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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA, ABASTECIMENTO E DESENVOLVIMENTO RURALEVENTO: Reunião Ordinária e deAudiência Pública
N°: 0442/06 DATA: 19/4/2006
INÍCIO: 10h25min TÉRMINO: 13h12min DURAÇÃO: 02h47minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h47min PÁGINAS: 60 QUARTOS: 34
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
NELSON VIEIRA FRAGA FILHO – Consultor da Comissão de Agricultura, Pecuária,Abastecimento e Desenvolvimento Rural.
SUMÁRIO: Apreciação de requerimentos e projetos de lei. Exposição do Dr. Nelson VieiraFraga Filho sobre pacote agrícola do Governo Federal e alcance das medidas para o setoragropecuário.
OBSERVAÇÕES
Há exibição de imagens.Há intervenção fora do microfone. Inaudível.Há oradores não identificados.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 0442/06 Data: 19/4/2006
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Havendo número
regimental, declaro abertos os trabalhos da 4ª reunião ordinária da Comissão de
Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos
Deputados, convocada para discussão e votação das matérias constantes da pauta.
Solicito ao Sr. Secretário que proceda à leitura da ata da reunião anterior.
O SR. DEPUTADO FRANCISCO TURRA - Sr. Presidente, peço a dispensa
de sua leitura.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Em discussão a
solicitação do Deputado Francisco Turra para dispensa da leitura da ata da reunião
anterior. (Pausa.)
Não havendo quem queira discutir, coloco-a em votação. (Pausa.)
Aprovada.
Em discussão a ata. (Pausa.)
Não havendo quem queira discutir, encerrada a discussão.
Em votação.
Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como estão. (Pausa.)
Aprovada.
Temos agora uma oportunidade ímpar. O Deputado Francisco Turra está
lançando uma obra extremamente importante para o setor, por isso passo a palavra
a S.Exa.
O SR. DEPUTADO FRANCISCO TURRA - Sr. Presidente, em primeiro lugar,
agradeço a V.Exa. a generosidade.
Considerei este um momento interessante para o lançamento do livro
Agrocenários: Desafios e Oportunidades, em que se faz uma análise do que
acontecerá nos próximos 20 anos no que diz respeito ao consumo de alimentos,
aumento da população e hábitos de cada nação do mundo. Nele são analisados 103
produtos. Mostra-se o crescimento da fruticultura e a incorporação de frutas aos
hábitos alimentares, pelo desejo da longevidade; a redução no consumo de proteína
animal; enfim, as oportunidades que tem um país produtor. Por exemplo, em 2025,
teremos 1,1 bilhão de habitantes a mais no planeta. A Europa terá 40 milhões a
menos de pessoas do que tem hoje, uma população mais longeva, porém com
hábitos e condições de adquirir produtos mais elaborados.
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Há detalhes muito interessantes nessa pesquisa. Talvez o ineditismo da obra
nos faça olhar para frente e não para o que já aconteceu. Analisa-se produto por
produto, hábitos alimentares, crescimento demográfico, renda de cada país.
Deixamos claro os cenários em que o Brasil pode apostar: Leste Europeu, África e
Ásia. Para lá devemos destinar nosso potencial de produtor de alimentos. Citam-se
ainda as reservas hídricas e o microclima. O País tem todas as condições para ser
produtor.
Às vezes vejo a impaciência de V.Exa. e de outros colegas ao verem como
nosso potencial é esquecido pelos governantes, que demoram para tomar decisões.
Esquecem-se de que essa é a nossa riqueza.
Peço aos colegas que recebam essa obra como contribuição — autografei
cada um dos exemplares destinados a V.Exas. —, por amor a essa causa.
Esta Comissão nos dá a oportunidade de levar adiante nosso ideal.
Muito obrigado.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, neste momento,
aplaudo e cumprimento o colega Francisco Turra, um estudioso da matéria, homem
que se dedica não apenas ao debate, mas a promover revisão bibliográfica, levantar
dados, aprofundar com consistência cada um dos itens analisados. Essa atitude tem
importância capital.
O livro não deve ser distribuído apenas aos integrantes da Comissão de
Agricultura. Essa realidade tem de chegar às escolas para que as crianças e os
jovens do País tenham conhecimento da importância da agropecuária, das suas
dificuldades, dos problemas que enfrenta e de quão importante é a sobrevivência
desse setor, sustentáculo da Nação.
Precisamos, sim, formar discípulos, criar consciência na juventude brasileira.
Assim como conscientizamos todos da necessidade de preservar o meio ambiente,
precisamos conscientizar os jovens, cidadãos urbanos que imaginam que o leite sai
da torneira ou que a soja simplesmente é colhida no campo, sem qualquer esforço
do trabalhador rural. Por se tratar de fonte de pesquisa, considero fundamental a
distribuição desse livro nas escolas e universidades.
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Há 15 dias recebi um exemplar e tive a oportunidade de ver a dedicação do
autor a cada um dos itens tratados.
Além de cumprimentar S.Exa., quero dizer que esse trabalho tem importância
ímpar não apenas por divulgar o tema, mas por apresentar dados, argumentos e
consistência para o debate no setor da agropecuária brasileira, que ultimamente
vem sendo prejudicado, uma vez que se diz que o setor precisa apenas de apoio
para renegociação de dívidas ou, ainda, para não saldá-las; que quer sempre a
muleta do Governo, sem que se mostre as oportunidades criadas pelo setor e o
resultado do agronegócio para a Nação.
Sr. Presidente, aplaudo o Deputado Francisco Turra pela iniciativa. Muitos de
nós podíamos nos preocupar em debater o assunto com os vários segmentos da
sociedade que não têm o menor conhecimento das dificuldades enfrentadas pelo
setor e de sua importância para o cenário nacional.
Muito obrigado.
O SR. DEPUTADO FRANCISCO TURRA - Eu é que agradeço.
O livro autografado será entregue a cada um dos senhores. Mandamos agora
apenas uma amostra.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Deputado Francisco
Turra, parabéns pela iniciativa. A Comissão coloca-se à inteira disposição de V.Exa.
para divulgação deste importante trabalho.
Com a palavra o Deputado Nélio Dias.
O SR. DEPUTADO NÉLIO DIAS - Sr. Presidente, quero fazer minhas as
palavras proferidas pelo Deputado Ronaldo Caiado ao parabenizar o Deputado
Francisco Turra pelo lançamento do livro Agrocenários: Desafios e Oportunidades.
Nele S.Exa. relata as perspectivas da agricultura continental e, no final, apresenta o
posicionamento da agricultura brasileira em relação a esses cenários.
Parabenizo ainda a Comissão por ter contribuído para a elaboração de
trabalho tão importante para a agricultura brasileira.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero ainda fazer um registro nesta
Comissão que considero de suma importância para a agricultura brasileira. No início
do ano, na Comissão de Mérito, fui Relator de um projeto que repactua o débito do
Nordeste. Fui também autor de um substitutivo aprovado por unanimidade por esta
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Comissão. Assim aconteceu na Comissão de Finanças e Tributação e na Comissão
de Constituição e Justiça. Tendo sido aprovada, a matéria foi encaminhada ao
Senado Federal, sob o número 142, de 2005. Lá, recebeu apenas 5 votos contrários.
A matéria foi então encaminhada ao Palácio do Planalto, a fim de receber a sanção
do Presidente da República. Mas qual não foi a nossa surpresa com o veto de
S.Exa. a esse projeto, que nasceu da bancada do Nordeste, composta por 156
Deputados, quase um terço do número de Deputados Federais? Mas o Sr.
Presidente editou a Medida Provisória nº 285, que começa a trancar a pauta na
sexta-feira, dia 21.
Nós, nordestinos, esperamos durante 42 dias a nomeação de um Relator para
as causas do Nordeste. Na Comissão de Agricultura, entendemos por bem separar o
Nordeste do restante do País, por causa de suas adversidades climáticas, sua
história de 500 anos e os relatos dos jesuítas que aqui chegaram em 1550. Até a
data de hoje, o Nordeste não foi considerado uma região que tem a adversidade
climática como regra, e não exceção.
Pois bem. Ontem foi um dia muito triste para a bancada do Nordeste, Sr.
Presidente, Srs. Deputados. Foi nomeado Relator da Medida Provisória nº 285 um
Deputado do Rio Grande do Sul — Deputado competente, contra quem nada tenho,
nem contra a sua região, da qual sou admirador. O Presidente desta Casa, um
nordestino, nomeou um gaúcho para interpretar a seca do Nordeste.
Vejam, Sras. e Srs. Deputados, a que ponto chegamos. Vimos a esta Casa
para representar nosso Estado e nos reunimos para representar a nossa região. Por
isso, há a bancada do Nordeste, a bancada do Sul, a bandada do Sudeste, a
bancada do Centro-Oeste. Elas existem para discutir as peculiaridades e os
problemas da região.
Fiquei pasmo, Sr. Presidente, mais ainda por faltarem apenas 2 dias para
apresentação do relatório.
Sei quão capaz é o Deputado Paulo Pimenta de entender a seca do Nordeste,
que tem 500 anos, em 6 meses, 3 meses, 2 meses, 1 mês ou em uma semana, mas
nunca em 2 dias.
Sr. Presidente, o Nordeste chegou ao fundo do poço ao ser interpretado pelo
Rio Grande do Sul. É o mesmo que eu ser nomeado para relatar o problema do
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arroz no Rio Grande do Sul ou um problema do Paraná sem conhecê-lo ou
vivenciá-lo.
Garanto que se formos conversar com o Relator sobre a jurema-preta, em 2
dias não esgotaremos o que ela representa para o semi-árido.
Sras. e Srs. Deputados, o Nordeste tem 156 Deputados, mas não se
encontrou um para relatar a matéria. O Presidente da Câmara dos Deputados achou
que o Relator deveria ser de outra região.
Ficam aqui o meu registro, o meu protesto e apelo à Comissão de Agricultura
para que veja o que pode ser feito. Será realmente um caos. Não acredito na
capacidade de nenhum ser humano de absorver os problemas de uma região em 2
dias, de relatar 7 secas ocorridas em 15 anos ou 200 secas havidas em 500 anos, a
fim de se fazer justiça.
Sr. Presidente, aqui ficam o meu protesto e a minha palavra de nordestino.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Obrigado, Deputado Nélio
Dias.
Com a palavra o Deputado Waldemir Moka.
O SR. DEPUTADO WALDEMIR MOKA - Sr. Presidente, primeiramente, digo
ao eminente Deputado Turra que só agora estou tomando conhecimento de que seu
nome é Francisco Sérgio Turra. Não sabia que Sérgio fazia parte do seu nome.
Esta é uma Comissão privilegiada, Sr. Presidente. Temos aqui ex-Secretários
de Estados. Estão aqui os Deputados Leonardo Vilela, que volta ao convívio da
Comissão, e Nélio Dias, brilhante Parlamentar.
O Presidente Aldo Rebelo que me desculpe, mas foi infeliz na escolha do
Relator da medida provisória. O Deputado Nélio Dias realizou trabalho que durou
muito tempo, com o envolvimento de toda a bancada do Nordeste, e agora nos dá a
informação de que o Relator é o Deputado Paulo Pimenta. Trata-se, sem dúvida
nenhuma, de um extraordinário Parlamentar, mas falta a S.Exa. o mais importante:
conhecimento específico sobre a questão climática do Nordeste.
Quero somar-me, primeiro, ao protesto do Deputado Nélio Dias. Sem sombra
de dúvida, de alguma forma esta Comissão deveria fazer chegar ao Presidente a
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sua insatisfação. Projeto que nos é tão caro, a nosso juízo, à primeira impressão que
se tem, é tratado com descaso pelo Presidente da Câmara dos Deputados.
Quero dizer ao eminente Deputado Francisco Turra que eu vou ler seu livro,
logo depois de acabar de ler o livro do Deputado Xico Graziano, O Carma da Terra.
Estou tornando-me um especialista, graças à contribuição de S.Exas. Por isso digo
que esta é uma Comissão privilegiada. Temos aqui os Deputados Xico Graziano,
Francisco Turra e Ronaldo Caiado, especialistas na área, a exemplo de Moacir
Micheletto, Zonta e tantos outros.
Sr. Presidente, agradeço a todos o convívio. Um caboclo pantaneiro que
nenhuma intimidade tinha com o chamado agronegócio hoje consegue entender
algumas coisas de setor tão importante para a Nação. Fundamentalmente,
parabenizo o grande brasileiro Francisco Turra por mais uma contribuição que dá ao
segmento agropecuário do País.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, diante da
exposição feita pelo Deputado Nélio Dias, gostaria de fazer uma proposta. A
Comissão de Agricultura deve fechar questão, num gesto suprapartidário. Se o
Relator, na próxima semana, não apresentar como projeto de conversão o projeto do
Deputado Nélio Dias, devemos encaminhar pela rejeição do projeto de conversão e
destacar o projeto do Deputado Nélio Dias. Tenho certeza absoluta de que seremos
vencedores. Basta um trabalho articulado em todas as bancadas. O projeto teve
apoio da Comissão de Agricultura e de todas as Comissões por que passou na
Casa; no plenário do Senado Federal, teve apoio de quase a totalidade da Casa,
com exceção de 5 Senadores, o que mostra que temos condições de aprová-lo em
destaque.
Precisamos trabalhar para ver se caberá ao partido do Deputado Nélio Dias o
destaque do seu projeto anterior, que foi apresentado como emenda à Medida
Provisória nº 285. E todos nós marcharemos com o projeto do Deputado Nélio Dias
destacado. Acredito que essa será a resposta que daremos.
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É preciso que se respeite os Parlamentares que durante todos esses meses
se debruçaram sobre a matéria, Deputados de diversas siglas partidárias, e a
maneira correta com que o Deputado se portou, ouvindo todos, a fim de solucionar a
crise do Nordeste brasileiro.
É a proposta que deixo. Desde já, vou trabalhar para que no PFL, o meu
partido, fechemos com o Deputado Nélio Dias, caso seu projeto de conversão não
seja aceito pelo Relator.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Antes de passar a palavra
ao próximo orador, coloco em votação a proposta do Deputado Ronaldo Caiado de
apoio ao projeto do Deputado Nélio Dias referente às dívidas do Nordeste.
Em votação a proposta.
Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram.
(Pausa.)
Aprovada por unanimidade.
(Não identificado) - Sr. Presidente, Srs. Deputados, a minha intervenção é
no sentido de apresentar minha solidariedade ao Deputado Nélio Dias, que fez um
excelente trabalho. Vamos apoiá-lo. Ao mesmo tempo, reforçamos nosso total apoio
à proposta do Deputado Ronaldo Caiado.
Trabalharemos no PSDB para que o partido feche questão em torno do
projeto de conversão do Deputado Nélio Dias.
Mesmo na ausência do Deputado Francisco Turra, cumprimento S.Exa. pela
brilhante iniciativa de lançar um livro que aborda os desafios e oportunidades do
agronegócio brasileiro no momento em que o setor passa pela pior crise dos 500
anos do Brasil.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Com a palavra o
Deputado Zonta.
O SR. DEPUTADO ZONTA - Sr. Presidente, nobres colegas Parlamentares,
visitantes, esta reunião vem ao encontro de uma discussão que tivemos ontem no
sentido de fazer repercutir a situação do agronegócio.
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As medidas editadas estão sendo publicadas, mas ainda não foram
consumadas pelo Governo.
A reunião foi aberta com a oferenda a cada um de nós de um exemplar do
trabalho do brilhante Parlamentar e homem público Francisco Sérgio Turra, a quem
cumprimento efusivamente. Orgulha-me ter S.Exa., que foi Ministro da Agricultura,
em nosso meio. Acima de tudo, orgulha-me tê-lo como amigo.
Em nome da Frente Parlamentar do Cooperativismo, se me permitem, externo
minha solidariedade ao Deputado Nélio Dias e aos agricultores do Nordeste pela
impensada decisão do Presidente da Casa de indicar para Relator um Parlamentar
que, apesar das suas qualidades — não se tire seu mérito —, está distante da
realidade do Nordeste.
Se me coubesse essa responsabilidade, na condição de catarinense, imagino
de quanto tempo precisaria dispor para tentar entender a situação, apesar de todas
as orientações recebidas, para vivenciar um pouco mais o processo. Pelo menos
uns 2 meses seriam necessários.
É impossível aceitar que em 2 ou 3 dias a Medida Provisória nº 285 vá a
plenário relatada por um Deputado do extremo sul, bem distante, portanto, do
Nordeste.
Nossa solidariedade ao encaminhamento do Deputado Ronaldo Caiado e ao
Deputado Nélio Dias, que tem sido um baluarte.
As questões do Nordeste são as questões do Brasil. Podem contar com todo
o meu apoio e também com o da Frente Parlamentar do Cooperativismo.
Sr. Presidente, gostaria também de registrar mais uma ação desses que se
dizem seguidores de movimentos sociais: a invasão da estação de pesquisa da
EMBRAPA, em Ponta Grossa, no Estado de V.Exa. Não podemos mais admitir esse
tipo de atitude. Ou se cumpre a Constituição ou se instala a anarquia no Brasil. No
Rio Grande do Sul, foram destruídos laboratórios, agora a estação de pesquisa da
EMBRAPA.
Afinal, este é um país sem leis?
É gravíssima a atitude dessa gente. A prosperarem essas invasões, o direito
de propriedade e o direito à individualidade estarão feridos de morte por grupos que
não têm reconhecimento formal da legislação nacional.
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A Comissão de Agricultura deveria se pronunciar perante a imprensa e o
Governo, exigindo do mandatário maior deste País o cumprimento constitucional das
normas e regras que cabem a cada cidadão cumprir.
Com relação ao Orçamento para 2006, Sr. Presidente, depois de muita
celeuma, conseguimos ontem aprová-lo.
No que se refere à defesa da agropecuária, mais uma vez se evidenciava a
necessidade de aumento de recursos, o que só foi possível fazer graças à emenda
da Comissão de Agricultura da Câmara. Constavam do Orçamento 52 milhões de
reais, mas graças à emenda da Comissão, de 61 milhões de reais, houve um
aumento para 114 milhões de reais. Pretendíamos receber 200 milhões de reais, e
fomos atendidos em 114 milhões de reais. Houve um avanço? Houve, mas que sirva
de estímulo para que continuemos a busca de, no mínimo, 200 milhões de reais.
O anúncio de um novo foco no Estado de Mato Grosso do Sul mostra que
devemos continuar a investir mais fortemente. O Brasil não vem fazendo o dever de
casa, está brincando com fogo e daqui a pouco estaremos todos queimados. Então,
não dá mais para admitir tanta demora.
Registre-se também, lamentavelmente, que a emenda para assistência
técnica, Deputado João Grandão, recebeu apenas 9 milhões de reais de acréscimo.
Isso é lamentável, porque há um contingente muito grande de pessoas para ser
atendido, justamente aquelas que mais precisam. Vale ressaltar ainda que área de
pesquisa também não foi adequadamente atendida.
De resto, é melhor aprovar o Orçamento desse jeito do que não ter
Orçamento. Teremos, sim, de buscar novas etapas. Entendemos também que um
diálogo aberto, como o que aconteceu ontem, vai nos possibilitar muitas discussões
a respeito desses temas, muitos deles cruciais, para salvaguardar o agronegócio
brasileiro.
Muito obrigado.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Solicito à Mesa preferência para o
Requerimento nº 435, de 2006, tendo em vista que se trata de assunto relativo às
atuais medidas anunciadas pelo Governo. Na verdade, os produtores rurais não
tiveram conhecimento nenhum, e o sistema financeiro alega que não houve votação
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no Conselho Monetário Nacional, nem resoluções foram baixadas pelo Banco
Central.
Por isso, peço apoio aos nobres pares para a aprovação do Requerimento nº
435, de 2006. Solicito que dêem a ele preferência, que seja votado em primeiro
lugar, e que o Dr. Nelson Vieira Fraga Filho faça um resumo sobre o que foi
apresentado pelo Palácio do Planalto no dia 6 de abril, levando-se em conta que,
infelizmente, os produtores rurais não foram devidamente esclarecidos, nem
atendidos. Além disso, é necessário saber as limitações das medidas apresentadas
pelo Governo.
Era isso, Sr. Presidente.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Em discussão o
requerimento para inversão de pauta, de autoria do Deputado Ronaldo Caiado.
Com a palavra o Deputado Moacir Micheletto.
O SR. DEPUTADO MOACIR MICHELETTO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, quero também fazer um relato, embora alguns Deputados já tenham
falado a respeito do assunto, especialmente os que estiveram ontem no Palácio do
Planalto para tratar de um pacote para a agricultura.
Devo dizer a V.Exa., Sr. Presidente, e aos demais colegas que aquela
Comissão foi muito bem representada pelo seu Segundo Vice-Presidente, Deputado
João Grandão. Temos de saudá-lo pela condução daquele debate.
Ficou acertado, e estou apenas reforçando, para que fique gravado — e aqui
não há ordem de prioridade —, o envio das instruções normativas aos bancos. E há
pouco o Presidente da OCEPAR, Dr. João Koslovski, bastante preocupado,
ligou-nos porque essas instruções ainda não haviam chegado aos bancos. E ontem
esse ponto foi bastante debatido na Casa Civil.
Não adianta, então, o Governo passar uma notícia para a mídia, quando
todos sabem da existência do pacote, mas a burocracia é tamanha que, tenho
certeza, irá levar mais de 30 dias até que chegue ao produtor rural o que foi definido
em termos — vejam bem — de pacote, com todo o empenho do Ministro Roberto
Rodrigues.
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Foi solicitado também à área econômica do Governo mais atenção para com
o setor, tendo em vista a crise que atravessa a agricultura e o montante de dinheiro
do programa MODERFROTA. Hoje, ninguém compra trator, ninguém compra a
colheita, ninguém faz recuperação de máquinas, porque é impossível fazer isso. Há
recursos, sim, no MODERFROTA, enquanto em outros programas, como o
MODERFLORA, falta dinheiro.
Essa reivindicação também foi abordada ontem, e a Comissão de Agricultura
tem de reforçar o pedido de alocação de recursos do MODERFROTA para outros
programas no Ministério da Agricultura.
Outro item debatido naquela reunião, e que tem a ver inclusive com o nosso
Estado, o Paraná, foi a política e o plantio de trigo, com ressalvas sobre as
instruções e o preço mínimo a serem lançados pelo Ministério, segundo informações
recebidas. Não é possível que, em meados de maio e, talvez, até julho, em alguns
lugares no Paraná, com a colheita do trigo sendo feita, não se saiba ainda o valor do
preço mínimo.
O mais grave, Sr. Presidente, e a Comissão de Agricultura já chamou atenção
para isso, é que hoje temos, segundo levantamentos, mais de 25 mil produtores
rurais no CADIN, em função da dívida ativa que já chegou ao Tesouro Nacional.
Segundo informações são mais de 60 mil agricultores nessa situação.
Temos, então, de encontrar uma saída para ajudar os agricultores, trazendo
de volta a normalidade ao processo, ou seja, renda e trabalho para todos.
Em relação às cooperativas, como mencionou o Deputado Zonta, as dívidas
serão cobradas via cotas-partes. A Casa Civil, os Ministérios envolvidos e a OCB
vêm trabalhando juntos para resolver esse problema, ou seja, as dívidas das
cooperativas.
Ficou acertado ainda, com a presença do nosso 2º Vice-Presidente, que, na
primeira semana de maio, faremos uma avaliação daquilo que discutimos ontem,
para que, de fato, o processo se torne mais ágil em relação a esses problemas que
acabamos de citar aqui.
Para finalizar, quero manifestar meu repúdio e minha indignação, como
brasileiro e paranaense, pelas invasões que vêm sendo levadas a efeito contra um
centro de pesquisa da EMBRAPA, em Ponta Grossa, referência mundial. No oeste
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do Paraná, a COODETEC também vem sendo ameaçada. Isto sim merece o repúdio
de todos os brasileiros.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Nada mais havendo a
discutir, passo à votação do requerimento para inversão de pauta, solicitado pelo
Deputado Ronaldo Caiado.
Em votação. (Pausa.)
Aprovado.
O Item 5 passa a ser o primeiro, uma vez que foi aprovada a inversão de
pauta.
Em discussão as matérias constantes da pauta.
Item 5.
Requerimento nº 435/06, do Deputado Ronaldo Caiado, que solicita seja
realizada audiência pública hoje, logo após o encerramento da pauta, para ouvir o
Dr. Nelson Vieira Fraga Filho a respeito do pacote agrícola anunciado pelo Palácio
do Planalto, em 6 de abril de 2006, e o alcance das medidas para o setor
agropecuário.
Com a palavra o autor do requerimento.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, serei breve.
Quero pedir o apoio de todos os Parlamentares para que possamos aprovar o
requerimento, tendo em vista que a pauta hoje está limitada a apenas 3 projetos de
lei, e ter a possibilidade de discutir ainda neste final de manhã e início de tarde o dito
pacote agrícola anunciado pelo Palácio do Planalto, que, na verdade, tem trazido a
todos os produtores rurais muita inquietação e angústia. A mídia noticia que o
produtor rural tem sido atendido com 15 bilhões de reais, quando, na base, o
produtor não encontra solução para seus problemas.
Esse quadro de insegurança, de intranqüilidade e de irritação vem
aumentando em proporções inimagináveis, e se não tomarmos medidas imediatas a
reação será incontrolável. Não temos avaliado bem o quadro no interior. O setor
produtivo rural, da maneira como vem sendo tratado nos últimos 3 anos, está
chegando à beira do desespero. Portanto, ele precisa ser tratado com maior respeito
pelo Governo e pelas autoridades competentes.
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A meu ver, daremos início a isso com o projeto de lei do Deputado Nélio Dias
e com a Medida Provisória nº 285, na próxima semana, e, hoje, ouvindo o Dr. Nelson
Vieira Fraga Filho, além de tomar atitudes emergenciais para saber se o Governo
quer atender o setor rural ou quer fazer marketing em torno de medidas que não
ocorrem. Comprometeu-se em Rio Verde a liberar valores para a comercialização de
grãos, o que nunca ocorreu. A liberação de garantias aos produtores rurais e a
retirada, como o Deputado Moacir Micheletto aqui citou, dos produtores do SERASA
e do CADIN também nunca ocorreram. O que vemos é o Governo empurrar os
problemas com a barriga e o setor cada vez mais passar por momentos de
delicadeza e inviabilização.
Peço o apoio de todos para a aprovação do requerimento.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Com a palavra o
Deputado Leonardo Vilela para discutir o requerimento.
O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Sr. Presidente, desejo
cumprimentar o Deputado Ronaldo Caiado pela oportunidade do seu requerimento e
manifestar meu total apoio à aprovação do mesmo, uma vez que o setor
agropecuário do Brasil vive sua pior crise.
O pacote de medidas editadas pelo Governo Federal é pífio, visa apenas
enganar a população. Precisamos esclarecer essas questões, e o melhor fórum para
isso é esta Comissão.
Portanto, fica o meu apoio à aprovação do requerimento do Deputado
Ronaldo Caiado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Encerrada a discussão.
Em votação o Requerimento nº 435/06, do Deputado Ronaldo Caiado.
Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como se encontram.
(Pausa.)
Aprovado.
É extremamente importante que entendamos o que é o pacote agrícola, o que
ele atende e o que não atende.
Sendo essa pauta fruto de acordo feito com todas as Lideranças da
Comissão, peço a todos que votemos o mais rapidamente possível os requerimentos
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e projetos, a fim de que possamos repassar esses dados, extremamente
importantes. Temos um trabalho muito bem elaborado e seria bom que os
Deputados o levassem para suas bases, a fim de discutir se esse pacote atende ou
não o setor. S.Exas. podem chegar às bases com dados concretos.
Ontem, nossa assessoria ficou a noite toda fazendo esse trabalho junto com a
CNA, a OCB e outras entidades que nos ajudaram. Fez um grande trabalho, e é
muito importante que a ele todos tenham acesso.
Como esse pacote ainda não foi normatizado, muito pouco temos a discutir, a
não ser os dados técnicos contidos nele, feito por especialistas, em que se faz um
diagnóstico do setor, mostrando todas as perdas. Não é um material muito extenso,
em meia hora podemos apresentá-lo e discutir.
Sugiro que aprovemos o mais rápido possível todos os requerimentos. Todos
os projetos, como disse, são frutos de acordo.
Requerimento nº 429/2006, do Deputado Ivan Ranzolin, que solicita seja
convidado o Ministro da Fazenda a comparecer a esta Comissão para expor a
política do Ministério para o setor agropecuário brasileiro, a recomposição dos
financiamentos rurais e a situação da cadeia produtiva do setor madeireiro nacional.
Com a palavra o autor do requerimento.
O SR. DEPUTADO IVAN RANZOLIN - Caro Presidente, nosso requerimento
tem por base o que vem sendo debatido nesta Comissão há algum tempo. Ele foi
inspirado em várias reuniões promovidas nos Estados de Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, quando agricultores, madeireiros, moveleiros e também membros
dos sindicatos de empregados desses setores fecharam várias rodovias em
protesto. E a grande reclamação dessas categorias é a de que o desemprego está
ocorrendo em massa. O setor madeireiro, na região do planalto catarinense, já
registra 3 mil desempregados, além de outros 2.500 trabalhadores em férias
coletivas.
No setor da agricultura — o Deputado Zonta apresenta requerimento nesse
sentido e, com certeza, vai subscrever nosso requerimento —, a situação é
lamentável sob todos os aspectos. Santa Catarina não é diferente do Paraná, Mato
Grosso ou Goiás. Enfim, revela-se o desespero dessa categoria que está deixando
de se organizar para o plantio das próximas safras. E, também, como efeito dominó,
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em decorrência dos problemas com a madeira, os moveleiros de Santa Catarina, em
especial os de São Bento, cidade com cerca de 300 fábricas, que exporta quase
100% de sua produção e que conseguiu chegar ao mercado exterior após 8 ou 10
anos de luta, estão perdendo mercado, em razão de 3 pontos fundamentais, os
quais chamo de tripé da desgraça: os altos custos dos juros, o excesso da carga
tributária e a falta de equilíbrio e planejamento para que o dólar não chegue a
valores tão baixos.
É verdade que não podemos alterar a lei da oferta e da procura, pois o dólar
flutuante se move em função dessa lei. Contudo, o que estamos vendo no Brasil é
que os juros altos oferecem uma facilidade muito grande para os especuladores
internacionais, que trazem para cá uma avalanche de dólares e levam os benefícios
dos juros — para eles, os maiores pagos no mundo.
Isso tudo fez com que se registrasse, no mês passado, considerando os
últimos 15 anos, a maior entrada de dólares no País, no sentido especulativo. Nem o
Banco Central nem o Ministério da Fazenda tomaram qualquer atitude no sentido de
baixar os juros ou taxar este capital especulativo.
A verdade é que o sofrimento dessa gente é enorme. Fábricas estão
fechando etc.
Para não me estender nessa argumentação, peço vênia aos pares desta
Comissão para aprovarmos este requerimento, sabendo que, no dia 3 próximo
vindouro, vamos ter uma audiência com o Ministro para tratar desse assunto,
segundo informação que me passou o Deputado Zonta.
Contudo, se aprovado, este requerimento pode ficar em stand by na
Comissão. Caso não encontremos uma solução nesse encontro, Presidente,
convidaríamos o Ministro a esta Casa para fazer esse grande debate. Os
empresários e as associações ligadas ao setor, caso haja uma audiência nesse
sentido, virão a Brasília para participar.
São os argumentos que trago como razões para aprovar nosso requerimento.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Em discussão o
requerimento.
Concedo a palavra ao Deputado Zonta.
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O SR. DEPUTADO ZONTA - Sr. Presidente, concordando plenamente, sem
fazer maiores aditamentos, ofereço-me para subscrever o requerimento sobre o
convite, pois será uma conexão com outras tratativas em curso.
Estou de acordo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Em votação.
Os Srs. Deputados que concordam com a aprovação do requerimento
permaneçam como estão. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 432/06, do Sr. Leonardo Vilela, que solicita seja convidado o
Exmo. Sr. Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, para prestar
esclarecimento quanto ao critério de seleção utilizado aos beneficiados pelo
PRONAF e outras informações.
Com a palavra o autor do requerimento.
O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Sr. Presidente, o objetivo desse
requerimento é esclarecer alguns pontos nebulosos que pairam sobre esse
programa criado pelo Governo passado e que, de forma interessante e oportuna,
tem prestado um grande serviço à agricultura familiar brasileira. Devo registrar que
mais do que dobraram os recursos destinados ao PRONAF, fato que merece todo o
nosso apoio. Aliás, isso devia ter acontecido também com os recursos destinados à
pesquisa agropecuária, à defesa sanitária animal e vegetal, o que não ocorreu. Ao
aumentarem os recursos disponíveis ao PRONAF, recebemos diversas denúncias
de que pessoas sem qualquer aptidão agropecuária, ausentes os critérios de
seleção, estão sendo contempladas com esses empréstimos. E o pior é que a taxa
de retorno desses empréstimos tem sido extremamente baixa.
Portanto, ao chamarmos a esta Comissão o Ministro de Desenvolvimento
Agrário, pretendemos ouvir de S.Exa. os critérios utilizados para a seleção dos
beneficiários do PRONAF, qual o sistema de controle e avaliação da aplicação dos
recursos — ao que nos consta, são extremamente frágeis e falhos; sobre a
inadimplência observada nos financiamentos e as garantias exigidas pelo banco,
bem como a produção pretendida e a realmente auferida com esses empréstimos. É
preciso transparência desses critérios que estão sendo utilizados pelo PRONAF.
Peço aos nobres colegas apoio para a aprovação do requerimento.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Em discussão o
requerimento. (Pausa.)
Não havendo quem queira discutir, em votação.
Os Deputados que concordam com a aprovação do requerimento
permaneçam como estão. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 433/06, da Sra. Kátia Abreu, que solicita que sejam
convidados para Reunião de Audiência Pública o Sr. Elíbio Rech ou Francisco
Aragão (EMBRAPA), o Sr. Marcelo Menossi (UNICAMP), a Sra. Luciana Di Ciero
(ESALQ/USP), e o Sr. Fernando Reinach ou Paulo Arruda (Alellyx S.A.), para
realização de debate e esclarecimento sobre as diversas aplicações da tecnologia
de restrição de uso, objeto do Projeto de Lei nº 5.964 de 2005.
Com a palavra o Deputado João Grandão.
O SR. DEPUTADO JOÃO GRANDÃO - Sr. Presidente, havíamos
concordado, em reunião realizada terça-feira retrasada, em fazer uma junção desses
2 requerimentos, até porque são assuntos correlatos. Estamos sugerindo que esta
Comissão os aprove. Vamos votar favoravelmente para que sejam juntados os 2
requerimentos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alberto Lupion) - Eu não estava presente.
O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Pela ordem, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alberto Lupion) - Concedo a palavra ao
Deputado Leonardo Vilela.
O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Eu estava presente à reunião e
sou testemunha da questão levantada pelo Deputado João Grandão. De antemão,
manifesto meu apoio à proposta discutida anteriormente, no sentido da junção dos 2
requerimentos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alberto Lupion) - Eu vou retirá-lo de pauta
em função de a Deputada Kátia Abreu não estar presente.
Concedo a palavra ao Deputado Eduardo Sciarra.
O SR. DEPUTADO EDUARDO SCIARRA - Sr. Presidente, posso subscrever
o requerimento, se for necessário.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alberto Lupion) - Se V.Exa. o subscrever,
podermos aprovar este requerimento para a realização de audiência pública.
Aprovaríamos uma audiência pública e, depois, podemos estudar a conjugação com
um seminário. Os 2 requerimentos ficarão juntos para que possamos estabelecer um
critério na próxima reunião de terça-feira sobre como se dará o processo.
Em discussão o requerimento.
(Não identificado) - Quero manifestar meu apoio ao requerimento, uma vez
que o tema sobre biossegurança e biotecnologia é extremamente importante para a
agricultura nacional.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alberto Lupion) - Tem a palavra o também
subscritor do requerimento, Deputado Eduardo Sciarra.
O SR. DEPUTADO EDUARDO SCIARRA - Pela razões já sobejamente
reconhecidas e discutidas, estamos subscrevendo o requerimento a fim de que
V.Exa. o submeta à votação deste plenário.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alberto Lupion) - Em votação.
Os Deputados que concordam com a aprovação do requerimento
permaneçam como estão. (Pausa.)
Aprovados os Requerimentos nºs 433/06 e 434/06, com a subscrição do
Deputado Eduardo Sciarra.
Vamos votar os Projetos de Lei nºs 6, 7 e 8.
Passa-se à reunião ordinária.
Projeto de Lei nº 5.663/05, do Sr. Ivo José, que estabelece a Política de
Conservação da Biodiversidade Aquática e dá outras providências. Relator:
Deputado Antonio Carlos Mendes Thame.
Parecer pela aprovação.
Com a palavra o Relator para a leitura do seu parecer.
O Deputado Xico Graziano solicitou a esta Presidência relatar o projeto, em
substituição ao Deputado Antonio Carlos Mendes Thame.
Com a palavra o Deputado Xico Graziano.
O SR. DEPUTADO XICO GRAZIANO - O Projeto de Lei nº 5.663, de 2005,
dispõe sobre tema amplamente tratado no arcabouço jurídico brasileiro: o
ordenamento da atividade pesqueira com vistas a harmonizar o fomento da pesca
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com a preservação da diversidade da fauna e flora aquáticas nos rios, lagos e mares
territoriais brasileiros.
O Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, é o mais antigo e o
principal diploma legal em vigor, relativo à pesca. Ali se definem os aspectos gerais;
as modalidades profissional, amadora e científica; as embarcações e empresas
pesqueiras; a organização do trabalho a bordo; as permissões, proibições e
concessões; os incentivos fiscais; a aqüicultura; a exploração de outros animais e
vegetais aquáticos; a fiscalização, infrações e penas. Estabelece, ademais, as
categorias ou agentes do setor produtivo que dependem de prévio registro ou
permissão para o exercício da atividade pesqueira.
A Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, dá amparo legal às ações que
visam à proteção ambiental. Contém dispositivos específicos referentes à pesca,
que substituíram (revogação tácita) as penas estabelecidas no Decreto-Lei nº
221/67.
A partir da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, o Governo Federal instituiu
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca junto à Presidência da República com a
atribuição, entre outras, de organizar e manter o Registro Geral da Pesca.
O Projeto em apreço preconiza mudanças nas atribuições do órgão público
federal responsável pela organização do setor, qual seja a delegação da
manutenção do Cadastro Nacional da Pesca a órgão do Sistema Nacional de Meio
Ambiente (SISNAMA). Nesse aspecto, caberá à Comissão de Constituição e Justiça
e de Cidadania verificar a legalidade de tal dispositivo, já que é da competência
privativa do Presidente da República a iniciativa de legislação sobre a organização e
funcionamento da administração federal.
Como características inovadoras, o projeto em foco determina que os Planos
de Recursos Hídricos, previstos na Lei nº 9.433/97, abranjam os aspectos relativos à
conservação da biodiversidade, além da utilização da área da bacia hidrográfica
como unidade de referência para a concessão das licenças de pesca nas águas
interiores.
Nossa análise conclui que a proposição em análise aprimora a legislação
sobre a pesca e a conservação da biodiversidade no meio aquático.
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Com base no exposto e sob a ótica desta Comissão de Agricultura, somos
pela aprovação do Projeto de Lei nº 5.663, de 2005.
É o voto do Relator.
Faço, porém, Sr. Presidente, como Relator ad hoc, duas pequenas emendas
modificativas ao referido projeto.
O projeto de lei é correto, bem fundamentado, apenas faço a ressalva de que
o inciso IV do art. 2º define o que é aqüicultura nos seguintes termos: “Atividade
destinada à criação ou reprodução de espécies aquáticas animais ou vegetais, para
fins econômicos”.
Não me parece que esta expressão “para fins econômicos” seja a mais
adequada. Sugiro, portanto, para melhor adequação do texto, que a aqüicultura seja
definida como “Atividade destinada à criação ou reprodução de espécies aquáticas
animais ou vegetais, em qualquer ambiente natural ou artificial”.
É apenas uma correção. Não importa se a atividade tem fins econômicos ou
não.
Esta é uma das emendas que apresento neste momento.
Ao art. 14, também com o objetivo de tornar a intenção do autor mais precisa,
sugiro uma emenda aditiva. O dispositivo trata das infrações e penalidades.
Considerando que não me parece bem estabelecida a pena para quem comercializa
produto da pesca ilegal, minha emenda é no sentido de acrescentar um parágrafo ao
art. 14, nos seguintes termos: “Constitui crime ambiental a venda em
estabelecimentos comerciais de produto proveniente da pesca proibida.”
A minha intenção neste momento é tornar mais rigorosa a penalidade para
quem comercializa na cidade fruto da pesca ilegal. Se não pegarmos lá na ponta do
consumo, não adianta ficar reprimindo o pescador, como faz a polícia florestal, que
fica atrás de quem faz pesca equivocada. Se não coibir lá na ponta, como se faz
hoje em São Paulo, peixe com tamanho inadequado continuará sendo vendido em
botecos e peixarias.
Então, minha sugestão com a emenda é tipificar essa infração como crime
ambiental e, portanto, sujeita a pena bastante rigorosa.
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Sr. Presidente, feita a leitura do relatório inicialmente preparado pelo
Deputado Mendes Thame e apresentadas essas 2 emendas para aprimorar o
projeto de lei.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. DEPUTADO JOÃO GRANDÃO - Pela ordem, Sr. Presidente. Para
discutir.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Tem a palavra o
Deputado João Grandão.
O SR. DEPUTADO JOÃO GRANDÃO - Sr. Presidente, em princípio, temos a
orientação de voto favorável ao projeto e ao relatório. Entretanto, tendo em vista as
apresentadas — a princípio não tenho discordância —, vou pedir vista do projeto
para votá-lo na próxima semana.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Vista concedida ao
Deputado João Grandão.
Projeto de Lei nº 6.143/05.
De comum acordo, os Deputados João Grandão e Waldemir Moka solicitam a
retirada de pauta para posterior apresentação e reunião.
Retirado de pauta.
Projeto de Lei nº 3.951/04, do Deputado Sérgio Caiado, que cria o Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Pecuária de Corte — FUNPEC e institui
Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico destinada a fomentar o
desenvolvimento do setor pecuário.
Relatora: Deputada Kátia Abreu.
Parecer: pela rejeição.
Convido o Deputado Osvaldo Coelho a assumir a Presidência por alguns
instantes.
Passo a palavra à ilustre Relatora para leitura do seu parecer.
A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU - Sr. Presidente, antes de iniciar a leitura
do meu parecer, entrego a V.Exa. um material da Confederação Nacional da
Agricultura a respeito da crise no campo.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Logo após a discussão e
votação do parecer de V.Exa. o Dr. Nelson irá apresentar um trabalho sobre o
assunto e vamos ampliar a discussão.
O Deputado Osvaldo Coelho vai assumir a Presidência.
A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
a Constituição Federal prevê, no seu art. 149, que compete exclusivamente à União
instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse
das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de atuação nas
respectivas áreas.
A contribuição social e de intervenção no domínio econômico (CIDE), de que
trata o art. 149 da Constituição Federal, é a única forma legal de instituir tributo
visando à constituição do referido Fundo. O Inciso I do § 2º do art. 149 da
Constituição Federal determina que as contribuições sociais e de intervenção no
domínio econômico “não incidirão sobre as receitas de exportações”. O Inciso III, do
mesmo parágrafo, estabelece que a CIDE poderá ter alíquota: a) ad valorem, tendo
por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso de
importação, o valor aduaneiro; e b) específica, tendo por base a unidade de medida
adotada.
Do ponto de vista econômico, a CIDE-Pecuária poderá ter conseqüências
negativas para a pecuária, tendo em vista que as indústrias frigoríficas poderão
transferir o custo do tributo para os pecuaristas, via redução dos preços pagos, e
sem garantias de efetivo recolhimento.
Essa situação ocorre, por exemplo, em relação à Contribuição para a
Seguridade Social (extinto FUNRURAL), a qual é descontada dos pecuaristas pelos
frigoríficos e, na maior parte dos casos, não é recolhida aos cofres públicos. Estima-
se que apenas cerca de 10% da arrecadação potencial dessa Contribuição seja
efetivamente recolhida para a Previdência Social.
Além disso, o segmento de abate de bovinos do País opera com elevado grau
de informalidade, o que reduz a competitividade das empresas que operam dentro
de padrões sanitários adequados e cumprem com suas obrigações fiscais.
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A instituição de mais um tributo sobre a atividade poderia acarretar um
aumento no nível de informalidade das empresas menos competitivas e aumentar a
concorrência predatória com as empresas regulares perante o fisco.
A proposta de instituição da CIDE-Pecuária contraria o princípio de isenção
ou redução tributária dos alimentos que vem sendo defendido na discussão sobre a
reforma tributária brasileira. Nesse contexto, também a aprovação do Projeto de Lei
nº 3.951, de 2004, não é pertinente, pois o aumento do custo tributário da cadeia
produtiva da carne bovina pode gerar impactos em termos de redução da renda dos
pecuaristas e de aumentos de preços para os consumidores.
Embora o Projeto de Lei nº 3.951, de 2004, tenha o propósito de assegurar
recursos para o fomento da competitividade e o incremento dos padrões
tecnológicos, de qualidade, segurança e produtividade do setor pecuário brasileiro, a
experiência tem demonstrado que o Governo Federal tem sistematicamente
contingenciado recursos orçamentários. O mesmo poderá ocorrer caso seja
aprovada a CIDE-Pecuária, o que comprometeria a aplicação dos recursos aos fins
a que se destinassem.
Diante dos argumentos apresentados, considera-se que o Projeto de Lei nº
3.951, de 2004, não atende aos interesses do setor pecuário brasileiro, podendo,
caso aprovado, ter conseqüências negativas para a cadeia produtiva da pecuária de
corte e para os consumidores.
Nesse sentido, em face do exposto, somos contrário ao Projeto de Lei nº
3.951, de 2004, votando pela sua rejeição.
Sr Presidente, estamos vivendo talvez uma das maiores crises do setor
agropecuário em todos os principais itens de grãos do País e também na carne
bovina. Embora a intenção do Deputado Sérgio Caiado tenha sido a mais nobre
possível, neste momento, por todas as argumentações que apresentamos,
principalmente pela imensa defasagem de preços e elevado custo na produção e
porque o produtor já contribui para os fundos de defesa agropecuária, em que
poderão ser incluídas as pesquisas, julgamos que poderá ser inoportuna a idéia do
projeto, aumentando ainda mais a crise por que passa a agropecuária brasileira.
Muito obrigada.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Osvaldo Coelho) - Em discussão o parecer
da nobre Deputada Kátia Abreu.
Com a palavra o Deputado Carlos Melles.
O SR. DEPUTADO CARLOS MELLES - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, de uma maneira muito especial, peço permissão e atenção da Deputada
Kátia Abreu para que eu possa falar sobre o assunto. E vou mais longe, se S.Exa.
permitir, ousaria pedir vista do processo e vou explicar o motivo.
Não posso precisar a data, mas na Revolução Industrial da Inglaterra o setor
agropecuário também sofreu muito. E a saída dos ingleses foi criar um fundo
regulatório para o setor leiteiro, chamado milk board. Isso deve remontar
seguramente há mais de 400 anos.
Depois disso o Canadá também teve a mesma iniciativa criando o board do
trigo, um fundo compensatório em que, de maneira muito explícita as commodities
como o trigo, em período de baixa, tivessem uma suplementação do fundo e, em
período de alta, o irrigassem.
Os países desenvolvidos têm como política clara, como todos sabemos,
subsídios e, certamente, não os tirarão por uma questão de política de governo,
pelas razões que todos nós conhecemos. São 3%, 4%, 5% da população no meio
rural. Trata-se de um problema de segurança alimentar, de estabilidade social.
Enfim, nós conhecemos esses assuntos.
Eu ousaria dizer aos colegas, especialmente à Deputada Kátia Abreu, que,
em 1987, criamos o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira. Desde essa época, o
Governo não colocou praticamente nem mais um centavo para fomentar a
cafeicultura. Se V.Exa. me perguntar se a cafeicultura vai bem por causa do Fundo,
eu respondo que não, mas ela está viva em conseqüência do Fundo.
Estou preocupado com esse assunto, até porque ele é absolutamente
delicado, sobretudo dentro do nosso partido, o PFL. Se eu sugerir alguma coisa a
ver com impostos, é possível que o partido me exclua. Mas a questão não é ter ou
não imposto, ter ou não um fundo, é uma questão de sobrevivência. E nisso a
política americana é muito mais dinâmica. Ela cria fundos para produtos, fundos
parafiscais, às vezes, para promoção. E um exemplo muito recente é o dos suínos,
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quando se estabeleceu uma taxa em cima do produto para a criação de um sistema
de marketing e aumentar o consumo da carne suína nos Estados Unidos.
Eu peço à querida Relatora, Deputada Kátia Abreu, e aos Srs. Deputados,
que nos debrucemos sobre esse assunto, mesmo que esse projeto de lei seja
rejeitado, porque exatamente neste momento o agronegócio vive a pior crise de sua
história.
O Secretário Everardo Maciel, uma pessoa notadamente reconhecida no
mundo, e que hoje assessora alguns países, e por acaso é de nosso partido, é
talvez um dos homens que mais conhece a área fiscal. Há pelo menos 6 anos
conversamos sobre o assunto. Ele dizia que não só o café deveria continuar
irrigando o Fundo com uma contribuição independente de domínio econômico, mas
todas as outras commodities agrícolas deveriam fazer o mesmo. E que no dia em
que houvesse excedente, a soja pagaria muito caro se não tivesse um instrumento
dessa natureza, como o açúcar e o próprio algodão, que recuperamos — e
conseguimos até acabar com a crise.
Então, chamo a atenção para o seguinte fato: se fosse para nossa
contribuição independente, com gestão do setor, não seria mais um imposto, mas a
salvação para o setor. E digo mais, todos os ganhos — repeti isso ontem no Palácio
do Planalto — que tivemos no agronegócio nos últimos 10 anos, inclusive não houve
nenhum produto agrícola com menos de 100% de ganho de produtividade, seriam
uma conquista mais lucrativa, a conquista da ciência e da tecnologia. Colocaríamos
dinheiro no bolso e daríamos renda para o produtor. A política emanada pelos
governos, pelo contrário, levou nosso ganho de produtividade e nos deixou numa
situação pior.
Faço este comentário porque, hoje, não sabemos como sair da crise. O
Governo, ao querer emprestar mais recursos e prorrogar dívidas, está nos
colocando numa situação pior do que vivemos no passado.
Proponho a V.Exa. uma maior discussão sobre o tema para que o projeto não
seja rejeitado.
Muito obrigado.
A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU - Sr. Presidente, claro que se trata de
um direito regimental. Peço ao Deputado Carlos Melles que reconsidere sua posição
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de pedir vista do projeto. Se tomarmos como exemplo, Deputado Carlos Melles, a
CIDE do combustível, que em princípio seria para a manutenção das nossas
estradas, estaríamos numa condição bastante diferente em logística neste País. Não
posso considerar, em hipótese alguma, tanto do ponto de vista do agronegócio como
do ponto de vista partidário, o aumento de impostos, taxas, tributos para o povo
brasileiro. Se impusermos uma taxa que será repassada pelos frigoríficos, não se
iludam porque ela será repassada para o produtor e para o consumidor, em cadeia.
Sabemos que o Brasil, hoje, é o maior país do mundo, longe do segundo colocado,
em carga tributária em cima da sociedade. Observamos nos Estados exatamente o
desejo espontâneo dos produtores rurais de se organizarem e manifestarem a
necessidade de desenvolver seu setor. Não acho justo fazermos com que isso se
transforme num instrumento de Governo, com o aumento da carga obrigatória para o
produtor. Na realidade, deveria fomentar a pecuária de corte no País, um dos
setores mais importantes do agronegócio brasileiro. Sabemos que não vamos ver a
cor desse dinheiro, caso isso aconteça.
No meu Estado, os produtores de soja, abacaxi, arroz se reuniram e pediram
ao Governo do Estado de Tocantins que aprovasse uma lei na Assembléia
Legislativa, porque eles querem contribuir, por livre e espontânea vontade, para o
seu fundo. Acredito muito mais nesse desejo vindo da base do que colocarmos tão
distante do produtor a arrecadação na Receita Federal, sobre o que ele não vai ter o
controle. Nos Estados, ele tem a vigilância desse recurso, pode manipular esse
fundo, para quem está pagando. Muitos poderão ser tributados, e esses recursos
podem ser direcionados para alguns Estados, politicamente.
Entendo a importância do desenvolvimento da tecnologia, do aprimoramento
de tecnologias e de gestão, mas isso, neste momento, tem de ficar a cargo do
produtor, e não contribuirmos com a Receita Federal no sentido de imputar mais um
imposto, o que vai sobrecarregar a sociedade.
Nobre Deputado Carlos Melles, V.Exa. tem de lembrar que a cobrança dessa
taxa vai aumentar ainda mais o prejuízo dos produtores com a carne vermelha no
País. Hoje, não estamos conseguindo tirar nenhum centavo de margem de lucro.
Então, a cobrança de qualquer taxa neste momento vai ferir de morte ainda mais o
produtor rural no seu custo de produção.
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É um direito de V.Exa. pedir vista, mas acredito que poderíamos encontrar
outro caminho para o produtor, quem sabe, por intermédio das entidades sindicais, a
fim de não haver mais esse sangramento na cadeia da carne vermelha do País.
Muito obrigada.
O SR. DEPUTADO CARLOS MELLES - Primeiro, quero dizer à nobre
Deputada Kátia Abreu que também não concordo com o aumento do número de
impostos para o produtor. Todos nós somos absolutamente contrários a isso. Todos
comungamos que devemos dispor de um fundo de proteção. Seguramente, seria
uma situação muito mais democrática e legítima o seu nascimento espontâneo.
Eu não posso admitir que o exemplo da CIDE seja posto dessa forma.
Quando relatei a CPI dos Combustíveis, ainda que a CIDE tenha sido
distorcida, fato que denunciamos ao Ministério Público, para superávit fiscal e
mesmo para pagamento de despesas, ela existe e hoje está possibilitando a
recuperação. Mas e a qualidade de gestão? Trata-se de uma decisão política que
não tivemos no gerenciamento da contribuição. Por isso deu no que deu.
Eu concordo em gênero, número e grau, obviamente. Antes disse que não
pediria vista sem a concordância da nobre Relatora. Mas se quisermos uma saída
para o segmento, teremos de criar nosso subsídio ao inverso, mas não tirando do
produtor e sim do consumidor que aspira todos os nossos ganhos como tem feito em
todos esses anos que convivemos. Precisamos encarar não como um aumento de
custo para o produtor, mas como um pedágio. Se não fosse assim, o que emperrou
o Orçamento até hoje? Os Governadores, em função da Lei Kandir. O que é a Lei
Kandir? De onde ela sai? Basicamente de produtos agropecuários, do ICM de
exportação. Tirou-se, não ganhamos, alguém está ganhando e não somos
beneficiários. São 5.200 bilhões pedidos por ano, e já se passaram 6 anos.
Temos de travar uma discussão mais ampla e democrática sobre a criação de
fundos que devem ser administrados por nós mesmos e não pelo Governo, para
proteção do produtor.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Osvaldo Coelho) - Com a palavra o nobre
Deputado Leonardo Vilela.
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O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Sr. Presidente, apóio o relatório da
Deputada Kátia Abreu. Sei das nobres intenções do Deputado Sérgio Caiado, ao
elaborar esse projeto de lei. Mas quando se institui uma cobrança de tributo sobre
um setor já combalido, e mais, quando esse tributo pode ser utilizado ao bel prazer
do Executivo, estamos incorrendo na possibilidade de dar um tiro no pé, como
ocorre hoje com a CIDE dos combustíveis. Apenas 30% do valor arrecadado na
CIDE dos combustíveis é utilizado para a sua atividade precípua, que é a de
construir e fazer a manutenção das estradas e de outros meios de transporte.
Setenta por cento do restante é utilizado para cobrir déficit da Previdência, fazer
superávit primário e outras coisas que nada têm a ver com a finalidade para a qual
foi criada.
Portanto, quando propomos a incidência de uma CIDE sobre a cadeia da
carne bovina, corremos o risco de aumentar a tributação sobre a carne bovina e, ao
mesmo tempo, de ver esses recursos contigenciados pelo Governo Federal para
formar superávit primário, ou, pior ainda, serem utilizados para outro fim, com o
produtor mais uma vez pagando a conta.
Em que pese as nobres intenções, com as quais concordamos, sou
absolutamente contra o projeto do Deputado Sérgio Caiado e a favor do relatório da
Deputada Kátia Abreu.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Osvaldo Coelho) - Com a palavra o
Deputado Zonta.
O SR. DEPUTADO ZONTA - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, em que
pese as ponderações do Deputado Carlos Melles, sempre interessado em buscar
alternativas para a superação das dificuldades do agronegócio, e respeitando a
intenção do Deputado Sérgio Caiado, jamais podemos imaginar que saia do bojo de
membros da Comissão a tentativa de acrescer tributos à combalida situação do
agronegócio brasileiro e a qualquer outro setor. Chega de impostos, chega de taxas,
chega de contribuições. Têm é de tratar de distribuir melhor e de reduzir impostos.
Portanto, estou perfeitamente de acordo com o relatório da Deputada Kátia
Abreu. O projeto tem que estancar por aí, respeitando o seu autor e, ao mesmo,
deixar livre a opção para o produto, se quiser, se organizar com fundos.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 0442/06 Data: 19/4/2006
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Temos, em Santa Catarina, o exemplo do fundo da suinocultura, criado dentro
desse setor com os produtores, sem ingerência do Poder Público. Esse fundo é
administrado pelos suinocultores e agroindústrias, sem ingerência do Poder Público,
ou seja, não se trata de um tributo ou uma taxa, mas um fundo criado por eles e que
dá cobertura para eventualidades. Esse é um exemplo que pode ser copiado, mas a
iniciativa não cabe ao Poder Público, porque se for assim será mais um que irá para
o caixa do Governo e ninguém sabe onde vai ser aplicado. Assim, é preciso que se
deixe livre para que os produtores, por meio de suas entidades, se for o caso,
busquem a alternativa necessária.
Somos totalmente contrários a qualquer iniciativa que venha a impelir ônus de
mais tributos, taxas ou contribuições. Por isso, somos pelo relatório da Deputada
Kátia Abreu.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Osvaldo Coelho) - Srs. Deputados, entendo
que o nobre Deputado Carlos Melles tem o direito regimental, e até discricionário, de
insistir ou não no pedido de vista.
Deputado Carlos Melles, se V.Exa. não insistir no pedido de vista, colocarei a
matéria em votação. Do contrário, a matéria estará sobrestada.
O SR. DEPUTADO CARLOS MELLES - Sr. Presidente, para não haver
nenhum mal-entendido, disse que só pediria vista se a autora realmente
concordasse. Mas preciso dizer algo com bastante clareza. Estão aqui os Deputados
Xico Graziano e Caiado. Tivemos, há 4 meses, uma reunião na CNA com a
GVconsult, quando foi lançada a idéia de um projeto de lei, que está caminhando,
criando entidade regulatória independente para o agronegócio, parecido com uma
agência reguladora. E é interessante notar que se voltou ao café, um pouco ao
cacau e ao açúcar, sendo que a maior agência reguladora nos últimos 60 anos é a
Organização Internacional do Café. O rompimento desse acordo em 1989 e 1990,
pelo Governo Collor, seguramente trouxe prejuízo de mais de 1 bilhão de dólares
por ano na exportação para o agronegócio do café.
Não vou pedir vista, mas insisto em dizer que devemos conhecer um pouco
mais sobre o assunto para termos mecanismos nossos e não de governo. A prova
desse interesse é que temos hoje uma Comissão Especial instalada na Casa para
debater o FUNCAFÉ visando tirá-lo, em termos de gestão, da mão do Governo.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e Desenvolvimento RuralNúmero: 0442/06 Data: 19/4/2006
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Insisto: se a cafeicultura está viva, é em função desse fundo, que mal ou bem
a sustentou. Democraticamente, estamos buscando na Casa uma forma, porque
orçamentariamente o Governo não mexe nesses recursos, que são apenas mal
administrados em termos temporais e do desejo das necessidades da cadeia.
Estamos tentando aprimorar, dentro desta Casa, propostas no sentido de levar a
gestão do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira, que hoje remonta a 3 bilhões de
reais, para o setor produtivo. Entendo que todos queremos a mesma coisa. É
preciso apenas ver a forma de chegarmos nela.
Mais uma vez, não tenho nenhuma motivação para pedir vista do processo,
uma vez que todos concordam que ele deve ser rejeitado.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Osvaldo Coelho) - A matéria está em
votação.
Os Srs. Deputados que aprovam o parecer da Relatora, Sra. Kátia Abreu,
permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Atendendo ao
requerimento do Deputado Ronaldo Caiado, convidamos o Dr. Nelson Vieira Fraga
Filho para tomar assento à Mesa.
O SR. NELSON VIEIRA FRAGA FILHO - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
peço permissão para fazer uma apresentação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Concedo a palavra ao Dr.
Nelson, pelo prazo que julgar necessário, para proferir palestra sobre o recente
pacote agrícola do Governo Federal.
Logo após passaremos a palavra aos Srs. Deputados.
O SR. NELSON VIEIRA FRAGA FILHO - Quero agradecer os demais
funcionários da Comissão que nos ajudaram nesse trabalho.
Para falar sobre o pacote de renegociação das dívidas, procuramos fazer um
diagnóstico do setor agropecuário no período de 2005, início de 2006, para que
todos possam entender as medidas anunciadas pelo Governo e a necessidade de
se avançar em alguns itens que não foram incluídos.
Primeiramente, faremos um diagnóstico da crise.
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(Segue-se exibição de imagens.)
Temos uma queda de renda já comprovada em 2005: pecuária, 0,6%;
agricultura, menos 16,6%, o que, no conjunto da agropecuária, correspondeu a 16,3
bilhões de reais na safra de 2005. No agronegócio como um todo a perda de renda
foi de 22,31 bilhões.
As perdas estimadas para o período de 2005 e 2006 já alcançam 30 bilhões
de reais. O cenário é semelhante em 2006, tendo em vista as estiagens em diversos
Estados e os preços recebidos pelos produtores que estão em queda acentuada.
Vemos aqui o PIB do agronegócio, na safra de 2004/2005, na safra de 2005/
2006. Foi essa redução que aconteceu.
Perda na produção de grãos.
Na safra de 2004/2005 houve perda de 18 milhões de toneladas no setor
agropecuário. Estima-se, para a safra de 2005/2006, perda de mais de 6 milhões de
toneladas. No valor bruto da produção agropecuária em 2005, a cultura do milho
perdeu 13,5 bilhões, o arroz 2 bilhões, o algodão 1,2 bilhões e a pecuária de corte
1,9 bilhões.
Em relação à soja, no valor bruto da produção agropecuária não é verificada
uma redução no VBP, porque houve incremento de área plantada, mas houve
prejuízo de renda para o produtor. Esse incremento de área plantada mascarou o
aumento do VBP da soja.
Fatores que contribuíram para a atual crise.
Temos o Seguro Rural incipiente que, basicamente, não tem sido praticado
para a agropecuária empresarial; a perda de produção física das lavouras; o
aumento dos estoques mundiais de passagem com impacto negativo nos preços das
commodities; taxa de câmbio desfavorável, com a valorização do real em relação às
principais moedas; aumento de custo de produção; infra-estrutura deficitária; e
escassos recursos do crédito rural.
Os prejuízos na comercialização.
Fazemos aqui uma abrangência em relação ao custo de produção e à receita
da atividade. No caso do algodão, para cada 15 quilos de pluma, o custo da
produção é de 61 reais contra o preço de mercado de 44. O prejuízo é de 17 reais.
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No arroz irrigado o prejuízo é menos 9,21 reais — resultado negativo —; o trigo,
19,88; a soja, 5,7; e o milho 3,47.
Estimativa de área plantada.
Em função do problema de safra de 2005, tivemos uma redução média de
área plantada de 4,3%. Ou seja, na safra de 2004/2005 plantou-se 49 milhões de
hectares e na safra de 2005/2006 foram plantados 46.968 hectares, com redução
mais significativa para a soja e para a cultura do trigo.
Fizemos um gráfico do que já foi apresentado na Comissão quanto a valor de
crédito rural aplicado, comparado com a evolução da produção brasileira de grãos.
Temos aqui o volume de recursos de crédito rural, a partir de 1977, com clara
evidência de redução, e o aumento da produção. Esse é o distanciamento entre o
volume de recursos aplicados no crédito rural e a necessidade de recursos a serem
alocados para o setor produtivo.
Analisamos o comportamento da taxa de câmbio, para demonstrar a crise do
setor atualmente. A partir de 2003, ela está em queda acentuada. O que tentamos
demonstrar com esse gráfico? Durante o período de maior custo e desembolso do
produtor — de julho a dezembro, que é o custeio da atividade —, o custo da lavoura
está com o dólar em alta, e no período da safra, março, abril e maio, o dólar está em
queda. Então, esse problema gerou o alto custo de produção e a diminuição de
renda da atividade.
Há um cenário de estabilidade do câmbio a partir de 2005/2006, não há muita
variação. É um panorama de perspectiva longa. Provavelmente, para se recuperar
renda na atividade, vamos ter que trabalhar com redução de custos, carga tributária
e outras medidas estruturantes.
Relação preço/custo de produção.
Temos um levantamento no Estado do Paraná. No caso da soja, há o custo
total crescente; os custos operacionais médios, e aqui o preço da soja, segundo
fonte CONAB. Esse trabalho foi feito pela OCEPAR, mas com base no levantamento
da CONAB. Então, houve um pool de preço de soja no período 2001/2002, e aqui
ele está em queda acentuada. Essa diferença é o prejuízo. Vemos aqui o custo e a
receita do produtor, estimada para 2005/2006, o prejuízo da atividade e a
necessidade de medidas para renegociação de dívidas.
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Vemos ainda um gráfico do trigo, demonstrando a elevação do custo de
produção, e a receita, o preço do trigo. Então, esse é o diferencial, é o prejuízo que
o produtor está tendo. Ele está vendendo abaixo do custo de produção.
No caso do milho, a mesma coisa: tem-se o custo e o preço. Então, esse é o
prejuízo do produtor, estimado para essa safra.
Empregos diretos gerados na agricultura em função da crise.
Os senhores perceberão que 2004 foi o ano em que o setor agropecuário
gerou mais empregos, acumulado de 281 mil. No ano de 2005, a agropecuária,
apesar de ter gerado empregos, perdeu 12.878 ocupações diretas. Essa é a perda
de emprego demonstrada pela crise no setor agropecuário, e pode se agravar se
continuar nesse nível de redução de renda.
Pacote agrícola.
Quais os itens anunciados pelo Governo? Prorrogação de financiamentos.
Crédito de investimento. Há parcelas vincendas estimadas em 7,5 bilhões, em 2006,
com novo vencimento da parcela de 2006 para 1 ano após o vencimento do
contrato. Essas são prorrogações especificamente para operações adimplentes.
Nessa situação de investimento, operações renegociadas ficam de fora. Por
exemplo: a renegociação da agricultura familiar, que saiu em 2003, com prorrogação
de todas as dívidas, essas parcelas não devem estar incluídas agora. Não há sinal
elevado de inadimplência até o ano passado, porque essas prorrogações foram
feitas com 2 anos de carência. Então, este ano podem começar sinais de problema
na agricultura familiar, porque começam a vencer as prorrogações.
No caso de crédito de custeio da safra 2005/2006, a análise é caso a caso, de
acordo com a capacidade de pagamento do mutuário. Aqui, está-se transferindo a
responsabilidade de prorrogação de dívida para o agente financeiro. Essa situação
será abrangente? Pela experiência que temos, provavelmente não, porque quando o
banco for negociar a dívida do produtor, com certeza será exigido o pagamento de
saldo devedor do cheque especial e de outras dívidas internas com o banco para
que essa dívida possa ser prorrogada.
É difícil imaginar o impacto dessa prorrogação, o real alcance dessa medida.
As parcelas a vencer das dívidas que foram prorrogadas, no ano passado, em
função das estiagens e do estado de emergência, este ano terão novo prazo de
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vencimento, que se estenderá por um ano após a renegociação da última parcela. O
valor dessas parcelas é de aproximadamente 530 milhões.
Fiz uma observação porque a imprensa tem anunciado que essas medidas
vão gerar um custo para o Tesouro de 15,5 bilhões. Na verdade, essas informações
precisam ser melhor apuradas, porque não é bem dessa forma. São beneficiados
investimentos do BNDES, FAT, PROGER Rural, equalizados fundos constitucionais,
e os produtores devem estar adimplentes com as parcelas anteriores.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, peço que me
conceda a palavra para um esclarecimento. Acabo de receber um fax do Sr.
Eduardo Fleury, Presidente do Sindicato Rural de Quirinópolis, dizendo que, ao
procurar o Banco do Brasil, foi informado de que os recursos do FCO para a
pecuária não estariam incluídos. Quero saber se existe alguma exclusão do crédito
de investimento em pecuária nesse pacote apresentado. O cidadão tem que estar
adimplente; se estiver adimplente e for da pecuária, ele estaria excluído ou incluído
nessa prorrogação de financiamento de crédito de investimentos?
O SR. NELSON VIEIRA FRAGA FILHO - Deputado Ronaldo Caiado, a
intervenção de V.Exa. é muito boa. Em relação às exclusões anunciadas pelo
Ministro da Agricultura, seriam apenas o café, o fumo, o álcool e alguns setores da
citricultura, como a laranja. Não foi anunciado que seriam excluídos qualquer tipo de
pecuária, seja de corte, avicultura ou suinocultura.
Qual a nossa preocupação em relação a todo esse pacote? Nós, da área
técnica da Comissão, decidimos aguardar que as normas sejam editadas para que
possamos avaliar melhor o alcance. Mas da forma como foi divulgada o alcance é
incipiente em relação à necessidade do setor.
Os jornais têm publicado que o custo dessa ajuda do Governo ao setor rural
será de 15 bilhões, mas na verdade não é isso, porque os 7,5 bilhões são
investimentos que seriam recolhidos junto ao FAT-BNDES. O que está sendo feito é
apenas a prorrogação dessa parcela para o final do contrato. Não sabemos bem
porque existe o MODERFROTA, cujos juros não são equalizados, e há juros de
mercado.
Como os recursos são todos do BNDES/FAT, o retorno desses recursos para
o FAT é calculado com base na TJLP, que é 8,15%. A teoria da equalização seria
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basicamente o custo de del-credere dos agentes financeiros, então teríamos um
custo entre 4% e 5% de equalização. Na hipótese de que toda essa dívida será
prorrogada por 5 anos, o impacto do desembolso do Tesouro, para esses 7,5
bilhões, será de 1,5 bilhão no máximo.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Nelson, é bom esclarecer que no
atual FAT quem está pagando a diferença não é o Governo, mas sim o produtor,
para quem foi repassada a despesa, 2 anos atrás. Portanto, não há subvenção do
Governo nesse sistema.
O SR. NELSON VIEIRA FRAGA FILHO - Correto, é isso o que estou
afirmando. No caso dos recursos do MODERFROTA, o produtor é quem está
pagando, não há equalização, e desses 7,5 bilhões a grande maioria dos recursos é
proveniente do MODERFROTA. Então, esse custo, para o Governo, deve ser muito
menos significativo do que o que está sendo apresentado agora, mesmo porque,
com a redução da taxa de juros para um prazo de oito e quinze, o produtor está
pagando 8,75% nessas operações, mais o del-credere. Basicamente, o que está
sendo pago pelo produtor já contempla a taxa de juros de longo prazo.
Em relação à comercialização agrícola, desde o início do ano há 650 milhões
a serem alocados na política de garantia de preço mínimo, e mais 1 bilhão,
anunciado pelo Governo, correspondente à alocação prevista na Medida Provisória
nº 289, que aloca 500 milhões justamente nos mecanismos de sustentação do
preço, como aquisição do Governo Federal, 238 milhões para o PRONAF, programa
de aquisição de alimentos e mais 5,7 bilhões, que são recursos da exigibilidade
bancária destinados à comercialização e estocagem — LEC, a AGF e outras linhas.
Normalmente, essas operações não são recursos da União. Então, esses 5,7
bilhões não são desembolso da União, mas exigibilidade bancária. Logo, não tem
por que dizer que isso está gerando custo para a União.
Em relação aos programas de formação de estoques, o produto deve estar
armazenado e disponível. Então, não há custo; ele está trocando ativos. Quando o
Governo adquire produto para formar estoque, ele está trocando dinheiro por
produto. Assim, ele tem o ativo.
Quanto ao FAT-Giro Rural, a imprensa também tem anunciado que se trata
de recurso novo, mas não é. No tratoraço foram prometidos 2,3 bilhões, e não saiu.
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Logo, não é recurso novo. Os entraves técnicos não deixaram que esses recursos
fossem aplicados. Está-se mudando a estrutura para permitir que o produtor possa
liquidar as CPRs e outros débitos junto ao sistema privado, por intermédio de
financiamento junto à instituição financeira.
Além disso, ele não gera custo ao Tesouro, já que o retorno está vinculado à
TJLP, mais o del-credere pelo qual o produtor vai pagar 4%. A taxa de juros desse
recurso do FAT está vinculada à TJLP mais 4% ao ano. Esses 4% ao ano serão o
del-credere da instituição financeira e a TJLP é o retorno do recurso para o FAT.
Então, não há custo. O custo dessa operação para o produtor será em torno de
12,15% ao ano.
Ontem, na reunião ocorrida na Casa Civil, observamos que esse alcance é
limitado, porque, legalmente, o produtor inadimplente não pode obter novos créditos.
Assim, produtor que deve não vai ter acesso a esse crédito. O produtor que tem seu
limite de risco comprometido na instituição financeira também não vai ter acesso a
esse crédito. Então, vai alcançar quem?
O tamanho da crise no setor rural.
Conforme o próprio Ministro da Agricultura, no anúncio do Plano Safra do ano
passado, o custeio, o capital de giro do setor agropecuário está em torno de 110
bilhões de reais. O crédito rural no Brasil, hoje, está financiando apenas 33 bilhões,
o que leva ao déficit de recurso de 77 bilhões de reais. Esses 33 bilhões
representam 30% do total da necessidade de financiamento do setor rural. Deles,
apenas 21 bilhões são aplicados com juros controlados, que são 8,75%, e os outros
12 bilhões são aplicados com recursos livres, que são juros vinculados à correção
monetária. Os 77 bilhões são devidos a fornecedores, cooperativas e agentes
financeiros em operações CPR. O que isso significa? Esse montante de recurso,
que é buscado fora, gera ao produtor rural uma taxa de juros acima de 25%, que são
impraticáveis para a atividade. Por isso, há inadimplência e há a necessidade de
uma intervenção do Governo em todos os setores.
Dentro do pacote não foram incluídas as seguintes operações, que também
são problemáticas: securitização, PESA, fundos constitucionais, FUNCAFÉ, Cacau,
RECOOP, agricultura familiar e outros recursos do FAT.
Vou fazer um breve relato das operações.
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Securitização.
Na Securitização I são 44 mil e 799 operações, o que representa 4,3 bilhões.
E na Securitização II, que são produtores que a fizeram para 25 anos e não tiveram
condições de pagar as parcelas por conta da seca ou por falta de rentabilidade, são
19 mil operações.
Na reunião de ontem, na Casa Civil, o pessoal do Ministério da Fazenda disse
que nessa operação não havia inadimplência, mas esse valor representa quase 20%
de inadimplência, valor alto para o crédito rural, mesmo para uma operação
renegociada, e equivale a 1,7 bilhão.
Qual o problema desse volume de recurso da Securitização I? Primeiro, elas
não foram renegociadas na Lei nº 10.437 para 25 anos; segundo, a lei não
possibilitou a renegociação das parcelas. É importante insistir nisso, porque o
produtor que estava com parcelas vencidas tinha de pagá-las integralmente
corrigidas com taxa SELIC mais juros de 1% ao ano! Então, não foi renegociado
para esse produtor; ele foi obrigado a pagar o que havia vencido. Não houve
renegociação; houve melhoria de condições para quem estava adimplente. Por isso,
o montante aumentou. Há exigência também de liquidação de 32,5% de parcela
vencida em 2001. Para quem vinha acumulando prejuízo, houve muitos que
estavam em dia até 2001 e não tiveram condição de pagar esses 32,5%.
Reconhecida a necessidade de recomposição de dívidas decorrentes do
processo de descapitalização no setor rural. Isso foi reconhecido com o mecanismo
de alongamento das dívidas.
Como obter recursos para liquidar parcelas em atraso e parte da parcela de
2001 para quem não tinha receita?
(Segue-se exibição de imagens.)
Temos aqui algumas incoerências da renegociação da securitização, para
que os senhores possam entender muito bem a situação. Até 2001 o total de
inadimplência era de aproximadamente 400 milhões de reais. Era esse o volume da
inadimplência em 2001, quando foi programado o alongamento da dívida até 2025.
Por conta das restrições de exigência de pagamento das parcelas em atraso,
exigência de pagamento de 32,5% da parcela de 2001, esse número hoje chega a 6
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bilhões de reais. Seis bilhões! Passamos de 400 milhões em 2001 para 6 bilhões em
2006.
As causas dessa inadimplência: falta de capacidade de pagamento em
decorrência de secas, estiagens e outras adversidades climáticas — isso não foi
levado em consideração, embora haja um conceito geral no crédito rural no sentido
de que, ocorrendo falta de capacidade de pagamento, frustração de safra, a
prorrogação deveria ser automática; falta de renda do setor rural; exigência da
correção pela equivalência em produto; exigência de liquidação de parcela em
atraso, quando da liquidação da parcela vencida. Esse é outro problema. Por
exemplo, um produtor este ano que tenha a parcela de 2005 atrasada já perdeu o
bônus de adimplência. Este ano, quando ele for pagar a securitização, se não pagar
a parcela do ano passado, vai ficar inadimplente, porque é impedido de liquidar a
parcela vincenda. Isso gera um efeito cascata porque vai acumulando parcelas em
atraso, sendo que o Governo podia tratar da parcela em atraso isoladamente. O
produtor já foi penalizado quando a parcela venceu. Ele perdeu o bônus, está
pagando SELIC mais 1%. Por que não conceder o bônus na parcela que vai vencer
e tratar da parcela inadimplente unicamente? Isso é o que gera esse volume.
Passou de 400 milhões para 6 bilhões em atraso.
Sobre o PESA.
O saldo devedor do PESA é 12 bilhões de reais, mas esse saldo está
garantido por um título público pago pelo produtor. Então, essa não é a dívida do
produtor e, sim, as parcelas vencidas. E o valor dessa parcela vencida hoje é de 1,5
bilhão de reais. Por que o PESA está com esse problema? Redução de juros para
3% e limitação do IGP-M em 9,5% ao ano beneficiou operações contratadas após 1º
de novembro de 2001. Significa dizer que o produtor que procurou regularizar sua
dívida no banco em 1998, 1999 e 2000 pagou IGP-M cheio, acumulou-se 100%
nesses 4 anos, e juros de 8%. Essa é a diferença. O benefício foi para esperar as
condições melhorarem.
Operações contratadas anteriormente estavam inadimplentes em decorrência
da correção integral do IGP-M e juros de 6%. A lei não possibilitou a renegociação
de parcelas vencidas. Esse benefício de redução dos juros e limitação do IGP-M foi
concedido para quem estava adimplente. O produtor que tinha parcela vencida
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continuou com dificuldade. Exigiu-se o pagamento integral das parcelas vencidas
corrigidas pela SELIC mais juros de 1% ao ano. Hoje tem operações de PESA em
que o juro é mais caro que o principal por conta dessas correções.
As incoerências do PESA já foram citadas. Por exemplo, em 2001, quando foi
aprovada a Lei nº 10.437, o total da inadimplência era 300 milhões de reais. Em
2003, quando estávamos discutindo o Pesinha, o saldo chegava a 700 milhões.
Agora por que não foi feito o Pesinha? Por 20 dias úteis os produtores foram
habilitados a entrar no Pesinha. O pessoal não tinha a conta do Banco do Brasil, não
tinha a instrução da Secretaria do Tesouro Nacional, e não puderam fazer. Apenas
10% fizeram o Pesinha. O que acontece hoje por conta dessas incoerências? Hoje a
inadimplência passou de 300 para 1 bilhão e meio.
Fundos constitucionais.
São 59.756 operações que representam 2,9 bilhões de reais em atraso. Por
que há inadimplência nos fundos constitucionais? O prazo médio fixado em lei foi de
até 10 anos. Entretanto, ato do Poder Executivo limitou o prazo em até 5 anos.
Então, nenhum banco fez em 10 anos. Fizeram apenas em 5 anos.
Como o prazo concedido era contado após o vencimento final da operação,
operações com vencimento original fixado para 1998, por exemplo, teriam apenas 2
anos para pagamento. Então, o produtor não teve capacidade de pagamento para
renegociar sua dívida, porque o prazo era muito curto.
Estou dando apenas um exemplo. Uma operação cujo vencimento original
seria em 1998. Porque a lei fixou o vencimento original. Ela não fixou os aditivos.
Por exemplo, se o produtor tivesse um aditivo prorrogando a dívida para 2001, a lei
fixou o vencimento original em 1998. Então, a base da capacidade de pagamento
era 1998 e não 2001. Aí pegou-se 5 anos em 1998. Venceria em 2003. Como a lei
foi aprovada em 2001, ele teria apenas 2002 e 2003 para pagar a conta.
No caso do FUNCAFÉ, foram alongadas 24 mil operações com saldo de 990
milhões. Entende-se que esse alongamento do FUNCAFÉ foi em benefício do
produtor. Mas, na verdade, não foi. Eu vou explicar por quê. Os débitos foram
atualizados com TJLP. Os juros foram de 3% ao ano até a data do alongamento,
fixado para 12 anos.
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Outras operações tiveram prazos mais longos, como por exemplo o PESA,
com 20. O FUNCAFÉ teve apenas 12.
Não há bônus sobre a parcela da dívida, ao contrário da securitização,
apenas a redução na taxa de juros de 9,5% para 5,75% ao ano. O juro do próprio
PESA é de 3% ao ano. É menor do que o do FUNCAFÉ.
RECOOPE, cacau e outros.
No RECOOPE, são 5.470 operações, que têm 475 milhões. O RECOOPE
não entrou na prorrogação de dívida no ano passado, mesmo com as calamidades
do problema de seca e estiagem, e também não foi contemplado nas operações
este ano.
No caso do cacau, o problema é sério. No ano passado, saiu uma resolução
do Banco Central prorrogando, no caso do cacau, por até 8 anos. Isso não é
suficiente para o pessoal da Bahia, porque essa dívida foi decorrente de tecnologia
para a recuperação da lavoura cacaueira, o que não funcionou. Então, o produtor se
endividou mais ainda.
Outros recursos que envolvem a agricultura familiar e o FAT não foram
contemplados.
São 115 mil contratos, que representam 290 milhões.
Estamos tratando apenas de parcelas vencidas, não do saldo devedor.
Temos de recompor a parcela vencida, e não toda a dívida.
O total não renegociado é de 281.651 operações, para um total de 12 bilhões
de reais.
Desse total, para que os senhores possam entender, aproximadamente 7
bilhões serão inscritos em dívida ativa. E a reclamação de muitos dos senhores.
(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)
O SR. NELSON VIEIRA FRAGA FILHO - Não, o conjunto de dívidas.
Serão inscritas em 7 bilhões.
Quando a dívida é inscrita em dívida ativa, o Governo já reconhece o prejuízo.
Então, ele mesmo já está sendo responsável pelo impacto de 7 bilhões. Se ele
renegociar, é receita que ele vai passar a receber. Quando ele inscreve em dívida
ativa, já é prejuízo, já é impacto reconhecido.
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Não estamos aqui propondo o impacto. Propomos resgatar esses produtores
e a dívida que queremos renegociar.
O SR. DEPUTADO LUIS CARLOS HEINZE - Para aproveitar a pergunta do
Deputado Ronaldo Caiado, do total geral não renegociado, trata-se de 281
operações, de12 bilhões?
O SR. NELSON VIEIRA FRAGA FILHO - Isso.
O SR. DEPUTADO LUIS CARLOS HEINZE - Mas o senhor tem
conhecimento do endividamento total do setor?
O SR. NELSON VIEIRA FRAGA FILHO - O endividamento total do setor é
em torno de 35 bilhões.
Em relação às 281 mil operações, é importante dizer o seguinte: esse
crescimento da dívida, de 1998 até 2006, para quem não renegociou — e essa
dívida está com a SELIC —, foi de praticamente 100%.
Quando falamos de uma dívida de 1 milhão, muitas vezes na origem ela era
de 300 mil. Não se trata de um grande devedor, a dívida é que cresceu muito.
Porque, historicamente, no crédito rural, 95% dos recursos são inferiores a 100 mil
reais por produtor. Então, essa afirmação é incoerente.
Nessas 281 mil operações, há muitas cooperativas, muitas associações e
condomínios rurais. O número de produtores rurais prejudicados pode chegar a
quase 600 mil.
Passo a tecer algumas considerações finais.
Apesar da reconhecida falta de capacidade de pagamento do setor rural,
decorrente da adversidade climática, preços baixos, doenças e outras
anormalidades, a exemplo das medidas anunciadas em 2005, essas fontes não
foram incluídas no mecanismo de prorrogação. Ou seja, mesmo o produtor tendo a
capacidade de renda reconhecida pelo Governo, tanto que prorrogou FAT, BNDES
e custeio, ele exigiu que se pagasse a securitização. Com certeza, essa
inadimplência deve ter aumentado por falta de capacidade de pagamento.
Observações que fizemos a algumas críticas às medidas anunciadas.
O Governo anunciou, mas não editou as resoluções. Então, hoje os bancos
continuam cobrando e ameaçando o produtor de execução. No caso do
BRADESCO, o banco debita a parcela na conta corrente do produtor. Então, em vez
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de dever o BNDES, ele passa a dever juros de cheque especial de 10% ao mês.
Isso está acontecendo. Por isso, é necessário a implementação dessas medidas.
Alcança somente produtores adimplentes...
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Isso é uma realidade.
O SR. NELSON VIEIRA FRAGA FILHO - E os inadimplentes não poderão ser
beneficiados. Até de cheque especial. Se o banco vir que o produtor tem
dificuldades, tem dívida de cheque especial, com certeza, vai condicionar a
renegociação da dívida à quitação do cheque especial ou de outra pendência
interna.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Querem prorrogar o investimento.
O SR. NELSON VIEIRA FRAGA FILHO - Com certeza. A medida visa
prorrogar operações de custeio e investimentos com parcelas vencidas somente em
2006. Então, aqueles produtores que não conseguiram renegociar a dívida o ano
passado estão fora.
A prorrogação não deverá alcançar operações contratadas com recursos do
FAT sem equalização. Isso alcança muito o Nordeste e o BNB. O BNB contratou
muita operação mixada com recursos próprios, dos fundos constitucionais e do FAT.
Recursos próprios do BNB e recursos do FAT não estarão incluídos nessa
operação, apenas o FAT e o PROGER Rural.
Exclui da renegociação setores do agronegócio como o café, que acumularam
prejuízos ao longo dos anos e que também vêm sofrendo com a política cambial. O
café está fora.
Como, na safra de 2005, o Governo reconhece a perda de renda do setor e
cria mecanismos para a prorrogação da dívida, exclui operações renegociadas em
outros programas. Por exemplo, o PRONAF, como disse antes. Não entra
Securitização, PESA, PRONAF alongado em 2003, alongamento do café e cacau.
Não entra nada disso.
Produtores com dívidas transferidas para a União.
Estão sendo inscritos na dívida ativa, inclusive os avalistas. Esse problema é
sério. Avalistas estão em dia nas suas operações, mas estão sendo inscritos na
dívida ativa e, por isso, serão excluídos de operar com o banco. Pode ainda ser
negada a renegociação da sua dívida, por ter esse comprometimento no CADIN.
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Então, se ele for avalista de algum devedor, mesmo estando adimplente em suas
operações, ficará fora desse processo.
Prorrogação de parte da dívida para 2007 é transferir o problema para o
futuro. Com limite de créditos comprometidos ficarão limitados os recursos com
reflexo na produção de grãos do ano passado. Ou seja, os produtores que
renegociarem essas dívidas terão impactados seus limites e terão acesso a menos
recursos na próxima safra.
Esse resumo foi elaborado por nós da Comissão e será distribuído para todos
os Parlamentares. Vamos fazer um documento mais conciso.
Espero ter atendido o anseio de todos e agradeço aos colegas da Comissão
por me ajudarem nesse trabalho.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Muito bem, Dr. Nelson.
Concedo a palavra ao autor do requerimento, Deputado Ronaldo Caiado.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Parlamentares, depois da exposição do Dr. Nelson, profundo conhecedor da matéria
que acompanha esse assunto há mais de 20 anos, fica claro que a reação foi
uniforme. Ou seja, pequeno produtor, arrendatário, meeiro, médio produtor, grande
produtor, todos foram unânimes em dizer que essas medidas em nada resolveram o
problema da agropecuária brasileira.
Fica claro ainda que o Governo empurra com a barriga o problema, jogando-o
para a última parcela, e contabiliza, na mídia, como sendo tudo aquilo ali
apresentado, somando, em valores, um absurdo, como muito bem desmistificou o
Nelson, chegando ao montante de 15 bilhões de reais o atendimento ao setor rural.
Na verdade, o setor rural em nada foi atendido, porque somente aquele que
está adimplente hoje, cumprindo todas as exigências com o Governo, ou podendo
ter acesso ao FAT Giro Rural para transferir uma dívida de CPE, que hoje está em
torno de 27,5%, para 12,15%, poderá ser beneficiado. Apenas aqueles que têm as
parcelas de investimento em dia poderão ser beneficiados nesse atual projeto ou
pacote do Governo.
Esse universo deve chegar a 0,01%, o que foi mostrado aqui com clareza
pelo Sr. Nelson Fraga Filho. Até o cidadão que tem cheque especial poderá ter sua
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pretensão excluída, porque fica na dependência do humor do gerente do banco a
prorrogação ou não da sua parcela, tendo sobrevivido até o momento.
Então, o que precisamos fazer a partir de agora é ocupar a tribuna da
Comissão de Agricultura e do plenário da Câmara dos Deputados e começarmos a
desmistificar essa farsa apresentada como um pacote que atenderia às
reivindicações do setor.
A exposição feita aqui em nada atende àquilo que foi um fechamento de
questão de nossa parte, ou seja, abertura da renegociação das dívidas e a
comercialização da nossa safra. Foram os 2 pilares principais que apresentamos ao
Governo.
Esta Comissão foi excluída da negociação. Não fomos chamados.
Prorrogaram a audiência conosco por 2 vezes. Ficamos aqui até a última quinta-
feira, quando, às 10h30 da manhã, recebemos telefonema comunicando que
infelizmente não seríamos atendidos e que o pacote já seria anunciado pelo
Governo.
Os tecnocratas não quiseram ouvir a Comissão de Agricultura e falsearam
tudo aquilo que solicitamos. Venderam para a opinião pública uma imagem
totalmente irreal e mentirosa. Precisa ficar claro que o produtor rural está cada vez
mais dependendo hoje da vontade e do humor dos gerentes de bancos.
Concluo dizendo que estamos adiando essa discussão. A posição na data de
hoje, 19 de abril, 13 dias depois de apresentado o pacote, é a seguinte — e o
Presidente da Comissão, Deputado Abelardo Lupion, e todos os demais tivemos o
cuidado de não fazer nenhuma avaliação precipitada: até o momento a resolução do
Banco Central não foi redigida, mas todos os levantamentos feitos pela Comissão de
Agricultura, CNA e OCB mostraram exatamente o que o Dr. Nelson acaba de nos
expor, ou seja, uma farsa. A montanha pariu um rato. Essa é a verdade. Não
resolveu em nada o setor da agropecuária brasileira, e o Governo vai levando o
setor mais importante da economia brasileira a esse quadro de total colapso.
Ao encerrar, Sr. Presidente, peço aos demais pares que façamos na tarde de
hoje uma série de pronunciamentos para demonstrar a insensibilidade do Governo.
Para tanto, peço apoio a todos, num gesto suprapartidário, porque teremos
oportunidade, na próxima semana, de discutir a Medida Provisória nº 285, derrubar o
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projeto de conversão do Relator, pedir preferência ao destaque apresentado pelo
Deputado Nélio Dias e irmos para o enfrentamento no Plenário, onde aprovaremos o
projeto de conversão que saiu desta Comissão. A partir daí, poderemos exigir que o
Projeto nº 5.507, de autoria desta Comissão, para renegociação das dívidas do Sul,
Sudeste, Centro-Oeste e Norte, seja também avaliado pela Comissão de
Constituição e Justiça, e possamos dar-lhes continuidade. Fora desses 2 Projetos, o
de nº 4.514, que trata dívidas do Nordeste, e o de nº 5.507, que trata dívidas das
outras regiões do País, não teremos salvação para a crise que aflora neste
momento. Somente esses 2 projetos poderão dar alternativa e sobrevivência ao
setor rural.
Por isso, peço não consumirmos energia sem ter um rumo. E o nosso rumo
agora é aprovar a Medida Provisória nº 285 e desmistificar essa farsa que o Governo
vem apresentando como benefício de 15 bilhões ao setor rural.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Obrigado, Deputado
Ronaldo Caiado.
Temos aqui uma publicação que saiu em todos os jornais e revistas do Brasil,
patrocinada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, que diz que há uma boa
notícia para os agricultores. “O Governo Federal prorroga dívidas e apóia a
comercialização da safra, garantindo o preço justo ao produtor.” Acabamos de ver
aqui que isso não foi aprovado ainda pelo Conselho Monetário Nacional. Então não
existe.
E diz ainda a publicação: “Os agricultores que têm financiamento e custeio
vencido, ou a vencer em 2006, devem procurar sua instituição financeira para
renegociar a dívida”. “As parcelas de financiamento e investimento vencidos ou a
vencer serão prorrogados para o final do contrato”.
Determino ao Secretário da Comissão que faça uma consulta à Assessoria
Jurídica da Casa para ver — e se as devidas medidas não foram ainda aprovadas
pelo Conselho Monetário Nacional isso aqui é propaganda enganosa, é custo
indevido para os cofres públicos, com objetivo eleitoreiro — a possibilidade de
cobrar dos autores a responsabilidade pecuniária e criminal sobre esse tipo de
propaganda enganosa. Isso é inadmissível no momento grave por que passa o setor
rural.
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O SR. DEPUTADO CARLOS MELLES - Sr. Presidente, peço que seja
distribuída uma cópia para cada um de nós.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Eu vou mandar tirar cópia
para ser distribuída. O Deputado Dilceu Sperafico está com o original aí do Zero
Hora de hoje.
O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS - De preferência uma cópia
colorida.
O SR. DEPUTADO CARLOS MELLES - Sr. Presidente, o Estado de Minas
teve uma página inteira com este assunto.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - está aí em todos os
jornais do Brasil.
O SR. DEPUTADO CARLOS MELLES - Sugiro a V.Exa. que passe essa
cópia para todos os Deputados, porque é realmente propaganda enganosa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Exatamente. A
Assessoria Jurídica da Casa vai fazer o que tem de direito e encaminhar essa
denúncia à Procuradoria Geral da República.
Com a palavra o Deputado Leandro Vilela. (Pausa.) Ausente.
Com a palavra a Deputada Kátia Abreu.
A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU - Sr. Presidente, apenas para reforçar
essa questão, não só da publicação antecipada, enganosa, que também está aqui
em outro jornal — O Correio do Povo, do Rio Grande do Sul —, mas uma das coisas
mais absurdas que podemos verificar é que o Ministro da Agricultura foi excluído do
anúncio, e a Confederação Nacional da Agricultura já enviou correspondência a
S.Exa.
Aqui está: Ministério do Desenvolvimento Agrário. Conseqüentemente, esse
jornal circulou principalmente no Rio Grande, onde o Sr. Ministro Miguel Rossetto
pretende ser candidato ao Senado da República. O Ministério da Agricultura foi
excluído desse anúncio como se nada tivesse a ver com o assunto, como se não
fizesse parte do setor rural brasileiro.
Ainda ontem, Sr. Presidente, falei com o Vice-Presidente do Banco do Brasil,
Sr. Ricardo Conceição, para contornar a questão caso a caso. Tivemos um
precedente com relação ao CONDEL, quando se permitiu aos bancos repassadores
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dos fundos constitucionais fazerem laudos regionais de perda de renda ou de
estiagem. E fizemos a mesma solicitação ao Ministro, ainda por telefone, assim que
as medidas saíram, e ontem reforcei com o Ricardo Conceição, para que pudesse
ser votado no Conselho Monetário Nacional o pré-requisito de os bancos poderem
fazer o laudo regional.
Vejam, pega-se um pólo de produção, reúnem-se banco, sindicato rural,
cooperativa e produtores e faz-se a constatação, por meio de planilha, de que toda a
região está fadada ao mesmo problema. Vamos encontrar algumas regiões do Brasil
— próximas aos portos, por exemplo, — em que essa perda de renda será menor.
Também merecem um laudo regional que não será tão crítico como o da região de
Pedro Afonso, no Estado de Tocantins, que está a quilômetros do Porto de Itaqui.
O vice-presidente Ricardo Conceição ponderou o seguinte: se os laudos se
estendessem a muitos produtores, esse mesmo recurso comprometeria o crédito de
custeio 2006/2007, porque a fonte é a mesma, o recurso é o mesmo. Ao final da
conversa, entendi que se for feita justiça a todos os produtores, como merecem, o
dinheiro não dará para a safra 2006/2007.
Ontem, na CNA, tivemos a reunião do conselho da casa com a presença de
todos os presidentes de federação do Brasil e dos nossos presidentes de Comissões
Técnicas, que levaram nossas demandas. Ali vimos que o clamor e o desespero na
base estão insustentáveis.
Tivemos um caminhonaço bem-sucedido e um tratoraço que foi um sucesso.
Precisamos agora tomar alguma outra medida que mostre ao Governo a situação
real da agropecuária neste País. A prorrogação do custeio por 1 ano foi um empurrar
com a barriga, principalmente quando se considera caso a caso.
E temos de dizer ao produtor rural que eventualmente conseguir prorrogar
seu custeio por 1 ano que nessa safra, ao invés de produzir 100% ele terá de
produzir 140% para, assim, pagar a safra do ano passado, a safra deste ano, a
parcela do seu PESA e a da sua securitização.
Há falta de sensibilidade muito grande por parte do Governo. Esta Comissão
e as entidades rurais deste País precisam envolver os setores que estão de braços
cruzados e que são mortalmente atingidos pela crise, como a agroindústria, as
indústrias de máquinas e implementos, de fertilizantes, de defensivos, o setor de
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transporte. Onde está essa massa silenciosa que lucra tanto com a agropecuária
brasileira e que não se manifesta com um artigo sequer, com uma visita ao Palácio
do Planalto, uma visita a esta Comissão de Agricultura, como se fosse um mundo,
um planeta à parte dessa situação?
Acredito que esta Comissão de Agricultura poderia tentar unir todos esses
setores, para ficarmos fortes e combatermos ações como essa. A única forma de
combater ações como a desse jornal é trazer contra-informações e chamar o
Governo de mentiroso, porque é isso que ele merece.
Essas ações às vezes requerem apenas nosso esforço físico, emocional, de
inteligência, mas haverá momentos em que vamos precisar de dinheiro para, por
exemplo, promover publicações em jornais, para fazer mídia a nosso favor e
trabalharmos os veículos de comunicação para orientar o produtor rural.
Como a grande maioria das federações de agricultura do País, a Federação
do Estado do Paraná, por meio do seu Presidente Ágide Meneguette, está
orientando 100% dos produtores daquele Estado — e para isso montou uma
comissão para gerência da crise — a entrar na Justiça contra o banco, protocolando
em massa o pedido de prorrogação. Montaram uma banca imensa de advogados
para, em conjunto, entrarem na Justiça. É o sentimento do Paraná, do Rio Grande
do Sul, do Mato Grosso do Sul e também do Estado de Goiás.
Acredito nessas opções. Precisamos de um comitê de crise permanente para
trocarmos idéias entre o Congresso Nacional e a iniciativa privada. Temos de
envolver os setores que estão de braços cruzados, como se nada estivesse
acontecendo com eles, para criarmos ações que chamem a atenção do Governo.
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Obrigado, Deputado Kátia
Abreu.
Com a palavra o Deputado Cezar Silvestri.
O SR. DEPUTADO CEZAR SILVESTRI - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, em todo o mundo, mas principalmente nos países desenvolvidos, vemos
que o setor da agropecuária recebe maior proteção dos governos pela função social
que representa, especialmente por fixar o homem ao campo e levá-lo a produzir. O
princípio básico dessa proteção que os países do Primeiro Mundo dão aos
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produtores rurais é a garantia de preço — e é isso que todos nós queremos. Os
produtores rurais não gostam de discutir prorrogação de dívida e auxílio de Governo.
O que eles querem é garantia de renda. Para isso precisaria haver garantia de preço
que realmente os remunerasse.
Choca-nos uma propaganda como essa, Deputado Abelardo Lupion, segundo
a qual o Governo prorroga as dívidas e apóia a comercialização, garantindo o preço
justo ao produtor. Será que para o Governo 10 reais é um preço justo para o
produtor de milho? Será que um valor entre 16 e 20 reais, que é o que está sendo
pago pela soja no Mato Grosso, é justo? Será que 17 reais é um preço justo para o
trigo? A arroba do boi a 45 reais é um preço justo? Ou será que o Governo do
Presidente Lula não tem a menor noção de qual é o custo de produção?
O produtor Nelson lembrou muito bem que todos os produtos, mesmo com
alta produtividade, dão prejuízo. E o que é pior de tudo é que o Governo gasta muito
em divulgação de propaganda mentirosa.
Deputada Kátia Abreu, ainda bem que o Ministro Roberto Rodrigues não
participou da divulgação dessa propaganda. Se tivesse feito isso seu currículo ficaria
ainda mais atingido. S.Exa. já teve um comprometimento muito grande por estar à
frente do Ministério por mais de 3 anos. Penso que o Ministro Roberto Rodrigues
teve um prejuízo muito grande em sua biografia por estar à frente do Ministério da
Agricultura neste Governo.
No que diz respeito à exposição do Dr. Nelson, a pergunta que fica no ar é
com relação ao custeio, assunto sobre o qual todos nós Deputados estamos sendo
questionados pelos produtores rurais nas nossas bases. Ali está dito claramente que
somente será prorrogado caso a caso o custeio dos produtores que estiverem
adimplentes.
Deputado Ronaldo Caiado, alguns gerentes não estão sabendo ou estão
tendo má vontade em interpretar a lei. Exemplo disso está nesse fax que V.Exa.
recebeu sobre a prorrogação do crédito de investimento em pecuária.
Se estão interpretando equivocadamente a legislação, imagine na análise
caso a caso, se o produtor estiver adimplente. Se ele estiver adimplente, o que o
gerente vai dizer: “Você não terá prorrogação”. É uma farsa! Não haverá nenhuma
prorrogação, porque o gerente sempre vai perguntar ao produtor se ele tem
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condições de pagar a dívida. Se o produtor disser que no momento não, apenas
quando vender sua produção, mesmo assim faltarão 20%, conforme visto
claramente com base na produtividade da soja de 50 sacas por hectare. O produtor
terá que tirar 20%, 25% do bolso para pagar o custeio, e mesmo assim vai poder
pagar os 75% e depois tentar pagar os outros 25%. Se conseguir pagar tudo, vai
ficar sem nenhum centavo para se manter durante o ano todo. Então, na verdade é
uma farsa essa propaganda de prorrogação de dívida que o Governo vem fazendo.
Afirmo tanto aqui quanto no meu Estado que se trata de uma farsa do
Governo Federal. Ele está cada vez mais iludindo o produtor. O Governo — pelo
menos é o que sinto — não quer saber se o produtor rural está quebrando, está
falindo, se não terá nenhuma visibilidade em termos de futuro. O que ele quer é de
imediato ter preço baixo para o consumidor, a fim de vencer as próximas eleições. O
Governo quer o arroz, o milho e o feijão a preços baixos. Não quer saber se o
produtor vai ou não quebrar.
O próprio Presidente da República, em seu discurso, disse que fica muito feliz
em ver que hoje o consumidor está comendo filé mignon. Também queremos que o
brasileiro coma filé mignon. Quanto mais ele comer, mais teremos a valorização do
nosso produto. Queremos um salário mínimo justo, porém não em cima do sacrifício
do produtor rural, fazendo com que ele trabalhe com prejuízo e que realmente não
tenha mais renda, tendo de sair da atividade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Muito obrigado, Deputado
Cezar Silvestri.
Com a palavra o Deputado Érico Ribeiro.
O SR. DEPUTADO ÉRICO RIBEIRO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, o primeiro assunto que queria trazer ao conhecimento da Casa — e
V.Exa., Sr. Presidente, já falou a respeito dele — é a propaganda enganosa do
Governo. Vou consultar os setores jurídicos da Casa para ver se podemos processar
o Governo por isso.
O Governo não está cumprindo a lei. Ele tem de pagar preço justo ao
produtor. Determina a lei que, além dos preços mínimos, o Governo tem de comprar
a safra para garanti-la. Ele, porém, não está comprando absolutamente nada. Ou
seja, não está cumprindo a lei.
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Sr. Presidente, sugiro a V.Exa que inclua na consulta à Assessoria Jurídica o
descumprimento da lei não apenas deste Governo, mas do anterior também.
Outro assunto que queria trazer são as execuções de dívida ativa, que são
completamente ilegais. Sobre isso tem de haver uma posição comum. Muitos juristas
me disseram, que nós, produtores agrícolas, ou nós, Deputados, que defendemos a
produção agrícola, temos de pedir a revisão disso. Jamais se pode cobrar uma
dívida, como o Ministério Público está fazendo, sem uma revisão do seu valor exato.
Sugiro que esse assunto seja tratado em audiência pública, com a presença
de juristas. Temo que sejam adotadas posições díspares em outros lugares e que
isso vá criando decisões contrárias aos nossos interesses, que depois sirvam de
jurisprudência para o nosso caso. É importante tratarmos da dívida ativa e de sua
execução em audiências públicas.
Precisamos de medidas de longo prazo, nisso todos foram unânimes.
Conforme os companheiros já disseram, nada foi feito para resolver o problema de
renda. Sem renda, não podemos pagar nossas contas. Sem renda, o produtor não
paga conta alguma. Ele simplesmente não pode pagar nada. Esse assunto
realmente já está debatido. Porém, é preciso estudarmos medidas de longo prazo.
Temos de sugerir ao Governo medidas de longo prazo, a fim de resolvermos o
problema.
Os produtos agrícolas estão todos receosos com o preço de custo, que é
superior ao do mercado internacional. Com esse valor do dólar, não há quem
consiga sobreviver no campo.
E há outras coisas também. O Governo prometeu logo no início do ano
passado que os genéricos seriam aprovados até o fim do ano. Ou seja, que até
outubro ou novembro teríamos produtos genérico para utilizar na agricultura. No
Uruguai e na Argentina os produtos custam entre 20 e 35, ao passo que aqui eles
valem 100.
Isso é um absurdo! Enquanto a nossa lavoura está saindo por valores muito
mais altos, os nossos colegas do MERCOSUL estão produzindo com preços
inferiores aos nossos. Esse é um outro assunto que considero muito importante.
Tínhamos a promessa do então Ministro da Fazenda e do Ministro da Agricultura de
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que isso seria resolvido. Até agora, porém, de genérico não temos praticamente
nada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Obrigado, Deputado.
A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU - Sr. Presidente, quero falar sobre um
detalhe que o Deputado acabou de mencionar. Temos um projeto de lei protocolado
na Casa, apensado a outro do então Senador Blairo Maggi, que flexibiliza o registro
de produtos equivalentes aos genéricos. Esse projeto teria sido em princípio uma
sugestão para a Ministra Dilma Rousseff fazer uma medida provisória.
Para tratar do assunto, estivemos na semana passada com o Presidente Aldo
Rebelo e com representantes da Associação Nacional dos Produtores de Algodão.
O Presidente Aldo Rebelo comprometeu-se a votar esse projeto em regime de
urgência. Já tenho as assinaturas. Seria importante que a Comissão pudesse fazer
gestão junto ao Presidente para, o mais rapidamente possível, pautar esse projeto, a
fim de que ele seja votado em regime de urgência. Hoje ele está na Comissão de
Meio Ambiente e Seguridade e depois virá para esta Comissão. Se urgência for
conseguida, vai direto para o plenário.
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Com a palavra o
Deputado Carlos Melles.
O SR. DEPUTADO CARLOS MELLES - Sr. Presidente, cumprimento V.Exa.
e o Nelson Araújo pelo esclarecedor diagnóstico do setor agropecuário.
Concordo com o que disseram os expositores que me antecederam a respeito
da dívida agrícola. Temos de recuperar toda a dívida ativa, em função da
desigualdade de tratamento havido no setor.
Tomo a liberdade de levar a V.Exa. e à Comissão uma sugestão. Além de
consultarmos a área jurídica sobre esse assunto, sugiro a V.Exa., que tem
comunicação fácil, é um grande líder, que leve os membros da Comissão para visitar
o Ministério Público ou o Supremo para tratar desse assunto. O Governo reconhece
a falta de renda do setor. O Manual de Crédito Rural, ao reconhecer a falta de renda,
automaticamente prorroga os débitos sem fazer nenhum favor a ninguém. E não é
caso a caso.
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Talvez o Ministério Público ou o Supremo Tribunal Federal possam dar a sua
versão, e aí cessa toda essa especulação, pelo menos momentaneamente, para que
tomemos atitudes outras nesse sentido.
Ontem tive a oportunidade de falar com V.Exa. sobre o assunto. Temos de
fazer a nossa parte. E qual seria: publicar em alguns jornais que a propaganda do
Governo é mentirosa, assinarmos a matéria e também fazermos uma pequena
cartilha para todos poderem entender o caso do agronegócio brasileiro. Não
queremos que a mídia continue mostrando nosso setor como chorão. Sempre foi
assim.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - É uma boa idéia,
Deputado. Quero designar o Deputado Jairo Carneiro, grande jurista que é, e o
Deputado Luis Carlos Heinze, para que, junto com a assessoria da Casa, discutam
sobre as medidas a serem tomadas quanto a essa vil publicação. Portanto, seria
muito importante que V.Exas. acompanhassem esse assunto, para que possamos
fazer uma visita ao Ministério Público, pedir a denúncia, para ver o que podemos
fazer. Este é o papel desta Comissão de Fiscalização. Se necessário, poderemos
colocar um Relator na Comissão de Fiscalização e Controle para analisar um projeto
de fiscalização e controle, para tomarmos as medidas drásticas, a fim de que isso
não volte mais a acontecer.
Com a palavra o Deputado Luis Carlos Heinze.
O SR. DEPUTADO LUIS CARLOS HEINZE - Sr. Presidente, colegas
Parlamentares, vou ser objetivo nesta parte, antes de entrar no restante. Temos aqui
um brilhante jurista, o Deputado Jairo Carneiro, que poderia nos ajudar com a
objetividade, a assessoria da Comissão e a Assessoria Legislativa da Casa.
A propaganda enganosa do Governo é fato extremamente grave, como bem
disse a Deputada Kátia Abreu.
O arroz custa no Rio Grande do Sul de 26 a 28 reais. Estive em um
movimento que a FETAG e os pequenos agricultores realizaram, numa localidade
chamada Novo Cabrais, e fiquei sabendo que há agricultores vendendo arroz a 11
reais. Nem o preço mínimo de 22, que é abaixo do custo de produção, está
garantido.
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Sr. Presidente, todo o Brasil estão vendo isso. O cidadão urbano está vendo.
Daqui a pouco, o produtor está chorando de barriga cheia. Aqui está a gravidade do
problema. Afirmaram também que iriam renegociar 15 bilhões de dívida. Então, o
produtor que está pedindo alguma coisa, está chorando de barriga cheia, porque
rolaram 15 bilhões. Imaginem o que dirá um cidadão que está comendo 1 quilo de
arroz, 1 quilo de feijão. Sabem o quê? Que esses caras ganharam 15 bilhões de
rolagem da dívida, que estão ganhando dinheiro e que o preço do produto é justo. E
ainda perguntarão: “E o que esses caras querem mais?” Esse cidadão, Deputado
Jairo Carneiro, é que tem de ser esclarecido. É essa nossa ação objetiva.
Sr. Presidente, a par de tudo, coloco essa preocupação. Pegamos os dados
do ano passado, do valor bruto da produção. Não sei se há aqui alguém da CNA,
mas temos de conferir e acertar esses dados. O Nelson falou da produção do ano
passado, de milho, arroz, algodão e também da pecuária. Gostaria de dizer a ele
que esses números estão um pouco diferentes. O algodão perdeu 1,2 bilhão; o
arroz, 2,1; o milho, 3,5; mas a soja perdeu 10. O trigo perdeu 0,5; o boi, 2. Apenas
nesses 5 produtos a perda de faturamento foi de 19 bilhões de reais.
Estou espantado — fiz um rápido rabisco com os preços atuais de milho, soja,
e peguei o trigo. Temos aqui um déficit desses 4 produtos de 30 bilhões de reais
para 2006. É a projeção de 2006, Sr. Presidente. Isso é mais grave ainda.
Se não temos crédito suficiente, temos de pagar essas contas. E o que vamos
fazer? Temos 2 exemplos do Rio Grande do Sul: a lavoura de soja, com 3 milhões,
926 mil hectares — disse isso ontem no Palácio do Planalto —, com um custo de
desembolso de 877 reais por hectare, daria 3 bilhões e 445. Sabem quanto o Banco
do Brasil financiou? Seiscentos e seis milhões de reais. Digamos que outros bancos
possam ter financiado 200. Quer dizer, ainda há uns 2 bilhões e meio que estão
devendo para a Bünge, para a Cargill, para a Monsanto, para não sei quem. Esse é
o grave problema. Não adianta eu apenas rolar o custeio do banco. Como vou
acertar essas contas de fora? Pior: há uma projeção feita para o Rio Grande do Sul,
com um faturamento de 34 sacas por hectare, vendendo a 22 reais. E há regiões
que não vendem a 22 reais. Há regiões que não colhem as 34 sacas de soja por
hectare. Sabem qual será o déficit apenas do custeio deste ano lá? Um bilhão e 261
milhões de soja, no Rio Grande do Sul. Podemos fazer esse mesmo cálculo para
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Santa Catarina, Paraná, Bahia, Mato Grosso, enfim, para qualquer Estado. No arroz,
usando o mesmo raciocínio, vamos perder 948 milhões de reais. Isso vale para o
Brasil todo. Daqui a pouco, vamos concluir que o pessoal não consegue pagar as
contas.
Concordo com as sugestões apresentadas. Temos de urgentemente chamar
para debater o assunto as nossas entidades — CNA, OCB e a própria CONTAG —,
fazermos uma reunião com o Ministério da Agricultura e com o Ministério do
Desenvolvimento Agrário, chamarmos também as indústrias e os bancos, porque
eles têm de participar do processo. Todos juntos temos de discutir esse assunto.
Estamos discutindo apenas com o Governo, Sr. Presidente. A minha sugestão
é levarmos para o Ministério da Agricultura, que ele capitaneie esse processo
chamando os bancos que nos financiam, as indústrias que vendem e compram
nossos produtos, para, juntos com a Comissão de Agricultura, administrarmos essa
crise sem precedentes na história da agricultura brasileira. Ela é muito pior do que a
de 1995, quando discutimos a renegociação das dívidas. Aqueles anos de 1985,
1986 e 1987 estão voltando 20 anos depois.
O problema é grave. Temos de convocar imediatamente uma representação
da Comissão de Agricultura ou um grupo de Parlamentares para discutir o assunto e
tomar as necessárias providências. Como não temos aqui a maioria para deliberar,
não sei se podemos fazer isso. Um grupo de Parlamentares — eu assino, V.Exa e o
grupo que concordar — deve entrar com uma representação contra o Ministério do
Desenvolvimento Agrário e contra o Governo Lula por essa propaganda enganosa
que ele está apresentando.
Em segundo lugar, temos de propor uma reunião com o Ministério da
Agricultura, o setor da indústria, os bancos e o próprio Governo para definirmos essa
situação. Tive no ano passado essa idéia na Comissão presidida pelo Deputado
Ronaldo Caiado. S.Exa. capitaneou esse processo aqui e conseguimos os 3 bilhões.
Apenas foram usados 819 milhões. Por quê? O produtor não tinha limite e as
próprias indústrias, nas nossas audiências, diziam o seguinte: “Como vou avalizar
uma operação, se sei que o cara não vai pagar; uma operação que terei de pagar no
próximo ano?” Isso ele já sabia no ano passado, e nós também, Deputado Caiado.
No Alerta à Nação Brasileira, em novembro, já adiantávamos tudo isso que estamos
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vendo agora. Em novembro, foi dito que a soja, o arroz, o milho, o algodão, o boi, o
leite e o frango teriam esses problemas. Então, estamos repetindo o fato.
Esta Comissão — e já disse isso no ano passado — tem de tomar uma
iniciativa. O problema é extremamente grave em todo o interior do Brasil. Não
podemos, com propaganda enganosa, esconder da sociedade brasileira que o
agricultor está mal. Não sei se há alguém da imprensa aqui, mas daqui a pouco vão
me perguntar, como já aconteceu num programa de televisão: “Vocês estão
recebendo 15 bilhões, o que querem mais neste momento? Se não salvam uma
VARIG que está quebrando, se não salvam outra coisa qualquer, como vão salvar o
agricultor?”
O Presidente Lula, com sua demagogia, está fazendo campanha em cima das
costas do produtor de leite, de frango, do criador de gado, do produtor de arroz, que
estão produzindo comida barata para o povo brasileiro comer e quebrando a
agricultura. E não se faz nada contra a alta do preço do petróleo, um dos itens mais
caros do custo de produção. E o petróleo é brasileiro, produzido por uma empresa
brasileira, que daqui a alguns dias vai decantar que é auto-suficiente em petróleo, e
não se faz nada contra isso. Esse é um dos itens.
O produtor produz caro, vende barato e está quebrando — e alguma coisa
temos de fazer. É responsabilidade desta Comissão, Sr. Presidente, sob seu
comando, capitanear esse processo, para que possamos fazer um levante do Brasil,
a fim de mostrarmos à sociedade brasileira e ao Presidente Lula que alguma coisa
tem de ser feita, envolvendo as indústrias, os bancos, o Governo e os produtores
rurais.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Obrigado, Deputado Luis
Carlos Heinze.
Com a palavra o Deputado Jairo Carneiro.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sr. Presidente, quero inicialmente
agradecer a V.Exa. a confiança depositada em meu nome para integrar esta
Comissão, com vistas a enfrentar esse tipo de fraude. A verdade tem de prevalecer.
Do contrário, a sensação que se tem é a de que o setor produtivo rural estaria muito
bem aquinhoado, e, de alguma sorte, a população poderia ficar em uma posição
antagônica aos que produzem a riqueza no campo. Temos de deixar às claras esse
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disfarce e tomar as providências legais e jurídicas que se justifiquem contra essa
ação do Governo Federal. Estou a postos para colaborar. Não devemos cometer
nenhum tipo de excesso, mas devemos lutar para que essa prática não persista por
parte do Governo.
Outro ponto que queria comentar é a respeito da agenda da Presidência
sobre a visita ao Senador Renan Calheiros, para discutir a questão do veto àquela
proposição que cuida da renegociação dos débitos do Nordeste.
Peço a V.Exa. que, talvez diretamente, inste junto ao Presidente Renan
Calheiros, porque considero importante que a Comissão maciçamente lá
compareça, e que sejam convidados presidentes de federações de agricultura e
outras entidades de âmbito nacional para essa visita para tratar desse assunto.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Deputado Jairo Carneiro,
quero agradecer a V.Exa por ter aceito fazer parte desta Comissão que vai elaborar
parecer jurídico sobre as medidas a serem tomadas nesse sentido. Vamos hoje
mesmo tomar providências, pedindo uma audiência com o Presidente Renan, com
os membros da Comissão de Agricultura, na próxima semana, a fim de resolvermos
o problema do veto à Medida Provisória nº 285, que considero extremamente
importante neste momento. E hoje mesmo tomaremos providências para que isso
aconteça.
Com a palavra o Deputado Pompeo de Mattos.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Antes de passar a palavra ao
Deputado Pompeo de Mattos, V.Exa. poderia me conceder 30 segundos, por favor?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Pois não, Deputado.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Convido todos os presentes para
um evento hoje à noite na Confederação Nacional de Agricultura, ocasião em que
vamos homenagear o Deputado Abelardo Lupion, que assumiu a Presidência desta
Comissão.
Gostaria que todos estivessem presentes e que fizéssemos lá hoje um grande
encontro. Além da homenagem à sua posse, também haverá um bate-papo após a
reunião.
Muito obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Obrigado, Deputado
Ronaldo Caiado.
Com a palavra o Deputado Pompeo de Mattos.
O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, vou dar à Comissão a posição da bancada do meu partido, o PDT, ante
os acontecimentos proclamados e anunciados pelo Governo no que diz respeito às
notícias para a agricultura.
No último final de semana estive, juntamente com o Deputado Luis Carlos
Heinze, em São Borja, onde a grita dos produtores era uma só. Diziam eles que o
campo não tinha como se sustentar. Quando não era frustração em função das
intempéries, era frustração em função da falta de preço; que eles, produtores, iam se
frustar em função de não poderem colher ou de não terem preço para vender o
produto. É aquela expressão que cunhei: temos de fazer um contrato com a
natureza para plantar e formar lavoura. Nesse contrato ainda teremos de pedir o
aval de São Pedro e rezar, torcer para que chova a fim de prepararmos a terra;
temos de pedir sua proteção para que pare de chover para plantarmos, para que
chova para nascer a produção; que pare de chover para crescer a lavoura e que
chova para ela florescer; e que pare de chover, enfim, para colhermos. Vamos
finalmente pedir a São Pedro para que depois consigamos preço para vender nosso
produto, que o Governo não atrapalhe e deixe tudo acontecer.
No ano passado, no Rio Grande do Sul, em função da lavoura da soja, as
intempéries não nos ajudaram. O clima não foi favorável. Neste ano tínhamos uma
boa safra da soja e do arroz. Contudo, em que pese à boa safra, o Governo não nos
ajuda. Ele atrapalha. O Governo vem há bastante tempo tentando empurrar com a
barriga a questão do anúncio da tal da medida provisória do bem. Esperávamos que
viesse a medida provisória do bem. Ela chegou, mas ao contrário do que se
anunciava, em vez de ser a medida provisória do bem bom, passou a ser a do bem
pouco. Do bem pouquinho. É tão pouco, quase insignificante. O pior: antes de
chegarem os resultados do pouco que a medida provisória do bem está dando,
esse bem pouco nem chegou e já é anunciado nos jornais, alto e bom som. No Rio
Grande do Sul é o Zero Hora, o Correio do Povo, o Jornal do Commercio, os
principais jornais, páginas e páginas, anúncios coloridos, bonitos, enfim, com gastos,
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aparência, montagem, marketing, com faz-de-conta, uma coisa impressionante.
Gostaria que o Governo fosse rápido em tomar as medidas e fazer com que suas
conseqüências acontecessem, como ele é rápido em fazer a propaganda nos
jornais. Não somos contra a propaganda. Até compreendo que o Governo precisa
difundir seus atos, seus feitos, suas medidas, suas decisões, sim, mas quando
elas começarem a surtir efeito. O que ele não pode é colocar a carroça na frente dos
bois. Isso é propaganda enganosa. Mentiu para o tio. É isso que estão fazendo.
Deixo essa posição bem clara. Absolutamente não se trata de uma questão
antagônica contra o Governo. “Em sendo o Governo, sou contra; não”. Em havendo
uma medida boa do Governo, não terei absolutamente nenhum óbice em aplaudir,
em difundir, fazer propaganda e em anunciar que está correto. Quando foram
anunciadas as medidas do Palácio lá estava o Ministro do Desenvolvimento Agrário,
o novo Ministro que sucedeu Miguel Rossetto, candidato ao Senado do Rio Grande
do Sul. Lá estava o Ministro Roberto Rodrigues. Sentei-me ao lado do Diretor do
Banco do Brasil. Senti até certo desconforto. Digo isso por conta própria. Não
cometo inconfidência e nem me foi feito nenhuma confidencialidade por parte de
quem quer que seja que ali estivesse, mas eu estava ao lado do Diretor do Banco do
Brasil, até porque sou funcionário do Banco do Brasil. Senti desconforto, uma vez
que se anunciavam medidas e sabemos que o banco não iria implementá-las na
forma como estavam sendo anunciadas, da maneira como estavam sendo
propagandeadas. É óbvio que o banco é um instrumento do Governo. Sim, mas o
banco tem métodos, maneiras, regras, disposições que ele próprio precisa seguir. O
Governo diz uma coisa, mas faz outra. Até porque não tem como fazer o que está
dizendo. Tenho bem clara essa compreensão. Vi o constrangimento dos meus
colegas do Banco do Brasil. Enfim, Sr. Presidente, aquilo que se anunciou lá não
chegou à base. Não chegou ao produtor, ao laboreiro, ao plantador. O nosso papel,
missão e compromisso é denunciar. O povo quer ouvir a voz dos Deputados Luis
Carlos Heinze, Pompeo de Mattos, Lupião e outros. Enfim, nenhum dos
Parlamentares ligados à agricultura recuaram, afrouxaram, arredaram o pé. Temos
de reclamar, segundo os ditos populares: “O bom cabrito não berra; quem não chora
não mama; não adianta arrumar a cama para outro deitar; só quem sabe pode
ensinar; desse mato não sai coelho; quando o jogo é páreo, não adianta rezar”.
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Então, não adianta rezar para a natureza, temos mesmo é de reclamar para o
Governo, temos de recorrer a ele, pressionar e espernear — e é o que estamos
fazendo. Espero que o Governo não seja cego, surdo, mudo, insensível e
compreenda um pouco os produtores, até por que na esquina do tempo, ainda que o
Governo dê tempo ao tempo, para que com o tempo tenha tempo, encontrará com o
leitor no tempo certo. E pode ser que tenha passado o seu tempo. Dessa maneira, o
tempo perdido será o do Governo. Vamos acompanhar toda essa questão.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Muito obrigado, Deputado
Pompeo de Mattos, vou encerrar a reunião. Antes, porém, convoco os Srs.
Parlamentares para reunião deliberativa na próxima quarta-feira, dia 26, às 10h,
neste plenário.
Está encerrada a presente reunião.