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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - PL 4.874/01 - ESTATUTO DO DESPORTOEVENTO: Audiência pública N°: 0169/02 DATA: 26/03/02INÍCIO: 11:05 TÉRMINO: 14:48 DURAÇÃO: 03:43TEMPO DE GRAVAÇÃO: 03:44 PÁGINAS: 93 QUARTOS: 28REVISÃO: Madalena, Marlúcia, Odilon, WaldecíriaSUPERVISÃO: Estela, Graça, Joel, Neusinha, ZuzuCONCATENAÇÃO: Amanda
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOCARLOS ARTHUR NUZMAN - Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro — COB.MANOEL LUIZ OLIVEIRA - Presidente da Confederação Brasileira de Handebol.BERNARD RAZJMAN - Deputado Estadual.LARS GRAEL - Secretário Nacional de Esporte.COARACY GENTIL MONTEIRO NUNES FILHO - Presidente da Confederação Brasileira deDesportos Aquáticos.ARTHUR TELLES CRAMER RIBEIRO - Presidente da Confederação Brasileira de Esgrima.JOÃO TOMASINI SCHWERTNER - Presidente da Confederação Brasileira de Canoagem.ARY DA SILVA GRAÇA FILHO - Presidente da Confederação Brasileira de Voleibol.DURVAL FERREIRA GUIMARÃES - Presidente da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo.GERASIME NICOLAS BOZIKIS - Presidente da Federação Brasileira de Basketball.ALAOR GASPAR PINTO AZEVEDO - Presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa.PAULO WANDERLEY TEIXEIRA - Presidente da Confederação Brasileira de Judô.CARLOS OSÓRIO DE ALMEIDA - Membro do Comitê Olímpico Brasileiro.
SUMÁRIO: Coleta de sugestões para elaboração do Estatuto do Desporto.
OBSERVAÇÕESReunião externa realizada no Comitê Olímpico Brasileiro.Há intervenção inaudível.Há oradores não identificados.Há falha na gravação. Não há seqüência no texto.Há expressão ininteligível.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 4874/01 - Estatuto do DesportoComissão Esp. - PL 4874/01 - Estatuto do DesportoNúmero: 0169/02 Data: 26/03/02
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) - Declaro abertos os
trabalhos da presente reunião da Comissão Especial destinada a apreciar e proferir
parecer ao Projeto de Lei nº 4.874, de 2001, que institui o Estatuto do Desporto.
Meus amigos, bom dia. É com enorme satisfação que vimos até o Comitê
Olímpico Brasileiro. Essa satisfação é renovada pelo fato de aqui estarmos a
convite. Existe o maior interesse da nossa entidade e da nossa Comissão em tratar
do assunto objeto do nosso trabalho com o Comitê Olímpico Brasileiro.
Para nós foi gratificante o fato de, ao tempo em que fazíamos os
requerimentos indicando aquelas pessoas ligadas aos esportes olímpicos que
poderiam oferecer contribuições à Comissão, recebermos correspondência do Sr.
Presidente Carlos Nuzman convidando-nos para trocar idéias em caráter coletivo.
Para nós também foi enriquecedora a oportunidade de estarmos presentes em um
evento como o de hoje, numa assembléia geral, em que é possível sentirmos as
angústias, por um lado, as certezas, por outro, e também percebermos quanto o
esporte olímpico brasileiro vive.
Já discutimos, desde o mês de novembro, a formatação que deverá ser dada
ao novo Estatuto. Quero lembrar que essa proposta vem como resultante de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito instituída na Câmara dos Deputados para
investigar alguns aspectos particulares do futebol. Como as Comissões
Parlamentares de Inquérito constitucionalmente têm abertura para avançar nas
direções em que julgar oportunas e necessárias, nós todos da Comissão
sentimo-nos obrigados a ir além da questão meramente investigativa, que é
prerrogativa do Parlamentar. Também assumimos o compromisso de apresentar
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propostas, na medida em que não adiantava encontrar eventuais erros se não
tivéssemos a capacidade de propor soluções.
Foi assim que, ao encerrar os trabalhos da CPI, aquelas investigações que
demandavam a continuação do trabalho nas suas situações específicas foram
encaminhadas aos organismos encarregados disso e nós nos obrigamos a continuar
a tarefa normal do legislador, que é propor uma legislação que possa contemplar
aquelas falhas que detectamos em nossos trabalhos.
É com esse espírito que estamos aqui. E o fato de já termos ouvido muitas
autoridades no assunto permitiu-nos começar a ter uma visualização mais concreta
do que é a realidade do futebol e de outros esportes, os olímpicos em particular. Isso
também vai nos permitir — já com mais conhecimento, absorvendo a sabedoria de
todas as pessoas que nos deram a honra de colaborar —, com certeza, trabalhar em
um projeto que corresponda às expectativas não só do mundo esportivo, mas
também de toda a sociedade brasileira. Portanto, repito, é com esse espírito que
estamos aqui.
Quanto à proposta que nos foi apresentada, algumas citações levavam-nos
ao trabalho que seria apresentado em março de 2002. Estamos no mês de março e,
com certeza, isso vai nos permitir acolher essas propostas previstas para março de
2002.
Neste momento somos cinco membros. Alguns aeroportos estiveram
fechados, inclusive o de Brasília. Imagino que durante a sessão vamos receber
outros Deputados. Estou aqui hoje com os Deputados Gilmar Machado, Relator da
Comissão; José Rocha, Vice-Presidente; e Eurico Miranda, membro titular desta
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Comissão. Também tenho notícias de já ter chegado o Deputado Alex Canziani, que
imagino deva estar se encaminhando para cá.
Posto isso, reitero a minha satisfação e a de toda a Comissão por aqui
estarmos. A conversa deverá ser o mais aberta possível. Estamos aqui para ouvir
sugestões.
Antes de abrir a discussão, quero passar a palavra ao Relator, Deputado
Gilmar Machado, que está encaminhando todas as diretrizes para a elaboração do
projeto final e deverá fazer uma apreciação preliminar do trabalho que estamos
realizando.
Com a palavra o Deputado Gilmar Machado.
O SR. DEPUTADO GILMAR MACHADO - Muito obrigado, Sr. Presidente.
Cumprimento o Presidente Nuzman e os demais representantes do Comitê Olímpico
Brasileiro e agradeço a oportunidade de poder estar aqui para aprofundar o debate a
respeito do Estatuto, que considero extremamente importante para o desporto
brasileiro.
Gostaríamos de examinar a fundo o documento que nos foi proposto
preliminarmente. Entendemos que vários pontos ali registrados são importantes.
Queremos garantir que do Estatuto constarão algumas sugestões que nos foram
apresentadas, se procedentes. Por exemplo, a inclusão da Lei Piva no Estatuto. Ao
mesmo tempo, pretendemos acrescentar alguns pontos, cuja definição não estava
bem clara, como garantir aos atletas maior participação e à sociedade maior
acompanhamento — isso já está sendo feito.
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Considero correta a atitude de aguardar, que os senhores tomaram. Estão
agora dentro das normas estabelecidas pelo Tribunal de Contas da União para
acompanhamento da aplicação dos recursos, o que facilita muito.
Ainda nos preocupa um pouco uma questão, mas tenho certeza de que
saberão tratá-la. Refiro-me ao desporto educacional e universitário. Queremos que
as entidades que cuidam dos recursos destinados a essa área tenham a seriedade
necessária para cuidar desse tema.
Quando da votação da Lei Piva, dissemos inclusive que gostaríamos que o
Comitê Olímpico e o Comitê Paraolímpico gerissem aqueles recursos, realizassem
parcerias com as universidades, com as escolas, com os Conselhos Estaduais e
Municipais de Educação, com as Secretarias Municipais, a fim de possibilitar o
incremento do esporte educacional e do esporte universitário.
Essa questão ainda está sendo equacionada, mas à época da votação o
espírito era esse. Queremos de fato que esses recursos sejam trabalhados também
pelo Comitê Olímpico, em parceria, para que entidades não fiquem sendo criadas
para beneficiarem-se com recursos, sem que tenhamos resultados.
Não estou fazendo juízo de valor, dizendo que os universitários e estudantes
não têm condições. Pretendo trabalhar esse ponto, deixá-lo muito claro no Estatuto,
para que não haja dúvida e para que de fato o esporte possa ser plenamente
trabalhado.
Outro aspecto é a legislação, que deve prever um tratamento para o atleta
das demais modalidades e para o atleta do futebol. Não sou especialista em futebol,
como o Deputado Eurico Miranda. Mas queremos uma legislação que não dê
margem a dúvida, confira tranqüilidade aos atletas de todas as modalidades e, ao
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mesmo tempo, permita o planejamento e a estruturação das equipes dos clubes,
deixando claros os respectivos direitos e deveres.
Também é preciso esclarecer a figura do atleta profissional. Os senhores
abordam a idéia do atleta profissional do futebol, mas outros atletas querem ser
profissionais. No projeto, que os senhores devem conhecer, há várias figuras de
atletas — atleta profissional, no art. 80; atleta não profissional, no art. 81; atleta
profissional autônomo, no art. 114; atleta aprendiz, atleta estagiário e atleta amador.
Essas definições devem estar muito claras, para não haver confusão, permitindo aos
clubes trabalhar de forma transparente, pois devem saber os deveres e direitos de
ambas as partes. Nesse debate, queremos ouvir a idéia dos senhores.
Temos o apoio do Presidente desta Comissão para fazer um debate o mais
amplo e transparente possível, a fim de elaborarmos uma legislação que possa de
fato ser viabilizada, aplicada corretamente, sem criar mais transtornos para o
desporto brasileiro. Meu objetivo como Relator é tentar, é apresentar uma síntese do
projeto do Deputado Silvio Torres e das duas propostas apensadas, de autoria dos
Deputados José Rocha e Chico Sardelli, incluindo o que vamos ouvir dos senhores e
de outras entidades. Quero dar uma contribuição e não aprofundar as dificuldades
que já tentam superar no dia-a-dia.
Sr. Presidente, após os debates, retornarei com perguntas mais específicas, a
fim de colher o maior número possível de informações, pois sei que estão presentes
pessoas que nos podem ajudar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) - Muito obrigado, Deputado
Gilmar Machado.
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Passo a palavra ao Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Sr. Carlos
Arthur Nuzman.
O SR. CARLOS ARTHUR NUZMAN - Muito obrigado, Exmo. Sr. Deputado
Jurandil Juarez, Presidente desta Comissão. Sr. Relator, Deputado Gilmar Machado,
Deputados José Rocha e Eurico Miranda, companheiros presidentes de
confederações brasileiras olímpicas, membros do Comitê Olímpico Brasileiro,
imprensa, darei início a alguns comentários, depois nossos companheiros, de per si,
farão os comentários que melhor entenderem, comentários esses que, aliás, têm
sido traçados neste auditório ao longo desses anos.
Gostaria de agradecer à Comissão, sensibilizado, a visita a este Comitê. É a
primeira vez na história do Comitê Olímpico Brasileiro que uma Comissão da
Câmara dos Deputados vem à sua sede. Portanto, estamos muito honrados e
agradecidos por esta gentileza.
Tocarei em vários pontos, mas o primeiro que gostaria de registrar é que
fizemos um diagnóstico do esporte brasileiro, apresentado em maio de 2001 —
portanto, vai completar 1 ano em pouco mais de trinta dias. Esse documento foi
entregue ao Ministro dos Esportes, ao Secretário Nacional de Esporte e distribuído à
imprensa e a todos os segmentos da sociedade.
Segundo esse diagnóstico, 22% das sedes das confederações são próprias;
19% das confederações não têm sede ou têm a sede em casa ou mesmo no carro
— outro dia, um companheiro disse que agora tem sede nova, porque trocou de
carro; 33% têm sede alugada; e 26% são sedes emprestadas. Dependendo do local
onde a confederação está sediada, local esse cedido por autoridade pública, quando
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termina o Governo a confederação tem de sair e ir para outro lugar. Essa é a
realidade do esporte olímpico brasileiro.
Srs. Deputados, a Confederação Brasileira de Futebol é filiada ao Comitê
Olímpico Brasileiro, mas não há para ela um diagnóstico próprio. A filiação diz
respeito meramente à participação nos Jogos Pan-Americanos ou nos Olímpicos.
Portanto, apenas 22% têm sede própria.
Estou mencionando esse ponto para poder entrar em um outro, que é uma
das questões mais importantes. O tratamento da legislação vem unificando
cobranças, exigências, leis e manifestações de todo o universo do esporte brasileiro.
Defendemos arduamente e por unanimidade a separação da legislação do futebol
das demais modalidades esportivas. Essa separação, que consta nos documentos
que enviamos, pode se dar por leis independentes ou por lei própria. O nome não é
importante. Apenas para ajustá-la ao que estabelece a Constituição Federal, deveria
ser uma lei que institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências. Na
parte referente à ordem geral, poderia estar dividida em um capítulo para o futebol e
outro para os demais esportes.
Não conseguimos sucesso nas discussões da Lei Zico nem da Lei Pelé. É
bom lembrar que, antes dessas leis, vivíamos sob o regime de lei oriunda dos
Governos militares. Portanto, só foi possível discutir a legislação a partir da Lei Zico.
E desde esse momento defendíamos isso ardorosamente, assim como o Deputado
Estadual Bernard Razjman, então Secretário Nacional de Esporte, embora à época
de sua passagem no Ministério ela já houvera sido aprovada.
É muito clara a importância dada pela mídia, justa e merecida, ao futebol: os
recursos de patrocinadores são os maiores do mundo, como não há em nenhum
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outro país. Não quero entrar no mérito da discussão dos contratos. Por outro lado,
se entrarmos, constataremos que são minguados os recursos de que dispõem as
confederações.
Hoje, inclusive, V.Exa. ouviu o Presidente da Confederação Brasileira de
Levantamento de Peso, cuja sede do centro de treinamento fica na Universidade de
Viçosa, em Minas Gerais, dizer que não pode realizar nenhuma competição de
levantamento de peso no Brasil porque não possui equipamentos básicos, tais como
cronômetro, placar, pesos. V.Exa. nos ouviu discutir o problema dos Jogos
Sul-Americanos da Colômbia. Será que podemos comparar a situação dessa
Confederação com a CBF, ou o esporte levantamento de peso — com todo o
respeito ao David — com o futebol brasileiro? Não podemos comparar. Estamos
incorrendo num grave equívoco e com o risco de a determinação não ser cumprida.
O pior é quando de antemão sabemos que a grande maioria aqui presente
não tem condições de cumprir qualquer lei que obrigue o futebol a executar
determinadas obrigações.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) - Com licença, Sr.
Presidente Carlos Arthur Nuzman. Anuncio a chegada do Deputado Joel de
Hollanda, membro da Comissão, que nos honra com sua presença neste evento.
O SR. CARLOS ARTHUR NUZMAN - No documento que encaminhamos ao
Relator, Deputado Gilmar Machado, no dia 3 de dezembro, fizemos alguns
comentários e tudo ficou muito claro. Poderíamos demonstrar isso exaustivamente,
mas são muito claras as dificuldades existentes.
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Aproveito para comentar que há confusão na interpretação — não quanto à
proposta da lei, mas em termos gerias. A Medida Provisória nº 2.141-3, de 21 de
junho de 2001, estabelece em seu art. 46-A:
“Art. 46-A. As entidades de administração do
desporto e as de prática desportiva envolvidas em
quaisquer competições de atletas profissionais,
independentemente da forma jurídica adotada, com ou
sem finalidade lucrativa, são obrigadas a elaborar e
publicar as demonstrações contábeis e balanços
patrimoniais, de cada exercício, devidamente auditados
por auditoria independente.”
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) - Eu havia antecipado que,
por causa de atrasos nos vôos, talvez tivéssemos que interromper a reunião muitas
vezes para registrar a chegada dos componentes da Comissão. Registro a presença
do Deputado Agnelo Queiroz. Seja bem-vindo, Deputado.
Assinalo também a presença do Secretário Nacional de Esporte, Sr. Lars
Grael — acho que ele é mais conhecido que qualquer um de nós —, a quem convido
para fazer parte da Mesa. Sentimo-nos muito honrados com sua presença.
O SR. CARLOS ARTHUR NUZMAN - Saudamos os Deputados e o
Secretário — aliás, campeão pré-olímpico de vela.
Dizia eu então que a Medida Provisória nº 2.141-3, de junho de 2001,
estabelece que deve haver auditoria independente nas atividades que envolvam
atletas profissionais. Eu toquei nesse assunto porque o Deputado Gilmar Machado
falou a respeito. Vou fazer um breve comentário.
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No nosso modo de entender, tal medida se refere única e exclusivamente às
entidades e associações de futebol, único esporte profissional do País reconhecido
por lei própria. Apesar disso, a maioria das confederações contrataram auditoria
independente. O Comitê Olímpico agiu da mesma forma: contratou auditoria externa
independente, mesmo entendendo que não devesse ser assim.
Como não queríamos deixar qualquer imagem de que não desejávamos isso
por medo de auditoria de contas, preferimos pecar pelo excesso, contratando
auditorias. Porém, muitas delas não se realizaram, por falta de dinheiro. Ora, se 19%
das confederações não têm sede, não terão dinheiro para contratar empresa de
auditoria. Se não têm 300 reais para pagar o aluguel de uma sala, não terão para
pagar uma auditoria. Essa é a primeira demonstração.
Aproveito para esclarecer que, em 1972, há trinta anos, portanto, o Comitê
Olímpico Internacional, no Congresso de Baden-Baden, na Alemanha, decidiu que a
partir daquele momento só existiria a classificação de atleta e nenhuma outra mais.
Se é profissional ou não, se ganha dinheiro ou não, é problema pessoal do atleta.
Ele tem seu contrato, ele se defende com a legislação própria e cada federação
internacional estabelece sua norma de proceder quanto à participação nos Jogos
Olímpicos. E ainda há algo muito mais importante: a elegibilidade. Trata-se de
autorização para o atleta ter condições de participar de jogos olímpicos e
campeonatos mundiais.
Então, se o Comitê Olímpico Internacional entendeu que todo atleta participa
dos Jogos Olímpicos, não há motivos para que isso seja feito.
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Em 1981, o Presidente Samaranch, na sua primeira aparição pública, depois
de eleito, na Itália, fez menção ao atleta da mesma forma. Ele disse que deveria se
referir a atletas, profissionais ou não.
Um outro dado importante é que as federações internacionais estabelecem as
condições. O basquetebol, por exemplo, tem a NBA, que é profissional, mas não é
membro da Federação Internacional de Basquetebol — FIBA. Para ela poder
participar dos Jogos Olímpicos houve um acordo entre o Comitê Olímpico
Internacional, a Federação Internacional de Basquete e a NBA. O mesmo aconteceu
com o hóquei no gelo, hoje um grande sucesso. A Associação de Hóquei no Gelo
não quer mais, quer que suspendam, que voltem a se referir apenas aos atletas fora
da sua associação. O tênis tem regra diferente. Tem autorização, mas por período
de tempo anterior aos jogos e durante a realização desses o atleta não pode
participar de torneios que envolvam prêmios em dinheiro.
Vejam, portanto, que cada federação internacional tem uma regra diferente. O
voleibol, por exemplo, não reconhece nenhuma atividade profissional, de nenhum
campeonato, mesmo no Campeonato Brasileiro, a Superliga — e ressalto que o
feminino é o maior campeonato do mundo, o masculino é o que tem melhores
condições, além do italiano, que alguns gostam de decantar. A Federação
Internacional entende que nenhum deles seja profissional.
E se o atleta não receber pagamento? Isso é questão interna. O ciclismo,
esporte pouco popular em nosso País, mas que talvez tenha uma das duas ou três
delegações internacionais mais bem organizadas no mundo, enfrentou o problema
da falta de pagamento na famosa Volta da França, no Giro da Itália, na Bélgica, na
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Alemanha. São competições que ganham as primeiras páginas de jornais, os atletas
são ídolos de igual maneira.
Como se resolveu o problema? Muitas vezes as empresas pagam, não os
clubes. Criou-se, no regulamento, item estabelecendo que uma equipe, para
participar de competições de ciclismo, tem de apresentar garantia bancária ou outra
de pagamento dos salários. E mais, constituiu-se um modelo de como deve ser feito.
Com isso, hoje, a Volta da França envolve 2 bilhões de dólares. O ciclismo europeu
movimenta, tendo em vista o patrocínio, alguns bilhões de dólares anuais. Isso sem
falar nas competições em outros continentes. Depois darei a V.Exas. cópia desse
documento.
Só estou querendo mostrar que cada entidade internacional é livre; autorizada
pelo Comitê Olímpico Internacional a fazer o que quiser. Ela é dona da sua vida, da
sua estrutura e das suas decisões. Por isso, as federações internacionais
estabelecem que as normas a serem seguidas na área internacional têm de ser
respeitadas em todos os países.
Quanto ao nome Estatuto do Esporte, já mencionei que entendemos que deva
ser uma lei de normas gerais. Sobre a Lei Piva o Deputado Gilmar Machado já falou.
Eu gostaria de fazer um comentário que não estava previsto.
Preocupa-nos também, Deputado, essa questão do desporto escolar e
universitário. V.Exa. foi muito claro, quando Relator da Lei Piva, em relação aos
objetivos da inclusão dessa parte. Quanto a isso, houve comunhão de nossa parte.
Estávamos perfeitamente de acordo — e assim continuamos — em que a aplicação
desses recursos não seja feita diretamente em nenhuma entidade especializada, e
sim em entidades com objetivos claros de desenvolvimento, seja na área
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universitária, seja na área escolar, seja em cursos de formação, seja na melhoria
desses profissionais e também daqueles que praticam esportes nas universidades.
Com relação a isso, posso até lhe dizer que apresentaremos, hoje ou amanhã
— ela já está pronta —, uma consulta ao Tribunal de Contas da União. Não
mexemos em nenhum tostão. O dinheiro recebido está guardado e vai ser aplicado.
Já fomos ao TCU levantar essa questão, e eles preferem que haja uma consulta,
porque dizem que não ficou claro. Para nós ficou claro! Se o legislador quisesse, ele
teria especificado, mas não especificou. Acho que essa é a primeira demonstração
clara do legislador, ao aprovar a lei.
Por isso, quero dizer-lhe que estamos dentro da mesma linha. Espero que
saiamos vencedores, nós todos, principalmente os esportes escolares e
universitários. Também considero que estão envolvidos na questão uma série de
aspectos e não há por que estarem sendo premiados.
Sobre o recuo, direi o que realmente solicitamos e pleiteamos. Hoje, a Lei
Piva é, sem dúvida — já disse isto várias vezes, V.Exa. já me ouviu —, a grande
alforria do esporte brasileiro. Comentávamos aqui pela manhã, ainda durante a
nossa sessão, matéria publicada no jornal O Globo sobre os cortes drásticos no
Orçamento da União que afetam diretamente o esporte, o Ministério do Esporte e
Turismo e a Secretaria Nacional de Esporte, em termos de recursos.
Salvo melhor juízo, até hoje, final de março — o Sr. Secretário está aqui, pode
confirmá-lo — as confederações ainda não receberam recurso algum.
Assim, é a Lei Piva que está possibilitando todo o treinamento. A Daniele
Hypólito viajou com recursos da Lei Piva e trouxe uma medalha. Podem-se também
mencionar os Jogos Olímpicos de Inverno e os treinamentos para as competições do
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judô, que está ganhando medalha na Europa, além de outros esportes que se estão
beneficiando com a Lei Piva. Hoje, essa lei realmente é o depositário que temos,
pelo menos para não haver interrupção e podermos fazer uma larga e vasta
caminhada de preparação.
Estou procurando sintetizar, peço a V.Exas. que me perdoem a delonga, pois
os assuntos são muitos.
Outro tema que eu gostaria de abordar — isto também está aqui escrito — é a
duração dos mandatos dos dirigentes. Não se pode considerar que uma mudança
na lei sobre mandatos ou pessoas vai ser melhor ou pior para o esporte. É óbvio
que, se alguma entidade tiver um mau presidente, será um desastre; se tiver um
bom presidente, será um sucesso. Não será limitando o mandato que vamos ter
sucesso, principalmente diante da pobreza em que estamos.
Não adianta dizer que o presidente necessita ter competência para arrumar
dinheiro com patrocinadores. Isso não existe! Esse mágico não existe, até porque
não temos uma lei de incentivo fiscal ao esporte, pela qual lutamos. Pelo menos
apresentei o tema pela primeira vez na Câmara dos Deputados em 1983, num
seminário que foi feito sobre esporte, que consta dos Anais da Casa. Tenho,
inclusive, um livro que contém essa ponderação.
Há esportes — e digo isto com respeito a todos os senhores — que não vão
ser televisionados, por mais que se insista. Exemplifico citando um atleta cinco
vezes olímpico, hoje Presidente da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo, Durval
Ferreira Guimarães. Nem nos Jogos Olímpicos é televisionado o tiro! Ele não vai
poder mostrar nada a ninguém. Querer que a confederação dele tenha um
patrocinador, só com boa vontade, só se a CBC quiser ajudá-lo a pagar um
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funcionário. Contudo, para os atletas treinarem e participarem, isso não vai ser
possível. Terá que haver os recursos de que estamos tratando hoje.
Com relação a isso, quero dizer que todos gostam de elogiar a Olimpíada de
Barcelona: “Barcelona foi o máximo! Barcelona é um exemplo! Deve-se seguir o
exemplo de Barcelona!” Assino em baixo de tudo isso. Contudo, quero dizer que lá
não há limitação de mandato para Prefeito. O Prefeito Pasqual Maragall, como é
conhecido por todos, ficou no cargo durante dezesseis anos. Ele fez um projeto de
doze anos, realizou os Jogos Olímpicos e reconstruiu a cidade, que é hoje uma das
três de maior índice de turismo da Europa. Portanto, da mesma forma, temos que
fazer uma distinção entre o cargo público e o cargo privado. Se o Executivo tem uma
limitação, o Legislativo não a tem.
Para que um novo dirigente adquira experiência e possa conviver na área
internacional, terá que conquistar a confiança e o relacionamento. Ele só consegue
isso em oito ou doze anos. Fui presidente de confederação. Vou falar em causa
própria, mas uma coisa é muito clara: se eu não tivesse tido o tempo que tive na
presidência, não conseguiria muitas coisas, quando presidi a Confederação
Brasileira de Voleibol.
Aliás, o voleibol é um esporte que vive em paz há pelo menos trinta anos. O
atual Presidente, Dr. Ary Graça, que foi meu companheiro na Diretoria, pois ele era
Vice-Presidente, foi escolhido em todas as eleições por aclamação. Não vou dizer
que não há insatisfeitos. Deve haver um ou dois, mas isso é normal. O nosso
querido Nelson Rodrigues dizia que a unanimidade é burra. Concordo com ele. Não
temos a unanimidade, mas temos a grande maioria. O nosso entendimento é de que
não deve ser limitado o tempo de mandato.
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Aliás, eu gostaria de dizer que, no regime dos Governos militares, a lei era
limitada: três mais três. Por sinal, nunca entendi esse número três, porque o período
olímpico é de quatro anos. Tiraram o três de alguma cartola e foi um desastre! Estão
aí os resultados. Se quiserem verificar os resultados, vão constatar que realmente
um problema muito grande foi levado a muitas modalidades esportivas, que eram
muito fortes e caíram. Apesar de ele estar ausente — e peço desculpas —, não
posso deixar de dizer do meu companheiro Grego, que preside a confederação de
basquete. Ele é ex-jogador também. Ele pegou turbulência nesse período, quando
houve esse problema da legislação. Há outros. Por isso defendemos que não deve
haver de maneira alguma a limitação.
Defendemos uma outra situação, que, aliás, é curiosa, mas não vou deixar de
mencioná-la. Alguns dizem que o Governo não pode intervir numa entidade e outros,
que pode intervir. O Comitê Olímpico defende, em relação às filiadas, que — estão
todas aqui, mas vou dizê-lo, porque nada me constrange —, se tivesse que intervir
numa delas para regularizar a ordem administrativa, e não desportiva, ele poderia,
da mesma forma que as confederações nas suas federações. Estou dizendo isso na
frente de todos. Isso existe em qualquer parte do mundo, em qualquer lugar.
Vou dar um exemplo. O tiro com arco teve um problema eleitoral. Dois
presidentes foram eleitos. Isso acabou na Justiça. O magistrado decretou a
intervenção, mas pela via judicial. Essa intervenção levou pelo menos seis anos. O
grande prejudicado foi o esporte, porque, como a solução dependia de uma
sentença, que levou seis anos para ser prolatada, o esporte paralisou, estagnou.
O que estamos propondo é um período pequeno, de 90 ou de 120 dias, algo
assim, apenas para que se regularize a situação e que se siga adiante. Tivemos
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duas confederações com problemas aqui dentro. Resolvemos os problemas sem a
intervenção, mas isso nos custou um desgaste muito grande. Uma delas, felizmente,
está indo muito bem, a Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno, aprovada em
definitivo como filiada.
Tenho mais um assunto a tratar, mas não vou demorar, Sr. Presidente. Em
termos, a Lei Pelé permitiu que cada esporte tivesse o número de entidades
nacionais de administração que quisesse. Por exemplo, em São Paulo há doze
federações de caratê. O Secretário me ligou desesperado com os problemas
políticos advindos dessa situação. Há doze Deputados brigando por verba. A regra
internacional diz que é apenas uma, o Comitê segue apenas uma. A Secretaria
Nacional de Esporte tem programas com uma fila enorme de várias federações.
Vamos supor que um diretor não gostou de uma modalidade...
(Não identificado) – Há oito federações de caratê registradas.
O SR. CARLOS ARTHUR NUZMAN – Oito nacionais. Isso para não falar das
demais. Nossa proposta é que se associem como quiserem, mas oficialmente só
valerá uma. Isso valerá para a Secretaria, o Ministério, o Comitê e a Confederação.
Ninguém vai tirar, mas não dê a ele os direitos iguais aos de todos. Aliás, até os
colegas de vocês são levados a equívoco, porque não conhecem em profundidade o
assunto. Gostaria de deixar isso também enfatizado.
Procuramos nesse trabalho mostrar que muitas coisas são adstritas ao futebol
e, como tal, devem seguir seu rumo.
Outro tema importante. O antigo CND estabelecia como uma entidade poderia
ser filiada. Isso acabou, hoje é livre. No meu modo de entender, eu sozinho posso
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criar uma entidade nacional, dirigir o esporte que quiser, e ela terá de ser aceita,
porque a lei estabelece isso.
A Justiça Esportiva é tema de grandes discussões. Vou trazer um fato novo.
Aliás, não tão novo, porque já levei ao conhecimento da imprensa. Tem até um de
seus representantes me olhando meio de lado. Eu já falei, mas ninguém escreveu
sobre esse fato novo. Como a reunião está sendo gravada, tenho certeza de que os
Deputados levarão em consideração o que vou dizer. Acho que deveria ser criado o
Tribunal Arbitral do Esporte do Brasil. Isso existe no mundo. A Olimpíada tem
decidido por isso. É nomeada, então, uma corte pequena que decidirá o destino
desses atletas que são pegos dopados ou têm algum problema. Eles podem
recorrer. São casos como os que ocorreram recentemente, atleta desclassificado e
outro que ganhou a medalha. Eles podem recorrer ao Tribunal Arbitral na
competição. O Tribunal Arbitral hoje no mundo conta com 150 membros e é para
onde praticamente todas as federações internacionais estão levando seus casos. E
mais, há discussões de clube com patrocinador, clube com televisão, federação do
país com patrocinador ou televisão; atleta contra federação ou clube, televisão
contra uma entidade nacional, federação internacional. Já vi federação internacional
perder para uma televisão em determinada questão. Essas questões todas são
discutidas no âmbito da Justiça Arbitral.
Estou trazendo esse assunto porque o Comitê tem o desejo de criar o seu
Tribunal Arbitral no esporte. Nada impede que o Brasil tenha o seu, em termos das
entidades olímpicas. Em nada do que se está propondo aqui há o egoísmo de que
seja só nosso ou da lei. Estamos discutindo o esporte, procurando analisar e crescer
numa evolução maior.
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Ficarei nos pontos que toquei, e os companheiros poderão completar os que
quiserem. Há uma última coisa que eu gostaria de dizer: a melhor lei é a que tem
poucos artigos, e que se trate em regulamento da maioria. Regulamento pode ser
mudado com mais velocidade. A dinâmica do esporte é muito grande. Na época dos
governos militares, a lei de 1975 foi regulamentada dois anos depois. Quando isso
aconteceu, já estava atrasada e o regulamento saiu atrasado. Ficamos, então, até a
Lei Zico. É importante deixarmos para os regulamentos algumas discussões que
possam ser detalhadas de melhor forma. Se depois eu puder falar, gostaria. De
qualquer maneira, Deputado, não quero me estender muito.
Agradeço a todos a atenção.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Presidente
Carlos Nuzman. Esta Presidência não tem o objetivo de cercear a fala de V.Sa.,
apenas segue a prática de conceder 20 minutos a cada expositor. Mesmo porque
não podemos perder essa rica oportunidade de ouvir todos numa só reunião.
Pessoalmente, eu não gostaria de perdê-la. É claro que poderíamos ter convidado o
Presidente Nuzman para participar de uma audiência pública, que seria riquíssima.
Mas isso não nos impede, se for o caso, de realizá-la. O grande objetivo hoje é ouvir
o Presidente, mas não perder a oportunidade de ouvir todos os presidentes de
confederações presentes.
Registro a chegada do Deputado Alex Canziani. Hoje somos sete Deputados
dos dez destacados, o que significa que temos um quorum de 70%, o que é sempre
uma referência elogiosa, quando se trata de ter uma Comissão que funciona com
quorum específico.
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Não pretendia que fosse assim, mas, como a exposição foi rica, abrirei
oportunidade aos Deputados que quiserem comentar especificamente o assunto,
porque algumas questões contundentes foram levantadas. É claro que também já
tínhamos visto isso como proposta. Depois abriremos a palavra a todos.
Nos termos regimentais, concederei a palavra por três minutos, com a
tolerância de sempre, aos Deputados que quiserem.
Com a palavra o Deputado Eurico Miranda.
O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Não vou fazer nenhuma indagação,
apenas uma sugestão. Tenho o maior interesse em que se tire proveito desta
reunião. Já participei inúmeras vezes de reuniões como esta, e o Nuzman já falou
quinhentas vezes sobre o assunto. Acho que temos de ser objetivos e práticos.
Conheço a maioria dos problemas. O Relator e os membros da Comissão têm de ser
municiados, mas de forma objetiva.
Não devemos fazer algo muito amplo, porque acabaremos não conseguindo
nada, Nuzman. Então, sugiro que os pontos nevrálgicos sejam realmente
questionados, mas não dessa forma ampla. V.Sa. fez uma exposição praticamente
sobre todos os problemas. Vamos tentar buscar os problemas maiores. Por
exemplo, a ponderação que já está sendo consensual de separar o futebol
profissional dos demais esportes. (Palmas.) Isso precisa ser enfatizado e
demonstrado aos Deputados, porque é uma necessidade. Mas como ficam os
atletas das demais modalidades esportivas? É algo que também precisa ser
discutido. Os Deputados se questionam sobre isso. Podemos fazer uma legislação
para o futebol e outra para as demais modalidades. E os atletas? Sabemos que eles
não são profissionais, mas são profissionais. De que forma se protege o atleta e de
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que forma se protege a entidade? As diversas confederações podem sugerir o que
deve ser feito para os atletas das diversas modalidades . Este é o ponto nevrálgico:
a independência.
Algo que está sendo discutido e que precisa ser questionado também, ao meu
ver, é o problema da intervenção do Ministério Público na entidade privada. O que
as confederações pensam disso? Deve-se discutir o assunto, de forma objetiva,
mostrando os prós e contras, para que os Deputados possam formar juízo. Quem
comparece a audiências na Câmara verifica que sempre aparece quem faz os piores
comentários sobre as diversas confederações e o sistema federativo. Temos
procurado defendê-los, mas, evidentemente, aqueles que foram atingidos, que são
oposição nas federações, aqueles que tiveram problemas trazem aos Deputados
relatos de coisas terríveis. E isto deixam os Deputados com o pé atrás em relação a
esse sistema, à participação de todos vocês.
Hoje, mais do que qualquer coisa, nós, Deputados, temos de conhecer a
realidade em que vivem as confederações. Os Deputados não precisam de
discursos longos, precisam saber da real situação, do que efetivamente acontece. E
esta é uma grande oportunidade.
Fiquei muito satisfeito quando o Presidente disse que haveria esta audiência,
porque é uma forma de o Deputado estar em contato direto com representantes de
todas as modalidades esportivas e conhecer os problemas que cada setor tem na
prática. Uma coisa é escrevermos aqui; outra coisa é pensarmos e a outra ainda é
saber como funciona. Disse o Presidente Nuzman, com muita propriedade — este
um aspecto importante — que a maioria das regras aqui estabelecidas não pode ser
aplicada. Não há condição de aplicar a lei. Ela é inaplicável, por absoluta falta de
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condições. É impossível! Por outro lado, não gostei da comparação que ele fez no
tocante ao ciclismo, quando se referiu à Volta da França. Se estabelecermos que, no
esporte brasileiro, o atleta, para participar de competição, deve apresentar garantia
bancária, não haverá competição. Na Europa conseguiu-se quem garantisse o
salário dos atletas, mas nós, que já temos dificuldade em conseguir algum
patrocínio, não vamos ter nenhum, se fizermos essa exigência.
Portanto, determinados fatos que acontecem no esporte internacional não se
aplicam ao esporte brasileiro e a determinadas modalidades de esporte. Sem dúvida
alguma, é o que eu gostaria que todos vocês enfatizassem. Se não separarmos o
futebol das outras modalidades, vai continuar esse imbróglio. Entra lei, sai lei, entra
medida provisória, entra modificação, e continuamos embrulhados. Uma coisa é
dizer que internacionalmente o atleta não é profissional, outra é ter o atleta
profissional e ele poder reclamar, por exemplo, na Justiça do Trabalho, que era
funcionário seu. A legislação internacional não o reconhece como profissional,
embora a Justiça do Trabalho assim o reconheça. Há que se criar um mecanismo
em que o atleta seja vinculado a determinada empresa.
Já se tenta aplicar nova norma em relação ao direito de imagem. Não me
refiro à mudança da lei, mas a inserir nela dispositivo que permita aos atletas
funcionar nas entidades, nas empresas da maneira como funcionamos em nosso
sistema federativo — eu, particularmente, acho que esse sistema vai muito bem para
um país de dimensões continentais e não deve ser mudado.
Sr. Presidente, tenho uma pergunta a fazer, mas vou guardá-la para depois.
Há outros Deputados presentes — somos sete —, em especial o Relator. Por falar
em S.Exa., o Presidente Nuzman habilmente puxou a questão para um lado que
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muito agrada ao Deputado Gilmar Machado, qual seja o problema do desporto
universitário. Se S.Exa. levar a discussão para o lado do desporto escolar e
universitário, vai ganhar o Relator. Mas outras temas têm de ser discutidos.
Obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Obrigado, Deputado
Eurico Miranda.
Pela ordem de inscrição, concedo a palavra ao Deputado José Rocha, autor
de um dos substitutivos apensados ao projeto do Deputado Silvio Torres.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA – Sr. Presidente, demais Deputados,
Presidente Nuzman, demais participantes desta audiência, fico muito feliz em estar
aqui hoje, até porque fui eu quem sugeriu esta reunião aqui no Rio de Janeiro, onde
todos pudessem participar e trazer suas sugestões.
Na CPI da CBF/Nike, fui Sub-Relator da área de legislação. Também
apresentei proposta, apensada ao projeto do Deputado Silvio Torres, para que essa
questão possa ser debatida como hoje fazemos.
Concordo com o Deputado Eurico Miranda e com o Presidente Nuzman —
aliás, isso é consenso na Comissão — que se deve apartar a legislação sobre do
futebol da legislação relativa ao profissional amador. (Palmas.) O próprio Relator já
tem demonstrado essa intenção. Acho que será um grande avanço desta Comissão
Especial.
No tocante ao tempo do mandato, acho que ele não pode ser indefinido. A
imprensa cobra muito a questão da não reeleição, mas mandato com prazo
indefinido não fica bem. Temos de chegar a um consenso. Há que se buscar um
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ponto de equilíbrio, e nós o conseguiremos ouvindo as diversas entidades. As
sugestões que fizerem poderão ser absorvidas pela Comissão.
Quanto às entidades que, segundo disse o Presidente Nuzman, não dispõem
sequer de sala para instalar sua sede, acho que deveria haver critérios para que
cada modalidade esportiva pudesse ser reconhecida. Esses critérios poderiam até
ser subsidiados por nós, poderiam ser colocados na legislação. Um dos princípios
poderia ser a existência de uma única associação nacional, não diversas
associações, que disponha de sede, de justiça própria, de arbitragem própria. Enfim,
que seja realmente caracterizada de um esqueleto da Justiça, da arbitragem própria,
para que ela seja caracterizada como uma entidade nacional. Então, precisaríamos
dispor desses critérios, preencher esses requisitos para que ela possa filiar-se não
só ao Comitê, mas também à Secretaria Nacional de Esporte do Ministério do
Esporte. O Comitê encaminharia para a Secretaria Nacional os critérios mais
adequados para a criação dessa entidade e só depois ela seria inscrita no Ministério
do Desporto junto à Secretaria Nacional.
Esses são pontos importantes que poderíamos debater, porque aqui se
encontram pessoas credenciadas a nos fornecer subsídios.
Em relação ao Ministério do Trabalho, o Ministro Almir Pazzianoto já esteve
na outra Comissão e sugeriu que esta legislação tem de ser modificada para que se
crie uma legislação própria da área esportiva. Isso está sendo utilizado para se
obter...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) - Obrigado, Deputado José
Rocha.
A palavra continua aberta aos Deputados.
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Com a palavra o Deputado Agnelo Queiroz.
O SR. DEPUTADO AGNELO QUEIROZ – Bom dia a todos, colegas
Deputados, Presidente Carlos Arthur Nuzman, Lars Grael, Secretário Nacional de
Esporte, e todos os companheiros das confederações, federações e do Comitê
Olímpico. É um prazer muito grande também participar desta reunião da nossa
Subcomissão, ouvindo pessoas interessadas e, sobretudo, quem tem grande
experiência, conhece as dificuldades e sabe onde estão os obstáculos e está no dia-
a-dia praticando seu esporte, promovendo e desenvolvendo o esporte. Acho isso
fundamental para o bom desempenho desta Comissão.
Considero que nosso papel aqui é ouvir. Mas não poderia deixar, nesta
oportunidade, de tratar rapidamente de dois pontos. O objetivo fundamental é ouvir
as propostas já relacionadas e a opinião do Presidente Nuzman, que são, sem
dúvida, extremamente positivas nesse sentido e enriquecem nosso debate.
Considero que a elaboração desse projeto pode dar um alento muito grande
em termos de transparência e participação, porque o esporte brasileiro carece dessa
normatização. Acredito em uma elaboração conjunta, não a feita apenas entre as
quatro paredes de um gabinete, como a Comissão tem feito, mas procurando ouvir
todas as pessoas que têm experiência na área, para fazer uma lei com consistência,
que não se perca e se esvaia com facilidade, mas, sim, com responsabilidade,
tratando do esporte na maior grandeza, porque esse é um bem de toda a sociedade.
Um povo não pode ser considerado desenvolvido se não tiver desenvolvimento físico
e intelectual.
Não se pode chamar um país de desenvolvido se ele não sabe aproveitar seu
potencial. Cito como exemplo o Brasil, um País jovem, novo, com potencial
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extraordinário, dimensões conhecidas e uma grande população. O potencial social
de um país representa o desenvolvimento físico e intelectual do seu povo. O
potencial econômico não pode ser separado do desenvolvimento econômico,
também uma área fundamental.
Portanto, quero falar de duas coisas, bem rapidamente, porque queremos
ouvir a questão do estatuto. Uma é com relação ao financiamento. Esse corte nos
recursos, na verdade, é um contingenciamento muito intenso para o esporte. Então,
nós, da Comissão de Educação, Esporte e Cultura da Câmara, juntamente com o
Secretário Lars Grael e as pessoas comprometidas com o esporte, não podemos
permitir que haja um corte tão acentuado nos recursos do Orçamento vinculado ao
esporte, dando uma conotação muito clara da falta de prioridade numa área tão
importante.
No ano passado, só conseguimos executar 22% do orçamento destinado ao
esporte, o que é muito pouco. Neste ano — já estamos no fim do mês de março —
só executamos 1% do Orçamento e já vem um corte de 75%. Isso merece,
obviamente, todo nosso empenho e solidariedade para com aquelas pessoas que
estão no Governo e também lutam para que o esporte tenha uma prioridade maior.
O nosso Secretário Lars Grael, brigando sozinho, não irá resolver a situação. Mas,
todos nós, numa grande batalha, poderemos mostrar que o esporte tem grande
importância para o nosso País. Há, inclusive, projetos que têm prioridade no
Governo, como potência esportiva, que não têm uma execução sofrível.
Quero falar a respeito de outro aspecto, com relação ao financiamento. Acho
que o Sr. Nuzman já se referiu à lei que será uma alforria para o nosso esporte.
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Quero aproveitar a presença dos representantes das confederações para esclarecer
e fazer uma sugestão.
Na verdade, essa lei deve-se chamar Lei de Incentivo ao Esporte ou então Lei
Piva Agnelo, porque o Relator Gilmar Machado fez um substitutivo aprovando os
dois projetos, o meu, que foi o primeiro, e o do Senador Piva. Se for chamado de Lei
Piva Agnelo, será justa homenagem a nós, autores do projeto. (Palmas).
É evidente que o mais importante é a aprovação do projeto. Mesmo com todo
esse debate, sempre encarei como sendo, de fato, um grande passo no
financiamento do esporte no Brasil. Isso, com certeza, está se comprovando
rapidamente desde agosto, da sanção até hoje. A disponibilidade de recursos, hoje,
corresponde a mais do que recebemos no ano olímpico. Isso mostra, de forma ágil,
o grande potencial, logo após o prêmio, do financiamento. Esse realmente é o
primeiro passo, um gigantesco passo. Mas não devemos nos limitar a isso.
A outra questão é com relação à bolsa-atleta, projeto também de minha
autoria e que todos vocês conhecem. Inclusive, agradeço às confederações todas as
manifestações de apoio ao projeto. Já tivemos debates no Ministério, que agora
acenou com a possibilidade de se editar uma medida provisória. Vim no avião com o
Lars, e ele me mostrou um estudo de projeto técnico de implantação, seja via
ministério, seja via aprovação do nosso projeto, já associando com a receita do
bingo. Ou seja, também há um financiamento concreto para a bolsa-atleta, o que
será, com certeza, um grande passo para o financiamento. Essa proposta dele,
inclusive, avança com relação ao meu projeto, que trata, além da parte dos jogos
olímpicos e paraolímpicos, do esporte não competitivo e de modalidades que não
sejam olímpicas, apenas locais.
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Acredito que essa junção pode resultar na aprovação desse belíssimo projeto,
que será um alento muito grande para os atletas: o financiamento direto aos atletas.
E destaco, por fim, que também concordo com a separação da legislação do
esporte, do futebol com o esporte em geral, pelas particularidades de cada um.
Entendo que isso está sendo mais consolidado na Comissão. Devemos fazer um
esforço conjunto para realizar a Olimpíada aqui no Brasil, inclusive estamos
acompanhando os esforços do Comitê Olímpico nesse sentido. Esse esforço é
estratégico e deve ser uma das nossas preocupações centrais a valorização do
nosso esporte e do nosso País. Pelo menos foi isso que aconteceu em todos os
países que sediaram as Olimpíadas. Houve grande investimento humano,
competição, injeção de recursos e valorização do esporte após as Olimpíadas.
Portanto, considero esse um marco importante. Esta Comissão também será
uma parceira atenta, juntamente com o COB e com todas as confederações, na luta
para criarmos condições necessárias para a realização de uma Olimpíada em nosso
País. Seguramente, este é um passo muito importante.
Ouvi-los é muito importante para, com certeza, extrairmos o máximo de
contribuição para construirmos um estatuto que reflita a real necessidade do esporte
no Brasil hoje.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Obrigado, Deputado
Agnelo Queiroz.
Lembro que há pouco falávamos da necessidade de se fazer uma estátua em
homenagem ao autor da lei. Agora estamos sabendo que o desembolso será duplo,
teremos duas estátuas para homenagear os autores.
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Concedo a palavra ao Deputado Joel de Hollanda.
O SR. DEPUTADO JOEL DE HOLLANDA – Primeiro cumprimento todos os
companheiros da Mesa.
Sr. Presidente, quero dizer, como ex-Secretário de Educação de
Pernambuco, que acompanhei de perto todos os desafios enfrentados por nossos
jovens que praticam esporte. Portanto, agradeceria muito se recebêssemos
sugestões sobre como fortalecer o desporto a partir da escola. Não se constrói nada
a partir do teto. É da base que temos de trabalhar o desporto brasileiro.
Quando me lembro que neste País existem milhares de necessitados e
centenas de cidades que não têm uma quadra ou um local para nossos jovens
praticar esportes, fico pensando que temos de nos preocupar mais com essa
questão. Ajudei atletas que treinavam em campos de futebol ou em áreas bastante
precárias porque nas suas cidades não existia sequer uma quadra de esporte.
Nesse sentido, gostaria de dizer que não somente em relação ao esporte
universitário, mas também ao esporte escolar deveríamos buscar um trabalho sério
de base, para termos desportistas para nosso País.
No mais, concedo o restante do meu tempo aos representantes de
confederações aqui presentes, já que este é um momento ímpar para a Câmara dos
Deputados, que recebe tantos especialistas e pessoas com ricas experiências para
nos ajudar a aperfeiçoar esse projeto.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Obrigado, Deputado Joel
de Hollanda.
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Vamos passar para as plenárias. Como não sei a forma de me inscrever,
peço à assessoria que nos oriente sobre esse assunto. Em benefício da reunião,
sugiro que as pessoas sejam objetivas e quem tiver sugestões a apresentar que o
faça na base do pão-pão, queijo-queijo. O Relator e todos nós estamos aqui
presentes para aprender com as experiências dos senhores.
O SR. MANOEL LUIZ OLIVEIRA – Quero dizer três palavrinhas. A primeira
delas é: “Permitam-nos a informalidade”. A segunda: “Ufa. Que alívio. Graças a
Deus estamos ouvindo coisas que nunca imaginávamos ouvir em nossa vida".
Particularmente, imaginei que iríamos receber goela abaixo tudo que havia
acontecido no passado.
Srs. Deputados, muito obrigado, em nome de uma Nação e de um monte de
atletas e dirigentes de todo o Brasil por este perfil que cada um dos Srs.
Parlamentares passou-nos aqui. Muito obrigado mesmo.
Sugiro também, Sr. Presidente — antes que V.Exa. comece a contar nosso
tempo —, que cada um de nós possa caracterizar o seu respectivo esporte, para que
os senhores venham a entender o que é cada um.
Sou Presidente da Confederação Brasileira de Handebol, o esporte mais
praticado nas escolas do Brasil inteiro e com perfis extraordinários. Hoje o Brasil é o
principal representante do esporte nas Américas, o que não era até bem pouco
tempo.
Quero tocar especificamente em alguns assuntos. Eleições. Em Atlanta, por
exemplo, o Presidente da Federação Pan-americana de Handebol era um
americano, que foi destituído e eu fui escolhido para cumprir o mandato tampão. Na
outra eleição escolheram-me por unanimidade. Isso significa, senhores, que cada
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segmento que faz o esporte tem o direito de escolher o seu caminho. Temos 27
federações, todos os Estados e o Distrito Federal, e um número enorme de
praticantes, principalmente de escolas e universidades. Temos ainda o privilégio de
ter o Vasco da Gama participando da nossa liga nacional.
Com relação ao nosso esporte, existe uma expressão muito interessante. Se
a lei obrigasse que a sede das nossas federações fosse para Brasília, eu pergunto:
quem a manteria? Por exemplo, na Confederação Brasileira de Handebol, cuja sede
encontra-se em Aracaju, trabalham diariamente dezenove pessoas, a maioria delas
cedida pela Prefeitura Municipal de Aracaju e pelo Governo do Estado de Sergipe,
que assumem esse ônus. Se fôssemos transferidos para Brasília, quem faria isso?
Só as pessoas de Brasília poderiam dirigir as confederações? Esse é um ponto.
Segundo, gostaria que ficasse bem claro para os senhores que temos
efetivamente cadastrados 65 mil atletas, o que não é realidade, porque os
estudantes não são cadastrados, e o Comitê Olímpico Brasileiro é que nos
representa. No passado, recebemos o convite de um Deputado que presidia uma
Comissão — inclusive fomos a Brasília participar de uma reunião — e quando
defendíamos as posições que o Comitê Olímpico Brasileiro havia apresentado, um
dos nossos queridos Parlamentares disse que estávamos fazendo lobby para o
COB.
O Comitê Olímpico Brasileiro é a nossa casa. Todos esses assuntos são
discutidos por nós e, na nossa opinião, embora tenhamos os melhores legisladores,
trabalhamos em conjunto com aquelas pessoas e o Comitê apresenta soluções em
nosso nome. Não se trata de uma apresentação do Dr. Nuzman ou do Dr. Richer,
mas do esporte olímpico brasileiro.
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Outro ponto importante que teria uma forte repercussão, seria separar o
esporte olímpico brasileiro não profissional do futebol profissional. No momento, os
senhores estão nos dando uma grande possibilidade de criar, no futuro, um
envolvimento da juventude com o esporte, já que existem mais de 36 milhões de
crianças e jovens que precisam efetivamente dessas atividades.
Para encerrar, o penúltimo ponto que desejo ressaltar é que os recursos da
Lei Piva, que foi, como disse o nosso Presidente Nuzman, “a carta de alforria do
esporte brasileiro”, não são suficientes. Esses recursos são a melhor coisa que nos
aconteceu na vida, porém, não são suficientes e não substituem os recursos que
necessitamos da Secretaria Nacional de Esporte, para participarmos dos eventos
internacionais e nos qualificarmos.
O último ponto refere-se a tribunais. Costumamos jogar os campeonatos nos
fins de semana, numa fase classificatória. Depois, jogamos a final do campeonato
sempre com oito clubes, afunilando para chegar a esse número. Se num
determinado momento do campeonato houver um conflito e naquele local não
houver um tribunal para decidir um eventual problema, possivelmente não haverá
uma final para aquele campeonato.
Muito obrigado, meus parabéns e um abraço muito carinhoso a cada um dos
senhores.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Presidente
Manoel Luiz Oliveira, inclusive pela gentileza das citações. O senhor pode ter
certeza de que as suas observações caíram em terreno fértil, uma vez que o nosso
Relator está perfeitamente atento a esse assunto.
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Com a palavra o Deputado Bernard. Esta Mesa foi composta pelo COB em
homenagem ao grande atleta Lars Grael, sem distinção de nenhum dos presentes.
Registro ainda que temos um Parlamentar Estadual, que também foi um
grande atleta, que nos deixa muito satisfeitos. Tem a palavra V.Exa.
O SR. BERNARD RAZJMAN – Ao cumprimentar V.Exa., Deputado Jurandil
Juarez, estendo meus cumprimentos a todos os membros desta Comissão, ao
Presidente do COB, nosso Líder máximo do esporte no País, Dr. Carlos Nuzman, e
ao Secretário Nacional do Esporte, grande atleta e medalhista olímpico Lars Grael, a
quem reputo um dos melhores trabalhos, talvez o melhor, da história deste País.
Serei breve. Quero enaltecer as palavras do meu amigo Manoel com relação
à reeleição das entidades esportivas. Quando a coisa é boa deve se alongar ou até
se perpetuar, no caso. Quando um dirigente é bom e está fazendo um trabalho
reconhecido social e tecnicamente em todos os aspectos, ele sempre deve ser
renovado, quiçá fazer como o Supremo e os tribunais superiores fazem, aposentar
essas pessoas.
O mau dirigente deve ser afastado. Acho que é injustiça punirmos o esporte e
não o dirigente, afastando-o, quando ele não apresenta a competência devida num
prazo curto de tempo. Por exemplo, diversos presidentes de entidades fazem parte
de entidades internacionais. No momento em que eles se afastarem das entidades
do País, eles estarão fora automaticamente. E para conseguirmos encontrar alguém
para suplantar, levaremos muito tempo. Se a nossa legislação for pequena, não
conseguiremos, de forma alguma, por exemplo, colocar um Nuzman no Comitê
Olímpico Internacional. Isso é um exemplo.
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A solução mais democrática seria, até para que houvesse uma visibilidade
melhor da sociedade, ampliarmos o quadro eleitoral, democratizando-o como faz,
por exemplo, a Itália, em que atletas renomados, dirigentes, além das federações...
Não vou entrar no mérito da competência de cada entidade, mas cito a
Confederação de Vela, que já exerce uma função nesse sentido, indicando atletas e
outros segmentos da sua confederação, aumentando esse quadro eleitoral,
democratizando-o e o tornando mais claro para a população.
O bom dirigente, não tenho a menor dúvida, será sempre reeleito. Para não
me alongar, quero apresentar uma questão fundamental. Junto à sociedade, o
dirigente esportivo tem sempre a fama de ser uma pessoa escusa, que tem
envolvimento com alguma falcatrua. A melhor forma de darmos clareza a essa
questão, seria remunerar o dirigente esportivo. No geral, nenhum dirigente é
remunerado. Isso é um dos problemas, porque, se ele fosse eleito
democraticamente com a remuneração devida, acabariam esses tipos de
comentários escusos por parte da sociedade como um todo.
Parabéns a todos pelas ponderações, particularmente ao Sr. Carlos Arthur
Nuzman.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Obrigado, Deputado
Bernard.
Tem a palavra o Deputado Eurico Miranda.
O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Em seus comentários o Deputado
Bernard tocou em um ponto nevrálgico, e sou totalmente contra, porque não temos o
direito de intervir em qualquer entidade. Quem tem de decidir, e disse muito bem o
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Manoel Luiz, são os filiados. Quem tem de decidir se a eleição deve ser aberta, se
se deve ampliar o quadro eleitoral, é cada confederação, cada federação, no seu
âmbito. Você não pode determinar, numa federação, numa confederação ou num
clube, se o mandato será de 3 ou 4 anos, ou se é permitida a reeleição. Quem
decide isso são os pares. Quem decidi isso num clube são os seus sócios, quem
decide isso numa confederação e numa federação são os seus filiados.
Quem pode o menos, pode o mais, e quem pode o mais, pode o menos.
Quando você intervém de cima para baixo, dizendo que vai fazer a sua eleição
assim, que só pode fazer desta ou daquela maneira, isso é um assunto que compete
a cada modalidade, a cada entidade.
Divirjo frontalmente, apesar de entender que democraticamente você deve
expandir etc., mas isso cada modalidade... A Vera, por exemplo, entende que deve
dar aos atletas... Agora, já pensou o handebol abrir para os atletas. Ele tem 65 mil
inscritos. Como se vai fazer a eleição neste País de uma confederação de
handebol? Isso é um assunto que cada entidade deve definir.
Quanto à remuneração, é a mesma coisa, é outra intervenção. Quem tem de
decidir é a própria entidade. Se ela decidir que quer remunerar, vai remunerar. Se
achamos que não devemos remunerar, não vamos remunerar.
Não podemos ferir um princípio que está na Constituição, o da autonomia em
relação à organização e ao funcionamento. Temos de alterar a Constituição,
apresentar uma emenda à Constituição se quisermos inserir em qualquer lei o que
considero uma intervenção nas entidades, tanto de administração como de prática.
O SR. DEPUTADO AGNELO QUEIROZ – Permite-me V.Exa. um aparte,
nobre Deputado?
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Tem a palavra o Deputado
Agnelo Queiroz.
O SR. DEPUTADO AGNELO QUEIROZ – Minha sugestão é que
pudéssemos ouvir todos os convidados das confederações e, posteriormente,
teríamos uma rápida rodada. Assim, evitaríamos justamente uma opinião contra a
outra, já que neste caso específico entendi, inclusive, que S.Exa. está sugerindo a
democratização das eleições, o que é altamente positivo. A viabilidade e o
comportamento de cada entidade cada qual vai fazer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Acato a sugestão de
V.Exa. Para efeito da continuidade da reunião, vamos proceder da seguinte maneira:
vamos ouvir e quaisquer que sejam as posições mais polêmicas faremos uma nova
rodada.
Como houve uma citação e um assunto muito contraditório foi levantado em
relação ao Deputado Bernard, concedo-lhe a palavra no máximo por três minutos.
O SR. BERNARD RAZJMAN – Sr. Presidente, preciso de dez segundos.
Acho que o Deputado Eurico Miranda não entendeu. Eu disse exatamente o que
V.Exa. falou. Acho que nas entidades esportivas, por serem privadas, o Estado não
tem como interferir. Por isso citei, inclusive, a Confederação da Vela, que já o faz.
Por isso, o exemplo da vela poderia ser seguido pelas outras entidades. Talvez,
nesse sentido, V.Exa. não tenha entendido.
(Intervenção inaudível.)
O SR. BERNARD RAZJMAN - Não estou falando de (ininteligível) como
sugestão, não estou falando de lei.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Para concluir.
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O SR. BERNARD RAZJMAN - Era só isso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Pela ordem de inscrição,
passo a palavra ao Secretário Lars Grael.
O SR. LARS GRAEL – Saúdo o Sr. Presidente da Comissão, Deputado
Jurandil Juarez, e em seu nome os demais componentes da Mesa, o Sr. Presidente
do Comitê Olímpico Brasileiro, o Sr. Presidente da Comissão Nacional de Atletas,
Deputado e atleta Bernard Razjman, os senhores presidentes das confederações
presentes e os amigos do Ministério do Esporte e Turismo. Vejo hoje com muito
interesse e com muita motivação esta reunião de hoje, porque é fundamental que
haja transparência na discussão sobre o Estatuto do Desporto, a união das
confederações e dos esportistas em favor dessa proposta.
Como Secretário Nacional do Esporte, e aqui também falo em nome do Sr.
Ministro interino do Esporte e Turismo, quero chamar a atenção para alguns pontos.
Primeiro, acho que devemos ainda discutir uma possível revisão na composição do
Conselho Nacional de Esportes. Esse conselho é previsto em lei — e não me cabe
julgar a necessidade de sua existência, já que é previsto em lei — e sua composição
mereceria uma revisão, que a meu ver parece-me bastante chapa branca. Já que há
cinco membros representativos de Ministérios, isso não se faz necessário.
Ao mesmo tempo, temos dois representantes oficiais do futebol, mais quatro
vinculados. É preciso haver uma outra avaliação de representações de outros
órgãos, como a Medicina Esportiva, como as Secretarias Municipais do Esporte, que
não foram contempladas neste conselho, como a organização nacional das
entidades desportivas que representam todas as entidades não olímpicas, que
passam de cinqüenta, sendo esse conselho muito importante.
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Também deveríamos reputar a esse conselho o reconhecimento de
entidades, como já se fazia no CND anteriormente. Hoje, eu, como Secretário
Nacional do Esporte, por melhor que conheça o cenário esportivo nacional, tenho
muita dificuldade em assumir a responsabilidade subjetiva de dizer qual é a entidade
que receberá recurso público ou não, uma vez que a legislação hoje é anárquica.
Posso hoje, na esquina, criar a confederação brasileira de iatismo, em dissidência à
da vela. A lei me permite isso.
Fica difícil eu julgar as que merecem importância. Mas posso dizer que hoje
temos cadastradas a caça submarina, damas, futebol de mesa, que é o famoso
futebol de botão, caratê de contato, caratê normal, caratê-dô, caratê-dô tradicional,
caratê kiyokushin oyama, caratê shotokan, kendo, kick boxing, levantamentos
básicos, luta de braço, lutas vale-tudo, mighty ball, canastras, ioga, aikidô e por aí
vai.
Então, são várias entidades. Realmente, teríamos de ter na figura do
Conselho Nacional de Esportes uma avaliação e o reconhecimento de quais seriam
as entidades merecedoras de recursos.
Hoje, é muito difícil o Secretário Nacional de Esporte ter essa
responsabilidade. Vem um Senador da República e pede que eu dê recursos
públicos para a Confederação de Canastras. Se eu negar, fico mal com o
Parlamentar, se aceitar sou criticado pelos demais. Então, há que transmitir ao
Conselho Nacional do Esporte esse poder.
O Senador está certo, é uma entidade que está em seu Estado. Agora, como
não há critério, naturalmente surgem essas indicações.
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Outra contribuição que desejo entregar ao Sr. Relator desta Comissão,
Deputado Gilmar Machado, é a proposta de uma lei de isenção de material ...
(Falha na gravação. Não há seqüência no texto.)
...e contrabandearem material olímpico ou paraolímpico para satisfazer o sonho do
movimento olímpico brasileiro, uma vez que a carga tributária é exagerada.
Essa matéria vem sendo tratada no Executivo há três anos. Foi aprovada
inicialmente na Receita Federal, remeteu-se ao Ministério do Esporte e Turismo, foi
ao Ministério da Indústria e Comércio, à Câmara de Comércio Exterior, voltou à
Receita Federal, e hoje se encontra pronto para uma edição em forma de medida
provisória. Mas confesso que vejo resistência eventualmente na sua aprovação em
forma da medida provisória.
Penso que seria interessante, uma vez que já está tratado e aprovado técnica
e juridicamente no Executivo, submeter-se ao Relator a pertinência de incluir isso no
Estatuto do Desporto.
Também registro a questão da bolsa-atleta, reivindicação do setor, que veio
desde a Câmara Setorial do Esporte, da Comissão Nacional de Atletas e com base
em projeto de lei do Deputado Agnelo Queiroz. A Secretaria Nacional de Esporte fez
uma discussão sobre o seu projeto de bolsa-atleta e o submeteu às opiniões do
Comitê Olímpico Brasileiro, do Comitê Paraolímpico Brasileiro, da Comissão
Nacional de Atletas. Quero submetê-lo também à Relatoria desta Comissão.
Penso que também seja pertinente resgatarmos projeto de lei antigo do
Deputado Ronaldo Cezar Coelho, cujo Relator na Comissão de Educação, Cultura e
Desporto foi o Deputado Eurico Miranda, que tratava da questão do abatimento das
dívidas dos clubes que devem à Previdência e outros tributos federais com seus
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investimentos na área social, comunitária, de formação de talentos e na educacional.
Esse projeto tem eco, existe sustentação junto ao Executivo, que poderia voltar a
merecer a apreciação dos senhores.
Quanto à questão do corte drástico no Orçamento, realmente esse assunto foi
tratado aqui hoje e consta de matéria do jornal O Globo. É uma preocupação. Como
representante setorial do esporte no Ministério do Esporte e Turismo venho tratando
com o Ministro interino, Caio Luiz de Carvalho, a tentativa de um crédito suplementar
para que possamos atingir pelo menos o previsto no Orçamento do ano passado,
que era da ordem de 15 milhões de reais. Para mim está claro, como para todos os
senhores, que o recurso da Lei Agnelo Piva é complementar ao orçamentário do
Ministério e não substituto.
Portanto, essa reivindicação é correta. Temos de defender isso.
(Não identificado) – Esse corte de recurso é por contingenciamento? Se for,
não haveria necessidade de crédito suplementar.
O SR. LARS GRAEL – Não. É orçamentário mesmo. O orçamentário de 2002
veio com corte de cerca de 50% do previsto em 2000.
(Não identificado) – Não existe. O corte é por contingenciamento.
O SR. LARS GRAEL – É porque houve remanejamento em favor do
Programa Brasil Potência Esportiva, que saiu reduzido no Orçamento de 2002, ainda
por cima está contingenciado. Mas lá discutimos dois assuntos. Primeiro, o
descontingenciamento para atingirmos e atendermos ao calendário esportivo das
entidades e mais um crédito suplementar para que atendamos também o Orçamento
de 2001, porque existia cerca de 15 milhões de reais no Programa Brasil Potência
Esportiva e hoje estamos com 7 milhões, 324 mil, 514 reais.
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Posso afirmar que por parte do Ministério do Esporte e Turismo existe um
absoluto consenso na separação conceitual do futebol para o sistema desportivo
normal. Deixo uma proposta para V.Exas.: cabe definir melhor no Estatuto do
Desporto o papel das entidades representativas do desporto escolar e universitário,
uma vez que se encontra em crise, há dotação prevista na Lei Agnelo Piva, e
algumas entidades estão promovendo mudanças no seu estatuto para que possam
atender às respectivas áreas do desporto escolar. O Ministério do Esporte e Turismo
priorizou a ação do Programa Esporte na Escola.
Para concluir, deixo uma notícia aos Deputados Joel de Hollanda e José
Rocha. O Ministério, nos últimos três dias, aprovou o recurso do Esporte na Escola
para os Estados de Pernambuco e da Bahia, 2,5 milhões de reais para cada um, que
irá propiciar a construção de cem quadras nas escolas. Os recursos estão
disponíveis, já informado aos Srs. Secretários de Educação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Obrigado, Secretário Lars
Grael. Fico alegre com a notícia, que me vai permitir estar amanhã com o Ministro
Caio Carvalho para pedir que as minhas emendas individuais, com recursos para o
Amapá, sejam liberadas.
Com a palavra o Presidente Coaracy Gentil Monteiro Nunes Filho — por sinal
somos conterrâneos.
O SR. COARACY GENTIL MONTEIRO NUNES FILHO – Conterrâneos. É
uma honra muito grande saber que um amapaense preside esta Comissão, que, na
minha opinião, é a mais importante da Câmara dos Deputados. Entendo que o
esporte é o assunto mais importante do Brasil. Não sou eu que digo isso, são as
horas de televisão gastas com o esporte. O esporte é um assunto prioritário do
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Governo? Deveria ser, como é. Mas é um assunto importante pelo número de horas
de televisão.
Uma das coisas importantes é saber quantas horas de televisão aquele
assunto é objeto. O esporte, sem dúvida nenhuma, é líder de audiência de televisão,
acima, inclusive, com a permissão dos senhores, dos assuntos políticos ou
econômicos. Portanto, o Sr. Jurandil Juarez é Presidente da Comissão mais
importante da Câmara dos Deputados.
Quero levantar alguns assuntos diretos. Primeiro a lei de incentivo fiscal.
V.Exas. agora estão sabendo que necessitamos absolutamente de uma lei de
incentivo fiscal que venha atender às confederações, aos atletas e aos clubes. Essa
lei já nos foi prometida pelo Presidente várias vezes, conforme testemunho do Lars
Grael, nosso Secretário de Esporte, mas não saiu. Não é justo que se dê tratamento
diferenciado ao esporte. A cultura tem lei de incentivo fiscal.
Todos viram o que aconteceu com o cinema nacional. Os nossos teatros
foram reformados, nosso cinema nacional participou do Oscar, porque há uma lei de
incentivo fiscal que deveria abranger também o esporte.
Essa é uma excelente oportunidade para os Srs. Deputados, inclusive os de
primeiro mandato, entrarem para a história do esporte olímpico como os primeiros a
comparecerem ao Comitê Olímpico Brasileiro.
Quero dizer aos nobres Deputados Agnelo Queiroz e Gilmar Machado que
sabemos do esforço que despenderam na elaboração da lei que veio beneficiar os
esportes olímpicos.
O Secretário Lars Grael acabou de citar um outro ponto importantíssimo: o
material esportivo importado não fabricado no Brasil. Está na marca do pênalti.
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V.Exas. podem bater esse pênalti amanhã quando chegarem a Brasília. Sairão
daqui, juntamente com Lars Grael e Carlos Nuzman, com um lobby total e completo,
e poderão dizer: “manda a bola para o gol”. Na realidade, está faltando uma medida
provisória apenas para assinar.
Alerto os nobres Deputados sobre o caso da minha confederação, que
abrange cinco esportes olímpicos — natação, pólo aquático masculino, pólo
aquático feminino, natação sincronizada e salto ornamentais. Estamos prontos para
paralisar. Adquiri os últimos placares eletrônicos para a confederação e para as 27
federações do Brasil à custa de recursos do meu patrocinador. Esse material foi
distribuído há seis anos. Existem problemas em Pernambuco, que já me avisou:
“Coaracy, aqui vai parar a competição de natação.” E vai parar em cada Estado,
porque não há verba para se importar um placar eletrônico dos Estados Unidos,
pagando quatro vezes mais. Um placar que custa hoje 10 mil dólares, vai-se pagar
40 mil dólares. É inviável. Isso não existe.
Os senhores poderiam sair daqui hoje e ir a Brasília amanhã para cobrar do
Presidente, de quem quer que seja, a edição dessa medida provisória. É um projeto
que autoriza a importação de material esportivo, não fabricado no Brasil, para a
prática de esportes olímpicos. Estou dando uma informação que o Lars me passou e
que está dependendo apenas de uma medida provisória para esse fim.
Então, Deputados, são esses dois pontos que gostaria de tratar
especificamente. Quero também falar sobre o problema do mandato dos
presidentes, que já está preocupando todo mundo, a imprensa principalmente. Os
Deputados são eleitos quantas vezes quiserem. São bons Deputados, estão todos
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presentes. Sem cabotinismo, sem os senhores imaginarem que somos o rei da
cocada preta.
Quero dizer a V.Exas. que certa vez uma entrevistadora de televisão me
perguntou: “O senhor é a favor?” Respondi: “Olha, estou há doze anos na
confederação, sempre fui eleito por unanimidade, a última vez por aclamação.
Nunca tive problemas, aliás, nenhum problema com as federações, porque o bom
presidente — não é o caso — é reeleito naturalmente. Aqui, o mais velho, se não me
engano, é o meu amigo Alaor, há treze anos na presidência, eu estou há doze”.
Então, é para V.Exas. terem uma idéia de que aqui há reeleição e muda o
presidente. Hoje mesmo um dos presidentes do esporte de inverno vai sair, já vai ser
eleito outro presidente. Há um rodízio nas presidências.
Agora, se o presidente é bom e as entidades desejam que ele continue, não
há motivo para ele não continuar. Essa é uma idéia. Como disse, se amanhã os
atletas, os representantes dos clubes técnicos votassem no âmbito da minha
confederação, tenho certeza de que seria eleito. Modéstia à parte, tenho certeza
absoluta, porque tenho o apoio de todos os clubes, de todos os atletas, de todas as
federações, mas isso tem de ser algo tocado, como também o problema da
mudança da sede para Brasília.
Estamos aqui reunidos, os senhores são nossa família. Quero que V.Exas.
saibam, como disse o nosso querido presidente do handebol, que o Comitê Olímpico
nos representa mesmo, não é conversa, não. Aqui, nós nos reunimos, discutimos,
brigamos, fechamos a porta, descascamos, mas saímos sempre com uma idéia. Se
existe uma coisa unida hoje no Brasil são as confederações em torno do Comitê
Olímpico.
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Então, não é possível transformar nossa sede, levar para Brasília, para outro
lugar. As sedes das confederações estão, hoje, espalhadas por diversos Estados, a
maioria aqui, como ocorre com os organismos internacionais. A maioria das
federações internacionais está na Suíça, porque a sede do Comitê Olímpico
Internacional é naquele país.
Agradeço muitíssimo a presença aos nossos caríssimos Deputados. Temos
muita honra em recebê-los aqui.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Presidente
Coaracy Nunes.
Pela ordem de inscrição, concedo a palavra ao Presidente Carlos Couto.
O SR. CARLOS ANTÔNIO FERNANDES DO COUTO – Em nome do
tae-kwen-do brasileiro, agradecemos aos Srs. Deputados pela presença.
A questão que quero abordar é muito grave no esporte nacional. Diz respeito
à observância das regras técnicas preestabelecidas, aceitas e adotadas no Brasil
pela entidade nacional dirigente. Há pouco, o nosso Secretário de Esportes
relembrou os bons tempos do Conselho Nacional de Desportos, onde ali, com uma
responsabilidade muito grande, temos o nosso decano, o Dr. André Richer, que
compunha esse conselho, uma comissão que fazia uma avaliação rigorosa do
surgimento de uma nova modalidade esportiva.
Quero chamar a atenção para isso porque tenho ao meu lado o Presidente da
Confederação de Boxe, Pugilismo. Aqui tratamos também da direção de um esporte
que representa um potencial ofensivo muito grande se não tiver os cuidados
necessários.
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Saio um pouco das lutas, das artes marciais e entro no ciclismo e outros
esportes, que requerem um cuidado muito especial. Essas entidades que surgem,
que vão aparecendo no cenário desportivo brasileiro, sequer cuidam de zelar pelas
regras técnicas de cada modalidade esportiva.
A forma que posso sugerir para melhor controlar seria continuarmos em
nosso País com o Comitê Olímpico Brasileiro sendo órgão de cúpula para direção do
desporto nacional. Abaixo, no sistema desportivo brasileiro, as confederações, uma
única entidade nacional dirigente para cada modalidade. Isso compreenderia o
desporto formal. Os demais poderiam ser implodidos como informais.
Permanecendo a outra proposta, temos aí a existência de vários conselhos, que,
lamentavelmente, não vemos muito resultado nesse trabalho, mas seria a
revitalização de um conselho, como foi aquele bem lembrado Conselho Nacional de
Desporto.
A outra questão que a nova legislação precisa trazer, aprimorar, refere-se ao
cuidado que devemos ter com a terminologia, a expressão, ou seja, o conceito, a
definição. Há pouco, lembrei a importância do Tribunal Arbitral, mas ao ler esse
projeto de lei, há uma mistura. Conciliadora, árbitro e mediador são figuras distintas,
atividades distintas.
A outra questão é o modismo. Há pessoas criando expressões novas,
acabando com aquelas que já foram marcadas, que estão presentes no nosso
conhecimento, ou seja, desporto de alto nível é uma coisa, desporto participação é
outra, desporto é sinônimo de competição. O significado de desporto é competição,
atividade dirigida para esse fim. Mas na nova lei apareceu a expressão “desporto:
competição”.
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Não quero fazer nenhuma crítica porque há o aspecto positivo. Pela primeira
vez, talvez em 35 anos, passando por sucessivas leis, muitas reuniões, os nossos
representantes do Poder Legislativo estão entre nós para trazer a sua melhor
contribuição ao desporto nacional.
Lembro-me de que em debate sobre a Lei Zico, e essa discussão com o
surgimento de muitas entidades dirigentes para uma mesma modalidade esportiva,
questionamos o Zico a respeito do conceito de autonomia, liberdade de
funcionamento. Também não é assim. A liberdade também tem de sofrer limites.
Não pode ser desmedida. Não podem surgir entidades como estão surgindo no
Brasil, que quebram a moral das que já existem realizando um bom trabalho com
muita responsabilidade. Nosso desporto sofre com isso.
É necessário um órgão como o Conselho Nacional de Desporto para apurar
melhor o surgimento dessas entidades e a conveniência dessas regras técnicas para
esses esportes que estão surgindo.
Outros pontos, como a separação do futebol e o COB, como centro de
controle, ou seja, o órgão de cúpula, na administração das entidades nacionais, que
abordaria aqui já foram apontados e parece que aceitos.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Agradecemos ao Sr.
Carlos Couto.
Tem a palavra o Sr. Arthur Cramer.
A assessoria está solicitando que os participantes, ao se identificarem,
declinem também o nome da entidade.
Passo a Presidência ao Sr. Deputado José Rocha.
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O SR. ARTHUR TELLES CRAMER RIBEIRO – Sou Presidente da
Confederação Brasileira de Esgrima. Inicialmente, agradeço aos senhores e quero
referendar as palavras dos que me antecederam. Para ser mais rápido e objetivo,
reafirmo que o COB nos representa não apenas por representar, mas porque traduz
realmente o sentimento de todos os dirigentes, técnicos e atletas. Ele expressa bem
o que existe no esporte nacional olímpico.
Quero dizer ao Deputado Gilmar Machado que Lars Grael teve uma iniciativa
no Ministério, com o Ministro Carlos Meles, ao produzir uma política nacional de
esporte, à qual foi anexada as propostas dos quatro grupos que trabalharam numa
espécie de câmara setorial para compor esse trabalho. Não sei se V.Exa. teve
acesso ao documento que traduz as aspirações do esporte escolar, universitário e
de alto rendimento, não só na redação da política, mas nos anexos que contêm as
propostas de cada grupo.
Sr. Presidente, peço a V.Exa. e aos Deputados membros da Comissão que
realizem um estudo do Código de Esportes da França, que além do Código Penal e
Civil, tem um Código de Esporte, com uma redação maravilhosa, que serve de
exemplo, que vem sendo copiado pela Alemanha, Espanha e por outros países. O
sistema que a França implantou nos últimos anos poderia nos servir muito.
Quero ainda agregar algumas explicações sobre o problema de material que
ainda não foi abordado. Esse problema é impeditivo para a prática e para o
desenvolvimento do esporte no Brasil, não só para o meu, como para muitos outros.
O meu esporte passa a ser de rico, quando não o é, não é em Cuba e em outros
países mais pobres. Não há material, não há quantidade de praticantes necessária
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para a entidade se automanter. Isso não se dá apenas com a esgrima, mas em
outros esportes também.
Em conseqüência, como há pouco praticante, a entidade não pode se manter
e não se encontra candidato à presidência de federação. Os presidentes são pegos
a laço entre os filhos de presidentes. Quando o presidente eleito recebe uma crítica
por meio de jornal, larga o cargo, porque não está querendo se aborrecer, mas de
ajudar o esporte. Quando limitarmos os mandatos de certos esportes, erroneamente
chamados de primos ricos do esporte — porque a natação precisa de muito mais do
que ela tem, mas aqueles que são miseráveis em termos de esporte no Brasil,
apesar de parecer esporte de gente rica —, não terão presidente, porque será difícil
encontrá-lo.
Peço especial atenção para o problema do material, porque ele tem uma
repercussão enorme.
A Federação de Vela, representada nesta Comissão por Lars Grael, tem uma
multa enorme na Receita Federal, porque um barco tinha de sair do Brasil num certo
dia e não saiu por problema com o pessoal do cais, e a Receita Federal multou-a
num valor que hoje já está em quase 4 milhões.
O problema de material é questão de vida ou morte para o esporte brasileiro.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Rocha) – Tem a palavra o Sr. João
Tomasini, Presidente da Confederação Brasileira de Canoagem.
O SR. JOÃO TOMASINI SCHWERTNER - Cumprimento todos os Deputados
por estarem ouvindo nossas opiniões.
Sobre a questão da vela, de 40 mil reais, a canoagem também entrou de
carona. No mundial de caiaque e pólo, fomos multados pela Receita Federal em algo
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similar a 17 mil reais. Fazemos esporte, trazemos mundiais para o Brasil, seguimos
uma orientação e acumulamos dívidas.
Sobre a questão da importação, abordarei inicialmente os pontos mais
simples, depois, entrarei num mais problemático.
Com relação à questão da importação, estamos tentando importar um
caiaque de quatro lugares, de 11 metros de comprimento, que custa, em Portugal,
7.500 dólares. Para chegar ao Brasil, a confederação terá de despender 32 mil reais
dos recursos da Lei Piva. São 17 mil reais de imposto de importação, IPI, ICMS, em
cascata. Isso é impraticável.
Quanto à questão da sede, faço coro com o Manoel e com todos que me
antecederam. Meu esporte não teve a felicidade de ter um Governo de Estado ou
Municipal que banque a estrutura da confederação na cidade de Estrela, no Rio
Grande do Sul. No entanto, por estarmos numa cidade do interior, nossos custos são
infinitamente menores do que em Brasília e no Rio de Janeiro. Por isso, foi possível
a confederação ter onze funcionários, em 2000, contribuindo para o
desenvolvimento do esporte.
Deputado Eurico Miranda, a remuneração dos dirigentes pode ser livre, desde
que a Receita Federal não nos tire a classificação de entidade sem fins lucrativos e
não nos tire uma série de condições. A lei poderá nos ajudar, entendendo que se o
dirigente está prestando serviço em tempo integral à sua entidade pode receber
salário ou ajuda de custo, sem nos punir na outra ponta.
As considerações do Sr. Bernard são fundamentais, mas precisamos dessa
proteção da lei.
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Por último, quero falar sobre a eleição. Duas entidades nacionais têm colégio
amplo por decisão própria, a vela e a canoagem. Estou há quatorze anos na
confederação, treze no Comitê Olímpico, sou decano. Sou o segundo não-europeu a
ocupar um cargo executivo da Federação Internacional de Canoagem, em 75 anos.
Trata-se de uma eleição mundial. Isso aconteceu depois de dez anos de
confederação brasileira. Nenhum presidente com quatro anos ou com seis, como era
na legislação anterior, três mais três, chegaria a essa posição. São 75 anos de
Federação Internacional, em que estou como vice-presidente. A minha reeleição
para mais um período está praticamente assegurada em setembro deste ano. Não
se consegue essa participação internacional. O Brasil sediou três mundiais. Na
semana passada, o Brasil conquistou o Pré-Olímpico Continental para 2004. Tudo
se consegue com lobby político-esportivo, mas não entrando hoje e saindo amanhã.
São esses os aspectos sobre a eleição. Essa limitação é tremendamente
prejudicial ao esporte brasileiro. O colégio eleitoral de cada entidade deve saber se o
presidente deve ou não continuar.
Muito obrigado.
(Falha na gravação. Não há seqüência no texto.)
O SR. ARY DA SILVA GRAÇA FILHO – (Falha na gravação.) ...liberdade e
democracia. Eu falo isso até por pequeno recalque. Conheço por demais a Lei Pelé
e era um ferrenho adversário dela. Hoje está demonstrado que tínhamos razão. Na
última vez em que fomos chamado na Comissão para discutir a Lei Pelé, quase
fomos agredidos, não fosse a intervenção do Deputado Eurico Miranda, que solicitou
que nos pedissem desculpas. Não nos foi dado nem oportunidade de falar. Portanto,
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agradeço aos senhores a oportunidade de nos ouvir, mesmo tendo V.Exas.
autoridade para fazer o que acharem melhor. Isso é democracia, liberdade.
Vou enfatizar mais uma vez: o futebol neste País não é um esporte e, sim,
uma religião, e como tal deve ser tratado. Não importa se nos chamarem de resto.
Peço aos senhores que separe o futebol do resto, que somos nós. Queremos estar
separados do futebol. Falando em números: nos orçamentos da CBF que estão em
balanço, representamos apenas 8% do total. Se excluírem vôlei, basquete, atletismo
e natação, o valor é menos que 1%. Portanto, o tratamento precisa ser diferenciado.
Em relação ao mandado, vou repetir: estamos numa democracia, num Estado
de Direito, e somos do direito privado. Quem tem de decidir sobre nossos destinos
somos nós mesmos, até por uma questão de lógica. Tenho como atividade
profissional o mercado financeiro, e sou responsável por 400 milhões de gestão de
negócio de terceiros. Portanto, sou especialista em análise de investimento. Não
vejo nenhum investimento em qualquer tipo de atividade que não tenha prazo de
amadurecimento de pelo menos dez anos. Todos os investidores estrangeiros que
vieram para o Brasil fizeram e fazem seus estudos a longo prazo. Ninguém faz
milagres. Para isso precisamos de tempo para as coisas efetivamente acontecerem.
Como acionista da COSIVA, não gostaria que tirassem o João Peter da
presidência por uma questão de filosofia de prazo de contrato. Ninguém quer tirar o
Sr. Antônio Ermírio de Moraes da Votorantim, porque ele produz dinheiro.
Gostaria de voltar a falar sobre o voleibol. Se o senhor me permite,
Presidente Carlos Nuzman, cito seu nome, pois, em 1975, o senhor assumiu a
Confederação Brasileira de Voleibol num estado extremamente precário. Mas, com
sua luta durante todo esse tempo, ela foi transformada em medalhas olímpicas de
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prata e ouro. Hoje, continuamos seguindo sua filosofia e honrando-a. No ano
passado, o Brasil, em 22 competições internacionais, ganhou dezessete medalhas
de ouro e três de prata. É preciso mudar? Mudar para quê? Será que alguém vai
conseguir as 22 medalhas? Nós conseguimos 20 das 22.
Em parceria com o Ministério dos Esportes e com a Secretaria Nacional de
Educação, estamos fazendo o primeiro Centro de Treinamento de Voleibol.
Atualmente, Deputado Joel de Holanda, temos 132 programas altamente sociais,
como o Viva Vôlei. Estamos entrando nas escolas também em parceira com a
Secretaria Nacional de Esporte. Tomamos conta de 20 mil crianças. Isso é apenas o
início dos programas. O empresariado está começando a participar deles. E ainda
com a aprovação do CONANDA, vamos ter acesso a 500 centros, tranqüilamente.
Em dois anos, vamos chegar facilmente a 200 mil crianças.
Cito o exemplo do Presidente Carlos Nuzman, que ficou 22 anos na
Confederação Brasileira de Voleibol. Foram anos profícuos, de vitórias, de
resultados e mudança de mentalidade no esporte nacional. Por isso, não gostaria
que o senhor fosse afastado, até porque fui seu vice-presidente.
Menciono também o problema da sede em Brasília. Senhores, isso é
totalmente descabido. É um caso de bairrismo. Não sei quem teve tal idéia, mas ela
não tem o menor sentido prático. Existe aí uma incoerência. Uma vez que os
presidentes não podem ser remunerados, como eles vão viver em Brasília sem
remuneração? Como vamos transferir nossas sedes todas para lá? Principalmente
nós, que já temos uma boa sede, um centro de treinamento instalado no Rio de
Janeiro, onde vimos crescendo ao longo desses 26 anos. Essa idéia não tem
sentido prático, lógico e financeiro.
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É importante mencionar o problema dos Tribunais. Há uma prática
internacional de punição automática, o que tem dado certo. No voleibol funcionou
sempre. Agora estamos enquadrados na Lei Pelé, evidentemente. Tivemos agora
um novo campeonato, a grande Super Liga, nosso maior campeonato, e ainda havia
atletas sendo julgados por fatos que aconteceram em outros campeonatos, porque
os Tribunais não podem se reunir tão amiúde. Eles são compostos por pessoas não
remuneradas, como desembargadores, juízes, advogados. Precisamos criar algo
que seja prático para o esporte a fim de que haja disciplina. Hoje todos nós do
voleibol somos conhecidos pela disciplina, que não permite tumulto, brigas. Caso
contrário, somo punidos imediatamente. O atleta sabe disso. Agora, se relaxar, o
atleta vai fazer o que quer.
Eu gostaria muito de falar da Lei Pelé, mas ela já está moribunda.
Infelizmente, neste País foi feita uma lei que não é cumprida. No meio do caminho,
os próprios Deputados viram a necessidade de separá-la do futebol.
Encerro minha participação por aqui.
Agradeço a todos a presença, especialmente ao Presidente do Comitê
Olímpico e ao Secretário Nacional Lars Grael.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Antes de conceder a
palavra ao próximo orador, informo que há mais três inscritos. Como nossa viagem
está marcada para às 19h, não há problema algum em ficarmos até mais tarde. Só
gostaria de saber se vamos ter mais inscrições. Temos ainda uma sessão de
audiência pública com outros participantes às 15h. Gostaria de saber se mais
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alguém deseja fazer uso da palavra além do grego — permita-me chamá-lo assim —
do presidente Alaor Gaspar e do Sr. Paulo Wanderley.
Concedo a palavra ao Sr. Durval Ferreira Guimarães, Presidente da
Confederação Brasileira de Tiro Esportivo.
O SR. DURVAL FERREIRA GUIMARÃES – Sr. Deputado Jurandil Juarez,
Dr. Carlos Nuzman, Sr. Lars Grael, Sr. Relator, Deputado Gilmar Machado, é uma
honra muito grande estar aqui. Pela primeira vez falo diante de tantos Deputados
Federais. Podem ter certeza de que esta é uma dádiva que Deus nos está
oferecendo.
Fico feliz porque, após oito anos de mandato, dirijo aproximadamente 8 mil e
500 atiradores do País. Temos hoje 193 menores e mais de 500 estudantes em
faculdades, principalmente na cidade de Recife, Pernambuco, onde temos uma das
maiores atiradoras brasileiras, Cecília Frege. Ela é recordista brasileira e tem apenas
18 anos de idade.
Estamos fazendo esse trabalho de catequese, embora a maior parte das
pessoas, quando se fala em tiro, ache que é violência. Não é não! É disciplina!
Como disse o Ary, tem de ser dessa forma, sem disciplina não há vitórias, conquista.
Eu sou um privilegiado e fico com pena dos meus companheiros aqui presentes
porque tenho sede própria aqui no Rio de Janeiro, localizada na Miguel Couto com a
Presidente Vargas, uma cobertura inteira.
Então, ficamos tristes em ver confederações, como diz o Presidente Carlos
Nuzman, utilizando como sede o porta-malas dos carros nas garagens de suas
casas ou escritórios emprestados.
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Assim é o esporte brasileiro. Estou há 41 anos militando no esporte. Já
defendi o Brasil em cinco Olimpíadas e nove Pan-Americanos, junto com o Dr.
Carlos Arthur Nuzman e vários atletas presentes. Tenho orgulho de ser brasileiro.
Visto a camisa brasileira quando vou lá fora e canto o Hino Nacional com muita
honra.
Pratico tiro há 41 anos e vi durante muitos anos a bagunça que era, porque
existiam várias entidades dirigidas por esportistas. Naquela época o esporte era
chamado de tiro ao alvo.
Ouvi o Secretário Lars Grael, meu amigo particular, citar uma quantidade
enorme de entidades dirigindo o mesmo esporte. Eu não estou entendendo isso. Eu
não sabia e acho lamentável.
Para obter sucesso, ganhar medalhas, tem de haver uma única entidade.
Agora, o Presidente ficará 20, 30 anos, se tiver competência, como aconteceu com o
Dr. Carlos Arthur Nuzman, na direção do vôlei brasileiro.
Sinceramente, acho que cada setor desportivo deve ter uma entidade ou
então o negócio virará bagunça, porque lá fora, sabemos muito bem, as entidades
internacionais só reconhecem uma entidade. Não adianta ter várias aqui. Lá fora não
valerá nada. A ISSF, órgão que organiza tudo, só reconhece uma entidade por país,
desde 1989.
Ouvi vários companheiros, e temos aqui grandes desportistas que dirigem
grandes clubes, como é o caso do Deputado Eurico Miranda, pessoa que admiro
muito, porque é do meu tipo: tem de ir de qualquer maneira, nem que seja na
porrada. Desculpem minha franqueza, mas sou assim. Inclusive, o general Leônidas
Gonçalves, que foi Ministro e é meu amigo particular, disse recentemente, na
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abertura de um campeonato, que sou ditador, mas um ditador bom, porque trago
sucesso para o esporte, disciplina, gosto de tudo em ordem, tudo certo.
É uma honra muito grande estar aqui outra vez, falando para V.Exas. que
representam a Nação e o esporte brasileiro.
Dr. Nuzman, parabéns. O senhor, de fato, continua brilhante.
Muito obrigado a todos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Dando seqüência,
concedo a palavra ao Sr. Gerasime Nicolas Bozikis, Presidente da Confederação de
Basquete.
O SR. GERASIME NICOLAS BOZIKIS – Muito obrigado a todos os senhores
pela presença. Sentimo-nos orgulhosos em tê-los aqui e entendemos que esta é
uma das melhores formas de V.Exas. terem informações e subsídios para o trabalho
que estão desenvolvendo.
Entendo também que V.Exas. querem ouvir um pouco sobre cada esporte,
por isso estamos com a palavra.
Citarei quatro casos. Primeiro, a lei diferenciada para o futebol e os demais
esportes. Acho que há consenso entre os senhores quanto a isso. O Deputado
Eurico Miranda, que conheço há mais tempo, começou sua carreira esportiva
praticando basquetebol. S.Exa. era diretor de basquetebol quando eu ainda era
jogador, e sabe muito bem o que é essa diferenciação entre futebol e basquetebol.
Talvez esse seja um dos motivos pelos quais o Clube de Regatas Vasco da Gama é
bicampeão da Liga Nacional, bicampeão sul-americano e vice-campeão mundial,
perdendo apenas para a equipe da NBA.
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Segundo, reeleições e mandatos. A Confederação fará 70 anos de existência,
e nesse período sou o sexto presidente. O basquetebol brasileiro é bicampeão
mundial masculino, campeão mundial feminino, tem uma série de medalhas
olímpicas. Somos campeões pan-americanos, e hoje somos a quarta potência do
mundo junto com os Estados Unidos, Rússia e Iugoslávia.
Em 1997, quando entendemos que o presidente anterior não fazia um bom
trabalho, houve uma eleição democrática e bem disputada, a qual vencemos por 14
votos a 11, e a minha reeleição ano passado foi confirmada por 25 votos a 1.
Como bem disseram nossos companheiros, esse problema da reeleição é
questão de qualidade de cada modalidade, de seus filiados e suas federações.
O terceiro assunto é sobre a sede. Temos uma sede muito boa adquirida pelo
presidente anterior, aqui no Rio de Janeiro. Entendemos que o problema não é se a
sede será no Rio de Janeiro, Brasília, Norte ou Nordeste. No basquetebol, como a
sede é aqui no Rio de Janeiro, fazemos quatro reuniões setoriais técnicas: Norte,
Nordeste, Centro-Oeste e Sul, onde reunimos em cada região os presidentes para
tratarmos dos assuntos da região, como V.Exas. estão fazendo aqui hoje.
Realizamos 16 campeonatos brasileiros de base, masculino e feminino, de 16 a 18
anos, de seleções estaduais e, nesses campeonatos, também regionais, reunimos
os presidentes de cada região e fazemos mais reuniões, onde discutimos assuntos
sobre basquetebol brasileiro, além de uma assembléia geral que é realizada na
sede.
Portanto, o melhor lugar é onde a sede está localizada. Agora, para comandar
o basquetebol temos de visitar todas as regiões e fazer essas reuniões, para saber o
que está acontecendo e procurar resolver todos os problemas.
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Por último, em relação à Lei Piva, Deputados Agnelo Queiroz e Gilmar
Machado, é importantíssimo que V.Exas. façam com que ela seja cada vez mais
firme, mais segura para nós — não sei quais são os termos mais corretos. Essa lei
nos proporcionou um mínimo de segurança para realizarmos projetos olímpicos e
mundiais que vão desde os campeonatos de base até a seleção nacional. Graças a
esses recursos, estamos preparando nossas seleções que disputarão os próximos
mundiais ainda este ano.
É muito importante que tudo o que for feito possa ter esse pragmatismo, e
possa realmente funcionar. Ora, nós trabalhamos, os senhores também trabalham,
então, tem de existir essa correlação para que possamos ter liberdade.
Por último, a Lei de Incentivos Fiscais, de que tanto falamos. Não sei quando
ela será cumprida. Na última fez que estivemos com o Presidente da República, até
com os atletas, os dirigentes, inclusive o nosso Secretário estava junto, a palavra era
uma só: “cultura”. Mas existe mais uma palavra: “esporte”. Poderíamos utilizar a
sobra dos recursos destinados à cultura. Porque os recursos da Lei Piva —
Deputados Agnelo Queiroz e Gilmar Machado, se me permitem — não são
suficientes. Apesar de serem ótimos e bastante razoáveis, não são suficientes para
tocar todos os projetos olímpicos e mundiais.
Essa é uma pequena e singela contribuição do basquetebol. Volto a dizer, a
presença dos senhores aqui nos engrandece muito. No cômputo geral, o documento
encaminhado pelo Comitê Olímpico, endossado e assinado por todos nós, contém a
amplitude dos nossos desejos.
Eram esses os itens que gostaria de enfatizar sobre o basquetebol.
Muito obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Concedo a palavra ao Sr.
Alaor Gaspar, Presidente da Confederação Brasileira de Tênis.
O SR. ALAOR GASPAR PINTO AZEVEDO – Realmente, é uma grande
honra essa oportunidade. Vou tentar ser breve, uma vez que todos já falaram
exaustivamente e com grande propriedade sobre os assuntos aqui tratados.
Vou ater-me a dois pontos. Primeiro, o financiamento do esporte.
Quando tive oportunidade de conversar com o Deputado Eurico Miranda,
mostrei a ele algumas discrepâncias nos orçamentos do País justamente em relação
ao esporte. Se for analisado o Orçamento como um todo, 380 são destinados ao
esporte brasileiro. Pode até parecer um valor importante para o esporte, mas este
dinheiro vai para uma série de áreas de suma importância, e acaba reduzindo a 4,
10, 11 ou 15 milhões, o que é absolutamente ridículo para um país com o porte do
Brasil.
Quando se compara orçamentos, não se pode incluir o orçamento da
Inglaterra, da França, dos Estados Unidos, lugares onde a renda per capita é até
dez vezes maior do que a do Brasil. Temos que comparar o orçamento do Brasil
com o orçamento de um país cuja renda per capita seja igual a nossa. Como ocorre
na saúde. Aliás, abro um parêntesis. Gastamos o dobro do que deveríamos gastar.
Já está em quase 10% do PIB, quando não se podia gastar mais que 5%. Portanto,
o dinheiro existe.
Esta Comissão de altíssimo nível está preocupada com o esporte. Talvez
nunca tenha havido na história deste País tantos Deputados interessados no
assunto. Aqui mesmo tem um projeto com dois outros apensados, e um deles está
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sendo discutido. Quer dizer, ninguém pára para escrever sem analisar, até para não
cair no ridículo, porque não passa nas diversas Comissões do Congresso Nacional.
Creio ser esse o momento de se discutir seriamente o financiamento do
esporte.
Até para responder à opinião pública, há um ano e meio, o Comitê Olímpico
Brasileiro nos pediu — e todas as Confederações fizeram o exercício — um
planejamento exaustivo. No caso do tênis de mesa foram centenas de páginas. O
Dr. Nuzman quando levou o documento pagou excesso de peso, porque foram mais
de 240 quilos de documentos. Mas que se perdeu.
Penso ser este o momento de discutirmos o assunto, já que este é o último
ano de mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso. S.Exa. está saindo, não
vai voltar mais, pelo menos no próximo mandato. A fórmula é muito simples, basta o
Secretário da Receita Federal querer. Só de Imposto de Renda das loterias pagam-
se 30%, de 2 bilhões e 500 milhões. São 750 milhões de reais vindos de pessoas
que apostam em jogos. Quer dizer, reduziu-se de 240 milhões para o orçamento
original. Pediu-se — o Lars Grael pode esclarecer melhor quem fez o pedido —,
enxugou-se um pouco e chegou-se a algo em torno de 100 milhões, que seria
realmente quase o ideal do esporte brasileiro. O ideal seria 200 milhões. Isso de
forma fiscalizada.
Outro aspecto importante. O Ministério do Esporte deveria ter uma conotação
diferente dos outros Ministérios. O esporte envolve todos os Ministérios. Saúde, por
exemplo. Nada mais importante que o esporte para diminuir tabagismo, droga etc..
Por que não — agora que o Ministro Serra saiu; com S.Exa. era tudo difícil —
negociar que uma parcela dos mais de 20 bilhões aplicados na saúde possa ir para
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programa esportivo de prevenção? Existe espaço. O esporte tem a ver com o
desenvolvimento da indústria e do comércio, com a educação, com relações
exteriores, com segurança, com as Fazendas estaduais. Este é o momento se reunir
forças — esta Comissão juntamente com o Comitê Olímpico Brasileiro, com o Lars
Grael e com as pessoas mais importantes.
Vivemos um momento de eleição que, falando francamente, serve para
conquistar mais votos. Em última análise, essa é uma das funções do Deputado:
conquistar apoio público por meio das suas palestras, dos seus trabalhos. Por que
não neste momento mudar até a característica da LDO? Por que não tirar um pouco
de cada Ministério para o esporte para aumentar esse bolo?
Essa é a minha sugestão, é o momento de aprofundarmos as discussões
sobre o financiamento do esporte. Aureliano Chaves já dizia: “prevenir é pôr dinheiro
naquilo que a gente gasta para evitar. Todo o resto é besteira”.
Finalmente, penso que está havendo grande confusão a respeito do mandato,
porque se está analisando as confederações como órgãos executivos. Toda
limitação de mandato deve ser feita em relação a órgãos executivos, porque se
deixar, chega a um ponto tal que se compra a eleição. As confederações têm função
executiva — claro, elas executam recursos —, mas elas têm função muito mais
legislativa. Ou seja, um Deputado de primeiro mandato dificilmente vai conquistar
algo. Há termos cunhados por vocês mesmos, como os “bagrinhos”, pessoas que
passam por lá. Alguns até desistem, como o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, que achou
que a atividade parlamentar era tão difícil que não quis ficar ali. Mas há todo um
trabalho de conquista: chega-se ao Presidentes de Comissão e até ao Presidente da
Câmara. E dali são alçados outros vôos.
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As confederações têm função executiva, mas têm muito mais função
legislativa. Todo mundo sabe como é difícil ser presidente de uma confederação
mundial de qualquer esporte; como é difícil ganhar um campeonato mundial. O Dr.
Nuzman está participando diretamente. É dificílimo conquistar não um cargo
internacional, mas um evento mundial pagando tudo. A olimpíada está aí. Como é
difícil!
A confusão é a seguinte: essa limitação de mandatos é para cargos
executivos. Aliás, vai terminar, e eu também sou contra isso. Contem os
Governadores e Prefeitos excelentes que estão saindo. A Federação também tem
envolvimento com clubes; ela quer dar um salto, quer ser a primeira numa
confederação. O presidente de uma confederação quer ser presidente da
Confederação Sul-Americana. É a primeira etapa. Depois, de uma Pan-Americana,
como é o caso do Manuel, presidente da Confederação Pan-Americana de
Handebol, ganhando votos dos Estados Unidos, Canadá e Cuba, que investem
centenas de vezes mais do que nós no esporte.
Assim, essa confusão está havendo porque as entidades não são executivas
simplesmente. O papel é misto: executivo e legislativo. Nenhum Deputado jamais vai
ser limitado. Aliás, analisem a legislação de outros países para ver se existe isso
entre os 220 países que compõem o Comitê Internacional. Se tiver mais de 10%
com essa cláusula absurda, é muito. Será que os outros 90% estão errados, ou
estamos descobrindo o novo ovo de Colombo?
É importante haver controle, auditorias, demonstrações de resultados de
forma pública. É como perguntou o Eurico: “Quantos filiados têm? Quais são os
resultados?” Ali vai-se descobrir. É muito mais simples. O Presidente não vai
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enganar ninguém, ainda mais vocês que têm enorme experiência. Acho que existem
outros caminhos para se limitar trabalhos.
Quero parabenizar todos os senhores. Acredito que todas as confederações
deveriam enviar e-mails e telegramas à Presidência da Câmara, cumprimentando
esta Comissão, pedindo mais força a ela. Isso eu farei. E vocês, já que estão com a
mão na massa, já que conhecem esse assunto, por que não avançar um pouco mais
e discutirmos a questão do financiamento de forma séria, como de fato merece?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Vou fazer uma
interrupção nessa seqüência para conceder a palavra ao Deputado Alex Canziani.
S.Exa. é o Relator de uma medida provisória que poderá ser votada hoje, e tem um
compromisso em Brasília.
As medidas provisórias, como todos sabem, desde o ano passado, obstruem
as votações. Todas as vezes em que a medida provisória esgota seu período de
vigência, é preciso ser votada.
Antes de conceder a palavra a S.Exa., esta Presidência quer agradecer a
todos a presença. Reforçamos todos os discursos aqui proferidos. Na verdade, isso
significa que estamos fazendo nosso trabalho. Foi muito importante contar hoje com
um quorum de quase 70%.
Concedo a palavra ao Deputado Alex Canziani.
(Falha na gravação. Não há seqüência no texto.)
O SR. DEPUTADO ALEX CANZIANI – (Falha na gravação.) ...apesar do
pouco tempo em função da possível votação de medidas provisórias esta tarde em
Brasília, teremos que ir para o aeroporto. Mas a simples vinda aqui já fez com que
mudassem conceitos que tínhamos firmado em conversa com o próprio Deputado
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Agnelo Queiroz e que, com certeza, vão poder viabilizar as votações na Comissão e
no plenário.
Acredito que tudo o que está sendo dito aqui é de grande importância e, com
certeza, todos os outros Deputados, a Presidência e a própria Relatoria da
Comissão vão poder assimilar o que os senhores estão nos passando.
É uma honra para mim, como Deputado Federal do Paraná, juntamente com
os demais Deputados, ouvi-los.
Em homenagem ao belo Estado do Rio de Janeiro, muito especialmente a
esta cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, gostaria de citar o soneto de um
conterrâneo seu, Deputado Eurico Miranda, que serve de exemplo para os senhores
que estão aqui. O soneto chama-se “Economia”. E não me economizo, Sr.
Presidente, de citá-lo, porque cabe muito bem aqui. Diz o seguinte:
“Dá de ti !
Dá de ti o quanto puderes.
O talento, a energia, o coração !
Dá de ti para os homens e as mulheres,
Como as árvores dão e as fontes dão.
Não apenas o sapato que não queres
E a capa que não usas no verão;
Dar tudo o que fores e tiveres:
O talento, a energia, o coração !
Darás sem refletir, sem ser notado,
De modo que ninguém diga obrigado
Nem te deva dinheiro ou gratidão
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E com que espanto notarás, um dia,
Que viveste fazendo economia
De talento, energia e coração.”
Deixo, então, a todos os senhores aqui presentes os meus cumprimentos, a
minha solidariedade e, acima de tudo, o meu respeito por aquilo que jamais
economizam: os seus talentos, energias e corações em prol do esporte nacional.
Parabéns a todos. Foi um privilégio poder estar aqui com os senhores.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Deputado
Alex Canziani. Tenha uma boa viagem.
Cada vez mais V.Exa. me surpreende. Já o conhecia pelo talento de grande
orador, aglutinador e como o grande Presidente que foi da Comissão de Turismo, à
qual hoje também sirvo com a mesma dedicação. Admiro a veia lírica de V.Exa. que
nos permitiu usufruir deste momento.
Passo a palavra ao Sr. Paulo Wanderley, Presidente da Confederação de
Judô.
O SR. PAULO WANDERLEY TEIXEIRA – Sr. Presidente, permita-me tecer
pequenas considerações a respeito do judô nacional.
São 26 federações filiadas, faltando apenas o Estado de Tocantins, que,
acredito, fará sua filiação este ano. São 1.100 clubes catalogados na Confederação
Brasileira de Judô. Estamos em processo de recadastramento dos atletas e já
chegamos à ordem de cem mil atletas federados e cadastrados por meio de mala
direta.
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O judô está sendo praticado, na sua maioria, por atletas de 7 a 14 anos, nas
escolas, notadamente dos Estados de Santa Catarina, Distrito Federal, Pernambuco,
Alagoas e Amazonas. Esses Estados dão grande ênfase ao judô.
Aproveito a oportunidade para agradecer pessoalmente ao Deputado Agnelo
Queiroz, pela Lei Piva, que possibilitou ao judô brasileiro uma excursão para a
Europa, este ano, em cinco competições realizadas na França, Áustria, República
Tcheca, Polônia e Roma. Hoje está seguindo para Túnis, na Tunísia, para a sexta
competição, graças aos recursos da Lei Piva. E nesse percurso de competições
conquistamos vinte medalhas, sendo seis de ouro, oito de prata e seis de bronze.
Queria fazer um comentário a respeito da fixação de mandato por reeleição.
O judô brasileiro é um exemplo claro em relação ao mandato repetitivo. Todos
sabem muito bem da trajetória da antiga administração que findou em março de
2001, quando assumi a Confederação. Foram 22 anos, de 1979 a 2001, mas
durante esse período, só se falou de uma pessoa. No entanto, foram quatro
presidentes. Mas quem mandava era apenas um, que, no final, não era nem mais
presidente da entidade. Limitar mandato para retirar as pessoas que estão no
comando não funciona, porque não deu certo no judô. Nesses 22 anos, foram quatro
presidentes, mas uma única pessoa mandou até o final, mesmo só tendo exercido o
mandato por uma vez. Então limitar o número de mandatos em reeleição em função
da pessoa que está comandando não deve acontecer, e a prova está no judô.
Gostaria de apresentar uma sugestão que trouxemos por escrito. E é
pertinente inclusive ao assunto que abriu a nossa audiência hoje, que envolve a
questão do pagamento aos atletas e como não vincular esse pagamento à lei
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trabalhista. Essa é uma sugestão da Confederação Brasileira de Judô, por
intermédio de sua assessoria jurídica, que passo às mãos agora do Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Passo a palavra ao Dr.
Carlos Osório, membro do Comitê Olímpico Brasileiro.
O SR. CARLOS OSÓRIO DE ALMEIDA – Sr. Presidente, não vou perder
tempo em elogiar os membros da Comissão, porque já foram merecidamente
enaltecidos pelo trabalho que vêm realizando.
Vou fazer apenas algumas observações do ponto de vista jurídico da
experiência que tive como membro do Conselho Nacional de Esportes, por vinte
anos, como diretor jurídico do Comitê Olímpico Brasileiro, por quinze anos, e como
diretor jurídico da antiga CBD, hoje CBF, por dezenove anos. Essas observações
que vou fazer não são críticas, mas apenas uma colaboração para aperfeiçoamento
do projeto que V.Exas. estão tratando.
Preliminarmente, entendo que é preciso haver uniformização de linguagem no
texto. A Constituição brasileira usa, no art. 5º, inciso XXVIII, alínea “a”; no art. 24,
inciso IX; no Título VIII, Capítulo III, Seção III, art. 217; nos incisos I, II e III desse
artigo e nos § 1º e 2º desse artigo a expressão “desportiva”. E a lei que está aí ora
fala em esportiva, ora desportiva.
Então as palavras “desportes” e “desportiva” estão constitucionalizadas e são
um nome juris que a Constituição brasileira adotou. Para dar um exemplo, antes da
Constituição de 88, os Tribunais de Justiça, em alguns Estados, eram chamados de
Corte de Justiça, Corte de Recurso, Tribunal de Justiça. Veio a Constituição e os
transformou em órgãos do Poder Judiciário, ou Tribunais de Justiça dos Estados.
Então, se a Constituição disse que o nome era Tribunal de Justiça dos Estados, não
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pode uma lei ordinária do Estado dar nome diferente do que a Constituição dá. Essa
é a primeira observação que faço — e isso vem de leis anteriores, como a Lei Zico e
Lei Pelé.
Já em 1914, foi fundada a Confederação Brasileira com o nome de
“desportos”. Em 1941, foi fundado o Conselho Nacional de Desportos. Toda a
legislação, nessas confederações, são de desportos. E a Constituição já falava
assim. Quem examinou melhor esse assunto foi o falecido Ministro João Lyra Filho
em seu livro “Introdução ao Direito Desportivo”. Então acho que a lei deveria
uniformizar e usar o termo “desportos” em todos os textos.
Se bem que o projeto apresentado pelos senhores já melhorou muito. Fala
em quase todo o texto em “desportos”, mas em alguns textos, ainda fala em
“esporte” e “esportivo”.
Pela atual Constituição também foi criada, pela primeira vez, a competência
concorrente da União, Estados e Municípios para legislarem sobre desportes.
Antigamente, nas Constituições anteriores, de 69 e 67, a competência era privativa
da União. A competência privativa é aquela que é indelegável. Agora, botou-se
competência concorrente. Quando no mundo inteiro se procura uniformizar a
legislação esportiva, no que se refere ao Comitê Olímpico e á Federação
Internacional, o Brasil admite que cada Estado faça legislação desportiva diferente
do outro.
Felizmente, um dos parágrafos do artigo — se não me engano, art. 23 —
determinou que, quando a norma federal tem caráter de norma geral, ficam
revogadas todas as disposições estaduais em contrário, e o Estado não pode
legislar, contrariando aquela norma geral. Vejam V.Exas. a importância de se fazer
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uma lei de normas gerais, conforme a que V.Exas. estão fazendo. Se a lei de
normas gerais não for totalmente abrangente, tudo aquilo que não estiver nela
poderá ser legislado pelos Estados. E teremos uma multiplicidade de legislações
esportivas, com alto prejuízo para o desporto brasileiro.
A segunda observação é quanto à redação que V.Exas. deram ao art. 74 do
direito de arena. Corrigiram vários erros da legislação anterior, mas, ainda assim, a
redação, permitam-me, data venia, é defeituosa, e vou dizer por quê. A primeira lei
que estabeleceu o direito de arena foi a lei de direito autoral, assim como em 1L988,
que era de 1973, anterior à atual Constituição. Acontece que o direito autoral é
matéria de Direito Civil, porque o direito autoral é regulado no Tratado Internacional
de Berna. O direito de arena poderia ser, quando muito, considerado direito conexo,
como é o direito do intérprete. Um pianista, quando toca uma música de Chopin, não
é o seu autor, mas o intérprete. A isso se chama de direito conexo, regulado pela
Convenção de Roma, que tem disposições diferentes. Acontece que a lei de direito
autoral foi expressamente revogada pela nova lei de direito autoral, Lei nº 1.610, de
1988. Portanto, apenas na lei esportiva é que vão constar normas e disposições
sobre direito de arena. É preciso dar muita atenção à redação sobre direito de arena,
porque foi revogada toda a legislação de direito autoral, ficando só na legislação
esportiva.
Qual é a correção? A Lei Pelé e a Lei Zico diziam não ser proibido usar três
minutos para a chamada reportagem “Gol da Rodada”. Veio a Lei Pelé e mudou
isso. Em vez de três minutos, estipulou 3% do tempo da competição. Ora, é fácil
calcular 3% de 90 minutos, tempo de duração de uma partida de futebol. Mas o que
representam 3% em uma competição de atletismo, de remo, de natação, de vela? É
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impossível calcular seu término. O projeto de V.Exas. corrigiu, voltando a ser de três
minutos. Mas o caput do projeto, a meu ver, tem uma inconveniência. O direito de
imagem, hoje, é assegurado pela Confederação Brasileira no art. 5º. Inclusive é
cláusula pétrea, não podendo ser mudado nem por emenda constitucional.
Pela redação que V.Exas. estão dando ao art. 74, só tem direito de permitir ou
de proibir a transmissão de uma competição, via cinematográfica, ou de rádio ou de
televisão, a entidade de prática desportiva. Ora, entidade de prática desportiva, pela
sistemática da legislação anterior de V.Exas., é o clube. Quando é uma competição
feita pelo Comitê Olímpico Brasileiro ou por uma confederação, ela não representa
uma entidade de prática desportiva. Mas ela deve ter o direito de permitir ou impedir.
Não se pode usar o direito de imagem à revelia da entidade que está organizando a
competição.
O caput do art. 74 deveria mudar a redação atual “entidade de prática
desportiva” para a redação antiga “entidade desportiva de direção da competição”. É
ela que permite ou proíbe. É claro que no caso de um jogo entre dois clubes, como o
Vasco e o Flamengo, cabe ao clube de entidade de prática desportiva permitir ou
não. Mas, no jogo da Seleção Brasileira, qual é o clube que vai ou não permitir? É
complicado. Daí a necessidade de se corrigir a redação.
Outro problema importante é porque foi revogado em tópicos, expressamente.
V.Exas. sabem que, pela Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro, que regula o
direito intertemporal, a lei se revoga quando expressamente declarem, quando é
incompatível com a legislação anterior ou quando regula inteiramente a legislação
objeto da lei anterior. Se eu faço um novo código penal, não preciso dizer que fica
revogada a anterior, porque está automaticamente revogada. Mas a Lei nº 6.251,
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que era a Lei de Normas Gerais sobre os Desportos, foi expressamente revogada
pela Lei Pelé. A Lei nº 6.251 estabelecia duas exceções à lei geral: uma dizia que o
turfe continuava a ser regulado por lei própria. É claro que o turfe não tem clube, não
tem entidade nacional. E, segundo, não pode ter justiça desportiva, como têm os
clubes comuns. Imaginem V.Exas. uma cumulada correr um páreo se a comissão de
corrida não tiver o poder decisório irrecorrível de decidir quem ganhou o páreo, o
apostador iria esperar dois meses a decisão da justiça desportiva. Então, a lei,
sabiamente, diz que o turfe é sujeito à legislação própria. A atual lei, no projeto de
V.Exas., silenciou. É preciso repetir no projeto que o turfe tem legislação própria. E,
também, pela definição do que é o esporte, que tem, doutrinariamente, quatro
características: a primeira, ser atividade física; a segunda, ser praticado segundo
normas internacionais ou nacionais estabelecidas; terceira, ter caráter competitivo,
quer dizer, agnóstico; a quarta, ter caráter definitivo, que é ter arbitragem. Quem
está nadando na praia de Copacabana está fazendo natação, mas não natação em
competição, porque lá não há árbitro para decidir se, na virada dos cinqüenta
metros, o sujeito bateu na borda com as duas mãos ou não, e se deve ser
desclassificado. Isso é importante.
A Lei nº 6.251, por tradição milenar, que é o xadrez, vinculado ao Comitê
Olímpico Brasileiro, adotou o seguinte: equipara-se a desporto o xadrez. Ou seja, a
lei de V.Exas. teria que manter essa equiparação. Senão, por definição, o xadrez
não será considerado esporte.
Darei um exemplo, nada é mais móvel do que um navio, pois ela anda para lá
e para cá. Portanto, ele não é imóvel. No entanto, a lei da Hipoteca Naval, marítima,
dado o valor financeiro de um navio, estabeleceu que, para efeito de hipoteca, o
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navio é considerado bem imóvel. É uma disposição legal. Então, para efeito desta lei
desportiva, é preciso manter que o xadrez seja considerado desporto. Senão, o
xadrez não mais integrará o mundo desportivo brasileiro, que é uma tradição
milenar.
Outro aspecto me parece omissão. A lei não tem nenhuma disposição, como
já não tinha anteriormente à Lei nº 6.251, sobre os terrenos de marinha, que, como
V.Exas. sabem, são importantíssimos para os clubes náuticos. São terrenos que
ficam a partir da linha de preamar média, do ano de 1.854. Quando se faz um aterro
fronteiro, é chamado acrescido de marinha, o outro aterro é chamado de acrescido
de acrescido. Pela legislação, em 1946, do tempo de Getúlio Vargas, a lei que
organizou e está em vigor até hoje, sobre terrenos de marinha, estabeleceu que
quando houvesse um aterro fronteiro aos clubes náuticos eles teriam preferência
para a ocupação do terreno. E foi o que aconteceu na Praia de Botafogo, com
Guanabara, etc. Seria um absurdo a Prefeitura fazer um aterro fronteiro ao clube
náutico e o clube náutico não ter acesso ao mar, pois desapareceria.
No projeto da Lei nº 6.251 havia um capítulo inteiro sobre terrenos de marinha
em relação aos clubes náuticos. À época do Ministro Jarbas Passarinho, que era o
Ministro da Educação, a quem era vinculada a área de esporte, com terreno de
marinha, matéria regulada — todos pensam que a marinha tem a ver com a Marinha
brasileira, tem a ver com o Ministério da Fazenda; o terreno é de marinha e não da
Marinha — pela Superintendência do Patrimônio da União, que hoje se chama
Secretaria de Patrimônio da União. É preciso que haja uma discussão no sentido de
proteger os clubes náuticos no caso de aterros fronteiros à área em todo esse litoral
brasileiro.
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Em relação à Justiça Desportiva, parece-me que a lei não é muito clara. Em
primeiro lugar, ela determina que os códigos da Justiça Desportiva sejam elaborados
pela Comissão Nacional de Esportes. Sobre a composição, o nosso Lars Grael
alertou que ela não é boa. A comissão é constituída basicamente pelo Secretário
Executivo dos Ministérios. Ora, todos sabem que o homem mais ocupado do
Ministério é o Secretário Executivo. Um conselho nacional de esportes constituído
pelo Secretário Executivo do Ministério do Exterior, do Ministério da Fazenda, do
Ministério da Educação, do Ministério da Saúde não funcionará nunca, muito menos
para elaborar código esportivo.
Outra característica que citarei é sobre o Código de Justiça Desportiva. Todo
código, como os Códigos Penal, Civil ou Comercial, regula matéria de direito
substantivo. Os Códigos de Processo Civil e Penal regulam matéria de direito
objetivo e o Código de Organização Judiciária regula a organização dos órgãos da
justiça. São três legislações diferentes. Mas na justiça desportiva esses três
assuntos são englobados no mesmo Código de Justiça Desportiva: o direito
substantivo, as penalidades; o direito adjetivo, as regras de processo; e a estrutura
da organização judiciária nos tribunais. Pois bem, na atual legislação, se houver
sessenta modalidades esportivas, permite-se que haja sessenta códigos desportivos
diferentes. Seria uma loucura clubes como o Flamengo ou como o Vasco, que
praticam mais de vinte esportes, lidar com vinte códigos diferentes.
Então, deve-se votar um regime anterior, que é o seguinte: a parte geral do
código — a estrutura da justiça, a composição desses órgãos, os tipos de recursos,
hierárquicos, jurisdicionais e os prazos para os recursos — deve ser uniforme em
todos os códigos. O que pode variar é a parte de penalidades e de infrações, que
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não são iguais. Darei um exemplo: se um jogador de basquete ou de voleibol for
suspenso por quatro jogos, geralmente ficará duas semanas sem jogar. Se um
remador for suspenso por quatro regatas, ficará um ano sem remar. Há casos em
que o indivíduo fica três horas sem jogar. Ou seja, a parte de infrações e de
penalidades é que poderá variar de uma modalidade para outra. Deve haver um
código na sua estrutura, com tipos de recursos e prazos para os recursos, mas nas
penalidades, infrações e penas é que pode variar. Senão, será muito difícil funcionar
tendo de aplicar sessenta códigos diferentes.
Quanto ao que foi levantado aqui, do conceito de atleta profissional e
desporto profissional, é matéria complexa, porque envolve matéria de direito do
trabalho, que é da competência da União, fugindo um pouco da classificação
puramente dos meios desportivos. A CLT definiu nos arts. 1º e 2º quem é
empregador e empregado. Também a justiça desportiva considera que o sujeito é
empregado. Uma coisa é ser profissional, outra é ter vínculo empregatício. Inclusive,
o projeto de V.Exas. cria a figura do atleta autônomo. Não sei bem, mas calculo que
seja o boxe. Essa foi uma idéia antiga do Professor Manoel Tubino, porque o boxe
tem um contrato todo especial. Ele recebe aquelas luvas e paga os seus sparrings,
os treinadores. O mesmo não ocorre com o jogador de futebol, que recebe a
totalidade do salário mensal. Talvez isso é que pretenderam ser o atleta autônomo.
Mas é preciso definir o que é esse atleta autônomo.
Um dos caminhos para parcialmente resolver o problema é considerar o
seguinte: primeiro, só é considerado desporto profissional e atleta profissional
aquele cuja modalidade seja profissão regulamentada. Temos aproximadamente
trinta profissões regulamentadas. No esporte só há uma: o futebol, que é
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regulamentado pela Lei nº 6.354. Este tem contrato típico, que o sujeito não pode
variar, com número determinado de cópias — uma vai para a confederação, outra
para a federação, etc. Agora, um jogador de voleibol, de basquete e outros, se tiver
um contrato inscrito com entidade dele e for verificada a subordinação de emprego,
o seu trabalho certamente reconhecerá o vínculo empregatício, o que arrebentará o
esporte olímpico brasileiro.
Inicialmente, a lei anterior dizia o seguinte: “São admitidos à prática de
esportes os seguintes esportes: boxe, pugilismo, motociclismo”, etc. Cerca de quatro
ou cinco modalidades. Dali para a frente, para uma modalidade passar a ser
profissional, precisará se aprovada pelo Conselho Nacional de Esporte, que é o
atual Conselho de Esporte. Atualmente, pode-se resolver fazer uma modalidade
profissional e incluir previamente em entidade diferente. O Presidente Nuzman sabe
disso. Recentemente, no Comitê Olímpico, tivemos o caso do golfe. Temos a
Confederação de Golfe, mas agora foi criada a Confederação de Golfe Profissional,
o que gera um problema complicado. Agora, não há lei regulando a profissão de
golfista profissional, ou de pugilista profissional. É preciso que se estabeleça que só
pode ser considerado legalmente profissional aquele que tem em lei atividade
regulamentada. E que façam a lei.
Desculpem-me, não estou censurando, quero apenas colaborar. Outro erro é
que se fez uma lei para o treinador de futebol profissional. Ora, por que uma lei para
o treinador profissional de futebol, quando temos 64 modalidades de esportes?
Então, terá que ser feita uma lei para cada treinador, como o de voleibol? Deve-se
fazer uma lei para treinador desportivo? A lei deve regulamentar as normas que
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deve seguir o treinador desportivo, e não uma lei para cada modalidade de esporte?
Isso me parece verdadeiro absurdo.
Em relação aos recursos financeiros, não preciso elogiar a Lei Piva, afinal
todos a elogiaram e estão de acordo. Por que foi possível passar a Lei Piva no
Congresso Nacional? Porque os recursos não saíam do Tesouro Nacional. Para
quem não sabe, os 2% saem do prêmio. O apostador que ganha um prêmio de 4
milhões, na realidade, ganhará o prêmio menos 2%. O Tesouro Nacional, a Receita
Federal não perdeu nada. Mas a Lei Piva só dá dinheiro para esporte olímpico,
colegial, universitário. Temos cerca de quarenta modalidades, inclusive 22 estão
vinculadas ao Comitê Olímpico, que não são esportes olímpicos. Esporte olímpico,
pela carta olímpica, é aquele que integra o programa dos jogos olímpicos. Qual a
solução? Essas entidades de esportes não olímpicos tiveram reunião com o ex-
Ministro e reclamaram. A solução que darei é a seguinte: passar de 2% para 3%,
sendo 1% para os desportos não olímpicos. Os desportos olímpicos têm 2%. Então,
o apostador, em vez de ganhar menos 2%, ganhará menos 3% na sua aposta. Mas
haverá 1% para sustentar essas quarenta entidades não olímpicas.
Vejam V.Exas.: as entidades de esportes não olímpicas são importantíssimas.
O golfe, um dos esportes mais importantes do mundo, não é olímpico; o futebol de
salão, cujo campeão do mundo é o Brasil, não é esporte olímpico; a pesca, a caça
submarina, enfim, existem cerca de quarenta esportes não olímpicos. Talvez a
Receita Federal teria de ser consultada. Ela não deve se opor, porque esse valor
não sairá da Receita Federal. E não sairá de nenhum tributo. Apenas diminuirá um
pouco o prêmio do apostador. Mas seria uma maneira de poder financiar os
desportos não olímpicos..
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) - Por favor, Dr. Carlos
Osório de Almeida, peço a V.Sa. que nos encaminhe por escrito essas propostas,
aliás, todas pertinentes. Nem sempre conseguimos captar todas elas, mesmo
estando atentos.
O SR. CARLOS OSÓRIO DE ALMEIDA – O Presidente Nuzman nomeou
uma comissão dentro do Comitê Olímpico Brasileiro, constituída pelo Diretor
Jurídico, para apresentar a próxima proposta por escrito a V.Exas. sobre esse
projeto de lei.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) - Não estou caçando a
palavra de V.Sa., apenas estou pedindo licença.
O Deputado Eurípedes Miranda precisa retirar-se da Comissão porque tem
um compromisso em Brasília.
O SR. CARLOS OSÓRIO DE ALMEIDA - Posteriormente remeteremos por
escrito a V.Exas.
Outro problema muito sério é o de poder competir no Brasil com passaporte
de turista. Isto está acontecendo em várias modalidades desportivas. O sujeito
chega no Brasil sexta-feira, com passaporte de turista, e, sem se transferir para uma
entidade brasileira, compete no domingo, ganha um cachê e vai embora na
segunda-feira. Então, é preciso colocar expressamente na lei que o sujeito com
passaporte de turista não pode competir no Brasil.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) - Não pode trabalhar com
passaporte de turista.
O SR. CARLOS OSÓRIO DE ALMEIDA - Não só trabalhar. Pode ser um
esporte, mas ele trabalha. Ele vem nadar ou jogar aqui. O turista não pode fazer
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nada aqui a não ser turismo. Ele não poderá participar de nenhuma atividade
lucrativa ou não lucrativa.
A lei também é inteiramente omissa no seguinte caso: não há dispositivo
sobre transferência de atleta. É preciso que a lei estabeleça que a competência para
estabelecer normas de transferência de atletas seja das respectivas confederações,
observada a legislação das entidades internacionais. Deve haver estágio. Não pode
o sujeito chegar aqui e, na mesma semana, disputar por três clubes diferentes. Muda
de clube de um dia para o outro e vai competir pelo outro clube. Não há estágio, não
há transferência, não há coisa alguma. Essa matéria era regulada na antiga
Deliberação nº 5, do CND, que foi revogada.
Há ainda uma porção de outros assuntos — não vou mais tomar o tempo de
V.Exas. — que devem ser apreciados.
Um exemplo é o projeto do Código Penal, do ano 1940, que há vinte anos
está em elaboração no Congresso Nacional. Fez-se um projeto criando o crime de
fraude em competição esportiva, que é um velho princípio: não há crime sem lei
anterior que o defina e não há pena sem prévia cominação legal. Não há crime no
Brasil de fraude esportiva. Se o sujeito praticar uma fraude na competição, isso não
configurará crime algum.
O Senador Acioly, da Bahia, na ocasião — que, por sinal, era um bom
penalista —, deu parecer contrário e o projeto, feito pelo Dr. Evaristo de Morais, foi
arquivado. Então, é preciso criar a figura de fraude em competição desportiva. Não é
possível o sujeito fraudar uma competição desportiva e não ser punido.
Há mais uma série de outras emendas que, oportunamente, o Comitê terá o
prazer de encaminhar a V.Exas.
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Só mais um detalhe, Excelências, importante. A lei cita, em várias partes, no
sistema desportivo federal, nacional e brasileiro. Isso resulta de um equívoco. Qual a
diferença entre a lei federal e a lei nacional? A lei federal, assim como a lei nacional,
são de elaboração do Congresso Nacional. O Código Penal vale para o País todo,
assim como o Código Civil. Mas se o Congresso Nacional vota um crédito para
construir uma ponte em Brasília ou no território do Acre, esta será uma lei federal,
mas não uma lei nacional. O projeto, aqui, mistura, cria um sistema nacional, um
sistema federal e um sistema brasileiro de desporto, causando confusão tremenda.
E há uma série de outras inconveniências que precisam ser corrigidas.
Parabéns pelo projeto. No seu conjunto ele é muito bom. Na intenção de criar
um projeto remodelando a Lei Zico e a Lei Pelé, V.Exas. estão de parabéns.
Muito obrigado pela atenção.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Dr. Carlos
Osório de Almeida. As observações de V.Exa. são pertinentes. O Deputado Eurico
Miranda também tem um compromisso em Brasília. Quero homenagear, como fiz
com o Deputado Alex Canziani, o Deputado Eurico Miranda pelo excelente trabalho.
Muito obrigado, Deputado Eurico Miranda. Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA - V.Exas. tiveram uma rara
oportunidade. O desempenho de todos foi muito bom. Como sou do meio, sinto a
necessidade de transmitir, àqueles que se propuseram a nos ajudar, os problemas
que enfrentamos diariamente. Estão todos de parabéns. Vamos conseguir fazer
alguma coisa que sirva para todos. O Nuzman está conduzindo muito bem seu
trabalho. Não se deve, de repente, estabelecer confronto. Deve haver uma divisão,
no caso do futebol, com outras modalidades. Nunca se deve partir para o confronto.
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Se assim agirmos, não chegaremos a lugar algum. Senti falta — e dela os
Deputados não se devem privar — da participação do Sr. Richer. S.Sa. tem muito a
contribuir. Conheço bem sua trajetória. Ele deveria manifestar-se dando algumas
sugestões com relação ao que aconteceu.
O Osório falou o que acontece diariamente. Muitos atletas vêm ao Brasil com
visto de turista. Temos de cuidar muito dos nossos atletas. Houve o caso de um que
foi seqüestrado, ou raptado, e, de repente, foi para os Estados Unidos tendo ainda
contrato conosco. Isso não deveria acontecer de forma alguma. As confederações
deveriam ter o poder de comunicar à Polícia Federal a saída ilegal do País. Nos
Estados Unidos, a pessoa não pode trabalhar com visto de turista. Então, ele foi
para lá fazer o quê? Não foi para passear, mas para trabalhar; ele é um menino de
19 anos de idade. Isso aconteceu no basquete e está atingindo o futebol. Então, o
atleta vai para fora e está resolvido o problema?
Não devemos cuidar apenas dos atletas que vêm ao Brasil, mas também
daqueles que aqui formamos. No caso desse meu atleta, ele mal sabia colocar a
bola na cesta. De repente, evoluiu dentro do trabalho que com ele foi realizado. Ele
não vai conseguir nada, vai voltar rapidamente, mas isso deve servir como exemplo
do que está acontecendo e que não está sendo denunciado. Os senhores têm
oportunidade de mostrar isso também.
Estou muito satisfeito de estar reunido aqui discutindo tão relevante assunto.
Os Deputados estão tendo oportunidade de sentir que a comunidade esportiva
pensa de forma homogênea, apesar de todas as diferenças que possam existir. Os
Deputados sairão daqui com esse sentimento.
Parabéns a todos! (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) - Obrigado, Deputado Eurico
Miranda. Espero que V.Exa. faça boa viagem.
Vou encerrar o período das inscrições e das contribuições do plenário e
passar para as conclusões. Pergunto ao Dr. André Richer, citado pelo Presidente do
Vasco, se gostaria de se manifestar.
O SR. ANDRÉ GUSTAVO RICHER - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
companheiros de Comitê Olímpico, vou tentar dizer tudo o que desejo em duas
palavras. Sou discípulo do Dr. Carlos Osório de Almeida, com quem trabalho há
anos e com quem muito aprendi, como advogado e companheiro: ele, como
timoneiro; eu, como remador. Ele é meu irmão. Tudo o que falou tem razão de ser,
além de nos prestar grande contribuição. Caso precise de qualquer coisa em seu
trabalho, pode contar com meu modesto conhecimento.
Estão de parabéns os Srs. Deputados que desejam elaborar uma lei
exeqüível para o desporto que vai somar alguma coisa para quem com ele lida no
dia-a-dia. Sabemos que não existe esporte sem atleta, mas também não teremos
atletas sem os administradores, os diretores e os presidentes das entidades.
Devemos realizar um trabalho das entidades, dos clubes praticantes e dos
atletas para engrandecimento do desporto brasileiro, tendo realmente o COB, como
disse o Cramer, sob o guarda-chuva do Comitê Olímpico Brasileiro. Os comitês do
mundo inteiro têm um código de ética que realmente tem engrandecido muito o
esporte mundial. Tanto é verdade que a primeira pergunta é se a modalidade é ou
não olímpica, ao que se dá muita ênfase. Esporte olímpico quer dizer esporte
extraordinário, acima da realidade. E hoje estamos falando do esporte olímpico.
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Também não nos podemos esquecer do esporte que não é olímpico. Daí o Dr.
Osório ter tido a boa lembrança de fazer alguma coisa para essa modalidade.
O Comitê do Brasil teve, em boa hora, a possibilidade de colocar embaixo de
seu guarda-chuva todos aqueles que existiam na época e que não são olímpicos,
como os vinculados. A diferença é que o filiado vota no plenário do Comitê e os
vinculados não votam, mas têm direito de palavra e vez junto ao Comitê Olímpico.
Parabenizo todos os Presidentes e o Dr. Nuzman, que, em boa hora, teve a
lembrança de convidar os Deputados para este debate.
Tudo o que os Srs. Deputados precisarem do Comitê Olímpico Brasileiro e
das Confederações, tenho certeza de que o terão com a melhor qualidade e a maior
seriedade possível. Portanto, estão todos de parabéns.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Obrigado, Dr. André
Richer.
Passo a palavra ao Presidente Carlos Nuzman para suas considerações finais
e, em seguida, ao nosso Relator, que certamente tem muito a dizer, mas o fará em
reunião ordinária na Câmara dos Deputados.
O SR. CARLOS ARTHUR NUZMAN - Obrigado, Sr. Presidente. Em primeiro
lugar, agradeço a todos a brilhante participação. É este um raro momento para a
democracia em que cada um pode externar seu sentimento, mostrar o que vislumbra
e o que tem de experiência no esporte no Brasil e no mundo. Agradeço muito ao
Richer pela participação conjunta em todos os trabalhos, à Comissão Jurídica e às
Confederações.
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Compartilho de tudo o que disse o Dr. Osório, com uma exceção: não
concordo em estender na Lei Piva percentual para quem não é do esporte olímpico.
Essa é minha opinião. Não sei o que o colegiado dirá amanhã. Creio que eles
devem ter verbas do Ministério do Esporte e da Secretaria Nacional de Esporte. Não
podemos misturar uma lei elaborada dentro da filosofia do olimpismo com quem não
está no programa dos jogos olímpicos.
Em segundo lugar, talvez eu tenha sido um dos primeiros a entusiasmar-se com a
idéia do Deputado Agnelo Queiroz a respeito da criação do bolsa-atleta. Poucas
vezes vi projeto de lei com regulamento pronto. Claro que agora, por outros motivos,
ele tem adquirido outra roupagem. Creio ser esse um dos mais importantes projetos
para o futuro do atleta brasileiro.
Concordo com o Dr. Osório. Temos de definir se é Conselho Nacional de
Desportos ou de Esportes. Está havendo um bate-bola: desporto para cá e esporte
para lá. Não estão querendo colocar desporto para não usar nome de órgão criado
numa administração que politicamente não era a ideal. Não é esse o caminho.
Aprovei a publicidade no esporte por quatro votos a três. Fui favorável ao voto
do Dr. Richer. Tenho longa experiência do CND. O saldo é positivo. Temos de
prestar atenção com o que estão pretendendo fazer os integrantes do Conselho ou o
que vão poder fazer ou desfazer no esporte brasileiro. Creio que cada segmento,
cada Confederação tem de cuidar da sua vida. Quem entende sabe o que é melhor.
Deixo esse alerta, pois tenho sido feroz resistente do que ouvi do Conselho. Tenho
sido franco, sincero e aberto com todos. Lars Grael é testemunha disso.
Espero podermos repetir o evento. Faltou falar de algo que não há no Brasil,
sendo este um dos países mais importantes no esporte: uma lei federal de controle
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de doping. Quem sabe um dos senhores não quer ser padrinho da propositura
dessa lei. O mundo todo possui lei com esse teor; o Brasil, não.
É muito importante uma lei federal de segurança nas instalações esportivas.
O Brasil não sediará as grandes competições do mundo se não tiver segurança. Não
estou contando histórias, estou apenas repetindo o que a mídia tem divulgado.
Sugiro franqueza, transparência e sinceridade absolutas. Que essa lei tenha
um ou dois artigos, mas faça menção à responsabilidade civil e penal. Devemos ter
um convívio leal e franco, mas devemos também responder pelos atos de denúncias
sem respaldo ou provas. Creio que o esporte tem de ser transparente em sua
totalidade e em todos os níveis.
Nesse trabalho, ninguém ouviu de minha parte restrição a qualquer pedido de
análise de contas e de auditoria. Quem o está fazendo voluntariamente, em sua
maioria, é o Comitê Olímpico. Não podemos ficar com imagem diferente daquela que
construímos a vida inteira. É fácil acusar, mas, às vezes, é difícil provar. Vivemos
num sistema federativo, assim como 95% do mundo. Não temos de inventar a roda;
temos de aperfeiçoar o sistema.
A norma internacional consta da Carta Olímpica e do Estatuto das
Federações Internacionais. Às vezes, não gostamos nem queremos isso, e aí
passamos a discutir algumas questões a respeito. Quem pensa em sediar
campeonatos mundiais, jogos pan-americanos ou olímpicos? Se não houver
proteção à norma internacional, não haverá condições de conquistarmos esse
espaço.
Também quero falar sobre mandato. Não quis falar em causa própria. Apenas
quero dizer que, gostem ou não deles, três homens escreveram a história do esporte
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em 106 anos de existência: um foi Pierre de Coubertin, idealizador e sonhador do
movimento olímpico internacional; e dois conseguiram com que o esporte gerasse
emprego no mundo inteiro: os Presidentes João Havelange e Juan Antonio
Samaranch. Um ficou no cargo 24 anos e o outro, 21 anos. Se o mundo hoje tem
mais de 500 milhões de empregos no esporte, deve a esses dois homens. Se há
atletas, todos recebem dinheiro e têm suas vidas salvas por serem atletas, graças
aos dois. Podem não gostar de algum ato ou medida que implementaram, mas não
podemos apagar a história. E a história foi essa. Foi esse o tempo que tiveram para
fazê-lo.
Como é uma democracia, se houver candidatos de oposição, que se
manifestem. O Presidente Samaranch saiu e tivemos cinco candidatos; o Presidente
João Havelange saiu e tivemos dois candidatos. Essa é uma questão da
comunidade interna.
Quero também falar sobre sedes. Acabei de distribuir o cadastro de sede das
Confederações espalhadas pelo Brasil inteiro, de norte a sul e de leste a oeste. Isso
não retira o mérito do trabalho de ninguém. Não será transferindo fisicamente a sede
que resolveremos qualquer problema no esporte ou em qualquer área. A Capital é
Brasília e vários órgãos federais não estão na cidade; um deles é a Escola Superior
de Guerra. Em nada desabona o fato de estar num lugar e não em outro. As
telecomunicações hoje nos dão todas as condições de teleconferências, como
assistimos ontem ao anúncio de Yasser Arafat de que, se não puder ir à Arábia
Saudita, participará do encontro através da Teleconferência. Assim, podemos dizer
que o mundo atual é pequeno, de fácil acesso para todos, com a rapidez do avião,
da televisão e das telecomunicações.
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Gostaria de falar sobre a remuneração dos dirigentes. Esta depende do
estatuto de cada entidade internacional. Não é uma questão vaga, mas ampara o
salário, a ajuda de manutenção de custo ou o reembolso de despesas, e cada
organismo internacional o prevê de uma maneira. Portanto, o legislador deve ter o
cuidado de analisar e ver de que maneira isso poderá ou não ser inserido. Quero ser
completamente neutro nessa questão.
Caros Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Relator, deixo-lhes reiterado
agradecimento por uma das mais importantes demonstrações de democracia e de
comunicação que vi. Pude aqui conhecer não apenas as facilidades, mas também
as dificuldades do esporte brasileiro que todos queremos construir da melhor forma
possível, podendo dar o melhor aos atletas. Não conseguiremos, ainda tão cedo,
oferecer-lhes o ideal. Viver em desafios é um privilegio. É deles que saem as
construções.
Gostaria de manifestar-me quando já estiver na redação final. Devemos ter
um documento escrito para dirimir as dúvidas de todos.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Sr. Carlos
Nuzman.
Passo a palavra ao Relator, Deputado Gilmar Machado, para as
considerações finais.
O SR. DEPUTADO GILMAR MACHADO – Obrigado, Sr. Presidente. Serei
breve, porque o principal objetivo da minha presença aqui é ouvi-los. Como Relator,
não me cabe emitir opiniões neste momento. Peço até desculpas, porque na minha
primeira intervenção acabei fazendo algumas considerações.
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Estamos recolhendo todas as contribuições e sugestões apresentadas. Com
certeza, Sr. Presidente e demais presentes, pretendemos apresentar uma primeira
versão assim que o Presidente nos determinar o prazo. Deveremos votar esse
relatório ainda no primeiro semestre. Espero que no final de abril ou início de maio
eu já tenha uma primeira versão da proposta, que evidentemente submeterei aos
membros da Comissão e também a todas as entidades que têm contribuído
conosco. A partir daí, abriremos um prazo de dez a quinze dias para estabelecermos
novo debate com o objetivo de elaborar a redação final. Podem ter certeza de que
estaremos abertos a todas as contribuições e que dialogaremos sobre o que for
possível para que não haja dúvidas.
Fico feliz de o Presidente lembrar-se do que conversamos. Como sou mineiro,
a palavra é algo extremamente importante. Quando estávamos fechando a redação
final do projeto do Deputado Agnelo Queiroz, juntamente com o Senador Piva,
acertamos a introdução na área do esporte educacional universitário — e ela está
mantida. Isso é fundamental.
Todas as vezes que formos discutir em qualquer órgão, seja no Tribunal de
Contas, seja no Ministério Público, vamos dizer claramente: o nosso objetivo é
assegurar que os recursos também cheguem para convênios com as universidades,
para melhorar a formação de técnicos e de professores de educação física. Dessa
forma, poderemos aprimorar o desporto educacional e o desporto universitário.
A mesma coisa ocorre em relação ao estatuto. Queremos dialogar sobre
todos os pontos. O que for acertado será mantido. Queremos fazer o melhor para o
desporto brasileiro. Recebemos muitas informações e vamos, podem os senhores
ter certeza, levá-las em consideração na hora da definição do texto que será
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submetido à votação. Ele não será apenas meu ou de membros da Comissão, mas
do Congresso Nacional. Esperamos que ele de fato possa contribuir, e não dificultar
o desporto no País.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Deputado
Gilmar Machado.
Passo a palavra ao Sr. Nuzman, que quer fazer um agradecimento.
O SR. CARLOS ARTHUR NUZMAN – Agradeço ao nosso Secretário
Nacional de Esporte, Lars Grael, e ao Orlando por todo o trabalho e pela parceria da
Secretaria Nacional de Esporte com todo o Comitê Olímpico Brasileiro e as
confederações brasileiras.
É importante que esse momento seja destacado perante Parlamentares
principalmente desta Comissão. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado.
Estamos encerrando uma das mais fecundas reuniões que o Parlamento
brasileiro já teve oportunidade de realizar por intermédio de suas representações.
Nunca tínhamos tido a oportunidade de juntar na mesma sala várias pessoas que
dirigem tantos interesses.
O Brasil é um país extremamente desigual. Essa é uma questão recorrente.
Todo mundo fala isso. E uma das coisas que mais angustiam o Parlamentar é saber
que ele não dispõe de meios próprios para realizar mudanças que eventualmente
estejam ao seu alcance e que poderiam influenciá-los.
O esporte é uma das poucas válvulas de escape para diminuir essa grande
diferença entre os componentes da sociedade brasileira. É por meio do esporte que
qualquer minoria étnica — o pobre, o excluído, para usar a linguagem politicamente
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correta — tem oportunidade de ascender na sociedade. Vislumbramos isso
praticamente todos os dias. Se há um país que não tem uma elite social e que
produz uma elite esportiva é o Brasil. Se temos a capacidade de gerar tantos atletas
excepcionais, é pela grandiosidade da nossa população.
Os exemplos saltitam a todo momento, seja no futebol, que é o esporte mais
conhecido, seja no esporte olímpico. O cidadão consegue, independentemente da
sua origem, chegar até a ser herói nacional, reconhecido por toda a sociedade
brasileira, sem que isso lhe exija maior esforço do que demonstrar sua aptidão
adquirida ou inata. Se seguisse os caminhos normais da ascensão social,
eventualmente teria muita dificuldade. Podemos ganhar essa aptidão e ser
treinados. É evidente que a sociedade faz muito pouco. Precisamos aumentar isso.
Mas é inegável que o esporte é o maior elo de ligação da sociedade brasileira.
Eu, como bom nortista, tinha de aprender a cultura do Sul. Fiz mestrado no
Rio de Janeiro e lembro que quando fiz um concurso público na Fundação Getúlio
Vargas escolhi um tema do Norte, não só por esperteza, pois sabia que ninguém
entenderia o que eu estava dizendo, mas também porque precisava ter segurança.
Escolhi um tema especificamente do Norte, na certeza de que no concurso me
cobrariam questões nacionais e regionais daqui que eu teria obrigação de saber.
Aprendemos muita coisa porque somos obrigados, às vezes até para
sobrevivermos. Contudo, a escalação do time do nosso coração, e até dos
adversários da Seleção Brasileira, não precisa da régua do professor, do castigo da
mãe ou do pai. Essa aprendemos por nós mesmos. E esse conhecimento ficou
indelével, tanto que pode até acontecer de torcermos para um adversário, mas são
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poucos os que mudam de time ou de clube. Isso é um traço marcante da sociedade
brasileira.
Representamos a sociedade. Entendemos, por isso, a importância de uma
legislação enxuta que corresponda aos ideais de cada um dos eventuais segmentos
do esporte, mas que também consagre em geral o que dela espera a sociedade
brasileira.
Falou-se um pouco sobre a responsabilidade. O Nuzman teve o cuidado de
reforçar o assunto. Esse projeto traz no seu âmago o conceito de responsabilidade.
Aprovamos nesta legislatura a Lei de Responsabilidade Fiscal, atingindo todos os
dirigentes, sejam do Poder Executivo, do Legislativo ou do Judiciário. Mas
entendemos também que no esporte, pela importância que tem, deveria existir uma
lei de responsabilidade que permitisse que o dirigente pudesse ser cobrado e
responsabilizado por aquilo que faz.
Há um clube no Amapá, do qual sou torcedor, que poucos conhecem. Ele foi
campeão do Norte, como bem lembrou o Presidente. Assumi a presidência desse
clube no átrio de um fórum para impedir que ele fosse leiloado. Quando entrei na
sede vi que tinham roubado até o forro do clube. Levaram tudo. Além de tentar
salvar o patrimônio do clube, procurei uma norma legal que me permitisse
responsabilizar criminal ou civilmente as pessoas que tinham feito aquilo, porque
estavam perfeitamente modificadas as suas atas. Isso não foi possível. Realmente
dá uma frustração ver que qualquer pessoa pode destruir um trabalho de gerações.
Tudo o que foi dito aqui certamente vai contribuir enormemente para o
trabalho da Comissão.
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Nós nos preocupamos com esse lado particular, que não é para punir, mas
apenas para disciplinar uma atividade que é de todo mundo. Portanto, ela não pode
ficar sob o comando de muitos poucos, sobretudo se esse comando é pernicioso aos
ideais da sociedade brasileira.
Esta Comissão faz uma homenagem a este grande atleta pelas alegrias que
nos proporcionou.
Hoje posso falar de uma pessoa, que talvez seja o primeiro Ministro interino
que conheci em toda minha vida pública. Refiro-me ao Ministro Caio Luiz de
Carvalho, com quem milito há algum tempo pela Comissão de Turismo. Se S.Exa.
fizer pelo desporto o que fez pelo turismo brasileiro, ainda que seja em sete meses,
vamos ter outra marca indelével, que vai ser o seu trabalho como Ministro do
Esporte e Turismo. Tenho enorme crença em seu trabalho. Gostaria de transmitir-lhe
isso.
Apesar de ser da base do Governo, com ele não tenho nenhuma ligação.
Contudo, se isso me exonera do compromisso do elogio, obriga-me a dizê-lo, por
questão de justiça, que quando temos um executivo ou um político no comando de
um Ministério, temos um misto dos dois, apesar de ele não ter mandato. O Ministério
do Esporte e Turismo está bem entregue nas mãos do Sr. Caio Luiz de Carvalho.
Acredito — e queria que o Secretário Lars Grael levasse essa mensagem ao
Ministro — que esta Comissão tem confiança no seu trabalho.
Com essas considerações, agradecemos aos companheiros que nos
prestigiaram, a mim e ao Relator, Deputados Alex Canziani, Eurico Miranda, José
Rocha, Agnelo Queiroz e Joel de Hollanda. Agradeço a todos em nome do Relator,
Deputado Gilmar Machado.
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Estamos acostumados a ter audiências públicas que às vezes varam a noite.
Na CPI não tinha horário. Tomara que essa troca de idéias de hoje se reproduza em
um trabalho proveitoso para o esporte brasileiro.
Meus agradecimentos.
Está encerrada a reunião. (Palmas.)