imune humoral. Raramente

encontram-se equinos que apresentam resposta imune contra a glicoproteína Gp 26.

20.10 TRATAMENTO

Vale lembrar que o tratamento dos animais acometidos não é permitido. Deve-se

realizar o abate de todos os animais soropositivos, com exceção da região pantaneira, a qual

apresenta grande prevalência da doença devido ao clima quente e úmido que propicia o

aumento da população do vetor, ocorrendo assim incontroláveis casos de AIE (PNSE, 2008).

Silva et al., (2001) comentam que o controle da AIE em áreas consideradas endêmicas

tem sido objeto de estudo de diversos pesquisadores. Para tanto, sugere-se que todos os

equídeos da fazenda sejam testados. A partir dos resultados obtidos é necessária a segregação

entre os animais positivos e negativos. Os autores trazem que os animais positivos podem

continuar sendo usados no trabalho ou para a atividade a que se destinam, contudo, devem

receber atenção especial, especialmente quando recebem cargas excessivas de trabalho.

20.11 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da AIE somente é definitivo após a realização de testes sorológicos. A

sintomatologia clínica apresentada pelos animais não é de forma alguma capaz de ofertar

informações suficientes para o médico veterinário declinar um diagnóstico definitivo. Para a

realização de exame laboratorial, somente o médico veterinário credenciado pelo Ministério da

Agricultura pode tomar parte na atividade. O exame laboratorial de eleição é o teste de Coggins,

Page 173: Defesa Sanitária e Animal

172

que atende pela sigla IDGA (Teste de Imunodifusão em Gel de Ágar). Este teste somente pode

ser realizado por laboratórios credenciados junto ao Ministério da Agricultura. Outro teste

passível de ser utilizado e que faz uso do mesmo princípio de detecção de anticorpos para a AIE

é o teste de ELISA, do inglês Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay (ALMEIDA et al., 2006;

SILVA et al., 2001).

O teste de Coggins, como ilustra a figura 51, tem como mecanismo básico a difusão

radial das pequenas partículas do antígeno e das grandes moléculas do anticorpo no meio

gelificado. Estes dois tipos de partículas, quando se encontram, combinam-se especificamente e

neste ponto há o surgimento de uma linha de precipitação visível. Sua grande aceitação para

diagnóstico da AIE no mundo todo se deve a sua alta especificidade, facilidade de execução e

alto grau de sensibilidade, o qual se aproxima de 99%. É importante salientar que o anticorpo

precipitante aparece de forma precoce no soro de todos os cavalos infectados, assim, para que o

teste seja considerado positivo há a necessidade de que haja uma reação de identidade entre o

soro controle e a amostra (JÚNIOR, 1998).

Figura 51: Teste de Coggins

FONTE: Júnior, 1998.

Na figura três que ilustra o teste de IDGA, há exemplo da reação que ocorre com o

soro padrão (indicado pelos números 1, 2 e 3), os soros testes na posição (A e C) conferem

positividade para o resultado da presença de anticorpos para AIE, enquanto (B) é negativo para

a presença de anticorpos.

2

3

Page 174: Defesa Sanitária e Animal

173

Para a realização do teste de IDGA, o médico veterinário inscrito no Conselho Regional

de Medicina Veterinária v(CRMV) deve proceder à colheita de sangue dos animais a serem

examinados, as amostras devem ser enviadas a laboratórios credenciados junto ao MAPA

acompanhadas de uma requisição e a identificação do animal, a resenha. Os animais que

apresentarem resultado positivo são considerados portadores da AIE. O laboratório que detectou

a presença de anticorpos para AIE é obrigado a comunicar ao serviço de defesa sanitária animal

da jurisdição onde o mesmo se encontra (PNSE, 2008).

Almeida et al. (2006), comenta que já existem testes mais sensíveis e capazes de

diagnosticar a AIE mais precocemente quando comparado com o teste de Coggins, sobretudo,

os testes baseados na técnica de ELISA. O autor relata que:

Um ELISA, utilizando gp90 recombinante, foi desenvolvido por Reis (1997), e demonstrou ser mais eficiente do que o ELISA com o antígeno p26, pois detectou anticorpos para o VAIE mais precocemente em animais infectados, apresentou boa correlação com os resultados do teste de IDGA e foi recomendado como teste de triagem em levantamentos sorológicos (Martins, 2004) (ALMEIDA et al., 2006, p.142).

20.12 PREVENÇÃO E CONTROLE

Tanto a prevenção quanto o controle da AIE apresentam-se como atividades de difícil

implantação, sobretudo, porque muitos animais são portadores inaparentes e atuam como

disseminadores da doença, além do que, raros são os proprietários que realizam exames para

detecção de animais positivos. Esta atitude é mais comum entre os criadores de equinos que

necessitam transportar seus animais.

Tanto a prevenção quanto o controle da doença, principalmente em regiões

endêmicas, baseiam-se na identificação dos animais soropositivos. Somente por meio da

identificação desses e do abate dos animais infectados, é possível diminuir e controlar a

disseminação da doença. Para locais endêmicos, como o Pantanal de Mato Grosso do Sul, é

Page 175: Defesa Sanitária e Animal

174

aceita a identificação e segregação dos animais positivos dos negativos. Nessas situações, além

de manter os animais em locais separados a no mínimo 200 metros, para evitar que vetores

hematófagos atuem como disseminadores da doença fazem-se necessário cuidado no manejo

dos animais. Os cuidados a serem adotados incluem a segregação de todo e qualquer tipo de

material que mantenha contato com os animais. Assim, tanto instrumentos para manejo, como

seringas, agulhas, quanto os apetrechos de montaria, devem ser única e exclusivamente

utilizados para cada grupo, qual seja o de animais positivos e o de animais não portadores da

AIE (RADOSTITS et al., 2000; SILVA et al., 2001).

A figura 52 demonstra o momento após o abate sanitário, quando os animais são

enterrados em valas fundas. O ideal é que este abate seja efetuado em abatedouros próprios,

contudo, como poucos estabelecimentos dedicam-se ao abate de equinos, esse procedimento

pode ser realizado na fazenda, desde que efetuado por médico veterinário credenciado junto ao

MAPA.

Figura 52: Abate sanitário de equinos soropositivos

FONTE: Disponível em: <http://www.seagro.ma.gov.br>. Acesso em: 20/04/2009.

Page 176: Defesa Sanitária e Animal

175

Entre as principais medidas utilizadas no controle da AIE estão: Uso de seringas e

agulhas descartáveis (uma para cada animal); Limpeza de todos os utensílios utilizados nos

animais; Isolamento dos animais positivos até a realização do sacrifício; Sacrifício dos animais

positivos à prova de diagnóstico, pois não existe até o momento tratamento ou vacina para esta

doença; Submeter ao exame de diagnóstico para AIE todo equídeo que necessite transitar;

Realização de exame de diagnóstico para AIE em animais adquiridos em leilões, feiras ou de

outras propriedades (PNSE, 2008)

Equinos que precisam ser transportados somente podem fazê-lo acompanhados da

Guia de Trânsito Animal (GTA) e por força de lei todos os equinos acima de seis meses para

receberem a GTA precisam obrigatoriamente apresentar o teste IDGA emitido por laboratório

credenciado junto ao MAPA com resultado negativo para AIE. O resultado do teste de Coggins

quando negativo tem validade de 180 dias para animais procedentes de entidades controladas e

de 60 dias nos demais casos (PNSE, 2008).

A participação de equídeos em leilões, feiras, rodeios, exposições, torneios e demais

concentrações de equídeos, somente é permitida a equídeos com resultados negativos à prova

de diagnóstico para AIE independentemente da necessidade da movimentação interestadual ou

não (PNSE, 2008).

20.13 VACINAS CONTRA A AIE

Já de longa data pesquisadores buscam o desenvolvimento de uma vacina contra a

AIE que seja realmente eficaz, contudo, apesar dos inúmeros testes, até o momento nenhuma

atingiu resultados satisfatórios. A ineficiência na produção de vacinas deve-se ao caráter

mutagênico do vírus (MAYR; GUERREIRO, 1988; SILVA et al., 2006).

Em decorrência do vírus da AIE resistir rapidamente à variação antigênica in vivo, este

vírus consegue uma resistência maior que os demais vírus da mesma família, o que colabora

decisivamente para ineficiência na produção de vacinas. Além deste fato, um animal pode

Page 177: Defesa Sanitária e Animal

176

albergar em seu organismo duas ou mais variantes do vírus ao mesmo, minorando a ação de

todo e qualquer tipo de vacina (JÚNIOR, 1998; RIBEIRAL, 2006).

A grande capacidade de resistência do vírus nos animais infectados pode ser atribuída

ao fato do vírus ser estranho em seu comportamento físico e químico; se multiplicar

intracelularmente, onde não é atingido pelos anticorpos do organismo ou provenientes de

vacinas (JÚNIOR, 1998).

Desta forma, considera Payne et al., (1989) apud Ribeiral (2006), o ponto crítico para o

desenvolvimento e avaliação de uma vacina para o vírus da AIE está na identificação e

localização dos determinantes específicos para os quais os animais infectados respondam

imunologicamente.

Page 178: Defesa Sanitária e Animal

177

21 MORMO

O Mormo, doença listada pelo Código Sanitário para os Animais Terrestres da

Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), possui como agente causal uma bactéria

denominada Burkholderia mallei que acomete os cavalos e, de forma mais grave, os asininos e

muares, podendo acometer inclusive o homem.

A doença está incluída entre aquelas passíveis de aplicação das medidas previstas no

Regulamento de Defesa Sanitária Animal (Art. 61 e 63 do Decreto n° 24.548 de 03/07/1934),

sendo obrigatório o sacrifício dos animais doentes, uma vez que não existe cura e trata-se de

uma enfermidade de interesse de Saúde Pública.

A legislação referente ao controle e à erradicação do Mormo em vigor é a Instrução

Normativa SDA nº 24, de 05 de abril de 2004.

21.1 HISTÓRICO

Não há dados precisos sobre a época em que o mormo foi introduzido no Brasil. Ao

longo do século XIX várias ocorrências da doença foram registradas, principalmente nas cidades

do Rio de Janeiro, Campos, São Paulo e Salvador.

Desde 1968 não houve registro de nenhum novo caso da doença em território nacional

até que, em setembro de 1999, sete animais, provenientes de usinas de cana de açúcar da zona

da mata dos Estados de Pernambuco e Alagoas, mostraram-se reagentes ao teste de fixação de

complemento.

Page 179: Defesa Sanitária e Animal

178

21.2 SINTOMAS

A doença se manifesta sob três formas e, normalmente, os muares e asininos são

acometidos na sua forma aguda, enquanto os cavalos, na forma crônica. Na forma nasal (fig.

53), os animais apresentam febre alta, tosse e descarga nasal com úlceras nas narinas, podendo

ocorrer úlceras e nódulos nos membros e abdome.

Figura 53: Corrimento nasal de equino com mormo.

FONTE: Disponível em: <http://www.endurancebrasil.com.br/port/noticias/mormo1.jpg>. Acesso em: 20/04/2009.

A forma pulmonar, mais comum nos cavalos, pode causar uma pneumonia crônica

acompanhada de úlceras na pele dos membros e na mucosa nasal.

A forma cutânea se apresenta sob a forma de nódulos e úlceras na região interna dos

membros com presença ou não de secreção amarelada escura.

Page 180: Defesa Sanitária e Animal

179

21.3 TRANSMISSÃO

A transmissão se dá por meio do contato dos animais com as secreções e excreções

de doentes, especialmente a secreção nasal e o pus dos abscessos, que contaminam o

ambiente, principalmente comedouros e bebedouros.

21.4 ESTADOS COM NOTIFICAÇÃO DE MORMO

Hoje, o mormo ocorre nos Estados de Alagoas, Amazonas, Ceará, Maranhão, Pará,

Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima e Sergipe.

Page 181: Defesa Sanitária e Animal

180

22 NORMAS PARA A PREVENÇÃO E O CONTROLE DA A.I.E.

CAPÍTULO I

DAS DEFINIÇÕES

Art. 1º Para os fins a que se destinam estas normas serão adotadas as seguintes

definições:

I - Abate sanitário: abate dos equídeos portadores de A.I.E. em abatedouros com

Inspeção Federal, sob prévia autorização do Serviço de Sanidade Animal da Unidade Federativa

- UF de origem dos animais;

II - Anemia Infecciosa Equina (A.I.E.): doença infecciosa causada por um lentivírus,

podendo apresentar-se clinicamente sob as seguintes formas: aguda, crônica e inaparente;

III - Animal Portador: qualquer equídeo que, submetido ao teste laboratorial oficial para

A.I.E., tenha apresentado resultado positivo;

IV - Área de Alto Risco: região geográfica na qual a A.I.E. é sabidamente endêmica e

onde as condições ambientais contribuem para a manutenção e a disseminação da doença;

V - Área perifocal: área ao redor do foco a ser estabelecida pelo serviço veterinário

oficial;

VI - Contraprova: exame laboratorial para diagnóstico da A.I.E. realizado a partir da

amostra original, identificada, lacrada e conservada a -20ºC (vinte graus Celsius negativos), para

fins de confirmação do diagnóstico;

VII - Equídeo: qualquer animal da Família Equidae, incluindo equinos, asininos e

muares;

VIII - Foco: toda propriedade onde houver um ou mais eqüídeos portadores de A.I.E;

Page 182: Defesa Sanitária e Animal

181

IX - Isolamento: manutenção de equídeo portador em área delimitada, de acordo com a

determinação do serviço veterinário oficial, visando impedir a transmissão da doença a outros

equídeos;

X - Laboratório Credenciado: laboratório que recebe, por delegação do Departamento

de Defesa Animal - DDA, competência para realização de exames para diagnóstico da A.I.E;

XI - Laboratório Oficial: laboratório pertencente ao DDA;

XII - Lacre numerado: lacre inviolável, com identificação numérica;

XIII - Propriedade: qualquer estabelecimento de uso público ou privado, rural ou

urbano, onde exista equídeo dentro de seus limites, a qualquer título;

XIV - Proprietário: toda pessoa física ou jurídica que tenha, a qualquer título, um ou

mais equídeos sob sua posse ou guarda;

XV - Quarentena: isolamento de equídeo clinicamente sadio, recém-chegado à

propriedade controlada, procedente de propriedade não controlada, em instalação específica,

distante no mínimo 200 (duzentos) metros de qualquer outra propriedade ou protegida com tela à

prova de insetos, até a constatação da negatividade do mesmo, mediante a realização de 2

(dois) exames consecutivos para A.I.E., com intervalo de 30 (trinta) a 60 (sessenta) dias;

XVI - Reteste: exame laboratorial para diagnóstico da A.I.E. realizado em laboratório

oficial, a partir de nova colheita de material de animal com resultado positivo;

XVII - Serviço Veterinário Oficial: constitui-se no Serviço de Sanidade Animal da

Delegacia Federal de Agricultura - DFA da Unidade Federativa (UF) e no Serviço de Defesa

Sanitária Animal da Secretaria de Agricultura da UF.

Page 183: Defesa Sanitária e Animal

182

CAPÍTULO II

DOS PROCEDIMENTOS GERAIS

Art. 2º As ações de campo referentes à prevenção e ao controle da A.I.E. são de

responsabilidade do serviço veterinário oficial de cada UF, sob a coordenação do DDA.

Art. 3º As medidas de prevenção e controle da A.I.E. serão adotadas nas UF de acordo

com as suas condições epidemiológicas peculiares.

Art. 4º Em cada UF deverá ser constituída, por ato do Delegado Federal de Agricultura,

uma Comissão Estadual de Prevenção e Controle da Anemia Infecciosa Equina (CECAIE), que

terá as seguintes atribuições:

I - propor as medidas sanitárias para a prevenção e o controle da A.I.E. na respectiva

UF; e

II - avaliar os trabalhos desenvolvidos na respectiva UF.

Art. 5º A CECAIE será constituída de 10 (dez) membros, sendo 5 (cinco) titulares e 5

(cinco) suplentes, com a seguinte composição:

I - médico veterinário do Serviço de Sanidade Animal (SSA) da DFA, que será o

coordenador;

II - médico veterinário do órgão de defesa sanitária animal da respectiva UF;

III - médico veterinário indicado pelos criadores de equídeos;

IV - médico veterinário indicado pela Sociedade Estadual de Medicina Veterinária; e

V - médico veterinário especialista ou de reconhecida experiência em A.I.E., indicado

por entidade de ensino ou pesquisa em Medicina Veterinária.

Page 184: Defesa Sanitária e Animal

183

CAPÍTULO III

DO RESPONSÁVEL PELA REQUISIÇÃO DO EXAME PARA DIAGNÓSTICO DA

A.I.E.

Art. 6º O médico veterinário requisitante deverá estar inscrito no Conselho Regional de

Medicina Veterinária da respectiva UF.

Art. 7º Ao médico veterinário compete:

I - proceder à colheita do material para exame; e

II - requisitar a laboratório credenciado pelo DDA o exame para diagnóstico, em

modelo oficial (ANEXO I).

Parágrafo único. É necessária para a identificação do animal uma descrição escrita e

gráfica de todas as marcas, de forma completa e acurada.

Art. 8º A responsabilidade legal pela veracidade e fidelidade das informações

prestadas na requisição é do médico veterinário requisitante.

CAPÍTULO IV

DO EXAME LABORATORIAL PARA O DIAGNÓSTICO DA A.I.E.

Art. 9º Para diagnóstico da A.I.E., usar-se-á a prova sorológica de Imunodifusão em

Gel de Agar (IDGA), efetuada com antígeno registrado e aprovado pelo DDA, ou outra prova

oficialmente reconhecida.

Art. 10. O resultado do exame para diagnóstico laboratorial deverá ser emitido no

mesmo modelo de requisição.

Page 185: Defesa Sanitária e Animal

184

§ 1º Quando positivo, o resultado do exame para diagnóstico laboratorial deverá ser

encaminhado, imediatamente, ao SSA da DFA da UF onde se encontra o animal reagente e,

eventualmente, para outro destino por ele determinado.

§ 2º O resultado negativo deverá ser encaminhado ao médico veterinário requisitante

ou ao proprietário do animal.

Art. 11. Em caso de levantamento sorológico para controle de propriedade, poderá ser

utilizado o formulário “Requisição e resultado para exame de Anemia Infecciosa Equina para fins

de levantamento sorológico” (ANEXO II), o qual não possui validade para trânsito.

Art. 12. A validade do resultado negativo para o exame laboratorial da A.I.E. será de

180 (cento e oitenta) dias para propriedade controlada e de 60 (sessenta) dias para os demais

casos, a contar da data da colheita da amostra.

Art. 13. É facultado ao proprietário do animal requerer exame de contraprova. A

contraprova deverá ser solicitada ao SSA da DFA da respectiva UF, no prazo máximo de 8 (oito)

dias, contados a partir do recebimento da notificação do resultado. A contraprova será efetuada

no laboratório que realizou o primeiro exame.

Art. 14. O reteste será realizado em laboratório oficial, com amostra colhida pelo

serviço oficial, para fins de perícia.

Parágrafo único. Em caso de resultado positivo e havendo decisão do proprietário em

requerer contraprova ou reteste, o animal deverá permanecer isolado após o recebimento do

resultado positivo no primeiro exame até a classificação final, quando serão adotadas as

medidas preconizadas.

Art. 15. Todo laboratório credenciado deverá encaminhar ao Serviço de Sanidade

Animal da Delegacia Federal de Agricultura da respectiva UF, até o 5º dia útil do mês

subsequente, relatório mensal de atividades (ANEXO III).

Art. 16. Todo estabelecimento produtor de antígeno para diagnóstico da A.I.E.

encaminhará, mensalmente, mapa demonstrativo da distribuição do produto ao SSA das UFs

para as quais foi comercializado o produto (ANEXO IV).

Page 186: Defesa Sanitária e Animal

185

CAPÍTULO V

DO FOCO

Art. 17. Detectado foco de A.I.E., deverão ser adotadas as seguintes medidas:

I - interdição da propriedade após identificação do equídeo portador, lavrando termo de

interdição, notificando o proprietário da proibição de trânsito dos equídeos da propriedade e da

movimentação de objetos passíveis de veiculação do vírus da A.I.E.;

II - deverá ser realizada investigação epidemiológica de todos os animais que reagiram

ao teste de diagnóstico de A.I.E., incluindo histórico do trânsito;

III - marcação permanente dos equídeos portadores da A.I.E., por meio da aplicação

de ferro candente na paleta do lado esquerdo com um “A”, contido em um círculo de 8 (oito)

centímetros de diâmetro, seguido da sigla da UF, conforme modelo (ANEXO V);

IV - sacrifício ou isolamento dos equídeos portadores;

V - realização de exame laboratorial, para o diagnóstico da A.I.E., de todos os

equídeos existentes na propriedade;

VI - desinterdição da propriedade foco após realização de 2 (dois) exames com

resultados negativos consecutivos para A.I.E., com intervalo de 30 (trinta) a 60 (sessenta) dias,

nos equídeos existentes;

VII - orientação aos proprietários das propriedades que se encontrarem na área

perifocal, pelo serviço veterinário oficial, para que submetam seus animais a exames

laboratoriais para diagnóstico de A.I.E.

Parágrafo único. A marcação dos equídeos é de responsabilidade do serviço

veterinário oficial e não será obrigatória se os animais forem imediatamente sacrificados ou

enviados para abate sanitário. Caso o transporte até o estabelecimento de abate não possa ser

realizado sem uma parada para descanso ou alimentação, os animais deverão ser marcados e o

local de descanso aprovado previamente pelo Serviço de Sanidade Animal da respectiva UF.

Page 187: Defesa Sanitária e Animal

186

CAPÍTULO VI

DO SACRIFÍCIO OU ISOLAMENTO

Art. 18. O sacrifício ou o isolamento de equídeos portadores da A.I.E. deverá ser

determinado segundo as normas estabelecidas pelo DDA, após análise das medidas propostas

pela CECAIE.

Art. 19. Quando a medida indicada for o sacrifício do animal portador, este será

realizado pelo serviço veterinário oficial, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, a contar do

resultado do exame de diagnóstico, preferencialmente na propriedade onde estiver o animal.

Parágrafo único. Na impossibilidade do sacrifício do animal portador ser realizado na

propriedade, o abate sanitário poderá ocorrer em abatedouro com Serviço de Inspeção Federal e

o transporte deverá ser em veículo apropriado, com lacre numerado aplicado na origem.

Art. 20. O sacrifício do animal portador deverá ser rápido e indolor, sob a

responsabilidade do serviço veterinário oficial.

Art. 21. Será lavrado termo de sacrifício sanitário (ANEXO VI), assinado pelo médico

veterinário oficial, pelo proprietário do animal ou seu representante legal e, no mínimo, por uma

testemunha.

Art. 22. Ao proprietário do animal sacrificado não caberá indenização.

Art. 23. Havendo recusa, por parte do proprietário ou seu representante legal, a tomar

ciência do comunicado de interdição da propriedade ou do sacrifício do animal portador, será

lavrado termo de ocorrência, na presença de 2 (duas) testemunhas, e requisitado apoio de força

policial para o efetivo cumprimento da medida de defesa sanitária, ficando o infrator sujeito às

sanções previstas em lei.

Art. 24. Quando a medida indicada for o isolamento do animal portador, este deverá

ser marcado conforme o estabelecido no inciso III, do art. 17, da presente Instrução Normativa.

Parágrafo único. O isolamento somente será permitido para animais portadores

localizados em área de alto risco, proposto pela CECAIE da respectiva UF.

Page 188: Defesa Sanitária e Animal

187

Art. 25. O equídeo, com marcação permanente de portador de A.I.E., que for

encontrado em outra propriedade ou em trânsito será sumariamente sacrificado na presença de

2 (duas) testemunhas, salvo quando comprovadamente destinado ao abate. A propriedade onde

este animal for encontrado será considerada foco.

CAPÍTULO VII

DA PROPRIEDADE CONTROLADA

Art. 26. A propriedade será considerada controlada para A.I.E. quando não apresentar

animal reagente positivo em 2 (dois) exames consecutivos de diagnóstico para A.I.E., realizados

com intervalo de 30 (trinta) a 60 (sessenta) dias.

Art. 27. Para manutenção da situação de propriedade controlada para A.I.E., todo o

seu efetivo equídeo deverá ser submetido ao exame, no mínimo, uma vez a cada 6 (seis) meses

e apresentar resultado negativo.

Parágrafo único. A realização de novos exames laboratoriais, em prazos inferiores a 6

(seis) meses, poderá vir a ser determinada a critério do serviço veterinário oficial da respectiva

UF.

Art. 28. À propriedade declarada controlada para A.I.E. pelo SSA da respectiva UF

será conferido certificado, por solicitação do interessado, renovado a cada 12 (doze) meses,

após exame de todo o efetivo equídeo existente, utilizando-se o modelo constante do Anexo VII

da presente Instrução Normativa.

Art. 29. O acompanhamento sanitário da propriedade controlada é de responsabilidade

da assistência veterinária privada, sob fiscalização do serviço veterinário oficial da respectiva UF.

Art. 30. Ao médico veterinário responsável pela assistência veterinária referida no art.

29 compete:

I - manter atualizado o controle clínico e laboratorial dos equídeos alojados na

propriedade;

Page 189: Defesa Sanitária e Animal

188

II - comunicar imediatamente, ao serviço veterinário oficial qualquer suspeita de A.I.E.

e adotar as medidas sanitárias previstas nesta Instrução Normativa;

III - zelar pelas condições higiênico-sanitárias da propriedade;

IV - submeter o equídeo procedente de propriedade não controlada à quarentena,

antes de incorporá-lo ao rebanho sob controle; e

V - a propriedade controlada deverá encaminhar ao SSA da respectiva UF, até o quinto

dia útil do mês subsequente, relatório mensal de suas atividades (ANEXO VIII).

Art. 31. A propriedade controlada perderá esta condição, quando houver

descumprimento de quaisquer das condições estabelecidas, no Capítulo VII da presente

Instrução Normativa.

CAPÍTULO VIII

DO CONTROLE DE TRÂNSITO

Art. 32. Somente será permitido o trânsito interestadual de equídeos quando

acompanhados de documento oficial de trânsito e do resultado negativo no exame laboratorial

para diagnóstico de A.I.E.

Parágrafo único. Os equídeos destinados ao abate ficam dispensados da prova de

diagnóstico para A.I.E. e o veículo transportador deverá ser lacrado na origem, com lacre

numerado e identificado no documento oficial de trânsito pelo emitente do mesmo, sendo o lacre

rompido no destino final, sob responsabilidade do Serviço de Inspeção Federal.

Art. 33. A participação de equídeos em eventos agropecuários somente será permitida

com exame negativo para A.I.E.

Parágrafo único. O prazo de validade do resultado negativo para A.I.E. deverá cobrir

todo o período do evento.

Page 190: Defesa Sanitária e Animal

189

Art. 34. A validade do resultado negativo do exame para A.I.E. de equídeo originário de

propriedade controlada sofrerá redução de 180 (cento e oitenta) dias para 60 (sessenta) dias, a

contar da data da colheita da amostra, quando transitarem por propriedade não controlada ou

nela permanecerem.

Art. 35. Fica dispensado do exame de A.I.E. o equídeo com idade inferior a 6 (seis)

meses, desde que esteja acompanhado da mãe e esta apresente resultado laboratorial negativo.

Parágrafo único. O equídeo, com idade inferior a 6 (seis) meses, filho de animal

positivo, deverá ser isolado por um período mínimo de 60 (sessenta) dias e, após este período,

ser submetido a 2 (dois) exames para diagnóstico de A.I.E. e apresentar resultados negativos

consecutivos e com intervalo de 30 (trinta) a 60 (sessenta) dias, antes de ser incorporado ao

rebanho negativo.

Art. 36. Para ingresso de equídeo no Território Nacional, será indispensável, sem

prejuízo de outras exigências sanitárias, a apresentação de resultado negativo ao exame de

A.I.E.

CAPÍTULO IX

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 37. Todo produto biológico de origem equídea, para uso profilático ou terapêutico,

deverá, obrigatoriamente, ser elaborado a partir de animal procedente de propriedade

controlada.

Art. 38. Para fins de registro genealógico definitivo, todo equídeo deverá apresentar

exame negativo para A.I.E.

Art. 39. Casos omissos na presente Instrução Normativa serão dirimidos pelo

Departamento de Defesa Animal.

Page 191: Defesa Sanitária e Animal

190

23 NORMAS PARA O CONTROLE E A ERRADICAÇÃO DO MORMO

CAPÍTULO I

DAS DEFINIÇÕES

Art 1º Para os fins a que se destinam estas normas serão adotadas as seguintes

definições:

Equídeo: qualquer animal da Família Equidae, incluindo equinos, asininos e muares;

Foco: todo estabelecimento onde foi comprovada e notificada, pelo serviço veterinário

oficial, a presença de um ou mais animais infectados pelo agente etiológico do mormo

(Burkholderia mallei);

Fômites: materiais, suposta ou confirmadamente, contaminados com o agente

etiológico do mormo; Laboratório Credenciado: laboratório habilitado formalmente pelo MAPA

para a realização de diagnóstico laboratorial de mormo;

Laboratório Oficial: laboratório pertencente à rede de diagnóstico do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA);

Médico Veterinário Cadastrado: médico veterinário cadastrado pelo Serviço de

Sanidade Animal da DFA na respectiva UF, para realização de coleta e envio de material para a

realização de diagnóstico laboratorial de mormo;

Médico Veterinário Oficial: médico veterinário pertencente ao serviço de defesa

sanitária animal, estadual ou federal;

Propriedade em Regime de Saneamento: estabelecimento o qual, após a confirmação

do foco, entra em Regime de Saneamento;

Propriedade Interditada: estabelecimento onde foi notificada a suspeita de mormo ao

serviço veterinário oficial, e, no qual foram aplicadas medidas de defesa sanitária, pelo serviço

veterinário oficial, incluindo a suspensão temporária do egresso e ingresso de equídeos;

Page 192: Defesa Sanitária e Animal

191

Propriedade Monitorada: estabelecimento cujo plantel de equídeos é submetido,

periodicamente, a exames clínicos e laboratoriais, segundo normas estabelecidas pelo DDA,

visando à certificação da propriedade;

Propriedade: qualquer estabelecimento de uso público ou privado, rural ou urbano,

onde exista equídeo, para qualquer finalidade, dentro de seus limites;

Proprietário: toda pessoa física ou jurídica, que tenha, a qualquer título, sob sua posse

ou guarda, um ou mais equídeos;

Prova da Maleína: prova de hipersensibilidade alérgica levada a termo mediante

inoculação de Derivado Proteico Purificado (PPD) de maleína na pálpebra inferior de equídeos

suspeitos de estarem acometidos por mormo;

Prova Sorológica de Fixação de Complemento (FC): prova sorológica baseada na

detecção de anticorpos específicos para o mormo, eventualmente presentes em equídeos;

Regime de Saneamento: conjunto de medidas de defesa sanitária animal, aplicadas

pelo serviço veterinário oficial, com o objetivo de eliminar o agente causal do mormo;

Serviço Veterinário Oficial: constitui-se do Departamento de Defesa Animal -

DDA/SDA/MAPA, do Serviço de Sanidade Animal das Delegacias Federais de Agricultura nos

Estados e do Serviço de Defesa Sanitária Animal da Secretaria de Agricultura ou agência

específica da UF.

CAPÍTULO II

DO DIAGNÓSTICO

Art 2º Para efeito de diagnóstico sorológico do mormo será utilizada a prova de

Fixação de Complemento (FC) ou outra prova aprovada previamente pelo Departamento de

Defesa Animal (DDA).

1. a prova de FC somente poderá ser realizada em laboratório oficial ou credenciado;

Page 193: Defesa Sanitária e Animal

192

2. o resultado negativo da prova de FC terá validade de 180 (cento e oitenta) dias para

animais procedentes de propriedades monitoradas e de 60 (sessenta) dias nos demais casos.

3. a coleta de material para exame de mormo, para qualquer fim, será realizada por

médico veterinário oficial ou cadastrado.

4. a remessa do material para exame de mormo deverá sempre ser realizada por

médico veterinário oficial ou cadastrado.

5. o resultado do exame para diagnóstico laboratorial do mormo deverá ser emitido no

mesmo modelo de requisição.

Parágrafo 1º: O resultado Positivo deverá ser encaminhado imediatamente ao SSA da

DFA da UF onde se encontra o animal reagente. O resultado Positivo poderá ser encaminhado

diretamente para o Serviço de Defesa Sanitária Animal da Secretaria de Agricultura da UF, a

critério do SSA da respectiva UF.

Parágrafo 2º: O resultado Negativo deverá ser encaminhado ao médico veterinário

requisitante ou ao proprietário do animal. 6. a amostra para exame de mormo, proveniente de

qualquer Unidade da Federação, deverá estar acompanhada de formulário de requisição e

resultado aprovado por esta Instrução Normativa.

Art 3º Os animais reagentes à prova de FC, poderão ser submetidos a teste

complementar de diagnóstico, que será o teste da maleína, nas seguintes condições:

1. animais reagentes ao teste de FC e que não apresentem sintomas clínicos da

doença;

2. animais não reagentes no teste de FC e que apresentem sintomas clínicos da

doença;

3. em outros casos em que o DDA julgar necessário.

Art 4º Não será utilizado o teste complementar da maleína, nas seguintes condições:

1. animais reagentes ao teste de FC e que apresentam sintomas clínicos da doença.

Neste caso, a prova de FC será considerada conclusiva;

Page 194: Defesa Sanitária e Animal

193

2. animais de propriedade reincidente, que será imediatamente submetida a Regime de

Saneamento. Neste caso, a prova de FC será considerada conclusiva;

Art 5º O teste da maleína será realizado através da aplicação de PPD maleína na dose

de 0,1 ml por via intradérmica, na pálpebra inferior de um dos olhos do animal, e o procedimento

de leitura deverá ser realizado 48 horas após a aplicação;

Parágrafo Único. O teste da maleína será realizado por médico veterinário do serviço

veterinário oficial.

1. animais que apresentarem, após a aplicação da maleína, reação inflamatória

edematosa palpebral, com secreção purulenta ou não, serão considerados positivos;

2. animais que não apresentarem reação à maleína deverão, obrigatoriamente, ser

retestados, num prazo de 45 (quarenta e cinco) a 60 (sessenta) dias após a primeira

maleinização;

3. animais que permanecerem sem reação, após a segunda maleinização, terão

diagnóstico negativo conclusivo e receberão o atestado correspondente (Anexo II), emitido pelo

serviço de defesa oficial, com validade de 120 dias, não podendo ser novamente submetidos à

prova de FC durante este período.

Art 6º Outras medidas poderão ser adotadas, a critério do DDA, de acordo com a

análise das condições epidemiológicas e da evolução dos meios de diagnóstico para o controle e

erradicação do mormo.

CAPÍTULO III

DA CERTIFICAÇÃO DE PROPRIEDADE MONITORADA PARA MORMO

Page 195: Defesa Sanitária e Animal

194

Art. 7º A certificação de propriedade monitorada para mormo terá caráter voluntário e

as condições para a sua realização serão objeto de regulamento específico a ser baixado pelo

DDA.

CAPÍTULO IV

DA ERRADICAÇÃO DE FOCO DE MORMO

Art 8º A propriedade que apresente um ou mais animais com diagnóstico de mormo

positivo conclusivo será considerada foco da doença e imediatamente interditada e submetida a

Regime de Saneamento.

Art 9º Animais positivos serão sacrificados imediatamente, não cabendo indenização

(conforme Decreto nº 24.538, de 03 de julho de 1934), procedendo-se, em seguida, à

incineração ou enterro dos cadáveres no próprio local, à desinfecção das instalações e fômites,

sob supervisão do serviço veterinário oficial. Todos os equídeos restantes serão submetidos aos

testes de diagnóstico para mormo, previstos no Capítulo II desta Instrução Normativa;

1. o sacrifício dos equídeos positivos será realizado por profissional do serviço

veterinário oficial e na presença de 2 (duas) testemunhas idôneas.

Art 10 A interdição da propriedade somente será suspensa pelo serviço veterinário

oficial após o sacrifício dos animais positivos e a realização de dois exames de FC sucessivos de

todo plantel, com intervalos de 45 a 90 dias, com resultados negativos no teste de diagnóstico.

CAPÍTULO V

Page 196: Defesa Sanitária e Animal

195

DA PARTICIPAÇÃO DE EQUÍDEOS EM EVENTOS HÍPICOS

Art 11 A participação de equídeos em eventos hípicos realizados em Unidades da

Federação onde tenham sido confirmados casos de mormo fica restrita a animais que atendam

aos seguintes requisitos:

1. apresentar comprovante de exame negativo de mormo, conforme Anexo I ou Anexo

II, dentro do prazo de validade;

2. ausência de sinais clínicos de mormo.

CAPÍTULO VI

DO CONTROLE DO TRÂNSITO INTERESTADUAL DE EQUÍDEOS

Art 12 O trânsito interestadual de equídeos procedentes de Unidades da Federação

onde foi confirmada a presença do agente causador do mormo deverá observar os requisitos

sanitários a seguir relacionados:

1. apresentar comprovante de exame negativo de mormo, dentro do prazo de validade,

conforme Anexo I ou Anexo II;

2. ausência de sinais clínicos de mormo.

Art 13 Equídeos procedentes de Unidades da Federação (UF) livres de mormo que

ingressem em Unidades da Federação onde foi confirmada a presença do agente causador do

mormo e que regressem à UF de origem ou a outra UF livre de mormo devem apresentar os

requisitos sanitários listados no Art 12 desta Instrução Normativa.

Page 197: Defesa Sanitária e Animal

196

CAPÍTULO VII

DO CONTROLE DO TRÂNSITO INTRAESTADUAL DE EQUÍDEOS

Art 14 Os serviços de defesa sanitária animal dos estados baixarão normas para o

controle do trânsito de equídeos em seus respectivos territórios.

CAPÍTULO VIII

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art 15 A notificação de suspeita de foco poderá ser feita pelo proprietário, pela

vigilância ou por terceiros.

Art 16 Os exames realizados para diagnóstico de mormo serão custeados pelo

proprietário do animal, excetuando-se aqueles realizados para fins de vigilância sanitária ou de

interesse do serviço de sanidade animal.

Art 17 Os casos omissos serão dirimidos pelo DDA.

Page 198: Defesa Sanitária e Animal

197

24 PROGRAMA NACIONAL DE SANIDADE SUÍDEA

24.1 PESTE SUÍNA CLÁSSICA

24.1.1 Importância

A peste suína clássica (PSC) é uma doença viral altamente contagiosa e

economicamente importante dos suínos. A gravidade da doença varia com a cepa do vírus, a

idade do animal, e o estado imunológico do rebanho. Infecções agudas, que são causadas por

isolados altamente virulentos e que provocam uma alta taxa de mortalidade nos animais

susceptíveis são diagnosticadas rapidamente. No entanto, as infecções com cepas menos

virulentas podem ser mais difícil de serem reconhecidas, especialmente em suínos mais velhos.

Estas infecções podem ser assintomáticas, e podem assemelhar-se a septicemias provocadas

por outros agentes, bem como outras doenças. Em alguns rebanhos, o único sintoma pode ser

uma diminuição da performance reprodutiva. A grande variedade de sinais clínicos e da

similaridade com outras doenças podem tornar o diagnóstico da peste suína clássica um desafio.

Apesar de peste suína clássica ser uma enfermidade com ampla distribuição mundial,

muitos países conseguiram erradicar esta doença nos suínos domésticos. A reintrodução do

vírus pode ser devastadora. Em 1997-1998, um surto na Holanda se espalhou para mais de 400

rebanhos e custaram US $ 2,3 bilhões para erradicar. Aproximadamente 12 milhões de suínos

foram mortos. O Reino Unido experimentou uma epizootia de peste suína clássica em 2000, e

surtos menores foram relatados na Romênia, Eslováquia, Espanha e Alemanha em 2001.

América do Norte também está em risco para a introdução desta doença, que ainda é endêmica

em grande parte do Sul e América Central, incluindo partes do México. O comércio tornou-se

globalizado, e as viagens internacionais de passageiros e imigração têm crescido, aumentando o

risco de introdução acidental do agente.

Page 199: Defesa Sanitária e Animal

198

24.2 ETIOLOGIA

A peste suína clássica (cólera suína) resulta da infecção pelo vírus da peste suína

clássica (VPSC) (Fig. 54), um membro do gênero Pestivirus e família Flaviviridae. Este vírus está

intimamente relacionado com o pestivírus de ruminantes que causa diarreia viral em bovinos.

Fig.54 – Micrografia eletrônica do VPSC

FONTE: Disponível em: <www.ncbi.nlm.nih.gov/ICTVdb/WIntkey/Images/em_flavi.htm>. Acesso em: 25/01/2010.

24.3 ESPÉCIES AFETADAS

A peste suína clássica afeta os suínos domésticos e selvagens. Todos os porcos

selvagens e silvestres, incluindo javali europeu e catetos, são suscetíveis.

24.4 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

A peste suína clássica é encontrada em grande parte da Ásia, algumas ilhas do Caribe,

países africanos e grande parte da América Central e do Sul. Esta doença foi erradicada nos

Page 200: Defesa Sanitária e Animal

199

Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e grande parte da Europa ocidental e central.

Todos os novos casos da doença devem ser notificados a OIE (Fig. 55).

Fig. 55 – Casos de PSC notificados a OIE de Jun/Out de 2009.

FONTE: Disponível em: <www.oie.int>. Acesso em: 20/04/2010.

24.5 TRANSMISSÃO

A peste suína clássica é altamente contagiosa. Suínos infectados são os únicos

reservatórios do vírus. Sangue, secreções e excreções (incluindo secreção oronasal e lacrimais,

urina, fezes e sêmen) e tecidos contêm vírus infeccioso. A excreção do vírus pode começar

antes do aparecimento dos sinais clínicos, e ocorre durante todo o curso agudo ou doença

subclínica. Na forma crônica ou persistente, suínos infectados podem eliminar vírus

continuamente por meses. Transmissão entre suínos ocorre principalmente pelas vias oral ou

oronasal, via contato direto ou indireto. Os animais também podem ser infectados através das

membranas mucosas, conjuntiva, abrasões da pele e por via genital. Porcas infectadas podem

dar à luz a suínos persistentemente infectados.

O VPSC é moderadamente frágil no ambiente, resiste normalmente durante três dias a

50 ºC e de sete a 15 dias a 37 ºC. A estimativa da sua sobrevivência em fômites nas condições

de campo pode variar. Alguns estudos sugerem que a inativação do vírus ocorre dentro de

Page 201: Defesa Sanitária e Animal

200

poucos dias, enquanto outros descrevem a sobrevivência, sob condições de inverno, de várias

semanas.

O VPSC pode permanecer infeccioso por quase três meses em carnes refrigeradas e

durante mais de quatro anos na carne congelada. Neste ambiente proteico, este vírus não

parece ser inativado por defumação ou salga. Há relatos de sobrevida em curados e defumados

que de acordo com a técnica, variam de 17 a mais de 180 dias.

24.6 PERÍODO DE INCUBAÇÃO

O período de incubação pode variar de 2 a 15 dias, dependendo da virulência da

estirpe, da via de inoculação e à dose.

24.7 SINAIS CLÍNICOS

Os sintomas da peste suína clássica variam com a cepa do vírus, a idade e a

susceptibilidade dos animais. Cepas mais virulentas causam a forma aguda (Fig. 56), cepas

menos virulentas podem resultar em uma alta porcentagem de infecção crônica, leve ou

assintomática. Apesar de cepas altamente virulentas terem sido algumas vezes prevalentes, a

maioria das epizootias é causada por cepas moderadamente virulentas. Animais mais velhos são

menos propensos a apresentar sintomas graves do que os suínos mais jovens. Peste suína

aguda é a forma mais grave da doença. Nesta forma, os sintomas mais comuns incluem febre

alta, fraqueza, sonolência, anorexia, conjuntivite e constipação seguida de diarréia.

Page 202: Defesa Sanitária e Animal

201

Fig. 56 – Suíno com depressão grave, eritema generalizado e conjuntivite.

FONTE: Disponível em: <www.foot-and-mouth.org>. Acesso em: 20/04/2009.

Os porcos podem apresentar incoordenação motora que pode evoluir para paresia

posterior. Alguns suínos podem apresentar vômito de cor amarela, contendo líquido biliar, ou

desenvolver sinais respiratórios. O abdômen, coxas, orelhas e cauda podem desenvolver uma

coloração púrpura azulada. As hemorragias também podem ocorrer na pele (Fig. 57).

Leucopenia severa geralmente ocorre logo após o início da doença, e as convulsões podem ser

vistas nas fases terminais (Fig. 58). Porcos com peste suína clássica aguda geralmente morrem

dentro de uma a três semanas.

Fig. 57 – Suíno com hemorragias na pele Fig. 58 – Suíno em quadro convulsivo.

FONTE: Callis, J. et al, 1988

Page 203: Defesa Sanitária e Animal

202

A doença na forma subaguda pode ser causada por cepas moderadamente virulentas

do VPSC. Ela também pode ocorrer em suínos mais velhos. A forma subaguda é semelhante à

forma aguda da peste suína clássica, no entanto, os sintomas são menos graves e a febre pode

persistir durante duas a três semanas. Alguns suínos com a forma subaguda podem sobreviver,

outros morrem dentro de um mês.

A doença crônica tende a ser vista com cepas menos virulentas ou em rebanhos

parcialmente imunes. Nas fases iniciais, as doenças crônicas podem se assemelhar à doença

aguda ou subaguda, com anorexia, depressão, temperaturas elevadas e leucopenia. Suínos

afetados geralmente melhoram após várias semanas, no entanto, após um período em que eles

aparecem relativamente normais, eles desenvolvem sintomas periódicos que podem incluir febre

intermitente, anorexia, os períodos de prisão de ventre ou diarreia, perda ou suspensão do

crescimento, alopecia e lesões de pele. Imunossupressão pode levar a infecções simultâneas.

Suínos afetados podem sobreviver por um a três meses, mas as infecções crônicas são sempre

fatais.

24.8 LESÕES PÓS-MORTEM

As lesões de peste suína clássica são altamente variáveis. Durante os surtos, a

probabilidade de se observar lesões características na necropsia é melhor se quatro ou cinco

porcos forem examinados. Na doença aguda, a lesão mais comum é a hemorragia. Petéquias ou

hemorragias equimóticas muitas vezes podem ser vistas na serosa e nas mucosas,

principalmente nos rins (Fig. 59), bexiga, epicárdio, laringe, traqueia (Fig. 60), pulmões (Fig. 61),

intestino, tecido subcutâneo, e baço. Amigdalite grave, por vezes com focos de necrose, é

comum. Infartos esplênicos são vistos ocasionalmente. Os pulmões podem estar congestos e

hemorrágicos. Em alguns casos mais graves, as lesões podem estar ausentes ou discretas, isso

ocorre porque o suíno vai a óbito antes de apresentar os principais sintomas da enfermidade. As

lesões da forma crônica da doença são menos graves e podem ser complicadas por infecções

secundárias. Além disso, focos de necrose ou úlceras podem ser encontrados na mucosa

Page 204: Defesa Sanitária e Animal

203

intestinal, epiglote e laringe. Em suínos em crescimento que sobreviveram por mais de um mês,

lesões ósseas também podem ocorrer na junção costocondral das costelas e as placas de

crescimento dos ossos longos.

Fig. 59 – Petéquias nos rins.

FONTE: Disponível em: <www.cfsph.iastate.edu/DiseaseInfo/ImageDB/imagesCSF.htm>. Acesso em: 20/04/2009.

Fig. 60– Petéquias na laringe e faringe Fig. 61 – Córtex pulmonar com petéquias e hemorragia

FONTE: Disponível em: <www.cfsph.iastate.edu/DiseaseInfo/ImageDB/imagesCSF.htm>. Acesso em: 20/04/2009.

24.9 MORBIDADE E MORTALIDADE

A gravidade da doença varia com a cepa viral, enquanto que algumas cepas causam a

doença aguda com altas taxas de mortalidade, outras podem resultar em doenças subclínicas.

Page 205: Defesa Sanitária e Animal

204

As taxas de morbidade e de mortalidade são elevadas durante infecções agudas e a

taxa de letalidade pode chegar a 100%. A morbidade e a mortalidade são mais baixas na doença

subaguda. As infecções crônicas são sempre fatais, mas podem afetar apenas poucos animais

no rebanho. A idade e o estado imunológico dos animais também afetam o curso da doença,

com menores taxas de mortalidade em suínos adultos do que os animais mais jovens.

24.10 DIAGNÓSTICO CLÍNICO

A peste suína clássica deve ser suspeitada em suínos com sinais de septicemia e

febre alta, em especial se restos de comida não cozidos foram utilizados como alimentos. Esta

doença também pode ser considerada em rebanhos com outros sintomas, incluindo a criação de

rebanhos com problemas de fertilidade e da doença em leitões. Pode ser difícil diferenciar a

peste suína clássica entre outras doenças, sem testes laboratoriais.

24.11 O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

O diagnóstico diferencial varia com a forma da doença, e inclui a peste suína africana,

dermatite e nefropatia suína, síndrome multissistêmica do definhamento, doença hemolítica do

recém-nascido, a síndrome respiratória e reprodutiva suína, púrpura trombocitopênica,

envenenamentos, doença de Aujeszky, parvovirose e outras infecções. Doenças septicêmicas

como a erisipela, salmonelose, pasteurelose, actinobacilose e infecções por Haemophilus suis

também devem ser consideradas. Infecções congênitas com o pestivírus que causa diarreia viral

bovina podem assemelhar-se a peste suína clássica.

Page 206: Defesa Sanitária e Animal

205

24.12 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

A peste suína clássica pode ser diagnosticada pela detecção do vírus, seus antígenos

ou ácidos nucleicos no sangue ou amostras de tecido. Antígenos virais são detectados por

imunofluorescência direta ou enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA). O vírus também

pode ser isolado em várias linhagens de células, incluindo células PK-15, que é identificado por

imunofluorescência direta ou imunoperoxidase. Testes de soroneutralização, imunoperoxidase

ou procedimentos que utilizam anticorpos monoclonais, pode diferenciar o VPSC de outros

agentes. Eles também podem ser distinguidos por meio de métodos genéticos, tais como RT-

PCR.

A sorologia é utilizada para o diagnóstico de vigilância. Os animais desenvolvem

anticorpos após duas a três semanas, e esses persistem ao longo da vida. Por este motivo, a

sorologia é mais útil em rebanhos que se calcule ter sido infectado a mais de 30 dias. É

particularmente útil em rebanhos infectados com cepas menos virulentas, onde antígenos virais

podem ser mais difíceis de encontrar. Os testes mais utilizados são os testes de neutralização

viral. Anticorpos contra pestivírus de ruminantes podem ser encontrados em animais

reprodutores; apenas testes que utilizam anticorpos monoclonais podem diferenciar-se entre

estes vírus e o VPSC. O teste definitivo para a diferenciação é o teste de neutralização

comparativa. Congenitamente suínos infectados são imunotolerantes e são negativos para a

sorologia.

Page 207: Defesa Sanitária e Animal

206

25 AS AÇÕES RECOMENDADAS EM CASO SUSPEITO DE PESTE SUÍNA CLÁSSICA

25.1 NOTIFICAÇÃO DAS AUTORIDADES

A peste suína clássica deve ser comunicada imediatamente após o diagnóstico ou

suspeita da doença.

25.1.1 Controle

O VPSC é moderadamente frágil no meio ambiente. Este vírus é sensível a secagem e

luz ultravioleta. É estável em pH 5-10, mas é rapidamente inativado pelo pH 3 ou menor, ou pH

superior a 11. O hipoclorito de sódio e compostos fenólicos são desinfetantes eficazes.

Detergentes, solventes orgânicos, compostos de amônio quaternário, e aldeídos (formaldeído e

glutaraldeído) também são relatados para destruir o vírus. O VPSC pode sobreviver durante

vários meses em carnes refrigeradas e anos em carne congelada. Neste ambiente proteico, o

vírus não é inativado por cura, salga ou defumação. No entanto, pode ser destruído pelo

cozimento. O aquecimento da carne a 65,5 ºC ou superior durante 30 minutos, ou 71 ºC por

poucos minutos.

Page 208: Defesa Sanitária e Animal

207

26 PESTE SUÍNA AFRICANA

Peste suína africana (PSA) é uma doença viral grave de suínos, endêmica na África e

em algumas partes do mundo e embora o Brasil já tenha registrado foco da doença hoje somos

classificados como área livre. O vírus da peste suína africana (VPSA) é altamente contagioso, e

pode se espalhar muito rápido em populações de suínos por contato direto ou indireto. Este vírus

pode persistir por longos períodos em produtos de suínos e no ambiente. Ele também pode se

tornar endêmico em suídeos selvagens ou silvestres, e em carrapatos Ornithodoros (Fig. 62). A

virulência dos isolados do VPSA varia de cepas altamente patogênicas que causam quase 100%

de mortalidade (Fig. 63) e cepas de baixa virulência, onde podem ser difíceis de diagnosticar.

Não existe vacina ou tratamento.

PSA é um problema grave em muitos países africanos. Surtos da doença também

ocorreram na Europa, América do Sul e Caribe, o custo da erradicação da doença tem sido

significativo. Na Espanha e Portugal, VPSA se tornou endêmica nas décadas de 1960 e a

erradicação completa demorou mais de 30 anos. Mudanças nas práticas de produção e a

globalização podem aumentar o risco do reaparecimento da peste suína africana em regiões

onde ela já foi erradicada.

Fig. 62 – Carrapato Ornithodoros

FONTE: Disponível em: <http://www.vet.uga.edu/vpp/IVM/ENG/ticks/exo_dis/asf01.htm>. Acesso em: 20/04/2009.

Page 209: Defesa Sanitária e Animal

208

O VPSA foi classificado como membro da família Iridoviridae, atualmente o único

membro do gênero Asfivírus (Fig. 10) da família Asfarviridae. ASFV é um vírus DNA que é

transmitido por artrópodes.

Fig. 63 – Esquema estrutural de um Asfivírus.

FONTE: Disponível em: <http://education.expasy.org/images/Asfarviridae_virion.jpg>. Acesso em: 20/04/2009.

PSA pode ser transmitida pelo contato direto com animais infectados, pelo contato

indireto através de fômites e carrapatos vetores. A transmissão pelo contato direto é geralmente

por disseminação oronasal. Transmissão por aerossol parece ser insignificante, e só ocorre em

distâncias curtas, quando os porcos estão em contato próximo. O VPSA pode ser encontrado em

todos os tecidos e fluidos do corpo, mas elevado títulos virais são encontrados no sangue.

Contaminação ambiental pode resultar se o sangue é derramado durante necropsias ou brigas

dos animais, ou se os suínos apresentarem diarreia sanguinolenta. O vírus também pode

espalhar por fômites, incluindo veículos, alimentos e equipamentos. Há evidências de que alguns

animais podem se tornar portadores.

O período de incubação é de 5 a 19 dias após contato direto com suínos infectados,

mas pode ser inferior a cinco dias após a exposição aos carrapatos. Doença aguda geralmente

aparece entre cinco a sete dias.

A PSA pode ser uma doença superaguda, aguda, subaguda ou crônica. Cepas

altamente virulentas produzem a forma superaguda ou doença aguda, e podem afetar todo o

rebanho dentro de poucos dias. Cepas menos virulentas produzem sintomas mais leves que são

Page 210: Defesa Sanitária e Animal

209

facilmente confundidos com outras doenças, e pode levar várias semanas para se espalhar por

meio do rebanho.

As mortes súbitas com poucas lesões são características da forma superaguda, e pode

ser o primeiro sinal de uma infecção em um rebanho. Doença aguda é caracterizada por febre

alta, anorexia moderada, letargia, fraqueza e eritema, que é mais evidente em suínos brancos.

Alguns suínos apresentam a pele cianótica, mancha nas orelhas, cauda, e hiperemia nos

membros distais (Fig. 64).

Fig. 64 – Hiperemia em membros distais.

FONTE: Disponível em: <www.cfsph.iastate.edu/DiseaseInfo/ImageDB/imagesASF.htm>. Acesso em: 20/04/2009.

Os suínos também podem ter dor abdominal, constipação ou diarreia, a diarreia é

inicialmente mucoide e, mais tarde pode tornar-se hemorrágica. Hemorragias generalizadas

podem ocorrer na pele ou órgãos internos (Fig. 65).

Page 211: Defesa Sanitária e Animal

210

Fig. 65 – Hemorragia na pele

FONTE: Disponível em: <www.cfsph.iastate.edu/DiseaseInfo/ImageDB/imagesASF.htm>. Acesso em: 20/04/2009.

As lesões macroscópicas da PSA são altamente variáveis, e são afetados pela

virulência do isolado e/ou o curso da doença. Em suínos com doença superaguda ou aguda, a

carcaça está muitas vezes em bom estado. Os animais que morrem por esta forma podem ter

poucas lesões ou lesões pouco desenvolvidas. Na doença aguda, pode haver descoloração

púrpura-azulada e hemorragias na pele, e pode haver sinais de diarreia ou outras hemorragias

internas.

Em suínos domésticos, a taxa de morbidade aproxima de 100% em rebanhos novos. A

taxa de mortalidade depende da virulência do isolado, e pode variar de 0% a 100%.

Page 212: Defesa Sanitária e Animal

211

27 DOENÇA DE AUJESZKY (PSEUDORAIVA)

A doença de Aujeszky (DA) ou pseudorraiva é uma enfermidade infectocontagiosa de

etiologia viral que se constitui em um importante obstáculo à exploração e ao comércio

internacional de suínos em todo o mundo. A etiologia da doença foi determinada no início do

século XX e a primeira notificação no Brasil ocorreu em 1932, sendo considerada uma

importante causa de perdas econômicas em rebanhos de suínos, estando difundida em todo o

mundo, inclusive no Brasil. Pode causar grandes perdas em criações de suínos, devido à alta

mortalidade perinatal e, em animais adultos, aos distúrbios respiratórios e à perda de peso.

27.1 CONTEÚDO

O agente etiológico é um herpesvírus suíno tipo 1, ou vírus da Doença de Aujeszky

(VDA), classificado na família Herpesviridae (Fig. 66), subfamília Alphaherpesvirinae, gênero

Varicellovirus. Os hospedeiros primários do VDA são os suínos domésticos e silvestres, embora

o vírus possa infectar outras espécies de mamíferos domésticos, entre os quais gatos, cães e

bovinos. Nessas espécies, o vírus produz encefalite de curso agudo fatal, o que reduz a

importância epidemiológica desses hospedeiros na manutenção e disseminação da

enfermidade. O vírus possui um genoma de DNA de fita dupla com aproximadamente 150 pares

de base (Kpb), que codifica mais de 70 proteínas. Após a infecção primária, o vírus migra para

gânglios nervosos, via terminações nervosas periféricas, podendo estabelecer infecção latente

ou invadir o Sistema Nervoso Central (SNC). O estabelecimento de latência torna o animal uma

fonte de disseminação viral durante toda a vida.

Page 213: Defesa Sanitária e Animal

212

Fig. 66 – Esquema de um vírus da família Herpesviridae

FONTE: Disponível em: <http://education.expasy.org/images/Herpesviridae_virion.jpg>. Acesso em: 20/04/2009.

Em animais jovens predominam sinais neurológicos com a taxa de mortalidade

aproximando-se dos 100%, em leitões não imunes, a enfermidade caracteriza-se por sinais de

comprometimento neurológico e respiratório e em adultos apresentam febre, taxas variáveis de

aborto, reabsorção fetal, dificuldade respiratória e eventualmente vômitos. A mortalidade nessa

faixa etária é geralmente baixa. Assim, as perdas relacionadas à DA são decorrentes das altas

taxas de mortalidade e morbidade de leitões, queda da produtividade de reprodutores e redução

do desenvolvimento dos animais em crescimento e terminação. A vacinação de suínos contra a

Doença de Aujeszky é uma prática comum na maioria dos países com ocorrência endêmica da

doença. Embora a imunidade induzida pela vacinação de suínos não impeça a excreção viral

após infecção, a utilização de vacinas contra esta enfermidade tem como objetivo não só

proteger os suínos contra as manifestações clínicas da doença, mas também prevenir o

estabelecimento da infecção ou, se esta ocorrer, reduzir a eliminação viral. O Estado de Santa

Catarina tem registrado focos desde 1983 com aumento gradativo no número de granjas

afetadas, com exceção do período de 2001 a 2003, quando houve uma redução no número de

focos. Nos demais Estados, a única exigência sanitária requerida é sorologia negativa nas

granjas de reprodutores suínos. O uso de vacinas é regulado por órgão oficial, e seu uso

somente é permitido em situações de foco.

Page 214: Defesa Sanitária e Animal

213

28 ANEXO - NORMAS PARA A ERRADICAÇÃO DA PESTE SUÍNA CLÁSSICA (PSC)

Capítulo I

DAS DEFINIÇÕES

Art. 1º Para os efeitos destas Normas considera-se:

I Estabelecimento de criação: locais onde são mantidos ou criados suídeos para

qualquer finalidade;

II - Foco: estabelecimento de criação ou qualquer outro local onde foi constatada a

presença de um ou mais suídeos acometidos de PSC;

III - Interdição: proibição do ingresso e egresso de suídeos num estabelecimento de

criação, para qualquer finalidade, bem como de produtos ou subprodutos suídeos ou materiais

que possam constituir fonte de transmissão da doença, a critério do serviço veterinário oficial;

IV - Laboratório oficial: laboratório pertencente à rede do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento;

V - Matadouro: estabelecimento utilizado para abate de animais destinados ao

consumo humano ou outras finalidades e que são submetidos à inspeção veterinária oficial;

VI - Médico veterinário credenciado: profissional credenciado pelo serviço veterinário

oficial, de acordo com legislação específica;

VII - Médico veterinário oficial: profissional do serviço veterinário oficial;

VIII - Peste Suína Clássica (PSC): doença transmissível causada por um pestivírus que

acomete suídeos;

IX - Plano de Contingência: conjunto de procedimentos e decisões emergenciais a

serem tomados no caso de ocorrência inesperada de um foco, com o objetivo de controlar e

erradicar o agente da PSC o mais rápido possível, reduzindo ao máximo as perdas produtivas e

econômicas decorrentes;

X - Proprietário: qualquer pessoa, física ou jurídica, que seja possuidora, depositária ou

que a qualquer título mantenha em seu poder ou sob sua guarda um ou mais suídeos;

XI - Sacrifício sanitário: operação realizada pelo serviço veterinário oficial quando se

confirma a ocorrência de PSC e que consiste em sacrificar todos os animais do rebanho,

enfermos, contatos e contaminados, e, se preciso, outros rebanhos que foram expostos ao

Page 215: Defesa Sanitária e Animal

214

contágio por contato direto ou indireto com o agente patogênico, com a destruição das carcaças,

por incineração ou enterramento;

XII - Serviço veterinário oficial: órgão oficial de defesa sanitária animal federal, estadual

ou municipal;

XIII - Suídeo: qualquer animal do gênero Sus scrofa (suíno) e Sus scrofa scrofa (javali);

XIV - Suídeo acometido de PSC: qualquer suídeo no qual foram oficialmente

constatados sintomas clínicos ou lesões compatíveis com a PSC, com diagnóstico comprovado

por meio de exame laboratorial;

XV Suídeo suspeito de estar acometido de PSC: qualquer suídeo que apresenta

sintomas clínicos ou lesões compatíveis com PSC, ou ainda, reação a teste laboratorial que

indique a possível presença da PSC;

XVI - Zona externa de vigilância: área estabelecida pelo serviço veterinário oficial, ao

redor da zona interna de proteção, com um raio mínimo de 10 km a partir do foco;

XVII - Zona interna de proteção: área circunvizinha a um foco cujos limites serão

estabelecidos pelo serviço veterinário oficial, levando em conta fatores geográficos e

epidemiológicos, com um raio mínimo de 3 km.

XVIII - Zona livre de PSC: zona em que a ausência da doença tenha sido demonstrada

segundo as recomendações do Código Zoossanitário Internacional da Organização Mundial de

Sanidade Animal – OIE.

Capítulo II

DAS ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO

Art. 2º As atividades de erradicação da PSC serão mantidas na zona livre e ampliadas,

com propósito final de erradicação da doença no Território Nacional

Art. 3º As estratégias de atuação incluem, dentre outras, a aplicação das seguintes

medidas:

I - vigilância sanitária;

II - notificação obrigatória e imediata da ocorrência ou suspeita de ocorrência de PSC;

III - assistência imediata aos focos;

IV - controle do trânsito de suídeos, seus produtos e subprodutos, material de

multiplicação animal, produtos patológicos e biológicos possíveis veiculadores do vírus da PSC e

dos recintos de concentrações de suídeos;

Page 216: Defesa Sanitária e Animal

215

V - controle da desinfecção de veículos, equipamentos e ambientes;

VI - sacrifício sanitário de suídeos acometidos ou suspeitos de estarem acometidos de

PSC e seus contatos;

VII - proibição da utilização de vacinas contra a PSC em todo o Território Nacional,

exceto em zonas definidas pelo Departamento de Defesa Animal - DDA;

VIII - controle da produção e fiscalização da comercialização de vacinas;

IX - restrição à manipulação do vírus da PSC, exceto em laboratórios de diagnóstico ou

de produção de vacinas oficialmente autorizados.

Capítulo III

DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA E DE INFORMAÇÃO

Art. 4º O serviço veterinário oficial manterá um sistema de vigilância zoossanitária e de

informação, abrangendo todos os níveis, com análise sistemática dos dados coletados e

produção de informes periódicos para atendimento a compromissos nacionais e internacionais.

Art. 5º Todo médico veterinário, proprietário, transportador de animais ou qualquer

outro cidadão que tenha conhecimento de peita da ocorrência da PSC, ou de doenças com

quadro clínico similar, é obrigado a comunicar imediatamente o fato ao serviço veterinário oficial.

§ 1º Diante de uma suspeita de ocorrência de PSC em sua propriedade, o proprietário

deverá suspender de imediato a movimentação, a qualquer título, de suídeos, produtos e

subprodutos de suídeos existentes no estabelecimento, até que o serviço veterinário oficial

decida sobre as medidas a serem adotadas.

§ 2º A infração ao disposto neste artigo deverá ser devidamente apurada pelo serviço

veterinário oficial que, se for o caso, representará criminalmente contra o infrator junto ao

Ministério Público, para apuração das responsabilidades cabíveis.

§ 3º Caso o infrator seja médico veterinário credenciado, além do disposto no § 2º, o

serviço veterinário oficial deverá proceder de acordo com a legislação específica.

Page 217: Defesa Sanitária e Animal

216

Capítulo IV

DA ATENÇÃO AOS FOCOS DE PSC

Art. 6º Todas as notificações de suspeita da ocorrência de PSC ou doenças com

quadro clínico similar deverão ser investigadas pelo médico veterinário oficial, no máximo até

doze horas após a notificação, observados os procedimentos técnicos de biossegurança.

Art. 7º A confirmação pelo médico veterinário oficial da suspeita clínica de PSC em um

estabelecimento de criação implicará a adoção imediata, pelo serviço veterinário oficial, de

medidas sanitárias para sua eliminação, bem como para impedir sua difusão a outros

estabelecimentos de criação, devendo ser procedida uma investigação epidemiológica para

estabelecer a origem da infecção.

Parágrafo único. O médico veterinário oficial colherá amostras dos suídeos para

encaminhamento ao laboratório oficial de diagnóstico.

Art. 8º O estabelecimento de criação no qual tenha sido detectada clínica ou

epidemiologicamente a suspeita da PSC será imediatamente interditada pelo médico veterinário

oficial.

Art. 9º Caso a ocorrência de PSC seja oficialmente confirmada por diagnóstico

laboratorial, o serviço veterinário oficial delimitará uma zona interna de proteção, com um raio

mínimo de três quilômetros em torno do local do foco e uma zona externa de vigilância com um

raio mínimo de dez quilômetros a partir do foco.

Art. 10. Os suídeos acometidos de PSC e seus contatos serão submetidos ao sacrifício

sanitário no próprio estabelecimento ou em outro local adequado, a critério do serviço veterinário

oficial, no prazo máximo de vinte e quatro horas, contado a partir do recebimento da ordem de

matança emitida pela autoridade competente.

Art. 11. No foco de PSC serão aplicadas, pelo médico veterinário oficial, as seguintes

medidas:

I - os suídeos acometidos de PSC e os seus contatos diretos serão submetidos ao

sacrifício sanitário no próprio estabelecimento de criação, recinto ou qualquer outro local

adequado, a critério do serviço veterinário oficial, após avaliação dos mesmos e em prazo

máximo de 24 horas após o recebimento da ordem de matança, expedida pelo Departamento de

Defesa Animal - DDA;

II os suídeos que tenham estabelecido contato indireto com animais infectados pelo

agente da PSC do mesmo estabelecimento de criação serão submetidos a uma avaliação de

Page 218: Defesa Sanitária e Animal

217

risco, podendo ser encaminhados ao sacrifício sanitário ou abate sanitário, a critério do serviço

veterinário oficial;

III destruição de quaisquer materiais suspeitos de estarem contaminados pelo vírus da

PSC, incluindo, entre outros, alimentos, excretas e chorume;

IV - desinfecção das instalações, equipamentos e veículos do estabelecimento;

V - vazio sanitário e introdução de sentinelas;

VI - desinsetização e desratização.

Parágrafo único. Nos estabelecimentos de criação situados num raio de, pelo menos

500 m do foco, a critério do serviço veterinário oficial e após análise de risco, poderão ser

adotadas as mesmas medidas previstas para o foco.

Art. 12. A introdução de suídeos sentinelas no foco em processo de extinção somente

poderá ser iniciada 10 dias após terem sido finalizadas as ações de limpeza e desinfecção e a

aplicação de outras medidas previstas nesta Norma.

Art. 13. O repovoamento do estabelecimento de criação somente será autorizado após

duas sorologias negativas dos suídeos sentinelas, com intervalo de 15 e 30 dias,

respectivamente. Após este período, o estabelecimento de criação será desinterditado.

Art. 14. Na zona interna de proteção serão aplicadas as seguintes medidas:

I - recenseamento de todos os estabelecimentos situados na zona;

II - proibição da circulação e do transporte de suídeos em vias públicas ou privadas;

III proibição do trânsito de materiais que possam estar contaminados, exceto aqueles

que tenham sido limpos e desinfetados, em conformidade com os procedimentos definidos pelo

serviço veterinário oficial e após inspeção pelo médico veterinário oficial;

IV - proibição de ingresso e egresso de animais de outras espécies de

estabelecimentos situados na zona interna de proteção, exceto com a autorização do serviço

veterinário oficial;

V - proibição da retirada de suídeos de qualquer estabelecimento de criação, para

qualquer finalidade, até 21 dias após conclusão das operações preliminares de limpeza e

desinfecção no foco. Exceção será feita àqueles destinados ao abate imediato em matadouro

com inspeção federal ou estadual, a critério do serviço veterinário oficial.

§ 1º Decorrido o período a que se refere o inciso V deste artigo, poderá ser concedida,

pelo serviço veterinário oficial, autorização para retirada de suídeos de qualquer estabelecimento

situado na zona interna de proteção, diretamente para outro estabelecimento, na mesma zona.

Page 219: Defesa Sanitária e Animal

218

§ 2º As medidas aplicadas na zona interna de proteção serão mantidas até que todos

os suídeos existentes no foco e seus contatos tenham sido submetidos ao sacrifício sanitário e

que a totalidade dos suídeos de todos os estabelecimentos localizados nessa zona tenham sido

submetidos a exames clínicos e sorológicos.

Art. 15. Na zona externa de vigilância serão aplicadas as seguintes medidas:

I - recenseamento de todos os estabelecimentos de criação;

II - proibição de circulação e do transporte de suídeos em vias públicas ou privadas;

III proibição do trânsito de materiais que possam estar contaminados, exceto aqueles

que tenham sido limpos e desinfetados, em conformidade com os procedimentos definidos pelo

serviço veterinário oficial e após inspeção pelo médico veterinário oficial;

IV - proibição de ingresso e egresso de animais de outras espécies de

estabelecimentos situados na zona externa de vigilância, exceto com a autorização do serviço

veterinário oficial;

V - proibição da retirada de suídeos de qualquer estabelecimento de criação, com

qualquer finalidade, até 10 dias após a conclusão das operações preliminares de limpeza e

desinfecção no foco. Exceção será feita àqueles destinados ao abate imediato em matadouro

com inspeção federal ou estadual, a critério do serviço veterinário oficial.

§ 1º Decorrido o período a que se refere o inciso V deste artigo, poderá ser concedida,

pelo serviço veterinário oficial, autorização para retirada de suídeos de qualquer estabelecimento

situado na zona externa de vigilância, diretamente para outro estabelecimento na mesma zona.

§ 2º As medidas aplicadas na zona externa de vigilância serão mantidas até que todos

os suídeos existentes no foco e seus contatos tenham sido submetidos ao sacrifício sanitário e

que a totalidade dos suídeos de todos os estabelecimentos localizados nessa zona tenham sido

submetidos a exames clínicos e sorológicos.

Art. 16. No caso de constatação, em matadouros, no exame antemortem, de sinais

clínicos compatíveis com a PSC ou achados de lesões compatíveis com a mesma doença na

linha de abate, o serviço de inspeção sanitária do matadouro aplicará as seguintes medidas:

I - notificação imediata ao serviço veterinário oficial, para que o mesmo proceda à

investigação epidemiológica;

II - abate imediato de todos os suídeos existentes no matadouro com colheita de

material para diagnóstico laboratorial;

III - destruição, sob controle oficial, de todas as carcaças e miúdos de modo a evitar a

propagação da PSC. Poderá haver um aproveitamento condicional sob análise de risco do

Page 220: Defesa Sanitária e Animal

219

serviço veterinário oficial. Neste caso, os produtos ficarão impedidos de serem destinados à

exportação;

IV - lavagem e desinfecção das instalações e equipamentos, incluindo os veículos

transportadores dos suídeos afetados, sob vigilância do médico veterinário responsável pela

inspeção sanitária do matadouro, em conformidade com as normas do serviço veterinário oficial.

Parágrafo único. A reintrodução de suídeos para abate em matadouro onde tenha sido

registrada a ocorrência de PSC somente poderá ser realizada decorrida pelo menos 24 horas da

finalização das operações de limpeza e desinfecção, de acordo com o inciso IV deste artigo.

Capítulo V

DA VACINAÇÃO DOS ANIMAIS

Art. 17. É proibida a vacinação contra a PSC em todo o Território Nacional.

Parágrafo único. Em casos excepcionais, configurado o risco de disseminação da

doença, após estudo da situação epidemiológica e a critério do serviço veterinário oficial, poderá

ser autorizado o uso emergencial da vacina mediante a elaboração de um plano específico

aprovado pelo DDA.

Capítulo VI

DO TRÂNSITO DE SUÍDEOS, SEUS PRODUTOS, SUBPRODUTOS E OUTROS

MATERIAIS

Art. 18. O trânsito de suídeos, seus produtos e subprodutos, material de multiplicação

animal, produtos patológicos e biológicos presumíveis veiculadores do vírus da PSC será

amparado por certificação oficial regularmente expedida pelo serviço veterinário oficial ou médico

veterinário credenciado, em conformidade com a presente Norma e as demais pertinentes.

Art. 19. O ingresso ou trânsito na zona livre de PSC de suídeos vivos, seus produtos e

subprodutos, produtos patológicos e biológicos presumíveis veiculadores do vírus da PSC

procedentes de regiões, países ou zonas infectadas somente será permitido para casos

previstos na legislação específica, que disciplina o trânsito na zona livre de PSC.

Page 221: Defesa Sanitária e Animal

220

Art. 20. No caso da constatação do não cumprimento das normas aprovadas para o

trânsito de suídeos, seus produtos e subprodutos, caberão à autoridade competente do serviço

veterinário oficial impedir o trânsito e lavrar a ocorrência.

§ 1º Se interceptados nos limites da zona livre de PSC, determinar o seu retorno à

origem, exceto os animais acometidos da doença, aplicando as sanções legais cabíveis.

§ 2º Se interceptados no interior da zona livre de PSC, determinar a apreensão e

sacrifício dos suídeos, além de aplicação das sanções legais cabíveis. No caso de produtos ou

subprodutos, os mesmos deverão ser apreendidos e destruídos, podendo ser-lhes dada outra

destinação, conforme o caso e a juízo da autoridade competente, além da aplicação das

sanções legais cabíveis.

Art. 21. Os veículos transportadores de suídeos deverão ser lavados e desinfetados

após o descarregamento dos animais, devendo ser impedido o trânsito de veículos vazios que

não tenham sido limpos, de acordo com as normas em vigor.

Capítulo VII

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 22. No caso da constatação de PSC em matadouros, recintos de exposições,

feiras, leilões e outras aglomerações de suídeos, todo o recinto será considerado foco e serão

aplicadas, no que couber, a medida sanitária estabelecidas no Capítulo IV desta Norma.

Art. 23. Fica proibido o uso, na alimentação de suídeos, de restos de alimentos que

contenham proteína de origem animal de qualquer procedência, salvo quando submetidos a

tratamento térmico que assegure a inativação do vírus da PSC.

§ 1º A inativação do vírus da PSC, a que se refere este artigo, ocorre numa

temperatura mínima de 90ºC por 60 minutos, com agitação contínua.

§ 2º Fica proibida a permanência de suídeos em lixões, bem como o recolhimento e a

utilização de restos de comida destes locais para alimentação dos animais.

Art. 24. A desinfecção de veículos e instalações prevista nestas Normas deve ser

realizada com desinfetantes aprovados e recomendada pelo Plano de Contingência

Page 222: Defesa Sanitária e Animal

221

29 ANEXO I - NORMAS PARA O CONTROLE E A ERRADICAÇÃO DA DOENÇA DE

AUJESZKY (DA) EM SUÍDEOS

CAPÍTULO I

DAS DEFINIÇÕES

Art. 1º Para os efeitos destas Normas, considera-se:

I - Abate sanitário: operação de abate de animais infectados ou dos seus contatos

diretos e indiretos, segundo a legislação vigente, realizado em abatedouro reconhecido pelo

Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal;

II - Doença de Aujeszky (DA): doença causada por um herpesvírus, de notificação

obrigatória ao serviço veterinário oficial, também chamada de pseudoraiva, que acomete várias

espécies, causando transtornos nervosos em suídeos lactentes, respiratórios em adultos e

problemas reprodutivos em fêmeas gestantes;

III - Estabelecimento de criação: locais onde são mantidos ou criados suídeos para

qualquer finalidade;

IV - Foco: estabelecimento de criação ou qualquer outro local de onde foi isolado ou

identificado o vírus da DA, ou confirmado por um Laboratório Credenciado ou pelos Laboratórios

Nacionais Agropecuários algum resultado sorológico positivo (anticorpos totais ou anticorpos

contra a glicoproteína viral gE, naqueles estabelecimentos de criação onde a vacinação é

praticada);

V - Granja de Reprodutores Suídeos Certificada (GRSC): estabelecimento oficialmente

certificado e monitorado, segundo a legislação vigente, onde são criados ou mantidos suídeos

para a comercialização ou distribuição, cujo produto final seja destinado à reprodução;

VI - Interdição: proibição do ingresso e egresso de suídeos e outros animais num

estabelecimento de criação, para qualquer finalidade, bem como de pessoas ou materiais que

possam constituir fonte de transmissão da doença, a critério do serviço veterinário oficial;

Page 223: Defesa Sanitária e Animal

222

VII - Laboratório credenciado: laboratório público ou privado que recebe da autoridade

competente de uma das três Instâncias integrantes do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade

Agropecuária o credenciamento para a realização de diagnóstico para a DA, na forma definida

pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como Instância Central e Superior;

VIII - Laboratórios Nacionais Agropecuários: laboratórios oficiais do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

IX - Médico veterinário habilitado: profissional do setor privado que recebe habilitação

de uma das três Instâncias integrantes do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade

Agropecuária para exercer atividades específicas de defesa sanitária animal, voltadas à

suideocultura, na forma definida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como

Instância Central e Superior;

X - Médico veterinário oficial: profissional do serviço veterinário oficial;

XI - Plano de Contingência: conjunto de procedimentos a serem empregados no caso

de ocorrência de um foco, com o objetivo de controlar e erradicar o agente da DA;

XII - Plantel: conjunto das fêmeas e machos utilizados em um estabelecimento de

criação para fins de reprodução;

XIII - Prevalência: número total de animais infectados em um determinado momento,

divididos pelo número total de animais sob risco de adquirir a infecção, no mesmo momento;

XIV - Proprietário: qualquer pessoa, física ou jurídica, que seja proprietário de um ou

mais suídeos;

XV - Rebanho: conjunto de todos os suídeos criados sob condições comuns de

manejo, num mesmo estabelecimento de criação;

XVI - Sacrifício sanitário: operação realizada pelo serviço veterinário oficial quando se

confirma a ocorrência de DA e que consiste em sacrificar todos os animais positivos do rebanho

e, se preciso, de outros rebanhos que foram expostos ao contágio por contato direto ou indireto

com o VDA, com a destruição das carcaças;

Page 224: Defesa Sanitária e Animal

223

XVII - Serviço veterinário oficial: é o órgão responsável pelas atividades de defesa

sanitária animal, em qualquer uma das três Instâncias;

XVIII - Suídeo: qualquer animal do gênero Sus scrofa domesticus (suíno) e Sus scrofa

scrofa (javali europeu);

XIX - Suídeo acometido de DA: qualquer suídeo no qual foram constatados sinais

clínicos ou lesões compatíveis com a DA, com diagnóstico laboratorial comprovado por meio de

exame em laboratório oficial ou credenciado;

XX - Suídeo infectado pelo VDA: qualquer suídeo no qual não foram constatados sinais

clínicos ou lesões compatíveis com a DA, mas que apresenta reação positiva ao teste

laboratorial realizado em laboratório oficial ou credenciado;

XXI - Vazio sanitário: período em que um estabelecimento de criação permanece sem

suídeos após a realização da limpeza e desinfecção das instalações;

XXII - Vírus da Doença de Aujeszky (VDA): agente etiológico da DA, que tem os

suídeos, como único hospedeiro natural, onde é capaz de persistir na forma de uma infecção

inaparente, sofrendo reativação com transmissão aos suídeos susceptíveis;

XXIII - Zona livre de DA: zona ou região do país onde a ausência da DA vem sendo

sistematicamente demonstrada, segundo as recomendações do Código Sanitário dos Animais

Terrestres da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), e a vacinação encontra-se proibida

há pelo menos 2 (dois) anos; e XXIV - Zona provisoriamente livre de DA: zona ou região do país

onde a ocorrência da DA atinge menos de 1% do rebanho suídeo e menos de 10% dos

estabelecimentos de criação existentes, segundo as recomendações do Código Sanitário dos

Animais Terrestres da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

CAPÍTULO II

DO OBJETIVO

Page 225: Defesa Sanitária e Animal

224

Art. 2º Estas Normas têm como objetivo estabelecer as bases para a implementação

de ações coordenadas em cada Unidade da Federação participante do Sistema Unificado de

Atenção à Sanidade Agropecuária, com vistas ao Controle e à Erradicação da DA dos suídeos

domésticos.

Parágrafo único. O atendimento do disposto nestas Normas e no Código Sanitário dos

Animais Terrestres da Organização Mundial de Saúde Animal permitirá ao Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como Instância Central e Superior, reconhecer uma

Unidade da Federação como zona provisoriamente livre ou zona livre para a DA.

CAPÍTULO III

DAS CONDIÇÕES BÁSICAS E ESPECÍFICAS

Art. 3º As atividades para o controle e a erradicação da DA serão coordenadas pelo

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como Instância Central e Superior, devendo

ser implementadas após a adesão voluntária da Unidade Federativa, como Instância

Intermediária.

Art. 4º As Unidades da Federação que tiverem interesse em participar deverão

elaborar um Plano Estadual para Controle e Erradicação da DA que será submetido à aprovação

do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como Instância Central e Superior.

Parágrafo único. A Unidade Federativa que não apresentar um Plano Estadual não

ficará isenta da aplicação do Plano de Contingência para a DA, de acordo com o Anexo II desta

Instrução Normativa e a legislação vigente.

Art. 5º Antes do desenvolvimento de um Plano Estadual para a Erradicação da DA, a

Instância Intermediária deverá realizar um diagnóstico de situação para a enfermidade, baseado

em investigações soroepidemiológicas naqueles estabelecimentos de criação que apresentam

Page 226: Defesa Sanitária e Animal

225

histórico de ocorrência de DA e de uso de vacinas, bem como em outros locais vinculados de

alguma forma a esses estabelecimentos.

Art. 6º Como condição básica para a Unidade da Federação elaborar o Plano Estadual,

e depois de cumprido o disposto no art. 5º, deverá ser solicitado ao Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento, como Instância Central e Superior, a realização de um inquérito

soroepidemiológico para conhecimento da situação epidemiológica local para a DA (presença ou

ausência do VDA).

§ 1º O desenho amostral será delineado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, considerando a população suídea dos diferentes extratos produtivos

(estabelecimentos de criação tecnificados e de subsistência) e utilizando-se prevalência mínima

estimada de 1% de estabelecimentos infectados, e de 5% nos plantéis, com um nível de

confiança de 95%, segundo a tabela do art. 23.

§ 2º Mediante a análise dos resultados do inquérito soroepidemiológico, a Instância

Intermediária na Unidade Federativa irá propor a estratégia de atuação mais adequada a sua

situação no Plano Estadual de Controle e Erradicação da DA.

Art. 7º O Plano Estadual deverá atender a algumas condições específicas, destacando-

se:

I - a existência de um comitê estadual de sanidade suídea atuante, com elaboração de

ata de reuniões, que deve ser encaminhada à Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária

e Abastecimento, como Instância Central e Superior;

II - possuir recursos públicos ou privados para financiamento do Plano e indenização

de proprietários de suídeos atingidos pelas medidas sanitárias decorrentes da implementação e

manutenção das ações dispostas nestas Normas e no Plano Estadual;

III - dispor de Normas complementares à legislação federal para dar suporte às ações

do Plano no âmbito da Instância Intermediária;

IV - apresentar um projeto de educação sanitária voltado à conscientização da

população local acerca do Plano Estadual de Controle e Erradicação da DA a ser implementado;

Page 227: Defesa Sanitária e Animal

226

V - possuir grupo de emergência devidamente treinado para as ações de defesa

sanitária em suídeos e outras decorrentes da aplicação destas Normas e do Plano Estadual; e

VI - possuir um serviço de defesa sanitária animal estruturado, nos âmbitos das

Instâncias Intermediária e Locais.

Art. 8º O desenvolvimento do Plano Estadual de Controle e Erradicação da DA será

avaliado periodicamente por meio de auditorias da Instância Central e Superior nas Instâncias

Intermediárias e Locais.

Parágrafo único. O serviço veterinário oficial da Unidade Federativa que tiver um Plano

Estadual de Controle e Erradicação da DA em aplicação deverá encaminhar à Instância Central

e Superior relatório trimestral discorrendo sobre as ações executadas no período.

Art. 9º A região que lograr êxito na aplicação de um Plano Estadual para Erradicação

da DA deverá submeter-se a um novo inquérito soroepidemiológico, nos mesmos moldes do

disposto no art. 5º, para solicitar a certificação de zona livre ou provisoriamente livre de DA pelo

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como Instância Central e Superior, desde

que atendidas às demais normas do Código Zoossanitário Internacional da Organização Mundial

de Saúde Animal.

Parágrafo único. No caso de não ser observada presença de atividade viral por ocasião

do inquérito soroepidemiológico inicial para conhecimento da situação epidemiológica para a DA,

a Unidade da Federação que atender o disposto nestas Normas e nas exigências da

Organização Mundial de Saúde Animal poderá solicitar ao Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, como Instância Central e Superior, a certificação imediata como zona livre ou

provisoriamente livre de DA.

Art. 10. Unidades da Federação certificadas pela Instância Central e Superior como

livres ou provisoriamente livres de DA devem implementar um monitoramento

soroepidemiológico, de periodicidade anual, abrangendo todos os estabelecimentos de criação

de suídeos que representem risco, bem como investigações periódicas realizadas a partir de

amostras colhidas pelo serviço de inspeção em abatedouros de suídeos, de forma a contribuir

para a manutenção dessa condição sanitária.

Page 228: Defesa Sanitária e Animal

227

CAPÍTULO IV

DO DIAGNÓSTICO

Art. 11. Para o diagnóstico da DA em suídeos, serão utilizadas as provas sorológicas

de Ensaio Imunoenzimático (ELISA triagem ou ELISA diferencial para a glicoproteína viral gE,

naqueles estabelecimentos onde a vacinação é praticada) e o Teste de Neutralização, realizados

exclusivamente em laboratório oficial ou credenciado.

§ 1º Para a confirmação do diagnóstico, amostras de cérebro, baço, pulmão e fetos

abortados serão submetidas à tentativa de isolamento viral ou a provas moleculares (reação de

polimerase em cadeia - PCR).

§ 1º Amostras de cérebro, baço, pulmão e fetos abortados poderão ser submetidas à

tentativa de isolamento viral ou a provas moleculares (reação de polimerase em cadeia - PCR).

Alterado pela Portaria 022 de 22/05/2007

§ 2º Outras provas diagnósticas poderão ser utilizadas, após aprovação do Ministério

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como Instância Central e Superior.

Art. 12. É proibida a manipulação do vírus da DA em todo o território nacional, exceto

em laboratórios oficiais ou credenciados, ou em instituições previamente autorizadas pelo

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como Instância Central e Superior, desde

que possuam nível de biossegurança adequado para a contenção do VDA.

Parágrafo único. Apenas esses estabelecimentos podem ter a posse de kits para

diagnóstico de DA.

Art. 13. As autoridades competentes das três Instâncias credenciarão laboratórios na

forma definida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que determinará quais

os requisitos necessários para a obtenção do credenciamento.

Page 229: Defesa Sanitária e Animal

228

CAPÍTULO V

DA VACINAÇÃO DOS SUÍDEOS

Art. 14. É permitido somente o uso, no país, de vacinas (inativadas ou viva atenuada)

deletadas pelo menos para a glicoproteína viral gE, assim como de kits para diagnóstico que

permitam identificar anticorpos contra essa partícula viral específica, ambos devidamente

licenciados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como Instância Central e

Superior.

Art. 15. A vacinação apenas é permitida àquelas propriedades com diagnóstico

laboratorial positivo para a DA, realizado em laboratório oficial ou credenciado. Parágrafo único.

Estabelecimentos de criação relacionados à propriedade-foco, bem como aqueles sob risco de

infecção podem, a critério do serviço veterinário oficial, realizar a vacinação contra a DA.

Art. 16. A Instância Central e Superior na Unidade Federativa deverá efetuar um

controle sobre todas as doses de vacina utilizadas em seu âmbito de atuação, observando os

seguintes critérios:

I - a Instância Central e Superior na Unidade Federativa autorizará oficialmente a

comercialização da vacina pelo laboratório fabricante ou seu representante legal, indicando

nome e endereço do(s) proprietário(s) e quantitativo de doses;

II - o laboratório fabricante ou seu representante legal fará a comercialização

diretamente ao(s) proprietário(s) indicado(s), remetendo imediatamente à Superintendência

Federal de Agricultura solicitante a cópia da nota fiscal de venda do produto;

III - em hipótese alguma a venda de vacinas pelo laboratório fabricante poderá ser

efetuada por meio da rede de distribuidores e comerciantes; e

IV - mensalmente, as Superintendências Federais de Agricultura remeterão ao

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento um relatório com o nome dos proprietários e

o volume de vacinas utilizadas no seu âmbito de atuação.

Page 230: Defesa Sanitária e Animal

229

Art. 17. Mediante a análise da situação epidemiológica da região para a DA, a Instância

Intermediária poderá propor em seu Plano Estadual a(s) estratégia(s) de uso da vacina, da

seguinte forma:

I - o uso da vacina é proibido na Unidade Federativa;

II - o uso da vacina é permitido apenas durante a emergência sanitária deflagrada pela

ocorrência de um foco, de forma a contribuir para o saneamento deste; e

III - o uso da vacina é permitido com vistas a diminuir a prevalência em regiões

endêmicas, por tempo limitado e sob controle do serviço veterinário oficial.

CAPÍTULO VI

DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA E DE INFORMAÇÃO

Art. 18. O serviço veterinário oficial manterá um sistema de vigilância zoossanitária e

de informação, abrangendo todas as Instâncias, com análise sistemática dos dados coletados e

produção de informes periódicos para atendimento às solicitações do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento, como Instância Central e Superior.

Art. 19. Todo médico veterinário, proprietário, detentor, transportador de animais ou

qualquer outro cidadão que tenha conhecimento de suspeita da ocorrência da DA ou de doenças

com quadro clínico similar deverá comunicar imediatamente o fato ao serviço veterinário oficial.

§ 1º A infração ao disposto neste artigo será devidamente apurada pelo serviço

veterinário oficial, que representará contra o infrator junto ao Ministério Público, para apuração

das responsabilidades cabíveis.

§ 2º Caso o infrator seja médico veterinário, será encaminhada representação junto ao

Conselho Regional de Medicina Veterinária em que o profissional encontra-se inscrito, para que

sejam tomadas as medidas cabíveis.

Page 231: Defesa Sanitária e Animal

230

§ 3º Caso o infrator seja médico veterinário habilitado, além do disposto nos §§ 1º e 2º,

o serviço veterinário oficial deverá proceder de acordo com a legislação específica.

CAPÍTULO VII

DAS ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO EM FOCOS DE DA

Art. 20. Todas as suspeitas de ocorrência da DA deverão ser investigadas pelo médico

veterinário oficial, decorridos no máximo 12 (doze) horas da notificação, observados os

procedimentos de biossegurança.

Art. 21. A confirmação, pelo médico veterinário oficial, da suspeita clínica de ocorrência

da DA em um estabelecimento de criação implicará a imediata interdição.

Art. 22. A confirmação laboratorial da ocorrência de DA em um estabelecimento de

criação implicará a adoção imediata das medidas para o saneamento do foco e para impedir sua

difusão a outros estabelecimentos de criação, dispostas nestas Normas e no Plano de

Contingência para a DA (Anexo II).

Art. 23. Deverá ser procedida uma investigação soroepidemiológica em

estabelecimentos de criação situados em um raio mínimo de 5 (cinco) quilômetros a partir do

foco, e em outras propriedades relacionadas ao foco num período mínimo de 30 (trinta) dias

anteriores ao diagnóstico, a critério do serviço veterinário oficial, para estabelecer a origem e a

disseminação da infecção.

§ 1º Para o conhecimento da situação sanitária de um estabelecimento de criação para

a DA, o médico veterinário oficial colherá amostras dos suídeos para encaminhamento ao

laboratório oficial ou credenciado para fins de diagnóstico, utilizando-se prevalência mínima

estimada de 5% e nível de confiança de 95%, segundo tabela a seguir:

Page 232: Defesa Sanitária e Animal

231

§ 2º A tabela deverá ser aplicada de forma independente para o plantel e animais em

engorda.

Art. 24. Em um foco de DA, o serviço veterinário oficial poderá, com base nos

resultados da sorologia por amostragem ou do grau estimado de acometimento do rebanho, e de

acordo com o disposto em seu Plano Estadual, aplicar uma ou mais das seguintes estratégias de

saneamento:

I - despovoamento imediato;

II - despovoamento gradual; e

III - erradicação por sorologia.

Art. 25. Na metodologia de erradicação da DA por despovoamento imediato, o

estabelecimento de criação será saneado imediatamente, com sacrifício e abate sanitário de

todo o rebanho suídeo existente, independente da idade e do estado fisiológico das fêmeas do

plantel, destacando-se as seguintes medidas sanitárias:

I - o embarque dos suídeos deve ser acompanhado pelo serviço veterinário oficial, que

lacrará o caminhão transportador e fará constar do número do lacre no documento de trânsito;

II - o estabelecimento de criação obedecerá a um período de vazio sanitário mínimo de

30 (trinta) dias após a retirada dos últimos animais do rebanho; e III - o abate sanitário deve ser

efetuado em abatedouro de suídeos reconhecido pelo Sistema Brasileiro de Inspeção de

Produtos de Origem Animal.

Page 233: Defesa Sanitária e Animal

232

Art. 26. Na metodologia de erradicação da DA por despovoamento gradual, o rebanho

deve sofrer abate sanitário dentro de um período máximo de 90 (noventa) dias, a contar do

diagnóstico inicial, seguindo-se os seguintes preceitos:

I - sacrifício sanitário imediato dos suídeos com doença clínica;

II - vacinação do rebanho maior de 7 (sete) dias de idade, até ser completado o

despovoamento do estabelecimento de criação, para evitar disseminação da doença clínica;

III - abate sanitário imediato de fêmeas não gestantes, fêmeas até 60 (sessenta) dias

de gestação e leitoas de reposição;

IV - castração imediata dos machos reprodutores, que devem ser encaminhados ao

abate sanitário quando em condições, segundo legislação vigente;

V - fêmeas em lactação devem aguardar o desmame dos leitões e serem enviadas a

abate sanitário assim que estiverem em condições, segundo legislação vigente;

VI - fêmeas gestantes com mais de 60 (sessenta) dias devem aguardar o parto,

aplicando-se então o disposto no inciso V;

VII - leitões em maternidade e creche devem ser encaminhados a abate sanitário

quando atingirem aproximadamente 23 (vinte e três) quilos de peso vivo; VIII - o embarque dos

suídeos deve ser acompanhado pelo serviço veterinário oficial, que lacrará o caminhão

transportador e fará constar do número do lacre no documento de trânsito;

IX - proceder-se-á à desinfecção segundo o disposto no Plano de Contingência (Anexo

II), e o estabelecimento de criação obedecerá a um período de vazio sanitário mínimo de 30

(trinta) dias após a retirada dos últimos animais do rebanho; e

X - o abate sanitário deve ser efetuado em abatedouro de suídeos reconhecido pelo

Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal.

XI - leitões em fase de engorda devem ser destinados ao abate sanitário quando

atingirem o peso adequado.

Art. 27. Na metodologia de erradicação da DA por sorologia, o estabelecimento de

criação será submetido a testes sorológicos periódicos, capazes de diferenciar se os títulos

Page 234: Defesa Sanitária e Animal

233

humorais são decorrentes da infecção pelo VDA ou do processo de vacinação, com eliminação

gradual do plantel positivo, da seguinte forma:

I - sacrifício ou abate sanitário dos suídeos inicialmente infectados;

II - vacinação do rebanho maior de 7 (sete) dias de idade, para evitar disseminação da

doença clínica, com suspensão ao final do processo, a critério do serviço veterinário oficial;

III - nova sorologia de todo o plantel, 30 (trinta) dias após a identificação da infecção no

rebanho, com encaminhamento imediato dos infectados para abate sanitário, obedecendo-se à

legislação vigente;

IV - repetições das sorologias em 100% do plantel, com intervalos de 60 (sessenta)

dias entre os testes, seguindo-se o disposto no inciso III, até a obtenção de dois resultados

sorológicos negativos consecutivos; e V - o abate sanitário deve ser efetuado em abatedouro de

suídeos reconhecido pelo Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal.

Art. 28. Quando liberado pelo serviço veterinário oficial, o repovoamento do(s)

estabelecimento(s) de criação será feito com reprodutores oriundos de GRSC.

Parágrafo único. Estabelecimentos de engorda deverão ser repovoados com animais

oriundos de estabelecimentos de criação comprovadamente negativos para o VDA, por meio de

exame realizado em laboratório oficial ou credenciado, seguindo a amostragem disposta na

tabela do art. 23.

Art. 29. Estabelecimentos de criação submetidos a qualquer uma das estratégias de

controle e erradicação descritas nos arts. 25, 26 e 27 deverão ter sua condição de livres de DA

confirmada por meio da obtenção de 2 (duas) sorologias negativas consecutivas, em intervalos

de 2 (dois) meses, realizadas de forma independente para o plantel e animais de engorda,

seguindo a amostragem disposta na tabela do art. 23.

Parágrafo único. A primeira sorologia deverá ser realizada logo após a parição do

primeiro lote de reprodutoras introduzidas.

Page 235: Defesa Sanitária e Animal

234

CAPÍTULO VIII

DO TRÂNSITO DE SUÍDEOS E OUTROS MATERIAIS

Art. 30. É proibido o trânsito de suídeos vacinados contra a DA para qualquer

finalidade, exceto o abate imediato em abatedouro reconhecido pelo Sistema Brasileiro de

Inspeção de Produtos de Origem Animal.

§ 1º Quando o estabelecimento de criação não tiver capacidade de estoque suficiente,

poderá ser autorizada, a critério do serviço veterinário oficial, a transferência de leitões para

engorda em outro estabelecimento, desde que situado na mesma Unidade Federativa, onde os

suídeos ficarão sob supervisão até atingirem o peso de abate.

§ 2º O trânsito deverá ser efetuado em meio de transporte lacrado pelo serviço

veterinário oficial, e acompanhado pelo documento de trânsito emitido por médico veterinário

oficial, do qual conste o número do lacre e a condição de vacinados contra DA.

§ 3º O estabelecimento de criação de destino dos animais vacinados assumirá as

mesmas condições de restrição do estabelecimento de origem.

Art. 31. Os suídeos em trânsito interestadual para a finalidade de engorda deverão

estar acompanhados do documento de trânsito e de certificado emitido pelo serviço veterinário

oficial, atestando que os animais são oriundos de estabelecimento de criação onde não houve a

ocorrência de DA nos últimos 12 (doze) meses, exceto para Unidades da Federação

reconhecidas como livres da DA pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como

Instância Central e Superior.

Parágrafo único. É permitido o ingresso de suídeos para o abate imediato,

provenientes de outras Unidades Federativas, independentemente de sua condição sanitária

para DA, desde que obedecida a legislação vigente.

Art. 32. O trânsito de suídeos entre zonas de mesma condição sanitária para a DA, por

meio de zonas de condição sanitária inferior, deve ser realizado em veículo lacrado pelo serviço

veterinário oficial da Unidade Federativa de origem.

Page 236: Defesa Sanitária e Animal

235

Parágrafo único. O rompimento do lacre no destino deverá ser efetuado

exclusivamente pelo serviço veterinário oficial.

Art. 33. É proibido o trânsito interestadual de produtos e subprodutos provenientes de

suídeos que foram submetidos ao abate sanitário devido à ocorrência de DA.

Art. 34. No caso da constatação do não cumprimento das normas aprovadas para o

trânsito de suídeos, seus produtos e subprodutos, caberá à autoridade competente das

Instâncias Intermediárias impedir o trânsito e lavrar a ocorrência, de acordo com o disposto na

legislação pertinente.

§ 1º Se o trânsito irregular for interceptado nos limites da Unidade Federativa onde se

aplica um Plano de Erradicação, deve ser determinado o seu retorno à origem, exceto os

animais acometidos da doença, aplicando-se as sanções legais cabíveis.

§ 2º Se o trânsito irregular for interceptado no interior da Unidade Federativa onde se

aplica um Plano de Erradicação, deve ser determinado a apreensão e o sacrifício dos suídeos,

além de aplicação das sanções legais cabíveis.

§ 3º No caso de produtos ou subprodutos provenientes de suídeos, os mesmos

deverão ser apreendidos e destruídos, podendo ser-lhes dada outra destinação, a juízo da

autoridade competente, além da aplicação das sanções legais cabíveis.

CAPÍTULO IX

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 35. No caso da constatação de DA em abatedouros, recintos de exposições,

leilões e outras aglomerações de suídeos, todo o recinto será considerado foco e serão

aplicadas, no que couber, as medidas sanitárias estabelecidas nestas Normas e no Plano de

Contingência para a DA.

Art. 36. As medidas previstas nestas Normas deverão ser implementadas observando

as demais recomendações dispostas no Plano de Contingência para a DA.

Page 237: Defesa Sanitária e Animal

236

Art. 37. Os casos omissos serão resolvidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, como Instância Central e Superior.

Page 238: Defesa Sanitária e Animal

237

30 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DA RAIVA DOS HERBÍVOROS E OUTRAS

ENCEFALOPATIAS

30.1 RAIVA DOS HERBÍVOROS

O vírus da raiva infecta todos os animais de sangue quente, incluindo seres humanos,

causando doença grave e normalmente fatal, acomete fundamentalmente o sistema nervoso

central (SNC). O período de incubação pode ser muito longo, variando de duas a três semanas

até seis meses. Os sinais clínicos se concentram no SNC, mas variam dependendo da espécie

acometida, nos bovídeos a forma mais comum é a paralítica (Fig. 67), já nos canídeos é a forma

furiosa. Os sintomas precoces da raiva humana são cefaleia, sede extrema, vômito e anorexia.

Na fase mais avançada da doença observamos espasmos dolorosos dos músculos faríngeos

quando da ingestão de líquidos (hidrofobia), excitação a estimulação sensorial e paralisia geral.

Com raríssimos relatos da literatura, normalmente o óbito é o desfecho da doença. A evolução

da enfermidade em cães dura de três a oito dias. Demonstrações de alterações de

comportamento são comuns durante a fase inicial da doença; às vezes, estão presentes febre,

dilatação das pupilas e fotossensibilidade. Durante o estágio avançado, a forma furiosa (Fig. 68)

é frequentemente vista.

Fig. 67 – Bovino com início dos sintomas da raiva paralítica

FONTE: Atlas de doenças de bovinos, equinos, ovinos e suínos.

Page 239: Defesa Sanitária e Animal

238

Fig. 68 – Cão com a forma furiosa da raiva

FONTE: Disponível em: <www.who-rabies-bulletin.org/About_Rabies/What_is_rabies.aspx>. Acesso em: 21/01/2010.

30.2 ETIOLOGIA

A raiva é causada por um vírus pertencente à família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus

(Fig. 6). O vírus tem a forma cilíndrica, com um terminal arredondado e o outro cortado em

ângulo reto, dando a forma de bala. Medem em média 75 x 180 nm e é um RNA de fita simples.

Apresenta envoltório lipídico duplo, recoberto por projeções de glicoproteínas (proteína G) e

duas proteínas não glicolíticas.

Fig. 69 – Micrografia eletrônica de Lyssavirus

FONTE: Disponível em: <www.stanford.edu>. Acesso em: 21/01/2010.

Page 240: Defesa Sanitária e Animal

239

30.3 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

A raiva ocorre em todos os continentes, a exceção da maior parte da Oceania. Na

atualidade, vários países estão livres da doença. No Brasil a doença ainda é de grande

importância tanto para a saúde pública quanto para a pecuária.

30.4 PATOGENIA

30.4.1 Fontes de infecção

Saliva, aerossóis (inalação) e transplante de tecido infectado (córnea).

30.4.2 Ciclo no organismo

A replicação do vírus da raiva é restrita, quase exclusivamente ao tecido nervoso. Não

foi documentado, até o momento, nenhum estágio virêmico significativo. O vírus multiplica-se no

local da inoculação, em músculo estriado, permanecendo no local por dias ou meses, antes de

passar aos nervos periféricos.

A progressão do vírus para o sistema nervoso central (SNC), denominada de via

centrípeta, é modulada pela:

- concentração do vírus no inóculo inicial;

- proximidade da lesão do cérebro;

- gravidade da ferida;

- idade do hospedeiro; e

Page 241: Defesa Sanitária e Animal

240

- pelo estado imunológico do hospedeiro.

Os fusos neuromusculares no músculo servem como uma porta de entrada do vírus

para os nervos sensoriais periféricos. O vírus segue o caminho inverso, através das bainhas

mielínicas, até infiltrar-se na medula.

Uma vez na medula segue-se, rapidamente, a infecção do cérebro. As áreas afetadas

incluem o hipocampo, tronco cerebral, células ganglionares dos núcleos pontinos e células de

Purkinje do cerebelo.

O vírus dissemina-se do SNC através dos neurônios aferentes para locais altamente

inervados, como a pele da cabeça e pescoço, glândulas salivares, retina, córnea, mucosa nasal,

medula suprarrenal, parênquima renal, células acinares pancreáticas. Esta disseminação é

denominada via centrífuga

30.4.3 Principais locais de replicação

Hipocampo, tronco cerebral, células ganglionares dos núcleos pontinos e células de

Purkinje do cerebelo.

30.5 EPIDEMIOLOGIA

A raiva silvestre se mantém na natureza de forma similar à raiva urbana. Dentro de um

determinado ecossistema, uma ou duas espécies de mamíferos se encarregam de perpetuar o

vírus rábico. Os morcegos hematófagos, os bovinos, equinos, aves e suínos também são

espécies importantes no ciclo epidemiológico da raiva (Fig. 70).

As epizootias e enzootias dependem da dinâmica da população. Quando a densidade

populacional é alta, a raiva adquire proporções epizoóticas e um grande número de animais

pode morrer. Quando a densidade é baixa, a raiva pode se apresentar de forma enzoótica, ou,

Page 242: Defesa Sanitária e Animal

241

com o tempo, desaparece. Quando ocorre uma nova geração de suscetíveis, ocorrem novos

focos epizoóticos.

O ciclo rural da raiva envolve a transmissão da doença pelos morcegos hematófagos,

normalmente das espécies Desmodus rotundus (Fig. 71), Diphylla ecaudata (Fig. 72) e Diaemus

youngi (Fig. 73).

Fig. 70 – Ciclo epidemiológico da raiva

FONTE: Instituto Pasteur

Fig. 71 – Desmodus rotundus

FONTE: Disponível em: <www.dkimages.com>. Acesso em: 15/01/2010

Page 243: Defesa Sanitária e Animal

242

Fig. 72 - Diphylla ecaudata

FONTE: Disponível em: <michellegerrypcthike.blogspot.com>. Acesso em: 15/01/2010.

Fig. 73 - Diaemus youngi

FONTE: Disponível em: <http://www.birds.cornell.edu/evb/Undergraduates_Gerald.htm>. Acesso em: 15/01/2010.

30.6 ASPECTOS CLÍNICOS

Passado o período de incubação, podem surgir diferentes sinais da doença, sendo a

paralisia (Fig. 74) o mais comum, porém pode ocorrer a forma furiosa, levando o animal a atacar

outros animais ou seres humanos.

Page 244: Defesa Sanitária e Animal

243

Fig. 74– Bovino com paralisia devido a raiva

FONTE: Atlas de doenças de bovinos, eqüinos, ovinos e suínos.

Quando se trata de raiva transmitida por morcegos, não foram observadas diferenças

acentuadas entre as manifestações clínicas nos bovinos, equinos, asininos, muares e outros

animais domésticos de importância econômica, como caprinos, ovinos e suínos. O sinal inicial é

o isolamento do animal, que se afasta do rebanho, apresentando certa apatia e perda do apetite,

podendo apresentar-se de cabeça baixa e indiferente ao que se passa ao seu redor. Seguem-se

outros sinais, como aumento da sensibilidade e prurido na região da mordedura, mugido

constante, tenesmo, hiperexcitabilidade, aumento da libido, salivação abundante, viscosa e

dificuldade para engolir (o que sugere que o animal esteja engasgado).

Com a evolução da doença, apresenta movimentos desordenados da cabeça, tremores

musculares e ranger de dentes, midríase com ausência de reflexo pupilar, incoordenação

motora, andar cambaleante e contrações musculares involuntárias.

Após entrar em decúbito, não consegue mais se levantar e ocorrem movimentos de

pedalagem, dificuldades respiratórias, opistótono, asfixia e finalmente a morte, que ocorre

geralmente entre três a seis dias após o início dos sinais, podendo prolongar-se, em alguns

casos, por até 10 dias. Uma vez iniciados os sinais clínicos da raiva, nada mais resta a fazer, a

não ser isolar o animal e esperar sua morte, ou sacrificá-lo na fase agônica.

Como os sinais em bovinos e equinos podem ser confundidos com outras doenças que

apresentam encefalites, é importantíssimo que seja realizado o diagnóstico laboratorial

diferencial.

Page 245: Defesa Sanitária e Animal

244

Nunca se deve aproveitar para consumo a carne de animais com suspeita de raiva.

Partículas virais foram encontradas em níveis detectáveis no coração, pulmão, rim, fígado,

testículo, glândulas salivares, musculoesquelético, gordura marrom, etc., de diferentes animais

domésticos e silvestres.

A manipulação da carcaça de um animal raivoso oferece risco elevado, especialmente

para os profissionais nos açougues, cozinheiros, ou funcionários da indústria de transformação

de carnes. Deve-se ter extrema cautela ao lidar com animais suspeitos, pois pode haver perigo

quando pessoas não preparadas manipulam a cabeça e o cérebro ou introduzem a mão na boca

dos animais, na tentativa de desengasgá-los. Caso isso ocorra, deve-se procurar imediatamente

um Posto de Saúde para atendimento.

A título de informação, descrevem-se os sintomas no ser humano, que ocorrem em

três estágios:

• O primeiro estágio, o prodrômico, dura aproximadamente 2-10 dias, caracterizado por

dor de cabeça, febre, náusea, fadiga e anorexia;

• No segundo estágio, ocorre a excitação sensorial ou a fase conhecida como "período

neurológico agudo", que persiste por 2 a 7 dias. Ocorrem comportamentos bizarros, como

extrema agressividade, ansiedade, insônia, aumento da libido, formigamento, priapismo,

hipersalivação, aerofobia, fotofobia, reação ao barulho, contração muscular, convulsões,

hidrofobia, tendência de morder e de mastigar;

• O terceiro estágio é caracterizado por coma e paralisia, que pode durar de algumas

horas a alguns dias, marcado pelo estado de confusão mental, alucinações, paradas cardíacas e

respiratórias e paralisia do pescoço ou da região do ponto de inoculação. Entrando em coma, o

paciente pode falecer em poucos dias;

• Nos casos de raiva humana associados à transmissão por morcegos, tem sido

observada principalmente a sintomatologia paralítica da doença. Humanos que apresentarem

sintomas semelhantes aos relatados acima deverão SEMPRE ser encaminhados ao Serviço de

Saúde mais próximo, devendo as autoridades de saúde ser imediatamente notificadas.

Page 246: Defesa Sanitária e Animal

245

30.7 DIAGNÓSTICO

30.7.1 Clínico

A observação clínica permite levar somente à suspeição da raiva, pois os sinais da

doença não são característicos e podem variar de um animal a outro ou entre indivíduos da

mesma espécie.

Não se deve concluir o diagnóstico de raiva somente com a observação clínica e

epidemiológica, pois existem várias outras doenças e distúrbios genéticos, nutricionais e tóxicos

nos quais os sinais clínicos compatíveis com a raiva podem estar presentes.

30.7.2 Diagnóstico Laboratorial

Não existe, até o momento, um teste diagnóstico laboratorial conclusivo antes da morte

do animal doente que expresse resultados absolutos. No entanto, existem procedimentos

laboratoriais padronizados internacionalmente, para amostras obtidas post mortem de animais

ou humanos suspeitos de raiva. As técnicas laboratoriais são aplicadas preferencialmente nos

tecidos removidos do SNC. Fragmentos do hipocampo, tronco cerebral, tálamo, córtex, cerebelo

e medula são tidos tradicionalmente como materiais de escolha.

30.7.3 Técnicas diagnósticas

O diagnóstico laboratorial pode ser realizado utilizando principalmente dois tipos de

procedimentos de rotina:

Page 247: Defesa Sanitária e Animal

246

a) Identificação imunoquímica do antígeno viral:

a.1) Teste de imunofluorescência direta: O teste mais amplamente utilizado para o

diagnóstico da raiva é de imunofluorescência direta (IFD) Fig. 75), recomendado pela

Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Este

teste pode ser utilizado diretamente numa impressão de tecido feita em lâmina de microscopia,

ou ainda para confirmar a presença de antígeno de vírus da raiva em cultura celular. O teste de

IFD apresenta resultados confiáveis em poucas horas, quando realizados em amostras frescas,

em 95-99% dos casos. Para o diagnóstico direto, as impressões preparadas do hipocampo,

cerebelo e medula oblongata são coradas com um conjugado específico marcado com

substância fluorescente (anticorpos antirrábicos + isotiocianato de fluoresceína). No teste de IFD,

os agregados específicos da nucleocapside são identificados pela fluorescência observada. A

IFD pode ser aplicada em amostras conservadas em glicerina, depois de repetidas operações de

lavagem.

Fig. 75 – Imunofluorescência positiva para o vírus da raiva

FONTE: Disponível em: <www.wadsworth.org/rabies/rpix.htm>. Acesso em: 10/01/2010.

b) Isolamento viral:

Este teste detecta a infecciosidade da amostra, por meio de inoculação da suspensão

de tecidos extraídos da amostra suspeita, em sistemas biológicos, permitindo o “isolamento” do

Page 248: Defesa Sanitária e Animal

247

agente. É utilizado concomitantemente ao teste de IFD, conforme preconizado pela Organização

Mundial de Saúde (OMS).

b.1) Teste de inoculação em camundongo: Um grupo de camundongos com idade

entre 3 e 4 semanas ou neonatos de 2 a 5 dias de idade são inoculados intracerebralmente. Os

camundongos adulto-jovens são observados por 30 dias e todo camundongo morto é examinado

por meio da IFD. Para apressar o resultado da inoculação de camundongos neonatos,

recomenda-se o sacrifício de um camundongo por vez, aos 5, 7, 9 e 11 dias pós-inoculação,

seguidos da realização da IFD. O teste de isolamento in vivo em camundongos é oneroso e deve

ser substituído, sempre que possível, por isolamento em cultivo celular.

b.2) Teste em cultura celular: A linhagem celular preconizada para esse tipo de teste é

de células de neuroblastoma murino (NA-C1300). A replicação do vírus é revelada pela IFD. O

resultado do teste é obtido 18 horas pós-inoculação. Geralmente a incubação é continuada por

48 horas e, em alguns laboratórios, por até quatro dias. Este teste é tão sensível quanto o teste

de inoculação em camundongos. Uma vez existindo a unidade de cultura celular no laboratório,

este teste deve substituir o teste de inoculação em camundongos, evitando assim o uso de

animais, além do fato de ser menos oneroso e mais rápido.

Page 249: Defesa Sanitária e Animal

248

31 ENCEFALOPATIA ESPONGIFORME BOVINA

A encefalopatia espongiforme bovina - EEB - (em inglês, BSE, sigla para bovine

spongiform encefalopathy), conhecida como “doença da vaca louca”– é uma condição

degenerativa crônica e transmissível do sistema nervoso central (SNC) de bovinos, caracterizada

clinicamente por nervosismo, reação exagerada a estímulos externos e dificuldade de

locomoção, principalmente nos membros pélvicos. As alterações espongiformes encontradas no

exame microscópico (Fig. 76) deram o nome à doença. O agente da EEB é extremamente

resistente ao calor, aos processos convencionais de esterilização e não induz resposta imune ou

inflamatória. A doença já foi relatada em bovinos de cerca de 20 países, embora acima de 90%

dos casos tenha ocorrido na Grã-Bretanha. A EEB faz parte de um grupo complexo de doenças

neurodegenerativas que afetam pessoas e animais, conhecidos como, encefalopatias

espongiformes transmissíveis (EETs).

Fig. 76 - Micrografia de tecido cerebral, com alterações histopatológicas encontradas em animais com encefalopatia espongiforme bovina

FONTE: Disponível em: <www.sciencedaily.com>. Acesso em: 15/01/2010.

Page 250: Defesa Sanitária e Animal

249

31.1 IMPORTÂNCIA

A encefalopatia espongiforme bovina (EEB) é uma doença neurodegenerativa fatal,

causada por um príon, que afeta principalmente bovinos. Outras espécies de ruminantes, gatos e

humanos são ocasionalmente afetadas; esta doença é chamada de encefalopatia espongiforme

felina (FSE) em gatos, e Creutzfeldt-Jakob (vCJD) em seres humanos. A EEB é uma doença

relativamente nova, que foi primeiramente relatada no Reino Unido em 1980. É transmitida por

ingestão de alimentos contaminados; animais ou seres humanos são infectados quando ingerem

o príon contido nos tecidos de um animal infectado. Cozimento e a desinfecção padrão não são

eficientes na destruição deste agente.

As origens da EEB são desconhecidas, no entanto, a utilização de proteínas de

ruminantes (ovinos) na alimentação de ruminantes (bovinos) provocou uma epidemia no Reino

Unido em 1980 e 1990. Esta epidemia atingiu o pico em 1992, com quase 1.000 novos casos

diagnosticados a cada semana, mas tem diminuído como resultado de medidas de controle. EEB

também se espalhou para vários países da Europa, América do Norte, partes da Ásia e

possivelmente outras áreas do mundo. A prevalência da doença varia muito entre as nações. Em

agosto de 2007, três casos foram relatados nos Estados Unidos: um caso ocorreu em um animal

importado e dois em bovinos autóctones. A presença da EEB em um país pode resultar em

sanções comerciais, bem como a crescente preocupação pública sobre a segurança da carne.

Muitas nações realizam programas de controle e vigilância. A maioria dos países também

aprovou novos regulamentos para prevenir a EEB, incluindo a proibição da utilização de proteína

de origem animal na alimentação de ruminantes.

31.2 TRANSMISSÃO

A EEB é transmitida geralmente quando um animal ou humanos ingerem tecidos

animais contendo o príon da EEB. Os príons replicam inicialmente em placas de Peyer do íleo,

Page 251: Defesa Sanitária e Animal

250

em seguida, são transportados através dos nervos periféricos para o sistema nervoso central

(SNC). Nos bovinos, os príons podem se acumular no cérebro cedo, mas geralmente demora o

aparecimento dos primeiros sintomas. Os riscos de transmissão de vários tecidos ainda são

incompletamente compreendidos, porém a maior concentração de príon ocorre no SNC e íleo.

Em bovinos infectados naturalmente, príons de EEB foram encontrados principalmente no

cérebro, medula espinhal, retina e íleo distal, mas técnicas mais sensíveis detectaram

recentemente este agente no gânglio da raiz dorsal, nervos periféricos e as glândulas

suprarrenais. Em bovinos infectados experimentalmente, tem sido relatada a partir do SNC,

gânglio da raiz dorsal, gânglio trigêmeo, gânglios torácicos, alguns nervos periféricos, o íleo

distal (especialmente nas placas de Peyer), as glândulas suprarrenais, as amígdalas e a medula

óssea.

31.2.1 A causa da EEB e das outras EETs

Durante pesquisas para elucidar a etiologia das EETs os cérebros homogeneizados de

hamsters infectados por scrapie (uma EET de ovinos) eram fracionados em vários componentes.

Desses, a fração mais infecciosa demonstrou possuir grandes quantidades de uma determinada

proteína que não era destruída pelas proteases (enzimas que dissolvem as proteínas). Essa

proteína, batizada como príon (do inglês proteinaceous infectious particle, com o “i” e o “o”

trocados por conveniência linguística) ou PrP (prion protein), não era encontrada em cérebros de

hamsters normais. A sequência de aminoácidos da PrP era a mesma que a de uma proteína

encontrada em quantidades iguais em cérebros infectados e não infectados, mas que, ao

contrário da PrP, podia ser degradada por enzimas proteolíticas. Havia, portanto, duas formas

(apresentações estruturais) da mesma proteína. A forma encontrada apenas nos cérebros dos

animais infectados foi subsequentemente denominada PrPsc (onde sc significa scrapie, a

doença protótipo das EETs).

A forma encontrada tanto nos cérebros infectados como nos não infectados foi

chamada de PrPc (onde c significa celular, i.é, própria das células normais). Várias evidências

acumuladas até os dias de hoje indicam que a proteína PrPsc seja o agente etiológico das EETs.

Page 252: Defesa Sanitária e Animal

251

31.3 DIAGNÓSTICO

Atualmente não há teste para Detectar uma doença não vivo dos animais. A doença

pode ser confirmada pelo exame microscópico do tecido encefálico ou pela detecção da forma

anormal do príon (PrPSc). Isso pode ser feito por microscopia eletrônica ou por métodos

imunológicos. Quando extratos de cérebros com animais afetados EETS são examinados ao

microscópio eletrônico, como PrPSc (prions) aparecem em estruturas como forma de bastonete

denominadas SAFs (scrapie associado fibrilas). Métodos imunológicos Incluem uma proteína da

detecção (PrPSc) por imunoistoquímica ou por immunobloting ocidental e os chamados rápidos

em testes de ELISA ou immunoblotting.

Atualmente, no Brasil, o diagnóstico é realizado pelo exame histológico de cortes

selecionados do tronco encefálico e por imunoistoquímica. Pará ambos os testículos é suficiente

o envio do Cérebro, conforme especificado Fixado Informativo nº Procedimentos para o

Diagnóstico das Doenças do Sistema Nervoso Central de Bovinos.

31.3.1 Controle, profilaxia e tratamento

Não há tratamento ou vacina para impedir o Aparecimento da doença. Medidas para

prevenir uma introdução de casos Incluem não importar ruminantes e seus produtos de Países

Considerados de Risco para uma EEB, não alimentar ruminantes com proteína de origem

animal, com cama de frango, com resíduos da exploração de suínos e impedir uma permanência

de carcaças no campo.

Page 253: Defesa Sanitária e Animal

252

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO.

GABINETE DO MINISTRO

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 8, DE 25 DE MARÇO DE 2004 (*)

O MINISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, no

uso da atribuição que lhe confere o art. 87, Parágrafo único, inciso II, da Constituição, tendo em

vista o disposto no art. 71 do Regulamento do Serviço de Defesa Animal, aprovado pelo Decreto

nº 24.548, de 3 de julho de 1934, nos artigos 1º e 2º da Lei nº 6.198, de 26 de dezembro de

1974, e o que consta do processo nº 21000.008269/2003-65, e considerando a epidemiologia da

Encefalopatia Espongiforme Bovina - EEB e a necessidade de manutenção da situação sanitária

do Brasil em relação a essa doença, resolve:

Art. 1º Proibir em todo o território nacional a produção, a comercialização e a utilização

de produtos destinados à alimentação de ruminantes que contenham em sua composição

proteínas e gorduras de origem animal.

Parágrafo único. Incluem-se nesta proibição a cama de aviário, os resíduos da criação

de suínos, como também qualquer produto que contenha proteínas e gorduras de origem animal.

Art. 2º Fica também proibida a produção, a comercialização e a utilização de produtos

para uso veterinário, destinados a ruminantes, que contenham em sua formulação insumos

oriundos de ruminantes.

Art. 3º Excluem-se da proibição de que tratam os artigos anteriores, o leite e os

produtos lácteos, a farinha de ossos calcinados (sem proteína e gorduras), e a gelatina e o

colágeno preparado exclusivamente a partir de couros e peles.

Parágrafo único. A critério da Secretaria de Defesa Agropecuária, mediante análise de

risco, poderão ser excluídos outros produtos e insumos.

Art. 4º Os rótulos e as etiquetas dos produtos destinados à alimentação de não

ruminantes, que contenham qualquer fonte de proteínas e gorduras de origem animal, exceto os

Page 254: Defesa Sanitária e Animal

253

produtos mencionados no art. 3º desta Instrução, deverão conter no painel principal e em

destaque, a seguinte expressão: “USO PROIBIDO NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES”.

Art. 5º Os produtos destinados à alimentação de ruminantes estão sujeitos a análises

de fiscalização para a identificação dos ingredientes utilizados como fonte de proteína.

Art. 6º As Secretarias de Defesa Agropecuária e de Apoio Rural e Cooperativismo, em

suas respectivas áreas de competência, expedirão instruções complementares para os casos

que requeiram posterior regulamentação ou para os casos omissos.

Art. 7º Esta Instrução Normativa entra em vigor na data de sua publicação.

ROBERTO RODRIGUES

Page 255: Defesa Sanitária e Animal

254

32 COLETA DO ENCÉFALO DE BOVINOS PARA EXAME LABORATORIAL

A encefalopatia espongiforme bovina (EEB), conhecida em todo o mundo como

“doença da vaca louca”, é uma doença degenerativa crônica que afeta o sistema nervoso central

de bovinos. A doença foi diagnosticada pela primeira vez na Grã-Bretanha em 1986 e causou

grande impacto econômico na pecuária do Reino Unido. Foi também confirmada em bovinos

nativos da Áustria, Bélgica, Canadá, República Tcheca, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia,

Espanha, Finlândia, França, Alemanha, Holanda, Itália, Irlanda, Israel, Japão, Liechtenstein,

Luxemburgo, Portugal e Suíça. A preocupação de que a EEB apresentasse risco para os

consumidores de carne bovina esteve presente desde o início da epidemia na Inglaterra. Essa

preocupação atingiu níveis extremamente altos quando, na terceira semana de março de 1996,

num comunicado ao parlamento inglês, o Secretário do Estado da Saúde da Inglaterra anunciou

que a ocorrência de uma nova variante da doença neurológica de humanos, Creutzfeldt Jakob

(CJD), era provavelmente relacionada à EEB. Um dos resultados dessa crescente preocupação

é que as autoridades sanitárias internacionais estão solicitando dos países exportadores de

carne que apresentem evidências de que seus rebanhos são livres da doença. Isso equivale a

dizer que esses países devem ter um controle capaz de atestar que seu rebanho bovino é livre

de EEB, identificar as doenças que afetam os sistema nervoso central e reconhecer casos de

EEB, se eles ocorrerem.

32.1 RECOMENDAÇÕES GERAIS

As doenças do sistema nervoso central (SNC) frequentemente não apresentam lesões

óbvias à necropsia. Por isso, o patologista que examina o material no laboratório depende de um

histórico e de observações clínicas confiáveis para orientação sobre a natureza da doença

neurológica. Um formulário com os principais dados referentes ao(s) animal(ais) afetado(s), aos

achados epidemiológicos e clínicos e aos principais achados de necropsia deve ser preenchido.

A remoção e coleta de amostras do sistema nervoso requerem tempo e esforço. É, portanto,

Page 256: Defesa Sanitária e Animal

255

necessário estabelecer critérios para realização dessas tarefas. Se não houver sinais clínicos e

históricos sugestivos de doença neurológica, é pouco provável que o exame do sistema nervoso

revele lesões significativas. Nos casos em que não há histórico clínico ou ele é pouco preciso ou

quando a morte do animal ocorreu sem sinais premonitórios, recomenda-se o exame

neuropatológico.

Informe sobre a data e hora da morte, o tempo decorrido entre a morte e a necropsia e

sobre qualquer demora entre coleta e fixação do material. Esses dados são importantes para a

realização do exame neuropatológico. Doenças que oferecem risco para a saúde humana (por

ex., raiva, listeriose) devem ser consideradas antes da realização dos exames e os cuidados

necessários devem ser tomados. O uso de luvas de borracha e de um visor (óculos) durante a

abertura do crânio é recomendado.

Se o material for destinado ao exame histológico, é extremamente importante que o

manuseio do tecido nervoso ainda não fixado seja o mínimo possível. O exame macroscópico

detalhado deve, por isso, ser feito após a fixação. O manuseio do tecido nervoso não fixado

causa artefatos que prejudicam a avaliação histológica das lesões.

Tanto quanto possível, o exame macroscópico sistemático do encéfalo deve ser feito

no órgão fixado (a fixação endurece os tecidos). Isso facilita a seleção de áreas apropriadas para

o diagnóstico de doenças específicas e permite que se determine a distribuição das lesões. A

distribuição das lesões no sistema nervoso (i.é, bilaterais, simétricas, focais, multifocais, na

substância branca e na substância cinzenta) é característica para várias doenças e deve ser

anotada. Muitas vezes o encéfalo não pode ser fixado inteiro, como seria o ideal, pois há

necessidade de conservar partes do órgão não fixadas para exames virológicos e

bacteriológicos.

Não misture tecidos de animais diferentes, mesmo que representem casos de uma

mesma doença. Tecidos de cada animal devem ser identificados claramente.

Page 257: Defesa Sanitária e Animal

256

32.2 RETIRADA DO ENCÉFALO

A coleta não criteriosa e aleatória de numerosas amostras de encéfalo não fixado pode

dificultar o exame neuropatológico no laboratório. Quando houver vários animais para necropsia,

num surto de uma doença neurológica, o tempo para a retirada do encéfalo pode ser um fator

limitante. Nesse caso, selecione alguns animais para o exame neuropatológico. Colha o material

tentando eliminar, ou diminuir ao máximo, danos ao tecido nervoso, causados durante a sua

retirada.

Através de um acesso ventral, remova a cabeça, desfazendo a articulação atlanto-

occipital. Nesse ponto, examine a superfície e a cápsula das articulações e o aspecto físico do

líquido cefalorraquidiano (LCR) que flui quando a dura-máter é seccionada. Em casos com

pouco tempo decorrido desde a morte, pode-se retirar uma amostra asséptica de LCR antes de

seccionar-se a dura-máter.

Disseque a pele e os músculos da cabeça. Abra a cavidade craniana seguindo as

linhas mostradas na Figura 77. Isso pode ser feito com serra comum ou cutelo do tipo usado por

açougueiros. O encéfalo é, então, exposto com a dura-máter intacta.

Fig. 77 – Remoção do encéfalo. As linhas marcam os locais onde o crânio deve ser cortado para a retirada do encéfalo

FONTE: Barros e Marques (2003)

Page 258: Defesa Sanitária e Animal

257

Usando tesouras, retire a dura-máter, seccionando a foice do cérebro e o tentório

(tenda) do cerebelo (Figura 78). Com a cabeça do bovino inclinada, remova o encéfalo

seccionando os nervos cranianos. Sem o corte prévio dessas estruturas, é impossível remover o

cérebro intacto. Evite ao máximo manusear, pressionar e apertar o tecido nervoso durante o

processo de remoção, para evitar artefatos histológicos que prejudiquem o exame no laboratório.

Fig. 78 – Retirada da duramáter usando tesouras

FONTE: Barros e Marques (2003)

O gânglio do nervo trigêmeo (gânglio de Gasser) e a rete mirabile carotídea devem ser

colhidos junto com a hipófise. O exame desse par de gânglios nervosos do 5° par de nervos

cranianos é importante para o diagnóstico de doenças como raiva e meningoencefalite por

herpesvírus bovino (BHV-5).

Nessas duas doenças, frequentemente se observa inflamação (ganglioneurite) do

gânglio do nervo trigêmeo. Em casos de febre catarral maligna, os vasos da rete mirabile

mostram lesão característica (vasculite).

Examine o encéfalo para possíveis lesões macroscópicas, pesquisando possíveis

assimetrias (i. é, algumas estruturas mais volumosas que outras) e alterações da cor (por ex.,

hiperemia das meninges, congestão do córtex em casos de babesiose por Babesia bovis, córtex

amarelo-castanho em casos de polioencefalomalacia).

Page 259: Defesa Sanitária e Animal

258

32.3 SELEÇÃO DAS AMOSTRAS A SEREM COLHIDAS

O material para exames virológicos e bacteriológicos deve ser colhido antes da fixação

do encéfalo. Por outro lado, o congelamento torna o encéfalo inadequado para o exame

histológico. Como muitos casos necessitam da realização dos três tipos de exame, um meio-

termo deve ser alcançado.

32.4 COLETA DE AMOSTRAS PARA A BACTERIOLOGIA E VIROLOGIA

Inicialmente remova o cerebelo, cortando no nível dos pedúnculos cerebelares.

Introduza a ponta de uma lâmina no 4° ventrículo pela parte caudal do cerebelo (Figura 79).

Corte rostral e horizontalmente os pedúnculos cerebelares separando o cerebelo do bulbo num

dos lados e, depois, no outro. Ao findar essa operação, o cerebelo estará completamente

separado do encéfalo.

Fig. 79 – Introduza a ponta de lâmina no 4º ventrículo, pela parte caudal de cerebelo. Corte rostral e horizontal os pedúnculos cerebelares, separando o cerebelo do bulbo num dos lados e, depois, no outro.

FONTE: Barros e Marques (2003)

Ao findar essa operação, você obterá três partes: a) o tronco encefálico, b) o cerebelo,

c) o restante do encéfalo (Figura 80).

Page 260: Defesa Sanitária e Animal

259

Fig. 89 – Encéfalo dividido em três partes: tronco encefálico, cerebelo e hemisférios

FONTE: Barros e Marques (2003)

Para obter a amostra 1, retire uma fatia sagital (cerca de 0,5 cm) do verme do

cerebelo.

Para obter a amostra 2, corte um segmento transversal de cerca de 2,5 cm da medula

espinhal cervical.

A amostra 3 é obtida cortando-se uma fatia do tálamo cerca de 1 cm de espessura.

A amostra 4 é obtida dividindo um dos hemisférios cerebrais na altura do quiasma

óptico, separando a parte caudal do restante.

Nesse ponto, as quatro amostras a serem enviadas para o exame virológico ou

bacteriológico foram obtidas. Os fragmentos selecionados são adequados para o exame de raiva

e para exame de outras doenças causadas no sistema nervoso de bovinos por outros vírus e

bactérias. Essas três amostras devem ser conservadas em um refrigerador e remetidas

refrigeradas. No entanto, se o tempo entre a coleta e a remessa for maior que 24 horas é

aconselhável congelar as amostras para a remessa, mas nunca fixá-las.

O restante do encéfalo deve ser fixado em formol, pois se destina ao exame

histológico. Deve-se também fixar em formol a 10% e remeter o bloco de tecidos constituído pela

rede admirável carotídea, o gânglio do nervo trigêmeo e a hipófise.

Page 261: Defesa Sanitária e Animal

260

32.5 COLETA E FIXAÇÃO DE MATERIAL PARA EXAME HISTOLÓGICO

Para fixar o encéfalo, formol a 10% é o fixador indicado. Para preparar um litro dessa

solução, use 100 ml de formaldeído (35-40%) e 900 ml de água de torneira. Existe uma confusão

frequente entre aldeído fórmico (ou formaldeído) e formalina comercial (ou formol). Formaldeído

é um gás com o qual se prepara uma solução aquosa de 35-40%. Essa solução constitui a

formalina comum.

Page 262: Defesa Sanitária e Animal

261

33 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DA RAIVA DOS HERBÍVOROS

33.1 RESPONSABILIDADES INSTITUCIONAIS

Compete ao Mapa a coordenação, a normalização e a supervisão das ações do

Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros, a definição de estratégias para a

prevenção e controle da raiva e o credenciamento de laboratórios para o diagnóstico de raiva e

de outras doenças com sintomatologia nervosa.

Compete também ao MAPA, promover ações relativas ao sistema de informação e

vigilância, ao processo de auditoria dos Serviços Estaduais de Defesa Sanitária Animal, à

educação sanitária, à capacitação dos recursos humanos com a constante atualização dos

técnicos em todos os procedimentos (vigilância, prevenção, diagnóstico, profilaxia e controle),

bem como o apoio financeiro por meio de convênios, às ações de controle da raiva dos

herbívoros desenvolvidas pelas Secretarias Estaduais de Agricultura.

Em todos os estados brasileiros, como também no Distrito Federal, as atividades de

controle da raiva dos herbívoros são coordenadas e supervisionadas pelas Superintendências

Federais da Agricultura (SFA), que dispõem de um corpo técnico constituído por profissionais

capacitados para exercer as atividades de defesa sanitária animal.

Em cada SFA existe um Serviço de Defesa Sanitária Agropecuária (Sedesa), no qual

está lotado um Fiscal Federal Agropecuário, Médico Veterinário, responsável pela gerência do

PNCRH no estado.

Compete aos órgãos estaduais de Defesa Sanitária Animal: a execução das ações do

PNCRH, no que se refere à sua operacionalização no âmbito estadual, destacando-se as ações

de cadastramento de propriedades rurais, o cadastramento e monitoramento de abrigos de

morcegos hematófagos, a execução da vigilância em áreas ou propriedades de risco e o

atendimento aos focos da doença. Incluem-se ainda, as ações de educação sanitária, a

organização e participação da comunidade organizada em comitês municipais de sanidade

animal, a promoção e a fiscalização da vacinação dos rebanhos, além da capacitação de

Page 263: Defesa Sanitária e Animal

262

recursos humanos e o fornecimento regular de informações ao Mapa sobre as ações

desenvolvidas no estado para o controle da raiva dos herbívoros.

Compete aos laboratórios credenciados: processar as amostras suspeitas enviadas

para confirmação do diagnóstico de raiva, encaminhando para o diagnóstico diferencial as

amostras negativas. O órgão central do Serviço Estadual de Defesa Sanitária Animal, bem como

a Secretaria Estadual de Saúde, deverá ser imediatamente informado, quando houver resultados

positivos.

Caso as amostras oriundas de herbívoros tenham sido encaminhadas por médicos

veterinários autônomos, por outros profissionais ou pelos proprietários, a suspeita deve ser

comunicada ao Serviço de Defesa Sanitária Animal, para que um médico veterinário oficial seja

deslocado à propriedade. Se as amostras forem oriundas de outros estados, os laboratórios

devem informar a suspeita e enviar os resultados para o Sedesa no estado de procedência e

para a Secretaria de Saúde Estadual, respeitando-se as devidas competências.

Objetivando incrementar a participação interativa, além de dar maior transparência e

credibilidade ao PNCRH, o Mapa instituiu um Comitê Científico Consultivo sobre Raiva, formado

por uma equipe de trabalho multi-institucional e multidisciplinar que integra especialistas das

áreas da saúde, agricultura, meio ambiente, de instituições de pesquisa e outras afins, com o

intuito de fornecer subsídios técnico-científicos ao DSA. Compete a esse comitê consultivo emitir

pareceres técnicos, elaborar propostas que visem melhorar o sistema de controle da raiva dos

herbívoros no País e propor normas sobre vigilância e profilaxia da raiva.

Recomenda-se que as unidades federativas constituam Comitês Científicos

Consultivos sobre Raiva, objetivando discutir e avaliar as estratégias de profilaxia e controle da

raiva dos herbívoros, adotadas em seu território.

33.2 SITUAÇÃO ATUAL DA RAIVA NOS HERBÍVOROS NO BRASIL

No Brasil a raiva dos herbívoros pode ser considerada endêmica e em graus

diferenciados, de acordo com a região.

Page 264: Defesa Sanitária e Animal

263

Os principais fatores que contribuem para que a raiva no Brasil se dissemine ainda de

forma insidiosa e preocupante nos herbívoros domésticos são:

• aumento da oferta de alimento, representado pelo significativo crescimento dos

rebanhos;

• ocupação desordenada, caracterizada por macromodificações ambientais, como

desmatamento, construção de rodovias e de hidroelétricas, que alteraram o ambiente em que os

morcegos viviam, obrigando-os a procurar novas áreas e outras fontes de alimentação;

• oferta de abrigos artificiais, representados pelas construções, como túneis, cisternas,

casas abandonadas, bueiros, fornos de carvão desativados e outros;

• atuação insatisfatória, em alguns estados brasileiros, na execução do Programa

Estadual de Controle da Raiva dos Herbívoros.

A série histórica dos casos notificados de raiva dos herbívoros, segundo a unidade

federativa e o ano, está disponível no site do Mapa (www.agricultura.gov.br).

33.3 NOTIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE RAIVA

Cabe ao proprietário notificar imediatamente ao Serviço Veterinário Oficial a suspeita

de casos de raiva em herbívoros, bem como a presença de animais apresentando mordeduras

por morcegos hematófagos, ou ainda informar a existência de abrigos desses morcegos. A não

notificação coloca em risco a saúde dos rebanhos da região, podendo expor o próprio homem à

enfermidade.

Sendo a raiva uma enfermidade de notificação compulsória, caberá sanção legal ao

proprietário que não cumprir com esta obrigatoriedade.

Sempre que o Serviço Veterinário Oficial for notificado da suspeita de ocorrência da

Raiva em herbívoros, como também da espoliação no rebanho por morcegos, deverá atender à

Page 265: Defesa Sanitária e Animal

264

notificação o mais rápido possível. Quando necessário, deverá ser coletado material para

diagnóstico laboratorial, conforme preconiza o Manual de Procedimentos para o Diagnóstico das

Doenças do Sistema Nervoso Central de Bovinos (localizado na página www.agricultura.gov.br),

como também deverá ser promovido o controle da população de morcegos Desmodus rotundus

na região e orientação sobre a vacinação antirrábica no foco e perifoco.

Prioritariamente, o encaminhamento de material suspeito de raiva para os laboratórios

é realizado por:

• Médicos Veterinários do Serviço Oficial. O Serviço Estadual de Defesa Sanitária

Animal deve priorizar sempre a atuação desse profissional;

• Médicos Veterinários Autônomos. Esses profissionais devem ter conhecimento de

que, sempre que houver suspeita de raiva, deverão atuar rapidamente e comunicar à autoridade

sanitária constituída na região. Para que isso seja possível, recomenda-se que o Serviço

Estadual de Defesa Sanitária Animal encaminhe um ofício, por intermédio do CRMV, para todos

os veterinários autônomos do estado, informando as ações em execução do programa, bem

como o endereço das unidades de atenção veterinária e os médicos veterinários oficiais

responsáveis pelo Programa Estadual de Controle da Raiva dos Herbívoros (PECRH).

• Outros profissionais ou proprietários. Considerando-se a grande extensão territorial

do nosso país, o difícil acesso a muitas propriedades e, em alguns estados, a ausência de um

veterinário oficial ou autônomo no município. Algumas vezes as amostras são encaminhadas ao

laboratório de diagnóstico para raiva pelo proprietário ou outros profissionais. Somente nesse

caso recomenda-se que seja encaminhada ao laboratório a cabeça do animal suspeito ou

quando se tratar de animais silvestres de pequeno porte deve ser encaminhado o animal inteiro.

Page 266: Defesa Sanitária e Animal

265

33.4 AS AMOSTRAS ENCAMINHADAS AO LABORATÓRIO DEVERÃO SEMPRE SER

ACOMPANHADAS DO FORMULÁRIO ÚNICO DE REQUISIÇÃO DE EXAMES PARA

SÍNDROME NEUROLÓGICA

Todos os profissionais envolvidos diretamente nas atividades de controle da doença

devem estar protegidos mediante vacinação preventiva e comprovadamente imunizados por

sorologia, conforme prevê a OMS.

O cumprimento dessa exigência será também objeto de auditoria por parte do PNCRH.

33.5 ESTRATÉGIA DO PROGRAMA

A estratégia do programa é fundamentada principalmente:

• Na vigilância epidemiológica;

• Na orientação da vacinação dos herbívoros domésticos;

• No controle de morcegos hematófagos da espécie Desmodus rotundus, sempre que

houver risco de transmissão da raiva aos herbívoros.

33.6 CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DE RISCO

Nas décadas de 1910 a 1940, a raiva bovina esteve localizada principalmente no litoral

brasileiro, possivelmente associada aos processos de ocupação do solo. A devastação da Mata

Page 267: Defesa Sanitária e Animal

266

Atlântica para aproveitamento de terras mais férteis, a introdução da pecuária bovina e a

construção de ferrovias, rodovias, barragens, túneis, cisternas, canalizações de córregos e rios

foram fatores que alteraram o habitat dos morcegos, em especial os hematófagos.

Posteriormente, surtos de raiva bovina ocorreram no interior dos estados,

acompanhando as grandes transformações ambientais geradas por atividades como a

agropecuária e a mineração, dentre outras.

A epidemiologia da raiva bovina envolve fatores naturais, como o habitat favorável aos

morcegos, a presença de vírus da raiva no ciclo silvestre e fatores sociais que estabelecem a

forma com que o homem desempenha a atividade econômica na natureza. Desse modo, a

epidemiologia da raiva bovina está diretamente influenciada por fatores de ordem ambiental

desencadeados pelos seres humanos; portanto, para conhecimento do modelo epidemiológico

da raiva bovina, deve-se necessariamente compreender a organização do espaço.

O conhecimento de determinantes econômico-sociais de ocorrência, manutenção e

evolução da raiva bovina é de fundamental importância, tanto para esclarecer seu

comportamento epidêmico como para estabelecer medidas mais eficazes para o seu controle

nas regiões endêmicas.

O centro da caracterização de área de risco para raiva em herbívoros é produto da

forma como o homem se apropria do espaço geográfico.

O modelo epidemiológico proposto tem como principal objetivo identificar e monitorar a

presença de vírus da raiva na população de Desmodus rotundus.

Os herbívoros são hospedeiros acidentais do vírus da raiva, pois, apesar de participar

da cadeia epidemiológica da raiva rural, somente contribuem como sentinelas à existência de

vírus. Sua participação nesse processo restringe-se ao óbito do animal, não havendo

envolvimento no processo de transmissão a outras espécies, salvo quando de forma acidental.

Essa afirmação é devida ao fato de que a raiva nos herbívoros tem baixa ou nula probabilidade

de transmissão a outros animais, apresentando principalmente a característica paralítica,

diferentemente da sintomatologia “furiosa”, observada nos casos de raiva em carnívoros.

Page 268: Defesa Sanitária e Animal

267

A ocupação do espaço condiciona a forma de comportamento ecológico do

transmissor, sendo que esse comportamento é dado pela disponibilidade de abrigo e alimentos

oferecidos.

Dadas as características da interação do Desmodus rotundus com o meio ambiente, o

risco da raiva nos herbívoros pode ser explicado por dois componentes principais:

RECEPTIVIDADE – é um conjunto de variáveis que expressam a capacidade de o

ecossistema albergar populações de Desmodus rotundus. Os determinantes da receptividade

estão relacionados à disponibilidade de alimento e de abrigos.

Os principais determinantes da receptividade são: O foco do problema é a ecologia do

Desmodus rotundus, sendo esta a fundamentação do modelo proposto.

• Ligados ao alimento:

– densidade de herbívoros/área útil;

– herbívoros/área de pastagem;

• Ligados aos abrigos aptos:

– % de área com solo calcário;

– % de área de matas permanentes;

– declividade do terreno;

– número e localização de abrigos naturais permanentes e temporários;

– quantidade de abrigos artificiais e número de edificações com potencial utilização

como abrigos para o transmissor;

– altitude.

A receptividade pode ser classificada em alta, média, baixa e nula, na dependência da

presença e da intensidade com que os fatores supracitados se expressam, bem como da inter-

relação entre eles.

Page 269: Defesa Sanitária e Animal

268

VULNERABILIDADE – é um conjunto de fatores relacionados à capacidade de

ingresso do transmissor numa área e à circulação viral. Tais fatores possibilitam a difusão da

doença para novas áreas e servem de facilitadores para que este processo ocorra.

Os determinantes de vulnerabilidade são:

– construção de usinas hidrelétricas, desmatamentos, construção de novas ferrovias e

rodovias, formação de novas áreas de pastagem, retirada abrupta de fonte alimentar,

inundações e outras alterações ambientais;

– casos de raiva em herbívoros ou Desmodus rotundus no município e/ou em

municípios vizinhos;

– casos de raiva em outros quirópteros e em outros mamíferos (variante 3).

A vulnerabilidade pode ser alta, média, baixa ou nula, na dependência da presença ou

da inter-relação dos fatores citados.

O modelo preditivo de risco levará em conta tanto a receptividade como a

vulnerabilidade. A base de dados deverá ser alimentada com uma periodicidade de 12 meses,

possibilitando prever em tempo hábil o desencadeamento de medidas de controle cabíveis. Os

fatores de vulnerabilidade observados deverão ser informados, tanto retrospectivamente (até um

período de dois anos anteriores ao primeiro relato) quanto prospectivamente, quando houver

informações, sendo que esta última deverá ocorrer até a próxima atualização da base de dados.

O processo de captação das informações necessárias à alimentação dessa base de

dados, seja ele por vigilância ativa ou passiva, deve ser encarado como o pilar do programa.

Uma vez detectados problemas nos dados acerca de uma região, tais como ausência ou

inconsistências de informações, será caracterizada como “área silenciosa”.

O algoritmo utilizado pelo modelo de risco levará em conta a associação entre

receptividade e vulnerabilidade. Essa associação, por município, resultará em um escore de

risco, que será plotado em um mapa georreferenciado da malha topográfica municipal do Brasil,

permitindo a visualização das áreas de maior ou menor risco de ocorrência de raiva, bem como

das áreas onde a doença já está presente. Isso permitirá o desencadeamento de medidas de

Page 270: Defesa Sanitária e Animal

269

controle específicas e localizadas, tendo como principal benefício à proatividade do Serviço

Estadual de Defesa Sanitária Animal, otimizando o tempo e os recursos.

A base de dados que possibilitará a construção do modelo preditivo de risco terá os

municípios como unidades epidemiológicas de interesse.

A adoção de uma ou outra ação de controle ou a associação delas será feita na

dependência das situações de risco apontadas pelo modelo preditivo.

33.7 VACINAÇÃO DOS HERBÍVOROS DOMÉSTICOS

A Instrução Normativa nº 5, de 1° de março de 2002, preconiza que a vacinação dos

herbívoros seja realizada com vacina contendo vírus inativado, na dosagem de 2 ml por animal,

independentemente da idade, sendo aplicada por via subcutânea ou intramuscular.

A vacinação compulsória é recomendada quando da ocorrência de focos da doença e

deve ser adotada preferencialmente em bovídeos e equídeos com idade igual ou superior a três

meses. Porém, em animais com idade inferior a três meses, poderá ser orientada caso a caso,

de acordo com a avaliação técnica de um médico veterinário.

Animais primovacinados deverão ser revacinados 30 dias após a primeira vacinação. É

importante ressaltar que os animais nascidos após a vacinação do rebanho deverão ser

vacinados quando atingirem a idade de três meses recomendada.

Os estados podem legislar complementarmente sobre a necessidade de vacinação

compulsória e sistemática em áreas consideradas de risco, baseando-se no modelo citado no

item anterior.

A vacinação compulsória deverá ter um caráter temporário, devendo ser suspensa

assim que os programas estaduais atingirem níveis satisfatórios de controle da raiva, garantindo

as condições sanitárias dos rebanhos.

Page 271: Defesa Sanitária e Animal

270

Quando houver decisão do Estado de adotar a vacinação compulsória e sistemática,

sugere-se, para garantir o seu cumprimento, introduzir a exigência de comprovação de

vacinação antirrábica quando da solicitação da emissão de Guia de Trânsito Animal (GTA).

Para a comprovação da vacinação, deverá ser solicitada ao proprietário dos animais a

apresentação da nota fiscal de aquisição da vacina, na qual deverá constar número da partida,

validade e laboratório produtor. O proprietário deverá informar, ainda, a data da vacinação, bem

como o número de animais vacinados, por espécie.

Para efeito da revacinação, considera-se que a duração da imunidade conferida pela

vacina será de, no máximo, 12 meses.

33.8 CONTROLE E COMERCIALIZAÇÃO DAS VACINAS ANTIRRÁBICAS E PRODUTOS

VAMPIRICIDAS

a) Vacinas Antirrábicas:

No Brasil, todas as vacinas antirrábicas para herbívoros são produzidas em cultivo

celular e submetidas ao controle de qualidade (inocuidade, esterilidade, eficácia e potência) do

Laboratório Nacional Agropecuário do Mapa, sediado em Campinas, SP. Após a aprovação, o

lote de vacinas somente poderá ser comercializado quando receber um selo holográfico

garantindo sua qualidade.

Desde a produção até sua aplicação, a vacina antirrábica deverá ser mantida sob

refrigeração, em temperaturas variando entre 2ºC e 8ºC, evitando a incidência direta de raios

solares. Nos estabelecimentos comerciais, os imunobiológicos deverão ser mantidos em

refrigeradores de uso exclusivo para tal, provido de dois termômetros de máxima e mínima. A

vacina nunca deve ser congelada. O congelamento altera os componentes da vacina,

interferindo no seu poder imunogênico. O prazo de validade da vacina, impresso no frasco,

deverá ser rigorosamente respeitado.

Page 272: Defesa Sanitária e Animal

271

Os Serviços Estaduais de Defesa Sanitária Animal deverão implementar o sistema de

controle da comercialização das vacinas antirrábicas para uso em herbívoros domésticos,

ficando os estabelecimentos comerciais obrigados a comunicar a compra, a venda e o estoque

das vacinas, por partida e laboratório.

Os estabelecimentos comerciais somente poderão comercializar vacinas devidamente

acondicionadas em caixas isotérmicas com gelo, que assegurem a manutenção da temperatura

exigida pela legislação.

b) Produtos Vampiricidas:

Os Serviços Estaduais de Defesa Sanitária Animal deverão ter um sistema de controle

da comercialização destes produtos, devendo os estabelecimentos comerciais comunicar a

compra, a venda e o estoque, bem como identificar o comprador, sua propriedade e município,

informação que é facilmente conseguida na nota fiscal.

O prazo de validade impresso na embalagem deverá ser rigorosamente respeitado.

Os serviços veterinários oficiais deverão realizar visitas periódicas aos pecuaristas que

estão fazendo uso destes produtos, visando a conhecer a real dimensão do problema,

permitindo identificar o índice de espoliação por morcegos hematófagos no rebanho da

propriedade e região, como também possibilitando orientá-los sobre os cuidados necessários na

manipulação desses produtos.

33.9 CONTROLE DOS TRANSMISSORES

Os morcegos hematófagos são encontrados desde o norte do México até o norte da

Argentina e em algumas ilhas do Caribe, em regiões com altitude média abaixo de 2.000 m. No

mundo, apenas três espécies de morcegos possuem hábito alimentar hematófago (Desmodus

rotundus, Diphylla ecaudata e Diaemus youngi), os quais são encontrados no Brasil.

Page 273: Defesa Sanitária e Animal

272

O morcego Desmodus rotundus é o principal transmissor da raiva aos herbívoros, pois

é a espécie de morcego hematófago mais abundante e tem nos herbívoros a sua maior fonte de

alimento. Os herbívoros também podem, em raras situações, infectarem-se pela agressão de

cães, gatos e outros animais silvestres raivosos.

As equipes que atuam no controle da raiva dos herbívoros devem ter conhecimento

pleno da região onde se executam os trabalhos, bem como dos potenciais transmissores que

nela habitam. O método escolhido para o controle de transmissores dependerá da espécie

animal envolvida, da topografia e de eventuais restrições legais (áreas de proteção ambiental,

reservas indígenas e outras).

O método para o controle de morcegos hematófagos está baseado na utilização de

substâncias anticoagulantes, especificamente a warfarina. Os métodos de controle devem ser

seletivos e executados corretamente, de tal forma a atingir unicamente morcegos hematófagos

da espécie Desmodus rotundus, não causando dano ou transtorno algum a outras espécies, que

desempenham papel importante na manutenção do equilíbrio ecológico na natureza.

O método seletivo pode ser direto ou indireto:

• No método seletivo direto, há necessidade da captura do morcego hematófago e

aplicação tópica do vampiricida em seu dorso. Ao ser ingerido pelo morcego que entrar em

contato, o princípio ativo provocará hemorragias internas, matando-o. Para execução desse

método, o morcego hematófago deverá ser capturado preferencialmente junto à sua fonte de

alimentação (captura junto ao curral). Os morcegos Desmodus rotundus poderão ser capturados

diretamente no seu abrigo, quando for artificial, e nas proximidades dos abrigos naturais

(cavernas e furnas). Excepcionalmente e mediante autorização do Ibama, poderá ser promovida

captura no interior de abrigos naturais. O método seletivo direto somente deverá ser executado

pelos serviços oficiais, por técnicos devidamente capacitados e equipados para execução correta

dessa atividade, devendo o profissional retornar à propriedade para avaliação da efetividade das

ações.

Page 274: Defesa Sanitária e Animal

273

Os profissionais dos serviços estaduais de defesa sanitária animal deverão, sempre

que solicitados oficialmente e em caráter excepcional, auxiliar as autoridades de saúde pública

no controle de morcegos hematófagos que estejam espoliando humanos.

• No método seletivo indireto, não há necessidade da captura dos morcegos

hematófagos. Este método consiste na aplicação tópica de dois gramas de pasta vampiricida ao

redor das mordeduras recentes de morcegos hematófagos. Outros produtos vampiricidas

também poderão ser empregados, sendo de especial utilidade na bovinocultura de corte. Nesses

sistemas de controle, são eliminados apenas os morcegos hematófagos agressores,

considerando que tendem a retornar em dias consecutivos ao mesmo ferimento para se

alimentar. O uso tópico da pasta na agressão deve ser repetido enquanto o animal estiver sendo

espoliado. Essa prática deverá ser realizada pelo proprietário do animal espoliado, sob

orientação de médico veterinário, devendo ser realizada preferencialmente no final da tarde,

permanecendo o animal no mesmo local onde se encontrava na noite anterior.

Essa prática deve ser estimulada pelos profissionais dos serviços de defesa sanitária

animal nos estados.

É fundamental que os produtores sejam orientados a incorporar, no manejo sanitário

dos rebanhos, o hábito de monitorar em seus animais a presença de lesões provocadas por

morcegos hematófagos.

Pela relevância na abordagem desse tema, foi incluído um capítulo específico sobre a

biologia e o controle da população do Desmodus rotundus.

Page 275: Defesa Sanitária e Animal

274

33.10 CADASTRO E MONITORAMENTO DE ABRIGOS

Para que o controle da raiva dos herbívoros seja efetivo, é importante que o Serviço

Estadual de Defesa Sanitária Animal mantenha uma rotina de cadastro dos refúgios/abrigos de

Desmodus rotundus, com monitoramento pelo menos uma vez por ano, respeitando as

características regionais de cada estado.

Os abrigos devem ser georreferenciados com o auxílio de GPS. No Capítulo IV há um

resumo sobre a utilização dessa ferramenta, considerada fundamental para a execução das

atividades de controle populacional de morcegos.

Nos refúgios frequentados por morcegos hematófagos Desmodus rotundus, quando

possível, deverão ser coletados espécimes para envio ao laboratório. No caso de suspeita de

esses morcegos estarem acometidos por raiva, devem ser coletados e encaminhados ao

laboratório, para diagnóstico.

Ocorrendo raiva em herbívoros transmitida por outros mamíferos silvestres, deverá ser

realizado um levantamento epidemiológico minucioso por parte do Serviço de Defesa Oficial,

incluindo a identificação do vírus envolvido, a fim de verificar a origem e extensão do foco. Uma

vez concluído o levantamento, este deverá ser encaminhado à Superintendência Regional do

Ibama no estado, solicitando apoio para o controle da doença nas espécies de mamíferos

silvestres (identificando-as), com cópia à Gerência Nacional do PNCRH, em Brasília.

33.11 OUTRAS MEDIDAS DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

Para a vigilância epidemiológica da raiva, está estabelecido um sistema de

informações, que compreende a notificação obrigatória de casos e informes contínuos.

As Coordenações Estaduais do Programa de Controle da Raiva dos Herbívoros

deverão manter um diagnóstico atualizado da situação epidemiológica, avaliando a distribuição e

Page 276: Defesa Sanitária e Animal

275

os fatores condicionantes de propagação, de maneira a permitir a adoção imediata de medidas

de controle/profilaxia da raiva.

Devem ser avaliados os critérios que definam a prioridade de atendimento das

notificações, como número de animais suspeitos de estar acometidos pela raiva, números de

animais espoliados por Desmodus rotundus e número médio de espoliações em um único

animal.

Entre as unidades federativas, deve haver um intercâmbio de informações de forma

contínua sobre os casos de Raiva ocorridos em áreas fronteiriças e as ações/estratégias de

controle adotadas. Para facilitar a operacionalização, deve-se adotar uma faixa interfronteiriça de

aproximadamente 12 km.

Nas fronteiras internacionais, as ocorrências de raiva dos herbívoros nos municípios

limítrofes devem ser notificadas à Coordenação Nacional do PNCRH, para que desencadeie o

processo de comunicação aos países vizinhos.

A estratégia de vigilância epidemiológica e o plano de trabalho adotado devem ser

revisados anualmente ou sempre que necessário.

33.12 ATUAÇÃO EM FOCOS

A condução das medidas sanitárias em uma área de foco é de responsabilidade do

Serviço Oficial de Defesa Sanitária Animal, executor do Programa Estadual de Controle da Raiva

dos Herbívoros.

No caso de suspeita de raiva ou de qualquer outra síndrome nervosa, o veterinário do

serviço oficial deverá preencher o Formulário de Investigação de Doença-Inicial (Form-In).

Após a notificação da confirmação laboratorial do diagnóstico da raiva, uma equipe se

deslocará para a propriedade de origem do animal infectado e dará prosseguimento à

investigação epidemiológica. Esta visita deve ser feita em um prazo máximo de 24 horas após a

notificação.

Page 277: Defesa Sanitária e Animal

276

De acordo com a investigação epidemiológica realizada e as informações de

localização e registro cronológico das notificações, as ações de vacinação e controle de

morcegos deverão ser executadas com base em um dos dois modelos apresentados adiante.

O modelo de círculos concêntricos (Fig. 81) é mais eficiente nos casos em que, em

determinada região, os focos ocorrem de uma forma dispersa, sem um sentido lógico, não

podendo ser prevista a direção de progressão de novos casos. O segundo, modelo de bloqueio

linear, deve ser utilizado quando os focos seguem uma direção específica.

Nesse caso, a disseminação da doença pode acompanhar um rio, uma cadeia

montanhosa, as margens de uma represa, de uma rodovia ou ferrovia. Em qualquer

circunstância, as ações de bloqueio de progressão da virose devem ser realizadas da periferia

para o centro do foco. Isso porque o morcego infectado pode transmitir a virose para outras

colônias, em até doze quilômetros de distância à frente do foco inicial.

Deve-se estar atento a casos de raiva em animais introduzidos na propriedade,

transferidos dentro do período de incubação da doença. Nesse caso, após investigação

epidemiológica, a propriedade de origem poderá ser considerada “foco primário”.

Fig. 81 - Modelo de Círculos Concêntricos para Atuação em Focos de Raiva

FONTE: PNCRH - (Adaptado de Piccinini, R. S. – 1985)

Page 278: Defesa Sanitária e Animal

277

A critério do médico veterinário oficial, a vacinação focal e perifocal deverão ser

adotadas, abrangendo todos os herbívoros existentes nas propriedades em um raio de até 12

(doze) quilômetros, respeitando-se a topografia local.

O controle de transmissores deverá ser intensificado nas áreas de foco, considerando-

se o raio de até 12 quilômetros, respeitando a topografia local.

Se outros animais vierem a óbito nessa área, caberá ao médico veterinário oficial

necropsiá-los e coletar materiais, que serão destinados ao exame laboratorial para a raiva e para

outras enfermidades compatíveis com os sinais clínicos, como outras encefalites causadas por

intoxicações, doença de Aujeszky, babesiose cerebral, listeriose, encefalite equina, entre outros.

Tomadas as medidas sanitárias efetivas preconizadas para o controle do foco, a

expectativa é de que não ocorram novos casos de raiva, dentro de um prazo equivalente ao

dobro da média do período de incubação da doença, que é de 45 dias. Caso isso ocorra, a

estratégia na área focal deverá ser reavaliada.

Um foco de raiva deverá ser encerrado 90 dias após o último óbito ocorrido na

propriedade, com o preenchimento do último Formulário de Investigação de Doenças-

Complementares (Form-Com).

As ações permanentes a ser executadas nas regiões devem ser conduzidas de acordo

com a classificação de risco das áreas. Os Formulários de Investigação de Doenças (Form-In e

Form-Com) preenchidos para a vigilância de síndromes neurológicas não necessitam ser

encaminhados diretamente para o DSA, em Brasília, salvo se o diagnóstico clínico presuntivo do

veterinário oficial for de uma doença considerada exótica e/ou passível de adoção de ação

emergencial.

33.13 COLHEITA DE MATERIAIS E EXAMES DE LABORATÓRIO

O diagnóstico laboratorial é essencial para a definição de foco, pois somente será

considerada a ocorrência de um foco de raiva quando houver um ou mais casos da doença

confirmados mediante testes laboratoriais.

Page 279: Defesa Sanitária e Animal

278

A colheita das amostras de animais suspeitos de estar acometidos de raiva deverá ser

efetuada por médico veterinário ou por profissional habilitado por ele, que tenha recebido

treinamento adequado e que esteja devidamente imunizado. Porém a responsabilidade pela

colheita e pelo envio do material suspeito de raiva deve sempre ser exclusiva do médico

veterinário (oficial ou autônomo).

Do herbívoro suspeito de raiva deverão ser coletadas amostras do Sistema Nervoso

Central (SNC). No caso de ruminantes, o encéfalo (córtex, cerebelo e tronco cerebral) de acordo

com o Manual de Procedimentos para o Diagnóstico das Doenças do Sistema Nervoso Central

de Bovinos. Já no caso dos equídeos, deve ser coletado o encéfalo e a medula. Deverão ser

coletadas e enviadas ao laboratório, para diagnóstico, amostras de todos os animais mortos com

sintomas compatíveis com encefalites.

Morcegos capturados e destinados à pesquisa da presença de vírus da raiva deverão,

quando possível, ter pelo menos 1 ml de sangue coletado, para posterior encaminhamento de

0,2 ml a 0,5 ml de soro sanguíneo ao laboratório, juntamente com o espécime a ser pesquisado.

Na impossibilidade do envio das amostras de soro, os morcegos deverão ser anestesiados com

o auxílio de éter anestésico e sacrificados seguindo os procedimentos bioéticos recomendados.

O exemplar inteiro deverá ser encaminhado, congelado ou resfriado, para o exame laboratorial.

A amostra coletada deve ser acondicionada em frasco com tampa ou saco plástico

duplo, hermeticamente fechado, identificada e colocada dentro de uma caixa isotérmica, que

deverá conter gelo reciclável para manter a temperatura entre 2ºC a 4ºC.

A amostra destinada a exames histopatológicos diferenciais para outras encefalites

deverá ser acondicionada em frasco com tampa ou saco plástico específico e fixada em formol a

10%. Caso o período entre a colheita da amostra e o envio ao laboratório seja prolongado,

recomenda-se o congelamento da amostra destinada ao diagnóstico de raiva, depois de

separadas as partes destinadas ao diagnóstico diferencial.

Nunca congelar as amostras destinadas ao diagnóstico da encefalopatia espongiforme

bovina (EEB).

O laboratório deverá ser previamente informado do envio e horário de chegada da

amostra, evitando-se enviar próximo ou durante o final de semana sem prévia comunicação.

Page 280: Defesa Sanitária e Animal

279

A amostra deve ser enviada e/ou entregue ao laboratório preferencialmente até 24

horas após a colheita, em caixa isotérmica perfeitamente vedada, com o símbolo de risco

biológico e uma etiqueta com os dizeres: URGENTE, MATERIAL BIOLÓGICO PERECÍVEL.

Sobre a tampa da caixa isotérmica, deverá ser afixado o Formulário Único de Requisição dos

Exames para Síndromes Neurológicas, com informações referentes ao caso, dentro de saco

plástico.

As amostras de animais suspeitos de raiva, encaminhadas para exame laboratorial

serão processadas por meio da técnica de imunofluorescência direta e da prova biológica

(inoculação em camundongos ou células). Os diagnósticos diferenciais serão feitos por

histopatologia e imuno-histoquímica.

Page 281: Defesa Sanitária e Animal

280

GLOSSÁRIO

Administração Veterinária: Significa o Serviço Veterinário governamental que tem

competência em todo país (no caso do Brasil o MAPA) para executar as medidas zoossanitárias

e os procedimentos de certificação veterinária internacional que recomenda a OIE e para

supervisar ou verificar sua aplicação.

Animal Silvestre (espécimes da fauna silvestre): São todos aqueles pertencentes às

espécies nativas, migratórias e quaisquer outras aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou

parte do seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou das águas

jurisdicionais brasileiras.

Animal Exótico (espécimes da fauna exótica): São todos aqueles cuja distribuição

geográfica não inclui o território brasileiro e as espécies introduzidas pelo homem, inclusive

doméstica em estado asselvajado. Também são consideradas exóticas às espécies que tenham

sido introduzidas fora das fronteiras brasileiras e das suas águas jurisdicionais e que tenham

entrado em Território Brasileiro.

Animal doméstico: São todos aqueles animais que, por meio de processos tradicionais

e sistematizados de manejo e/ou melhoramento zootécnico, tornaram-se domésticos,

apresentando características biológicas e comportamentais em estreita dependência do homem,

podendo apresentar fenótipo variável diferente da espécie silvestre.

Animal para abate: Significa qualquer animal que será abatido em curto espaço de

tempo com baixo controle veterinário oficial.

Área de trânsito direto: Significa uma área especial estabelecida em um país de

trânsito, autorizada pela Administração Veterinária competente, na qual os animais permanecem

pouco tempo, antes que se reúnam para se fazer o transporte final.

Autoridade Veterinária: Significa o serviço veterinário submetido à autoridade da

administração veterinária que é diretamente responsável de aplicação das medidas

zoossanitárias em um território determinado do país.

Aves de um dia: Significa as aves que tem, no máximo, 72 horas depois de haver

eclodido do ovo.

Page 282: Defesa Sanitária e Animal

281

Aves poedeiras: Significa as aves mantidas para a produção de ovos que não estão

destinados a incubação.

Aves reprodutoras: São aves destinadas a produção de ovos para incubar.

Biossegurança: São medidas de ordem sanitária, de limpeza, de desinfecção, de

controle de trânsito, de pessoas, de animais e de veículos, de descartes e de controle de

segurança das instalações físicas dos estabelecimentos destinados à incubação e a criações de

ratitas que visam a garantir o status sanitário e a saúde das ratitas alojadas, reduzindo o risco de

introdução e de disseminação de doenças.

Caso: Significa um animal infectado por algum dos agentes patogênicos que figuram

no código terrestre da OIE.

Certificado veterinário internacional: Significa um certificado expedido em

conformidade com o Capítulo 5.2. do Código Terrestre e que descreve os requisitos de sanidade

animal e/ou de saúde pública para responder às mercadorias exportadas.

Código Terrestre: Significa o Código Sanitário para os Animais Terrestres da OIE.

Comércio internacional: Significa a importação, a exportação e o trânsito de produtos

de origem animal.

Área livre: Significa uma área em que a ausência do agente patogênico de origem

animal que provoca a enfermidade considerada tem sido demonstrada seguindo todas as

condições prescritas pelo código terrestre para o reconhecimento de área livre.

Controle veterinário oficial: Significa que o Serviço Oficial conhece o lugar de

permanência dos animais e a identidade de seu proprietário ou da pessoa encarregada de

cuidados e pode, em caso de necessidade, aplicar medidas apropriadas de controle

zoossanitário.

Desinfecção: Significa a aplicação, depois de uma limpeza completa, de procedimentos

destinados a destruir os agentes infecciosos ou parasitários responsáveis por enfermidades nos

animais, incluídas as zoonoses; se aplica aos locais, veículos e objetos diversos que podem ter

sido direta ou indiretamente contaminados.

Page 283: Defesa Sanitária e Animal

282

Enfermidade: Significa a manifestação clínica e/ou patológica de uma infecção.

Doença de declaração compulsória: Significa que uma determinada enfermidade

inscrita em uma lista definida pelas autoridades do serviço veterinário oficial quando detectada

ou suspeita deve ser imediatamente notificada à autoridade sanitária competente.

Erradicação: Significa a eliminação completa de agente patogênico de uma

determinada área geográfica, que pode ser um estado, um país, um continente, etc.

Área de quarentena: Significa uma instalação com controle veterinário oficial no qual se

mantém isolado um grupo de animais, sem nenhum contato direto ou indireto com outros

animais, para serem observados durante um período de tempo determinado e, se for preciso, a

provas diagnósticas ou a tratamentos.

Status zoossanitário: Significa o status de um país ou de uma zona respectivo a uma

determinada enfermidade, segundo os critérios do código terrestre da OIE

Guia de trânsito animal (GTA): É o documento obrigatório para trânsito de animais para

qualquer movimentação e finalidade;

FORM IN: É o formulário padronizado pelo Departamento de Defesa Animal, utilizado

para abertura de foco de doenças e realização de investigação epidemiológica;

FORM COM: É o formulário padronizado pelo DDA, complementar de investigação;

Foco de uma enfermidade: Significa o diagnóstico de uma enfermidade descrita no

código terrestre da OIE em uma exploração agrícola, pecuária ou locais, como parques de

exposição ou pouso de boiadas. Se essa delimitação não puder ser feita, um foco corresponde à

parte do território no qual, tendo em conta as condições locais, não se pode garantir que os

animais, sensíveis ou não, não possam ter nenhum contato direto com os animais enfermos ou

supostamente enfermos.

Incidência: Significa o número de casos ou focos novos de uma enfermidade que se

produzem em uma população animal em risco, em uma zona geográfica determinada e durante

um intervalo de tempo definido.

Infecção: Significa a presença de um agente patogênico em um hospedeiro.

Page 284: Defesa Sanitária e Animal

283

Notificação: Significa o procedimento pelo que:

a) A administração veterinária comunica o escritório central;

b) O escritório central comunica as administrações veterinárias a suspeita ou a

confirmação de um foco de enfermidade, segundo as instruções do código terrestre da OIE.

Escritório Central: Significa a secretaria permanente da OIE, cuja sede está situada

em:

12, rue de Prony, 75017 Paris, FRANÇA

Telefone: 33-(0)1 44 15 18 88; Fax: 33-(0)1 42 67 09 87

Correio eletrônico: [email protected]

Web site: http://www.oie.int

Período de incubação: Significa o período entre a penetração do agente patogênico em

um hospedeiro e o aparecimento dos primeiros sinais clínicos da doença.

Período de infecciosidade: Significa o período durante o qual um animal infectado pode

ser fonte de infecção.

Prevalência: Significa o número total de casos ou surtos de uma doença em uma

população em risco em uma determinada área geográfica e em um tempo.

Programa oficial de controle: Significa um programa que tenha sido aprovado pelas

autoridades sanitárias de um país com a finalidade de controlar um agente patogênico ou uma

enfermidade mediante a aplicação de medidas específicas por todo o país ou em regiões

específicas desse país.

Posto fronteiriço: Significa os aeroportos, portos, estações ferroviárias ou postos de

controle rodoviários abertos ao comércio internacional de mercadorias, nos quais se podem

realizar inspeções veterinárias de importações.

Sacrifício sanitário: Medida sanitária que visa sacrificar todos os animais doentes ou

suspeitos de um rebanho no local de sua apreensão, no local mais adequado da propriedade e

próximo possível da propriedade ou estabelecimento sob inspeção sanitária, para impedir a

Page 285: Defesa Sanitária e Animal

284

difusão de doença ou o risco de sua ocorrência. Essas medidas devem ser acompanhadas das

medidas de limpeza e desinfecção do Código Terrestre. Nas informações transmitidas a OIE,

deverá ser notificado quando foi finalizado o sacrifício sanitário parcial sempre que não forem

aplicadas integralmente as medidas zoossanitárias acima mencionadas e devem ser

pormenorizadas as diferenças com relação a essa medida.

Serviços veterinários: Os serviços veterinários compreendem a Administração

Veterinária e todas as autoridades veterinárias.

Sistema de detecção precoce: Significa um sistema controlado pelo serviço veterinário

que permite detectar e identificar a tempo as enfermidades animais. As características do

sistema devem ser as seguintes:

a) Cobertura representativa das populações animais específicas pelos serviços de

terreno;

b) Capacidade para efetuar investigações sobre as enfermidades e notificá-las de

maneira eficaz;

c) Acesso a laboratórios capazes de diagnosticar e diferenciar as enfermidades

consideradas;

d) Programa de aperfeiçoamento de veterinários e auxiliares para a detecção e

notificação de casos insólitos de enfermidades.

Status zoossanitário: Significa o status de um país ou de uma zona a respeito de uma

enfermidade, segundo os critérios previstos no Código Terrestre.

Vazio sanitário: Período em que a propriedade ou estabelecimento deverá ficar sem

animais após seu despovoamento e será definido pelo órgão executor para cada doença

constante do Regulamento aprovado e alterado pelos Decretos citados na alínea II deste artigo

ou outras que a ele forem incorporadas;

Veterinário oficial: Veterinário do serviço de defesa sanitária animal federal, estadual

ou municipal;

Page 286: Defesa Sanitária e Animal

285

Vigilância específica: Significa uma vigilância concentrada em uma enfermidade ou

uma infecção determinada.

Zona de contenção: Significa uma zona definida em torno de explorações infectadas

ou supostamente infectadas, cuja extensão foi determinada levando em conta os fatores

epidemiológicos e os resultados de investigações e que se aplicam medidas de controle para

impedir a propagação da infecção.

Zona de vigilância: Significa uma zona estabelecida no interior e ao longo dos limites

de uma zona livre e que separa esta de uma zona infectada. A zona de vigilância deve ser objeto

de medidas intensivas de vigilância.

Zona infectada: Significa uma área onde a ausência da doença em questão não tenha

sido demonstrada seguindo o cumprimento das condições prescritas pelo Código Terrestre.

Zona livre: Significa uma área onde a ausência da doença considerada tenha sido

demonstrada seguindo as condições prescritas pelo Código Terrestre para o estabelecimento de

zonas livres dessa doença. O interior e os limites da zona livre, animais e produtos animais, bem

como transportá-los, estão sujeitos a um controle veterinário oficial.

Zona/região: Significa uma área de um país claramente delimitada, que contém uma

subpopulação animal com um status sanitário particular no que diz respeito a uma enfermidade

específica contra a qual se tem aplicado medidas de vigilância, controle e biosseguridade

requeridas para o comércio internacional.

Zona tampão: Significa uma zona estabelecida para proteger o status sanitário dos

animais de um país ou uma zona livre de uma enfermidade frente aos animais de um país ou

uma zona com status sanitário distinto mediante a aplicação de medidas baseadas na

epidemiologia da enfermidade considerada e destinadas a impedir a propagação do agente

patogênico que a provoca em um país ou uma zona livre dela. Estas medidas podem incluir

vacinação, o controle dos movimentos dos animais e a intensificação da vigilância da

enfermidade, porém não exclusivamente.

Zoonose: Significa qualquer enfermidade ou infecção que pode ser transmitida

naturalmente pelos animais as pessoas.

Page 287: Defesa Sanitária e Animal

286

Zona Livre: é aquele território que não tem presença do agente, que está distante da área

infectada e que não é dependente epidemiologicamente dessa área.

Zona Afetada: É a superfície geográfica que requer uma ação sanitária para circunscrever a

febre aftosa e evitar sua difusão. Poderão ser consideradas dentro dela duas zonas

epidemiológicas de importância, uma zona infectada, onde existe presença do agente, e outra

zona de risco ou tampão, onde não existe presença de vírus.

Foco: É a propriedade com animais enfermos e seus contatos. Em um país livre da enfermidade,

um foco pode estar constituído por um só animal enfermo. Isso inclui as propriedades limítrofes

ou vizinhas, cujos animais têm possibilidade de ter estado em contato direto com os da

propriedade afetada.

• Será levado em conta o tempo de reação, ou seja, o tempo em que o produtor

observou os animais com sinais clínicos compatíveis com a febre aftosa e o vínculo com o lugar

notificado, determinando, pelo estudo epidemiológico realizado, os sintomas observados no

quadro clínico: se estão dentro dos tempos de incubação da enfermidade (14 dias).

Zona Perifocal: Estabelece-se uma área variável de 5 a 10 km de raio, tendo como centro o

estabelecimento afetado. Consideram-se esses estabelecimentos com alto risco de infecção,

ainda quando não se observem animais clinicamente enfermos. Compreende as propriedades

que rodeiam a área focal, num raio de limites variáveis (em geral, com um raio aproximado de 5

a 10 km do limite da área focal), segundo acidentes geográficos (rios, lagos, montes, etc.), zonas

agrícolas isentas de pecuária, áreas urbanas, etc., que possam servir de barreira para evitar a

difusão da enfermidade.

Zona de Risco ou Tampão ou de Vigilância: É aquele território que inclui propriedades próximas

da área infectada ou que é dependente epidemiologicamente dela. Não há registro de presença

do agente, mas existe risco de infecção. Portanto, também está sujeita às restrições e às ações

de vigilância. Essa área é utilizada como território de segurança ou tampão, de modo a separar a

zona livre da zona infectada.

• A zona de vigilância ou tampão está estabelecida próximo da zona afetada, a partir

da periferia da zona perifocal, sempre que os rastreamentos e estudos epidemiológicos

corroborem que não está infectada.

Page 288: Defesa Sanitária e Animal

287

• Tem como finalidade manter a zona livre como tal, tendo uma supervisão e vigilância

estrita, com restrições de movimentos e controles de trânsito de animais, produtos e subprodutos

e derivados, ordem pública.

• Considerando-se os sistemas produtivos existentes na região, esta deve ter um

mínimo de 10 km, podendo ser de 20 km, sempre que dê garantias de um eficiente controle,

considerando-se também para sua delimitação as barreiras naturais existentes.

Barreiras Sanitárias: São lugares físicos (postos administrativos) instrumentados para aplicar

todas as medidas de biossegurança que reduzem a exposição e difusão do agente patógeno,

seguindo as indicações da administração veterinária. As barreiras poderão ser de contenção e

de desinfecção. A instalação das barreiras sanitárias será em locais estratégicos, tanto no

perímetro da área para controlar o ingresso e a saída delas, como internamente, para controlar o

deslocamento dentro dela.

Biossegurança: Trata dos procedimentos, equipamentos e instalações que ajudam a reduzir a

exposição de indivíduos ou ambientes a agentes biológicos potencialmente perigosos, durante

sua manipulação.

Segurança Biológica: Trata das medidas aplicadas para proteger patógenos perigosos de ações

de roubo ou sabotagem com a intenção de praticar atos terroristas ou fabricar armas biológicas.

Interdição: Entende-se por interdição a ação legal que priva o proprietário de animais, de seus

direitos de livre administração dos bens que se encontram na zona infectada. A interdição

implica os procedimentos de isolamento e de quarentena.

Isolamento: É a separação de animais enfermos e de seus contatos diretos, enquanto dure o

período de transmissibilidade, em lugares e sob condições que evitem a transmissão direta ou

indireta do agente infeccioso dos animais infectados a outros suscetíveis. Corresponde também

realizar o isolamento de animais de espécies naturalmente não suscetíveis, como possíveis

veiculadores do vírus da febre aftosa.

• Isso se aplica ao foco desde o momento da verificação de uma suspeita de

enfermidade vesicular até que tenham desaparecido os perigos de transmissão da infecção.

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288

Quarentena: É a restrição da movimentação e observação de grupos de animais aparentemente

sadios expostos ao risco de contágio, mas que não tiveram contato direto com animais

infectados.

• Seu propósito é evitar a possível transmissão em cadeia da enfermidade a outros

animais não diretamente expostos. Pode ser:

• Quarentena completa. Restrição total da movimentação dos animais durante um

período não menor do que 30 dias, depois do sacrifício sanitário, envio ao abate ou da aparição

do último caso clínico.

• Quarentena atenuada. Restrição seletiva e parcial da movimentação de animais,

produtos e subprodutos. Aplica-se normalmente de acordo com as diferenças de suscetibilidade,

conhecidas ou supostas, e por motivos econômico-sociais justificados.

• Uma medida pode ser o despovoamento, com envio ao abate antecipado em um

matadouro com controle oficial e dentro da zona infectada, se for possível, onde se adotarão

medidas de biossegurança máximas e a carne será destinada, depois de um tratamento que

inativa o vírus da febre aftosa, ao abastecimento interno da região.

Page 290: Defesa Sanitária e Animal

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