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Descrição e análise dos processos fonológicos na fala de Cascavel/PR
Jorge Antonio Berndt (UNIOESTE)
Sanimar Busse (UNIOESTE)
Resumo: A história e a formação da língua portuguesa é marcada pelo contato com diferentes
línguas, o que resultou em processos fonológicos registrados no Português falado no Brasil.
Esta pesquisa busca descrever esses fenômenos na fala de cascavelenses, em dados coletados
por Busse (2010), para o Estudo Geossociolinguístico da Fala do Oeste do Paraná. Elegemos a
localidade para a pesquisa, pois, embora esteja na periferia do que se denominou de núcleo de
colonização sulista, Marechal Cândido Rondon, Toledo e Palotina, Cascavel abrigou no
período de seu povoamento grupos sulistas, mas também, paulistas, mineiros e pessoas
provenientes do norte do Paraná. Esse contato entre falantes de variedades do alemão e do
italiano e do português do sul e do sudeste do Brasil podem demarcar traços da fala que
remetem ou não às variedades do Português. Neste trabalho apresentaremos os dados referentes
aos processos fonológicos/metaplasmos de redução ou subtração dos ditongos orais e nasais
em dados coletados por Busse (2010). O Oeste paranaense destaca-se em pesquisas sobre
diversidade linguística pelo seu polimorfismo linguístico, e, neste contexto, Cascavel se
destaca por registrar uma transição entre traços do sul e de outras regiões do Brasil.
Palavras-Chave: fala; mudança linguística; processos fonológicos.
Abstract: The history and formation of the Portuguese language is marked out by the contact
between different idioms, what arised phonological processes registered in the Portuguese
spoken in Brazil. The purpose of this paper is to describe these phenomenons in the
cascavelense speech, based in Buse (2010), to the Sociolinguistic study of the Paraná’s west
speech. The place was chosen to the research because Cascavel housed in its settlement distinct
groups, such as southern brazilian people, paulistas, mineiros and Paraná’s northern people.
This contact among german, italian and portuguese varieties can line off characteristics related
or not to portuguese varieties. In this part of the research, we are going to study the
phonological processes (metaplasms) of addition, reduction and syllabic transposition in
answer to the 29 questions questionnaire applied Cascavel informants by Busse (2010). The
Paraná’s west stands in linguistic diversity researches out for its linguistic polymorphism, and,
in this context, Cascavel stands out for registering many brazilian traces.
Keywords: speaks; linguistic change; phonological processes.
Considerações iniciais
Neste artigo buscaremos descrever os processos fonológicos de caráter aditivo,
subtrativo e transpositivo, com base nos dados coletados por Busse (2010), referentes à fala de
Cascavel, tabulando-os e cartografando-os. Para tanto, os fenômenos registrados serão
relacionados tanto aos condicionantes internos quanto aos externos da língua.
lego-português.
Em um país tão miscigenado e rico culturalmente como o Brasil já era de se esperar que
diferentes dialetos surgissem, se desenvolvessem e se estabilizassem. Diversos estudos já
apontaram esta diversidade cultural e linguística. Isquerdo (2006) destaca que os trabalhos de
Ribeiro (1954 apud 2006), Júnior (1960 apud 2006) e Ribeiro (1997 apud 2006) buscaram
classificar as áreas a partir de uma perspectiva diatópica, dedicando-se à tarefa de traçar um
perfil (ou perfis) do falar e do ethos brasileiro.
Conclui-se disto, então, que as línguas se manifestam heterogeneamente e são
socialmente determinadas, sendo essencialmente sujeitas à variação. Desta forma, elas são
caracterizadas pela mutabilidade e volatilidade. A pesar disso, as variações ocorrem de maneira
regular e constante. Como Monteiro (2000) aponta, estas apresentam “...padrões de
regularidades que, de tão sistemáticas, não podem ser devidos ao acaso” (MONTEIRO, 2000,
p. 57).
Diversidade e mudança linguística
Antes de prosseguir é importante entender a relação entre a língua e os dialetos. Alvar
(1996) pontua que, ao se fragmentar, a língua prevalece sobre outros dialetos surgidos. Assim,
tem-se a língua de cultura e o dialeto, enquanto o primeiro é valorizado e cultivado no seio das
instituições e das obras literárias, o segundo, geralmente, passa por um desenvolvimento mais
rústico e vernacular.
Segundo Mattos e Silva (s.d., p. 5),
Por dialeto hoje se entende na linguística as variedades de uma língua
histórica que caracterizam formas de falar específicas de lugares, estratos
sociais, faixas etárias, com seus registros próprios quanto à formalidade da
situação de comunicação, daí as designações metalinguísticas de dialetos
diatópicos, dialetos diastráticos, dialetos diacrónicos.
São as variações dialetais que constituem, portanto, a forma mais viva da língua, em
que se movimentam falantes e formas linguísticas, até que se atinja graus de estratificação mais
próximos do que os grupos consideram prestigiados. Para Mattos e Silva (s.d., p. 4-5),
Uma norma linguística é sempre definida sobre um «dialecto de prestígio»
que é característico de um grupo social e de um centro cultural considerado
modelar, por razões sócio-políticas e culturais; mas não por razões
estritamente linguísticas. Além dessa norma de prestígio, resultado, em geral,
do consenso entre letrados, académicos, gramáticos, existe em toda
comunidade de fala, com todas as suas variações típicas, uma norma
consensual que não é imposta de fora ou de cima, mas resultado da
necessidade de intercomunicação interdialectal.
A língua, na sua condição mais normativa, constitui-se, portanto, a partir dos falares e
dialetos de uma dada comunidade linguística. Considera-se que os processos de diversidade e
mudança linguística orientam os trajetos pelos quais a língua se constitui nas dimensões
diacrônica e sincrônica.
Segundo Mattos e Silva (s.d., p. 4),
O conceito de língua histórica é essencial para o entendimento da questão da
língua portuguesa nas diversas configurações que ela toma nas diferentes
situações geográficas, históricas e políticas em que ocorre. Ao mesmo tempo
que é essencial para a compreensão da unidade da língua portuguesa a noção
de sistema abstraível das suas diversas concretizações e que permite defini-la
como língua portuguesa e não espanhola, italiana, francesa ou outra.
O dialecto chamado de prestígio ou standard não é mais, portanto, do que um dos
«modos de falar» (significado etimológico de dialecto, do grego «dialektos») de uma
determinada língua histórica, próprio a um segmento social de um determinado lugar que é
pela sociedade em que se insere escolhido como modelo ou norma a ser seguido, em certas
instâncias obrigatoriamente seguido, neste caso como uma das múltiplas formas de controle
social existentes nas sociedades humanas, com o fim político de neutralizar a diversidade
natural às sociedades e línguas históricas.
Todavia, se tomarmos dois dialetos distintos, como o português falado pela classe
média paulistana e o por descendentes de quilombolas do centro-oeste (SPINDOLA; FLEURI,
2015), constataremos uma certa unidade e coerência interna dentro destes grupos — no caso
do segundo, pode-se citar como característica marcante a despalatalização da lateral palatal
sonora [ʎ] e o rotacismo (predominante na fala de idosos). Deste modo, perfaz-se que as
palavras estão ligadas ao conhecimento a posteriori dos grupos, ou seja, a linguagem não é
concebida isoladamente (como Crusoé), mas sim por meio das relações e das experiências em
um âmbito social congruente.
Assim, só é possível compreender por completo os processos de transformação das
línguas e dos dialetos por meio do entendimento das estruturas sócio-históricas das
comunidades em que estas mudanças ocorrem\ocorreram e dos fatores internos contíguos aos
fatos linguísticos.
A Dialetologia, por meio do método Geolinguístico, descreve a variação e mudança
linguística a partir do seu registro areal ou geográfico. Assim, por meio de cartas linguísticas,
é possível observar como a língua acompanha ou não os grupos a partir do seu movimento no
espaço e no tempo.
As mudanças linguísticas se manifestam, fundamentalmente, de duas maneiras: ou por
meio de fatores internos ou por externos. Os fatores internos refletem certos princípios
linguísticos de economia e de controle, conforme destaca Bagno (2007),
[...] oposições que não se revelam funcionais podem desaparecer, já que um
princípio de economia tenderá a eliminar redundâncias, ou novas oposições
podem ser criadas no sentido de preencher lacunas que um princípio de
clareza necessária à comunicação tenderá a colmatar. (BAGNO, 2007, p. 03).
Por sua vez, os fatores externos espelham as mudanças sociais, históricas e políticas,
como a fragmentação ou a união de Estados, migrações de povos em escalas consideráveis,
alianças ou embargos comerciais, exclusões socioeconômicas de determinados grupos, entre
outros. Bagno (2007) dá alguns exemplos, entre eles o caso da reconquista da península Ibérica:
[...] a constituição de reinos distintos implica a criação de fronteiras políticas.
E as fronteiras políticas se transformarão em fronteiras lingüísticas. O
romance do Norte vai-se compartimentando, assim, em dialetos diferenciados
pela ação de substratos e superstrato. Galiza e Portugal, Astúrias e Leão,
Castela, Navarra e Aragão e Catalunha afirmam-se como entidades políticas
distintas e, conseqüentemente, como núcleos lingüísticos distintos. Em cada
uma dessas regiões e, portanto, em cada um destes romances — galego-
português, astur-leonês, castelhano, navarro-aragonês e catalão —,
características diferenciadoras vão tomando forma. (BAGNO, 2007, p. 49).
O “relacionamento” entre estas populações (e, portanto, suas línguas) provocara uma
série de alterações fonológicas, comentadas por Bagno (2007), como a supressão do /f/ incial
de origem latina no castelhano e a síncope do /l/ e do /n/ em situações intervocálicas no caso
do galego português.
O processo de mudança linguística ocorre mediante contextos que atuam como
condicionadores. Há entre as variáveis sociais e linguísticas uma relação de determinação. No
que se refere às crenças e atitudes linguísticas, as avaliações sobre falantes e as formas
linguísticas atuam para determinados comportamentos que se estendem à manutenção ou
mudança linguística.
Para Lambert e Lambert (1972, p.93), existem três princípios que regem as crenças e
suas consequentes atitudes sociais, são eles: (i) associação – princípio pelo qual se evita o
contato com pessoas ou coisas que nos desagradem e nos aproximamos daqueles que nos
trazem coisas agradáveis; (ii) transferência, pois transferimos nossas expectativas para
determinados fins; e (iii) satisfação de necessidade, quando procuramos nos aproximar de
pessoas que associamos a coisas agradáveis.
Segundo Aguilera (2008),
A valorização remete à noção de prestígio lingüístico, ou seja, o processo de
concessão de estima e respeito para indivíduos ou grupos que reúnem certas
características e que leva à imitação das condutas e crenças desses indivíduos
ou grupos. No caso em análise, o informante nega qualquer valor positivo à
fala do outro, atribuindo prestígio apenas à própria fala e à de seus
conterrâneos. (AGUILERA, 2008, p. 105).
A língua, na sua face mais monitorada, e a fala, na dimensão mais viva, abarcam os
comportamentos dos falantes. Os dados apresentam, portanto, segundo Busse (2010), um
panorama da história e da cultura da comunidade de fala.
História e formação: elementos da língua
Dentre os estágios pelos quais o latim, o galego-português e a língua portuguesa
passaram, destacamos, neste trabalho, os processos fonológicos ou metaplasmos.
Segundo Bagno (2007, p. 08),
Um metaplasmo é uma mudança na estrutura de uma palavra, ocasionada por
acréscimo, remoção ou deslocamento dos sons de que ela é composta. Na
mudança do latim em português é possível detectar alguns metaplasmos que
agiram com regularidade nessa transformação.
Os metaplasmos podem ser de quatro tipos: 1. por acréscimo 2. por supressão 3. por
transposição 4. por transformação
Apresentaremos, aqui, alguns dados que registram processos fonológicos de supressão.
Bagno (2007, p. 09-10) apresenta:
(i) A aférese e a deglutinação consistem na supressão de um segmento sonoro no início da
palavra: acume > gume; attonitu > tonto; episcopu > bispo. Como casos especiais o autor
destaca a deglutinação, supressão de um a ou o inicial por confusão com o artigo: horologiu >
orologiu > relógio; apotheca > abodega > bodega. A aférese ocorre com frequência em diversas
variedades do português brasileiro atual: imaginar > maginar; agüentar > güentar; alcagüete >
cagüete.
(ii) A síncope ocorre por meio da supressão de um segmento sonoro no meio da palavra: legale
> leal; legenda > lenda; malu > mau. Segundo Bagno, a haplologia é um caso especial de
síncope, pois há a supressão da primeira de duas sílabas sucessivas iniciadas pela mesma
consoante: bondade + -oso = bondadoso > bondoso; trágico + comédia = tragicocomédia >
tragicomédia; formica + -cida = formicicida > formicida; dedo + duro + -ar = dedodurar >
dedurar.
(iii) A apócope acontece com a supressão de um segmento sonoro no fim da palavra: mare >
mar; amat > ama; male > mal. Segundo Bagno, um caso de apócope muito difundido no
português brasileiro é o da supressão da consoante /r/ em final de palavra, sobretudo de
infinitivos verbais: cantar > cantá; vender > vendê; sair > saí.
(iv) A crase é a fusão de duas vogais iguais em uma só: pede > pee > pé; colore > coor > cor;
nudu > nuu > nu. É um recurso para a eliminação do hiato. 10 Na língua atual ocorrem alguns
casos de crase: cooperar > coperar; álcool > alco; caatinga > catinga; feiíssimo > feíssimo.
(v) A sinalefa ou elisão é a queda da vogal final de uma palavra, quando a palavra seguinte
começa por vogal: de + intro > dentro; de + ex + de > desde; outra + hora > outrora.
A história da língua manifesta-se nos fenômenos registrados na fala do dia a dia.
Embora, lapidados pela dimensão mais monitorada da variedade padrão, essas variações
refletem a história dos próprios falantes, segundo Busse (2010).
Neste artigo, apresentaremos e analisaremos os dados referentes à síncope da semivogal
ou monotongação e a apócope ou redução do ditongo nasal.
Na sequência, apresentamos os dados da pesquisa de Busse (2010) a partir dos registros
coletados em Cascavel/PR sobre a realização do ditongo decrescente no interior da palavra e
do ditongo nasal, em final de palavra.
Variáveis da pesquisa
A Dialetologia, por meio do método Geolinguístico, busca descrever os fenômenos da
variação linguística a partir do registro areal. Compreende-se que as formas linguísticas
“viajam” no tempo e no espaço, deixando marcar de grupos, culturas e relações entre os
falantes.
Para a definição da rede de pontos são necessárias observações sobre cada ponto, na
busca por estabelecer uma relação entre os falantes com relação à língua. Busse (2010) buscou
descrever a fala da região a partir da colonização de cada localidade, com a presença de grupos
sulistas, oriundos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, descendentes de alemães e
italianos, e de outros grupos de diferentes regiões do Brasil.
Busse (2010) realiza uma pesquisa para descrever os fenômenos da variação e mudança
linguística nos níveis fonético-fonológico, semântico-lexical e morfossintático na região Oeste
do Paraná. Para tal, foram selecionadas 9 localidades que formam a rede de pontos da pesquisa,
conforme quadro abaixo:
Quadro 01 – Rede de Pontos do Estudo Geossociolinguístico da Fala do Oeste do Paraná
Ponto Descrição do Ponto
Ponto 01 Guaíra
Ponto 02 Assis Chateaubriand
Ponto 03 Marechal Cândido Rondon
Ponto 04 Santa Helena
Ponto 05 Medianeira
Ponto 06 Santa Terezinha de Itaipu
Ponto 07 Capitão Leônidas Marques
Ponto 08 Cascavel
Ponto 09 Guaraniaçu
(BUSSE, 2010, p. 105)
Para este trabalho elegemos o Ponto 08 – Cascavel para a descrição e análise dos
processos fonológicos de supressão, coletados por meio da realização de inquéritos com 8
informantes, conforme as variáveis sociais da pesquisa.
A história do Oeste do Paraná confunde-se com os ciclos econômicos e migratórios do
Brasil e do Estado. A saga de cada povo e etnia pelo território oestino marca a região
econômica, social e culturalmente. Segundo Busse (2010),
O desenvolvimento de cada localidade assim como da própria região deu-se
a partir da ocupação dos espaços, das relações mantidas com o meio físico,
de acordo com as suas condições e do tipo de economia implantado, cujo
resultado está assentado nos valores culturais que determinam todas as
atividades ali desenvolvidas. (BUSSE, 2010, p. 55).
O município de Cascavel se destaca na região Oeste do Paraná, por, geograficamente,
estar no caminho para Foz do Iguaçu, por registrar a presença de paulistas, mineiros, moradores
do norte do Paraná, gaúchos e catarinenses, em diferentes momentos do seu povoamento.
Conforme Reolon (2007),
[...] o município de Cascavel, como já indicava, passou a afirmar-se como
pólo regional de desenvolvimento e integrar a rede nacional de cidades no
âmbito da produção e da distribuição de bens de consumo e serviços,
tornando-se uma ponte, para os municípios de seu entorno, de acesso aos bens
produzidos externamente à região, conforme indica o estudo Caracterização
e Tendências da Rede Urbana do Brasil (2000). (REOLON, 2007, p. 53).
A história de cada localidade pode ser tomada como dimensão para a descrição da
língua, na tentativa, de identificar os traços dos diferentes grupos e os elementos que orientaram
as relações entre os falantes, em ambiente mais ou menos prestigiados da fala.
Para realizar uma análise, então, como Ribeiro (2011) afirma, “é necessário levar em
conta duas questões de grande interesse para a sociolinguística: a variável e a variante”. Neste
sentido, abordaremos as dimensões diastráticas, diageracionais e diasssexuais. Uma vez que
estas variáveis representam, respectivamente, os fatores que condicionam a estigmatização ou
valorização e a conservação ou inovação.
Em um âmbito Geossociolinguístico, esta pesquisa buscou analisar os fenômenos
coletados por Busse (2010) a partir das seguintes dimensões e parâmetros: a) diastrática,
tomando dois grupos: um com o ensino fundamental incompleto e outro com ensino
fundamental completo; b) diageracional, tomando dois grupos: um de idade entre 18 a 35 anos
e outro entre 45 e 65 anos; c) diassexual, tomando dois grupos, um masculino e outro feminino.
Assim, temos:
Quadro 02 – Variáveis Sociais
DIMENSÕES PARÂMETROS
Diastrática
EFI (Analfabeto ou Ensino Fundamental Incompleto);
EMI (Ensino Fundamental ou Ensino Médio Incompleto);
Diageracional
G I (18 a 35 anos);
G II (45 a 65 anos);
Diassexual
Masculino;
Feminino;
Então, fundamentando-se em um questionário semiestruturado foram levantadas
variantes fonético-fonológicas para a descrição da fala da região oeste do Paraná.
Ditongos orais
Nas cartas linguísticas encontramos um panorama da realidade linguística dos 9 (nove)
pontos ou localidades investigadas por Busse (2010). Consideramos a análise comparativa para
identificarmos as variáveis que atuam sobre a fala nos movimentos de manutenção e inovação
linguística.
Nas cartas linguísticas 73, 74 e 75 podemos observar a distribuição areal ou diatópica
das variantes para a realização do ditongo oral.
Os dados indicam a formação de isófonas ou áreas de manutenção dos ditongos e áreas
de síncope ou monotongação. Essas áreas podem ser analisadas a partir dos movimentos de
colonização e de reemigrações atuais.
O Ponto nº 8 – Cascavel indica uma variação constante entre o ditongo e o monotongo.
A prevalência da síncope da semivogal em Peneira e Tesoura, assim como a alternância em
Caixa, pode indicar um comportamento comum aos pontos investigados.
A redução do ditongo, segundo estudiosos como Hora (2012), esteve presente na
formação da língua portuguesa e se manifesta ainda hoje, muito provavelmente, por variáveis
internas à língua, como a organização da sílaba.
Figura 01 – Carta linguística 73 – Ditongo decrescente tônico no interior da palavra
(BUSSE, 2010)
Embora o fenômeno da monotongação se manifeste na língua portuguesa desde o seu
nascituro, na dimensão geográfica, os dados apontam para uma realidade bem diversa.
Na carta linguística 73 a monotongação é registrada em toda a rede de pontos. Em
Cascavel, ponto 8, o processo fonológico se destaca em relação ao ditongo.
Num primeiro momento, as cartas linguísticas indicam a formação de isófonas, entre
localidades de colonização mais sulista e localidades mais heterogêneas, com momentos de
migração tardia de grupos de outras regiões do Paraná e do Brasil.
Na carta linguística 74, em Cascavel, os dados reafirmam a ocorrência da
monotongação, e aproxima a localidade a pontos mais heterogêneos, como Guaíra, ponto 01,
Assis Chateaubriand, ponto 02, e Guaraniaçu, ponto 09.
Figura 02 - Carta linguística 74 – Ditongo decrescente tônico no interior da palavra
(BUSSE, 2010)
Porém, não se pode preterir os dados que podem indicar os contextos linguísticos como
atuantes sobre o fenômeno. Na carta linguística 75, as ocorrências destacam a manutenção do
ditongo, não somente em Cascavel, mas em outras localidades, também. Não se trata de
pesquisa exaustiva, mas os dados indicam o contexto linguístico como elemento, além dos
aspectos socioculturais, que condiciona o fenômeno da monotongação.
Figura 03 - Carta linguística 75 – Ditongo decrescente tônico no interior da palavra
(BUSSE, 2010)
As variáveis sociais, como sexo, faixa etária e escolaridade, conforme figura 04,
revelam que não avaliação ou estereótipo sobre o processo fonológico, embora os homens, da
faixa etária mais velha, com escolaridade até o Ensino Fundamental completo ou incompleto,
se destaquem no registro do fenômeno, as mulheres também apresentam o traço.
Figura 04 – Representação dos dados socioculturais
(BUSSE, 2010)
O fenômeno da monotongação não sofre avaliação entre os falantes. Porém, a
escolaridade pode atuar sobre a manutenção do ditongo, independentemente, da situação de
interação. O registro da monotongação entre os informantes com Ensino Fundamental
completo e Ensino Médio incompleto, figura 04, reafirma a sua natureza fonético-fonológica,
entre os ditongos decrescentes.
Ditongos Nasais
A seguir, apresentaremos e analisaremos apócope ou redução dos ditongos nasais. As
cartas linguísticas 77 e 78 apresentam os dados. Na carta 77, variantes para homem, a
manutenção do ditongo a próxima a localidade dos pontos com colonização proeminentemente
sulista, como Marechal Cândido Rondon (Ponto nº 3), Guaíra (Ponto nº 1) e Medianeira (Ponto
nº 5).
Na carta 78, variantes para passagem, a prevalência da apócope ou redução do ditongo,
aproxima de localidades cujo povoamento é marcado por grupos heterogêneos, como Assis
Chateaubriand (Ponto nº 2), Guaraniaçu (Ponto nº 9) e Capitão Leônidas Marques (Ponto nº 7)
No que se refere à manutenção do ditongo nasal, as cartas linguísticas 77 e 78
apresentam um comportamento diverso. Em <homem>, mais da metade dos informantes
mantiveram o ditongo nasal. Já em <passagem>, há a redução do ditongo se destaca.
Figura 05 – Carta linguística 77 – Ditongo nasal final
(BUSSE, 2010)
Figura 06 – Carta linguística 77 – Ditongo nasal final
(BUSSE, 2010)
Muito provavelmente, o contato com a palavra <homem> em situações de escrita, como
anúncios, panfletos, cartazes, entre outros, pode atuar sobre a manutenção do ditongo.
Figura 07 – Representação dos dados socioculturais
(BUSSE, 2010)
No que se refere aos dados sociais, são as mulheres, da geração mais nova, com Ensino
Médio completo ou incompleto destacam-se na manutenção do ditongo nasal.
O nível de escolaridade pode gerar alguma avaliação que conduza esse grupo a registrá-
la a não realizar a apócope da consoante nasal.
Considerações finais
Os resultados, ainda preliminares, apontam para processos de mudança em progresso.
Na dimensão diatópica, Cascavel, Ponto nº 08, apresenta coocorência dos fenômenos
alternando entre a manutenção do ditongo e a sua redução. Muito provavelmente, a
monotongação não se apresente como tema de avaliação ou estereótipo entre os falantes. Na
dimensão social, pode-se observar a escolaridade e a faixa etária como variáveis que
condicionam os fenômenos para manutenção do ditongo entre jovens com escolaridade até o
Ensino Médio.
Trata-se de pesquisa inicial que pretende observar os processos fonológicos a partir das
variáveis geográficas, considerando o contato entre grupos e falantes de diferentes regiões do
Brasil, e os condicionadores sociais, principalmente aqueles que acionam avaliações entre os
falantes.
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