departamento de taquigrafia, revisÃo e redaÇÃo … fileconvido para tomar assento à mesa dos...
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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO SEM REVISÃO
COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIASEVENTO: N°: 0154/02 DATA: 20/03/02INÍCIO: 14:20 TÉRMINO: 17:33 DURAÇÃO: 03:13TEMPO DE GRAVAÇÃO: PÁGINAS: 90 QUARTOS: 20REVISORES:SUPERVISÃO:CONCATENAÇÃO:
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
SUMÁRIO:
OBSERVAÇÕES
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ SEM REVISÃONome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0154/02 Data: 20/03/02
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Declaro aberta a presente
reunião de audiência pública para discussão sobre a regulamentação da relação de
consumo entre instituição financeira e consumidor, Código de Defesa do
Consumidor versus Resolução BACEN 2.878.
Convido para tomar assento à Mesa dos trabalhos a Sra. Tereza Grossi,
Diretora de Fiscalização do Banco Central. Convido a Sra. Amanda Flávio de
Oliveira, Diretora do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor. Convido o
Sr. Gabriel Jorge Ferreira, Presidente da Federação Brasileira das Associações dos
Bancos — FEBRABAN. Convido o Sr. João Batista de Almeida, Coordenador da
Terceira Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público. Convido o Sr.
Marcos Diegues, advogado representando a Sra. Marilene Lazarine, Coordenadora
Executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor — IDEC.
Esclareço que concederei inicialmente a palavra aos expositores por dez
minutos. Em seguida fará uso da palavra o Deputado Salatiel Carvalho, que
requereu esta audiência. Falarão por 3 minutos os Parlamentares previamente
inscritos, sempre facultadas, em qualquer caso, a réplica e a tréplica. A lista de
inscrições encontra-se à disposição dos Parlamentares com o servidor desta
Comissão. Para facilitar a transcrição desse debate, que está sendo gravado, solicito
a gentileza daqueles que desejarem fazer uso da palavra declinarem previamente
seus nomes.
Feitas essas considerações iniciais, passo a palavra à Sra. Tereza Grossi,
Diretora de Fiscalização do Banco Central.
A SRA. TEREZA GROSSI - Boa tarde a todos. É com prazer que — eu
pessoalmente — atendemos esse convite da Comissão de Defesa do Consumidor,
Meio Ambiente e Minorias para aqui comparecer e discutir com os outros convidados
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presentes o tema da proteção ao consumidor no que se relaciona às instituições
financeiras que estão sob a supervisão do Banco Central. Estou à disposição para
responder qualquer pergunta. Gostaria de deixar clara neste momento a posição do
Banco Central quanto à aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao
sistema financeiro nacional.
Apesar de toda a polêmica que se viu recentemente na imprensa, a posição
do Banco Central não é a que se vem publicando. A posição do Banco Central é a
de que o Código de Defesa do Consumidor aplica-se sim ao cliente bancário em
tudo que se referir à prestação de serviços bancários, mas não ao que se refere ao
preço desses serviços. Então, não há como aplicar o Código de Defesa do
Consumidor à taxa de juros, que é livremente pactuada entre as partes e que
consta dos contratos bancários.
Não há como usar os dispositivos do Código de Defesa do Consumidor para
alterar uma taxa de juros pactuada entre as partes e constante de um contrato. Caso
uma situação dessa fosse possível teríamos sérios problemas no mercado de
crédito. O primeiro problema que veríamos seria rapidamente uma redução da oferta
de crédito, porque esse não é um serviço que pode ser tabelado ou cujo preço ser
dirimido ou decidido em uma ação judicial.
Evidentemente que cláusulas contratuais abusivas podem e devem ser
discutidas. Contratos com letras miúdas podem e devem ser discutidos, mas nunca
o preço dos serviços. Caso se aplique o Código de Defesa do Consumidor também
ao preço dos contratos, teríamos uma situação de impossibilidade da continuação
do papel de intermediação que os bancos fazem hoje na economia deste País e em
qualquer outro país do mundo.
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Então, a nossa posição é bastante clara. Somos favoráveis sim em tudo que
se relaciona com prestação dos serviços. Estamos falando de como o cliente é
atendido na agência, de débitos indevidos na conta corrente, de transações
eletrônicas que precisam estar claras para o cliente. Em tudo isso aplica-se o Código
de Defesa do Consumidor, mas não ao preço do crédito. É isso que gostaria de dizer
inicialmente e estou à disposição para qualquer esclarecimento adicional.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Passo a palavra à
próxima expositora, Sra. Amanda Flávio de Oliveira.
A SRA. AMANDA FLÁVIO DE OLIVEIRA - Boa tarde, Deputado, meus
colegas de Mesa, todos os presentes, é um prazer está aqui. Iniciei as atividades no
DPDC no dia de ontem, mas não poderia deixar de estar aqui discutindo um tema
tão relevante e que traz tantas conseqüências para a defesa do consumidor no
Brasil. A questão dos bancos tem sido uma das mais reclamadas nos PROCONs de
todo o Brasil.
A posição do Ministério da Justiça em relação especificamente à questão da
aplicabilidade ou não do Código de Defesa do Consumidor às instituições bancárias
fez parte do parecer por ele elaborado, pelo próprio Ministério da Justiça, e anexado
aos autos da ADIN que discute essa questão. De acordo com o parecer que ali
está, a questão do cliente e as instituições bancárias é uma questão em que deve
ocorrer a incidência do Código de Defesa do Consumidor. Às relações bancárias se
aplicam de forma geral o Código de Defesa do Consumidor, com exceção das taxas
de juros praticadas, porque estamos em um mercado livre e se não podemos fixar
preço de nenhum produto, também não poderíamos fixar preço ou limite de taxas
de juros.
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Essa é a posição do Ministério da Justiça no sentido de que o Código se
aplica a recebimento e pagamento de tributos, a cobranças, às cláusulas contratuais
em que não haja clareza de seus termos, mas o Código não se aplicaria única e
exclusivamente às taxas de juros. Afora isso, é perfeitamente compatível a lei que
regulamenta o sistema financeiro nacional ou as determinações constitucionais
como determinado pelo Código de Defesa do Consumidor.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Dando prosseguimento à
nossa audiência pública, convido para fazer sua exposição o Sr. Gabriel Jorge
Ferreira, Presidente da Federação Brasileira das Associações dos Bancos —
FEBRABAN.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Dando prosseguimento à
esta reunião de audiência pública, concedo a palavra ao Sr. Gabriel Jorge Ferreira,
Presidente da Federação Brasileira das Associações dos Bancos, FEBRABAN.
S.Exa. dispõe de dez minutos.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, membros da Mesa, primeiramente registramos nossa satisfação em aqui
comparecer a convite desta importante Comissão de Defesa do Consumidor, Meio
Ambiente e Minorias, da Câmara dos Deputados, para trazermos nossa visão sobre
o debate que ora se trava a respeito das relações entre consumidores e instituições
financeiras.
Cumpre-nos, de início, consignar de forma clara e inequívoca a posição da
entidade que ora representamos, do apreço e do respeito irrestritos aos direitos da
cidadania, nos quais se inserem a proteção e defesa do consumidor, conquista
insofismável da sociedade brasileira consagrada na Carta Magna.
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A discussão em torno da aplicabilidade ou não das Disposições do Código de
Defesa do Consumidor às instituições financeiras deve ser conduzida de forma a
aprofundar-se a análise do cerne da questão por ela envolvida, ou seja, o seu
verdadeiro significado e o porquê dela. Esse é o principal objetivo de nossa
presença aqui, com o intuito de contribuir para o debate, esclarecer situações e
desfazer equívocos, como passamos a expor.
Uma das principais metas da atual diretoria da FEBRABAN é o trabalho firme
e persistente em prol da eficiência e do fortalecimento da intermediação financeira.
Sobre essa questão fundamental, registramos aqui algumas idéias e preocupações,
permitindo-nos até sugeri-las como uma agenda de trabalho a ser desenvolvida
mediante combinação de esforços entre o Governo, o Legislativo, o Judiciário, os
órgãos de defesa do consumidor, o setor financeiro e os demais segmentos da
sociedade interessados nessa discussão.
No atual quadro de estabilidade monetária em processo de consolidação, o
crédito terá papal preponderante no suporte financeiro das atividades produtivas.
Sua expansão deverá ocorrer gradualmente na medida em que as instituições
financeiras melhor se estruturem para a adequada avaliação dos riscos de crédito.
Portanto, as atividades das instituições financeiras decompõem-se em
operações ativas, ou os créditos, em operações passivas, ou os depósitos, e
atividades diversas, ou acessórias, próprias do atendimento bancário, como ordens
de pagamento, cobranças, recebimentos, contas correntes etc.
As atividades correspondentes às operações ativas e passivas compõem a
chamada intermediação financeira, onde, de um lado, situa-se o poupador, o
depositante, o detentor da poupança pública, e, de outro lado, o tomador, ou
mutuário, que é o destinatário dos recursos captados pelas instituições financeiras.
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Compete à autoridade monetária, nos termos da legislação reguladora do
sistema financeiro nacional, formular e executar a política monetária, através dos
instrumentos próprios dessa função, como a taxa de juros, o recolhimento
compulsório, o redesconto e outros mecanismos próprios da função da autoridade
monetária.
Na intermediação financeira, o cliente pode, simultaneamente, encontrar-se
em dupla relação com o banco: a de devedor, quando toma empréstimos ou faz uso
de suas atividades acessórias, e a de credor ou depositante, quando ao banco
confia suas economias. Essa é a grande diferença entre o consumidor convencional
de bens e serviços e o cliente de banco, o que justifica a regulação dessa matéria
através de regime jurídico específico que leve em conta a importância da
estabilidade e solvência das instituições financeiras, a defesa da poupança pública e
o equilíbrio da relação contratual.
Conflita com esse quadro, entretanto, uma predisposição hoje corrente no
País para o questionamento judicial do contrato(?) bancário, em conseqüência do
que o Poder Judiciário é hoje chamado a intervir nas relações entre bancos e
clientes, em processos onde o tomador deixa de pagar o principal pelo simples fato
de pretender contestar encargos pactuados, garantias e cláusulas contratuais
diversas, o que constitui direito legítimo do cidadão, mas não legitima a
inadimplência pelo efeito perverso que ela acarreta na composição do custo da
intermediação financeira.
É inquestionável que o recurso ao Poder Judiciário é direito inalienável de
toda pessoa e princípio basilar da sociedade democrática, mas a grande questão
para a qual se quer chamar a atenção, entretanto, é sobre a atipicidade das
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operações bancárias de crédito, sem perder de vista — insisto — a preservação dos
justos interesses do cliente ou do mutuário da instituição financeira.
O que se questiona é que o atual ambiente regulatório não é propício ao
desenvolvimento do crédito na sua plenitude, pois as instituições credoras acabam
ficando expostas não apenas ao risco do crédito, que isso, sim, é objeto de seu
negócio, mas também a incomensuráveis e imprevisíveis riscos jurídicos que
contingenciam suas operações creditícias.
É bom que se diga que as afirmações aqui feitas sobre a proteção da
intermediação financeira não se destinam à proteção unilateral dos bancos, mas sim
à defesa da saúde e da eficiência da atividade de intermediação financeira, que
abriga, afinal, o poupador, de um lado, e o credor, de outro, sendo o banco apenas o
gestor dessa intermediação, cabendo, portanto, algumas considerações.
Primeiro, o exercício da atividade de intermediação financeira pressupõe a
gestão responsável e competente da aplicação dos recursos captados do poupador.
Isso significa que o intermediário financeiro, ao aplicar recursos, isto é, ao realizar
operações de empréstimo e crédito, deve ser diligente no sentido de constituir
carteira de crédito integrada por mutuários adequadamente analisados, segundo as
técnicas de concessão de crédito e de avaliação de riscos.
Por esse motivo, os ativos e passivos das instituições financeiras têm de
guardar compatibilidade em termos de prazos, taxas, encargos e moeda, sob pena
de que qualquer descasamento pode provocar o desequilíbrio econômico-financeiro
da instituição e levá-la à ruína ou à quebra. Daí, a absoluta necessidade de que a
atividade de intermediação financeira continue sob controle e fiscalização da
autoridade monetária
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intermediação financeira continue sob controle e fiscalização da autoridade
monetária que dispõe dos instrumentos e mecanismos necessários para assegurar o
funcionamento regular e normal do mercado financeiro.
O aprimoramento e o fortalecimento do sistema financeiro nacional tem uma
importância especial pelo momento histórico que vivemos. E a FEBRABAN está
totalmente alinhada com essa missão. O Brasil está entrando com o pé direito no
século XXI, com a estabilização da economia consolidada. E presentemente a tarefa
da Nação é a de retomar o crescimento sustentável.
O sistema financeiro nacional tem um papel basal nesta retomada, que é o de
financiar os investimentos. Quanto mais eficiente e forte for o sistema financeiro
nacional, mais investimentos e mais crescimento teremos no Brasil.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Convido o Sr. João
Batista de Almeida, Coordenador da 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do
Ministério Público.
O SR. JOÃO BATISTA DE ALMEIDA - Sr. Presidente, demais expositores
que compõem esta Mesa, Srs. Deputados, senhoras e senhores, devo destoar um
pouquinho dos meus antecessores, porque vou tentar discutir a questão da
Resolução nº 2.878 do Conselho Monetário Nacional, que é chamada de Código do
Cliente Bancário, isso em face do Código de Defesa do Consumidor.
Prefiro não discutir agora a ADIN 2.591 dos bancos, que está em sub judice,
em fase de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, e que tem pauta para o dia 3
e 4 de abril. Então, não podemos antecipar agora aquele julgamento. Acho que a
convocação da reunião foi mais para discutir a questão da Resolução 2.878 do
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Banco Central: “Regulamentação das Relações de Consumo entre a Instituição
Financeira e Consumidor. CDC e Resolução Bacen 2.878”.
Inicio pela Constituição de 1988, que é o grande momento da defesa do
consumidor no Brasil, quando o artigo 5º, inciso 32, estabeleceu que o Estado
promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. Houve aqui uma tomada de
consciência muito importante, mas que tem um significado muito profundo. O Estado
significa aqui todo o aparato público, todas as instituições públicas, todos os órgãos
públicos de todos os níveis — União, Estados, Municípios, Autarquias, etc. O
Estado, então, promoverá a defesa do consumidor. Aqui está implícito um princípio
chamado a vulnerabilidade do consumidor, está reconhecido que o consumidor é a
parte mais fraca, portanto ele merece proteção. E essa proteção será feita através
de uma lei. Não se outorga proteção e tutela a quem dela não necessita. Se a
Constituição diz que o estado promoverá a defesa do consumidor, está implícito que
o consumidor necessita dessa tutela.
O artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias diz também
que o Congresso Nacional votará em 120 dias o Código de Defesa do Consumidor.
Houve um pequeno atraso, mas tivemos a Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990,
que é o Código de Defesa do Consumidor, que foi amplamente discutido pela
sociedade, pelas entidades de defesa do consumidor, pelos órgãos públicos, pelos
Parlamentares, pelo Senado, pela Câmara, e chegamos ao texto que conhecemos
hoje.
O Código de Defesa do Consumidor é um microsistema, tem várias tutelas
coordenadas entre si, e ele enumera os direitos do consumidor — e aí ele o faz
reconhecendo o que existe universalmente, também reconhecendo o que já foi dito
pela ONU através de uma resolução.
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Em seguida, ele vem dispondo sobre as tutelas. Ele fala da tutela civil, onde
ele fala da responsabilidade civil pelo fato (ininteligível), da proteção contratual, da
publicidade enganosa; passa para a tutela administrativa, define quais são as
sansões administrativas; passa pela tutela penal, define quais são os tipos penais
relacionados à área de direito do consumidor; e, por fim, a tutela jurisdicional,
criando uma ação nova, que se chama ação civil coletiva. Portanto, verificamos que
o Código de Defesa do Consumidor decorreu da Constituição, foi ela que determinou
que ele fosse feito. Outros artigos falam também da defesa do consumidor,
principalmente na parte da ordem econômica, da competência para legislar, mas eu
ficaria com esses, por enquanto.
O artigo 2º vem dizer o que seja consumidor: é aquele que adquire produtos e
contrata prestação de serviços como destinatário final. Temos uma definição clara
do que seja consumidor, não é uma figura abstrata, está definido pela lei.
Fornecedor é aquele que fornece esses produtos e serviços.
Em seguida, o Código vem definir o que são produtos e o que são serviços.
Na definição de serviços, essa parte tem sido muito comentada e divulgada pelos
jornais, vem dito que serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito,
securitária, salvo as decorrentes de relações de caráter trabalhista. Então, só se
exclui aqui o que é de trabalho trabalhista. Todas as demais categorias de prestação
de serviços estão incluídas no Código de Defesa do Consumidor, inclusive a
bancária.
O que há de fato novo? O fato novo foi em 1991, com o surgimento do
chamado Código do Cliente Bancário, através da Resolução do Conselho Monetário
Nacional nº 2.878, de julho de 2201.
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Podemos comparar o Código do Cliente Bancário com o Código de Defesa do
Consumidor. A primeira comparação que podemos fazer é a que a Resolução do
Conselho Monetário Nacional devota um desprezo imenso pelo Código de Defesa
do Consumidor, que não é referido quando é citada a fundamentação legal da
Resolução. São citadas a Lei nº 4.595, que teria que ser citada, sem dúvida; Lei nº
4.728; Lei nº 6.099. Mas não é citado em momento algum o Código de Defesa do
Consumidor, que é a Lei nº 8.078, de 1990. Deve haver alguma razão para isso.
Segundo, essa resolução o tempo toda usa o termo cliente, ela não
reconhece a figura do consumidor. Para o Banco Central e para o Conselho
Monetário Nacional não existe consumidor na área bancária; existe cliente. Não
existe fornecedor, aquele que está definido no artigo 3º do Código de Defesa do
Consumidor; existe instituição financeira. Isso é importante, porque lá na frente
vamos ver as conseqüências que isso tem.
Essa resolução cita alguns princípios que estão expressos no Código de
Defesa do Consumidor, como o da transparência. O item I do artigo 1º fala sobre a
transparência das relações contratuais, mas não fala dos outros princípios. Por
exemplo, o princípio da boa fé, não está dito aqui. O princípio da equidade, do
equilíbrio também não está dito de maneira expressa aqui. Não fala também da
vulnerabilidade do consumidor em face do fornecedor, que é um banco. E isso é
expresso. Sabemos que a ONU tem a sua resolução dizendo que o consumidor é a
parte mais fraca na relação de consumo, é vulnerável em relação ao poder
econômico. E aqui no caso o poder econômico são os bancos.
Essa resolução cuida também da publicidade enganosa ou abusiva, nos
artigos 4º a 6º. Mas nesse ponto ela quase copia o que está no Código de Defesa do
Consumidor. Se é para copiar, então não precisaria fazer uma resolução. Quando
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ela copia, se ela fica aquém ou contraria aquilo que está numa lei, é lógico que vale
o que está na lei e não o que está na resolução. Mas, como eu falei que o Código é
um micro sistema, vocês vão verificar que lá no Código a publicidade enganosa ou
abusiva é punida como crime, artigo 67 e 68 do CDC. Na Resolução do Banco
Central não tem nada a respeito disso e nem poderia ter. A resolução não poderia
criar o crime de publicidade enganosa feito pelas instituições financeiras, que para
mim são fornecedores.
Os contratos com pessoas portadoras de deficiência visual ou auditiva,
encaro o que está na resolução como normas complementares, porque tudo que se
relaciona a contrato com todos os fornecedores está no Código de Defesa do
Consumidor, onde há um capítulo chamado Da Proteção Contratual, ao contrato de
adesão. Tudo que for relacionado ao contrato está regulado pelo Código de Defesa
do Consumidor. Lógico que o Código não regulou a questão do contrato com os
deficientes visuais e auditivos. Portanto, esse detalhe, que não contraria o Código de
Defesa do Consumidor é válido, poderia ser objeto de uma resolução como poderia
ser objeto até de uma carta circular do Banco Central dirigida às instituições
financeiras. Não precisaria
de uma resolução, como poderia ser objeto até de uma carta circular do Banco
Central dirigida às instituições financeiras, não precisaria fazer uma resolução para
isso, é feita em nível de regulamento, apenas complementando, sem contrariar,
aquilo que está no Código.
Cláusulas abusivas. A resolução é silente a respeito da questão das cláusulas
abusivas, ela não trata por exemplo das cláusulas abusivas como é feita no Código
de Defesa do Consumidor, art. 51. Aqui diz o seguinte: são nulas de pleno direito,
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dentre outras, as seguintes cláusulas. E vem lá assim um elenco imenso de
dezesseis cláusulas abusivas.
A resolução não chega a esse ponto, ela discute algumas cláusulas, nunca
poderia dizer, como não diz, que são nulas de pleno direito, não poderia atribuir essa
sanção de nulidade de pleno direito através de um ato administrativo que é a
resolução, isso só pode ser feito através de lei. Portanto, nesse ponto ela fica aquém
do Código de Defesa do Consumidor.
Em relação a operação casada. Dentre as cláusulas abusivas do Código de
Defesa do Consumidor uma delas é a vedação da venda casada. Não se pode
vender um produto condicionando a aquisição de outro produto. Não se pode
contratar a prestação de serviço condicionando a venda do outro serviço.
Então, aqui a resolução vem dizer a mesma coisa, vem dizer que em relação
a bancos, o banco não pode fazer um contrato e obrigar o cliente a fazer outro ao
mesmo tempo, condicionar um ao outro, fazer a venda casada. Então, o que está
aqui na resolução já estava no Código de Defesa do Consumidor, não custaria.
Prevalecimento com relação aquelas pessoas que tem mais dificuldade de
entender. Isso está no código e está na resolução, portanto, não haveria
necessidade.
Expor o consumidor a constrangimento. Isso está na resolução, art. 18, inciso
VII, mas também está no Código de Defesa do Consumidor art. 42. Portanto, não
haveria necessidade de repetir, mesmo porque a definição do código está muito
mais completa.
A repetição de indébito é em dobro, quer dizer, se o banco cobrou
indevidamente ele é obrigado a devolver em dobro aquilo que ele recebeu. A
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resolução não fala nada disso, o consumidor sai perdendo aqui se for aplicar a
resolução e não aplicar o Código de Defesa do Consumidor.
Portanto, o que vale, o Código de Defesa do Consumidor ou a Resolução nº
2.878?
Entendo que o Código de Defesa do Consumidor prevalece basicamente
porque ele é uma lei votada legitimamente pelo Congresso Nacional, pelos
representantes do povo brasileiro em cumprimento ao que dispôs a Constituição
Federal. Então, é uma lei que decorreu da Constituição que foi debatida, discutida e
ela então é a que prevalece inclusive na área bancária. E também porque o Código
de Defesa do Consumidor dá ampla garantia, ampla cobertura ao consumidor, ele
outorga mais direitos, dá uma cobertura muito mais ampla do que a resolução
conseguiria fazer.
Segundo, também há uma coisa chamada princípio de hierarquia das normas.
Se eu tenho uma lei e tenho uma resolução, a resolução é subalterna, vale menos
que a lei. Isso é um ponto primário em Direito, mas está implícito que aquilo que é
complementar não pode contrariar a lei que ela busca regulamentar. Portanto, as
atividades bancárias e financeiras de crédito e seguro já estão previstas no Código
de Defesa do Consumidor, no art. 3º, § 2º, portanto, para mim banco é fornecedor e
cliente é consumidor.
A resolução não pode contrariar a lei, portanto ela é vista em caráter
suplementar, ela tem apenas o caráter de regulamento, ela não pode, como nunca
poderia, extrapolar nem restringir o que está na lei.
Se for revogada hoje a Resolução nº 2.878, o consumidor não sofrerá
nenhum prejuízo porque ele será garantido pela lei, a garantia que é dada ao
consumidor é dada pela lei, não é dada pela resolução. Portanto, no embate entre
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as duas, dos dois diplomas, uma resolução e a lei, lógico que prevalece o Código de
Defesa do Consumidor.
Só justificaria a Resolução nº 2.878, primeiro, se os bancos estivessem fora
do Código de Defesa do Consumidor, nós já vimos que não está, o art. 3º, § 2º deixa
bem claro que as atividades bancárias estão inseridas no âmbito de aplicação do
Código de Defesa do Consumidor.
Segundo, se a resolução fosse adotada como mero regulamento do Código
de Defesa do Consumidor. Aí, sim, ela poderia valer. Aquela parte, por exemplo,
relacionada ao contrato com pessoas com deficiência visual e auditiva, isso poderia
ser visto porque não é contraditório em relação ao Código de Defesa do
Consumidor.
Portanto, como regulamento, poderíamos aceitar a Resolução nº 2.878 do
Conselho Monetário Nacional, porque a função do regulamento é exatamente isso,
dar um maior detalhamento à lei sem contrariar, sem restringir e sem criar direitos
novos. Portanto, prevalece o Código de Defesa do Consumidor.
Então, são essas as minhas manifestações por ora, se houver necessidade,
gostaria de aprofundar essa questão da prevalência da lei sobre a norma, sobre a
resolução. E trago aqui doutrina de Pontes de Miranda, outros juristas de peso e
trago também a jurisprudência de Tribunais de Justiça e Supremo Tribunal Federal.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Dando seguimento,
convido o Sr. Marcos Diegues, advogado representando a Sra. Marilena Lazarini,
Coordenadora do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor — IDEC, para quem
concedo a palavra.
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O SR. MARCOS DIEGUES – Muito obrigado. Em primeiro lugar, quero
agradecer o convite de participação nesta audiência. É meu dever apresentar aqui o
pedido de desculpas da Marilena Lazarini que não pôde comparecer por motivo de
viagem ao exterior. E tenho que concordar com o Dr. João Batista, que me
antecedeu, em 100% das suas afirmações.
Infelizmente, não dá para conversarmos sobre o chamado Código de Defesa do
Consumidor bancário ou do cliente bancário sem que hoje a gente fale um pouco
sobre esse questionamento que a Confederação Nacional das Instituições
Financeiras está fazendo junto ao Supremo Tribunal Federal. Vou-me ater um pouco
mais a fatos do que ao Direito propriamente dito porque acho que existem coisas
muito importantes que estão em volta desse Código de Defesa do Consumidor
bancário e desse questionamento de constitucionalidade junto ao Supremo Tribunal
Federal. E o IDEC tem uma breve manifestação sobre a Resolução nº 2.878, vou
deixar com a Comissão, mas queria registrar que a luta ou o ataque ao Código de
Defesa do Consumidor por parte especificamente das instituições financeiras talvez
tenha uma história mais antiga do que o próprio Código.
Não é à-toa que o Código de Defesa do Consumidor cita expressamente as
atividades dessas instituições, isto é resultado já de uma resistência manifestada na
época da redação do anteprojeto dessa lei.
A par disso, do meu ponto de vista particular, de nada adiantaria excluir do
Código de Defesa do Consumidor aquelas três ou quatro últimas palavras, porque
da mesma forma o código se aplicaria. E temos ouvido, nos últimos dias, falar muito
sobre a atividade de intermediação que exercem as instituições financeiras. E esta
também é uma atividade que está prevista no Código de Defesa do Consumidor.
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Então, talvez a tese de questionamento da constituicionalidade tenha dirigido,
tenha sido dirigida para um ponto do código que passou, que não é o mais
importante, vamos dizer assim.
Então, ainda, repito, que essa expressão seja retirada do código, do nosso
ponto de vista, não muda absolutamente nada.
Quero agora então entrar especificamente ... Ah! Historicamente também há
um dado importante. Desde que o IDEC ajuizou ações coletivas em nome de
poupadores para recuperar as perdas nas poupanças dos Planos Collor e Plano
Verão, os bancos apresentam nas suas defesas pareceres e teses que propugnam
pela inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor nestas relações. Isto
restou solidificado, a posição dos consumidores que o Código se aplica, no Superior
Tribunal de Justiça do meio para o fim do ano passado.
Então, a ADIN é conseqüência da falta de recurso para essas decisões. E
então se desenvolveu uma tese que do nosso ponto de vista é absurda, que parte
de duas afirmações verdadeiras e cria, não se sabe como, uma terceira afirmação
absolutamente falsa
que parte de duas afirmações verdadeiras e cria, não se sabe como, uma terceira
absolutamente falsa, quais sejam, de que o Código é uma lei ordinária, ninguém
discute isso, de que o sistema financeiro deve ser regulado por uma lei
complementar, também ninguém discute isso, e que o Código não pode regular o
sistema financeiro. Não sabemos de onde surgiu essa tese que pretende atribuir ao
Código esta capacidade.
Estou convencido que, diante da chegada à última instância daquelas ações
que discutiam naquele momento, a aplicabilidade do Código de Defesa do
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Consumidor nas relações com os bancos só restou a essas instituições o recurso do
Supremo Tribunal Federal e, para tanto, precisariam questionar a
inconstitucionalidade.
Mais especificamente sobre a Resolução nº 2.878, queria registrar alguns
fatos, porque entendemos da mesma forma que o Dr. João Batista, que não há
problema nenhum que haja uma resolução do Banco Central, do Conselho
Monetário Nacional, que contribua para a interpretação, ou aplicação, com
reconhecimento dos direitos previstos no Código de Defesa do Consumidor. O que
não pode é que esta Resolução pretenda restringir direitos do consumidor, ou se
contrapor à Lei nº 8.078. Lembro que a Resolução nº 2.878 nasce através do Edital
de Audiência Pública nº 9/2000, de 21 de setembro de 2000. Nessa oportunidade, o
IDEC apresentou três propostas de redação para essa resolução. Objetivamente,
solicitávamos que houvesse a fixação de um prazo de cinco dias para que as
instituições financeiras respondessem aos questionamentos dos seus consumidores,
que houvesse a previsão de reajuste das tarifas nos contratos de abertura de conta
corrente e que ficasse impossibilitada a negativa de aceitação de cheque pelas
próprias instituições financeiras.
Essas considerações foram apresentadas na audiência pública e a Resolução
nº 2.878 publicada no dia 26 de julho de 2001 — mais de seis meses depois, sem
que houvesse a menor consideração sobre essas três propostas apresentadas pelo
IDEC. Não bastasse todo esse prazo, em que essa resolução demorou para ser
publicada, imediatamente depois sai a Resolução nº 2.892 que, modificando a 2.878,
a chamada Código de Defesa do Consumidor Bancário, restringe especificamente
no art. 7º um direito consagrado do consumidor de obter desconto proporcional dos
juros quando quitar antecipadamente o financiamento. Nesse ponto a resolução
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contraria frontalmente o Código de Defesa do Consumidor, é absolutamente ilegal.
Ao mesmo tempo, aquilo que se pretende chamar de Código de Defesa do
Consumidor não consagra, por exemplo, uma disposição que está Resolução nº
2.747, 28 de junho de 2000, que pedia, ou exigia, simplesmente que a instituição
financeira comunicasse o seu cliente quando o seu pedido de encerramento de
conta estivesse completamente efetuado. Aquilo que se pretende chamar de código,
até pelo significado que tem a palavra código... Sinto muito, não é aplicável a
Resolução nº 2.878. Repito: não temos nada contra a existência dessas resoluções,
acho que devemos ter cuidado com o que elas dispõem. Temos principalmente uma
preocupação com o que está vivendo concretamente o consumidor. Primeiro, porque
estamos tratando de uma atividade, ou de uma relação de consumo, em que o
consumidor já não tem mais um dos seus direitos fundamentais, que é o direito à
escolha. Hoje se não quiser ter conta em banco não tenho como exercer o meu
direito, porque qualquer pessoa que tenha um empregador e que recebe o seu
salário, porque se o empregador não paga o salário não tem problema, mas se
recebo salário não tem como não ser cliente, consumidor de uma instituição
financeira. Depois não tem sequer a escolha entre uma ou outra instituição
financeira, porque é o meu empregador que decide onde vou ter conta. Temos que
considerar algumas coisas mais. Às vésperas, ou logo depois do ajuizamento da
ação direta de inconstitucionalidade, a imprensa foi em busca de explicações para
esse tipo de coisa e as manifestações, muito embora a Sra. Tereza Grossi já tenha
desmentido, mas existem aqui manifestações atribuídas a dois principais diretores
do Banco Central que defendiam publicamente que o Código de Defesa do
Consumidor não deveria ser aplicado. Isso foi publicado no jornal Folha On Line, no
dia 16 de janeiro de 2002. O jornal Folha, em Brasília, citando especificamente seu
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Sérgio Darcy: Cabe ao BC e ao CMN regular esta matéria, o Código de Defesa do
Consumidor não se aplica.
Quero chamar a atenção para o seguinte. Segundo o jornal Folha de
S.Paulo, também nos anos de 2001 e 2002, o Banco Central recebeu 23, 24 mil
reclamações respectivamente, também afirmações dos jornais, a Dra. Tereza Grossi
alegou que não havia como resultado dessas reclamações nenhuma punição. Quero
citar outras matérias. Jornal do Brasil, 8 de janeiro: Brasileiro paga mais tarifas e
juros bancários com imposto de renda; revista Consultor Jurídico, 26 de novembro:
Nos bancos dos tribunais em um só fórum sete bancos respondem a 481 processos
por mês. Durante o período de levantamento num intervalo de três horas só contra o
Banco Bradesco foram distribuídos sete processos. Muito embora, e com certeza,
não defenda que a correção de problemas, não só nas relações de consumo, de
uma maneira geral, tenha que passar necessariamente pela punição, não me parece
que 23, 24 mil reclamações jamais tenham concluído com uma punição sequer, até
porque hoje, por exemplo, nos defrontamos com o seguinte. Nós, consumidores dos
serviços bancários, nós, clientes bancários, a negativação dos nossos nomes no
Serviço de Proteção ao Crédito quando nossos cheques são sustados, quando
damos contra-ordem por motivo de furto, a instituição financeira não quer saber, seu
nome vai para o SPC.
Recebemos hoje com o Código de Defesa do Consumidor e com o Código de
Defesa do Consumidor Bancário cartões de crédito em nossa residência sem ter
jamais solicitado. Sofremos ainda a venda casada, prevista no Código de Defesa do
Consumidor, sofremos alteração unilateral dos preços das tarifas sem que se
respeite a periodicidade mínima prevista na lei do Plano Real de doze meses. No
Estado de São Paulo para o pagamento do IPVA o consumidor tinha que pagar R$5
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para a instituição financeira. Nenhuma autoridade do Banco Central se manifestou a
respeito e foi o Secretário de Estado que veio a público corrigir esse absurdo que as
instituições estavam praticando. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – A Dra. Tereza Grossi
utilizou apenas três minutos do seu tempo e solicita da Presidência mais três
minutos. A Mesa vai deferir para que S.Sª. possa concluir algumas considerações
que desejar fazer.
A SRA. TEREZA GROSSI - Sr. Presidente, pedi a palavra outra vez para
fazer algumas observações sobre a Resolução nº 2.878, do Conselho Monetário
Nacional.
Esse trabalho foi feito pelo Banco Central, pela área do Diretor Sérgio Darcy,
demorou bastante tempo, houve longa audiência pública, como mencionado pelo Dr.
Marcos, recebemos um série
que demorou bastante tempo. Houve uma audiência pública com o Dr. Marcos
bastante longa. Recebemos uma série de sugestões da sociedade, de órgãos de
defesa do consumidor, de outros inúmeros, todos que se interessaram em mandar...
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Inclusive uma visita da
Comissão de Defesa do Consumidor para falar sobre isso.
A SRA. TEREZA GROSSI – Para tratar disso também. Muito bem. Todas
essas sugestões foram analisadas, algumas foram incluídas na Resolução, outras
não. Quanto à Resolução do Conselho Monetário Nacional gostaria de deixar claro
que nunca houve a proposição por parte do Banco Central quando levou este
assunto ao Conselho, nem por parte do Conselho Monetário, de que esta
Resolução substituiria o Código de Defesa do Consumidor.
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Precisávamos regular de alguma maneira como aplicar isso às instituições
financeiras. Diferentemente do que o Dr. João Batista de Almeida mencionou, não
seria possível divulgarmos isso através de uma carta circular nem de uma própria
circular, precisávamos passar com essa matéria pelo Conselho Monetário Nacional.
A carta circular, dentro da hierarquia das normas do Banco Central, vem
esclarecer pontos de uma circular. Portanto, não poderíamos fazer isso através de
uma carta circular, teria que ser por uma resolução do Conselho Monetário Nacional.
Da maneira como entendo a Resolução ela em nada contraria o Código de
Defesa do Consumidor. Não existe nada na Resolução que esteja especificado
contrariamente ao Código de Defesa do Consumidor. Ela não é tão extensa quanto
o Código e inclui uma série de dispositivos que não estão previstos no Código de
Defesa do Consumidor e que constam da Resolução em função da peculiaridade
dos serviços bancários. Alguns foram até mencionados, por exemplo, com relação
ao atendimento do deficiente físico que não consta do Código mas consta da
Resolução. Esta foi uma sugestão que recebemos das associações dos deficientes
físicos.
Outro ponto importante de mencionar é com relação ao art. 7º, realmente
fizemos uma alteração nesse artigo mas não com o objetivo que o Dr. Marcos
entendeu. Quando pensamos no art. 7º qual era o objetivo? Proteger o consumidor,
que aqui chamamos de clientes, mas que é um consumidor. É a questão do uso de
uma palavra. Muito bem. Preciso proteger a grande empresa? Preciso proteger o
cliente que negocia com o gerente, que consegue sentar com o diretor do banco e
negociar a taxa de juros ou o desconto do contrato? Entendemos que não,
entendemos que temos que proteger o hiposuficiente, aquele que não consegue
valer seus direitos.
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Na primeira redação estavam incluídas as grandes empresas, na segunda
redação quem está incluído? O cliente que tem operações de crédito pessoal e de
crédito direto ao consumidor. Estamos protegendo aqueles que o Código de Defesa
do Consumidor também procura proteger, porque o forte ele se protege sozinho, ele
não precisa usar o Código de Defesa do Consumidor porque tem formas de
negociação. O objetivo da alteração do art. 7º foi torná-lo mais claro atingindo a
parcela dos consumidores que gostaríamos realmente de atingir.
Outro ponto importante é com relação às manifestações. A entrevista que
Sérgio e eu demos naquela época tinha o objetivo de mostrar o que a área de
atendimento ao público estava fazendo no Banco Central no sentido de fazer valer
os direitos dos consumidores dos serviços bancários. Fomos mal interpretados e nos
dias seguintes saíram uma série de matérias dizendo que estávamos defendendo os
bancos e que éramos contra os consumidores. Como disse anteriormente, isso não
é verdade, nunca dissemos isto. O diretor Dr. Sérgio Darcy disse que os jurídicos do
Banco Central e do Ministério da Fazenda tinham chegado a conclusão que a
resolução poderia...
(Fora do microfone.)
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – De acordo com o Regimento da
Câmara cabe aos expositores tempo de até vinte minutos para expor suas idéias.
Também está previsto no Regimento que quando há opiniões diversas que os
representantes dessas opiniões diversas sejam convidados a expor o seu ponto de
vista. Mas não está previsto que um expositor responda a um ou a mais expositores.
Cada expositor responde aos Srs. Parlamentares.
Quando V.Exa., com a generosidade habitual, procurou conceder mais tempo
à representante do Banco Central entendi que era para que complementasse suas
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idéias, jamais poderia supor que ela iria, usando da prerrogativa de expositora,
contestar os seus pares.
Na minha interpretação pode estar havendo — até involuntariamente, quem
sabe — uma burla do Regimento. Para compensar isso seria necessário depois dar
a palavra aos citados, até para ser justo com os expositores, porque senão fica
quase uma armadilha, fala-se pouco para depois recuperar o tempo para responder.
Não é o hábito e muito menos o Regimento da Casa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – A questão de ordem de
V.Exa. está deferida. Peço desculpas pela aquiescência mas entendi que a Dra.
Tereza Grossi iria complementar a sua exposição.
Solicito a Dra. Tereza que concluísse a sua exposição para que possamos a
seguir dar a palavra ao autor do requerimento.
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Pela ordem, Sr. Presidente.
Gostaria de dizer que foi bem lembrada essa observação neste momento, mas se
ficarmos na discussão da Mesa, nós, Parlamentares, não poderemos conversar com
os nossos expositores.
Pediria a V.Exa., como já manifestou a intenção de fazer, que desse a
palavra ao autor do requerimento logo após o término da exposição da Dra. Tereza
Grossi e os expositores poderiam durante suas falas complementar alguma coisa
referente à apresentação da Dra. Tereza Grossi.
A SRA. TEREZA GROSSI – Vou parar por aqui e me desculpo com os
Deputados por não ter seguido o Regimento, que na realidade desconhecia.
O motivo de ter pedido para fazer uso da palavra é que quando falei
inicialmente me ative ao assunto específico da pauta, não citei nenhum dos
participantes, nenhum dos convidados desta Mesa e nenhum dos outros órgãos que
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aqui estão representados. Como a minha instituição e eu fomos citadas me senti no
direito de pedir a palavra outra vez para poder fazer as minhas colocações. Mas
encerro por aqui e respondo as perguntas dos senhores.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Dando prosseguimento
aos trabalhos concedo a palavra ao autor do requerimento, nobre Deputado Salatiel
Carvalho.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Sr. Presidente, ao propor a esta
Comissão a realização desta audiência pública o fizemos, antes de mais nada,
ressaltando o firme propósito desta que é a Comissão de Defesa do Consumidor e
foi o palco de todos os debates que ensejaram há doze anos atrás a produção do
Código de Defesa do Consumidor. E como já disse aqui o Dr. João Batista, creio que
é a lei que teve o maior volume de debates nesta Casa, com a participação de
organizações não governamentais, do Ministério Público, porque estava
estabelecendo praticamente o novo arcabouço jurídico nesse campo moderno do
Direito que é a defesa do consumidor. Evidentemente que surgiram as próprias
promotorias de defesa do consumidor, os PROCONs espalhados
com a participação de organizações não-governamentais e do Ministério Público, até
porque estava estabelecendo um novo arcabouço jurídico nesse campo moderno do
Direito que é a defesa do consumidor. A partir da implantação do Código,
evidentemente surgiram as próprias promotorias de defesa do consumidor e os
PROCONs, espalhados por este Brasil afora.
Sr. Presidente, ao presidir a Comissão de Defesa do Consumidor, Meio
Ambiente e Minorias, em 2001, realizamos seminário, dos mais importantes que esta
Comissão já promoveu, sobre a comemoração aos dez anos do Código de Defesa
do Consumidor, lei que representa a menina dos olhos da sociedade brasileira,
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venerada e respeitada por nós e pelo Ministério Público, que exerce sua prerrogativa
constitucional de zelar pelo cumprimento da lei.
Nem quero me referir à resolução do Conselho Monetário, até porque, no seu
início, está escrito que nada do que estabelece aquela resolução pode prejudicar o
que já está estabelecido em lei. Quem ler atentamente a norma perceberá isso. É
um dos primeiros pontos. No entanto, o que nos chocou foi exatamente a notícia,
que deve ser esclarecida por representantes do Banco Central, de que a instituição
estava ao lado dos bancos, principalmente a Dra. Tereza Grossi, nessa tentativa de
desrespeitar o Código de Defesa do Consumidor. A notícia diz o seguinte: “Os
bancos propuseram uma ação direta de inconstitucionalidade contra a aplicação do
Código de Defesa do Consumidor.” Ora, Sr. Presidente, isso não é agressão ao
código, mas à sociedade brasileira. Ninguém melhor do que o Dr. Gabriel para dizer
quais as reais intenções que motivaram os bancos a entrar com essa ação que hoje
se encontra no Supremo Tribunal Federal e deve merecer julgamento nas próximas
semanas. Trata-se de fato real. O que está por trás disso tudo? A intenção dos
bancos em dispensar a aplicação do Código? Por quê? Não há como contestar que
a relação entre bancos e sociedade é de consumo. E a essência do Código de
Defesa do Consumidor é proteger o consumidor nessa relação sempre desigual, que
prejudica o lado mais fraco.
Sinceramente, Sr. Presidente, isso nos choca. E pelo respeito desta
Comissão pelo Código de Defesa do Consumidor, eu diria que V.Exa., como
Presidente, e nós, como membros, temos a responsabilidade de dele ser os
guardiões, assim como tem o Ministério Público o dever constitucional de zelar pelo
cumprimento não só do código, mas de todas as leis brasileiras.
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O Código de Defesa do Consumidor foi debatido pela sociedade e pelos
bancos. Quando realizamos o seminário, em 2000, convocamos representantes do
setor financeiro para dele participar, assim como várias entidades, e fizemos uma
reavaliação do Código. Até lamentamos por ainda termos poucos PROCONs
instalados no Brasil, órgãos por onde respira a sociedade nas suas angústias, as
quais terminam nesta Comissão.
Sr. Presidente, é preciso que o Presidente da FEBRABAN preste
esclarecimentos e a Dra. Teresa Grossi deixe mais clara a posição do Banco
Central, pois existem notícias divergentes: o Governo se manifesta contra essa ação
que está no Supremo Tribunal Federal. Há parecer do Palácio do Planalto, através
do Ministério da Justiça, e parecer do Banco Central. O Governo se manifesta via
Banco Central e Ministério da Justiça contra essa posição. Mas a posição da Dra.
Teresa Grossi é favorável.
Isso precisa ficar bem claro, pois esta Casa tem de saber quem está contra o
Código de Defesa do Consumidor. Diante dessa realidade, ele tem inimigos
poderosos, pois a FEBRABAN é poderosa.
Esta é a primeira pergunta que faço ao Presidente da FEBRABAN e à
Diretora de Fiscalização do Banco Central.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Para responder à
pergunta do Deputado Salatiel Carvalho, concedo a palavra ao Dr. Gabriel Jorge
Ferreira.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – A colocação feita pelo nobre
Deputado Salatiel Carvalho abre-me a oportunidade de realmente esclarecer grande
equívoco que se instaurou em torno dessa discussão. A notícia mencionada por
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V.Exa. há pouco de que bancos se insurgem contra o Código de Defesa do
Consumidor não corresponde ao objetivo da ação direta de inconstitucionalidade.
Como mencionei na minha introdução, as instituições financeiras exercem
atividades típicas de intermediação financeira e também atividades acessórias ou de
serviços. A atividade de intermediação financeira, que significa concessão de
créditos e captação de depósitos, é a atividade mais crítica porque envolve recursos
da poupança pública — recursos de terceiros —, que têm de ser aplicados
diligentemente, de forma que a instituição financeira mantenha sua solubilidade e
sua liquidez.
A controvérsia instaurada em torno da relação instituição financeira e Código
de Defesa do Consumidor refere-se exclusivamente a esse item de crédito e de
depósito. Se assim não o for, o Banco Central do Brasil ou a autoridade reguladora
do sistema bancário pode criar o sistema de supervisão mais eficiente e continuará
correndo riscos, se houver possibilidade de uma taxa de juros que foi contratada
numa operação modificada, contrariando, portanto, política monetária estabelecida
que fixou uma taxa básica de juros. Em função dessa taxa, a instituição financeira,
de acordo com as regras do mercado, pratica a sua atividade.
A atividade de instituição financeira tem de ser conduzida num equilíbrio
muito bem controlado entre ativos e passivos. As instituições financeiras não se
furtam de atender ao seu cliente ou ao seu consumidor da melhor forma possível,
até porque seria absolutamente um contra-senso não fazê-lo. Quando os bancos
compram uma outra instituição financeira, pagam um ágio alto, que representa o
valor de uma carteira de clientes, um fundo de comércio.
Portanto, quando uma instituição compra uma outra, avalia o que vem junto
como carteira de clientes. Seria, como já disse, um contra-senso que uma instituição
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financeira pague um alto preço para comprar outra instituição que coloca o seu
cliente para fora, maltratando-o.
O objetivo da ação é unicamente saber qual o regime jurídico aplicado nas
relações entre atividades de instituições financeiras e Código de Defesa do
Consumidor, quando se trata de matéria de crédito — ativos e passivos. É apenas
isso. Os bancos jamais pretenderiam ter qualquer privilégio em relação ao restante
da economia, no tocante às suas relações com o cliente. Até porque não há sentido.
Ao contrário, os bancos têm realizado encontros periódicos com os PROCONs. Ano
passado, tivemos a iniciativa de fazer um encontro em Campos do Jordão, quando
convidamos representantes dos órgãos de defesa do consumidor — o próprio
Ministério Público esteve presente através de um Procurador de Brasília. Tivemos
amplo diálogo para discutir essa questão. Não há agressão ao Código. Os bancos o
respeitam e o prestigiam
esta questão. Não há agressão ao código. Os bancos respeitam e prestigiam o
código.
Quanto ao número de reclamações em relação aos bancos, o que é muito
grande, se houver tempo gostaria de falar um pouco sobre o assunto. Os bancos
operam anualmente cerca de 18 a 20 bilhões de transações. Se olharmos, por
exemplo, um determinado ano, ano 2000, em cerca de 650 milhões de transações o
Banco Central recebeu uma reclamação. Em 2001, o Banco Central recebeu uma
reclamação em 1 milhão e 200 mil transações. Pode parecer que essas estatísticas
não são utilizadas, que são olhadas de uma forma unicamente do ponto de vista
absoluto, e isso cria esse tipo de distorção.
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Outro ponto. O cliente bancário vai muito mais ao banco do que o cliente de
um estabelecimento comercial. O consumidor de uma instituição financeira costuma
visitá-la várias vezes durante a semana e, às vezes, várias vezes durante o dia.
Portanto, se ocorrer erros ou algum problema, isso tem um reflexo na estatística, o
que não significa uma tendência ou uma forma de os bancos estarem exportando o
atendimento. O objetivo dessa ação, que o senhor mencionou, foi exclusivamente de
pedir ao Supremo Tribunal Federal que diga qual é o regime jurídico aplicável às
instituições financeiras, enquanto exercendo sua atividade de intermediação
financeira. É exclusivamente isso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Gostaria de pedir aos
senhores expositores que limitassem suas repostas a 3 minutos.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Só para ficar mais claro, para
complementar meu entendimento.
Então, a Comissão de Defesa do Consumidor pode ficar tranqüila que essas
informações da imprensa não procedem. Ou seja, a FEBRABAM e os bancos não
estão preocupados com a aplicação do Código de Defesa do Consumidor nas
relações bancárias.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Absolutamente. Nas relações que
compõem relações de consumo, de serviços e atendimento bancário, todas essas
questões não teriam legitimidade e nem os bancos iriam correr um risco ...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - A preocupação dos bancos é
apenas no aspecto de concessão de crédito e de depósito.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - De crédito e de depósito, porque essa
é a atividade que quebra uma instituição se houver um descasamento entre ativos e
passivos.
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O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - No seu entender, nessa de
concessão de créditos de depósitos, o usuário não pode ser visto como consumidor,
e se os bancos cometerem algum abuso nesse campo de concessão do crédito...
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Pode ser visto se tiver havido algum
abuso, se o contrato não definiu claramente qual é o encargo financeiro...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Mas esse que é o objetivo do
Código de Defesa do Consumidor.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Isso, é claro que continua. O que não
pode é haver o questionamento da taxa de juros que foi contratada, que foi
pactuada, em função da execução da política monetária, e a taxa que foi pactuada
no depósito, porque senão você quebra a instituição financeira. Como mencionei no
meu texto, a instituição financeira tem que casar ativos e passivos em termos de
prazo de moeda e de taxas. Este é o único ponto que se discute, e houve um
equívoco na minha opinião na forma como foi abordado por parte da imprensa,
inclusive, que talvez não tenha alcançado esse conceito verdadeiro ou talvez não
tenhamos nos explicado direito.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Dr. Gabriel, só para esclarecer.
O objetivo fundamental de todo código é a defesa do consumidor.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Perfeito.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - V.Exa. acha que nesses dois
aspectos não há nenhuma demonstração ou explicitação de vulnerabilidade do
cliente? do consumidor? Ou seja, ele nunca, jamais, poderá ser prejudicado? Porque
aí, sim, é que estaria o temor de não se aplicar o código nesses dois casos.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Não, absolutamente. O Banco Central
tem competências para regular o funcionamento das instituições financeiras e as
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suas operações. Quando ele editou essa resolução, editou exercendo uma
competência regulamentar, porque achou que deveria também editar normas
aplicáveis à operações, onde os órgãos de defesa do consumidor não estão muito
envolvidos, como, por exemplo, abertura de conta corrente, talonário de cheques,
que são muito próprios do jargão bancário. Mas o objetivo exclusivo é que atividade
de intermediação financeira, crédito e captação de recursos, seja regida pela
autoridade monetária.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Sr. Presidente, não estou
absolutamente convencido, mas, como autor do requerimento, não posso deixar de
privilegiar a sabedoria de Parlamentares como Celso Russomanno, Luciano
Pizzatto, especialistas nesta área. Até gostaria de ouvi-los. Quem sabe talvez
ouvindo-os e às respostas dos expositores, possa entender um pouco melhor as
reais intenções dos bancos nessa matéria.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Sr. Presidente, peço a palavra
para uma questão de ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Tendo em vista a afirmação do Dr.
Gabriel Jorge Ferreira, que tem uma certa lógica, mesmo que questionável.
Simplesmente, o que ele está declarando é 100% diferente das transmissões da
mídia. Temos vários representantes da mídia aqui, lógico. Peço ao Sr. Presidente
uma cópia da ADIN para podermos ler o requerimento. Talvez a Dra. Tereza Grossi
ou o Dr. Gabriel tenham uma cópia da ADIN. Enquanto a Dra. Tereza responde à
sua ponderação, gostaria de olhar o requerimento, porque, realmente, não estou
entendendo o questionamento parcial do Código do Consumidor, que não trata de
taxas de juros, muito menos trata do repasse do tabelamento de juros, que é uma
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relação típica do Banco Central. Mas, como ainda não é o meu momento de
perguntar, a minha questão de ordem é quanto à cópia da ADIN, que eu gostaria dar
uma lida rápida para depois balizar meu questionamento. Desculpe-me a Dra.
Tereza.
A SRA. TEREZA GROSSI - Respondendo ao Deputado Salatiel Carvalho,
mais uma vez, houve da nossa parte, quando demos a entrevista, ou da parte da
imprensa, quando nos ouviu, uma percepção inadequada. Nunca houve da parte de
Diretores do Banco Central ou da instituição Banco Central um posicionamento
contrário à aplicação do Código de Defesa do Consumidor às instituições
financeiras. Em momento nenhum. Se essa fosse a posição do Banco Central ou de
alguns dos seus Diretores, e aí me incluo até como uma peça importante em função
da posição que tenho, Diretora de Fiscalização, o Banco Central teria duzentas
pessoas trabalhando na central de atendimento de público em dez capitais
brasileiras. Fazendo o quê? Tratando de prestar informações e esclarecimentos e de
atender reclamações de clientes de bancos, solucionando em torno de 90% delas
num prazo de até 48 horas. Se fôssemos contra, não iríamos criar um serviço dessa
natureza, simplesmente diríamos que não temos nada com isso e o cliente que vá
ao PROCON, que é quem deve cuidar disso. Portanto, nossa posição não é
contrária. Mais uma demonstração de que não somos contra isso.
Nós nos comprometemos a passar a divulgar a partir de abril a lista dos
bancos mais reclamados. Evidentemente, levando em consideração o porte. Se
tenho um banco com duas agências, cem clientes e cem reclamações ou tenho um
banco com rede no Brasil inteiro com as mesmas cem reclamações, uma coisa é
mais importante que a outra, então teremos que ponderar a questão.
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Com relação ao tipo de serviço que os bancos têm prestado aos seus
clientes, a minha opinião é de que, apesar de ter havido uma melhora, o
atendimento do cliente da agência ainda não é como deveria ser feito. Ainda temos
um número muito grande de reclamações. Apesar de ter dito já e continuar
afirmando que as 24 mil, em 2000, e 26 mil, em 2001, reclamações não é um
número significativo, dado o tamanho do sistema financeiro, o temos percebido é
que este número não cai, pelo contrário, está subindo devagarinho. O que isso
significa
-
pede uma conta e não tem garantia de que aquele dinheiro realmente está entrando
no banco, porque se aquele caixa for arrombado, ou alguma coisa acontecer, sumir
um envelope dele, ele não tem como garantir que realmente depositou e colocou
dinheiro naquele envelope. Ele só tem essa garantia na chancela feita no guichê.
Então, parabéns, Dra. Tereza Grossi. Isso aqui está obrigando os bancos a
receberem as contas. O que estava acontecendo é que todo mundo ia até as loterias
da Caixa Econômica para pagar suas contas, porque o banco se recusa a receber.
Ou seja, o banco se recusa a fazer um dos seus serviços.
O pior é que fui atrás da companhias de energia elétrica e de telefonia para
saber como é a relação comercial entre elas e os bancos. Elas pagam uma taxa
para o banco receber a conta, e nem assim o banco recebe, quer que vá ao caixa
eletrônico.
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E quando vejo uma ADIN como essa, e muito clara, desculpe-me, Dr. Gabriel,
não é nada pessoal, fico indignado. A questão é que não há nenhuma relação de
consumo. Se essa ADIN for julgada favorável aos bancos pelo Supremo Tribunal
Federal, acredito que ele não fará essa besteira, em qualquer relação de consumo
os bancos estarão fora. Quer dizer, na verdade não são só os bancos, todo mundo
quer sair fora do Código de Defesa do Consumidor.
O Instituto Nacional de Defesa do Consumidor tem uma representação no
Ministério da Justiça, que também está no Supremo Tribunal Federal, solicitando o
preço do produto junto ao código de barras, o que os supermercados não querem
fazer. Daí recorreram ao Supremo, e a ação está lá parada há dois anos, porque o
Ministro responsável por ela não tem coragem de julgá-la. Isso é uma vergonha.
Então é assim: cada segmento da sociedade quer sair fora do Código de
Defesa do Consumidor e não sobra absolutamente nada para nós, consumidores.
Agora vejam o que acontece, na prática, com relação aos bancos. Hoje, eles
operam cartão de crédito. Quem fiscaliza cartão de crédito no Brasil? Ninguém,
absolutamente ninguém. O mais interessante é o seguinte: o cartão de crédito
deveria recolher para cada Município, onde está sendo descontado o valor da
compra feita, porque é uma prestadora de serviço, o ISS. Será que alguém conhece
algum Município no Brasil que recebe algum centavo de alguma administradora de
cartão de crédito neste País pela prestação de serviço efetivamente realizada? Não
existe.
Na semana passada, conversando sobre cartões de crédito com o Secretário
de Direito Econômico do Ministério da Justiça, onde está o Departamento de
Proteção e Defesa do Consumidor, ele me disse: “Até para notificar as
administradoras de cartões de crédito é difícil, porque elas não têm endereço certo,
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vivem correndo de um lado para o outro.” O que é pior hoje em dia é os bancos
administrarem os cartões de crédito. Então, cada banco tem seu cartão. Eles fazem
um acordo com a administradora e aquele segmento da sociedade para quem eles
mandam o cartão de crédito é administrado pelo próprio banco, e não pela VISA,
American Express e outras administradoras do mercado.
Infelizmente, é isso que vem acontecendo. Moral da história: os
consumidores, como foi colocado aqui, continuam recebendo cartão de crédito sem
ter feito pedido.
Tenho publicado em meu livro, inclusive uso a portaria do Banco Central,
porque acho que o que abunda não prejudica, essa resolução ajuda, e muito, o
consumidor, e se ferir o Código de Defesa do Consumidor, evidentemente, a lei vale,
está acima da resolução. Mas digo o seguinte para o consumidor: se receber cartão
de crédito, use o ano inteiro, até findar a data de validade do mesmo, e não pague a
taxa. Pague o que consumir, a taxa não, porque o Código de Defesa do
Consumidor, em seu art. 39, é muito claro: todo produto ou serviço entregue ao
consumidor sem que ele tenha pedido inexiste obrigação de pagamento, é
considerado amostra grátis.
Então veja como é profunda essa questão dos bancos, e eles não param
nisso. Hoje em dia os bancos administram também seguros e transferem o
patrimônio maior para uma seguradora. Por exemplo: o Banco do Brasil administra
parte das prestações de serviço de seguro para a Sul América, que tem uma grande
carteira com o Banco do Brasil. E aí sai também das regras do Código de Defesa do
Consumidor a questão securitária, porque é o texto do art. 3º do Código de Defesa
do Consumidor. E como fica essa questão?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Para concluir, Deputado.
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O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Desculpe, Sr. Presidente, mas
é que tem algumas coisas a serem faladas. Espero que meus Pares entendam.
Vamos à seguinte relação: faça empréstimo num banco. Sabe o que acontece
Dr. João Batista? O Ministério Público conhece isso. Os contratos e as notas
promissórias são entregues em branco ao consumidor, e o banco se nega a entregar
esses contratos preenchidos. Não estou falando de um, posso citar dez bancos
nominalmente: ITAÚ, BRADESCO, UNIBANCO, nenhum quer que o consumidor
tenha o contrato assinado, e a nota promissória vai em branco.
Eu mesmo, na compra de um veículo, financiado pelo Banco FORD, o banco
queria me obrigar a assinar nota promissória em branco. Vá atrás das notas
promissórias, o Banco Central pode fazer isso, dos contratos que estão nas
agências bancárias e veja se existe valores. Os valores são colocados nas ações
judiciais, e não o valor emprestado, o principal, como determina a lei. O valor
colocado é aquele, infelizmente, acrescido de juros, correção monetária e uma série
de outras coisas.
Olha só como ficam as relações. Isso com o Código de Defesa do
Consumidor protegendo o consumidor. Imaginem só o dia em que não o tivermos
mais para nos proteger.
Vejam o que os bancos estão fazendo hoje: não encerram contas bancárias.
Cito até como exemplo o HSBC, antigo Bamerindus. Conheço 30 casos de
consumidores que estão tentando encerrar sua conta bancária, que já fizeram por
escrito o encerramento, mas o banco não encerra. Sabem por quê? Porque
enquanto existe a conta bancária, existem as taxas a serem cobradas. Quanto mais
contas bancárias, mais taxas a serem cobradas. Tenho reclamação de
consumidores que pediram o encerramento de conta há seis meses, mas ela não foi
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encerrada. Só que o banco mandou a cobrança. O consumidor afirma que encerrou
a conta há seis meses, e o banco diz que se ele não pagar a taxa o nome vai para o
SERASA. E vai mesmo e não tem quem discuta. Isso eu trago a público.
Vamos mais além: cheques roubados antes de chegar às mãos do
consumidor. Isso acontece constantemente. Os carros-fortes são assaltados no
meio do caminho, e os consumidores não têm sequer conhecimento de que seus
cheques são preenchidos por outra pessoa, tendo seus nomes enviados ao
SERASA. Tenho vários casos desses nesta Comissão para mandar. Não estou
falando de apenas um.
Sr. Presidente, não vou me prolongar, mas tenho muito o que falar da relação
de consumo e de práticas ligadas aos bancos que acontecem todos os dias. Vivo
isso freqüentemente, porque recebo centenas de reclamações desse tipo. Tenho 70
mil acessos no meu site, 5 mil e-mails para receber e milhares de reclamações de
bancos.
No Instituto Nacional de Defesa do Consumidor de São Paulo atendo
gratuitamente cerca de 50 a 100 pessoas por dia. Portanto, vivo na prática o que
acontece. Não podemos aceitar, de forma alguma, que o Código de Defesa do
Consumidor seja abortado de determinados segmentos da sociedade, assim como
não aceitamos a questão do “apagão”. E vamos brigar com o Governo por causa
disso. Temos que achar outros caminhos? Com certeza. Agora, revogar o Código de
Defesa do Consumidor para qualquer setor da sociedade, aí não vamos permitir.
Inclusive já estou correndo com uma lista aqui para fazer uma lei complementar,
caso isso aconteça. E vamos fazer uma mudança na Constituição. Ou seja, a íntegra
do Código de Defesa do Consumidor será uma lei complementar e resolveremos a
questão.
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(Intervenção fora do microfone).
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - A gente muda a Constituição,
em uma penada a gente resolve o problema.
Desculpem, inclusive a minha exaltação, mas é porque o meu sangue sobe.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Concedo a palavra ao
Deputado Luciano Pizzatto.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, demais convidados, eu e o Deputado Celso Russomanno temos
pensamentos muito próximos em relação à questão dos serviços prestados pelo
setor bancário brasileiro. Portanto, quando ele fala antes de mim esvazia um pouco
o meu discurso; e quando eu falo, esvazio o dele.
dado o tamanho do sistema financeiro, estamos percebendo que esse número não
cai. Pelo contrário, está subindo bem devagar. Os bancos, para atender o Banco
Central quando ele transmite uma reclamação do cliente, são ágeis e resolvem
rápido. Noventa por cento deles, em 48 horas.
Porém, o atendimento na agência, que é o que precisa mudar para que a
reclamação não exista, não está melhorando. Esse é o motivo por que vamos
divulgar.
Ponto claro: não somos contrários. A posição do Banco Central é a de aplicar
o Código de Defesa do Consumidor.
Faço questão de ler o que está escrito no parecer, produzido pelo nosso
Procurador Jurídico, em conjunto com o Ministério da Justiça, sobre a posição do
Banco Central:
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Seja julgada improcedente a presente ação direta
de inconstitucionalidade, conferindo-se a expressão
“inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária”, constante do art. 3ª, § 2º, da Lei nº 8.078,
uma interpretação conforme a Constituição, com emprego
do instrumento previsto no parágrafo único do art. 28 da
Lei nº9.868, de 1999, excluindo da aplicação do Código
de Defesa do Consumidor o custo das operações ativas e
a remuneração das operações passivas praticadas por
instituições financeiras no desempenho da intermediação
de dinheiro na economia, de modo a preservar a
competência constitucional da lei complementar do
Sistema Financeiro Nacional.
Essa é a posição oficial do Banco Central.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO - Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
No começo de qualquer exposição, temos que tomar alguns cuidados.
Quando informações conflitantes acontecem, creio que temos de ter cuidados.
Fui até a Mesa, ao Dr. João Batista, buscar um resumo da movimentação que
o Ministério Público — entendi assim — fez sobre essa ação. Vou lhe explicar por
quê, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - V.Exa. está inscrito.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Sim, eu sei. O Deputado Luciano
Pizzatto fez uma pergunta, e a resposta do Presidente da FEBRABAN...
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - V.Exa. está inscrito e
pode esperar o momento de falar.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO –Vou falar depois também.
Só quero dizer que a ADIN apresentada — e foi V.Exa., Deputado Luciano,
que fez a pergunta — tem relação com questões financeiras, com o momento
financeiro, com taxas de juro. Essa ADIN requer a inconstitucionalidade da
expressão “inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária”.
Ou seja, ela requer a inconstitucionalidade de tudo o que o nosso Código de Defesa
do Consumidor prevê.
Por isso alerto a Comissão. Existem informações dadas pela metade.
Sr. Presidente, peço desculpas. V.Exa. pode me chamar a atenção, sem
problemas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Com a palavra o nobre
Deputado Celso Russomanno, que dispõe de 3 minutos.
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Tenha a impressão de que em
3 minutos não conseguirei fazer a minha exposição, de forma nenhuma,
evidentemente respeitando meus companheiros da Comissão de Defesa do
Consumidor.
Em primeiro lugar, gostaria de parabenizar pela realização da audiência o
autor do requerimento, Deputado Salatiel Carvalho. A audiência e o comparecimento
de todos os convidados são extremamente importantes. Esta é a casa do debate,
onde podemos realmente fazer democracia. Quero parabenizar também o Dr. João
Batista pela sua exposição, que foi muito boa, e o Dr. Marcos Diegues. Sinto a Dra.
Amanda ter-se ausentado. Foi extremamente importante a participação de S.Sa., já
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que o Departamento de Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça é o órgão
que determina a política em defesa do consumidor no País.
O Código de Defesa do Consumidor, em momento nenhum, fala sobre as
taxas que devem ser praticadas pelos bancos, até porque ele é genérico, é para
todos os segmentos da sociedade. No seu art. 3º, ele deixa clara a relação de
consumo, para que não escape em nenhum momento onde está o pólo fornecedor e
onde está consumidor. Vai um pouco além no art. 22, determinando como devem
ser os serviços permissionários:
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas
empresas, concessionárias, permissionárias ou sob
qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados
a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e,
quanto aos essenciais, contínuos.
Os bancos são permissionários do serviço público. Isso é muito claro. Só esses dois
artigos que pincelam, exprimem exatamente o que é relação de consumo, muito
bem colocada pelo Dr. João Batista, que excetuou somente as questões de natureza
trabalhista.
Se o Código de Defesa do Consumidor, em primeiro lugar, não fala sobre taxas,
temos a grande discussão que ensejou essa confusão toda, essas ações judiciais
que envolvem práticas de financiamento de automóveis através de arrendamento
mercantil.
Até então, quando se fazia financiamento para compra de veículo, não havia
problema nenhum. Um belo dia, os bancos viram que, fazendo arrendamento
mercantil para pessoa física, se por acaso alguém ficasse inadimplente, o veículo
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seria tomado. Além disso, como se trata de arrendamento, o banco não teria que
devolver absolutamente nada.
Começaram, então, os problemas, porque os bancos disseram que captavam
dinheiro fora do Brasil e por isso emprestavam em dólar. Isso ensejou todas essas
ações nos institutos de defesa do consumidor. O IDEC tem várias ações nesse
sentido, o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor, que presido, também.
Começou-se a pressionar os bancos. Isso fez com que os bancos saltassem de um
lado para outro. Qual era questão? O dinheiro fora ou não angariado no exterior para
que fosse feito o empréstimo no Brasil em dólar? Essa é a primeira questão que
deveria ser fiscalizada pelo Banco Central, para ver se isso realmente aconteceu.
Hoje, esse mundo de ações só existem porque não foi feita uma fiscalização para
saber se esse dinheiro realmente é veio de fora, Dra. Teresa.
Num café da manhã com a Dra. Teresa Grossi, apresentei uma série de questões
relativas à relação bancária com o consumidor, a consórcios, a cartões de crédito.
Algumas dessas questões estão aqui nesta resolução. Quero dizer que, por sinal,
são muito boas.
Se há uma coisa que os bancos não queriam fazer é atender o consumidor no
guichê. Eles simplesmente cessaram esse serviço. Só por imposição do Banco
Central ou porque o Banco Central baixou essa resolução, eles começaram de novo
a fazer o atendimento.
Esqueça pagar conta de telefone, de água, de luz em guichê de banco. O banco não
recebe nem do próprio cliente. Quero que alguém me desminta. Cheguei a travar
uma briga homérica no Banco do Brasil e na Caixa Econômica dentro deste próprio
Congresso para obrigar os gerentes a receberem contas no guichê. Eles se
negavam a receber, principalmente se fossem de outro banco. Nem pensar em
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pagar uma conta com o cheque de outro banco no guichê. Ou é em dinheiro ou o
banco não recebe. Onde está esse serviço permissionário?
O que interessa aos bancos agora é diminuir a quantidade de funcionários. Não
estou aqui para defender sindicatos de funcionários, mas a intenção é encaminhar
todo mudo para os caixas eletrônicos, onde o consumidor faz o pagamento de uma
conta e não tem garantia de que realmente aquele dinheiro está entrando no banco.
Se aquele caixa for arrombado ou alguma coisa acontecer, se sumir o envelope dele
dos serviços prestados pelo setor bancário brasileiro. Portanto quando ele fala
antes, esvazia um pouco o meu discurso. Quando eu falo, eu esvazio o dele. Vou
tentar complementar a visão dada pelo Deputado Russomanno, se é que isso é
possível, porque a visão de S.Exa. foi muito veemente. Inicialmente quero elogiar a
Dra. Teresa Grossi porque manteve uma relação com essa Comissão durante o
último ano extremamente aberta. Ela é uma pessoa que defende suas posições
também de uma forma muito firme, mas como o Deputado Russomanno disse, tudo
que foi possível dentro das limitações legais do Banco Central já foi feito com esta
publicação. E sei que está sendo desenvolvido um trabalho melhor pelo Banco
Central, tanto em relação aos consórcios como em relação aos cartões de crédito. E
entendo a dificuldade do Banco Central nesse aspecto. Creio, após ter ouvido as
ponderações daquele Banco, que talvez não seja somente o Banco Central que nós
devamos estar cobrando. Acho que o Banco Central deve ser limitado à sua
atuação, mas devemos cobrar sim do Ministério da Justiça essa relação na área do
direito do consumidor. Quanto ao tema da discussão, resgatando o que foi dito aqui
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anteriormente, quero dizer que li rapidamente a ADIN e realmente o senhor tem
razão, Dr. Gabriel: segundo o requerimento, a posição é de decretar parcialmente
inconstitucional um trecho do texto do art. 12 da Lei de Defesa do Consumidor.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA (Fora do microfone) – Inaudível.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO – Art. 12, não?
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA (Fora do microfone) – Inaudível.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO – É, exatamente. Só que me
perdoe, a sua interpretação é muito lógica, se fosse esse o efeito dessa declaração.
Porque na verdade ao pedir que elimine-se do texto a aplicação do Código de
Defesa do Consumidor aos serviços de operação de natureza bancária, “natureza
bancária, financeira, securitária etc”. Natureza bancária é toda a relação do
consumidor de serviço. Eu acho que se a preocupação verdadeira da FEBRABAN
fosse a que foi apresentada aqui — não estou duvidando da sua preocupação —
deveria simplesmente ter sido pedida uma ação declaratória no sentido de que o
Código de Defesa do Consumidor não se aplica às questões de valores e créditos,
juros etc. E não eliminar a aplicação sobre as operações e serviços de natureza
bancária. Porque aí a amplitude é total. A justificativa, o senhor tem excelentes
advogados, são de uma capacidade fantástica em termos de poder explicar o
processo constitucional e de legalidade da questão, mas a ótica que foi dada ao
eliminar-se essa parcela do texto leva a uma interpretação muito mais ampla,
excluindo o setor bancário do Código de Defesa do Consumidor. E esse é um
presente, Dr. Gabriel, que o povo brasileiro não podia ter recebia ao completar 10
anos do Código de Defesa do Consumidor. Doze, mas foi logo depois dos nossos 10
anos, em 80 completaram-se os 10 anos. Então, acho que o setor bancário, que eu
respeito muito, deveria ter dado o exemplo ao contrário, ou seja, ter assumido o
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Código de Defesa do Consumidor, relação essa que eu não vejo. Eu vejo, a título da
tentativa, é a busca da diminuição do custo do crédito e a garantia de diminuição do
risco. A título dessa procura, que é um direito legítimo do setor bancário, e até
mesmo do Estado de proteger isso, eu tenho visto passarem por cima do direito à
individualidade, do direito do cidadão de ter sigilo à sua informação, e passar por
cima de quase todos os direitos fundamentais do Art. 5º da Constituição Brasileira.
Quase todos. O setor bancário, ao interagir CGCs, CPFs etc descaracteriza a
existência da individualidade da pessoa humana, que é um direito fundamental,
como nosso Ministério Público está aqui para garantir, do cidadão brasileiro, da
pessoa, do indivíduo, do ser humano brasileiro. Essa é uma insensibilidade que, por
mais que nós tenhamos que defender os interesses empresariais e da legalidade de
um processo que seja mais dinâmico, com diminuição de custos etc gera um preço
que a nação brasileira não pode pagar.
Quanto ao Código de Defesa do Consumidor o que nós buscamos nesta
Comissão é a transparência. é a possibilidade de o consumidor ver a cobrança de
uma taxa, que pode ser legítima, mas que tenha, como nós exigimos na conta de
luz, na conta d’água, na conta de telefone, nas gôndolas dos supermercados, uma
explicação clara do que seja essa bendita taxa que estamos pagando. Qual a
relação que está sendo cobrada? Que nós não tenhamos que ver, sistematicamente,
as operações de crédito sendo casadas com outras operações. Porque o que eu
entendo como banco é o lugar onde se negocia dinheiro. Aqui no Brasil, não. Se
uma pessoa se senta na frente de um gerente de banco e diz que quer negociar
dinheiro, a primeira coisa que o gerente diz é o seguinte: “Bom, você tem saldo
médio para pedir dinheiro emprestado?” “Ou se você tiver um valor da poupança
igual ao que está pedindo emprestado, eu te empresto. “ Bom, então, não precisa de
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banco. Claro, o banco tem um cliente bem melhor que é o Governo. Falo isso de
uma maneira prática. Tenho empresas, trabalho com banco 24 horas por dia, e sei o
que é essa relação de opressão porque o cidadão chega perante o gerente do
banco precisando do recurso. E sai de lá com seguro de vida para ele, para a tia,
para a avó, para um parente que já morreu, e é (ininteligível) no limite do seu
seguro. Uma barbaridade. Banco no Brasil só poderia ser permitido operar na ação
financeira, na relação financeira. Não poderia operar outro tipo de atividade,
corretora etc. Mas tem coisa mais grave: banco no Brasil opera agência de viagens.
O Banco do Brasil é o maior concorrente do setor de agência de viagens deste
País, colocando em risco a existência de milhares e milhares de empregos. A
agência de viagens da BBTur opera em conjunto com a agência do banco. Eu tenho
uma microagência de viagens, sei bem disso. O que acontece é o seguinte: Ou os
grandes clientes operam com a BBTur ou não ganham empréstimo. Agora, está
escrito isso? Não, não está.
Nós vamos nos dedicar este ano a trabalhar em relação ao cartão de crédito.
Em relação aos cartões de crédito existe uma relação com os bancos extremamente
estranha. No mínimo estranha. O Deputado Russomanno falou sobre a questão do
cartão de crédito e o banco. Então vamos pegar alguns cartões de crédito
aleatoriamente na minha carteira. Dois cartões. Visa. Isso não é um cartão Visa, é
um cartão do Banco do Brasil.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Administrado pelo Banco do Brasil.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO – Não, administrado não. Ele é
operado acho que integralmente. Porque estou no exterior, eu tenho um problema
com o cartão de crédito, a operadora do Visa diz: “O senhor fale com o seu banco.”
Eu digo: “Não, eu quero falar com a Visa.” “Não, a Visa não tem nada a ver com o
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seu cartão.” O limite que eu tenho aqui é dado pelo banco. A restrição de crédito que
eu tenho nesse cartão é porque uma empresa coligada tem um programa de
saneamento no setor agrícola, aquela restrição está aqui nesse cartão. O gerente
responsável, meu saldo médio do banco, determina quanto eu posso gastar. Ora, a
minha senha de operação da conta corrente está nesse cartão Visa. O meu saque
do banco é feito com o cartão Visa. Como que essa não é uma operação casada
com o Banco? E como essa não é uma operação da qual não se deve prestar
contas ao Banco Central? O Mastercard, Caixa Econômica. Se eu tivesse com meu
American Express aqui, seria HSBC. E mais: cartões que estão subordinados ao
banco são virtuais, porque se você tiver um problema com qualquer um desses
cartões é impossível conseguir umas resposta por escrito. Temos aqui presentes
representantes do IDEC e do Ministério Público: quem conseguir a tarefa de ter uma
resposta por escrito num cartão de crédito, vai ganhar um prêmio especial da
Comissão, porque é impossível. Pode mandar fax, carta, notificação registrada.
Silêncio absoluto. Eles não existem. São entes neste País que devem ter relação
muito íntima com o meio da informática. Eles são virtuais. Agora, o teu gerente tem o
cartão, tem o limite, tem a conta, tem o código vinculado. Essa é uma relação que
tem que estar intimamente ligada ao Código de Defesa do Consumidor e que tem
que estar também subordinada às operações de natureza bancária.
Portanto, Dr. Gabriel, fiquei muito feliz com o seu esclarecimento de que não
foi essa a intenção da FEBRABAN. Fica o meu voto de confiança à sua declaração.
Mas gostaria de dizer que a interpretação que pode ser dada eliminando-se essa
parcela do texto do Código de Defesa do Consumidor será danosa, e daí não será
aquela que o senhor apresentou, será aquela que a imprensa efetivamente divulgou.
Acho até que há um tempo hábil para os seus advogados alterarem essa ação e
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pedirem especificamente a intenção que o senhor aqui apresentou. E creio que o
Código de
hábil de seus advogados alterarem essa ação e pedirem, especificamente, a
intenção que o senhor apresentou.
O Código de Direito do Consumidor é um grande instrumento para melhorar a
relação entre o banco e o consumidor, aumentando, inclusive, os lucros do banco.
Tendo um consumidor mais feliz e confiante, sem dúvida ele usará mais os serviços
do banco. A relação tornar-se-á mais positiva.
Muito obrigado a V.Exa., Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Franqueamos a palavra ao Dr.
Gabriel Jorge Ferreira e à Dra. Tereza Grossi, quando convier, para responderem às
inquisições feitas pelos Deputados Celso Russomanno e Luciano Pizzatto.
Prosseguiremos com os Deputados Luiz Ribeiro e Arlindo Chinaglia.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – As considerações dos jovens
Deputados Celso Russomanno e Luciano Pizzatto foram semelhantes, com ênfases
diferentes, mas centrando suas observações em procedimentos: operações
casadas, deficiência de informação e dificuldade de encerramento de conta
bancária.
O Deputado Celso Russomanno dizia que o Código não se refere, em
nenhum momento, às taxas de juros.
A idéia da propositura da ADIN, como disse há pouco, foi de definir o regime
jurídico que é aplicável ao crédito e ao depósito; ao custo do dinheiro que se
empresta e à remuneração(?) do depósito. O objetivo exclusivo foi esse. Qual a
razão? O Código tem dez anos. Ninguém pode imaginar que esperamos dez anos
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para tomar essa iniciativa, porque a relação entre as instituições financeiras e os
órgãos de defesa do consumidor é sadia.
Registrei que realizamos encontros anuais, seminários, com a participação
dos PROCONs de todo o País e de representantes do Ministério Público, buscando
as soluções dos problemas.
Discordo das observações dos Deputados Luciano Pizzatto e Celso
Russomanno referentes à generalização dos serviços do sistema bancário. Em
qualquer setor há deficiências, ocorrem falhas, faz parte do ser humano, ainda mais
hoje em que a tendência é utilizar cada vez mais os serviços eletrônicos, tendo em
vista o volume dos serviços.
Sem qualquer hesitação, o nosso sistema bancário é um dos mais eficientes e
competentes do mundo. Digo isso com muito orgulho. Trabalho no setor há cerca de
44 anos. Comecei em uma empresa, onde permaneço até hoje. Acompanhei a
evolução desse sistema. Se compararmos a qualidade de serviços de instituições
financeiras do exterior com as brasileiras, veremos que a nossa não deixa a desejar.
As instituições financeiras brasileiras deram demonstrações de competência que
jamais se viu em lugar nenhum do mundo. Nos planos econômicos, quando a
decisão de mudar a moeda ou de bloquear as contas era tomada na sexta-feira, na
segunda-feira as instituições financeiras tinham que estar adaptadas.
Há um novo sistema de pagamentos em implantação, com prazo previsto
para o dia 22 de agosto, o que é uma tarefa descomunal pela mudança que trará a
toda a sociedade. Os bancos têm que dar entrada a esse novo sistema, em conjunto
com o Banco Central, muito bem preparados.
Dentro da economia, não hesito em dizer que os bancos foram os que mais
investiram em tecnologia, pesquisa, equipamentos, softwares e hardwares, para
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prestar o melhor atendimento. Os atendimentos automáticos ou auto-atendimentos
foram o resultado de um grande esforço dos bancos para oferecer opções no
atendimento bancário.
Lembro aos senhores que há no País um sistema de pagamentos e de
recebimentos, em que se presta serviços às concessionárias de serviços públicos.
Trata-se de um volume descomunal de contas de valor pequeno. Várias vezes o
PROCON trabalhou conosco no sentido de conversar com as concessionárias, que
elas deveriam unificar os valores de contas e cobrar a períodos mais extensos.
Contas de valores pequenos, por exemplo, deveriam ser unificadas em período de
três meses. Tudo isso por quê? Porque havia um grande volume. Seria impossível
abrir agências em quantidade para eliminar filas. Referimo-nos a um sistema de
recebimentos, que não é uma atividade bancária. Sou o mais velho do Plenário, na
década de 40, existiam as corretorias estaduais e federais que arrecadavam tributos
e as concessionárias tinham suas agências para recebimento de contas. Houve uma
evolução recente, o Banco Central autorizou a criação dos chamados agentes
correspondentes, em que seria possível fazer a pulverização do serviço de
cobranças de contas de valores menores.
Fez-se um grande investimento no setor financeiro. O que o setor investiu em
treinamento e continua investindo é fantástico. Esse setor é o que hoje tem o maior
investimento em formação de pessoal, para qualificá-los na execução de suas
funções.
Reafirmo, nosso sistema bancário é muito eficiente, de muita qualidade,
prestando excelentes serviços a este País, e é um dos mais sólidos e estáveis do
mundo. O Banco Central tem hoje um serviço de supervisão comparado aos
melhores do mundo, de modo que tem a fotografia do que acontece em cada
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instituição. Há reclamações de clientes encaminhadas ao Banco Central. Depois que
o Banco Central tem a informação do que aconteceu — e ele cobra isso num prazo
extremamente curto —, determina a retificação, o estorno, a devolução. O Banco
Central não deixa o cliente ir à Justiça reclamar, exerce a competência de forma
firme.
Claro que ocorrem erros e desvios. Num volume de 18 bilhões de transações
por ano, se fizéssemos uma relativização desses dados, veríamos que não há uma
expressão ou um material que questionem a qualidade dos serviços bancários
oferecidos.
Esse é o primeiro ponto a abordar.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO – V.Sa. me desculpe. O senhor
reiterou este fato duas vezes — estou quebrando o protocolo —, se é tão irrelevante,
por que a ação?
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Chegarei a esse ponto.
O Deputado Celso Russomanno mencionou
a qualidade dos serviços bancários.
Esse é o primeiro ponto.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Desculpe-me, V.Sa. reiterou por
duas vezes esse fato — estou quebrando o protocolo — ; se é tão irrelevante, por
que a ação?
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Vou chegar nesse ponto.
Qual é o grande problema que estamos enfrentando? No intróito, mencionei
os riscos jurídicos. O risco jurídico reside na medida em que são propostas ações
coletivas por órgãos de defesa do consumidor em que se questiona operação ativa
ou passiva de instituição financeira. Por exemplo, operações de crédito imobiliário.
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As instituições financeiras pagaram aos depositantes de poupança o IPC, no Plano
Collor, e mutuários insurgiram-se nas operações ativas querendo pagar o BTNF e
não o IPC. Na Justiça, conseguiu-se provar, obtendo-se a decisão favorável do STJ
no sentido de que as instituições financeiras tinham direito à cobrança do IPC. Isso
foi uma ação civil pública ou uma ação civil coletiva. Em alguns Estados, liminares
suspenderam o pagamento até mesmo do principal das operações de crédito
imobiliário, um dos mais importantes para a economia, pelo que representa para a
realização do sonho da casa própria e para o fortalecimento da construção civil.
Esse é o único ponto que se discute. Quer dizer, é realmente não excluir dessa
relação de consumo o contrato bancário no que se refere à concessão de crédito, ao
custo do dinheiro, como lembrou Tereza Grossi, e da remuneração do passivo. Se
isso não foi colocado de forma clara, como lembrou S.Exa., talvez tenha sido
questão de redação, mas nossa visão é de obter o esclarecimento do regime jurídico
aplicável a essa parte específica do negócio financeiro.
Com relação ao oferecimento de cartão de crédito pelas respectivas
companhias sem que tenha sido solicitado, essa prática deve ter diminuído muito.
Essa prática começou quando esse produto foi-se tornando mais popular. Por ser
um meio de facilitação de pagamento, as instituições passaram a oferecer o produto.
Há recomendação expressa de todas as instituições para que essa prática não seja
adotada, bem como em relação às operações casadas, o seguro, lembrado por
V.Exa.
Essas operações subordinadas a outras nasceram há muitos anos em função
do critério de reciprocidade, mas diminuíram ao longo do tempo. Hoje os bancos
olham muito mais sua relação com o cliente. Em função de ser um conselheiro do
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cliente, este se aproxima da instituição financeira pela qualidade dos serviços que
ele oferece.
Mas não vamos nos iludir, a instituição financeira administra riscos, trabalha
com recursos do público. A instituição financeira tem o direito de zelar pela aplicação
e eficiência desses recursos. Quando V.Exa. mencionava a quantidade de
informações que o gerente pede para conceder crédito, lembrei-me de um filme...
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO – Era uma informação anormal. É o
nível de relação com a sociedade.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Sr. Presidente, ainda disponho de
tempo?
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Se possível, gostaria que
V.Exa. concluísse a exposição para darmos oportunidade...
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - O crédito tem de ser objeto de análise
de risco. Se assim não procede, a instituição financeira está sendo imprudente, pode
estar fazendo uma gestão temerária.
Por exemplo, a preocupação com pequenas e médias empresas. Sempre se
diz que o setor precisa ser apoiado financeiramente. Temos grande dificuldade de
conhecer a situação econômica de pequena e média empresas, porque elas não
têm balanços que refletem de forma confiável os dados ali contidos para que se
possa fazer uma análise de crédito técnica, como acontece em todos os lugares do
mundo.
Quanto à inscrição do cliente em cadastros, entendo que a legislação precisa
ser aprimorada para que se possa fazer um cadastro não apenas negativo, mas
também positivo; com as qualidades do cliente, não apenas com seu lado ruim, que
é mais ou menos o que acontece atualmente.
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Eu também disse no início da exposição que há uma agenda de trabalho a
ser feita. Como filtra os grandes problemas que ocorrem na economia nacional,
principalmente nas empresas que vendem serviços, esta Comissão tem de fato um
rol de informações muito importante para nos ajudar a corrigir erros e buscar
soluções.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Passo a palavra à Dra. Tereza
Grossi.
A SRA. TEREZA GROSSI – Vou fazer apenas algumas observações rápidas,
uma delas sobre como fazer chegar o serviço bancário a um número cada vez maior
de usuários, o problema do pagamento das contas.
O Dr. Gabriel Jorge Ferreira mencionou o item correspondente bancário.
Entendemos que essa regulamentação, aprovada pelo Banco Central, surtirá
bastante efeito porque vai ser possível a qualquer banco fazer convênio com
comerciante de pequenas cidades ou vilas onde não seja possível instalar uma
agência bancária, passando esse comerciante a funcionar como prestador de
serviços bancários. Isso vai ajudar a disseminar o serviço bancário por locais onde
hoje não existem agências bancárias.
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Desculpe-me, posso fazer uma
pergunta sobre algo importantíssimo?
A SRA. TEREZA GROSSI - Pois não.
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - E nas cidades onde não
existem ou estão sendo fechadas as agências bancárias? Às vezes pessoas que
residem em pequenas cidades têm de se locomover para outra a fim de fazer
pagamento de conta. Como o Banco Central vai...
A SRA. TEREZA GROSSI – O correspondente...
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O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Mesmo fora do Município?
A SRA. TEREZA GROSSI - Mesmo fora do Município. Não é preciso haver
agência de banco no lugar para que haja correspondente.
Outro ponto importante que tem a ver com o consumidor é uma
regulamentação que aprovamos no Banco Central no ano passado. Refiro-me à
portabilidade, o direito do cliente de, se quiser mudar de banco, levar para o outro
seu histórico de crédito, todo o seu cadastro, o histórico do seu relacionamento com
a instituição. Isso melhora substancialmente a vida do consumidor de serviços
bancários.
Quero fazer uma observação sobre o problema do contrato em branco,
mencionado pelo Deputado Celso Russomanno. Na nossa resolução...
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sei o que consta da resolução.
A SRA. TEREZA GROSSI - Há um item que estabelece que o banco tem de
adotar medidas para entregar ao consumidor a cópia dos contratos que o
consumidor assinou.
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Mas continua acontecendo de
forma diferente, Dra. Tereza Grossi. A Comissão de Defesa do Consumidor, Meio
Ambiente e Minorias, por intermédio do seu Presidente, tenho certeza absoluta,
participaria de uma fiscalização — a Comissão integra o Sistema Nacional de
Defesa do Consumidor, juntamente com o Banco Central — para verificar isso nas
agências bancárias. Não podemos generalizar, como disse o Dr. Gabriel Jorge
Ferreira, mas, na maioria dos bancos, encontraremos os contratos nas agências,
contratos
Eu não posso generalizar, como bem disse o Dr. Gabriel Ferreira, mas a maioria dos
bancos vai encontrar os contratos nas agências, contratos de gaveta de
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financiamento de automóveis principalmente, que não estão preenchidos. O
consumidor não tem a cópia do contrato e as notas promissórias assinadas estão
em branco.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Ainda vou franquear a palavra
por alguns minutos ao Dr. Gabriel Ferreira.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Eu gostaria muito de chamar os
ilustres convidados para fazermos um encontro lá na FEBRABAN. E devemos fazer
um encontro trazendo a diretoria, os diretores setoriais, pois estão representados os
que participam de todos os setores dentro de bancos. Eu acho que isso seria muito
proveitoso. Recebi depoimentos como esse.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO - Sr. Presidente, o Sr. Gabriel Ferreira vai
ter oportunidade até de prestar outros esclarecimentos nas próximas perguntas. Eu
estou aqui aguardando há muito tempo também. Se o senhor pudesse dar
continuidade aos trabalhos, depois S.Sa. poderia complementar nas respostas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Eu vou franquear a palavra ao
Deputado Luiz Ribeiro e, em seguida, ao Deputado Arlindo Chinaglia, para que no
final nós possamos alcançar todos.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Obrigado, Sr. Presidente.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, senhoras e senhores convidados,
quero agradecer a presença de todos. Eu vou tentar ser um pouco diferente. Eu vou
fazer perguntas, até porque eu não tenho a capacidade que o Deputado Luciano
Pizzatto e o Deputado Celso Russomanno têm de verbalizar as questões. Então, eu
vou direto às perguntas, até porque nós estamos tratando de instituições que não
são empresas quaisquer, são instituições que, pelos balanços e pelos lucros
apresentados, o Dr. Gabriel até nos disse que talvez sejam as melhores do mundo.
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Acredito que até nisso, em termos de apresentação de resultados, são as melhores
do mundo.
A primeira pergunta é para o Dr. João Batista de Almeida:
Dr. João Batista, eu fiz um tipo de interpretação quando o Dr. Gabriel Ferreira
falou. Até peço desculpas de novo, pois tive de usar da palavra naquele momento de
maneira até um pouco agressiva. Mas parece que as coisas estão mais ou menos
encaminhadas. Parece que o senhor é o Vice-Diretor que entrou com a ADIN da
CONSIF, não é? Veio uma interpretação. Quer dizer, talvez não esclarecendo muito
no primeiro discurso, mas, na visão do Ministério Público, o que realmente a
FEBRABAN quer? O senhor já tratou disso, mas eu gostaria que o senhor revelasse
a visão do Ministério Público. Com essa ação, com essa ADIN, o que que a
FEBRABAN quer na realidade?
Ao Sr. Gabriel Ferreira, as perguntas são as seguintes:
Apesar de o senhor ter dito que existe, o senhor não disse de quem é a
orientação para que os bancos não operassem em determinadas carteiras. Eu quero
saber do senhor se os bancos brasileiros operam em carteiras de turismo, em
carteiras cambiais, em carteiras de seguros e também em bolsas de valores. Quanto
representa isso no movimento dos bancos? Qual é o faturamento anual?
Eu sei que o senhor pode até responder dizendo que isso não tem a ver com
a nossa audiência pública. Mas seria bom se pudesse responder. Quantas
instituições são congregadas pela FEBRABAN? (Risos.)
O senhor também errou o nome do Celso. Então, está tudo certo.
Empatamos. (Risos.)
Qual é o faturamento mensal das instituições financeiras que compõem a
FEBRABAN?
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Com relação à minha segunda pergunta, à questão do turismo, à questão
cambial, à questão de seguro, etc., se existem bancos fazendo isso, o senhor na sua
ADIN deixou claro que essas carteiras operadas — não uma carteira específica para
contratação de crédito — estariam separadas? Ou seja, o Código de Defesa do
Consumidor valeria para elas ou não? Pergunto isso, porque vale para todas as
outras empresas que lidam com essas carteiras.
Os bancos apresentam lucros. Os senhor saberia dizer se esse lucro é
específico das transações financeiras ou se existem outros componentes que podem
oferecer esse lucro?
Para a Sra. Teresa Grossi, eu não tenho realmente perguntas. Quero
parabenizá-la pelo seu trabalho. Nós temos acompanhado o seu trabalho durante
muito tempo. Porém, o que se alega aqui da Comissão não é um puxão de orelha,
nada disso, mas um pedido: quando se tratar do consumidor, não deixe de trazer o
assunto especificamente ao conhecimento da Comissão, para que nós também
possamos dar a nossa opinião. Então, isso seria muito importante. Logo, não se
trata basicamente de uma pergunta.
Farei uma outra pergunta ao Sr. Gabriel Ferreira. O apresentou alguns
números. O senhor afirma que vocês têm um movimento de seiscentos milhões de
transações em dinheiro. Eu gostaria de saber se é seiscentos milhões ao mês. E o
senhor também afirma que só há uma reclamação até hoje no Banco Central. Eu
gostaria de saber qual é a periodicidade desses dados. E a outra refere-se a alguns
bilhões de transações. Eu gostaria de saber se são referentes a dia, a mês ou a ano.
(Pausa.)
É ao ano, não é? Então, não é preciso nem escrever essa pergunta.
Eu acho que essas perguntas são suficientes.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Passamos a palavra ao
Deputado Arlindo Chinaglia.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, senhoras e senhores convidados que nos honram com sua presença, eu
estou com uma impressão que eu quero tentar esclarecer aqui. Quando o Dr.
Gabriel Ferreira afirma que tão somente se busca com a ADIN impetrada pelo
CONSIF saber qual é o regime jurídico que deve reger a relação entre os clientes do
banco e as instituições financeiras, parece-me que a própria ADIN está contrariando
o que S.Sa. está dizendo, salvo melhor juízo. Aqui eles dizem:
“…inconstitucionalidade de expressão constante do §2º do art. 3º da Lei nº 8.078, o
Código de Defesa do Consumidor. Aí está dito: “Não incidência do Código de Defesa
do Consumidor sobre as operações ativas, passivas e acessórias do Sistema
Financeiro Nacional. Violação do art. 192 da Constituição Federal”. Veja: o senhor
disse que jamais a FEBRABAN haveria questionado o Código de Defesa do
Consumidor. Mas, se a essência da atividade e do lucro do Sistema Financeiro é
exatamente o que está contido nesta ADIN, parece-me que os senhores estão
questionando o Código de Defesa do Consumidor no que diz respeito às atividades
financeiras e bancárias. Se assim é, o senhor em dado momento da sua exposição
falou algo. Poderei não me lembrar exatamente das palavra usadas, mas creio que
retive o conteúdo. O senhor falou assim: “Neste momento histórico, o senhor me
parece ter encadeado a importância da estabilidade do sistema.” Isso é algo com o
que eu concordo. Mas, o óbvio se impõe. Em dez ou onze anos de existência do
Código de Defesa do Consumidor, independentemente das divergências que
tenhamos e temos em relação à orientação da política monetária do Governo, do
ajuste fiscal, etc., o fato é que o Sistema Financeiro foi o segmento de atividade
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econômica que mais lucrou no País com o Código de Defesa do Consumidor
vigendo. Ou seja, perdoem-me, mas não me convenci. Eu não vou dizer que seria
uma falácia, porque não quero ser agressivo. Mas colocar como pretexto que o
Código de Defesa do Consumidor é um risco à estabilidade do Sistema Financeiro
Nacional parece-me que é um argumento completamente despropositado.
Não cabem considerações de ordem econômica do País, de momento
histórico nem da Argentina e nem de panelaço, como alguns juristas inclusive
disseram na imprensa.
histórico nem de Argentina nem de panelaço, como alguns juristas inclusive
disseram na imprensa.
Pergunto ao senhor: na sua opinião, o cliente, o consumidor, ou melhor
dizendo, o cidadão é hiposuficiente frente ao banco ou não? A Dra. Tereza Grossi e
o Dr. João Batista, se entendi bem, em dado momento, justificando a resolução do
Banco Central, valorizaram, com razão, a importância do deficiente físico. Agora,
mesmo não sendo deficiente físico, pergunto também a Dra. Tereza Grossi, se ela
julga o cidadão, o consumidor ou o cliente hiposuficiente frente ao banco ou não.
Antecipo-me parafraseando Leon Trótski, que, ao explicar as injunções
políticas da correlação de força na sociedade, falou: “Quando um assaltante chega
para um cidadão, encosta-lhe uma arma no peito, ele fala: ‘de-me a carteira ou a
vida’.” Ali se faz uma negociação. Porém, naquela condição, não há negócio melhor
para o cidadão do que entregar a carteira. Mas é só imaginar um outro momento que
evidentemente entregar a carteira não é um bom negócio para aquele que não tinha
alternativa.
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Quero chegar nas taxas de juros, o que se pode chamar de contratos
leoninos. Pergunto a Dra. Tereza e ao Dr. Gabriel: que outro segmento ou atividade
econômica senão o sistema financeiro bancário pode ter lucros que extrapolem a lei
da economia popular? Não há. O único segmento que pode ter lucros de 1000%,
1400% é o sistema financeiro e bancário.
Parto do pressuposto que vocês questionam todo, com a defesa naquilo que
é essencial. Pior. Perdoem-me se eu estiver equivocado. Parece-me que a disputa
entre a FEBRABAN e o Governo é uma Batalha de Itararé, porque a imprensa está
dizendo que o Governo Federal concorda com o pleito principal dos bancos quando
ressalta que o Código de Defesa do Consumidor não pode questionar taxas e juros,
exatamente a arma no peito daquele que se socorre do banco.
O jornal Gazeta Mercantil, em matéria assinada por Daniel Pereira, diz: “Em
uma das petições, a CONCIF diz que os pareceres do Presidente Fernando
Henrique Cardoso, elaborado pelo Ministério da Justiça e o Banco Central e da
Procuradoria-Geral da República, ‘na aparência, contrários a ação, reconhecem que
o CDC...”
Pergunto a Dra. Tereza e ao Dr. Gabriel: O senhor mantém que é só na
aparência que o Governo Federal está contra a ação que a CONCIFE impetra? Dra.
Tereza, o Banco Central avalia — pergunta a mais direta possível. Quero que a
senhora entenda pelo menos a intenção da pergunta —, na sua opinião — pretendo
reproduzir o que aqui estamos conversando, por justiça —, o CONCIFE tem razão
no pleito? O Supremo Tribunal Federal deve atender o pleito ou deve manter a
prevalência do Código de Defesa do Consumidor?
Aproveito para pedir, se possível, o parecer do Banco Central por inteiro para
que, se possível antes do encerramento desta reunião, possamos tocar um pouco
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mais no assunto. Mas antecipo a preocupação. Vou buscar, se não agora,
posteriormente, o texto para saber qual é a verdadeira opinião do Banco Central.
Preocupou-me, quando, em dado momento, ficou a impressão de que houve má
interpretação da imprensa. Não que não possa ter havido, mas de repente — admito
como hipótese —, a imprensa pode estar percebendo aquilo que outros não estão.
Penso que a CONCIF entregou o ouro. Ao buscar o amparo do Presidente, do
Banco Central, da Procuradoria-Geral da República, entre outros que foram citados,
de repente pode ter falado a verdade. Quero saber se é isso mesmo. Perguntei se o
senhor reitera que é só na aparência que esses órgãos estão contra, no mérito, a
impetrada pelo senhor.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Com a palavra a Dra. Tereza
Grossi.
A SRA. TEREZA GROSSI – Primeiro, respondendo a manifestação do
Deputado Luiz Ribeiro, sabemos do interesse da Comissão em participar das
discussões que existem dentro do Banco Central sobre o que afeta o consumidor.
Pessoalmente, já estive algumas vezes discutindo com alguns Deputados,
como o Deputado Celso Russomanno e Luciano Pizzatto. O diretor Sérgio Darci(?)
tem um contato até mais estreito, porque é o diretor que trabalha com a parte das
normas. Dentro do possível, estamos sempre mantendo um contato bastante aberto.
Comprometo-me, no futuro, talvez tornar isso um hábito mais freqüente.
Com relação às perguntas do Deputado Arlindo Chinaglia, primeiro, se eu
considero que o cliente bancário é hiposuficiente. Nem todos; alguns, sim, outros,
não. Como mencionei anteriormente, a mudança que fizemos na resolução do
Banco Central foi exatamente para cobrir as necessidades do que consideramos
hiposuficiente, que é aquele que não tem capacidade de negociar. Uma grande
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empresa não precisa de um Código de Defesa do Consumidor. Ela tem capacidade
de negociação suficiente para fazer valer seus direitos perante o banco.
Com relação ao problema do código, se aplicaram ou não a taxa de juros.
Vamos conversar um pouco sobre o nível das taxas de juros no Brasil. O nível da
taxa de juros no Brasil é bastante alto. No início do ano passado, até março, havia
uma tendência descendente. Com todas as crises que aconteceram no exterior e no
Brasil também, tivemos que aumentar as taxas de juros durante o ano de 2001.
Recentemente, na última reunião do Comitê de Política Monetária, reduzimos um
pouquinho a taxa de juros básica da economia. Essa é a taxa que normalmente é
aplicada aos passivos.
Olhando do lado do ativo, temos que pensar nos prédios bancários. Os
prédios bancários no Brasil são altíssimos, por uma série de razões que, se
fôssemos discutir aqui, iríamos discutir talvez por horas a fio. O que é importante
nisso? Ao invés de querer tabelar taxa de juros, deixar para a Justiça a decisão se
aquela taxa de juros é justa ou não, o Banco Central vem tomando uma série de
medidas no sentido de reduzir os prédios. Se olharmos o tamanho dos prédios que
existiam em 1998, eles vêm numa curva descendente até por volta de março, abril
de 2001. De lá para cá, ele se estabilizou até porque as taxas de juros se
estabilizaram. Mas conseguimos reduzir os prédios de pessoa física em torno de
metade do que ele era, até março. De lá para cá, ele subiu um pouquinho. Hoje
imagino que, comparando com 1998, estejamos conseguindo uma redução entre
35%, 40%, com uma série de medidas que o Banco Central está tomando, para
fazer uma redução dos prédios. O que temos feito? Temos tentado dar mais
transparência às taxas praticadas pelos bancos. Divulgamos a nossa
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do spread. O que temos feito? Temos tentado dar mais transparência às taxas
praticadas pelos bancos. Divulgamos na nossa página as taxas praticadas por todos
os bancos. Isso não existia até 1999, é coisa nova.
Há uma série de outras medidas que vêm sendo tomadas pelo Banco Central,
no sentido de tentar reduzir o spread e vai ser nessa redução que vamos conseguir
a prática de taxas de juros menores. Conseguimos reduzir a taxa básica da
economia, por outro lado temos que reduzir os spreads e aí, então, vamos ter taxas
de juros menores de um dígito, que são praticadas em outros países na mesma
situação do Brasil — países emergentes que têm taxas de juros menores do que as
nossas.
Não vai ser com a decisão que vai ser possível mexer nos contratos
bancários, que se vai conseguir reduzir taxas de juros neste País, pelo contrário, o
efeito é outro e é muito ruim, porque vai haver uma redução da intermediação, uma
menor oferta de crédito. Seria a mesma coisa que, por exemplo, voltarmos à época
de tabelamento de preço no supermercado, de preço de carro e coisas dessa
natureza.
Respondendo à sua última pergunta sobre a decisão do Supremo, nossa
opinião já mencionei anteriormente. Entendemos que o código se aplica a tudo que
se refere a prestação de serviços bancários, com exceção das operações de
intermediação, que são as operações de crédito e de captação de depósitos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Com a palavra o Dr. Gabriel.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - (Inaudível.) também na linha do que
mencionou a Dra. Tereza, em parte.
Quem toma crédito, pressupõe obrigação de que deve devolver à instituição
financeira, porque está usando recursos de terceiros, e a instituição tem que dar
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crédito a quem tem capacidade de amortizar os encargos do financiamento dentro
dos prazos respectivos.
Na prática, em função das crises recentes, em que aumentou o nível de
inadimplência, as instituições financeiras têm tido uma grande compreensão e
renegociado dívidas de devedores que estavam com dificuldades em fazer seus
pagamentos, seja aumentando o prazo, seja até repactuando taxas.
Mas, o fato é que o crédito, da mesma forma que o passivo ou o depósito que
o lastreia, é atividade que delas não pode se dissociar, sob pena de causar aquele
desequilíbrio que mencionei.
Por isso, concluindo, já na outra pergunta do senhor, sobre o que se pediu ao
Supremo, é rigorosamente isso, que a relação consumidor e instituição financeira,
quando se tratar de operações de empréstimos ou operações de captação, essas
operações situam-se no âmbito da política monetária, portanto, sujeitas à regulação
e às normas emanadas do Conselho Monetário Nacional e executadas pelo Banco
Central .
A respeito dos lucros, discordo do senhor, quando diz que os bancos são as
únicas empresas da economia que têm resultados assim tão bons. Primeiro, caberia
fazer um reparo do porquê dos bancos brasileiros serem tão eficientes. Porque são
competentes, eles souberam adaptar-se. Vivemos, não se esqueçam, uma fase
longa de inflação, um período difícil, onde as instituições financeiras viviam do
chamado floating inflacionário e que depois tiveram que passar para o regime de
tarifas
Posso citar, se me permitirem, alguns agentes financeiros que não estão mais
nesse mercado, porque não foram capazes de se ajustar à mudança do regime
inflacionário para o regime de ter que viver de receita de crédito ou de tarifas. Só
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para lembrar alguns nomes: Bandeirantes, BANEB, BANERJ, BANFORT, BCN,
Bamerindus, BANORTE, BMD, Crefisul, Econômico, CINDAM, Interatlântico,
IOCHPE, Itamaraty, Marka, Martineli, Pontual, Real, ou seja, muitos quebraram,
muitos mudaram de dono, em função da dificuldade de se ajustarem.
Dou até outros exemplos de instituições que não quebraram, mas tiveram
dificuldades de obter o retorno do investimento feito pelos seus sócios. É o caso do
Bandeirantes, que a Caixa Federal de Depósito havia comprado; é o caso da
operação do Banco Boavista, que pertencia a Grupo Espírito Santo e que foi
comprado por uma instituição financeira brasileira; e recentemente o Itaú, que
adquiriu o Sudameris. Isso porque fizeram investimentos que se revelaram
inadequados. Os problemas que havia nesses bancos eram tantos que tinha que pôr
mais investimentos, então resolveram vender essas instituições ou fazer parcerias
que os livrassem desses problemas.
Essa fase de transição foi muito crítica. Os que não souberam administrá-la,
sucumbiram ou saíram do mercado ou deixaram de ser instituição financeira.
Os bancos investiram muito em consolidação, adquiriram instituições,
investiram muito em sistemas, buscando um fator essencial para o êxito de qualquer
instituição financeira, que é a redução de custos. Só assim ela pode ser eficiente na
atividade de intermediação financeira.
Quero dar um exemplo para o senhor, pegando um retorno sobre o patrimônio
líquido de algumas empresas brasileiras, que foram muito bem sucedidas e com um
patamar de retorno muito acima ao de bancos. Geralmente, olha-se os lucros dos
bancos de uma forma isolada, não se olha em relação ao retorno sobre o patrimônio,
sobre o capital que já investiram.
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(Não identificado) – Mas, nos balanços publicados em jornais o que sai é o
lucro líquido de banco.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Sim, o lucro líquido, mas se o senhor
olhar o balanço consolidado, que é aquele que congrega todas as companhias de
que os bancos participam, aparece um índice que é o retorno sobre o patrimônio.
Por exemplo, vamos pegar Souza Cruz: retorno sobre o patrimônio de 50,6%;
Embraer: 45,6%; Polialden: 40,6%; Petrobrás: 34,1%; Petróleo Manguinhos: 33,1%;
Itaú: 31,5%, que foi um dos resultados maiores. Citei para o senhor, como exemplo,
seis empresas e há tantas outras com retorno sobre o patrimônio acima de 20%.
Portanto, é uma questão de competitividade, de eficiência, de buscar valor
para acionistas, lembrando que os bancos são todas as empresas abertas, são
empresas de mercado, os fundos de pensão, que congregam economias de
trabalhadores, todos eles são grandes investidores em ações, inclusive em ações de
bancos. São grandes contribuintes de impostos, que remuneram adequadamente
seus acionistas e que agem com toda transparência.
Ao responder essa pergunta do Deputado, também respondi a uma das
perguntas do senhor.
(Não identificado) – Ainda não, Sr. Presidente, ainda não respondeu a
nenhuma das minhas perguntas. Só esclarecendo.
Para sistematizar, Sr. Presidente, as perguntas foram diretas. Tanto minhas,
quanto do Deputado Arlindo Chinaglia. Já são quase 17h, Sr. Presidente, daqui há
alguns minutos poderemos ser chamados.
Vimos o Dr. Gabriel, a Dra. Tereza escreverem as perguntas, então têm que
disciplinarem suas respostas de maneira sistemática, ou seja, o senhor respondeu
apenas as perguntas do Deputado Arlindo Chinaglia, as minhas, o senhor não
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respondeu. Após, ainda há as do Dr. João. São perguntas objetivas. Então, por
favor, se o senhor pudesse — solicitando a vênia do Presidente...
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Posso até verificar se terminei as
perguntas
são perguntas objetivas. Então, por favor, se o senhor pudesse... Eu até, solicitando
a vênia do Presidente...
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Eu só queria verificar se eu terminei
as perguntas do senhor...
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Pois não, Deputado Arlindo
Chinaglia.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - Eu queria, então, Sr. Presidente,
aproveitando que eles ainda vão procurar responder as perguntas do Deputado
Ribeiro... Comentando as respostas, eu fiz uma pergunta ao Dr. Gabriel que ele não
respondeu. Se em sua opinião é apenas aparente a contraposição do Banco
Central, do Ministério da Justiça, da Procuradoria-Geral da República, como está,
entre aspas, em uma reportagem, atribuindo-se ao CONSIF a segunda petição do
CONSIF. Então, gostaria que o senhor respondesse porque eu estou... A Dra.
Tereza falou: no que diz respeito à taxa de juros, nós achamos que o Código de
Defesa do Consumidor não deve agir. O que eu interpreto, até, para a senhora, caso
queira me corrigir que, naquilo, em minha opinião, que é mais importante para os
bancos, para a FEBRABAM, para o CONSIF, o Banco Central está de acordo.
Porque, quando o Presidente da FEBRABAM relata que busca e questiona a ação
do Código de Defesa do Consumidor no que diz respeito à captação e empréstimos
— eu poderia até para, digamos, ilustrar, perguntar para o senhor, o que é que dá
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mais dinheiro para bancos, que não seja captação e empréstimo. Isso é a essência
da lucratividade.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – É, a essência da lucratividade.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Os senhores, então, estão
questionando a essência do Código de Defesa do Consumidor para a essência da
atividade dos senhores. Então, não pode ficar aquela situação. Há um político
famoso que fala: eu não tenho dinheiro lá fora. Mas, ao mesmo tempo, aciona
grandes escritórios jurídicos para guardar o dinheiro para ele.
Então, o senhor não pode... senão ficaríamos incomodados... Acho que é
melhor dizer: nós questionamos o Código de Defesa do Consumidor para a essência
da nossa atividade, porque acho que fica bastante claro, até porque está escrito.
Caso contrário, fica uma tentativa mal sucedida, pelo menos aqui, de não
entendermos, sequer, o que se busca. Observe, vocês estão procurando o
instrumento. Depois de outras tentativas, vocês se socorrem do último órgão que
pode dar uma decisão favorável.
E eu estou tentando, simplesmente, consolidar aquilo que é, para mim, o
óbvio: o sistema financeiro, os bancos, a FEBRABAM, o CONSIF, que questionam o
Código de Defesa do Consumidor, sim, naquilo que é o essencial para o
consumidor, para o cliente, e naquilo que, em contrapartida, é o essencial para os
bancos.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Não, eu não diria naquilo que é
essencial para o cliente. Eu diria que, quando o Código diz que se aplica às
operações bancárias e creditícias, todas as imposições daquele Código, inclusive o
direito de invocar a teoria da imprevisão, e justificar, então, um pedido em juízo para
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modificar um contrato, e reduzir uma taxa de juros, ou mudar um índice de uma
operação financeira...
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – O Sr. me perdoe, Dr. Gabriel,
caso contrário perderemos tempo, e fica parecendo uma conversa entre surdos, mas
eu quero me fazer entender. Perdoe-me, se não estou sendo claro. Mas, observe, se
os bancos têm que cumprir normas que dizem respeito à política monetária...
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Perfeito.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - ... que é definida pelo Governo,
o banco jamais terá prejuízo, porque, caso tenha prejuízo, ele vai se socorrer das
leis para cobrar do Governo: “vocês me meteram em uma fria”. Ou não é assim?
Eu estou aparentemente abstraindo, mas, até para não parecer que os
bancos são tão coitadinhos assim, mas os riscos que correm quando há
inadimplência, quando alguém não paga, isso faz parte do cálculo dos senhores
para cobrar pelos serviços de intermediação, ou não. Vocês devem ter estudos,
seguramente têm, que uma determinada parcela quebra, uma determinada parcela
não vai conseguir honrar o compromisso.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Sim, sim.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – E vocês compensam, porque é
próprio da atividade.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Mas isso aí significa descumprimento
de contrato que foram assumidos.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Mas vocês não terão prejuízos,
é isso que estou dizendo, não precisa atacar o Código de Defesa do Consumidor.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Não. Mas veja bem, acredito que aqui
continua havendo um equívoco de entendimento.
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O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Por favor, então.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – O que eu quero dizer, é que nós não
estamos insurgindo contra o Código de Defesa do Consumidor, e o respeitamos. E
reafirmo tudo isso aqui. O que estamos pedindo é que se defina o regime jurídico
aplicável à intermediação financeira, se é a legislação que administra a política
monetária, ou o Código do Consumidor, é isso.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Quando o senhor diz que não
está questionando, o senhor não me convence. Explicarei, para que a gente, pelo
menos, fique com divergências, mas bastante claras.
Vocês não querem que o Código de Defesa do Consumidor faça essa
regulação, é isso. Tanto é que vocês fazem uma ADIN, alegando
inconstitucionalidade. É isso. Aí o senhor faz de uma maneira eufêmica, mas quero
dizer ao senhor que não me convenceu, e creio que a ninguém que está nos
assistindo. Por quê? O senhor fala: nós simplesmente queremos que se defina qual
é o regime jurídico que irá regulamentar. Mas tem o pressuposto que não pode ser o
Código de Defesa do Consumidor.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Bem, o que estamos pedindo é que a
operação de intermediação financeira continue e seja reconhecida ou interpretada
pelo Supremo Tribunal Federal, de que é regida pela legislação aplicável ao sistema
financeiro.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Dr. Gabriel, para o bom
andamento dos trabalhos, em função do adiantado da hora e compromissos com o
Plenário, esta Presidência pediria, na medida do possível, que o senhor fosse mais
objetivo nas respostas, e procurasse também não convencer. A sua resposta fica à
critério do Parlamentar, caso não o satisfaça.
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Para uma questão de ordem darei a palavra ao Deputado Luiz Bittencourt.
O SR. DEPUTADO LUIZ BITTENCOURT – Sr. Presidente, eu só queria fazer
uma colocação, aqui, até para auxiliar o Deputado Arlindo Chinaglia que, inclusive,
faz parte do material dessa sinopse que foi distribuído a nós no início dessa
audiência. E ele faz uma alusão, aqui, em um dos textos, dizendo o seguinte: “o
banqueiro pode comprar a mercadoria que ele adquire, que é o dinheiro, por menos
de 1% ao mês do seu consumidor do fundo de investimentos, e vendê-lo a mais de
10% ao mês para o seu consumidor de cheque especial, ou ainda, a mais de 14%
para o seu consumidor de cartão de crédito. Isso permite ao banqueiro um lucro de
1.000% no primeiro caso, e 1.400% ao mês, no segundo caso”. E ele faz, ainda,
uma comparação: “jamais um fabricante de calçados, para ficar com o exemplo do
ilustre advogado, poderia operar com tais margens, e se o fizesse, estaria infringindo
o disposto na Lei de Economia Popular, que limita o lucro a 20% sobre o custo,
mais, sobretudo, o fabricante de calçados não teria condições de mercado para agir
dessa forma”. Ele diz aqui, que, na realidade, é uma ilusão achar que o cliente de
um banco está lidando com a livre concorrência. Ele não está lidando com a livre
concorrência. Ele não pode atravessar a rua, e encontrar um outro banco com taxas
mais favoráveis, com condições mais favoráveis, com a prestação de serviços mais
favorável.
E, aqui, mais na frente, o outro texto volta a dizer o seguinte: “Isso se chama teoria
da lesão enorme, excesso de obrigação para uma das partes”. Então, fica bem claro
que o setor bancário quer fugir do Código de Defesa do Consumidor, porque, na
realidade, ele infringe essa lei. O consumidor é onerado, explorado, tem um serviço
de má qualidade, não tem como reclamar. O Banco Central não tem um serviço de
olho no olho. Tem um serviço estatístico, mas olho no olho não tem. Conheço
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pessoas que vão à agência bancária e são maltratadas, são obrigadas a fazer
contrato de gaveta, fazer aqueles serviços que são vendidos conjuntamente, e ele
não tem como reclamar. O Banco Central não tem esse serviço de olho a olho, ele
tem um serviço estatístico, ele não estabelece esse controle.
Então, a discussão no nosso caso, aqui, da Comissão, queremos trazê-la
para esse campo, que entendo ser a colocação que o Deputado Arlindo Chinaglia
está fazendo aqui. Se os bancos têm um lucro excessivo no Brasil, ou se têm um
lucro no País, não é pecado ter lucro. Mas entendo que não é só pela competência.
Existe uma reserva de mercado, existe uma condição de favorecimento das
empresas bancárias, em que eles são favorecidos por essa situação.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sr. Presidente, só queria
concluir a minha participação, pois estava na reta.
(Intervenção inaudível no plenário.)
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Agradeço, mas acho que é útil
para nós.
Quero encerrar dizendo à Dra. Tereza e aos demais candidatos que na
exposição do Dr. João Batista — e eu até gostaria de ter mais tempo para perguntar
algumas de suas opiniões —, quando ele, literalmente, ponto a ponto, mostra frente
ao Código de Defesa do Consumidor, digamos, a falta de necessidade daquela
resolução
Literalmente, ponto a ponto, mostra frente a defesa do consumidor, digamos, a falta
de necessidade daquela resolução do Banco Central. V.Sa. ao dizer que concorda
que o consumidor não pode ou que não deva questionar a taxa de juros...
A SRA. TEREZA GROSSI – Só um minuto, por favor.
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O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - Na hora que couber, de acordo
com a Presidência.
A SRA. TEREZA GROSSI – Só um minuto.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Pois não.
A SRA. TEREZA GROSSI – Não disse que o consumidor não deva
questionar a taxa de juros. Não é isto. O que disse é que o contrato assinado,
pronto, precisa ser levado até o fim. Este é o ponto. Não é a Justiça que depois de o
contrato assinado e a taxa de juros aceita que vai dizer que aquela taxa não deve
ser aplicada, que tem de ser outra. Este é o meu ponto. O consumidor deve, sim,
questionar a taxa de juros alta, deve questionar a taxa de juros altíssima do cartão
de crédito, deve questionar a taxa de juros do cheque especial, não deve usar o
cheque especial. Ele tem todos os direitos. A partir do momento que o consumidor
chegou a um acordo com o banco, que assinou um contrato, daí temos um
documento acordado entre as partes. Se não existirem cláusulas dentro daquele
contrato que possam indicar que o consumidor foi enganado não há porque aquele
contrato não ser levado ao final.
Então, quando se fala de taxa, de como se está remunerando o depósito e
qual a taxa aplicada ao contrato, vamos imaginar uma hipótese, por exemplo. A taxa
de juros básica da economia, hoje, é de 18,75. Então, vou a um banco e aplico o
dinheiro a 18.75, ok? Só existe esta operação no banco, não tem outra. Uma outra
pessoa vai lá para retirar aquele dinheiro emprestado. Então, apliquei 1 mil reais e
uma outra pessoa vai lá e retira mil reais emprestado. E vamos, por hipótese, do
jeito que estou dizendo que hoje o spreed da pessoa...
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Já entendi.
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A SRA. TEREZA GROSSI - Então, vamos que eu aplique 20 a 25 no ativo.
Daí, essa pessoa do 25 vai lá no juiz e o juiz fala: “ não, não são 25, são 12”. Se
recebo 12 no ativo como vou pagar 18.75 no passivo?
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - V.As. tem razão.
A SRA. TEREZA GROSSI - É esta relação que estamos dizendo que não
pode ser alterada por uma decisão judicial, senão desequilibra e quebra o banco.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Para ajudar V.Exa.,
Deputado Arlindo Chinaglia.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sr. Presidente, só para concluir,
com licença. Veja, neste aspecto ao invés de o Banco Central — e não sei, por isso,
gostaria de ler — no seu posicionamento frente ao pleito apresentado pela
FEBRABAN tem que ter cuidado, porque se concordar na essência com aquilo que a
FEBRABAN reivindica V.Sa. vai abrir de tal monta a possibilidade que o consumidor
vai ser, digamos assim, hiposuficiente. Portanto, os casos individuais ou esses
casos que V.Sa. relata como hipótese, entendo perfeitamente, não podem ocorrer
uma situação onde de um lado recebe-se muito e de outro lado paga-se pouco ou
vice-versa. Estes casos específicos podem e devem ser regulamentados, porém
preservando-se as linhas gerais do Código de Defesa do Consumidor, senão dar-se-
á o inverso.
A SRA. TEREZA GROSSI - Posso ler novamente o que li no início?
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sr. Presidente, pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Pois não, Deputado
Celso Russomanno.
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Um aparte só para orientar a
discussão. Veja, a questão é a seguinte: todos os contratos são discutidos não pela
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taxa de juros praticada no contrato como um todo, mas pelos juros sobre juros e
pelas cláusulas abusivas que estão constando deste contrato. É em cima deste
parâmetro que as ações estão correndo na Justiça.
Veja, se V.Sa. está dizendo que concorda que os contratos possam ser
discutidos no que diz respeito a suas cláusulas abusivas citadas no Código de
Defesa do Consumidor e nulas de pleno direito, dentre estas cláusulas existem
cláusulam de cobrança de juros sobre juros, multas que não estão amparadas no
Código de Defesa do Consumidor, que são multas superiores a 2% e uma série de
outros aspectos.
A SRA. TEREZA GROSSI - Também somos contra a cobrança de multas
altas.
(Não identificado) - Sr. Presidente, pela ordem.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - Sr. Presidente, pela ordem.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO - Só para colocar os trabalhos em ordem,
Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Vamos assegurar a
palavra ao Deputado Luiz Ribeiro.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Vou ser obrigado a ser indelicado com
os companheiros e também com os convidados.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - Mas, Deputado Luiz Ribeiro, é
um segundo.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Sr. Presidente.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Nesta hipótese que V.Sa. fez
jamais o Código de Defesa do Consumidor ...
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O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Sr. Presidente, vamos colocar os
trabalhos em ordem.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - ... ou a Legislação daria uma
atenção contrária aos bancos. Para isso, não é necessário alterar. Só isso. Nesta
hipótese que V.Sa. levanta a Justiça garantiria o interesse do banco.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Com a palavra o Dr.
Gabriel Jorge Ferreira para dar seqüência às perguntas.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Sr. Presidente, para colocar os trabalhos
em ordem. Fiz perguntas e até agora — estou aqui desde às 14h, como todos os
companheiros — não obtive resposta. Gostaria de obter respostas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – É o que estamos
fazendo.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – O que está acontecendo, Sr. Presidente,
é que a discussão se transformou em um monólogo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Deputado, é o que
estamos fazendo e vamos assegurar a palavra.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Gostaria de obter esta resposta e depois
vou me retirar de deixar a Comissão sem nenhum tipo de problema. Agora, preciso
das minhas respostas, só isso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Com a palavra o Dr.
Gabriel Jorge Ferreira, atendendo e respondendo às perguntas do Deputado Luiz
Ribeiro.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – V.Exa. me perguntou, inicialmente, se
as operações tipo atividade de turismo, atividade de seguro ou de cartões de crédito,
se estas operações estariam abrangidas também pelo requerimento...
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O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Corrigindo, perguntei o seguinte. V.Sa.
falou em discurso que existiam recomendações, mas não disse de quem, para que
os bancos parassem determinadas atividades. Hoje, um banco é um supermercado
de vários serviços e dentre deles consta turismo, títulos cambiais — não sei se é
primário de banco, não sei —, vários tipos de seguros, bolsa de valores. E, por
exemplo, quanto a turismo e seguros tenho certeza de que o Código de Direito do
Consumidor é válido e na sua totalidade tem de ser aplicado. A minha pergunta —
ajudado pelo Deputado Arlindo Chinaglia — é se na sua ADIN foi retirado este
serviço para que o Código de Defesa do Consumidor possa agir dentro do banco
nestas questões, pelo menos nestas: turismo, seguros.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Veja bem, turismo é uma companhia
autônoma.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Sim ou não, por favor? Na sua ADIN.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Não.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – A segunda questão, por favor.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – V.Exa. me perguntou quem são os
associados da FEBRABAN.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Quantos são os associados, quantas
instituições o V.Sa. tem?
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – A FEBRABAN tem hoje cerca de 120
associados: bancos comerciais e bancos múltiplos.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Cento e vinte associados.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Cerca de, não tenho o número certo.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Perfeito, sem problema. Quanto o
faturamento mensal?
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O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Não tenho este número.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Mas V.Sa. poderá mandar, com certeza.
Quanto a outra pergunta acabei esquecendo. Demorou tanto tempo para
conversarmos que acabei esquecendo. Não sei se V.Sa. anotou.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Não, foi o que anotei, Deputado.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Muito obrigado, reservando o direito a
minha réplica, e possível tréplica, porque até agora não obtive a resposta. Gostaria
da resposta a minha pergunta feita ao Dr. João Batista de Almeida.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Com a palavra o Dr. João
Batista de Almeida.
O SR. JOÃO BATISTA DE ALMEIDA – Inicialmente, farei um
esclarecimento. A autora da Ação Direita de Inconstitucionalidade é a Confederação
Nacional do Sistema Financeiro — CONSIF, que é composta por quatro federações.
A primeira delas é a Federação Nacional dos Bancos. Não é a FEBRABAN. Não sei
porquê, mas é a Federação Nacional dos Bancos. Portanto, talvez seja interessante
convocar alguém da Federação Nacional dos Bancos.
Segundo ponto, a pergunta do Deputado é direta: o quê a FEBRABAN com a
ADIN nº 2.591 ou o que a CONSIF quer com a ADIN nº 2.591. Bom, isto consta do
pedido da ação. É muito simples. A CONSIF quer que o Supremo Tribunal Federal
declare com eficácia ex tunc — esse é um detalhe importante — a
inconstitucionalidade da expressão “inclusive de natureza bancária financeira de
crédito e seguritária constante do art. 3º § 2º
Bom, isso consta do pedido da ação. É muito simples, a FUNCIF, quer que seja
declarada.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – V.Sa. pode aproximar o
microfone um pouco.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – A CONSIF quer que o Supremo
Tribunal declare como a eficácia ex tunc. Este é um detalhe importante, a
inconstitucionalidade da expressão, inclusive, de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, constante do art. 3º, parágrafo 2º, da Lei nº 8.078, de 1990, que
é o Código de Defesa do Consumidor, em face da pretendida afronta aos comandos
dos artigos 5º e 192, da Constituição.
Ele quer a inconstitucionalidade, essa expressão. Se o Supremo julgar
procedente a ação direta de inconstitucionalidade, tornar-se-á inconstitucional, não
terá eficácia esse artigo. Portanto, o banco estará fora do Código de Defesa do
Consumidor. Tudo o que está relacionado a banco está fora do Código de Defesa do
Consumidor.
(Não Identificado) – Mesmo naquela hipótese da área turismo trabalhando
dentro do banco, do supermercado?
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Entendo que não. É uma outra
empresa que trabalha dentro do banco. A BB-TUR é uma outra empresa que está
dentro do banco, não é o Banco do Brasil. A BB-TUR é uma empresa vinculada ao
Banco do Brasil.
(Não Identificado) – Então haveria esse entendimento?
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Mas o que é ligado a banco, não a
outras coisas, seria inconstitucional, quer dizer, não poderia ser aplicado o Código
de Defesa do Consumidor às relações bancárias, vamos dizer assim.
O grande perigo está aqui: com eficácia ex tunc. Significa que, desde a
vigência do Código de Defesa do Consumidor, que foi em setembro de 1991.
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(Não Identificado) – Entendi, essa expressão quer dizer “desde de setembro
de 1991”, todas as possíveis ações que tiverem.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – É. A outra expressão é ex nunc, a
decisão do Supremo para frente, do dia que ele julgar a ação para frente. Ex tunc é
para trás, retroativo. Então afeta todas as ações que estão em andamento hoje, em
qualquer nível de tribunal, enquanto não julgado em caráter definitivo.
É lógico, se ela é inconstitucional, é inconstitucional desde lá de trás. Não
seria inconstitucional desde agora. Daí a razão de se pedir eficácia ex tunc, desde
lá de trás. Isso quer dizer que os consumidores que estão brigando hoje na justiça,
as associações que têm ações em andamento, serão afetados com a declaração de
inconstitucionalidade.
Frisando bem, a CONSIF pediu apenas a declaração da inconstitucionalidade.
Se julgada a ação procedente, declara-se inconstitucional. Se for julgada
procedente, é inconstitucional; se for julgada improcedente, é válida a expressão
que consta do Código de Defesa do Consumidor.
Aí temos outra posição, temos de abordar. Peço um pouco de tempo para
esclarecer isso. Temos umas variantes aqui que foram colocadas pelos pareceres
que constam dos autos. Primeiro, a informação da Presidência da República, na
verdade, é assinada pelo Presidente da República, encaminhando as informações
elaboradas pela Advocacia Geral da União. Na verdade, é um parecer do Ministro da
Justiça, do Procurador Geral do Banco Central. Esse parecer foi encampado pela
Advocacia Geral da União. O que há de diferença entre a petição inicial da CONSIF
e as informações da Presidência da República, é que as informações dão um passo
além. Elas concordam que o Código é constitucional, sim, aplica-se aos bancos.
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Porém, a Presidência da República pede que haja uma interpretação conforme a
Constituição.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Realmente, V.Sa. está
falando um pouco baixo. Aquele microfone é melhor. Realmente, não entendemos
essa parte.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Queria mostrar que há um passo adiante,
houve uma evolução. Se me defendo apenas da ADIN, estou defendendo uma ação
que foi pedida a inconstitucionalidade, simplesmente. Ou é constitucional ou é
inconstitucional. As conseqüências já sabemos. Mas uma informação da Presidência
da República que encampa Banco Central ou Advocacia Geral da União é dado um
passo adiante. Eu vou ler.
“Logo, requer seja julgada improcedente a presente ação direta de
inconstitucionalidade”. Até aqui é igual à inicial, conferindo-se a expressão ‘incluindo
a de natureza bancária, financeira de crédito e securitária, constante do art. 3º,
parágrafo 2º do Código de Defesa do Consumidor’. Não a interpretação conforme a
Constituição, toma o emprego do instrumento previsto no parágrafo 1º, com o art. 28
da Lei nº 9.868, de 10 de novembro de 1999, excluindo da aplicação do Código de
Defesa do Consumidor o custo das operações antigas e a remuneração das
operações passivas praticadas por instituições financeiras no desempenho da
intermediação do dinheiro na economia, de modo a preservar a competência
constitucional da Lei Complementar do Sistema Financeiro Nacional.
Se o Supremo julgar improcedente, o Supremo não pode fazer interpretação
conforme. Se julgou a ação improcedente, é constitucional. Se é constitucional, não
tem interpretação. Mas o fato seguinte, o Procurador Geral da República emitiu um
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parecer. O parecer é mais ou menos igual o da Presidência da República com uma
variação.
“Opino seja julgada procedente, em parte, a ação para declarar a
inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, a expressão ‘inclusive a de
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, inscrita no art. 3º, § 2º, da Lei
nº 8.078’, para mediante interpretação conforme a Constituição, tal como
preconizado pelo Ministro de Estado da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, e pelo
Procurador Geral do Banco Central do Brasil, Carlos Eduardo da Silva Monteiro,
afastar a exigência que inclua naquela norma do Código de Defesa do Consumidor “
o custo” nas operações ativas e a remuneração das operações passivas praticadas
por instituições financeiras no desempenho da intermediação do dinheiro na
economia de modo a preservar a competência constitucional da Lei Complementar
do Sistema Financeiro Nacional, incumbência atribuída ao Conselho Monetário
Nacional, Banco Central do Brasil, nos termos da Constituição da República.
Praticamente, o Procurador Geral encampou as informações, o parecer da
Presidência da República, mas ele corrigiu uma falha das informações do
Presidência da República. Se julgou improcedente, não tem interpretação conforme
a Constituição. Se julga procedente, parcial, em parte, aí declara-se a
inconstitucionalidade parcial sem a redução de texto. Significa que não retiro do art.
3º, parágrafo 2º aquela expressão ‘inclusive de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária’. Não retiro, continua lá no Código. Mas dou alcance muito
menor através da interpretação conforme a Constituição.
Esse é o grande perigo. Temos três posições diferentes, uma corrigindo a
outra, porque a petição inicial não pede interpretação conforme. Isso foi pedido pela
Presidência da República, mas de maneira equivocada a improcedência.
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Improcedência não leva interpretação conforme. Já o parecer do Procurador Geral
corrige e pede procedência em parte para declarar inconstitucionalidade parcial sem
redução de texto.
Então em termos de público, a solução é boa. Todos estão pedindo a
constitucionalidade no Código de Defesa do Consumidor, só que o efeito pode ser
desastroso. Onde está escrito operações ativas e a remuneração das operações
passivas praticadas por instituições financeiras, por exemplo, no desempenho da
determinação de dinheiro na economia significa que tudo que é relacionado a juro
está fora do Código de Defesa do Consumidor. Mas falar de cláusula abusiva, se
houver fraude, aí, fica para depois. No caso a caso, até lá, já foi declarada de
maneira oblíqua a inconstitucionalidade. O efeito será o mesmo. Declara-se
inconstitucional, mas na prática será uma inconstitucionalidade de via oblíqua,
porque conseguiu o resultado que queria.
Essa é a posição do Procurador Geral. Não é necessariamente a minha.
Entendo que, em momento algum, pretendeu-se colocar no Código de Defesa do
Consumidor a fixação do juro como instrumento de política monetária. Isso está fora
do Código. Se o Supremo disser isso, ótimo, nisso estamos de acordo. Mas se
disser isso que foi pedido, temos sérios motivos para preocupação. O Consumidor
ficará totalmente desamparado em matéria de relacionamento com banco, em
matéria de cobrança de juros abusivos, excessivos, duplicidade, (inaudível), porque
tudo isso ficará fora.
(Não Identificado) – Sr. Presidente, penso que estamos chegando ao
encerramento desta audiência pública. O nosso objetivo era analisar tudo o que
ocorreu e termos uma posição desta Comissão.
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Evidentemente, a conseqüência de toda a audiência pública, pelo Regimento
Interno da Casa é um relatório. Tudo o que foi dito aqui hoje, a palavra do Ministério
Público, do Presidente da FEBRABAN, da ilustre Dra. Tereza Grossi, dos
consumidores, através do IDEC, e do Governo, através do Ministério da Justiça,
DPDC, estão registradas e isso vai gerar um relatório. Fica evidente que a única voz
aqui, se estiver errado, Dra. Tereza, corrija-me, o Promotor e o IDEC
Caso eu esteja errado, peço que a Dra. Tereza Grossi ou o promotor me
corrijam, mas, em minha opinião e de acordo com o que foi dito pelos Parlamentares
e pelos expositores, a única voz a concordar com a anulação dos direitos do
consumidor constantes do Código de Defesa do Consumidor é a FEBRABAN. Afinal,
trata-se de relação de consumo quando um cliente solicita dinheiro emprestado a
determinado banco, pois o produto que o banco tem para vender é o dinheiro, cujo
custo é o preço do juro. Nenhum expositor, o Ministério Público ou esta Casa
defende tal posição.
Por isso, o relatório desta audiência pública deve ser feito no sentido de
repudiar a atitude da FEBRABAN. Isso deve ser feito com urgência. Além disso,
nosso relatório precisa ser encaminhado ao Supremo Tribunal Federal para que,
antes de se manifestar, esse órgão saiba qual a posição desta Casa, que é aquela
expressa nos resultados das reuniões desta Comissão de Defesa do Consumidor,
Meio Ambiente e Minorias.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO - Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem, pois desejo fazer a réplica.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO - Sr. Presidente, eu havia feito uma
pergunta ao Dr. João Batista de Almeida, Coordenador da Terceira Câmara do
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Ministério Público Federal, pois, no início, tinha me empolgado com o assunto. Em
minhas indagações, procurei não fugir ao objetivo da reunião, que era discutir uma
resolução do Banco Central à luz do Código de Defesa do Consumidor.
Na realidade, quem está sub judice não é o Procurador-Geral da República,
Dr. Geraldo Brindeiro, ou a Câmara dos Deputados, mas o próprio Código de Defesa
do Consumidor, que pode ser representado pelo consumidor. E é isso o que está
ocorrendo neste momento, como já foi dito. O assunto está dependendo da posição
a ser tomada pelo Supremo Tribunal Federal.
Como meu pai sempre me disse, a verdade sempre está, mais ou menos, no
meio daquilo que fala uma pessoa e outra. Às vezes, nem mesmo no meio do
caminho está a verdade. Isso era o que meu pai dizia, e, por isso, sempre levo a
sentença em consideração.
Em minha opinião, a última exposição do Dr. João Batista de Almeida deixou
claro aquilo que a FEBRABAN não disse logo no início da reunião. É lógico que,
após o parecer da Procuradoria-Geral da República, essa entidade pode ter mudado
de posição. Se a inconstitucionalidade for declarada, a questão nem sequer precisa
ser discutida aqui. Por isso, a FEBRABAN ficou em posição confortável.
A posição expressa pela Dra. Tereza Grossi, que creio ser a do Banco Central
e a do Governo Federal, também foi sempre muito clara. Desde o primeiro momento
de sua exposição, ela disse que aquilo que o Banco Central queria e quer com a
Resolução nº 2.878 é exatamente isto: separar as relações de consumidores, apesar
de avançar em alguns aspectos mal definidos, como a questão dos deficientes
físicos. Por outro lado, deixou-se claro que não poderia haver ingerências maiores
do Código de Defesa do Consumidor na questão dos juros.
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É evidente que a Justiça deve ser procurada sempre que alguém se sentir
prejudicado. E não é uma resolução ou uma decisão de nossa parte que poderá
impedir esse acesso.
Como disse o Deputado que me antecedeu e ajudado pela exposição
absolutamente clara do representante do Ministério Público, creio ser necessário
que o relatório expresse de maneira franca aquilo que escutamos. Não podemos
tirar conclusões, mas devemos mostrar claramente os caminhos, ou seja, o que
cada setor deseja.
Não estou dizendo que isso influenciará qualquer decisão. Nenhum Ministro
do Supremo Tribunal Federal será influenciado por qualquer posição de nossa parte,
mas temos de expressar o pensamento da Câmara dos Deputados.
Estamos reunidos desde as 14 horas. Sei que todos os presentes são
dotados de paciência cristã, pois estão nos aguardando enquanto falamos uma série
de bobagens. Agradeço-os por essa paciência.
A minha réplica é no sentido de que precisamos encaminhar ao Supremo
Tribunal Federal, o mais rápido possível, o relatório desta audiência pública.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Esta Presidência
concede, de maneira improrrogável, três minutos ao Dr. Gabriel Jorge Ferreira e ao
Dr. Marcos Diegues, a fim de que encerremos esta reunião de audiência pública.
O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Sr. Presidente, creio não precisar dos
três minutos que me foram concedidos.
Desejo apenas reafirmar aquilo que já disse algumas vezes, para que não
haja qualquer equívoco. Refiro-me ao fato de que a nossa defesa e postulação é de
que a atividade própria das instituições financeiras continua regida pela política
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monetária, que é de competência exclusiva do Conselho Monetário Nacional e do
Banco Central do Brasil. Os pareceres e relatórios aqui lidos pelo Dr. João Batista de
Almeida caminham nessa direção.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Tem a palavra o Dr.
Marcos Diegues.
O SR. MARCOS DIEGUES – Sr. Presidente, eu estava morrendo de vontade
de responder à pergunta feita pelo Deputado Arlindo Chinaglia. Estava sendo difícil
chegar a essa resposta. Sei que tenho um modo diferente de responder às
perguntas que me são feitas, apesar de considerar que o Dr. João Batista de
Almeida deu uma aula a respeito daquilo que realmente consta da ADIN.
A verdade é que esta Federação e as instituições financeiras desejam que o
Código de Defesa do Consumidor não valha para as suas relações.
Sinto-me inserido em um grande mal-entendido. Citei declarações publicadas
na imprensa, mas tais declarações não foram feitas. Pedi a revogação de parte do
Código de Defesa do Consumidor, mas não é isso o que querem a FEBRABAN ou a
CONSIF, Confederação Nacional do Sistema Financeiro. Aliás, vale registrar que a
Confederação abrange as administradoras de cartões de crédito, que nada tem a ver
com as questões das instituições financeiras ou com a tese da necessária lei
complementar.
O próprio advogado da Confederação foi aos jornais para dizer não possuir o
hábito de escrever sobre as causas que patrocina e que estão sub judice. No
entanto, desde o dia 27 de dezembro, os advogados não têm feito outra coisa senão
plantar artigos de opinião nos grandes jornais, tentando explicar a posição das
instituições financeiras, que não é aquela escrita no papel, como bem disse o Dr.
João Batista de Almeida.
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Já que as instituições financeiras são tão bem intencionadas, encerro minhas
considerações deixando uma proposta: que vocês desistam da ADIN e coloquem no
papel que apenas querem, pura e simplesmente, que não seja feita, pelo Código de
Defesa do Consumidor, a fixação da taxa de juros. Esse é o meu desafio.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Não havendo mais quem
queira fazer uso da palavra, declaro encerrada a presente reunião, antes
agradecendo aos expositores e aos demais convidados a presença.
Convoco reunião ordinária para a próxima quarta-feira, às 9 horas, quando
espero contar com a presença de todos os membros desta Comissão.
Está encerrada a reunião.