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Derrotando Terrorismo e Violência: uma perspectiva do exército do Paquistão ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Maj Inf RANA KHALID AZHAR, Exército do Paquistão Rio de Janeiro 2018

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Derrotando Terrorismo e Violência:

uma perspectiva do exército do Paquistão

ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Maj Inf RANA KHALID AZHAR, Exército do Paquistão

Rio de Janeiro

2018

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Maj Inf RANA KHALID AZHAR, Exército do Paquistão

Derrotando Terrorismo e Violência:

uma perspectiva do exército do Paquistão

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.

Orientador: Major Cavalaria Daniel Mendes Aguiar Santos

Rio de Janeiro

2018

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A994d Azhar, Rana Khalid

Derrotando Terrorismo e Violência: uma perspectiva do exército do Paquistão / Rana Khalid Azhar. 一 2018.

112 f. : il. ; 30 cm

Orientação: Daniel Mendes Aguiar Santos Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares). - Rio de

Janeiro: Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, 2018. Bibliografia: f. 105 - 111. 1. TERRORISMO. 2. GUERRA HÍBRIDA. 3. TERRORISMO NO PAQUISTÃO. 4.

MÉDIA E TERRORISMO 5. GUERRA IRREGULAR 6. CONTRA INSURGÊNCIA I. Título.

CDD 322.42095491

CDD 355.450981

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Maj Inf RANA KHALID AZHAR, Exército do Paquistão

Derrotando Terrorismo e Violência:

uma perspectiva do exército do Paquistão

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares.

Aprovado em 25 de outubro de 2018.

COMISSÃO AVALIADORA

_________________________________________________ Daniel Mendes Aguiar Santos, Maj Cav – Presidente

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_________________________________________________ Guilherme Naves Pinheiro, TC Inf – Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_________________________________________________ Alisson Alencar David, Maj Inf – Membro

Escola De Comando E Estado-Maior Do Exército

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À minha esposa Momina e meus filhos Yahya e Amna. Uma sincera homenagem pelo carinho e compreensão demonstrados durante a realização deste trabalho. E para minha mãe que está me esperando ansiosamente.

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AGRADECIMENTOS

Ao Major Cavalaria Daniel Mendes Aguiar Santos, não só pela orientação firme e

segura, como também, pelo incentivo e pela confiança evidenciada em várias

oportunidades. Sua dedicação se revestiu de capital importância para que eu

pudesse realizar o trabalho com tranquilidade e eficiência.

Aos Tenente Coronel Artilharia João Ricardo Da Cunha Croce Lopes, Tenente

Coronel Infantaria Isnard Mariano, Major Artilharia Madureira, Major Infantaria

Leonordo Martins Ribeiro, Major Cavalaria Maurício Gilberto Roman Ross, Major

Comunicação Gustavo Campos Rosa, Major Artilharia Gedeel Machado Brito Valin,

Major Infantaria Robério de Oliveira Lima, Major Cavalaria Fernando Lombardi Dos

Santos, Major Engenharia Filipe Barros, Major Infantaria Luis Felipe Ferreira e Major

Mariano Oscar Gomez do Argentina pela inestimável colaboração prestada por

ocasião da confecção deste trabalho.

A minha mãe, pelo empenho dedicado em minha formação e educação. Seu

exemplos e valores estão presentes em qualquer sucesso obtido.

Ao Exército do Paquistão pela confiança confiada a mim para fazer o Curso de

Comando e Estado-Maior, Brasil no estimado instituto do Escola de Comando e

Estado-Maior de Exército, Escola Marechal Castelo Branco, Rio de Janeiro.

A Deus, pela proteção e orientação recebidas, principalmente nos momentos mais

difíceis. Pela força necessária que recebi para resolver os problemas apresentados.

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“Com fé, disciplina e dedicação altruísta ao dever,

não há nada que vale a pena que você não consiga

alcançar.” (Muhammad Ali Jinnah, Fundador do

Paquistão)

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RESUMO

O terrorismo tornou-se uma realidade frequente em todo o mundo. O termo próprio

tem conotações amplas, de atos individuais de vingança a uma violência organizada

por grupos, com determinada ideologia, contra ao estado. Outros meios subjacentes

incluem atos de sabotagem, incitados por Estados rivais, com o objetivo de

desestabilizar o estado inimigo ou opressão do Estado contra um determinado grupo

ou região particular. Existem vários contextos de terrorismo, normalmente em

conveniência para a compreensão do autor. A comunidade internacional muitas

vezes segue uma opinião estabelecida, que é organizada através de uma narrativa

cuidadosamente trabalhada, apoiando um enquanto descreve o outro como um

terrorista.

Em todos estes cenários, este estudo visa aprofundar o domínio do terrorismo no

âmbito da Guerra Híbrida, ou seja, a violência organizada provocada pelo Estado

inimigo com o objetivo de enfraquecer o adversário. Posteriormente, o estudo

também pretende colocar diante dos desafios enfrentados pelo Paquistão na luta

contra o terrorismo, pós 9/11, e uma resposta abrangente pelo Paquistão.

Palavras-chave: Terrorismo Contemporâneo. Guerra Híbrida. Guerra Irregular. Contra insurgência. Contraterrorismo. Mídia e terrorismo. A resposta do Paquistão

ao terrorismo. Prevenção e combate ao terrorismo.

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ABSTRACT

Terrorism has become a frequent occurring reality across the globe. The term itself

has broad connotations from individual acts of vengeance to an organized violence,

by groups with certain ideology, against the state. Other underlying milieus include

acts of sabotage, incited by rival states, with the aim of destabilizing the enemy state

or state’s oppression against a certain faction or particular region. There are various

contexts of Terrorism, normally in convenience to the understanding of the

perpetrator. The international community often follow an established opinion which is

organized through a carefully crafted narrative, supporting one while depicting the

other as a Terrorist.

In all these scenarios, this study aims to delve into the domain of Terrorism in the

framework of Hybrid War i.e., organized violence provoked by the enemy state with

the aim of undermining the adversary. Subsequently, the study also aims to put forth

the challenges faced by Pakistan in fight against terrorism, post 9/11, and an all-

inclusive response by Pakistan.

Keywords: Contemporary Terrorism. Hybrid War. Irregular War. Counterinsurgency.

Counter Terrorism. Media and Terrorism. Pakistan’s response to Terrorism.

Prevention and Combating of Terrorism.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Dimensões do Terrorismo................................................................... 31

Quadro 2 – Uma Classificação Básica da violência política.................................. 36

Quadro 3 – Cronologia de um ataque terrorista .................................................... 43

Quadro 4 – Comparação de formas de insurgência.............................................. 46

Quadro 5 – Características do terrorismo, Guerra de Guerrilha e Guerra

Convencional como modo de lutas violentas......................................

48

Quadro 6 – Gerasimov compreensão do novo tipo de guerra............................... 53

Quadro 7 – Exemplo de comparação de incidentes relacionados à violência por

um grupo de Mídia..............................................................................

62

Quadro 8 – Liderança da Al Qaeda apreendidas pelo Paquistão.......................... 80

Quadro 9 – Práticas de contra insurreição malogradas e bem-sucedidas............ 102

Quadro 10 – Cronograma...................................................................................... 104

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura do Terrorismo................................................................ 22

Figura 2 – Conflitos de Identidade provocados e explorados externamente

na Guerra Híbrida.........................................................................

29

Figura 3 – Árvore de Terrorismo Tipológica................................................... 30

Figura 4 – Tipologia Geral de Guerra e Conflito............................................ 40

Figura 5 – Principais fases (estágios) do desenvolvimento do conflito......... 54

Figura 6 – Audiências da narrativa competitiva............................................. 55

Figura 7 – Meios de comunicação dos terroristas......................................... 57

Figura 8 – Unidade de esforço em operações subconvencionais................. 79

Figura 9 – Linha do tempo das operações militares realizadas pelas

Forças Armadas do Paquistão

81

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Comparação de baixas entre Forças Armadas do Paquistão e de

Forças de coalização no Afeganistão............................................

80

Gráfico 2 – Declínio nas baixas no Paquistão desde 2012............................... 82

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – Batalhas Futuras de Guerra Híbrida............................................. 52

Mapa 2 – Mapa do Paquistão....................................................................... 63

Mapa 3 – Operações militares desde 2001.................................................. 81

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LISTA DE FOTOS

Foto 1 – Barreira ao longo da fronteira Paquistão-Afeganistão.................. 83

Foto 2 – Exercício conjunto de contraterrorismo com nações amigas,

Rússia...........................................................................................

85

Foto 3 – Exercício conjunto de contraterrorismo com nações amigas,

China.............................................................................................

85

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados

AIEA Agência Internacional de Energia Atômica

CIA Central Inteligence Agency

CENTCOM United States’ Central Command

CICV Comitê Internacional da Cruz Vermelha

ECEME Escola de Comando e Estado-Maior

ETIM East Turkestan Islamic Movement

FATA Federally administered tribal áreas (Áreas tribais administradas pelo governo federal)

NAP National Action Plan (Plano de Ação Nacional)

IMU Islamic Movement of Uzbekistan

JA Jamat ul Ahrar

JMB Jamat-ul-Mujahideen, Bangladesh

LJ Lashkar-e-Jhangvi

LTTE Libration Tigers of Tamil Eelam

MoFA Ministry of Foreign Affairs

OCI Organização da Cooperação Islâmica

ONG Organização não governamental

ONU Organização das Nações Unidas

SCW Sub-conventional warfare doctrine

TTP Tehreek-e-Taliban Pakistan

TNSM Tehreek-e-Nifaz e Shariat e Muhammadi

VANT Veículo Aéreo Não Tripulado

VNSA Violent non-state actors

WHAM Winning Hearts and Minds

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 20

1.1 PROBLEMA......................................................................................... 21

1.2 HIPOTESE........................................................................................... 23

1.3 OBJETIVOS......................................................................................... 24

1.3.1 Objetivo Principal............................................................................... 24

1.3.2 Objetivos Específicos ....................................................................... 24

1.4 VARIAVEIS.......................................................................................... 24

1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO............................................................... 25

1.6 RELEVÂNCIA DO ESTUDO................................................................ 25

2 REFERÊNCIA TEÓRICA E METODOLÓGICA................................... 26

2.1 A TEORIA DA GUERRA E A GUERRA HÍBRIDA............................... 26

2.2 AS PERSPECTIVAS DO TERRORISMO............................................ 29

2.3 REVISÃO DE LITERATURA................................................................ 31

2.4 METODOLOGIA................................................................................... 33

2.5 O QUE É TERRORISMO?................................................................... 33

2.5.1 Definições e Conotações de Terrorismo......................................... 33

2.5.2 Universo de Violência Política.......................................................... 36

2.5.2.1 Estados contra Estados....................................................................... 37

2.5.2.2 Estados contra cidadãos...................................................................... 37

2.5.2.3 Cidadãos contra os cidadãos............................................................... 37

2.5.2.4 Cidadãos contra o Estado.................................................................... 38

2.5.3 Terrorismo Patrocinado Pelo Estado………………………………… 38

2.5.4 Terrorismo Contemporâneo.............................................................. 39

2.6 TERRORISMO COMO FERRAMENTE PRINCIPAL NA GUERRA

IRREGULAR........................................................................................

41

2.6.1 O Terrorismo e a Guerra Irregular.................................................... 41

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2.6.2 O Ato de Terror................................................................................... 42

2.6.3 Fases de um Ataque Terrorista......................................................... 43

2.6.4 O Uso do Terror como Arma............................................................. 44

2.7 TERRORISMO COMO ESTRATÉGIA DE INSURGÊNCIA................. 46

2.7.1 Formas de Violência Insurgente....................................................... 46

2.7.2 Terrorismo e Guerra de Guerrilha.................................................... 46

2.7.3 Apoio Exterior..................................................................................... 49

2.8 TERRORISMO E VIOLÊNCIA NA ESTRUTURA DA GUERRA HÍBRIDA...............................................................................................

50

2.8.1 O Século XXI e a Conduta da Guerra—Pensamento de General Gerasimov, Rússia e “Guerra Híbrida” ...........................................

52

2.8.2 Choque de Narrativas Concorrentes................................................ 54

2.9 O TERRORISMO E A MÍDIA—UMA VISÃO CRÍTICA....................... 56

2.9.1 Uso de mídia por terroristas........................................................... 57

2.9.2 Reportagens de Formas diferentes de Violência ......................... 58

2.9.3 Moldando a Perspectiva—Enquadramento do Terrorismo............ 59

2.9.4 Uso de palavras pela mídia............................................................... 60

2.9.5 Números.............................................................................................. 61

2.9.6 Generalizações................................................................................... 62

3 A AMEAÇÃ TERRORISTA NO PAQUISTÃO–DESAFIOS COMPLEXOS......................................................................................

63

3.1 O CONTEXTO GEOGRÁFICO; PAQUISTÃO VÍTIMA DE CIRCUNSTÂNCIAS.............................................................................

63

3.2 PAQUISTÃO DE 2001 ATÉ A ATUALIDADE – ESTUDO DE NARRATIVA.........................................................................................

65

3.3 ENTENDENDO O TIPO DE GUERRA................................................. 67

3.4 EXPLORAÇÃO DA RELIGIÃO E ETNIA.............................................. 69

3.5 FINANCIAMENTO DO TERROR......................................................... 70

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3.6 DESAFIO DO USO DA FORÇA .......................................................... 71

3.7 AÇÕES REFORMADORAS PELO GOVERNO................................... 73

3.8 TERRORISTAS NÃO ESTATAIS......................................................... 73

3.9 ADAPTAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS............................................ 74

3.10 GESTÃO DA PERCEPÇÃO................................................................. 75

3.11 RESTRIÇÕES DE RECURSOS........................................................... 76

3.12 INTERAÇÃO DA MÍDIA COM GRUPOS TERRORISTAS................... 77

4 A RESPOSTA E O MODELO DE ATUAÇÃO DO PAQUISTÃO........ 78

4.1 ESFORÇOS DO PAQUISTÃO CONTRA O TERRORISMO 2001–

2018.....................................................................................................

79

4.2 REFORMA DAS FORÇAS ARMADAS................................................ 83

4.2.1 Treinamento Contraterrorismo e Contra Insurgência.................... 84

4.2.2 Doutrina Contra o Terrorismo........................................................... 85

4.2.3 Melhoria de Capacidade.................................................................... 86

4.2.4 Aprimoramento de Equipamentos.................................................... 87

4.2.5 Compartilhamento de Experiências................................................. 87

4.3 OPERAÇÕES BASEADAS EM INTELIGÊNCIA.................................. 88

4.4 CONQUISTAR O CORAÇÃO E A MENTE.......................................... 89

4.5 REFORMAS NO NÍVEL DO GOVERNO............................................. 90

4.5.1 Plano de Ação Nacional..................................................................... 90

4.5.2 Mensagem do Paquistão (Paigam-e-Pakistan) Decreto................. 91

4.5.3 As ações do Paquistão contra o financiamento antiterrorismo no âmbito do combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo.............................................................

93

4.5.4 Fundir-se da FATA com Khyber Pakhtunkhwa…………................. 93

4.5.5 Tribunais Militares….......................................................................... 93

4.6 SEGURANÇA DAS ARMAS NUCLEARES APRECIADAS PELA AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA ATÔMICA......................

94

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5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES................................................ 95

5.1 LIÇÕES APRENDIDAS........................................................................ 95

5.1.1 Nível Político....................................................................................... 95

5.1.2 Nível Operacional............................................................................... 96

5.1.3 Nível Tático......................................................................................... 96

5.2 RUMO FUTURO PARA O PAQUISTÃO.............................................. 97

5.3 UM LEGADO DO PAQUISTÃO........................................................... 99

5.4 REGRAS PARA PREVENIR E COMBATER O TERRORISMO.......... 100

5.5 PRINCIPIOS GERAIS PARA CONTER A AMEAÇA DE TERRORISMO.....................................................................................

101

6 CRONOGRAMA.................................................................................. 104

REFERÊNCIAS.................................................................................... 105

GLOSSÁRIO........................................................................................ 112

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1 INTRODUÇÃO

Qual é o tipo de conflito de hoje? Há vários argumentos diferentes que

sugerem que a desordem crescente, confrontada por quase todos os países,

apresenta características inerentemente novas, o que implica que uma grande

mudança na natureza do conflito aconteceu, uma violência perpétua e agitação.

Alguns discutem que os conflitos no presente foram mudados em algo

completamente novo, enquanto outros debatem como um fenômeno antigo. Alguns

outros sugerem que a superioridade tecnológica, a dissuasão nuclear e as alianças

forjadas entre países reduziram o espaço de conflitos de alta intensidade

convencional de curto prazo, criando meios alternativos de subjugar o inimigo. Em

todo o caso, o atual conflito tem erradicado as diferenças entre a guerra e a paz, o

crime e a guerra, e entre a guerra e o abuso sistemático dos direitos humanos num

número crescente de conflitos internos. Em que medida os desafios das guerras

modernas são novos? A natureza da agitação mudou ou os conflitos modernos

exibem características geralmente encontradas em todas as guerras, passado e

presente, e como melhor essa nova ameaça pode ser desafiada?

A violência em curso tem uma característica intrínseca da incerteza que cria o

medo entre as pessoas ou, para esse efeito, as aterroriza. Atualmente, a ameaça

em forma de "terrorismo" é mais do interior do que do exterior. Dentro de um estado,

o terrorismo é muitas vezes uma ferramenta insurgente para coagir o governo. Estes

grupos rebeldes, mais frequentemente apoiados por Estados não-amigáveis,

continuam a desafiar a ordem do governo em nome da perseguição e dos maus-

tratos que podem ser melhor descritos como terrorismo através de uma estratégia

de insurgência (MERARI, 2007). Como o conflito no Século XXI se transforma em

formas aparentemente desconhecidas que combinam forças regulares e irregulares

nos mesmos campos de batalha, alguns analistas de defesa propuseram o

surgimento de um novo tipo de guerra—Guerra Híbrida (MURRAY; MANSOOR,

2013).

Terrorismo, cujo alvo primário é a mente, é uma questão central na agenda de

segurança no mundo contemporâneo. Nesse sentido, o terrorismo é a forma mais

violenta de guerra psicológica, e seu impacto é geralmente entendido como sendo

muito maior do que seus efeitos físicos. Raymond Aron, filósofo francês, tem uma

maneira apropriada de chegar ao cerne da questão: "uma ação violenta é

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considerada terrorista quando seus efeitos psicológicos são desproporcionais aos

seus resultados puramente físicos" (CHALIAND; BLIN, 2007). Especialistas

acreditam que esta prática, como uma forma de eliminar o inimigo e chantagem

psicológica, existe desde os tempos antigos. Na natureza multifacetada do

terrorismo, foi identificado um aspecto muito importante, analista de defesa e ex-

general do exército do Brasil, Carlos de Meira Mattos. De acordo com ele, o

terrorismo sempre teve um caráter de interesse investido de pessoal, comunal ou

regional, principalmente inspirado pela política ou religião.

Do ponto de vista da história e da criminalidade, o atentado terrorista não é novidade. A história registra centenas de violentas agressões visando provocar o terror. Entretanto sempre tiveram como alvo um motivo pessoal, grupal ou, no máximo, regional. (MATTOS, 2004)

No contexto da discussão acima referida, este trabalho, através da

metodologia qualitativa, as características únicas do terrorismo no âmbito da guerra

híbrida, comparando-a com outras formas de conflitos violentos, delineando as

principais ideias estratégicas pelas quais os terroristas têm esperança de perceber a

sua objetividade e as condições que a afetam.

1.1 PROBLEMA

O termo "terrorismo" tem muitas conotações que dependem principalmente da

compreensão e uso do operador. Cada indivíduo tende a abordar o assunto com

uma certa bagagem ideológica e/ou tem uma interpretação preferida. Segundo

Schmid (2011), a compreensão do terrorismo pode de fato ser abordada a partir de

diferentes perspectivas como criminologia, ciência política, estudos de guerra e paz,

estudos de comunicação ou estudos religiosos; Como consequência, pode-se

interpretar o terrorismo em diferentes estruturas. A estrutura do terrorismo (Figura 1)

dada por Schmid (2011):

a) atos de terrorismo como/e crime;

b) atos de terrorismo como/e política;

c) atos de terrorismo como/e guerra [na atual Guerra Híbrida];

d) atos de terrorismo como/e comunicação mídia; e

e) atos de terrorismo como/e cruzada religiosa/Jihad.

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22

Figura 1 – Estrutura do Terrorismo

Fonte: Schmid, 2011 (tradução nossa). Ilustração criada pelo autor.

Estas são cinco lentes conceituais através das quais podemos olhar para o

terrorismo. Todos estes "quadros" são úteis para compreender melhor alguns

aspectos de algumas formas de terrorismo. Ainda, estes cinco quadros não são

exaustivos; existem outras lentes conceituais. Pode-se, por exemplo, também

explorar o terrorismo em um quadro de psicologia (social). Isto é especialmente

apropriado quando se lido com terroristas individuais de "lobo solitário”, ou seja, atos

de terrorismo individuais que não propagam necessariamente uma ideologia ou têm

ligação com um grupo. No entanto, seria errado para destacar qualquer um desses

frameworks e afirmar que é o "certo". Eles não são mutuamente exclusivos, também.

Um ato de violência terrorista pode ser criminoso e político ao mesmo tempo,

tornando-se um crime político ou uma ofensa criminal com repercussões políticas.

Um ato de terror pode ser cometido no contexto da guerra e constituir uma grave

violação das leis da guerra, um crime de guerra. Um ato de terrorismo pode ser,

principalmente, um golpe publicitário propagandístico para impressionar um público

ou para alcançar outros públicos que, de outra forma, poderiam não "ouvir" protestos

menos violentos. Um ato de violência terrorista também pode ser interpretado como

um sacrifício com conotações religiosas, em que o terrorista oferece vidas inocentes

para a causa sagrada ou se vê como um mártir. À medida que as tendências no uso

do terrorismo mudam, um tipo de interpretação pode se tornar mais apropriado do

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que outro. O terrorismo muda à medida que os instrumentos de violência e

comunicação mudam e os contextos evoluem.

Embora existam diferentes formas de terrorismo, não há como negar que,

invariavelmente, todos os países estão sujeitos a pelo menos uma forma ou outra.

Alianças internacionais como a Organização do Tratado do Atlântico Norte, as

Nações Unidas, a Organização de Cooperação de Xangai, dissuasão nuclear e

tratados de paz limitaram guerras abertas e todas as guerras. Consequentemente,

os estados adotaram uma metodologia bárbara, empregando o terrorismo como uma

ferramenta primária, para desestabilizar o adversário. Neste contexto, a pesquisa

este trabalho de pesquisa baseia-se na necessidade de identificar: Como o

Terrorismo, como uma ferramenta tática, tem sido aplicado com sucesso na

perspectiva da Guerra Híbrida?

1.2 HIPOTESE

Embora possa haver um número de hipóteses em lidar com o tema do

terrorismo, devido à sua ampla compreensão por grupos diferentes. À luz da

diversidade do fenómeno "terrorismo" e da multiplicidade, e do peso diferencial, das

condições mais claras para os casos concretos, é impossível formular hipóteses

gerais substanciais com ampla validade, ou seja, hipóteses válidas para todos os

casos ou pelo menos a maioria dos casos. A maioria das teorias sobre terrorismo

aborda apenas um tipo de terrorismo, muitas vezes sem que o teórico esteja

plenamente consciente desse fato.

Este trabalho de investigação, no entanto, é formulado com vista a encontrar

a ameaça de terrorismo a ser aplicada como uma medida para subverter os Estados

adversários no quadro de "atos de terrorismo como/e Guerra Híbrida". Assim, a

pesquisa será baseada na Hipótese de que “o aumento do terrorismo e da violência

não é mal organizado e está sendo perpetuado metodicamente por estados hostis e

atores não estatais, no contexto da Guerra Híbrida ou Irregular, com vista a

desgastar o inimigo, criando discórdias internas e agitação”. Assim, levando ao

nosso trabalho de pesquisa de encontrar o uso do terrorismo no século XXI no

contexto da Guerra Híbrida.

A proposta de hipótese acima mencionada por filósofos, estrategistas e

generais foi encontrada na história. Por exemplo, a abordagem de criar agitação

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para o inimigo gira em torno das estratégias indiretas de Sun Tzu e Liddell Hart.

Como disse Sun Tzu: “Excelência suprema consiste em quebrar a resistência do

inimigo sem lutar”. A estratégia de abordagem indireta descrita por Liddell Hart

como. "[...] Destruição (da força inimiga) pode não ser essencial para uma

decisão, e para o cumprimento do objetivo da guerra. No caso de um

estado que está buscando não conquista, mas a manutenção de sua

segurança, o objetivo é cumprido se a ameaça ser removido—se o inimigo é levado a abandonar o seu propósito. "(1991, p. 338)

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Principal

Analisar diferentes formas de terrorismo, aplicadas como uma ferramenta

tática, no contexto da guerra híbrida e analisar a resposta dos exércitos

contemporâneos para desafiar esta ameaça.

1.3.2 Objetivos Específicos

O presente estudo tem um objetivo específico de apresentar a perspectiva

contraterrorismo do exército de Paquistão na sua luta contra o terrorismo. Ele vai se

esforçar para conseguir os seguintes:

a) o tipo de ameaça terrorista encontrado pelo Paquistão;

b) desafios enfrentados pelo Paquistão na luta contra o terrorismo;

c) resposta do Paquistão e modelo para combater o terrorismo; e

d) proferem lições aprendidas na luta contra o terrorismo.

1.4 VARIAVEIS

A pesquisa será desenvolvida usando as seguintes variáveis e investigando a

relação entre eles. Para atingir os objetivos apresentados, são selecionadas as

seguintes variáveis:

a) Variável I: entendimento do terrorismo no século XXI; e

b) Variável II: influência do terrorismo no contexto da guerra híbrida.

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1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

A pesquisa irá analisar o terrorismo e contra insurgência no âmbito da guerra

híbrida. Os desafios enfrentados pelo exército paquistanês para lidar com o

terrorismo de 2001 até atualidade e modelo adotado pelo governo do Paquistão e

suas forças armadas para lidar com a ameaça do terrorismo. A pesquisa não irá

aprofundar-se em encontrar ou adicionar uma definição de terrorismo para a lista já

longa de definições acadêmicas de terrorismo. A pesquisa abordará brevemente os

argumentos académicos sobre o tema do terrorismo. O estudo foi realizado sem

qualquer preconceito e não rebaixa qualquer pessoa ou país enquanto elucida o

contexto histórico.

1.6 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

As linhas de guerra no século XXI estão se tornando cada vez mais

desfocadas. Os desafios de segurança incluem guerras entre estados, conflitos de

contra insurgência, terrorismo e combinações dos mesmos. Alianças internacionais

e regionais, juntamente com a dissuasão nuclear, encorajaram oponentes em

potencial a desenvolver meios alternativos para subverter seu inimigo. Cada vez

mais, esses meios incluem forças convencionais e irregulares trabalhando em

conjunto—Guerra Híbrida. Potenciais inimigos agora misturam várias abordagens à

guerra para encaixá-las em suas culturas estratégicas, legados históricos, realidades

geográficas e meios econômicos. Contra tais inimigos, a superioridade tecnológica é

útil, mas inconclusiva. Alcançar vitórias no campo de batalha para ganhos

estratégicos de longo prazo requer uma compreensão da história e da cultura, bem

como uma abordagem abrangente do governo e das forças armadas para lidar com

as causas profundas da violência social.

Na luta contra o terrorismo, as forças armadas do Paquistão lutaram

eficazmente contra o terrorismo no seu território. O grande esforço, desde 2001, tem

sido realizada meticulosamente e a um preço muito alto, tanto em termos de perdas

econômicas quanto de vidas humanas. É apenas através da resiliência inabalável e

dificuldades sofridas pelas forças armadas do Paquistão que o terrorismo está no

curso da derrota. As forças armadas do Paquistão adotaram uma metodologia

abrangente para derrotar a ameaça da Al Qaeda, Islamic State (ISIL), East

Turkestan Islamic Movement (ETIM), Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), Tehreek-e-

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Nafaz-e-Shariat-e-Mohammadi (TNSM) e Islamic Movement of Uzbekistan (IMU). As

perdas do Paquistão na guerra contra o terrorismo são inestimáveis. O Paquistão

perdeu mais tropas na luta contra o terrorismo do que toda a coalizão da OTAN

combinada. "Nós alcançamos um sucesso fenomenal na guerra contra o terror."

(Chefe do exército do Paquistão, Qamar Javed Bajwa, 2018, Tradução Nossa)

É pertinente destacar que a ameaça do terrorismo é única e distinta de uma

determinada região, pessoas, ideologia e época. Será imprudente comparar

insurgências ou propor uma campanha militar bem-sucedida como modelo ou

solução para combater todos os outros conflitos relacionados com o terrorismo. No

entanto, alguns erros, relevantes para a maioria, se evitado poderia minimizar a

escalada da situação que eventualmente se torna irrevogável.

2 REFÊRNCIA TEÓRICA E METODOLÓGICA 2.1 A TEORIA DA GUERRA E A GUERRA HÍBRIDA

Para entender a teoria da guerra, não há recurso melhor do que "Sobre a

guerra" de Clausewitz, que é considerado um dos grandes trabalhos de estratégia e

teoria militar na história. Carl von Clausewitz (1780-1831) foi estudado

extensivamente por estudiosos dedicados e é reconhecido como um dos poucos

escritores verdadeiramente grandes em guerra. Muitos aspectos de suas ideias e

conceitos receberam muita atenção nos últimos anos e são frequentemente

discutidos nas doutrinas atuais e nos processos educacionais entre civis e militares.

Os analistas costumam citar e relatar suas teorias com a era atual; alguns

concordam, outros concordam parcialmente com certas modificações e alguns

outros negam sua relevância com os dias atuais. No entanto, sua teoria da guerra

deu o conceito com o qual as novas teorias poderiam ser comparadas.

De acordo com Clausewitz (p.75), “a guerra é apenas um duelo em grande

escala”. Ele explica ainda: “A guerra é, portanto, um ato de força para obrigar nosso

inimigo a fazer nossa vontade”. Clausewitz aplicou um estudo científico e

metodológico. abordagem para analisar a guerra em todos os seus aspectos.

Segundo Clausewitz, "a guerra é apenas a continuação da política por outros

meios". A essência dessa teoria era a descrição de Clausewitz do escalão vertical da

guerra (política e táticas de estratégia), que ele apresenta no paradigma estratégico

"fins, caminhos e meios". Clausewitz considera a guerra completamente subordinada

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à política. Em “On War”, ele explica que “o objeto político, o motivo original da

guerra, determinará o objetivo militar a ser atingido e a quantidade de esforço que

requer” (tradução nossa).

O Manual de Publicação Conjunta do Exército dos EUA, JP 3-26, relaciona a

natureza da Guerra e Terrorismo e descreve a guerra como.

Guerra é o mecanismo, método ou modalidade de conflito armado contra um inimigo. [...]. Os militares norte-americanos reconhecem dois tipos básicos de guerra, convencional e irregular. Terrorismo é, principalmente, uma ferramenta de guerra irregular, mas tem sido visto umas ações ilegais de atores estatais e não-estatais durante guerras convencionais. (EUA JP 3-26, 2012) (tradução nossa)

Existem outras teorias de guerra por generais, analistas, estrategistas que

propõem diferentes tipos de guerra:

a) guerra total;

b) guerra limitada;

c) guerra convencional;

d) guerra não convencional (guerras irregulares);

e) guerra sub-convencional;

f) conflito de baixa intensidade;

g) guerras assimétricas; e agora

h) guerra híbrida.

O bordão "Guerra Híbrida" está na moda entre os líderes civis e militares em

todo o mundo. Recentemente, a Guerra Híbrida foi discutida e analisada pelos

autores ocidentais após a anexação da Criméia pela Rússia. Alguns atribuíram a

Guerra Híbrida como "Doutrina da Rússia" de autoria do Chefe do Estado-Maior do

Exército Russo, General Gerasimov (veja o General Gerasimov pensamento em

seção 2.8.1). No entanto, de acordo com Murray e Mansoor (2011) e Kofman e

Rojansky (2015), há pouca novidade na guerra híbrida como um conceito, é um

meio útil de pensar sobre o passado, presente e futuro da guerra. Uma das

conceituações mais explicativas sobre a guerra híbrida foi oferecida por Frank G.

Hoffman em uma análise dedicada explicitamente ao que chamou de "not-so-new

warfare", Frank Hoffman, da Universidade de Defesa Nacional dos Estados Unidos,

definiu a ameaça híbrida como "qualquer adversário que simultaneamente emprega

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uma mistura personalizada de armas convencionais, táticas irregulares, terrorismo".

e comportamento criminoso no mesmo tempo e espaço de batalha para obter seus

objetivos políticos.” (tradução nossa).

Para combater os oponentes híbridos, no entanto, é necessário primeiro

entender as características da guerra híbrida. Peter R. Mansoor (2012) definiu a

guerra híbrida como um conflito envolvendo uma combinação de forças militares

convencionais e irregulares (guerrilheiros, insurgentes e terroristas), que poderia

incluir tantos atores estatais quanto não-estatais, visando alcançar um propósito

político comum. Forças irregulares não precisam ser dirigidas centralmente, embora

em muitos casos elas façam parte de uma estratégia coerente usada para se opor a

uma força invasora ou de ocupação.

Kofman e Rojansky, (2015) analisaram a “Guerra Híbrida” no artigo de

Woodrow Wilson (Kenan Institute) no contexto da Rússia. Eles argumentam que a

Guerra Híbrida, que é comumente percebida como uma nova forma de guerra, não é

nova. A primeira parte do equívoco em torno da "guerra híbrida" é o próprio termo.

Apesar de soar novo e em voga, sua utilidade analítica é limitada. O aspecto

“híbrido” do termo simplesmente denota uma combinação de tipos de guerra

anteriormente definidos, seja convencional, irregular, política ou de informação.

“Mesmo aqueles que apresentaram tal definição”, escrevem Kofman e Rojansky

(2015), “devem admitir que a combinação de guerra entre domínios não é nova, mas

na verdade é tão antiga quanto a guerra em si.” É útil pensar além do definições

contemporâneas de guerra às quais nos acostumamos, mas o termo é

inerentemente impreciso e não descreve uma nova forma de guerra.

Outro recurso útil sobre a Guerra Híbrida é da perspectiva russa por um

renomado analista, Andrew Korybko. Seu livro “Hybrid Wars: The Indirect Adaptive

Approach to Regime Change” fornece um relato ilustrativo de conflitos no século

XXI. Andrew, que contribui com frequência para o grupo de reflexão “Katheon” e

para a revisão “Oriental”, conceituou um novo paradigma para entender as relações

internacionais e inventou uma metodologia de suporte para testes. Segundo Korybko

(2017) Guerra híbrida pode ser definida como (Figura 2).

Conflitos de identidade provocados externamente, que exploram diferenças históricas, étnicas, religiosas, socioeconômicas, [políticas] e geográficas dentro de estados de trânsito geoestratégicos através da transição gradual de Revoluções Coloridas para Guerras Não Convencionais, a fim de perturbar, controlar ou influenciar a

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infraestrutura conectiva transnacional multipolar projetos por meio de “ajustes de regime”, mudança de regime e / ou reinicialização do regime. (tradução nossa).

Figura 2 – Conflitos de Identidade Provocados e Explorados Externamente na

Guerra Híbrida

Fonte: Korybko (2018, p.208) Aspecto do político acrescentado pelo autor. Ilustração criada pelo autor.

Korybko (2015) acredita que as armas de destruição em massa e o mundo

multipolar emergente impõem limites ao confronto direto entre estados. Além disso,

o sistema internacional está se transformando de tal forma que os custos políticos e

físicos de travar uma guerra convencional contra os países estão se tornando um

fardo excessivo, tornando assim essa opção militar menos atraente. Sob tais

circunstâncias, a guerra indireta adquire um valor elevado no planejamento

estratégico e sua aplicação pode assumir uma variedade de formas. Para detalhes

sobre a perspectiva da Korybko em Guerra Híbrida (ver seção 2.8).

2.2 AS PERSPECTIVAS DO TERRORISMO

A diferença de opinião sobre as amplas perspectivas sobre o terrorismo é

amplamente contestada. De acordo com Schmid (2011), a frase familiar “o terrorista

de um homem é o combatente da liberdade (freedom fighter) de outro” realmente vai

ao coração do fenômeno terrorista. O que um observador vê como terrorismo, outro

pode ver como luta pela liberdade. Alex P. Schmid et al., (2011, p. 20) formularam

um questionário buscando uma opinião de especialistas nessa perspectiva de

terrorismo. Na resposta do referido questionário, muitos acadêmicos deram sua

opinião—alguns naturalmente motivados pelo preconceito por causa de sua

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nacionalidade e outros devido a suas alianças e percepções. A seguir, a pergunta e

as respostas de dois proponentes: “Qual é, na sua opinião, a relação entre

'terrorismo' e 'lutas de libertação nacional' / 'luta contra a liberdade' / 'resistência à

ocupação estrangeira'?”

Legalmente falando, não há [diferença], pois são conceitos distintos. O Direito Internacional Humanitário proíbe ataques contra civis e objetos civis, independentemente da causa–ou sua justiça – subjacente a uma situação de conflito armado e, portanto, já proíbe a maioria dos atos que seriam considerados "terroristas" se cometidos em tempo de paz. (a resposta de um advogado internacional ligado ao CICV). (SCHMID et al., 2011, p.20) O terrorismo é sempre violento (envolve o uso da força ou a ameaça da força), ao passo que as lutas de libertação nacional, a luta pela liberdade e a resistência à ocupação estrangeira também podem ocorrer (e frequentemente ocorrem) de forma não violenta. (SCHMID et al., 2011, p.20)

Deixando de lado esse complexo debate, o terrorismo, no entanto, poderia

ser caracterizado de acordo com tipos e meios. Um jovem estudioso da Austria,

Lockinger, fornece uma árvore tipológica (Figura 3) que organiza as várias formas de

terrorismo em quatro categorias: atores, meios e métodos, motivos e finalmente por

alcance geográfico.

Figura 3 – Árvore da Tipologia do Terrorismo

Fonte: Lockinger (2005) (tradução nossa).

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Outra tipologia abrangente, por Victoroff (2005), é mostrado no Quadro 1,

dando variáveis sujeitas a análises e classificações.

Quadro 1 – Dimensões do Terrorismo

Variável Classificação

Agressor Indivíduo versus grupo

Patrocínio Estado versus sub-Estado vs. indivíduo

Relação com a autoridade

Ante estado/ante estabelecimento/separatista vs. pró-estado/pro-estabelecimento

Localidade Estadual versus transnacional

Status militar Civil versus paramilitar ou militar

Motivação espiritual Secular versus religiosa

Motivação financeira Idealista versus empresarial

Ideologia política Esquerdista/socialista versus direita/fascista vs. anarquista

Função hierárquica Patrocinador versus Líder versus gestão média versus seguidor

Vontade de morrer Suicida versus não suicida

Alvo Propriedade (incluindo dados) versus indivíduos versus massas de pessoas

Metodologia Bombardeio, assassinato, sequestro / tomada de reféns, ataques químicos, estupro, outros (por exemplo, bioterrorismo, ciberterrorismo, narcoterrorismo)

Fonte: Victorff (2005). (tradução nossa).

2.3 REVISÃO DE LITERATURA

Existem inúmeros recursos disponíveis sobre “Terrorismo”, devido a sua

prevalência ao longo da história. O principal desafio, no entanto, é identificar a

perspectiva do terrorismo que é frequentemente influenciada pela abordagem do

escritor. Neste cenário, nenhuma teoria ou definição de Terrorismo poderia servir

para todas as situações que continuavam sendo uma tarefa difícil, já que Eu, autor

deste trabalho de pesquisa, também pretendo definir o terrorismo no domínio da

Guerra Híbrida. Na literatura de compreensão do fenômeno do Terrorismo, alguns

autores são muito bem renomeados. Entre eles, Walter Laqueur, Alex P. Schmid,

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Ariel Merari, Bruce Hoffman, Brian M. Jenkins, R. Kupperman e David J. Whittaker

são considerados como especialistas no estudo do Terrorismo.

Na minha busca de compreender as dimensões do Terrorismo, consultei

vários livros de diversos tópicos, que incluíam diferentes tipos de terrorismo, tais

como: do individual ao político; do revolucionário à insurgência, da guerra

convencional à guerra híbrida. Um recurso abrangente que me deparei foi “The

Routledge Handbook of Terrorism Research (2013)”, de Alex P. Schmid (Ed.). Este

livro fornece a compreensão do termo complexo terrorismo de diferentes

perspectivas e identificou com sucesso os incidentes ligados ao terrorismo em todo

o mundo. A coisa mais impressionante sobre o livro é seu esforço para apresentar

fatos baseando-se em pesquisa detalhada e pesquisa de acadêmicos proeminentes,

políticos, comandantes militares que tiveram a experiência de lidar com os

problemas do terrorismo. Este livro orienta ao pesquisador em relação a como

realizar pesquisas sobre o tema "terrorismo".

Outro livro útil e abrangente sobre o combate ao terrorismo e às Forças

Irregulares é o do Coronel do Exército Brasileiro, Alessandro Visacro “Guerra

Irregular; Terrorismo, guerrilha e história do longo da história (2009). Viascro

apresentou um trabalho crítico e não partidário sobre o terrorismo. Há muitos outros

recursos valiosos dados nas referências que foram consultadas na formulação deste

trabalho de pesquisa. No entanto, julgo necessário mencionar uma lição importante

que aprendi ao formular esta pesquisa quando li o livro “Learning to eat soup with a

Knife: Counterinsurgency lessons from Malaya and Vietnam” (2005). Este livro foi

escrito por um Coronel do Exército Britânico que compara a abordagem contra

insurgente do exército britânico e dos EUA na Malásia e no Vietnã, respectivamente.

O autor deste livro tenta apresentar que o modelo britânico de contra insurgência foi

bem-sucedido, enquanto o Exército dos EUA não conseguiu subjugar a insurgência

com sucesso. No entanto, o autor sendo um militar que serviu mais tarde no Iraque,

escreveu no prefácio da edição revisada de 2005 que comparar a insurgência de um

país com outro era uma falácia. A natureza complexa da insurgência não segue uma

situação semelhante para todos. Neste entendimento, a presente pesquisa não

pretende propor soluções definitivas para desafios complexos do terrorismo, mas

oferecer apenas lições comuns a insurgências dos contextos históricos da China,

Vietnã, Afeganistão e Paquistão.

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2.4 METODOLOGIA

Esse trabalho de pesquisa examina, através da metodologia qualitativa, as

características únicas do terrorismo na esfera da Guerra Híbrida, comparando-a com

outras formas de conflitos violentos, delineando as principais ideias estratégicas

pelas quais os terroristas esperam alcançar seus objetivos e avaliando seu sucesso

e as condições que o afetam. A pesquisa, a partir de então, leva aos desafios

enfrentados pelo Estado e pelas Forças Armadas para enfrentar os fenômenos do

Terrorismo e, finalmente, apresenta o modelo adotado pelo Exército do Paquistão,

que contribuiu significativamente para o declínio dessa ameaça.

O trabalho de pesquisa, além da experiência pessoal do autor na luta contra o

terrorismo, que é a base da pesquisa, também examina vários livros sobre Guerra,

Contra insurgência e contraterrorismo. Isso inclui também a revisão de trabalhos de

conclusão de curso do Major (agora Coronel) Infantaria Fábio El-Amme Paranhos

sobre a ameaça do Terrorismo Contemporâneo na América do Sul (2010) e do Major

(agora Tenente-Coronel) Cavalaria Leandro Noveli Espindola sobre “Possibilidade

de atividades terroristas em (2009) publicado pela Escola de Comando e Estado-

Maior do Exército (ECEME), Rio de Janeiro.

2.5 O QUE É O TERRORISMO?

2.5.1 Definições e conotações do terrorismo

Alcançar um consenso sobre o significado do termo "terrorismo", embora

importante, não é o objetivo deste trabalho de pesquisa, porque as definições de

terrorismo são normalmente apresentadas de acordo com o preconceito ou a

compreensão do escritor. Portanto, o seguinte texto se forçará em oferecer as

diferentes conotações do terrorismo. Os críticos sugerem que não é apenas a

definição que é o foco, mas a competência em que o pesquisador trabalha. Os

propósitos, circunstâncias e métodos envolvidos na violência de um estado contra os

seus próprios cidadãos são totalmente diferentes daqueles que caracterizam a

violência pelos estados contra outros estados ou por grupos rebeldes contra os

governos. A aplicação do termo "terrorismo" para todas as três situações é ofuscante

e é explorado em interesses investidos pelo usuário.

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A definição de terrorismo ainda é elusiva desde a sua primeira proposta de

definição legal pela Liga das Nações em 1937 (SCHMID, 2011, p.39). Nas palavras

de Lord Carlile de Berriew (2007, p.47), o revisor independente da legislação de

terrorismo da Grã-Bretanha, “não existe uma definição única de terrorismo que

obtenha total aprovação internacional”. De acordo com SCHMID (2011, p. 99), que

coletou 250 definições de terrorismo no trabalho de pesquisa do “The Routledge

Handbook of Terrorism Research”.

Elas [250 definições de terrorismo] enfatizam uma variedade de atributos do terrorismo, como seu caráter frequentemente simbólico, sua natureza frequentemente indiscriminada, seu foco típico em alvos civis e não combatentes de violência, seus objetivos às vezes provocativos e às vezes objetivos punitivos, o rompimento de ordem pública e colocar em perigo a segurança pública, a criação de clima de medo para influenciar o público mais amplo do que as vítimas diretas, seu desrespeito às regras de guerra e as regras de punição, e seu caráter assimétrico (armado versus desarmado; fraco versus Forte). (tradução nossa).

Usado como um dispositivo retórico, o termo "terrorismo" ameaça se tornar

uma mera crítica em debates políticos, onde acusações e contra-acusações

concorrem pela indignação moral ou aprovação de audiências relevantes. Os

envolvidos no debate da definição muitas vezes tentam moldar as definições de uma

maneira que atenda às suas necessidades. Em outras palavras, as definições

geralmente tendem a refletir os interesses políticos e o julgamento moral daqueles

que fazem a definição. Segundo Schmid (2011, p.88), por exemplo, o Movimento

Não-alinhado, reunido em 2006 em Havana, tentou refinar o terrorismo. Como

relatou um escritor da Associated Press, "o Irã, a Coréia do Norte e mais de 100

outras nações estão pressionando para ampliar a definição mundial de "terrorismo"

para incluir a ocupação do Iraque / Afeganistão e a invasão Israelense do Líbano.

Membros do Movimento Não-Alinhado reclamaram de um duplo padrão: nações

poderosas como os Estados Unidos e Israel decidem pelo mundo quem são os

terroristas, mas não enfrentam punições por seus próprios atos de agressão. Um

rascunho da declaração conjunta do grupo condenou "o terrorismo em todas as suas

formas".

Muitas autoridades árabes acreditam que a Al-Qaeda é uma organização

terrorista, pois tem como alvo civis, falta a causa e a justificativa, não distingue - até

mesmo matar seus próprios cidadãos e muçulmanos para ampliar o sistema islâmico

auto percebido não tem nada a ver com Islamismo. Como consequência, o

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terrorismo é um conceito contestado no sentido de que as pessoas acham difícil

concordar com o seu significado ou com o seu alcance. Terroristas raramente usam

o termo para se descrever. Geralmente eles optam por termos como

"revolucionário", "combatente da liberdade", "mártir", "guerrilheiro urbano",

"combatente da resistência" ou mesmo soldado.

Em muitos conflitos, o governo é a principal "agência definidora" e detém

"poder de definição". Termos críticos para o exercício do poder e para possuir

legitimidade são, portanto, frequentemente contestados. Na política, os termos-

chave são frequentemente carregados de valores e fórmulas—como "eixo do mal"—

sinalizam desaprovação, apelam para emoções, mas também podem servir como

ferramentas de mobilização. Portanto, uma questão crucial no debate da definição é:

quem deveria ter poder de definição? Deveria essa tarefa ser deixada para os

próprios terroristas, suas vítimas ou para a mídia? Deveria ser deixado aos governos

nacionais (parlamentos, poder executivo ou judiciário) ou a organizações regionais

ou às Nações Unidas? Deve ser deixado para os líderes religiosos que afirmam

estar de posse da "verdade"? Ou deveria ser deixado para os grandes poderes que

decidem qual organização é terrorista e qual, não é?

Alex P. Schmid et al. (2011) formularam um questionário e analisou-o à luz de

noventa e um (91) entrevistados para definir o termo “Terrorismo”. Muitos

acadêmicos criticaram a tentativa como fútil sendo uma questão de controvérsia e

sem um propósito. Walter Laqueur afirmou, em 1977, que "qualquer definição de

terrorismo político [...] para alcançar fins políticos está fadado a levar a infindáveis

controvérsias". Mais tarde, ele escreveu: “Após trinta anos de trabalhos forçados,

ainda não existe uma definição geral de terrorismo.” Philip Schlesinger, um sociólogo

britânico, chegou a argumentar que “nenhuma definição comumente aceita pode em

princípio ser alcançada, porque o próprio processo de definição é em si mesmo

parte de uma contestação mais ampla sobre ideologias ou objetivos políticos”. Alex

P. Schmid et al. (2011) formularam as seguintes questões:

a) cujo "definição de terrorismo" você utiliza?

b) qual é o seu comentário/crítica sobre a definição consensual de terrorismo

de 1988?

c) qual é o seu comentário/crítica sobre o projeto de definição de terrorismo

da ONU?

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d) qual é o seu comentário / crítica sobre a definição de terrorismo do

Departamento de Estado dos Estados Unidos da América?

Concluindo: O propósito de debater os diferentes significados do Terrorismo

não é alcançar um consenso sobre ele, mas sim identificar as conotações dele como

sendo percebidas por diferentes teóricos. Um olhar mais atento ao conjunto de

definições citadas por Schmid mostra que as definições oficiais de terrorismo são

bastante semelhantes. É pertinente lembrar que a amostra de definições oferecidas

por Schmid reflete, em geral, as percepções e atitudes de acadêmicos e funcionários

ocidentais. As opiniões sírias, líbias e iranianas sobre o que constitui o terrorismo

são bem diferentes, e também, muito provavelmente, são as dos muitos outros

países do Terceiro Mundo. O crescente consenso ocidental sobre a essência do

terrorismo provavelmente não é compartilhado pela maioria das pessoas na Terra.

(MERARI, 2007, p.14).

2.5.2 Universo de Violência Política

Teoricamente, há um número infinito de maneiras de classificar a violência

politicamente motivada. No entanto, uma classificação básica que se relaciona ao

iniciador da violência e ao seu alvo, distinguindo entre estados e cidadãos, é

apresentada no Quadro 2. Ela engloba todas as formas de violência política

realizadas por seres humanos contra outros seres humanos, enquanto a diferencia

entre os seus principais tipos. Cada uma das quatro células inclui uma categoria

distinta de comportamento hostil.

Quadro 2 – Uma Classificação Básica da Violência Política

Fonte: Merari (2007) (Tradução Nossa).

Alvo Estado Cidadãos

Iniciador

Estado De escala natural; atividade

beligerante em tempos de paz

(por exemplo ataques punitivos)

Opressão legal e ilegal

da aplicação da lei

Cidadãos Guerra de guerrilha; terrorismo

insurgente; golpe de estado;

Revolução leninista

Terrorismo de

vigilantes; terrorismo

étnico

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2.5.2.1 Estados contra Estados

A violência iniciada pelos estados pode ser conceitualmente dividida em dois

tipos principais: a violência estatal dirigida abertamente contra outros estados e a

violência que os Estados infligem a estados adversários que empregam o terrorismo

como uma ferramenta tática. Ações agressivas de estados contra outros estados

muitas vezes tomam a forma de guerra convencional - um confronto de grandes

exércitos regulares. Esta foi, sem dúvida, a forma mais consequente de violência na

história. Vários aspectos das guerras convencionais, como a estratégia militar e as

leis da guerra, apresentaram meios convencionais e não convencionais empregados

pelos estados. Os Estados também usaram outros meios de violência em suas

disputas com outros estados, como ataques aéreos limitados, incursões de

comandos ou o assassinato de agentes inimigos (MERARI, 2007).

2.5.2.2 Estados contra cidadãos

O uso da força pelos estados contra seus próprios cidadãos inclui duas

subcategorias principais. Um é o processo legal comum e evidente pelo qual os

estados impõem suas leis. O outro é o uso clandestino de violência ilegal por um

governo, destinado a intimidar e aterrorizar os cidadãos com a intenção de impedi-

los de se opor ao regime. Às vezes, a violência ilegal do estado é exercida no

contexto de conflitos internos em nome da eficiência: cortando os cantos dos

processos legais que dificultam a luta contra os insurgentes. Exemplos são

abundantes (MERARI, 2007). Os exemplos recentes incluem a violência do estado

contra os cidadãos, identificada pelos Direitos Humanos da ONU, em Mayanmar

contra Rohingya (2018) e na Caxemira Ocupada pela Índia (2018). Outros exemplos

incluem “Esquadrões da morte” em vários países da América Latina, geralmente

tripulados por membros das forças de segurança, fornecem um exemplo menos

eficiente, embora bastante repugnante, de uma marca diferente. 2.5.2.3 Cidadãos contra os cidadãos

A forma mais geral de violência dos cidadãos contra outros cidadãos é o

crime comum. O crime comum é geralmente motivado por razões que nada têm a

ver com objetivos políticos. Muito do que está comprometido para ganho econômico

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pessoal e outra parte significativa é estimulada por animosidades pessoais. Assim, a

grande massa de violência dos cidadãos contra outros cidadãos não está

relacionada ao assunto deste ensaio, a saber, a violência política. Há, no entanto,

também fenômenos de violência dos cidadãos comprometidos por motivações

políticas ou sociais, conforme identificado por Meira Mattos (2004). Algumas delas

estão relacionadas a rivalidades ou disputas raciais ou étnicas; outros estão

associados a ideologias sociais de direita ou de esquerda.

Um caso especial de violência dos cidadãos, o justiceiro, merece menção

especial. A violência de justiceira tem sido associada, por vezes, a uma tentativa não

autorizada de controlar o crime, mas, por vezes, com violência contra minorias

étnicas ou políticas (MERARI, 2007).

2.5.2.4 Cidadãos contra o Estado

A violência dos cidadãos contra os estados pode ser organizada ou

espontânea. Às vezes é uma expressão impulsiva de descontentamento, sem

objetivos políticos claros nem liderança ou plano organizado. Em sua forma

organizada, a violência dos cidadãos cai sob a categoria de insurgência, visando

derrubar o governo. As principais formas de insurgência são distintas estratégias de

insurreição que diferem umas das outras em várias características importantes.

Muitas vezes, a violência dos cidadãos contra o Estado busca prontamente o apoio

dos países hostis (MERARI, 2007). 2.5.3 Terrorismo Patrocinado pelo Estado

As teorias que tratam do terrorismo internacional patrocinado pelo estado

foram populares durante o período da Guerra Fria, quando a guerra por procuração

era uma das táticas empregadas pelos campos rivais. Existem diferentes escolas de

pensamento, cada uma denotando uma tomada mais ou menos ideológica do

patrocínio estatal. A dissuasão nuclear, o medo de sanções internacionais, a

condenação e a escassez de recursos para a guerra introduziram um novo tipo de

guerra por meio do patrocínio de terroristas e elementos canalhas no país hostil -

Guerra Híbrida.

Servir como patrocinador de terroristas não-estatais, no entanto, não é

somente um privilégio de superpotência e antigos poderes coloniais. Uma vez que o

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apoio a grupos de clientes no exterior é uma alternativa barata para o conflito

convencional, o terrorismo por procuração tem sido utilizado por vários estados por

uma variedade de razões, sendo a mais básica: "o inimigo do meu inimigo é meu

amigo".

Em termos gerais, um estado pode ser levado a ajudar um movimento

insurgente estrangeiro por preocupações estratégicas, ideologia e / ou política

interna. As preocupações estratégicas incluem esforços para desestabilizar vizinhos,

esforços para provocar mudanças de regime no exterior e um desejo de ajudar na

formação da oposição a regimes hostis. Tipicamente, os estados podem ser

influenciados para apoiar os terroristas como um veículo para exportar seu próprio

sistema político, ou como um meio de melhorar a posição internacional do

patrocinador. Preocupações domésticas também podem persuadir um estado a

patrocinar insurgências externas. Um amplo apoio para ajudar parentes de etnia, ou

para ajudar os correligionários, muitas vezes ajuda a alimentar tais conflitos

(SCHMID, 2011).

A motivação pelo patrocínio muitas vezes determina o tipo de apoio dado aos

movimentos insurgentes. O mais comum é o treinamento e suporte operacional.

Dinheiro, armas e ajuda logística também são ativos valiosos que os estados podem

disponibilizar para grupos de clientes armados. O apoio diplomático pode ser

importante, embora muitas vezes seja menos crucial para a sobrevivência do grupo

terrorista. A assistência organizacional e a direção ideológica são por vezes

procuradas pelos patrocinadores estatais. A forma mais importante de patrocínio, no

entanto, é a provisão do santuário, a partir da qual os insurgentes podem organizar

as operações com impunidade. Ao determinar se e que tipo de ajuda fornecer, a

principal preocupação dos patrocinadores estatais é a ameaça de escalada. A

ameaça é forte de que um patrocinador será atraído para um conflito em nome de

um ator não estatal violento. Além disso, o grau em que um estado está inclinado a

ajudar um grupo terrorista também depende da medida em que um estado está

disposto a se engajar em atividades insurgentes.

2.5.4 Terrorismo Contemporâneo

Walter Laqueur (2007) em “Terrorism: A Brief History” escreve que o

terrorismo reapareceu após a Primeira Guerra Mundial em vários países. Antes de

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chegar ao poder, tanto os fascistas quanto os comunistas acreditavam na violência

em massa e não em atos terroristas individuais, com algumas exceções ocasionais,

como o assassinato de líderes proeminentes.

Houve pouco terrorismo durante a Segunda Guerra Mundial e nas duas

décadas seguintes. Isso explica, talvez, por que a renovação das operações

terroristas na década de 1970 e a ascensão do terrorismo em nome da religião

foram interpretadas por muitos como algo totalmente novo e sem precedentes. O

terrorismo tradicional tinha seu "código de honra": dirigia-se à reis, líderes militares,

ministros e outras figuras públicas importantes, mas se houvesse o perigo de que a

mulher ou os filhos do alvo fossem mortos em um ataque, os terroristas se absteriam

de atacar, mesmo que isso colocasse em risco suas próprias vidas.

Hoje, o terrorismo indiscriminado tornou-se a regra que atinge pessoas

inocentes. O termo terrorismo, portanto, tem conotações muito negativas, e os

terroristas agora insistem em serem chamados por outro nome. O terrorista moderno

quer ser conhecido como um combatente da liberdade, um guerrilheiro, um rebelde,

um revolucionário - qualquer coisa menos um terrorista.

Em vez de simplesmente distinguir entre velhas e novas guerras, Reed (2005)

propõe cinco gerações de guerra (Figura 4).

Figura 4 – Tipologia geral de Guerra e Conflito

Fonte: Reed (2008) (tradução nossa).

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Segundo o General Alvaro de Souza Pinheiro (2011), fundamentalmente, são

quatro as variantes de organizações terroristas em presença, na atualidade. A

primeira, são organizações terroristas inseridas no contexto de movimentos

revolucionários, desencadeando atentados em conjunção a atividades de subversão

e de guerrilha, visando à derrubada do sistema politico vigente. Poderão ser

apoiadas (ostensiva ou sigilosamente), ou não, por um ou mais governos

estrangeiros.

A segunda, são organizações terroristas que, apesar do engajamento em

causas tidas como justas, em função do radicalismo de suas posições, mostram-se

incapazes de obter um significativo apoio popular. De mesma maneira que a

anterior, poderão ser apoiadas (ostensiva ou sigilosamente), ou não, por um ou mais

governos estrangeiros.

A terceira, são organizações terroristas que, além de cerradamente apoiadas,

seguem (ostensiva ou sigilosamente) as diretrizes de um ou mais governos

estrangeiros, o(s) qual(is) presta(m) apoio.

A quarta, são organizações terroristas que, embora contando com o apoio

velado de governos simpatizantes, operam de forma totalmente independente, não

limitando nem suas bases, nem suas atividades ao território de determinado país ou

à sua filosofia política.

2.6 TERRORISMO COMO FERRAMENTA PRINCIPAL NA GUERRA IRREGULAR

2.6.1 O Terrorismo e a Guerra Irregular

O Tenente Coronel de Cavalaria Leandro Noveli Espindola, do Exército

Brasileiro em seu trabalho de conclusão de curso de 2015, descreve que os

fenômenos guerra e terrorismo possuem ligação muito estreita, permitindo que o

terrorismo seja estudado pelo paradigma da Guerra. Ambos podem ser entendidos

como instrumento da política, sendo um meio para atingir objetivos políticos. Outra

similaridade está na complexidade dos fenômenos, permitindo abrangente

diversidade de formas e classes dentro de cada um deles. O terrorismo tem uma

relação muito próxima da guerra, podendo ser considerado a própria guerra ou um

modo para fazê-las. Devido à necessidade de conhecer o ambiente em que a guerra

será́ travada (CLAUSEWITZ, 1984), torna-se imperativo conhecer o fenômeno do

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terrorismo, além dos conflitos armados, a fim de poder enfrentá-lo e obter êxito. Na

busca dos fundamentos relacionados ao terrorismo, é primordial identificar a

conjuntura de sua eclosão.

Para Schmid e Jongman (1988, p. 16), o terrorismo “pode ter lugar em um

contexto de guerra, em um contexto insurgência e em um contexto puro, isto é, num

contexto em que o apoio popular para a luta está quase completamente ausente”.

Laqueur (1999, p. 46, tradução nossa) está de acordo com tais autores,

acrescentando o emprego no âmbito de uma campanha politica. Reforçando a ideia

do emprego do terrorismo em uma operação de guerra regular, Visacro (2009, p.

121) esclarece que o Programa Fênix dos EUA no Vietnã̃ foi convertido em uma

grande campanha terrorista no âmbito das operações clandestinas. Além disso, o

terrorismo individual desempenhou um papel secundário no movimento de

resistência europeu durante a segunda Guerra Mundial.

Em um contexto puro, o terrorismo é considerado uma forma de guerra,

sendo utilizado para alcançar os objetivos políticos do Estado, grupo ou individuo

que o emprega. Nessa relação em estudo, Liang e Xiangsui (1999, p. 5) afirmam

que “a única conclusão certa é a de que, a partir de agora, a guerra não será́ mais

como sempre foi”. Assim, apresentam uma nova perspectiva para os conflitos

armados futuros, com a presença de atentados terroristas, ocasionando a

necessidade de seu estudo.

Em seu relacionamento com a política e com a guerra, o terrorismo não

ocorre em composição única. Pode fazer parte de uma guerra, tanto regular quanto

irregular, ou ser a própria guerra, quando assume o monopólio da violência a fim de

alcançar os objetivos políticos. Sua compreensão é o primeiro passo para definir

estratégias destinadas a sua prevenção.

2.6.2 O Ato de Terror

Coronel Alessandro Visacro, Exército do Brasil em seu livro “Guerra Irregular;

Terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história (2009)”;

descreveu apropriadamente sobre ato de terror. Segundo ele, o terrorismo

compreende um vasto alcance de atividades que transcende o senso comum,

associando-se, frequentemente, a um proselitismo demagógico com o intuito de

atingir determinados objetivos psicológicos. A vaga ideia compartilhada pela grande

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maioria do público manifesta-se de forma mais intensa no embate silente ou ruidoso

promovido pelas partes beligerantes através dos meios de comunicação de massa.

A ocorrência sistemática de sequestros, assassinatos ou atentados a bomba é

facilmente entendida pela opinião pública como sendo terrorismo. Ele é de opinião

que não se contesta que o massacre promovido por militantes foram atos terroristas.

Entretanto, um estudo um pouco mais acurado suscita questionamentos e dúvidas

acerca de métodos menos evidentes, como as "invasões de edificações e terras

públicas e privadas", as imposições para o fechamento de escolas e comércios, os

incêndios criminosos de transportes públicos e os ataques sistemáticos a postos

policiais.

2.6.3 Fases de um Ataque Terrorista

Em um artigo para a Military Review, publicado na edição brasileira do

segundo trimestre de 2003, o tenente-coronel Andrew Smith do Exercito australiano

descreveu a cronologia (Quadro 3) genérica de um atentado terrorista de forma

bastante elucidativa:

Quadro 3 – Cronologia de um ataque Terrorista Fase preparatória

[“antes”] Crise / Ataque

[“durante”] Fase de consequência

[“depois”] Atividades terrorista:

- Desenvolvimento de capacidades;

- Recrutamento; - Arrecadação de

verbas; - Aquisição de matérias; - Coleta de inteligência; - Planejamento; - Deslocamento

estratégico/bases; - Estabelecimento de

uma rede; - Reconhecimento; - Contra inteligência; - Operações de

informação.

– Deslocamento final; – Reunião;

– Montagem do equipamento;

– Reconhecimento final – Execução; – Extração.

– Exfiltração; – Regeneração das

capacidades; – Avaliação das consequências;

– Análise das operações; – Operações de

informação.

Fonte: adaptado do artigo "Combatendo o terrorismo", de Andrew J. Smith (Military Review, 2003) apud Visacro, 2009.

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De acordo com o Smith, esta breve análise sugere que um típico ataque

terrorismo global consiste em uma fase preparatória de vários anos, uma breve fase

de crise e uma longa fase de consequências.

2.6.4 O Uso do Terror como Arma

Muitos comentaristas procuram, em vão, respostas para o terrorismo no ato

em si. O terrorismo é apenas uma arma. O uso que se faz dela compete àqueles

que optam por empregá-la. Portanto, a moralidade, a motivação e os objetivos

implícitos em um atentado não podem ser identificados e compreendidos pela

análise exclusiva da ação. O termo "guerra global contra o terror", por exemplo, nada

significa. Trata-se de uma expressão com forte apelo psicológico, cunhada para

atingir a opinião pública, tornando questões complexas da política externa norte-

americana inteligíveis para o cidadão comum (VISACRO, 2009).

Especialistas tendem a atribuir ao terrorismo um caráter hediondo, intrínseco

à sua própria natureza. Mas até mesmo essa ideia é discutível. O Protocolo

Adicional II de 1977 às Convenções de Genebra de 1949 proíbe os atos de terror.

Entretanto, não existe consenso quanto à definição de terrorismo. Sem sombra de

dúvida os atentados terroristas que vitimam civis inocentes podem ser comparados

com ato de guerra. Como qualquer ato de guerra que vitime não-combatentes que

atinjam civis inocentes intencionalmente ou sombra de dúvida. Porém, o que dizer

do ataque terroristas contra civis ou morte de inocentes em nome de danos colateral

através de drones ou bombardeios indiscriminados. Não parece razoável, portanto,

qualificar ataques dessa natureza como aqueles que elegem civis inocentes como

alvos.

O terrorismo é um recurso operacional que necessita de poucos agentes

envolvidos diretamente na ação, independe do apoio ativo das massas, provoca

forte impacto psicológico, custa pouco e pode causar danos físicos

proporcionalmente grandes. Assim sendo, é empregado com maior frequência

durante as fases iniciais de organização e expansão dos movimentos de luta

armada, quando os recursos ainda são escassos e o apoio popular é insipiente.

Recorrem, também, ao terror, com enorme ímpeto aquelas fações que perdem

gradativamente suas bases de sustentação junto aos moradores locais, em virtude

de campanhas contra insurgentes bem-sucedidas.

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Não foram poucos os grupos radicais que obtiveram bons resultados valendo-

se do terror como arma. Entretanto, muitos não souberam quando parar ou não

identificaram a necessidade ou a oportunidade para redirecionar suas ações e

tornaram-no contraproducente, pela desaprovação generalizada da opinião pública.

O Talibã no Afeganistão foi apoiado pelo governo dos EUA contra a ocupação

soviética, mais tarde o mesmo Talibã lutou contra os EUA como uma força

invencível em uma das mais longas guerras, ainda sem solução no futuro próximo.

Isso elucida como um ato de terror pode se voltar contra quem promove.

Em síntese, poderíamos apontar como principais tendências do terrorismo no

Século XXI ou a ocorrência cada vez mais frequente e diversificada desse

fenômeno; o intenso uso de conexões internacionais, acentuando seu caráter

transnacional; a adoção de estrutura de redes, mais complexas e versáteis, em

detrimento das tradicionais organizações verticalmente hierarquizadas; o

fortalecimento dos vínculos já existentes com o crime organizado e a associação

cada vez mais intensa com o tráfico de armas, o comércio ilegal de drogas e a

lavagem de dinheiro; a disseminação de táticas, técnicas e procedimentos, até então

restritas às organizações terroristas de vanguarda; o advento de novas e alternativas

formas de atuação, como o ataque cibernético, por exemplo; a capacidade crescente

de ampliar o número de vítimas e, por fim, o acesso a armas de destruição em

massa.

Segundo Viascro (2009), de qualquer forma, os terroristas continuam

orientando o planejamento de suas ações segundo a análise de três elementos

básicos, quais sejam: a mídia; a opinião pública; e os tomadores de decisão.

O estudo pormenorizado dos dois primeiros permite aos perpetradores

estabelecer metas psicológicas coerentes e exequíveis, selecionar potenciais alvos

primários e dimensionar o efeito desejado do ataque, isto é, o dano físico necessário

para sensibilizar o público-alvo e atingir o objetivo psicológico pretendido. A análise

dos "tomadores de decisão" é necessária para a definição dos objetivos políticos da

ação, ou seja, para criar uma expectativa de como a liderança do Estado reagirá,

cedendo ou não, à pressão exercida pela mídia e pela opinião pública. Portanto,

somente quando a mídia, a opinião pública e a cúpula governamental adquirirem

uma maior compreensão do fenômeno terrorismo, a sociedade tornar-se-á, de fato,

menos vulnerável a esse tipo de ameaça.

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2.7 TERRORISMO COMO ESTRATÉGIA DE INSURGÊNCIA 2.7.1 Formas de Violência Insurgente

A violência insurgente pode assumir diversas formas. Estes incluem

revolução, golpe de Estado, guerra de guerrilha, terrorismo e tumultos. Nos últimos

anos, o termo “intifada” ganhou publicidade, referindo-se às revoltas árabes contra

regimes autoritários. Com exceção dos tumultos, essas formas de violência política

também podem ser vistas como estratégias de insurgência. O Quadro 4 lista esses

formulários em uma estrutura que os distingue de acordo com várias características.

O objetivo é caracterizar o terrorismo, enfatizando as diferenças entre terrorismo e

outras formas de violência insurgente.

Quadro 4 – Comparação de formas de Insurgência

Forma de

Insurgência

Nível de

insurgência

Número

envolvido

Duração

da luta

Violên-

cia

Ameaça

ao regime

Esponta-

neidade

Coup d’etat Alta Alguns Curto Variado Grande Não

Leninist

Revolução

Baixo Muitos Curto Grande Grande Não

Guerrilha Baixo Médio Longo Grande Variado Não

Tumulto Baixo Médio Curto Pouco Pequeno Sim

Terrorismo Baixo Alguns Longo Pouco Pequeno Não

Resistência

não violenta

Baixo Muitos Longo Não Variado Não

Fonte: Merari (2007) (Tradução Nossa).

2.7.2 Terrorismo e Guerra de Guerrilha Os termos "terrorismo" e "guerra de guerrilha" são frequentemente usados de

forma intercambiável. Além de algum descuido no uso da terminologia técnica pela

mídia, políticos e até acadêmicos, essa sinonímia falha reflete a confusão em

relação à definição de terrorismo e, muitas vezes, um desejo de evitar a conotação

negativa que o termo adquiriu. A “guerra de guerrilha” não tem conotações

difamatórias, e seu uso, portanto, é utilizado por muitos escritores para transmitir

objetividade. Como Walter Laqueur apontou, o uso generalizado de “guerrilhas

urbanas” para descrever uma estratégia de terrorismo como uma extensão ou

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substituto da guerra de guerrilha provavelmente contribuiu para a confusão. Como

estratégias de insurgência, no entanto, o terrorismo e a guerra de guerrilha são

bastante distintos.

A diferença mais importante é que, ao contrário do terrorismo, a guerra de

guerrilhas tenta estabelecer o controle físico do território. Esse controle é geralmente

parcial. Em alguns casos, os guerrilheiros governam a área durante a noite e as

forças do governo controlam durante o dia. Em outros, as forças do governo são

capazes de garantir as principais rotas de transporte, mas o território da guerrilha

está a pequena distância dessas rotas. Em muitos casos, os guerrilheiros

conseguiram manter o controle total de uma porção considerável de terra por longos

períodos de tempo. A necessidade de dominar um território é um elemento-chave na

estratégia de guerrilha insurgente. O território sob o controle da guerrilha fornece o

reservatório humano para o recrutamento, uma base logística e - o mais importante -

o terreno e a infraestrutura para o estabelecimento de um exército regular.

A estratégia terrorista não disputa um controle tangível do território. O

terrorismo como estratégia não depende de “zonas liberadas” como áreas de

preparação para consolidar a luta e levá-la adiante. Como estratégia, o terrorismo

permanece no domínio da influência psicológica e carece dos elementos materiais

da guerra de guerrilha.

Outras diferenças práticas entre as duas formas de guerra acentuam ainda

mais a distinção básica das duas estratégias. Os guerrilheiros costumam combater

em unidades do tamanho de pelotões ou companhias, às vezes mais. Os terroristas

operam em unidades muito pequenas, geralmente variando de um assassino

solitário ou uma pessoa solteira que fabrica e planta um dispositivo explosivo

improvisado para uma equipe de tomada de reféns de cinco membros. Outras

grandes equipes em operações terroristas foram numeradas de quarenta a

cinquenta pessoas e, às vezes, até mais. Estes, no entanto, foram muito raros.

Assim, em termos de tamanho das unidades operacionais, os limites superiores das

unidades terroristas são os limites inferiores das unidades de guerrilha.

As diferenças nas armas usadas nesses dois tipos de guerra também são

evidentes. Enquanto as guerrilhas, com apoio externo, usam principalmente armas

do tipo militar, como fuzis, metralhadoras, morteiros e até artilharia. As armas

terroristas típicas incluem bombas caseiras, carros-bomba (veículo mortal carregado

com dispositivos explosivos improvisados) etc. Essas diferenças no tamanho da

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unidade e dos armas são meramente efeitos do fato mencionado acima, que

taticamente, as ações de guerrilha se assemelham ao modo de operação de um

exército regular.

Quadro 5 – Características do terrorismo, guerra de guerrilha e guerra convencional

como modo de lutas violentas

Guerra Convencional Guerra da guerrilha Terrorismo

Tamanho unitário em batalha

Grande (exércitos, corpo, divisões)

Médio (pelotões, companhias, batalhões)

Pequeno (geralmente menos

de dez pessoas)

Armas

Gama completa de hardware militar

(força aérea, força blindada, artilharia,

etc.)

Principalmente armas leves do tipo infantaria, mas às vezes peças de

artilharia também

Arma curta de mão, granadas de mão, fuzileiros de assalto e armas

especializadas (por exemplo, carros-

bomba, sequestros, reféns,

etc.)

Alvos

Principalmente unidades militares,

infraestrutura industrial e de

transporte

Principalmente militares, policiais e

funcionários da administração, bem como adversários

políticos

Símbolos do Estado, opositores

políticos e o público em geral

Impacto pretendido Destruição física Principalmente atrito

físico do inimigo Coerção

psicológica Controle do território Sim Sim Não

Uniforme Usar uniforme Muitas vezes usam uniforme Não usa uniforme

Identificação de zonas de Guerra

Guerra limitada à área geográfica

identificada

Guerra limitada ao país em conflito

Nenhuma zona de guerra

reconhecida; operações em todo

o mundo Legalidade internacional

Sim, se conduzido por regras

Sim, se conduzido por regras Não

Legalidade doméstica Sim Não Não

Fonte: Merari (2007). (Tradução Nossa).

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2.7.3 Apoio Exterior

Não se tratando de intervenção direta, em particular, o apoio militar não pode

ser absorvido, numa parcela significativa, pelo rebelde, até que suas forças hajam

alcançado um determinado nível de desenvolvimento. A fase militar inicial de uma

rebelião, quer seja de terrorismo, quer seja de guerrilhas, pouco exige em matéria de

equipamento, armas, munições e explosivos. Geralmente esses produtos são

encontrados localmente ou podem ser contrabandeados.

Contudo, quando chega o momento do rebelde passar das guerrilhas para

uma forma mais complexa de cooperações, criando um exército regular, a

necessidade de suprimentos maiores e mais variados torna-se aguda. Ou ele deve

capturá-los do contra rebelde ou esses suprimentos deverão vir do exterior. Sem

eles o desenvolvimento do poderio militar rebelde faz-se impossível.

Na indochina, a virada deu-se em 1950, quando o Vietminh começou a

receber ajuda da China Vermelha. Até então haviam sido incapazes de desenvolver

suas forças e realizar operações em grande escala, não por falta do elemento

humano—tinham mais soldados em potencial do que podiam usar—seus arsenais

primitivos não eram capazes de satisfazer suas necessidades, e também eles não

podiam capturar armas francesas em quantidades suficientes. Embora o Vietminh

pudesse ter-se empenhado numa prolongada luta de guerrilhas, e assim negado aos

franceses qualquer benefício de uma longa ocupação do país, não teria sido capaz

de organizar um exército regular poderoso sem ajuda chinesa. Em setembro de

1950, 20000 homens das forças do Vietminh haviam sido equipados com

metralhadoras, morteiros pesados e armas antiaéreas. O comando Vietminh pôde

organizar uma Divisão Pesada, a 351.a. Em 1951, segundo estimativas francesas, o

auxílio chinês atingia 18.000 fuzis, 1.200 metralhadoras, 150.200 morteiros pesados

e aproximadamente 50 canhões.

No Afeganistão, os soviéticos foram derrotados, em grande parte, devido ao

apoio da CIA e do Paquistão. Os EUA forneceram mísseis Stinger anti-aviões para o

Mujahideen afegão que poderia atingir aviões soviéticos com precisão. Em 1971, na

guerra Indo-Pak, a Índia apoiou abertamente os rebeldes do antigo Paquistão

Oriental, fornecendo armas, treinamento, financiamento e moldando o apoio

internacional em favor dos rebeldes.

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A guerra no Século XXI, devido à dissuasão nuclear e ao repúdio

internacional, está sendo combatida pelos atores não-estatais totalmente

patrocinados por outros Estados. Além disso, o financiamento secreto para as

organizações rebeldes é uma forma mais usual de engajar o país hostil se a

declaração de guerra aberta.

Assim, uma fraqueza policial e administrativa no lado contra rebelde; um

ambiente geográfico não muito hostil e apoio exterior nos estágios médio e final de

uma rebelião—eis as condições para uma rebelião lograr êxito. As duas primeiras

são indispensáveis. A última é um auxílio que pode tornar-se uma necessidade.

2.8 TERRORISMO E VIOLÊNCIA NA CONTEXTO DA GUERRA HÍBRIDA

“Guerra híbrida”, um termo relativamente novo, que não implica uma definição

universalmente reconhecida, está sendo usado principalmente como uma frase

genérica para descrever qualquer tipo de esforço clandestino de desestabilização

não militar. Quer se trate de subversão econômica ou disseminação de propaganda,

todas essas técnicas já existem há séculos, e não há nada de novo nelas hoje em

dia, exceto em termos de como essas técnicas se adaptaram para incorporar as

tecnologias modernas.

Autores ocidentais como Peter R. Mansoor e Frank G. Hoffman denominam

Guerra Híbrida como Doutrina da Rússia baseada no pensamento do general

Gerasimov, enquanto o autor russo Andrew Korybko a descreve como a nova

abordagem dos EUA de intervir em outros estados através da exploração das falhas

existentes. Em seu artigo "Law of Hybrid Warfare" (2016), Korybko escreve.

O grande objetivo por trás de cada Guerra Híbrida é interromper projetos conectivos transnacionais multipolares através de conflitos de identidade provocados externamente (étnicos, religiosos, regionais, políticos, etc.) dentro de um estado de trânsito direcionado. (tradução nossa).

Em qualquer caso, a ameaça da Guerra Híbrida é real. A primeira coisa é que

as Guerras Híbridas são conflitos de identidade provocados externamente, o que é

certamente o caso, mas ambos são uma combinação de naturais e fabricados.

Segundo Korybko (2015), existem conflitos de identidade pré-existentes em todos os

países do mundo, embora possam não chegar ao nível de catalisar a mudança

política, a menos que sejam provocados por elementos externos, o que é um ponto

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chave. Os métodos pelos quais os atores externos procuram influenciar seus alvos

internos variam, mas podem ser divididos em duas categorias amplas e

interconectadas — ONGs e guerras da informação. O objetivo não é acusar todas as

ONGs como entidades hostis apoiadas pela inteligência externa ou que cada meio

de comunicação internacional é uma arma de guerra híbrida, mas para aumentar a

conscientização sobre como esses dois meios podem ser explorados para fins

políticos.

O que precisa ser realizado é que todas as ONGs, mesmo aquelas que não

pretendem se envolver em política, poderiam ser deliberadamente

instrumentalizadas para esse propósito ou induzidas a tornarem-se politicamente

ativas. Uma ONG, em outras palavras, é uma plataforma, seja física ou social, que

organiza as pessoas juntas para um objetivo comum e, operacionalmente falando,

elas podem servir para estabelecer as bases para as Revoluções Coloridas e depois

executá-las.

De acordo com Korybko (2017), às vezes tudo que é preciso é um pequeno e

dedicado grupo de provocadores para causar confrontações com as autoridades,

que, por sua vez, são enganosamente informadas por meios hostis contra o

governo, a fim de criar a percepção de que a polícia está atacando aleatoriamente

"manifestantes pacíficos" na opressão. O ponto principal é projetar uma narrativa

completamente artificial de “combatentes da liberdade democrática” resistindo a uma

“ditadura tirânica”, que serve ao duplo propósito de encorajar mais cidadãos a se

juntarem ao crescente motim e gerar apoio do exterior. É importante afirmar que

“apoio” não significa apenas uma cobertura favorável da mídia, mas uma ameaça,

mas também a ameaça de sanções e isolamento diplomático da chamada

“comunidade internacional”, que neste caso, na maioria das vezes, significa o mundo

Ocidente. Também pode ser estendido para incluir clandestinamente assistência

material aos “manifestantes”, como as armas de que eles precisarão para ajudar sua

Revolução das Cores a evoluir para uma Guerra Não Convencional.

Em seu artigo, "2017 Forecast: Global Trends", Andrew Korybko prevê que a

Guerra Híbrida atingirá os projetos de “One Belt One Road” (nova rota da seda) da

China em todo o mundo. Extrapolando essa diretriz, ele visualiza vários campos de

batalha da Guerra Híbrida (mapa 1) que permanecerão em primeiro plano por muitos

anos. Em qualquer ordem, eles são:

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a) corredor Econômico do Paquistão (CPEC) entre a China e o Paquistão;

b) ferrovia transoceânica (TORR) entre Brasil, Bolívia e Peru;

c) projetos ferroviários transafricanos da China;

d) a rota ferroviária de alta velocidade dos Balcãs, da Rota da Seda, entre

Budapeste e Pireu;

e) a rota ferroviária de alta velocidade, da Rota da Seda, da Associação das

Nações do Sudeste Asiático, entre a China, o Laos, a Tailândia, a Malásia

e Cingapura;

f) a provável rota ferroviária de alta velocidade trans-centro-asiática entre a

China e o Irã; e

g) o canal da Nicarágua.

Mapa 1 – Batalhas futuras de Guerra Híbrida

Fonte: Korybko (2017). In: Forecast: Global trends. (Cartografia criada pelo autor).

Portanto, embora o método específico da Guerra Híbrida ainda não tenha

sido revelado, há fortes razões estratégicas para acreditar nas desestabilizações

assimétricas contra cada um dos países envolvidos, o que significa que todos os

analistas voltados para o futuro devem ficar atentos a esses espaços regionais.

2.8.1 O Século XXI e a Conduta da Guerra—pensamento de General Gerasimov, Rússia e “Guerra Híbrida”

Kofman e Rojansky (2015), no artigo do “The Wilson Center, A closer look at

Russia’s Hybrid War”, destaca que os observadores ocidentais caíram em um jargão

familiar de atribuir o pensamento do General Gerasimov como a famosa Doutrina de

Guerra da Rússia citada como “Guerra Híbrida”. Os observadores costumam citar o

artigo de Gerasimov, de fevereiro de 2013, em “Military Industrial Courier” como a

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Doutrina Gerasimov. No contexto das operações da Rússia na Ucrânia, a “guerra

híbrida” pode ter se tornado o rótulo definidor, mas em um exame mais detalhado,

não faz sentido. “Guerra híbrida” dificilmente pode ser considerada uma doutrina

definitiva para a futura projeção de poder da Rússia em sua vizinhança, muito

menos um modelo que poderia ser facilmente reproduzido em lugares distantes e

diversos do espaço pós-soviético.

O General Valery Gerasimov argumentou que há uma indefinida divisão entre

"guerra e paz" no cenário de ameaças do Século XXI: "As guerras não são mais

declaradas e, tendo começado, seguem de acordo com um modelo desconhecido".

Segundo Gerasimov (2013), a natureza da guerra mudou juntamente com os meios

de aplicação (Quadro 6):

Conflitos armados, incluindo aqueles associados às chamadas revoluções coloridas no norte da África e no Oriente Médio, confirmam que um estado perfeitamente próspero pode, em questão de meses e até dias, ser transformado em uma arena de conflito armado, tornar-se uma vítima de intervenção estrangeira e afundar em uma teia de caos, catástrofe humanitária e guerra civil. O papel dos meios não-militares de alcançar objetivos políticos e estratégicos cresceu e, em muitos casos, eles excederam o poder da força das armas em sua eficácia. O foco dos métodos aplicados de conflito foi alterado em direção ao amplo uso de medidas políticas, econômicas, informativas, humanitárias e outras medidas não-militares—aplicadas em coordenação com o potencial de protesto da população. Tudo isso é complementado por meios militares de caráter clandestino, incluindo a realização de ações de conflito informacional e as ações das forças de operações especiais. (tradução nossa).

Quadro 6 – Gerasimov Compreensão do novo tipo de guerra

Fonte: Gerasimov (2013). (Tradução; João Ricardo Da Cunha Croce Lopes – Tenente Coronel Artilharia QEMA, ECEME, 2018)

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Como ressalta o pensamento Gerasimov, as estratégias militares

contemporâneas se afastam dos métodos militares tradicionais, nos quais a ação

militar segue o desdobramento estratégico e a declaração de guerra, onde grandes

unidades terrestres realizam choques frontais sob rígida hierarquia e a massas e o

poder de fogo, continuam sendo os principais determinantes da guerra. Em vez

disso, as novas estratégias se concentram em “confrontos sem contato entre

unidades altamente manobráveis” em guerras não declaradas, ação militar no tempo

da paz, uso de “civis armados” e “gerenciamento de tropas em uma esfera

informacional unificada”.

As mudanças (Figura 5) refletem-se nas visões doutrinárias dos principais países do

mundo e são testadas em conflitos militares.

Figura 5 – Principais fases (estágios) do desenvolvimento do conflito

Fonte: Gerasimov (2013). (Tradução; João Ricardo Da Cunha Croce Lopes – Tenente Coronel Artilharia QEMA, Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, 2018). 2.8.2 Choque de Narrativas Concorrentes

A batalha das narrativas é um dos fatores mais importantes na luta para

controlar o movimento de insurgência perpetuado pela Guerra Híbrida. Os

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insurgentes geralmente buscam explorar as linhas de fraturas no sistema contra o

Estado – financiadas pelo adversário. Ele descreve-o como:

Uma insurgência é uma competição entre insurgentes e governo para conquistar da população civil, que fornece o mar no qual os insurgentes nadam. As forças armadas não podem conseguir muito se a população não estiver, e não se sentir, protegida contra o insurgente. (tradução nossa) (GALULA, 1964, p.viii).

Se o insurgente conseguir dissociar a população do contra insurgente, controlá-la fisicamente, obter seu apoio ativo, vencerá a guerra porque, em última análise, o exercício do poder político depende do acordo tácito ou explícito da população ou, na pior das hipóteses, sobre sua submissão. Assim, a batalha pela população é uma das principais características da guerra revolucionária. (GALULA, 1964, p.4).

O especialista em contra insurgência, John McCuen, coronel do Exército dos

EUA, destaca que a batalha de narrativas concorrentes ocorre entre três audiências

(Figura 6): a população nativa, a frente doméstica (Homefront) da grande potência e

a comunidade internacional mais ampla. As grandes potências correm o risco de

perder conflitos em que não conseguem entender nem o terreno humano nem os

"campos de batalha decisivos da opinião pública em casa e no exterior".

Figura 6 – Audiências da narrativa competitiva

Fonte: John Mcuen, Coronel EUA (Ilustração criada pelo autor). Uma população insegura raramente fornece a informação necessária ao

contra insurgente. "A inteligência tem que vir da população, mas a população não vai

falar a menos que se sinta segura, e não vai se sentir segura até que o poder do

insurgente seja quebrado" (GALULA, 1964).

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2.9 O TERRORISMO E A MÍDIA — UMA VISÃO CRÍTICA

Reportagem sobre terrorismo e organizações terroristas gerou debates sobre

se elas servem à agenda do terrorista? Na verdade, porque a maioria das áreas em

questão são inacessíveis, os principais meios de comunicação baseiam-se em

vídeos de propaganda de grupos extremistas para veicular imagens e vídeos dos

ataques. Semelhante a outros conteúdos de propaganda, como as decapitações de

vitimas, o uso desse tipo de imagens amplifica o alcance dos terroristas e lhes dá a

atenção que procuram ao realizar suas atrocidades coreografadas. Segundo Walter

Laqueur, “O sucesso da operação terrorista depende quase que exclusivamente da

quantidade de publicidade que recebe".

Especialistas divergem quanto à postura e responsabilidade da mídia na

cobertura de atentados terroristas. Na literatura internacional, há uma parcela

significativa que acredita que a mídia contribui com o terrorismo ao dar notoriedade

e potencializar o impacto de seus atentados, além de contribuir para que o terrorista

atinja seus propósitos, demandas políticas, intimidação e propagação do medo no

seio da sociedade. Podendo, ainda, comprometer ações de contraterrorismo e

pressionar governos na tomada de decisões em favor das demandas terroristas. Por

outro lado, há aqueles que defendem que a mídia representa um obstáculo às

organizações terroristas pelo fato de terem a capacidade e os recursos necessários

para mobilizar a opinião pública (ver seção 2.8.2, choque de narrativas

concorrentes) em um Estado democrático contra suas atividades.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO) publicou um livro abrangente sobre a complexa relação entre o

terrorismo e a mídia. O livro, "Terrorism and the Media: A Handbook for the

Journalists (2017)", além de dar orientações aos jornalistas, também sublinha o uso

e o abuso de meios de comunicação em incidentes e questões relacionadas com o

terrorismo.

Os meios de comunicação social são, sem dúvida, o cerne desta questão,

muitas vezes referida como o "oxigénio do terrorismo", nas famosas palavras da

antiga primeira-ministra britânico Margaret Thatcher. "Ataques terroristas", escreveu

Brian Jenkins de volta em 1995, "são muitas vezes cuidadosamente coreografados

para atrair a atenção dos meios eletrônicos e da imprensa internacional. O

terrorismo destina-se às pessoas que assistem, não às vítimas atuais".

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Ao contrário disso, Wilkinson (1997) afirma que a mídia de massa em

sociedades livres e democráticas repudia o terrorismo e qualquer forma de violência,

contudo, estes meios de comunicações vivem em um mercado competitivo e sob

forte pressão para serem os primeiros a noticiar qualquer matéria (conhecidamente

como furo de reportagem) capaz de entreter seus espectadores. Isto não significa

que os meios de comunicação são controlados por organizações terroristas, denota

que, sabedores destas características da concorrência entre as emissoras de

sociedades democráticas, os terroristas valem-se disto para explorar e manipular

estes meios para seus próprios fins. Em alguns casos, verifica-se que organizações

terroristas, na busca de publicidade, alimentam os meios de comunicação com

entrevistas, comunicados e declarações em vídeo e áudio.

2.9.1 Uso de mídia por terroristas

Os terroristas confiam nos fundamentos jornalísticos convencionais de

sensação, violência e surpresa, especialmente para a televisão. Mas com o

desenvolvimento exponencial da Internet e das redes sociais, a batalha de imagens

e palavras assumiu uma escala sem precedentes. Como destacado em um relatório

do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, grupos terroristas estão

usando a rede (Figura 7), especialmente redes sociais como Facebook, YouTube e

Twitter.

Figura 7 – Meios de comunicação dos terroristas

Fonte: Ilustração criada pelo autor

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2.9.2 Reportagens de formas diferentes de violência

Nos últimos anos, tem-se assistido uma enorme cobertura de incidentes

relacionados com o terrorismo na mídia, que são posteriormente referidos como

pontos críticos da história, por exemplo, ataque terrorista de 9/11. Os incidentes

terroristas ocorridos em Nova Iorque, Moscou, Boston, Nice, Paris, Buenos Aires e

Mumbai receberam a atenção do mundo. No entanto, incidentes semelhantes

relacionados a terroristas ou, em alguns casos, com maior magnitude de vítimas não

conseguiram atrair a atenção da mídia. A mídia desviou os olhos das altas taxas de

baixas ocorridas quase diariamente no Iraque, Afeganistão, Síria, Iêmen, Paquistão,

Birmânia, Líbano, Palestina, Caxemira e muitos outros. Esta exclusão deliberada é

bastante injusta por parte da mídia. A disparidade em qualquer forma de terrorismo

pode ser refreada, pois são as pessoas inocentes em todo o mundo que são

afetadas por essa ameaça.

Apesar de muitos pesquisadores e estudiosos da religião analisem essas

equações e formulem teorias contraditórias sobre se o terrorismo é baseado na

religião, a referência ao Islã é fortemente contestada, não apenas dentro da

comunidade muçulmana, mas também por países onde o Islã é a religião do Estado.

Assim, em 11 de maio de 2016, durante uma das reuniões do Conselho de

Segurança da ONU, o representante do Kuwait explicou, em nome da Organização

da Cooperação Islâmica (OCI), que a expressão “grupos terroristas de inspiração

religiosa” era errônea, como “nenhuma religião tolera ou inspira o terrorismo”,

embora existam “grupos terroristas que explorem as religiões”.

A mídia internacional também geralmente enfatiza que esses grupos estão

engajados em uma guerra contra o Ocidente, mas muitas vezes não acrescentam

que essas ações violentas atacam populações dominantes de muçulmanos, seja

diretamente, como no Iraque, Síria, Afeganistão, Iêmen e Paquistão ou

indiretamente, como foi o caso durante os ataques em Bruxelas, em 22 de março de

2016, e em Nice, em 14 de julho de 2016, quando também houve muçulmanos entre

as vítimas.

Segundo Cox (2016, apud MARTHOZ, 2017, p.23), representantes da

comunidade muçulmana questionam os padrões e rotinas do processamento de

informações. Eles denunciam o fato de que ataques de extrema direita são

geralmente menos cobertos pela mídia, e os motivos dos perpetradores são

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despolitizados e frequentemente atribuídos a doenças mentais ou como "solitários

insano".

2.9.3 Moldando a Perspectiva—Enquadramento do Terrorismo

O terrorismo põe em particular a ética jornalística à prova. A mídia molda a

opinião pública, local e internacional, cobrindo os incidentes de uma perspectiva—

Um Equadramento. O enquadramento envolve a seleção de aspectos particulares

da realidade, privilegiando-os na descrição, na definição, na interpretação e na

avaliação moral do tema a ser coberto. A escolha feita pela mídia nem sempre é

consciente e pode refletir quadros de notícias desenvolvidos por outros. No entanto,

a escolha do quadro é crucial. Pode influenciar as reações do público e das

autoridades. Os autores Brooke Barnett e Amy Reynolds (2017) notaram que, até

certo ponto, a mídia incita uma retaliação decisiva. Nesse contexto, a mídia também

pressiona o governo a adotar medidas rigorosas.

Durante a Guerra Fria, a maioria dos atos terroristas foi interpretada dentro do

quadro do confronto ideológico e geopolítico entre o Oriente e o Ocidente. Desde a

queda do Muro de Berlim e o surgimento do terrorismo "de inspiração religiosa", os

atos terroristas são muitas vezes cobertos por uma perspectiva semelhante à teoria

do "choque de civilizações", popularizada pelo ex-professor de Harvard, Samuel

Huntington. Em ambos os casos, o modelo é muito semelhante, inspirado por: eles

contra nós, os "bandidos" contra os "mocinhos". A mídia pode desempenhar um

papel positivo ao apresentar perspectivas otimistas e pacíficas que evitem a

discriminação em relação a uma comunidade que tem levantado uma visão negativa

devido a algum pequeno grupo que pegou em armas. Depois de 11 de setembro, um

certo número de meios de comunicação americanos publicou artigos mais positivos

sobre cidadãos árabes americanos ou muçulmanos. Esse quadro visava evitar a

retaliação contra uma comunidade específica dos EUA e insistia na urgência de

enfrentar o desafio lançado pela Al-Qaeda com a lei, e não com a discriminação.

O enquadramento inevitavelmente tem efeitos sobre o trabalho profissional e

factual da mídia. Por exemplo, pode levar à negligência de mortes de civis causadas

por retaliações por atos terroristas, o que levanta questões sobre a prática

jornalística (imparcialidade, imparcialidade, verdade). Em um memorando de outubro

de 2001 aos editores, a CNN enfatizou que "dada a enormidade do custo de vidas

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humanas inocentes nos EUA, devemos permanecer cautelosos para não focar

excessivamente nas baixas e aflições no Afeganistão que inevitavelmente farão

parte dessa guerra". (MOELLER, apud MARTHOZ, 2017, p.37)

As consequências da guerra dos Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) contra

as populações civis no Afeganistão e Paquistão também tiveram menor cobertura,

porque os ataques foram considerados legítimos pela mídia, que estava convencida

da necessidade de lutar duramente contra os terroristas. A jornalista Tara McKelvey

comentou: "Quando o VANT atacar, questões-chave são feitas sem resposta e sem

resposta."

No caso de um ataque terrorista, o reflexo da mídia é tentar nomear o infrator,

que é frequentemente um país, o mais rápido possível. O risco consiste em se

precipitar acusações que se baseiam em semelhanças com outros ataques, na

aceitação crédula de teorias oficiais e até em preconceitos. Em muitos casos, a

mídia concluiu os fatos a partir de pistas insuficientes e formulou teorias que se

revelaram falsas. As consequências de tal prática são desastrosas para a paz

internacional.

2.9.4 Uso de palavras pela mídia

Vê-se frequentemente que, na corrida dos eventos de reportagem, a mídia

não se importa com a fonte de informação - que é, em alguns casos, muito motivada

pelo preconceito e baseada na opinião. Por exemplo, ao imprimir as informações

recebidas de outro grupo de mídia sem entender os detalhes do conflito, se está

reproduzido em uma opinião cuidadosamente elaborada. Em uma cena internacional

dominada por campanhas de propaganda, há uma vontade permanente de

exagerar, trazendo algumas para qualificar imediatamente os protestos radicais

como atos "terroristas".

Além disso, destaca-se a controvérsia da designação do "Estado Islâmico", o

movimento estabelecido por Abu Bakr al-Baghdadi na Síria e no Iraque, dando uma

ideia do campo de batalha semântico. A França, por exemplo, pediu o uso exclusivo

do termo "Daesh", o acrônimo árabe do Estado Islâmico do Iraque e do Levante,

“Dawlat islamiya fi ‘iraq wa sham”. Laurent Fabius, ministro das Relações Exteriores

da França, afirmou: “O grupo terrorista de que estamos falando não é um estado;

gostaria de ser, mas não é, e chamá-lo de estado é fazer um favor. Da mesma

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forma, eu recomendo não usar a expressão 'Estado Islâmico', porque leva à

confusão entre 'Islã', 'Islamismo' e 'Muçulmano'.” No jornal saudita “Al-Riyadh

(2015)”, Amjad Al Munif sublinhou o ponto de vista similar de várias outras fontes da

mídia árabe que denunciavam a “propaganda semântica”. E, ainda, durante uma

entrevista com a Al-Arabiya, o Grande Mufti do Egito observou que o grupo "não é

um Estado, [...] mas sim terroristas", e que eles "não tinham nada a ver com o Islã".

Ele pediu à mídia que não usasse o nome completo do grupo em árabe, mas sim

que fosse chamado de "organização terrorista do Daesh". Infelizmente, a mídia

contribuiu para espalhar mais ódio do que paz ao associar a religião do Islã a um

grupo terrorista.

2.9.5 Números

O estudo do terrorismo prospera em números. Número de ataques por ano,

tipologia das vítimas, avaliação das ações antiterroristas, porcentagem de terroristas

na população, proporção de atos segundo a ideologia ou a religião dos

perpetradores, etc.

A mídia depende muito de pesquisas, sejam eleições ou uma operação. A

mídia também muitas vezes se abstém de ler os detalhes da pesquisa e

simplesmente repete os resumos. Quem encomendou a pesquisa? Quando foi

realizada? Em que amostra da população? Quais eram as condições de segurança

e liberdade? Quais perguntas foram feitas? Algumas instituições que realizam

pesquisas são obviamente mais conscientes do que outras, mas a distância crítica é

um requisito em todas as circunstâncias.

A busca da mídia para criar uma sensação muitas vezes prejudica os

esforços dos Estados em lidar com o terrorismo. Incerto, muitas vezes incorreto, os

dados enganam o público e criam problemas duais para o estado; isso dificulta os

esforços do Estado em superar a violência e encoraja a agenda dos terroristas. Por

exemplo, um grupo de mídia mostrando o número de vítimas sofridas pelas agências

policiais contra terroristas como “39º pessoal militar morto este ano” cria um impacto

extremamente negativo que encoraja os terroristas e enfraquece os esforços das

agências policiais. A mídia frequentemente compara os dados com anos anteriores

que é ainda mais danoso. Por exemplo (Quadro 7):

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Quadro 7 – Exemplo de comparação de incidentes relacionados à violência por um

grupo de mídia

Janeiro a Outubro 2017 2018

Homicídio doloso 362 395

Latrocínio 31 20

Policiais mortos 9 7

Morte com intervenção policial 288 310

Encontro de cadáver 99 100

Desaparecidos 947 1.131

Roubo em ônibus 3.384 3.757

Roubo de veículos 14.719 14.807

Roubo de celulares 5.008 6.448

Roubos 52.135 60.709

Fonte: o autor

2.9.6 Generalização

A generalização é uma tentação muito comum. Portanto, o terrorismo

“islamista” é regularmente atribuído à religião islâmica e a toda a população

muçulmana. No entanto, ninguém acusa os extremistas de extrema direita de aderir

à supremacia branca, como o terrorista norueguês de extrema direita Anders

Behring Breivik. Essa discordância expõe a mídia a ser acusada de viés. Ele levou a

versão árabe do RT (Russia Today) a notar que "não vimos especialistas em

extrema-direita perguntando na TV como combater esse tipo de extremismo e

impedi-lo no futuro" (MARTHOZ, 2017, p.66).

É um fato bem conhecido, comprovado pela história, que o grupo de pessoas

explora os sentimentos das massas ao explorar a perseguição, a religião, a cultura,

as crenças, a etnia e até o patriotismo. Classificar toda uma comunidade ou grupo

ou religião, ou mesmo um país, como responsável por uma pequena facção

dissidente não é apenas incorreto, mas cria sentimentos negativos entre as pessoas.

A divisão criada, por esse motivo, aumenta as possibilidades de mais discórdia e

cumpre a agenda dos terroristas.

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3 A AMEAÇÃ TERRORISTA NO PAQUISTÃO–DESAFIOS COMPLEXOS

3.1 O CONTEXTO GEOGRÁFICO; PAQUISTÃO VÍTIMA DE CIRCUNSTÂNCIAS

É imperativo compreender o contexto geoestratégico que impôs imensos

desafios de segurança, étnicos, religiosos e socioeconômicos para o Paquistão. O

Paquistão, terra natal de 207 milhões de pessoas (censo de 2017), herdou muitas

complexidades geoestratégicas e econômicas decorrentes simplesmente de sua

localização geoestratégica (mapa 2) e das circunstâncias da região. A gênese da

questão do terrorismo e da militância pode ser atribuída à invasão russa do

Afeganistão em 1979, com quem o Paquistão compartilha uma fronteira de

aproximadamente 2.500 km. O Afeganistão e as áreas ao longo da fronteira entre o

Afeganistão e o Paquistão, antes da independência do subcontinente, serviram na

maior parte como um estado-tampão entre a Rússia czarista e o Império britânico.

Mapa 2 – Mapa do Paquistão

Fonte: o author

Um vácuo político existiu no Afeganistão por muitas décadas. Na ausência de

um sistema político estável, esse vácuo político permaneceu assim que a guerra

soviético-afegã começou em 1979 e forneceu espaço para atuação dos mulás1. No

1 O termo "mulá" refere-se ao líder religioso islâmico. Embora o termo por si só seja considerado

como um cargo respeitável, no entanto, devido à sua associação com os indivíduos radicais, o termo perdeu sua reverência e agora é usado para chamar indivíduos religiosos de mentalidade radical.

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caso do Paquistão, a incapacidade continuada do Estado em conceder as Áreas

Tribais, anteriormente administradas pelo governo federal (FATA) ao longo da

fronteira com o Afeganistão, e integrá-los no sistema político geral do país. A FATA

acabou se fundindo com a província adjacente de Kyber Pakhtunkhawa em 28 de

maio de 2018. Segundo Syed (2015), essas áreas foram chamadas “Ilaqa Ghair2”

pelo público em geral.

Enfrentando as consequências da Jihad Afegã na década de 1980, o

Paquistão tornou-se um abrigo para mais de 3 milhões de refugiados afegãos, e até

hoje abriga cerca de 1,5 milhão de refugiados afegãos registrados. O perfil do

Paquistão para 2015, divulgado pelo ACNUR, mostra que os paquistaneses abrigam

a maior população de refugiados do mundo. O influxo de refugiados significou que o

Paquistão fornecerá empregos, saúde, terra, educação e até certidões de

nascimento para crianças das (cerca de 800.000) famílias de refugiados. O grande

número de refugiados também pode ser inimaginável para qualquer país, mesmo

para os padrões ocidentais, onde os países desfrutam de economias muito mais

estáveis e estruturas de governança há muito estabelecidas, com quase nenhuma

agitação doméstica. No entanto, um Paquistão em desenvolvimento, envolvido em

problemas de desenvolvimento socioeconômico, ainda abriga um grande número de

refugiados do Afeganistão. A ex-secretária de Defesa americana, Hilary Clinton,

destacou, embora tardiamente, que os EUA tinham um papel nos problemas que

assolam o Paquistão hoje (audiência do Congresso dos EUA em abril de 2009).

Além do acima exposto, a guerra trouxe uma nova marca estrangeira de

islamismo militante para uma sociedade que seguiu em grande parte os santos sufis,

que espalharam a mensagem de paz, esperança, amor universal e fraternidade da

humanidade. O sectarismo e a militância eram amplamente desconhecidos para a

sociedade paquistanesa antes da invasão soviética, ou a revolução iraniana de

1979, que coincidentemente ocorreu na mesma época. Até hoje, 96,4% - grande

parte muçulmana da população do Paquistão é composta de 85-90% de sunitas e

10-15% de xiitas, que vivem em harmonia. Apenas para ressaltar este ponto,

qualquer um pode observar que nas eleições do Paquistão, ser xiita ou sunita não

afeta a popularidade ou o número de votos de um candidato para qualquer assento,

de primeiro-ministro a qualquer membro do parlamento. O mesmo tem sido e é o 2“Illaqa Ghair” traduz-se aproximadamente para áreas fora do limite para o público em geral.

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caso entre os oficiais de maior hierarquia em civis e militares. Com o início da guerra

afegã na década de 1980, o Paquistão tornou-se um campo de batalha para guerras

de sectarismo entre sunitas e xiitas, cada qual com facções militantes sob algum

nome e financiadas por outros países. Sucessivos governos do Paquistão não

puderam alterar as negligencias anteriores mostradas a esse respeito. No entanto, a

situação não é tão ruim quanto alguns críticos do país gostariam de retratar.

As relações Índia-Paquistão são complexas, trançadas e obstinadas,

motivadas por uma atitude inflexível na resolução de questões de conflito. Ambos os

estados não foram capazes de estabelecer relações amáveis desde sua

independência em 1947. Muitas vezes, os esforços diplomáticos foram marcados

pelo comportamento intransigente. Esse ambiente contribuiu para os problemas

enfrentados pelo Paquistão quando a Índia começou a implantar suas forças na

fronteira leste do Paquistão em 2001. Esses impasses continuaram em 2008, 2013 e

violações contínuas do contrato de cessar-fogo de 2016 ocorrem até hoje. As forças

armadas do Paquistão enfrentaram enormes desafios para se defender contra a

ameaça convencional no Leste e a militância no Oeste. Isso também causou um

fardo para a economia do país, já enfraquecida devido ao aumento da militância,

para apoiar as forças armadas para frustrar esses desafios.

3.2 PAQUISTÃO DE 2001 ATÉ A ATUALIDADE—ESTUDO DE NARRATIVA

A narrativa do Paquistão na luta contra o terrorismo tem suas raízes na

guerra afegã contra os soviéticos, conforme explicado na seção acima. Durante a

guerra soviético-afegã, a narrativa da Jihad (guerra santa) foi construída para atrair

homens de todo o mundo para lutar no campo de batalha contra os russos. Todos

treinados e equipados por forças norte-americanas e paquistanesas nas áreas de

fronteira do Paquistão perto do Afeganistão. Além de aliar-se ao esforço das

democracias liberais para impedir a disseminação do comunismo, a decisão também

ajudou a aliviar os próprios receios do Paquistão de uma invasão soviética do

Paquistão como um próximo passo para alcançar as águas quentes. A Guerra Santa

durou muitos anos, até a expulsão das tropas russas do Afeganistão. Depois dessa

façanha, uma vez celebrados Guerreiros Sagrados ou os Mujahedeen3 e heróis de

guerra da guerra soviética no Afeganistão, que foram aclamados como combatentes 3 Mujahideen: Este termo é usado para combatentes da liberdade afegãos contra a opressão dos soviéticos.

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da liberdade na Casa Branca pelo presidente americano Ronald Reagan, foram

abandonados, não tendo nenhum senso de propósito ou qualquer conhecimento de

qualquer outro modo de vida que o combate de guerra. Estes foram deixados para

se defenderem no terreno acidentado e no clima rigoroso das FATA e Balochistan,

junto com suas famílias sofredoras em ambos os lados da fronteira.

A narrativa de apoio do Paquistão foi motivada religiosamente, para ajudar

afegãos—irmãos muçulmanos—do outro lado da fronteira. Esta narrativa foi bem

recebida quase toda a sociedade no Paquistão em geral e por tribos atravessando a

fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão em particular. No entanto, após o 11 de

setembro, quando os EUA lançaram uma guerra contra o terrorismo no Afeganistão,

muitas tribos que viviam ao longo da fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão

viram a operação dos EUA sob a mesma lente, ficando do lado dos talibãs, seguindo

a mesma narrativa de apoiar os afegãos contra uma ocupação estrangeira. O

governo do Paquistão apoiou os EUA na luta contra o terrorismo e forneceu apoio

logístico aos EUA em termos de rotas terrestres e aéreas, até lançou e operações

militares contra as tribos dissidentes ao longo da fronteira entre o Paquistão e o

Afeganistão. Muitas facções nas áreas tribais ao longo da fronteira entre o Paquistão

e o Afeganistão discordaram e prometeram lealdade aos talibãs, como "Tehreek e

Taliban Paquistão, Tehreek e Nifaz e Shariet e Muhammadi e Jamat ul Ahrar" e

levantaram armas contra o Estado.

A narrativa de apoio aos EUA criou confusão entre diferentes círculos na

sociedade paquistanesa. Alguns ficaram do lado da política governamental de

operações militares e outros condenaram o apoio ao EUA e defenderam uma

abordagem não-cinética das negociações com os dissidentes. A confusão resultante

impediu a realização de uma ação conjunta contra os terroristas, já que ações

militares contra terroristas estavam sendo exploradas por certos partidos políticos

por seus interesses. Essa confusão prevaleceu, apesar do aumento das ações

terroristas que custaram dezenas de milhares de vidas e imensos danos à

economia, até que uma ação terrorista horrível e mortal aconteceu na história do

Paquistão. Terroristas atacaram uma Escola Pública do Exército em 16 de dezembro

de 2014 em Peshawar, uma cidade paquistanesa no noroeste, a 55 km da fronteira

do Afeganistão. O Paquistão perdeu 141 vidas neste ataque, das quais 132 eram

crianças inocentes. O Tehrik-i-Taliban Paquistão (TTP), que se abriga no

Afeganistão, reivindicou a responsabilidade e atribuiu este ataque como uma

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represália à operação contraterrorista das Forças Armadas do Paquistão, Operação

Zarb-e-Azb, que iniciou seis meses antes, em junho de 2014. Operação Zarb-e-Azb,

que significa ataque agudo e cortante, foi uma ofensiva militar conjunta conduzida

pelas Forças Armadas do Paquistão contra vários grupos militantes, incluindo

Tehrik-i-Taliban Paquistão (TTP), o Movimento Islâmico do Uzbequistão (IMU), o

Oriente Movimento Islâmico do Turquestão, Lashkar-e-Jhangvi (ETIM), Al-Qaeda,

Jundallah e a Rede Haqqani.

Forças armadas do Paquistão implementaram uma estratégia militar

abrangente baseada em "diretrizes amplas" dada na doutrina de guerra sub-

convencional (2013). Essa doutrina provou ser imensamente bem-sucedida na

eliminação do bastião terrorista na região Waziristan do Norte, uma área tribal ao

longo da fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. 30.000 soldados paquistaneses

participaram da Operação Zarb-e-Azb para expulsar todos os militantes estrangeiros

e locais escondidos.

O Paquistão finalmente conseguiu uma superioridade na batalha de

narrativas contra os terroristas após desafortunado ataque de militantes na Escola

Pública do Exército. A opinião da nação se voltou a favor de uma ofensiva militar

contra todos os terroristas, desconsiderando todas as formas de negociação. A

moratória sobre a pena de morte foi suspensa e foram criados tribunais militares

para ajudar o judiciário a lidar com os casos contra os terroristas. O Paquistão

testemunhou um declínio acentuado nas ações terroristas após esta operação, no

entanto, uma ameaça latente de terroristas residuais está sendo derrotada através

de Operações Baseadas em Inteligência, Operação Radd-ul-Fassad, que significa,

aproximadamente, eliminar a discórdia.

3.3 ENTENDENDO O TIPO DE GUERRA

Para combater o novo desafio, é imperativo primeiro identificar a natureza do

conflito. Devido aos suas muitas matizes e cores, o principal desafio de qualquer

conflito é identificar o tipo de ameaça que está sendo confrontada. Como Clausewitz

afirmou:

O primeiro, o supremo, o mais extenso ato de julgamento que o estadista e o comandante têm que fazer é estabelecer [...] o tipo de guerra em que eles estão embarcando; nem confundi-lo, nem tentar transformá-lo em algo que é estranho à sua natureza.

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General (aposentado) Anthony, ex-comandante do CENTCOM dos Estados

Unidos, destaca: “Entender o tipo de guerra que você está combatendo é o primeiro

passo para vencer” (apud HAMMES, 2006). Identificar o tipo de desafio no Século

XXI é o primeiro requisito para abordá-lo apropriadamente. No entanto, continua a

ser o mais difícil, pois os estados estão em uma tendência normal de ignorar

deliberadamente a noção de quaisquer linhas de fratura predominantes que

poderiam ser mais exploradas pelos elementos hostis com suporte interno ou

externo. Outro problema é a falácia de atribuir todo problema interno à intervenção

estrangeira, que nem sempre é correta.

Os desafios que prevalecem são complexos e muitos estados estão mal

preparados para lutar e vencer devido à falta de conhecimentos e habilidades

apropriadas. A evolução destes desafios em sua forma atual é facilitada e impelida

pela mudança do cenário do sistema político internacional e pelas novas tendências

da globalização. Os países são confrontados com o desafio de manter / depender de

alianças antigas, desenvolver novas alianças e até romper a aliança autoritária. Os

países em desenvolvimento estão olhando para os países mais desenvolvidos na

tentativa de progredir, os países subdesenvolvidos estão submersos em

instabilidades políticas com enorme espaço para a exploração e certos países estão

envolvidos secretamente através das Guerras Híbridas para desestabilizar seus

oponentes.

Neste complexo tempo de sobrevivência, onde os países podem ser

destruídos em questão de semanas e meses (GERASIMOV, 2013), é crucial

primeiro reconhecer a presença de linhas de fraturas existentes o mais rápido

possível e identificar o tipo de meios apropriados para derrotá-lo sem cair na falácia

de seguir as doutrinas de certos países que lhes convinha, pois cada país tem seus

próprios peculiares de problemas que podem ser resolvidos por suas próprias

políticas. Uma abordagem cuidadosa para cada problema, antecipando e avaliando

o resultado a longo prazo é extremamente essencial. Alguma abordagem com o uso

da força de forma inadequada (menos ou excessiva) pode levar a consequências

desastrosas.

O Paquistão também sofreu com o dilema de entender a ameaça devido à

negação de linhas de fraturas existentes que cresceram exponencialmente devido a

inúmeros desafios colocados através da Guerra Híbrida. No começo, a opinião

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estava dividida entre o uso da força ou negociações com grupos radicais desafiando

a ordem judicial do estado. Havia até mesmo uma voz de “Combatendo a guerra a

mando dos EUA” e “trazendo a guerra para o Paquistão”. Também levou algum

tempo para entender a necessidade de apoio público local e a derrota da ideologia

dos terroristas. As forças armadas paquistanesas subestimaram a força de

terroristas e precisavam dos equipamentos e técnicas de combate apropriados para

combater a ameaça. A ambivalência entre as negociações e o uso de operações

cinéticas favoreceu os extremistas antes do início das operações. As forças armadas

levaram levou algum tempo para desenvolver a capacidade de realizar operações

eficazes baseadas na Inteligência, com o objetivo de buscar os vestígios das

finanças dos terroristas. O uso da força apropriada também permaneceu um desafio.

O desenvolvimento de leis necessárias para apoiar o governo que limita o

financiamento dos terroristas está sendo lento e ainda está em andamento.

3.4 EXPLORAÇÃO DA RELIGIÃO E ETNIA

Ao longo da história, as massas foram dominadas em nome da religião, etnia,

idioma, etc. Essa exploração se mostra extremamente produtiva na formação de

uma opinião que é facilmente aceita pelo povo. Ultimamente, certas facções

abusaram deste poder para atingir seus interesses e usaram a religião para enganar

o povo inocente. Essa vulnerabilidade é maior na religião do Islã, onde os

eruditos/acadêmicos autoproclamados fornecem interpretações erradas e a chamam

de "Jihad", que é totalmente incorreta.

Allie Kirchner, pesquisadora do Stimson Center, um centro de pesquisa em

Washington, comentou: “Terroristas exploram a palavra jihad para criar a falsa

impressão de que o texto do Alcorão apoia seus crimes violentos.” Ela acrescentou:

conceito estreito de jihad usado por terroristas, pela mídia dos EUA reforçou

inadvertidamente a ligação entre o terrorismo e o islamismo dentro da consciência

americana e contribuiu para a percepção negativa do Islã sustentada por uma

porcentagem crescente do público americano”.

A jihad tem muitos tipos que não se limitam apenas à guerra. Jihad também

significa uma luta espiritual interna que é a melhor de sua forma. Isso também

significa a luta para defender o Islã. A religião do Islã condena os assassinatos e

igualar à matança de toda a humanidade. Infelizmente, algumas pequenas facções

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dissidentes, promovendo crenças erradas do Islã, principalmente em seus

interesses, são equiparadas a toda comunidade islâmica.

A extensão dessa exploração é encontrada em todos os níveis. Mesmo certos

partidos políticos, vergonhosamente, muitas vezes chamam seu movimento para

ganhar votos como Jihad. Segundo a opinião do autor, o pior é explorar a religião

para interesses pessoais. Esses chamados estudiosos e guardiões usaram a religião

tanto quanto lhes convinham, aceitando parte dela que é conveniente e denunciando

o resto da religião em nome da cultura e da tradição, que os impede de seus

interesses autocentrados.

Segundo Nielsen et al., (2015, p. 94) “A religião é uma ferramenta importante

para promover agendas contra o estado nos conflitos dos dias atuais e pode ser

usada para recrutar / doutrinar os membros em potencial para grupos de terroristas /

insurgentes”. A autoridade sobre a religião é deixada nas mãos de um "estudioso"

que pode não ter a educação religiosa exigida e que propõe uma certa crença

baseada em valores radicais que são contrários aos ensinamentos reais da religião.

Mesmo pessoas com boa educação são influenciadas por crenças erradas que

promovem a hostilidade em vez da coexistência pacífica.

3.5 FINANCIAMENTO DO TERROR

O financiamento terrorista refere-se às atividades e estratégias que são úteis

no processo de captação de recursos para as atividades terroristas. Pode ser de

várias fontes, por exemplo, assistência privada e lucros de empresas, arrecadação

de fundos de organizações de caridade, tráfico de drogas, contrabando de armas,

fraude, sequestro para resgate e extorsão. O principal objetivo do financiamento do

terrorismo é capacitar uma rede terrorista para intimidar uma população ou coagir

um governo a se envolver, matar, prejudicar, pôr em perigo ou causar danos

substanciais à propriedade; ou interferir seriamente em serviços e sistemas

essenciais.

Nesse contexto, quaisquer que sejam os motivos, propósitos ou objetivos de

uma organização ou grupo terrorista, como outras organizações militantes, eles

devem manter as habilidades necessárias, adquirir, transferir, acumular e

eventualmente utilizar os recursos financeiros necessários para cumprir os objetivos.

Grupos terroristas no sul da Ásia, como Al-Qaeda, TTP, Tigres da Libertação do

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Tâmil Eelam (LTTE), Jammat-ul-Mujahideen Bangladesh (JMB) e grupos maoístas

na Índia, vieram de diferentes ideologias, mas geralmente suas técnicas de coletar

fundos e suas estratégias são mais ou menos semelhantes. Uma das formas mais

sofisticadas e eficazes, utilizadas por essas organizações é uma rede de

Organizações Não Governamentais (ONGs), que facilitam aos militantes gerar e

movimentar as finanças facilmente em qualquer parte do mundo através de um

canal sistemático.

Interessantemente, essas ONGs atuam como frentes efetivas e também

ajudam a ganhar legitimidade do movimento de fundos. Normalmente, esse

movimento deliberado de fundos ocorre de economias bem desenvolvidas e mais

reguladas para países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Nos países

muçulmanos, os governos frequentemente ignoram a regulamentação de instituições

de caridade e madrassas4 que incluem critérios de registro, procedimentos de

manutenção de registros, monitoramento de entradas e saídas financeiras e

sistemas de verificação de segurança. As organizações militantes aproveitam essa

situação. Nas sociedades muçulmanas em geral, a filantropia faz parte das

obrigações religiosas, as organizações extremistas geralmente se envolvem em

trabalhos de caridade e bem-estar e coletam valores, que são normalmente usados

para recrutamento, propaganda e operações terroristas.

3.6 DESAFIO DO USO DA FORÇA

O primeiro desafio na luta contra o terrorismo para forças de segurança são

as "Regras de Engajamento", uma vez que o uso desproporcional da força contra os

próprios cidadãos pode ter consequências negativas. Ações agressivas, com

demonstração de força estão chegando as áreas mais atingidas, diminuindo a ação

dos terroristas. Quando empregados, as forças armadas devem agir pro ativamente

para dominar a área, limitando assim a influência do terrorismo.

Na compreensão do tipo de desafio, é extremamente importante identificar o

tipo de resposta necessária que deve corresponder ao desafio. Segundo a doutrina

de guerra sub-convencional do Exército do Paquistão, (2013, p.22) “a aplicação de

instrumento militar dentro das fronteiras de um estado é uma decisão difícil e será

tomada como último recurso pela mais alta autoridade política”. No entanto, o uso da

4 Madrassa é um seminário religioso que ensina leitura, recitação e compreensão do Alcorão.

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força deve ser limitado ao mínimo, e somente em autodefesa. Um erro de

julgamento no uso da força pode ter consequências de longo prazo. Segundo o

autor (2018):

A seleção da força, militar, paramilitar ou policial, na manutenção da lei e da ordem, deve ser cuidadosamente ponderada contra possíveis repercussões. Uma situação que poderia ser administrada apropriadamente pela polícia deve ser tratada por ela, empregar militares para lidar com tais situações só piorará o resultado.

O emprego de militares no trabalho policial deve ser cuidadosamente

ponderado devido às consequências. Ao mesmo tempo, o emprego de forças

armadas em ajuda do poder civil por um período prolongado deve ser

prudentemente analisado, uma vez que tais práticas levantam questões sobre a

eficiência das forças armadas e também encorajam os Terroristas contra a

dissuasão dos militares. Baseando-se na opinião do autor, o emprego militar na

manutenção da lei e da ordem deve ser restrito apenas ao papel de supervisão para

aumentar as capacidades da polícia e criar uma narrativa forte sobre o papel militar

como secundário em apoio à polícia, mesmo se o exército estiver no papel principal.

As forças da segurança devem operar no interesse maior do estado, seguindo

uma política que deve ser continuada por cada regimento / grupo. Um lapso de

qualquer elemento nessa busca não apenas atrasará o processo, mas poderá até

reverter os ganhos (MALIK, 2010). Os órgãos responsáveis pela aplicação da lei

devem apenas prometer o que poderia ser implementado por eles mesmos ou por

sua influência. Compromissos falsos perderão a confiança do público, que é o

principal componente para vencer essa luta. Ganhar uma opinião pública popular

não é fácil durante as operações, especialmente uma vez, se for perdido. Portanto,

as forças armadas devem esforçar-se para seguir os direitos humanos e respeitar a

cultura e os valores dos nativos.

Nielsen et al., (2015, p.81) apropriadamente trazem uma lição pertinente a

este respeito: A fim de manter a credibilidade aos olhos da população local, o grupo de batalha tem que operar de acordo com a estratégia abrangente sem mudar as prioridades […]. Isso precisa de uma Diretiva de Operações escrita centralmente, bem como um processo de transferência estruturado de um grupo de batalha para o outro, supervisionado pelo Comando do Exército para garantir que as lições aprendidas sejam implementadas. Se a estratégia mudar ao longo do tempo, os grupos de batalha devem investir tempo e esforço para explicar à população local por que uma mudança é necessária e como isso influenciará a população local.

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3.7 AÇÕES REFORMADORAS PELO GOVERNO

O exército paquistanês é o instituto mais confiável do país. As pessoas se

orgulham de suas forças armadas por seus sacrifícios e honestidade em seu

trabalho. É natural que as pessoas desenvolvam expectativas nos militares quando

empregadas em contato próximo com a população local. Mas as forças armadas não

têm soluções rápidas e os recursos necessários para resolver as preocupações da

população local. Nem os militares poderiam trazer projetos de desenvolvimento e

atividades do dia a dia. Tais ações, requerem o pronto apoio de agências

governamentais para abordar preocupações da população local, que na maioria dos

casos não é realizada rapidamente. Como discutido anteriormente, os militares

devem tentar trazer projetos governamentais na área e buscar a confiança da

população local.

Qualquer abordagem ad hoc contra o terrorismo não teria os resultados

desejados. De acordo com Nielsen et al., (2015, p.130): […] O Exército [do Paquistão] desempenhou seu papel nos esforços de combate ao terrorismo para assegurar a estabilidade inicial e a paz, mas os esforços civis têm de desempenhar o maior papel. Além disso, os políticos têm a responsabilidade de fornecer e endossar uma estratégia de todo o governo com um estado final claro e compreensível. Mas isso é apenas metade da responsabilidade do instituto político. Ao mesmo tempo, o político deve assegurar-se de fornecer medidas de controle para garantir que as instituições governamentais no nível operacional estratégico (isto é, os ministérios) estão transformando o estado final em objetivos alcançáveis [...] antes de ser dado ao nível tático.

Neilsen et al., ainda ressaltam “Para manter a credibilidade, os esforços

militares e civis têm que trabalhar de acordo com uma estratégia abrangente sem

mudar o estado final, ajustando os meios para o desenvolvimento e os sucessos no

local”.

3.8 TERRORISTAS/GRUOPOS NÃO ESTATAIS

O termo não-estado, embora frequentemente citado, em eventos relacionados

ao terrorismo tem diferentes formas, de indivíduos a pequenos grupos ou

organizações que trabalham com sua própria motivação e outros com um motivo

definido e apoiado. Nesse contexto, é pertinente denominar atores como atores não

estatais violentos ou armados. Os atores não-estatais violentos incluem

organizações e indivíduos que não são afiliados, dirigidos ou financiados pelo

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governo. Atores não estatais violentos incluem, mas não se limitam aos seguintes

grupos:

a) Atores Individuais: Pessoas que agem por conta própria para apoiar um

motivo, por exemplo, Tajiques, Usbeques, combatentes árabes no

Afeganistão em nome da religião;

b) Grupos de oposição rebelde: Grupos com uma incompatibilidade

declarada com o governo, por exemplo, Talibã, Al Qaeda, Jamat-ul-Ahrar,

Daesh etc.;

c) Grupos Radicais: Grupos que desafiam o governo e intervêm nos

assuntos de outros estados para apoiar um motivo ou uma atividade

terrorista. Esses grupos também impedem o processo de paz entre dois

estados a pedido de um terceiro país;

d) Milícias Locais: Grupos (étnicos, clãs ou de outro modo) em um país

específico, apoiadas externamente para desestabilizar o próprio país, por

exemplo, movimentos insurgentes;

e) Grupos Não Estatal: grupos que têm apoio cúmplice do estado para

sabotar o estado adversário; e

f) Mercenários: um grupo que age como um exército mercenário ou, por falta

de palavras melhores, uma empresa de segurança privada a pedido de

outro país para criar o caos e a anarquia ou para lutar contra outro grupo

não estatal, por exemplo, a “Blackwater”.

Nesse contexto, o Paquistão experimentou e ainda está enfrentando o desafio

de um ou mais dos grupos não-estatais citados acima. Vestígios de indivíduos

associados ao Movimento Islâmico do Turquestão Oriental (ETIM) e ao Movimento

Islâmico no Uzbequistão (IMU) foram encontrados nas áreas tribais ao longo da

fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão.

3.9 ADAPTAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS

Primeiramente, as forças armadas geralmente não estão configuradas para

combater uma guerra não convencional em termos de treinamento e equipamento. A

gravidade desse novo tipo de guerra em que o insurgente emprega meios cruéis

para destruir a vontade do povo e das forças armadas precisar treinamento

especializado completo. As forças armadas do Paquistão também enfrentaram

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esses desafios para entender a dinâmica desse tipo de guerra. Mais importante

ainda, o emprego nas áreas urbanas exige contato próximo com os civis e contato

com a população local. Para tanto, faz-se necessário treinamento especializado para

lidar com civis, o que não é um trabalho rotineiro para militares.

Ademais, a adaptação das forças armadas de acordo com as circunstâncias,

área e terreno é complexa, pois cada área tem peculiaridades e diferentes tipos de

pessoas. Uma política ou técnica não serve para todas as situações. Isso implica

que os comandantes militares leiam a situação atual em detalhes e ajam de maneira

correspondente. Qualquer mentalidade rígida ou fixada não produziria os resultados

desejados. No entanto, a regra geral para enfrentar esses desafios é seguir os

procedimentos operacionais padrão (POP) desenvolvidos.

3.10 GESTÃO DA PERCEPÇÃO

O gestão de percepção é uma ferramenta vital da Guerra Híbrida. Uma vez

que uma percepção sobre um país ou região é estabelecida, outros a seguem sem

empreender qualquer esforço para validar e muito menos combatê-la. Nesse

sentido, a propaganda, como um instrumento da Guerra Híbrida, apresenta a

imagem negativa do país alvo projetando-o como “anárquico”, “indigente”,

“perigoso”, “falido” e até como “Estado Terrorista”. Além disso, a mídia continua

retratando antigos legados ou políticas. Frequentemente, os exemplos da guerra fria

ainda são usadas para projetar os sucessos e fracassos dos estados. O uso do soft

power molda a opinião internacional e suscita preocupações quanto à legitimidade

da governança. Nesta época de economias competitivas, o soft power traz respeito,

o que, por sua vez, convida ao investimento, desenvolvimento e crescimento

sociocultural, os quais melhoram a vida dos cidadãos comuns e sustentam a

estabilidade política do país.

O Paquistão, infelizmente, é vítima desta campanha maliciosa na Guerra

Híbrida imposta. As políticas do passado do Paquistão de apoiar os Mujahideen, que

eram em grande parte devido à influência dos EUA, ainda estão associadas a ele,

apesar do fato de que o Paquistão sofreu mais com isso, em termos de perdas

econômicas e vidas valiosas. De acordo com Korybko (2017, p.234): Muitas pessoas

no Ocidente mantêm a visão inexata de que o Paquistão está repleto de

fundamentalismo islâmico e, portanto, um foco perigoso de terrorismo. Eles

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respaldam sua alegação enganosa confiando nos anos 80 e na assistência do país

aos Mujahedeen afegãos. Não se trata de racistas, destaques de Korbyko, e

islamofóbicos aqui, já que é improvável que seus pontos de vista mudem,

independentemente da evidência factual com a qual eles sejam apresentados, mas

indivíduos comuns bem-intencionados, empresários e funcionários do governo, que

foram levados extraviado pelos "falsos" ou exagerados "relatórios" da mídia sobre o

Paquistão.

3.11 RESTRIÇÕES DE RECURSOS

As forças militares paquistanesas percorreram um longo caminho, até o ponto

em que derrotaram os criminosos e terroristas através de grandes operações

envolvendo forças de tamanho de divisão em antigas áreas tribais. Eles aprenderam

a lutar contra a ameaça da militância e do terrorismo. O Paquistão tem, ao longo das

décadas, focado na guerra convencional e tradicional com um inimigo convencional,

principalmente devido a ameaças de suas fronteiras orientais. A guerra não

convencional não era seu forte inicialmente. Ele teve que reequipar e reorientar suas

forças armadas para enfrentar o adversário, mas com muito menos recursos do que

muitos países desenvolvidos. Ironicamente, o Paquistão foi um aliado fundamental

na Guerra ao Terror para o Ocidente, mas recebia constantemente pedidos de “Faça

mais” de seus pares internacionais, que desconsideravam as imensas restrições a

seus recursos financeiros, dada sua enorme população.

Dada a tarefa hercúlea enfrentada pelas forças armadas e agências de

inteligência do Paquistão, se considerarmos os gastos militares do país, o Paquistão

nunca entrou na lista dos 15 maiores gastos ou gastadores militares do mundo

durante quase a primeira década dos anos 2000. De fato, muitos países na lista das

15 mais, segundo estimativas do SIPRI, não estão enfrentando insurgências /

situações de lei e ordem em casa (por exemplo, Brasil, França, Itália, etc.), nem são

aliados ativos na Guerra Contra Terror, nem são países ricos (por exemplo, a Índia).

Outra ironia é que o custo de combater uma insurgência no Afeganistão foi

encontrado por muitos na Europa, apesar de serem compartilhados por mais de 27

países, juntamente com os EUA, mas o Paquistão sozinho teve que lidar com os

terroristas na luta contra o terrorismo. A afirmação “ajuda externa” para ajudar o

Paquistão a combater a guerra nunca foi proporcional à tarefa desempenhada ou

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aos custos suportados por toda a sociedade paquistanesa. No entanto, os sacrifícios

feitos especificamente pelo Exército do Paquistão na execução dessas operações,

desde o início da Guerra Contra o Terrorismo, superam as baixas da OTAN / ISAF e

dos EUA combinados.

3.12 INTERAÇÃO DA MÍDIA COM GRUPOS TERRORISTAS

A mídia no Paquistão não desempenhou um papel positivo na luta contra o

terrorismo. Muitas vezes, representava a narrativa dos terroristas em vez do

governo. Em certa ocasião, no Paquistão, os reféns foram mortos por terroristas,

que por sua vez traumatizaram a família da vítima para sempre. A busca da mídia de

manter suas fontes e não fornecer as informações às forças de segurança leva

apenas à perda de vidas inestimáveis.

Ao estabelecer contato com pessoas culpadas de ações criminosas também

levanta uma questão legal: os jornalistas têm o direito de fazer contato com

terroristas sem avisar as forças de segurança, cuja missão é persegui-las e julgá-

las? A maioria dos jornalistas argumenta que não é tarefa da mídia ser informante

da polícia, mas o procedimento inegavelmente levanta sérias questões éticas.

Além disso, entrevistar terroristas, que é certamente indecente e fornece fama

indevida ao líder terrorista, também antagoniza as autoridades, que denunciam a

cumplicidade da mídia. Brigitte Nacos resumiu a situação nos seguintes termos:

Não faz diferença se um entrevistador é duro com o terrorista ou com seu simpatizante. O mero fato de o terrorista ser entrevistado por representantes respeitados da mídia e tratado "como alguém cuja contribuição para o debate público é digno de atenção" eleva a pessoa virtualmente ao nível de um político legítimo. (1994, p.66 apud MARTHOZ, 2017, p. 66)

Às vezes, na busca de uma melhor classificação, a mídia transmitia ao vivo

do local do incidente e até revelava a identidade das unidades participantes das

operações. Isso resultou em impedimento de operações de emergência e

segurança. Esta prática foi, no entanto, reduzida mais tarde, mas depois de algumas

perdas significativas.

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4 A RESPOSTA E O MODELO DE ATUAÇÃO DO PAQUISTÃO

Este capítulo analisa experiências de operações de contraterrorismo obtidas

por oficiais paquistaneses do Comando do Exército, oficiais superiores, acadêmicos

e outros profissionais de contraterrorismo. Objetiva recolher as lições identificadas

com as operações contra terroristas paquistanesas no nível estratégico e como isso

influenciou as operações no nível tático. Uma das principais lições identificadas foi a

falta de uma narrativa estatal e uma uniformidade ou consenso sobre como abordar

os problemas mais gerais nas áreas de operações. O papel do governo em

responder às demandas locais, de forma que os atores não-estatais pudessem

explora-los não pode ser mais enfatizado. Segundo Griffith (1965), “existe uma

situação revolucionária protecionista em qualquer país onde o governo falha

consistentemente em sua obrigação de garantir pelo menos um padrão de vida

minimamente decente para a grande maioria de seus cidadãos”.

Existem duas abordagens para combater a insurgência, enumeradas por Nagl

(2005, p. 26).

a) Abordagem Direta: Usando a força máxima para abolir e destruir

totalmente todas as pessoas.

b) Abordagem Indireta: A abordagem indireta de derrotar uma insurgência é

construída a partir de uma melhor compreensão de Mao Tsé-Tung […].

Enquanto continua a atacar os elementos armados da insurgência, a

abordagem indireta reconhece que é essencial também atacar o apoio do

povo aos insurgentes.

A abordagem indireta de derrotar uma insurgência, concentrando-se em

afastar as pessoas dos insurgentes é bastante diferente da abordagem direta e, a

longo prazo, é geralmente mais eficaz. Uma vez que as unidades armadas, locais e

regulares, estão isoladas de suas fontes de suprimento, pessoal e, o mais

importante, de inteligência, elas são facilmente coagidas a se render ou serem

destruídas pelas forças de segurança com a ajuda da população local. Ganhar esse

apoio é fundamental em uma campanha de contra insurgência.

O sucesso nas operações não convencional depende da unidade de esforço

que incorpora as agências policiais dos estados que contribuem para reforçar a

legitimidade do governo, garantindo a estabilidade da segurança com a abordagem

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centrada na população e ganhar os corações e mentes através de ações cívicas

(Figura 8) ou como Mao Tsé-Tung disse "separar o peixe da água".

Figura 8 – Unidade de esforço em operações subconvencionais

Fonte: o autor

4.1 ESFORÇOS DO PAQUISTÃO CONTRA O TERRORISMO DE 2001 ATÉ A

ATUALIDADE

Os esforços, contribuições e sacrifícios do Paquistão na luta contra o

terrorismo são imensos e incomparáveis.

Nenhum outro país fez mais que o Paquistão para combater a ameaça do terrorismo. Nenhum país do mundo sofreu mais do que o Paquistão com o terrorismo, muitas vezes perpetrado fora de nossas fronteiras. (Paquistão, Ministério das Relações Exteriores, 2017).

Nesta luta, o Paquistão foi a principal vítima do terrorismo. O Paquistão

perdeu, em termos de vidas valiosas e economia, mais do que qualquer outro país

sem mencionar as perdas combinadas das forças de coalizão. A nação

paquistanesa, no entanto, manteve-se firme contra todos esses desafios e provou

sua resiliência ao derrotar a ameaça do terrorismo em grande parte com seus

próprios recursos.

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Gráfico 1 - Comparação de baixas entre Forças Armadas do Paquistão e de

Forças de Coalização

Fonte: http://icasualties.org/oef/ [acessado em 23 jul 2018] (*Confirmado de Tenente Coronel Fernando Olalde Altamira, Espanha, Aluno de curso de comando e estado-maior 2018, ECEME) http://www.satp.org/satporgtp/countries/pakistan/database/casualties.htm [acessado em 29 de julho de 2018]

O Paquistão tem estado na linha de frente na luta contra o terrorismo desde o

11 de setembro, as Forças Armadas do Paquistão desempenharam um papel

fundamental na prisão da liderança e dos agentes da Al Qaeda, que escaparam do

Afeganistão no final de 2001 (Quadro 8).

Quadro 8 – Liderança da al Qaeda apreendidas pela Paquistão

Ser Nome Nacionalidade Ano

1 Abu Zubaidah Arábia Saudita mar 2002

2 Ramzi Binalshabi Iémen set 2002

3 Khalid Sheikh Muhammad Kuwait mar 2003

4 Yassir Al-Jaziri Argélia, Marrocos mar 2003

5 Walid bin Attis desconhecido abr 2003

6 Ahmed Khalfan Ghailani Tanzânia jul 2004

8 Abu Faraj al-Libi Líbya mai 2005 Fonte: https://www.thenews.com.pk/archive/print/298864-top-al-qaeda-leaders-captured-or-killed-on-pakistani-soil. [acessado em 23 de set de 2018]

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Posteriormente, lançou 12 grandes ofensivas (Figura 9) de combate ao

terrorismo para retomar as áreas tribais e rurais da Al Qaeda, Taleban e Haqqani

(Mapa 3)—da Operação Al-Mizan em 2002 à Operação Zarb-e-Azb em 2014. Outra

ofensiva chamada Operação Radd-ul-Fassad, que significa a eliminação da

discórdia está atualmente em andamento para tirar centros urbanos de elementos

terroristas, que podem ter fugido durante operações anteriores para se esconder na

expansão das principais cidades do Paquistão.

Figura 9 - Linha do tempo das operações militares realizadas pelas Forças Armadas

do Paquistão

Fonte: o autor.

Mapa 3 - Operações militares desde 2001

Fonte: Factsheet on Pakistan’s Counter terrorism efforts (2017).

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Os ganhos alcançados durante estas operações foram consolidados e

multiplicados pela implementação do Plano de Ação Nacional (National Action Plan),

uma estratégia multidimensional desenvolvida pelo governo do Paquistão em 2015

para derrotar o terrorismo. O NAP vai além do contraterrorismo e das medidas de

aplicação da lei. Tenta abordar as questões estruturais e de governança que

permitiram que a narrativa terrorista se sustentasse no passado como, por exemplo,

regulando os currículos das madrassas (seminários religiosos), controlando o

discurso de ódio e integrando as áreas tribais administradas pelo governo federal

(FATA). Como resultado destes esforços, as áreas tribais do Paquistão estão agora

livres de militantes. O governo do Paquistão fundiu as Áreas Tribais administradas

pelo governo (FATA) com a província de Khyber Pakhtunkhwa em 28 de maio de

2018.

Enquanto isso, o centro de atividade da militância na região mudou da área

fronteiriça Paquistão-Afeganistão para dentro dos vastos espaços sem governo do

Afeganistão, que, segundo o relatório do Inspetor-Geral de Reconstrução do

Afeganistão (30 jul 2018, p.71), representa 41.5% do território afegão. É importante

ressaltar que as mortes civis e militares no Paquistão serem diminuindo a cada ano

desde o pico em 2012-13 (Gráfico 2).

Gráfico 2 – Declínio nas baixas desde 2012

Fonte: http://www.satp.org/satporgtp/countries/pakistan/database/casualties.htm [acessado em 29 de julho de 2018]

Este sucesso não foi atingido com facilidade. O Paquistão pagou um preço

enorme em vidas e recursos para expulsar os militantes de seu território. Segundo o

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Portal do Terrorismo do Sul da Ásia (25 de junho de 2018), mais de 21.000

paquistaneses perderam suas vidas com mais de 6.980 integrantes das forças de

segurança fazendo o último sacrifício para livrar seu país da ameaça do terrorismo.

As forças armadas e policiais lutaram contra essa guerra com o conhecimento de

que estavam colocando não apenas próprios vidas em risco, mas também as de

seus amigos e familiares. Eles foram tragicamente lembrados disso quando

terroristas baseados no Afeganistão atacaram a Escola Pública do Exército em

Peshawar em 2014. Nesse ataque, 132 crianças—a maioria deles filhos e filhas das

tropas do Exército do Paquistão lutando contra os terroristas —foram mortas.

O Paquistão continua recebendo ataques de grupos terroristas e militantes

que se mudaram para o Afeganistão. Para combater esses ataques e interditar o

movimento ilegal, o Paquistão está implementando medidas de controle de fronteira

mais rigorosas, incluindo barreira na longa e porosa fronteira Paquistão-Afeganistão

(Foto 1). Este é um empreendimento monumental, mas necessário. O Paquistão

está ganhando sua guerra contra o terrorismo, graças ao sacrifício supremo do povo

do Paquistão e à firme resolução de nossas forças de segurança.

Foto 1 – Barreira ao longo da fronteira Paquistão-Afeganistão

Fonte: Uma vista da cerca de fronteira fora do posto avançado de Kitton na fronteira com o Afeganistão no Waziristão do Norte. Oct 18, 2017. REUTERS/Caren Firouz. Disponível em:<https://www.voanews.com/a/pakistan-builds-afghan-border-fence/4077234.html> [acessado em 30 set 2018]

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4.2 REFORMA DAS FORÇAS ARMADAS

Lutar contra a militância implica treinamento especializado, equipamento e,

mais importante, uma abordagem abrangente por setores relevantes do governo, do

nível estratégico ao nível tático, seguindo uma política singular para alcançar o

objetivo comum de derrotar a militância. As reformas requeridas tanto no domínio

cognitivo como físico, são mais difíceis de implementar do que o previsto, devido a

múltiplos motivos como principalmente a falta de recursos, falta de treinamento

apropriado, consenso em nível nacional, etc. As Forças Armadas do Paquistão

enfrentaram imensos desafios no início, pois combateram em situações

extremamente intensas relacionadas ao terrorismo, como a defesa contra os

dispositivos explosivos improvisados e os atentados suicidas. No entanto, com o

passar do tempo, as Forças Armadas do Paquistão desenvolveram procedimentos

operacionais padrão, doutrina e adquiriram adequados equipamentos que provaram

ser uma ferramenta poderosa contra uma vasta gama de desafios.

4.2.1 Treinamento Contraterrorismo e Contra Insurgência

O Exército do Paquistão desenvolveu uma abrangente metodologia de

treinamento contraterrorismo e operações não convencionais. Este treinamento foi

introduzido em todas as instituições de treinamento militar e Escolas de Batalha

Divisional. Uma determinada parte de todos os cursos militares inclui treinamento de

operações não convencionais. Além disso, cursos especiais de contraterrorismo são

realizados em ciclos de treinamento e competições são realizadas continuamente

nas Divisões. O treinamento contra o terrorismo inclui uma vasta gama de tópicos,

desde operações militares até informações e operações psicológicas. Esses

métodos de combate ao terrorismo testados pelo tempo estão sendo tomados como

lições aprendidas pelos exércitos contemporâneos (NIELSON et.al, 2015).

As Forças Armadas do Paquistão desenvolveram modernos complexos de

treinamento contra o terrorismo, onde as forças praticam e aprendem os vários

métodos de contrapor-se à ameaça. Cada unidade destinada à área de operações

passa por um treinamento rigoroso que é avaliado por uma equipe designada pelo

comando do Exército. Além disso, essas instalações modernas também são usadas

para treinamento conjunto com países amigos (Foto 2,3), onde a experiência para

combater o terrorismo é compartilhada e as técnicas são ensaiadas.

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Foto 2,3 - Exercício conjunto de contraterrorismo com Nações amigas

Fonte : Esquerda; Cerimónia de Abertura do Exercício Amizade Russo-Paquistanesa 2017. Disponível em:< http://eng.mil.ru/en/multimedia/photo/gallery.htm?id=45517@cmsPhotoGallery>. Acesso em: 30 de set 2018. Direita: Exercício de treinamento conjunto entre a China e o Paquistão, 2016. Disponível em: <https://www.dawn.com/news/1301412>. Acesso em: 23 de set 2018. 4.2.2 Doutrina Contra o Terrorismo: “Sub Conventional Warfare Doctrine”

Doutrina de Guerra Subconvencional do Exército do Paquistão (2013) define

SCW como:

A guerra subconvencional é um conflito entre os atores e instrumentos não estatais, subestatais ou extra-estatais do estado, envolvendo o uso ou a ameaça de uso da força. Muitas vezes, a ameaça subconvencional, depois que o Estado não conseguiu contê-la através de sua máquina de cumprimento de lei civil, tem a propensão de gradualmente transcender a um nível em que o envolvimento das forças armadas é necessário. O emprego cinético ou não-cinético das forças armadas no ambiente SCW [...] visam recuperar um estado de 'normalidade' para que a autoridade civil possa reafirmar-se na fase pós-conflito. (2013, p.1)

A doutrina subconvencional (2013) do Exército do Paquistão é baseada nos

preceitos de "Varrer, manter, construir e transferir". As competências essenciais do

Exército do Paquistão incluem exercícios e mecânicos envolvidos em combate em

áreas edificadas, avaliar e vigilância de rotas e locais, capacidade de uso de armas,

operações de busca e cerco, capacidades de caçador, aquisição de inteligência e

tratamento das informações. A doutrina de operações subconvencionais pretende

fornecer diretrizes abrangentes a todos os componentes do Exército para

empreender operações contrárias ao terrorismo.

A doutrina supracitada, em sua nota introdutória, destaca que os conflitos

subconvencionais, mesmo os mais localizados, são muito mais complexos e têm

implicações pós-conflito muito maiores do que a violência convencional de "estado

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contra estado". Dada esta característica básica, uma vez que ocorre um conflito

subconvencional, não há, invariavelmente, uma solução rápida para lidar com isso

de maneira decisiva. Qualquer esforço significativo para resolver ou administrar o

conflito é, invariavelmente, de longo prazo, envolve uma resposta civil-militar de

múltiplas agências apoiada por manobras sócio-políticas e político-econômicas. A

mídia assume um papel crucial e muitas vezes decisivo na formação de percepções

e opiniões do público doméstico e internacional.

A Doutrina Sub-convencional de Guerra do Exército do Paquistão (2013) aprofunda os seguintes aspectos:

a) aspectos conceituais da guerra subconvencional;

b) ambiente e desafios;

c) diretrizes para a condução de operações subconvencionais;

d) papel dos componentes de apoio, Força Aérea e Marinha;

e) cooperação civil-militar; e

f) diretrizes para o desenvolvimento de força e regime de treinamento.

A doutrina da guerra subconvencional recomenda a aplicação do instrumento

militar como último recurso. É altamente importante conceber um estado final

desejado devido à sua natureza e caráter prolongados.

A campanha deve ter um estado final com os cronogramas desejados. Estado final militar implica a criação de condições que sejam favorável à realização de objetivos políticos, que é a restauração da normalidade, através do acordo negociado / resolução do conflito. O emprego do Exército deve ser por um tempo específico, um programa faseado deve ser marcado onde a administração civil assume como a principal agência para uma paz duradoura e estabilidade no cenário pós-operações. (2013, p.32).

4.2.3 Melhoria de Capacidade

Aumentar a capacidade em termos de criar novos unidades necessárias das

forças armadas, especialmente as forças paramilitares, foi um passo importante para

combater o terrorismo. Não apenas as novas formações foram criadas, mas as

forças paramilitares mantidas nas fronteiras ocidentais foram integradas com as

forças armadas regulares para aumentar sua eficiência de combate. Operações

combinadas e grupos integrados assim criados contra-atacaram o terrorismo. Essas

combinações se mostraram úteis, pois aumentaram o nível de confiança das forças

paramilitares e forneceram forças regulares com poder capaz de administrar áreas

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extensas. Inicialmente, o ônus das operações era assumido apenas pelos Batalhões

de Infantaria, mas devido a extensos e repetidos empregos, essa responsabilidade

era compartilhada por outras armas, como os Regimentos de Cavalaria e Artilharia

em operações menos intensivas.

O Exército do Paquistão também empregou seus oficiais junto às forças

paramilitares. Essa medida também se mostrou útil para aumentar a confiança das

forças militares que operam contra a insurgência.

4.2.4 Aprimoramento de Equipamentos

Combater o terrorismo exigir equipamento especializado que é diferente de

combater a guerra convencional. As Forças Armadas do Paquistão atualizaram as

perspectivas, quase completas, do soldado convencional que foi antigamente

treinado para lutar uma batalha de trincheiras. Medidas extensas foram tomadas

para melhorar o equipamento dos soldados para lutar em recintos fechados de

maneira mais eficiente. O aprimoramento em equipamentos inclui o fornecimento de

armas de combate de curta distância, proteção corporal, capacetes balísticos leve,

coletes de combate, equipamentos de comunicação aprimorados e duráveis, visores

noturnos, morteiros de curto e longo alcance e caçadores. Os militares também

receberam pistolas de melhor qualidade como arma secundária.

4.2.5 Compartilhamento de Experiências

Durante a luta para combater o terrorismo, um lição importante aprendida

pelas forças armadas foi o compartilhamento de experiências de combate. Embora

cada zona de combate seja única e tenha suas peculiaridades próprias que não

poderiam se adequar a todas as situações, as experiências compartilhadas pelas

forças terrestres forneceram lições úteis para evitar situações críticas. Inicialmente,

oficiais e soldados das áreas de combate compartilharam suas experiências através

de apresentações em escolas de instruções e nas divisões. Posteriormente, foi

definido um procedimento em que todas as unidades, ao retornarem da área de

operações, compartilharam suas experiências com as formações das quais faziam

parte. Agora, apresentações especiais e palestras sobre experiências são realizadas

para treinamento de unidades destinadas a operações. Além disso, oficiais e

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soldados fazendo diversos cursos compartilham suas experiências com seus

colegas como parte do currículo do curso.

Estas experiências variaram em sua natureza, da política aos níveis

estratégico e tático. As experiências aprendidas, em diferentes níveis, desde os

componentes do equipamento pessoal dos soldados até a tomada de decisões por

parte do estado-maior e comandantes, ajudaram a desenvolver procedimentos

operacionais padrão (POP) inestimáveis, que acabaram ajudando a alcançar

sucessos e prevenir baixas. As estatísticas mostraram que aquelas unidades que

realmente seguiram os ditos POP tiveram melhor desempenho nas operações do

que aquelas que os negligenciaram. Na maioria dos casos de perdas, observou-se

que os POP não foram observados em certo nível. No contexto de aprender com a

experiência, alguns livros úteis foram produzidos por oficiais militares e analistas.

Dois livros de um oficial militar paquistanês, agora General de Divisão, Fida Hussain

Malik são bastante valiosos; “Hounding the shadwos of Terror (2011)” e “Waziristan;

The simmering backyard (2012) ”. Outro recurso útil, “Counter Insurgency and

Counter Terrorism: Sharing Experiences in Afghanistan and Pakistan (2015), pelo

National Defense College, Paquistão e Royal Danish Defense College, apresenta

lições valiosas em níveis estratégicos. 4.3 OPERAÇÕES BASEADAS EM INTELIGÊNCIA

A importância das operações baseadas em inteligência no combate ao

terrorismo pode ser melhor destacada pela resposta a uma das perguntas

formuladas por Alex P. Schmid, et al., no “Routledge Handbook of Terrorism

Research”. Em seu questionário, eles pediram a especialistas, incluindo generais

militares e proeminentes analistas políticos, uma série de perguntas sobre como

combater o terrorismo. A primeira dessas questões foi "Quais são, na sua opinião,

as contramedidas mais eficazes contra o terrorismo internacional?" Alguns dos

entrevistados forneceram mais de uma resposta. A seguir estão as dez

contramedidas mais citadas, em ordem decrescente de eficácia percebida, com o

número de especialistas mencionando cada medida entre parênteses (2011, p.31):

a) Inteligência (47);

b) compartilhamento de informações interagências e internacionais e ação

cooperativa (44);

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c) cortando muitas das fontes de financiamento dos terroristas (24);

d) uma política externa prudente (16);

e) consenso internacional sobre a definição e o alcance do terrorismo (13);

f) limitando o crescimento da ideologia terrorista através da propaganda […]

(11);

g) educar o público sobre o que fazer se um ataque é suspeito […] (10);

h) prestação de assistência antiterrorista a países sem experiência (10);

i) cooperação militar (9); e

j) melhorada fronteira, aeroporto e segurança marítima (8).

Dessa lista, fica claro que o único elemento considerado dominante para o

combate ao terrorismo é "inteligência", seguido pela categoria relacionada de

"compartilhamento de informações interagências e internacionais e ação

cooperativa". Até mesmo o terceiro item, relacionado ao financiamento de terroristas,

tem um forte componente de inteligência.

As Forças Armadas do Paquistão lançaram em fevereiro de 2017 a Operação

Radd-ul-Fassad, baseada de inteligência que estão sendo realizadas em todo o país

para eliminar os terroristas dos centros urbanos que podem ter fugido da área de

operações. De acordo com o diretor geral “Inter-services public relations” do Exército

do Paquistão (março de 2018); “23.380 Operações Baseadas em Inteligência foram

realizadas, nas quais 23.964 armas foram recuperadas e 7.758 postos de inspeção

foram instalados”. As forças armadas também desenvolveram um mecanismo para

melhorar a coordenação com outras agências de inteligência. As bem-sucedidas

operações baseadas em inteligência reduziram significativamente o número de

incidentes terroristas e neutralizaram as redes latentes de terrorismo.

4.4 CONQUISTAR O CORAÇÃO E A MENTE

O aspecto de conquistar os corações e mentes trabalha nas funções de

“Separar o peixe da água”, ou seja, isolar o insurgente da população local. Isso é

crítico para derrotar qualquer insurgência, já que os insurgentes prosperam com o

apoio da população local. “Para derrotar uma insurgência, você precisa saber quem

são os insurgentes - e para descobrir isso, você precisa conquistar e manter o apoio

do povo” (Nagl, 2005). No entanto, essa tarefa de conquistar e manter o apoio da

população é muito mais complexa do que a mera declaração dada acima. Para fazer

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incursões na população local não é fácil, devido a muitas razões. Os habitantes

locais podem não apoiar os insurgentes, mas não ajudam as forças de segurança a

identificar os insurgentes. Uma das razões plausíveis é que os moradores locais

sabem que as agências de segurança acabarão por sair e não querem criar

animosidade com os insurgentes. Outra razão é que eles simplesmente não apoiam

a causa das agências de segurança, já que a presença deles na área causou

desconforto suficiente para eles em termos de postos de controle, interrogatório, etc.

O Exército do Paquistão também enfrentou esses desafios de ganhar apoio

da população local devido às razões mencionadas acima. As forças armadas, no

entanto, aprenderam a utilidade da abordagem inclusiva, baseada em projetos

sólidos e viáveis, que faziam diferença na vida dos moradores locais. No entanto, as

forças de segurança usaram influência limitada na administração política para lidar

com as queixas dos moradores locais.

4.5 REFORMAS NO NÍVEL DO GOVERNO

4.5.1 Plano de Ação Nacional

O Plano de Ação Nacional é um plano detalhado e multifacetado

desenvolvido em janeiro de 2015 pelo governo do Paquistão, com o apoio de todos

os partidos políticos do Paquistão, para reprimir o terrorismo. O Governo do

Paquistão implementou vigorosamente o Plano Nacional de Ação de 20 pontos. É

creditado com o declínio acentuado em incidentes terroristas desde que entrou em

vigor. O plano, mencionado acima, inclui o seguinte:

a) ponto 1. Execução de Terroristas Condenados;

b) ponto 2. Estabelecimento de tribunais especiais de julgamento;

c) ponto 3. Assegurar que nenhuma Milícia Armada está autorizada a

funcionar;

d) ponto 4. Fortalecimento da “National Counter terrorismo authority;

e) ponto 5. Combater o discurso de ódio e material extremista;

f) ponto 6. Bloquear financiamento para terroristas e organizações

terroristas;

g) Ponto 7. Garantir o ressurgimento de organizações proibidas;

h) Ponto 8. Estabelecer e mobilizar uma força de combate ao terrorismo;

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i) Ponto 9. Adotar medidas efetivas contra a perseguição religiosa;

j) Ponto 10. Regulação dos Seminários Religiosos (Madrassahs);

k) Ponto 11. Proibição da glorificação do terrorismo e das organizações

terroristas;

l) Ponto 12. Reformas em áreas tribais anteriormente administradas pelo

governo federal;

m) Ponto 13. Desmantelamento de Redes de Comunicação de Organizações

Terroristas;

n) Ponto 14. Medidas contra o abuso da Internet e das mídias sociais;

o) Ponto 15. Tolerância zero para a militância no Punjab;

p) Ponto 16. Levar a operação de Karachi à sua conclusão lógica;

q) Ponto 17. Reconciliação do Baluchistão;

r) Ponto 18. Lidar firmemente com o sectarismo;

s) Ponto 19. Política para lidar com a questão dos refugiados afegãos; e

t) Ponto 20. Revitalizar e reformar o sistema de justiça criminal.

4.5.2 Mensagem do Paquistão (Paigam-e-Pakistan) Decreto

O “Paigham-e-Paquistão”, que significa a Mensagem do Paquistão, é um

decreto “Fatwa”5 dado pelo Governo da República Islâmica do Paquistão, na forma

de um documento legalizado à luz da Constituição, para denunciar atos de violência

que tem acontecido no “nome da religião”. É endossado por 1829 eruditos religiosos

pertencentes a todas as escolas de pensamento e seitas religiosas no país sendo

ratificado por proeminentes estudiosos religiosos de outros países muçulmanos. Ele

recomenda uma base forte para a estabilidade de uma sociedade islâmica

moderada, ao mesmo tempo em que nega a narrativa extremista.

O documento é preparado de acordo com as injunções do "Alcorão Sagrado",

da "Sunnah”6 do Profeta e da Constituição do Paquistão e reflete o pensamento

coletivo do Estado do Paquistão. O documento mostrou-se extremamente benéfico

para desenvolver um consenso na sociedade para propagar valores fundamentais

de tolerância, espiritualidade, justiça, igualdade e equilíbrio no cumprimento de

direitos e obrigações. O documento, de fato, esclarece a interpretação errônea dos

5 Fatwa é uma decisão sobre um ponto da lei islâmica dada por uma autoridade reconhecida. 6 Sunnah / Seerah é o modo de viver do Profeta Muhammad (que a paz esteja com ele)

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autoproclamados "estudiosos religiosos", que estão usando a religião por interesse e

apenas o que lhes convém.

De acordo com o documento “Paigam-e-Pakistan” (2018, p. 15), o Islã ensina

que mesmo que você tenha a capacidade de se vingar, deve perdoar e ser bom com

os outros, pois é preferível o comando do Alcorão Sagrado:

A recompensa por uma lesão é uma lesão igual a ela (em grau): mas

se uma pessoa perdoa e faz a reconciliação, sua recompensa é devida a Allah: pois (Allah) não ama aqueles que cometem erros.

(Alcorão 42:40) (tradução nossa)

Está provado através dos ensinamentos religiosos que a lição fundamental do

Islã é a proteção da dignidade humana e a preservação da vida humana. É afirma

que quem mata uma alma é como se ele tivesse matado toda a humanidade

inteiramente. Matar um ser humano é um pecado grave, como foi dito por Allah, o

Todo-Poderoso no Sagrado Alcorão (5:32). O documento também esclarece os

conceitos mal interpretados de 'Jihad' e 'Shariah', afirma claramente que travar uma

guerra 'em nome da jihad' sem o consentimento do estado é contrário ao ensino do

Islã e 'ninguém tem o direito de fazer luta armada contra o estado para impor Sharia

(p. 29, 49, 66, 67).

Os estudiosos muçulmanos concordam que atacar cidadãos

inocentes através de atos terroristas é estritamente contra o ensino do Islã. Eminentes estudiosos também são da opinião

de que matar não-muçulmanos "em nome da religião" é um

pecado de maior grau, portanto estritamente proibido (2018,

Paigam-e-Pakistan, p. 30, 2018).

O documento, Paigam-e-Pakistan, também denuncia estritamente o "Suicide

bombing" e afirma que o suicídio é proibido "HARAM" no Islã (p. 31, 43, 57, 58, 66).

O terrorismo e os ataques suicidas não têm lugar na história islâmica: “E não façam

com que as tuas mãos contribuam para a (tua) destruição; mas faça o bem; porque

Deus amou os que fazem o bem” (Alcorão 2: 195). Outro aspecto crítico é descrito

em detalhes no documento, que condena a degradação de seitas religiosas,

principalmente xiitas e sunitas, por um e outro (pg. 31, 60, 66). O Alcorão Sagrado

menciona claramente que aqueles que criam o sectarismo não são da comunidade

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do Profeta (que a paz esteja com ele); “Quanto àqueles que dividem sua religião e

se dividem em seitas, você não tem parte neles no arrendamento” (Alcorão 6: 159).

4.5.3 As ações do Paquistão contra o financiamento antiterrorismo no âmbito do combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo

Desde 2010, o Paquistão realizou várias medidas legais, regulamentares e de

cumprimento de lei para resolver algumas deficiências no seu regime de combate à

lavagem de dinheiro / Combate ao financiamento do terrorismo identificado pelo

Grupo de Ação Financeira (FATF). O governo do Paquistão está cumprindo o

procedimento e as recomendações oferecidas pelo FATF para combater a lavagem

de dinheiro e o financiamento do terrorismo. Em junho de 2018, a “Securities and

Exchange Commission of Pakistan (SECP)”, a autoridade financeira nacional,

introduziu novos regulamentos para entupir o financiamento do terrorismo e a

lavagem de dinheiro para cumprir as diretrizes do FATF.

4.5.4 Fundir-se da FATA com Khyber Pakhtunkhwa

A tão esperado união das áreas tribais administradas pelo governo federal

com a província adjacente de "Khyber Pakhtunkhawa, no noroeste do Paquistão, foi

finalmente realizado em 24 de maio de 2018. Este passo, crucial para a eliminação

do Terrorismo, substitui o regime legal da era colonial, "Frontier Crime Regulation"

de 1901 e amplia a jurisdição da lei como sendo seguida pelo resto do país. A

extensão da ordem judicial paquistanesa para a FATA contribui para a pacificação

da área. A presença da governança local agora se esforça para amenizar as queixas

dos moradores locais e assegura que os militantes permaneçam isolados e que sua

capacidade de penetrar na região seja constantemente desafiada.

4.5.5 Tribunais Militares

Após os horríveis ataques terroristas à Escola Pública do Exército, em 2014,

que mataram 132 crianças inocentes, o governo do Paquistão decidiu

unilateralmente adotar uma posição dura contra os terroristas. Os militares

estenderam seu apoio ao judiciário para acelerar os casos de terrorismo que

enfrentavam atrasos devido a ameaças aos juízes e suas famílias. Um tribunal

militar especial foi legalmente estabelecido sob a vigésima primeira emenda

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constitucional (2015) e o ato do Exército do Paquistão 2015 (prorrogação em 2017

através de diretório oficial do Paquistão abril 3, 2017). Os tribunais militares

estabelecidos também fazem parte do Plano de Ação Nacional do Paquistão na

estratégia geral de combate ao terrorismo. Os tribunais militares desempenharam

um papel extremamente importante em um momento crucial para ganhos nacionais

significativos e tangíveis.

4.6 SEGURANÇA DAS ARMAS NUCLEARES APRECIADAS PELA AGÊNCIA

INTERNACIONAL DE ENERGIA ATÔMICA

Um dos desafios na luta contra o terrorismo foi a crítica indevida de certos

setores hostis sobre a segurança das armas nucleares do Paquistão. O Paquistão

mantém um mínimo de dissuasão crível e tem sido um Estado nuclear responsável

desde 1998. A segurança de seus padrões nucleares foi elogiada pela Agência

Internacional de Energia Atômica (AIEA). O diretor-geral Yukiya Amano, da AIEA,

“elogiou os esforços do Paquistão durante a sua visita no Paquistão de 12 a 14 de

março de 2018 para aumentar a segurança e a segurança nuclear, enquanto o país

trabalha para triplicar sua capacidade nuclear” (2018). O Sr. Amano expressou seu

agradecimento pela cooperação do Paquistão com a AIEA e sua contribuição ativa

para os esforços da Agência para desenvolver capacidade em outros países da

região, fornecendo especialistas e promovendo cursos de treinamento.

Amano, falando com um seminário em Karachi, disse: “Seu país [o Paquistão]

é um usuário experiente de tecnologia nuclear pacífica”. “Em todo lugar [eu fui] ficou

claro que [Paquistão] tem conhecimento e um grupo de pessoas que são dedicados

a fazer este trabalho”. Durante sua visita à nova construção de usina nuclear, ele

disse: “Você [o Paquistão] está tomando muito cuidado com a segurança das

plantas”. (AIEA, 2018).

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5 CONCLUÇÕES E RECOMENDAÇÕES

Desafios futuros de conflitos provavelmente acarretarão uma distinção cada

vez mais vaga entre as operações convencionais e sub-convencionais, regulares e

irregulares e contraguerrilha e contra insurgência. Na verdade, essas formas se

fundirão em uma, criando assim uma forma híbrida de guerra que aproveita as

partes mais eficazes das operações convencionais e subversivas. O poder de

combate na guerra híbrida consiste em mais do que apenas tanques, artilharia,

infantaria, aviões, navios e outras armas que uma força militar possui. Inteligência,

assuntos civis, operações psicológicas e capacidades civis interagências são

necessárias para combater as guerras híbridas.

Liderança política e militar eficaz é essencial para a vitória na guerra híbrida.

Líderes políticos estabelecem objetivos nacionais, trabalham para fortalecer a

vontade nacional e constroem e mantêm coalizões internacionais intactas para

compartilhar os recursos. Eles desenvolvem e explicam a narrativa estratégica que

mantém o apoio popular ao esforço de guerra. Acima de tudo, eles devem entender

a natureza do seu oponente, bem como a extensão do compromisso necessário

para vencer a guerra. Os líderes militares devem ajustar a doutrina existente

segundo o tipo de guerra em que suas forças se engajam, bem como para combater

as forças inimigas e explorar as fraquezas do inimigo. Os líderes seniores devem

criar conceitos operacionais viáveis que vinculem a estratégia às ações táticas. Os

líderes de todos os níveis devem reunir lições aprendidas das operações militares

em andamento e alterar a doutrina, os conceitos operacionais e a estratégia para

enfrentar desafios e oportunidades inesperados. Em suma, a liderança é importante.

5.1 LIÇÕES APRENDIDAS

Baseando-se na experiência na luta contra o terrorismo e estudo de múltiplos

recursos contra o terrorismo, o autor propõe a seguinte modelo para enfrentar os

desafios do terrorismo. As sugestões subsequentes, sucintas e sem adornos, sem

discutir explicitamente o tema subjacente, são classificadas declarativamente em

níveis Político, Operacional e Tático (autor, 2018):

5.1.1 Nível Político

a) reconhecer linhas de fraturas existentes;

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b) rastrear e cortar as finanças da insurgência/terrorismo;

c) construir o consenso / opinião pública;

d) construir uma narrativa internacional favorável;

e) buscar o apoio do público local, obtido apenas por meio de uma

abordagem sincera;

f) esforçar-se por resolver questões através de operações não cinéticas;

g) executar ações paralelas e imediatos pelo mecanismo do governo para

lidar com as queixas reais da população local; e

h) empregar forças armadas apenas como último recurso.

5.1.2 Nível Operacional

a) elaborar e seguir estratégias de longo prazo em vez de reações

impensadas;

b) estimar as capacidades do adversário e não subestime ele;

c) avaliar a intensidade do conflito;

d) evitar cair na falácia de seguir uma solução para todas as situações;

e) evoluir capacidades para combater a ameaça;

f) assegurar reforços prontamente disponíveis para as operações cinéticas

planejadas;

g) evitar a tendência de desacreditar o adversário;

h) realizar efetivos operações baseadas em inteligência; e

i) definir um cronograma para transformar as operações das forças armadas

para policiais.

5.1.3 Nível Tático

a) Use a força apropriadamente, a força excessiva é, quase sempre,

contraproducente;

b) evitar a discriminação ou favoritismo que cria um sentimento de

insegurança entre os habitantes locais;

c) trabalhar para alcançar os objetivos da estratégia global;

d) os comandantes locais devem estabelecer influência suficiente para

amenizar qualquer reação violenta causada por incidente desfavorável de

violação dos direitos humanos;

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e) continuar a treinar soldados para assegurar uma prontidão efetiva no

combate;

f) assegurar que postos ou grupos operando contra insurgentes sejam

mutuamente apoiados;

g) seguir os procedimentos operacionais padrão propriamente;

h) garantir o plano alternativo, pois os grupos terroristas sempre têm um;

i) garantir estar vigilante o tempo todo, os grupos terroristas estão sempre

em busca de um ponto fraco; e

j) operar de forma proativa através de patrulhamento, etc., em vez de ser

sitiado.

5.2 RUMO FUTURO PARA O PAQUISTÃO

O Paquistão foi vítima das circunstâncias. Devido à sua localização

geográfica e história geoestratégica, tem enfrentado muitos desafios desde a sua

criação. No entanto, o Paquistão conseguiu o que a maioria dos outros países, com

recursos abundantes, não conseguiu. O fato é que o Paquistão continuará

enfrentando novos desafios, talvez mais difíceis do que nunca. Os novos desafios,

no contexto da guerra híbrida, visam atingir suas capacidades estratégicas. O

Paquistão enfrentará um desafio maior de coerção e difamação de instituições

estatais.

Para sobreviver entre esses imensos desafios, o Paquistão precisa primeiro

manter seu terreno bem com uma política externa proativa e eficaz que apresente a

imagem positiva do Paquistão e obter o apoio de nações amigas.

Ao longo da história, terroristas, guerrilheiros e atores semelhantes

têm tipicamente como alvo a vontade do oponente de lutar em vez de

seus meios; A diferença agora é que eles desfrutam de um acesso aprimorado a essa vontade. (ECHEVARRIA, 2008, p.59 apud MALIK,

2012)

No nível operacional, as operações futuras provavelmente ocorrerão entre os

grupos étnicos, tribos ou seitas em um ambiente imprevisível. “A liderança militar

sênior, portanto, precisa fornecer o objetivo correto e a priorização para ajustes no

processo de treinamento e pensamento operacional” (MALIK, 2012). Essa ênfase é

essencial para manter a estratégia de desenvolvimento e o processo de pensamento

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operacional alinhados entre si. Igualmente importante é que os oficiais militares,

especialmente os líderes seniores, não devem ser obcecados por ser

excessivamente seguros durante o tempo de emprego (MALIK, 2012). Em vez de se

concentrar em evitar contratempos e baixas durante o tempo de emprego,

concentre-se em contribuir para a realização de um objetivo militar de operações de

contraterrorismo.

Outro aspecto a ser evitado pelas forças armadas é a tendência a subestimar

as capacidades do adversário, uma afinidade que hoje é tão perigosa quanto há

séculos atrás. Neste contexto, é extremamente importante planejar baseando-se nos

fatos em vez de pressupostos para os quais todos os militares têm uma propensão.

Um grande número de lições militares estão disponíveis em operações de contra

insurgência no Afeganistão, Iraque, Vietnã, Argélia, Sri Lanka e Malásia.

O Exército precisa aprender a rapidez com que pode transformar os esforços

direcionados no domínio da guerra cinética para o não-cinético, em que o espaço é

cedido a outros elementos do poder nacional. O Exército do Paquistão terá que

alcançar a determinação de se transformar em uma organização com uma forte

capacidade de contra insurgência. Desenvolver esse potencial também fortalecerá a

capacidade de responder às ameaças convencionais.

As forças armadas do Paquistão precisam encontrar uma maneira cordial de

integrar as informações coletadas de diferentes agências de inteligência. Prioridade

deve ser dada à aquisição de tecnologia moderna de vigilância e monitoramento. O

uso aprimorado da tecnologia por terroristas, incluindo o uso de dispositivos de

criptografia, tornará mais difícil para as agências de inteligência paquistanesas

monitorar suas atividades.

Por fim, as percepções negativas sobre o Paquistão precisam mudar para

que possam crescer completamente em seu novo papel no Século XXI (KORYBKO,

2017). O Paquistão precisa que as pessoas pensem diferentemente sobre isso,

como um lugar próspero, desenvolvido e seguro que é uma realidade. Não é por

acaso que muitas pessoas pensam em estereótipos negativos, quando ouvem a

palavra Paquistão, pois tudo isso foi feito de propósito como parte de uma guerra

maior de informação contra o Paquistão. O Paquistão precisava desbancar esses

estereótipos por meio de uma abordagem multifacetada, que combina todos os

elementos do poder brando.

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O Paquistão de 2018 não é o Paquistão do passado, e quaisquer impressões

que a maioria das pessoas de fora possa ter sobre ela provavelmente estão

desatualizadas. O Paquistão não está mais apoiando os Mujahedin no Afeganistão,

como era um caso nos anos 80. As áreas tribais ao longo da fronteira foram

completamente pacificadas e estabilizadas. Forbes em 2017 anunciou que o

Paquistão tem um dos mercados com melhor desempenho no mundo (apud

KORYBKO, 2017). O ponto aqui é que as percepções passadas, sejam elas

genuínas ou não, nem sempre são confiáveis para julgar o presente. Como alguns

bons exemplos, a Rússia e a Alemanha moderna não são a União Soviética e os

nazistas, assim como a China sob o Presidente Xi não é o mesmo país sob o

Presidente Mao.

5.3 UM LEGADO DO PAQUISTÃO

O esforço do Paquistão na luta contra o terrorismo é imenso. Durante essa

luta, o Paquistão aprendeu lições valiosas aos níveis político, operacional e tático,

que compartilha com outros exércitos contemporâneos. A luta contra os terroristas

que usaram métodos cruéis de sabotagem e assassinatos indiscriminados de civis

inocentes e até de crianças não é fácil. A luta contra os terroristas que usaram

métodos cruéis de sabotagem e assassinatos indiscriminados de civis inocentes e

até não hesitam em matar crianças não é fácil. A luta não é contra um terrorista mal

treinado ou mal organizado, mas contra um terrorista disciplinado, qualificado e

experiente. Os sucessos do Paquistão não foram facilmente alcançados, ele sofreu

grandes perdas em termos de vidas valiosas e recursos. Além disso, o terrorismo

manchou a imagem do Paquistão na comunidade internacional.

A complexidade do terrorismo e da insurgência é tal que um modelo de

contraterrorismo não pode ser denominado de “adequado para todos”. Os

comandantes militares devem adotar uma abordagem apropriada ao lidar com

diferentes grupos, mesmo dentro de uma mesma área. No entanto, somente se os

erros das operações anteriores forem evitados, pelo menos reduzirá as perdas

indevidas. Ainda mais, experiências anteriores dão um conselho de como o desafio

deve ser realizado. Enquanto a insurgência da China de Mao, Malásia, Argélia,

Vietnã, Sri Lanka, Iraque, Afeganistão e Paquistão não pode ser comparada, ainda

existem muitas semelhanças em todos os níveis de operações. Mais importante

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ainda, essas insurgências revelam que as operações de contraterrorismo não são

fáceis e de curto prazo. Requer uma abordagem abrangente, sincera e progressista

para derrotar os insurgentes.

Não tem havido muitos países na história que saíram de tais tipos de

ameaças terroristas, no entanto, o Paquistão, através de sua resolução e

perseverança inabalável, emergiu com sucesso na luta contra o terrorismo enquanto

lutava com seus próprios recursos. Este legado das forças armadas do Paquistão é

bem reconhecido pelos militares contemporâneos em todo o mundo. As

contribuições do Paquistão fizeram uma diferença real em tornar o mundo um lugar

mais seguro, deixando assim um generoso legado de luta bem-sucedida contra o

terrorismo.

5.4 REGRAS PARA PREVENIR E COMBATER O TERRORISMO

Schmid et al., (2007) destacam doze regras para prevenir e combater o

terrorismo:

a) tentar abordar as questões de conflito subjacentes exploradas pelos

terroristas e trabalhar no sentido de uma solução pacífica, sem fazer

concessões substanciais aos próprios terroristas;

b) impedir que indivíduos alienados e grupos radicais se tornem extremistas

terroristas confrontando-os com uma mistura de táticas de “cenoura” e

“pau” e buscando medidas eficazes de contra motivação;

c) estimular e incentivar a deserção e conversão de terroristas livres e presos

e encontrar maneiras de reduzir o apoio tácito ou aberto a organizações

terroristas;

d) negar aos terroristas o acesso a armas, explosivos, documentos de

identificação falsos, comunicação segura, viagens seguras e santuários;

perturbar e incapacitar seus preparativos e operações através de

infiltração, interceptações de comunicações e espionagem, e limitando

suas capacidades criminais e outras de captação de recursos;

e) reduzir as oportunidades de baixo risco / alto ganho para os terroristas,

reforçando a segurança das comunicações, segurança energética e

segurança de transporte, endurecendo infraestruturas críticas e locais

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potenciais onde podem ocorrer baixas em massa e aplicando princípios de

prevenção situacional do crime ao combate ao terrorismo;

f) tenha em mente que os terroristas buscam publicidade e exploram a mídia

e a internet para obter reconhecimento, propagar sua causa, glorificar

seus ataques, ganhar recrutas, solicitar doações, reunir inteligência,

disseminar o conhecimento do terrorismo e se comunicar com seus

públicos-alvo. Tente elaborar estratégias de comunicação para combatê-

las em cada uma dessas áreas;

g) Preparar para a gestão de crises e consequências para atos de terrorismo

"regular" e "catastrófico" em exercícios coordenados de simulação e

educar os socorristas e o público sobre a melhor forma de lidar;

h) estabelecer um sistema de inteligência contra o terrorismo e outros crimes

violentos na interface entre o crime organizado e o conflito político;

i) fortalecer a coordenação de esforços contra o terrorismo dentro e entre os

estados; reforçar a cooperação entre a polícia internacional e a

inteligência e oferecer assistência técnica àqueles países que carecem de

know-how e meios para atualizar seus instrumentos antiterrorismo;

j) mostrar solidariedade e oferecer apoio às vítimas do terrorismo no país e

no estrangeiro;

k) manter o terreno moral elevado na luta contra os terroristas, defendendo e

fortalecendo o estado de direito, a boa governança, a democracia e a

justiça social e combinando seus atos com suas palavras; e

l) Por último, mas não menos importante: combater as ideologias,

doutrinação e propaganda de terroristas seculares e não seculares e

tentar dominar a guerra de opinião, a batalha pelos corações e mentes

daqueles que os terroristas afirmam falar e lutar para.

5.5 PRINCIPIOS GERAIS PARA CONTER A AMEAÇA DE TERRORISMO

Alessandro Visacro em seu livro “Guerra Irregular; Terrorismo, guerrilha e

movimentos de resistência ao longo da história (2009)” fornece princípios gerais

para conter a ameaça de forças irregulares. Segundo ele, “Forças regulares operam,

em ambientes de quarta geração, com restrições legais, políticas, geográficas e

temporais, além de se verem privadas da plena liberdade de empregar seus

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recursos militares”. A parti da análise de casos históricos, Kalev Sepp identificou

alguns princípios gerais de ação que distinguiram as campanhas contra forças

irregulares malsucedidas daquelas que obtiveram êxito. A Quadro 9 a seguir resume

suas conclusões:

Quadro 9 - Práticas de contra insurreição malogradas e bem-sucedidas

CONTRA INSURREIÇÃO Práticas malsucedidas Práticas bem-sucedidas

- Supremacia da direção militar da contra insurreição.

- Priorização em “matar/capturar” o inimigo, em vez de interagir com o povo.

- Concentração de unidades militares em grandes bases para serem protegidas.

- Priorização das forças especiais para incursões.

- Baixa prioridade para a designação de assessores.

- Criação e adestramento do exército nativo nos moldes do Exército americano.

- Procedimento do governo igual aos tempos de paz.

- Abertura das fronteiras, espaço aéreo e litorais.

- Ênfase nas operações de inteligência.

- Enfoque na população - Estabelecimento de maiores

áreas de segurança. - Manutenção dos insurretos

isolados da população (controle de população)

- Adoção de uma autoridade central única (líder carismático/dinâmico)

- Condução de operações psicológicas amplas e eficazes

- Concessão de anistia e reabilitação para insurgentes.

- Apoio militar às lideranças policiais.

- Aumento e diversificação da força policial.

- Reorientação das forças militares convencionais para a contra insurreição

- Estabelecimento de assessores das forças especiais junto às forças nativas.

- Negação de refúgios para insurretos.

Fonte: adaptado de "As melhores práticas de contra insurreição", de Kalev I. Sepp (Military Review, 2005, apud VISACRO, 2009).

Na verdade, não existe muita divergência acerca dos fundamentos das

operações contra forças irregulares. Os manuais militares de contra insurgência, em

todo mundo, versam basicamente sobre as mesmas ideias. Eles apontam, de um

modo geral, para a necessidade de uma abordagem civil-militar integrada; a ênfase

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103

na promoção de reformas sociais e no desenvolvimento de políticas públicas

focadas na melhoria das condições de vida da população, em detrimento da

condução de operações de combate de maior envergadura; apontam para a

necessidade preponderante de isolar os guerrilheiros e os terroristas da população

civil; a necessidade de privar as forças irregulares de seus apoios domésticos, de

seus locais de refúgios e de seus patrocinadores externos; enfatizam a importância

das operações psicológicas, das atividades de inteligência e das missões tipo

polícia; advogam o emprego moderado da força letal e o uso de forças nativas de

segurança.

A dificuldade, portanto, reside em colocar essas ideias efetivamente em

prática. Os maiores óbices encontram-se no grau de deterioração do cenário

político-social (frequentemente irreversível); na capacidade, ou melhor, na

incapacidade de o Estado promover as reformas necessárias; no potencial militar

das forças irregulares e, ainda, na aptidão das forças convencionais de conduzirem

a bom termo o combate aos rebeldes. A esse respeito, destacam-se como principais

atributos de um exército qualificado para a contra insurreição as seguintes

características:

a) cultura organizacional que fomente a liderança em todos os níveis da

cadeia hierárquica, desenvolva a iniciativa dos comandos subordinados e

permita a condução de ações descentralizadas de forma eficiente;

b) capacidade de empregar força letal mínima e controlar seus danos

colaterais; - persistência, capacidade de operar por longos períodos de

tempo, convivendo com a frustração, a ausência de resultados efetivos e

com um número crescente de baixas, sem se desgastar politicamente ou

amargar um colapso moral;

c) capacidade de interagir com a população local, dando-lhe de forma

tangível segurança e de forma abstrata esperança;

d) capacidade de interagir com a mídia e com organizações não

governamentais;

e) capacidade de operar em conjunto com corporações policiais e forças de

segurança nativas;

f) capacidade de colaborar com outras agências estatais;

g) disponibilidade de instrumentos jurídicos adequados e capacidade para

fazer bom uso deles;

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h) grande adaptabilidade, ajustando-se às rápidas transformações das

organizações militantes e às frequentes mutações do combate irregular;

i) capacidade para aprender com a cultura nativa;

j) disponibilidade de agências de inteligência e forças de operações

especiais competentes.

6 CRONOGRAMA

Quadro 10 – Cronograma

ATIVIDADES

2018

Mar Abr Maio

Jun Ago Set Out Nov

1. Elaboração do projeto de pesquisa

X

2. Depósito do projeto de pesquisa

X 22

3. Levantamento e seleção da bibliografia

X X X

4. Entrega do sumário e dos capítulos iniciais do TCC para o orientador

X 8

5. Pesquisa bibliográfica e documental

X X X X X X

6. Reunião com o orientador X 16

X 06

X 17

7.Análise e consolidação dos dados bibliográficos

X X X X

8.Entrega do trabalho, exceto a conclusão, para o orientador

X 6

9. Elaboração final e revisão do TCC

X

10. Entrega do TCC para o orientador

X 26

11. Avaliação do TCC pelas comissões

X X X

12. Depósito da documentação do TCC e do trabalho final corrigido no DPPG pelo orientador

X 30

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105

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GLOSSÁRIO

Guerra Subconvencional – A guerra subconvencional é um conflito entre os atores e instrumentos não estatais, subestatais ou extra-estatais do estado, envolvendo o uso ou a ameaça de uso da força. (Sub-conventional warfare doctrine, Exército do Paquistão, 2013) Fatwa – Fatwa é uma decisão sobre um ponto da lei islâmica dada por uma autoridade reconhecida. Sunnah – Sunnah / Seerah é o modo de viver do Profeta Muhammad (que a paz esteja com ele) Mulá – O termo "mulá" refere-se ao líder religioso islâmico. Embora o termo por si só seja considerado como um cargo respeitável, no entanto, devido à sua associação com os indivíduos radicais, o termo perdeu sua reverência e agora é usado para chamar indivíduos religiosos de mentalidade radical. Illaqa Ghair – “Illaqa Ghair” traduz-se aproximadamente para áreas fora do limite para o público em geral. Mujahideen – Este termo é usado para combatentes da liberdade afegãos contra a opressão dos soviéticos. Madrassa – Madrassa é um seminário religioso que ensina leitura, recitação e compreensão do Alcorão.