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Derrotando Terrorismo e Violência:
uma perspectiva do exército do Paquistão
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
Maj Inf RANA KHALID AZHAR, Exército do Paquistão
Rio de Janeiro
2018
Maj Inf RANA KHALID AZHAR, Exército do Paquistão
Derrotando Terrorismo e Violência:
uma perspectiva do exército do Paquistão
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.
Orientador: Major Cavalaria Daniel Mendes Aguiar Santos
Rio de Janeiro
2018
A994d Azhar, Rana Khalid
Derrotando Terrorismo e Violência: uma perspectiva do exército do Paquistão / Rana Khalid Azhar. 一 2018.
112 f. : il. ; 30 cm
Orientação: Daniel Mendes Aguiar Santos Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares). - Rio de
Janeiro: Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, 2018. Bibliografia: f. 105 - 111. 1. TERRORISMO. 2. GUERRA HÍBRIDA. 3. TERRORISMO NO PAQUISTÃO. 4.
MÉDIA E TERRORISMO 5. GUERRA IRREGULAR 6. CONTRA INSURGÊNCIA I. Título.
CDD 322.42095491
CDD 355.450981
Maj Inf RANA KHALID AZHAR, Exército do Paquistão
Derrotando Terrorismo e Violência:
uma perspectiva do exército do Paquistão
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares.
Aprovado em 25 de outubro de 2018.
COMISSÃO AVALIADORA
_________________________________________________ Daniel Mendes Aguiar Santos, Maj Cav – Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
_________________________________________________ Guilherme Naves Pinheiro, TC Inf – Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
_________________________________________________ Alisson Alencar David, Maj Inf – Membro
Escola De Comando E Estado-Maior Do Exército
À minha esposa Momina e meus filhos Yahya e Amna. Uma sincera homenagem pelo carinho e compreensão demonstrados durante a realização deste trabalho. E para minha mãe que está me esperando ansiosamente.
AGRADECIMENTOS
Ao Major Cavalaria Daniel Mendes Aguiar Santos, não só pela orientação firme e
segura, como também, pelo incentivo e pela confiança evidenciada em várias
oportunidades. Sua dedicação se revestiu de capital importância para que eu
pudesse realizar o trabalho com tranquilidade e eficiência.
Aos Tenente Coronel Artilharia João Ricardo Da Cunha Croce Lopes, Tenente
Coronel Infantaria Isnard Mariano, Major Artilharia Madureira, Major Infantaria
Leonordo Martins Ribeiro, Major Cavalaria Maurício Gilberto Roman Ross, Major
Comunicação Gustavo Campos Rosa, Major Artilharia Gedeel Machado Brito Valin,
Major Infantaria Robério de Oliveira Lima, Major Cavalaria Fernando Lombardi Dos
Santos, Major Engenharia Filipe Barros, Major Infantaria Luis Felipe Ferreira e Major
Mariano Oscar Gomez do Argentina pela inestimável colaboração prestada por
ocasião da confecção deste trabalho.
A minha mãe, pelo empenho dedicado em minha formação e educação. Seu
exemplos e valores estão presentes em qualquer sucesso obtido.
Ao Exército do Paquistão pela confiança confiada a mim para fazer o Curso de
Comando e Estado-Maior, Brasil no estimado instituto do Escola de Comando e
Estado-Maior de Exército, Escola Marechal Castelo Branco, Rio de Janeiro.
A Deus, pela proteção e orientação recebidas, principalmente nos momentos mais
difíceis. Pela força necessária que recebi para resolver os problemas apresentados.
“Com fé, disciplina e dedicação altruísta ao dever,
não há nada que vale a pena que você não consiga
alcançar.” (Muhammad Ali Jinnah, Fundador do
Paquistão)
RESUMO
O terrorismo tornou-se uma realidade frequente em todo o mundo. O termo próprio
tem conotações amplas, de atos individuais de vingança a uma violência organizada
por grupos, com determinada ideologia, contra ao estado. Outros meios subjacentes
incluem atos de sabotagem, incitados por Estados rivais, com o objetivo de
desestabilizar o estado inimigo ou opressão do Estado contra um determinado grupo
ou região particular. Existem vários contextos de terrorismo, normalmente em
conveniência para a compreensão do autor. A comunidade internacional muitas
vezes segue uma opinião estabelecida, que é organizada através de uma narrativa
cuidadosamente trabalhada, apoiando um enquanto descreve o outro como um
terrorista.
Em todos estes cenários, este estudo visa aprofundar o domínio do terrorismo no
âmbito da Guerra Híbrida, ou seja, a violência organizada provocada pelo Estado
inimigo com o objetivo de enfraquecer o adversário. Posteriormente, o estudo
também pretende colocar diante dos desafios enfrentados pelo Paquistão na luta
contra o terrorismo, pós 9/11, e uma resposta abrangente pelo Paquistão.
Palavras-chave: Terrorismo Contemporâneo. Guerra Híbrida. Guerra Irregular. Contra insurgência. Contraterrorismo. Mídia e terrorismo. A resposta do Paquistão
ao terrorismo. Prevenção e combate ao terrorismo.
ABSTRACT
Terrorism has become a frequent occurring reality across the globe. The term itself
has broad connotations from individual acts of vengeance to an organized violence,
by groups with certain ideology, against the state. Other underlying milieus include
acts of sabotage, incited by rival states, with the aim of destabilizing the enemy state
or state’s oppression against a certain faction or particular region. There are various
contexts of Terrorism, normally in convenience to the understanding of the
perpetrator. The international community often follow an established opinion which is
organized through a carefully crafted narrative, supporting one while depicting the
other as a Terrorist.
In all these scenarios, this study aims to delve into the domain of Terrorism in the
framework of Hybrid War i.e., organized violence provoked by the enemy state with
the aim of undermining the adversary. Subsequently, the study also aims to put forth
the challenges faced by Pakistan in fight against terrorism, post 9/11, and an all-
inclusive response by Pakistan.
Keywords: Contemporary Terrorism. Hybrid War. Irregular War. Counterinsurgency.
Counter Terrorism. Media and Terrorism. Pakistan’s response to Terrorism.
Prevention and Combating of Terrorism.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Dimensões do Terrorismo................................................................... 31
Quadro 2 – Uma Classificação Básica da violência política.................................. 36
Quadro 3 – Cronologia de um ataque terrorista .................................................... 43
Quadro 4 – Comparação de formas de insurgência.............................................. 46
Quadro 5 – Características do terrorismo, Guerra de Guerrilha e Guerra
Convencional como modo de lutas violentas......................................
48
Quadro 6 – Gerasimov compreensão do novo tipo de guerra............................... 53
Quadro 7 – Exemplo de comparação de incidentes relacionados à violência por
um grupo de Mídia..............................................................................
62
Quadro 8 – Liderança da Al Qaeda apreendidas pelo Paquistão.......................... 80
Quadro 9 – Práticas de contra insurreição malogradas e bem-sucedidas............ 102
Quadro 10 – Cronograma...................................................................................... 104
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Estrutura do Terrorismo................................................................ 22
Figura 2 – Conflitos de Identidade provocados e explorados externamente
na Guerra Híbrida.........................................................................
29
Figura 3 – Árvore de Terrorismo Tipológica................................................... 30
Figura 4 – Tipologia Geral de Guerra e Conflito............................................ 40
Figura 5 – Principais fases (estágios) do desenvolvimento do conflito......... 54
Figura 6 – Audiências da narrativa competitiva............................................. 55
Figura 7 – Meios de comunicação dos terroristas......................................... 57
Figura 8 – Unidade de esforço em operações subconvencionais................. 79
Figura 9 – Linha do tempo das operações militares realizadas pelas
Forças Armadas do Paquistão
81
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Comparação de baixas entre Forças Armadas do Paquistão e de
Forças de coalização no Afeganistão............................................
80
Gráfico 2 – Declínio nas baixas no Paquistão desde 2012............................... 82
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 – Batalhas Futuras de Guerra Híbrida............................................. 52
Mapa 2 – Mapa do Paquistão....................................................................... 63
Mapa 3 – Operações militares desde 2001.................................................. 81
LISTA DE FOTOS
Foto 1 – Barreira ao longo da fronteira Paquistão-Afeganistão.................. 83
Foto 2 – Exercício conjunto de contraterrorismo com nações amigas,
Rússia...........................................................................................
85
Foto 3 – Exercício conjunto de contraterrorismo com nações amigas,
China.............................................................................................
85
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
AIEA Agência Internacional de Energia Atômica
CIA Central Inteligence Agency
CENTCOM United States’ Central Command
CICV Comitê Internacional da Cruz Vermelha
ECEME Escola de Comando e Estado-Maior
ETIM East Turkestan Islamic Movement
FATA Federally administered tribal áreas (Áreas tribais administradas pelo governo federal)
NAP National Action Plan (Plano de Ação Nacional)
IMU Islamic Movement of Uzbekistan
JA Jamat ul Ahrar
JMB Jamat-ul-Mujahideen, Bangladesh
LJ Lashkar-e-Jhangvi
LTTE Libration Tigers of Tamil Eelam
MoFA Ministry of Foreign Affairs
OCI Organização da Cooperação Islâmica
ONG Organização não governamental
ONU Organização das Nações Unidas
SCW Sub-conventional warfare doctrine
TTP Tehreek-e-Taliban Pakistan
TNSM Tehreek-e-Nifaz e Shariat e Muhammadi
VANT Veículo Aéreo Não Tripulado
VNSA Violent non-state actors
WHAM Winning Hearts and Minds
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 20
1.1 PROBLEMA......................................................................................... 21
1.2 HIPOTESE........................................................................................... 23
1.3 OBJETIVOS......................................................................................... 24
1.3.1 Objetivo Principal............................................................................... 24
1.3.2 Objetivos Específicos ....................................................................... 24
1.4 VARIAVEIS.......................................................................................... 24
1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO............................................................... 25
1.6 RELEVÂNCIA DO ESTUDO................................................................ 25
2 REFERÊNCIA TEÓRICA E METODOLÓGICA................................... 26
2.1 A TEORIA DA GUERRA E A GUERRA HÍBRIDA............................... 26
2.2 AS PERSPECTIVAS DO TERRORISMO............................................ 29
2.3 REVISÃO DE LITERATURA................................................................ 31
2.4 METODOLOGIA................................................................................... 33
2.5 O QUE É TERRORISMO?................................................................... 33
2.5.1 Definições e Conotações de Terrorismo......................................... 33
2.5.2 Universo de Violência Política.......................................................... 36
2.5.2.1 Estados contra Estados....................................................................... 37
2.5.2.2 Estados contra cidadãos...................................................................... 37
2.5.2.3 Cidadãos contra os cidadãos............................................................... 37
2.5.2.4 Cidadãos contra o Estado.................................................................... 38
2.5.3 Terrorismo Patrocinado Pelo Estado………………………………… 38
2.5.4 Terrorismo Contemporâneo.............................................................. 39
2.6 TERRORISMO COMO FERRAMENTE PRINCIPAL NA GUERRA
IRREGULAR........................................................................................
41
2.6.1 O Terrorismo e a Guerra Irregular.................................................... 41
2.6.2 O Ato de Terror................................................................................... 42
2.6.3 Fases de um Ataque Terrorista......................................................... 43
2.6.4 O Uso do Terror como Arma............................................................. 44
2.7 TERRORISMO COMO ESTRATÉGIA DE INSURGÊNCIA................. 46
2.7.1 Formas de Violência Insurgente....................................................... 46
2.7.2 Terrorismo e Guerra de Guerrilha.................................................... 46
2.7.3 Apoio Exterior..................................................................................... 49
2.8 TERRORISMO E VIOLÊNCIA NA ESTRUTURA DA GUERRA HÍBRIDA...............................................................................................
50
2.8.1 O Século XXI e a Conduta da Guerra—Pensamento de General Gerasimov, Rússia e “Guerra Híbrida” ...........................................
52
2.8.2 Choque de Narrativas Concorrentes................................................ 54
2.9 O TERRORISMO E A MÍDIA—UMA VISÃO CRÍTICA....................... 56
2.9.1 Uso de mídia por terroristas........................................................... 57
2.9.2 Reportagens de Formas diferentes de Violência ......................... 58
2.9.3 Moldando a Perspectiva—Enquadramento do Terrorismo............ 59
2.9.4 Uso de palavras pela mídia............................................................... 60
2.9.5 Números.............................................................................................. 61
2.9.6 Generalizações................................................................................... 62
3 A AMEAÇÃ TERRORISTA NO PAQUISTÃO–DESAFIOS COMPLEXOS......................................................................................
63
3.1 O CONTEXTO GEOGRÁFICO; PAQUISTÃO VÍTIMA DE CIRCUNSTÂNCIAS.............................................................................
63
3.2 PAQUISTÃO DE 2001 ATÉ A ATUALIDADE – ESTUDO DE NARRATIVA.........................................................................................
65
3.3 ENTENDENDO O TIPO DE GUERRA................................................. 67
3.4 EXPLORAÇÃO DA RELIGIÃO E ETNIA.............................................. 69
3.5 FINANCIAMENTO DO TERROR......................................................... 70
3.6 DESAFIO DO USO DA FORÇA .......................................................... 71
3.7 AÇÕES REFORMADORAS PELO GOVERNO................................... 73
3.8 TERRORISTAS NÃO ESTATAIS......................................................... 73
3.9 ADAPTAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS............................................ 74
3.10 GESTÃO DA PERCEPÇÃO................................................................. 75
3.11 RESTRIÇÕES DE RECURSOS........................................................... 76
3.12 INTERAÇÃO DA MÍDIA COM GRUPOS TERRORISTAS................... 77
4 A RESPOSTA E O MODELO DE ATUAÇÃO DO PAQUISTÃO........ 78
4.1 ESFORÇOS DO PAQUISTÃO CONTRA O TERRORISMO 2001–
2018.....................................................................................................
79
4.2 REFORMA DAS FORÇAS ARMADAS................................................ 83
4.2.1 Treinamento Contraterrorismo e Contra Insurgência.................... 84
4.2.2 Doutrina Contra o Terrorismo........................................................... 85
4.2.3 Melhoria de Capacidade.................................................................... 86
4.2.4 Aprimoramento de Equipamentos.................................................... 87
4.2.5 Compartilhamento de Experiências................................................. 87
4.3 OPERAÇÕES BASEADAS EM INTELIGÊNCIA.................................. 88
4.4 CONQUISTAR O CORAÇÃO E A MENTE.......................................... 89
4.5 REFORMAS NO NÍVEL DO GOVERNO............................................. 90
4.5.1 Plano de Ação Nacional..................................................................... 90
4.5.2 Mensagem do Paquistão (Paigam-e-Pakistan) Decreto................. 91
4.5.3 As ações do Paquistão contra o financiamento antiterrorismo no âmbito do combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo.............................................................
93
4.5.4 Fundir-se da FATA com Khyber Pakhtunkhwa…………................. 93
4.5.5 Tribunais Militares….......................................................................... 93
4.6 SEGURANÇA DAS ARMAS NUCLEARES APRECIADAS PELA AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA ATÔMICA......................
94
5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES................................................ 95
5.1 LIÇÕES APRENDIDAS........................................................................ 95
5.1.1 Nível Político....................................................................................... 95
5.1.2 Nível Operacional............................................................................... 96
5.1.3 Nível Tático......................................................................................... 96
5.2 RUMO FUTURO PARA O PAQUISTÃO.............................................. 97
5.3 UM LEGADO DO PAQUISTÃO........................................................... 99
5.4 REGRAS PARA PREVENIR E COMBATER O TERRORISMO.......... 100
5.5 PRINCIPIOS GERAIS PARA CONTER A AMEAÇA DE TERRORISMO.....................................................................................
101
6 CRONOGRAMA.................................................................................. 104
REFERÊNCIAS.................................................................................... 105
GLOSSÁRIO........................................................................................ 112
20
1 INTRODUÇÃO
Qual é o tipo de conflito de hoje? Há vários argumentos diferentes que
sugerem que a desordem crescente, confrontada por quase todos os países,
apresenta características inerentemente novas, o que implica que uma grande
mudança na natureza do conflito aconteceu, uma violência perpétua e agitação.
Alguns discutem que os conflitos no presente foram mudados em algo
completamente novo, enquanto outros debatem como um fenômeno antigo. Alguns
outros sugerem que a superioridade tecnológica, a dissuasão nuclear e as alianças
forjadas entre países reduziram o espaço de conflitos de alta intensidade
convencional de curto prazo, criando meios alternativos de subjugar o inimigo. Em
todo o caso, o atual conflito tem erradicado as diferenças entre a guerra e a paz, o
crime e a guerra, e entre a guerra e o abuso sistemático dos direitos humanos num
número crescente de conflitos internos. Em que medida os desafios das guerras
modernas são novos? A natureza da agitação mudou ou os conflitos modernos
exibem características geralmente encontradas em todas as guerras, passado e
presente, e como melhor essa nova ameaça pode ser desafiada?
A violência em curso tem uma característica intrínseca da incerteza que cria o
medo entre as pessoas ou, para esse efeito, as aterroriza. Atualmente, a ameaça
em forma de "terrorismo" é mais do interior do que do exterior. Dentro de um estado,
o terrorismo é muitas vezes uma ferramenta insurgente para coagir o governo. Estes
grupos rebeldes, mais frequentemente apoiados por Estados não-amigáveis,
continuam a desafiar a ordem do governo em nome da perseguição e dos maus-
tratos que podem ser melhor descritos como terrorismo através de uma estratégia
de insurgência (MERARI, 2007). Como o conflito no Século XXI se transforma em
formas aparentemente desconhecidas que combinam forças regulares e irregulares
nos mesmos campos de batalha, alguns analistas de defesa propuseram o
surgimento de um novo tipo de guerra—Guerra Híbrida (MURRAY; MANSOOR,
2013).
Terrorismo, cujo alvo primário é a mente, é uma questão central na agenda de
segurança no mundo contemporâneo. Nesse sentido, o terrorismo é a forma mais
violenta de guerra psicológica, e seu impacto é geralmente entendido como sendo
muito maior do que seus efeitos físicos. Raymond Aron, filósofo francês, tem uma
maneira apropriada de chegar ao cerne da questão: "uma ação violenta é
21
considerada terrorista quando seus efeitos psicológicos são desproporcionais aos
seus resultados puramente físicos" (CHALIAND; BLIN, 2007). Especialistas
acreditam que esta prática, como uma forma de eliminar o inimigo e chantagem
psicológica, existe desde os tempos antigos. Na natureza multifacetada do
terrorismo, foi identificado um aspecto muito importante, analista de defesa e ex-
general do exército do Brasil, Carlos de Meira Mattos. De acordo com ele, o
terrorismo sempre teve um caráter de interesse investido de pessoal, comunal ou
regional, principalmente inspirado pela política ou religião.
Do ponto de vista da história e da criminalidade, o atentado terrorista não é novidade. A história registra centenas de violentas agressões visando provocar o terror. Entretanto sempre tiveram como alvo um motivo pessoal, grupal ou, no máximo, regional. (MATTOS, 2004)
No contexto da discussão acima referida, este trabalho, através da
metodologia qualitativa, as características únicas do terrorismo no âmbito da guerra
híbrida, comparando-a com outras formas de conflitos violentos, delineando as
principais ideias estratégicas pelas quais os terroristas têm esperança de perceber a
sua objetividade e as condições que a afetam.
1.1 PROBLEMA
O termo "terrorismo" tem muitas conotações que dependem principalmente da
compreensão e uso do operador. Cada indivíduo tende a abordar o assunto com
uma certa bagagem ideológica e/ou tem uma interpretação preferida. Segundo
Schmid (2011), a compreensão do terrorismo pode de fato ser abordada a partir de
diferentes perspectivas como criminologia, ciência política, estudos de guerra e paz,
estudos de comunicação ou estudos religiosos; Como consequência, pode-se
interpretar o terrorismo em diferentes estruturas. A estrutura do terrorismo (Figura 1)
dada por Schmid (2011):
a) atos de terrorismo como/e crime;
b) atos de terrorismo como/e política;
c) atos de terrorismo como/e guerra [na atual Guerra Híbrida];
d) atos de terrorismo como/e comunicação mídia; e
e) atos de terrorismo como/e cruzada religiosa/Jihad.
22
Figura 1 – Estrutura do Terrorismo
Fonte: Schmid, 2011 (tradução nossa). Ilustração criada pelo autor.
Estas são cinco lentes conceituais através das quais podemos olhar para o
terrorismo. Todos estes "quadros" são úteis para compreender melhor alguns
aspectos de algumas formas de terrorismo. Ainda, estes cinco quadros não são
exaustivos; existem outras lentes conceituais. Pode-se, por exemplo, também
explorar o terrorismo em um quadro de psicologia (social). Isto é especialmente
apropriado quando se lido com terroristas individuais de "lobo solitário”, ou seja, atos
de terrorismo individuais que não propagam necessariamente uma ideologia ou têm
ligação com um grupo. No entanto, seria errado para destacar qualquer um desses
frameworks e afirmar que é o "certo". Eles não são mutuamente exclusivos, também.
Um ato de violência terrorista pode ser criminoso e político ao mesmo tempo,
tornando-se um crime político ou uma ofensa criminal com repercussões políticas.
Um ato de terror pode ser cometido no contexto da guerra e constituir uma grave
violação das leis da guerra, um crime de guerra. Um ato de terrorismo pode ser,
principalmente, um golpe publicitário propagandístico para impressionar um público
ou para alcançar outros públicos que, de outra forma, poderiam não "ouvir" protestos
menos violentos. Um ato de violência terrorista também pode ser interpretado como
um sacrifício com conotações religiosas, em que o terrorista oferece vidas inocentes
para a causa sagrada ou se vê como um mártir. À medida que as tendências no uso
do terrorismo mudam, um tipo de interpretação pode se tornar mais apropriado do
23
que outro. O terrorismo muda à medida que os instrumentos de violência e
comunicação mudam e os contextos evoluem.
Embora existam diferentes formas de terrorismo, não há como negar que,
invariavelmente, todos os países estão sujeitos a pelo menos uma forma ou outra.
Alianças internacionais como a Organização do Tratado do Atlântico Norte, as
Nações Unidas, a Organização de Cooperação de Xangai, dissuasão nuclear e
tratados de paz limitaram guerras abertas e todas as guerras. Consequentemente,
os estados adotaram uma metodologia bárbara, empregando o terrorismo como uma
ferramenta primária, para desestabilizar o adversário. Neste contexto, a pesquisa
este trabalho de pesquisa baseia-se na necessidade de identificar: Como o
Terrorismo, como uma ferramenta tática, tem sido aplicado com sucesso na
perspectiva da Guerra Híbrida?
1.2 HIPOTESE
Embora possa haver um número de hipóteses em lidar com o tema do
terrorismo, devido à sua ampla compreensão por grupos diferentes. À luz da
diversidade do fenómeno "terrorismo" e da multiplicidade, e do peso diferencial, das
condições mais claras para os casos concretos, é impossível formular hipóteses
gerais substanciais com ampla validade, ou seja, hipóteses válidas para todos os
casos ou pelo menos a maioria dos casos. A maioria das teorias sobre terrorismo
aborda apenas um tipo de terrorismo, muitas vezes sem que o teórico esteja
plenamente consciente desse fato.
Este trabalho de investigação, no entanto, é formulado com vista a encontrar
a ameaça de terrorismo a ser aplicada como uma medida para subverter os Estados
adversários no quadro de "atos de terrorismo como/e Guerra Híbrida". Assim, a
pesquisa será baseada na Hipótese de que “o aumento do terrorismo e da violência
não é mal organizado e está sendo perpetuado metodicamente por estados hostis e
atores não estatais, no contexto da Guerra Híbrida ou Irregular, com vista a
desgastar o inimigo, criando discórdias internas e agitação”. Assim, levando ao
nosso trabalho de pesquisa de encontrar o uso do terrorismo no século XXI no
contexto da Guerra Híbrida.
A proposta de hipótese acima mencionada por filósofos, estrategistas e
generais foi encontrada na história. Por exemplo, a abordagem de criar agitação
24
para o inimigo gira em torno das estratégias indiretas de Sun Tzu e Liddell Hart.
Como disse Sun Tzu: “Excelência suprema consiste em quebrar a resistência do
inimigo sem lutar”. A estratégia de abordagem indireta descrita por Liddell Hart
como. "[...] Destruição (da força inimiga) pode não ser essencial para uma
decisão, e para o cumprimento do objetivo da guerra. No caso de um
estado que está buscando não conquista, mas a manutenção de sua
segurança, o objetivo é cumprido se a ameaça ser removido—se o inimigo é levado a abandonar o seu propósito. "(1991, p. 338)
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo Principal
Analisar diferentes formas de terrorismo, aplicadas como uma ferramenta
tática, no contexto da guerra híbrida e analisar a resposta dos exércitos
contemporâneos para desafiar esta ameaça.
1.3.2 Objetivos Específicos
O presente estudo tem um objetivo específico de apresentar a perspectiva
contraterrorismo do exército de Paquistão na sua luta contra o terrorismo. Ele vai se
esforçar para conseguir os seguintes:
a) o tipo de ameaça terrorista encontrado pelo Paquistão;
b) desafios enfrentados pelo Paquistão na luta contra o terrorismo;
c) resposta do Paquistão e modelo para combater o terrorismo; e
d) proferem lições aprendidas na luta contra o terrorismo.
1.4 VARIAVEIS
A pesquisa será desenvolvida usando as seguintes variáveis e investigando a
relação entre eles. Para atingir os objetivos apresentados, são selecionadas as
seguintes variáveis:
a) Variável I: entendimento do terrorismo no século XXI; e
b) Variável II: influência do terrorismo no contexto da guerra híbrida.
25
1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
A pesquisa irá analisar o terrorismo e contra insurgência no âmbito da guerra
híbrida. Os desafios enfrentados pelo exército paquistanês para lidar com o
terrorismo de 2001 até atualidade e modelo adotado pelo governo do Paquistão e
suas forças armadas para lidar com a ameaça do terrorismo. A pesquisa não irá
aprofundar-se em encontrar ou adicionar uma definição de terrorismo para a lista já
longa de definições acadêmicas de terrorismo. A pesquisa abordará brevemente os
argumentos académicos sobre o tema do terrorismo. O estudo foi realizado sem
qualquer preconceito e não rebaixa qualquer pessoa ou país enquanto elucida o
contexto histórico.
1.6 RELEVÂNCIA DO ESTUDO
As linhas de guerra no século XXI estão se tornando cada vez mais
desfocadas. Os desafios de segurança incluem guerras entre estados, conflitos de
contra insurgência, terrorismo e combinações dos mesmos. Alianças internacionais
e regionais, juntamente com a dissuasão nuclear, encorajaram oponentes em
potencial a desenvolver meios alternativos para subverter seu inimigo. Cada vez
mais, esses meios incluem forças convencionais e irregulares trabalhando em
conjunto—Guerra Híbrida. Potenciais inimigos agora misturam várias abordagens à
guerra para encaixá-las em suas culturas estratégicas, legados históricos, realidades
geográficas e meios econômicos. Contra tais inimigos, a superioridade tecnológica é
útil, mas inconclusiva. Alcançar vitórias no campo de batalha para ganhos
estratégicos de longo prazo requer uma compreensão da história e da cultura, bem
como uma abordagem abrangente do governo e das forças armadas para lidar com
as causas profundas da violência social.
Na luta contra o terrorismo, as forças armadas do Paquistão lutaram
eficazmente contra o terrorismo no seu território. O grande esforço, desde 2001, tem
sido realizada meticulosamente e a um preço muito alto, tanto em termos de perdas
econômicas quanto de vidas humanas. É apenas através da resiliência inabalável e
dificuldades sofridas pelas forças armadas do Paquistão que o terrorismo está no
curso da derrota. As forças armadas do Paquistão adotaram uma metodologia
abrangente para derrotar a ameaça da Al Qaeda, Islamic State (ISIL), East
Turkestan Islamic Movement (ETIM), Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), Tehreek-e-
26
Nafaz-e-Shariat-e-Mohammadi (TNSM) e Islamic Movement of Uzbekistan (IMU). As
perdas do Paquistão na guerra contra o terrorismo são inestimáveis. O Paquistão
perdeu mais tropas na luta contra o terrorismo do que toda a coalizão da OTAN
combinada. "Nós alcançamos um sucesso fenomenal na guerra contra o terror."
(Chefe do exército do Paquistão, Qamar Javed Bajwa, 2018, Tradução Nossa)
É pertinente destacar que a ameaça do terrorismo é única e distinta de uma
determinada região, pessoas, ideologia e época. Será imprudente comparar
insurgências ou propor uma campanha militar bem-sucedida como modelo ou
solução para combater todos os outros conflitos relacionados com o terrorismo. No
entanto, alguns erros, relevantes para a maioria, se evitado poderia minimizar a
escalada da situação que eventualmente se torna irrevogável.
2 REFÊRNCIA TEÓRICA E METODOLÓGICA 2.1 A TEORIA DA GUERRA E A GUERRA HÍBRIDA
Para entender a teoria da guerra, não há recurso melhor do que "Sobre a
guerra" de Clausewitz, que é considerado um dos grandes trabalhos de estratégia e
teoria militar na história. Carl von Clausewitz (1780-1831) foi estudado
extensivamente por estudiosos dedicados e é reconhecido como um dos poucos
escritores verdadeiramente grandes em guerra. Muitos aspectos de suas ideias e
conceitos receberam muita atenção nos últimos anos e são frequentemente
discutidos nas doutrinas atuais e nos processos educacionais entre civis e militares.
Os analistas costumam citar e relatar suas teorias com a era atual; alguns
concordam, outros concordam parcialmente com certas modificações e alguns
outros negam sua relevância com os dias atuais. No entanto, sua teoria da guerra
deu o conceito com o qual as novas teorias poderiam ser comparadas.
De acordo com Clausewitz (p.75), “a guerra é apenas um duelo em grande
escala”. Ele explica ainda: “A guerra é, portanto, um ato de força para obrigar nosso
inimigo a fazer nossa vontade”. Clausewitz aplicou um estudo científico e
metodológico. abordagem para analisar a guerra em todos os seus aspectos.
Segundo Clausewitz, "a guerra é apenas a continuação da política por outros
meios". A essência dessa teoria era a descrição de Clausewitz do escalão vertical da
guerra (política e táticas de estratégia), que ele apresenta no paradigma estratégico
"fins, caminhos e meios". Clausewitz considera a guerra completamente subordinada
27
à política. Em “On War”, ele explica que “o objeto político, o motivo original da
guerra, determinará o objetivo militar a ser atingido e a quantidade de esforço que
requer” (tradução nossa).
O Manual de Publicação Conjunta do Exército dos EUA, JP 3-26, relaciona a
natureza da Guerra e Terrorismo e descreve a guerra como.
Guerra é o mecanismo, método ou modalidade de conflito armado contra um inimigo. [...]. Os militares norte-americanos reconhecem dois tipos básicos de guerra, convencional e irregular. Terrorismo é, principalmente, uma ferramenta de guerra irregular, mas tem sido visto umas ações ilegais de atores estatais e não-estatais durante guerras convencionais. (EUA JP 3-26, 2012) (tradução nossa)
Existem outras teorias de guerra por generais, analistas, estrategistas que
propõem diferentes tipos de guerra:
a) guerra total;
b) guerra limitada;
c) guerra convencional;
d) guerra não convencional (guerras irregulares);
e) guerra sub-convencional;
f) conflito de baixa intensidade;
g) guerras assimétricas; e agora
h) guerra híbrida.
O bordão "Guerra Híbrida" está na moda entre os líderes civis e militares em
todo o mundo. Recentemente, a Guerra Híbrida foi discutida e analisada pelos
autores ocidentais após a anexação da Criméia pela Rússia. Alguns atribuíram a
Guerra Híbrida como "Doutrina da Rússia" de autoria do Chefe do Estado-Maior do
Exército Russo, General Gerasimov (veja o General Gerasimov pensamento em
seção 2.8.1). No entanto, de acordo com Murray e Mansoor (2011) e Kofman e
Rojansky (2015), há pouca novidade na guerra híbrida como um conceito, é um
meio útil de pensar sobre o passado, presente e futuro da guerra. Uma das
conceituações mais explicativas sobre a guerra híbrida foi oferecida por Frank G.
Hoffman em uma análise dedicada explicitamente ao que chamou de "not-so-new
warfare", Frank Hoffman, da Universidade de Defesa Nacional dos Estados Unidos,
definiu a ameaça híbrida como "qualquer adversário que simultaneamente emprega
28
uma mistura personalizada de armas convencionais, táticas irregulares, terrorismo".
e comportamento criminoso no mesmo tempo e espaço de batalha para obter seus
objetivos políticos.” (tradução nossa).
Para combater os oponentes híbridos, no entanto, é necessário primeiro
entender as características da guerra híbrida. Peter R. Mansoor (2012) definiu a
guerra híbrida como um conflito envolvendo uma combinação de forças militares
convencionais e irregulares (guerrilheiros, insurgentes e terroristas), que poderia
incluir tantos atores estatais quanto não-estatais, visando alcançar um propósito
político comum. Forças irregulares não precisam ser dirigidas centralmente, embora
em muitos casos elas façam parte de uma estratégia coerente usada para se opor a
uma força invasora ou de ocupação.
Kofman e Rojansky, (2015) analisaram a “Guerra Híbrida” no artigo de
Woodrow Wilson (Kenan Institute) no contexto da Rússia. Eles argumentam que a
Guerra Híbrida, que é comumente percebida como uma nova forma de guerra, não é
nova. A primeira parte do equívoco em torno da "guerra híbrida" é o próprio termo.
Apesar de soar novo e em voga, sua utilidade analítica é limitada. O aspecto
“híbrido” do termo simplesmente denota uma combinação de tipos de guerra
anteriormente definidos, seja convencional, irregular, política ou de informação.
“Mesmo aqueles que apresentaram tal definição”, escrevem Kofman e Rojansky
(2015), “devem admitir que a combinação de guerra entre domínios não é nova, mas
na verdade é tão antiga quanto a guerra em si.” É útil pensar além do definições
contemporâneas de guerra às quais nos acostumamos, mas o termo é
inerentemente impreciso e não descreve uma nova forma de guerra.
Outro recurso útil sobre a Guerra Híbrida é da perspectiva russa por um
renomado analista, Andrew Korybko. Seu livro “Hybrid Wars: The Indirect Adaptive
Approach to Regime Change” fornece um relato ilustrativo de conflitos no século
XXI. Andrew, que contribui com frequência para o grupo de reflexão “Katheon” e
para a revisão “Oriental”, conceituou um novo paradigma para entender as relações
internacionais e inventou uma metodologia de suporte para testes. Segundo Korybko
(2017) Guerra híbrida pode ser definida como (Figura 2).
Conflitos de identidade provocados externamente, que exploram diferenças históricas, étnicas, religiosas, socioeconômicas, [políticas] e geográficas dentro de estados de trânsito geoestratégicos através da transição gradual de Revoluções Coloridas para Guerras Não Convencionais, a fim de perturbar, controlar ou influenciar a
29
infraestrutura conectiva transnacional multipolar projetos por meio de “ajustes de regime”, mudança de regime e / ou reinicialização do regime. (tradução nossa).
Figura 2 – Conflitos de Identidade Provocados e Explorados Externamente na
Guerra Híbrida
Fonte: Korybko (2018, p.208) Aspecto do político acrescentado pelo autor. Ilustração criada pelo autor.
Korybko (2015) acredita que as armas de destruição em massa e o mundo
multipolar emergente impõem limites ao confronto direto entre estados. Além disso,
o sistema internacional está se transformando de tal forma que os custos políticos e
físicos de travar uma guerra convencional contra os países estão se tornando um
fardo excessivo, tornando assim essa opção militar menos atraente. Sob tais
circunstâncias, a guerra indireta adquire um valor elevado no planejamento
estratégico e sua aplicação pode assumir uma variedade de formas. Para detalhes
sobre a perspectiva da Korybko em Guerra Híbrida (ver seção 2.8).
2.2 AS PERSPECTIVAS DO TERRORISMO
A diferença de opinião sobre as amplas perspectivas sobre o terrorismo é
amplamente contestada. De acordo com Schmid (2011), a frase familiar “o terrorista
de um homem é o combatente da liberdade (freedom fighter) de outro” realmente vai
ao coração do fenômeno terrorista. O que um observador vê como terrorismo, outro
pode ver como luta pela liberdade. Alex P. Schmid et al., (2011, p. 20) formularam
um questionário buscando uma opinião de especialistas nessa perspectiva de
terrorismo. Na resposta do referido questionário, muitos acadêmicos deram sua
opinião—alguns naturalmente motivados pelo preconceito por causa de sua
30
nacionalidade e outros devido a suas alianças e percepções. A seguir, a pergunta e
as respostas de dois proponentes: “Qual é, na sua opinião, a relação entre
'terrorismo' e 'lutas de libertação nacional' / 'luta contra a liberdade' / 'resistência à
ocupação estrangeira'?”
Legalmente falando, não há [diferença], pois são conceitos distintos. O Direito Internacional Humanitário proíbe ataques contra civis e objetos civis, independentemente da causa–ou sua justiça – subjacente a uma situação de conflito armado e, portanto, já proíbe a maioria dos atos que seriam considerados "terroristas" se cometidos em tempo de paz. (a resposta de um advogado internacional ligado ao CICV). (SCHMID et al., 2011, p.20) O terrorismo é sempre violento (envolve o uso da força ou a ameaça da força), ao passo que as lutas de libertação nacional, a luta pela liberdade e a resistência à ocupação estrangeira também podem ocorrer (e frequentemente ocorrem) de forma não violenta. (SCHMID et al., 2011, p.20)
Deixando de lado esse complexo debate, o terrorismo, no entanto, poderia
ser caracterizado de acordo com tipos e meios. Um jovem estudioso da Austria,
Lockinger, fornece uma árvore tipológica (Figura 3) que organiza as várias formas de
terrorismo em quatro categorias: atores, meios e métodos, motivos e finalmente por
alcance geográfico.
Figura 3 – Árvore da Tipologia do Terrorismo
Fonte: Lockinger (2005) (tradução nossa).
31
Outra tipologia abrangente, por Victoroff (2005), é mostrado no Quadro 1,
dando variáveis sujeitas a análises e classificações.
Quadro 1 – Dimensões do Terrorismo
Variável Classificação
Agressor Indivíduo versus grupo
Patrocínio Estado versus sub-Estado vs. indivíduo
Relação com a autoridade
Ante estado/ante estabelecimento/separatista vs. pró-estado/pro-estabelecimento
Localidade Estadual versus transnacional
Status militar Civil versus paramilitar ou militar
Motivação espiritual Secular versus religiosa
Motivação financeira Idealista versus empresarial
Ideologia política Esquerdista/socialista versus direita/fascista vs. anarquista
Função hierárquica Patrocinador versus Líder versus gestão média versus seguidor
Vontade de morrer Suicida versus não suicida
Alvo Propriedade (incluindo dados) versus indivíduos versus massas de pessoas
Metodologia Bombardeio, assassinato, sequestro / tomada de reféns, ataques químicos, estupro, outros (por exemplo, bioterrorismo, ciberterrorismo, narcoterrorismo)
Fonte: Victorff (2005). (tradução nossa).
2.3 REVISÃO DE LITERATURA
Existem inúmeros recursos disponíveis sobre “Terrorismo”, devido a sua
prevalência ao longo da história. O principal desafio, no entanto, é identificar a
perspectiva do terrorismo que é frequentemente influenciada pela abordagem do
escritor. Neste cenário, nenhuma teoria ou definição de Terrorismo poderia servir
para todas as situações que continuavam sendo uma tarefa difícil, já que Eu, autor
deste trabalho de pesquisa, também pretendo definir o terrorismo no domínio da
Guerra Híbrida. Na literatura de compreensão do fenômeno do Terrorismo, alguns
autores são muito bem renomeados. Entre eles, Walter Laqueur, Alex P. Schmid,
32
Ariel Merari, Bruce Hoffman, Brian M. Jenkins, R. Kupperman e David J. Whittaker
são considerados como especialistas no estudo do Terrorismo.
Na minha busca de compreender as dimensões do Terrorismo, consultei
vários livros de diversos tópicos, que incluíam diferentes tipos de terrorismo, tais
como: do individual ao político; do revolucionário à insurgência, da guerra
convencional à guerra híbrida. Um recurso abrangente que me deparei foi “The
Routledge Handbook of Terrorism Research (2013)”, de Alex P. Schmid (Ed.). Este
livro fornece a compreensão do termo complexo terrorismo de diferentes
perspectivas e identificou com sucesso os incidentes ligados ao terrorismo em todo
o mundo. A coisa mais impressionante sobre o livro é seu esforço para apresentar
fatos baseando-se em pesquisa detalhada e pesquisa de acadêmicos proeminentes,
políticos, comandantes militares que tiveram a experiência de lidar com os
problemas do terrorismo. Este livro orienta ao pesquisador em relação a como
realizar pesquisas sobre o tema "terrorismo".
Outro livro útil e abrangente sobre o combate ao terrorismo e às Forças
Irregulares é o do Coronel do Exército Brasileiro, Alessandro Visacro “Guerra
Irregular; Terrorismo, guerrilha e história do longo da história (2009). Viascro
apresentou um trabalho crítico e não partidário sobre o terrorismo. Há muitos outros
recursos valiosos dados nas referências que foram consultadas na formulação deste
trabalho de pesquisa. No entanto, julgo necessário mencionar uma lição importante
que aprendi ao formular esta pesquisa quando li o livro “Learning to eat soup with a
Knife: Counterinsurgency lessons from Malaya and Vietnam” (2005). Este livro foi
escrito por um Coronel do Exército Britânico que compara a abordagem contra
insurgente do exército britânico e dos EUA na Malásia e no Vietnã, respectivamente.
O autor deste livro tenta apresentar que o modelo britânico de contra insurgência foi
bem-sucedido, enquanto o Exército dos EUA não conseguiu subjugar a insurgência
com sucesso. No entanto, o autor sendo um militar que serviu mais tarde no Iraque,
escreveu no prefácio da edição revisada de 2005 que comparar a insurgência de um
país com outro era uma falácia. A natureza complexa da insurgência não segue uma
situação semelhante para todos. Neste entendimento, a presente pesquisa não
pretende propor soluções definitivas para desafios complexos do terrorismo, mas
oferecer apenas lições comuns a insurgências dos contextos históricos da China,
Vietnã, Afeganistão e Paquistão.
33
2.4 METODOLOGIA
Esse trabalho de pesquisa examina, através da metodologia qualitativa, as
características únicas do terrorismo na esfera da Guerra Híbrida, comparando-a com
outras formas de conflitos violentos, delineando as principais ideias estratégicas
pelas quais os terroristas esperam alcançar seus objetivos e avaliando seu sucesso
e as condições que o afetam. A pesquisa, a partir de então, leva aos desafios
enfrentados pelo Estado e pelas Forças Armadas para enfrentar os fenômenos do
Terrorismo e, finalmente, apresenta o modelo adotado pelo Exército do Paquistão,
que contribuiu significativamente para o declínio dessa ameaça.
O trabalho de pesquisa, além da experiência pessoal do autor na luta contra o
terrorismo, que é a base da pesquisa, também examina vários livros sobre Guerra,
Contra insurgência e contraterrorismo. Isso inclui também a revisão de trabalhos de
conclusão de curso do Major (agora Coronel) Infantaria Fábio El-Amme Paranhos
sobre a ameaça do Terrorismo Contemporâneo na América do Sul (2010) e do Major
(agora Tenente-Coronel) Cavalaria Leandro Noveli Espindola sobre “Possibilidade
de atividades terroristas em (2009) publicado pela Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército (ECEME), Rio de Janeiro.
2.5 O QUE É O TERRORISMO?
2.5.1 Definições e conotações do terrorismo
Alcançar um consenso sobre o significado do termo "terrorismo", embora
importante, não é o objetivo deste trabalho de pesquisa, porque as definições de
terrorismo são normalmente apresentadas de acordo com o preconceito ou a
compreensão do escritor. Portanto, o seguinte texto se forçará em oferecer as
diferentes conotações do terrorismo. Os críticos sugerem que não é apenas a
definição que é o foco, mas a competência em que o pesquisador trabalha. Os
propósitos, circunstâncias e métodos envolvidos na violência de um estado contra os
seus próprios cidadãos são totalmente diferentes daqueles que caracterizam a
violência pelos estados contra outros estados ou por grupos rebeldes contra os
governos. A aplicação do termo "terrorismo" para todas as três situações é ofuscante
e é explorado em interesses investidos pelo usuário.
34
A definição de terrorismo ainda é elusiva desde a sua primeira proposta de
definição legal pela Liga das Nações em 1937 (SCHMID, 2011, p.39). Nas palavras
de Lord Carlile de Berriew (2007, p.47), o revisor independente da legislação de
terrorismo da Grã-Bretanha, “não existe uma definição única de terrorismo que
obtenha total aprovação internacional”. De acordo com SCHMID (2011, p. 99), que
coletou 250 definições de terrorismo no trabalho de pesquisa do “The Routledge
Handbook of Terrorism Research”.
Elas [250 definições de terrorismo] enfatizam uma variedade de atributos do terrorismo, como seu caráter frequentemente simbólico, sua natureza frequentemente indiscriminada, seu foco típico em alvos civis e não combatentes de violência, seus objetivos às vezes provocativos e às vezes objetivos punitivos, o rompimento de ordem pública e colocar em perigo a segurança pública, a criação de clima de medo para influenciar o público mais amplo do que as vítimas diretas, seu desrespeito às regras de guerra e as regras de punição, e seu caráter assimétrico (armado versus desarmado; fraco versus Forte). (tradução nossa).
Usado como um dispositivo retórico, o termo "terrorismo" ameaça se tornar
uma mera crítica em debates políticos, onde acusações e contra-acusações
concorrem pela indignação moral ou aprovação de audiências relevantes. Os
envolvidos no debate da definição muitas vezes tentam moldar as definições de uma
maneira que atenda às suas necessidades. Em outras palavras, as definições
geralmente tendem a refletir os interesses políticos e o julgamento moral daqueles
que fazem a definição. Segundo Schmid (2011, p.88), por exemplo, o Movimento
Não-alinhado, reunido em 2006 em Havana, tentou refinar o terrorismo. Como
relatou um escritor da Associated Press, "o Irã, a Coréia do Norte e mais de 100
outras nações estão pressionando para ampliar a definição mundial de "terrorismo"
para incluir a ocupação do Iraque / Afeganistão e a invasão Israelense do Líbano.
Membros do Movimento Não-Alinhado reclamaram de um duplo padrão: nações
poderosas como os Estados Unidos e Israel decidem pelo mundo quem são os
terroristas, mas não enfrentam punições por seus próprios atos de agressão. Um
rascunho da declaração conjunta do grupo condenou "o terrorismo em todas as suas
formas".
Muitas autoridades árabes acreditam que a Al-Qaeda é uma organização
terrorista, pois tem como alvo civis, falta a causa e a justificativa, não distingue - até
mesmo matar seus próprios cidadãos e muçulmanos para ampliar o sistema islâmico
auto percebido não tem nada a ver com Islamismo. Como consequência, o
35
terrorismo é um conceito contestado no sentido de que as pessoas acham difícil
concordar com o seu significado ou com o seu alcance. Terroristas raramente usam
o termo para se descrever. Geralmente eles optam por termos como
"revolucionário", "combatente da liberdade", "mártir", "guerrilheiro urbano",
"combatente da resistência" ou mesmo soldado.
Em muitos conflitos, o governo é a principal "agência definidora" e detém
"poder de definição". Termos críticos para o exercício do poder e para possuir
legitimidade são, portanto, frequentemente contestados. Na política, os termos-
chave são frequentemente carregados de valores e fórmulas—como "eixo do mal"—
sinalizam desaprovação, apelam para emoções, mas também podem servir como
ferramentas de mobilização. Portanto, uma questão crucial no debate da definição é:
quem deveria ter poder de definição? Deveria essa tarefa ser deixada para os
próprios terroristas, suas vítimas ou para a mídia? Deveria ser deixado aos governos
nacionais (parlamentos, poder executivo ou judiciário) ou a organizações regionais
ou às Nações Unidas? Deve ser deixado para os líderes religiosos que afirmam
estar de posse da "verdade"? Ou deveria ser deixado para os grandes poderes que
decidem qual organização é terrorista e qual, não é?
Alex P. Schmid et al. (2011) formularam um questionário e analisou-o à luz de
noventa e um (91) entrevistados para definir o termo “Terrorismo”. Muitos
acadêmicos criticaram a tentativa como fútil sendo uma questão de controvérsia e
sem um propósito. Walter Laqueur afirmou, em 1977, que "qualquer definição de
terrorismo político [...] para alcançar fins políticos está fadado a levar a infindáveis
controvérsias". Mais tarde, ele escreveu: “Após trinta anos de trabalhos forçados,
ainda não existe uma definição geral de terrorismo.” Philip Schlesinger, um sociólogo
britânico, chegou a argumentar que “nenhuma definição comumente aceita pode em
princípio ser alcançada, porque o próprio processo de definição é em si mesmo
parte de uma contestação mais ampla sobre ideologias ou objetivos políticos”. Alex
P. Schmid et al. (2011) formularam as seguintes questões:
a) cujo "definição de terrorismo" você utiliza?
b) qual é o seu comentário/crítica sobre a definição consensual de terrorismo
de 1988?
c) qual é o seu comentário/crítica sobre o projeto de definição de terrorismo
da ONU?
36
d) qual é o seu comentário / crítica sobre a definição de terrorismo do
Departamento de Estado dos Estados Unidos da América?
Concluindo: O propósito de debater os diferentes significados do Terrorismo
não é alcançar um consenso sobre ele, mas sim identificar as conotações dele como
sendo percebidas por diferentes teóricos. Um olhar mais atento ao conjunto de
definições citadas por Schmid mostra que as definições oficiais de terrorismo são
bastante semelhantes. É pertinente lembrar que a amostra de definições oferecidas
por Schmid reflete, em geral, as percepções e atitudes de acadêmicos e funcionários
ocidentais. As opiniões sírias, líbias e iranianas sobre o que constitui o terrorismo
são bem diferentes, e também, muito provavelmente, são as dos muitos outros
países do Terceiro Mundo. O crescente consenso ocidental sobre a essência do
terrorismo provavelmente não é compartilhado pela maioria das pessoas na Terra.
(MERARI, 2007, p.14).
2.5.2 Universo de Violência Política
Teoricamente, há um número infinito de maneiras de classificar a violência
politicamente motivada. No entanto, uma classificação básica que se relaciona ao
iniciador da violência e ao seu alvo, distinguindo entre estados e cidadãos, é
apresentada no Quadro 2. Ela engloba todas as formas de violência política
realizadas por seres humanos contra outros seres humanos, enquanto a diferencia
entre os seus principais tipos. Cada uma das quatro células inclui uma categoria
distinta de comportamento hostil.
Quadro 2 – Uma Classificação Básica da Violência Política
Fonte: Merari (2007) (Tradução Nossa).
Alvo Estado Cidadãos
Iniciador
Estado De escala natural; atividade
beligerante em tempos de paz
(por exemplo ataques punitivos)
Opressão legal e ilegal
da aplicação da lei
Cidadãos Guerra de guerrilha; terrorismo
insurgente; golpe de estado;
Revolução leninista
Terrorismo de
vigilantes; terrorismo
étnico
37
2.5.2.1 Estados contra Estados
A violência iniciada pelos estados pode ser conceitualmente dividida em dois
tipos principais: a violência estatal dirigida abertamente contra outros estados e a
violência que os Estados infligem a estados adversários que empregam o terrorismo
como uma ferramenta tática. Ações agressivas de estados contra outros estados
muitas vezes tomam a forma de guerra convencional - um confronto de grandes
exércitos regulares. Esta foi, sem dúvida, a forma mais consequente de violência na
história. Vários aspectos das guerras convencionais, como a estratégia militar e as
leis da guerra, apresentaram meios convencionais e não convencionais empregados
pelos estados. Os Estados também usaram outros meios de violência em suas
disputas com outros estados, como ataques aéreos limitados, incursões de
comandos ou o assassinato de agentes inimigos (MERARI, 2007).
2.5.2.2 Estados contra cidadãos
O uso da força pelos estados contra seus próprios cidadãos inclui duas
subcategorias principais. Um é o processo legal comum e evidente pelo qual os
estados impõem suas leis. O outro é o uso clandestino de violência ilegal por um
governo, destinado a intimidar e aterrorizar os cidadãos com a intenção de impedi-
los de se opor ao regime. Às vezes, a violência ilegal do estado é exercida no
contexto de conflitos internos em nome da eficiência: cortando os cantos dos
processos legais que dificultam a luta contra os insurgentes. Exemplos são
abundantes (MERARI, 2007). Os exemplos recentes incluem a violência do estado
contra os cidadãos, identificada pelos Direitos Humanos da ONU, em Mayanmar
contra Rohingya (2018) e na Caxemira Ocupada pela Índia (2018). Outros exemplos
incluem “Esquadrões da morte” em vários países da América Latina, geralmente
tripulados por membros das forças de segurança, fornecem um exemplo menos
eficiente, embora bastante repugnante, de uma marca diferente. 2.5.2.3 Cidadãos contra os cidadãos
A forma mais geral de violência dos cidadãos contra outros cidadãos é o
crime comum. O crime comum é geralmente motivado por razões que nada têm a
ver com objetivos políticos. Muito do que está comprometido para ganho econômico
38
pessoal e outra parte significativa é estimulada por animosidades pessoais. Assim, a
grande massa de violência dos cidadãos contra outros cidadãos não está
relacionada ao assunto deste ensaio, a saber, a violência política. Há, no entanto,
também fenômenos de violência dos cidadãos comprometidos por motivações
políticas ou sociais, conforme identificado por Meira Mattos (2004). Algumas delas
estão relacionadas a rivalidades ou disputas raciais ou étnicas; outros estão
associados a ideologias sociais de direita ou de esquerda.
Um caso especial de violência dos cidadãos, o justiceiro, merece menção
especial. A violência de justiceira tem sido associada, por vezes, a uma tentativa não
autorizada de controlar o crime, mas, por vezes, com violência contra minorias
étnicas ou políticas (MERARI, 2007).
2.5.2.4 Cidadãos contra o Estado
A violência dos cidadãos contra os estados pode ser organizada ou
espontânea. Às vezes é uma expressão impulsiva de descontentamento, sem
objetivos políticos claros nem liderança ou plano organizado. Em sua forma
organizada, a violência dos cidadãos cai sob a categoria de insurgência, visando
derrubar o governo. As principais formas de insurgência são distintas estratégias de
insurreição que diferem umas das outras em várias características importantes.
Muitas vezes, a violência dos cidadãos contra o Estado busca prontamente o apoio
dos países hostis (MERARI, 2007). 2.5.3 Terrorismo Patrocinado pelo Estado
As teorias que tratam do terrorismo internacional patrocinado pelo estado
foram populares durante o período da Guerra Fria, quando a guerra por procuração
era uma das táticas empregadas pelos campos rivais. Existem diferentes escolas de
pensamento, cada uma denotando uma tomada mais ou menos ideológica do
patrocínio estatal. A dissuasão nuclear, o medo de sanções internacionais, a
condenação e a escassez de recursos para a guerra introduziram um novo tipo de
guerra por meio do patrocínio de terroristas e elementos canalhas no país hostil -
Guerra Híbrida.
Servir como patrocinador de terroristas não-estatais, no entanto, não é
somente um privilégio de superpotência e antigos poderes coloniais. Uma vez que o
39
apoio a grupos de clientes no exterior é uma alternativa barata para o conflito
convencional, o terrorismo por procuração tem sido utilizado por vários estados por
uma variedade de razões, sendo a mais básica: "o inimigo do meu inimigo é meu
amigo".
Em termos gerais, um estado pode ser levado a ajudar um movimento
insurgente estrangeiro por preocupações estratégicas, ideologia e / ou política
interna. As preocupações estratégicas incluem esforços para desestabilizar vizinhos,
esforços para provocar mudanças de regime no exterior e um desejo de ajudar na
formação da oposição a regimes hostis. Tipicamente, os estados podem ser
influenciados para apoiar os terroristas como um veículo para exportar seu próprio
sistema político, ou como um meio de melhorar a posição internacional do
patrocinador. Preocupações domésticas também podem persuadir um estado a
patrocinar insurgências externas. Um amplo apoio para ajudar parentes de etnia, ou
para ajudar os correligionários, muitas vezes ajuda a alimentar tais conflitos
(SCHMID, 2011).
A motivação pelo patrocínio muitas vezes determina o tipo de apoio dado aos
movimentos insurgentes. O mais comum é o treinamento e suporte operacional.
Dinheiro, armas e ajuda logística também são ativos valiosos que os estados podem
disponibilizar para grupos de clientes armados. O apoio diplomático pode ser
importante, embora muitas vezes seja menos crucial para a sobrevivência do grupo
terrorista. A assistência organizacional e a direção ideológica são por vezes
procuradas pelos patrocinadores estatais. A forma mais importante de patrocínio, no
entanto, é a provisão do santuário, a partir da qual os insurgentes podem organizar
as operações com impunidade. Ao determinar se e que tipo de ajuda fornecer, a
principal preocupação dos patrocinadores estatais é a ameaça de escalada. A
ameaça é forte de que um patrocinador será atraído para um conflito em nome de
um ator não estatal violento. Além disso, o grau em que um estado está inclinado a
ajudar um grupo terrorista também depende da medida em que um estado está
disposto a se engajar em atividades insurgentes.
2.5.4 Terrorismo Contemporâneo
Walter Laqueur (2007) em “Terrorism: A Brief History” escreve que o
terrorismo reapareceu após a Primeira Guerra Mundial em vários países. Antes de
40
chegar ao poder, tanto os fascistas quanto os comunistas acreditavam na violência
em massa e não em atos terroristas individuais, com algumas exceções ocasionais,
como o assassinato de líderes proeminentes.
Houve pouco terrorismo durante a Segunda Guerra Mundial e nas duas
décadas seguintes. Isso explica, talvez, por que a renovação das operações
terroristas na década de 1970 e a ascensão do terrorismo em nome da religião
foram interpretadas por muitos como algo totalmente novo e sem precedentes. O
terrorismo tradicional tinha seu "código de honra": dirigia-se à reis, líderes militares,
ministros e outras figuras públicas importantes, mas se houvesse o perigo de que a
mulher ou os filhos do alvo fossem mortos em um ataque, os terroristas se absteriam
de atacar, mesmo que isso colocasse em risco suas próprias vidas.
Hoje, o terrorismo indiscriminado tornou-se a regra que atinge pessoas
inocentes. O termo terrorismo, portanto, tem conotações muito negativas, e os
terroristas agora insistem em serem chamados por outro nome. O terrorista moderno
quer ser conhecido como um combatente da liberdade, um guerrilheiro, um rebelde,
um revolucionário - qualquer coisa menos um terrorista.
Em vez de simplesmente distinguir entre velhas e novas guerras, Reed (2005)
propõe cinco gerações de guerra (Figura 4).
Figura 4 – Tipologia geral de Guerra e Conflito
Fonte: Reed (2008) (tradução nossa).
41
Segundo o General Alvaro de Souza Pinheiro (2011), fundamentalmente, são
quatro as variantes de organizações terroristas em presença, na atualidade. A
primeira, são organizações terroristas inseridas no contexto de movimentos
revolucionários, desencadeando atentados em conjunção a atividades de subversão
e de guerrilha, visando à derrubada do sistema politico vigente. Poderão ser
apoiadas (ostensiva ou sigilosamente), ou não, por um ou mais governos
estrangeiros.
A segunda, são organizações terroristas que, apesar do engajamento em
causas tidas como justas, em função do radicalismo de suas posições, mostram-se
incapazes de obter um significativo apoio popular. De mesma maneira que a
anterior, poderão ser apoiadas (ostensiva ou sigilosamente), ou não, por um ou mais
governos estrangeiros.
A terceira, são organizações terroristas que, além de cerradamente apoiadas,
seguem (ostensiva ou sigilosamente) as diretrizes de um ou mais governos
estrangeiros, o(s) qual(is) presta(m) apoio.
A quarta, são organizações terroristas que, embora contando com o apoio
velado de governos simpatizantes, operam de forma totalmente independente, não
limitando nem suas bases, nem suas atividades ao território de determinado país ou
à sua filosofia política.
2.6 TERRORISMO COMO FERRAMENTA PRINCIPAL NA GUERRA IRREGULAR
2.6.1 O Terrorismo e a Guerra Irregular
O Tenente Coronel de Cavalaria Leandro Noveli Espindola, do Exército
Brasileiro em seu trabalho de conclusão de curso de 2015, descreve que os
fenômenos guerra e terrorismo possuem ligação muito estreita, permitindo que o
terrorismo seja estudado pelo paradigma da Guerra. Ambos podem ser entendidos
como instrumento da política, sendo um meio para atingir objetivos políticos. Outra
similaridade está na complexidade dos fenômenos, permitindo abrangente
diversidade de formas e classes dentro de cada um deles. O terrorismo tem uma
relação muito próxima da guerra, podendo ser considerado a própria guerra ou um
modo para fazê-las. Devido à necessidade de conhecer o ambiente em que a guerra
será́ travada (CLAUSEWITZ, 1984), torna-se imperativo conhecer o fenômeno do
42
terrorismo, além dos conflitos armados, a fim de poder enfrentá-lo e obter êxito. Na
busca dos fundamentos relacionados ao terrorismo, é primordial identificar a
conjuntura de sua eclosão.
Para Schmid e Jongman (1988, p. 16), o terrorismo “pode ter lugar em um
contexto de guerra, em um contexto insurgência e em um contexto puro, isto é, num
contexto em que o apoio popular para a luta está quase completamente ausente”.
Laqueur (1999, p. 46, tradução nossa) está de acordo com tais autores,
acrescentando o emprego no âmbito de uma campanha politica. Reforçando a ideia
do emprego do terrorismo em uma operação de guerra regular, Visacro (2009, p.
121) esclarece que o Programa Fênix dos EUA no Vietnã̃ foi convertido em uma
grande campanha terrorista no âmbito das operações clandestinas. Além disso, o
terrorismo individual desempenhou um papel secundário no movimento de
resistência europeu durante a segunda Guerra Mundial.
Em um contexto puro, o terrorismo é considerado uma forma de guerra,
sendo utilizado para alcançar os objetivos políticos do Estado, grupo ou individuo
que o emprega. Nessa relação em estudo, Liang e Xiangsui (1999, p. 5) afirmam
que “a única conclusão certa é a de que, a partir de agora, a guerra não será́ mais
como sempre foi”. Assim, apresentam uma nova perspectiva para os conflitos
armados futuros, com a presença de atentados terroristas, ocasionando a
necessidade de seu estudo.
Em seu relacionamento com a política e com a guerra, o terrorismo não
ocorre em composição única. Pode fazer parte de uma guerra, tanto regular quanto
irregular, ou ser a própria guerra, quando assume o monopólio da violência a fim de
alcançar os objetivos políticos. Sua compreensão é o primeiro passo para definir
estratégias destinadas a sua prevenção.
2.6.2 O Ato de Terror
Coronel Alessandro Visacro, Exército do Brasil em seu livro “Guerra Irregular;
Terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história (2009)”;
descreveu apropriadamente sobre ato de terror. Segundo ele, o terrorismo
compreende um vasto alcance de atividades que transcende o senso comum,
associando-se, frequentemente, a um proselitismo demagógico com o intuito de
atingir determinados objetivos psicológicos. A vaga ideia compartilhada pela grande
43
maioria do público manifesta-se de forma mais intensa no embate silente ou ruidoso
promovido pelas partes beligerantes através dos meios de comunicação de massa.
A ocorrência sistemática de sequestros, assassinatos ou atentados a bomba é
facilmente entendida pela opinião pública como sendo terrorismo. Ele é de opinião
que não se contesta que o massacre promovido por militantes foram atos terroristas.
Entretanto, um estudo um pouco mais acurado suscita questionamentos e dúvidas
acerca de métodos menos evidentes, como as "invasões de edificações e terras
públicas e privadas", as imposições para o fechamento de escolas e comércios, os
incêndios criminosos de transportes públicos e os ataques sistemáticos a postos
policiais.
2.6.3 Fases de um Ataque Terrorista
Em um artigo para a Military Review, publicado na edição brasileira do
segundo trimestre de 2003, o tenente-coronel Andrew Smith do Exercito australiano
descreveu a cronologia (Quadro 3) genérica de um atentado terrorista de forma
bastante elucidativa:
Quadro 3 – Cronologia de um ataque Terrorista Fase preparatória
[“antes”] Crise / Ataque
[“durante”] Fase de consequência
[“depois”] Atividades terrorista:
- Desenvolvimento de capacidades;
- Recrutamento; - Arrecadação de
verbas; - Aquisição de matérias; - Coleta de inteligência; - Planejamento; - Deslocamento
estratégico/bases; - Estabelecimento de
uma rede; - Reconhecimento; - Contra inteligência; - Operações de
informação.
– Deslocamento final; – Reunião;
– Montagem do equipamento;
– Reconhecimento final – Execução; – Extração.
– Exfiltração; – Regeneração das
capacidades; – Avaliação das consequências;
– Análise das operações; – Operações de
informação.
Fonte: adaptado do artigo "Combatendo o terrorismo", de Andrew J. Smith (Military Review, 2003) apud Visacro, 2009.
44
De acordo com o Smith, esta breve análise sugere que um típico ataque
terrorismo global consiste em uma fase preparatória de vários anos, uma breve fase
de crise e uma longa fase de consequências.
2.6.4 O Uso do Terror como Arma
Muitos comentaristas procuram, em vão, respostas para o terrorismo no ato
em si. O terrorismo é apenas uma arma. O uso que se faz dela compete àqueles
que optam por empregá-la. Portanto, a moralidade, a motivação e os objetivos
implícitos em um atentado não podem ser identificados e compreendidos pela
análise exclusiva da ação. O termo "guerra global contra o terror", por exemplo, nada
significa. Trata-se de uma expressão com forte apelo psicológico, cunhada para
atingir a opinião pública, tornando questões complexas da política externa norte-
americana inteligíveis para o cidadão comum (VISACRO, 2009).
Especialistas tendem a atribuir ao terrorismo um caráter hediondo, intrínseco
à sua própria natureza. Mas até mesmo essa ideia é discutível. O Protocolo
Adicional II de 1977 às Convenções de Genebra de 1949 proíbe os atos de terror.
Entretanto, não existe consenso quanto à definição de terrorismo. Sem sombra de
dúvida os atentados terroristas que vitimam civis inocentes podem ser comparados
com ato de guerra. Como qualquer ato de guerra que vitime não-combatentes que
atinjam civis inocentes intencionalmente ou sombra de dúvida. Porém, o que dizer
do ataque terroristas contra civis ou morte de inocentes em nome de danos colateral
através de drones ou bombardeios indiscriminados. Não parece razoável, portanto,
qualificar ataques dessa natureza como aqueles que elegem civis inocentes como
alvos.
O terrorismo é um recurso operacional que necessita de poucos agentes
envolvidos diretamente na ação, independe do apoio ativo das massas, provoca
forte impacto psicológico, custa pouco e pode causar danos físicos
proporcionalmente grandes. Assim sendo, é empregado com maior frequência
durante as fases iniciais de organização e expansão dos movimentos de luta
armada, quando os recursos ainda são escassos e o apoio popular é insipiente.
Recorrem, também, ao terror, com enorme ímpeto aquelas fações que perdem
gradativamente suas bases de sustentação junto aos moradores locais, em virtude
de campanhas contra insurgentes bem-sucedidas.
45
Não foram poucos os grupos radicais que obtiveram bons resultados valendo-
se do terror como arma. Entretanto, muitos não souberam quando parar ou não
identificaram a necessidade ou a oportunidade para redirecionar suas ações e
tornaram-no contraproducente, pela desaprovação generalizada da opinião pública.
O Talibã no Afeganistão foi apoiado pelo governo dos EUA contra a ocupação
soviética, mais tarde o mesmo Talibã lutou contra os EUA como uma força
invencível em uma das mais longas guerras, ainda sem solução no futuro próximo.
Isso elucida como um ato de terror pode se voltar contra quem promove.
Em síntese, poderíamos apontar como principais tendências do terrorismo no
Século XXI ou a ocorrência cada vez mais frequente e diversificada desse
fenômeno; o intenso uso de conexões internacionais, acentuando seu caráter
transnacional; a adoção de estrutura de redes, mais complexas e versáteis, em
detrimento das tradicionais organizações verticalmente hierarquizadas; o
fortalecimento dos vínculos já existentes com o crime organizado e a associação
cada vez mais intensa com o tráfico de armas, o comércio ilegal de drogas e a
lavagem de dinheiro; a disseminação de táticas, técnicas e procedimentos, até então
restritas às organizações terroristas de vanguarda; o advento de novas e alternativas
formas de atuação, como o ataque cibernético, por exemplo; a capacidade crescente
de ampliar o número de vítimas e, por fim, o acesso a armas de destruição em
massa.
Segundo Viascro (2009), de qualquer forma, os terroristas continuam
orientando o planejamento de suas ações segundo a análise de três elementos
básicos, quais sejam: a mídia; a opinião pública; e os tomadores de decisão.
O estudo pormenorizado dos dois primeiros permite aos perpetradores
estabelecer metas psicológicas coerentes e exequíveis, selecionar potenciais alvos
primários e dimensionar o efeito desejado do ataque, isto é, o dano físico necessário
para sensibilizar o público-alvo e atingir o objetivo psicológico pretendido. A análise
dos "tomadores de decisão" é necessária para a definição dos objetivos políticos da
ação, ou seja, para criar uma expectativa de como a liderança do Estado reagirá,
cedendo ou não, à pressão exercida pela mídia e pela opinião pública. Portanto,
somente quando a mídia, a opinião pública e a cúpula governamental adquirirem
uma maior compreensão do fenômeno terrorismo, a sociedade tornar-se-á, de fato,
menos vulnerável a esse tipo de ameaça.
46
2.7 TERRORISMO COMO ESTRATÉGIA DE INSURGÊNCIA 2.7.1 Formas de Violência Insurgente
A violência insurgente pode assumir diversas formas. Estes incluem
revolução, golpe de Estado, guerra de guerrilha, terrorismo e tumultos. Nos últimos
anos, o termo “intifada” ganhou publicidade, referindo-se às revoltas árabes contra
regimes autoritários. Com exceção dos tumultos, essas formas de violência política
também podem ser vistas como estratégias de insurgência. O Quadro 4 lista esses
formulários em uma estrutura que os distingue de acordo com várias características.
O objetivo é caracterizar o terrorismo, enfatizando as diferenças entre terrorismo e
outras formas de violência insurgente.
Quadro 4 – Comparação de formas de Insurgência
Forma de
Insurgência
Nível de
insurgência
Número
envolvido
Duração
da luta
Violên-
cia
Ameaça
ao regime
Esponta-
neidade
Coup d’etat Alta Alguns Curto Variado Grande Não
Leninist
Revolução
Baixo Muitos Curto Grande Grande Não
Guerrilha Baixo Médio Longo Grande Variado Não
Tumulto Baixo Médio Curto Pouco Pequeno Sim
Terrorismo Baixo Alguns Longo Pouco Pequeno Não
Resistência
não violenta
Baixo Muitos Longo Não Variado Não
Fonte: Merari (2007) (Tradução Nossa).
2.7.2 Terrorismo e Guerra de Guerrilha Os termos "terrorismo" e "guerra de guerrilha" são frequentemente usados de
forma intercambiável. Além de algum descuido no uso da terminologia técnica pela
mídia, políticos e até acadêmicos, essa sinonímia falha reflete a confusão em
relação à definição de terrorismo e, muitas vezes, um desejo de evitar a conotação
negativa que o termo adquiriu. A “guerra de guerrilha” não tem conotações
difamatórias, e seu uso, portanto, é utilizado por muitos escritores para transmitir
objetividade. Como Walter Laqueur apontou, o uso generalizado de “guerrilhas
urbanas” para descrever uma estratégia de terrorismo como uma extensão ou
47
substituto da guerra de guerrilha provavelmente contribuiu para a confusão. Como
estratégias de insurgência, no entanto, o terrorismo e a guerra de guerrilha são
bastante distintos.
A diferença mais importante é que, ao contrário do terrorismo, a guerra de
guerrilhas tenta estabelecer o controle físico do território. Esse controle é geralmente
parcial. Em alguns casos, os guerrilheiros governam a área durante a noite e as
forças do governo controlam durante o dia. Em outros, as forças do governo são
capazes de garantir as principais rotas de transporte, mas o território da guerrilha
está a pequena distância dessas rotas. Em muitos casos, os guerrilheiros
conseguiram manter o controle total de uma porção considerável de terra por longos
períodos de tempo. A necessidade de dominar um território é um elemento-chave na
estratégia de guerrilha insurgente. O território sob o controle da guerrilha fornece o
reservatório humano para o recrutamento, uma base logística e - o mais importante -
o terreno e a infraestrutura para o estabelecimento de um exército regular.
A estratégia terrorista não disputa um controle tangível do território. O
terrorismo como estratégia não depende de “zonas liberadas” como áreas de
preparação para consolidar a luta e levá-la adiante. Como estratégia, o terrorismo
permanece no domínio da influência psicológica e carece dos elementos materiais
da guerra de guerrilha.
Outras diferenças práticas entre as duas formas de guerra acentuam ainda
mais a distinção básica das duas estratégias. Os guerrilheiros costumam combater
em unidades do tamanho de pelotões ou companhias, às vezes mais. Os terroristas
operam em unidades muito pequenas, geralmente variando de um assassino
solitário ou uma pessoa solteira que fabrica e planta um dispositivo explosivo
improvisado para uma equipe de tomada de reféns de cinco membros. Outras
grandes equipes em operações terroristas foram numeradas de quarenta a
cinquenta pessoas e, às vezes, até mais. Estes, no entanto, foram muito raros.
Assim, em termos de tamanho das unidades operacionais, os limites superiores das
unidades terroristas são os limites inferiores das unidades de guerrilha.
As diferenças nas armas usadas nesses dois tipos de guerra também são
evidentes. Enquanto as guerrilhas, com apoio externo, usam principalmente armas
do tipo militar, como fuzis, metralhadoras, morteiros e até artilharia. As armas
terroristas típicas incluem bombas caseiras, carros-bomba (veículo mortal carregado
com dispositivos explosivos improvisados) etc. Essas diferenças no tamanho da
48
unidade e dos armas são meramente efeitos do fato mencionado acima, que
taticamente, as ações de guerrilha se assemelham ao modo de operação de um
exército regular.
Quadro 5 – Características do terrorismo, guerra de guerrilha e guerra convencional
como modo de lutas violentas
Guerra Convencional Guerra da guerrilha Terrorismo
Tamanho unitário em batalha
Grande (exércitos, corpo, divisões)
Médio (pelotões, companhias, batalhões)
Pequeno (geralmente menos
de dez pessoas)
Armas
Gama completa de hardware militar
(força aérea, força blindada, artilharia,
etc.)
Principalmente armas leves do tipo infantaria, mas às vezes peças de
artilharia também
Arma curta de mão, granadas de mão, fuzileiros de assalto e armas
especializadas (por exemplo, carros-
bomba, sequestros, reféns,
etc.)
Alvos
Principalmente unidades militares,
infraestrutura industrial e de
transporte
Principalmente militares, policiais e
funcionários da administração, bem como adversários
políticos
Símbolos do Estado, opositores
políticos e o público em geral
Impacto pretendido Destruição física Principalmente atrito
físico do inimigo Coerção
psicológica Controle do território Sim Sim Não
Uniforme Usar uniforme Muitas vezes usam uniforme Não usa uniforme
Identificação de zonas de Guerra
Guerra limitada à área geográfica
identificada
Guerra limitada ao país em conflito
Nenhuma zona de guerra
reconhecida; operações em todo
o mundo Legalidade internacional
Sim, se conduzido por regras
Sim, se conduzido por regras Não
Legalidade doméstica Sim Não Não
Fonte: Merari (2007). (Tradução Nossa).
49
2.7.3 Apoio Exterior
Não se tratando de intervenção direta, em particular, o apoio militar não pode
ser absorvido, numa parcela significativa, pelo rebelde, até que suas forças hajam
alcançado um determinado nível de desenvolvimento. A fase militar inicial de uma
rebelião, quer seja de terrorismo, quer seja de guerrilhas, pouco exige em matéria de
equipamento, armas, munições e explosivos. Geralmente esses produtos são
encontrados localmente ou podem ser contrabandeados.
Contudo, quando chega o momento do rebelde passar das guerrilhas para
uma forma mais complexa de cooperações, criando um exército regular, a
necessidade de suprimentos maiores e mais variados torna-se aguda. Ou ele deve
capturá-los do contra rebelde ou esses suprimentos deverão vir do exterior. Sem
eles o desenvolvimento do poderio militar rebelde faz-se impossível.
Na indochina, a virada deu-se em 1950, quando o Vietminh começou a
receber ajuda da China Vermelha. Até então haviam sido incapazes de desenvolver
suas forças e realizar operações em grande escala, não por falta do elemento
humano—tinham mais soldados em potencial do que podiam usar—seus arsenais
primitivos não eram capazes de satisfazer suas necessidades, e também eles não
podiam capturar armas francesas em quantidades suficientes. Embora o Vietminh
pudesse ter-se empenhado numa prolongada luta de guerrilhas, e assim negado aos
franceses qualquer benefício de uma longa ocupação do país, não teria sido capaz
de organizar um exército regular poderoso sem ajuda chinesa. Em setembro de
1950, 20000 homens das forças do Vietminh haviam sido equipados com
metralhadoras, morteiros pesados e armas antiaéreas. O comando Vietminh pôde
organizar uma Divisão Pesada, a 351.a. Em 1951, segundo estimativas francesas, o
auxílio chinês atingia 18.000 fuzis, 1.200 metralhadoras, 150.200 morteiros pesados
e aproximadamente 50 canhões.
No Afeganistão, os soviéticos foram derrotados, em grande parte, devido ao
apoio da CIA e do Paquistão. Os EUA forneceram mísseis Stinger anti-aviões para o
Mujahideen afegão que poderia atingir aviões soviéticos com precisão. Em 1971, na
guerra Indo-Pak, a Índia apoiou abertamente os rebeldes do antigo Paquistão
Oriental, fornecendo armas, treinamento, financiamento e moldando o apoio
internacional em favor dos rebeldes.
50
A guerra no Século XXI, devido à dissuasão nuclear e ao repúdio
internacional, está sendo combatida pelos atores não-estatais totalmente
patrocinados por outros Estados. Além disso, o financiamento secreto para as
organizações rebeldes é uma forma mais usual de engajar o país hostil se a
declaração de guerra aberta.
Assim, uma fraqueza policial e administrativa no lado contra rebelde; um
ambiente geográfico não muito hostil e apoio exterior nos estágios médio e final de
uma rebelião—eis as condições para uma rebelião lograr êxito. As duas primeiras
são indispensáveis. A última é um auxílio que pode tornar-se uma necessidade.
2.8 TERRORISMO E VIOLÊNCIA NA CONTEXTO DA GUERRA HÍBRIDA
“Guerra híbrida”, um termo relativamente novo, que não implica uma definição
universalmente reconhecida, está sendo usado principalmente como uma frase
genérica para descrever qualquer tipo de esforço clandestino de desestabilização
não militar. Quer se trate de subversão econômica ou disseminação de propaganda,
todas essas técnicas já existem há séculos, e não há nada de novo nelas hoje em
dia, exceto em termos de como essas técnicas se adaptaram para incorporar as
tecnologias modernas.
Autores ocidentais como Peter R. Mansoor e Frank G. Hoffman denominam
Guerra Híbrida como Doutrina da Rússia baseada no pensamento do general
Gerasimov, enquanto o autor russo Andrew Korybko a descreve como a nova
abordagem dos EUA de intervir em outros estados através da exploração das falhas
existentes. Em seu artigo "Law of Hybrid Warfare" (2016), Korybko escreve.
O grande objetivo por trás de cada Guerra Híbrida é interromper projetos conectivos transnacionais multipolares através de conflitos de identidade provocados externamente (étnicos, religiosos, regionais, políticos, etc.) dentro de um estado de trânsito direcionado. (tradução nossa).
Em qualquer caso, a ameaça da Guerra Híbrida é real. A primeira coisa é que
as Guerras Híbridas são conflitos de identidade provocados externamente, o que é
certamente o caso, mas ambos são uma combinação de naturais e fabricados.
Segundo Korybko (2015), existem conflitos de identidade pré-existentes em todos os
países do mundo, embora possam não chegar ao nível de catalisar a mudança
política, a menos que sejam provocados por elementos externos, o que é um ponto
51
chave. Os métodos pelos quais os atores externos procuram influenciar seus alvos
internos variam, mas podem ser divididos em duas categorias amplas e
interconectadas — ONGs e guerras da informação. O objetivo não é acusar todas as
ONGs como entidades hostis apoiadas pela inteligência externa ou que cada meio
de comunicação internacional é uma arma de guerra híbrida, mas para aumentar a
conscientização sobre como esses dois meios podem ser explorados para fins
políticos.
O que precisa ser realizado é que todas as ONGs, mesmo aquelas que não
pretendem se envolver em política, poderiam ser deliberadamente
instrumentalizadas para esse propósito ou induzidas a tornarem-se politicamente
ativas. Uma ONG, em outras palavras, é uma plataforma, seja física ou social, que
organiza as pessoas juntas para um objetivo comum e, operacionalmente falando,
elas podem servir para estabelecer as bases para as Revoluções Coloridas e depois
executá-las.
De acordo com Korybko (2017), às vezes tudo que é preciso é um pequeno e
dedicado grupo de provocadores para causar confrontações com as autoridades,
que, por sua vez, são enganosamente informadas por meios hostis contra o
governo, a fim de criar a percepção de que a polícia está atacando aleatoriamente
"manifestantes pacíficos" na opressão. O ponto principal é projetar uma narrativa
completamente artificial de “combatentes da liberdade democrática” resistindo a uma
“ditadura tirânica”, que serve ao duplo propósito de encorajar mais cidadãos a se
juntarem ao crescente motim e gerar apoio do exterior. É importante afirmar que
“apoio” não significa apenas uma cobertura favorável da mídia, mas uma ameaça,
mas também a ameaça de sanções e isolamento diplomático da chamada
“comunidade internacional”, que neste caso, na maioria das vezes, significa o mundo
Ocidente. Também pode ser estendido para incluir clandestinamente assistência
material aos “manifestantes”, como as armas de que eles precisarão para ajudar sua
Revolução das Cores a evoluir para uma Guerra Não Convencional.
Em seu artigo, "2017 Forecast: Global Trends", Andrew Korybko prevê que a
Guerra Híbrida atingirá os projetos de “One Belt One Road” (nova rota da seda) da
China em todo o mundo. Extrapolando essa diretriz, ele visualiza vários campos de
batalha da Guerra Híbrida (mapa 1) que permanecerão em primeiro plano por muitos
anos. Em qualquer ordem, eles são:
52
a) corredor Econômico do Paquistão (CPEC) entre a China e o Paquistão;
b) ferrovia transoceânica (TORR) entre Brasil, Bolívia e Peru;
c) projetos ferroviários transafricanos da China;
d) a rota ferroviária de alta velocidade dos Balcãs, da Rota da Seda, entre
Budapeste e Pireu;
e) a rota ferroviária de alta velocidade, da Rota da Seda, da Associação das
Nações do Sudeste Asiático, entre a China, o Laos, a Tailândia, a Malásia
e Cingapura;
f) a provável rota ferroviária de alta velocidade trans-centro-asiática entre a
China e o Irã; e
g) o canal da Nicarágua.
Mapa 1 – Batalhas futuras de Guerra Híbrida
Fonte: Korybko (2017). In: Forecast: Global trends. (Cartografia criada pelo autor).
Portanto, embora o método específico da Guerra Híbrida ainda não tenha
sido revelado, há fortes razões estratégicas para acreditar nas desestabilizações
assimétricas contra cada um dos países envolvidos, o que significa que todos os
analistas voltados para o futuro devem ficar atentos a esses espaços regionais.
2.8.1 O Século XXI e a Conduta da Guerra—pensamento de General Gerasimov, Rússia e “Guerra Híbrida”
Kofman e Rojansky (2015), no artigo do “The Wilson Center, A closer look at
Russia’s Hybrid War”, destaca que os observadores ocidentais caíram em um jargão
familiar de atribuir o pensamento do General Gerasimov como a famosa Doutrina de
Guerra da Rússia citada como “Guerra Híbrida”. Os observadores costumam citar o
artigo de Gerasimov, de fevereiro de 2013, em “Military Industrial Courier” como a
53
Doutrina Gerasimov. No contexto das operações da Rússia na Ucrânia, a “guerra
híbrida” pode ter se tornado o rótulo definidor, mas em um exame mais detalhado,
não faz sentido. “Guerra híbrida” dificilmente pode ser considerada uma doutrina
definitiva para a futura projeção de poder da Rússia em sua vizinhança, muito
menos um modelo que poderia ser facilmente reproduzido em lugares distantes e
diversos do espaço pós-soviético.
O General Valery Gerasimov argumentou que há uma indefinida divisão entre
"guerra e paz" no cenário de ameaças do Século XXI: "As guerras não são mais
declaradas e, tendo começado, seguem de acordo com um modelo desconhecido".
Segundo Gerasimov (2013), a natureza da guerra mudou juntamente com os meios
de aplicação (Quadro 6):
Conflitos armados, incluindo aqueles associados às chamadas revoluções coloridas no norte da África e no Oriente Médio, confirmam que um estado perfeitamente próspero pode, em questão de meses e até dias, ser transformado em uma arena de conflito armado, tornar-se uma vítima de intervenção estrangeira e afundar em uma teia de caos, catástrofe humanitária e guerra civil. O papel dos meios não-militares de alcançar objetivos políticos e estratégicos cresceu e, em muitos casos, eles excederam o poder da força das armas em sua eficácia. O foco dos métodos aplicados de conflito foi alterado em direção ao amplo uso de medidas políticas, econômicas, informativas, humanitárias e outras medidas não-militares—aplicadas em coordenação com o potencial de protesto da população. Tudo isso é complementado por meios militares de caráter clandestino, incluindo a realização de ações de conflito informacional e as ações das forças de operações especiais. (tradução nossa).
Quadro 6 – Gerasimov Compreensão do novo tipo de guerra
Fonte: Gerasimov (2013). (Tradução; João Ricardo Da Cunha Croce Lopes – Tenente Coronel Artilharia QEMA, ECEME, 2018)
54
Como ressalta o pensamento Gerasimov, as estratégias militares
contemporâneas se afastam dos métodos militares tradicionais, nos quais a ação
militar segue o desdobramento estratégico e a declaração de guerra, onde grandes
unidades terrestres realizam choques frontais sob rígida hierarquia e a massas e o
poder de fogo, continuam sendo os principais determinantes da guerra. Em vez
disso, as novas estratégias se concentram em “confrontos sem contato entre
unidades altamente manobráveis” em guerras não declaradas, ação militar no tempo
da paz, uso de “civis armados” e “gerenciamento de tropas em uma esfera
informacional unificada”.
As mudanças (Figura 5) refletem-se nas visões doutrinárias dos principais países do
mundo e são testadas em conflitos militares.
Figura 5 – Principais fases (estágios) do desenvolvimento do conflito
Fonte: Gerasimov (2013). (Tradução; João Ricardo Da Cunha Croce Lopes – Tenente Coronel Artilharia QEMA, Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, 2018). 2.8.2 Choque de Narrativas Concorrentes
A batalha das narrativas é um dos fatores mais importantes na luta para
controlar o movimento de insurgência perpetuado pela Guerra Híbrida. Os
55
insurgentes geralmente buscam explorar as linhas de fraturas no sistema contra o
Estado – financiadas pelo adversário. Ele descreve-o como:
Uma insurgência é uma competição entre insurgentes e governo para conquistar da população civil, que fornece o mar no qual os insurgentes nadam. As forças armadas não podem conseguir muito se a população não estiver, e não se sentir, protegida contra o insurgente. (tradução nossa) (GALULA, 1964, p.viii).
Se o insurgente conseguir dissociar a população do contra insurgente, controlá-la fisicamente, obter seu apoio ativo, vencerá a guerra porque, em última análise, o exercício do poder político depende do acordo tácito ou explícito da população ou, na pior das hipóteses, sobre sua submissão. Assim, a batalha pela população é uma das principais características da guerra revolucionária. (GALULA, 1964, p.4).
O especialista em contra insurgência, John McCuen, coronel do Exército dos
EUA, destaca que a batalha de narrativas concorrentes ocorre entre três audiências
(Figura 6): a população nativa, a frente doméstica (Homefront) da grande potência e
a comunidade internacional mais ampla. As grandes potências correm o risco de
perder conflitos em que não conseguem entender nem o terreno humano nem os
"campos de batalha decisivos da opinião pública em casa e no exterior".
Figura 6 – Audiências da narrativa competitiva
Fonte: John Mcuen, Coronel EUA (Ilustração criada pelo autor). Uma população insegura raramente fornece a informação necessária ao
contra insurgente. "A inteligência tem que vir da população, mas a população não vai
falar a menos que se sinta segura, e não vai se sentir segura até que o poder do
insurgente seja quebrado" (GALULA, 1964).
56
2.9 O TERRORISMO E A MÍDIA — UMA VISÃO CRÍTICA
Reportagem sobre terrorismo e organizações terroristas gerou debates sobre
se elas servem à agenda do terrorista? Na verdade, porque a maioria das áreas em
questão são inacessíveis, os principais meios de comunicação baseiam-se em
vídeos de propaganda de grupos extremistas para veicular imagens e vídeos dos
ataques. Semelhante a outros conteúdos de propaganda, como as decapitações de
vitimas, o uso desse tipo de imagens amplifica o alcance dos terroristas e lhes dá a
atenção que procuram ao realizar suas atrocidades coreografadas. Segundo Walter
Laqueur, “O sucesso da operação terrorista depende quase que exclusivamente da
quantidade de publicidade que recebe".
Especialistas divergem quanto à postura e responsabilidade da mídia na
cobertura de atentados terroristas. Na literatura internacional, há uma parcela
significativa que acredita que a mídia contribui com o terrorismo ao dar notoriedade
e potencializar o impacto de seus atentados, além de contribuir para que o terrorista
atinja seus propósitos, demandas políticas, intimidação e propagação do medo no
seio da sociedade. Podendo, ainda, comprometer ações de contraterrorismo e
pressionar governos na tomada de decisões em favor das demandas terroristas. Por
outro lado, há aqueles que defendem que a mídia representa um obstáculo às
organizações terroristas pelo fato de terem a capacidade e os recursos necessários
para mobilizar a opinião pública (ver seção 2.8.2, choque de narrativas
concorrentes) em um Estado democrático contra suas atividades.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) publicou um livro abrangente sobre a complexa relação entre o
terrorismo e a mídia. O livro, "Terrorism and the Media: A Handbook for the
Journalists (2017)", além de dar orientações aos jornalistas, também sublinha o uso
e o abuso de meios de comunicação em incidentes e questões relacionadas com o
terrorismo.
Os meios de comunicação social são, sem dúvida, o cerne desta questão,
muitas vezes referida como o "oxigénio do terrorismo", nas famosas palavras da
antiga primeira-ministra britânico Margaret Thatcher. "Ataques terroristas", escreveu
Brian Jenkins de volta em 1995, "são muitas vezes cuidadosamente coreografados
para atrair a atenção dos meios eletrônicos e da imprensa internacional. O
terrorismo destina-se às pessoas que assistem, não às vítimas atuais".
57
Ao contrário disso, Wilkinson (1997) afirma que a mídia de massa em
sociedades livres e democráticas repudia o terrorismo e qualquer forma de violência,
contudo, estes meios de comunicações vivem em um mercado competitivo e sob
forte pressão para serem os primeiros a noticiar qualquer matéria (conhecidamente
como furo de reportagem) capaz de entreter seus espectadores. Isto não significa
que os meios de comunicação são controlados por organizações terroristas, denota
que, sabedores destas características da concorrência entre as emissoras de
sociedades democráticas, os terroristas valem-se disto para explorar e manipular
estes meios para seus próprios fins. Em alguns casos, verifica-se que organizações
terroristas, na busca de publicidade, alimentam os meios de comunicação com
entrevistas, comunicados e declarações em vídeo e áudio.
2.9.1 Uso de mídia por terroristas
Os terroristas confiam nos fundamentos jornalísticos convencionais de
sensação, violência e surpresa, especialmente para a televisão. Mas com o
desenvolvimento exponencial da Internet e das redes sociais, a batalha de imagens
e palavras assumiu uma escala sem precedentes. Como destacado em um relatório
do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, grupos terroristas estão
usando a rede (Figura 7), especialmente redes sociais como Facebook, YouTube e
Twitter.
Figura 7 – Meios de comunicação dos terroristas
Fonte: Ilustração criada pelo autor
58
2.9.2 Reportagens de formas diferentes de violência
Nos últimos anos, tem-se assistido uma enorme cobertura de incidentes
relacionados com o terrorismo na mídia, que são posteriormente referidos como
pontos críticos da história, por exemplo, ataque terrorista de 9/11. Os incidentes
terroristas ocorridos em Nova Iorque, Moscou, Boston, Nice, Paris, Buenos Aires e
Mumbai receberam a atenção do mundo. No entanto, incidentes semelhantes
relacionados a terroristas ou, em alguns casos, com maior magnitude de vítimas não
conseguiram atrair a atenção da mídia. A mídia desviou os olhos das altas taxas de
baixas ocorridas quase diariamente no Iraque, Afeganistão, Síria, Iêmen, Paquistão,
Birmânia, Líbano, Palestina, Caxemira e muitos outros. Esta exclusão deliberada é
bastante injusta por parte da mídia. A disparidade em qualquer forma de terrorismo
pode ser refreada, pois são as pessoas inocentes em todo o mundo que são
afetadas por essa ameaça.
Apesar de muitos pesquisadores e estudiosos da religião analisem essas
equações e formulem teorias contraditórias sobre se o terrorismo é baseado na
religião, a referência ao Islã é fortemente contestada, não apenas dentro da
comunidade muçulmana, mas também por países onde o Islã é a religião do Estado.
Assim, em 11 de maio de 2016, durante uma das reuniões do Conselho de
Segurança da ONU, o representante do Kuwait explicou, em nome da Organização
da Cooperação Islâmica (OCI), que a expressão “grupos terroristas de inspiração
religiosa” era errônea, como “nenhuma religião tolera ou inspira o terrorismo”,
embora existam “grupos terroristas que explorem as religiões”.
A mídia internacional também geralmente enfatiza que esses grupos estão
engajados em uma guerra contra o Ocidente, mas muitas vezes não acrescentam
que essas ações violentas atacam populações dominantes de muçulmanos, seja
diretamente, como no Iraque, Síria, Afeganistão, Iêmen e Paquistão ou
indiretamente, como foi o caso durante os ataques em Bruxelas, em 22 de março de
2016, e em Nice, em 14 de julho de 2016, quando também houve muçulmanos entre
as vítimas.
Segundo Cox (2016, apud MARTHOZ, 2017, p.23), representantes da
comunidade muçulmana questionam os padrões e rotinas do processamento de
informações. Eles denunciam o fato de que ataques de extrema direita são
geralmente menos cobertos pela mídia, e os motivos dos perpetradores são
59
despolitizados e frequentemente atribuídos a doenças mentais ou como "solitários
insano".
2.9.3 Moldando a Perspectiva—Enquadramento do Terrorismo
O terrorismo põe em particular a ética jornalística à prova. A mídia molda a
opinião pública, local e internacional, cobrindo os incidentes de uma perspectiva—
Um Equadramento. O enquadramento envolve a seleção de aspectos particulares
da realidade, privilegiando-os na descrição, na definição, na interpretação e na
avaliação moral do tema a ser coberto. A escolha feita pela mídia nem sempre é
consciente e pode refletir quadros de notícias desenvolvidos por outros. No entanto,
a escolha do quadro é crucial. Pode influenciar as reações do público e das
autoridades. Os autores Brooke Barnett e Amy Reynolds (2017) notaram que, até
certo ponto, a mídia incita uma retaliação decisiva. Nesse contexto, a mídia também
pressiona o governo a adotar medidas rigorosas.
Durante a Guerra Fria, a maioria dos atos terroristas foi interpretada dentro do
quadro do confronto ideológico e geopolítico entre o Oriente e o Ocidente. Desde a
queda do Muro de Berlim e o surgimento do terrorismo "de inspiração religiosa", os
atos terroristas são muitas vezes cobertos por uma perspectiva semelhante à teoria
do "choque de civilizações", popularizada pelo ex-professor de Harvard, Samuel
Huntington. Em ambos os casos, o modelo é muito semelhante, inspirado por: eles
contra nós, os "bandidos" contra os "mocinhos". A mídia pode desempenhar um
papel positivo ao apresentar perspectivas otimistas e pacíficas que evitem a
discriminação em relação a uma comunidade que tem levantado uma visão negativa
devido a algum pequeno grupo que pegou em armas. Depois de 11 de setembro, um
certo número de meios de comunicação americanos publicou artigos mais positivos
sobre cidadãos árabes americanos ou muçulmanos. Esse quadro visava evitar a
retaliação contra uma comunidade específica dos EUA e insistia na urgência de
enfrentar o desafio lançado pela Al-Qaeda com a lei, e não com a discriminação.
O enquadramento inevitavelmente tem efeitos sobre o trabalho profissional e
factual da mídia. Por exemplo, pode levar à negligência de mortes de civis causadas
por retaliações por atos terroristas, o que levanta questões sobre a prática
jornalística (imparcialidade, imparcialidade, verdade). Em um memorando de outubro
de 2001 aos editores, a CNN enfatizou que "dada a enormidade do custo de vidas
60
humanas inocentes nos EUA, devemos permanecer cautelosos para não focar
excessivamente nas baixas e aflições no Afeganistão que inevitavelmente farão
parte dessa guerra". (MOELLER, apud MARTHOZ, 2017, p.37)
As consequências da guerra dos Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) contra
as populações civis no Afeganistão e Paquistão também tiveram menor cobertura,
porque os ataques foram considerados legítimos pela mídia, que estava convencida
da necessidade de lutar duramente contra os terroristas. A jornalista Tara McKelvey
comentou: "Quando o VANT atacar, questões-chave são feitas sem resposta e sem
resposta."
No caso de um ataque terrorista, o reflexo da mídia é tentar nomear o infrator,
que é frequentemente um país, o mais rápido possível. O risco consiste em se
precipitar acusações que se baseiam em semelhanças com outros ataques, na
aceitação crédula de teorias oficiais e até em preconceitos. Em muitos casos, a
mídia concluiu os fatos a partir de pistas insuficientes e formulou teorias que se
revelaram falsas. As consequências de tal prática são desastrosas para a paz
internacional.
2.9.4 Uso de palavras pela mídia
Vê-se frequentemente que, na corrida dos eventos de reportagem, a mídia
não se importa com a fonte de informação - que é, em alguns casos, muito motivada
pelo preconceito e baseada na opinião. Por exemplo, ao imprimir as informações
recebidas de outro grupo de mídia sem entender os detalhes do conflito, se está
reproduzido em uma opinião cuidadosamente elaborada. Em uma cena internacional
dominada por campanhas de propaganda, há uma vontade permanente de
exagerar, trazendo algumas para qualificar imediatamente os protestos radicais
como atos "terroristas".
Além disso, destaca-se a controvérsia da designação do "Estado Islâmico", o
movimento estabelecido por Abu Bakr al-Baghdadi na Síria e no Iraque, dando uma
ideia do campo de batalha semântico. A França, por exemplo, pediu o uso exclusivo
do termo "Daesh", o acrônimo árabe do Estado Islâmico do Iraque e do Levante,
“Dawlat islamiya fi ‘iraq wa sham”. Laurent Fabius, ministro das Relações Exteriores
da França, afirmou: “O grupo terrorista de que estamos falando não é um estado;
gostaria de ser, mas não é, e chamá-lo de estado é fazer um favor. Da mesma
61
forma, eu recomendo não usar a expressão 'Estado Islâmico', porque leva à
confusão entre 'Islã', 'Islamismo' e 'Muçulmano'.” No jornal saudita “Al-Riyadh
(2015)”, Amjad Al Munif sublinhou o ponto de vista similar de várias outras fontes da
mídia árabe que denunciavam a “propaganda semântica”. E, ainda, durante uma
entrevista com a Al-Arabiya, o Grande Mufti do Egito observou que o grupo "não é
um Estado, [...] mas sim terroristas", e que eles "não tinham nada a ver com o Islã".
Ele pediu à mídia que não usasse o nome completo do grupo em árabe, mas sim
que fosse chamado de "organização terrorista do Daesh". Infelizmente, a mídia
contribuiu para espalhar mais ódio do que paz ao associar a religião do Islã a um
grupo terrorista.
2.9.5 Números
O estudo do terrorismo prospera em números. Número de ataques por ano,
tipologia das vítimas, avaliação das ações antiterroristas, porcentagem de terroristas
na população, proporção de atos segundo a ideologia ou a religião dos
perpetradores, etc.
A mídia depende muito de pesquisas, sejam eleições ou uma operação. A
mídia também muitas vezes se abstém de ler os detalhes da pesquisa e
simplesmente repete os resumos. Quem encomendou a pesquisa? Quando foi
realizada? Em que amostra da população? Quais eram as condições de segurança
e liberdade? Quais perguntas foram feitas? Algumas instituições que realizam
pesquisas são obviamente mais conscientes do que outras, mas a distância crítica é
um requisito em todas as circunstâncias.
A busca da mídia para criar uma sensação muitas vezes prejudica os
esforços dos Estados em lidar com o terrorismo. Incerto, muitas vezes incorreto, os
dados enganam o público e criam problemas duais para o estado; isso dificulta os
esforços do Estado em superar a violência e encoraja a agenda dos terroristas. Por
exemplo, um grupo de mídia mostrando o número de vítimas sofridas pelas agências
policiais contra terroristas como “39º pessoal militar morto este ano” cria um impacto
extremamente negativo que encoraja os terroristas e enfraquece os esforços das
agências policiais. A mídia frequentemente compara os dados com anos anteriores
que é ainda mais danoso. Por exemplo (Quadro 7):
62
Quadro 7 – Exemplo de comparação de incidentes relacionados à violência por um
grupo de mídia
Janeiro a Outubro 2017 2018
Homicídio doloso 362 395
Latrocínio 31 20
Policiais mortos 9 7
Morte com intervenção policial 288 310
Encontro de cadáver 99 100
Desaparecidos 947 1.131
Roubo em ônibus 3.384 3.757
Roubo de veículos 14.719 14.807
Roubo de celulares 5.008 6.448
Roubos 52.135 60.709
Fonte: o autor
2.9.6 Generalização
A generalização é uma tentação muito comum. Portanto, o terrorismo
“islamista” é regularmente atribuído à religião islâmica e a toda a população
muçulmana. No entanto, ninguém acusa os extremistas de extrema direita de aderir
à supremacia branca, como o terrorista norueguês de extrema direita Anders
Behring Breivik. Essa discordância expõe a mídia a ser acusada de viés. Ele levou a
versão árabe do RT (Russia Today) a notar que "não vimos especialistas em
extrema-direita perguntando na TV como combater esse tipo de extremismo e
impedi-lo no futuro" (MARTHOZ, 2017, p.66).
É um fato bem conhecido, comprovado pela história, que o grupo de pessoas
explora os sentimentos das massas ao explorar a perseguição, a religião, a cultura,
as crenças, a etnia e até o patriotismo. Classificar toda uma comunidade ou grupo
ou religião, ou mesmo um país, como responsável por uma pequena facção
dissidente não é apenas incorreto, mas cria sentimentos negativos entre as pessoas.
A divisão criada, por esse motivo, aumenta as possibilidades de mais discórdia e
cumpre a agenda dos terroristas.
63
3 A AMEAÇÃ TERRORISTA NO PAQUISTÃO–DESAFIOS COMPLEXOS
3.1 O CONTEXTO GEOGRÁFICO; PAQUISTÃO VÍTIMA DE CIRCUNSTÂNCIAS
É imperativo compreender o contexto geoestratégico que impôs imensos
desafios de segurança, étnicos, religiosos e socioeconômicos para o Paquistão. O
Paquistão, terra natal de 207 milhões de pessoas (censo de 2017), herdou muitas
complexidades geoestratégicas e econômicas decorrentes simplesmente de sua
localização geoestratégica (mapa 2) e das circunstâncias da região. A gênese da
questão do terrorismo e da militância pode ser atribuída à invasão russa do
Afeganistão em 1979, com quem o Paquistão compartilha uma fronteira de
aproximadamente 2.500 km. O Afeganistão e as áreas ao longo da fronteira entre o
Afeganistão e o Paquistão, antes da independência do subcontinente, serviram na
maior parte como um estado-tampão entre a Rússia czarista e o Império britânico.
Mapa 2 – Mapa do Paquistão
Fonte: o author
Um vácuo político existiu no Afeganistão por muitas décadas. Na ausência de
um sistema político estável, esse vácuo político permaneceu assim que a guerra
soviético-afegã começou em 1979 e forneceu espaço para atuação dos mulás1. No
1 O termo "mulá" refere-se ao líder religioso islâmico. Embora o termo por si só seja considerado
como um cargo respeitável, no entanto, devido à sua associação com os indivíduos radicais, o termo perdeu sua reverência e agora é usado para chamar indivíduos religiosos de mentalidade radical.
64
caso do Paquistão, a incapacidade continuada do Estado em conceder as Áreas
Tribais, anteriormente administradas pelo governo federal (FATA) ao longo da
fronteira com o Afeganistão, e integrá-los no sistema político geral do país. A FATA
acabou se fundindo com a província adjacente de Kyber Pakhtunkhawa em 28 de
maio de 2018. Segundo Syed (2015), essas áreas foram chamadas “Ilaqa Ghair2”
pelo público em geral.
Enfrentando as consequências da Jihad Afegã na década de 1980, o
Paquistão tornou-se um abrigo para mais de 3 milhões de refugiados afegãos, e até
hoje abriga cerca de 1,5 milhão de refugiados afegãos registrados. O perfil do
Paquistão para 2015, divulgado pelo ACNUR, mostra que os paquistaneses abrigam
a maior população de refugiados do mundo. O influxo de refugiados significou que o
Paquistão fornecerá empregos, saúde, terra, educação e até certidões de
nascimento para crianças das (cerca de 800.000) famílias de refugiados. O grande
número de refugiados também pode ser inimaginável para qualquer país, mesmo
para os padrões ocidentais, onde os países desfrutam de economias muito mais
estáveis e estruturas de governança há muito estabelecidas, com quase nenhuma
agitação doméstica. No entanto, um Paquistão em desenvolvimento, envolvido em
problemas de desenvolvimento socioeconômico, ainda abriga um grande número de
refugiados do Afeganistão. A ex-secretária de Defesa americana, Hilary Clinton,
destacou, embora tardiamente, que os EUA tinham um papel nos problemas que
assolam o Paquistão hoje (audiência do Congresso dos EUA em abril de 2009).
Além do acima exposto, a guerra trouxe uma nova marca estrangeira de
islamismo militante para uma sociedade que seguiu em grande parte os santos sufis,
que espalharam a mensagem de paz, esperança, amor universal e fraternidade da
humanidade. O sectarismo e a militância eram amplamente desconhecidos para a
sociedade paquistanesa antes da invasão soviética, ou a revolução iraniana de
1979, que coincidentemente ocorreu na mesma época. Até hoje, 96,4% - grande
parte muçulmana da população do Paquistão é composta de 85-90% de sunitas e
10-15% de xiitas, que vivem em harmonia. Apenas para ressaltar este ponto,
qualquer um pode observar que nas eleições do Paquistão, ser xiita ou sunita não
afeta a popularidade ou o número de votos de um candidato para qualquer assento,
de primeiro-ministro a qualquer membro do parlamento. O mesmo tem sido e é o 2“Illaqa Ghair” traduz-se aproximadamente para áreas fora do limite para o público em geral.
65
caso entre os oficiais de maior hierarquia em civis e militares. Com o início da guerra
afegã na década de 1980, o Paquistão tornou-se um campo de batalha para guerras
de sectarismo entre sunitas e xiitas, cada qual com facções militantes sob algum
nome e financiadas por outros países. Sucessivos governos do Paquistão não
puderam alterar as negligencias anteriores mostradas a esse respeito. No entanto, a
situação não é tão ruim quanto alguns críticos do país gostariam de retratar.
As relações Índia-Paquistão são complexas, trançadas e obstinadas,
motivadas por uma atitude inflexível na resolução de questões de conflito. Ambos os
estados não foram capazes de estabelecer relações amáveis desde sua
independência em 1947. Muitas vezes, os esforços diplomáticos foram marcados
pelo comportamento intransigente. Esse ambiente contribuiu para os problemas
enfrentados pelo Paquistão quando a Índia começou a implantar suas forças na
fronteira leste do Paquistão em 2001. Esses impasses continuaram em 2008, 2013 e
violações contínuas do contrato de cessar-fogo de 2016 ocorrem até hoje. As forças
armadas do Paquistão enfrentaram enormes desafios para se defender contra a
ameaça convencional no Leste e a militância no Oeste. Isso também causou um
fardo para a economia do país, já enfraquecida devido ao aumento da militância,
para apoiar as forças armadas para frustrar esses desafios.
3.2 PAQUISTÃO DE 2001 ATÉ A ATUALIDADE—ESTUDO DE NARRATIVA
A narrativa do Paquistão na luta contra o terrorismo tem suas raízes na
guerra afegã contra os soviéticos, conforme explicado na seção acima. Durante a
guerra soviético-afegã, a narrativa da Jihad (guerra santa) foi construída para atrair
homens de todo o mundo para lutar no campo de batalha contra os russos. Todos
treinados e equipados por forças norte-americanas e paquistanesas nas áreas de
fronteira do Paquistão perto do Afeganistão. Além de aliar-se ao esforço das
democracias liberais para impedir a disseminação do comunismo, a decisão também
ajudou a aliviar os próprios receios do Paquistão de uma invasão soviética do
Paquistão como um próximo passo para alcançar as águas quentes. A Guerra Santa
durou muitos anos, até a expulsão das tropas russas do Afeganistão. Depois dessa
façanha, uma vez celebrados Guerreiros Sagrados ou os Mujahedeen3 e heróis de
guerra da guerra soviética no Afeganistão, que foram aclamados como combatentes 3 Mujahideen: Este termo é usado para combatentes da liberdade afegãos contra a opressão dos soviéticos.
66
da liberdade na Casa Branca pelo presidente americano Ronald Reagan, foram
abandonados, não tendo nenhum senso de propósito ou qualquer conhecimento de
qualquer outro modo de vida que o combate de guerra. Estes foram deixados para
se defenderem no terreno acidentado e no clima rigoroso das FATA e Balochistan,
junto com suas famílias sofredoras em ambos os lados da fronteira.
A narrativa de apoio do Paquistão foi motivada religiosamente, para ajudar
afegãos—irmãos muçulmanos—do outro lado da fronteira. Esta narrativa foi bem
recebida quase toda a sociedade no Paquistão em geral e por tribos atravessando a
fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão em particular. No entanto, após o 11 de
setembro, quando os EUA lançaram uma guerra contra o terrorismo no Afeganistão,
muitas tribos que viviam ao longo da fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão
viram a operação dos EUA sob a mesma lente, ficando do lado dos talibãs, seguindo
a mesma narrativa de apoiar os afegãos contra uma ocupação estrangeira. O
governo do Paquistão apoiou os EUA na luta contra o terrorismo e forneceu apoio
logístico aos EUA em termos de rotas terrestres e aéreas, até lançou e operações
militares contra as tribos dissidentes ao longo da fronteira entre o Paquistão e o
Afeganistão. Muitas facções nas áreas tribais ao longo da fronteira entre o Paquistão
e o Afeganistão discordaram e prometeram lealdade aos talibãs, como "Tehreek e
Taliban Paquistão, Tehreek e Nifaz e Shariet e Muhammadi e Jamat ul Ahrar" e
levantaram armas contra o Estado.
A narrativa de apoio aos EUA criou confusão entre diferentes círculos na
sociedade paquistanesa. Alguns ficaram do lado da política governamental de
operações militares e outros condenaram o apoio ao EUA e defenderam uma
abordagem não-cinética das negociações com os dissidentes. A confusão resultante
impediu a realização de uma ação conjunta contra os terroristas, já que ações
militares contra terroristas estavam sendo exploradas por certos partidos políticos
por seus interesses. Essa confusão prevaleceu, apesar do aumento das ações
terroristas que custaram dezenas de milhares de vidas e imensos danos à
economia, até que uma ação terrorista horrível e mortal aconteceu na história do
Paquistão. Terroristas atacaram uma Escola Pública do Exército em 16 de dezembro
de 2014 em Peshawar, uma cidade paquistanesa no noroeste, a 55 km da fronteira
do Afeganistão. O Paquistão perdeu 141 vidas neste ataque, das quais 132 eram
crianças inocentes. O Tehrik-i-Taliban Paquistão (TTP), que se abriga no
Afeganistão, reivindicou a responsabilidade e atribuiu este ataque como uma
67
represália à operação contraterrorista das Forças Armadas do Paquistão, Operação
Zarb-e-Azb, que iniciou seis meses antes, em junho de 2014. Operação Zarb-e-Azb,
que significa ataque agudo e cortante, foi uma ofensiva militar conjunta conduzida
pelas Forças Armadas do Paquistão contra vários grupos militantes, incluindo
Tehrik-i-Taliban Paquistão (TTP), o Movimento Islâmico do Uzbequistão (IMU), o
Oriente Movimento Islâmico do Turquestão, Lashkar-e-Jhangvi (ETIM), Al-Qaeda,
Jundallah e a Rede Haqqani.
Forças armadas do Paquistão implementaram uma estratégia militar
abrangente baseada em "diretrizes amplas" dada na doutrina de guerra sub-
convencional (2013). Essa doutrina provou ser imensamente bem-sucedida na
eliminação do bastião terrorista na região Waziristan do Norte, uma área tribal ao
longo da fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. 30.000 soldados paquistaneses
participaram da Operação Zarb-e-Azb para expulsar todos os militantes estrangeiros
e locais escondidos.
O Paquistão finalmente conseguiu uma superioridade na batalha de
narrativas contra os terroristas após desafortunado ataque de militantes na Escola
Pública do Exército. A opinião da nação se voltou a favor de uma ofensiva militar
contra todos os terroristas, desconsiderando todas as formas de negociação. A
moratória sobre a pena de morte foi suspensa e foram criados tribunais militares
para ajudar o judiciário a lidar com os casos contra os terroristas. O Paquistão
testemunhou um declínio acentuado nas ações terroristas após esta operação, no
entanto, uma ameaça latente de terroristas residuais está sendo derrotada através
de Operações Baseadas em Inteligência, Operação Radd-ul-Fassad, que significa,
aproximadamente, eliminar a discórdia.
3.3 ENTENDENDO O TIPO DE GUERRA
Para combater o novo desafio, é imperativo primeiro identificar a natureza do
conflito. Devido aos suas muitas matizes e cores, o principal desafio de qualquer
conflito é identificar o tipo de ameaça que está sendo confrontada. Como Clausewitz
afirmou:
O primeiro, o supremo, o mais extenso ato de julgamento que o estadista e o comandante têm que fazer é estabelecer [...] o tipo de guerra em que eles estão embarcando; nem confundi-lo, nem tentar transformá-lo em algo que é estranho à sua natureza.
68
General (aposentado) Anthony, ex-comandante do CENTCOM dos Estados
Unidos, destaca: “Entender o tipo de guerra que você está combatendo é o primeiro
passo para vencer” (apud HAMMES, 2006). Identificar o tipo de desafio no Século
XXI é o primeiro requisito para abordá-lo apropriadamente. No entanto, continua a
ser o mais difícil, pois os estados estão em uma tendência normal de ignorar
deliberadamente a noção de quaisquer linhas de fratura predominantes que
poderiam ser mais exploradas pelos elementos hostis com suporte interno ou
externo. Outro problema é a falácia de atribuir todo problema interno à intervenção
estrangeira, que nem sempre é correta.
Os desafios que prevalecem são complexos e muitos estados estão mal
preparados para lutar e vencer devido à falta de conhecimentos e habilidades
apropriadas. A evolução destes desafios em sua forma atual é facilitada e impelida
pela mudança do cenário do sistema político internacional e pelas novas tendências
da globalização. Os países são confrontados com o desafio de manter / depender de
alianças antigas, desenvolver novas alianças e até romper a aliança autoritária. Os
países em desenvolvimento estão olhando para os países mais desenvolvidos na
tentativa de progredir, os países subdesenvolvidos estão submersos em
instabilidades políticas com enorme espaço para a exploração e certos países estão
envolvidos secretamente através das Guerras Híbridas para desestabilizar seus
oponentes.
Neste complexo tempo de sobrevivência, onde os países podem ser
destruídos em questão de semanas e meses (GERASIMOV, 2013), é crucial
primeiro reconhecer a presença de linhas de fraturas existentes o mais rápido
possível e identificar o tipo de meios apropriados para derrotá-lo sem cair na falácia
de seguir as doutrinas de certos países que lhes convinha, pois cada país tem seus
próprios peculiares de problemas que podem ser resolvidos por suas próprias
políticas. Uma abordagem cuidadosa para cada problema, antecipando e avaliando
o resultado a longo prazo é extremamente essencial. Alguma abordagem com o uso
da força de forma inadequada (menos ou excessiva) pode levar a consequências
desastrosas.
O Paquistão também sofreu com o dilema de entender a ameaça devido à
negação de linhas de fraturas existentes que cresceram exponencialmente devido a
inúmeros desafios colocados através da Guerra Híbrida. No começo, a opinião
69
estava dividida entre o uso da força ou negociações com grupos radicais desafiando
a ordem judicial do estado. Havia até mesmo uma voz de “Combatendo a guerra a
mando dos EUA” e “trazendo a guerra para o Paquistão”. Também levou algum
tempo para entender a necessidade de apoio público local e a derrota da ideologia
dos terroristas. As forças armadas paquistanesas subestimaram a força de
terroristas e precisavam dos equipamentos e técnicas de combate apropriados para
combater a ameaça. A ambivalência entre as negociações e o uso de operações
cinéticas favoreceu os extremistas antes do início das operações. As forças armadas
levaram levou algum tempo para desenvolver a capacidade de realizar operações
eficazes baseadas na Inteligência, com o objetivo de buscar os vestígios das
finanças dos terroristas. O uso da força apropriada também permaneceu um desafio.
O desenvolvimento de leis necessárias para apoiar o governo que limita o
financiamento dos terroristas está sendo lento e ainda está em andamento.
3.4 EXPLORAÇÃO DA RELIGIÃO E ETNIA
Ao longo da história, as massas foram dominadas em nome da religião, etnia,
idioma, etc. Essa exploração se mostra extremamente produtiva na formação de
uma opinião que é facilmente aceita pelo povo. Ultimamente, certas facções
abusaram deste poder para atingir seus interesses e usaram a religião para enganar
o povo inocente. Essa vulnerabilidade é maior na religião do Islã, onde os
eruditos/acadêmicos autoproclamados fornecem interpretações erradas e a chamam
de "Jihad", que é totalmente incorreta.
Allie Kirchner, pesquisadora do Stimson Center, um centro de pesquisa em
Washington, comentou: “Terroristas exploram a palavra jihad para criar a falsa
impressão de que o texto do Alcorão apoia seus crimes violentos.” Ela acrescentou:
conceito estreito de jihad usado por terroristas, pela mídia dos EUA reforçou
inadvertidamente a ligação entre o terrorismo e o islamismo dentro da consciência
americana e contribuiu para a percepção negativa do Islã sustentada por uma
porcentagem crescente do público americano”.
A jihad tem muitos tipos que não se limitam apenas à guerra. Jihad também
significa uma luta espiritual interna que é a melhor de sua forma. Isso também
significa a luta para defender o Islã. A religião do Islã condena os assassinatos e
igualar à matança de toda a humanidade. Infelizmente, algumas pequenas facções
70
dissidentes, promovendo crenças erradas do Islã, principalmente em seus
interesses, são equiparadas a toda comunidade islâmica.
A extensão dessa exploração é encontrada em todos os níveis. Mesmo certos
partidos políticos, vergonhosamente, muitas vezes chamam seu movimento para
ganhar votos como Jihad. Segundo a opinião do autor, o pior é explorar a religião
para interesses pessoais. Esses chamados estudiosos e guardiões usaram a religião
tanto quanto lhes convinham, aceitando parte dela que é conveniente e denunciando
o resto da religião em nome da cultura e da tradição, que os impede de seus
interesses autocentrados.
Segundo Nielsen et al., (2015, p. 94) “A religião é uma ferramenta importante
para promover agendas contra o estado nos conflitos dos dias atuais e pode ser
usada para recrutar / doutrinar os membros em potencial para grupos de terroristas /
insurgentes”. A autoridade sobre a religião é deixada nas mãos de um "estudioso"
que pode não ter a educação religiosa exigida e que propõe uma certa crença
baseada em valores radicais que são contrários aos ensinamentos reais da religião.
Mesmo pessoas com boa educação são influenciadas por crenças erradas que
promovem a hostilidade em vez da coexistência pacífica.
3.5 FINANCIAMENTO DO TERROR
O financiamento terrorista refere-se às atividades e estratégias que são úteis
no processo de captação de recursos para as atividades terroristas. Pode ser de
várias fontes, por exemplo, assistência privada e lucros de empresas, arrecadação
de fundos de organizações de caridade, tráfico de drogas, contrabando de armas,
fraude, sequestro para resgate e extorsão. O principal objetivo do financiamento do
terrorismo é capacitar uma rede terrorista para intimidar uma população ou coagir
um governo a se envolver, matar, prejudicar, pôr em perigo ou causar danos
substanciais à propriedade; ou interferir seriamente em serviços e sistemas
essenciais.
Nesse contexto, quaisquer que sejam os motivos, propósitos ou objetivos de
uma organização ou grupo terrorista, como outras organizações militantes, eles
devem manter as habilidades necessárias, adquirir, transferir, acumular e
eventualmente utilizar os recursos financeiros necessários para cumprir os objetivos.
Grupos terroristas no sul da Ásia, como Al-Qaeda, TTP, Tigres da Libertação do
71
Tâmil Eelam (LTTE), Jammat-ul-Mujahideen Bangladesh (JMB) e grupos maoístas
na Índia, vieram de diferentes ideologias, mas geralmente suas técnicas de coletar
fundos e suas estratégias são mais ou menos semelhantes. Uma das formas mais
sofisticadas e eficazes, utilizadas por essas organizações é uma rede de
Organizações Não Governamentais (ONGs), que facilitam aos militantes gerar e
movimentar as finanças facilmente em qualquer parte do mundo através de um
canal sistemático.
Interessantemente, essas ONGs atuam como frentes efetivas e também
ajudam a ganhar legitimidade do movimento de fundos. Normalmente, esse
movimento deliberado de fundos ocorre de economias bem desenvolvidas e mais
reguladas para países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Nos países
muçulmanos, os governos frequentemente ignoram a regulamentação de instituições
de caridade e madrassas4 que incluem critérios de registro, procedimentos de
manutenção de registros, monitoramento de entradas e saídas financeiras e
sistemas de verificação de segurança. As organizações militantes aproveitam essa
situação. Nas sociedades muçulmanas em geral, a filantropia faz parte das
obrigações religiosas, as organizações extremistas geralmente se envolvem em
trabalhos de caridade e bem-estar e coletam valores, que são normalmente usados
para recrutamento, propaganda e operações terroristas.
3.6 DESAFIO DO USO DA FORÇA
O primeiro desafio na luta contra o terrorismo para forças de segurança são
as "Regras de Engajamento", uma vez que o uso desproporcional da força contra os
próprios cidadãos pode ter consequências negativas. Ações agressivas, com
demonstração de força estão chegando as áreas mais atingidas, diminuindo a ação
dos terroristas. Quando empregados, as forças armadas devem agir pro ativamente
para dominar a área, limitando assim a influência do terrorismo.
Na compreensão do tipo de desafio, é extremamente importante identificar o
tipo de resposta necessária que deve corresponder ao desafio. Segundo a doutrina
de guerra sub-convencional do Exército do Paquistão, (2013, p.22) “a aplicação de
instrumento militar dentro das fronteiras de um estado é uma decisão difícil e será
tomada como último recurso pela mais alta autoridade política”. No entanto, o uso da
4 Madrassa é um seminário religioso que ensina leitura, recitação e compreensão do Alcorão.
72
força deve ser limitado ao mínimo, e somente em autodefesa. Um erro de
julgamento no uso da força pode ter consequências de longo prazo. Segundo o
autor (2018):
A seleção da força, militar, paramilitar ou policial, na manutenção da lei e da ordem, deve ser cuidadosamente ponderada contra possíveis repercussões. Uma situação que poderia ser administrada apropriadamente pela polícia deve ser tratada por ela, empregar militares para lidar com tais situações só piorará o resultado.
O emprego de militares no trabalho policial deve ser cuidadosamente
ponderado devido às consequências. Ao mesmo tempo, o emprego de forças
armadas em ajuda do poder civil por um período prolongado deve ser
prudentemente analisado, uma vez que tais práticas levantam questões sobre a
eficiência das forças armadas e também encorajam os Terroristas contra a
dissuasão dos militares. Baseando-se na opinião do autor, o emprego militar na
manutenção da lei e da ordem deve ser restrito apenas ao papel de supervisão para
aumentar as capacidades da polícia e criar uma narrativa forte sobre o papel militar
como secundário em apoio à polícia, mesmo se o exército estiver no papel principal.
As forças da segurança devem operar no interesse maior do estado, seguindo
uma política que deve ser continuada por cada regimento / grupo. Um lapso de
qualquer elemento nessa busca não apenas atrasará o processo, mas poderá até
reverter os ganhos (MALIK, 2010). Os órgãos responsáveis pela aplicação da lei
devem apenas prometer o que poderia ser implementado por eles mesmos ou por
sua influência. Compromissos falsos perderão a confiança do público, que é o
principal componente para vencer essa luta. Ganhar uma opinião pública popular
não é fácil durante as operações, especialmente uma vez, se for perdido. Portanto,
as forças armadas devem esforçar-se para seguir os direitos humanos e respeitar a
cultura e os valores dos nativos.
Nielsen et al., (2015, p.81) apropriadamente trazem uma lição pertinente a
este respeito: A fim de manter a credibilidade aos olhos da população local, o grupo de batalha tem que operar de acordo com a estratégia abrangente sem mudar as prioridades […]. Isso precisa de uma Diretiva de Operações escrita centralmente, bem como um processo de transferência estruturado de um grupo de batalha para o outro, supervisionado pelo Comando do Exército para garantir que as lições aprendidas sejam implementadas. Se a estratégia mudar ao longo do tempo, os grupos de batalha devem investir tempo e esforço para explicar à população local por que uma mudança é necessária e como isso influenciará a população local.
73
3.7 AÇÕES REFORMADORAS PELO GOVERNO
O exército paquistanês é o instituto mais confiável do país. As pessoas se
orgulham de suas forças armadas por seus sacrifícios e honestidade em seu
trabalho. É natural que as pessoas desenvolvam expectativas nos militares quando
empregadas em contato próximo com a população local. Mas as forças armadas não
têm soluções rápidas e os recursos necessários para resolver as preocupações da
população local. Nem os militares poderiam trazer projetos de desenvolvimento e
atividades do dia a dia. Tais ações, requerem o pronto apoio de agências
governamentais para abordar preocupações da população local, que na maioria dos
casos não é realizada rapidamente. Como discutido anteriormente, os militares
devem tentar trazer projetos governamentais na área e buscar a confiança da
população local.
Qualquer abordagem ad hoc contra o terrorismo não teria os resultados
desejados. De acordo com Nielsen et al., (2015, p.130): […] O Exército [do Paquistão] desempenhou seu papel nos esforços de combate ao terrorismo para assegurar a estabilidade inicial e a paz, mas os esforços civis têm de desempenhar o maior papel. Além disso, os políticos têm a responsabilidade de fornecer e endossar uma estratégia de todo o governo com um estado final claro e compreensível. Mas isso é apenas metade da responsabilidade do instituto político. Ao mesmo tempo, o político deve assegurar-se de fornecer medidas de controle para garantir que as instituições governamentais no nível operacional estratégico (isto é, os ministérios) estão transformando o estado final em objetivos alcançáveis [...] antes de ser dado ao nível tático.
Neilsen et al., ainda ressaltam “Para manter a credibilidade, os esforços
militares e civis têm que trabalhar de acordo com uma estratégia abrangente sem
mudar o estado final, ajustando os meios para o desenvolvimento e os sucessos no
local”.
3.8 TERRORISTAS/GRUOPOS NÃO ESTATAIS
O termo não-estado, embora frequentemente citado, em eventos relacionados
ao terrorismo tem diferentes formas, de indivíduos a pequenos grupos ou
organizações que trabalham com sua própria motivação e outros com um motivo
definido e apoiado. Nesse contexto, é pertinente denominar atores como atores não
estatais violentos ou armados. Os atores não-estatais violentos incluem
organizações e indivíduos que não são afiliados, dirigidos ou financiados pelo
74
governo. Atores não estatais violentos incluem, mas não se limitam aos seguintes
grupos:
a) Atores Individuais: Pessoas que agem por conta própria para apoiar um
motivo, por exemplo, Tajiques, Usbeques, combatentes árabes no
Afeganistão em nome da religião;
b) Grupos de oposição rebelde: Grupos com uma incompatibilidade
declarada com o governo, por exemplo, Talibã, Al Qaeda, Jamat-ul-Ahrar,
Daesh etc.;
c) Grupos Radicais: Grupos que desafiam o governo e intervêm nos
assuntos de outros estados para apoiar um motivo ou uma atividade
terrorista. Esses grupos também impedem o processo de paz entre dois
estados a pedido de um terceiro país;
d) Milícias Locais: Grupos (étnicos, clãs ou de outro modo) em um país
específico, apoiadas externamente para desestabilizar o próprio país, por
exemplo, movimentos insurgentes;
e) Grupos Não Estatal: grupos que têm apoio cúmplice do estado para
sabotar o estado adversário; e
f) Mercenários: um grupo que age como um exército mercenário ou, por falta
de palavras melhores, uma empresa de segurança privada a pedido de
outro país para criar o caos e a anarquia ou para lutar contra outro grupo
não estatal, por exemplo, a “Blackwater”.
Nesse contexto, o Paquistão experimentou e ainda está enfrentando o desafio
de um ou mais dos grupos não-estatais citados acima. Vestígios de indivíduos
associados ao Movimento Islâmico do Turquestão Oriental (ETIM) e ao Movimento
Islâmico no Uzbequistão (IMU) foram encontrados nas áreas tribais ao longo da
fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão.
3.9 ADAPTAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS
Primeiramente, as forças armadas geralmente não estão configuradas para
combater uma guerra não convencional em termos de treinamento e equipamento. A
gravidade desse novo tipo de guerra em que o insurgente emprega meios cruéis
para destruir a vontade do povo e das forças armadas precisar treinamento
especializado completo. As forças armadas do Paquistão também enfrentaram
75
esses desafios para entender a dinâmica desse tipo de guerra. Mais importante
ainda, o emprego nas áreas urbanas exige contato próximo com os civis e contato
com a população local. Para tanto, faz-se necessário treinamento especializado para
lidar com civis, o que não é um trabalho rotineiro para militares.
Ademais, a adaptação das forças armadas de acordo com as circunstâncias,
área e terreno é complexa, pois cada área tem peculiaridades e diferentes tipos de
pessoas. Uma política ou técnica não serve para todas as situações. Isso implica
que os comandantes militares leiam a situação atual em detalhes e ajam de maneira
correspondente. Qualquer mentalidade rígida ou fixada não produziria os resultados
desejados. No entanto, a regra geral para enfrentar esses desafios é seguir os
procedimentos operacionais padrão (POP) desenvolvidos.
3.10 GESTÃO DA PERCEPÇÃO
O gestão de percepção é uma ferramenta vital da Guerra Híbrida. Uma vez
que uma percepção sobre um país ou região é estabelecida, outros a seguem sem
empreender qualquer esforço para validar e muito menos combatê-la. Nesse
sentido, a propaganda, como um instrumento da Guerra Híbrida, apresenta a
imagem negativa do país alvo projetando-o como “anárquico”, “indigente”,
“perigoso”, “falido” e até como “Estado Terrorista”. Além disso, a mídia continua
retratando antigos legados ou políticas. Frequentemente, os exemplos da guerra fria
ainda são usadas para projetar os sucessos e fracassos dos estados. O uso do soft
power molda a opinião internacional e suscita preocupações quanto à legitimidade
da governança. Nesta época de economias competitivas, o soft power traz respeito,
o que, por sua vez, convida ao investimento, desenvolvimento e crescimento
sociocultural, os quais melhoram a vida dos cidadãos comuns e sustentam a
estabilidade política do país.
O Paquistão, infelizmente, é vítima desta campanha maliciosa na Guerra
Híbrida imposta. As políticas do passado do Paquistão de apoiar os Mujahideen, que
eram em grande parte devido à influência dos EUA, ainda estão associadas a ele,
apesar do fato de que o Paquistão sofreu mais com isso, em termos de perdas
econômicas e vidas valiosas. De acordo com Korybko (2017, p.234): Muitas pessoas
no Ocidente mantêm a visão inexata de que o Paquistão está repleto de
fundamentalismo islâmico e, portanto, um foco perigoso de terrorismo. Eles
76
respaldam sua alegação enganosa confiando nos anos 80 e na assistência do país
aos Mujahedeen afegãos. Não se trata de racistas, destaques de Korbyko, e
islamofóbicos aqui, já que é improvável que seus pontos de vista mudem,
independentemente da evidência factual com a qual eles sejam apresentados, mas
indivíduos comuns bem-intencionados, empresários e funcionários do governo, que
foram levados extraviado pelos "falsos" ou exagerados "relatórios" da mídia sobre o
Paquistão.
3.11 RESTRIÇÕES DE RECURSOS
As forças militares paquistanesas percorreram um longo caminho, até o ponto
em que derrotaram os criminosos e terroristas através de grandes operações
envolvendo forças de tamanho de divisão em antigas áreas tribais. Eles aprenderam
a lutar contra a ameaça da militância e do terrorismo. O Paquistão tem, ao longo das
décadas, focado na guerra convencional e tradicional com um inimigo convencional,
principalmente devido a ameaças de suas fronteiras orientais. A guerra não
convencional não era seu forte inicialmente. Ele teve que reequipar e reorientar suas
forças armadas para enfrentar o adversário, mas com muito menos recursos do que
muitos países desenvolvidos. Ironicamente, o Paquistão foi um aliado fundamental
na Guerra ao Terror para o Ocidente, mas recebia constantemente pedidos de “Faça
mais” de seus pares internacionais, que desconsideravam as imensas restrições a
seus recursos financeiros, dada sua enorme população.
Dada a tarefa hercúlea enfrentada pelas forças armadas e agências de
inteligência do Paquistão, se considerarmos os gastos militares do país, o Paquistão
nunca entrou na lista dos 15 maiores gastos ou gastadores militares do mundo
durante quase a primeira década dos anos 2000. De fato, muitos países na lista das
15 mais, segundo estimativas do SIPRI, não estão enfrentando insurgências /
situações de lei e ordem em casa (por exemplo, Brasil, França, Itália, etc.), nem são
aliados ativos na Guerra Contra Terror, nem são países ricos (por exemplo, a Índia).
Outra ironia é que o custo de combater uma insurgência no Afeganistão foi
encontrado por muitos na Europa, apesar de serem compartilhados por mais de 27
países, juntamente com os EUA, mas o Paquistão sozinho teve que lidar com os
terroristas na luta contra o terrorismo. A afirmação “ajuda externa” para ajudar o
Paquistão a combater a guerra nunca foi proporcional à tarefa desempenhada ou
77
aos custos suportados por toda a sociedade paquistanesa. No entanto, os sacrifícios
feitos especificamente pelo Exército do Paquistão na execução dessas operações,
desde o início da Guerra Contra o Terrorismo, superam as baixas da OTAN / ISAF e
dos EUA combinados.
3.12 INTERAÇÃO DA MÍDIA COM GRUPOS TERRORISTAS
A mídia no Paquistão não desempenhou um papel positivo na luta contra o
terrorismo. Muitas vezes, representava a narrativa dos terroristas em vez do
governo. Em certa ocasião, no Paquistão, os reféns foram mortos por terroristas,
que por sua vez traumatizaram a família da vítima para sempre. A busca da mídia de
manter suas fontes e não fornecer as informações às forças de segurança leva
apenas à perda de vidas inestimáveis.
Ao estabelecer contato com pessoas culpadas de ações criminosas também
levanta uma questão legal: os jornalistas têm o direito de fazer contato com
terroristas sem avisar as forças de segurança, cuja missão é persegui-las e julgá-
las? A maioria dos jornalistas argumenta que não é tarefa da mídia ser informante
da polícia, mas o procedimento inegavelmente levanta sérias questões éticas.
Além disso, entrevistar terroristas, que é certamente indecente e fornece fama
indevida ao líder terrorista, também antagoniza as autoridades, que denunciam a
cumplicidade da mídia. Brigitte Nacos resumiu a situação nos seguintes termos:
Não faz diferença se um entrevistador é duro com o terrorista ou com seu simpatizante. O mero fato de o terrorista ser entrevistado por representantes respeitados da mídia e tratado "como alguém cuja contribuição para o debate público é digno de atenção" eleva a pessoa virtualmente ao nível de um político legítimo. (1994, p.66 apud MARTHOZ, 2017, p. 66)
Às vezes, na busca de uma melhor classificação, a mídia transmitia ao vivo
do local do incidente e até revelava a identidade das unidades participantes das
operações. Isso resultou em impedimento de operações de emergência e
segurança. Esta prática foi, no entanto, reduzida mais tarde, mas depois de algumas
perdas significativas.
78
4 A RESPOSTA E O MODELO DE ATUAÇÃO DO PAQUISTÃO
Este capítulo analisa experiências de operações de contraterrorismo obtidas
por oficiais paquistaneses do Comando do Exército, oficiais superiores, acadêmicos
e outros profissionais de contraterrorismo. Objetiva recolher as lições identificadas
com as operações contra terroristas paquistanesas no nível estratégico e como isso
influenciou as operações no nível tático. Uma das principais lições identificadas foi a
falta de uma narrativa estatal e uma uniformidade ou consenso sobre como abordar
os problemas mais gerais nas áreas de operações. O papel do governo em
responder às demandas locais, de forma que os atores não-estatais pudessem
explora-los não pode ser mais enfatizado. Segundo Griffith (1965), “existe uma
situação revolucionária protecionista em qualquer país onde o governo falha
consistentemente em sua obrigação de garantir pelo menos um padrão de vida
minimamente decente para a grande maioria de seus cidadãos”.
Existem duas abordagens para combater a insurgência, enumeradas por Nagl
(2005, p. 26).
a) Abordagem Direta: Usando a força máxima para abolir e destruir
totalmente todas as pessoas.
b) Abordagem Indireta: A abordagem indireta de derrotar uma insurgência é
construída a partir de uma melhor compreensão de Mao Tsé-Tung […].
Enquanto continua a atacar os elementos armados da insurgência, a
abordagem indireta reconhece que é essencial também atacar o apoio do
povo aos insurgentes.
A abordagem indireta de derrotar uma insurgência, concentrando-se em
afastar as pessoas dos insurgentes é bastante diferente da abordagem direta e, a
longo prazo, é geralmente mais eficaz. Uma vez que as unidades armadas, locais e
regulares, estão isoladas de suas fontes de suprimento, pessoal e, o mais
importante, de inteligência, elas são facilmente coagidas a se render ou serem
destruídas pelas forças de segurança com a ajuda da população local. Ganhar esse
apoio é fundamental em uma campanha de contra insurgência.
O sucesso nas operações não convencional depende da unidade de esforço
que incorpora as agências policiais dos estados que contribuem para reforçar a
legitimidade do governo, garantindo a estabilidade da segurança com a abordagem
79
centrada na população e ganhar os corações e mentes através de ações cívicas
(Figura 8) ou como Mao Tsé-Tung disse "separar o peixe da água".
Figura 8 – Unidade de esforço em operações subconvencionais
Fonte: o autor
4.1 ESFORÇOS DO PAQUISTÃO CONTRA O TERRORISMO DE 2001 ATÉ A
ATUALIDADE
Os esforços, contribuições e sacrifícios do Paquistão na luta contra o
terrorismo são imensos e incomparáveis.
Nenhum outro país fez mais que o Paquistão para combater a ameaça do terrorismo. Nenhum país do mundo sofreu mais do que o Paquistão com o terrorismo, muitas vezes perpetrado fora de nossas fronteiras. (Paquistão, Ministério das Relações Exteriores, 2017).
Nesta luta, o Paquistão foi a principal vítima do terrorismo. O Paquistão
perdeu, em termos de vidas valiosas e economia, mais do que qualquer outro país
sem mencionar as perdas combinadas das forças de coalizão. A nação
paquistanesa, no entanto, manteve-se firme contra todos esses desafios e provou
sua resiliência ao derrotar a ameaça do terrorismo em grande parte com seus
próprios recursos.
80
Gráfico 1 - Comparação de baixas entre Forças Armadas do Paquistão e de
Forças de Coalização
Fonte: http://icasualties.org/oef/ [acessado em 23 jul 2018] (*Confirmado de Tenente Coronel Fernando Olalde Altamira, Espanha, Aluno de curso de comando e estado-maior 2018, ECEME) http://www.satp.org/satporgtp/countries/pakistan/database/casualties.htm [acessado em 29 de julho de 2018]
O Paquistão tem estado na linha de frente na luta contra o terrorismo desde o
11 de setembro, as Forças Armadas do Paquistão desempenharam um papel
fundamental na prisão da liderança e dos agentes da Al Qaeda, que escaparam do
Afeganistão no final de 2001 (Quadro 8).
Quadro 8 – Liderança da al Qaeda apreendidas pela Paquistão
Ser Nome Nacionalidade Ano
1 Abu Zubaidah Arábia Saudita mar 2002
2 Ramzi Binalshabi Iémen set 2002
3 Khalid Sheikh Muhammad Kuwait mar 2003
4 Yassir Al-Jaziri Argélia, Marrocos mar 2003
5 Walid bin Attis desconhecido abr 2003
6 Ahmed Khalfan Ghailani Tanzânia jul 2004
8 Abu Faraj al-Libi Líbya mai 2005 Fonte: https://www.thenews.com.pk/archive/print/298864-top-al-qaeda-leaders-captured-or-killed-on-pakistani-soil. [acessado em 23 de set de 2018]
81
Posteriormente, lançou 12 grandes ofensivas (Figura 9) de combate ao
terrorismo para retomar as áreas tribais e rurais da Al Qaeda, Taleban e Haqqani
(Mapa 3)—da Operação Al-Mizan em 2002 à Operação Zarb-e-Azb em 2014. Outra
ofensiva chamada Operação Radd-ul-Fassad, que significa a eliminação da
discórdia está atualmente em andamento para tirar centros urbanos de elementos
terroristas, que podem ter fugido durante operações anteriores para se esconder na
expansão das principais cidades do Paquistão.
Figura 9 - Linha do tempo das operações militares realizadas pelas Forças Armadas
do Paquistão
Fonte: o autor.
Mapa 3 - Operações militares desde 2001
Fonte: Factsheet on Pakistan’s Counter terrorism efforts (2017).
82
Os ganhos alcançados durante estas operações foram consolidados e
multiplicados pela implementação do Plano de Ação Nacional (National Action Plan),
uma estratégia multidimensional desenvolvida pelo governo do Paquistão em 2015
para derrotar o terrorismo. O NAP vai além do contraterrorismo e das medidas de
aplicação da lei. Tenta abordar as questões estruturais e de governança que
permitiram que a narrativa terrorista se sustentasse no passado como, por exemplo,
regulando os currículos das madrassas (seminários religiosos), controlando o
discurso de ódio e integrando as áreas tribais administradas pelo governo federal
(FATA). Como resultado destes esforços, as áreas tribais do Paquistão estão agora
livres de militantes. O governo do Paquistão fundiu as Áreas Tribais administradas
pelo governo (FATA) com a província de Khyber Pakhtunkhwa em 28 de maio de
2018.
Enquanto isso, o centro de atividade da militância na região mudou da área
fronteiriça Paquistão-Afeganistão para dentro dos vastos espaços sem governo do
Afeganistão, que, segundo o relatório do Inspetor-Geral de Reconstrução do
Afeganistão (30 jul 2018, p.71), representa 41.5% do território afegão. É importante
ressaltar que as mortes civis e militares no Paquistão serem diminuindo a cada ano
desde o pico em 2012-13 (Gráfico 2).
Gráfico 2 – Declínio nas baixas desde 2012
Fonte: http://www.satp.org/satporgtp/countries/pakistan/database/casualties.htm [acessado em 29 de julho de 2018]
Este sucesso não foi atingido com facilidade. O Paquistão pagou um preço
enorme em vidas e recursos para expulsar os militantes de seu território. Segundo o
83
Portal do Terrorismo do Sul da Ásia (25 de junho de 2018), mais de 21.000
paquistaneses perderam suas vidas com mais de 6.980 integrantes das forças de
segurança fazendo o último sacrifício para livrar seu país da ameaça do terrorismo.
As forças armadas e policiais lutaram contra essa guerra com o conhecimento de
que estavam colocando não apenas próprios vidas em risco, mas também as de
seus amigos e familiares. Eles foram tragicamente lembrados disso quando
terroristas baseados no Afeganistão atacaram a Escola Pública do Exército em
Peshawar em 2014. Nesse ataque, 132 crianças—a maioria deles filhos e filhas das
tropas do Exército do Paquistão lutando contra os terroristas —foram mortas.
O Paquistão continua recebendo ataques de grupos terroristas e militantes
que se mudaram para o Afeganistão. Para combater esses ataques e interditar o
movimento ilegal, o Paquistão está implementando medidas de controle de fronteira
mais rigorosas, incluindo barreira na longa e porosa fronteira Paquistão-Afeganistão
(Foto 1). Este é um empreendimento monumental, mas necessário. O Paquistão
está ganhando sua guerra contra o terrorismo, graças ao sacrifício supremo do povo
do Paquistão e à firme resolução de nossas forças de segurança.
Foto 1 – Barreira ao longo da fronteira Paquistão-Afeganistão
Fonte: Uma vista da cerca de fronteira fora do posto avançado de Kitton na fronteira com o Afeganistão no Waziristão do Norte. Oct 18, 2017. REUTERS/Caren Firouz. Disponível em:<https://www.voanews.com/a/pakistan-builds-afghan-border-fence/4077234.html> [acessado em 30 set 2018]
84
4.2 REFORMA DAS FORÇAS ARMADAS
Lutar contra a militância implica treinamento especializado, equipamento e,
mais importante, uma abordagem abrangente por setores relevantes do governo, do
nível estratégico ao nível tático, seguindo uma política singular para alcançar o
objetivo comum de derrotar a militância. As reformas requeridas tanto no domínio
cognitivo como físico, são mais difíceis de implementar do que o previsto, devido a
múltiplos motivos como principalmente a falta de recursos, falta de treinamento
apropriado, consenso em nível nacional, etc. As Forças Armadas do Paquistão
enfrentaram imensos desafios no início, pois combateram em situações
extremamente intensas relacionadas ao terrorismo, como a defesa contra os
dispositivos explosivos improvisados e os atentados suicidas. No entanto, com o
passar do tempo, as Forças Armadas do Paquistão desenvolveram procedimentos
operacionais padrão, doutrina e adquiriram adequados equipamentos que provaram
ser uma ferramenta poderosa contra uma vasta gama de desafios.
4.2.1 Treinamento Contraterrorismo e Contra Insurgência
O Exército do Paquistão desenvolveu uma abrangente metodologia de
treinamento contraterrorismo e operações não convencionais. Este treinamento foi
introduzido em todas as instituições de treinamento militar e Escolas de Batalha
Divisional. Uma determinada parte de todos os cursos militares inclui treinamento de
operações não convencionais. Além disso, cursos especiais de contraterrorismo são
realizados em ciclos de treinamento e competições são realizadas continuamente
nas Divisões. O treinamento contra o terrorismo inclui uma vasta gama de tópicos,
desde operações militares até informações e operações psicológicas. Esses
métodos de combate ao terrorismo testados pelo tempo estão sendo tomados como
lições aprendidas pelos exércitos contemporâneos (NIELSON et.al, 2015).
As Forças Armadas do Paquistão desenvolveram modernos complexos de
treinamento contra o terrorismo, onde as forças praticam e aprendem os vários
métodos de contrapor-se à ameaça. Cada unidade destinada à área de operações
passa por um treinamento rigoroso que é avaliado por uma equipe designada pelo
comando do Exército. Além disso, essas instalações modernas também são usadas
para treinamento conjunto com países amigos (Foto 2,3), onde a experiência para
combater o terrorismo é compartilhada e as técnicas são ensaiadas.
85
Foto 2,3 - Exercício conjunto de contraterrorismo com Nações amigas
Fonte : Esquerda; Cerimónia de Abertura do Exercício Amizade Russo-Paquistanesa 2017. Disponível em:< http://eng.mil.ru/en/multimedia/photo/gallery.htm?id=45517@cmsPhotoGallery>. Acesso em: 30 de set 2018. Direita: Exercício de treinamento conjunto entre a China e o Paquistão, 2016. Disponível em: <https://www.dawn.com/news/1301412>. Acesso em: 23 de set 2018. 4.2.2 Doutrina Contra o Terrorismo: “Sub Conventional Warfare Doctrine”
Doutrina de Guerra Subconvencional do Exército do Paquistão (2013) define
SCW como:
A guerra subconvencional é um conflito entre os atores e instrumentos não estatais, subestatais ou extra-estatais do estado, envolvendo o uso ou a ameaça de uso da força. Muitas vezes, a ameaça subconvencional, depois que o Estado não conseguiu contê-la através de sua máquina de cumprimento de lei civil, tem a propensão de gradualmente transcender a um nível em que o envolvimento das forças armadas é necessário. O emprego cinético ou não-cinético das forças armadas no ambiente SCW [...] visam recuperar um estado de 'normalidade' para que a autoridade civil possa reafirmar-se na fase pós-conflito. (2013, p.1)
A doutrina subconvencional (2013) do Exército do Paquistão é baseada nos
preceitos de "Varrer, manter, construir e transferir". As competências essenciais do
Exército do Paquistão incluem exercícios e mecânicos envolvidos em combate em
áreas edificadas, avaliar e vigilância de rotas e locais, capacidade de uso de armas,
operações de busca e cerco, capacidades de caçador, aquisição de inteligência e
tratamento das informações. A doutrina de operações subconvencionais pretende
fornecer diretrizes abrangentes a todos os componentes do Exército para
empreender operações contrárias ao terrorismo.
A doutrina supracitada, em sua nota introdutória, destaca que os conflitos
subconvencionais, mesmo os mais localizados, são muito mais complexos e têm
implicações pós-conflito muito maiores do que a violência convencional de "estado
86
contra estado". Dada esta característica básica, uma vez que ocorre um conflito
subconvencional, não há, invariavelmente, uma solução rápida para lidar com isso
de maneira decisiva. Qualquer esforço significativo para resolver ou administrar o
conflito é, invariavelmente, de longo prazo, envolve uma resposta civil-militar de
múltiplas agências apoiada por manobras sócio-políticas e político-econômicas. A
mídia assume um papel crucial e muitas vezes decisivo na formação de percepções
e opiniões do público doméstico e internacional.
A Doutrina Sub-convencional de Guerra do Exército do Paquistão (2013) aprofunda os seguintes aspectos:
a) aspectos conceituais da guerra subconvencional;
b) ambiente e desafios;
c) diretrizes para a condução de operações subconvencionais;
d) papel dos componentes de apoio, Força Aérea e Marinha;
e) cooperação civil-militar; e
f) diretrizes para o desenvolvimento de força e regime de treinamento.
A doutrina da guerra subconvencional recomenda a aplicação do instrumento
militar como último recurso. É altamente importante conceber um estado final
desejado devido à sua natureza e caráter prolongados.
A campanha deve ter um estado final com os cronogramas desejados. Estado final militar implica a criação de condições que sejam favorável à realização de objetivos políticos, que é a restauração da normalidade, através do acordo negociado / resolução do conflito. O emprego do Exército deve ser por um tempo específico, um programa faseado deve ser marcado onde a administração civil assume como a principal agência para uma paz duradoura e estabilidade no cenário pós-operações. (2013, p.32).
4.2.3 Melhoria de Capacidade
Aumentar a capacidade em termos de criar novos unidades necessárias das
forças armadas, especialmente as forças paramilitares, foi um passo importante para
combater o terrorismo. Não apenas as novas formações foram criadas, mas as
forças paramilitares mantidas nas fronteiras ocidentais foram integradas com as
forças armadas regulares para aumentar sua eficiência de combate. Operações
combinadas e grupos integrados assim criados contra-atacaram o terrorismo. Essas
combinações se mostraram úteis, pois aumentaram o nível de confiança das forças
paramilitares e forneceram forças regulares com poder capaz de administrar áreas
87
extensas. Inicialmente, o ônus das operações era assumido apenas pelos Batalhões
de Infantaria, mas devido a extensos e repetidos empregos, essa responsabilidade
era compartilhada por outras armas, como os Regimentos de Cavalaria e Artilharia
em operações menos intensivas.
O Exército do Paquistão também empregou seus oficiais junto às forças
paramilitares. Essa medida também se mostrou útil para aumentar a confiança das
forças militares que operam contra a insurgência.
4.2.4 Aprimoramento de Equipamentos
Combater o terrorismo exigir equipamento especializado que é diferente de
combater a guerra convencional. As Forças Armadas do Paquistão atualizaram as
perspectivas, quase completas, do soldado convencional que foi antigamente
treinado para lutar uma batalha de trincheiras. Medidas extensas foram tomadas
para melhorar o equipamento dos soldados para lutar em recintos fechados de
maneira mais eficiente. O aprimoramento em equipamentos inclui o fornecimento de
armas de combate de curta distância, proteção corporal, capacetes balísticos leve,
coletes de combate, equipamentos de comunicação aprimorados e duráveis, visores
noturnos, morteiros de curto e longo alcance e caçadores. Os militares também
receberam pistolas de melhor qualidade como arma secundária.
4.2.5 Compartilhamento de Experiências
Durante a luta para combater o terrorismo, um lição importante aprendida
pelas forças armadas foi o compartilhamento de experiências de combate. Embora
cada zona de combate seja única e tenha suas peculiaridades próprias que não
poderiam se adequar a todas as situações, as experiências compartilhadas pelas
forças terrestres forneceram lições úteis para evitar situações críticas. Inicialmente,
oficiais e soldados das áreas de combate compartilharam suas experiências através
de apresentações em escolas de instruções e nas divisões. Posteriormente, foi
definido um procedimento em que todas as unidades, ao retornarem da área de
operações, compartilharam suas experiências com as formações das quais faziam
parte. Agora, apresentações especiais e palestras sobre experiências são realizadas
para treinamento de unidades destinadas a operações. Além disso, oficiais e
88
soldados fazendo diversos cursos compartilham suas experiências com seus
colegas como parte do currículo do curso.
Estas experiências variaram em sua natureza, da política aos níveis
estratégico e tático. As experiências aprendidas, em diferentes níveis, desde os
componentes do equipamento pessoal dos soldados até a tomada de decisões por
parte do estado-maior e comandantes, ajudaram a desenvolver procedimentos
operacionais padrão (POP) inestimáveis, que acabaram ajudando a alcançar
sucessos e prevenir baixas. As estatísticas mostraram que aquelas unidades que
realmente seguiram os ditos POP tiveram melhor desempenho nas operações do
que aquelas que os negligenciaram. Na maioria dos casos de perdas, observou-se
que os POP não foram observados em certo nível. No contexto de aprender com a
experiência, alguns livros úteis foram produzidos por oficiais militares e analistas.
Dois livros de um oficial militar paquistanês, agora General de Divisão, Fida Hussain
Malik são bastante valiosos; “Hounding the shadwos of Terror (2011)” e “Waziristan;
The simmering backyard (2012) ”. Outro recurso útil, “Counter Insurgency and
Counter Terrorism: Sharing Experiences in Afghanistan and Pakistan (2015), pelo
National Defense College, Paquistão e Royal Danish Defense College, apresenta
lições valiosas em níveis estratégicos. 4.3 OPERAÇÕES BASEADAS EM INTELIGÊNCIA
A importância das operações baseadas em inteligência no combate ao
terrorismo pode ser melhor destacada pela resposta a uma das perguntas
formuladas por Alex P. Schmid, et al., no “Routledge Handbook of Terrorism
Research”. Em seu questionário, eles pediram a especialistas, incluindo generais
militares e proeminentes analistas políticos, uma série de perguntas sobre como
combater o terrorismo. A primeira dessas questões foi "Quais são, na sua opinião,
as contramedidas mais eficazes contra o terrorismo internacional?" Alguns dos
entrevistados forneceram mais de uma resposta. A seguir estão as dez
contramedidas mais citadas, em ordem decrescente de eficácia percebida, com o
número de especialistas mencionando cada medida entre parênteses (2011, p.31):
a) Inteligência (47);
b) compartilhamento de informações interagências e internacionais e ação
cooperativa (44);
89
c) cortando muitas das fontes de financiamento dos terroristas (24);
d) uma política externa prudente (16);
e) consenso internacional sobre a definição e o alcance do terrorismo (13);
f) limitando o crescimento da ideologia terrorista através da propaganda […]
(11);
g) educar o público sobre o que fazer se um ataque é suspeito […] (10);
h) prestação de assistência antiterrorista a países sem experiência (10);
i) cooperação militar (9); e
j) melhorada fronteira, aeroporto e segurança marítima (8).
Dessa lista, fica claro que o único elemento considerado dominante para o
combate ao terrorismo é "inteligência", seguido pela categoria relacionada de
"compartilhamento de informações interagências e internacionais e ação
cooperativa". Até mesmo o terceiro item, relacionado ao financiamento de terroristas,
tem um forte componente de inteligência.
As Forças Armadas do Paquistão lançaram em fevereiro de 2017 a Operação
Radd-ul-Fassad, baseada de inteligência que estão sendo realizadas em todo o país
para eliminar os terroristas dos centros urbanos que podem ter fugido da área de
operações. De acordo com o diretor geral “Inter-services public relations” do Exército
do Paquistão (março de 2018); “23.380 Operações Baseadas em Inteligência foram
realizadas, nas quais 23.964 armas foram recuperadas e 7.758 postos de inspeção
foram instalados”. As forças armadas também desenvolveram um mecanismo para
melhorar a coordenação com outras agências de inteligência. As bem-sucedidas
operações baseadas em inteligência reduziram significativamente o número de
incidentes terroristas e neutralizaram as redes latentes de terrorismo.
4.4 CONQUISTAR O CORAÇÃO E A MENTE
O aspecto de conquistar os corações e mentes trabalha nas funções de
“Separar o peixe da água”, ou seja, isolar o insurgente da população local. Isso é
crítico para derrotar qualquer insurgência, já que os insurgentes prosperam com o
apoio da população local. “Para derrotar uma insurgência, você precisa saber quem
são os insurgentes - e para descobrir isso, você precisa conquistar e manter o apoio
do povo” (Nagl, 2005). No entanto, essa tarefa de conquistar e manter o apoio da
população é muito mais complexa do que a mera declaração dada acima. Para fazer
90
incursões na população local não é fácil, devido a muitas razões. Os habitantes
locais podem não apoiar os insurgentes, mas não ajudam as forças de segurança a
identificar os insurgentes. Uma das razões plausíveis é que os moradores locais
sabem que as agências de segurança acabarão por sair e não querem criar
animosidade com os insurgentes. Outra razão é que eles simplesmente não apoiam
a causa das agências de segurança, já que a presença deles na área causou
desconforto suficiente para eles em termos de postos de controle, interrogatório, etc.
O Exército do Paquistão também enfrentou esses desafios de ganhar apoio
da população local devido às razões mencionadas acima. As forças armadas, no
entanto, aprenderam a utilidade da abordagem inclusiva, baseada em projetos
sólidos e viáveis, que faziam diferença na vida dos moradores locais. No entanto, as
forças de segurança usaram influência limitada na administração política para lidar
com as queixas dos moradores locais.
4.5 REFORMAS NO NÍVEL DO GOVERNO
4.5.1 Plano de Ação Nacional
O Plano de Ação Nacional é um plano detalhado e multifacetado
desenvolvido em janeiro de 2015 pelo governo do Paquistão, com o apoio de todos
os partidos políticos do Paquistão, para reprimir o terrorismo. O Governo do
Paquistão implementou vigorosamente o Plano Nacional de Ação de 20 pontos. É
creditado com o declínio acentuado em incidentes terroristas desde que entrou em
vigor. O plano, mencionado acima, inclui o seguinte:
a) ponto 1. Execução de Terroristas Condenados;
b) ponto 2. Estabelecimento de tribunais especiais de julgamento;
c) ponto 3. Assegurar que nenhuma Milícia Armada está autorizada a
funcionar;
d) ponto 4. Fortalecimento da “National Counter terrorismo authority;
e) ponto 5. Combater o discurso de ódio e material extremista;
f) ponto 6. Bloquear financiamento para terroristas e organizações
terroristas;
g) Ponto 7. Garantir o ressurgimento de organizações proibidas;
h) Ponto 8. Estabelecer e mobilizar uma força de combate ao terrorismo;
91
i) Ponto 9. Adotar medidas efetivas contra a perseguição religiosa;
j) Ponto 10. Regulação dos Seminários Religiosos (Madrassahs);
k) Ponto 11. Proibição da glorificação do terrorismo e das organizações
terroristas;
l) Ponto 12. Reformas em áreas tribais anteriormente administradas pelo
governo federal;
m) Ponto 13. Desmantelamento de Redes de Comunicação de Organizações
Terroristas;
n) Ponto 14. Medidas contra o abuso da Internet e das mídias sociais;
o) Ponto 15. Tolerância zero para a militância no Punjab;
p) Ponto 16. Levar a operação de Karachi à sua conclusão lógica;
q) Ponto 17. Reconciliação do Baluchistão;
r) Ponto 18. Lidar firmemente com o sectarismo;
s) Ponto 19. Política para lidar com a questão dos refugiados afegãos; e
t) Ponto 20. Revitalizar e reformar o sistema de justiça criminal.
4.5.2 Mensagem do Paquistão (Paigam-e-Pakistan) Decreto
O “Paigham-e-Paquistão”, que significa a Mensagem do Paquistão, é um
decreto “Fatwa”5 dado pelo Governo da República Islâmica do Paquistão, na forma
de um documento legalizado à luz da Constituição, para denunciar atos de violência
que tem acontecido no “nome da religião”. É endossado por 1829 eruditos religiosos
pertencentes a todas as escolas de pensamento e seitas religiosas no país sendo
ratificado por proeminentes estudiosos religiosos de outros países muçulmanos. Ele
recomenda uma base forte para a estabilidade de uma sociedade islâmica
moderada, ao mesmo tempo em que nega a narrativa extremista.
O documento é preparado de acordo com as injunções do "Alcorão Sagrado",
da "Sunnah”6 do Profeta e da Constituição do Paquistão e reflete o pensamento
coletivo do Estado do Paquistão. O documento mostrou-se extremamente benéfico
para desenvolver um consenso na sociedade para propagar valores fundamentais
de tolerância, espiritualidade, justiça, igualdade e equilíbrio no cumprimento de
direitos e obrigações. O documento, de fato, esclarece a interpretação errônea dos
5 Fatwa é uma decisão sobre um ponto da lei islâmica dada por uma autoridade reconhecida. 6 Sunnah / Seerah é o modo de viver do Profeta Muhammad (que a paz esteja com ele)
92
autoproclamados "estudiosos religiosos", que estão usando a religião por interesse e
apenas o que lhes convém.
De acordo com o documento “Paigam-e-Pakistan” (2018, p. 15), o Islã ensina
que mesmo que você tenha a capacidade de se vingar, deve perdoar e ser bom com
os outros, pois é preferível o comando do Alcorão Sagrado:
A recompensa por uma lesão é uma lesão igual a ela (em grau): mas
se uma pessoa perdoa e faz a reconciliação, sua recompensa é devida a Allah: pois (Allah) não ama aqueles que cometem erros.
(Alcorão 42:40) (tradução nossa)
Está provado através dos ensinamentos religiosos que a lição fundamental do
Islã é a proteção da dignidade humana e a preservação da vida humana. É afirma
que quem mata uma alma é como se ele tivesse matado toda a humanidade
inteiramente. Matar um ser humano é um pecado grave, como foi dito por Allah, o
Todo-Poderoso no Sagrado Alcorão (5:32). O documento também esclarece os
conceitos mal interpretados de 'Jihad' e 'Shariah', afirma claramente que travar uma
guerra 'em nome da jihad' sem o consentimento do estado é contrário ao ensino do
Islã e 'ninguém tem o direito de fazer luta armada contra o estado para impor Sharia
(p. 29, 49, 66, 67).
Os estudiosos muçulmanos concordam que atacar cidadãos
inocentes através de atos terroristas é estritamente contra o ensino do Islã. Eminentes estudiosos também são da opinião
de que matar não-muçulmanos "em nome da religião" é um
pecado de maior grau, portanto estritamente proibido (2018,
Paigam-e-Pakistan, p. 30, 2018).
O documento, Paigam-e-Pakistan, também denuncia estritamente o "Suicide
bombing" e afirma que o suicídio é proibido "HARAM" no Islã (p. 31, 43, 57, 58, 66).
O terrorismo e os ataques suicidas não têm lugar na história islâmica: “E não façam
com que as tuas mãos contribuam para a (tua) destruição; mas faça o bem; porque
Deus amou os que fazem o bem” (Alcorão 2: 195). Outro aspecto crítico é descrito
em detalhes no documento, que condena a degradação de seitas religiosas,
principalmente xiitas e sunitas, por um e outro (pg. 31, 60, 66). O Alcorão Sagrado
menciona claramente que aqueles que criam o sectarismo não são da comunidade
93
do Profeta (que a paz esteja com ele); “Quanto àqueles que dividem sua religião e
se dividem em seitas, você não tem parte neles no arrendamento” (Alcorão 6: 159).
4.5.3 As ações do Paquistão contra o financiamento antiterrorismo no âmbito do combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo
Desde 2010, o Paquistão realizou várias medidas legais, regulamentares e de
cumprimento de lei para resolver algumas deficiências no seu regime de combate à
lavagem de dinheiro / Combate ao financiamento do terrorismo identificado pelo
Grupo de Ação Financeira (FATF). O governo do Paquistão está cumprindo o
procedimento e as recomendações oferecidas pelo FATF para combater a lavagem
de dinheiro e o financiamento do terrorismo. Em junho de 2018, a “Securities and
Exchange Commission of Pakistan (SECP)”, a autoridade financeira nacional,
introduziu novos regulamentos para entupir o financiamento do terrorismo e a
lavagem de dinheiro para cumprir as diretrizes do FATF.
4.5.4 Fundir-se da FATA com Khyber Pakhtunkhwa
A tão esperado união das áreas tribais administradas pelo governo federal
com a província adjacente de "Khyber Pakhtunkhawa, no noroeste do Paquistão, foi
finalmente realizado em 24 de maio de 2018. Este passo, crucial para a eliminação
do Terrorismo, substitui o regime legal da era colonial, "Frontier Crime Regulation"
de 1901 e amplia a jurisdição da lei como sendo seguida pelo resto do país. A
extensão da ordem judicial paquistanesa para a FATA contribui para a pacificação
da área. A presença da governança local agora se esforça para amenizar as queixas
dos moradores locais e assegura que os militantes permaneçam isolados e que sua
capacidade de penetrar na região seja constantemente desafiada.
4.5.5 Tribunais Militares
Após os horríveis ataques terroristas à Escola Pública do Exército, em 2014,
que mataram 132 crianças inocentes, o governo do Paquistão decidiu
unilateralmente adotar uma posição dura contra os terroristas. Os militares
estenderam seu apoio ao judiciário para acelerar os casos de terrorismo que
enfrentavam atrasos devido a ameaças aos juízes e suas famílias. Um tribunal
militar especial foi legalmente estabelecido sob a vigésima primeira emenda
94
constitucional (2015) e o ato do Exército do Paquistão 2015 (prorrogação em 2017
através de diretório oficial do Paquistão abril 3, 2017). Os tribunais militares
estabelecidos também fazem parte do Plano de Ação Nacional do Paquistão na
estratégia geral de combate ao terrorismo. Os tribunais militares desempenharam
um papel extremamente importante em um momento crucial para ganhos nacionais
significativos e tangíveis.
4.6 SEGURANÇA DAS ARMAS NUCLEARES APRECIADAS PELA AGÊNCIA
INTERNACIONAL DE ENERGIA ATÔMICA
Um dos desafios na luta contra o terrorismo foi a crítica indevida de certos
setores hostis sobre a segurança das armas nucleares do Paquistão. O Paquistão
mantém um mínimo de dissuasão crível e tem sido um Estado nuclear responsável
desde 1998. A segurança de seus padrões nucleares foi elogiada pela Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA). O diretor-geral Yukiya Amano, da AIEA,
“elogiou os esforços do Paquistão durante a sua visita no Paquistão de 12 a 14 de
março de 2018 para aumentar a segurança e a segurança nuclear, enquanto o país
trabalha para triplicar sua capacidade nuclear” (2018). O Sr. Amano expressou seu
agradecimento pela cooperação do Paquistão com a AIEA e sua contribuição ativa
para os esforços da Agência para desenvolver capacidade em outros países da
região, fornecendo especialistas e promovendo cursos de treinamento.
Amano, falando com um seminário em Karachi, disse: “Seu país [o Paquistão]
é um usuário experiente de tecnologia nuclear pacífica”. “Em todo lugar [eu fui] ficou
claro que [Paquistão] tem conhecimento e um grupo de pessoas que são dedicados
a fazer este trabalho”. Durante sua visita à nova construção de usina nuclear, ele
disse: “Você [o Paquistão] está tomando muito cuidado com a segurança das
plantas”. (AIEA, 2018).
95
5 CONCLUÇÕES E RECOMENDAÇÕES
Desafios futuros de conflitos provavelmente acarretarão uma distinção cada
vez mais vaga entre as operações convencionais e sub-convencionais, regulares e
irregulares e contraguerrilha e contra insurgência. Na verdade, essas formas se
fundirão em uma, criando assim uma forma híbrida de guerra que aproveita as
partes mais eficazes das operações convencionais e subversivas. O poder de
combate na guerra híbrida consiste em mais do que apenas tanques, artilharia,
infantaria, aviões, navios e outras armas que uma força militar possui. Inteligência,
assuntos civis, operações psicológicas e capacidades civis interagências são
necessárias para combater as guerras híbridas.
Liderança política e militar eficaz é essencial para a vitória na guerra híbrida.
Líderes políticos estabelecem objetivos nacionais, trabalham para fortalecer a
vontade nacional e constroem e mantêm coalizões internacionais intactas para
compartilhar os recursos. Eles desenvolvem e explicam a narrativa estratégica que
mantém o apoio popular ao esforço de guerra. Acima de tudo, eles devem entender
a natureza do seu oponente, bem como a extensão do compromisso necessário
para vencer a guerra. Os líderes militares devem ajustar a doutrina existente
segundo o tipo de guerra em que suas forças se engajam, bem como para combater
as forças inimigas e explorar as fraquezas do inimigo. Os líderes seniores devem
criar conceitos operacionais viáveis que vinculem a estratégia às ações táticas. Os
líderes de todos os níveis devem reunir lições aprendidas das operações militares
em andamento e alterar a doutrina, os conceitos operacionais e a estratégia para
enfrentar desafios e oportunidades inesperados. Em suma, a liderança é importante.
5.1 LIÇÕES APRENDIDAS
Baseando-se na experiência na luta contra o terrorismo e estudo de múltiplos
recursos contra o terrorismo, o autor propõe a seguinte modelo para enfrentar os
desafios do terrorismo. As sugestões subsequentes, sucintas e sem adornos, sem
discutir explicitamente o tema subjacente, são classificadas declarativamente em
níveis Político, Operacional e Tático (autor, 2018):
5.1.1 Nível Político
a) reconhecer linhas de fraturas existentes;
96
b) rastrear e cortar as finanças da insurgência/terrorismo;
c) construir o consenso / opinião pública;
d) construir uma narrativa internacional favorável;
e) buscar o apoio do público local, obtido apenas por meio de uma
abordagem sincera;
f) esforçar-se por resolver questões através de operações não cinéticas;
g) executar ações paralelas e imediatos pelo mecanismo do governo para
lidar com as queixas reais da população local; e
h) empregar forças armadas apenas como último recurso.
5.1.2 Nível Operacional
a) elaborar e seguir estratégias de longo prazo em vez de reações
impensadas;
b) estimar as capacidades do adversário e não subestime ele;
c) avaliar a intensidade do conflito;
d) evitar cair na falácia de seguir uma solução para todas as situações;
e) evoluir capacidades para combater a ameaça;
f) assegurar reforços prontamente disponíveis para as operações cinéticas
planejadas;
g) evitar a tendência de desacreditar o adversário;
h) realizar efetivos operações baseadas em inteligência; e
i) definir um cronograma para transformar as operações das forças armadas
para policiais.
5.1.3 Nível Tático
a) Use a força apropriadamente, a força excessiva é, quase sempre,
contraproducente;
b) evitar a discriminação ou favoritismo que cria um sentimento de
insegurança entre os habitantes locais;
c) trabalhar para alcançar os objetivos da estratégia global;
d) os comandantes locais devem estabelecer influência suficiente para
amenizar qualquer reação violenta causada por incidente desfavorável de
violação dos direitos humanos;
97
e) continuar a treinar soldados para assegurar uma prontidão efetiva no
combate;
f) assegurar que postos ou grupos operando contra insurgentes sejam
mutuamente apoiados;
g) seguir os procedimentos operacionais padrão propriamente;
h) garantir o plano alternativo, pois os grupos terroristas sempre têm um;
i) garantir estar vigilante o tempo todo, os grupos terroristas estão sempre
em busca de um ponto fraco; e
j) operar de forma proativa através de patrulhamento, etc., em vez de ser
sitiado.
5.2 RUMO FUTURO PARA O PAQUISTÃO
O Paquistão foi vítima das circunstâncias. Devido à sua localização
geográfica e história geoestratégica, tem enfrentado muitos desafios desde a sua
criação. No entanto, o Paquistão conseguiu o que a maioria dos outros países, com
recursos abundantes, não conseguiu. O fato é que o Paquistão continuará
enfrentando novos desafios, talvez mais difíceis do que nunca. Os novos desafios,
no contexto da guerra híbrida, visam atingir suas capacidades estratégicas. O
Paquistão enfrentará um desafio maior de coerção e difamação de instituições
estatais.
Para sobreviver entre esses imensos desafios, o Paquistão precisa primeiro
manter seu terreno bem com uma política externa proativa e eficaz que apresente a
imagem positiva do Paquistão e obter o apoio de nações amigas.
Ao longo da história, terroristas, guerrilheiros e atores semelhantes
têm tipicamente como alvo a vontade do oponente de lutar em vez de
seus meios; A diferença agora é que eles desfrutam de um acesso aprimorado a essa vontade. (ECHEVARRIA, 2008, p.59 apud MALIK,
2012)
No nível operacional, as operações futuras provavelmente ocorrerão entre os
grupos étnicos, tribos ou seitas em um ambiente imprevisível. “A liderança militar
sênior, portanto, precisa fornecer o objetivo correto e a priorização para ajustes no
processo de treinamento e pensamento operacional” (MALIK, 2012). Essa ênfase é
essencial para manter a estratégia de desenvolvimento e o processo de pensamento
98
operacional alinhados entre si. Igualmente importante é que os oficiais militares,
especialmente os líderes seniores, não devem ser obcecados por ser
excessivamente seguros durante o tempo de emprego (MALIK, 2012). Em vez de se
concentrar em evitar contratempos e baixas durante o tempo de emprego,
concentre-se em contribuir para a realização de um objetivo militar de operações de
contraterrorismo.
Outro aspecto a ser evitado pelas forças armadas é a tendência a subestimar
as capacidades do adversário, uma afinidade que hoje é tão perigosa quanto há
séculos atrás. Neste contexto, é extremamente importante planejar baseando-se nos
fatos em vez de pressupostos para os quais todos os militares têm uma propensão.
Um grande número de lições militares estão disponíveis em operações de contra
insurgência no Afeganistão, Iraque, Vietnã, Argélia, Sri Lanka e Malásia.
O Exército precisa aprender a rapidez com que pode transformar os esforços
direcionados no domínio da guerra cinética para o não-cinético, em que o espaço é
cedido a outros elementos do poder nacional. O Exército do Paquistão terá que
alcançar a determinação de se transformar em uma organização com uma forte
capacidade de contra insurgência. Desenvolver esse potencial também fortalecerá a
capacidade de responder às ameaças convencionais.
As forças armadas do Paquistão precisam encontrar uma maneira cordial de
integrar as informações coletadas de diferentes agências de inteligência. Prioridade
deve ser dada à aquisição de tecnologia moderna de vigilância e monitoramento. O
uso aprimorado da tecnologia por terroristas, incluindo o uso de dispositivos de
criptografia, tornará mais difícil para as agências de inteligência paquistanesas
monitorar suas atividades.
Por fim, as percepções negativas sobre o Paquistão precisam mudar para
que possam crescer completamente em seu novo papel no Século XXI (KORYBKO,
2017). O Paquistão precisa que as pessoas pensem diferentemente sobre isso,
como um lugar próspero, desenvolvido e seguro que é uma realidade. Não é por
acaso que muitas pessoas pensam em estereótipos negativos, quando ouvem a
palavra Paquistão, pois tudo isso foi feito de propósito como parte de uma guerra
maior de informação contra o Paquistão. O Paquistão precisava desbancar esses
estereótipos por meio de uma abordagem multifacetada, que combina todos os
elementos do poder brando.
99
O Paquistão de 2018 não é o Paquistão do passado, e quaisquer impressões
que a maioria das pessoas de fora possa ter sobre ela provavelmente estão
desatualizadas. O Paquistão não está mais apoiando os Mujahedin no Afeganistão,
como era um caso nos anos 80. As áreas tribais ao longo da fronteira foram
completamente pacificadas e estabilizadas. Forbes em 2017 anunciou que o
Paquistão tem um dos mercados com melhor desempenho no mundo (apud
KORYBKO, 2017). O ponto aqui é que as percepções passadas, sejam elas
genuínas ou não, nem sempre são confiáveis para julgar o presente. Como alguns
bons exemplos, a Rússia e a Alemanha moderna não são a União Soviética e os
nazistas, assim como a China sob o Presidente Xi não é o mesmo país sob o
Presidente Mao.
5.3 UM LEGADO DO PAQUISTÃO
O esforço do Paquistão na luta contra o terrorismo é imenso. Durante essa
luta, o Paquistão aprendeu lições valiosas aos níveis político, operacional e tático,
que compartilha com outros exércitos contemporâneos. A luta contra os terroristas
que usaram métodos cruéis de sabotagem e assassinatos indiscriminados de civis
inocentes e até de crianças não é fácil. A luta contra os terroristas que usaram
métodos cruéis de sabotagem e assassinatos indiscriminados de civis inocentes e
até não hesitam em matar crianças não é fácil. A luta não é contra um terrorista mal
treinado ou mal organizado, mas contra um terrorista disciplinado, qualificado e
experiente. Os sucessos do Paquistão não foram facilmente alcançados, ele sofreu
grandes perdas em termos de vidas valiosas e recursos. Além disso, o terrorismo
manchou a imagem do Paquistão na comunidade internacional.
A complexidade do terrorismo e da insurgência é tal que um modelo de
contraterrorismo não pode ser denominado de “adequado para todos”. Os
comandantes militares devem adotar uma abordagem apropriada ao lidar com
diferentes grupos, mesmo dentro de uma mesma área. No entanto, somente se os
erros das operações anteriores forem evitados, pelo menos reduzirá as perdas
indevidas. Ainda mais, experiências anteriores dão um conselho de como o desafio
deve ser realizado. Enquanto a insurgência da China de Mao, Malásia, Argélia,
Vietnã, Sri Lanka, Iraque, Afeganistão e Paquistão não pode ser comparada, ainda
existem muitas semelhanças em todos os níveis de operações. Mais importante
100
ainda, essas insurgências revelam que as operações de contraterrorismo não são
fáceis e de curto prazo. Requer uma abordagem abrangente, sincera e progressista
para derrotar os insurgentes.
Não tem havido muitos países na história que saíram de tais tipos de
ameaças terroristas, no entanto, o Paquistão, através de sua resolução e
perseverança inabalável, emergiu com sucesso na luta contra o terrorismo enquanto
lutava com seus próprios recursos. Este legado das forças armadas do Paquistão é
bem reconhecido pelos militares contemporâneos em todo o mundo. As
contribuições do Paquistão fizeram uma diferença real em tornar o mundo um lugar
mais seguro, deixando assim um generoso legado de luta bem-sucedida contra o
terrorismo.
5.4 REGRAS PARA PREVENIR E COMBATER O TERRORISMO
Schmid et al., (2007) destacam doze regras para prevenir e combater o
terrorismo:
a) tentar abordar as questões de conflito subjacentes exploradas pelos
terroristas e trabalhar no sentido de uma solução pacífica, sem fazer
concessões substanciais aos próprios terroristas;
b) impedir que indivíduos alienados e grupos radicais se tornem extremistas
terroristas confrontando-os com uma mistura de táticas de “cenoura” e
“pau” e buscando medidas eficazes de contra motivação;
c) estimular e incentivar a deserção e conversão de terroristas livres e presos
e encontrar maneiras de reduzir o apoio tácito ou aberto a organizações
terroristas;
d) negar aos terroristas o acesso a armas, explosivos, documentos de
identificação falsos, comunicação segura, viagens seguras e santuários;
perturbar e incapacitar seus preparativos e operações através de
infiltração, interceptações de comunicações e espionagem, e limitando
suas capacidades criminais e outras de captação de recursos;
e) reduzir as oportunidades de baixo risco / alto ganho para os terroristas,
reforçando a segurança das comunicações, segurança energética e
segurança de transporte, endurecendo infraestruturas críticas e locais
101
potenciais onde podem ocorrer baixas em massa e aplicando princípios de
prevenção situacional do crime ao combate ao terrorismo;
f) tenha em mente que os terroristas buscam publicidade e exploram a mídia
e a internet para obter reconhecimento, propagar sua causa, glorificar
seus ataques, ganhar recrutas, solicitar doações, reunir inteligência,
disseminar o conhecimento do terrorismo e se comunicar com seus
públicos-alvo. Tente elaborar estratégias de comunicação para combatê-
las em cada uma dessas áreas;
g) Preparar para a gestão de crises e consequências para atos de terrorismo
"regular" e "catastrófico" em exercícios coordenados de simulação e
educar os socorristas e o público sobre a melhor forma de lidar;
h) estabelecer um sistema de inteligência contra o terrorismo e outros crimes
violentos na interface entre o crime organizado e o conflito político;
i) fortalecer a coordenação de esforços contra o terrorismo dentro e entre os
estados; reforçar a cooperação entre a polícia internacional e a
inteligência e oferecer assistência técnica àqueles países que carecem de
know-how e meios para atualizar seus instrumentos antiterrorismo;
j) mostrar solidariedade e oferecer apoio às vítimas do terrorismo no país e
no estrangeiro;
k) manter o terreno moral elevado na luta contra os terroristas, defendendo e
fortalecendo o estado de direito, a boa governança, a democracia e a
justiça social e combinando seus atos com suas palavras; e
l) Por último, mas não menos importante: combater as ideologias,
doutrinação e propaganda de terroristas seculares e não seculares e
tentar dominar a guerra de opinião, a batalha pelos corações e mentes
daqueles que os terroristas afirmam falar e lutar para.
5.5 PRINCIPIOS GERAIS PARA CONTER A AMEAÇA DE TERRORISMO
Alessandro Visacro em seu livro “Guerra Irregular; Terrorismo, guerrilha e
movimentos de resistência ao longo da história (2009)” fornece princípios gerais
para conter a ameaça de forças irregulares. Segundo ele, “Forças regulares operam,
em ambientes de quarta geração, com restrições legais, políticas, geográficas e
temporais, além de se verem privadas da plena liberdade de empregar seus
102
recursos militares”. A parti da análise de casos históricos, Kalev Sepp identificou
alguns princípios gerais de ação que distinguiram as campanhas contra forças
irregulares malsucedidas daquelas que obtiveram êxito. A Quadro 9 a seguir resume
suas conclusões:
Quadro 9 - Práticas de contra insurreição malogradas e bem-sucedidas
CONTRA INSURREIÇÃO Práticas malsucedidas Práticas bem-sucedidas
- Supremacia da direção militar da contra insurreição.
- Priorização em “matar/capturar” o inimigo, em vez de interagir com o povo.
- Concentração de unidades militares em grandes bases para serem protegidas.
- Priorização das forças especiais para incursões.
- Baixa prioridade para a designação de assessores.
- Criação e adestramento do exército nativo nos moldes do Exército americano.
- Procedimento do governo igual aos tempos de paz.
- Abertura das fronteiras, espaço aéreo e litorais.
- Ênfase nas operações de inteligência.
- Enfoque na população - Estabelecimento de maiores
áreas de segurança. - Manutenção dos insurretos
isolados da população (controle de população)
- Adoção de uma autoridade central única (líder carismático/dinâmico)
- Condução de operações psicológicas amplas e eficazes
- Concessão de anistia e reabilitação para insurgentes.
- Apoio militar às lideranças policiais.
- Aumento e diversificação da força policial.
- Reorientação das forças militares convencionais para a contra insurreição
- Estabelecimento de assessores das forças especiais junto às forças nativas.
- Negação de refúgios para insurretos.
Fonte: adaptado de "As melhores práticas de contra insurreição", de Kalev I. Sepp (Military Review, 2005, apud VISACRO, 2009).
Na verdade, não existe muita divergência acerca dos fundamentos das
operações contra forças irregulares. Os manuais militares de contra insurgência, em
todo mundo, versam basicamente sobre as mesmas ideias. Eles apontam, de um
modo geral, para a necessidade de uma abordagem civil-militar integrada; a ênfase
103
na promoção de reformas sociais e no desenvolvimento de políticas públicas
focadas na melhoria das condições de vida da população, em detrimento da
condução de operações de combate de maior envergadura; apontam para a
necessidade preponderante de isolar os guerrilheiros e os terroristas da população
civil; a necessidade de privar as forças irregulares de seus apoios domésticos, de
seus locais de refúgios e de seus patrocinadores externos; enfatizam a importância
das operações psicológicas, das atividades de inteligência e das missões tipo
polícia; advogam o emprego moderado da força letal e o uso de forças nativas de
segurança.
A dificuldade, portanto, reside em colocar essas ideias efetivamente em
prática. Os maiores óbices encontram-se no grau de deterioração do cenário
político-social (frequentemente irreversível); na capacidade, ou melhor, na
incapacidade de o Estado promover as reformas necessárias; no potencial militar
das forças irregulares e, ainda, na aptidão das forças convencionais de conduzirem
a bom termo o combate aos rebeldes. A esse respeito, destacam-se como principais
atributos de um exército qualificado para a contra insurreição as seguintes
características:
a) cultura organizacional que fomente a liderança em todos os níveis da
cadeia hierárquica, desenvolva a iniciativa dos comandos subordinados e
permita a condução de ações descentralizadas de forma eficiente;
b) capacidade de empregar força letal mínima e controlar seus danos
colaterais; - persistência, capacidade de operar por longos períodos de
tempo, convivendo com a frustração, a ausência de resultados efetivos e
com um número crescente de baixas, sem se desgastar politicamente ou
amargar um colapso moral;
c) capacidade de interagir com a população local, dando-lhe de forma
tangível segurança e de forma abstrata esperança;
d) capacidade de interagir com a mídia e com organizações não
governamentais;
e) capacidade de operar em conjunto com corporações policiais e forças de
segurança nativas;
f) capacidade de colaborar com outras agências estatais;
g) disponibilidade de instrumentos jurídicos adequados e capacidade para
fazer bom uso deles;
104
h) grande adaptabilidade, ajustando-se às rápidas transformações das
organizações militantes e às frequentes mutações do combate irregular;
i) capacidade para aprender com a cultura nativa;
j) disponibilidade de agências de inteligência e forças de operações
especiais competentes.
6 CRONOGRAMA
Quadro 10 – Cronograma
ATIVIDADES
2018
Mar Abr Maio
Jun Ago Set Out Nov
1. Elaboração do projeto de pesquisa
X
2. Depósito do projeto de pesquisa
X 22
3. Levantamento e seleção da bibliografia
X X X
4. Entrega do sumário e dos capítulos iniciais do TCC para o orientador
X 8
5. Pesquisa bibliográfica e documental
X X X X X X
6. Reunião com o orientador X 16
X 06
X 17
7.Análise e consolidação dos dados bibliográficos
X X X X
8.Entrega do trabalho, exceto a conclusão, para o orientador
X 6
9. Elaboração final e revisão do TCC
X
10. Entrega do TCC para o orientador
X 26
11. Avaliação do TCC pelas comissões
X X X
12. Depósito da documentação do TCC e do trabalho final corrigido no DPPG pelo orientador
X 30
105
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GLOSSÁRIO
Guerra Subconvencional – A guerra subconvencional é um conflito entre os atores e instrumentos não estatais, subestatais ou extra-estatais do estado, envolvendo o uso ou a ameaça de uso da força. (Sub-conventional warfare doctrine, Exército do Paquistão, 2013) Fatwa – Fatwa é uma decisão sobre um ponto da lei islâmica dada por uma autoridade reconhecida. Sunnah – Sunnah / Seerah é o modo de viver do Profeta Muhammad (que a paz esteja com ele) Mulá – O termo "mulá" refere-se ao líder religioso islâmico. Embora o termo por si só seja considerado como um cargo respeitável, no entanto, devido à sua associação com os indivíduos radicais, o termo perdeu sua reverência e agora é usado para chamar indivíduos religiosos de mentalidade radical. Illaqa Ghair – “Illaqa Ghair” traduz-se aproximadamente para áreas fora do limite para o público em geral. Mujahideen – Este termo é usado para combatentes da liberdade afegãos contra a opressão dos soviéticos. Madrassa – Madrassa é um seminário religioso que ensina leitura, recitação e compreensão do Alcorão.