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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - PL 3.337/04 - AGÊNCIAS REGULADORASEVENTO: Audiência Pública N°: 0853/04 DATA: 16/6/2004INÍCIO: 10h26min TÉRMINO: 13h03min DURAÇÃO: 02h37minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h37min PÁGINAS: 47 QUARTOS: 32
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
DILMA ROUSSEF - Ministra de Estado de Minas e Energia.
SUMÁRIO: Debate sobre gestão, organização e controle social das agências reguladoras.
OBSERVAÇÕES
Há orador não identificado.Há intervenção inaudível.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Bom dia, Sras. e Srs.
Deputados, profissionais de imprensa que nos acompanham, senhoras e senhores
participantes de nossas audiências públicas, representantes de diferentes setores
interessados neste debate, Sra. Ministra Dilma Rousseff, Sr. Relator, Deputado
Leonardo Picciani. Agradecemos à Sra. Ministra Dilma Rousseff a presença. S.Exa.
certamente contribuirá com sua visão do projeto que altera o funcionamento das
agências reguladoras, tão importantes para o Brasil.
Quero combinar com as Deputadas e Deputados a nossa forma de trabalho
nesta manhã. Peço a compreensão de todos, levando em conta a dificuldade de
tempo, freqüente e natural em uma agenda tumultuada como a de uma Ministra.
Ouviremos, com tranqüilidade, a Ministra e os Deputados, e, depois, as respostas de
S.Exa. a eventuais questionamentos.
Inicialmente, terá a palavra a Sra. Ministra Dilma Rousseff. Logo após,
ouviremos as perguntas dos Srs. Deputados. Em seguida, as respostas e
considerações finais da Ministra.
Tem a palavra a Sra. Ministra Dilma Rousseff.
A SRA. MINISTRA DILMA ROUSSEFF - Cumprimento o Sr. Presidente,
Deputado Henrique Fontana, o Deputado Leonardo Picciani, Relator do projeto, e os
demais Deputados presentes.
Farei uma exposição centrada na lei sobre as agências e a compreensão da
necessidade de sua regulação. Do ponto de vista do Ministério de Minas e Energia,
há absoluta necessidade de regulação para o bom funcionamento do setor, tanto na
área de energia elétrica como na de petróleo e gás. A regulação se impõe devido ao
fato de lidarmos com falhas de mercado, ou seja, mercados imperfeitos, em que um
agente ou um grupo de agentes têm o poder de formar e de definir preço.
Ao longo de toda a história dos países capitalistas, a regulação fez-se
necessária mediante a absoluta consciência de que se estava lidando com
mercados oligopolistas ou monopolistas. No caso de serviços de rede de
transmissão ou de qualquer infra-estrutura com grande concentração de poder,
têm-se as chamadas imperfeições de mercado sobre as quais atuaria a regulação.
Na verdade, a própria experiência de regulação nas economias desenvolvidas
teve início com as ferrovias, a formação de preço que essas ferrovias impunham
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sobre os demais produtos da cadeia industrial e toda a possibilidade de extrair
sobre-renda, que implicava a operação livre das ferrovias.
Com a evolução do processo, o que se percebe também é a existência de
assimetria de informações, ou seja, os agentes atuam na realidade cotidiana do
mercado. Eles geram e praticam atos, enquanto os agentes reguladores procuravam
recolher informações a posteriori; tinham, portanto, um poder menor. Assim, houve a
necessidade de se fortalecer também a regulação, devido à assimetria de
informações dos mercados imperfeitos.
Num terceiro movimento, a necessidade da regulação se deveu também ao
fato de que havia uma imperfeição na relação entre o agente e o Estado e, portanto,
o agente também poderia ser capturado pelo Estado, à medida que exercesse
interferência sobre o agente.
Então, todas essas características — falhas de mercado, política de
monopólio, a possibilidade de captura do agente pelo mercado e por outros agentes,
a possibilidade de captura do agente pelo Estado — são tratadas pela literatura
referente a agências e a serviços de infra-estrutura. Além disso, existe um conjunto
de teorias que, em alguns países do mundo, resultou em políticas de desregulação
— não é o que entendemos —, na verdade, no desmonte das agências. Por
exemplo, do ponto de vista de Stigler, durante o período Thatcher, as agências eram
completamente capturadas. Ele adotava uma posição mais conservadora e
propunha a diminuição absoluta do poder das agências, porque as considerava
incapazes de conseguir a regulação.
Digo isso porque para nós, do Governo, a forma “agência” é crucial e
representa uma tentativa de administrar órgãos públicos. Aqui não estou me
referindo a Estado, mas a agência eminentemente autarquia. Portanto, ela
representa o lado público da questão, como instrumento capaz de equilibrar a
relação entre setores, um com grande poder de mercado e o outro com baixo poder,
o consumidor cativo; e de equilibrar também o poder entre o cidadão e o Estado.
Basicamente, ela teria essa difícil função, até porque é integrada por seres
humanos.
A lei que apresentamos incide sobre vários desses aspectos, reforçando o
papel da agência. Por quê? Porque dá nitidez à diferença entre poder concedente e
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função reguladora, fiscalizadora e mediadora da agência. O que isso significa?
Significa que a função de formular políticas não é da agência; por outro lado, ela tem
a função de regular e de fiscalizar, a partir do momento em que a legislação
estabelece certos princípios, de forma absolutamente neutral em relação a qualquer
interesse.
No Brasil, especificamente no meu setor, podemos indagar o porquê de tanta
confusão, que não é típica em alguns países, como os Estados Unidos. Se
visitarmos o Departamento de Energia norte-americano, poderemos observar que
todos os setores formulam políticas de longo, médio e curto prazos. Existem
departamentos como o de Economia do Hidrogênio, o de Energias Renováveis e os
melhores departamentos de estatística do mundo. Enfim, há, de um lado, todo um
pensamento de política de energia de longo prazo e, de outro, uma comissão federal
de regulação do setor elétrico, a FERC, que estabelece a função reguladora.
O que nos leva, no Brasil, a uma confusão absolutamente inequívoca entre
poder concedente e função reguladora? Acho que, de determinado ponto de vista e
em determinado momento, havia setores em que a presença do Estado, todos
sabemos, era maciça. O Estado era o detentor de toda a atividade de energia
elétrica. Não havia nenhum outro órgão, agente ou empresa que não fosse público.
No início da privatização, não existia marco regulatório nem fortalecimento dos
órgãos reguladores e, num segundo momento, não havia estabelecimento dessas
relações.
Na minha opinião, deu-se a privatização sem antes se implementar a
regulação. Quer dizer, incorremos no chamado erro de cronologia, que tornou
impossível definir os limites entre a política regulatória e a de energia. Elas se
confundiram, e o Brasil passou pelo menos os últimos 8 anos sem se dar o direito de
formular uma política de energia. Em alguns casos, isso é tão palpável que chega a
ser perigoso.
A dificuldade de se relacionar e de pensar em conjunto os setores de gás e de
energia elétrica está expressa no fato de que foram construídas termelétricas a gás.
Isso não aconteceu por incúria ou por erro deliberado; construíram-se termelétricas,
mas não foram dispostos simultaneamente, para que todas fossem despachadas, a
quantidade de gás e o número de gasodutos necessários. Não foi pensada a relação
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setor elétrico/setor a gás. Do contrário, alguns pontos estariam absolutamente
claros.
Primeiro, a tendência é utilizar não apenas uma termelétrica, mas todas,
tendo em vista a característica hídrica específica do setor elétrico brasileiro. O que
aconteceu? Ao se desmontar o setor e ao se imaginar que a regulação substituiria a
política de energia, o País abriu mão de fazer política de energia, bem como de
pensar, por exemplo, uma política de combustível verde, questão estratégica num
mundo cada vez mais preocupado com emissão de carbono e com combustíveis
renováveis, e que nos colocaria numa posição de vantagem comparativa inequívoca.
Abriu mão também de afirmar que a hidreletricidade é prioritária e, por último, se
deixou contaminar pela agenda dos países mais adiantados, que já desenvolveram
seus potenciais hídricos.
Os Estados Unidos, junto com o Canadá, desenvolveram 70% de todo seu
potencial hídrico; os países europeus, também 70% — a França chegou a quase
97%. Portanto, para eles, hidrelétrica saiu da pauta. Eles não têm o que
desenvolver.
Para nós, hidrelétrica ainda está na pauta. Para quem tem 3%, como é o caso
da África, ou 33%, como a América Latina, e, num mundo em que a hidrelétrica
corresponde a quase 91,7% da geração de energia, não pensar prioridades leva a
não se defender nos fóruns internacionais e a tornar absolutamente surpreendente
que a pauta dos países desenvolvidos seja solar (caríssima), eólica (bastante cara),
e, secundariamente, biomassa.
Nossa pauta renovável é hidrelétrica. As fontes alternativas são
complementares e não a substituem. Ao mesmo tempo, precisamos de uma política
de compromisso com combustíveis verdes, sem abrir mão, em momento algum, de
desenvolver nossa matriz a gás. Isso é política de energia, não é política regulatória.
Confundir política de energia com política regulatória não é bom para nenhuma.
Afirmar a questão do poder concedente é discutir algo que as empresas
privadas fazem: planejamento e política de longo prazo. Isso não é missão de
agência reguladora, mas de poder público. Tanto aqui como nos Estados Unidos, na
Europa, em qualquer país, isso tem de ser feito assim.
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Se privatizamos sem antes estruturar cronologicamente marcos regulatórios,
confundindo política regulatória com política de energia, não é motivo para persistir
no erro. Senão, continuaremos construindo térmica sem gás.
A segunda questão que considero bastante relevante é o fato de a agência ter
um papel que tem de ser reforçado e estreitado com órgãos de defesa da
concorrência. As agências no Brasil atuam sob o aspecto das falhas de mercado e
das assimetrias de informação. Por que elas têm de ter qualificação profissional?
Porque os agentes públicos e privados pagam, e tendem a pagar o preço de
mercado. Se não houver agências qualificadas, dificilmente elas serão capazes de
fiscalizar. E elas incidem sobre essa parte do mercado.
Também teremos de evoluir cada vez mais no sentido da profissionalização
das agências porque elas atuam, na minha opinião, num delicado espaço
econômico, de grandes interesses. Não que os grandes interesses sejam maus e os
pequenos sejam bons. Não é essa a questão. Não estou demonizando os grandes
interesses. Geralmente, quando se atua na área de infra-estrutura, há necessidade
de certa concentração de capital para fazer investimento de longo prazo, de retorno
lento — típico da infra-estrutura — tanto nos setores de energia elétrica quanto nos
de gás e petróleo.
No mundo não há setor de gás e petróleo onde reine a livre competição. Aliás,
a prática nesse setor é a guerra. E entram como parceiros nesse processo, dada a
imperfeição do mercado, Estados nacionais e, às vezes, políticas internacionais.
Estamos tratando de mercados bastante complexos. Daí a importância de as
agências se especializarem, se formarem e terem forte posicionamento.
Por outro lado, desejo destacar que, ao mesmo tempo, no Brasil, evoluímos
de um sistema completamente fechado para um sistema aberto nas áreas a que
estamos nos referindo, no meu caso, petróleo, gás e energia elétrica. Por isso,
também é importante, para estabelecer uma blindagem, que as agências tenham
mandatos, autonomia em relação a interesses políticos específicos. Não significa
que elas tenham independência em relação a interesses políticos gerais, até porque
o mandato delas emerge de indicação do Executivo e de aprovação legislativa.
Então, elas são fundadas também pelo poder político.
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Em vista disso, vou fazer alguns comentários sobre as características dessa
lei. Ela dá nitidez à diferença entre poder concedente e função reguladora naquela
ótica a que me referi e estabelece para todas as agências o contrato de gestão.
Desejo fazer alguns esclarecimentos, porque, ontem, em entrevista ao jornal
O Estado de S. Paulo, descobri que ninguém conhecia a lei.
O caput do art. 7º da Lei nº 9.427, de 1996, estabeleceu a exigência de
contrato de gestão. Diz ele:
“Art. 7º - A administração da ANEEL será objeto de
contrato de gestão negociado e celebrado entre a
Diretoria e o Poder Executivo, no prazo máximo de 90
dias...”
A lei em trâmite propõe que seja no prazo máximo de 120 dias. Essa é a
alteração. Essa mesma lei, que cria a ANEEL, também estabelecia uma série de
requisitos e, ao ser promulgada, introduziu, no art. 8º, como motivo de demissão, o
descumprimento injustificado do contrato de gestão.
Posteriormente, verificou-se que era um excesso. Então, o legislador, no art.
39 da Lei nº 9.986, de 2000, eliminou o descumprimento do contrato de gestão como
causa de demissão de dirigente.
O legislador, ao formular a ANEEL em 1996, concebeu o contrato de gestão.
Ele foi feito em 2000, para ser cumprido com metas em 1999, sendo uma delas a
desverticalização. Vejam como era pouco desenvolvido nosso marco regulatório.
Interessante analisar que isso não constava na lei, pois ela não mandava
fazer a desverticalização. E interessante que no contrato de gestão determinavam
isso à ANEEL. Quando fui Secretária de Energia do Rio Grande do Sul e a C3 E era
uma empresa, perguntávamos à ANEEL por que deveríamos desverticalizar se a lei
não estabelecia isso. A resposta era que estava no contrato de gestão. É um
absurdo, porque obriga o legislador a ir além da lei sem ter poder para fazer isso.
Ele descumpria o contrato de gestão.
A imaturidade de marcos regulatórios cria armadilhas para todos, inc lusive
essa absolutamente inexplicável para o regulador. Obviamente, a ANEEL não
cumpriu esse item do contrato de gestão. Parece-me que nenhuma outra agência
tinha essa obrigação — a ANP, certamente, não.
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Tal contrato, em cujo cumprimento houve problemas, se estende no processo
de discussão entre a ANEEL e o Ministério de Minas e Energia ao longo de 2000 e
2001. E, no final do Governo anterior, precisamente no dia 30 de dezembro, após
uma série de idas e vindas, foi enviada proposta de minuta. Não havia acordo
naquele momento, e muita dificuldade em fazer acordo posterior.
Logicamente, a ANEEL se achava injustiçada, pelo fato de ser a única
agência obrigada a ter contrato de gestão, bastante complicado. E, naquela época,
desverticalizar — estamos em 2004 e só agora conseguimos aprovar legislação que
determina a desverticalização — era praticamente impossível, porque não havia
mandato legal.
Homogeneizar a exigência de contrato de gestão é benéfico porque
estabelece para todas as agências o mesmo padrão. Não há porque umas terem e
outras não.
Outra questão que considero importante é da Ouvidoria independente, com 2
anos de mandato, porque cria um canal institucional da agência com todos os
interessados. Também destaco que há agências com Ouvidor por sua própria
iniciativa. Não é uma previsão legal.
Outra forma de democratização é a exigência de audiência pública como
parte integrante dos processos, que passa a ser processualística adotada por outras
agências — pelo menos a ANEEL já a adota.
A integração de todas as agências com o CADE, em alguns casos, é
absolutamente imprescindível, como a fiscalização do downstream da ANP. Sem
uma forte relação com a defesa da concorrência, esses mercados mais pulverizados
— não no que se refere a preço, mas à ampliação ou ao estreitamento de margens
— têm de ter participação bastante estreita desses diferentes órgãos institucionais,
dessas agências diferenciadas de regulamentação e de defesa da concorrência.
A questão relativa à regionalização das agências é muito importante
igualmente no setor elétrico e no setor de petróleo e gás, sem perder de vista o fato
que tanto os recursos hídricos quanto os petrolíferos e gasíferos são monopólio da
União, ou seja, são intrinsecamente ligados à União e dependem de políticas
nacionais. Ninguém vai querer segmentar o mercado de energia elétrica, assim
como se faz hoje nos Estados Unidos, porque isso gera sérios problemas no que se
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refere à confiabilidade do abastecimento. Mas acredito também que a
fiscalização feita pelos órgãos regionais e estaduais é muito significativa.
Com o advento da Lei nº 10.848, de 2004, o Ministério reassumiu a condição
de poder concedente. A nosso ver, é necessário definir a política de licitação, ou
seja, quais usinas serão licitadas, mas queremos que seja transferido à ANEEL o ato
licitatório. Então, essa relação entre o poder concedente e a agência se dá no
seguinte sentido: o Ministério decide licenciar, por exemplo, 2.817 megawatts. Logo,
tem de escolher quais são usinas serão licenciadas, qual a viabilidade do
licenciamento, com estudo prévio de inventário. Tudo isso pronto, passa-se para a
ANEEL, a quem cabe o poder de licitar. Ela pode até transferir isso. Pode querer
uma licitação — que é mais complicada — numa plataforma, por exemplo, da
BOVESPA ou outra qualquer. Mas o controle e a fiscalização do processo e a
publicação do edital são feitos pela ANEEL. Essa relação é crucial, caso contrário,
será atribuído a ela definir a usina a ser licitada e providenciar o licenciamento
ambiental. Aí voltaremos a ter o estoque de pendências que temos hoje.
Por quê? Qual é o enforcement da ANEEL para se sentar com diferentes
órgãos e discutir? Para os senhores terem idéia, até 2002 havia 13 mil megawatts
de projetos licitados sem licenciamento ainda em estoque, porque dependiam de
definição de fazer do agente, que dava entrada no pedido de licitação. Qual é o
critério para licitar? Como não havia política de inventário, ou seja, de outorgas, a
ANEEL licitava o que tinha à mão. Essa era a política energética do País. Culpa
dela? Não, mas de uma concepção que supôs estar substituindo política de energia
por política regulatória. São duas coisas completamente diferentes.
Outro ponto importante da lei é a uniformização da quarentena de 4 meses.
Um mandato fixo não coincidente, sem demissão ad nutum — que também
considero fundamental, e que tem de ganhar estrutura legal.
Cada agência tem a ver com as características do setor que regula: a ANA, as
agências de controle da saúde pública, a ANEEL e a ANP têm suas especificidades.
Estamos ainda numa fase de fortalecimento das agências, e algumas apresentam
nível de desenvolvimento bastante significativo. Em termos de rotina de
processamento, a ANEEL, parece-me, atingiu patamar bastante maduro. Nela
existem práticas muito interessantes de gestão interna e colegiada e de processos
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transparentes. Obviamente , como todo produto humano, é sujeito a falhas, e estas
existem para serem corrigidas e para melhorar a instituição como qualquer outra.
Existem agências com nível de desenvolvimento institucional menor, que ainda têm
de evoluir em sua trajetória e enfrentam grandes desafios.
Quero externar a grande preocupação do Ministério com o mercado de
combustíveis no Brasil. Talvez precisemos de parceria não só com o CADE,
conforme eu disse, em linhas gerais, e que considero importante, como também de
parcerias com a ANP, a Polícia Federal, o Ministério da Justiça e o Ministério de
Minas e Energia. Nosso mercado ainda apresenta sérios problemas que beiram, em
alguns momentos, o aspecto não só regulatório, mas até criminal. Todos têm de ser
avaliados.
Ao mesmo tempo, nessas duas agências há questões que afetam os
consumidores, porque são preços formados, no caso da ANEEL, por meio de
revisões e reajustes estabelecidos em contratos que algumas vezes causam
celeuma. Aproveito para reafirmar o caráter legítimo da regulação da ANEEL, ou
seja, a lei atribuiu à Agência fazer revisões e reajustes intrínsecos a ela nesse
processo. No caso da ANP, há um processo não de controle de preços, até porque
eles supostamente são livres no mercado, mas de monitoramento. Sabemos que
tanto aumentos quanto reduções eventuais ensejam movimentações nas margens.
A ANP possui instrumentos e os está aperfeiçoando cada vez mais no sentido de
avaliar essas flutuações.
No caso recente, que está em curso, com o reajuste de preços dos
combustíveis, estamos considerando que ainda é necessário um período de tempo
para termos certeza das movimentações.
Chamo a atenção para algumas questões antes que me perguntem sobre
elas.
As alterações na refinaria levam tempo para maturar e chegar à distribuidora
e à revenda, porque é como se houvesse três etapas: refinaria—refinaria,
distribuidora—distribuidora, revenda e posto de combustível. Não se pode atribuir
qualquer alteração aos postos, nem à revenda, nem à distribuidora.
Sabemos qual será a modificação na refinaria. A ANP vai fazer uma
extraordinária pesquisa, que deve estar pronta até o final da semana, tentando
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perceber quais são as oscilações. Os dados de hoje, por exemplo, do jornal O
Globo, mais ou menos fecham com aqueles apresentados pela PETROBRAS, que
observa o aumento médio de 4,77% no posto, com exceção de um, que foi de
8,11%.
Certamente, não é controle de preços, repito, mas monitoramento. Quer dizer,
a ANP faz a pesquisa, e a partir do seu banco de dados rastreia quando sobe ou
desce o preço. Com esse banco de dados ela dá conta de toda a cadeia: refino,
distribuidora, revenda e posto, por região do País, precisamente por cidade.
Então, primeiro a ANP vai fazer uma pesquisa e colocá-la no seu banco de
dados. Após, vai examinar onde há discrepância. Onde houver, vai tomar
providências, tais como as que adotamos daquela outra vez. Não sei se os senhores
se lembram de que havia oscilação muito grande, aumentos maiores e, na
seqüência, houve uma calmaria no mercado e todos mais ou menos se
enquadraram na tendência que se esperava.
Esse monitoramento por amostragem é muito interessante porque, no
momento, como a ANP é o agente fiscalizador, ele permite que ela vá àquele posto
e levante por que ele adota comportamento diferenciado. Excluído o posto, vai
àquela revenda e vê o que aconteceu; vai à distribuidora e vê o que ocorreu, porque
não dá para atribuir ao posto, só porque ele aponta o final da cadeia, todos os
processos de alteração de margem. É isso que estamos dizendo. Vamos fazer um
foco na margem.
Pretendo ter encerrado meus 20 minutos. Não sei se extrapolei meu prazo.
De qualquer forma, coloco-me à disposição dos senhores.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Agradeço à Ministra Dilma
Rousseff a brilhante exposição. Também não sei se falou mais ou menos de 20
minutos, mas, por certo, foram preciosos.
Concedo a palavra ao Relator, Deputado Leonardo Picciani.
O SR. DEPUTADO LEONARDO PICCIANI - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, Sra. Ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, agradeço a V.Exa. a
preciosa contribuição a este debate que ora empreendemos na Câmara dos
Deputados, de forma muito breve, até porque temos extensa lista de oradores.
Vou-me ater a apenas um ponto.
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A Ministra exemplifica muito bem a questão da separação das funções, o que
é a atividade do poder concedente, exercido pelo Executivo por intermédio de seus
Ministérios, no caso o de Minas e Energia, e pela agência na tarefa de regular e
fiscalizar. Mas uma questão tem sido objeto de densos debates nesta Comissão: a
possibilidade ou não de delegação pelo Ministério, através da lei, de fixação dos
limites das competências.
Indago da Sra. Ministra: na opinião do Ministério de Minas e Energia, não
seria melhor, ao se fixarem essas competências, que elas fossem exercidas de
forma mais rígida, cabendo a cada instituição essa responsabilidade, ou seria
preferível regra mais flexível, que permitisse ao Ministério delegar as competências a
ele atribuídas por lei para as agências?
Essa a minha indagação, e, desde já reitero meus agradecimentos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Vamos dar seqüência aos
debates, segundo sugestão do Relator.
Há 10 inscritos. Consulto o Plenário sobre quantos blocos devemos fazer: de
3 em 3 ou de 4 em 4 Parlamentares.
Estão inscritos os Deputados Eduardo Gomes, Eliseu Resende, Fernando
Ferro, Henrique Fontana, Eliseu Padilha, Eduardo Valverde, Terezinha Fernandes,
Mauro Passos, Ricardo Barros e Luciano Zica.
Como sou um dos debatedores, solicito ao Deputado Fernando Ferro que
presida os trabalhos enquanto participo dos debates. A seguir, reassumirei a
Presidência.
Com a palavra o Deputado Eduardo Gomes.
O SR. DEPUTADO EDUARDO GOMES - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
Sra. Ministra Dilma Rousseff, ao contrário do que se possa imaginar, temos
assumido nesta Casa, em especial com relação às questões do Ministério de Minas
e Energia, postura de colaboração. Isso está registrado nas emendas aproveitadas
na lei de regulamentação do setor elétrico, tão bem relatada pelo Deputado
Fernando Ferro, assim como na nossa participação no debate sobre as agências
reguladoras, projeto que teve significativas mudanças em sua versão original,
conforme se vê no site da Casa Civil até o momento da apresentação.
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Por isso, ficamos à vontade para registrar avanços no relacionamento do
Governo com as agências reguladoras, muito pela competência, pela capacidade e
pela vontade de discutir a reestruturação do setor demonstrada pela Ministra. S.Exa.
tem nosso respeito e nossa admiração pela força com que tem tratado os assuntos
no que tange a essa tão importante área da infra-estrutura nacional.
Já que a própria dinâmica do debate prejudica conversa mais ampla, sintetizei
alguns pontos para que a Ministra possa responder, ao final de sua exposição, e
tenho certeza de que a resposta será de grande valia para esta Comissão.
Na exposição, a Ministra deixa claro a importância das agências reguladoras,
do amadurecimento e de agenda profissional mais ampla no relacionamento entre
as agências e o Governo.
Algo me chamou bastante a atenção, principalmente com relação ao contrato
de gestão em vigência na ANEEL. S.Exa. deixa claro que o não-cumprimento desse
contrato possui origem que o torna complicado — e o Relator está aberto para a
discussão desse ponto. Pergunto: qual a garantia de que outros contratos de gestão
também não serão complicados no futuro? O não-cumprimento do contrato de
gestão e a falha na sua execução, com relação ao seu objetivo, é um ponto curioso.
Sintetizando, com relação ao período de 1 ano e 6 meses de relacionamento
do Ministério de Minas e Energia com as agências reguladoras, quais os pontos
positivos e negativos e qual a análise técnica profissional? Também desejo saber
sobre a questão da capacidade orçamentária, sobre o instrumento que a agência
reguladora pode ser e sobre a forma como ela está tentando se estabelecer no País.
Esse depoimento é fundamental porque, no Legislativo, há problema de
análise dessas leis prioritárias para o País. A Lei de Falência e o PPP ainda estão
no Senado. Mesmo com toda a boa vontade do Relator, desta Comissão, do Ministro
e do Governo, a tendência é esse assunto demorar um bom tempo naquela Casa.
O contrato de gestão não pode ser substituído por uma política de
acompanhamento público do papel do Governo e do Estado. A meu ver, avançamos
muito nesse relacionamento.
Deixo registrado, por fim, Sr. Presidente, que ninguém mudou mais esse
projeto do que o próprio Governo quando, na primeira versão, apresentou proposta
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avançada, levando em consideração alguns pontos da frente parlamentar das
agências e dos técnicos.
Fica uma curiosidade: o próprio Secretário-Executivo da Casa Civil, em
recente trabalho premiado, dizia, de forma muito tácita, que o contrato de gestão
deveria ser cancelado. Assinava o trabalho, naquele momento, com a
responsabilidade pelo pensamento pessoal. No atual Governo, a Oposição está
mais aberta, embora saibamos da influência do Secretário na composição do
projeto.
Este é o momento de avaliar o que ocorreu nesse período e o que pode
ocorrer adiante. É uma contribuição que podemos deixar na discussão do projeto,
tendo em vista a agenda legislativa e ainda o prazo para o projeto tramitar nas duas
Casas.
Mais uma vez, parabenizo a Ministra pela exposição.
Eram essas as minhas considerações.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Ferro) - Obrigado, Deputado
Eduardo Gomes.
Passo a palavra ao Deputado Eliseu Resende.
O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - Sra. Ministra, V.Exa. nos
tranqüilizou sobremodo na sua exposição. Quem dera o que a senhora disse
estivesse clara e precisamente estabelecido no projeto de lei aqui apresentado,
principalmente porque ele não trata apenas das agências sob o seu Ministério, mas
uniformiza o papel delas e define suas atribuições.
Não poderíamos concordar mais com V.Exa. quando disse que a formulação
da política pertence ao poder concedente. Apenas faço uma ressalva de que o poder
concedente é a União, não o Ministro. As atribuições das agências têm de ser
definidas em lei, de acordo com o que preceitua a Constituição, em seu art. 177, §2º,
inciso III:
“Art. 177 .......................................................
§ 2º A lei a que se refere o § 1º disporá sobre:
......................................................................
III - a estrutura e atribuições do órgão regulador do
monopólio da União;”
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Esse artigo se refere especificamente à questão do petróleo, mas, como
estamos uniformizando, quem vai definir as atribuições das agências é a lei, porque
o poder concedente é a União, e não o Ministro, repito, mesmo porque não somos
Ministros. Este plenário está cheio de Parlamentares que já estiveram Ministros —
quem dera pudéssemos vir a ter a Ministra Dilma Rousseff permanentemente no
Ministério de Minas e Energia. Deixamos isso bem claro.
Também queríamos que estivesse na lei aquilo que V.Exa. define e diz que
fará. V.Exa. afirmou que temos de fortalecer a formulação de política do Poder
Executivo, representado pelo Ministro setorial. Há várias emendas para serem
discutidas com o Relator, mas se algo estiver faltando para fortalecer ainda mais o
papel de formulação política do Ministro e dos conselhos de política setoriais,
estamos prontos a abrigá-lo.
V.Exa. disse que o Ministério transferirá para a agência o ato licitatório, as
licitações e a contratação. Gostaríamos que estivessem especificadas em lei as
atribuições das agências.
Está dito no projeto de lei sob nossa análise que o poder concedente, no caso
específico das agências sob o Ministério de Minas e Energia, é da União, pois elas
cuidam de atividades que são monopólio da União. Então, o poder concedente é a
União.
Que o poder concedente definisse as atribuições das agências, porque V.Exa.
é Ministra hoje, mas não sabemos se o será na próxima década. Além disso, essa
lei não se refere apenas ao Ministro de Minas e Energia, mas aos Ministros de Meio
Ambiente, dos Transportes, de Telecomunicações. Será que a vontade dos outros
Ministros são as mesmas de V.Exa.?
O que está escrito no texto?
“Cabe ao poder concedente formular a política,
licitar e assinar contrato.”
Aí vem um parágrafo nesse caput:
“Essas atribuições podem ser delegadas às agências a
critério do Ministro”.
A lei, então, estabelece que o Ministro é o poder concedente e é quem vai
definir as atribuições das agências, e não a lei. Essa é a indagação que faço a
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V.Exa. Gostaríamos muito de ter o que V.Exa. disse aqui, com precisão e alívio para
nós, expresso na lei. Gostaria de ouvir a manifestação de V.Exa.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Ferro) - Obrigado, Deputado Eliseu
Resende. Convido V.Exa. para assumir a condução dos trabalhos, porque tenho
uma intervenção a fazer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Com a palavra o Deputado
Fernando Ferro.
O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Sr. Presidente, Sra. Ministra, Sras.
e Srs. Parlamentares, o debate nesta Comissão tem nos ensinado a todos, e
confesso que tenho aprendido permanentemente ao ouvir as opiniões contraditórias
e as divergências sobre as concepções sugeridas na modelagem das agências
reguladoras.
Primeiro, porque não posso deixar de reconhecer o viés político-ideológico
existente nesta discussão. Insisto em dizer que discutimos a estrutura e a postura do
Estado brasileiro e o seu papel na formulação de políticas para infra-estrutura.
É evidente que o conflito que se estabeleceu, primeiro por desconexão entre
o programa de privatização sugerido no passado e o necessário marco regulatório,
que não foi implementado simultaneamente nem ao menos de forma concatenada
com esse procedimento, gerou as conseqüências que conhecemos nas áreas de
energia e de telecomunicações. Estão aí os reclamos, inclusive, de indefinição de
responsabilidades dos diversos agentes do setor.
Quero crer que essa legislação procura, em parte, e deve reparar essas
insuficiências, buscar administrar o conflito e os pesados interesses financeiros e
políticos em jogo.
Como foi aqui observado pelo Deputado Eduardo Gomes, o Governo revela
claramente a nova postura de ouvir os diversos agentes. Foi feito amplo debate com
vários segmentos, que resultou nessa proposta, diferentemente do que tivemos no
passado, quando poucos debates foram feitos, pelo menos com a Câmara dos
Deputados.
Discutimos a ANEEL, a ANATEL e a ANP em 15 ou 20 dias, pois era o tempo
básico de que dispúnhamos. Depois, a matéria era levada ao plenário para ser
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discutida. Temos aqui a demonstração clara de mudança de postura política e de
relação entre o Executivo e o Legislativo, o que é muito importante e faz parte desse
processo de aprendizado. Permite, inclusive, que possamos ouvir as sugestões
apresentadas.
Em razão dessas considerações, solicito à Sra. Ministra um esclarecimento.
V.Exa. disse que a ANP divulga, acompanha ou estabelece a pesquisa na cadeia
que define os preços dos combustíveis, da distribuição até o posto. Esse controle de
que a ANP dispõe é utilizado com que tipo de ações de Governo? Em que condições
o Ministério atua para a definição das políticas? Trata-se de informação importante.
Não sei se foi tornada pública, mas deveria ser para se permitir, inclusive, maior
transparência na definição da política de preços.
Outra questão: no debate que temos feito aqui sobre as Agências
Reguladoras, uma das reclamações é relativa ao contingenciamento dos recursos
das Agências. A ANEEL, por exemplo, teria sofrido cortes na sua agenda financeira
e estaria inclusive impossibilitada de cumprir certas metas, porque foi privada dos
recursos previstos para exercer suas atividades.
Quero crer que o estabelecimento de contrato de gestão poderia contribuir
para uma melhor definição das responsabilidades e do alcance da atuação das
Agências. Se definirmos um contrato pactuado entre os diversos agentes do setor,
quais serão as metas da ação das Agências e quais serão os recursos disponíveis
para isso, evidentemente, a situação será muito mais tranqüila e menos vulnerável
aos contingenciamentos que acontecem.
Será que esse não seria um elemento para discutirmos no debate sobre os
contratos de gestão? O que se diz aqui basicamente é isso: não temos elementos
materiais para definir o que é contrato de gestão. É a crítica que se faz.
Entendo possível se fazer um debate para se chegar a um denominador em
que a Agência, o Poder Executivo, o Poder Legislativo e os demais interessados no
setor possam definir claramente esses parâmetros.
Por último, registro a satisfação de poder participar de debate em que se pode
dizer que se caminha para a elaboração de uma política energética neste País.
Ainda não está montada a completa estruturação do setor, inclusive há pendência
no que se refere à regulamentação em algumas áreas desse programa.
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Gostaria de saber da Sra. Ministra qual o cronograma para concluir a
regulamentação do setor, para que possa ser definida em termos mais claros e
objetivos essa nova modelagem da política energética do País, que, de fato, tem
agora no Ministério das Minas e Energia claro instrumento de condução. A situação
hoje é completamente diferente da de outros momentos, em que pagamos caro por
termos abdicado desse preceito fundamental, que é se pensar política energética
dentro dos pilares de elaboração de um projeto de governo. Caminhamos para isso.
Essa constatação é irrefutável pela própria condução que o Ministério das
Minas e Energia tem realizado nessa área.
Eram as considerações que tinha a fazer.
Obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Muito obrigado, Deputado
Fernando Ferro.
Com a palavra o Deputado Eliseu Padilha.
O SR. DEPUTADO ELISEU PADILHA - Sr. Presidente, inicialmente
cumprimento a Sra. Ministra pela excepcional qualificação que demonstrou na sua
exposição e pela afinidade que tem com o tema.
Em alguns exemplos que criávamos aqui, Sra. Ministra, nós nos perguntamos
como ficaria a licitação de um campo que viesse a ser explorado pela PETROBRAS
se V.Exa. não tivesse o entendimento que acabou de expor e que contraria o texto
objetivo do projeto de lei no que diz respeito a quem faz a licitação, quem faz a
concessão, quem promove o ato de outorga de concessão e quem celebra os
contratos em determinado momento. Talvez pelo fato de V.Exa. ser Presidente
também do Conselho de Administração da PETROBRAS, poderia figurar nas 3
posições, o que seria bastante difícil pelo texto da lei.
Vejamos: quem promove, quem elabora o plano de outorga? Poder Executivo.
Quem faz, pelo projeto, as licitações? Poder Executivo. Quem edita os atos de
outorga? Poder Executivo. Isso é pelo projeto de lei, não é o seu entendimento. O
entendimento de V.Exa., como bem frisou nesta Comissão o ex-Ministro e nobre
Deputado Eliseu Resende, vem na direção do que defendíamos na Comissão e que
deveria ser modificado no projeto.
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E V.Exa. usou uma expressão que quero retomar: o contrato de gestão,
celebrado no seu setor com a Agência foi uma armadilha, porque não tinha definição
clara do que era essa política e se cobrou no contrato de gestão, como política, algo
que não era previsto na lei. O problema da verticalização que V.Exa. citou. Então,
parece-me que, por aí, começamos a caminhar no mesmo sentido que defendíamos
nesta Comissão. E o Poder Executivo, efetivamente, deve dizer o que fazer.
Agora, no materializar, como disse V.Exa., quem vai fazer o edital, quem vai
dar outorga é a Agência Reguladora.
Então, objetivamente, a primeira... Pode ser delegado...
A SRA. MINISTRA DILMA ROUSSEFF - (Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO ELISEU PADILHA - É o poder concedente, claro.
A SRA. MINISTRA DILMA ROUSSEFF - A União não é Agência . Esta
questão...
O SR. DEPUTADO ELISEU PADILHA - Não há essa confusão.
A SRA. MINISTRA DILMA ROUSSEFF - E aí é a questão.
O SR. DEPUTADO ELISEU PADILHA - Quem faz a licitação e quem celebra
o contrato materializa a outorga, que é da União. Evidentemente que é da União.
Alguém tem dúvida de que o poder concedente é a União? Não. Logo, é ela quem
outorga. Mas, no caso, é via Agência, se ela faz a contratação. Quem faz a
contratação? A Agência. Então, ela materializa o ato de outorga.
A pergunta objetivamente para V.Exa. é: na forma como está no projeto, está
claro o que é atribuição do Poder Executivo e o que é atribuição da Agência ou
deveria ficar mais claro? V.Exa. não acha que contribui para que fique com áreas
sombreadas essa possível delegação de competência? À medida que fica o juízo de
conveniência política delegar ou não, não temos, no marco, solidez.
Por que pergunto isso? Foi rememorado aqui o fato de que estamos
construindo essa lei pari passu com o projeto da PPP. Queremos, na verdade, fazer
com que as PPPs aportem investimentos que o setor público, neste momento, não
tem condições de fazer. Ao mesmo tempo, o setor privado quer marcos regulatórios
consistentes. Sem os quais, evidentemente, quem tem dinheiro não aplica se não
sabe como vai acontecer. Ele quer clareza. À medida que essa clareza pode ser
incluída de forma objetiva na lei, penso que não deveríamos abrir mão de fazê-lo.
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Pergunto: V.Exa. não acha que deveríamos deixar o mínimo possível de
delegação à conveniência política? Essa a primeira pergunta: se não deveria haver
objetividade sobre o que é atribuição do Poder Executivo e o que é atribuição da
Agência.
Quanto ao seu entendimento, por exemplo, no que diz respeito a essa
distinção entre o que é formular política e o que é levar à licitação e contratar,
entendo que é perfeito. Já foi dito nesta Comissão pelo ex-Ministro e Deputado
Eliseu Resende e eu subscrevo. Agora, não é o entendimento que está no texto da
lei. Não é esse o entendimento. E nós temos ouvido...
A SRA. MINISTRA DILMA ROUSSEFF - Acho que não temos a mesma
concepção, nobre Deputado. Acho que há diferença de concepção.
O SR. DEPUTADO ELISEU PADILHA - Depois, quando V.Exa. for responder
poderá esclarecer.
Segundo: V.Exa. viu com bons olhos a Ouvidoria independente — e presumo
que V.Exa. tenha lido por inteiro o projeto. À medida que o ouvidor é indicado pelo
Poder Executivo, ele é independente? Ou é independente à medida que possa ser
efetivamente ouvidor da sociedade? O ouvidor só tem sentido se for ouvidor do
interesse da sociedade, o que pode, em determinados momentos, não coincidir com
o Poder Executivo.
A última pergunta, que incuti na primeira, é relativa à política setorial e,
depois, ao papel da Agência: a definição desse papel e até que ponto é conveniente
ficar delegado. O juízo e a conveniência política variam.
Sinto-me satisfeito com as 3 interrogações que formulei.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Concedo a palavra ao
nobre Deputado Eduardo Valverde.
O SR. DEPUTADO EDUARDO VALVERDE - Sr. Presidente, Sra. Ministra, o
apagão ocorrido em tempo recente denotou que tanto o modelo regulatório quanto
os órgãos de Governo que tinham o dever de planejar o setor falharam. Certo? As
empresas privatizadas deveriam fazer investimentos, mas não o fizeram, esgotaram
os reservatórios, o que resultou no apagão.
O que devemos fazer para evitar que isso ocorra no futuro? Evidentemente,
repensar esse novo modelo passa pela forma de concessão, pelo redesenho da
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estrutura do setor elétrico brasileiro e o aparato regulatório. Então, repensar todo
esse contexto é condição que se impõe para evitar que o Brasil não seja sacudido
novamente por outros apagões.
Sra. Ministra, comparando-se os 2 modelos existentes, ou seja, o anterior e
esse que está em construção, foram dados passos vigorosos, mas é necessário que
tenham continuidade, o que implica discussão sobre a Agência. Naquele modelo
houve falhas coletivas. A Agência falhou também ao permitir que as empresas
utilizassem a capacidade máxima do reservatório. O Operador Nacional do Sistema
errou em ter despachado energia para o sistema, sem se preocupar com o nível do
reservatório. O poder concedente também errou porque não permitiu que houvesse
condição para novos investimentos na implantação do parque gerador, que,
posteriormente, foi feito às pressas, as chamadas operadoras independentes,
obrigando o Estado a contratar energia a um preço muito caro. E até hoje pagamos
esses valores absurdos pela energia contratada, um dispêndio para o Estado
brasileiro.
A minha pergunta, Sra. Ministra, é a seguinte: na sua compreensão, quais os
pontos positivos desse novo desenho e qual o papel regulatório nesse novo
desenho? Qual o ponto positivo do novo desenho e o papel que teria a Agência
Reguladora para otimizar e para ser exitosa nesse novo desenho do setor elétrico
que está sendo elaborado?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Com a palavra a nobre
Deputada Terezinha Fernandes. (Pausa.) S.Exa. está ausente.
Com a palavra o nobre Deputado Mauro Passos.
O SR. DEPUTADO MAURO PASSOS - Sr. Presidente, cumprimento a Sra.
Ministra pela exposição e faço algumas observações.
Sra. Ministra, pelo que percebi, primeiro, não há nenhuma confusão entre as
observações feitas tanto pelo ex-Ministro Eliseu Resende quanto pelo ex-Ministro
Eliseu Padilha. Há divergência. Mas, como são Deputados bastante hábeis e
inteligentes, procuram mostrar nas suas observações aquilo que lhes convêm ser
introduzido no projeto elaborado pelo Governo, que não contempla essas
preocupações por delas divergirmos. Esse é o primeiro ponto. Claro que há
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divergência entre o desenho da Agência passada e o da Agência atual. Senão não
teríamos por que mexermos nisso. Gasta-se toda a energia.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Aproveito a oportunidade,
nobre Deputado Mauro Passos, para dizer que, nesse ponto, somos convergentes
com a Sra. Ministra. (Risos.)
O SR. DEPUTADO MAURO PASSOS - Não, não. Mas aí foi questão de
habilidade, nobre Deputado. Também conheço a Sra. Ministra e sei dos seus
conceitos e das suas preocupações. Mas S.Exa., com certeza, terá tempo para
esclarecer V.Exas.
Sra. Ministra, em outras audiências e debates sobre esse tema, tenho sempre
expressado minha profunda preocupação em relação às próprias Agências e o seu
papel. Sinto que elas vieram para justificar alguma coisa, para segurar e dar
garantias aos investidores. Foi para isso que foram criadas. Em nenhum momento
houve preocupação por parte de quem as concebeu, de quem as idealizou, por
exemplo, com a tarifa, com o consumidor, com a transparência, com a necessidade
de sabermos o que realmente fazem.
Esta semana, matéria publicada em revista de circulação nacional fez
profundas denúncias sobre a ANP, a mesma que esteve aqui em audiência pública e
deixou visível sua omissão quanto à verticalização no caso da Esso e da Shell.
Deveríamos encontrar mecanismos para assegurar que as Agências
Reguladoras não se desvirtuassem dos seus papéis e tivessem responsabilidade
com o consumidor, com o País. Fico preocupado com as garantias que são dadas
em relação aos 4 anos. De repente, em 4 anos, sob a proteção da legislação, faz-se
um estrago que não se repara mais. Depois, dá-se 4 meses, uma quarentena etc.
Tem de ser 4 anos de quarentena para quem produz uma situação como essa, se é
verdade o que está hoje nas fitas que foram publicadas na revista. Com linguajar,
inclusive, que não me arrisco nem a comentar nesta Comissão, de tão baixo. E é a
Agência que controla um dos principais setores do País, o do petróleo. A própria
maneira como se tratam os gestores dessa Agência é coisa de arrepiar.
Sra. Ministra, para não me estender, porque já é público nesta Comissão o
meu pensamento sobre as Agências — em cada reunião eu me desentendo com
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uma delas —, pergunto-lhe que instrumentos teríamos, e se Ouvidoria ou se o
Congresso Nacional, para fiscalizar as Agências?
As Agências vieram para ficar. Para mim, seria muito difícil rever tudo. Isso é
impossível. Mas devemos ter atenção em relação a esses instrumentos
fiscalizadores. Quem tem o papel e a responsabilidade que as Agências têm não
pode ficar em situação confortável, como se fosse dono de cartório, alguém que
apenas estabelece relação de fiscalização, mas que não fiscaliza. Repito: não
fiscalizam.
O exemplo da Esso foi citado aqui pelo próprio presidente da ANEEL quando
esteve nesta Comissão: foi identificado, na cidade de São Paulo, continuado
processo de degradação dos serviços prestados, e, aparentemente, ficou por isso
mesmo.
Sra. Ministra, minha indagação é a seguinte: na opinião de V.Exa., como
devem proceder as Agências para se aproximarem ao máximo das nossas
preocupações, das quais tenho certeza que V.Exa. compartilha, uma vez que elas
vieram para ficar?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Muito obrigado, Deputado
Mauro Passos.
Com a palavra o Deputado Ricardo Barros.
O SR. DEPUTADO RICARDO BARROS - Sr. Presidente, Sra. Ministra,
quando, já na época da equipe de transição, o Governo começou a dar sinais de que
estava incomodado com o papel e a autonomia das Agências. Por isso, logo no
início desta Legislatura, constituímos a Frente Parlamentar das Agências
Reguladoras, para obter um fórum para a discussão dos fundamentos que
estabeleceram essas Agências e também, muito especialmente, para influenciarmos
essa opinião que, no início, nos pareceu muito radical e desinteressante para o
Brasil e que, depois, evoluiu para o projeto que foi à consulta pública, também muito
ruim. O processo terminou no projeto que ora analisamos e que, no nosso
entendimento, já tem uma visão melhor, mais adequada sobre o papel das
Agências, embora ainda necessite de correções.
Faço alguns questionamentos à Ministra — e entendo que as Agências têm
papel fundamental.
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Semana passada, no Congresso da Associação Brasileira da Indústria de
Base, ao qual o próprio Presidente da República e vários Ministros compareceram,
no documento entregue ao Presidente Lula está expressa, como uma das
recomendações ou dos desejos do setor, a importância da independência das
Agências Reguladoras e de sua representação de Estado, não de Governo. Para a
indústria de base, isso foi apresentado como a coisa importante no processo — é
reivindicação da ABDIB para o Governo Lula. E esse projeto trata desse assunto.
Sra. Ministra, V.Exa. teve seus representantes no Grupo de Trabalho
Interministerial, cujo resultado é absolutamente perfeito. A mensagem que
encaminha o projeto de lei a esta Casa também é absolutamente adequada, tem
princípios com os quais concordamos, mas o texto da lei em si não tem. Na hora de
escrever o texto foram inseridos alguns vieses ideológicos, como eu chamo, nos
quais está nossa divergência, V.Exa. já anunciou que tem visão diferente. É nessa
diferença que temos de nos concentrar para poder definir a essência do que esse
projeto poderá mudar na atual situação das Agências.
O problema é definir qual a diferença de concepção. O que se pretende
mudar no papel das Agências? Para isso, temos alguns textos que estão propostos.
E um dos pontos que o projeto deve definir com clareza é qual o papel do Executivo
e qual o papel das Agências.
Então, apresentamos ao Relator uma proposta que diz o seguinte:
“Cabe ao Poder Executivo, por proposta do titular
do Ministério ao qual a Agência está vinculada:
1) encaminhar ao Congresso Nacional projeto de lei
dispondo sobre a política nacional e as diretrizes a serem
adotadas na área de atuação do órgão regulador.
2) Aprovar, mediante decreto, plano específico de outorga
de serviço do regime público e plano geral de metas para
a progressiva universalização dos serviços prestados ao
regime público.
Compete ao Ministério elaborar a política nacional,
as diretrizes, os planos e outorgas e metas a que se
referem os artigos anteriores.
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Compete às Agências reguladoras implementar as
políticas e as diretrizes estabelecidas em lei e executar o
plano específico de outorgas, o plano geral de metas a
que se refere”.
Estamos tentando propor que esse texto enfrente o problema na sua
essência: “Olha, isso aqui é Agência, isso aqui é Ministério”. Quando divergimos
sobre a questão da delegação, estamos discutindo o quê? Que o Ministério não
pode ter uma equipe toda para fazer uma tarefa qualificada, e a Agência ter a
mesma equipe, e o Ministro decidir quem trabalha, se é essa equipe que trabalha ou
se é a outra equipe. É um desperdício de recursos públicos. Logo, temos de definir
com clareza quem vai alocar os recursos humanos necessários.
Quando o Governo Lula enviou o projeto que estruturou a carreira dos
servidores das Agências, S.Exa já deixou claro que pretende ter nas Agências um
quadro competente para fazer essas tarefas. Questiono isso no projeto. O “poderá
delegar” não está nos ajudando no sentido de alocar, vamos dizer, os recursos
humanos no lugar certo.
Desejo ouvir sua opinião sobre isso. Onde deve estar essa equipe qualificada
para elaborar os editais, preparar as licitações, julgá-las e estabelecer os contratos?
Essa equipe deve estar no Ministério ou nas Agências Reguladoras? Essa a
primeira pergunta.
A segunda é na sua área. Por exemplo, o Governador Requião rompeu o
contrato com a El Paso, aliás, rompeu também com a Vivendi, da SANEPAR, e com
as concessionárias rodoviárias. Que atitude que o Governo tomou para repreendê-lo
ou apoiá-lo na sua decisão? O mercado vê o Governo conivente ao Governador
Requião porque não percebe que o Governo o está repreendendo pelas quebras de
contrato.
Então, pergunto especificamente que atitude o Ministério teve, se repreendeu,
apoiou ou se omitiu em relação à quebra de contrato promovida pelo Governador
Requião. Isso, evidentemente, aumenta o risco regulatório no Brasil.
Pergunto também à Ministra sobre autonomia e independência. Na reunião
passada, ao falar de autonomia, Ministra, disse que esta tem o avião, que voa no
limite do combustível que lhe seja aportado; independência tem o passarinho, que
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voa a hora que quer, quando quer e para onde quer, com velocidades diferentes.
Um tem independência, o outro autonomia. As Agências devem ser autônomas ou
independentes? E se devem ser autônomas, quem determina sua autonomia é a lei
ou o Ministério? Quem limita a autonomia de uma Agência Reguladora? A Agência é
um órgão da União. A lei é aprovada no Congresso e sancionada pelo Executivo; ou
é só o Poder Executivo que diz até onde as Agências podem ir? Na sua opinião,
quem deveria, no caso de autonomia ou de independência, determinar a sua
competência?
Lembro ainda que nesse Congresso da ABDIB o Ministro Palocci se referiu
aos contratos de gestão dizendo que eles teriam ação especificamente na questão
administrativa; que o contrato de gestão não se referia a essa expertise da Agência
Reguladora; que o contrato de gestão não se referiria à questão regulatória em si,
mas à questão administrativa da relação do Governo com a Agência.
Pergunto, então, se a sua opinião coincide com a do Ministro Palocci? Se os
contratos de gestão devem se referir especificamente a assuntos administrativos ou
se devem também abranger questões maiores?
Sra. Ministra, Sr. Presidente Eliseu Resende, recebi estudo que mostra que
as empresas de telecomunicações no Brasil, depois da privatização, tiveram ganho
em bolsa de 6,5 bilhões da privatização a abril de 2003, quando o Ministro das
Comunicações questionou publicamente o reajuste que deveria ser dado às tarifas.
Daquele momento em diante, em razão do questionamento, que é uma quebra da
regra do jogo no meio do caminho, de abril de 2003 até agora, as empresas de
telecomunicações brasileiras perderam 14,6 bilhões. Ganharam 6 bilhões da
privatização até abril e perderam 14 bilhões em seu valor de abril para cá.
Ministra, isso é a materialização do que significa risco regulatório. Esses são
os números da ABMEC, que foram divulgados agora. Pergunto a V.Exa. qual a
importância efetiva de termos as Agências representando o Estado brasileiro e não
os Governos? Os Governos acontecerão, muitos, dentro de um contrato de
infra-estrutura, que leva 20, 30 anos, vamos dizer, para ter o retorno do seu capital.
São as questões que apresento à Sra. Ministra. Na réplica, espero poder
retirar mais alguma dúvida que seja lançada.
Muito obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Com a palavra o Deputado
Luciano Zica.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Sr. Presidente, Sra. Ministra, informo
que estou encaminhando a todos os membros desta Comissão — e entreguei cópia
à Sra. Ministra — o resultado do seminário promovido no ano passado pela
Ouvidoria e pelas Comissões de Minas e Energia e de Defesa do Consumidor, que
deixou importante contribuição para a análise do trabalho das Agências .
De fato, creio que estamos diante de disputa, mesmo que não aparente, de
visão do modelo de sociedade e do papel da infra-estrutura do Estado nacional com
o suprimento dessa infra-estrutura. Evidentemente, concordo com o Deputado
Ricardo Barros quanto à definição muito clara e objetiva sobre o que é
independência e autonomia. O exemplo é perfeito.
Agora, quero deixar claro que, na minha visão, cabe ao Estado nacional
garantir as condições de suprimento da infra-estrutura em condições acessíveis a
toda a população. Para mim, a infra-estrutura tem de estar onde é necessária e não
apenas onde dá lucro. Talvez aí resida a preocupação manifesta pelo mercado com
a queda da Bolsa de Valores. Por outro lado, com certeza aquela manifestação
gerou tranqüilidade para expressivo número de brasileiros que sofrem as
conseqüências da submissão da infra-estrutura à lógica do mercado. Acho que
estamos nesse fio da navalha em que é importante recuperar o papel do Estado.
Cumprimento a Ministra Dilma Rousseff pelo papel que tem tido na
recuperação do papel do Estado no setor elétrico brasileiro, com a elaboração do
novo modelo, que, apesar do esperneio natural, está seguindo seu curso. A
sociedade analisará e verificará a conveniência de implantação desse novo modelo.
Estamos diante de debate que, de fato, é de conceito e trouxe o Brasil a uma
situação desastrosa no final do Governo passado. Ninguém gosta de lembrar do
período do apagão. Inúmeras vezes, fui interlocutor do Ministro Pedro Parente, na
busca de soluções para problema gerado pela falta de modelo e por conta
exclusivamente da submissão absoluta do Estado brasileiro à lógica de mercado.
Quero deixar isso claro.
Infelizmente, pela natureza da minha atividade profissional de origem, tenho
sido instado a opinar muito sobre a ANP e o setor petróleo, especificamente. E tenho
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sido um duro crítico da incompetência, da omissão e, muitas vezes, da corrupção na
ANP, que está manifesta agora no envolvimento de dirigentes da Agência em atos
de corrupção revelados em gravações da Polícia Federal, que ainda são apenas a
ponta de um iceberg.
A única questão que quero formular, para depois fazer uma outra
consideração, é a seguinte: apresentei informalmente, uma vez que não foi aberto
novo período de emendas, ao Relator, Deputado Leonardo Picciani, proposta de
alteração, por meio do projeto de lei das Agências, de um artigo da Lei nº 9.478, que
regula o setor petróleo, estabelecendo, dentro das atribuições da ANP, a análise
prévia do Conselho Nacional de Política Energética a autorização ou a
regulamentação de atividades que afete o equilíbrio no fornecimento de derivados
no País. Vou justificar — e quero a opinião da Sra. Ministra sobre a proposta — a
oportunidade de inclusão desse artigo na lei.
Citarei um exemplo. Nos Estados Unidos, há forte presença do formulador de
gasolina. Os Estados Unidos são um país que têm a opção estratégica de promover
a indústria automobilística e, por isso, consome grande volume de gasolina. É
importador de gasolina pronta, inclusive do Brasil. Sobra óleo diesel na matriz do
barril norte-americano. No Brasil, dá-se o contrário: há sobra de gasolina.
Exportamos gasolina e derivados da cadeia da gasolina e importamos mais de 7
bilhões de litros de óleo diesel por ano, com comprometimento de 1,5 bilhão de
dólares na balança comercial do País. E importamos 40% do gás que consumimos.
A ANP, ilegalmente, instituiu a figura do formulador de gasolina, e agora está
revelado que, provavelmente por atos de corrupção, ela não cumpriu o papel dos
prazos legais, e as concessões foram feitas mediante pagamento, pelo que está
colocado.
No Brasil, todos os formuladores que conheço manipulam basicamente
gasolina e, introduzindo a formulação de gasolina, provocam profundo desequilíbrio
na estabilidade do fornecimento de derivados no parque industrial local. A minha
preocupação, ao propor essa emenda, é exatamente a de dizer que atividades como
essa, que afetam o equilíbrio do suprimento de derivados nacionais e comprometam
a relação com o mercado internacional, deveriam ser autorizadas mediante análise
preliminar do agente político responsável pela formulação da política do setor. Não
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especifico o formulador na emenda, mas atividades que tenham esse caráter, que
teriam de se submeter à análise preliminar do Conselho Nacional de Política
Energética para, depois, a ANP colocar. Essa é a questão que deixo.
Outra coisa sobre o contrato de gestão.
Participei hoje — e por isso me atrasei — da abertura de um seminário sobre
meio ambiente, na ELETRONORTE, e conversei com o Prof. Maurício Tolmasquim
sobre contrato de gestão.
Na minha visão, o contrato de gestão na atividade de regulação talvez seja
um pouco inócuo. No entanto, na atividade fiscalizadora da Agência, talvez seja
objetivo e necessário especificar literalmente a Agência de fiscalização no papel. Por
exemplo, temos hoje um mercado de combustíveis em que em torno de 25% é
clandestino, irregular, adulterado, fraudado, e a Agência não fiscaliza. Aliás, nesta
semana recebi uma reclamação de que em Barreiras, no Estado da Bahia, um
botijão de gás está custando 40 reais, enquanto na minha cidade, Campinas, custa
de 25 a 27 reais.
Outro aspecto. Há distribuidoras de gás injetando água nos botijões para
fazer lastro e vender menos de 13 quilos ao consumidor, e a Agência não cumpre o
seu papel de fiscalizar. Por isso, um contrato de gestão que abranja o papel
fiscalizador também para a Agência Nacional de Energia Elétrica, ANATEL e todas
as outras, é procedente, importante e objetivo. O contrato não é unilateral, mas
bilateral. O que tenho ouvido das opiniões contrárias é que as Agências não têm
meios para viabilizar o cumprimento de determinadas tarefas. O contrato de gestão
estabelecerá que o Estado, por meio do Poder Executivo, oferecerá os meios, e a
Agência executará. Não tendo os meios, ela não cumprirá o contrato; haverá ruptura
do contrato. Essa é a minha visão.
Por último, para não abusar da paciência do meu Presidente e da Sra.
Ministra...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Não obstante a brilhante
intervenção.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Obrigado pela generosidade, Deputado
Eliseu Resende.
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Gostaria de fazer uma consideração sobre a ouvidoria. Nesse período, evoluí
sobre a questão da ouvidoria não porque sou Ouvidor da Câmara dos Deputados,
mas pela compreensão. Percebo que o Relator tem simpatia pela idéia da ouvidoria
com mandato igual ao dos diretores. Concordo com a oitiva do cidadão indicado pelo
Senado, mas preferia que fosse pela Câmara dos Deputados, que representa o
cidadão. O Senado representa os Estados da Federação, não o cidadão. Não é a
demanda dos Estados que vai estar em questão, mas, sim, a do cidadão. Isso,
porém, é constitucional — e respeito a Constituição, até que a mudemos.
Acredito que, quanto ao ouvidor, diferentemente do diretor, seu mandato teria
de terminar com o término do mandato de quem o indicou, porque ele representa o
papel em nome do governante. Se não, não teria sentido. Se for para cumprir o
mandato do diretor, ele poderia ser um diretor cumprindo o papel de ouvidor.
Era a reflexão que queria deixar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Obrigado, Deputado
Luciano Zica.
Com a palavra o Deputado Luiz Sérgio.
O SR. DEPUTADO LUIZ SÉRGIO - Sr. Presidente, Deputado Eliseu Resende
— e esta é a Comissão dos Eduardos e Eliseus, temos aqui 4 Eduardos e 2 Eliseus
—, Sra. Ministra, muito mais do que uma pergunta, trago uma reflexão.
Em primeiro lugar, a figura das Agências foi algo novo. Elas foram
constituídas de forma bem acelerada nesta Casa. A partir daí, chegar à conclusão
de que temos um modelo pronto, perfeito e acabado, é um erro. Daí a importância
do debate sobre o que chamo de aperfeiçoamento do atual modelo. Tanto essa nova
concepção de debate quanto a que constituiu os modelos das Agências foram
alicerçadas em concepções nas quais prevaleceram ingredientes políticos.
Indiscutivelmente, precisamos buscar o equilíbrio.
Se é verdade que as Agências têm de representar o Estado e não o Governo,
temos de deixar claro, também, que o mercado não é o Estado. É preciso separar
bem essa questão. A questão relativa ao fato de que, ao terem autonomia ou
independência, as Agências possam substituir ações do Governo na área de
planejamento ou de fundamental importância quanto a demandas que a sociedade
também cobra do Governo é algo que precisa ficar muito claro. As Agências, a meu
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ver, precisam representar o Estado, mas o mercado não é o Estado nem o Governo.
Precisamos aproveitar este momento, que acho extremamente adequado, para
definir muito bem quais são as funções de cada um nesse novo modelo, porque hoje
há uma enorme confusão.
O Governo, exatamente de quem a sociedade cobra, fica sem ter como se
inserir no contexto na área do planejamento, até porque não pode prevalecer única e
exclusivamente o mercado. Podemos citar como exemplo o grande esforço que
estamos fazendo agora com o Programa Luz para Todos. Há milhões e milhões de
brasileiros que sequer têm energia elétrica em suas casas. Se fosse pela lógica do
mercado e dos recursos, esses brasileiros continuariam na escuridão.
Muito mais do que uma pergunta, deixo uma reflexão. Precisamos definir
muito bem essas funções. É verdade que as Agências precisam representar o
Estado, e o mercado não é o Estado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Luiz Sérgio.
Em primeiro lugar quero justificar perante os colegas a minha ausência em
boa parte desta audiência. Como fui autor de requerimento convidando o Ministro
Humberto Costa para estar na Comissão de Seguridade Social, tive de me fazer
presente àquela audiência. Tenho certeza, porém, de que a nossa Comissão esteve
muito bem presidida pelo Deputado Eliseu Resende durante o período em que estive
ausente.
Ainda temos 2 Deputados inscritos. A Ministra Dilma terá de se retirar, por ter
o compromisso de receber a Ministra da Tailândia. Ressaltando a disposição de
S.Exa. em responder a todas as perguntas, apelo para todos no sentido de que
sejam breves.
Com a palavra o Deputado José Roberto Arruda.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Muito obrigado, Sr.
Presidente; Sr. Relator, minha cara Ministra, começo fazendo uma correção para
provocar o Deputado Eliseu Padilha. A Ministra Dilma Rousseff, ao contrário do que
muitos pensam, não é gaúcha, mas mineira.
O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - E os mineiros são muito orgulhosos
disso.
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O SR. DEPUTADO JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Sra. Ministra, essa é uma
disputa afetiva.
Parece-me que sou o último Deputado a falar. E quem fala por último tem
quase o dever de trazer as questões pontuais expostas para um plano genérico,
mas sem deixar de ser nuclear, de ser central.
Ministra Dilma Rousseff, V.Exa., que tem sólida formação acadêmica e
grande experiência, compreende bem a questão que está posta na Câmara dos
Deputados, no Senado Federal e na sociedade brasileira. E ela foi explicitada por
todos que me antecederam da maneira mais detalhada possível. Talvez até para
ajudá-la na exposição que fará a todos nós, eu a resumiria da seguinte maneira: o
Governo, do qual V.Exa. faz parte, tem sido elogiado, quase de maneira consensual,
por estudiosos, jornalistas, cientistas políticos e observadores estrangeiros, por uma
característica. Refiro-me à coragem do Sr. Ministro da Fazenda em fazer a
continuidade de um plano econômico, com austeridade fiscal, visando
fundamentalmente dar prosseguimento ao processo de credibilidade da economia e
do Governo brasileiro no mercado internacional, para que se possa continuar tendo
no Brasil investimentos estrangeiros efetivos, principalmente na área de
infra-estrutura.
Não parece a V.Exa. que o ato de remeter ao exame do Congresso Nacional
projeto mudando o modelo das Agências Reguladoras, sob a ótica dos grupos
estrangeiros que investiram e continuam investindo aqui, sob a ótica do mercado
internacional, ao qual estamos inexoravelmente interligados, já não gera diminuição
desses investimentos? Não seria esse um contraponto à política econômica de
austeridade que o Ministro Palocci imprime? Mais do que isso: não seria um
contraponto, uma nota dissonante à idéia de que, mesmo cabendo ao Governo, se
ele entende que, por ser transitório, é sua obrigação investir em áreas de
infra-estrutura para diminuir as desigualdades sociais, e o aplaudo por isso, isso
nada tem a ver com o papel permanente do Estado, que, ao regular investimentos,
trata do setor privado e do setor público?
Darei alguns exemplos. Alguns Deputados disseram: “Olha, está vendo aí,
queremos colocar luz onde não tem”. Ótimo. Se o Estado tem recursos para isso, se
isso está dentro da extrema limitação orçamentária que nos é colocada todos os
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dias, se isso é possível, por que não fazê-lo? Aplausos a essa ação, que nada tem a
ver com o modelo de regulação.
Em segundo lugar, Sra. Ministra, há 2 pontos que gostaria de destacar nesse
projeto. Primeiro: há de se fazer ajustes e acertos. Tudo bem. No momento em que
se tira o poder de concessões das Agências e o traz para o Governo, ou seja, tira-se
o poder de analisar e de prever as concessões dentro de um planejamento
estratégico, do que é permanente, que é o Estado, e o traz para o que é transitório,
por definição, que é o Governo, não se está tirando o pilar central do modelo de que
a regulação da atividade econômica no País deva ser uma atividade de Estado e,
portanto, fora da transitoriedade dos governos que a sociedade escolhe?
Terceiro ponto. Ainda na linha do “já que vai mudar”, não seria o caso de
mudar também alguns equívocos cometidos no projeto original, de autoria do
Governo do qual fui Líder? Não se trata de uma crítica, mas de uma autocrítica.
Por definição básica, todas as Agências Reguladoras são do Estado, são
permanentes. O Brasil escolheu, na Constituição, que a Capital do Estado deve ser
Brasília. Não é este o lugar das Agências, do aparelho central do Estado? Uma vez
que estamos mudando, não está na hora de fazermos todas as mudanças e não
apenas algumas, aliás, dentro do conceito de que a Capital do País deve se colocar
como Capital eqüidistante de qualquer tipo de interesse regional, inclusive os de
ordem econômica?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Para concluir,
Deputado, se possível.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Por último, Sra. Ministra,
absolutamente nada a favor de Brasília. Ao cumprimentá-la pela maneira sempre
elegante com que enfrenta todos esses debates, trago apenas como exemplo um
sinal que deixa o Congresso Nacional e a sociedade apreensivos com o tipo de
Agência que queremos ter. Recentemente, veio para o Congresso projeto de lei
sobre a definição do plano de cargos e salários das Agências.
Em primeira análise, parece-me que o que se está definindo é um nível de
profissional muito abaixo do que temos, por exemplo, no Banco Central, na
Diplomacia brasileira, enfim, em algumas dessas outras estruturas do Estado. Não
seria o caso, portanto, de termos nas Agências profissionais altamente capacitados,
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independente de ações de Governo ou econômicas que possam modificar o enfoque
retilíneo que deve haver em relação às questões que regulam? Não seria o caso de
termos nas Agências, não só numericamente, como também qualitativamente,
profissionais situados no principal patamar do mercado?
São estas, Sr. Presidente, as considerações que faço.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado,
Deputado José Roberto Arruda.
Passo a palavra ao último inscrito, Deputado Eduardo Sciarra.
O SR. DEPUTADO EDUARDO SCIARRA - Sra. Ministra, Sr. Relator,
reconheço que quando esse assunto começou a ser debatido neste Governo, de lá
para cá houve considerável avanço no entendimento acerca das Agências
Reguladoras. Alguns pontos do projeto ainda me causam grande dúvida quanto à
sua eficácia, principalmente no que diz respeito ao contrato de gestão, a que eu,
assim como outros Parlamentares, já me referi, pontos esses que dificultarão a
definição de metas. Uma vez que o controle social disso será feito pelo Congresso, e
não mais pelo Executivo, teremos dificuldades em definir tais metas.
Além disso, entendo que o plano de trabalho pode ser definido pelas
Agências, com respaldo do Ministério, que poderia ser mais eficaz na condução
disso.
Quanto à questão da prestação de contas ao Congresso, também entendo
como uma inovação, da mesma forma como entendo que o não-atendimento de
metas não deve implicar o contingenciamento de recursos pelo Executivo. Entendo
igualmente que a questão das outorgas existe em função do art. 9º — o poder
concedente elabora o plano de outorga e diretrizes de licitações — e pode causar
conflito de interesses na medida em que o Ministério de Minas e Energia, por
exemplo, controla estatais que disputam mercados com empresas privadas. Pode
haver conflito de interesses, Sra. Ministra, por exemplo, na medida em que o
presidente do conselho seja também o presidente de algumas dessas estatais.
Na questão da autonomia é importante ressaltar a sinalização para o
mercado, a questão dos investimentos. E, aí, levanto uma questão que hoje tem
afetado o meu Estado, o Paraná. Refiro-me ao uso político de alguns instrumentos
do Estado na atração de investimentos. Muitas vezes isso tem interferido na área.
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Recentemente, o órgão ambiental do Estado do Paraná interveio
policialmente em questões de licenciamento ambiental, e o Estado ficou fora do
PROINFA nesse primeiro momento, porque licenças ambientais foram canceladas.
Esse, evidentemente, não é um problema do Ministério, mas do Governo do
Estado do Paraná, que acha que só quem pode gerar energia lá é a sua estatal. Por
isso me referi ao uso político. O cancelamento das licenças ambientais gerou esse
tipo de distorção.
De que forma isso pode ser corrigido e quem pode efetivamente agir em
questão como essa?
Era isso, Sra. Ministra.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado,
Deputado Eduardo Sciarra.
Antes de passar a palavra à Sra. Ministra, aproveito para orientar o nosso
trabalho. Hoje, à tarde, tínhamos marcado reunião, mas decidimos cancelá-la. Às
9h30min de amanhã, vamos ouvir o Ministro Palocci. S.Exa. também tem problemas
de horário, então, é importante iniciarmos a reunião pontualmente. Teremos o
intervalo que for considerado necessário pelo nosso Relator, e logo após teremos
uma nova reunião em que será feita a leitura do parecer por S.Exa.
Passo a palavra à Ministra Dilma Rousseff.
A SRA. MINISTRA DILMA ROUSSEFF - Primeiro darei uma resposta geral.
Reitero que a instituição Agência Reguladora, a autarquia especial — é isso que ela
é —, na minha opinião é algo crucial no atual desenvolvimento das relações
Estado/mercado/sociedade. Entendido Estado como Estado nacional; mercado,
toda a relação entre diferentes agentes, sejam públicos, sejam privados, que lá
atuam; e sociedade, o conjunto dos consumidores brasileiros.
É nesse campo — Estado, mercado e sociedade — que se situam as
Agências. Mas elas são um órgão do aparelho de Estado tanto quanto é o Ministério,
tanto quanto é um órgão de controle, como o CADE, com estatutos diferentes. Caso
contrário, vamos entrar numa discussão completamente, diria, iluminista. Por quê?
Porque o Estado brasileiro é “presentificado” pelas instituições de Governo, pelo
Legislativo e pelo Judiciário, mas cabe ao Executivo a representação da União.
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No processo que levou o País à desregulamentação e à crença de que era
possível desmantelar certas estruturas de Estado quando se privatizassem
determinados segmentos, considerou-se que a União não precisaria estar
representada pelos aparelhos de Estado relativos à administração centralizada
federal, ou seja, os Ministérios, que só funcionam por delegação do Governo, que
representa o Estado Nacional, entre eles, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
O que aconteceu? As leis atribuíram a condição de representante da União a
autarquias especiais. Foi o que foi feito.
Então, a discussão sobre quem é a União é fundamental. Disse que aí havia
uma divergência porque há de fato. Não acredito possível que a representação do
Governo, que é também do Estado Nacional — depois entraremos na análise do que
é permanência e transitoriedade —, em momento algum deva ser feita pela Agência.
Não sou adepta da teoria do Estado mínimo. Entendo que não existe União em
abstrato, alguém a representa.
No ato de exercer a atividade executiva, infelizmente, não tenho a menor
ilusão de que sou transitória. A função das legislações é fixar, com o maior grau de
permanência possível, nas sociedades humanas, algumas regras para que haja
condição de possibilitar as melhores práticas. O papel do Legislativo e do Judiciário
é tornar algumas atividades permanentes.
Desculpem-me, a discussão sobre quem representa a União. Quem
representa a União é o Exmo. Sr. Presidente da República. Só existo por delegação
de S.Exa., qualquer Ministro só existe por delegação de S.Exa. É isso que
represento, mais nada, ou seja, nem estaria aqui sentada se não fora nessa
condição.
As agências também terão de representar o Estado nacional da melhor
maneira possível, mesmo quando cometem erros, mesmo quando têm os problemas
relatados. Aí cabe outro julgamento, se existem ou não existem práticas. Não existe.
Por que não ter nas agências todas as falhas que há na sociedade brasileira? Elas
não são imunes a isso. Elas têm outro papel, o de regulador e fiscalizador.
Quando a gente diz que o poder concedente não pode ser exercido pela
agência, o que estou dizendo — e aí a prova é simples, é a lei do petróleo — é o
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seguinte: transferir para as agências o exercício do poder concedente foi um
equívoco.
É isso que estamos falando. Estamos discutindo isso mesmo, foi um
equívoco. Havia a suposição que está expressa no fato de deixarem o Ministério de
Minas e Energia com 4 ou 5 pessoas. Está expressa neste fato, está expressa na
imensa dificuldade para nós de reconstruir o Ministério. Temos de reconstruir as
agências, sim, mas chamo a atenção dos senhores para a necessidade de
construirmos os Ministérios. Encontrei muita compreensão sobre essa questão entre
os outros Ministros que me antecederam, de outros partidos e que viveram o que
vivi. Como viveram, sabem o que vivi, o que estou vivendo.
Houve um processo de desmonte do aparelho de estado no Brasil, por
exemplo, no fato de o País não ter tido uma política de longo prazo de energia
elétrica, como a que a Shell tem. Aliás, a Shell tem uma política de longo prazo na
área de energia.
Então, discuto o poder concedente, sim. Quem representa a União, sim.
Estamos discutindo isso, sim. É óbvio que é por delegação da Presidência da
República. Não há dúvida acerca desse fato.
Não acho que a questão se esgote aí. Acho que aí há uma divergência. Já
tentei expressar. Descobri que existia a divergência numa discussão na época do
modelo, Deputado. Descobri com o senhor onde estava o problema relativo a quem
exerce. Não acho que seja correto, do ponto de vista das relações institucionais, que
as agências cumpram a função de poder concedente. Isso não significa diminuir o
papel das agências, pelo contrário, porque o papel regulador delas num ambiente de
oligopólio, com capacidade do agente de fazer preço, com interferências políticas,
no sentido mau da palavra, porque há o sentido bom e o sentido mau... Qual é o
sentido bom? Há de ter interferências políticas no sentido público da palavra,
quando a política representa os interesses públicos gerais da sociedade. Devemos
evitar quando ela representar interesses muito particulares, muito específicos e
muito privados.
As agências devem ter de fato um nível de autonomização que só a relação
política lhes permite. Não vamos construir isso dizendo o seguinte: elas representam
o estado. Vamos construir isso na relação concreta e específica do Governo, do
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Legislativo e do Judiciário com elas. Há um conflito entre o Tribunal de Contas e
uma agência, por exemplo. Isso terá de maturar e deverá virar um princípio.
Teremos de decidir sobre questões relativas ao ato regulador, se haverá ou não
interferência.
Deveremos saber quem fiscaliza o fiscal também, porque a agência é
integrada por homens, e os homens falham. Como eu tenho de prestar contas aos
senhores aqui, tenho de ser objeto do escrutínio do Tribunal de Contas. Acho que do
ponto de vista da gestão toda e qualquer agência deve estar submetida ao
escrutínio.
Devemos discutir se a fiscalização do fiscal não significa manietar o fiscal.
Estamos num processo de discussão que é o fio da navalha. Teremos de
amadurecer e saber até onde vamos.
Quero destacar que no caso das agências sou absolutamente defensora,
diria, da profissionalização qualificada. Acho que devemos ter nas agências
excelentes quadros nos diferentes setores, petróleo e gás, energia elétrica. Caso
contrário, é muito difícil o ato da fiscalização, pois ele é muito complexo. O ato da
regulação é muito complexo. Fazer a revisão tarifária de todas as empresas do setor
elétrico requer um nível bastante sofisticado de conhecimento e também um grau de
blindagem dessas agências.
Por que requer um nível de blindagem dessas agências? Porque os agentes
brasileiros — não é exceção —, quando são objetos da regulação específica, ficam
muito desagradados e reclamam bastante.
Houve um dia em eu que disse ao Ministro Palocci: acho que só nós 2
acreditamos na independência das agências. Naquela ocasião, estava em curso a
revisão tarifária, e a chiadeira era geral. O processo pelo qual se cria a prática de
estabelecer a distinção entre o que é do Ministério e o que é das agências é esse
canal claro que devemos estabelecer entre o que são atividades precípuas de poder
concedente e atividades de regulação.
Entrarei na questão seguinte, a de delegação de competência. Há vários
problemas na delegação de competência. Se fosse simples, não estaríamos aqui
discutindo. É absolutamente elementar no Brasil que o edital e todo o processo de
seleção seja feito pelas agências. Em nosso caso, delegamos por lei,
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especificamente. Foi objeto de conflito o ato delegatório. Acredito que isso seja
muito bom. Acho que deverá ter 2 equipes, infelizmente, só que para tratar de
assuntos distintos. Para fazer o edital, a ANEEL deverá ter uma série de
informações. Por exemplo, quando é edital de transmissão, vem informação técnica
da ONS e da empresa de pesquisa energética, e aí vem do Ministério junto. Junta-se
isso, faz-se um processo, remete-se e observa-se a licitação. Todos esses órgãos
observam como está o andamento da licitação. Isso se dá porque há razões
técnicas que são analisadas oportunamente.
A mesma coisa acontece na geração, só que na geração ainda é mais
complexo. Na geração, temos de discutir planos de médio e longo prazos, a
quantidade do que será licitado, como será licitado. Trata-se de um trabalho
bastante íntimo.
Quanto ao processo de delegação, diria aos senhores que o nosso está
resolvido, está na lei. Este processo nem sequer começou na complexidade do que
teremos de resolver no caminho. Já fizemos algumas reuniões e deveremos tomar
providências no sentido de encurtá-lo, para o bem da sociedade, torná-lo um pouco
mais ágil.
Em outras áreas, vou contar a história da sexta rodada de licitações. O Brasil
fazia licitação de área, blocos de exploração de petróleo-gás, sem nenhuma política
de tamanho da razão reserva/produção que queria manter. Se fez, não tem registro,
não encontramos registro. As licitações eram feitas e eram colocadas. Para que vou
licitar blocos de petróleo e gás? Vou licitar blocos de petróleo e gás para manter a
auto-suficiência.
Pergunta: quantos dias sua auto-suficiência dura por uma taxa de
crescimento de 3,2% do seu mercado? Resposta: depende de quanto eu tiver de
reserva. Portanto, uma política de rodadas de licitação na área de petróleo depende
dessa discussão. Essa discussão é típica do poder concedente e informa qual o
tamanho da licitação.
Segunda questão típica do poder concedente. A troco de que o Brasil vai abrir
mão de internalizar a demanda de gás e petróleo na sua indústria? A troco do
seguinte, poderiam dizer: se o preço for elevado, o nosso, aqui dentro, se a gente
não for competitivo.
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Pergunta: somos competitivos ou não? Há alguma política de aumento do
conteúdo nacional que permita que sejamos competitivos? Algum país do mundo fez
isso ou não? A Noruega fez isso. Num período, os Estados Unidos fizeram isso.
Será que algum outro país fez isso?
Instituímos uma política de conteúdo nacional para resolver a polêmica da
P-51 e da P-52. Ontem, pronunciei-me na ABEMI, Associação de Engenharia e
Montagem Industrial. Muitas vezes, em que pese toda a capacidade de técnicos e
de engenheiros de fazer projetos, quando os projetos são feitos lá fora são
dimensionados para a indústria lá de fora. Não que a nossa seja incompetente. Se
você entrar na política de que exportar é bom, internalizar é ruim — exportar é o
indício de que você aceitou a globalização — e aumentar o conteúdo nacional,
preservando prazo, preço, qualidade, é ruim, você vai largar de mão toda a sua
engenharia, todo o seu pessoal que pode planejar e não terá uma política que una
empresas nacionais e internacionais, que possa dizer que a demanda em 6 anos
será de 50 bilhões de dólares. Quem vai produzir?
Estou mostrando que tudo isso era suposição de que deveria ser atribuição
das agências. É isso que está errado, que é um crime contra o País, do ponto de
vista da sustentabilidade do seu desenvolvimento. Isso não é correto. Há uma
diferença, sim. Não achamos que em nome de preservar a autonomia tenha de se
transferir junto a capacidade de formular política. Só para formular política dá um
trabalhão. Para dar trabalho para os Ministérios é melhor que os atos regulatórios e
fiscalizadores fiquem perfeitamente nas agências. No que depender do Ministério,
pode ficar claríssimo na lei, já temos trabalho suficiente para não ter de proceder a
isso.
Não acho que esta seja a questão chave. A questão-chave é o desmonte da
máquina pública praticada no País. Discutir a agência sem discutir a incapacidade
dos órgãos da administração centralizada do Estado de planejar o País, de
aproveitar as vantagens que o País tem, é abrir mão do mínimo de política nacional.
Como é que algum Ministro aceita que a Conferência Internacional de
Barragens estabeleça que barragem acima de 15 megawatts, hidrelétricas acima de
15 megawatts sejam não-renováveis? Como é que algum Ministro de Estado
brasileiro se omite diante disso? Isso foi publicado, estava e ainda está em curso.
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Nossa agenda de energia não é igual às de países desenvolvidos. Algum país
desenvolvido tem etanol? Não. Algum país desenvolvido tem biocombustível? Não.
Se não houver política, não há o que licitar. Se não houver política, vai se licitar e
outorgar errado. A questão não é por aí. Tem de haver equilíbrio.
Agora, abordarei outra questão sobre as agências a respeito da qual já me
manifestei. Para serem construídas e serem competentes, o que é importantíssimo
para o País, elas terão de ter um tratamento especial. São autarquias especiais. Os
Ministérios também terão de ter quadros no País. Não podemos aceitar que o grau
de disponibilidade de estatística seja o que temos. Não é possível.
Respeitamos a federação. Independentemente da minha opinião a respeito,
não posso admoestar, por solicitação de ninguém do mercado, porque não tenho
competência para tal, o Governador do Estado do Paraná. Não se trata de uma
relação pessoal minha com o Governador do Estado do Paraná, mas institucional.
Não acredito que ninguém do mercado tenha pedido ao Presidente Bush para
admoestar o Governador do Estado da Califórnia por ter rompido 3 contratos. Esse
tipo de problema não é correto na área de energia. Não estou dizendo que concordo
com todas as práticas, mas que essa relação é federativa. O mesmo respeito que há
nos Estados Unidos entre a União e os Estados, porque eles não interferem nos
Estados, temos aqui também. Somos uma federação e temos de ter respeito em
relação aos Governadores.
Gostaria de esclarecer que, a respeito da entrada do PROINFA do Estado do
Paraná, não tenho noção, porque não tenho condição de ter, mas, até onde sei,
entra. Como ainda não está fechado o processo, não posso responder de forma
definitiva.
(Não identificado) - As PCHs, Ministra.
A SRA. MINISTRA DILMA ROUSSEFF - Acho que tem. A impressão que
tenho, não posso deixar passar isso, ou seja, até onde eu sei, tem.
Gostaria de abordar outra questão sobre a continuidade. No meu caso, a
continuidade é um problema seriíssimo e muito complicado: 2 apagões e 1
racionamento. Não há alternativa a não ser reestabilizar o setor elétrico. Em 2003,
mudamos: recebemos o setor elétrico com uma cara, e hoje ele está com outra. Vou
dar um exemplo de que gosto muito, o do MAE. Qual e a função do Mercado
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Atacadista de Energia? Liquidar, ou seja, fazer pagamento de curto prazo. O que é
típico do mercado? Pagar. Ele paga, compra, vende e registra posições. O que
pensamos de um mercado que durante 2 anos não conseguiu fazer nem dar
continuidade a isso? O que fizemos? Pegamos esse mercado que nunca tinha pago
a ninguém até o dia 31 de dezembro de 2002, que teve imensas dificuldades nos 3
primeiros anos em liquidar as posições, e o colocamos em dia. Ninguém escuta uma
reclamação porque ele está completamente em dia: acabou a inadimplência, há uma
diminuição vertiginosa dos processos judiciais, porque quando se judicializa um
órgão significa que ele está mal. Hoje, ele pode tranqüilamente virar a Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica. Estou dizendo isso porque acredito que o
processo de estabilização do setor elétrico passa por ações que foram tomadas pelo
regulamento do setor elétrico e pela capacidade do País de crescer.
O investimento direto externo será estratégico para o crescimento de um país
que pretende ter uma economia aberta como a nossa. Só que tem um pequeno
problema: em nenhum país do mundo o investimento direto externo determina o
crescimento. Ele pode sustentar o crescimento, ele entra depois. Nós temos de fazer
por nós para atrair investimento direto externo novo.
Quero alertar aos senhores que na área de energia elétrica no mundo houve
um verdadeiro derrumbre — usando uma expressão espanhola —, houve uma
quebradeira geral. Vamos lembrar perfeitamente da falência da Enron e que grandes
empresas, inclusive que atuam no Brasil, tiveram sérios problemas, porque suas
ações despencaram de 70 dólares, 60 dólares, 50 dólares, para 3 cents, 2 cents. As
perdas registradas na bolsa de utilities elétricas, num determinado período, se não
me engano, tenho dados até setembro, foram de quase 40% reais. Isso significa que
eles também estão em processo de reestruturação. Eles também passaram por um
processo, e a Lei Sarbanes-Oxley impede hoje passagem de ativos, impede
esconder ativo e criar um nível de accountability, ou seja, de capacidade de
inferência de ativos maior. Penso que estamos passando por esse processo.
Quero voltar à ANEEL e à ANP. A ANEEL nesse processo é fundamental.
Quero destacar aos senhores que todas as vezes em que discutimos ou
propusemos em lei determinados regulamentos que dizem respeito à capacidade de
fiscalização nós o fizemos com a ANEEL. Das agências com que lido, são 2, ela é
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mais madura, institucionalmente falando. É uma agência que adquiriu práticas mais
estáveis. Diria que, no trajeto para ser uma agência bem estruturada e forte, ela
percorreu uma maior parte do caminho. A ANP tem alguns problemas ainda se
comparada com a ANEEL. Esta é mais estável, diria mais regular no seu
funcionamento.
Acredito, também me perguntaram isso, que minha experiência com a ANEEL
nos últimos tempos tem sido muito boa. Divergimos quanto à questão do poder
concedente. Ninguém gosta de perder poder. A ANEEL não pode ser diferente. No
entanto, é profissional suficiente para manter padrão de relacionamento de alta
categoria com o Ministério. Temos tido, por parte da ANEEL, não só nesta atividade
de montar o novo modelo e de discutir regulação, mas também em outras questões
mais espinhosas, um trabalho muito estreito. Quando há conflito com a Agência,
quando ela tem de fazer alguma ação, muitas vezes, avisa-nos do que está
ocorrendo e pergunta-nos em que podemos ajudá-la, como pedimos ajuda a ela.
Institucionalmente, há um outro local de ação da ANEEL e da ANP — não
posso falar só da ANEEL, a ANP tem um papel muito importante —, que é o Comitê
de Monitoramento do Setor Elétrico. Isso não significa que tenhamos de concordar
em gênero, número e grau uns com os outros, mas que existe uma prática de
absoluto respeito entre nós e eles.
A última questão em que quero deter-me é sobre o formulador e a ANP. A
ANP é muito desenvolvida num aspecto. Se ela cuida, vamos dividir em linhas
gerais, da upstream e downstream, da parte de cima (refino, prospeção e
exploração) e da parte de baixo (distribuição de combustíveis, etc.), ela é mais
desenvolvida na parte do upstream e menos desenvolvida na parte do downstream.
Talvez porque a atividade fiscalizadora mais difícil se dê na parte do downstream,
que exige um tempo para ela pegar o empuxo, porque não é uma atividade trivial.
Ou seja, não estamos cobrando da agência algo trivial, que ela não fez porque não
quis. Estamos cobrando a estruturação de um processo que é complexo.
Estou querendo fazer isso para qualificar o que estou dizendo. No caso do
formulador, não sou contra formuladores em geral, até penso que é uma temeridade
sermos contra algo em geral. Não sou contra. Formulador tem papel muito
importante em países desenvolvidos, principalmente onde circulam diferentes tipos
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de produtos que são ponta de comercialização internacional. Formulador é ótimo,
porque vai poder maximizar o uso desses diferentes combustíveis. Não creio que o
formulador seja adequado para nossa etapa. Não é viável supor que somos um país
em que o downstream é estável, que nossas leis e nossas práticas de mercados
expulsam e não deixam aparecer um adulterador, porque isso não é real. Lá, tente
adulterar para ver o que acontece! Aqui — e não é só em legislação, estou falando
em práticas, na melhor prática —, sabemos, tem ainda adulteração, problemas com
a legislação, que precisa ser amadurecida. Trata-se de uma discrepância entre as
exigências de mercado para se ter formulador e a atividade existente, como ela é —
a vida como ela é, a terrível situação como ela é. Então, o que não é viável é pensar
que pode haver formulador junto com um mercado na sua infância. Não concordo
com isso, penso que dá muito problema.
Quero destacar que o Ministério fez várias manifestações — não foram 1 nem
2, foram várias —, no sentido de introduzir o formulador. Essa é uma parte que não
fica muito nítida na Lei do Petróleo, porque houve essa tendência de transferir o
poder concedente para a agência — está escrito na lei. Fizemos a sinalização: não
consideramos boa prática, boa política e não concordamos. Foi-nos dito que
também a direção da agência não concordava, foi-nos dito explicitamente. No
entanto, houve aqueles problemas com o formulador, decorrentes de prazos e até
de ações judiciais. A agência alega que foi obrigada — o que respondo é o que sei
oficialmente — a cumprir ações judiciais. Até que provem o contrário, penso que isso
está fundamentado.
Quanto à questão do formulador, como qualquer denúncia sobre qualquer
área, tanto em meu Ministério, como em qualquer outra área, obviamente
manifestamos o interesse absoluto que se apure. E mais, que se apure e tomem
medidas cautelares, as cabíveis medidas cautelares. Acredito que a direção da ANP,
conforme imaginamos, está tomando as devidas medidas cautelares nessa questão,
que também foi mencionada nessa audiência.
Finalizando, gostaria de dizer o seguinte: estamos fazendo um esforço
conjunto. Considero interessante a sugestão do Deputado, que leu uma proposta
sobre estruturas, de como se delega, etc. Penso que precisamos ter cuidado porque
existem relações diferenciadas. Tenho vivência da relação com a ANEEL e a ANP, e
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não da relação com as outras agências, mas posso dizer que o que interessa, até
agora, em todo o processo de discussão, é que o poder concedente fique claro, por
uma questão de formulação de política, que se tenha condição de se fazer isso, que
se equilibrem as relações entre as diferentes instâncias no Brasil.
Minha opinião a respeito do contrato de gestão é que esse contrato é mais um
instrumento administrativo e fiscal do que um instrumento regulatório. No entanto,
não está explicitado na lei o que é o contrato. Eu senti que há um temor por parte da
ANEEL quando discutimos a Lei nº 10.848. Hoje, a ANEEL tinha de ter um contrato
de gestão e precisava estar cumprindo metas.
(Não identificado) - Por que não o tem, Ministra?
A SRA. DILMA ROUSSEFF - Porque há uma situação absolutamente
indefinida quanto a como se dá a negociação.
(Não identificado) - Isto depende do Ministro.
A SRA. DILMA ROUSSEFF - Não, não depende só do Ministro, porque há
um contrato. O companheiro Luciano Zica disse uma coisa correta: temos que
estabelecer metas de comum acordo. A palavra contrato é uma relação de acordo.
Portanto, quanto à fiscalização, houve uma divergência pública e notória com o
Ministro que me antecedeu. Tentaram 3 vezes uma negociação, foram realizadas
várias reuniões e, no dia 31 de dezembro, mandaram para mim. Ou seja, herdei —
caiu no meu colo — um contrato que não tinha acordo. Passaram-no para mim para
constar, porque o processo negocial é esse.
Dentro do processo da regulamentação e da modificação do setor elétrico e
aguardando a Lei das Agências, penso que, ficando definido um contrato de
fiscalização e administração, não há por que não se ter. Não acredito haja criação
de interferência alguma, porque é preciso prazo para isso ocorrer. Não vejo razão
para que não se estabeleçam metas, inclusive para que isso não seja publicamente
negociado. Acredito que é importante que se tenha fiscalização e que exista uma
vantagem, sim, a de se apresentar metas e obrigações, a de estabelecer condições,
senão o contrato é nulo. Se eles não tiverem condições de executar o contrato, até
existe uma proteção para a agência no que se refere à questão do
contingenciamento.
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Por último, quero dizer que não deixo de me manifestar preocupada com o
contingenciamento da ANEEL e da ANP. Entretanto, não vejo por que a ANEEL, a
ANP e os Ministérios serem tratados de forma diferente. Por isso, discutamos todos
a questão do contingenciamento. Agora, se há contingenciamento, podemos —
muitas vezes eu o fiz —, quando percebemos que há gargalos maiores num lugar,
transferir dinheiro para outros. Fizemos isso especificamente com a ANEEL.
(Não identificado) - É a fonte, Ministra, é a taxa de fiscalização. Isso é
recurso específico, não é imposto para ser distribuído.
A SRA. DILMA ROUSSEFF - Não é daí o recurso, não. O recurso pesado é
um recurso que está orçado, os royalties, e que vale para todo o mundo, o Ministério
do Meio Ambiente, o meu Ministério, o DNPM. Não tenho, nesta hora, como tratar
orçamentos diferenciadamente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Queremos, em nome de
todos, agradecer muito à Sra. Ministra a presença.
Só para fazer uma brincadeira com o Deputado José Roberto Arruda, quero
dizer que sabemos que ela é mineira de nascimento, mas temos o orgulho de tê-la
como gaúcha por opção. S.Exa. tem grande atividade de gestão pública no Rio
Grande do Sul, mas, acima de tudo, é brasileira. E independentemente das idéias
divergentes e legítimas de cada um de nós, o Brasil orgulha-se de ter uma Ministra
com este preparo e com esta condição para dirigir setor tão estratégico.
Peço aos Deputados 1 minuto para votarmos 3 atas.
(Não identificado) - Sr. Presidente, gostaria de solicitar a V.Exa. a dispensa
da leitura das atas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Atendendo a essa
solicitação tão necessária, está dispensada a leitura das atas.
Em discussão as 3 atas. (Pausa.)
Não havendo quem queira discuti-las, em votação.
Aqueles que as aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovadas as 3 atas.
Informo, por fim, que haverá um encontro amanhã, às 9h30min, com o
Ministro Antônio Palocci.
Está encerrada a reunião.
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