democracia e marximo
TRANSCRIPT
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UniversidadeFederaldeMinasGerais
FaculdadedeFilosofiaeCinciasHumanas
CinciasSociais
Poltica II Fichamento
JooVitorFerrariRabelo
FelipeSoaresVieira
Novembro2014
BeloHorizonteMG
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UniversidadeFederaldeMinasGerais
CinciasSociaisFAFICH
Disciplina:PolticaII
Professor:JuarezGuimares
Alunos:JooVitorFerrariRabelo(p.17141)eFelipeSoaresVieira(p.141266)
Novembrode2014
Obrafichada:
GUIMARES, Juarez. Democracia e marxismo: crtica razo liberal. 1. ed. So Paulo:
Xam,1999.
(Qualquercitaonoespecificadaprovmdaobrafichadasupracitada)
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SUMRIO
1.Introduocrtica...............04
2.Oardildodogma:acrticaliberal....06
3.Asrazesdodogma:marxismoedeterminismo..........10
4.Marxeodeterminismo:astensesconstitutivas.....13
5.Engelseaprimeiraondadeexpansododeterminismo.....16
6. Kautski, Plekhanov e austromarxismo: a segunda onda de expanso do
determinismo.......17
7.Aprxissitiada:Lukcseascidadelasdodeterminismo.......19
8. A terceira onda de expanso do determinismo: o Diamat e as antinomias do
materialismo........22
9.Gramscieaconcepopraxiolgicadahistria......26
10.Aimpotnciadaprxis:odeterminismosocietriodaTeoriacrtica.....................33
11.Althusser:anegaodaprxiseodeterminismoestruturalista..........37
12. Marxismo Analtico: entre o neodeterminismo e o individualismo
metodolgico..........................................................................................................................41
13. Jurgn Habermas: da reconstruo do materialismo histrico ultrapassagem do
marxismo?................................................................................................................................46
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1.Introduocrtica
Em Democracia e marxismo: crtica razo liberal, Juarez Guimares traa o extenso
e variado percurso da cultura marxista desde seu incio at os dias de hoje. Alvo de
interminveis crticas por parte, principalmente, da cultura liberal , o legado de Karl
Marx deixa em aberto vrias questes que possibilitam interpretaes fortemente
deterministas mas que, de modo algum, cerceam o carter libertrio e humanstico da obra.
Sendo assim, economistas, militantes e filsofos que se opunham viso marxista
empenharam grande parte de seu tempo em revelar a antinomia presente em uma viso de
mundo que se diz libertadora mas que aprisiona a liberdade e o subjetivismo humano por uma
concepo determinista. Entretanto, a cultura marxista no se limita somente s leituras
deterministas da obra marxiana um forte carter praxiolgico tambm se faz presente,
embora esquecido e ostracizado pela intelectualidade majoritariamente ortodoxa. E esse
carter praxiolgico que transcende a crtica desferida pela razo liberal que Juarez
Guimaresprocuraretomar.
Uma investigao analtica levada a cabo para explicitar como se deu o processo
pelo qual, a at ento incipiente teoria lanada pelos intelectuais revolucionrios Karl Marx e
Friedrich Engels, por meio do memorvel e impactante Manifesto do Partido Comunista
(1848) e complementado de uma perspectiva cientfica pelo Capital (1867 Volume I),
recebida e desenvolvida por leitores subsequentes que viriam a formar a denominada cultura
marxista. Assim, autores representantes da tradio marxista e que enriqueceram a reflexo e
a investigao de seu objeto de estudo (a saber, a teoria do Estado do marxismo) so trazidos
a lume para que seja esmiuado de modo a elucidlo no que Juarez Guimares ilustra como
sendo o "acerto de contas entre o liberalismo e o marxismo", necessrio por causa dos exames
crticos apresentados por Norberto Bobbio, pesquisador de relevante importncia na
exploraodessatemtica.
Com isso, o marxismo vem a ser discutido no nvel de problematizao de seu carter
emancipatrio e de sua cientificidade, colocados em xeque em decorrncia do que as crticas
liberais implementam para formular o assim nomeado dogma da cultura contempornea . Essa
dogmtica baseada principalmente nos ataques desferidos contra o eventual determinismo
histrico dotado de sentido apriorstico, monismo materialista, alimentao de uma lgica
antipluralista, supresso de direitos individuais e forte inclinao opresso de um Estado
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totalitrio surgido como produto da lgica socialista. Para tanto, Weber, Croce e Popper,
alm do prprio Bobbio, so os autores trazidos para o dilogo com ambio de sintetizar e
sistematizar a tenso criativa desenvolvida pela cultura marxista, sendo ento proeminentes
autores que postulam suas linhas argumentativas no aprofundamento dessa concepo de
mundoqueoperano"terrenodaaltacultura"daintelectualidade.
No sem constrangimento que oferecemos nossa parca reunio de alguns pontos
importantes da crtica razo liberal de Juarez Guimares. Embora nosso trabalho tenha
acumulado um notvel volume, imagino que no sintetiza, de forma alguma, uma mnima
frao da totalidade da discusso presente na obra. A capacidade de sntese do autor, que se
prope a debater mais de um sculo e meio de filosofia, economia e poltica, fazse latente
pela clareza do discurso bem como sua organizao de ideias a variedade de ideias e autores
tambm no apresentou uma ameaa ao tamanho da obra, pois a densidade do texto no
permitiu que o livro se tornasse uma coleo. Diante disso, apresentamos, nessa tentativa de
sntese, apenas um tiragosto da discusso real que se faz presente e, para o indivduo que se
interessa pela trajetria da cultura marxista em meio a uma conjuntura tipicamente hostil e
crtica,fazsemisteraleituraintegraldaobra.
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2.OArdildodogma:acrticaliberal
A crtica liberal ao marxismo, intensificada ao final do sculo XX com a queda da
Unio das Repblicas Socialistas Soviticas, acaba por tornarse hegemnica e seu carter
inquestionvel garantelhe, de forma caricata, o rtulo de dogma. No entanto, a construo de
tal resposta ao marxismo data do final do sculo XIX, junto ascenso do prprio marxismo.
A ideia nuclear que permeia tal crtica edificase sobre concepes deterministas da histria,
dentrodaobradeKarlMarx.
A partir de uma possvel leitura simplista e determinista da histria nas obras do
expoente socialista, vrios autores liberais vieram a questionar seu carter cientfico,
ressaltando, ainda, a contradio presente na teleologia e o suposto carter emancipatrio que
o texto reivindicava. A existncia de uma histria fechada cujo estgio final culmina no
socialismo, de fato, abre espao para inconsistncias tericas, que seriam exploradas em
diversos ensaios de autores como Benedetto Croce, Max Weber, Karl Popper e Norberto
Bobbio.
Um marxismo intelectualmente estruturado s foi se consolidar na Itlia no final do
sculo XIX atravs do filsofo Antonio Labriola, uma vez que Enrico Ferri e Achile Loria,
anteriormente, exploraram a cultura marxista muito pela tica positivista, que exergava a obra
de Marx como uma teoria evolucionista da sociedade. Foi atravs de Labriola que Benedetto
Croce,historiadorliberaleconservador,teveacessoaomarxismo.
Na tentativa de entender a histria polticocultural italiana, a obra de Croce distingue
cincia e histria, incluindo esta no campo da filosofia, visto que O historiador, no sentido de
compreender a interioridade essencial da histria, deveria ser capaz de reviver em imaginao
os indivduos e os acontecimentos, garantindolhe uma abordagem tipicamente idealista. A
crtica de Croce ao marxismo aponta na direo da existncia de um monismo materialista,
que imputaria uma carter metafsico histria. Tal monismo, edificado sobre os pilares de
um suposto materialismo, seria nada mais que uma interpretao da histria vista por um vis
econmico. Mais ainda, Croce critica o mtodo de Marx em sua teoria sobre a queda da taxa
de lucro, sugerindo que faltaralhe pesquisas estatsticas empricas e a considerao de
mltiplos fatores alm da varivel do progresso tcnico. Marx, segundo Croce, estaria ento
interessado em construir uma relao de ordem lgica abstrata, ao invs de uma teoria
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cientfica. O historiador italiano ressalta, tambm, a presena de uma antieticidade
intrnsecanomarxismo,devidosuasupostaautosuficinciacientfica.
Segundo Croce, o marxismo foi vtima da conexo entre a filosofia da histria e sua
interpretao de forma determinista: a primeira, responsvel pela significao transcendente
dos fatos a segunda, pela atribuio de causalidade direta entre tais fatos. Em ltima
instncia, tal relao responsabilizarseia por estabelecer um carter de busca pela causa
ltima e a razo geral pela qual os fatos histricos ocorrem, contrapondo esse monismo
fatalista pretenso libertadora da obra marxiana. No obstante, apesar da extensa crtica de
Benedetto Croce ao legado de Karl Marx, o autor admite que a obra deste logrou ressaltar a
importnciadoeconmiconahistria.
Apesar do marxismo ter sido bombardeado pelas mais intensas e incisivas crticas, a
mais duradoura e intensa foi desferida por Max Weber, seja pelo seu contexto social e
espacial Alemanha no final do sculo XIX e incio do XX e/ou pela enorme capacidade
do autor em sistematizar e organizar suas ideias. Entretanto, a anlise weberiana procurou
atingir mais o chamado marxismo vulgar do que o trabalho de Marx, autor que considerava
comoumgrandepensador,emboranosepreocupassemuitoemdiferencilos.
Com efeito, a crtica de Weber reitera a concepo da histria como algo heterogneo
e inapreensvel e que a tentativa de atribuir sentido atravs de uma concepo totalizante da
histria errneo. O discurso tambm perpassa pelo possvel carter proftico dos textos
marxistas, que antevem o socialismo e, posteriormente, o comunismo como mudanas
inexorveis ao longo do curso histrico. A viso economicista, que reduz a totalidade dos
fenmenos culturais a um monismo metafsico, tambm questionada por Weber, e este
ressalta que ou a realidade histrica no passvel de ser deduzida, em sua totalidade, a partir
de motivos econmicos, ou o marxismo estendeu o conceito de econmico a uma tal
expanso que ele se torna irreconhecvel, a fim de incluir neste conceito todos os interesses
humanos ligados, de alguma maneira, aos meios exteriores (...) (COLLIOT THLNE,
Catherine.MaxWebereahistria.SoPaulo.Brasiliense,1990.p.132133).
Seguindo o mesmo raciocnio, Weber no deixa a relao entre infra e
superestrutura impune e critica seu carter mecanicista e reducionista, reclamando o papel de
diversos outros fatores como a cultura e a religio no curso das transformaes do
comportamento social. Fica claro que o autor da crtica justifica sua viso da histria
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heterognea e nodeterminista quando exprobra o mtodo marxista que no distingue entre
ordem lgica dos conceitos e ordenao emprica do conceitualizado, ou seja, lana mo do
saberhistricocomoservidordateoriaaoinvsdateoriacomoadvindadosaberhistrico.
O paradoxo das consequncias surge no momento em que Weber, ao contrrio de
Marx, garante autonomia ao indivduo, desvencilhandoo das amarras que a concepo
determinista da histria imputalho e concedendo a este o poder real das transformaes que
ocorrem e ocorrero ao longo da histria. Destarte, do carter imprevisvel que o produto de
tantas variveis pode resultar, surgem consequncias no previstas pela tica marxista da
histria: Weber contesta a previso de uma maior plasticidade entre as relaes de produo e
superestrutura poltica ao longo da histria e antev uma tendncia hiperburocratizao.
Embora proftico, tal discurso tambm pode ser visto como um paradoxo na crtica weberiana
por ter cedido a uma viso quase fatalista da supresso da autonomia do indivduo em
detrimentodocrescimentodaburocracia.
A tendncia da filosofia ocidental no psguerra surge com a obra de Karl Popper,
filsofo austraco inicialmente comunista e depois liberal e crtico ferrenho do marxismo e da
dialtica hegeliana. A obra de Popper traz uma definio de historicismo diferente da adotada
pelos neokantianos do sculo XIX: historicismo seria, ento, um ponto de vista sobre as
cincias sociais que supe que a predio histrica o fim principal desta (...), portanto,
um posicionamento necessariamente determinista da histria. No entanto, Popper enxerga o
historicismo em Marx de forma pejorativa, avaliando ser perigoso pela possibilidade de
incitar o totalitarismo, uma vez que estabeleceu relaes entre o historicismo hegeliano e o
totalitarismo moderno. Rotula Marx, ento, de parcialmente determinista e parcialmente
libertrio.
Para Popper, Marx ressignifica o historicismo hegeliano atribuindolhe carter
material oriundo de uma perspectiva econmica na anlise histrica. Contudo, o erro deste
ltimo seria ter substitudo o Esprito absoluto em Hegel pela matria e assim compartilhar
de uma tendncia do sculo XIX em atribuir leis naturais antes atribudas a Deus. Marx teria
ento subestimado o potencial de agncia do indivduo que atua politicamente em detrimento
de um determinismo regido pela economia. Sendo assim, aponta para a infertilidade da
humanidade se apoiar em discursos profticos e teleolgicos ao invs de encabear, com as
prprias mos, o ato de mudana. O autor tambm ressalta o ato falho dos marxistas em no
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terem visto os problemas que poderiam surgir da proposta de aumentar o Estado, o que
poderiacausarsriasrestriesliberdadehumana.
As crticas de Karl Popper no terminam por a: o alvo, agora, o entendimento de
Engels sobre o conceito de dialtica. Segundo Popper h um erro lgico no conceito de
dialtica j que o termo contradio se fez muito vago. Ademais, a relao de contradio
entre dois termos reais e a construo de uma lgica dialtica atuariam no sentido contrrio ao
da cincia, onde dois enunciados contraditrios jamais poderiam existir simultaneamente.
Decerto, a partir de proposies contraditrias se poderia deduzir com legitimidade cientfica
qualquer proposio (...). Assim, para o autor, a dialtica seria, no mximo, uma descrio
dopensamentocientfico,quesebaseianacontestaocrticadeumpensamentoanterior.
Como um socialista liberal, Norberto Bobbio foi o responsvel por reemergir a
discusso clssica entre marxismo e democracia. Segundo o autor, o cerne da questo reside
nas prprias interpretaes deterministas da obra de Karl Marx. A descrena dos marxistas
quanto s instituies liberais assim como a negao da criao de uma alternativa a
democracia liberal tambm contriburam para essa estagnao terica. Bobbio ainda contesta
a opinio de Lukcs a respeito da relao entre a obra de Marx e Hegel afirmando que o que
Marx deriva de Hegel uma completa filosofia da histria (BOBBIO, Norberto. De
HobbesaMarx.Npoles,CasaeditriceA.Morano,1965,p.218).
Entretanto, a interpretao da obra marxista por Norberto Bobbio exclusivamente
determinista, e a sua viso sobre a sociedade civil como tambm sobre o Estado dependem
intrinsecamente das relaes de produo que condicionam a estrutura, ao contrario de
Antonio Gramsci, que concebe a sociedade civil como instncia ativa da histria. Com
efeito,BobbiodescartaopluralismonaobradeMarxeprecisaque
(...)quemconheceumpoucodahistriadasdoutrinaspluralistassabebemque
elasseformamforadoraiodeinflunciadomarxismoemsuasvriasespciese
subespcies(BOBBIO,Norberto.Asideologiaseopoderemcrise.Braslia,Ed.
daUNB,1994,p.89).
Para Bobbio, ao contrrio da filosofia liberal clssica, o marxismo contraps as noes
de igualdade e liberdade e, escolhendo a primeira, acabou por expurgar quaisquer menes s
liberdades individuais da literatura tributria da obra de Marx. E, por fim, Bobbio ressalta a
faltadeumateoriaconcretaarespeitodoEstado,dizendoqueaculturamarxista.
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H de se considerar o valor da crtica liberal s interpretaes deterministas da obra de
Karl Marx: foi a partir dela que toda uma reforma reestruturante se efetivou no marxismo. No
entanto no seria correto deslegitimar quaisquer formas de conhecimento tributrias da base
terica marxista. O legado de Marx serviu de base para muitos militantes e pensadores de
vanguarda e, se o sucesso da crtica liberal criou a necessidade de uma exegese mais precisa
dostextosmarxianos,estanofoitofelizemcriarumaconcepoalternativadahistria.
O liberalismo sempre esteve presente na acirrada dicotomia entre indivduo e
coletividade. Se por um lado h autores que analisam a sociedade atravs de um
individualismo metodolgico tipicamente liberal, no outro encontrase autores com uma viso
mais holista que considera errnea e incompleta a anlise restrita ao indivduo. Tal impasse
no oferece uma resposta totalizante e correta (caso a anlise se proponha a isto) o que no
garante a superioridade de uma abordagem em relao a outra. Contudo, o que se v uma
tendncia hegemnica das abordagens liberais em se propagarem pela produo acadmica e
at pela concepo de mundo da prpria sociedade. Tal fenmeno, longe de ser atrelado a um
suposto mrito dessa forma de abordagem, se v influenciado por um contexto
histricopolticocomplexoquereforaafalnciadomarxismoeaascensodoliberalismo.
3.Asrazesdodogma:marxismoedeterminismo
Visto que o alvo da crtica liberal o materialismo histrico e dialtico a partir de
leituras deterministas o prprio ncleo da teoria marxista , fazse mister definir o que
uma concepo determinista da histria bem como suas alternativas: concepes
indeterministas e praxiolgicas da histria. Com efeito, possvel definir uma concepo
determinista da histria como sendo aquela que define o curso histrico de forma apriorstica,
estabelecendo positivamente um futuro determinado que independe da atiitude individual dos
indivduos. Tal concepo, quando aplicada ao marxismo, pode expandirse e desdobrarse
sob formas de um fatalismo, estruturalismo, funcionalismo, essencialismo, etc., assumindo
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um carter sincrnico ou diacrnico uma concepo semideterminista abarcaria uma
pluralidade restrita de futuros prestabelecidos. A viso indeterminista, por outro lado,
caracterizase por abarcar qualquer previso para o futuro, uma vez que valoriza as
singularidades das conjunturas por lanar mo de um individualismo metodolgico, que
rejeita construes macrohistricas restritas a categorias relacionais ou coletivas. Por fim, as
concepes praxiolgicas compreendem o curso histrico como definido pela vontade
organizada dos atores coletivos e, por conseguinte, critica tanto o determinismo quanto o
indeterminismo.
possvel conceber a ordem histrica da crise do marxismo de forma cronolgica sob
o seguinte aspecto: fortes tendncias deterministas no muito coerentes e elaboradas junto
concepes praxiolgicas no muito desenvolvidas expanso determinista coerente
promulgada pela obra de Engels nova expanso determinista com a Segunda Internacional
atravs das obras de Kautsky, Plekhanov, Bauer, Hilferding e Adler terceira expanso de
vises deterministas no marxismo provenientes da Terceira Internacional e do marxismo
sovitico (culminando na sistematizao do Diamat, por Josef Stalin) elaborao praxiolgica
do marxismo por Antonio Gramsci, em Cadernos do crcere reelaboraes tericas da obra
de Marx com o psguerra e o incio da desestalinizao da Unio Sovitica (fase
caracterizada pelo paradigma negativo) por fim, a crise do marxismo como cultura com a
derrubada do regime do Leste Europeu, o agravante declnio da Unio Sovitica e,
consequentemente,umanotvelofensivaporpartedoliberalismo.
de suma importncia buscar razes que contriburam para a predominncia de vises
deterministas do marxismo ao longo da histria. Analisando principalmente o contexto
histrico quando ocorreram as expanses de concepes deterministas supracitadas,
dinstinguemse alguns aspectos importantes: o contexto positivista em que Karl Marx estava
inserido enquanto construia sua obra era totalmente permeado por concepes deterministas.
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Para lograr o ttulo de cincia faziase mister lanar mo de uma causalidade muitas vezes
forada, uma vez que o determinismo causal um pilar das cincias exatas, rea em que as
cincias humanas recorriam quanto ao mtodo naquela poca. Outra razo para esse tipo de
viso o fato de uma interpretao determinista da obra marxiana prescindir de um maior
aprofundamento terico no assunto, esquivando de suas incompletudes e tenses. Devese a
Gramsci o mrito de evidenciar essa fuga terica ao determinismo, em sua resposta s
crticasdeBenedettoCroceleidatendnciadecrescentedataxadelucro.
Uma outra possvel razo para a acepo geral das interpretaes deterministas reside
no fato do carter quase proftico da obra de Marx quanto s primeiras dcadas do sculo XX.
O clima favorvel s teses socialistas entravam em gradual ascenso na conjuntura e, somente
apartirdasegundametadedosculo,retrocedeuedeulugaraocrescimentodaculturaliberal.
necessrio ressaltar um fenmeno muito caro a explicao da ordem lgica da crise
marxista: a tendncia dos autores em assimilar as concepes deterministas da obra marxiana
e apliclas aos diversos campos da cincia reduzir a compreenso das vrias reas das
cincias das humanidades ao puro economicismo. As tenses geradas por essa assimilao
dogmtica causou danos incontornveis. De um marxismo reducionista surgiram teorias
sociolgicas, polticas, antropolgicas, historicistas e filosficas a teleologia e o
posicionamento apriorstico foram levados a outro patamar e as prprias inconsistncias e
paradoxos provenientes desse paradigma que permeiam tanto a produo acadmica at
hoje vieram a dar razo crtica liberal: como uma cincia que se diz emancipatria e
humanista pode se escorar em pilares que restringem tanto o agir e a criatividade individual e
coletiva?
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4.Marxeodeterminismo:astensesconstitutivas
possvel destacar vrios fatores que influenciaram o pluralismo de interpretaes da
obra marxiana, sendo alguns deles: a grande extenso da obra a conjuntura da produo
acadmica da poca a variedade de fontes inspiradoras o fato da obra ser inacabada e em
aberto enfim, uma obra escrita fora do ambiente acadmico e alvo de inmeras discusses
polticas e paradigmticas. O destaque para as interpretaes deterministas pode ser explicado
pela existncia de tenses deterministas constitutivas na obra que, no entanto, no so
suficientementerigorosasparasuprimirapresenadeelementospraxiolgicos.
O sucesso da mecanica newtoniana, marcada pelo determinismo causal, fezse
presente, de forma simblica, durante todo o processo de ascenso do positivismo como
paradigma no sculo XIX. Impulsionado pela prosperidade das cincias naturais
(principalmente a fsica e qumica), o mtodo cientfico acaba por se estender s cincias
humanas e atua diretamente no estudo das sociedades. Por outro lado, o paradigma passa,
tambm, por fortes questionamentos, muitos deles advindos da prpria fsica, ao trabalhar
com problemas de ordem estatstica. Laplace um exemplo de um posicionamento
deterministicamente radical ante o problema probabilstico, oposto ao de Maxwell, que admite
a dificuldade de se processar o volume de dados e variveis em sistemas complexos, como o
ser humano, e lana mo do recurso probabilstico, abrindo espao para anomalias e eventos
improvveis no raciocnio. , ento, importante ressaltar que as tenses deterministas em
discusso no so oriundas propriamente da obra de Marx, mas sim da prpria conjuntura
cientficadapoca.
A influncia de Hegel em Marx latente, e sua leitura da histria tributa o carter
teleolgico daquele. , entretanto, errneo supor que a teleologia e a filosofia da histria so
trabalhadas na mesma medida, nos dois autores, por trs motivos principais: Marx e Engels
criticam explicitamente obras de Hegel revestidas pela sua concepo de filosofia da histria
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diferenciao qualitativa quanto a apreenso da realidade nos dois autores e, por fim, a
diferena de tratamento, na obra de Hegel, entre autodeterminao e determinismo
conceituado como o hoje na filosofia das cincias , distinguindose de Marx, cuja obra
torna to caro o conceito de autodeterminao, em oposio ao primeiro autor. Com efeito, o
que possvel questionar nessa crtica ao hegelianismo exatamente o que restou de
influnciadafilosofiadehistriasobreoautormaterialista.
A economia poltica, palco de inmeras crticas marxistas, fora tambm muito
influenciada pelo paradigma newtoniano. A forma como a economia era tratada
assemelhavase a uma anlise mecnica de algo que produto de interaes sociais. A ordem
supervalorizada como em um sistema fsico. A partir disso, questionase o tratamento dado
por Marx economia em sua obra, ressaltando uma possvel confluncia na forma como o
assunto foi tratado. Ora, a concepo de sociedade e economia marxiana pressupe a
existncia de um conflito, no de ordem se o determinismo, caracterstico desse tipo de
anlise econmica, se faz presente na obra, o faz de maneira modesta pois a prpria
concepo do tempo em Marx no se d de forma linear, como pressupe as "cincias duras".
A tenso determinista se concentra, dessa forma, na forma como os textos foram elaborados, o
forte carter histrico reinvindicado por Marx, ao invs de garantir sustentao emprica a
teoria, acaba por obscurecer a tese e possibilitar leituras generalizantes com alto teor
determinista. O apelo reduo das faculdades subjetivas humanas ao impulso movido pela
economiatambmajudounaelaboraodeumposteriormonismopelosmarxistas.
Encontrase uma enorme facilidade em se tratar do decorrer histrico da produo
acadmica de Marx atravs de perodos definidos. Apesar disso, necessrio atentar para que
noseforcedeterminadaobraaseinseriremumperododefinido.
Em uma primeira parte, vemos um Marx que desfere crticas ao historicismo
teleolgico hegeliano em Crtica filosofia do direito de Hegel e Manuscritos
econmicosfilosficos. Em seguida, a obra adquire um carter praxiolgico que questiona a
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filosofia da histria incrustado na fase anterior, alm de criticar o materialismo contemplativo
atravs da influncia de Feuerbach por no ter sido elaborada de forma totalmente coerente e
segura, esse perodo expressase ainda em combinao com vises deterministas da
histria (o perodo concentrase entre os anos de 1845 e 1857). Finalmente, podemos incluir
as obras dos anos 1857 at 1883 data de sua morte em um terceiro grupo, caracterizado
por uma tentativa de se estruturar toda a dinmica do sistema capitalista atravs da crtica
economia poltica inglesa de Adam Smith e David Ricardo. No entanto essa terceira fase
apresenta fortssimas tenses deterministas que, se no se expressam sob uma forma
totalmente coerente que impossibilite outras concepes histricas, acabam por suprimir uma
ideia de prxis e tornar, de certa forma, preponderante a viso determinista sobre o legado
marxianoposteriormente.
Tendo isso em vista, falacioso supor a existncia de uma nica concepo da histria
na obra de Marx h uma latente defasagem entre teoria e anlise concreta da histria.
Hobsbawm evidencia esse impasse no momento em que observa a inexistncia de uma
conexo lgica de desenvolvimento entre os perodos histricos de produo analisados por
Marx no h uma linha progressiva e linear entre a produo escravista da antiguidade e o
feudalismo medieval europeu, por exemplo. inegvel a presena dos mltiplos caminhos
que a histria pode alcanar e, ao mesmo tempo, fortes traos de uma histria unilinear na
obramarxianaaolongodotempoemquefoiproduzida.
Durante toda sua obra, o socialista coloca a revoluo como possvel e, por outro lado,
como necessria e inevitvel. O produto da ao dessas duas foras resulta em um esboo de
teoria revolucionria que obscurece a parte pragmtica e estratgica faltoulhe sistematizao
quanto aos conceitos de partido, poder poltico e hegemonia proletria. Algumas razes para
esse carecimento podem ser verificadas na conjuntura histrica em que a obra foi
desenvolvida, que prescindia de regularidade e prxis revolucionria e, em compensao, era
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rica em surtos revolucionrios e contradies. Essa irresoluo tornarseia explcita na
culturadaSegundaInternacional.
Destarte, por ser uma obra periodizada, no homognea e irresolutiva, o legado
socialista marxiano compreendido hegemonicamente de forma unilateral por diversos autores
tornase completamente compreensvel. Junto a isso, temse uma tendencia dogmatizao do
texto de Marx, o que impossibilitou sua transcendncia a exegese da obra, ainda falha, por
muito tempo esteve algemada ao prprio texto e conjuntura cientfica do tempo, no buscando
uma formulao marxista que rompesse com o carter de sacralidade do contedo e
alcanasseformulaesinditas.
5.Engelseaprimeiraondadeexpansododeterminismo
A primeira onda de expanso do determinismo na cultura marxista s se tornou
possvel a partir das obras de Engels. Com o intuito de divulgao, o cofundador do
marxismo acabou por disseminar essa cultura e, ao mesmo tempo, explorar e sistematizar as
tenses deterministas presentes na obra do prprio Marx. importante destacar que no se
deve desvencilhar a obra de Engels da de Marx por inteiro e, muito menos, dizer que elas no
se relacionam, visto que h diferenas elementares a respeito do tratamento dado e da prpria
concepodematerialismoentreambos.
Segundo Juarez Guimares o primeiro passo de Engels o de identificar as leis que
regem a natureza com as leis que do racionalidade histria. Com efeito, a pretenso do
socialista tributa muito do positivismo da poca: anseia reunir e reduzir todas as reas do
conhecimento jurisdio de leis naturais. Sendo assim, possvel distinguir cinco
desdobramentos que permeariam a cultura marxista vindoura sob a influncia de Engels,
sendo eles: (i) o marxismo como cincia e a desnecessidade ou reduo da filosofia ao
estudo de certas leis de mtodo (ii) o marxismo como uma forma superior de monismo
materialista (iii) o conhecimento entendido como reflexo e a reduo do conceito de
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prxis (iv) a viso unilinear da histria e (v) a definio da liberdade como conscincia
danecessidade.
Assim, o legado engeliano, caracterizado pela reduo da totalidade ao monismo
economicista decorrente da tentativa de uma sistematizao do materialismo dialtico
furtouse abordagem praxiolgica e ajudou a situar a cultura marxista em um paradigma
determinista (utilizado, posteriormente, como festim para a crtica liberal). Segundo Andrew
Arato, a sistematizao engeliana do marxismo possibilitou os triunfos da cincia positiva
sobreafilosofia,danaturezasobreahistriaedoobjetosobreosujeito.
6. Kautski, Plekhanov e austromarxismo: a segunda onda de expanso do
determinismo
Aps a tentativa falha de unificao conceitual do marxismo por Engels, surgem
inmeras outras interpretaes, dentre as quais destacaremos trs neste captulo: as
elaboraes de Kautski, Plekhanov e, por fim, as contribuies de cunho neokantiano de Otto
BauereMaxAdler.
possvel distinguir as contribuies de Kautski para o marxismo em trs fases, desde
que aderiu ao socialismo em 1875 at sua morte em 1938. A primeira fase caracterizase pela
tentativa do autor em difundir o marxismo e sistematizar as ortodoxias do Partido
SocialDemocrata alemo (SPD) e da Segunda Internacional na segunda fase, do incio do
sculo XX at 1914, Kautski assume uma posio mais de centro, em meio a uma grande
polarizao dentro do SPD por fim, na terceira fase, notase uma forte oposio ao partido
bolchevique e Terceira Internacional, situao esta que se soma a sua gradual perda de
notoriedadepoltica.
O pensamento kautskista, embora gradualmente tome um rumo reformista,
caracterizado pela forte presena de interpretaes deterministas do marxismo aliadas a um
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racionalismo tpico do contexto positivista da poca. Sua viso da revoluo proletria era
totalmente passiva (beirando o fatalismo) e seu legado serviu de base para a distino
ideolgicasocialdemocrticadaburguesa.
O marxismo refratado pela tica neokantiana, no contexto do final do sculo XIX na
Alemanha, tentou responder s crticas que cobravam uma epistemologia menos dogmtica da
obra de Marx. Dentre essas respostas, destacamse algumas matrizes de pensamento: a
posio de Cohen, que derivava a teoria socialista da segunda formulao do imperativo
categrico kantiano Bernstein propunha a separao entre o marxismo e a metafsica
tributada da obra hegeliana, ressaltando ainda uma reviso das concepes que prediriam o
fim do capitalismo a tradio austromarxista de Max Adler procurava tornar o marxismo
uma cincia de carter sociolgico e a adeso ao socialismo uma opo prticomoral
assentada nas previses cientficas sobre a inevitabilidade da superao do capitalismo. O
papel de Kautski frente s formulaes citadas foi o de insistir no marxismo ortodoxo mas, ao
mesmo tempo, abrir espao para a insero de uma discusso moral na teoria, a partir de uma
ticaqueretomaopensamentodeKant.
Os conceitos de evolucionismo e determinismo esto to arraigados na obra de
Kautski que este afirmava que a cincia do marxismo possibilitou a descoberta das leis que
operam no sentido da evoluo da sociedade, sendo o erro de Marx e Engels somente a
previso da revoluo como prxima. A inevitabilidade da revoluo era to latente, para
Kautski, que s admitia eventuais e momentneas derrotas do processo revolucionrio nunca
fatais.
A obra de Plekhanov pode ser lembrada pela presena de dois conceitos capitais:
determinismo e monismo. A tentativa de se reunir em um sistema materialista tudo o que
existe caminhou na direo de um aprofundamento do legado de Engels, rejeitando o
dualismo kantiano e no se deixando influenciar pelas analogias biolgicas como o fez
Kautski. O determinismo em Plekhanov era to intenso que considerava o socialismo to
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inevitvel quanto o amanhecer depois de uma noite o monismo do socialista no via na
economia a causa primeira dos movimentos sociais, justificando que esta ainda estava
condicionadasforasprodutivas.
Com efeito, o autor procurou conciliar sua viso determinista da histria com o papel
individual. Distinguiu a causa geral, que determina o movimento histrico as causas
particulares, que correspondem situao histrica especfica e as causas singulares,
resultado das aes individuais, que particularizam o decorrer histrico mas no tm a
capacidade de interromplo ou transformlo radicalmente. Para Plekhanov no h valor nos
grandes personagens da histria: eles somente traduzem o que as grandes necessidades
sociaisdesuapocadeterminam.
O austromarxismo foi a corrente que se desenvolveu em torno do Partido
SocialDemocrata austraco desde o incio do sculo XX at a ascenso do nazifascismo,
sendo Max Adler, Otto Bauer, Rudolf Hilferding e Karl Renner seus principais expoentes. O
debate acerca do legado de Marx, proposto por Adler, procurou diferenciar os alicerces do
marxismo de um positivismo exclusivamente emprico bem como de um formalismo
neokantianoabstrato.
Adler procura, tambm, estabelecer uma viso de cincia determinista e
socioeconmica sobre o marxismo, rejeitando monismos que submetem a subjetividade
humana uma concepo puramente materialista (como o faz Plekhanov) adota a
causalidade da cincia positiva como mtodo vital para a concepo determinista da
sociologiaqueprope.
7.Aprxissitiada:Lukcseascidadelasdodeterminismo
Diante de uma conjuntura majoritariamente ortodoxa na cultura do marxismo, George
Lukcs e Karl Korsch representam a contramo do fluxo. Tributando diretamente da dialtica
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hegeliana, os autores rejeitaram o monismo materialista de Engels, Kautski e Plakhanov e
ressurgiram com o conceito de prxis no marxismo (embora no tenha obtido xito em
desenvolvlo), h muito tempo olvidado. Lukcs foi um grande crtico do Diamat e da
cultura stalinista, em geral Por essas razes, foram muito criticados pela cultura da Terceira
Internacionaleexpulsosdospartidosemquemilitavam.
A obra filosfica de Lukcs pode ser discriminada em trs fases, representadas pelas
obras: (i) Histria e conscincia de classe, (ii) Posfcio (de 1967), que critica a obra anterior,
e o (iii) Ontologia do ser social . Tambm possvel separar a disseminao de sua filosofia
em trs momentos: a fundao da Escola de Frankfurt a abordagem do tema da problemtica
da alienao, aps a releitura da obra marxiana o surgimento das novas esquerdas durante a
dcadadesessenta.
Um ponto importante na Histria e conscincia de classe, de Lukcs, a definio do
que seria o carter ortodoxo na cultura marxista: no seria a f dogmtica na obra de Karl
Marx, mas sim o prprio mtodo dialtico e sua concepo de totalidade que reduzem o devir
social. Para o autor, a histria dotada de sentido e a explicao da inexorabilidade da
revoluo proletria no advm de uma prova material, mas garantida metodologicamente
pela dialtica a conscincia de classe por parte do proletrio o ponto chave da revoluo, e
a questo est em transcender sua alienao em direo noo real do movimento da histria
atravs, tambm, da ajuda do partido, que assumiria o papel de portador de tal conscincia. A
concepo de reificao imprescindvel para compreender a falsa conscincia do proletrio
no marxismo de Lukcs. Atravs de uma interpretao de Max Weber a partir da
inexorabilidade de uma racionlidade mecnica, h uma tendncia de objetivao da
subjetividade pelo mundo material (mais precisamente, econmico) e sua consequente
fragmentao, razo da incapacidade de compreenso da totalidade do devir social. Assim,
carter teleolgico da obra permeado por uma concepo praxiolgica (mesmo que no
sistematicamentedelineado)vaicontraacorrentepuramentedeterministadaculturamarxista.
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Por outro lado, os erros apontados pela autocrtica de Lukcs giram em torno do
carter metafsico da conscincia, que transcende o que o autor tributou da obra de Hegel a
imanncia do carter revolucionrio no proletrio, que se ope ao conceito de hegemonia e a
conotao metafsica inserida na concepo de reificao, garantindolhe um carter
totalitrioquesubjugaaconscinciaproletriaeseconfundecomaprpriaalienao.
Ao criticar sua obra Histria e conscincia de classe, George Lukcs se prope a
reintroduzirse no campo conceitual do materialismo histrico para buscar subjetivlo a
partir de dentro, ao invs de tentar desenvolver o conceito de prxis em sua obra atravs da
superao de seu carter metafsico. Com efeito, o autor distingue os principais erros, sendo
eles: a obra se opor aos fundamentos da ontologia do marxismo o distanciamento de um
conceito de prxis em relao ao trabalho, empobrecendo a base econmica da teoria a
abordagem do proletrio como sujeitoobjeto congnere ao longo da histria o tratamento de
identidadeentrealienaoeobjetivao.
Em Ontologia do ser social, George Lukcs busca voltar tradio do materialismo
histrico atravs de uma sntese ontolgica do marxismo, baseandose na superao das
concepes metafsicas presentes em Histria e conscincia de classe. Sendo assim, a
concepo ontolgica do marxismo de Lukcs pressupe: prioridade do ser em relao
conscincia, da economia em relao s outras instncias da vida social o trabalho como
sendo o mediador entre homem e natureza, garatindolhe carter teleolgico o movimento da
histria como dado restando ao humana a capacidade de bloquear, acelerar ou freiar. Em
outras palavras, o autor procura unir formal e filosoficamente o materialismo dialtico e o
materialismohistrico,bemcomoafilosofiadomarxismocomasuacinciadahistria.
Por fim, Lukcs no obtm xito em tentar escapar das amarras do determinismo. Um
dos pontos por onde passa a justificativa dessa falha o fato do autor no se desvencilhar da
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concepo de materialismo histrico. O enfoque economicista como o determinante da
realidade social engessa um desenvolvimento praxiolgico e traduz uma nfase excessiva
ontologia da necessidade. Segundo Carlos Nelson Coutinho, em Ontologia do ser social,
Lukcs cai no erro de subestimar a potencialidade da prxis humana, conferindolhe somente
a capacidade de alterao fenomnica, e no essencial. Com efeito, a viso econmica
presente no materialismo histrico como fora motriz despiu a capacidade de agir da
humanidade e conferiulhe segundo plano frente ao objetivismo das leis mais gerais do
movimento da economia, ressaltando o carter determinstico da obra de Lukcs em
detrimentodeumaobscuridadedopapeldaprxis.
8. A terceira onda de expanso do determinismo: o Diamat e as
antinomiasdomaterialismo
As concepes filosfica marxistas da Unio Sovitica, caracterizadas por uma
ortodoxia tributada das obras de Engels, Plekhanov e Lenin, devem sua importncia mais pela
sua durao e influncia do que pelo carter inovador. Tal cultura possui talvez mais
influncia de Engels do que do prprio Marx, e seu carter determinstico se faz presente,
principalmente, na frequncia em que o termo materialismo histrico dialtico
mencionado. Sendo assim, possvel destacar quatro principais perodos do marxismo russo,
sendo eles as dcadas que envolvem as obras: Materialismo e empiriocentrismo (1909) de
Vladmir Lenin, Tratado de materialismo histrico (1921) de Nikolai Bukharin, Materialismo
dialtico e materialismo histrico (1938) de Josef Stalin e, por fim, o trabalho posterior do
marxismo russo em reorganizar a filosofia sovitica aps a morte de Stalin. Notase a
ausncia do legado de Leon Trostky na cultura marxista reunida nessa introduo por dois
motivos: sua expulso, ostracismo e assassinado em relao cultura interna da Unio
Sovitica bem como o carter pragmtico de sua obra, que somente esboa uma filosofia entre
aslinhasdeumadiscussomajoritariamentemilitante.
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H dois modos de se compreender a sistematizao filosfica do Diamat e o legado de
Lenin: o primeiro consiste em visualizar os aspectos de confluncia entre ambos, chegando
concluso de que o primeiro a exata reunio da teoria poltica leninista o segundo modo
baseiase na busca pelos aspectos de ruptura e descontinuidade entre as obras, embora
reconhecendo os pontos de confluncia. Juarez Guimares traa o segundo caminho com base
nasindicaesdeMarcelLiebman,AntonioGramscieManuelSacristn.
Liebman trabalha sua comparao entre o Diamat e a obra de Lenin atrves da
oposio entre a rica e viva cultura poltica de Lenin e a cristalizao dogmtica aps sua
morte a dialtica realista e flexvel do revolucionrio e a tendncia conservadora do partido
bolchevique. Liebman vai ainda mais longe e contesta a imagem do revolucionrio vitorioso e
celebrado de Lenin, contrastando com o que aconteceu realmente: os fracassos em contrapor o
capitalismo nas sociedades industriais em estgio avanado e o desenvolvimento do conceito
de democracia na cultura do socialismo. Gramsci distingue a teoria poltica de Lenin e seu
legado filosfico, ressaltando sua possvel maior expertise no primeiro e uma carncia no
segundo. Manuel Sacristn aponta o dissenso entre a orgnica cultura poltica russa
encabeada, principalmente, por Lenin, Trotsky, Bukharin, Preobrajenski, Pachukanis e a
inflexvel e mecnica sistematizao filosfica do Diamat, encontrando a resposta para essa
questo na prpria progresso da filosofia de Lenin. O filsofo espanhol discorre sobre as
debilidades imensas da argumentao de Lenin no que diz respeito a uma cultura filosfica
bsica (sendo admitidas pelo prprio Lenin) o revolucionrio teria simplificado a filosofia
de algumas obras, como foi o caso com os empiriocentristas, assim como o prprio
materialismo,comoviriaaapontarGustavWetter.
Em sua obra posterior, Lenin critica a oposio simplista do idealismo/materialismo
em relao aos autores alemes Hegel e Marx precisando que o idealismo de Hegel est mais
prximo do materialismo de Marx do que do materialismo estpido. Acaba, ento, por fazer
as pazes entre a matria e o esprito, conciliao que se opunha em sua obra primeva. Por fim,
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Lenin assume uma posio crtica quanto ao determinismo, atravs da intensa leitura de Hegel
e, segundo Sacristn, caminhou numa direo confluente com a proposta gramsciana do
marxismo,emboratenhampartidodefundamentosdiametralmenteopostos.
O legado de Nikolai Bukharin mais reconhecido pela sua repercusso para o
marxismo russo e para a Terceira Internacional, de modo geral, do que pelo seu contedo.
Revestido de uma ortodoxia superlativa, o intelectual russo leva o determinismo a um patamar
ainda mais alto que em Plekhanov e duramente criticado por Lukcs e Gramsci, que vem
em sua obra um materialismo contemplativo que, ao invs de questionar a positividade do
mtodo das cincias naturais, acaba internalizandoos e tomandoos como ponto de partida
para a anlise da sociedade. Assim, o autor lana mo de um determinismo causal e
mecanicista que intensifica a leitura de Engels do marxismo e acaba por exorcizar todo o
esprito transformador do indivduo, conferindo s foras produtivas a potencialidade central
paraqueasociedadesetransforme.
Surge ento um debate que ope as vises dialticas e mecanicistas no final dos anos
vinte na Rssia situao completamente sintomtica que ilustra as inconsistncias geradas a
partir da leitura das obras de Engels sobre o marxismo. Os mecanicistas representariam uma
supremacia do mtodo positivo dentro do marxismo, tomandoo como cincia e no filosofia
a dialtica seria anticientfica seus principais expoentes, alm de Bukharin, seriam
SkvortsovStepanov e Arkady K. Cimiryazev. Do outro lado, os dialticos, juntando a diltica
hegeliana ao materialismo de Feuerbach, abarcariam um noo mais ontolgica do marxismo
seu representante mais clebre seria Abram Deborin, posteriormente derrotado em uma
entrevistadeStalinnaqualsuafilosofiaseriaclassificadacomomenchevismoidealista.
O quarto captulo da sntese marxista de Josef Stalin foi publicado em 1938 com o
nome de Materialismo dialtico e materialismo histrico, sendo este o volume mais influente
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da coleo. Com a caracterstica de ser bastante didtica, a sntese stalinista pode ser
entendida como uma conciliao entre a discusso entre dialticos e mecanicistas, com a
peculiaridade de naturalizar o mtodo marxista aplicando o materialismo histrico em um
continuum natureza/sociedade. As duas principais caractersticas do Diamat seriam a
omisso do fundamento da negao da negao, de Engels, e o conceito de total
unilinearidade do desenvolvimento das sociedades. Destarte, deria possvel distinguir cinco
tipos fundamentais de relaes de produo que, por sua vez, responsabilizarseiam pela
transformao na superestrutura como um todo, sendo elas: a economia primitiva, a
escravatura, o regime feudal, capitalista e socialista(STALIN, Josef. O materialismo
dialtico e o materialismo histrico. So Paulo, Global Editora e Distribuidora Ltda., 1978,
p.17). Notase a omisso do modo de produo asitico na progresso, que seria uma
anomalia no determinismo da teoria. Com efeito, a sntese de Stalin seria responsvel por
engessar o dogma do marxismo ortodoxo e o monismo materialista e assim suprimir a
subjetividade humana de forma terica com seu alcane poltico no foi atoa que a sntese
no foi adotada em sua totalidade por outras naes, onde o marxismo recebia forte influncia
deoutrasescolascomtradiesfilosficasmaisincrustadas(marxismoocidental).
No perodo em que Stalin estava no poder, a dogmatizao presente na ortodoxia da
sntese do Diamat conferiu carter hegemnico a essa doutrina, afastando quaisquer culturas
marxistas que confrontassem os seus fundamentos. Contudo, com a morte do secretriogeral,
a teoria marxista sovitica tornouse mais flexvel embora nem tanto e assim possibilitou
o dilogo com outras concepes. Assim, o perodo que se segue aps a morte de Stalin
caracterizado pela polmica promulgada pelas crescentes noes da cultura e filosofia
marxista, sendo que, mesmo trinta anos depois, ainda no se havia sistematizado uma filosofia
oficial. O materialismo dialtico da Unio Sovitica, desse modo, apresentaria uma vasta
gamadeantinomias
Juarez Guimares sistematiza as antinomias do Diamat em seis pontos chave: (i)
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Materialismo como reconhecimento da objetividade da matria em relao
conscincia/Reconhecimento de que outras filosofias materialistas adotam o mesmo
princpio (ii) Materialismo como definio das qualidades inatas da matria/Dissenso sobre
quais so estas qualidades e como interpretlas (iii) Definio das trs leis gerais da
dialtica/Dissenso multidirecionado sobre quais so estas leis, como interpretlas e qual o seu
universo de aplicao (iv) Teoria do conhecimento como reflexo do real/ Reconhecimento
das noes de sntese, imaginao e capacidade preditiva da razo (v) Lgica dialtica
como substitutiva ou superior da lgica formal/Dissenso sobre o que lgica dialtica e sua
relao com a lgica formal e, finalmente, (vi) Defesa da evoluo unilinear da
histria/Relativizao,emvriosplanosdoevolucionismo.
9.Gramscieaconcepopraxiolgicadahistria
Quando mobilizada a substancial conquista atingida pelo pensador Antonio Gramsci,
mediante sua interessante abordagem acerca do marxismo, a investigao terica de
Democracia e marxismo explicita a contribuio desse intelectual no que diz respeito
ruptura do paradigma ento cristalizado que atribua ao complexo cultural marxista uma
considervel e limitadora tendncia determinista. Para tanto, demonstrado como a sntese
filosfica que Antonio Gramsci formula, em sua notria obra intitulada Cadernos do crcere,
a denominada concepo praxiolgica da histria. Conforme apresentado no captulo VIII,
essa inovadora sntese filosfica acerca da cultura marxista vem a demonstrar certos
elementos primordiais contidos no pensamento de Marx durante toda sua vida criativa, mas
que se fundam essencialmente a partir das tenses deterministas presentes na conceitualizao
deste.
Com efeito, notase questionamentos que caracterizam como sendo determinista a
reflexo de Marx, de modo a identificar com preciso seu "silncio argumentativo" sobre
"conceitos chaves para a compreenso do Estado e da sociedade civil, da cultura e da prxis
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poltica, da revoluo e da criao de uma nova ordem". Assim, com sua gnese conceitual
fundada em resposta as frustadas tentativas de expanso do marxismo, sobretudo na Europa
Central, e lanandose no embate terico levantado pelas tenses deterministas presentes no
campo terico de Marx, a concepo praxiolgica da histria desenvolvida ante o fatdico
contexto histrico da Segunda e da Terceira Internacional. Ora, com formao intelectual
empreendida numa escola oposta ao "marxismo positivista, cientificista e naturalizante",
Gramsci no somente escreve de maneira incisiva contra noes deterministas como tambm
dispensa as especulaes interpretativas provindas do indeterminismo histrico, polemizado
comoidealismocroceano.
Apesar de inovadora, a sntese filosfica de Cadernos do crcere, elaborada na
conjuntura a qual no mais vislumbrava o socialismo como estgio irremedialvemente a ser
estabelecido, fora impossibilitada de vir a ser modelo terico alternativo a interpretaes
deterministas da poca, muito em razo de sua tardia divulgao e do processo corrente que
seu partido PCI levou adiante quando do rompimento ideolgico com princpios stalinistas.
De fato, a "autonomia estratgica" de Gramsci, no mbito de sua desvinculao em relao a
tradio stalinista, propicia uma dicotomizao interpretativa de seu pensamento, como bem
analisa Togliatti ao explicitar que, se por um lado a abordagem gramsciana apresenta uma
vertente que sugere adequao dos princpios marxistasleninistas cultura poltica italiana,
por outro estabelece fronteiras devidamente delimitadas entre o pensamento gramsciano dos
conselhosdefbricaeseuperododedirignciadoPCI.
Todavia, a sofisticada conceitualizao de Gramsci de certa forma fora marginalizada
e mesmo desvalorizada no mbito comunista da Europa, haja vista sua potente e abrangente
tematizao e investigao reduzida a leituras que apontam como sendo fracassada sua
tentativa em desenvolver uma alternativa ao determinismo histrico, ao contrrio limitando a
inserilo numa perspectiva historicista e o relativizando no tocante a traos mecanicistas.
Dessa forma, a valorizao da importncia terica concentrada nos esforos de Gramsci se d
num perodo posterior no qual ensastas italianos exploram sua sntese filosfica que suscita
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conceitos fundamentais ao debate circunscrito a cultura marxista, como a concepo
praxiolgicadahistria.
Pois bem, o conceito de hegemonia nos apresentado como primordial ponto de
partida para o satisfatrio entendimento da noo praxiolgica da histria, cujo resultado
combate o economicismo determinista, alm de permitir superao do dualismo matria/ideia
que alia estrutura e superestrutura. Com isso, Gramsci expe tal insuficincia por parte de
Marx ao no desenvolver o conceito de hegemonia em razo de sua aparente dificuldade em
conseguir desvincularse completamente da viso histrica hegeliana, a qual denota o
processo teleolgico do esprito rumo a "perfeita realizao da razo universal". Assim,
Cadernos do crcere aprofunda a discusso ticopoltica que traz a luz novos instrumentos
analticos para leitura da obra O Capital, no sentido de condenar interpretaes que o
encerram no determinismo histrico e fundamentar a partir disso um "projeto hegemnico
alternativo".
Uma vez deflagrada a crise do marxismo, a anlise de Antonio Gramsci acerca da
insurreio evidenciada na Revoluo Russa concebida como apenas parte do
desenvolvimento da teoria de Marx que, ao contrrio de seu formato maduro e definitivo,
caracteriza essa experincia particular na histria como necessitada de "expanso e
universalizao", posto o alto preo cobrado nas dcadas iniciais do segundo milnio com a
denominada vulgarizao marxista. Ademais, bem definido seu entendimento do que
consititue a ortodoxia, Gramsci identifica traos do positivismo evolucionista e do
materialismo com razes no sculo XVIII para que fosse possvel a construo do marxismo
como campo filosfico autnomo, o que de fato no ocorrera de acordo com este autor. Desse
modo, a sntese filosfica de Gramsci vai na direo contrria ao vis cientficonaturalista
prprio da denominada primeira onda de expanso do determinismo, levada a cabo por Engels
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ao incorrer no erro de imputar ao marxismo uma noo metodolgica similar ao das cincias
naturais.
De fato, o pensamento gramsciano explicita que em virtude da confuso que
desconsidera o funcionamento da pesquisa cientfica em seu processo de adequao
estratgica "conforme ao seu fim", sendo portanto flexvel conforme o objeto de estudo e de
forma alguma um dogmatismo rgido e aplicvel como "mtodo em si", denota equvoco,
tendo sido essa inferncia reiterada em outro escrito em que Gramsci acrescenta a cincia ao
conceito de superestrutura, como sendo tambm uma ideologia. No tocante a continuidade de
sua linha argumentativa, Gramsci confronta as reflexes de Lukcs e de Korsch, to
inclinadas a retirar o raciocnio filosfico do mbito poltico, de modo a chamar a ateno
para a relao intrnseca entre filosofia e poltica exemplificada no importante papel
desempenhadopelosintelectuaisreferentelegitimidadedosfundamentosdeumEstado.
Ora, elucidado este aspecto, a argumentao gramsciana visa diferenciar a ideologia
da filosofia da praxis, aqui inserida no campo da superestrutura e entendida como sendo a
"teoria das contradies" e expresso das classes dominadas numa tentativa de evitar
possveis iluses que venham a desviar sua ateno da "verdade". Por sua vez, ideologia
remete compreenso que se restrinja a certo grupo contido numa classe com finalidade de
resoluo de impasses pontuais quela conjuntura, atribuindo dessa forma a qualquer
indivduo que se preste a conscientemente elaborar conceitos acerca do mundo a alcunha de
"filsofo". Deve ser salientado que Gramsci concebe essa filosofia da paxis tanto em sua
atuao no plano da mais sofisticada discusso intelectual quanto do combate s noes que
porventura se reduzem a reproduo das concepes dominantes na poca. Portanto, o
pensamento gramsciano se firma numa "construo de vontades coletivas" que visa a ser
desenvolvida em conexo com os movimentos mesmos de emancipao do proletariado, a
despeito de uma verdade ltima que seria eventualmente apresentada pelo marxismo, como
defendemLukcseKorscharespeitodaiminnciarevolucionriadalutadeclasses.
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Como bem chegamos ao captulo intitulado "A nova sntese de Gramsci", atenhome a
breves explanaes que iro tentar fornecer delineamentos do arcarbouo filosfico desse
brilhante pensador. Ainda no tocante a constatao crtica da crise do marxismo,
identificado que a "filosofia da praxis" possui como significado maior a evocao da fora
imanente ao ser humano para fazer com que a mudana se realize, a constatao de sua
autonomia operando no mais alto grau e verbalizada, nos termos gramscianos, como sendo o
"humanismo absoluto". Decerto, a sntese filosfica de Grasmci concebe uma imponente
reforma "ticomoral", baseada na eminente racionalidade do humanismo renascentista
mesclada s foras irrompidas pelos levantes populares da Reforma Protestante. Em seguida,
a cincia e o marxismo so colocados face a face para que sejam investigados analiticamente,
no sentido de que seja realizado um acerto de contas entre suas conceitualizaes. Posto que a
cincia exerce marcante influncia na estrutura, a incipiente filosofia da prxis precisa
recorrer a esse instrumento de interpretao e dominao da natureza, por assim dizer, pelo
fato de sua influncia no pensamento moderno ser de relevante impacto, sobretudo no perodo
subsequenteaosculoXVIII.
Em continuao a linha argumentativa descrita acima, trs demandas sobre a conexo
do marxismo com o mtodo cientfico vem a ser trazido a lume. Primeiramente, a
autonomizao relativa dessa "ideologia", que entende o mundo a partir de sua maneira
particular, livrase de eventuais antagonismos e possibilita assim a aplicao de suas tcnicas
visando a alcanar objetivos previamente traados. A noo de que a cincia est alm do que
pode ser acessado por uma perspectiva particular ou coletiva, isto , objeto inteligvel a todo e
qualquer indivduo, colocado logo depois como outra importante questo. Finalmente, a
terceira medida se fundamenta na afirmao cientfica que se afirma como
demonstravelmente superior ideologias alternativas. Ora, ao final dessa sistematizao
terica, apresentado como Gramsci concentra seus esforos em democratizar e socializar o
conhecimento cientfico, ao contrrio do empenho capitalista a fim de burocratizlo e
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elitizlo, sendo uma evidente medida para o desenvolvimento dessa alternativa racionalidade
civilizatria,pautadanoconceitodehegemonia.
Ao direcionar a abordagem crtica gramsciana acerca da imanncia, a investigao
identifica essa noo do marxismo em sua capacidade universalizante em penetrar nas
singularidades irrepetveis do objeto de estudo, sendo encontrada na grande sntese histrica
formulada por Marx luz da "filosofia clssica alem, da economia poltica inglesa e da
poltica francesa". Pontuada a contribuio essencial de Hegel, como sendo o pensador que
implementa a superao do dualismo matria/ideia mediante o conceito do imanentismo,
Gramsci infere que apenas a filosofia da prxis possui como resultante a concepo de
imanncia. Dito isso, a centralidade dada a relao Marx/Hegel no apenas se lana contra o
marxismo da Segunda Internacional como tambm da Terceira Internacional, postulada no
antagonismo clssico materialismo/idealismo para compreender esses dois tericos alemes.
Assim, ao debater o conceito de materialismo histrico, o conhecimento entendido como
sendo "objetivo" pelos indivduos de fato "universalmente subjetivo", em outras palavras,
entendidodessamaneiraportodoseles.
Aqui, a noo kantiana de realidade, entendida como sendo exterior ao indivduo e
consequentemente elemento apriorstico proveninente da humana e social, tematizada para
nortear a complexa problemtica da relao entre "matria" e "esprito", tendo sido postulado
que "o desafio conceitual seria o de pensar as formas de articulao e interao prprias a
cada realidade histrica entre as dimenses do "ser" e da "conscincia social". No que diz
respeito contraposio terica em relao ao determinismo econmico, Gramsci, pautado na
terminologia da filosofia da prxis, denota sua abordagem na soma das vontades coletivas que
objetivando fins para sejam elucidadas as previsibilidades desencadeadas por foras
permanenteseregularesnosprocessoshistricos.
Com efeito, essa noo de previsibilidade lana mo da metodologia cientfica que, ao
aplicar observao minuciosa em seus experimentos repetidos e a partir disso extrair certas
inferncias, compreende seu objeto de estudo de modo a possibilitar antecipaes acerca de
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comportamentos futuros que eventualmente venham a apresentar similitudes em relao
pesquisa outrora empreendida. Assim, a sntese filosfica do autor italiano, questionando a
expresso de determinismo voltado para a busca de uma "causa ltima" anloga prova da
existncia de Deus, entende que possivelmente a supresso de fatores componentes da
totalidade da esfera econmica a despeito de uma relao causal to restrita falha por no
equivaler ao procedimento cientficonatural insatisfatrio a tal pesquisa. Outra interessante
interpretao da teoria gramsciana compete ao tratamento dado liberdade individual de
modificar a histria, sendo explorada a concepo de que o homem pode imprimir
desequilbriosaodesenrolarconstantedosacontecimentossociaisehistricos.
Ora, dando seguimento ao tema emancipao individual, mas agora combinada com a
coletiva, Gramsci enfatiza em Cadernos do crcere o processo pelo qual ocorre a sntese
histrica acumulada no ponto particular representado pelo indivduo que, utilizandose de
atitudes racionais pode vir a disseminar seu objetivo, concretizando mudanas no plano
abrangente de seu contexto sciocutural de modo antes inimaginado, qual seja, a
transformao socialista preconizada pelo marxismo. De modo competente, o Prof. Juarez
Guimares explicita que a filosofia desse brilhante marxista italiano prioriza essencialmente
que "a superao do homemmassa, passivo, acrtico, incosciente de suas possibilidades
autnomas, passa a se identificar com o processo de transformao social". Interessante o
conceito chave de cidadania ativa a partir de uma perspectiva democrtica que vem a ser
elaborado de maneira sofisticada na expanso e universalizao conquistada por Gramsci, por
assimdizer,sobreseusesforosintelectuaiscomtemaaomarxismo.
No tocante aos princpios chaves da concepo praxiolgica elucidado que o plano
terico de Gramsci expande e torna mais rica a fora motora da luta de classes elaborada
conceituamente por Marx e Engels, dandolhe contribuies de substancial importncia por
enfocar as mediaes existentes entre as condies socioeconmicas e as vontades coletivas.
Estas, so moldadas e dependentes dos processos polticos e culturais que vieram a ocorrer e
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so permeados por questes de "conflitos nacionais, religiosos, de gnero ou ticos". Os
grupos que expressam tais vontades coletivas so os veiculadores das tendncias presentes
naquela conjuntura particular que resultar nas mudanas histricas tematizadas pela filosofia
da prxis gramsciana, ao invs da equivocada interpretao em que apresenta as classes
sociais em forma pura e assim limita a pluralidade das demais representaes sociais. O Prof.
Juarez Guimares deixa bem claro haver louvveis (o contato com a sofisticada sntese
gramsciana me leva a usar o termo) rearticulaes conceituais entre Marx e Gramsci com essa
explorao mais aprofundada e sistemtica das categorias polticas e culturais que so, de
acordo com este, "a ponte entre a estrutura econmica e a histria", alm de fortelecer a noo
marxista para o confrontamento de crticas que insistem em apontar o aspecto determinista e
inadequadonacompreensodosfatoresconcernentesahistriaeaeconomia.
10.Aimpotnciadaprxis:odeterminismosocietrioda"TeoriaCrtica"
Em seguida, a abordagem de Democracia e Marxismo dirige sua anlise para a
"Impotncia da Prxis: O deteminismo societrio da Teoria Crtica", com investigao que
traz discusso o papel de suma relevncia desempenhado pela Escola de Frankfurt para a
contraposio terica ao vulgar marxismo sovitico que, de modo desastroso, concentrou
empreendimento empobrecedor da cultura com razes advindas de Marx. Intelectuais da
"Teoria crtica" alavancam a problemtica levantada pelo marxismo acerca do capitalismo
num nvel em que seus verses economicistas e tcnicocientficas, bastante marcantes no
Diamat, so superadas mediante algumas das suas categorias centrais como "totalidade" e
"reificao" (oriundas da obra Histria e conscincia de classe, de Luckcs) que intencionam
fugir das armadilhas teleolgicas que se mostram como sendo falhas e historicamente
pervertidas, sobretudo se fundadas numa linearidade do progresso como a que se verificou na
tradio iluminista. bem verdade que a Escola de Frankfurt peca no momento em que exclui
a figura do proletariado decisivamente revolucionrio, assim como a conexo relacional entre
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o objetivo e o subjetivo no viraser da histria, embora seja balanceada pelos ganhos
evidenciados em sua empiricidade e ousadia especulativa que funcionam como norteadores do
empreendimentonotadamenteacadmicodesenvolvidopelostericosalemes.
Haja vista essa escolha de abordagem delineada pelos frankfurtianos, o determinismo
societrio se apresenta como erro fatal no qual Adorno, Horkeimer, Luckcs e outros
incorrem ao projetar uma resultante "coisificao" do indivduo como necessria e inevitvel
em razo dele estar imerso e ser desse modo atingido pelo universo de mercantilizao, a
ponto de uma similitude de diagnstico para com as vises de Weber ser apontada pelo
competente intelectual assinador dessa obra a que me esforo por comentar. Ora, a negao da
autonomia poltica no abrangente e complexo campo das relaes sociais abarcado, ao menos
em planificao terica, pela filosofia marxista, denota "fissura" edificao argumentativa
erigida por esses competentes e altamente citados pensadores do sculo XX, pois acredito ser
interessante citar que o caso em questo a crtica pontual dirigida ao tema da poltica na
dimenso do social, e no o questionamento da rica tenso criativa conquistada por esses
autoresemseustrabalhos.
Importante representante da "Teoria crtica" vide o carter fundante da obra
intitulada A situao atual da filosofia social e as tarefas de um Instituto de Pesquisa Social
(1931) Max Horkheimer. De maneira mais aperfeioada em relao s cincias
particulares e pura filosofia especulativa, ele preconiza o alinhamento de perspectivas
tcnicas e metodolgicas de socilogos, psiclogos, economistas, historiadores entre outros
estudiosos para atingir um plano de entendimento que fosse o mais abrangente possvel, uma
vez que a multidimensionalidade dos elementos tomados como objeto de explorao parece
sugerir semelhantes projetos audaciosos, caso se objetive desenvolver trabalhos dotados de
poder conceitual e nvel de explicitao satisfatrio. Ora, no ensaio Materialismo e moral,
Horkheimer combina crticas ao neokantismo com a exaltao da "racionalidade adequada ao
nvel atual de desenvolvimento", de modo a elaborar um pensamento que ir culminar numa
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concepo que nega inclinaes fatalistas, bem como a noo de uma vontade criadora da
histria, proveniente da abordagem caracterstica do idealismo, ser radicalizado em prol do
desenvolvimentoparticipativodos"momentossubjetivoseobjetivos".
J noutro trabalho, A propsito da polmica sobre a filosofia contempornea,
Horkheimer coloca em xeque a esperanosa tendncia dos proletariados revoluo, no
sentido de estebelecer um cerco "metafsica do proletariado" e sua tensa relao
sujeito/objeto a qual possui conexo intrnseca com a projeo terica lanada na sociedade,
assim como caminha conforme a manipulao humana exercida ao prprio humano numa
lgica anloga tentativa cientficonatural em dominar a natureza de seu objeto de estudo.
Ademais, golpe incisivo de imensa maestria desferido na f racionalista, baseada em seu
progresso linearmente evolutivo, e versado como sendo "a projeo narcsica na eternidade do
seuprprioeucondicionadohistoricamente".
O pensador alemo da tradio de Frankfurt ilustra ainda na obra O Estado autoritrio
(1942), que a "socializao dos meios de produo e a sua subordinao racional aos fins
humanos" expressa um singular momento de superao do conceito progressista caracterstico
da teleologia hegeliana, tematizada atravs da evoluo do esprito rumo ao seu formato
absoluto. A seguir, Horkheimer apresenta a primeira falha que Marx eventualmente cometera
em seu memorvel O Capital, ao dizer que ao invs da iminncia revoluionria do
proletariado ser desencadeada pelas inevitveis crises econmicas, com motivos ligados a
"pauperizao crescente da classe operria em todos os pases capitalistas", na verdade teria
ocorrido inversamente. Essas crticas liberais consistem em compreender Marx como autor
tendo como pressupostos conceituais os no reais valores da justia e da liberdade, de modo a
ir alm em seu raciocnio com a adoo de uma perspectiva teolgica para demonstrar haver
outro modelo, por assim dizer, no qual os antagonismos desses princpios (apesar de aparente
prevalecncia)noseriamaverdadeltima.
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Theodor W. Adorno, outro integrante da Escola de Frankfurt, elabora em conjunto
com Max Horkheimer um trabalho cujo ttulo j deixa bem claro qual ser seu ponto de
discusso crtica, resultante de investigao incisiva, do que veio a ser uma influncia
marcante no processo de formao do pensamento ocidental moderno, qual seja, Dialtica do
iluminismo. Nesse estudo, os autores alemes investem sua linha argumentativa para
demonstrar uma de suas mais puras expresses do determinismo societrio, descrevendo uma
dimenso iluminista totalitria em que a mercatilizao do pensamento conduz o indivduo a
noo que o garante no exercer qualquer modificao nos hegemmicos mecanismos
econmicos, suprimindo assim sua ao criativa. Assim, o conceito de reificao abordado na
obra, com tema aos perversos resultados do pensamento iluminista (fundadas na
instrumentalidade da razo e na dimenso civilizatria do capitalismo), utilizado como
instrumento para questionamento do marxismo sovitico por este ocasionar degenerao de
concepesquesefiamnapoucoprecavidanoodeobjetivaodahistria.
Ora, em "Desconstruo e crtica" observase que as reflexes concebidas pelos
intelectuais da "Teoria crtica" comeam a ser problematizadas mediante a obra Dialtica
negativa (1966), do prprio Adorno. Essa denominada "dialtica negativa" possui como
aspectos caracatersticos a negao a quaisquer dimenses que priorizem em sua anlise as
noes sistmicas e totalizantes, que visam abarcar fenmenos sociais partindo desses
pressupostos tericos, sendo a fuso base/superestrutura ocorrida na sociedade moderna
evidncia desse paradigma descartado por Adorno. Vale frisar tambm que este refuta
abordagens ontolgicas por entendlas como "um objetivismo e uma apologia do mundo
existente", condenando dessa forma o existencialismo de Martin Heidegger, bem como ao
pensamento de JeanPaul Sartre com sua resistncia em estar preso a noo idealista do
sujeitocomimpressesprovindasda"categoriakierkegaardianadadeciso".
Em comparao com a tentativa de superao do dualismo sujeito/objeto preconizada
por Antonio Gramsci, mediante sua "filosofia da prxis", fica bastante claro que o
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determinismo sociolgico defendido por Adorno tomado em considerao junto a sua
"incapacidade de formular uma teoria antideterminsta da histria", em razo da imposio do
objeto em relao ao subjetivo prpria de sua decidida negao a tendncias totalizantes. Esse
conceito vem a ser acolhido posteriormente por crticos como uma "filosofia da histria
negativa", em virtude de desconsiderar os pensamentos e aes dos sujeitos coletivos na
histria, numa priorizao da histria com fins desastrosos e "danados" em detrimento da
visootimistada"salvao"outroraimaginadaporMarx.
11.Althuser:anegaodaprxiseodeterminismoestruturalista
Chegado o captulo "Althuser: a negao da prxis e o determinismo estruturalista" os
esforos deste filsofo, concentrados na tentiva de compreender o marxismo como uma
cincia determista baseada na autonomia do campo das ideias e na reelaborao terica e
categorizada do real, cuja importncia vem a ser evidenciada na elaborao de pea essencial
no "desenvolvimento do chamado marxismo ocidental". Norteado pela audaciosa inteno de
combinar a sua mais elevada habilidade filosfica com radicalismo poltico, estando imerso
no perodo ao qual era observado a crise do marxismoleninismo assim como fora postulado
por Stalin, Althuser vai formular uma teoria de considervel distino tomado como base o
pensamentooriginaldeMarx.
Com efeito, o filsofo marxista do sculo XX enfatiza reflexes contrrias s escolas
existencialistas, sobretudo a encabeada pelo clebre francs JeanPaul Sartre, com seus
fundamentados primordiais ligados ao subjetivismo, bem como prima pela abordagem
estruturalista vinculada com as cincias humanas no contexto da Frana. Conforme salienta
Franois Dosse, tratase de "uma verdadeira aposta que equivale a colocar o marxismo no
centro da racionalidade contempornea ao preo do seu desligamento da prxis, da dialtica
hegeliana, a fim de suplantar a vulgata stalinista em uso, fundada num economicismo
mecnico". Desse modo, em sua obra de maior contribuio para com o pensamento da
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cultura marxista, Ler O Capital, pretende focalizar o aspecto prtico presente nos trabahos de
Marx, sendo que a essa deciso inclua a declarada averso ao historicismo advindo de Hegel,
alm da oposta compreenso acerca do humanismo gramsciano que aqui, no entender de
Althusser,deveser"ahumanismo".
Tais so alguns dos pontos essenciais estabelecidos pelo filsofo francs que tinha em
mente a construo de uma teoria cientfica prpria e especfica do marxismo, chegando para
isso a sincronizar sua reflexo filosfica com o pensamento crtico de Friedrich Engels. Para
tanto, Athusser concebe uma articulao entre a "infraestrutura" e as variadas dimenses da
"superestrutura" no sentido de questionar a mecanicidade da relao a qual ocorre entre essas
duas instncias. Deve ser ressaltado que apontado um impasse presente na concepo
marxista da histria sintetizada por este pensador, uma vez que a estruturao que exerceria
ou no controle dos processos dos modos de produo falha em elucidar como vem a correr
suatransformao.
Apresentados de maneira breve alguns dos principais conceitos tematizados por
Althusser, assim como o contexto no qual estava imerso, o seguimento de Democracia e
Marxismo centra sua anlise em "Crtica do Humanismo" como ponto de partida para
apreenso de parcela da elaborao criativa deste pensador. Discusso capital na coletnea de
ensaios intitulada A favor de Marx (1964), o embate entre marxismocincia e
humanismoideologia emerge para ser tratado nessa investigao filosfica levada adiante
pelo autor francs que, tendo sido minuciosamente explicitado pelo Prof. Juarez Guimares,
comea por expor os vrios nveis da denominada "prtica social". Dessa maneira, esta deve
ser num primeiro momento entendida como composta dos nves da produo, da prtica
poltica, da prtica ideolgica e da prtica terica, sendo esta a tentativa de autonomizao da
teoriacientficaemrelaosprticas.
Assim, exposto o eventual atraso do materialismo dialtico de cunho filosfico
tendo como ponto de referncia o avano alcanado pelo materialismo histrico de vis
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cientfico argumentado como ocorrido em razo das revolues cientficas exigirem
concentrao e dedicao terica combinada ao aperfeioamento histrico com fito a
tornaremnas claras e significativas o bastante