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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOSEVENTO: Audiência Pública N°: 0469/09 DATA: 29/04/200 9INÍCIO: 14h32min TÉRMINO: 18h24min DURAÇÃO: 03h51minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h51min PÁGINAS: 77 QUARTOS: 47
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
LÚCIA MORAES – Relatora Nacional pelo Direito Human o à Moradia Adequada e Terra Urbana.CELSO SANTOS CARVALHO – Diretor do Planejamento Urb ano da Secretaria Nacional deProgramas Urbanos do Ministério das Cidades.ETHEL PROENÇA BRAGA – Representante do Departamento de Planejamento Urbano eConflitos Fundiários do Ministério das Cidades.GILDA PEREIRA CARVALHO – Procuradora Federal dos Di reitos do Cidadão.RAQUEL ROLNIK – Relatora Especial para o Direito à Moradia da Organização das NaçõesUnidas.DARCI FRIGO – Representante da Plataforma Dhesca Br asil.GILBERTO CARDOSO AGUIAR – Representante do Moviment o Nacional de Luta pela Moradia– MNLM.MARCELO BRAGA EDMUNDO – Representante da Central de Movimentos Populares.VERÔNICA KROLL – Representante da União Nacional po r Moradia Popular.CRISTIANO MULLER – Representante do Fórum Nacional de Reforma Urbana.COSME VÍTOR – Representante da Associação de Favela s de São José dos Campos e daCentral dos Movimentos Populares – CMP.JAIRO SALVADOR – Defensor Público de São José dos C ampos, Estado de São Paulo.SUELI OLIVEIRA – Presidente do Conselho Estadual da s Cidades e Secretária deDesenvolvimento Urbano e Regional do Estado do Pará .TONHÃO DUTRA – Vereador de São José dos Campos, Est ado de São Paulo.ADNAMAR SANTOS – Representante da Cáritas de Manaus .BENEDITO ROBERTO BARBOSA – Representante da União N acional para o Direito à Moradia.MANOEL COELHO SOARES DIVINO – Representante da União Estadual de Moradia Popular deGoiás.GENIVALDO DOS SANTOS – Representante de São Paulo.DULCE BENTES – Professora e representante do Rio Grande do Norte.
SUMÁRIO: Discussão e encaminhamento de proposições do relatório elaborado pelaPlataforma Dhesca Brasil sobre a efetivação do dire ito humano à moradia adequada no Brasilno período 2007-2009.
OBSERVAÇÕES
Reunião conjunta com a Frente Parlamentar pela Refo rma Urbana, com a Relatoria Nacional doDireito Humano à Moradia Adequada e Terra Urbana, da Plataforma Dhes ca Brasil.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Inicialmente, informo que a
Comissão de Direitos Humanos e Minorias, a partir de hoje, ainda em caráter
experimental, começa a utilizar a ferramenta Twitter, uma inovação da Internet
colaborativa, a Web 2.0. Vamos utilizar o Twitter para divulgar notícias e informações
relacionadas ao trabalho desta Comissão e à luta em defesa e promoção dos
direitos humanos em geral.
Para acompanhar esta audiência pública recebendo mensagens de texto,
basta acessar o endereço eletrônico www.twitter.com/cdhcamara.
Esta ação, além de promover as bandeiras dos direitos humanos, contribui
para democratizar a comunicação.
Declaro abertos os trabalhos da presente audiência pública que a Comissão
de Direitos Humanos e Minorias realiza em parceria com a Frente Parlamentar pela
Reforma Urbana, com a Relatoria Nacional do Direito Humano à Moradia Adequada
e Terra Urbana, da Plataforma Dhesca Brasil.
Esta audiência tem como finalidade discutir e encaminhar proposições do
relatório elaborado pela Plataforma Dhesca Brasil sobre a efetivação do direito
humano à moradia adequada no Brasil no período 2007-2009.
A Relatora Nacional pelo Direito Humano à Moradia Adequada e Terra
Urbana, Lúcia Morais, apresentará relatório contendo os resultados do trabalho da
Relatoria entre 2007 e 2009. Nesse período, foram realizadas visitas e missões para
investigar violações ao direito à moradia em 7 cidades: São José dos Campos, São
Paulo; Manaus, Amazonas; Macapá, Amapá; Belém, Pará; Goiânia Goiás; Rio
Grande, Rio Grande do Sul; Natal, Rio Grande do Norte, e Rio de Janeiro.
Informo que a realização deste evento atende a requerimento de autoria do
Deputado Pedro Wilson, 1º Vice-Presidente desta Comissão, e do Deputado Paulo
Teixeira, Presidente da Frente Parlamentar pela Reforma Urbana.
Gostaria de destacar a pertinência dessa iniciativa, a começar porque o direito
à moradia tem enorme impacto sobre os demais direitos e é essencial para definir a
qualidade de vida e o exercício da cidadania. É um direito que está associado, por
exemplo, à questão ambiental e às demandas por um planejamento urbano
sustentável.
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Embora seja tão importante e esteja consignado pelo Pacto Internacional dos
Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais, o direito à moradia é ainda
pouco reconhecido como um direito humano. Portanto cabe a todos nós divulgar e
fortalecer a exigibilidade desse direito.
Esta audiência também é oportuna porque ocorre no momento em que se
debate o programa de habitação popular do Governo Federal, em parceria com
Governos Estaduais e Prefeituras Municipais. Sem dúvida, é um programa de
grande alcance social e, por isso mesmo, deveria incorporar a contribuição dos
técnicos, dos militantes e das lideranças políticas que historicamente têm atuado na
perspectiva da moradia como direito humano.
Quero saudar nossos convidados expositores, tanto do Governo Federal
como do movimento social e da Plataforma Dhesca, que de certa forma representam
um pouco do pensamento dessa militância pelo direito à moradia.
Dessa forma, esperamos que as reflexões e as propostas que serão
apresentadas possam ser objeto da atenção e da incorporação pelo Ministério das
Cidades e outros órgãos do Poder Executivo no programa de habitação popular.
Passamos então a compor a Mesa desta audiência pública convidando os
expositores Dr. Celso Santos Carvalho, Diretor do Departamento de Planejamento
Urbano da Secretaria Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades
(palmas); Dra. Ethel Proença Braga, representante do Departamento de
Planejamento Urbano e Conflitos Fundiários do Ministério das Cidades (palmas);
Dra. Gilda Pereira Carvalho, Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (palmas);
Dra. Raquel Rolnik, Relatora Especial para o Direito à Moradia da Organização das
Nações Unidas (palmas); Dra. Lúcia Morais, Relatora Nacional pelo Direito Humano
à Moradia Adequada e Terra Urbana (palmas).
Como não há espaço para todos, vamos considerar a primeira fila uma
extensão da Mesa. Estão presentes diversas entidades de direitos humanos na luta
pela moradia.
Convido ainda o Sr. Gilberto Cardoso Aguiar, representante do Movimento
Nacional de Luta pela Moradia (palmas); a Sra. Verônica Kroll, representante da
União Nacional por Moradia Popular (palmas); o Sr. Cristiano Muller, representante
do Fórum Nacional de Reforma Urbana (palmas); o Sr. César Santos, representante
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da Confederação Nacional de Associação de Moradores — CONAM (palmas); e o
Sr. Darci Frigo, representante da Plataforma Dhesca Brasil (palmas).
Como disse antes, a primeira bancada do plenário será uma espécie de
extensão da Mesa, já que não há espaço para incluir todos que farão uso da
palavra. Os representantes dos movimentos sociais presentes ficarão na primeira
bancada e suas intervenções serão feitas após as intervenções dos membros da
Mesa.
Dada a exiguidade do tempo disponível, definimos o tempo de 10 minutos
para cada um dos representantes do Poder Público e da Plataforma Dhesca, e de 5
minutos para cada um dos expositores das representação dos movimentos sociais.
É claro que a Mesa considerará, se for o caso, a necessidade de dispor mais tempo.
Antes de iniciar as exposições, gostaria de convidar o Deputado Pedro
Wilson, um dos propositores desta audiência pública, para coordenar os trabalhos
da Mesa. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pedro Wilson) - Dando continuidade ao
evento, concedo a palavra à Prof.a Lúcia Morais, Relatora Nacional pelo Direito
Humano à Moradia Adequada e Terra Urbana.
A SRA. LÚCIA MORAES - Boa tarde a todos os presentes a esta audiência
pública. Quero cumprimentar o Deputado Federal Pedro Wilson, que nos atendeu e
solicitou a realização desta audiência pública, e os demais representantes da Mesa.
Destacamos a importância desta audiência pública, na Relatoria Nacional
pelo Direito Humano à Moradia Adequada e Terra Urbana, no sentido de expor um
pouco dos problemas das violações ao direito humano à moradia que vêm
acontecendo no Brasil. Por que estou falando em expor um pouco dos problemas?
Porque, infelizmente, não vamos dar conta de relatar todos os problemas que vêm
acontecendo nas cidades brasileiras.
Nossa grande intenção é que esta Casa possa, realmente, integrar-se à
questão dos conflitos fundiários urbanos e que possa ajudar essa comunidade, essa
população que hoje sofre a violação do direito humano em seu local de moradia, em
sua cidade, em sua casa. Junto a essa violação ao direito à moradia, infelizmente,
acontecem outras violações, como a que envolve a questão da criança, a falta de
alimentação e o próprio risco de morte nessas comunidades.
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Nesse sentido — depois o Frigo vai expor o que é a Plataforma Dhesca —, a
Relatoria Nacional do Direito Humano à Moradia é uma das que compõem a
Plataforma Brasileira dos Direitos Humanos Econômicos, Sociais e Culturais e
Ambientais. Desde julho, o Brasil conta também com a Relatoria Internacional do
Direito à Moradia, uma relatoria especial, de que é relatora a nossa colega arquiteta
Dra. Raquel Rolnik. Temos, portanto, a possibilidade, hoje, de a Relatoria Nacional,
integrada com a Relatoria Internacional, dar essa visibilidade aos problemas de
violação do direito humano à moradia nas cidades como um todo.
Gostaríamos de ser bastante sucintos na apresentação, porque estão
presentes vários representantes das cidades que foram visitadas e eles também
colocarão a vivência deles no dia-a-dia dessa luta pelo direito humano à moradia.
A Relatoria Nacional, a partir das denúncias que nos foram apresentadas,
juntamente com o Fórum Nacional de Reforma Urbana, a Frente Nacional pelo
Saneamento, o Movimento Nacional de Luta pela Moradia — MNLM, a Central de
Movimentos Populares — CMP — e a Confederação Nacional das Associações de
Moradores — CONAM, seleciona os casos e determina as cidades a serem
visitadas. Mediante denúncia, organizamos missões e visitamos o local para
averiguar as violações.
Vou falar um pouco de cada missão realizada e, posteriormente, vamos
entregar o relatório elaborado durante a missão aos representantes e autoridades
presentes.
Realizamos duas missões em Goiânia. A primeira foi uma missão de
investigação logo após um despejo que aconteceu na ocupação do Parque Oeste
Industrial.
Como a Relatora reside em Goiânia, nós fizemos um monitoramento
constante dessa comunidade e, infelizmente, relato para vocês que, no dia 27 de
abril, na segunda-feira, o líder comunitário Américo Novaes foi condenado pelo júri
popular a 5 anos e 4 meses em regime semiaberto.
Eram duas pessoas arroladas nesse processo de criminalização em função
de que, um dia antes do despejo, um policial recebeu um tiro. Tanto o Américo como
o Josiel foram arrolados no processo. Embora não haja comprovação de que tenha
sido o mandante, ele foi condenado como mandante do crime, e o processo de
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criminalização de quem assassinou 2 moradores durante o despejo ainda continua
com uma certa morosidade.
Essa questão do despejo, infelizmente, não aconteceu só em Goiânia. Vem
acontecendo em grande parte das cidades brasileiras. Temos o caso de São José
dos Campos, onde os despejos acontecem constantemente; temos o caso da cidade
de Manaus, onde realizamos também uma missão — os despejos na cidade de
Manaus acontecem constantemente, tanto em ocupações novas como em lugares
em que as famílias já moram há mais de 10, 15 anos. As cidades de São Paulo e
Rio de Janeiro implementam uma política de higienização, que consta basicamente
em remover a população de baixa renda da cidade. Não existe um projeto integrado
da urbanização para fixar essas famílias.
Então esse assunto, esse problema do despejo acontece em âmbito nacional,
e um dos grandes eixos da Relatoria e dos movimentos nacionais é como vamos
conter essa questão do despejo.
Temos também a questão da urbanização dos igarapés. Tanto em Manaus
como na cidade de Belém, para urbanizar os igarapés, são removidas, são
despejadas aquelas famílias para lugares longínquos, para conjuntos habitacionais
construídos fora da cidade, fora da malha urbanizada daquela cidade. Ao se
construir os conjuntos habitacionais, as famílias são transferidas para aqueles
lugares onde não existe qualquer tipo de equipamento comunitário. Em geral,
demora-se de 5 a 10 anos para construir escolas de primeiro grau, de segundo grau,
creche, posto de saúde.
Vou citar um caso de Manaus, o do conjunto João Paulo II, onde as famílias já
estão morando há 6 anos. É uma área de grande proliferação do mosquito da
malária, várias pessoas já contraíram a doença e não há sequer um posto de saúde.
Então há uma luta pela não segregação urbana e pela construção de equipamentos
comunitários para essa comunidade.
Na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, onde realizamos uma
missão preventiva, detectamos também a segregação urbana. Foi construída a
cidade de Águeda, fora da cidade, para onde foi levada a população de baixa renda
removida, despejada da área central, também sem nenhum equipamento
comunitário e com um grande problema: a tecnologia adotada para a construção das
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unidades habitacionais. O conjunto foi financiado pela Caixa Econômica Federal e a
tecnologia adotada foi de baixíssima qualidade. Inclusive temos notícias de que
essas casas vieram a desabar devido às chuvas. Então, existe esse grande descaso
na construção desses conjuntos habitacionais.
Temos recebido também — não fizemos uma missão em função disso ainda
—, em cada cidade que visitamos, denúncias sobre a Caixa Econômica Federal
quanto à questão de promover despejo de moradores que moram em conjuntos
habitacionais há vários anos. Esse é o caso do conjunto Tambaú, na cidade de
Manaus, onde as pessoas já moram há 15 anos e, por uma não negociação da
cooperativa com a Caixa Econômica, esta está solicitando o despejo dessas
famílias. Isso também vem acontecendo na cidade de Macapá. Então são despejos
promovidos pela Caixa Econômica Federal contra cooperativas. As famílias querem
negociar e, infelizmente, isso não vem acontecendo.
Temos ainda, na missão de monitoramento na cidade de Salvador, o exemplo
de edifícios ociosos na área central do Pelourinho que foram ocupados por famílias
e que hoje estão ameaçadas de despejo. Elas têm conseguido permanecer na área
por uma luta dos movimentos nacionais de moradia, do fórum nacional e devido a
uma articulação local. Ainda continuam lá mas, infelizmente, esses edifícios ainda
não oferecem condições de habitabilidade para essas famílias — inclusive eles
viriam aqui hoje, mas parece que não foi possível.
Vou citar aqui o exemplo do caso dos edifícios Chile e Lord, na área central
de Salvador e na área do Pelourinho, onde a sétima etapa em construção os
moradores reivindicam que seja ampliada para atender os moradores que hoje estão
no centro e não que seja removida aquela população para dar lugar ao comércio e
ao turismo que acontecem na região.
Na missão de Macapá nós detectamos um grande número de famílias que
moram em cima de rede de esgoto. Elas moram em palafitas, em áreas de alagados
e estão em cima dos esgotos. Então, são 5 mil famílias que moram nessas
condições super precárias. Não há a mínima condição de se dizer que isso é um
conjunto habitacional ou que isso é um bairro devido a essas condições de falta de
saneamento. Infelizmente, não há uma política habitacional nessa cidade que possa
atender essas famílias.
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Como último exemplo de violação, vou citar as zonas especiais de interesse
social que, infelizmente, não estão sendo implementadas em grande parte das
cidades que citei. Ou seja, a elaboração dos planos diretores não contou, na grande
maioria, com a participação da comunidade, como determina o Estatuto da Cidade,
portanto têm sido elaborados e implementados um pouco à revelia da comunidade.
Nesse sentido, quero citar o exemplo da cidade de Natal, onde, pela
valorização da orla e pela rica paisagem que esse local propicia, hoje há um projeto
no sentido de remover as famílias que ali moram incentivando transformar as leis em
outras zonas que possam dar lugar a edifícios habitacionais.
Esse exemplo nós temos também na cidade de Salvador, onde famílias que
moram há 20 anos em determinada área estão ameaçadas de despejo para dar
lugar a grandes empreendimentos.
Bom, esses são os focos das violações que gostaria de trazer para vocês.
Teríamos mais coisas para falar em termos de considerações finais, mas vamos
falar ao longo da nossa discussão aqui.
Quero frisar que todas as missões realizadas nessas cidades contaram com
parceria local, com entidades, com os movimentos que já citei aqui. Hoje temos aqui,
representando Manaus, a Caritas, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o
Observatório Cidades, e todas essas missões fazemos em parceria com as
entidades locais.
Agradeço pela oportunidade. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pedro Wilson) - Obrigado, Dra. Lúcia Morais,
professora da Universidade Católica de Goiás e Relatora Nacional para o Direito
Humano à Moradia Adequada.
Quero registrar, com imensa alegria, a presença dos Deputados Fernando
Chucre, Fernando Nascimento, Chico Alencar e Paulo Teixeira, Presidente da
Frente Parlamentar pelo Direito à Moradia e coautor desse requerimento. (Palmas.)
Quero também registrar a presença de Germana Pires, Diretora da Federação
Nacional dos Arquitetos; Sandro, Vereador de Planaltina; Mardones, de Luziânia;
Jair Amaral e José Manoel, de Águas Lindas; Celso e Cristiano, de Valparaíso;
Midiam, de Águas Lindas; Tito, da União por Moradia; do MDS, e Ana Sueli, do
Governo do Pará.
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Ao longo da sessão vamos citando outros companheiros.
Tendo em vista outros compromissos, passo a palavra ao Dr. Celso Santos
Carvalho, Diretor do Planejamento Urbano da Secretaria Nacional de Programas
Urbanos do Ministério das Cidades, pelo prazo de 10 minutos.
O SR. CELSO SANTOS CARVALHO - Obrigado, Deputado Pedro Wilson.
Inicialmente quero cumprimentar a todos, companheiros e companheiras, e
agradecer pela oportunidade de participa deste debate e expor a visão do Governo
Federal, do Ministério das Cidades sobre a questão do direito à moradia no Brasil.
Esse quadro que a Lúcia apresenta é grave, reconhecemos que é grave. A
sociedade, os Municípios, os Estados e o Governo Federal têm responsabilidade
sobre essa questão e devem estar envolvidos na superação desse quadro. Nesse
sentido, o Governo Federal, a gestão do Presidente Lula, no início de 2003, ao
construir o Ministério das Cidades, que tem como missão propor e construir uma
nova política de desenvolvimento urbano para o País, tinha bem claro essa nova
política de desenvolvimento urbano, cuja tarefa é construir cidades que possam
acolher a toda população, superar as injustiças e a exclusão social, garantir o
saneamento e garantir principalmente o direito à moradia. Ou seja, a construção de
uma política de desenvolvimento urbano que garanta o direito à moradia é um dos
objetivos do Governo Federal desde 2003.
No que diz respeito, portanto, às ações do Ministério das Cidades nesse
campo, quero citar 3 grupos de ação: a regularização fundiária dos assentamentos
precários urbanos, a produção habitacional de interesse social e, depois, a
companheira Ethel, que coordena o trabalho de intermediação de conflitos fundiários
urbanos, vai se referir à terceira vertente da ação do Ministério das Cidades.
No que diz respeito à regularização fundiária de interesse social,
reconhecemos que, hoje, no Brasil temos alguma coisa em torno de 15 milhões de
domicílios, ocupados por população de baixa renda, que são irregulares; domicílios,
portanto, onde não se tem garantida a segurança da posse, a segurança da
manutenção dessas famílias nos locais onde construíram suas relações sociais,
econômicas e afetivas.
O programa de regularização fundiária deve avançar na regularização de 15
milhões de domicílios urbanos, cerca de 30% do total de domicílios urbanos no
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Brasil. E quando falamos em regularização fundiária em uma perspectiva de direito à
moradia, isso para nós significa regularizar a posse da propriedade, do domínio
sobre o lote, mas também regularizar questões do ponto de vista urbanístico e
ambiental. A regularização fundiária para nós significa a plena integração dos
assentamentos à cidade.
Com essa perspectiva, já em 2003, na época liderada pela companheira
Raquel Rolnik, a Secretaria Nacional de Programas Urbanos construiu o Programa
Nacional de Regularização Fundiário, o Programa Papel Passado, no qual apoiamos
principalmente os Municípios mas também Estados, organizações não-
governamentais e Defensorias Públicas nas suas ações de regularização fundiária.
Hoje o programa tem um sistema de monitoramento no qual acompanhamos o
processo de regularização em cerca de 2.600 assentamentos em 376 Municípios.
São cerca de 1 milhão e 700 mil famílias, sendo que, desse total — são ações desde
2003, de 1 milhão e 700 mil famílias, que estão em processo de regularização
acompanhados por nós — 326 mil receberam título e, destas, apenas 110 mil
tiveram título registrado em cartório.
Por que de 1 milhão e 700 mil famílias só 100 mil chegaram ao título depois
de 6 anos? Porque o processo de regularização fundiária é extremamente complexo,
extremamente demorado, cheio de entraves; a todo momento existe um empecilho
colocado pelo Judiciário, pelo Ministério Público, pela própria Prefeitura e
principalmente, no nosso modo de entender, porque não existe uma lei federal de
regularização fundiária. Temos, portanto, que aplicar a Lei de Parcelamentos, a Lei
nº 6.766, que foi feita para novos parcelamentos. Quando se tenta adaptar para
regularização fundiária, surgem problemas de interpretação que a todo momento
impedem a continuidade dos processos.
Nesse sentido, o Governo editou agora a Medida Provisória nº 459 que, junto
com o Programa Minha Casa, Minha Vida, traz a proposta de uma lei nacional de
regularização fundiária, no seu Capítulo III.
Nessa proposta, consideramos que pelo menos 3 questões são essenciais.
Primeiro, se reconhece que o Município pode estabelecer por lei o procedimento de
regularização fundiária em seu território — ou seja, o procedimento não fica para ser
definido por assessores técnicos do Judiciário, por juizes ou pela interpretação de
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donos de cartório. Segundo, o Município aprova o projeto de regularização fundiária,
e o projeto é estabelecido como próprio para regularização fundiária e não como
projeto de um novo parcelamento. Isso a lei deixa claro. Terceiro, permite que se
faça a regularização fundiária das ocupações em áreas de preservação permanente
desde que um estudo técnico comprove a melhoria das condições ambientais.
Finalmente, a medida traz outros dispositivos, como a instituição da demarcação
urbanística, legitimação de posse e regras para o registro.
Entendemos que esse projeto, se aprovada essa medida provisória com
essas características, principalmente no que se refere à competência de qualquer
Município para aprovar o projeto de regularização fundiária e a possibilidade de
regularizarmos as ocupações em áreas de preservação permanente, de uma forma
ágil, garantindo a melhoria da condições ambientais, vai resolver inúmeros
problemas de regularização fundiária como, por exemplo, aqueles relatados pela
Dra. Lúcia, no que diz respeito aos igarapés de Belém e Manaus. Vai-se ainda
permitir a ocupação em alguns casos em que, se a lei garante o direito à moradia, o
direito ambiental vai ser compatibilizado, permitindo a regularização fundiária em
APPs, desde que se comprove melhorias ambientais.
Então, achamos que essas questões são fundamentais e devem ser
debatidas aqui no Congresso. Pedimos o apoio de todos os Deputados presentes
porque essas medidas são necessárias para se avançar na regularização fundiária.
Com isso, estamos trabalhando num aspecto importante da garantia do direito à
moradia.
No que diz respeito à produção habitacional de interesse social, a Medida
Provisória n.º 459 traz também o Programa Minha Casa, Minha Vida, em que o
Governo Federal apresenta uma proposta de inversão de grandes investimentos
públicos na construção de moradia para a população de renda de até 10 salários
mínimos. Isso mostra, no meu modo de entender, que, enquanto vários outros
países no mundo tentam superar a crise repassando recursos públicos para o
sistema financeiro, felizmente, aqui no Brasil estamos superando a crise repassando
recursos para a construção de moradia popular e aprofundando a defesa do direito à
moradia. Há regras para o uso desses recursos, que vão ter a sua distribuição
regional de acordo com o déficit habitacional. Ou seja, além de gerar emprego e de
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auxiliar na superação da crise econômica, estamos também contribuindo com a
ampliação do direito à moradia.
É claro que existem questões complexas como a construção de cidades, que
não é só construção de moradia. Existem várias questões que devem e merecem
ser debatidas no Congresso, junto ao movimento social, e o Governo vai estar
aberto para fazer esse debate e aperfeiçoar esses dispositivos.
Quanto à terceira linha, que diz respeito a intermediação de conflitos e à ação
do Ministério das Cidades e do Conselho das Cidades, depois a companheira Ethel
vai comentar.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pedro Wilson) - Agradeço ao Dr. Celso
Santos Carvalho, Diretor do Departamento de Planejamento Urbano da Secretaria
Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades.
Gostaria de registrar a presença dos Deputados Paes de Lira, Paulo Rubem
Santiago, Zezéu Ribeiro, nosso decano da luta urbana no Congresso; Dr. Rosinha e
das Deputadas Luiza Erundina e Luciana Genro.
Antes de passar a palavra à Dra. Ethel Proença Braga, representante do
Departamento de Planejamento Urbano e Conflitos Fundiários do Ministério das
Cidades, gostaria de registrar as presenças de Juliana Machado Brito, do MDT do
Distrito Federal; Wagner Baleeiro, Vereador de São José dos Campos, em São
Paulo; João França, do Sindicato dos Vigilantes do Distrito Federal; Maria Dolores
Santos Costa, da SEPLAN de Rondônia; Gilson Silva, da Força Sindical; Inácio
Pereira, do SINDSEP do Distrito Federal; Marcelo Braga, da Central de Movimentos
Populares; Jairo Salvador, da Defensoria Pública de São Paulo; Tonhão Dutra,
Vereador de São José dos Campos; André Queiroz, da Frente Nacional de
Vereadores pela Reforma Urbana, Cristiano Müller, Gilberto, do Movimento Nacional
de Luta pela Moradia; Ana Suely, do Governo do Pará, e outros que vamos
cumprimentar posteriormente.
Com a palavra, por até 10 minutos, a Dra. Ethel Proença Braga.
A SRA. ETHEL PROENÇA BRAGA - Quero cumprimentar todos os
presentes e agradecer pelo convite.
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O trabalho de conflitos fundiários surge, no Ministério, desde a sua origem,
porque caracterizamos como conflito a disputa pela terra, e muitos desses
movimentos têm como estratégia de luta legítima a ocupação de área urbana como
forma de garantia da moradia.
Os movimentos buscam o Ministério na tentativa de construir uma resposta
para esse impasse. Só que muitas dessas situações ocorrem já com a liminar de
reintegração de posse concedida, com a polícia entrando na ocupação. Reverter um
quadro quando já está na fase de conclusão é uma tarefa árdua, e os movimentos
vêm lutando e pressionando para que o Ministério construa uma resposta para esse
tipo de situação.
O Ministério tem, ao longo do tempo, buscado estruturar um trabalho para
essa área. Hoje temos a construção da Política Nacional de Prevenção e Mediação
de Conflitos Fundiários Urbanos, que está sendo discutida no território nacional;
estamos com um grupo de trabalho de conflitos, junto ao Conselho das Cidades,
buscando estruturar ações nos Estados e Municípios para que a discussão não se
esgote no Governo Federal, e temos a comissão interministerial, porque o trabalho
de conflitos é eminentemente de intersetorialidade das políticas públicas dos
Poderes e das esferas do Governo. Então, o exercício tem sido, ao longo desse
tempo, envolver todos esses atores na construção de soluções para essas
situações, respeitando as especificidades locais.
Hoje estamos atuando em 88 casos no País, tentando mobilizar esses atores
e respeitando o pacto federativo. As alternativas passam pela mobilização desses
autores, principalmente o envolvimento das esferas locais de poder.
Temos programas institucionais que precisam ser acessados para que se
consiga garantir o direito à moradia. Nesse sentido, quando contamos com a
parceria e o apoio dos Governos do Estados e dos Municípios, normalmente
conseguimos reverter alguns casos de reintegração de posse. Agora, precisamos
avançar ainda na construção desse trabalho, porque é novo e exige grande esforço
de articulação.
Então, o Governo Federal reconhece a legitimidade dessa demanda, vem
procurando atender e inserir, dentro do aparato institucional, essas situações.
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Convido vocês a participarem conosco dos seminários que estarão
acontecendo. O primeiro seminário regional que vai tratar dessa política ocorrerá no
Paraná, nos dias 14 e 15, e os demais vamos informar mais à frente. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pedro Wilson) - Obrigado à Dra. Ethel
Proença Braga.
Gostaria ainda de registrar a presença de Manoel, da Cidade Ocidental; de
Cristiane, Vereadora de Valparaíso e professora da rede escolar; Cosme Vítor, da
Associação de Favelas, e da Deputada Iriny Lopes, ex-Presidente da Comissão de
Direitos Humanos.
Antes de passar a palavra à Dra. Gilda Pereira de Carvalho, gostaria de tornar
pública uma questão.
A Dra. Lúcia Moraes falou sobre alguns atos que merecem que analisemos a
atuação da justiça. São dois fatos. Primeiro, o processo que envolve Eldorado dos
Carajás, que está há 13 anos paralisado, e agora está no Superior Tribunal de
Justiça para julgar os mandantes do assassinato de 19 trabalhadores. Esse mesmo
tribunal concedeu liberdade para o Sr. Bida, do Pará, que é o reconhecido mandante
do assassinato de Dorothy Stang. Segundo, ontem a Justiça de Goiás condenou o
suplente de Vereador do PSOL Américo Novais, uma das lideranças do Parque
Oeste Industrial. Houve morte no processo de retirada de moradores, e esse
processo de apuração está completamente parado. Enquanto que outro... Ele foi
condenado por mais de 5 anos.
Então, nessa luta pela terra, é importante vermos as nossas
responsabilidades como Parlamentares, e é nesse sentido que todos estamos aqui
presentes. Estamos interessados em discutir, mas vemos dois pesos e duas
medidas no julgamento desses casos e de outros que a Dra. Lúcia citou, em termos
de áreas. A Plataforma Dhesca, então, nos coloca situações em variadas cidades do
Brasil.
Gostaria de me referir a essa situação de Goiás dado que o julgamento
deveria ser igual: uma pessoa que estava lutando na defesa dos moradores é
condenada, enquanto que a verdadeira autoria das mortes ainda não foi apurada.
Peço desculpas a todos, mas gostaria de fazer este registro. Num encontro de
Parlamentares de direitos humanos, o nosso Presidente, Deputado Luiz Couto,
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registrou mais uma vez que esse fato acontecido em Goiânia seja remetido inclusive
a organizações de direitos humanos, dado que a maior parte do caso vai cair no
esquecimento. Agora ainda temos esse caso de condenar um dos lutadores,
enquanto o outro lado não recebe nenhuma penalização ou julgamento. (Palmas.)
Concedo a palavra à Sra. Gilda Pereira Carvalho, Procuradora Federal dos
Direitos do Cidadão.
A SRA. GILDA PEREIRA CARVALHO - Sr. Presidente, eu gostaria de
ressaltar o trabalho magnífico que vem sendo realizado pela relatoria nacional.
Recebemos cópia desses relatórios, que foram encaminhados tanto à Procuradoria
Federal dos Direitos do Cidadão quanto ao Ministério das Cidades e aos outros
Ministérios correlatos.
A esse trabalho persistente e exaustivo da relatoria nós estamos dando
continuidade, cumprindo a nossa missão constitucional prevista no art. 129, II, da
Constituição, que diz que o Ministério Público Federal e os Ministérios Públicos dos
Estados devem zelar para que os poderes públicos cumpram efetivamente os
direitos assegurados na Constituição.
É com essa missão que, então, temos cobrado políticas púbicas neste País
para que seja efetivamente respeitado o direito que está no art. 6º da Constituição,
que é o direito à moradia.
Dando seguimento, o Ministério das Cidades e a Caixa Econômica Federal
têm sido várias vezes cobrados pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão
que, coordenando essas ações a nível nacional, tem pedido aos colegas nos seus
Estados, procuradores regionais dos direitos do cidadão, que efetivamente façam
vistoria e examinem esses relatórios que nos são entregues e que também, de
ofício, passem a dar toda uma prioridade a essas necessidades que chegam pelos
cidadãos que acorrem às procuradorias.
Gostaria de dizer, e já disse isso em reuniões, que há uma política perversa
relacionada à moradia. Eu entendo que, quando são transpostas famílias inteiras
para regiões mais distantes, como vem ocorrendo, a fim de dar continuidade à
política de habitação, nesses programas habitacionais não se contempla, o que para
nós deve haver claramente, o que deve haver de infraestrutura, que seria escola,
posto de saúde, casa para idosos. Isso é o básico num planejamento urbano. Há
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Número: 0469/09 Data: 29/04/2009
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pouco tempo eu cobrei isso de algumas autoridades. Por que não se contempla
nessas alterações de residência esse direito tão claramente dito na nossa
Constituição?
Quero crer que os representantes do Ministério das Cidades, que estão
presentes, devem levar em consideração nos seus projetos isso que parece para
nós muito claro, ou seja, contemplar o cidadão, como já foi anteriormente destacado
pelo representante do Ministério das Cidades, com infraestrura urbana, ambiental,
sanitária.
O que nós vemos, e posso dizer isso porque já visitei esses conjuntos
habitacionais, é que eles são completamente desprovidos do básico. Nós não
podemos deixar de ver que ali há crianças, idosos, que precisam ser respeitados na
sua inteireza, até porque a criança e o adolescente, como diz nossa Constituição,
devem ter prioridade nas políticas públicas.
Outra coisa que quero registrar é que me parece também perversa a política
quando o Estado tem inúmeros imóveis aos quais não está sendo dada utilização
pública, social. (Palmas.) Veio recentemente à Procuradoria Federal a notícia de que
determinado ente descentralizado estaria alienando seus imóveis, quando havia um
plano já ofertado pela própria comunidade para que fossem utilizados para moradia
habitacional, contemplando inúmeros sem-teto.
Por fim, Sr. Presidente, quero registrar como exemplo de atuação que
aconteceu recentemente, e é bem provável que algum movimento social ou entidade
civil tenha presenciado essa questão, se deu em Pernambuco, meu Estado, em que
nos deparamos com inúmeros edifícios na zona metropolitana da Grande Recife,
construídos há trinta anos, que estavam na iminência, muitos deles, de desabar, e lá
moravam milhares de famílias. O que vemos numa situação dessas? A Caixa
Econômica, a entidade financiadora daquele conjunto habitacional, de um lado, e a
população necessitada do outro, e cada um dizendo que o seguro é que paga.
Foi nessa ocasião que tive oportunidade de chamar os órgãos do âmbito
federal para uma conversa, e foi muito, eu digo assim, rica essa reunião, porque me
pareceu que todos os presentes ali estavam convencidos de que não pode haver
esse jogo de responsabilidade. Não pode ficar um ente financiador de um lado,
dizendo que isso é o seguro, e de outro, a comunidade de sem-teto.
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De forma que saiu um encaminhamento. Naturalmente que não foi possível
estabelecer uma solução amigável, porque a coisa, realmente, requeria uma
imediata solução e os órgãos administrativos estavam um pouco devagar, de modo
que foi necessário judicializar essa questão. Está judicializada, mas isso não
significa... Aliás, depois dessa reunião, passou a significar que os órgãos de Estado
estavam inteirados e que queriam de boa vontade dar uma solução a este caso.
Por ora, Sr. Presidente, eu me reservaria a responder eventuais perguntas.
Muito obrigada por esta oportunidade. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Muito obrigado, Dra. Gilda.
Passamos a palavra à Sra. Raquel Rolnik, Relatora Especial da Organização
das Nações Unidas para o Direito à Moradia.
A SRA. RAQUEL ROLNIK - Antes de mais nada, boa tarde a todos. Gostaria
muito de agradecer aos Deputados Luiz Couto, Paulo Teixeira e Pedro Wilson pela
iniciativa desta audiência, que é absolutamente oportuna no momento em que esta
Casa começa a discutir uma importantíssima iniciativa no campo da política
habitacional brasileira, que é a MP nº 459, como parte do Programa Minha Casa,
Minha Vida.
Antes de entrar propriamente nesse ponto, eu gostaria apenas de explicar —
porque eu mesma demorei para entender — o que é a Relatoria Especial para o
Direito à Moradia da ONU.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU, que tem sede em Genebra e cria
ou desenvolve direitos, tanto no âmbito civil e político como nos direitos econômicos
e sociais e culturais, também zela pela implementação desses direitos nos países
que são signatários dessas resoluções. Para poder acompanhar a implementação
desses direitos nos países, a Comissão designa um Relator para cada um dos
direitos. Então, são 49 relatores especiais.
O Relator funciona como uma espécie de ouvidor do Conselho para dizer
como as ações estão sendo implementadas nos vários países, tanto do ponto de
vista das experiências positivas como das violações do direito à moradia.
Assumi essa tarefa em maio do ano passado e comecei a atuar a partir daí.
Primeiro, eu fui me informar sobre a definição. Se eu sou Relatora para o
Direito à Moradia Adequada — tem a palavra “adequada”, não é só direito à moradia
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não —, o que é o direito à moradia adequada e como isso está consagrado nas
resoluções das quais o Brasil é signatário — e inclusive incorporou isso na sua
Constituição, como já foi dito aqui?
Eu não vou apresentar aqui toda a base jurídica, até porque há Deputados
aqui que conhecem isso muito melhor do que eu. Do ponto de vista do conceito de
moradia adequada, podemos dizer o que não é. Moradia adequada não é 4 paredes
e um teto em cima da cabeça da pessoa num lugar qualquer. Não é isso, não.
Moradia adequada é uma localização dentro do território, e isso vale para o urbano e
para o rural também, a partir do qual o grupo que habita aquele domicílio, seja uma
família ou não, tenha possibilidade de viver uma vida digna. E uma vida digna
envolve não somente acordar todos os dias, mas poder se desenvolver do ponto de
vista humano e econômico. Então, isso envolve, como já foi mencionado pelos que
me antecederam, acesso às oportunidades de educação, de saúde, aos meios de
sobrevivência, ao emprego, ao trabalho, aos meios de desenvolvimento da pessoa
humana.
É por isso que moradia não é depósito de gente, um lugar onde os pobres —
porque são pobres — podem morar. Afinal de contas, se tomarmos a idéia e o ponto
de partida da moradia como um direito humano, isso vai se contrapor claramente na
nossa sociedade à idéia amplamente majoritária e que estrutura um modelo de
desenvolvimento urbano no nosso País — e não apenas nele, evidentemente — que
é a moradia como uma mercadoria, ou a moradia e o desenvolvimento imobiliário e
a produção da cidade de uma forma geral como um ativo financeiro, como alguma
coisa que faz parte de um circuito de valorização do capital.
Por que eu estou mencionando isso? Quando discutimos e falamos em
política habitacional, o que está por trás das denúncias que foram feitas aqui pela
Relatora Nacional Lúcia Moraes e pela Dra. Gilda? O que está por trás da imensa
dificuldade de reconhecer o direito daqueles que estão morando hoje em
assentamentos irregulares, como as favelas e as periferias irregulares do País,
mencionadas pelo Celso Carvalho, a imensa dificuldade de ver esses
assentamentos plenamente integrados à cidade? O que está por trás é a idéia de
que o ponto de partida da política habitacional não é a moradia como um direito
humano e, portanto, é necessário respeitar o fato de que a terra urbana tem um
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valor no mercado, e que esse valor no mercado é muito mais importante do que o
direito humano de ter um lugar para viver com dignidade. Então, é isso que está por
trás.
Estou falando de alguma coisa que contraria absolutamente as possibilidades
de desenvolvimento da cidade de acordo com as regras do mercado? Não. É
exatamente em função da compatibilidade da existência do mercado com a garantia
dos direitos. Existe Estado, existe Governo, existe regulação, norma e lei
exatamente para poder atender a esses direitos, mesmo diante de uma situação em
que as regras básicas de estruturação da cidade e do território se dão através do
mercado.
E como isso se dá? Primeiro, através de políticas habitacionais que de fato
garantam a moradia digna; o lugar para que a moradia digna possa acontecer,
mesmo se esse lugar tiver um valor maior do que a capacidade econômica daquelas
pessoas que vão morar lá. Por que isso está por trás das questões da violação?
Porque é maravilhoso urbanizar a favela da periferia, num lugar que não tem
nenhuma disputa grande em termos de valor econômico para empreendimentos
lucrativos na cidade.
Por que é tão difícil até hoje usar e mobilizar até o patrimônio público federal,
estadual e municipal, vazio e subutilzado, nos centros da cidades? Estão aqui hoje
companheiros dos movimentos de moradia que há décadas lutam para que esse
patrimônio público seja utilizado para moradia. Por que é tão difícil? Porque até
mesmo dentro do Governo Federal, e ainda nos Governos Estaduais e Municipais,
prevalece a idéia de que um lote ou um imóvel bem localizado tem de ir para o
mercado para fazer caixa e não para atender o direito à moradia digna das pessoas
que não têm casa. (Palmas.) Por isso, na semana passada, movimentos e
Deputados correram para sustar leilão de imóveis públicos vazios e subutilizados
que estavam indo para mercado quando poderiam estar produzindo moradia neste
País.
Mesmo diante de um enorme avanço que tivemos, qual seja o
reconhecimento por parte do Governo Federal de que habitação é fundamental e a
disponibilidade de uma enorme quantidade de recursos sob a forma de subsídio
direto para as famílias, que é o Programa Minha Casa, Minha Vida, e subsídios
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grandes para quem mais precisa, na faixa de renda de zero a 3 salários mínimos,
esse programa foi lançado sem uma palavra sobre onde e como vão se dar essas
moradias; tudo isso sem nenhuma conexão com aquilo que foi um enorme avanço
construído nesta Casa, neste Congresso Nacional, que foi o Estatuto das Cidades.
Depois da mobilização que o País inteiro fez para implementá-lo, o que ganha
um município que está implementando o Estatuto das Cidades? Nada. O que ganha
em termos de acesso a recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida, se garantir
que essas moradias aconteçam nas zonas especiais de interesse social, que muitos
prefeitos se arrebentaram para poder aprovar nas Câmaras Municipais, graças à
enorme mobilização social que ocorreu? Não ganha nada.
É exatamente por isso que neste momento é extremamente importante esta
Casa fazer uma audiência pública sobre o direito à moradia, porque é possível e
existam várias emendas de Deputados que estão aqui presentes ou passaram por
aqui, como os Deputados Zezéu Ribeiro, Fernando Chucre e Paulo Rubem, que
tentam introduzir na MP nº 459 pelo menos alguns mecanismos para poder fazer
essa conexão, usando recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida para
reabilitação de imóveis; fazendo com que os municípios que os têm, apresentando
como contrapartida terrenos situados em áreas bem localizadas, em zonas
consolidadas, tenham prioridade e mais recursos.
Isso fará com que todo esse processo fortaleça a construção feita ao longo de
décadas no País para garantir o direito à moradia, que é a construção do sistema
nacional de habitação de interesse social, de conselhos de habitação com
participação popular em todas as cidades. Isso é importante para que esse processo
fortaleça o que já foi construído e não vá totalmente, em paralelo a ele, dando força
para o nosso modelo de cidades partidas.
Quero concluir dizendo que o nosso modelo de cidades partidas e de
negação do direito à moradia está muito incrustado na cultura do País e dos
Governos. Aliás, não só na cultura dos Governos, mas também na das elites, que
jamais admitiram a idéia de que podemos compartilhar nossas cidades e territórios
entre pobres, médios e ricos; que podemos conviver nesses espaços em paz e
segurança, compartilhando os espaços públicos e as qualidades da cidade. Essa
cultura ainda não chegou, tanto é que, por exemplo, no Rio de Janeiro, no momento
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em que se está investindo milhões para transformar favelas em cidade, o que é
genial, propõe-se construir muro atrás da favela, como se favelado fosse bicho para
viver enjaulado, o que vai na contramão da integração total, que é o que propõe a
regularização fundiária e a urbanização.
Acho que o momento desta audiência e a denúncia dessas violações nos
trazem a oportunidade de lembrar que os avanços que já foram conseguidos nesta
Casa ainda não estão totalmente assentados nas nossas cidades, na nossa
sociedade, nos nossos Governos. Eles requerem, sim, ainda incentivos fortes da
nossa parte, incentivos fortes da parte dos legisladores, para que seja premiado
quem trabalha na direção das cidades integradas, das cidades adequadas e da
moradia adequada. Embora a construção civil gere empregos e isso seja muito
importante para lutar contra a crise, assim como a indústria gera emprego, casa não
é igual a geladeira, e produzir casas é produzir cidades. Nosso grande desafio é
produzir cidades para todos, e não só cidades para poucos.
Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pedro Wilson) - Obrigado, Dra. Raquel
Rolnik, Relatora Especial da Organização das Nações Unidas, ONU.
Gostaria também de registrar a presença de Mirim, de Formosa; já registrei
Profa. Lucimar de Goiânia, Goiás; Manoel Divino, Taís, Jeferson, Silvana, Simone,
Joanita, Laura, Helbens; Prof. Maurício, da Escola Família Agrícola de Padre
Bernardo; Jair Pedro, da Federação Nacional dos Empregados da Caixa, e Ari, da
FENAI.
Passamos a palavra aos representantes de movimentos.
Gostaria de passar a palavra ao Darci Frigo, representante da Plataforma
Dhesca do Brasil. Mas, antes, com muita honra, convido o Deputado Paulo Teixeira,
coautor deste requerimento, para coordenar os trabalhos aqui da nossa audiência
pública.
Bom, não queria fazer a proposta, mas já que é da Dra. Gilda Pereira
Carvalho, não farei nenhum descaso com os nossos representantes que estão aqui.
Sendo assim, convido os representantes para estarem aqui conosco na mesa, dado
que é importante, além de falar, que vejamos também quem está falando.
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Convido o Sr. Darci Frigo; Gilberto Cardoso Aguiar, do Movimento Nacional
de Luta pela Moradia; Marcelo Braga Edmundo, da Central de Movimentos
Populares; Verônica Kroll, representante da União Nacional de Moradia Popular; e o
Sr. Cristiano Muller, representando o Fórum Nacional da Reforma Urbana.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Teixeira) - Obrigado, Deputado Pedro
Wilson. Cumprimento todos os Parlamentares presentes: Deputada Luciana Genro;
Deputado Zezéu Ribeiro, esse grande fenômeno da luta pela moradia; Deputado
Fernando Chucre, da Frente Parlamentar pela Moradia; Deputado Chico Alencar,
grande batalhador dos direitos humanos; Deputado Pedro Wilson, de quem foi a
iniciativa desta sessão que está à frente no Parlamento brasileiro; Deputado Paulo
Rubem Santiago e o Deputado Paes de Lira.
É muito importante sua presença aqui, Deputado. Quero lhe agradecer pela
presença aqui nesta sessão.
Cumprimento a Comissão de Direitos Humanos por esta iniciativa. Quero
dizer que esta sessão — além de gravada e ir ao ar pela TV Câmara — está sendo
transmitida pelo Twitter, que é um mini blog. Eu estava acompanhando ali. Se isso
pegar no Brasil inteiro, as pessoas vão poder acompanhar as sessões por meio
desse mecanismo.
Esta é a primeira sessão, no Parlamento brasileiro, que está sendo
transmitido pelo Twitter. Parabéns à Comissão de Direitos Humanos por isso.
(Palmas.)
Por 5 minutos, passo a palavra ao Sr. Darci Frigo, representante da
Plataforma Dhesca Brasil.
O SR. DARCI FRIGO - Muito obrigado. É claro que seria mais oportuno ter
apresentado a Lúcia Morais, que é Relatora Nacional, já que a Relatoria pelo Direito
Humano à Moradia Adequada está dentro de um projeto, que foi construído a partir
de 2002, por esta rede que se chama Plataforma Brasileira de Direitos Humanos
Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais, que é constituída por 34 organizações
e movimentos que trabalham e desenvolvem ações de promoção, defesa e
reparação dos direitos humanos econômicos, sociais, culturais e ambientais visando
ao fortalecimento da cidadania e à radicalização da democracia em nosso País.
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Essa plataforma é filiada a uma rede latino-americana, chamada Plataforma
Interamericana de Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento, presente em
18 países aqui da América Latina. Então, ela tem uma preocupação exatamente de
fazer o processo de monitoramento da efetivação desses direitos sociais no sentido
mais amplo, os direitos que normalmente ficam em segundo plano, já que,
historicamente, sempre se deu mais ênfase aos direitos civis e políticos. Mas
defendemos a interdependência e a indivisibilidade desses direitos. Esse é o
trabalho que a plataforma desenvolve.
A plataforma também desenvolve ação em conjunto com outras redes de
monitoramento exatamente do PDHESC. É esse protocolo que tem a
responsabilidade de viabilizar a efetivação desses direitos humanos, econômicos,
sociais e culturais. Inclusive, na próxima semana, haverá reunião do comitê em
Genebra, e a sociedade brasileira estará representada por diversas redes. E um dos
direitos que também será abordado e debatido junto com esses representantes do
Comitê DHESC será exatamente o direito à moradia, junto com outros direitos
humanos, que estão sendo monitorados. Neste momento, o Brasil também terá que
responder perante esse comitê se está implementando os direitos do DHESC.
Portanto, é importante, na próxima semana, estarmos atentos porque será
uma sessão especial que acontece só a cada 5 anos. É um momento oportuno para
acompanharmos essa questão.
A plataforma que surgiu, em 2002 — olhando essa metodologia, essa
proposta da ONU, a que a Raquel acabou de se referir —, entendeu que o Brasil,
sendo um país continental, teria necessidade de implementar instrumento que
também pudesse monitorar e trabalhar na linha de efetivar os direitos humanos no
nosso País. E a partir daí, construiu-se esse projeto das relatorias nacionais em
direitos humanos.
Implementamos, a partir daí, 6 relatorias, e uma delas é a relatoria do direito
humano à moradia adequada. Temos também a relatoria do direito humano à
educação; a relatoria do direito humano ao meio ambiente, ainda que na ONU não
tenha essa relatoria específica; a relatoria do direito humano à alimentação e terra,
que de agora em diante vai se chamar relatoria nacional do direito à terra, território e
alimentação; e a relatoria do direito humano à saúde e ao trabalho.
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Fizemos, neste momento, uma avaliação entendendo que este é um projeto
fundamental para o País, exatamente por capilarizar todas essas denúncias
apresentadas pelos movimentos, pelas organizações e os relatores poderem
monitorar esse processo, para incidir junto aos órgãos públicos, seja no local, seja
no âmbito nacional, para que aquilo que é compromisso do Estado brasileiro seja de
fato efetivado como direito humano. É especificamente nesse ponto que está sendo
debatido o direito humano à moradia.
Então, essa é uma missão concreta desses relatores. E a Lúcia fez um
trabalho brilhante junto com os movimentos e uma série de organizações que
apoiaram o trabalho que ela apresentou. Tem também, embora não para todo
mundo, uma cartilha específica, que foi recentemente lançada, do direito humano à
moradia e à terra urbana.
Nós, neste momento, estamos num processo de finalização do III Programa
Nacional de Direitos Humanos, sociedade civil, Secretaria Especial de Direitos
Humanos e esta Comissão de Direitos Humanos aqui da Câmara dos Deputados.
Entendemos que esse programa pode ser referência para o próximo período
da política pública de direitos humanos no País. Esses relatores nacionais ou
mesmo os internacionais que vão acompanhar a política pública de direitos humanos
no País, poderão ter esse III Programa como referência para efetivação de direitos.
Nos próximos dias, também deveremos debater os últimos passos para estabelecer
as metas, exatamente o que queremos nos próximos anos, em termos de efetivação
dos direitos humanos no País. E que a Secretaria de Direitos Humanos possa, cada
vez mais, ser uma articuladora das políticas de direitos humanos no País, e a
sociedade possa, a partir do PNDH III, monitorar essa política, que não é só
responsabilidade da Secretaria de Direitos Humanos, é responsabilidade de todas
as áreas do Governo, uma responsabilidade transversal do Governo.
Estamos aqui discutindo política pública de moradia, mas sabemos das
interfaces com a questão ambiental, sabemos das interfaces com outras políticas
necessárias também para a efetivação de direitos.
Para finalizar, quero dizer que, neste momento, uma preocupação central da
plataforma das diversas redes de direitos humanos e de organizações é o processo
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de criminalização dos movimentos sociais, das organizações de direitos humanos,
dos defensores e defensoras dos direitos humanos. (Palmas.)
O processo de criminalização acontece exatamente como mecanismo para
barrar o acesso daquelas pessoas excluídas na sociedade aos seus direitos. Ele é,
vamos dizer assim, usado como uma ferramenta para impedir que os pobres,
aqueles que estão segregados na sociedade, possam acessar aquilo que é direito
de todos, aquilo que está estabelecido na Constituição, aquilo que está nos pactos,
nos tratados internacionais; aquilo que está também na nossa consciência como
direito.
E a criminalização tem sido usada sempre para impedir que os trabalhadores,
que as populações pobres possam acessar os direitos econômicos, sociais, culturais
e ambientais, seja trabalho, seja moradia, seja saúde, seja educação, seja qualquer
direito que nós temos como direitos reconhecidos.
Então, precisamos nos preocupar com esse processo de criminalização e
estabelecer que, além das políticas específicas de efetivação de direitos, precisamos
garantir que os movimentos sociais possam continuar desenvolvendo seus
trabalhos. Que as organizações de direitos humanos não sejam pilhadas, inclusive,
dos recursos públicos, por meio desse processo crescente de criminalização que
passa pelo TCU, que peneira os mosquitos para os pobres, mas deixa os camelos
passar para os ricos, para aqueles que usam o grosso dos recursos públicos.
Infelizmente, hoje está se fazendo todo um processo de criminalização contra
as organizações de movimentos sociais exatamente para impedi-las de continuarem
seu processo de articulação, no sentido de que os pobres possam acessar os
direitos humanos.
Creio que a Câmara dos Deputados, o Congresso Nacional têm
responsabilidade também de aprovar o Conselho Nacional de Direitos Humanos
para que possa ser instrumento onde uma série de ações — hoje esparsas no
âmbito das políticas públicas da coordenação — dessa política de direitos humanos
possa ser articulada por intermédio do Conselho Nacional de Direitos Humanos. Isso
precisa ser, de fato, aprovado, para que a sociedade tenha esse instrumento e,
inclusive, possa monitorar a política pública que será aprovada no Programa
Nacional de Direitos Humanos III.
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Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Teixeira) - Muito obrigado, Sr. Darci
Frigo.
Quero parabenizar a Comissão por esse formato de trazer aqui os
movimentos sociais, até porque é paradoxal tentar criminalizar os movimentos
sociais, que no Brasil têm papel fundamental para a garantia do direito à moradia.
O movimento social brasileiro é quem está à frente na defesa do direito à
moradia. Portanto, hoje, aqui, esse formato é fundamental, e o Brasil tem esse
estágio, ainda que tenha esse número de problemas, porque os movimentos
populares foram parte da solução para moradia, e não do problema.
Estão aqui os históricos dos movimentos de moradia. Eles sabem que o
Governo popular tem papel aqui, na garantia do direito à moradia. Portanto, vamos
reagir a essa tentativa de criminalização.
Passo a palavra ao Sr. Gilberto Cardoso Aguiar, representante do Movimento
Nacional de Luta pela Moradia — MNLM, por 5 minutos.
O SR. GILBERTO CARDOSO AGUIAR - Primeiramente, saúdo os
Parlamentares, os representantes do Governo Federal e, especialmente, todos os
companheiros e companheiras que compõem o Movimento Popular Urbano.
Eu queria abordar aqui 3 questões, contar uma história, que é fato, e fazer 2
constatações.
A primeira questão está relacionada com esse debate da tentativa de nos
criminalizar. E, nesse debate, queremos deixar bem claro para o conjunto da
sociedade que nenhum de nós, dirigentes do Movimento Popular Urbano, nenhum
homem, nenhuma mulher, neste País, entra em uma área para morar debaixo da
lona preta porque quer. Nenhum de nós, homem ou mulher, neste País, vai para
uma palafita e leva os filhos porque quer, porque gosta ou porque é
sadomasoquista. Nenhum de nós, militantes, homens e mulheres, vai para dentro de
prédios, muitas vezes em ruínas, porque gosta de sofrer.
Vamos para lá porque esse direito à moradia não é reconhecido neste País.
Vamos para lá porque, na realidade, um conjunto de legislações que já
conquistamos neste País... E, se nós pegássemos as legislações que já
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conquistamos neste País, nós já poderíamos ter avançado e muito na política
urbana.
Nenhum de nós envolveria a família, nenhum de nós envolveria os filhos em
um processo como esse se não acreditasse que hoje essa é a única possibilidade
que vemos e enxergamos de conquistar, de fato, o direito que nos é negado, o
direito que nos é violado.
Por isso, fazemos essas ações, e muitas delas são acompanhadas pela
relatoria DHESC. Fazemos essas ações, porque neste País a questão do uso social
da propriedade não é levada em consideração. Nós fizemos, porque o Estatuto da
Cidade não é respeitado. Nós fizemos, porque o Judiciário, muitas vezes, faz uma
distorção ou faz um olhar única e exclusivamente do ponto de vista da propriedade e
não do ponto de vista social.
A segunda questão está relacionada a um assunto que já foi abordado aqui
pela Raquel. Acho que precisamos nivelar o nosso conceito de moradia. E nivelar o
conceito de moradia significa que moradia é muito mais do que um teto. Ele se
amplia para um conceito de direito à cidade, direito à saúde, direito ao trabalho,
direito à geração de emprego e renda, direito à cidadania, direito à vida. Essa
reflexão, do ponto de vista de uma conceituação mais ampla, vai nos levar, inclusive,
a um debate profundo com o conjunto da sociedade sobre a inter-relação das
políticas sociais ligadas ao desenvolvimento urbano e não ter políticas tão
fragmentadas, como temos, muitas vezes, nos Municípios, nos Estados e no
Governo Federal.
A terceira questão está relacionada com os instrumentos que eu estava
abordando antes. Já temos instrumentos concretos de implementação do direito
efetivo à questão da moradia que não é implementado.
A história que vou contar — só faltam 2 minutos — também é um caso que foi
acompanhado pela relatoria. Trata-se de um prédio da Caixa. Esse prédio da Caixa
foi comercializado por um grande relojoeiro, que pediu dinheiro emprestado para a
Caixa para comprá-lo. Vendeu-o para o crime organizado, o PCC, que entrou no
prédio para abrir um buraco e assaltar o Banco do Estado do Rio Grande do Sul e a
Caixa Econômica Federal. Foram presos os integrantes do PCC pela Polícia
Federal. Nós entramos no prédio. A Justiça deu parecer contrário ao nosso direito à
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moradia e devolveu o prédio para o empresário que repassou o prédio para o crime
organizado. É fato, é história, divulgamos isso, e isso foi acompanhado por vários
setores sociais.
Isso tem a ver com a primeira constatação que queremos apresentar aqui: a
Justiça não é neutra no debate com relação ao desenvolvimento urbano. Ela tem
lado, e esse lado não é o lado do povo. Ela tem lado, e esse lado não é o do direito
à moradia.
A outra constatação é que esta Casa, esses Parlamentares que aqui estão
vão ter muita responsabilidade para que possamos constituir uma legislação que
trabalhe a prevenção de conflitos, que trabalhe a mediação dos conflitos e que
trabalhe os conflitos urbanos como um todo, para que possamos responder com
qualidade à criminalização, ao direito à moradia e à necessidade de constituirmos
instrumentos jurídicos nessa área.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Teixeira) - Obrigado, Gilberto.
Passo a palavra ao Sr. Marcelo Braga Edmundo, representante da Central de
Movimentos Populares.
O SR. MARCELO BRAGA EDMUNDO - Boa tarde a todos.
Eu gostaria também de saudar esta iniciativa. Acho importante este debate. É
um debate que tem que ser sempre feito, e é uma grande dívida deste País, deste
Estado, desta Nação, com o seu povo, que é a questão da moradia.
Primeiro, eu gostaria de dizer que não se pode discutir o problema da moradia
nem se vai chegar a nenhuma solução, que existe desde sempre — moradia no
sentido mais amplo, como a Raquel falou —, se não se discutir a questão da
propriedade. Se não se discutir a propriedade, nós não vamos efetivamente
encontrar algum tipo de solução para o problema da moradia. E é realmente uma
situação muito complicada, quando estamos em uma casa em que grande parte
daqueles que a compõem é de proprietários.
Aí, também, quando ficamos falando da criminalização dos movimentos e até
da condenação do companheiro de Goiás, temos de lembrar também que grande
parte desses proprietários condena esses companheiros e criminaliza esses
movimentos sociais. Então, acho importante lembrarmos disso, e é essencial termos
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essa consciência, principalmente nós, do movimento. Todas as discussões são
importantes, mas, fundamentalmente, temos que colocar dentro da sociedade a
discussão da propriedade. É a propriedade que despeja; é a proteção à propriedade
que remove as comunidades. A moradia tem que estar acima do direito à
propriedade. Nós só vamos encontrar solução para esse problema quando a
moradia estiver acima do direito à propriedade. E é o que não vemos.
Eu gostaria de lembrar também que a moradia neste País, desde sempre,
principalmente entre as classes mais pobres, foi construída com a luta desses mais
pobres. Foi por meio das ocupações, dos loteamentos, da ocupação das encostas,
das favelas. Foram eles que construíram. E, ao mesmo tempo, o Estado, que não
cumpriu com esse papel de dar moradia e qualidade de vida a essa população que
trabalhou e que construiu essa cidade, é esse Estado que vem remover, que vem
criminalizar também.
Portanto, não se pode simplesmente falar nos programas, o Governo Federal
dar relevância para a questão de moradia se, ao mesmo tempo, não se garantir o
fim dos despejos e das remoções e investir na recuperação e na reforma desses
imóveis que estão ocupados. Há vários programas. O próprio Minha Casa, Minha
Gente pode virar, no futuro, um argumento para se continuar removendo das áreas
centrais, das áreas com melhor qualidade de vida, porque construirão 1.200, 3 mil
casas, no fim do mundo. Ao mesmo tempo, continuará a remoção: “Olha, você vai
morar em uma casinha”. Nós sabemos de experiências como Nova Sepetiba, no Rio
de Janeiro, onde meninas de 10 anos se prostituem por 2 reais. Tiram as pessoas
de uma área com mais infraestrutura e as colocam nessas casinhas. É bastante
importante tocarmos nessas questões aqui.
Uma outra questão, e aí eu vou falar mais em relação ao nosso Estado, é que
novas formas de higienização são criadas a todo momento. Esse é um processo
antigo, que vem desde o início do século XX, que passa até, no caso do Rio de
Janeiro, pelo episódio do Carlos Lacerda, com a sua política de recuperação de
mendigos, que afogava mendigos, inclusive. E hoje criam-se novos mecanismos,
como esse projeto, recém-aprovado em São Paulo, da concessão urbanística, e a
questão da criação das áreas de recuperação econômica. Obviamente, dentro disso
está imbuída a velha política de ver a cidade como um grande mercado. Discutimos
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essa política como se fosse uma saída mais rápida para recuperação e revitalização
das áreas centrais, quando, pelo contrário, a política mais rápida foi expulsar os
pobres dessas áreas centrais.
No caso do Rio de Janeiro, especificamente, lembro que está sendo
implementada uma política de remoção de forma violenta em nome do choque de
ordem. Além de atacarem camelôs, ambulantes, nesse mesmo processo, fazem
ações em favelas, em comunidades. Violentamente, derrubam 20, 30 barracos. Se
somarmos a quantidade de barracos removidos e derrubados no Rio de Janeiro em
nome do choque de ordem, passando por cima de qualquer lei, de qualquer
processo, é enorme. São políticas que, efetivamente, vão implementando esse
projeto.
Por fim, já que o tempo é muito curto, faço uma denúncia bem clara, que é um
outro lado da criminação — o extermínio das lideranças, principalmente no Rio de
Janeiro, com o implemento e o avanço das milícias, que, nos últimos meses, têm
matado várias lideranças do movimento e da resistência popular no Rio. Lembro-me
de que nós, na última reunião do GT-Conflitos, denunciamos a morte do
companheiro Oséias, de Nova Iguaçu. Uma semana depois, o Vice-Presidente foi
morto pelas milícias.
Esse é um processo muito complicado. Fica claro que nós, os movimentos,
acima de tudo, além da criminalização, de poder ser preso, corremos sério risco de
vida se este País não tomar nenhuma medida que proteja nossa dignidade, nossa
luta. Nós lutamos para fazer aquilo que é obrigação do Estado, que, infelizmente,
nunca cumpriu com sua obrigação, que é dar moradia digna e com qualidade ao
povo brasileiro.
É isso. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Teixeira) - Obrigado, Marcelo.
Passo a palavra à Sra. Verônica Kroll, representante da União Nacional por
Moradia Popular.
A SRA. VERÔNICA KROLL - Boa tarde, Deputado Paulo Teixeira.
Eu quero dizer...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Teixeira) - Só um minuto.
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Paes de Lira foi coronel do 3º Batalhão de Choque do Estado de São Paulo e
agora é Deputado. Na época eu era Deputado Estadual por São Paulo. Acho muito
positiva a sua presença aqui, até porque ali tivemos muitos diálogos positivos, no
sentido de tentar reverter decisões judiciais e reintegrações.
Ele sempre foi um homem de diálogo, o coronel do diálogo. Eu o saúdo,
porque, certamente, sua presença nos ajudará nesse sentido. Ele se interessar por
estar aqui é, ao meu ver, um gesto muito positivo.
Os movimentos populares no Brasil precisam ter o status de um grande ator,
um ator muito bem respeitado. O fato de eu ter virado elite (risos), queria só dizer
que pretendo continuar com essa ligação forte. Não só isso, trazê-lo para essa luta
tão importante quanto a da moradia. Espero que nos somemos a essa luta pelo
direito à moradia, como direito humano a ser respeitado mais fortemente neste
Brasil.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Paulinho, você tem de castigar a
Verônica. Como elite, você não mais vai dar passagem de avião para ela voltar à
sua base. (Risos.)
A SRA. VERÔNICA KROLL - Não dependo da passagem dele mesmo.
(Risos.) Estou fora.
O SR. DEPUTADO PAES DE LIRA - Acho que nesse rolo aí não mais vai ter
passagem para ninguém.
A SRA. VERÔNICA KROLL - Acabou. Bem, mas brincadeira à parte, o que
eu quero dizer aqui é que — é uma pena a Deputada Luiza Erundina ter saído do
plenário — a Prefeita Luiza Erundina continua nossa prefeita em São Paulo até
hoje. Discutimos com ela conjuntos habitacionais, que hoje têm escolas, creche,
praça, posto policial, um bairro completo. Agora, com a Prefeitura de São Paulo,
tentamos discutir ainda a regularização daquelas terras. Imaginem há quantos anos
isso. A própria Prefeitura não teve a capacidade de regularizar e dar o direito às
pessoas de morarem definitivamente naqueles conjuntos.
Aí eu entro na questão do Plano Diretor da Cidade de São Paulo e outros
planos. Eu e o Secretário, na época, Paulo Teixeira, discutimos, brigamos, deixamos
6 milhões de metros quadrados de terra de ZEIS. Eu pergunto: cadê a ZEIS de São
Paulo? É para atender à elite, Deputado, não aos pobres.
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A Cidade Tiradentes, hoje, é perto. Quando se diz que viramos mercadoria,
viramos mercadoria, Raquel, tão sem valor. Se me perguntarem quantas prefeituras
deste País gastam com a coleta do lixo urbano, eu digo que é muito mais do que
com o social.
Quando nos deparamos com o despejo, a família não tem para onde ir e não
tem onde ficar, aí é que vemos que o pobre virou lixo humano. Que valor tem a
pessoa que perde a casa, que perde a família, que perde o seu ente querido, que
era ali onde morava? É isso o que pergunto aos Deputados.
Outra questão, quando o Governo Federal faz os seus programas dentro do
Ministério das Cidades, e aí o Ministério das Cidades não pode ser o agente
promotor e manda para a Caixa Econômica Federal, quem é a Caixa? É um banco
que sempre estará sob ordens do Banco Central.
Então, não dá para dizer que a Caixa Econômica é um banco popular, é um
banco do povo. Poderia ser, se ela não estivesse na mão do Banco Central, aí
poderíamos dizer que a Caixa é um banco do povo.
Quando remetem dinheiro para o Estado, o Município não corresponde. Essa
integração é ainda muita falha. Tem de ser mais implementada. Acho que o Governo
Federal precisa ser mais duro com a questão dos Estados, principalmente com a
questão dos Municípios. Quando enviam dinheiro ao Município, este tem que
urbanizar, regularizar a terra; dá dinheiro para uma construtora abrir uma grande
avenida e manda a construtora dar 5 mil reais a uma família para sair da casa em
que mora há 30, 40 anos, em 2 horas, e uma máquina vai atrás para derrubá-la. Isso
não é um programa honesto. É um programa sujo, é um programa para extinguir,
matar os pobres.
Os Governos têm de ser claros. Estamos vivendo a era da informática, a era
da modernização do País. E como se moderniza? Matando os pobres. Sejam mais
singelos: matem os pobres de uma vez, não aos poucos. São esses programas do
Governo Federal para os Municípios e para os Estados que estão fazendo isso.
Vou concluir dizendo que a questão das terras públicas, sobre o que a Raquel
já falou, é uma vergonha. O INSS possui 3 mil imóveis neste País. Terras que estão
ocupadas há 40, 50 anos, e as pessoas ainda não conseguiram regularizá-las.
Pessoas que moram lá em cima. Este Governo tem que ter o mínimo de
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responsabilidade de não deixar o INSS despejar essas famílias, mas regularizar a
situação delas.
Por fim, quero dizer que estou há 2 semanas, em Brasília, discutindo essa
questão do INSS. Para os senhores terem ideia, em São Bernardo do Campo, quem
é de São Paulo sabe, o Hospital Piraporinha é terra do INSS, mas o INSS levou a
leilão o Hospital Piraporinha. Dá para acreditar numa coisa dessas? Não dá.
Busquem o Ministério da Saúde e negociem aquela terra. É assim que são
tratadas as terras públicas, é uma vergonha para o Governo.
Quando se fala de cidade, fico pensando que cidade nós queremos.
Queremos uma cidade para todos. Uma cidade em que todos tenham direito de
morar. Hoje em São Paulo nós vemos a questão da higienização.
O Dito distribuiu o Edifício Mercúrio e o Edifício São Vitor. São 2 prédios que
vão deixar de existir no centro de São Paulo. Por quê? Porque precisam de uma
praça, porque ali próximo está o Mercado Municipal da Prefeitura de São Paulo. Não
somos contra que haja mercado e praça, mas destruir o que não vai ser mais
construído, isso sim é crime. Repito: isso é um crime, custa mais demolir do que
reformar aqueles prédios.
Na semana passada, quando fizemos a denúncia de que na favela
Paraisópolis estão despejando as famílias, eu e o Abraão, a Secretária de Habitação
ligou no meu celular muito brava e depois também discutiu com o Abraão. Ela disse
que vamos responder no Ministério Público por coisas que não são verdade. Temos
prova no papel de que é verdade.
Quanto à criminalização de liderança, quando a Luiza Erundina deixou a
Prefeitura, eu fui uma das lideranças que foi ao antigo DEIC de São Paulo depor
como formadora de quadrilha. Nas ocupações, talvez para o senhor não seja
estranho, nas ocupações de prédio, quantas vezes eu fui à delegacia, fui detida e
respondi a processo. Esses Deputados ficaram iguais uns loucos atrás de mim, isso
não é de hoje. Se eu um dia tiver que ser presa ou morta por essa luta...
Esse caderninho aí é tão maravilhoso, por que não o põe em prática para
uma pessoa que precisa de moradia? Porque é difícil, mas escrever é fácil.
Eu termino por aqui. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Teixeira) - Obrigado, Verônica.
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Anuncio a presença do Prof. Maurício, da Escola Família Agrícola de
Agroextrativismo de Padre Bernardo; do Sr. Jair Pedro, da Federação Nacional dos
Empregados da Caixa e do Sr. Jair, da FENAE. Está presente entre nós também o
Deputado Geraldo Thadeu, ex-Prefeito da bela cidade de Poços de Caldas, situada
na grande Águas da Prata.
Passo a palavra ao Cristiano Muller, representante do Fórum Nacional de
Reforma Urbana.
O SR. CRISTIANO MULLER - Obrigado, Sr. Deputado.
Boa tarde a todos. O Fórum Nacional de Reforma Urbana é uma articulação
nacional que congrega os 4 movimentos nacionais que atuam na área do direito à
moradia, as Organizações Não-Governamentais, entidades acadêmicas,
profissionais e trabalhadores.
O Fórum Nacional de Reforma Urbana tem como tema a prevenção dos
despejos, um dos eixos centrais de atuação em âmbito nacional. Por força disso, o
Fórum Nacional articulou em 2006 o seminário nacional em Recife, que tirou uma
plataforma brasileira de prevenção de despejos.
Essa plataforma nada mais é do que uma lista de recomendações ao Estado
brasileiro, no sentido de prevenir os despejos neste País.
Essa plataforma foi tirada com base em várias discussões, grupos de trabalho
naquele seminário e também tem como fundamento os inúmeros tratados
internacionais de direitos humanos que este País, o Estado brasileiro, firmou e não
cumpre até hoje.
Dentre esses tratados eu citaria 2, de suma importância: o Pacto Internacional
dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais, pois o Brasil, apesar de firmatário desses pactos, simplesmente
não os compre. Uma das bandeiras e luta desse fórum é que o Brasil efetivamente
cumpra o que foi firmado e assuma sua condição de, efetivamente, defender as
comunidades afetadas por despejos.
De que forma isso pode ser feito? O Fórum Nacional de Reforma Urbana
protocolou no Ministério da Justiça, no ano passado, proposta de projeto de lei que
reforma o Código de Processo Civil brasileiro. Qual o fundamento dessa proposta de
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alteração do CPC? Nada mais é do que efetivamente buscar que essas
comunidades tenham direito a um devido processo legal.
Vejam, o que nós queremos é, nada mais nada menos, que se tenha um
devido processo legal nas ações possessórias, ações reivindicatórias de
propriedade nas ações judiciais, que vão dar ao final, ou no início do processo, um
despejo. O que acontece hoje? Qual é a realidade brasileira no âmbito da legislação
de despejo? A ação judicial intentada e despachada pelo juiz determina despejos
imediatos, em 24 horas, para cumprimento com força policial militar, sem que essas
comunidades sejam chamadas e ouvidas no processo, sem muito menos o direito ao
contraditório, à ampla defesa e à produção de provas.
Essa proposta de projeto de lei que tramita no Ministério da Justiça tem esse
fundamento, parece que básico. Parece que o homem saiu da caverna e já
conseguiu o devido processo legal. Porém, em relação aos despejos, isso não
acontece no Brasil. O que se vê são despejos de cumprimento liminar, imediato,
posse nova ou posse velha, conforme o companheiro Dito comentou há pouco.
Agora, a nova onda do Judiciário é propor ações com posse velha, com posse de
mais de ano e, mesmo assim, conseguir tutela antecipada e liminar para
cumprimento imediato. Isso é absurdo. Claro, a sentença é antecipada.
Além desse tema ser forte dentro do Fórum Nacional de Reforma Urbana,
estamos tentando trabalhar com o Ministério da Justiça, numa articulação, para que
haja efetivamente uma reforma do Código de Processo Civil brasileiro, a fim de que,
em primeiro lugar, haja o devido processo legal; e, em segundo, realmente se
defenda a função social da propriedade.
Existe total dessintonia entre a legislação brasileira, que trata do direito à
moradia, e a legislação brasileira que implementa efetivamente na norma processual
a questão da propriedade. São 2 mundos diferentes: a legislação que defende o
direito à moradia e a legislação que implementa os despejos. Esses 2 mundos não
se comunicam.
No âmbito da legislação material, Código Civil, Estatuto da Cidade, a
propriedade já está relativizada, já não mais é absoluta no Brasil. Mas isso não se
comunica com o Código de Processo Civil, que determina os despejos de maneira
imediata.
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Por outro lado, nós não conseguimos, em nenhum momento, e isso é uma
demanda também que tem forte apelo no Fórum Nacional de Reforma Urbana, fazer
uma inter-relação com o Poder Judiciário brasileiro. Nós sabemos que, muito
embora a legislação abra essa oportunidade de despejo imediato, o juiz, a partir do
momento que preside aquele processo, pode, sim, aplicar um ou outro regramento,
regramento protetivo ao direito à moradia, regramento que chama a audiência e
houve as partes, antes de decretar o despejo, mas essa inter-relação é praticamente
impossível no Estado brasileiro.
Não só é impossível, como vemos movimentos totalmente contrários a isso.
Vemos que há um Conselho Nacional de Justiça, que vai totalmente por outro
caminho, caminho que legitima essas ações de despejo. A última resolução
aprovada no Conselho e que prioriza as ações de conflitos fundiários, urbanos e
rurais, cria o Fórum Nacional para Monitoramento e Resolução dos Conflitos
Fundiários. E eu pergunto: qual é a priorização que o Conselho Nacional de Justiça,
presidido pelo Sr. Ministro Gilmar Mendes, vai efetuar neste País? É a priorização
do direito à moradia ou a priorização dos despejos? É imediato, é urgente que nos
sentemos com esse Conselho Nacional de Justiça. (Palmas.)
Na semana que vem, eles vão realizar um seminário com os juízes para
pautar exatamente a atuação dos juízes via provimento nacional. E nós temos de
dizer que existe um outro lado da moeda, que existe uma outra legislação brasileira
protetiva do direito à moradia que nós temos de cumprir, que a moradia é uma
garantia social que tem efetivação imediata na Constituição brasileira.
Temos o Estatuto das Cidades no qual constam instrumentos políticos e
jurídicos de regularização fundiária, de garantia de moradia, mas, infelizmente,
parece que o mundo do direito caminha para outro lado. Nós temos, imediatamente,
que nos aproximar e acho que esta Casa efetivamente tem um papel muito
importante para fazer nesse jogo.
Esta Casa pode contribuir com o debate. A Câmara dos Deputados é esse
fórum também. É imediato e urgente que esta Casa se incorpore aos debates, que
vão acontecer e estão acontecendo no Brasil em relação aos conflitos fundiários;
seja parceiro dos movimentos do Fórum Nacional de Reforma Urbana, para que se
consiga estabelecer um novo marco jurídico no Brasil, protetivo do direito à moradia
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e contrário aos despejos, que não respeitam o devido processo legal e não
respeitam a função social da propriedade. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Paulo Teixeira) - Obrigado, Cristiano.
Agora faremos uma primeira rodada de debates com os Deputados.
Peço ao Deputado Chico Alencar, membro desta Comissão, que assuma a
direção da Mesa. Depois, faremos os encaminhamentos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Pelo menos a lista dos
inscritos... É verdade que já começou a Ordem do Dia e toda deliberação de
Comissões ou de qualquer outro ambiente que não o magnífico Plenário fica
prejudicada, mas vamos continuar aqui, até a primeira votação, se for o caso.
Estou aqui vivendo a proverbial solidão do poder. (Risos.)
Não me suicidarei.
O primeiro inscrito é o Deputado Paulo Teixeira, do Partido dos Trabalhadores
de São Paulo.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
entidades presentes, inicialmente, parabenizo a Comissão de Direitos Humanos e
Minorias na pessoa do seu Presidente, Deputado Luiz Couto; o Deputado Pedro
Wilson, signatário desta reunião; todos os Deputados presentes, entidades e demais
membros e lideranças de movimentos sociais.
Nós temos um importante processo e gostaria de parabenizar Lúcia Moraes,
que apresentou um extenso relatório.
Sr. Presidente, que esta Comissão envie cópia desse relatório a cada
Prefeitura e instituição nele mencionada, seja instituição municipal, estadual ou
federal, para que o seu conteúdo seja de conhecimento do dirigente da instituição. É
a sugestão que faço.
Parabenizo a Dra. Lúcia Moraes, que viajou o Brasil, juntou-se às demais
entidades, fez um trabalho sério, consistente e apresenta ainda os problemas que
temos em relação ao direito à moradia no Brasil, direito esse que, ao meu ver, tem
muitos avanços legais, muitos avanços institucionais, mas há ainda uma lacuna
imensa no sentido da sua efetivação, da sua concretização. E o relatório ajuda na
reflexão sobre essas lacunas, sobre como concretizar esse direito.
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Eu quero ampliar minha reflexão em 2 direções, Sr. Presidente. A primeira
direção é o que disse aqui Raquel Rolnik, que representa a Relatoria Internacional.
Estão em discussão as MPs nºs 459 e 460, que regulamentam o Programa Minha
Casa, Minha Vida. Então, proponho que o conjunto dos Deputados presentes
marquem uma reunião com o Relator, para ver se ele aceita as emendas que
buscam garantir 2 aspectos: que essas casas sejam construídas em lugares
providos de infraestrutura e que se privilegiem aqueles municípios que exigem o
cumprimento da função social da propriedade e, portanto, marcam um avanço na
concretização do Estatuto das Cidades.
A sugestão que faço, Sr. Presidente, é a de que nos reunamos com o Relator
das MPs nºs 459 e 460, para conseguirmos melhorar o relatório. Esse programa tem
muitas virtudes, porque há muitos recursos destinados a ele. Assim, que o Relator
possa acatar aquelas emendas que melhoram o programa.
Quero também, Sr. Presidente, além de sugerir a reunião com o Relator das
MPs, sugerir que esta Comissão, na continuidade, convide o Ministro Gilmar Mendes
para vir a esta Comissão (palmas) para que, juntamente com os movimentos
presentes, possamos fazer um debate com o Poder Judiciário. Por quê? Porque às
vezes há um despejo numa área que foi loteada clandestinamente, numa área que
foi desenvolvida clandestinamente, e o juiz dá a ordem de despejo sem arguir se
aquele loteamento está fora da lei, se o loteador está cometendo um crime, porque
ele vê aquilo de uma maneira formal. Isto é, ele não quer ler a Constituição, não
quer ver a realidade para dizer: “Ali há uma prática de crime; portanto, não posso dar
essa liminar”. Ou: “Aquele terreno está numa zona especial de interesse social, onde
não há o cumprimento da função social da propriedade”. Ele faz uma leitura
formalista do Direito, portanto uma leitura contra o direito. É uma leitura contra o
Estado Democrático de Direito, que prevê, sim, um direito justo, e não um direito
injusto, um direito para poucos.
Portanto, a sugestão que faço é a de que essas mesmas entidades que se
apresentaram, a Relatoria Nacional, a Relatoria Internacional, a Dra. Lúcia Moraes,
a Dra. Raquel Rolnik e a Procuradora que hoje está conosco possam fazer esse
diálogo com o Ministro Gilmar Mendes, para que nós possamos ter uma avaliação,
um diálogo com o Poder Judiciário, que hoje, ao meu ver, muitas vezes não pratica a
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justiça, pratica exatamente o contrário da justiça, que é a injustiça, em casos de luta
pela moradia. Nessa direção, eu acho que esse diálogo deveria aproximar-nos.
Creio que hoje o representante maior da Justiça brasileira, Ministro Gilmar Mendes,
deveria ouvir aqui o que nós Deputados ouvimos em relação a essas violações do
direito à moradia no Brasil.
São estas 2 sugestões, Deputado Chico Alencar: audiência com o Relator das
MPs nºs 459 e 460 e, na continuidade, o convite ao Ministro Gilmar Mendes e a esse
conjunto de entidades para que possamos discutir a Justiça brasileira e a
implementação do direito à moradia.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Perfeito. Obrigado,
Deputado Paulo Teixeira. Além da terceira sugestão, que é a de enviar o relatório
da Plataforma DHESCA às Prefeituras. Excelente. A linha boa é esta: hoje, nós que
somos muito falantes temos de fazer aqui um curso prático de “escutatória”, nós
Parlamentares.
Como há uma demanda, inclusive de representantes de movimentos que aqui
estão, para dar uma palavrinha rápida, sugiro que alternemos. Eu abro mão até da
minha inscrição, para facilitar. Os inscritos são: a Deputada Janete, que não está
presente; o Deputado Fernando Chucre, que também não está presente; o
Deputado Dr. Talmir, que também não está; o Deputado Paulo Rubem, que está
aqui; o Deputado Chico, que abre mão; o Deputado Paes de Lira, que está aqui; e o
Deputado Geraldo Thadeu. Eu pergunto a esses 2 colegas que estão presentes se é
possível entremear, no pouco tempo que resta — imagino que tenhamos de terminar
às 17h, para irmos ao plenário —, com algumas lideranças populares que pediram
também a palavra. Pode ser? Está bem.
Então, começamos com Cosme Vítor, da Associação de Favelas de São José
dos Campos. Mas vamos ter limite de horário, porque cada um de nós fala demais,
não é? Inclusive as lideranças populares. Se possível, por 3 minutos, Cosme.
O SR. COSME VÍTOR - Boa tarde aos Deputados, aos Ministros e ao
Secretário aqui presentes.
Há 2 coisas que gostaríamos de discutir. Primeiro...
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Com licença, por favor. Só
um minutinho, gente. Há uma organização aqui. Inscrevam-se na Mesa, com Márcio,
Assessor da Comissão, porque senão fico doidinho.
Vamos lá. Protesto tem que ser bem canalizado. Fazer revolução contra nós
mesmos é bobeira.
O SR. COSME VÍTOR - Primeiro, quero falar ao Deputado, porque nós somos
da base, viemos lá do interior, fizemos um sacrifício para chegar aqui, e chegamos
aqui e não temos direito a voz, não temos direito a... Este é meu protesto, certo?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - É, protesto que perdeu o
sentido. Você está falando. O direito à voz está assegurado.
O SR. COSME VÍTOR - Não, não, não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Ah, não?
O SR. COSME VÍTOR - Só falamos porque nós fizemos pressão, senhor. Só
falamos porque eu falei dali, porque se estivesse mandando a regra do jogo, antes...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Meu amigo...
O SR. COSME VÍTOR - Sim, sim, não é...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - ...colabore, não é? Você
está falando, e vai fazer um protesto? Canalize essa energia contra o Supremo, não
contra esta audiência pública. Perdemos tempo.
O SR. COSME VÍTOR - Está bom. Está bom, está bom. Não vamos discutir.
O que eu quero discutir, como representante da Associação de Favelas, é a
ineficácia. Primeiro, o Governo brasileiro não está, neste caso, discutindo os
financiamentos das cidades. É muito fácil vir aqui fazer o discurso, e quem financia
continua financiando.
Estou discutindo especificamente esse projeto de Nova Luz, São Paulo, que é
um escândalo. Lá em São José dos Campos, desde quinta-feira, Ethel Braga sabe
disso, nós estamos enfrentando um batalhão de choque, diferentemente do Coronel
ali, porque eles batem às pampas na gente. Desde quinta-feira. Liga-se para
Brasília, e infelizmente é inútil. Quando Ethel ligou, chamando a tal Cidinha Campos,
que é a Chefe da Assistência Social, ela estava ao meu lado. Está aqui o Defensor
Público Jairo Salvador, que veio também para nos ajudar nesta batalha. Ela ligou,
disse que eu ia falar com ela. Eu estava ao lado dela.
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Então, o que está acontecendo com esses financiamentos, principalmente o
Habitar-Brasil/BID, em São José dos Campos, é um escândalo. É um escândalo
protegido pelo Governo brasileiro. Está aqui! É um escândalo de justiça: oficial de
justiça, na Prefeitura, junto com o bate-pau da Prefeitura; oficial de justiça, sem
liminar nenhuma, desalojando as pessoas; ao oficial de justiça quem dá ordens é o
Secretário da Prefeitura, e Lúcia viu isso; é a assistente social que dá a ordem à
Polícia para nos espancar, como está acontecendo lá, infelizmente.
Hoje eu vim aqui e só sairemos de Brasília agora se houver uma solução para
esse Projeto Habitar-Brasil/BID. Ethel está cansada de saber, Raquel Rolnik está
cansada de saber, Paulo Teixeira está cansado de saber, e nenhuma atitude é
tomada. Isso virou comércio de pobre, que é diferente do cachorro. É como ela
disse. Não existe sociedades que protegem os animais? O cachorro não tem uma
casinha? Ele não tem o direito à sua casinha, sacramentado? Por que nós não
temos esse direito? Por que o Governo brasileiro não age, especificamente quanto a
nós, em São José dos Campos? O que está acontecendo de fato naquele malfadado
projeto?
É para beneficiar, como está acontecendo na nossa frente, Rachel sabe muito
bem disso, o Carrefour, que faliu. Depois de 5 anos, faliu o Carrefour, e estão
montando outro. É Marcondes CS, é Fiat Veículos... Vá lá, Raquel, vá ver o que está
acontecendo neste momento, lá. A Polícia Militar, o Comando chega lá, mete o pé
às 5h da manhã na porta da casa da pessoa, sem uma liminar sequer.
Eu gostaria de passar uns 2 segundos para o Defensor Público. Nós fizemos
um sacrifício hoje. Estamos desde as 4h da manhã na rua. E infelizmente — certo?
—, no pouco tempo que nos resta, o que eu quero ver com Rachel, com Paulo
Teixeira, é um ponto final nisso, Paulo. Um ponto final nisso. Há pessoas querendo
se suicidar lá. São trabalhadores. Não são do narcotráfico, Paulo. Tem uma... D.
Cleide, quero falar em nome de Cleide, especificamente. Está lá, a ponto de
suicidar-se. Nós temos até dia 30, agora. Dia 30. O Vereador Tonhão que nos
acompanhe até dia 30, porque dia 30 a madeira come de novo.
Então, quero saber: como é que vamos discutir isso com o Deputado, aqui,
aqui neste plenário? Porque não adianta falar bonito, mostrar tudo, e nós lá
embaixo, no fim da linha. É outra realidade.
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Queria dar só 2 segundos para o Defensor Público também.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Se ele conseguir falar em 2
segundos, vai ganhar um prêmio. Mas fale com brevidade, para dar direito aos
outros.
O SR. JAIRO SALVADOR - Serei breve. A Defensoria Pública do Estado de
São Paulo...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Seu nome, por favor.
O SR. JAIRO SALVADOR - Meu nome é Jairo Salvador. Eu atuo na tutela de
direitos coletivos de São José dos Campos, na unidade de Defensoria Pública
daquela cidade. Vimos acompanhando a política de erradicação dos grupos
favelados da cidade pela eliminação física não só das habitações, mas algumas
vezes até mesmo dos próprios moradores, porque segregar esses moradores,
enviá-los para a periferia das cidades significa, na verdade, condená-los à morte. O
rompimento com todos os laços culturais e econômicos têm propiciado a inclusão na
marginalidade. O número de crimes nas periferias têm aumentado muito, em função
do rompimento dos laços econômicos.
O que vimos trazer aqui é esta denúncia de violação do direito humano à
moradia. E não é um caso isolado; é uma política pública do Município, que está
consubstanciada em vários exemplos. Temos vários exemplos, que eu não teria
tempo de listar aqui. São pelo menos 12 casos que a Defensoria Pública está
acompanhando de violação do direito humano à moradia. E o mais grave, o maior
contingente é o da Fazenda Pinheirinho. São cerca 10 mil pessoas que ocuparam
aquela área, e estão lá há 5 anos, sem solução jurídica para o caso.
Temos o caso da Favela do Banhado, numa área central da cidade, em que o
Governo municipal já anuncia, com financiamento do BID, a remoção dessas
pessoas sob o pretexto de que estão em área de proteção ambiental. Dois detalhes:
existe um condomínio de luxo na mesma área, e ninguém cogita a remoção
daqueles moradores. Então, é um tratamento totalmente discriminatório e desumano
o que se dá a essa população pobre, porque São José dos Campos, cidade da
tecnologia, cidade rica, cidade tida como perfeita para qualquer visitante, esconde
sua pobreza, esconde-a nos desvãos, e a Defensoria Pública tem muito trabalho, em
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função da falta de um arcabouço legislativo que nos proteja e que nos dê
instrumentos para que possamos lutar.
Na esteira do que foi dito aqui insistentemente, chegamos à situação quando
ela já está no limite. No limite, juridicamente, há muito pouco a fazer. Nessa
desocupação mesma do Jardim São José, de que se está falando aqui, não existe
norma municipal, como existe no Governo Federal e em nível estadual, para permitir
a transferência de contratos, mesmo depois de determinado tempo. Então, está
havendo um despejo maciço no Jardim São José II, em função dessa transferência
de contrato, e isso está trazendo um problema social muito grave para a cidade e
para o Estado.
Quero agradecer, Deputado, a oportunidade, e deixar aqui nosso protesto.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Obrigado, Jairo. Obrigado,
Cosme. O caminho possível, no âmbito do Parlamento e desta Comissão de Direitos
Humanos, é constituir, junto com as entidades e os movimentos — sugestão
inclusive do Deputado Paulo Teixeira —, uma comissão, também composta por
Parlamentares, e irmos lá, a São José dos Campos, porque a questão é global, não
é local, não é só pontual, não. Então, acho que temos de articular e implementar
isso. Peço aos Deputados da Comissão que são de São Paulo que nos ajudem a
viabilizar essa proposta. Muito obrigado.
Peço uma informação: está havendo votação em plenário? Algum assessor
tem essa informação? Porque a luzinha aqui não para de piscar.
Vamos ouvir o Deputado Paulo Rubem Santiago, do PDT de Pernambuco.
O SR. DEPUTADO PAULO RUBEM SANTIAGO - Deputado Chico Alencar,
prezados Deputados, representantes das entidades, vou começar tomando como
ponto de partida a fala do companheiro da Central dos Movimentos Populares, que
enfatizou a necessidade da discussão da propriedade na Constituição, no Estatuto
das Cidades, nas leis orgânicas dos Municípios, nas Constituições estaduais, mas
junto com isso precisamos discutir e alterar, desde a Constituição, a questão do
direito à acumulação.
As terras urbanas, as propriedades urbanas transformaram-se nos últimos
anos em ativos financeiros. O maior exemplo disso aconteceu lá fora, com a crise
das hipotecas nos Estados Unidos, todos os contratos feitos em cima da expectativa
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de lucro das instituições financeiras com aqueles contratos e aquelas hipotecas.
Aqui no Brasil não é diferente. A dificuldade maior é a de que o Poder Público
disponibilize áreas em condições de provimento de infra-estrutura, disponibilize nos
seus orçamentos a prioridade, a resolução do déficit da habitação, e não a
realização de grandes obras viárias, a de que Estados e municípios aguentem a
volúpia da indústria automobilística, que não pode ver crise pela frente. O carro
particular é o grande modelo de transporte público do País. E cansa-me ver cidades
e Capitais que priorizam as grandes obras viárias e não equacionam nem em 20%,
30%, o déficit de moradia nos grandes centros urbanos.
Quem é que determina que a prioridade de uma administração são as
grandes obras viárias, os grande viadutos? Quem determina que os principais
gastos coletivos são com a limpeza urbana, em detrimento dos programas de
organização dos catadores, da reciclagem, das cooperativas? Essa é uma disputa
que precisa ser feita. Não é só a questão da moradia em si.
Outra coisa: temos aqui a Constituição Federal, o Estatuto da Cidade, o
Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social, que há 4 anos nos mobilizou
aqui. Votamos a Lei Federal do Sistema Nacional de Habitação, a Lei Nacional de
Saneamento, e parece que continuamos com o frei de mão puxado. Parece que o
período em que se impôs no País o contingenciamento de verbas, em que se proibiu
a Caixa Econômica de contratar para financiar habitação e saneamento lá no
Governo Fernando Henrique, continua, porque nós não conseguimos superar esses
entraves orçamentários.
Este ano estamos completando 10 anos do regime de metas de inflação, cuja
prioridade é retirar recursos do Tesouro, pagar financiamento da dívida pública e
não equacionar. E olhem que todo ano nós votamos aqui — as pessoas que estão
aqui precisam lembrar disso — a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Já chegou o
projeto da LDO para 2010. Todo ano nós votamos a Lei do Orçamento Anual, o
Plano Purianual, que também são votados nos Estados e municípios.
Quando nós vimos o lançamento do Programa Minha Casa, Minha Vida, eu
fui um dos Deputados que fizeram várias emendas a essa medida provisória, porque
nós não entendemos como será possível equacionar o déficit de moradia no País,
moradia digna, como é a campanha que nós lançamos para respaldar a PEC da
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vinculação de recursos, sem definir a prioridade na Administração Pública no tocante
à infraestrutura urbana. Não é para estradas, viadutos, grandes obras viárias, vias
expressas, como eu vejo ocorrer em algumas Capitais, dentro do tecido urbano,
para o transporte particular. A prioridade deve ser a conjugação de todos esses
instrumentos.
Veio o Estatuto da Cidade, que em boa parte ficou no papel; o Sistema
Nacional de Habitação de Interesse Social, que também não saiu do papel; a Lei
Nacional de Saneamento, que abriu a possibilidade de os municípios serem
protagonistas no enfrentamento e na resolução dessa questão; agora vão para a
execução orçamentária os contratos da Caixa Econômica; vão para a execução
orçamentária os recursos do Ministério das Cidades; e, apesar de termos ampliado
os contratos, nós ainda estamos muito aquém, e a maior prova disso, Deputado
Chico Alencar, é que recentemente a Caixa Econômica tinha mais de R$ 100
milhões aplicados em títulos da dívida mobiliária, e não me parece que é papel da
Caixa Econômica aplicar em título público. Esses recursos deveriam ser
disponibilizados para financiar, com Estados e municípios, os programas de
habitação, sobretudo da moradia com dignidade.
Então, quero concluir aqui enfatizando isto: não basta só discutir a
propriedade, é preciso discutir a acumulação. A terra urbana, a propriedade urbana,
já se transformou num ativo. Hoje as principais Capitais do País têm a indústria da
construção civil monopolizada por 4 ou 5 grandes empresas, que estão intervindo.
Inclusive já há denúncias de áreas que estavam integradas como Zonas Especiais
de Interesse Social, e estão sob ameaça de desqualificação como ZEIS para a área
poder ser entregue ao processo — entre aspas — “natural” do mercado, para
resolver o problema habitacional.
Muitos de nós que estamos aqui já levamos muita pancada de tropa de
choque em ocupação. Não houve diálogo. Já vimos às 4h, 5h da manhã, chegar a
tropa de choque com oficial de justiça, com liminar da Justiça para reintegrar a
posse de um proprietário que devia 10, 20 anos de IPTU, e o juiz determinou a
reintegração sem sequer citar a Prefeitura do município para saber se aquele
pretenso proprietário estava inscrito na dívida ativa tributária ou não. Isso é comum.
O Poder Judiciário toma decisões de costas para a constitucionalidade do País. O
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Poder Judiciário toma decisões sem ouvir os demais entes da República, que têm de
ser ouvidos, porque todos têm responsabilidade. Se o município vai construir casa
hoje, quem é o maior titular para prover água e esgoto? É o município? Não é, são
os Estados, com as suas empresas estaduais: SABESP, CEDAE, COMPESA,
EMBASA, CAGECE, CAGEPA, e por aí vai. Como é que alguém pode definir uma
ação de reintegração de posse sem sequer ter a certeza de que aquele imóvel
cumpriu suas obrigações tributárias? Isso é o mais comum.
Então, estamos aqui para avançar. É importante a participação dos
representantes dos movimentos populares, das entidades, mas estamos aqui para
avançar. E coloco-me entre aqueles que vão estar à disposição, porque já fizemos
isso com a CPI do Sistema Carcerário, fizemos isso com os conflitos agrários.
Muitos Parlamentares saem daqui e vão para outros Estados, que não são seus
Estados de origem, para reforçar com os mandatos, com a representação política, a
luta dos trabalhadores pela reforma agrária, pela moradia popular, a luta para
construir um País justo, com dignidade.
É isto que eu queria dizer, desde já reiterando que nós temos de discutir
também, do ponto de vista do financiamento, a mudança na política monetária do
País. Não se pode admitir que a maior parte do Orçamento Federal hoje, votado e
aprovado neste Congresso, seja constituído de juros para a dívida pública, uma
parcela de receita para pagar título público e uma parcela quase igualitária para
refinanciar a dívida pública. Assim, não há Programa Minha Casa, Minha Vida, mas
Sem Minha Casa, Sem Minha Vida, e mais um pesadelo para a maioria da
população trabalhadora, que não tem casa, para a maior parte da população que
vive nas cidades, e até hoje não construíram uma política habitacional com
dignidade.
É o que eu quero deixar aqui, e integro-me à Frente Parlamentar, à
Comissão, para dar suporte, dar apoio na luta, nesses conflitos que estão
acontecendo em São Paulo, em Pernambuco também, na Bahia e em outros
Estados, e que têm demonstrado a grande persistência dos trabalhadores na luta
pela moradia popular.
Muito obrigado. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Muito obrigado, Deputado
Paulo Rubem. Intercalando, agora ouviremos Sueli Oliveira, do Pará.
A SRA. SUELI OLIVEIRA - Boa tarde, Deputado Chico Alencar. Em sua
pessoa, quero parabenizar a Câmara pela iniciativa de fazer um debate como este.
Eu faço parte do Conselho Estadual das Cidades. Reunimo-nos hoje, o GT de
Conflitos Fundiários, na parte da manhã, e grande parte dos membros estão aqui
participando deste evento.
Represento o Poder Público estadual, no caso o Governo do Estado do Pará,
em que tem sido manchete a todo momento a forma criminosa como historicamente
foram tratados os movimentos sociais. Hoje o Estado consegue sair desse patamar
de campeão em termos de violência nas áreas rural e urbana, mas isso tem
incomodado uma parte representativa da elite que sempre governou este País e os
Estados.
Quero parabenizar os Deputados que saem dos seus Estados para se
somarem à luta dos trabalhadores urbanos e rurais pela reforma agrária e pela
reforma urbana. Mas quero dizer também que há Parlamentares que saem dos seus
Estados para irem pedir o impeachment do Governo, que saem dos seus Estados
para pedirem a intervenção no Estado do Pará, porque o Governo não está
mandando matar trabalhadores sem-terra, como historicamente foi feito nos últimos
anos. E citamos o massacre de Eldorado, que completou 13 anos agora, no dia 17
de abril.
Então, o Estado está passando por um momento como este, de pedido de
intervenção, pedido de impeachment do Governo estadual, porque não tem tratado a
questão fundiária, a questão agrária, como caso de polícia, e tem tentado dialogar
com os movimentos sociais.
Ontem, o Procurador da República Felício Pontes fez uma reunião com os
movimentos sociais e anunciou que vai apresentar documentos que comprovam que
no Pará a grilagem é tão forte que até existem documentos, registrados em cartório,
comprovando que há propriedades naquele Estado que conseguem ser 15 vezes
maior que o tamanho normal do município. Isso para vermos a gravidade da
situação do Estado, que se perpetuou por muito tempo, pela forma como foi tratada
essa questão fundiária, a questão agrária, a luta pela reforma urbana. E estamos
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aqui para contribuir para esta discussão e ver de que forma o Legislativo Federal
pode participar mais ativamente, para contribuir para mudar um pouco esse cenário
a partir da mudança de legislações.
Nós vamos realizar agora, por intermédio do GT de Conflitos Fundiários,
seminários em todas as regiões brasileiras, como já foi anunciado aqui pela
representante do Ministério das Cidades. Eu acho que é um momento de
contribuição, porque a partir dos debates, também da política nacional, mas em
caráter regional, a Câmara Federal vai ter subsídios suficientes para saber o que é
preciso de fato alterar. E eu acho que Poder Judiciário precisa ser realmente
convidado a participar do debate, porque o que tem ocorrido, no plano do Brasil e no
Pará, é que às vezes se concede uma liminar de reintegração de posse sem ao
menos olhar a questão da cadeia dominial, sem ao menos verificar as dívidas
tributárias daquele imóvel. Não se vê nada. Vai-se lá e...
E há um juiz lá a quem eu dei os parabéns, porque havia um despejo da
Caixa Econômica, de um imóvel, e ele historicamente ficou conhecido no Pará pela
sua ação, que não é comum entre os juízes. Saiu do gabinete, foi à casa da
senhora, tomou um cafezinho, conversou, e resolveu dizer que a Caixa Econômica
tinha apenas de cobrar uma taxa para que a pessoa continuasse morando ali,
suspendendo o despejo. Então, eu acho que são ações como essa que mostram
que precisamos também chamar o Poder Judiciário para tratar do assunto, porque
não será o Executivo ou o Legislativo, sozinho, que vai resolver, a partir do momento
em que o Judiciário concede as liminares de despejo.
Por mais que se tente mudar a legislação, grande parte da população já
morreu. Foi tombada pela bala do crime, pelo despejo. Já perdeu seu imóvel. Eu
acho que o caminho é nos anteciparmos a esse processo e construirmos uma
política de mediação. Temos de mediar, temos de prevenir, porque o que se está
fazendo hoje é só evitar o despejo. Já estão ali, não há muita coisa a fazer. Nós
precisamos, portanto, fazer políticas que sejam preventivas para não chegarmos a
esse estágio, que ainda persiste no Brasil, e no Pará não é diferente.
Então, queremos parabenizá-los e dizer que há uma expectativa de que a
Câmara possa dar uma grande parcela de contribuição à luta para fazer com as
coisas possam avançar, no sentido de que de fato o direito à moradia, o direito
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social à propriedade seja considerado de acordo com o que foi estabelecido na
própria Constituição que passou por esta Casa de Leis.
Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Obrigado, Sueli.
Agora vamos ouvir o Deputado Paes de Lira, do PTC de São Paulo.
O SR. DEPUTADO PAES DE LIRA - Sr. Presidente, Srs. Deputados, ilustres
representantes dos movimentos sociais aqui presentes, vou fazer um contraponto.
Evidentemente, vou trazer a minha experiência, começando pela minha experiência
pessoal de vida.
Eu morei, como foi dito aqui, também lá em Guaianazes, muito perto da
cidade de Tiradentes, quando tinha 6 ou 7 anos de idade. Meu pai era um humilde
sargento da força pública do Estado de São Paulo, e junto com minha mãe, que
varava a noite costurando vestidos para as mulheres da vizinhança, conseguiu
construir alguma coisa. E sempre disseram aos filhos que o caminho para sair
daquela situação extremamente humilde era o estudo e seria posteriormente o
trabalho. Foi essa a linha que nós seguimos em nossa vida.
Hoje eu moro um pouco melhor do que isso. Tenho uma casa pequena, mas
bem arrumadinha, na Zona Sul da Capital. E comandei mesmo, na época do
Terceiro Batalhão de Choque, diversas operações de reintegração de posse,
cumprindo mandados judiciais. É o que a Força Pública faz, é o que a Polícia Militar
faz nesses casos. Cumpre os mandados judiciais de reintegração de posse,
portanto, derivados de sentenças judiciais transitadas em julgado, sentenças
judiciais já sem recurso, e aí apoia os oficiais de justiça. E frequentemente vi e
participei de situações extremamente ruins, extremamente graves, extremamente
tocantes, sob qualquer ponto de vista que se analise humanamente.
Eu nunca prendi a Sra. Verônica, mas de fato ela teve de sair de alguns
lugares que tinha ocupado com seu pessoal, por força da atuação do oficial de
justiça, respaldada pelo Batalhão de Choque que eu comandava. Também nunca
desferimos uma borrachada que fosse, ou disparamos um tiro de borracha na Sra.
Verônica, nem nos seus companheiros dos movimentos sociais.
Senhoras e senhores, acho que os movimentos sociais têm de se organizar
sim, e pressionar, e fazer muita pressão. Todo o mundo está embasbacado, por
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exemplo, parece que maravilhado, com esse recente programa anunciado pelo
Governo Federal para construir 1 milhão de moradias ao longo do ano de 2009.
Digo-lhes o seguinte: qualquer Governo dito popular deveria construir 1 milhão de
moradias por ano — por ano! —, e não deixar para lançar esse programa às
vésperas de uma eleição, ou seja, de maneira eleitoreira, como está sendo feito
agora.
Se o Governo Federal, os Governos Estaduais e os Municipais, de acordo
com as suas capacidades e competências, executassem, já a partir do primeiro dia
de mandato — do primeiro dia de mandato! —, os programas de habitação popular
que deveriam ser executados, porque há dinheiro de sobra para isso, eu estou certo
de que provavelmente a maioria das senhoras e dos senhores não viveria a situação
angustiante aqui referida pelo representante do movimento lá de São José dos
Campos.
Lembro-me, por exemplo, também do caso do Jardim Falcão. Acho que o
Deputado Paulo Teixeira estava lá, no Jardim Falcão, que foi um bairro construído
ao longo de vários anos, de muitos anos, à beira de áreas de mananciais —
portanto, áreas de preservação ambiental, e não deveria haver aquele bairro ali —,
com a vista grossa do poder público, a vista grossa da municipalidade de São
Bernardo do Campo em São Paulo, do Ministério Público e de outras autoridades,
que deveriam ter agido em tempo e esperaram o bairro desenvolver-se, chegar a ser
um bairro, para resolver entrar com uma ação judicial e determinar por via do
mandado judicial definitivo a retirada daquelas pessoas. Foi a minha tropa que
retirou aquelas pessoas, e eu não gostei nada disso. Mas era a lei, e a lei às vezes
traduz-se dessa maneira.
Então, é claro e certo que os movimentos sociais têm de se organizar cada
vez mais, têm de pressionar o poder público, sim. No entanto, democracia é o
império da lei. Democracia é o império da lei! E democracia é equilíbrio. Não se
pode argumentar contra a Constituição para defender teses relacionadas a qualquer
que seja a posição, incluindo a dos movimentos sociais.
Eu ouvi aqui pessoas praticamente defendendo a abolição do direito de
propriedade. Ora, o direito de propriedade é um direito fundamental. É uma garantia
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individual da Constituição da República, dita Constituição Cidadã, votada e aprovada
em 1988. É uma cláusula pétrea. Não pode ser removida.
No entanto, a própria Constituição da República relativizou, naquela ocasião,
o direito de propriedade. A propriedade pode ser e é relativizada quando, por
exemplo, não cumpre sua função social. E há também diversas hipóteses de
desapropriação. Tanto é que as vítimas das desapropriações em todo o País se
contam pela casa dos R$ 100 bilhões que o Governo — Federal, Estadual e
Municipal — deve às pessoas desapropriadas, e há dívidas também relacionadas a
causas salariais, a precatórios salariais, e o Governo não paga, e não pretende
pagar, mesmo porque vem aí a PEC do calote. Eram pessoas humildes também, a
maioria delas trabalhadores que perderam suas casas, ou pessoas de classe média
que construíram uma vida, perderam suas casas e não veem a cor do dinheiro.
Falar contra a Constituição da República, contra o direito da propriedade não
é o melhor caminho, porque senão, amigos, daqui a pouco estaremos a enxergar
uma situação do seguinte tipo: um favelado que exige a propriedade, o barraco do
vizinho, porque o barraco dele tem um cômodo só e o do vizinho tem dois. E onde
vamos parar? Eu alerto contra isso. Alerto contra isso! É preciso levar em
consideração essa situação, e as risadas não vão ajudar. Risadas não ajudam em
nada. Isto aqui é um fórum de debate democrático, e eu exijo respeito.
Muito bem, tendo em vista a necessidade do equilíbrio, tendo em vista que
todos devem respeitar a lei, alguém também falou da criminalização dos movimentos
sociais. Essa criminalização frequentemente ocorre porque as pessoas dos
movimentos sociais — não todas, mas algumas delas —, radicalizando demais o
movimento, acabam por criminalizá-lo.
Falaram contra as decisões do Tribunal de Contas da União, de fiscalização
de verbas públicas, mas ninguém, nenhum de nós, Deputado, Presidente da
República ou representante de movimento social, está acima da lei. Qualquer
centavo de dinheiro público transferido do Governo, Federal, Estadual ou Municipal,
para uma entidade que se propõe a prestar um serviço social, deve ter rigorosa
prestação de contas. Se a prestação de contas não é feita, é claro que o Tribunal de
Contas da União deve intervir, e se for necessário o Ministério Público, a Justiça
deve impedir a continuidade do fluxo de dinheiro para os movimentos que não
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prestam contas, ou para os movimentos que servem de faixada para outros
movimentos que atuam ilegalmente.
Tudo isso é muito importante. É importante o equilíbrio. É importante que a lei
proteja a todos. É importante que os movimentos sociais tenham o direito de existir,
de respirar, de se manifestar. É extremamente importante que na Casa de Leis da
República se faça esta audiência, ouvindo as pessoas, para que elas não só
desabafem, mas exijam dos Parlamentares o estabelecimento de alguns caminhos
para melhorar, de alguns caminhos para chegar às soluções mais viáveis.
Estamos aqui protagonizando isso, mas, por outro lado, devemos lembrar que
o equilíbrio é necessário, que a lei obriga a todos e que a democracia é o império da
lei.
Muito obrigado pela atenção.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Agradeço ao Deputado
Paes de Lira, que agora está numa condição diferente da que seguiu na sua vida.
Aliás, ninguém é Deputado. Isto não é profissão, mandato de Senador, ou de
Vereador, embora alguns queiram seguir carreira. Felizmente, muitos de nós aqui
temos os nossos ofícios, e o Deputado Paes de Lira, nesta condição temporária
eletiva, vai poder agora, ao invés da dura tarefa de cumprir, de apoiar o
cumprimento de decisões judiciais que às vezes eram flagrantemente determinadas
em situações de conflito social, vai poder ajudar a melhorar a lei e inclusive fazer
cumprir também a função social da propriedade. Isso é muito importante.
Houve um pensador que me orientou muito, chamado Alceu Amoroso Lima.
Tive o prazer de conhecê-lo. Ele não era socialista, muito menos comunista, mas
tinha uma reflexão interessante sobre a questão da propriedade, que remonta há
muitos séculos. Ele dizia que o capitalismo tem a seguinte contradição: como ele
afirma, como cláusula pétrea, até, dos seus diplomas legais, que a propriedade é um
bem, se é um bem, ela deve ser estendida a todos, sem exceção. Se, por outro lado,
na sua gênese, ela não pode ser socializada, então ela não é um bem. Esse é um
belo debate, que não é só filosófico. É um debate político.
E, na busca de uma sociedade justa e equitativa, na candência de todas as
manifestações, foi importante o Deputado Paes de Lira trazer aqui o contraponto,
porque às vezes é mais fácil falar só entre os iguais, entre aqueles que têm o
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mesmo pensamento. Isso é da essência do próprio Parlamento. Aqui é o espaço do
dissenso civilizado, e não do consenso. Aliás, a sessão está lá num impasse agora
exatamente porque há um dissenso quanto à matéria em votação. Por isso, vamos
continuar mais um pouquinho, felizmente.
Chamo agora o Vereador Tonhão Dutra, de São José dos Campos.
O SR. TONHÃO DUTRA - Boa noite a todos, quase boa noite, até porque a
reunião vai terminar às 18h, conforme está no Ofício nº 195. Então, temos quase
uma hora para fazer este debate do que foi aprovado nesta Casa de Leis.
Gostaria de cumprimentar a Comissão de Direitos Humanos e Minoria desta
Casa, que é maior que a do Parlamento de que participo como Vereador em São
José dos Campos. É daqui mesmo que temos de partir, deste fórum, para podermos
fazer a defesa dos direitos humanos em todo o Brasil.
Gostaria de dizer também que a fala de Cosme Vítor foi muito importante,
como também a do Dr. Jairo foi muito importante, porque eu sou um Vereador que
acompanha de perto a situação dos moradores de lá do Jardim São José II, dos
moradores do Bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos, que fez aniversário
agora — 5 anos! —, e quero aproveitar para cumprimentar a Dra. Raquel e a Dra.
Lúcia, que estiveram lá em 2005 ou 2006, não me lembro.
Mas gostaria de dizer a todos e a todas que este debate que está
acontecendo aqui em São José dos Campos está pior. Em São José dos Campos
há uma desumanidade muito grande. Em São José dos Campos a Prefeitura
governa para os ricos. Em São José dos Campos, quando se faz a casa do rico,
tira-se a casa do pobre. Em São José dos Campos quem elegeu o representante
dos ricos está tirando agora dos pobres para favorecer os ricos. Então, é difícil, em
São José dos Campos, Srs. Deputados, representantes de todo o Brasil, trabalhar
para os pobres.
Agora, trabalhar para os ricos, para os Parlamentares que foram eleitos para
isso, é muito ruim, porque há compromisso nas eleições, no dia a dia, com os ricos.
Os parlamentares pobres que se elegeram com certeza estão trabalhando para os
pobres, estão defendendo os pobres, e hoje isso está difícil também, porque é um
batalhão contra um tostão na defesa dos direitos humanos, do direito à vida
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Número: 0469/09 Data: 29/04/2009
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daquelas pessoas, como foi citado aqui pelo Dr. Jairo, Defensor Público do Estado
de São Paulo, e por Cosme Vítor.
Também gostaria de dizer que o Deputado Paulo Teixeira conhece a cidade
de São José dos Campos, esteve lá semana passada. Não pude estar presente à
palestra dele porque estava em outra atividade também muito importante para a
nossa cidade.
Este fórum que está acontecendo aqui hoje tem de se refletir em São José
dos Campos. Gostaria de me manifestar aqui repudiando o Poder Judiciário, que
combina com os ricos durante a noite para o dia, e quando é de madrugada está a
Polícia lá, tirando os pobres na marra, jogando a mudança deles na rua. Não há uma
política pública de geração de moradia.
Então, faço aqui este apelo. Vim de São José dos Campos. Não vim com
passagem dada a Deputado, não. Vim com uma passagem que foi votada na
Câmara de Vereadores de lá, paga pela população de São José dos Campos, em
defesa dos Direitos Humanos aqui nesta Câmara. Foi votada! Foi feito o
requerimento, foi votado, recebi a passagem apoiado pelos Vereadores.
Mas em São José dos Campos é preciso fazer uma intervenção, sim. Este
Brasil inteiro precisa de uma intervenção. É política de moradia pública? É. Mas
tiraram, por exemplo, os pobres de um lugar chamado Banhado, porque há mais de
R$ 6 milhões dados pela PETROBRÁS para se construir uma estrada que vai
passar por lá, uma rodovia, e por isso tiraram os pobres de lá e colocaram lá longe,
nas periferias.
Deixo aqui meu apelo, como Vereador, representando a Câmara Municipal de
São José dos Campos. Estou aqui me pronunciando nesta Casa de Leis, nesta
Casa dos Deputados Federais, junto com nosso Deputado constituído e eleito para
defender nosso País inteiro, mas é São José dos Campos que estou defendendo
aqui, a nossa cidade, como Vereador daquela cidade, porque ela precisa passar por
intervenções. Mas é preciso fazer intervenções sérias, porque nós temos de
participar. Hoje não dá mais... O senhor ali, representante da Polícia Militar, disse
que tem de haver 2 lados, mas acho que Parlamentar não tem de ter 2 lados, não!
Ou está do lado do pobre ou do lado do rico. Se for do lado do rico, então não
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participe destas discussões. (Palmas.) Tem de estar do lado do pobre para favorecer
o pobre.
Então, deixo aqui minha mensagem, e gostaria de dizer que temos de marcar
mais reuniões em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, no Estado de São
Paulo, porque a política para aqueles governantes que estão lá, infelizmente, é a de
destruir, de matar o pobre.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Obrigado, Vereador Tonhão
Dutra. Na sequência, vamos ouvir Adnamar Santos, da Cáritas de Manaus.
O SR. ADNAMAR SANTOS - Antes de iniciar meu pronunciamento, gostaria
de me referir e dar apoio à situação apresentada pela Conselheira das Cidades e
representante do Governo do Estado do Pará, com relação a que hoje o Governo de
fato dialoga com segmentos da sociedade civil. Isso é importante e dá exemplo para
que outros Estados, para que os 5.561 municípios deste País também possam abrir
esse diálogo com os segmentos da sociedade civil.
Lúcia, Relatora da Plataforma DHESCA Brasil para a moradia adequada,
esteve em Manaus em 2006. Foi provocada pela Cáritas Arquidiocesana de
Manaus, pelo Fórum Nacional de Reforma Urbana, pelos movimentos que compõe a
rede do Fórum Nacional de Reforma Urbana. Apresentamos também essa situação
quando ainda estávamos como Conselheiro das Cidades em 2005. Esse fato foi
relatado num documento que Lúcia fez. Em visita na época, em 2006, a 8
ocupações em 3 áreas consolidadas, ela elencou os fatos do caos que vivemos na
cidade de Manaus.
A partir da criação da Zona Franca de Manaus, ainda na década de 60,
exatamente em 1967, a cidade teve um crescimento populacional muito grande. Na
época eram 300 mil habitantes. Hoje, são 1 milhão e 800 mil só na Capital. Há 56
bairros consolidados pelo Plano Diretor, mas na realidade são 120 e 37 ocupações.
São fatos que levam a um conflito constante.
Sueli, a grilagem de terras da Amazônia como um todo é uma questão grave
e ainda um legado existente que deve ser superado pelo Estado brasileiro. Existem
terras, áreas que foram visitadas pela Lúcia, das quais constam 5 documentos — 5
títulos definitivos para a mesma área! Como pode isso? São fatos que criam uma
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situação de insegurança total para aquelas pessoas que, muitas vezes, são levadas
a ocupar áreas porque não há uma política pública habitacional naquele Estado.
Construir moradias conjuntas não pode ser feita da mesma forma e
intensidade como se produzem aparelhos no Pólo Industrial de Manaus. Elas estão
sendo construídas fora da área urbana, bem afastadas. As pessoas levam muito
tempo no transporte coletivo dessas áreas periurbanas — não são nem áreas rurais
nem áreas urbanas —aos locais de trabalho. Passam mais de duas horas
transitando. Então, são situações conflitantes com à questão da água.
O Estado do Amazonas é rodeado de água, mas não possui água encanada e
possui somente 8% de saneamento. Portanto, não é somente a questão da moradia,
mas a questão da habitação. É necessário educação, saúde e o transporte de
qualidade. São esses os debates que queremos trazer.
Gostaria de elencar neste momento a questão do Programa Social e
Ambiental de Recuperação dos Igarapés de Manaus. Em 2004, foi contratado um
convênio com o BID de 240 milhões de dólares. Em 2008, mais 270 milhões de
dólares. Somados, são mais de 540 milhões de dólares.
Estão sendo feitas intervenções que não são requalificação nem recuperação
de igarapés. Está sendo feita a canalização dos igarapés da cidade de Manaus, os
quais são muito bonitos para inglês e visitantes verem, mas horrível para a cidade
de Manaus, para a questão ambiental. Tínhamos famílias que há 40 anos, 50 anos
moravam lá, conforme relato. Um dos moradores diz que a única coisa que de fato o
Governo tem feito é retirar as famílias da área de abrangência das obras do
PROSAMIM. As famílias que vivem há décadas na área, conforme pesquisa
realizada pelo próprio Governo, pelo próprio programa, destacam que a única
preocupação do Governo tem sido com o andamento das obras e a remoção das
famílias para áreas distantes.
Um caso bem específico que gostaria de citar é o da D. Maria, uma senhora
de 59 anos que vive só e foi retirada, em 2006, do Igarapé da Cachoeirinha. Os
técnicos do PROSAMIM, com a aprovação dos engenheiros, compararam uma
moradia para ela no bairro de São José, periferia da cidade, dentro de outro igarapé.
Pasmem: ela foi retirada do igarapé e colocada dentro de outro igarapé, em piores
condições. Essa senhora está doente psicologicamente. A Lúcia fez uma visita
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especificamente a esse caso, que foi denunciado no Ministério Público. Tentamos
todos os meios, sem encontrar uma solução. Poderíamos citar inúmeros casos
iguais a esse.
Deputado Paulo Teixeira, espero que esse relatório elaborado pela
Plataforma DHESC, pela Lúcia e pela sua assessora possa chegar aos gestores do
Governo do Estado do Amazonas e da Prefeitura de Manaus, para que conflitos
iguais a esse deixem de acontecer e para que o Sistema Nacional de Habitação e
aquilo que vimos debatendo possa se efetivar nos Estados e nos Municípios.
Fazer simplesmente repasse de recursos do Governo Federal para os
Estados e Municípios e não cumprir aquilo que se deve realizar é simplesmente
brincar de fazer política pública.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Obrigado, Adnamar. Temos
mais 3 inscritos, mas eu chamo a Raquel, a Lúcia, o Celso, a Ethel e a Gilda para
fazerem suas considerações finais daqui da mesa.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sr. Presidente, pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Pois não.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Desejo apenas acrescentar, Sr.
Presidente, que, quando encaminharmos os relatórios para o Município de Manaus e
para o Estado do Amazonas, enfim, para todos os Estados e Municípios, também os
enviemos para os Ministérios Públicos Estaduais e as Defensorias Públicas
Estaduais, a fim de que eles tomem as devidas providências. (Palmas.)
Também quero pedir a V.Exa., Sr. Presidente, que, com o Presidente efetivo,
pudessem constituir a comissão que vá a São José dos Campos. Estão presentes 2
Vereadores e representante de movimento de São José dos Campos. O Deputado
Paes de Lira, a Deputada Janete Rocha Pietá, a Deputada Luiza Erundina — não
sei se ainda está, mas ela e estava aqui —o Deputado Fernando Chucre e eu
podíamos tentar um contato com o Prefeito de São José dos Campos (isso teria de
ser feito pelo Presidente efetivo da Comissão), para que ele nos recebesse talvez no
dia 1º de maio, ou seja, depois de amanhã, dada a urgência dessa ação. Não sei se
o Deputado Paes de Lira pode estar presente e se os demais Deputados de São
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Paulo poderão ir; não sei também se a Dra. Raquel Rolnik, a Dra. Lúcia, ou uma das
duas, podem ir conosco a São José dos Campos.
São essas as duas sugestões que quero fazer a V.Exa., além de pedir à
Assessoria da Comissão que elabore convite ao Presidente Gilmar Mendes para o
diálogo que vamos fazer em nome dos Deputados, e nós o assinaríamos
conjuntamente, os Deputados que concordarem, é claro, que estão presentes aqui
hoje.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Obrigado, Deputado Paulo
Teixeira.
Tudo será encaminhado devidamente, uma vez que são propostas
consensuais. A Dra. Raquel tem um vôo daqui a pouco, e pede para fazer uma
brevíssima consideração final. Creio que a Lúcia pode esperar também os 3 últimos
se manifestarem.
A SRA. RAQUEL ROLNIK - Quero dizer, rapidamente, que o principal
instrumento que a Relatoria Internacional tem é a apresentação de um relatório ao
Conselho de Direitos Humanos Internacional sobre a situação do direito à moradia
nos países. Isso acontece quando o Relator faz uma missão ao país, e o Miloon
Khotari, o Relator anterior, veio ao Brasil em 2005. Eu propus que, em relação às
missões feitas pelo Relator, fizéssemos um relatório de avaliação do seguimento de
todas elas, ou seja, o que se deu a partir das recomendações que o Relator fez no
Brasil.
Então, concretamente, como forma de encaminhamento no âmbito da
Relatoria Internacional, vou mandar correspondência para todas as entidades que
estão aqui hoje, e peço, por favor, que elas organizem o material das violações para
que possamos elaborar um relatório nacional como seguimento à missão do Relator
Miloon Khotari, a fim de que eu possa juntar tudo e apresentar ao Conselho de
Direitos Humanos, em Genebra, mostrando como está a situação do direito à
moradia no Brasil.
Por quê? Porque internacionalmente isso não aparece no âmbito do
Conselho. Aparecem situações de países como Camboja, como Sudão, mas essas
as questões que estamos colocando aqui — e muito bem colocado — ficam
invisíveis, ficam na sombra. Porque temos uma legislação muito avançada, temos
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um sistema muito avançado, estamos produzindo moradia, estamos urbanizando
favelas, não aparece o que é de fato o conflito pela terra e pelo acesso à terra
urbana no País.
Então, peço aos senhores que, ao receberem essa correspondência,
imediatamente organizem o material e o mandem, para que possamos preparar isso
e apresentar ao Conselho.
Agradeço muito a oportunidade que tive hoje de ouvir todos esses relatos.
Ficamos, no Conselho, só conversando com diplomatas, com burocratas, e vamos
nos esquecendo de como é mesmo a situação de quem está lá ponta, de quem está
vivendo certas situações e o que está sentindo. Agradeço muito ter podido
testemunhar tudo que testemunhei aqui hoje.
Obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Agradeço à Dra. Raquel
Rolnik, Relatora Especial da ONU para questões de moradia.
Passo a palavra agora a Benedito Barbosa, da União Nacional de Moradia
Popular.
O SR. BENEDITO ROBERTO BARBOSA - Quero, inicialmente, aproveitar
para agradecer muito a oportunidade de estar nesta audiência pública.
Quero comentar duas questões complementares ao que a Verônica já falou
sobre o que está acontecendo em São Paulo. Primeiro, em relação aos edifícios
Mercúrio e São Vito. São 2 prédios, no centro de São Paulo, que eram habitados por
cerca de 800 famílias. Hoje, esses 2 prédios foram desapropriados pela Prefeitura.
O primeiro prédio foi desapropriado há cerca de 4 anos; o outro, agora.
No Edifício Mercúrio, 35 famílias resistiram desocupação do prédio até o dia
11 de fevereiro. Este mês, dia 23 de maio, vamos fazer um ato, pois vão fazer 100
dias que as famílias foram despejadas e desalojadas desses 2 edifícios. As famílias
receberam 2.400 reais, e os proprietários foram beneficiados com imóveis pela
Prefeitura e mais os recursos da desapropriação. Aliás, temos denominado essa
política de pagamento de 2.400 reais ou 5 mil reais pela Prefeitura de São Paulo de
cheque-despejo. Hoje, Prefeitura dá um cheque para as famílias que são removidas,
desalojadas das suas casas no centro da cidade e jogadas para debaixo da ponte
ou para a periferia, porque não têm como comprar uma moradia digna.
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As cerca de 600 famílias que moravam no São Vito estavam esperando um
atendimento da Prefeitura de São Paulo, o que seria em moradia digna. Inclusive, o
prédio foi desapropriado com o objetivo de atender às famílias com moradia. Elas
receberam uma carta da Prefeitura dizendo que seriam atendidas com habitação
popular, mas até hoje estão sem atendimento.
Há uma ação civil pública proposta pela Defensoria Pública do Estado de São
Paulo. Estamos acompanhando esse processo. A visita dos Deputados vai ser logo,
no dia 1o de maio. Pensei que teríamos um tempo a mais para preparar a visita. Eu
sugiro que a Defensoria Pública de São Paulo encaminhe a esta Comissão um
relatório mais completo sobre as violações que está acompanhando, para que esta
Comissão possa avaliar todas as violações que estão acontecendo em São Paulo.
A outra questão que a Verônica citou foi em relação às obras públicas do
Governo Federal. O Governo Federal está fazendo várias obras do Programa de
Aceleração do Crescimento nas Capitais, principalmente em São Paulo e no Rio de
Janeiro. No caso de São Paulo, a violação mais flagrante é a situação do
saneamento de duas grandes represas, a Billings e a Guarapiranga, que são as
áreas dos mananciais da cidade. A Prefeitura e o Governo do Estado estão fazendo
o saneamento da represa. Nada contra o saneamento, nada contra a obra, que é
muito importante. O problema é que isso implica remoção de mais de 3 mil famílias,
com cheques de 5 mil reais. Eram famílias que moravam há 30 anos, 40 anos nas
suas comunidades.
Uma das comunidades, a do Parque Cocaia, conseguiu, depois de muita luta
— inclusive pressão das companheiras Lúcia Morais e Raquel Rolnik, que enviaram
cartas ao Prefeito e ao Governador —, 150 moradias. Mas há mais 2.850 famílias
para serem removidas daquelas comunidades.
Pedimos que a Comissão encaminhe uma carta ao Ministro das Cidades,
Márcio Fortes, no sentido de que ele esclareça como está sendo feito o repasse
para as obras do PAC para a Prefeitura de São Paulo. A Prefeitura de São Paulo
está utilizando o dinheiro do Governo Federal para despejar famílias, para colocá-las
fora de suas casas. Nesse sentido, pedimos uma intervenção da Comissão de
Direitos Humanos. Entendemos a emergência de São José dos Campos, mas que
possa ver também o que está acontecendo no Município de São Paulo, com
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centenas de despejos nessas áreas em que há grandes intervenções na cidade de
São Paulo, com favelas e comunidades sendo todos os dias despejadas com o
pagamento de 5 mil reais, o chamado cheque-despejo.
Os despejos são em decorrência das obras do Rodoanel, das obras de
saneamento das represas, das obras do PAC e das obras de urbanização. As obras
que deveriam ser de urbanização e de melhoria da vida das pessoas melhoram a
vida de umas e pioram muito a vida de outras pessoas.
Então, precisamos encontrar um equilíbrio, como disse um Deputado aqui,
diante dessas situações, para que as famílias removidas possam ser atendidas com
moradias dignas e não serem jogadas na rua da noite para o dia.
Finalmente, em relação aos imóveis do INSS, no dia 7 de abril fizemos uma
ocupação em prédio do INSS em São Paulo. A guarda do INSS bateu na gente,
fomos espancados dentro do prédio do INSS. Há inclusive companheiros nossos
sendo processados em São Paulo por causa disso. Mas conseguimos suspender os
leilões. Estavam sendo leiloados 569 imóveis.
A informação que recebemos da Previdência Social é que esses imóveis
seriam vendidos para fazer as novas agências do INSS. Somos a favor que
beneficiário da Previdência seja bem atendido, ao contrário do que vemos muitas
vezes, mas queremos que os imóveis vazios do INSS, em condições, sejam
destinados à moradia.
Depois da nossa pressão, conseguimos a suspensão temporária, por 10 dias,
dos leilões. Agora, conseguimos a suspensão dos leilões por mais 27 dias, para
podermos levantar todos os imóveis em condições de entrar no Programa Minha
Casa, Minha Vida.
Queremos pedir a intervenção da Comissão para encaminhar uma carta ao
Ministro das Cidades, ao Ministro da Previdência Social e ao Ministro do
Planejamento para que suspendam os leilões, até que possamos levantar todos os
imóveis possíveis de serem considerados habitação de interesse social, inclusive
garantindo moradia digna nas áreas da União. Não é possível o Governo Federal
ficar pedindo que os Municípios e os Estados providenciem terreno para fazer
moradia popular enquanto ele próprio vende os imóveis da União. Isso é uma
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contradição. Queremos registrar aqui nosso descontentamento com essa postura do
INSS em relação ao leilão de imóveis e pedir o apoio dos Deputados nesse sentido.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Obrigado, Benedito, pela
rica contribuição, pelo clamor real da vida quotidiana, que raramente repercute no
centro do poder. A planície está chegando ao planalto, felizmente.
Manuel Divino e Genivaldo são os 2 últimos inscritos. Em seguida, ouviremos
a Lúcia e encerraremos a sessão.
Quando começar a votação no plenário da Casa, sob pena de sermos
criticados, porque não estarmos cumprindo nosso dever, a sessão terá de ser
encerrada.
Tem a palavra o Deputado Paulo Teixeira.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Primeiro, quero parabenizá-lo pela
coordenação dos trabalhos.
Sobre São José dos Campos, quero que V.Exa. acresça à comissão 2
Vereadores da cidade que estão aqui representando oficialmente a Câmara
Municipal. São os Vereadores Wagner Balieiro e Tonhão Dutra.
Também peço a V.Exa. que a Comissão oficie ao Conselho Nacional de
Justiça para garantir a participação dos movimentos sociais no seminário sobre
conflitos fundiários que vai ali ocorrer dia 11 de maio. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Perfeitamente. É o
Seminário de Instalação do Fórum Nacional para Monitoramento e Resolução dos
Conflitos Fundiários, dia 11 de maio. Foram convidados muitos especialistas, muitas
sumidades de notável saber na questão, mas representantes dos movimentos têm
também de estar presente. Vamos pleitear isso ao Conselho Nacional de Justiça.
Na sequência, concedo a palavra a Manuel Divino, da União Estadual de
Moradia Popular de Goiás.
O SR. MANOEL COELHO SOARES DIVINO - Boa tarde a todos. Meu nome
é Manoel Coelho Soares Divino. Faço parte da União Estadual de Moradia Popular
de Goiás.
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Gostaria que refletíssemos um pouco. Estamos discutindo hoje, nesta
audiência pública, os conflitos urbanos e, ontem, como já foi dito, saiu a sentença do
companheiro Américo Novaes sobre a ocupação do Parque Oeste.
Quero que fique bem claro que a sentença não diz respeito apenas a Américo
Novaes, mas a todos os movimentos que lutam pela casa própria.
Pasmem, senhores: depois de 4 anos, a Justiça deu essa sentença porque
não encontrou nenhuma prova. Isso nada mais é do que uma resposta do Judiciário
às grandes imobiliárias de Goiânia, porque fica provado que existência de
conchavos entre imobiliárias, grandes proprietários e administradores permite isso
acontecer.
Hoje, o Parque Oeste se encontra da mesma forma que estava: um
loteamento de mais de 20 anos, com impostos atrasados. Ainda não houve uma
destinação ideal para aquela terra, que, repito, se encontra da mesma forma que
antes. As famílias foram despejadas de lá, tentaram de todas as formas criminalizar
o movimento, desestabilizá-lo. Não se tratava de baderneiros, mas de pais de
famílias que estavam ali porque queriam a sua casa. Prova disso é que todos eles,
depois de longo tempo, estão no Sonho Real, afastados da cidade, mas locados.
Essa prática tem acontecido em Goiás e em muitos outros Estados. A visão
da Justiça sobre propriedade privada tem prevalecido sobre todos os mecanismos já
aprovados, como o Estatuto das Cidades.
É importante que o Presidente Gilmar Mendes esteja presente, até para nos
falar de que forma a Justiça vê isso. Senão, o Estatuto das Cidades e os outros
mecanismos para nada servirão. Quando há a oportunidade de a própria Justiça
resgatar o compromisso com a sociedade, ela não se vale desses mecanismos que
estão à disposição. Então, é importante a presença dele, a fim de que fique claro
para nós de que forma a Justiça hoje vê as cidades; senão, as cidades vão crescer
como Goiânia, com grandes espaços urbanos dentro delas, e as famílias sendo
jogadas para a periferia.
O Governo também tem culpa nisso. Hoje, estamos vendo setores,
construídos com recursos do Governo Federal, que ficam a 3, 4 quilômetros da
cidade. Repito, construídos com financiamento do Governo. Isso tem, inclusive, até
atrapalhado o movimento, que está discutindo a questão da habitação com
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seriedade. Estávamos negociando uma área anexa, dotada de infraestrutura, mas o
proprietário disse que não iria mais negociar, porque o Governo havia feito a Coca-
Cola, a infraestrutura passou por lá, e sua terra iria valorizar. Isso tem acontecido
não só em Goiás, mas em todos os lugares.
Deixo registrados esses fatos que acontecem hoje em nossas cidades.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Muito obrigado,. Manoel
Divino.
É bom reiterar a condenação de Américo Rodrigues, um dos líderes da
ocupação do Parque Oeste, a 5 anos e 4 meses de prisão. Mas também morreram 2
sem-teto. E a condenação dos assassinos? A Justiça neste País ainda é muito
classista.
Vamos seguir ouvindo o Sr. Genivaldo dos Santos e, depois, os professores
César e Dulce.
O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Convido o Presidente
efetivo da Comissão a assumir a presidência dos trabalhos.
O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - V.Exa. está cumprindo bem essa tarefa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Tem V.Exa. a palavra,
Deputado Luiz Couto.
O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, eu estava em outra
atividade, a votação do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo —
SINASE, cujo objetivo é fazer com que adolescentes em conflito com a lei tenham
condições de ser recuperados, ressocializados e retornar à sociedade com trabalho
e todas as demais condições.
Esta audiência é muito importante. Os encaminhamentos que aqui foram
feitos serão encaminhados à Mesa Diretora, com a manifestação de todos os
participantes.
Parabenizo todos os que estiveram presentes nesse debate. É sinal de que
essa questão é fundamental. A Comissão de Direitos Humanos é o espaço onde
todos os direitos fundamentais da pessoa humana devem ser tratados. Aqui é
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proibido proibir. Quando se tratar de direito humano, temos de discutir com
profundidade.
Quero, afinal, dizer aos companheiros e companheiras que vamos
encaminhar a quem de direito o resultado desta audiência, para que aquilo que foi
definido seja aplicado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Muito obrigado.
Palavra do Presidente desta Comissão, Deputado Luiz Couto.
Concedo a palavra ao Sr. Genivaldo dos Santos, de São Paulo.
O SR. GENIVALDO DOS SANTOS - Boa tarde a todos.
Nesta Casa — infelizmente, não só dizer que é proibido proibir —, também é
preciso agir em termos de direitos humanos, das necessidades do ser humano.
No meu caso, fez-se necessário eu me deslocar de São Paulo por práticas
ignóbeis, maléficas e perniciosas do Judiciário, tentando se apossar, por 10 anos e
10 meses, de minha moradia, minha cama, minha geladeira, meu fogão, minha caixa
de ferramentas. Fazem-se de analfabetos e cegos, tratando-nos como se fôssemos
truões, que saíssem, como já foi dito nesta Casa, de uma caverna para serem
despejados.
Eis aqui. É só ler e sair prendendo. Estão aqui os nomes, fora outros que não
constam aqui. Saindo de primeira instância, hoje, eu estou no STJ, com um Ministro,
por meio de parecer de Corregedor, mandando-me voltar por onde vim, por onde já
passei. Não bato duas vezes na mesma porta.
Gostaria que esta Casa, que faz todas as normas legislativas, e que o
Senado, que sabatina aqueles que vão ocupar as cadeiras de Ministros, façam com
que cumpram as normativas que estão no Regimento Interno, principalmente na
nossa jurisprudência. Fatos como esses são vergonhosos.
Tenho conhecimento de que Flávio D´Urso já fez novas deliberações sobre a
ação extrajudicial em São Paulo. Hoje em dia, não são mais os que fazem uso da
toga, fora aqueles que não fazem uso dessa vestimenta, mas se escondem por
baixo dela. Abuso de poder, práticas intoleráveis, graves e criminosas.
Deixei minha herdade, minha família desamparada, porque sou o provedor,
para estar aqui, passando fome — de dia, passo fome; à noite, sonho que estou
comendo —, porque o Poder Judiciário me obrigou a estar aqui. Que mandatário,
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que se diz impedido por motivo de foro íntimo, tem coragem, tem brio, tem moral
para proceder? É caso de polícia, é notícia crime — está aqui nos artigos dos
Regimentos Internos do STJ e do STF —, porque esta Casa assim determinou.
Eu necessito de amparo, eu necessito comer, eu necessito estar aqui para
que fatos como esse se extingam de uma vez.
O gerente da Caixa Econômica já realizou novas deliberações;
representantes da ONU já despacharam com Ellen Gracie Northfleet a respeito da
ação extrajudicial. Mas a prática continua, nobres Deputados, senhores que fazem
as nossas leis. Os coronéis, com pistoleiro ou sem pistoleiro, com toga ou sem toga,
continuam mandando.
Muito obrigado.
Um bom prosseguimento a todos nos afazeres e no cumprimento do dever.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Obrigado, Genivaldo.
Vamos para a fase final.
O SR. CELSO SANTOS CARVALHO - Sr. Presidente, peço a palavra para
uma questão de ordem, se possível. É sobre a proposta do Deputado Paulo
Teixeira, no sentido de incluir representantes dos movimentos populares no
seminário do dia 11.
Solicito a participação no seminário do GT Conflitos Fundiários Urbanos, do
Ministério das Cidades.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Vamos tentar. O seminário é
organizado e promovido pelo Conselho Nacional de Justiça, por sugestão do seu
Presidente, o Ministro Gilmar Mendes, que não tem, digamos, muita sensibilidade
para esses movimentos. Mas a nossa função é pleitear, exigir até, que o seminário
seja o mais democrático possível, uma vez que ele dará base à constituição do
Fórum Nacional para Monitoramento e Resolução dos Conflitos Fundiários Urbanos
e Rurais. É óbvio, então, que esse seminário não pode ser apenas de uma instância
da sociedade.
Está feita a proposta. A Secretaria desta Comissão a registrou devidamente,
para que tudo seja encaminhado. O tempo é curtíssimo, porque o seminário será
daqui a 10 dias.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0469/09 Data: 29/04/2009
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Concedo a palavra ao César, professor da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
O SR. CÉSAR - Boa tarde, senhoras e senhores.
Sou professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Estou aqui
para apresentar um conjunto de relatórios que produzimos com algumas lideranças
de bairros e de localidades de Rio Grande, Município portuário com 196 mil
habitantes. Alguns bairros e localidades são ameaçados por um processo de
expansão portuária em face, basicamente, de projetos do PAC.
A Prefeitura de Rio Grande estima que mais ou menos metade dos imóveis
tem algum problema de regularização. Nesse sentido, as obras do PAC devem
desalojar famílias que residem em áreas passíveis de desapropriação, a fim da
realização de obras de infraestrutura ou terminais portuários.
Neste momento, 814 famílias podem ser desalojadas em 4 localidades.
Infelizmente, hoje, por uma série de circunstâncias, nenhum representante dessas
localidades ou bairros e nenhum representante do Movimento Nacional de Luta à
Moradia está presente. Esse movimento, num município relativamente pequeno, foi
bastante duro, e contou com a presença, em 2007, da arquiteta Lúcia Moraes para
elaboração do seu relatório. Ele sofreu um processo de tentativa de penalização,
inclusive com investigação da situação da Lúcia pela Prefeitura Municipal e de
alguns Vereadores da bancada da Situação, para descaracterizar não somente a
Lúcia, mas também o trabalho da relatoria.
Então, minha participação nesta audiência é para entregar esse conjunto
relatórios que apresenta a caracterização dos moradores e das localidades de 5
bairros que provavelmente tenham processo de desocupação nos próximos 2 anos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Muito obrigado, César.
Recebido o relatório, vamos nos empenhar também para que esse tipo de
antipolítica não prospere.
Com a palavra a Profa. Dulce, do outro Rio Grande, o do Norte.
A SRA. DULCE BENTES - Boa tarde. Fechamos bem, de sul ao norte.
Sou Professora do Departamento de Arquitetura da Universidade Federal.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos
Número: 0469/09 Data: 29/04/2009
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Por meio do Observatório das Metrópoles e do Departamento, temos um
trabalho de monitoramento das áreas de interesse social com organizações não
governamentais e movimentos de moradia em Natal.
Quero fazer alguns registros. Inicialmente, devo destacar a importância das
relatorias, que conferem um patamar muito diferenciado na cidade perante os
movimentos, gestores e demais segmentos em termos do significado do
monitoramento, do significado desse direito e da rede de proteção social.
Hoje, com o monitoramento, um dos nossos maiores objetivos é ampliar a
rede de proteção em torno da exigibilidade desses direitos na cidade. Temos
realizado, de 2007 para cá, um trabalho muito mais reconhecido e com mais
capacidade de diálogo com os setores que devemos enfrentar, sobretudo o
Executivo municipal, com relação aos mecanismos de proteção social estabelecidos
pelo Plano Diretor.
Natal não apresenta os problemas de despejo na propriedade praticamente
100% citados nesta audiência. A modalidade de despejo se dá através da
desconstrução da legislação que conseguimos aprovar desde 1994. Temos uma
legislação avançada, com reconhecimento das áreas de interesse social e com
regulamentações muito importantes. Há uma área monitorada há 15 anos e que tem
uma resistência muito importante no eixo turístico da cidade.
Temos foco nos assentamentos que estão num eixo estratégico de expansão
do turismo imobiliário, no Nordeste inteiro, em Natal especialmente, uma vez que há
uma pressão muito intensa sobre essas áreas.
Esta semana, fomos surpreendidos por medida do Executivo municipal que
modificou o Plano Diretor, cujo processo de revisão, em 2007, foi extremamente
democrático. Foram 3 anos de exaustivas discussões, e há, portanto, uma
legitimidade e um controle social importantes.
Entramos com uma Representação junto ao Ministério Público — já tivemos
uma audiência segunda-feira — no sentido de retirar o projeto de lei, encaminhado
diretamente para a Câmara Municipal sem discussão alguma, desconstruindo muito
das áreas, modificando zonas lindeiras de zonas adensadas com zonas de interesse
social, propositalmente nas áreas de expansão imobiliária.
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Número: 0469/09 Data: 29/04/2009
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Portanto, estamos muito preocupados também — e a Profa. Raquel Rolnik
mencionou isso — com relação a que o município, de um lado, está desconstruindo
os instrumentos de proteção das ZEIS do Plano Diretor que devem dialogar com a
política habitacional, mas, de outro, a Secretaria de Habitação deve estar recebendo
recursos para implementar projetos de construção em outras áreas.
Essa dissociação entre o Estatuto da Cidade, os instrumentos e a política
habitacional é muito grave em termos dos resultados que esperamos para a
efetivação de uma política de habitação que venha para efetivar esses direitos.
Quero dizer que o relatório também está com a Profa. Lúcia. Nós o
publicamos e estamos fazendo a entrega nesta audiência.
Obrigada.
O SR. DEPUTADO CARLOS SANTANA - Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Agradeço à Professora
Dulce.
Passo a palavra pela ordem ao Deputado Carlos Santana, do Partido dos
Trabalhadores, do Rio de Janeiro.
O SR. DEPUTADO CARLOS SANTANA - Peço desculpas aos
companheiros, tanto os Deputados como os dos movimentos, mas estava numa
reunião sobre direitos humanos: os companheiros anistiados do Arsenal da Marinha
e de outros setores, tentando reparar a injustiça contra eles cometida.
Já fiz um discurso sobre o assunto que vou tratar hoje de manhã. Eu moro na
Zona Oeste, em Bangu, a região mais pobre da cidade do Rio de Janeiro. Um dos
sub-bairros de Bangu, a Vila Aliança, hoje, pela manhã, foi ocupada pela Polícia, e
uma criança de 3 anos foi assassinada. Em menos de 1 mês, 3 crianças, no mesmo
local, no mesmo sub-bairro, foram assassinadas. Está um desespero danado. Estou
tentando falar com a Segurança do Rio para tentar discutir o assunto. Não vai trazer
de volta a vida dessa criança nem das outras duas, mas temos de discutir a questão
da violência, que hoje, principalmente para a camada pobre da sociedade, virou
banal. As coisas estão acontecendo a cada momento.
Fico triste também porque algumas lideranças locais não estão percebendo
que o nível de morte das pessoas é enorme. Não estou defendendo ninguém que
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Número: 0469/09 Data: 29/04/2009
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está à margem da lei. Isso tem que estar bem claro. Não estou aqui para defender
bandido, não. Agora, uma criança de 3 anos de idade não carrega fuzil. Como é que
uma criança de 3 anos de idade vai pegar uma arma? Poderia ser meu filho, poderia
ser o filho de qualquer um dos que moram lá.
Quando querem prender um viciado ou uma pessoa na Zona Sul ou em
qualquer condomínio, há uma operação, faz-se uma logística. Mas, numa
comunidade pobre, entra-se dessa forma. O pai da criança me ligou, porque estão
telefonando para ele e dizendo: ”Não procure a imprensa, não procure nada”. Aonde
nós chegamos! Pelo amor de Deus!
Quero reafirmar: não estou aqui defendendo bandido. Bandido tem que ir para
a cadeia. Estou defendendo a vida.
Fico triste porque, na Zona Oeste, com um montão de lideranças políticas,
não vemos as pessoas se unirem em torno da defesa da vida. Nossa luta é pela
vida. O pobre não tem direito a nada, e isso não é uma questão de raça — porque
nós, negros, somos a maioria lá dentro —, mas de são todos aqueles que moram lá
dentro, independentemente de etnia.
O pai dessa criança, há um mês e meio, perdeu a mãe, por doença. Ontem,
ele estava conversando com um pastor evangélico sobre a violência, e hoje
acontece com a filha dele.
Então, quero aproveitar este momento para agradecer a Comissão por estar
funcionando. O único espaço que temos é a Comissão de Direitos Humanos. Mas
não sei aonde vamos parar. A vida, hoje, não tem mais valor.
Sempre fui criado em favela. Antigamente, quando alguém morria, não
conseguíamos almoçar, não íamos ao colégio. Agora, passamos por cima e vamos
para o botequim tomar cerveja ou guaraná. E no outro dia é a mesma coisa.
Amanhã, Deputado Chico Alencar, vamos fazer uma audiência na vila.
Estamos convocando as pessoas internamente. E a minha tristeza é ver que há
lideranças locais dizendo que é fatalidade. Mas como pode ser fatalidade 3 vezes
seguidas? Aí ficam jogando o policial, que também é mal assalariado e não tem
condições de trabalho, contra a população. É irmão brigando contra irmão. No
entanto, essa garota foi levada para a Polícia por policiais.
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Já não sei, se não tivéssemos esses microfones para falar, se valeria a pena
— nós, que viemos de movimentos populares, que somos ligados à questão popular
— estar aqui, no Parlamento. Se não existissem esses microfones, não adiantaria
estar aqui. Para quê? Para fingir que estamos fazendo papel de Deputado?
Neste momento, estamos discutindo a candidatura do Rio de Janeiro para
sede das Olimpíadas, mas está lá a maior convulsão. Enquanto no Copacabana
Palace as pessoas estão apresentar as condições do Rio de Janeiro, do outro lado
da cidade está acontecendo isso. Se eu fui abordado por telefone, imaginem o que
deve estar acontecendo em outras áreas.
Peço desculpas a todos os senhores, mas não posso me calar diante do que
estamos passando. Não é uma questão partidária. É a vida. Essa questão é central
para nós. Eu, que nasci numa favela, sei o que é isso. Para chegar a exercer 5
mandatos de Deputado Federal, sei o que vivi.
Hoje as pessoas têm medo de militar na área de direitos humanos porque
parece que estamos defendendo bandido. Não estamos aqui para defender bandido.
Estamos aqui para defender a vida, e isso é fundamental para nós. Quero deixar
isso bem claro, Deputado Chico Alencar, e convidá-lo para, na hora em que o
companheiro quiser, ir à Vila Aliança, porque sabemos do seu papel na luta em
defesa da vida.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Obrigado, Deputado Carlos
Santana, que nos está trazendo mais uma notícia trágica, dura, difícil, inaceitável. E
nós temos que reagir. Inclusive, na manifestação de 1º de maio, que será lá em
Santa Cruz, na mesma zona oeste, é importante levar essa denúncia, para que haja
uma investigação sobre a responsabilidade por mais esse crime.
O SR. DEPUTADO PAES DE LIRA - Presidente, pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Pois não, Deputado Paes de
Lira.
O SR. DEPUTADO PAES DE LIRA - Deputado Carlos Santana, percebi a
indignação de V.Exa. e comungo do seu sentimento. Só quero deixar claro que
existe, no Rio de Janeiro, uma política de retomada da segurança pública. Eu vejo
desse modo. E ela produz, de fato, frequentes intervenções em áreas populares,
que, por sua vez, sofrem muito, sofrem demais a influência do crime organizado.
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Nessas operações indesejavelmente acabam ocorrendo letalidades que não
atingem os criminosos. Frequentemente, a Polícia Militar do Rio de Janeiro e mesmo
a Polícia Civil perdem bravos policiais no cumprimento do dever, com o cérebro
explodido por balas de fuzis. Não se deve nunca aceitar nem justificar a morte de
uma criança. O que eu posso dizer é que o fato deve ser apurado com muita
cautela, porque muitas vezes afirmar precipitadamente que o projétil letal que atingiu
a criança partiu necessariamente de uma arma policial pode não ser exatamente o
que ocorreu, especialmente numa situação de conflito, com tiros disparados lado a
lado.
Compreendo a indignação de V.Exa., Deputado Carlos Santana, comungo do
seu sentimento de indignação pela morte de uma criança e jamais falaria
contrariamente a ele, mas peço cautela e prudência e que se aguarde a apuração
dos fatos.
O SR. DEPUTADO CARLOS SANTANA - Eu quero dizer, Sr. Presidente, que
sou filho e neto de militar. Eu não quero saber de onde a bala partiu, mas que essa
criança morreu. Então, nós não vamos... Desculpe o nobre Deputado. Nós temos
que parar com esse negócio. Pouco importa para mim de onde partiu a bala. Importa
para mim que uma criança morreu, uma criança que poderia ter um futuro, uma
criança que poderia ter o mesmo futuro do meu filho, que tem 19 anos de idade.
Então, temos de parar com isso.
Aqui não há divisão. E aí é que entramos nessa discussão sobre a divisão:
quem é bonzinho está de um lado, quem é ruim está do outro. Então, não tem essa
discussão. Temos de parar com essa discussão sobre de onde saiu o tiro. Temos de
discutir sobre quem é que vai enterrar essa criança, que essa criança está morta.
Esta a discussão que a sociedade faz. Alguns veículos de comunicação
erradamente colocam... Por isso que eu estou dizendo: nós não estamos aqui para
defender bandido. Esta é uma Casa de leis.
Este é o ano em que mais policiais foram assassinados, e estou indignado
também com isso, porque onde eu moro é onde eles também moram. A zona oeste
é onde há a maior concentração de policiais morando. Só para deixar bem claro, se
quiséssemos fazer populismo, era só dizer o seguinte: “Não, deixa para lá”. Isto é o
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que a grande maioria faz, não bota a cara para apanhar, a grande maioria, repito.
Depois vão até esse povo pedir voto e acham que está tudo bem.
Esse é o motivo da minha indignação. E também é muito até pelas entidades
organizadas, porque, nesta hora, deveríamos estar discutindo. Nós não podemos
colocar irmão contra irmão. É com isso que eu fico triste, porque, no final, colocamos
irmão contra irmão, e aquele que é o menos favorecido. Temos de parar com esse
negócio de colocar irmão contra irmão, porque o que se pergunta à grande maioria
dos companheiros que estão hoje na PM, na Polícia Civil, com o salário que estão
recebendo atualmente, é se eles não querem sair de lá, se eles não querem ter
outra oportunidade. Eu sei porque eu convivo com eles, mas não dá para a gente
mais.
Hoje, não podemos banalizar o tráfico de forma geral. Agora, eu reclamo sim,
porque na zona sul não há uma operação dessa. Na Barra da Tijuca, nos
condomínios, não há uma operação dessa, porque, quando eles querem pegar
alguém, prendem até bonito, botam todo mundo lá presinho, todo filho de classe
média.
Só quero deixar aqui a minha indignação, e não polemizar sobre de onde
saiu a bala.
O SR. DEPUTADO PAES DE LIRA - Nós estamos concordando no essencial,
Deputado. Estamos concordando no essencial, repito, mas V.Exa. não pode tirar
conclusões precipitadas. Então, vamos nos manter exatamente na posição de
indignação pela perda da vida de uma criança de 3 anos, que deveria ser um
cidadão brasileiro com futuro, sem tirar conclusões precipitadas.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Obrigado.
Apesar de o fato ser absolutamente trágico, também isso enriquece a nossa
audiência pública e gera compromisso inclusive da autoridade pública.
O princípio da solidariedade é sempre emotivo, porque parte do sentir na
própria carne. Qualquer um de nós aqui, homens e mulheres, imaginando perder um
filhinho ou uma filhinha com 3 anos de idade numa ação da segurança pública, que
é um serviço público sustentado pela população — e aí houve provavelmente
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também falta da inteligência, da cautela, da estratégia, da logística —, ficaria
absolutamente arrasado e indignado. É isso que nós temos de buscar.
O Deputado Carlos Santana tem razão quando diz que algumas operações,
até contra bandidos do colarinho branco, são cercadas de muita preparação, de
muita inteligência. E o Deputado Paes de Lira, como oficial da Polícia Militar, sabe
que a PM, apesar das dificuldades de remuneração, de estrutura, tem condições
também de planejar ações, embora ninguém negue aqui o potencial destrutivo do
tráfico armado de drogas ilícitas. No Rio de Janeiro isso é um absurdo: são donos de
áreas. Mas é possível fazer operações contra esse tipo de poder nefasto, mas
preservando, digamos, a população civil, em especial as nossas crianças, levando
em conta o horário, com toda a cautela. Ninguém aqui tem os detalhes, mas imagino
que essa criança não tenha sido colocada como escudo. E aí vem sempre a bala
perdida, que tragicamente é encontrada sempre no corpo de alguém que não tem
nada a ver com o confronto.
O que queremos é segurança pública e dignidade para os bairros pobres, a
começar pela moradia adequada. Com isso, nós encerramos aqui esta audiência
pública tão importante, que, aliás, resgata o papel da Câmara dos Deputados, que
não é ficar discutindo problemas internos, nem cometendo abusos. Estamos aqui é
para servir a população e não se servir de benesses. Felizmente hoje resgatamos
um pouco, em várias atividades, Deputado Paulo, esse sentido do nosso mandato,
porque estamos aqui há 2 ou 3 semanas só discutindo o próprio umbigo: vôo para
cá, avião para lá e passagem para cá. Isso é péssimo para o País, embora nós
tenhamos que assumir a responsabilidade. Às vezes essa pauta negativa nós
mesmos é que criamos. Vamos retomar a dimensão da grande política, que é o que
está sendo feito aqui.
Passo a palavra, então, para encerrar, à nossa convidada Lúcia Moraes, da
Relatoria Nacional para o Direito Humano à Moradia Adequada.
A SRA. LÚCIA MORAES - Moradia e Terra Urbana. Eu quero agradecer
imensamente à Comissão dos Direitos Humanos da Câmara, em especial aos
Deputado Pedro Wilson e Paulo Teixeira, que acreditaram na necessidade de, na
Câmara dos Deputados, darmos visibilidade a esse problema da violação do direito
humano.
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Agradeço ao Deputado Luiz Couto, que apresentou o requerimento de
realização desta audiência pública, que considero assim muito positiva em termos
de encaminhamentos, de discussões e dessa possibilidade de os Deputados aqui
presentes ouvirem as comunidades, os representantes dos movimentos, das
lideranças, de ouvirem realmente o problema de cada um.
Eu reforço a necessidade de se criar uma Comissão para ir a São José dos
Campos. A Relatoria Nacional esteve lá por 2 vezes, e infelizmente não foi recebida
pela Prefeitura. Numa das vezes constituímos uma comissão composta pela
Relatoria Nacional da Moradia, a Procuradora Federal Ella Wiecko, representando o
CDBPH e pela Dra. Ivana Farina, Presidente do Conselho Nacional do Ministério
Público. Fomos a São José para averiguar a questão da ocupação da Fazenda
Pinheirinho, e também não fomos recebidas pela Prefeitura. Pedimos que entrassem
em contado para que pudéssemos encontrar uma negociação, e eles sequer deram
retorno para a Procuradora Federal.
Então, vemos essa falta de discussão e de negociação da Prefeitura de São
José, enquanto os problemas continuam ocorrendo no dia-a-dia para a comunidade
como um todo.
Quero dizer que, ao tornarmos públicos todos esses relatórios das missões
que realizamos nessas cidades, sabemos que os problemas ocorrem não só nesses
cidades, mas praticamente em todas as cidades brasileiras de médio e grande porte.
Para quem não os recebeu, esses relatórios estão no nosso site:
www.dhescbrasil.org.br. Eles podem ser acessados. Temos também o lançamento
dessa publicação, A Efetivação do Direito à Moradia na Cidade de Natal. O
Observatório das Metrópoles conseguiu fazer essa publicação específica sobre a
missão da cidade de Natal.
Também considero muito positiva a possibilidade de haver essa reunião com
o Dr. Gilmar Mendes. Infelizmente, sempre falamos que o Poder Judiciário é o que
menos recebe, conversa, atende o movimento como um todo e que, durante as
missões, alguns Ministérios Públicos recebem a Relatoria ou são nossos parceiros
na realização da audiência pública. Infelizmente, com outros não conseguimos nem
a cessão do auditório para fazer a audiência, como ocorreu em Manaus na última
missão.
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Número: 0469/09 Data: 29/04/2009
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A Dra. Gilda disse que podemos contar com eles. Eu respondi: “Agradeço
imensamente. Sempre temos procurado a Procuradoria Federal, mas infelizmente
ocorre em âmbito nacional, em Brasília. Em âmbito local isso não acontece”. Ela se
mostrou disposta a convocar uma reunião mais ampla, em âmbito nacional, com os
movimentos e a entidade, para discutirmos com os Procuradores Federais essa
defesa do direito humano e, em especial, do direito à moradia, de que estamos
tratando aqui agora.
Solicito também à Comissão que, ao elaborar o relatório com as deliberações
tiradas daqui, que elas sejam encaminhadas a todos os participantes com quem os
senhores tiverem contato. Esperamos que sejam enviadas a todos aqueles de quem
os senhores tiverem o endereço, e nós acompanharemos todos esses
encaminhamentos.
Solicito ainda à Comissão de Direitos Humanos que dê visibilidade às
Comissões afins. Todos os Deputados têm a sua cidade, o seu público, os seus
eleitores e é muito importante que possamos discutir esse assunto mais amplamente
nas outras Comissões. Vimos aqui presente a Frente Parlamentar da Reforma
Urbana. Então, é muito importante que criemos essa ligação mais estreita com a
Comissão.
Quero dizer que todos os relatórios e cartas de apoio que a Relatoria elabora
são encaminhados para as autoridades ligadas ao assunto, como o Ministério das
Cidades, a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, o Gabinete Civil. Então,
encaminhamos, em âmbito federal e local, para as Prefeituras, para o Governo do
Estado e para as Comissões de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e das
Assembleias Legislativas, a fim de pressionar. A Relatoria, feliz ou infelizmente, tem
essa condição de relatar, sugerir e dar visibilidade ao caso. Por isso damos essa
visibilidade e realmente cobramos maior empenho de todos no sentido de que
possam encaminhar essas soluções de formas pacíficas.
Agradeço imensamente a todos presentes, ao Frigo, ao Marcelo, que é o
assessor da Relatoria e nos ajudou a fazer essas missões nas cidades, cujos
relatórios estamos tornando públicos. No Rio Grande do Sul felizmente realizamos
uma boa missão, mas no dia seguinte a Relatoria estava sendo desqualificada. Eu
fui a um conjunto habitacional e falei que aquela experiência era a pior que eu tinha
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visto, se comparada às que eu já havia passado. Mas aquela era a coqueluche da
Prefeitura. Depois tivemos notícia de que aquelas casas desabaram. Qualquer leigo
falaria o que eu falei sobre aquele conjunto habitacional.
O SR. GERALDO SANTOS - Lúcia, a informação da semana: a construtora
pediu falência, a Prefeitura está reconstruindo as casas em operação de urgência,
com funcionários de todas as Secretarias, e está ajuizando a construtora, que
também foi responsável por construir outras casas, mas as deixou inacabadas.
Então, o Ministério Público Federal está investigando as relações dessa construtora
que ganha as licitações com a Prefeitura Municipal, que vai tentar reaver pelo menos
parte dos recursos investidos naquelas casas que, como a senhora viu, não têm
condições de habitação.
A SRA. LÚCIA MORAES - Agradeço a todos.
O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, gostaria de fazer um
esclarecimento especial.
Aproveitamos a oportunidade para parabenizar o nosso assessor de
imprensa, Rogério Tomaz, figura que não tínhamos antes, e agora temos. O Márcio
assumia essa função, além da Secretaria. Em boa hora o Rogério Tomaz está na
Comissão de Direitos Humanos.
Utilizamos, na audiência pública de hoje, a ferramenta Twitter, que é uma
inovação da Internet colaborativa da Web 2.0. Toda esta audiência foi acompanhada
em tempo real no www.twitter.com/cdhcamara. Queremos parabenizar o
companheiro Rogério Tomaz pela iniciativa e também dizer que a Casa pode ter
mais esse instrumento, além da TV e da Internet. Assim temos condições de fazer
com que a população possa acompanhar o que está sendo discutido aqui.
O tema habitação adequada, para que as pessoas tenham moradia digna,
com espaço de terra para poder construir suas casas, é fundamental. Ficamos
contentes com isso. É mais um sinal de que a Comissão de Direitos Humanos está e
deve sempre estar à frente.
O SR. DEPUTADO PAULO RUBEM SANTIAGO - Só falta agora construir
moradia adequada em tempo real, de acordo com a real necessidade das pessoas.
O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Isso. É claro que o Deputado Paulo
Rubem Santiago vai nos ajudar e também a Relatora.
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A SRA. LÚCIA MORAES - Esse é um outro grande problema que não
citamos: a morosidade nas obras públicas.
O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - É verdade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Chico Alencar) - Exatamente.
Dito, louvado e ouvido tudo isso na Comissão de Direitos Humanos em
audiência pública sobre o direito à moradia adequada, porque esse também é um
direito humano, precisamos modificar essa cultura de que o direito humano está
vinculado apenas à agressão à pessoa ou à defesa do indivíduo, porque está
vinculado também aos direitos sociais e coletivos.
Agradeço a presença aos Deputados que ficaram aqui até agora, Paes de
Lira, Capitão Assumção e Luiz Couto, do nosso Presidente, absolutamente
democrático, que abre mão até do poder e sabe, por outro lado, que não haverá
nenhum golpe de Estado por parte dos que estão provisoriamente aqui.
Agradeço ainda a presença ao Deputado Paulo Rubem Santiago, a todos os
convidados que nos honraram muito e nos ensinaram bastante e a todos os
presentes. Assim iremos conquistar os nossos direitos, com luta, organização e
interferindo no poder político nacional por meio do Legislativo, a Câmara dos
Comuns. Convém chegar também à Câmara dos Lordes, que é o Senado Federal.
Está encerrada esta reunião de audiência pública. (Palmas.)