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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO CRISTINA ARGILES SANCHES DESENVOLVIMENTO REGIONAL A PARTIR DE CLUSTERS PRODUTIVOS: O CASO DA AGROINDÚSTRIA DA SOJA NO OESTE DA BAHIA SALVADOR 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

CRISTINA ARGILES SANCHES

DESENVOLVIMENTO REGIONAL A PARTIR DE CLUSTERS PRODUTIVOS:

O CASO DA AGROINDÚSTRIA DA SOJA NO OESTE DA BAHIA

SALVADOR 2008

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CRISTINA ARGILES SANCHES

DESENVOLVIMENTO REGIONAL A PARTIR DE CLUSTERS PRODUTIVOS:

O CASO DA AGROINDÚSTRIA DA SOJA NO OESTE DA BAHIA

Tese apresentada ao Núcleo de Pós-graduação em Administração, Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutora em Administração Orientador: Prof. Dra. Maria Teresa Franco Ribeiro

SALVADOR 2008

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Revisão e Formatação: Vanda Bastos

Ficha catalográfica

Elaborada por CRB

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TERMO DE APROVAÇÃO

CRISTINA ARGILES SANCHES

DESENVOLVIMENTO REGIONAL A PARTIR DE CLUSTERS PRODUTIVOS:

O CASO DA AGROINDÚSTRIA DA SOJA NO OESTE DA BAHIA

Tese aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Administração, do Núcleo de Pós-graduação em Administração da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora.

Salvador, 29 de junho de 2007

Prof. Dra. Maria Teresa Franco Ribeiro – Orientadora Escola de Administração – Universidade Federal da Bahia (UFBA)

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Aos meus filhos, Felipe e Júnior,

pelas diárias lições pedagógicas,

me ensinando a ensinar e a aprender.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer, inicialmente, à paciência e dedicação da minha orientadora, Prof. Maria Teresa, sem a qual eu não teria concluído este trabalho. Com a sua competência, conduziu a orientação de forma muito incentivadora, apesar de todas as dificuldades que se apresentaram, inclusive por questões pessoais de minha parte. Á FAPESB – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, pelo financiamento concedido, viabilizando a pesquisa de campo, e sem a qual teria sido impossível a sua realização.

Ao Prefeito de Luis Eduardo Magalhães, Sr. Oziel Oliveira; À Deputada Estadual Sra. Jusmari Oliveira, por todo o apoio logístico e de infra-estrutura oferecido durante a pesquisa de campo; Ao Secretário de Agricultura de Luís Eduardo Magalhães, Sr. Eduardo Yamashita, pela assistência dada em tempo integral aos pesquisadores em campo; Ao Assessor de Agronegócios da AIBA – Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia, Sr. Ivanir Maia, pela grande colaboração na estrutura de apoio para a aplicação dos questionários e presteza nos contatos com os entrevistados; Aos pesquisadores José Roberto Dantas e Manoel Duarte, pela dedicação na coleta e tabulação dos dados. A todos os professores, colegas e funcionários do doutorado, pela saudável convivência. Gostaria de citar, em especial, os colegas Romilson Cabral, Fábio Guedes e Ênio Resende, pelas produtivas discussões. À colega e amiga Vera Spínola, o meu sincero agradecimento pelos comentários e apoio na coleta de dados secundários. Por fim, mas não menos importante, gostaria de fazer um especial agradecimento a toda a minha família, pela compreensão e apoio nos momentos mais difíceis, ao tempo em que peço desculpas pelas muitas ausências em função deste trabalho.

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Amar...

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RESUMO

Este trabalho trata do desenvolvimento regional a partir de clusters produtivos, tomando como estudo de caso a agroindústria da soja no Oeste da Bahia, a partir de uma metodologia teórico-empírica, buscando articular a dimensão produtiva à institucional, integrando-as para tratar a questão do desenvolvimento. Aborda a economia regional como aporte teórico para definir o aglomerado em estudo enquanto um cluster, bem como para analisar a sua contribuição na questão do desenvolvimento; e a economia institucional, que inclui a economia dos custos de transação e a teoria evolucionista, para analisar a evolução das instituições, as estruturas de governança que se definem no cluster e os seus aspectos tecnológicos e processos de inovação. Partindo do pressuposto do desenvolvimento como resultado de uma co-evolução produtiva e institucional, constata, através do levantamento de alguns indicadores socioeconômicos, uma melhora significativa no nível de desenvolvimento na região, muito embora os indicadores ligados à produção e à dinâmica tecnológica do cluster tenham sido significativamente superiores aos socioeconômicos; e, a partir da análise histórica da formação de alguns dos principais municípios que compõem o cluster, que a consolidação econômica contou com programas de incentivo por parte do governo, bem como com financiamentos direcionados especificamente ao custeio da lavoura da soja, respaldando a questão institucional como determinante para o desenvolvimento regional. Destaca: o controle exercido pelas processadoras em relação à dinâmica da cadeia, definindo uma estrutura hierárquica com os produtores; a governança institucional exercida pela Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (AIBA), principal associação de produtores local, pela grande representatividade e atuação que desempenha a favor dos associados; e, ainda, que a articulação com outros elos da cadeia, é fundamentalmente forte entre os atores do cluster. No que diz respeito à inovação, identifica que a tecnologia para esmagamento e refino de óleo, bem como para a produção de insumos, máquinas agrícolas e bens de capital, ocorre de forma incremental, enquanto para a produção de sementes, a denominada biotecnologia, de forma radical, desenvolvendo-se, esses dois processos de P&D, fora da região, quase sempre por multinacionais, destacando a atuação da Fundação BA, ligada à AIBA. Assim, a pesquisa indica que existe, aliada à estrutura produtiva da soja, uma infra-estrutura institucional na região, caracterizando o que foi denominado de co-evolução produtiva e institucional na compreensão do conceito de desenvolvimento, identificando que as principais necessidades dizem respeito à infra-estrutura da região, Ressalta, ainda, que o papel das políticas públicas, de forma articulada e estratégica, é imprescindível para que essa co-evolução se difunda para a região, cabendo um esforço conjunto entre o governo federal e estadual, no desenvolvimento de políticas públicas para o setor, visando a potencialização dessa dinâmica. Palavras-chave: Desenvolvimento regional; Clusters; Agroindústria; Soja; Bahia.

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ABSTRACT

The current work deals with the regional development under the conception of productive clusters, taking as case study the soybean agro-industry located in the West of the State of Bahia/Brazil, under a theoretical-empiric methodology, as it tries to combine a productive to an institutional dimension when dealing with the development issue. As theoretical framework, it takes the Regional Economics approach to defining a production concentration as a cluster, as well as to analyzing the contribution of this concentration to the development process. It also discusses the Institutional Economics approach, including the Transaction Cost Economics and the Evolutionist Theory, for analyzing the evolution of the institutions, the governance structures that are drawn within the cluster, its technological aspects and the innovation processes. In this way, taking the assumption that the development results from a productive and institutional co-evolution, it shows through the evaluation of some social-economic indicators that there has been a significant improvement in the region’s development level. Nevertheless the indicators that were related to the production and technological development of the cluster were significantly higher than the social-economic indicators found. It is made a historical analysis of some of the main towns that are part of the cluster. It is found that the economic base counted on tax programs from the government side, as well as loans specifically directed to financing the cost of the soybean crops, showing that the institutional issue was determinant to the regional development. Among the governance structures evaluated, it can be highlighted the control held by the grain processors that establishes a hierarchical structure among the producers within the supply chain dynamics, as well as the institutional governance played by the main association of producers, AIBA (Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia), due to its remarkable performance in favor of its associates, as well as its relation with the other actors of the cluster. In regards to the innovation issue, it can be noticed incremental developments in the technology for processing and refining the soybean oil, producing inputs, agricultural machines and capital goods; and radical developments for producing seeds, the so called bio-technology. Both R&D processes that end up by being incorporated to the region, took place out of it, most likely conducted by multinational firms, with the support of Fundação BA (Bahia Foundation) that is linked to AIBA. Therefore, the results of the current research indicate that there is an institutional infra-structure in the region that is linked to the soybean productive structure, which can be identified as the so called institutional and productive co-evolution for understanding the development conception. It can also be noticed that the role of the public policies in a strategic and integrated way is essential for this co-evolution to take place in the region. It requires a joint effort of the federal and state governments for establishing public policies focused on the sector, aiming at reinforcing this dynamics. Keywords: Regional development; Clusters; Agro-industry; Soybean; Bahia

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Territórios de identidade do Estado da Bahia – 2007 ..............……. 25

Figura 2 Extremo Oeste Baiano …………………………...…………...……….. 25

Figura 3 Grade Analítica ..……….................................................................... 65

Figura 4 Municípios produtores de soja no Oeste da Bahia …....……………. 92

Figura 5 Delimitação do sistema agroindustrial (SAG) da soja no Brasil ....... 95

Figura 6 Etapas do processo de produção na indústria de esmagamento e derivados de óleo de soja ................................................................. 97

Figura 7 Principais utilizações do óleo de soja ............................................... 98

Figura 8 Produtos derivados do grão de soja ................................................. 100

Figura 9 Produtos derivados do óleo de soja ................................................. 101

Figura 10 Produtos derivados do farelo de soja ............................................... 101

Figura 11 Delimitação do sistema agroindustrial (SAG) da soja no Oeste da Bahia ........................................................................................... 137

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Síntese Metodológica: questões, conceitos e variáveis de

análise …………………………………….........................…….…. 67Quadro 2 Linhas estratégicas da indústria de processamento de soja ….. 109

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Principais países produtores de soja no mundo, 2006-2007 .......... 23Gráfico 2 Área plantada de soja, Bahia e Nordeste, 2000/2006 ……....…..... 85Gráfico 3 Produção de grãos, Bahia e Nordeste, 2000/2006 ....................... 86Gráfico 4 Área plantada e colhida de soja nos principais municípios

produtores na Região Oeste do Estado da Bahia, 1990-2006 .… 93Gráfico 5 Quantidade produzida de soja nos principais municípios

produtores na Região Oeste do Estado da Bahia, 1990-2006 ….. 93Gráfico 6 PIB per capita, 1999-2004 (em R$) ................................................ 155Gráfico 7 Consumo residencial, rural e urbano de energia elétrica,

1997-2006 (em kWh) …………………………………………...…… 162

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LISTA DE TABELAS Tabela 1 Número de questionários aplicados a produtores de soja,

segundo área das propriedades, Região Oeste do Estado da Bahia, 12 Set – 01 Out 2004 ........................................................... 70

Tabela 2 Produção mundial das principais oleaginosas e dos principais farelos protéicos e óleos vegetais, 2004/05 …….………….….…… 71

Tabela 3 Dados mundiais da soja, 2000/01-2006/07 ...………………………. 72Tabela 4 Produção mundial de soja por países, 2006/07 ……….…….…...… 72Tabela 5 Dados mundiais da soja, 2006/07 ................................................... 73Tabela 6 Projetos do Prodecer, por Estado, área e investimento .................. 75Tabela 7 Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da

produção dos principais cereais, leguminosas e oleaginosas, em ordem decrescente de valor da produção, Brasil, 2006 ............ 78

Tabela 8 Embarques do Complexo Soja, Brasil, 2000 – 2007 ...................... 79Tabela 9 Exportações do Complexo Soja, Brasil, 2000/2006 (Ano civil) ....... 79Tabela 10 Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da

produção dos principais cereais, leguminosas e oleaginosas, em ordem decrescente de área colhida, Brasil, 2006 ..................... 80

Tabela 11 Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da produção dos principais cereais, leguminosas e oleaginosas, em ordem decrescente de área colhida, Região Nordeste do Brasil, 2006 ..................................................................................... 80

Tabela 12 Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da produção dos principais cereais, leguminosas e oleaginosas, em ordem decrescente de área colhida, Estado da Bahia, 2006 .........

80Tabela 13 Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da

produção de soja (em grão), Grandes Regiões e Estados do Brasil, 2006 ..................................................................................... 81

Tabela 14 Área plantada de soja no Brasil, por regiões e Estados, 2005/06–2006/07 ............................................................................ 82

Tabela 15 Produtividade da soja no Brasil, por regiões e Estados, 2005/06–2006/07 ............................................................................ 83

Tabela 16 Produção de soja no Brasil, por regiões e Estados, 2005/06–2006/07 ........................................................................................... 84

Tabela 17 Área plantada de soja/Participação Relativa, Estado da Bahia, Região Nordeste e Brasil, 2000/01–2006/07 .......................…….... 85

Tabela 18 Produção de grãos de soja/Participação Relativa, Estado da Bahia, Região Nordeste e Brasil, 2000/01–2006/07 ....................... 86

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Tabela 19 Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da produção dos principais municípios produtores de cereais, leguminosas e oleaginosas, em ordem decrescente de valor da produção, considerando uma ordem de classificação nacional, Estado da Bahia, 2006 .................................................................... 91

Tabela 20 Área colhida, quantidade produzida e valor da produção dos principais municípios produtores de soja, em ordem decrescente de valor da produção, considerando uma ordem de classificação nacional, Estado da Bahia, 2006 ............... 91

Tabela 21 Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da produção de soja, segundo as Mesorregiões, Microrregiões e os Municípios produtores do Estado da Bahia, 2006 .......................... 92

Tabela 22 Comparação entre atributos de qualidade de lotes de soja em grãos no mercado internacional, oriundos dos Estados Unidos, Argentina e Brasil ............................................................................ 103

Tabela 23 Número de empregos registrados do setor da agroindústria da soja nos principais municípios produtores de soja, segundo CNAE, Região Oeste do Estado da Bahia, 2005 ............................ 114

Tabela 24 Número de empregos registrados nos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2005 ........ 114

Tabela 25 Número de questionários aplicados por área total da propriedade e por área plantada em soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 .................................................................... 121

Tabela 26 Grau de verticalização de matéria-prima dos produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 ............................... 122

Tabela 27 Grau de verticalização do processo produtivo da soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 .................................................... 122

Tabela 28 Origem dos principais equipamentos utilizados no processo produtivo da soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004.......... 123

Tabela 29 Ano de aquisição dos principais equipamentos utilizados no processo produtivo da soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 ..................................................................................... 124

Tabela 30 Condições de oferta de infra-estrutura física e serviços públicos segundo os produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 ..................................................................................... 124

Tabela 31 Principais canais de comercialização adotados pelos produtores, por níveis de importância, segundo os produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 ........................................ 125

Tabela 32 Políticas governamentais que poderiam contribuir para o aumento da competitividade dos produtores, por níveis de importância, segundo os produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 ..................................................................................... 125

Tabela 33 Fatores determinantes para manter a capacidade competitiva na produção de soja, por níveis de importância, segundo os produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 ..................... 148

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Tabela 34 Principais inovações adotadas pelos produtores nos produtos e nos processos produtivos a partir da década de 90, por níveis de importância, segundo os produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 .................................................................... 148

Tabela 35 Principais fontes de informação utilizadas pelos produtores para promover inovações de produto ou de processo, por níveis de importância, segundo os produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 ................................................................................ 149

Tabela 36 Formas de incorporação de inovações tecnológicas, por níveis de importância, segundo os produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 ................................................................................ 150

Tabela 37 Evolução das relações de cooperação com as demais empresas do arranjo nos últimos cinco anos, por intensidade das relações, segundo os produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 ................................................................................ 151

Tabela 38 Forma de interação dos produtores com associações de classe, sindicatos e outros tipos de organizações de representação coletiva, por importância, segundo os produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 ............................................................... 151

Tabela 39 PIB do agronegócio, Brasil e Bahia, 1999–2004 ............................ 154Tabela 40 PIB das principais lavouras, Bahia, 1999–2004 .............................. 155Tabela 41 Desigualdade de renda no Brasil – Índice de Gini – 1991 e 2000 .. 156Tabela 42 Estrutura setorial da Bahia, de Salvador e dos principais

municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004 ..................................................................................... 157

Tabela 43 Pessoal ocupado no comércio, indústria e serviços, dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 1970/1995 ........................................................... 157

Tabela 44 Número total de estabelecimentos ou unidades locais de comércio, indústria e serviços, dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 1970/1995 ....................................................................................... 158

Tabela 45 Renda média familiar per capita dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 1970/1991 ....................................................................................... 159

Tabela 46 Financiamentos concedidos a produtores e cooperativas para o custeio da lavoura de soja, Brasil, 1999/2005 ............................. 160

Tabela 47 Financiamentos concedidos a produtores e cooperativas para o custeio da lavoura de soja, Bahia, 1999/2005 ............................. 160

Tabela 48 Financiamentos rurais concedidos pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), para custeio da lavoura da soja, Brasil e Bahia – 1999/2055 ............................. 161

Tabela 49 Receita tributária dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2001–2005 .............................. 163

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Tabela 50 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) decenal do Brasil, Bahia, Salvador e principais municípios produtores de soja da Região Oeste do Estado da Bahia, 1970/2000 ............................... 164

Tabela 51 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Salvador e dos principais municípios produtores de soja e sua classificação no Estado, Região Oeste do Estado da Bahia, 1991/2000 .................. 164

Tabela 52 Pobreza (% de pessoas pobres) dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 1970/2000 ....................................................................................... 165

Tabela 53 Número de leitos dos principais municípios produtores de soja conveniados ao SUS, Região Oeste do Estado da Bahia, 1996–2004 ...................................................................................... 165

Tabela 54 Quantidade de hospitais conveniados ao SUS, segundo a dependência administrativa, dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 1996–2004 ................ 166

Tabela 55 Evolução da esperança de vida ao nascer dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia e Salvador – 1970/2000 ........................................................ 167

Tabela 56 Evolução da Mortalidade infantil (por mil nascidos vivos) dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia e Salvador, 1970/2000 ......................................... 167

Tabela 57 Evolução das pessoas analfabetas com 15 anos e mais dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia e Salvador, 1970/2000 ......................................... 168

Tabela 58 Evolução do número de domicílios com água canalizada na rede geral, dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia,1970/2000 ............................................ 168

Tabela 59 Evolução do número de domicílios com iluminação elétrica, dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 1970/2000 ........................................................... 169

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Abiove Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais

ACC Adiantamento de Contrato de Câmbio

AIBA Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia

ANDEF Associação de Defensivos Agrícolas

ASTABAHIA Associação dos Técnicos Agrícolas da Bahia

BASENBANCO Banco de Desenvolvimento da Bahia

BC Banco Central

BEA Bureau of Economic Analysis

BEC Batalhão de Engenharia e Construção

BRASAGRO Companhia Brasileira de Participação Agroindustrial

CAC Cooperativa Agrícola de Cotia

CAMPO Companhia de Promoção Agrícola

CBOT Bolsa de Chicago

CEE Comunidade Econômica Européia

CEPAL Comisión Económica para América Latina y el Caribe

CI Soja Centro de Inteligência da Soja

CIAC Companhia de Ações Independentes do Cerrado

CM-G Contrato de Mercadoria com Emissão Garantida

CMN Conselho Monetário Nacional

CNAE Classificação Nacional de Atividade Econômica

COACERAL Cooperativa Agrícola do Cerrado Brasil Central Ltda

CODEVASF Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco

COMESF

Cooperativa Agrícola Mista dos Projetos de Irrigação do Médio

São Francisco

Conab Companhia Nacional de Abastecimento

COPERGEL Cooperativa dos Produtores de Grãos dos Gerais

COPROESTE Cooperativa Agrícola do Oeste da Bahia Ltda

CPMF Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira

CPR Cédula de Produto Rural

Desenbahia Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia

EBDA Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário

ECT Economia dos Custos de Transação

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Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAAHF Faculdade Arnaldo Horácio Ferreira

FAEP Federação da Agricultura do Estado do Paraná

FAO Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

FASB Faculdade São Francisco de Barreiras

FED Federal Reserve Board

FILEM Faculdade Luis Eduardo Magalhães

FMI Fundo Monetário Internacional

FUNDEAGRO Fundo para o Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão

HHm Hirschman-Herfindahl modificado

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBPT Instituto Brasileiro de Planejamento tributário

IC Índice de Concentração

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

JADECO Japan-Brazil Agricultural Development Corporation

JICA Japan International Cooperation Agency

Mab Anticorpos Monoclonais

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

NEI Nova Economia Institucional

NPGA Núcleo de Pós-graduação em Administração

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OECD Organisation for Economic Cooperation and Development

OECF The Overseas Economic Cooperation Fund (Fundo de Cooperação

Econômica Ultramarina)

PGPM Programa de Garantia de Preços Mínimos

PIB Produto Interno Bruto

PR Indicador de Potencialidade

PROALBA Programa de Incentivo à Cultura do Algodão

PRODECER Programa de Cooperação para o Desenvolvimento dos Cerrados

PRONAZEM Programa Nacional de Armazenagem

QL Quociente locacional

RAIS Relação Anual de Informações Sociais

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SAG Sistema Agroindustrial

SEAGRI Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia

SNCR Sistema Nacional de Crédito Rural

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ……………………………....………………...…….……....... 22

1.1 JUSTIFICATIVA ……………………….………………….....…......…......…… 26

1.2 QUESTÕES ………………………………………...........………..…............… 26

1.3 HIPÓTESE ……………………………………………………...…….............… 27

1.4 OBJETIVOS …………………………………………......….....…..…...........… 27

1.5 METODOLOGIA .......................................................................................... 28

2 ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA ……………......…….... 31

2.1 ABORDAGENS TEÓRICAS …………………………………........……......… 31

2.1.1 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ……………………...………............ 32

2.1.2

ECONOMIA REGIONAL: O DEBATE SOBRE AGLOMERAÇÕES

ESPACIAIS E O DESENVOLVIMENTO ……...........................................33

2.1.2.1 OS DISTRITOS INDUSTRIAIS ........................................................................ 34

2.1.2.2 TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO DESEQUILIBRADO ..................................... 35

2.1.2.3 AGLOMERAÇÃO/CLUSTER: A BUSCA DA ESPECIALIZAÇÃO PRODUTIVA .......... 41

2.1.3 ECONOMIA INSTITUCIONALISTA ……………........…………………....... 46

2.1.3.1 NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL ............................................................... 47

2.1.3.1.1 ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO ................................................ 52

2.1.3.1.2 TEORIA EVOLUCIONISTA ......................................................................... 59

2.1.4 GRADE ANALÍTICA ……….........................................................……....... 64

2.2 METODOLOGIA ………………….…………….........………………..……...... 66

2.2.1 PESQUISA DE CAMPO …………………….............................………....... 67

2.2.2 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA ……............................................................... 69

3 SISTEMA AGROINDUSTRIAL DA SOJA ……………………............ 71

3.1

CONTEXTUALIZAÇÃO INTERNACIONAL E NACIONAL DA CULTURA DA SOJA ……………………….............................………….......

71

3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OESTE BAIANO ……………….........……...... 86

3.3 ATORES, ARTICULAÇÕES NA CADEIA E COMPETITIVIDADE ............. 94

3.3.1 MAPEAMENTO DAS TRANSAÇÕES …..……………......…….......……… 94

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3.3.2 ANÁLISE DO AMBIENTE COMPETITIVO …………..............…….......…. 102

3.3.3 ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS ………………………….......…….......… 108

4

RESULTADOS: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E INTER-RELAÇÕES DA DIMENSÃO PRODUTIVA E INSTITUCIONAL NO CLUSTER DA SOJA NO OESTE DA BAHIA ……….........… 111

4.1

IDENTIFICAÇÃO DO CLUSTER: ÍNDICE DE CONCENTRAÇÃO (MEDIDA DE UM AGLOMERADO) E INTERAÇÃO DE ATORES ............ 112

4.2

CARACTERÍSTICAS E DINÂMICA DOS PRINCIPAIS ATORES DO AGLOMERADO DA SOJA DO OESTE DA BAHIA ……...........…....... 118

4.2.1

PRODUTORES DE INSUMOS QUÍMICOS PARA AGRICULTURA

E INDÚSTRIA ….............…....................................................................… 119

4.2.2 PRODUTORES DE SEMENTES …………….............................……........ 120

4.2.3 PRODUTORES DE SOJA ……………………….…..................………....... 121

4.2.4 INDÚSTRIA ESMAGADORA E DE SUB-PRODUTOS ….......…….......… 126

4.2.5 AGENTES DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA ……........………….......…… 130

4.2.6 COOPERATIVAS E ASSOCIAÇÕES ………......................……….......…. 132

4.3

ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA DO AGLOMERADO DA SOJA DO OESTE DA BAHIA …………......................................………….....…….

136

4.3.1

TRANSAÇÕES ENTRE DISTRIBUIDORES E INDÚSTRIAS

PROCESSADORAS ….............…......................…………………….......… 136

4.3.2

TRANSAÇÕES ENTRE INDÚSTRIAS DE ESMAGAMENTO/REFINO,

E INDÚSTRIAS DE DERIVADOS …............…………….......…................. 137

4.3.3

TRANSAÇÕES ENTRE INDÚSTRIAS DE ESMAGAMENTO,

E INDÚSTRIAS DE RAÇÃO ………………………….....................…….… 138

4.3.4

TRANSAÇÕES ENTRE INDÚSTRIAS PROCESSADORAS, E

ORIGINADORES /PRODUTORES ……......................................…......… 138

4.3.5

TRANSAÇÕES ENTRE TRADINGS, E INDÚSTRIAS

PROCESSADORAS /MERCADO EXTERNO ….....…......……......……… 141

4.3.6 TRANSAÇÕES ENTRE PRODUTORES E INDÚSTRIA DE INSUMOS .. 142

4.4

FORMAS DE COOPERAÇÃO E ESFORÇO DE CAPACITAÇÃO PARA INOVAR ……..............................................................…………........ 143

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4.4.1 PRODUTORES DE SEMENTES ….............………………,,,,,….......…… 143

4.4.2 INDÚSTRIA ESMAGADORA E DE SUBPRODUTOS …......….......……. 146

4.4.3 PRODUTORES DE SOJA ……………………………..........................…… 147

4.4.4 COOPERATIVAS, ASSOCIAÇÕES E FUNDAÇÕES ……................…… 152

4.5

COMPREENDENDO MELHOR A DINÂMICA REGIONAL: UM OLHAR ALÉM DO CLUSTER A PARTIR DE ALGUNS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS …….....................................……...

153

CONSIDERAÇÕES FINAIS ………....…………………………………............ 170

REFERÊNCIAS …………………………………………………………..….......… 176

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO ……........…………………………….........… 184

ANEXO A – DADOS SECUNDÁRIOS …........….……………………….........…

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22

1 INTRODUÇÃO

A soja é hoje a oleaginosa de maior expressão econômica entre os países

produtores e exportadores, sendo uma das mais importantes commodities do

mercado internacional de mercadorias e futuros. Na Bahia, representa o motor do

agronegócio do Oeste, gerando, como principais produtos, a soja-grão, o farelo e o

óleo. A cultura foi introduzida nos cerrados do Oeste baiano, na década de 1980, por

gaúchos, tornando-se o carro-chefe da agricultura explorada na região.

Até a década de 70, os cerrados brasileiros, situados no centro geográfico

do país (do Sul do Maranhão, passando pelo Oeste da Bahia, Tocantins, até o Mato

Grosso do Sul), não eram cultivados. Havia o entendimento de que essas terras

seriam impróprias para explorações agropecuárias, mas o crescimento geral do país,

a exemplo do crescimento populacional, articulado à expansão da acumulação e

reprodução do capital no agronegócio, que estava concentrado no sul e sudeste,

favoreceu a expansão da fronteira agrícola em direção aos cerrados, contando, para

isso, com o apoio governamental. A ocupação dos cerrados do Oeste da Bahia se

deu, principalmente, a partir da construção de Brasília e da abertura das rodovias

federais BR-242 (Salvador-BA/Brasília) e BR-020/BR-135 (Picos-PI/Barreiras-

BA/Brasília).

No início da década de 1980, como política governamental de incentivo

ao cultivo dessas terras, surgiu o Programa de Cooperação para o Desenvolvimento

dos Cerrados (PRODECER), uma parceria entre brasileiros e japoneses, tendo

como principal instrumento o crédito supervisionado com acompanhamento técnico.

Outros programas de incentivo também foram implementados na região, tais como

financiamentos direcionados ao custeio da lavoura da soja.

Os dados da cultura da soja são muito representativos tanto no âmbito

internacional quanto nacional. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja

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23

do mundo, participando com 26%, sendo o primeiro, os Estados Unidos, com 37%, e

o terceiro, a Argentina, com 19% (Gráfico 1)1

Gráfico 1 – Principais países produtores de soja no mundo, 2006-2007 Fonte: CI Soja, 2007

Conforme veremos de forma mais detalhada no Capítulo 3, nas

informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acerca da

produção agrícola municipal de 2006 destacam-se alguns dados interessantes: no

Brasil, a soja em grão representa o principal produto em área plantada, área colhida,

quantidade produzida e valor da produção, seguida do milho e do feijão; no

Nordeste, a soja representa o terceiro principal produto em área plantada e área

colhida, porém o primeiro em quantidade produzida e valor da produção; já no

Estado da Bahia, cuja principal região produtora localiza-se na Região Oeste,

considerando a área plantada, temos uma representação de 58,63% em relação ao

Nordeste, e 3,95% em relação ao Brasil. (BRASIL, 2007).

Assim, este trabalho assume importância em três panoramas:

internacional, nacional e regional. Em nível internacional, a soja é uma commodity

comercializada por vários países da América Latina, Europa, Estados Unidos, China,

dentre outros, e nesse contexto, o Brasil, como já foi dito, ocupa o segundo lugar na

produção mundial, com uma participação de 26%, além de ser o principal exportador

de farelo de soja.

Em nível nacional, a produção da soja que, em 1960, era de apenas 200

mil toneladas, poderá atingir quase 58 milhões, na safra 2006/07, de acordo com

dados previstos pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)2. Segundo

1 Para consultar os dados, verificar a Tabela 60 (Anexo A). 2 Ver Tabela 61 (Anexo A).

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24

essa mesma fonte, a Bahia deverá ter uma participação relativa de 58,48% de área

plantada, em relação ao Nordeste, e de 4,12%, em relação ao Brasil, conforme

dados previstos também para o período 2006/073. (BRASIL, 2006).

Dentre os principais municípios produtores do Estado da Bahia,

destacam-se Barreiras, Formosa do Rio Preto, Luis Eduardo Magalhães e São

Desidério, localizados na Região Oeste; esses quatro municípios representam,

juntos, 74% da área plantada com soja na Bahia, segundo dados da Produção

Agrícola Municipal 2006 do IBGE. (BRASIL, 2007).

Assim, dada a importância nacional e internacional da cultura da soja e a

participação da Bahia em relação ao Nordeste e ao Brasil, a Região Oeste baiana,

identificada como área número 11 nos territórios de identidade do mapa da Figura 1,

e destacada na Figura 2, para efeito de maior visualização, torna-se o cenário deste

estudo.

Essa é uma região de alta potencialidade e com grandes perspectivas,

ainda, de crescimento econômico, em função da própria cultura da soja. Assim,

deve-se buscar instrumentos que indiquem concretamente a sua potencialidade e a

necessidade de se apoiar o desenvolvimento regional a partir desta agroindústria,

para o que este trabalho pretende contribuir.

O problema levantado por essa pesquisa refere-se ao desenvolvimento

dessa região promovido pelo cluster da soja, considerando, no seu conceito, o

envolvimento de diversos atores e a articulação da dimensão produtiva à

institucional. Ao mesmo tempo, apesar do grande desenvolvimento regional

verificado a partir dos anos 80, identifica-se, ainda, um grande descompasso social

na região, quando se analisa alguns indicadores socioeconômicos locais.

Logo, este trabalho busca compreender o processo recente de expansão

da soja no Oeste da Bahia, avaliar a sua contribuição para o desenvolvimento

regional, pretendendo, ainda, contribuir para a reflexão e a aplicação de teorias de

desenvolvimento regional e institucional, bem como para a compreensão da

dinâmica regional e, quiçá, servir de referência para a construção de políticas

públicas.

3 Ver Tabela 62 (Anexo A).

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25

Figura 1 – Territórios de identidade do Estado da Bahia – 2007

Figura 2 – Extremo Oeste Baiano

Fonte: http://commons.wikimedia.org.

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26

A seguir são destacados, em relação a este trabalho, a justificativa, as

questões, a hipótese, os objetivos, e a metodologia.

1.1 JUSTIFICATIVA

Este trabalho se justifica pela sua contribuição enquanto agregador de

conhecimento. Nesse sentido, o instrumental analítico aqui desenvolvido, construído

com base em um referencial teórico com aportes de Economia Regional e de

Economia Institucional e pressupondo que o desenvolvimento é o resultado de uma

co-evolução produtiva e institucional, é aplicado ao aglomerado da soja no Oeste da

Bahia, caracterizando, enquanto constatação/avanço do conhecimento:

a) o cluster para o desenvolvimento local é limitado pelos grandes

descompassos sociais e estruturais da região;

b) a articulação das dimensões produtiva e institucional como um

importante fator de desenvolvimento;

c) a importância das instituições na questão do desenvolvimento

regional;

d) a definição das diferentes formas de estruturas de governança, a partir

da análise da relação entre os atores; e

e) a análise dos aspectos tecnológicos inerentes ao cluster, dos quais os

mais importantes se dão a partir da integração da questão institucional

com a produtiva.

1.2 QUESTÕES

Este trabalho apresenta duas principais questões de pesquisa a serem

desenvolvidas:

A Questão 1 – Qual é o tipo de aglomeração existente no complexo

agroindustrial da soja no Oeste da Bahia? – será respondida com a ajuda do cálculo

de um indicador que mede o índice de concentração (IC) de atividades produtivas na

região, identificando a aglomeração, e pela análise da interação de diversos atores

ligados a esse aglomerado.

Na Questão 2 – Qual é a contribuição desse aglomerado para o

desenvolvimento da região? –, essa contribuição será avaliada a partir do

levantamento de alguns indicadores socioeconômicos referentes aos principais

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27

municípios produtores de soja que compõem a região, já que esta é a atividade

econômica dominante local, fazendo-se uma análise da evolução histórica desses

indicadores procurando perceber as dinâmicas produtiva e institucional e a

integração entre elas.

Além dessas duas questões, os objetivos específicos remetem, ainda, a

mais três questões secundárias da pesquisa a serem desenvolvidas:

Questão 3 – Como evoluíram as instituições no Oeste da Bahia?

Questão 4 – Como são definidas as estruturas de governança nesse

aglomerado?

Questão 5 – Como se dá o processo de inovação ao longo da cadeia e

qual é a sua contribuição para a dinâmica endógena do desenvolvimento?

1.3 HIPÓTESE

Considerando o pressuposto geral do trabalho, destacado a seguir,

define-se, também, a hipótese deste trabalho:

Pressuposto Geral – O desenvolvimento é o resultado de uma co-

evolução produtiva e institucional.

Hipótese 1 – A aglomeração da soja no Oeste da Bahia se configura

como um cluster.

1.4 OBJETIVOS

Dada a grande concentração de produtores que se instalou no Oeste da

Bahia devido à cultura da soja e o conseqüente surgimento de vários outros agentes

econômicos ligados à agroindústria da soja, caracterizando o adensamento da

cadeia, este trabalho se desenvolve com dois objetivos principais:

a) identificar o tipo de aglomeração existente no complexo agroindustrial

da soja no Oeste da Bahia; e

b) avaliar a contribuição desse aglomerado para o desenvolvimento da

região.

Busca, portanto, analisar o potencial de desenvolvimento regional a partir

de aglomerações produtivas, tomando como estudo de caso a cadeia produtiva da

soja no Oeste da Bahia. Daí derivam outros objetivos:

c) caracterizar a evolução do aparato institucional no Oeste da Bahia;

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28

d) identificar a existência de governança e os seus fatores determinantes,

procurando compreender a dinâmica da coordenação; e

e) analisar o processo de inovação ao longo da cadeia.

1.5 METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho pode ser caracterizada como

teórico-empírica. Para tanto, é feita uma revisão da literatura, para estruturar a grade

analítica, bem como um trabalho de pesquisa de campo para levantamento de

dados primários. Além disso, são coletados diversos indicadores socioeconômicos

sobre a região, a partir de dados secundários, a fim de complementar a análise do

trabalho.

Assim, neste estudo, a partir da abordagem teórica, juntamente com os

dados primários e secundários, busca-se responder às questões da pesquisa. Para

as duas principais questões levantadas, é definido o tipo de aglomeração que se dá

no complexo agroindustrial da soja no Oeste da Bahia, a partir do cálculo de um

indicador que mede o índice de concentração na região e de uma análise da

interação de diversos atores; bem como a contribuição desse aglomerado para o

desenvolvimento da região, a partir da análise histórica dos principais indicadores

socioeconômicos dos municípios produtores de soja que se destacam na região.

As outras três questões também são respondidas tendo como base a

fundamentação teórica que foi definida e a pesquisa de campo realizada. Assim,

analisa-se como evoluíram as instituições no Oeste da Bahia, avaliando-se como foi

criada essa aglomeração, com base na sua formação histórica, incentivos, etc., e as

condições locais iniciais favoráveis à concentração geográfica; em seguida é feita

uma análise das estruturas de governança definidas no aglomerado, abordando a

coordenação e os custos de transação entre os agentes que formam a cadeia

produtiva dessa agroindústria; por fim, é feita uma abordagem sobre como se dá o

processo de inovação ao longo da cadeia e a sua contribuição para a dinâmica

endógena do desenvolvimento.

Como o objetivo da pesquisa é compreender a contribuição do

aglomerado na questão do desenvolvimento em uma perspectiva dinâmica, as

teorias escolhidas privilegiam essa dinâmica. Conforme já foi citado, parte-se do

pressuposto de que o desenvolvimento ocorre a partir de uma co-evolução produtiva

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29

e institucional; daí a preocupação em compreender essas dimensões e a sua

integração.

Com o fim de responder às questões da pesquisa, o desenvolvimento da

grade teórica é definido a partir de duas abordagens: economia regional e economia

institucionalista: em relação à Economia Regional, é feito um recorte das principais

teorias de desenvolvimento regional, extraindo conceitos e indicadores que permitam

definir qual o tipo de aglomeração existente no complexo agroindustrial da soja no

Oeste da Bahia, bem como a contribuição desse aglomerado para o

desenvolvimento da região. Em relação à Economia Institucionalista, a abordagem é

feita a partir das contribuições da Nova Economia Institucional (NEI), tendo como

base a Economia dos Custos de Transação (ECT) e a Teoria Evolucionista.

A Nova Economia Institucional trata da importância das instituições na

formação do aglomerado; a Economia dos Custos de Transação, com base no

conceito de custos de transação, permite estudar as estruturas de governança e o

nível de verticalização da cadeia; e a Teoria Evolucionista permite analisar a

trajetória tecnológica desenvolvida pelo aglomerado, estudando de que forma se dão

as inovações e o processo de aprendizado, ao longo da cadeia. Essas abordagens

são complementares, com preocupação no processo dinâmico (e não estático, como

faziam os neoclássicos).

Complementando a questão do método, este trabalho apresenta um

estudo de caso, aplicando o instrumental analítico extraído das abordagens teóricas

ao objeto de estudo, especificamente ao caso da agroindústria da soja no Oeste da

Bahia. Nesse contexto, são estudados os principais atores dessa agroindústria

encontrados na região, na pesquisa de campo primária: produtores de máquinas,

insumos e sementes; agricultores; indústria esmagadora; indústria de subprodutos;

agentes de inovação tecnológica; e fundações, cooperativas e associações.

No próximo capítulo, o Capítulo 2, é feita uma abordagem teórico-

metodológica para dar suporte à análise empírica. As abordagens teóricas utilizadas

são de Economia Regional e de Economia Institucionalista, das quais são extraídos

os principais conceitos que serão articulados com as questões de pesquisa a serem

desenvolvidas no trabalho. Também nesse capítulo é descrita a metodologia do

trabalho, no que se refere à pesquisa de campo e à definição da amostra.

O Capítulo 3 faz uma contextualização da cultura da soja, em três

dimensões: internacional, nacional e regional (da Região Oeste da Bahia). Nesse

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30

capítulo é feito um mapeamento das transações existentes entre os atores do

aglomerado, considerando as suas articulações na cadeia e o ambiente competitivo.

No Capítulo 4, são apresentados os resultados da pesquisa, em cinco

partes, destacando as principais características e as inter-relações da dimensão

produtiva e institucional do cluster da soja no Oeste da Bahia. Inicialmente aplica-se

o Índice de Concentração (IC) para quantificar a aglomeração e, juntamente com a

análise da interação de diversos atores, identificar o cluster; a seguir são analisadas

as características e a dinâmica dos principais atores do aglomerado, sendo, também

analisadas as transações entre esses principais atores a fim de definir as estruturas

de governança existentes; em seguida é feita uma análise das formas de

cooperação e esforço de capacitação para inovar, por parte desses atores; e, por

fim, são levantados alguns indicadores secundários sobre a região em estudo, a fim

de verificar o seu desenvolvimento socioeconômico.

Finalmente, no Capítulo 5, são apresentadas as conclusões, quando são

respondidas as questões do trabalho levantadas ainda nesta introdução.

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2 ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA

O referencial teórico utilizado para desenvolver este trabalho foi

construído a partir de uma grade analítica com aportes de economia regional e da

economia institucionalista, de forma a contextualizar uma abrangência maior do

estudo proposto. Metodologicamente, trata-se, também, de articular essa grade

analítica com um estudo de caso, o que o caracteriza como um trabalho teórico-

empírico, que tem como objeto de estudo a agroindústria da soja no Oeste da Bahia.

A seguir, são apresentadas as dimensões teórica e metodológica exploradas por

esta pesquisa.

2.1 ABORDAGENS TEÓRICAS

As abordagens teóricas desenvolvidas neste trabalho envolvem dois

enfoques, como já dito: Economia Regional, para identificar o tipo de aglomeração

existente no complexo agroindustrial da soja no Oeste da Bahia, bem como a

questão da contribuição desse aglomerado para o desenvolvimento regional; e a

Economia Institucionalista, para dar suporte à questão institucional, articulada à

produção, permitindo analisar a evolução das instituições no Oeste da Bahia, as

estruturas de governança existentes nesse aglomerado, como, também,

compreender o processo de inovação ao longo da cadeia.

Após serem apresentadas e articuladas essas duas vertentes teóricas, é

então construída uma grade analítica, que incorpora os conceitos e as variáveis de

análise teóricas inerentes a cada uma buscando relacioná-las com as questões a

serem trabalhadas nesta pesquisa. Essa grade pretende sintetizar a estrutura teórica

e analítica do trabalho.

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Entretanto, antes de tratar das abordagens teóricas, cabe discutir sobre

como a questão do desenvolvimento regional é privilegiada neste trabalho. Esta

compreensão é de fundamental importância, visto que o conceito de

desenvolvimento pode ser definido de várias maneiras, como tem diversamente sido

tratado na literatura econômica. Neste trabalho, especificamente, conforme foi

tratado no pressuposto geral, o desenvolvimento é compreendido como o resultado

de uma co-evolução produtiva e institucional, conforme apresentado a seguir.

2.1.1 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

A temática do desenvolvimento econômico regional tem sido muito

discutida ao longo do tempo, a partir da contribuição de diferentes autores, de forma

que a literatura econômica tem tratado o significado de desenvolvimento sob

distintos enfoques. Entretanto, não é propósito deste trabalho fazer uma revisão da

literatura a esse respeito, e sim tratar a discussão a partir de um dado enfoque.

Nesse sentido, a abordagem aqui trabalhada respalda-se na discussão sobre o

conceito de desenvolvimento que incorpora a dimensão “institucional” à “produtiva”.

Sabe-se que as instituições são boas quando facilitam o funcionamento

do livre mercado, que envolve democracia, burocracia eficiente, judiciário

independente, dentre outros. (FERRAZ et alii, 2003). Entretanto, as instituições

também são específicas com relação ao tempo e ao lugar em que são aplicadas,

bem como ao estágio de desenvolvimento da nação ou da região em análise, de

forma que o bom funcionamento de qualquer instituição, em qualquer localidade,

não é determinado apenas pelo seu formato, mas sim pelo meio onde esta se insere.

Assim, o resgate da temática do desenvolvimento implica em aceitar a

multidisciplinaridade do tema, incorporando as abordagens econômica, política,

institucional, social e cultural e entendendo o desenvolvimento, também, como um

processo historicamente determinado, como o resultado de forças político-culturais,

não se resumindo, portanto, à simples manipulação de variáveis econômicas. Desta

forma, o desempenho econômico de um país ou de uma região não é autônomo em

relação ao seu arcabouço institucional pois a forma como a sociedade se articula,

em seus mais variados níveis, a partir dos mais variados agentes econômicos,

determina e limita o seu projeto de desenvolvimento.

Entretanto, a importância da articulação dos contextos histórico e

institucional é ainda pouco explorada na literatura para o entendimento da questão

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do desenvolvimento. Apesar disso, e também como forma de contribuir nesse

sentido, o conceito de desenvolvimento entendido neste trabalho parte de um ponto

de vista evolutivo, de que o desenvolvimento decorre da co-evolução das dimensões

institucionais e produtivas, o que depende da trajetória anterior (é path dependence),

e que é afetada por especificidades nacionais, apresentando novos problemas,

continuamente, de modo que o passado não pode ser abolido e a História nunca

descansa. (ERBER, 2003). É esse o conceito de desenvolvimento econômico

trabalhado por esta pesquisa, aquele considerado como decorrente da co-evolução

de estruturas institucionais e produtivas que se incorporam ao contexto de análise

de forma articulada.

2.1.2 ECONOMIA REGIONAL: O DEBATE SOBRE AGLOMERAÇÕES

ESPACIAIS E DESENVOLVIMENTO

Na literatura econômica, não existe uma definição única, universalmente

aceita para o conceito de “região”. Como existem muitas, o conceito empregado em

cada caso vai depender do enfoque proposto para o objeto de estudo. Nesse

sentido, articular o conceito de desenvolvimento econômico ao de região, a fim de

trabalhar o conceito mais amplo de desenvolvimento econômico regional, não é

tarefa fácil.

Diversas teorias vêm sendo trabalhadas ao longo do tempo, por diversos

autores, buscando dar conta desses conceitos, inclusive, inspirando políticas

públicas de desenvolvimento regional. Sistematizando, podemos afirmar que,

historicamente, identificam-se duas grandes correntes de pensamento sobre o tema:

a) o conjunto de teorias clássicas de localização, que evoluiu de forma

mais ou menos contínua a partir de Von Thunen, em 1926, até Isard,

em 1956; e

b) o conjunto de teorias de desenvolvimento regional enfatizando os

fatores de aglomeração, inspiradas em Marshall e em Keynes, a partir

da década de 1950, incorporando espaços subnacionais trabalhados

por Perroux, em 1955, Myrdal, em 1957, e Hirschman, em 1958.

(CAVALCANTE, 2002).

Como este trabalho se insere no contexto da economia regional,

buscando resgatar a importância da discussão da dimensão espacial e abordando a

economia de aglomeração para o desenvolvimento será explorado apenas o

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segundo conjunto de teorias acima apresentado que começaram a ser

desenvolvidas a partir dos anos 50, enfatizando algum tipo de mecanismo dinâmico

de auto-reforço resultante de externalidades decorrentes da aglomeração,

contrapondo-se ao grupo das teorias clássicas de localização citadas no primeiro

conjunto.

Ao final desta discussão de Economia Regional, após fazer uma revisão

das principais teorias de desenvolvimento regional, é apresentado um modelo, a fim

de identificar a existência de aglomeração do complexo agroindustrial da soja no

Oeste da Bahia que, articulado à análise da interação de diversos outros atores, vai

permitir que se caracterize ou não esse aglomerado como um cluster. Mais adiante,

esse modelo é aplicado empiricamente a partir de dados de emprego formal

levantados para os principais municípios produtores de soja da região.

2.1.2.1 OS DISTRITOS INDUSTRIAIS

Existe um consenso na literatura econômica de que o primeiro autor a

trabalhar a questão da aglomeração de atividades como um fator de localização de

novas atividades e, portanto, de crescimento econômico, foi Alfred Marshall, em

1890, trazendo a discussão do conceito de distritos industriais.

Marshall (1985) ainda não se preocupava com as indústrias correlatas,

mas a sua principal preocupação era com a proximidade de empresas e com as

relações sociais4, tendo desenvolvido o conceito de indústrias localizadas. Segundo

ele, esses distritos possuíam as seguintes características:

a) especialização;

b) desintegração produtiva;

c) serem formados por pequenas e médias empresas; e

d) cooperação decorrente da localização.

Esses distritos industriais apresentavam uma variedade de situações e

experiências que representavam fontes de aprendizagem e valor econômico,

introduzindo o conceito de eficiência econômica, no sentido de produzir riqueza em

médio e longo prazo, incluindo o problema da reprodução das condições

econômicas e sociais que permitem manter o processo produtivo.

4 Essas relações sociais eram por ele denominadas de “atmosfera favorável”. (MARSHALL, 1985).

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Além dos ganhos de escala internos à firma, Marshall (1985) tratou

também da questão das externalidades. Para ele, a existência de economias locais

externas à firma e internas à aglomeração dos produtores eram elementos que

justificavam a importância da concentração geográfica das firmas.

As economias externas representam todos os ganhos obtidos por uma

firma, independentemente de sua ação, ou seja, as vantagens econômicas

decorrentes da redução do seu custo em virtude de sua instalação junto a outras

unidades produtivas. Já as economias internas dizem respeito aos ganhos obtidos

por uma firma a partir de sua própria ação, como no caso das economias de escala

ou retornos crescentes de escala, que possibilitam a obtenção de vantagens em

termos de redução de custos, dada a intensificação na utilização de algum fator

produtivo ou pelo aumento da sua escala de produção.

Nessa questão, Marshall (1985) considera duas externalidades

pecuniárias e uma tecnológica, conforme destacado por Krugman (1998, apud

CAVALCANTE, 2002, p. 13):

a) a possibilidade oferecida por um grande mercado local de viabilizar a

existência de fornecedores de insumos com eficiência de escala;

b) as vantagens decorrentes de uma oferta abundante de mão-de-obra; e

c) a troca de informações que ocorre quando empresas do mesmo setor

se aglomeram.

É consenso que um dos elementos fundamentais que explicam as

vantagens competitivas das firmas é justamente a capacidade de se apropriar de

ganhos oriundos da aglomeração dos produtores. Assim, Marshall (1985) destaca o

papel das vantagens obtidas da aglomeração de atividades produtivas, as chamadas

economias externas, pois, quando várias empresas de um mesmo setor se

concentram em um mesmo local, ganhos são gerados e internalizados por essas

empresas; por outro lado, em localizações dispersas essas vantagens não se

verificam.

2.1.2.2 TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO DESEQUILIBRADO

Alguns autores da área de Economia Regional desenvolveram teorias que

posteriormente foram denominadas de “desenvolvimento desequilibrado”. A esse

respeito, aqui é feita uma breve abordagem sobre as principais idéias de três dos

autores mais representativos: Perroux, Myrdal e Hirshman.

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Trabalhando a questão do desenvolvimento, Perroux (1964) propõe

explorar as relações que se estabeleceriam entre as indústrias que ele denominou

motrizes, que são aquelas que têm a capacidade de aumentar as vendas e as

compras de serviços de outras, e as movidas, aquelas que têm suas vendas

aumentadas em função das indústrias motrizes, com o argumento de que o

crescimento não ocorreria de forma homogênea no espaço, mas, sim, em pontos ou

pólos de crescimento, expandindo-se por diversos canais, com intensidades e

efeitos finais variáveis sobre toda a economia.

Desta forma, para Perroux, a indústria motriz, além da sua contribuição ao

crescimento global do produto, também leva a um crescimento em seu ambiente,

que pode ser atribuído às relações que estabelece com as indústrias movidas. Os

pólos industriais complexos seriam capazes de modificar o seu “meio geográfico

imediato”, e mesmo a “estrutura inteira da economia nacional em que estiver

situado”, uma vez que nos pólos em que se verificam aglomerações industriais e

urbanas “registram-se efeitos de intensificação das atividades econômicas” devido

ao surgimento e encadeamento de novas necessidades coletivas. (PERROUX,

1964, p. 154).

Assim, Perroux (1964) desenvolveu a “Teoria dos Pólos” que, aplicada à

teoria da localização ou aos modelos inter-regionais, mostra como o crescimento

ocorre de forma não difusa por todo o espaço, estabelecendo-se de modo

concentrado e variando em sua intensidade, com certa descontinuidade, no espaço

e no tempo, resultando em taxas diferenciadas, o que se opõe a muitos modelos

neoclássicos que supõem um crescimento equilibrado em todas as regiões.

As críticas de Perroux (1964) aos modelos neoclássicos são feitas com

base nas seguintes hipóteses:

a concorrência perfeita dos mercados não acontecia, pois a produção

se organizava em termos oligopolistas;

a inexistência de progresso técnico era totalmente inadmissível, pois a

inovação é intrínseca ao modo de produção capitalista; e

os rendimentos constantes de escala eram uma possibilidade, mas

não se deveria ignorar a possibilidade, também, de obtenção de

economias de escala pela firma a partir da intensificação do uso de

algum fator.

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Na visão desse autor, o crescimento é particular e intrínseco às áreas

favorecidas pela localização e ação de uma indústria em particular, de forma que a

essência do seu modelo está no papel da indústria motriz no processo de

concentração de capitais sob um mesmo domínio. A partir de então, toda a região

cresce economicamente, em razão da localização concentrada de atividades

econômicas, sob a influência da indústria motora. Essa indústria influencia não

somente os fornecedores diretos e indiretos da região, mas também a instalação de

novas empresas, clientes ou mesmo fornecedores.

Essa capacidade dinamizadora da empresa lhe confere elementos de

continuidade e de transformação das relações econômicas e sociais. Alguns desses

elementos emergem do próprio sistema, gerando setores baseados em novos

padrões de acumulação; outros se apresentam autônomos, mas alimentam o

anterior.

Assim, ainda para o mesmo autor, na medida em que a indústria motriz é

capaz de gerar e difundir efeitos diretos e indiretos sobre o restante da economia,

através do surgimento de pólos secundários nas regiões periféricas, tem-se o

crescimento econômico, o que ocorre porque o pólo industrial atrai outras atividades

que, apesar de não manterem nenhuma relação direta com a indústria, instalam-se

ali devido às economias externas de aglomeração.

Perroux (1964) identifica, ainda, uma região central, a partir de três

características: as aglomerações urbanas; as indústrias motoras nela instaladas; e

as indústrias novas que vão surgindo. Essa região não apenas se modifica pela

atividade motora, como também pode transformar a estrutura das localidades

próximas a ela.

Quanto aos efeitos irradiados pelo pólo principal em direção à periferia,

segundo esse autor, a sua materialização ocorre em dois níveis:

Spead effects – efeitos propulsores: surgem do crescimento do pólo e de

seu encadeamento com o restante do país ou região. Assim, devido ao pólo principal

e ao seu dinamismo, na região vizinha, surgem pólos secundários que se articulam

àqueles fornecendo alimentos, matérias-primas, insumos industriais e outros bens

de consumo final.

Pode-se dizer que a expansão econômica de uma região se propaga para

outras regiões através da ampliação da demanda que impulsiona o fluxo de

investimento de atividades comerciais, bancárias, de infra-estrutura, etc. Mas a

expansão verificada em um determinado centro também pode resultar no

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aparecimento de efeitos regressivos sobre outras localidades, a partir da troca

desigual entre as regiões.

Backwash effects – efeitos regressivos: para Perroux (1964), se uma

região é mais desenvolvida e, portanto, mais beneficiada, nas demais, ditas

periféricas, verifica-se uma deterioração associada a deficiências na infra-estrutura,

no ensino, na distribuição de renda, etc. Essas deficiências se constituem em um

fator de repulsão de atividades produtivas, de forma que os movimentos de capital e

de comércio aprofundam as desigualdades a partir de empreendimentos localizados

em determinados espaços que foram atraídos pelas economias de aglomeração.

Como resultado, o investimento, o comércio, o nível de demanda e as condições

sociais são inferiores nas regiões periféricas e tendem a ser ampliados quando o

centro de expansão produz efeitos regressivos.

A partir dessa análise, tendo em vista a questão da polarização, Perroux

(1964) ressalta a importância de políticas públicas estatais que visem à redução das

desigualdades regionais através da concessão de incentivos fiscais diversos e

gastos públicos diferenciados, por setores e regiões, a fim de fazer com que os

efeitos propulsores superem os regressivos.

Analisando fenômenos relacionados com o processo circular de caráter

cumulativo, Myrdal (1957) detectou a existência de um movimento circular que

poderia variar positiva ou negativamente. Esse movimento corresponderia a um

círculo vicioso no qual as forças, positivas ou negativas, exerceriam uma pressão de

cima para baixo, sendo, ao mesmo tempo, causa e efeito, de forma que haveria uma

inter-relação causal e circular nos fatores ligados à questão do desenvolvimento.

Quando se consideram os efeitos do processo de causação circular e

cumulativa como explicativos não apenas da heterogeneidade observada no

desenvolvimento de países mas também das desigualdades regionais dentro de um

país, Myrdal (1957, p. 42) argumenta que “o jogo das forças de mercado opera no

sentido da desigualdade”, o que o coloca na contramão das teorias neoclássicas, de

acordo com as quais haveria um processo natural de convergência de renda inter-

regional nos países ou regiões.

Segundo esse autor, no caso de efeito positivo, a região ou país se

tornaria cada vez mais rica, gerando riqueza; e no caso de efeito negativo, ocorreria

o inverso, e as forças de pobreza contribuiriam para a extensão do estado de

pobreza. O resultado disto é o aumento incessante das desigualdades, aumentando

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o desequilíbrio, tendo em vista o caráter dinâmico do sistema econômico de se

movimentar, expandindo ou contraindo suas atividades de forma cumulativa.

Também tratando do conceito de indústria motriz como fonte geradora de

desigualdades, Myrdal (1957) destaca as seguintes características:

a) apresentar uma taxa de crescimento superior à média da indústria

nacional;

b) dispor de várias ligações de insumo-produto, materializadas nas suas

relações de compra e venda com outras indústrias; e

c) representar uma atividade inovadora de grande dimensão e com

estrutura de mercado oligopolista.

Com o crescimento ocorrendo em apenas alguns pontos ou pólos e com

intensidade variável, caracteriza-se um processo desigual e desequilibrado. Para

que esse crescimento possa se estender a outros espaços, torna-se imprescindível a

existência de canais que filtrem os efeitos provenientes dos centros de expansão,

garantindo o encadeamento desses efeitos sobre a produção e o emprego dos

demais setores e regiões, de forma que os resultados finais desse processo sejam

variados, mas distribuídos por toda a economia. É com base nessa constatação que

Myrdal (1957) defende a intervenção do Estado para conter as forças de mercado

que, de outra forma, tenderiam a acentuar os níveis de desigualdade regional.

Deve-se destacar também as referências feitas pelo autor a elementos de

natureza não-econômica, tais como a qualidade dos fatores de produção e a

eficiência da produção como determinantes do desenvolvimento, referindo-se a

variáveis como qualificação da mão-de-obra, comunicação, consciência de

crescimento, vizinhança e espírito empreendedor, lidando com variáveis que

somente muito mais tarde ganhariam espaço na literatura da economia regional.

(1957, p. 35).

Partindo do princípio de que a indústria motriz teria a capacidade de gerar

uma dinâmica espacial no sistema econômico através de seus efeitos motores,

Hirschman (1958) desenvolveu os modelos de linkages. Para ele, a sugestão básica

para alavancar o crescimento econômico seria a implantação de uma indústria

estratégica, capaz de gerar dois movimentos:

Backward linkages – efeitos para trás: que representam a capacidade da

indústria de criar efeitos de demanda sobre os estágios anteriores da cadeia

produtiva; e

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Forward linkages – efeitos para a frente: cujos efeitos se dão para as

etapas posteriores da cadeia produtiva.

Os efeitos para trás são a forma encontrada por Hirschman (1958) para

expressar as externalidades decorrentes da implantação de indústrias, pois, estas,

aumentando a demanda de insumos no setor a montante, viabilizariam suas escalas

mínimas de produção em determinada região. Os efeitos para frente, por sua vez,

resultariam da oferta de insumos, que tornaria viáveis os setores que se

posicionassem a jusante.

Assim, para esse autor, as indústrias que deveriam ser incentivadas pelos

programas de crescimento seriam aquelas produtoras de bens intermediários, com

alto potencial de difusão dos efeitos de demanda. A depender da sua área de

influência, o resultado seria o crescimento da região, pois, sendo capaz de irradiar

efeitos encadeados sobre o sistema econômico, a amplitude conceitual da indústria

motriz se daria de forma que quanto maior a sua taxa de crescimento, maior o

crescimento das atividades polarizadas.

Um pólo de crescimento corresponde a um complexo industrial localizado,

constituído de atividades interdependentes e apresentando, pelo menos, uma

indústria motriz, segundo Hirschman (1958). Esses pólos podem ser locais,

regionais, nacionais e internacionais, a depender do seu grau de irradiação e de

encadeamento. Entretanto, quando existe uma concentração dos efeitos dinâmicos

do pólo de crescimento sobre a estrutura produtiva e social local sem que ocorram

desvios significativos de seus efeitos para outras áreas, caracteriza-se um pólo de

desenvolvimento.

Assim, defende o autor que a implantação de um pólo industrial que seja

articulado com o restante do tecido econômico contribui para a localização de

diversas outras atividades que buscam se beneficiar das economias de

aglomeração. As firmas que dele fazem parte caracterizam-se pelo grande porte de

suas unidades produtivas, possibilitando o aparecimento de pólos secundários, que

convivem harmoniosamente com os grandes centros e desempenham a função de

ligar e filtrar os efeitos de encadeamento vindos dos pólos principais. Nesse contexto

é que surge uma divisão regional marcada por contradições: um centro principal,

desenvolvido com grande concentração de atividades econômicas, principalmente

indústrias, e populacional, em oposição a uma periferia basicamente rural e

subdesenvolvida.

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Argumenta Hirschman que “os recursos e circunstâncias cuja existência

se demonstrava necessária ao desenvolvimento econômico não são tão escassos

nem tão difíceis de obter desde que o desenvolvimento econômico primeiro se

manifeste”. Assim, o desenvolvimento econômico seria embaraçado pelo que ele

denominou de “uma série de círculos viciosos entrelaçados”. Como solução de

planos de desenvolvimento, ele propõe que se desempenhem “pressões e

processos de incentivo que farão eclodir e mobilizar o maior número possível de

recursos escassos, tais como capital e atividade empreendedora”. (1958, p. 18).

2.1.2.3 AGLOMERAÇÃO/CLUSTER: A BUSCA DA ESPECIALIZAÇÃO PRODUTIVA

É sabido que as escolhas locacionais buscam usufruir as vantagens da

aglomeração gerando uma expansão do processo de concentração e centralização

das decisões produtivas, em determinadas regiões ou países. Dada a importância e

abrangência do tema, diversos autores têm discorrido sobre essa questão na

literatura econômica.

Por exemplo, resgatando Marshall, que foi o primeiro autor a tratar dessa

questão, Krugman (1991) considera três fatores, que ele denomina de

externalidades marshallianas, para explicar o fenômeno da localização industrial,

dando especial atenção à proximidade espacial e aos fatores relacionais: a) a

concentração do mercado de trabalho; b) os insumos intermediários; e c) as

externalidades tecnológicas. O conjunto dessas variáveis viabilizaria a formação dos

aglomerados. Entretanto, na sua análise, Krugman (1991) não considera o papel dos

atores locais na organização dos fatores e na coordenação do processo cumulativo

do aglomerado, embora considere o papel da história, que ele denomina de

“condições iniciais”, como um importante fator determinante no desenvolvimento,

enveredando, portanto, pela questão institucional.

Em uma abordagem mais recente, o principal autor a merecer destaque

nesse tema é Porter, que conceitua clusters da seguinte forma:

Clusters são concentrações geográficas de companhias e instituições inter-relacionadas num setor específico. Os clusters englobam uma gama de empresas e outras entidades importantes para a competição, incluindo, por exemplo, fornecedores de insumos sofisticados, tais como componentes, maquinário, serviços e fornecedores de infra-estrutura especializada. Os clusters, muitas vezes, também se estendem para baixo na cadeia produtiva até os

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consumidores, e lateralmente até manufaturas de produtos complementares e na direção de empresas com semelhantes habilidades, tecnologia, ou mesmos insumos. Finalmente, muitos clusters incluem órgãos governamentais e outras instituições – tais como, universidades, agências de padronização, think tanks, escolas técnicas e associações de classe – que promovem treinamento, educação, informação, pesquisa e suporte técnico. (PORTER, 1998, p. 78). .

Estabelece, então, uma definição para o conceito de cluster, que passa a

ser amplamente utilizado por diversos outros autores e a ser assumido neste

trabalho. A sua principal especificidade é a presença de indústrias correlatas e de

apoio, como uma das externalidades mais importantes verificadas nos aglomerados,

envolvendo maquinário, matérias-primas, peças, serviços, etc., de forma que a

proximidade geográfica entre os produtores e seus fornecedores estimula a

manutenção de relações interativas entre eles, formando uma rede de relações que

contribui para o processo de aperfeiçoamento dos produtos e para o aprendizado.

Além disso, um cluster produtivo não será competitivo se a região onde

opera não for igualmente competitiva em termos da qualidade de sua infra-estrutura

econômica, social e político-institucional. Incorpora-se, então, a esse conceito, as

dimensões da competitividade a nível de macro, meso e microrregiões. Desta forma,

o conceito de cluster pode perfeitamente ser articulado à percepção da questão do

desenvolvimento enquanto uma co-evolução produtiva e institucional, conforme

concebido anteriormente.

Nessa mesma linha de análise, de acordo com Amaral Filho (2001), a

política de investimento em infra-estrutura é importante para uma região porque cria

condições favoráveis à formação de aglomerações de atividades mercantis, mas ela

não é suficiente, em si, para criar um processo dinâmico de endogeneização do

excedente econômico local e para atrair excedentes de outras regiões, ampliando as

atividades econômicas, o emprego, a renda, etc.

Assim, para que produza efeitos multiplicadores crescentes sobre o

produto e a renda, segundo Amaral Filho (2001), a política de investimento deve

estar articulada no contexto de uma estratégia global de desenvolvimento da região,

evitando a aglomeração de indústrias desprovidas de coerência interna nas suas

interconexões, que não propiciaria tais efeitos.

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Nesta abordagem, merece destaque, também, a análise feita por Diniz

(2001), articulando a questão da inovação tecnológica ao desenvolvimento regional.

Para ele, as regiões devem estar preparadas para prover infra-estrutura específica

que possa facilitar o fluxo de conhecimento, idéias e aprendizado e, ao mesmo

tempo, ter capacidade de governança local. Como o processo de inovação possui

fortes componentes tácitos, cumulativos e localizados, os atributos regionais são

decisivos, tornando-se a proximidade elemento chave, não só pelos aspectos

geográficos como, também, pelos aspectos institucionais.

Entretanto, de acordo com esse autor, a proximidade geográfica, por si

só, não é suficiente para assegurar o sucesso das experiências de geração de

conhecimento. Além da importância da lógica cognitiva, as regiões têm história, de

forma que cada território é diferente do outro pelo seu conteúdo imaterial, além do

que não se pode esperar que todas as regiões gerem conhecimento de fronteira.

Logo, o desenvolvimento está enraizado nas condições locais e a decisão locacional

da empresa passa a ser um elemento decisivo para a sua capacidade de

competição, que depende da combinação das suas competências individuais e dos

atributos ou ativos locais.

Segundo Haddad (2001), os clusters consistem em indústrias e

instituições que têm ligações particularmente fortes entre si, tanto horizontal quanto

verticalmente. Para ele, a organização de um cluster inclui:

a) empresas de produção especializada;

b) empresas prestadoras de serviços;

c) instituições de pesquisas; e

d) instituições públicas e privadas de suporte fundamental.

Mas o cluster tem, também, que ser contextualizado espacialmente. Por

exemplo, o cluster de soja do Oeste do Paraná é diferente do cluster de soja do

Oeste da Bahia, dentre outros motivos, por causa do nível organizacional dos

produtores, da qualidade da mão-de-obra, da logística de transporte, dos

indicadores de desenvolvimento sustentável, dos insumos de conhecimentos

científicos e tecnológicos. (HADDAD, 2001).

Outros autores também têm desenvolvido vários trabalhos com essa

abordagem. Por exemplo, um cluster também pode ser entendido, como entendem

Suzigan et alli (2002a), como uma aglomeração de organizações produtivas que

envolve economias externas locais, concentração de mão-de-obra especializada,

cooperação privada, equilíbrio entre competição e cooperação e apoio público, de

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forma que envolve concorrência e cooperação simultânea com empresas de

diferentes segmentos de determinada cadeia produtiva, concentradas

geograficamente.

Como forma de mensurar quantitativamente a existência ou não de um

aglomerado, torna-se importante a aplicação do índice de concentração (IC), a partir

do modelo desenvolvido por Crocco et alli (2003), originalmente utilizado para a

identificação de arranjos produtivos locais potenciais, cuja análise tem sido utilizada

por outros autores, na literatura econômica, no dimensionamento de aglomerações

produtivas5.

Nesse modelo, o IC é constituído de três parcelas: a primeira visa medir a

especificidade de um setor dentro de uma região, através do quociente locacional

(QL); a segunda, o seu peso em relação à estrutura produtiva da região, através do

índice Hirschman-Herfindahl modificado (HHm); e a terceira, a importância do setor,

nacionalmente, através do indicador de potencialidade (PR). Assim, o modelo

matemático é apresentado da seguinte forma: IC = QLij + HHmij + PRij

Vejamos a descrição de cada uma dessas parcelas:

a) Quociente locacional (QL)

Eij/Ej

QLij = ------------- Ei

BR / EBR

Onde:

Eij = empregos registrados do Setor i, na Região j

Ej = empregos registrados na Região j

EiBR = empregos registrados do Setor i, no Brasil

EBR = empregos registrados no Brasil

Quando QL > 1, significa que existe uma especialização do Setor i. na

Região j.

5 A esse respeito, consultar Ribeiro & Spínola (2003), que fazem uma aplicação do modelo para a

indústria baiana de transformação de resinas plásticas.

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b) Índice Hirschman-Herfindahl modificado (HHm)

HHmij = (Eij / Ei

BR) – (Ej / EBR)

Onde:

Eij = empregos registrados do Setor i, na Região j

Ej = empregos registrados na Região j

EiBR = empregos registrados do Setor i, no Brasil

EBR = empregos registrados no Brasil

Quando HHmij > 0, provavelmente existe uma especialização, indicando

que a contribuição do setor para o Brasil é menor do que a contribuição

da região para o Brasil. Se HHmij < 0, possivelmente não há

especialização, indicando que a contribuição, para o Brasil, do setor é

maior que a contribuição da região.

c) Indicador de Potencialidade (PRij)

PRij = Eij / Ei

BR

Onde:

Eij = empregos registrados do Setor i, na Região j

EiBR = empregos registrados do Setor i, no Brasil

Este indicador mostra a contribuição do Setor i, na Região j, para o Setor

i, no Brasil.

Apresentadas cada uma das parcelas que compõem o IC – índice de

concentração – retomemos a sua forma original: IC = θ1QLij + θ2HHmij + θ3PRij

Onde:

θ1 + θ2 + θ3 = 1, sendo θ1 = peso do QLij, θ2 = peso do HHm e θ3

= peso do PRij6

6 Para o cálculo desses pesos, Crocco et alli (2003) recomendam que se faça uma análise

multivariada.

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Calculado o resultado, se IC > 0, está acima da média nacional, havendo

indícios de concentração, e, então, recomenda-se o desenvolvimento de políticas

públicas para o setor; se IC < 0, a aglomeração é frágil; e se IC = 0, os três

indicadores se combinam e a média nacional é igual à média daquela amostra.

Este modelo será empregado empiricamente mais adiante, com o objetivo

de constatar a existência ou não do aglomerado da agroindústria da soja no Oeste

da Bahia. Na seqüência, vejamos a abordagem teórica institucionalista.

2.1.3 ECONOMIA INSTITUCIONALISTA

Tendo em vista que este trabalho considera o desenvolvimento como o

resultado de uma co-evolução produtiva e institucional, torna-se imprescindível fazer

uma leitura sobre a Economia Institucionalista. Esta é tratada, nesta pesquisa, a

partir da Nova Economia Institucional (NEI), envolvendo as abordagens da

Economia dos Custos de Transação (ECT) e a Teoria Evolucionista.

É importante ressaltar que, neste trabalho, assim como das contribuições

recentes abordadas sobre a Economia Regional, esta pesquisa parte, na sua

concepção, de um posicionamento crítico em relação à teoria neoclássica da firma e

de sua expansão. Essas abordagens vão ressaltar o papel das demais instituições, e

não só do mercado, no processo de desenvolvimento econômico.

Segundo Schumpeter (1988), por exemplo, a inovação é o elemento que

surge como propulsor do desenvolvimento e da competitividade da firma. Nesse

contexto, torna-se importante destacar que, no século XXI, esta passa por um novo

processo de transformações, devido à incorporação de novas tecnologias

organizacionais, e com a globalização dos mercados, a buscar competitividade,

combinando novas estratégias, inovações tecnológicas e organizacionais.

As tecnologias de informação têm um papel central neste processo de

transformação, sendo, ao mesmo tempo, causa e conseqüência das novas formas

de organização da produção. A informática e as comunicações contribuem não

apenas para inovações em produtos e processos, como também para a

reestruturação da organização das empresas e de sua relação com o mercado.

Segundo Tigre (1998), esse processo caracteriza a mudança do

paradigma fordista para o paradigma baseado nas tecnologias da informação,

levando à reformulação da Teoria Econômica, dados o novo quadro de organização

interna da firma, bem como as novas formas de articulação com o mercado.

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Desta forma, a seguir, realiza-se uma abordagem da Nova Economia

Institucional, sendo esta subdividida em Economia dos Custos de Transação e

Teoria Evolucionista.

O objetivo de buscar o diálogo entre estas duas teorias, conforme já foi

dito, é dar conta de uma análise mais complexa para compreender a dinâmica do

complexo agroindustrial da soja no Oeste da Bahia e a sua contribuição para o

desenvolvimento regional.

2.1.3.1 NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

Ronald Coase publicou, em 1937, um artigo intitulado “The nature of the

firm”. Até então, admitia-se que os custos associados às transações econômicas

eram negligenciáveis, de forma que os únicos custos realmente considerados eram

os de produção. Ele argumentou que a teoria econômica tratava com detalhes os

custos de produção enquanto os custos de transação, que são os custos que os

agentes enfrentam toda vez que recorrem ao mercado, eram negligenciados.

(COASE, 1988).

Nesse contexto, o principal autor a trabalhar as instituições relacionadas

ao desenvolvimento econômico, Douglass North, que questiona a teoria neoclássica

que admite as instituições como dadas, ao tentar explicar as diferenças no

desenvolvimento econômico dos países, ao longo do tempo, analisa fatores que

convergem ou divergem em termos de desempenho e chega à conclusão de que a

resposta está na evolução das instituições.

Segundo North (1998), as instituições compreendem regras formais,

limitações informais (normas de comportamento, convenções e códigos de conduta

auto-impostos) e os mecanismos responsáveis pela eficácia da interação entre os

indivíduos em uma sociedade que, a partir da eficácia do sistema de fiscalização do

cumprimento de tais normas, constituem o arcabouço imposto pelo ser humano ao

seu relacionamento com os outros e afetam os custos de transação e de produção,

representando a regra do jogo, enquanto as organizações representam os jogadores

(firmas, partidos políticos, órgãos governamentais, escolas, faculdades, etc.).

As limitações impostas pelo contexto institucional definem o conjunto de

oportunidades e, portanto, o tipo das organizações criadas. Conforme a sua função

objetiva, que pode ser a maximização de lucros, a vitória eleitoral, a regulamentação

de empresas, a formação de alunos, etc., a organização busca adquirir

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conhecimentos e especialização que reforcem suas possibilidades de sobrevivência

em um ambiente competitivo.

Ainda para North (1998), os agentes de mudança são os empresários

políticos ou econômicos, que são aqueles que decidem nas organizações. As suas

percepções subjetivas, que derivam de modelos mentais, determinam as opções

adotadas. Estejam certas ou erradas, as percepções são as fontes básicas de

mudança; são as oportunidades percebidas pelos agentes. As oscilações nos preços

relativos têm sido, para o autor, as fontes externas mais comuns de mudanças

institucionais ao longo da história.

O processo de mudança institucional é gradativo, pois as relações

existentes na matriz institucional em relação a regras formais, restrições informais e

características de execução, geralmente, distorcem os custos e benefícios,

favorecendo escolhas coerentes com o arcabouço existente. (NORTH, 1998). Assim,

a mudança institucional ocorrerá nos setores considerados mais flexíveis em termos

do poder de barganha entre as partes interessadas.

Quanto à direção da mudança, esta é determinada a depender do curso

adotado, pois as organizações políticas e econômicas que derivam de determinada

matriz institucional distorcem a mudança para favorecer os interesses das

organizações existentes – cujos interesses produzem a dependência da trajetória

adotada – e os modelos intelectuais dos empresários – que produzem ideologias,

“racionalizam” a matriz institucional vigente, influenciando os atores no sentido de

apoiar as políticas concebidas no interesse das organizações existentes.

Assim, segundo North (1998), as instituições são formadas para reduzir

incertezas por meio da estruturação das interações humanas, pois a racionalidade e

as características das transações impedem que os atores atinjam, em conjunto, o

resultado ideal de um modelo de custo de transação zero.

As instituições constituem as regras e limitações informais impostas às

unidades políticas que moldam o desempenho das economias de todo o mundo. Daí

decorrem as fontes de disparidades entre as nações, pois, em uma economia, as

políticas definem regras formais e direitos de propriedade e é preciso haver

instituições que ampliem o leque de oportunidades para promover o surgimento das

organizações necessárias.

Por sua vez, diferentes estruturas institucionais e modelos mentais dos

atores resultam de variações das estruturas organizacionais. Esses modelos mentais

originam-se em parte da cultura, da experiência e do aprendizado. Assim, incorpora-

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se a dimensão tácita do conhecimento. A cultura refere-se à transferência, de uma

geração para outra, de conhecimentos, valores e outros fatores que afetam o

comportamento, variando entre grupos étnicos e sociedades; a experiência tem uma

conotação local, sendo específica de determinado entorno, variando de um ambiente

para outro.

As organizações são dirigidas por empresários que buscam viabilizar seus

próprios interesses, assim como os políticos são formados pelos grupos de interesse

que representam. Desta forma, as relações são muitas vezes conflitantes, levando a

uma situação muito distante das características de eficiência que existiriam em uma

estrutura de custo de transação zero.

Segundo o autor, uma condição básica para a criação de organizações

eficientes e para o aprendizado, nos países em desenvolvimento e nas economias

antes centralizadas, é a evolução de um arcabouço institucional que ofereça os

incentivos necessários. O arcabouço institucional ideal deve possuir uma eficiente

capacidade de adaptação, com estados democráticos e economias de mercado

descentralizadas e com regimes de direitos de propriedade bem definidos e

aplicados.

É a partir dessa análise que North (1998) explica porque algumas nações

prosperam e outras não, tendo sempre como base que a história importa, pois é a

partir dessa formação que se constroem instituições fortes ou fracas, as quais, assim

como a história, importam. Sob essa perspectiva, ele busca explicar o

subdesenvolvimento de nações periféricas em relação às nações desenvolvidas,

tomando como exemplos a história da Inglaterra e da Espanha e suas respectivas

colônias, demonstrando como a evolução depende da trajetória escolhida.

O autor discorre sobre vários casos. Na Inglaterra, a evolução das

garantias e direitos de propriedade representou o caminho da democracia política e

do crescimento econômico sustentado, modelo este reproduzido e ampliado na

América do Norte inglesa. Já no caso da Espanha, a burocracia era forte e

centralizada, tendo como objetivo satisfazer os interesses da Coroa, a fim de criar a

potência imperial mais importante desde Roma; como conseqüência, o modelo de

burocracia centralizada, com rígido controle sobre o Estado e a economia, gerou três

séculos de desenvolvimento esporádico desigual, além de instabilidade política.

Assim, embora simplifique os fatores que influenciam as trajetórias de

desenvolvimento, North (1998) aponta para a importância das relações sociais e das

instituições nesse processo.

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Uma vez criadas as instituições, os mecanismos auto-reforçantes fazem

com que as economias fiquem locked in7 em determinadas estruturas institucionais,

mesmo que essas reforcem atividades improdutivas, impedindo o desenvolvimento

das produtivas, ou seja, que essas melhorem o seu desempenho. Assim, a história

pregressa das instituições e a dimensão produtiva são importantes para a

determinação da estrutura institucional presente que influenciará a matriz

institucional futura. A ligação do passado com o presente e o futuro é dada pela

história e significa que as instituições apresentam características de path

dependence. (NORTH, 1998)

Existe, portanto, uma dependência da trajetória e a reversão dessa

trajetória institucional passa pela mudança das instituições e das percepções

ideológicas de seus membros. Os atores modificam suas ideologias ou modelos

mentais quando os resultados são incompatíveis com as expectativas, o que, por si

só, não garante aumento de produtividade. (NORTH, 1998). E haverá, ainda, um

impedimento se os custos de “transição” necessários para reverter as trajetórias

institucionais produzirem uma reação política que impeça ou distorça essa transição.

A esse respeito, podemos ainda citar Polanyi (2000), que apresenta a

idéia de que os fenômenos econômicos são embeddedness, ou seja, imbricados no

todo social do qual fazem parte. E é esse caráter de imbricação que dificulta e

condiciona as mudanças institucionais a serem feitas em uma matriz institucional

formada.

Retornando a North (1998), a mudança institucional lenta e gradual será

sabotada pela criação de “direitos de corrupção” entre a burocracia vigente, de

maneira que as reformas ficarão distorcidas. Por outro lado, alterações radicais de

política devem vir acompanhadas de uma reestruturação radical da burocracia e,

mesmo assim, trarão comoção social e política, porque as limitações informais e as

percepções ideológicas não mudam repentinamente.

As regras formais podem ser rapidamente mudadas, mas as informais

apresentam maior estabilidade, ao longo do tempo, porque estão ancoradas em

traços culturais e, portanto, levam mais tempo para serem modificadas. A relação

entre as regras formais e informais e suas diferenças também são importantes para

explicar as mudanças institucionais; modificações rápidas nas regras formais podem

7 O significado desta expressão refere-se ao fato de que a economia fica “presa”, ou seja,

fortemente articulada às estruturas institucionais historicamente formadas por ela, ainda que sejam ineficientes.

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ser, muitas vezes, difíceis de serem cumpridas pela sociedade quando as informais

são ainda úteis para resolver problemas de troca econômica, social e política entre

os indivíduos.

Assim, segundo North (1998), as mudanças institucionais são

incrementais: a estrutura institucional vai se alterando no tempo, fruto de inúmeras

pequenas mudanças que vão ocorrendo nos incentivos que as pessoas recebem do

ambiente, modificando, aos poucos, tanto as regras formais como as informais.

Existem também períodos rápidos de mudanças, em decorrência de guerras,

revoluções e desastres naturais, sendo que os dois primeiros casos ocorrem pela

ausência de instituições que acomodem as divergências entre as partes.

Nessa perspectiva, a estabilidade das instituições se dá pela sua

preservação e reprodução, enquanto a mudança se deve a alterações nos

incentivos, devidas, principalmente, a modificações nos preços relativos, que

requerem novos arranjos institucionais, os quais dependem de uma compatibilização

entre regras formais e informais, que vão se modificando lentamente ao longo do

tempo. Este caráter incremental da mudança institucional enfatiza o caráter de path

dependence da matriz institucional e tem implicações fundamentais para a

explicação das diferenças de desenvolvimento entre as economias.

Dessa forma, até o desempenho persistentemente pobre dos países do

Terceiro Mundo é explicado pela evolução de suas matrizes institucionais, pois um

país pobre possui instituições frágeis, que não conseguem reduzir muito os custos

de transação. (NORTH, 1998). Partindo da suposição de que os mercados são

imperfeitos, as instituições são criadas para que as incertezas sejam reduzidas e os

indivíduos consigam melhorar seus resultados, identificando as melhores

alternativas; se a estrutura institucional é pouco desenvolvida ou frágil, as incertezas

são maiores, os indivíduos não conseguem identificar as melhores alternativas e,

assim, não podem melhorar seus resultados.

A conseqüência dessa evolução institucional, em termos de desempenho

econômico, é que a matriz institucional dos países do Terceiro Mundo favoreceu o

desenvolvimento de organizações rent-seeker8 e desestimulou organizações

capazes de elevar a produtividade da economia (NORTH, 2001).

A partir dessa abordagem teórica que acaba de ser exposta, as variáveis

chave conceituais que serão utilizadas para explicar a evolução das instituições no

8 Refere-se a organizações que obtêm rendas reduzidas em relação aos investimentos feitos.

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Oeste da Bahia são, portanto, formação histórica, desenvolvimento econômico,

incentivos, direitos de propriedade, contratos, normas de comportamento, etc.

Agora vejamos, as contribuições da Economia dos Custos de Transação e

da Teoria Evolucionista, consideradas como parte da abordagem institucionalista.

2.1.3.1.1 ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO

As idéias de Coase foram desenvolvidas por Williamson (1985), dando

origem à Economia dos Custos de Transação (ECT). Nesta teoria, discute-se a firma

como um conjunto de contratos: por exemplo, é feita a análise de quando é mais

interessante produzir sob a direção de uma hierarquia e quando é mais interessante

deixar que o Mercado, através do mecanismo de preços, coordene a produção.

Assim, a natureza e a estrutura das relações interfirmas, estabelecidas ao

longo de uma determinada cadeia produtiva, por exemplo, podem ser vistas como

formas de resolver o problema da organização e coordenação das atividades, dentro

da lógica de redução dos custos de transação.

Desta forma, a ECT abandona a hipótese da microeconomia neoclássica

de simetria de informação, segundo a qual os custos de elaboração e

implementação de contratos se tornam desprezíveis. A teoria neoclássica não

envolve esses custos porque a hipótese de simetria de informação diz que tanto o

comprador como o vendedor conhecem todas as características relevantes do objeto

da troca, em qualquer transação, o que não é real. Os custos de transação são os custos que os agentes enfrentam para

negociar, redigir e garantir o cumprimento de um contrato, toda vez que recorrem ao

mercado. Esses custos podem se dar ex ante9, com o estabelecimento de

mecanismos que balizarão a transação, ou ex post10, devido ao oportunismo de uma

das partes, podendo gerar dificuldades na negociação e manutenção do acordo.

(WILLIAMSON, 1985).

Custos de transação ex ante – são relacionados aos custos de esboçar,

redigir, negociar, salvaguardar e proclamar um contrato. O grau de detalhamento do

contrato se dá em função dos limites cognitivos dos atores, no processamento de

todas as informações necessárias à redação contratual. Além disso, os contratos

9 Refere-se aos custos que são gerados antes de se consolidar uma determinada transação. 10 Refere-se aos custos que são gerados depois de se consolidar uma determinada transação.

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podem também ser intencionalmente incompletos de forma que suas lacunas sejam

preenchidas à medida que as eventuais contingências se manifestem.

Custos de transação ex post – envolvem relações sociais mais complexas

e com maior potencial de mutações, que podem ser, segundo Williamson (1985), de:

a) má adaptação resultante de distorções entre o planejamento e a

execução das transações, podendo gerar paralisações produtivas,

defeitos nos produtos, etc.;

b) negociação e correção do desempenho das transações;

c) montagem e manutenção de estruturas de gestão que gerenciem

as transações; e

d) efetivação de compromisso, criando garantias contra

comportamentos oportunistas.

A ECT tem como fundamento dois pressupostos comportamentais

básicos, a racionalidade limitada e o oportunismo (WILLIAMSON, 1985), intrínsecos

ao ser humano, que são incorporados à análise, buscando entender o efeito dos

custos de transação sobre as diversas formas organizacionais e seus conseqüentes

impactos sobre a eficiência das relações econômicas. Vejamos, a seguir, cada um

deles.

a) Racionalidade limitada

Em relação à racionalidade limitada, observa-se que os agentes

econômicos sempre buscarão, de forma consciente, a maximização de seus

objetivos; entretanto, existem limites cognitivos por parte dos atores em termos do

perfeito processamento das informações. Além disso, nem sempre as informações

necessárias às tomadas de decisão e às formulações estratégicas estão disponíveis,

seja por inexistência em si ou pelo custo de aquisição, de forma que os atores são

obrigados a restringir ainda mais o uso de suas já limitadas capacidades cognitivas,

obtendo, conseqüentemente, um conjunto de soluções compatíveis às restrições

encontradas. (WILLIAMSON, 1985).

Visto que com essas soluções incompletas, os contratos formulados

serão, também, incompletos, os agentes, cientes das limitações ex ante, incluem

salvaguardas contratuais para lidar com eventuais desvios ex post. Muitas dessas

cláusulas, decorrentes da incapacidade de obtenção e do processamento das

informações, podem se constituir em fatores alavancadores de custos de transação,

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tanto ex ante, em termos de esforços adicionais para a redação do contrato, quanto

ex post, no que se refere às tensões geradas pelo entendimento de uma das partes

sobre o não cumprimento do que foi prescrito contratualmente.

Se a racionalidade humana fosse ilimitada, os contratos poderiam

incorporar cláusulas antecipando qualquer circunstância futura. Mas o

comportamento humano, embora intencionalmente racional, enfrenta limitações

neurofisiológicas (acúmulo e processamento de informações) e de linguagem

(transmissão de informações). (WILLIAMSON, 1985).

A racionalidade limitada não teria interesse analítico se o meio ambiente

onde se processam as decisões fosse previsível e simples; entretanto, existem

condições de complexidade e incerteza. Ambientes simples, mesmo com

racionalidade limitada, não oferecem dificuldades, porque as restrições de

racionalidade dos agentes não são atingidas. Em ambientes complexos, as decisões

se tornam custosas, impedindo os agentes de especificar antecipadamente o que

deveria ser feito em cada circunstância.

b) Oportunismo

O oportunismo refere-se ao fato de que os atores envolvidos em uma

transação nem sempre são fiéis aos compromissos assumidos e, portanto, o

cumprimento do que foi acordado nem sempre ocorre sem a existência de custos

adicionais. Assim, a ECT assume que todos os indivíduos são oportunistas e como

forma de amenizar os problemas decorrentes desse tipo de conduta e,

conseqüentemente, de viabilizar as transações, concebem instituições e incluem

salvaguardas contratuais ex ante.

De uma forma geral, o conceito de oportunismo está ligado a esforços

calculados para distorcer, esconder ou ofuscar fatos, contribuindo para a geração de

assimetrias de informação entre os agentes, referindo-se à transmissão de

informação seletiva, distorcida e promessas “autodesacreditadas” sobre o

comportamento futuro do próprio agente, o que quer dizer que ele sabe, a priori, que

não irá cumprir com o compromisso estabelecido. Assim, para a ECT, os indivíduos

são todos oportunistas e podem não se valer da ética no balizamento de suas

condutas, podendo utilizar oportunisticamente informações privilegiadas ex ante,

com o objetivo de maximizar os seus resultados. (WILLIAMSON, 1985).

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Analisados esses dois pressupostos, vejamos agora os três atributos,

definidos também por Williamson (1985), pelos quais a ECT dimensiona as

transações: especificidade de ativos, freqüência e incerteza.

a) Especificidade de ativos

O conceito de especificidade de ativos está ligado à idéia de algo que não

é facilmente reutilizado para uma outra finalidade além da originalmente proposta.

Portanto, podem ser entendidos como aqueles que, no caso de término ou

interrupção de um contrato, não são facilmente reempregáveis, a não ser com

perdas de valor.

Ativos específicos, segundo Williamson (1985), são aqueles

especializados, que não podem ser reempregados sem sacrifício do seu valor

produtivo, no caso de interrupções ou encerramentos prematuros dos contratos,

gerando, assim, forte dependência mútua. Uma vez que tenha sido feito o

investimento em um ativo específico, comprador e vendedor passam a se relacionar

de uma forma exclusiva ou quase exclusiva, uma situação que pode dar origem ao

que se chama de “problema do refém”, que ocorre quando a parte que realizou o

investimento no ativo específico torna-se vulnerável a ameaças, da outra parte, de

encerramento da relação.

Em um mundo em que os contratos são incompletos em decorrência da

racionalidade limitada dos agentes e no qual se observa a manifestação de condutas

oportunistas desses mesmos agentes, o investimento em ativos específicos é sujeito

a riscos, pois quem arca com esse tipo de investimento não tem a certeza de que

seus esforços serão recompensados no futuro, tendo em vista eventuais problemas

de adaptação contratual. Para tanto, salvaguardas são levantadas a fim de propiciar

a proteção dos investimentos realizados, e é quando surgem os custos de

transação.

Williamson (1985) distingue algumas formas de ativos específicos:

Locacional – quando a proximidade entre os elos da mesma cadeia

produtiva contribui para a diminuição dos custos de transporte e

inventário.

Físico – que diz respeito às instalações especializadas necessárias à

produção de um componente.

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Humano – relacionado aos recursos humanos necessários à execução de

algum processo em particular.

Marca – ligado à imagem que a marca de uma empresa possui no

mercado.

Dedicado – que diz respeito à necessidade de investimento para

transacionar com um cliente/fornecedor em particular.

Temporal – que serefere à transação que, por motivos tecnológicos, tem,

no tempo, um fator crítico.

b) Freqüência

Os custos de transação serão atenuados na medida em que as

transações ocorram de forma recorrente; daí a importância da freqüência como

dimensão analítica. Segundo Williamson (1985), o aumento da freqüência das

transações possibilita, através de economias de escala e de escopo, além da

diminuição dos custos de transação, a redução dos custos de produção. Essa

importância se manifesta em dois aspectos: na diluição dos custos de adoção de um

mecanismo complexo por várias transações e na possibilidade de construção de

reputação por parte dos agentes envolvidos na transação.

A reputação influencia positivamente aspectos ligados à confiança e à

lealdade entre as partes envolvidas, em uma dada relação econômica, contribuindo

para a redução dos custos de transação. Pela transparência e boa imagem, os

custos de se transacionar com uma firma com reputação positiva são menores, pois

a reputação construída por meio de transações recorrentes desestimula ações

oportunistas. (WILLIAMSON, 1985). Além disso, os custos associados a um eventual

comportamento auto-interessado podem ser altos a ponto de fazer com que a

reputação construída ao longo dos anos se dissipe rapidamente.

c) Incerteza

A ligação entre a dimensão incerteza e o pressuposto comportamental de

racionalidade limitada é umbilical, pois a incerteza provoca maiores dificuldades

quando da elaboração dos contratos. Assim, a incerteza impõe que as firmas sejam

mais rigorosas, no que se refere à decisão de realizar investimentos, principalmente

em ativos específicos. (WILLIAMSON, 1985).

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Analisados os três atributos que dimensionam as transações, bem como

os pressupostos comportamentais, pode-se definir a forma organizacional mais

eficiente para governar uma transação. As partes envolvidas, a fim de se protegerem

de comportamentos oportunistas, minimizam os custos de transação, formalizando

suas obrigações por meio de um contrato que expresse os termos negociados,

contratos esses que caracterizam como se dá a estrutura de governança de

determinada transação, conforme definiu Williamson (1985).

A especificidade das transações reduz a vantagem que o mercado

oferece, as economias de escala, porque crescem os custos de transação, derivados

de negociar, redigir, implementar e verificar a execução das cláusulas contratuais. É

a partir dessa relação entre economias de escala e custos de transação que se

determina a forma institucional mais adequada para a organização da transação: via

mercado ou via estrutura hierárquica da empresa, segundo Williamson (1985).

Se o ativo for pouco específico, os custos de transação tendem a ser

pouco expressivos, pois não envolvem complexidade e incerteza, de forma que a

negociação e a redação dos contratos não pressionam a racionalidade limitada dos

agentes. As transações se dão em grande número, limitando os riscos de atitudes

oportunistas, pois existem outros fornecedores e outros clientes para transacionar o

ativo. O mesmo ativo pode ser oferecido a vários clientes, a um preço mais baixo do

que o custo que o demandante teria caso produzisse o ativo apenas para si mesmo.

Se o ativo for específico, por exemplo, ele é produzido segundo as

necessidades peculiares do demandante, de forma que desaparecem as vantagens

em termos de escala de produção, tornando-se mais barato para o demandante

produzir ele mesmo o ativo do que recorrer a uma transação via mercado. Assim, o

empresário compara o custo de produzir o insumo (integração vertical) – perdendo

as escalas de produção de mercado – e o custo de adquirir o insumo no mercado –

custos de transação. E o fator chave para esta escolha está na especificidade dos

ativos. Neste caso, observa-se que a verticalização tende a ocorrer quanto maior for

a especificidade e complexidade da transação.

Entretanto, o que leva diferentes etapas do processo produtivo a serem

integradas verticalmente dentro de uma empresa é o fato de que as trocas entre

essas etapas envolvem um custo que não pode ser negligenciado e, portanto, os

custos de recorrer ao mercado são significativos entre as etapas do seu processo de

produção.

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Em função das diferentes especificidades dos ativos, existem diferentes

formas de implementar as transações, cada uma com suas características, de forma

que, para assegurar a realização das transações, foram desenvolvidos vários tipos

de estruturas de governança. (WILLIAMSON, 1985). Assim, uma estrutura de

governança é o arcabouço institucional no qual a transação é realizada, ou seja, o

conjunto de instituições e tipos de agentes diretamente envolvidos na realização da

transação e os instrumentos desenvolvidos para a garantia de sua execução.

De acordo com Suzigan (2002b), estrutura de governança é a matriz

institucional que dá suporte à transação. Os supostos comportamentais

(oportunismo e racionalidade limitada) e o ambiente institucional e organizacional

(direitos de propriedade, costumes, tradições, etc.) afetam a estrutura de governança

estabelecida, pois alteram os níveis de especificidade dos ativos, freqüência e

incerteza envolvidos na transação, o que se torna um parâmetro de mudança nos

custos de transação.

Assim, as estruturas de governança têm a função de coordenar as

transações e podem ocorrer de três formas distintas, segundo Williamson (1985): Mercado – refere-se à contratação da transação no mercado, o que tende

a ocorrer quando o ativo for pouco específico. A governança pelo mercado é a forma

adotada em transações não específicas, eficaz no caso de transações recorrentes.

Não há esforço para sustentar a relação e, na avaliação de uma transação, as

partes precisam consultar apenas a sua própria experiência.

Híbrida – representa um meio termo, como contratos de terceirização, de

licenciamento, sistemas de franchising, etc. A governança híbrida exige a

especificação ex ante de uma terceira parte, tanto na avaliação da execução da

transação quanto para a solução de eventuais litígios. É mais adequada em

transações ocasionais, sejam elas de caráter misto ou específico.

Hierárquica – representa a verticalização da transação no processo

produtivo, o que tende a ocorrer quando o ativo for muito específico. O fato dos

ativos transacionados não envolverem padronização aumenta o risco da transação e

a possibilidade do surgimento de conflitos de solução custosa e incerta. Quanto mais

as transações forem recorrentes, maior a possibilidade de cobrir os custos derivados

da constituição de um arcabouço institucional específico para a transação, caso em

que a empresa integra verticalmente o que ela transacionaria no mercado.

Essas são as três formas de estrutura de governança possíveis para a

coordenação das transações.

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Entretanto, deve-se ressaltar que a existência de um contrato não

representa nenhuma garantia de que os termos acordados serão cumpridos, sendo

necessárias as instituições, como forma de garantir os compromissos contratuais e

de assegurar os investimentos eventualmente realizados.

Ainda segundo Williamson (1985), a economia de custos de transação,

quando comparada com outras abordagens metodológicas, difere nos seguintes

itens:

a) no seu caráter de orientação microanalítica e no embasamento de

seus pressupostos comportamentais;

b) na introdução e no desenvolvimento do conceito de especificidade de

ativos;

c) na importância dada às analises comparativas institucionais;

d) na consideração das firmas como sendo estruturas de governança, em

detrimento do conceito de firmas como função de produção; e

e) no papel conferido à negociação ex post, com ênfase na utilização de

mecanismos privados de disputa, em detrimento da resolução via

justiça.

Para esta pesquisa, as variáveis chave utilizadas nesta abordagem

teórica – racionalidade limitada, oportunismo, especificidade de ativos, incerteza,

coordenação e estruturas de governança – buscam explicar como são definidas as

estruturas de governança no complexo agroindustrial da soja no Oeste da Bahia.

A seguir, vejamos de que forma a Teoria Evolucionista trata a questão da

inovação cujo arcabouço será utilizado mais adiante para interpretar o processo

inovativo que se dá no objeto estudo de caso desta pesquisa.

2.1.3.1.2 TEORIA EVOLUCIONISTA

Os neo-schumpeterianos, na busca, também, de superar os limites da

teoria neoclássica, avançam na perspectiva de construção de uma Teoria

Evolucionista que rejeita a noção de equilíbrio geral e valoriza as mudanças

qualitativas, a incerteza da decisão de produzir, a descontinuidade e a

heterogeneidade dos agentes, sendo a inovação tida como o motor do

desenvolvimento econômico.

O termo evolucionista busca caracterizar o processo evolutivo, com base

na idéia da evolução das espécies, que se dá, na teoria darwiniana, por meio de

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mutações genéticas submetidas à seleção do meio ambiente. (POSSAS, 1989).

Analogamente, as mudanças econômicas, entendidas tanto no aspecto técnico-

produtivo (processos e produtos) quanto na estrutura e dinâmica dos mercados

(concentração, diversificação, rentabilidade e crescimento), têm origem na busca

incessante, por parte das firmas, como unidades básicas do processo competitivo,

de introduzir inovações de processos e produtos que são submetidas aos

mecanismos de seleção inerentes à concorrência e ao mercado.

Para a corrente evolucionista, as vantagens comparativas em relação aos

concorrentes dependem, em grande parte, do acúmulo de capacitações técnicas e

econômicas no âmbito da firma. Essas capacitações possuem um caráter tácito, ou

seja, incorporado nas pessoas e nas rotinas de operação de cada firma, sendo,

portanto, não-transmissíveis em manuais de procedimentos. São também

específicas a esta, na medida em que a materialização dos princípios tecnológicos

depende de características técnicas e econômicas acumuladas ao longo da sua

história e da história das pessoas, pois as pessoas é que aprendem. Esse acúmulo

de conhecimento tácito e específico é denominado aprendizado. Assim, nas

aplicações particulares de qualquer tecnologia sempre existe, em maior ou menor

grau, um conteúdo de conhecimentos tácitos e específicos que são chamados

idiossincráticos. (NELSON; WINTER, 1982).

O conteúdo tácito refere-se àqueles elementos do conhecimento que são

necessários à utilização minimamente eficiente da tecnologia e que estão

incorporados às pessoas ou às rotinas de operação da firma. Este conteúdo, que

não pode ser adquirido ou transferido via manuais ou outras formas codificadas de

transmissão de conhecimento, não pode, portanto, ser inteiramente difundido, seja

sob a forma de informação pública seja de propriedade privada. Ao mesmo tempo, a

materialização desses princípios assume, necessariamente, formas concretas

distintas, que nunca se repetem em condições contextuais idênticas, o que lhes

confere, necessariamente, um caráter específico.

Dessa forma, o conhecimento tecnológico, que possui um caráter

idiossincrático, dados os aspectos tácitos e específicos da tecnologia incorporados

às pessoas e rotinas da firma, impossíveis de serem codificados ou transferidos,

provoca uma diversidade tecnológica permanente entre firmas de um mesmo

segmento, o que se reflete em assimetrias. Além disso, as inovações radicais e

incrementais resultantes do progresso técnico, alteram o ambiente competitivo

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gerando, também, assimetrias entre as firmas que são, ao mesmo tempo, causa e

conseqüência do próprio progresso técnico e o principal fator de mudança estrutural.

Para os neo-schumpeterianos, a mudança tecnológica é interna à

dinâmica da firma, na medida em que o processo de inovação depende da

capacitação por ela acumulada. Cada empresa é um conjunto de conexões entre

tecnologia, pessoas, informações, rotinas, etc., que não pode ser transformado com

tanta rapidez e facilidade.

Para Dosi (1984), o conhecimento conjunto de algumas condições

estruturais e regras de comportamento permite analisar, aproximadamente, variáveis

de desempenho e sentidos de mudança, reconhecendo a existência de

relacionamentos complexos e biunívocos entre estrutura de mercado, conduta das

firmas e o seu desempenho no mercado, de forma dinâmica. Admitindo que o

progresso técnico é o elemento indutor da criação/transformação das estruturas de

mercado, esta abordagem busca identificar as características da inovação

tecnológica que a tornam fator de mudança econômica estrutural. (POSSAS, 1989).

Nesse sentido, a inovação apresenta dimensões econômicas e

tecnológicas, cada uma com suas especificidades. No que se refere à dimensão

econômica, são três as características:

a) a oportunidade de introdução de avanços tecnológicos relevantes e

rentáveis;

b) a cumulatividade inerente aos padrões de inovação e à capacidade

das firmas de inovar; e

c) a apropriabilidade do progresso técnico dada pelo retorno econômico.

Quanto à dimensão tecnológica, temos o conceito de paradigmas

tecnológicos. Cada paradigma envolve a definição dos problemas relevantes que

devem ser tratados, o material tecnológico a ser usado, os tipos de artefatos básicos

a serem desenvolvidos, etc. (DOSI; ORSENIGO, 1988). Assim, um paradigma

tecnológico define contextualmente a necessidade em questão, os princípios

científicos a serem utilizados e a tecnologia substancial a ser usada. Em outras

palavras, pode ser definido como uma “norma” para a solução de problemas tecno-

econômicos selecionados.

O progresso técnico inerente a um determinado paradigma tecnológico é

denominado de trajetória tecnológica e constitui o modo ou o padrão “normal” de

realizar a formulação e a solução de problemas específicos no interior daquele

paradigma tecnológico.

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Para Dosi (1984), os paradigmas são modelos para solucionar problemas

tecnológicos selecionados, baseados em princípios científicos e tecnológicos

também selecionados; e as trajetórias, definidas pelo paradigma, indicam o

“caminho”, o sentido para o qual se orientam os processos de busca de inovações

no que diz respeito a produtos, processo, organização da produção e administração.

O surgimento de novos produtos ou processos suficientemente

diferenciados dos existentes, constituindo uma descontinuidade no aparelho

produtivo, caracteriza uma inovação radical e inaugura um novo paradigma. A partir

deste, têm-se as trajetórias das inovações incrementais de aperfeiçoamento/

adaptação de processos e produtos.

O conhecimento inovativo é, ainda, local e específico, pois ele é limitado

por um paradigma, ocorre ao longo de trajetórias particulares e é distribuído com

diferentes competências e graus de sucesso por todos os agentes econômicos que

operam naquela tecnologia particular. (DOSI, 1988). Por outro lado, na medida em

que cada conhecimento é, também, local e cumulativo, no que se refere a firmas

individuais, é possível observar, ainda, trajetórias específicas de cada firma,

envolvendo o desenvolvimento cumulativo e a exploração das competências

tecnológicas.

Segundo Canuto (1992), os processos de aprendizado são locais e

específicos às firmas, mas também envolvem (e desenvolvem) capacidades

tecnológicas de aplicação coletiva, quer ao nível de setores ou grupo de setores,

quer ao nível do aparelho produtivo como um todo (informações de caráter geral,

qualificação geral da mão-de-obra, experiências generalizáveis, etc.).

Dosi (1988) destaca o aprendizado como fundamental no processo de

difusão das inovações, podendo ocorrer por três mecanismos:

Investimento em P&D – que é, economicamente, o mais importante meio

de aprendizado, por envolver dispêndios significativos e por representar,

geralmente, o principal mecanismo cumulativo de aprendizado, através da

acumulação tácita de conhecimentos que realimentam o processo de

busca de inovações e aperfeiçoamento de produtos e processos;

Processos informais de acumulação de conhecimento tecnológico dentro

das firmas – learning by doing e learning by using – que não envolvem

destinação específica de recursos e um formato organizacional definido,

mas podem ser de extrema importância no desenvolvimento de novos

produtos e processos que já tenham sido incorporados; e

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Desenvolvimento de externalidades intra e interindustriais – que inclui

difusão de informação, mobilidade de mão-de-obra especializada e

crescimento de serviços especializados.

Nesse contexto, a difusão incorpora aspectos endógenos, cumulativos e

assimétricos. No que se refere aos processos informais de difusão das inovações,

eles podem se dar pela experiência acumulada na produção contínua da inovação

(learning by doing), pelo uso da inovação (learning by using) e, ainda, pela interação

e troca de informações entre fornecedor e usuário da inovação (learning by

interacting). Este último, tratado por Lundvall (1988), pressupõe uma contínua troca

de informações entre os agentes, o que exige uma comunicação eficiente entre eles,

através dos canais de informação, ou seja, por onde a informação passa, e dos

códigos de informação, que se referem à compreensão da mensagem.

Assim, a definição das estratégias das firmas se desenvolve a partir de

acordos que visam a reciprocidade não apenas econômica, como também, a

construção de canais de informações. A incorporação do aprendizado na construção

de estratégias vai implicar em trajetórias distintas e arranjos particulares, a cada

acordo. Segundo Dosi (1984), a trajetória tecnológica vai ser o padrão de evolução

não linear do progresso técnico, dentro de um determinado paradigma, ao longo da

qual se tenta consolidar inovações no mercado.

A implementação da inovação gera assimetrias entre as firmas do

segmento que se confrontam, no processo competitivo, com as formas já existentes.

Mas como toda inovação passa por um processo de difusão, a firma corre o risco de

sofrer um processo de imitação e de atração de novas firmas para o mercado, se a

inovação demonstrar maiores lucros para a firma inovadora. Isso vai depender do

grau e da magnitude das barreiras à entrada existentes. Quando ocorre a imitação,

as assimetrias são reduzidas, dissipando os lucros. Assim, a sua manutenção

depende da capacidade da firma inovadora de gerar contínuas inovações

incrementais e de criar e ampliar barreiras à entrada e à mobilidade, visando

proteger as inovações da imitação.

A Teoria Evolucionista analisa, portanto, a dinâmica ou o aspecto

evolutivo do evento, que se dá em um mundo incerto e em mudança, sendo limitada

a racionalidade do processo da decisão. Os evolucionistas sugerem a existência de

uma coerência nas corporações como sendo uma interação complexa entre

aprendizado, padrão de dependência, oportunidades tecnológicas e

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complementaridade dos ativos, considerando o custo de transação e o papel e

características dos ativos como implícitos à abordagem.

Apresentada esta teoria, os seguintes conceitos são explorados para

contribuir com a interpretação do processo inovativo que se dá ao longo da cadeia

do aglomerado da soja no Oeste da Bahia: inovação, competências, diversidade

tecnológica, aprendizado, paradigma tecnológico, trajetória tecnológica e difusão

tecnológica.

A seguir, é definida uma grade analítica para o desenvolvimento desta

pesquisa, com base nas teorias apresentadas e nas questões levantadas, tentando

articular conceitos e variáveis de análise exploradas no trabalho, para responder às

referidas questões.

2.1.4 GRADE ANALÍTICA

A Figura 3, a seguir, apresenta a Grade Analítica deste trabalho que,

agregando tudo o que foi discutido até então, é a base da interpretação dos

resultados obtidos na pesquisa, a partir de dados primários e secundários, com o

objetivo de trabalhar as respostas para as questões aqui levantadas. A partir desse

referencial é feita a análise da dinâmica produtiva e institucional do complexo

agroindustrial da soja no Oeste da Bahia, de forma articulada, considerando o

pressuposto do desenvolvimento enquanto uma co-evolução produtiva e

institucional.

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Figura 3 – Grade Analítica

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2.2 METODOLOGIA

A metodologia aplicada neste trabalho pode ser caracterizada como

teórico-empírica, pois utiliza a construção de um referencial teórico analítico,

respaldado empiricamente por um estudo de caso, “o caso da agroindústria da soja

no Oeste da Bahia”, que serve de objeto de estudo para analisar as questões

levantadas no trabalho. A base teórica para este estudo, com a definição dos

principais conceitos, assim como as questões de pesquisa, articuladas às

respectivas variáveis de análise, já foram definidas a partir da Grade Analítica

apresentada na Figura 3.

Quanto à análise empírica, utilizam-se dados qualitativos e quantitativos,

tanto primários quanto secundários.

Os dados primários foram obtidos diretamente através de uma pesquisa

de campo, com a aplicação de questionários aos agricultores de soja do Oeste da

Bahia (Apêndice A), bem como através de entrevistas estruturadas abrangendo os

demais atores da cadeia produtiva encontrados na região – produtores de máquinas,

insumos e sementes; indústria esmagadora; indústria de subprodutos; agentes de

inovação tecnológica; e fundações, cooperativas e associações – para cuja

elaboração foram articulados os conceitos chave e as variáveis de análise, com base

na Grade Analítica definida (Figura 3) e considerando os objetivos propostos.

Para a obtenção dos dados secundários foi realizada uma coleta das

informações publicadas por órgãos públicos e privados, seja em meio eletrônico ou

em meio físico, tendo-se, sempre, a preocupação de trabalhar com instituições

reconhecidamente fidedignas, apresentando respeitável caráter técnico-acadêmico.

Estes dados são incorporados ao trabalho a fim de corroborar/complementar a

análise feita a partir dos dados primários.

Nesse contexto, procurou-se articular as questões às variáveis de análise

obtidas das abordagens teóricas e através dos dados secundários e essas

informações serviram de base para a construção dos questionários aplicados e para

a estruturação das entrevistas realizadas na pesquisa de campo. (Quadro 1).

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QUESTÕES CONCEITOS E VARIÁVEIS DE ANÁLISE

Qual é o tipo de aglomeração existente no complexo agroindustrial da soja no Oeste da Bahia?

Economia Regional: aglomerado, cluster (emprego – RAIS) Aplicação do modelo Crocco et al. (2003) para avaliar o índice de concentração de unidades produtivas na região, buscando identificar um cluster

Qual é a contribuição desse aglomerado para o desenvolvimento da região?

Economia Regional: cooperação, economias de escala, vantagens competitivas, integração, externalidades (renda, emprego, IDH, consumo de energia elétrica, analfabetismo, etc.)

Como evoluíram as instituições no Oeste da Bahia?

Economia Institucional: formação histórica, desenvolvimento econômico, incentivos, direitos de propriedade, contratos, normas de comportamento (crédito, financiamentos, análise histórica, etc.)

Como são definidas as estruturas de governança nesse aglomerado?

Economia dos Custos de Transação: racionalidade limitada, oportunismo, ativos específicos, incerteza, coordenação, estruturas de governança (análise das relações entre os atores)

Como se dá o processo de inovação ao longo da cadeia e qual é a sua contribuição para a dinâmica endógena de desenvolvimento?

Teoria Evolucionista: inovação, competências, diversidade tecnológica, aprendizado, paradigmas e trajetórias tecnológicas, difusão tecnológica (análise de aspectos tecnológicos ao longo da cadeia, como P&D, etc.)

Quadro 1 – Síntese Metodológica: questões, conceitos e variáveis de análise

2.2.1 PESQUISA DE CAMPO

A pesquisa de campo foi realizada com o objetivo de levantar os dados

primários do trabalho.

Os atores do aglomerado em estudo são: a) produtores de maquinaria

para agricultura e indústria; b) produtores de insumos químicos para a agricultura e

indústria; c) produtores de sementes; d) agricultores; e) indústria esmagadora; f)

indústria de subprodutos; g) agentes de inovação tecnológica; h) cooperativas; e i)

associações, dos quais a região do Oeste da Bahia apenas não apresenta

produtores de maquinaria para agricultura e indústria. Os demais agentes estão

todos presentes, representando, assim, o modelo de análise, sendo, portanto, objeto

desta pesquisa, através da aplicação de questionários e da realização de

entrevistas, tendo como fundamentação teórica as abordagens aqui apresentadas, a

partir das variáveis de análise levantadas.

Considerando o quantitativo dos agentes do arranjo, optou-se por fazer a

pesquisa em duas etapas: uma, somente com os produtores, com a aplicação de

questionários, e outra com os demais atores, através de entrevistas. Desta forma, na

primeira fase, os pesquisadores aplicaram os questionários com uma determinada

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amostra de produtores de soja da região; e, na segunda fase, foram feitas as

entrevistas com os demais componentes da cadeia produtiva da soja.

A primeira fase ocorreu no período entre 12 de setembro e 1º de outubro

de 2004 e foi dividida em duas etapas: a primeira realizada na cidade de Barreiras e

a segunda na cidade de Luís Eduardo Magalhães, ambas realizadas por

pesquisadores de campo contratados para a pesquisa.

Na cidade de Barreiras, utilizou-se como estratégia trabalhar em estreita

articulação com a Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (AIBA),

através da sua assessoria de agronegócios. Já na cidade de Luís Eduardo

Magalhães, o apoio foi dado pela Secretaria de Agricultura do Município (SEAGRI),

com o envolvimento direto do próprio Secretário e, em menor escala, do Sindicato

dos Produtores Rurais. Nesta cidade, a AIBA se fez representar também por meio do

seu escritório local.

Em ambas as etapas, foram muitas as dificuldades encontradas. Na

cidade de Barreiras, primeira etapa do levantamento, foi grande a resistência dos

produtores em participar da pesquisa, basicamente por não saberem que se tratava

de um trabalho eminentemente acadêmico, sem qualquer interesse de colher

informações consideradas sigilosas.

Na cidade de Luís Eduardo Magalhães, as dificuldades foram bem mais

acentuadas pois, tendo em vista que o local de apoio para contatos com os

produtores era a sede da SEAGRI e tendo sido a pesquisa realizada em período

pré-eleitoral (faltavam duas semanas para a eleição), o engajamento dos membros

da Secretaria ficou bastante comprometido.

O Sindicato Rural forneceu uma listagem dos produtores de soja, embora

incompleta, contendo apenas o nome e telefone de 120 produtores, sem os

respectivos endereços. Outra dificuldade decorreu de que um grande número de

produtores fica a maior parte do tempo nas suas propriedades, geralmente longe do

perímetro urbano, o que torna o acesso até eles ainda mais difícil.

Para a aplicação dos questionários, a pesquisa contou com a participação

de alguns alunos do Curso de Agronegócios da Faculdade Unyhana (Campus de

Luís Eduardo Magalhães). Este envolvimento se justificou na medida em que

representou uma possibilidade de aprendizado para esses alunos, sobretudo para

aqueles que pretendiam incursionar pelas áreas de ensino e pesquisa.

Uma outra estratégia definida em comum acordo com a SEAGRI e a AIBA

foi a presença dos pesquisadores no local da realização do “Agroeste Bahia – 5º

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Seminário Nacional de Grãos e Fibras”, realizado no período de 21 a 23 de setembro

de 2004, em Luís Eduardo Magalhães. Todavia, esse recurso ficou aquém do

esperado, tendo em vista que a presença dos produtores de soja, prevista em mais

de cem participantes, acabou se traduzindo em um número inferior a vinte pessoas.

Diante deste quadro, buscou-se outras fontes de informações que

pudessem facilitar o acesso dos pesquisadores aos produtores de soja, dentre as

quais as empresas fornecedoras de matérias-primas (sementes, fertilizantes e

defensivos), que indicaram vários nomes de produtores que poderiam ser visitados,

além de alguns produtores que, já tendo sido entrevistados, se dispuseram a

elaborar uma pequena lista a partir da sua agenda pessoal, de forma que esses

produtores acabaram atuando como elementos multiplicadores.

Na segunda fase, realizada logo em seguida por meio de entrevistas

também concentradas nas localidades de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães,

outras dificuldades foram enfrentadas, principalmente em relação à disponibilidade

de agenda dos entrevistados. Adotou-se, então, como critério entrevistar pelo menos

um representante de cada tipo de agente presente no aglomerado, conforme

definido anteriormente, já que estes são encontrados em número reduzido na região,

muitas vezes somando apenas dois atores em cada categoria a ser estudada.

2.2.2 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA

É importante destacar que, metodologicamente, tendo em vista as

enormes dificuldades relatadas em relação à pesquisa de campo, definiu-se uma

amostra por acessibilidade tanto para a aplicação de questionários quanto para as

entrevistas com os agentes do aglomerado. Os questionários foram aplicados com

os produtores, alcançando aproximadamente 10% deles, e as entrevistas foram

realizadas com os demais agentes, buscando-se entrevistar, pelo menos, um

representante de cada categoria pertencente ao aglomerado.

Na primeira fase da pesquisa, a amostra de produtores aos quais foram

aplicados os questionários, envolveu 98 agricultores, de uma população de

aproximadamente mil11, ou seja, em torno de 10% da população, englobando áreas

cultivadas de diferentes dimensões, conforme pode ser observado na Tabela 1, a

seguir.

11 Estimativa de produtores de soja na região, fornecida pela AIBA.

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Tabela 1 – Número de questionários aplicados a produtores de soja, segundo área das propriedades, Região Oeste do Estado da Bahia, 12 Set – 01 Out 2004

PROPRIEDADES Nº DE QUESTIONÁRIOS APLICADOS ÁREA FÍSICA (em ha)

QUE CULTIVAM SOJA(em %)

POR ÁREA TOTAL DA PROPRIEDADE

POR ÁREA PLANTADA EM SOJA

Até 499 15 14 25 De 500 a 1999 40 46 51 De 2000 a 4999 30 23 19 Acima de 5000 15 15 3 Total 100 98 98 Fonte: Elaboração própria, a partir de dados fornecidos pela AIBA

A partir da estratificação indicada na área física, procurou-se manter uma

relativa proporcionalidade entre o número de questionários aplicados e o percentual

de propriedades que cultivam soja na região. Nesse critério, obteve-se mais sucesso

na pesquisa no número de questionários em relação à área total da propriedade do

que em relação à área plantada em soja. Os 98 questionários aplicados com os

produtores de soja na região do Oeste da Bahia foram tabulados utilizando-se o

software aplicativo SPHINX – Soluções em Pesquisa e Análise de Dados.

Na segunda fase da pesquisa, as entrevistas foram feitas por

amostragem, pois, muitas vezes, os demais agentes envolvidos no aglomerado eram

em número de um ou dois em cada categoria, de forma que as entrevistas foram

pontualizadas, tendo-se adotado o critério de entrevistar pelo menos um

representante de cada uma dessas categorias.

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3 SISTEMA AGROINDUSTRIAL DA SOJA

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO INTERNACIONAL E NACIONAL DA CULTURA DA SOJA

Dentre as oleaginosas produzidas no mundo, a soja é a que tem a maior

representatividade econômica e protéica. Segundo a Associação Brasileira das

Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), pelos dados referentes ao biênio 2004/05, a

soja corresponde a 59% da produção total mundial, ficando as demais com

percentuais em torno de 10% ou menos (Tabela 2). A importância dessa oleaginosa

reflete-se não só ao consumo direto como alimentação, bem como através do seu

processamento, quando são produzidos farelo e óleo.

Tabela 2 – Produção mundial das principais oleaginosas e dos principais farelos protéicos e óleos vegetais, 2004/05

PRODUÇÃO MUNDIAL OLEAGINOSAS (%)

FARELOS PROTÉICOS (%)

ÓLEOS VEGETAIS (%)

Soja 59 69 32 Colza 11 11 14 Algodão 11 7 4 Amendoim 9 3 5 Girassol 6 5 8 Palma – – 28 Outros 4 5 9 Total 100 100 100

Fonte: ABIOVE , 2007

Uma visão mais detalhada do Complexo Soja, a nível mundial, pode ser

conseguida através da Tabela 3, a seguir, onde são apresentados diversos itens em

relação à cultura, com dados que vão de 2000/01 a 2006/07. Observa-se um

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considerável aumento em todas as variáveis, com tendência sempre crescente ao

longo do tempo, refletindo a importância desta oleaginosa.

Tabela 3 – Dados mundiais da soja, 2000/01-2006/07

(em milhões de toneladas) ITENS 2000/01 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05 *2005/06 **2006/07

Estoque Inicial 28,02 30,71 32,18 40,50 38,80 48,45 53,79Produção 175,06 184,87 197,31 186,26 215,74 219,93 233,49Importação 55,15 54,15 62,87 54,25 63,71 64,00 68,70Esmagamento 146,81 157,98 164,91 163,84 175,68 184,53 194,87Consumo Total 171,82 183,96 190,57 189,96 205,16 214,52 225,51Exportação 55,50 53,59 62,07 55,86 64,64 64,07 69,46Estoque Final 30,71 32,18 40,50 38,80 48,45 53,79 61,02Estoque/Consumo 17,80 17,50 21,20 20,40 23,60 25,10 27,00

Fonte: FAEP, 2007 * Estimativa; ** Projeção

Cabe aqui agora, desagregar os números relativos à importância da soja

no âmbito internacional, por países, a fim de se poder verificar a participação relativa

dos mais importantes. Nesse sentido, o Centro de Inteligência da Soja (CI Soja)

apresenta dados atuais para os principais países produtores, para 2006/07: a

liderança é dos Estados Unidos, que respondem por 37% da produção mundial; o

Brasil ocupa o segundo lugar, com 26%; e o terceiro lugar é ocupado pela Argentina,

com 19%. Observa-se, assim, a importância do Brasil nesse processo. A Tabela 4

indica, ainda, as produções para 2005/06 e 2004/05.

Tabela 4 – Produção mundial de soja por países, 2006/07 (em milhões de toneladas)

PAÍS SAFRA 2006/07 PARTICIPAÇÃO PAÍS SAFRA 2005/06 SAFRA 2004/05

EUA 86,77 37 83,37 85,01AMÉRICA DO SUL 113,06 48 103,44 99,50

Brasil 59,81 26 56,20 52,90Argentina 45,10 19 41,00 40,00Paraguai 5,75 2,0 3,64 4,04Bolívia 1,80 1,0 2,05 2,06Uruguai 0,60 0,0 0,55 0,50

CANADÁ 3,50 1,0 3,16 3,04UE 0,75 0,0 0,70 0,65RÚSSIA 0,90 0,0 0,69 0,56CHINA 16,20 7,0 16,35 17,40ÍNDIA 7,30 3,0 6,30 5,85INDONÉSIA 0,82 0,0 0,83 0,83OUTROS 4,71 2,0 5,09 2,90Total 234,01 – 219,93 215,74

Fonte: CI Soja, 2007

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Outra fonte de dados é a Federação da Agricultura do Estado do Paraná

(FAEP) que indica, para 2006/07, em relação aos principais países produtores de

soja, a quantidade de produção, consumo, exportação e estoque final, além desses

mesmos totais para o mundo. Observa-se que o Brasil, a nível mundial, é o segundo

produtor, com 58,8 milhões de toneladas, o terceiro consumidor, com 31,9 milhões

de toneladas, e o segundo exportador, com 26,1 milhões de toneladas. (Tabela 5).

Tabela 5 – Dados mundiais da soja, 2006/07 (em milhões de toneladas)

PAÍSES PRODUÇÃO CONSUMO EXPORTAÇÃO ESTOQUE FINAL Estados Unidos 87,0 53,0 29,0 17,0Brasil 58,8 31,9 26,1 17,6Argentina 45,5 36,5 7,5 19,6Mundo 233,5 225,5 69,5 61,0

Fonte: FAEP, 2007

Esse desempenho do Brasil na cultura da soja remete ao início deste

século, quando imigrantes japoneses a introduziram no Brasil, mais precisamente no

Rio Grande do Sul. Entretanto, a sua produção em bases comerciais somente passa

a ter representatividade a partir do final da década de 50, com a crise na produção

de trigo que precedeu a plantação de soja.

Havia já algum tempo uma agricultura mecanizada, organizada em torno

do trigo, vinha substituindo a antiga estrutura agrária gaúcha, caracterizada por

grandes explorações de pecuária extensiva e algumas pequenas propriedades

centradas em culturas de subsistência. Entretanto, em 1955, segundo Uderman

(1992), a produção de trigo do Rio Grande do Sul passou a concorrer com o trigo

americano, a baixo preço, decorrente de um acordo assinado com os Estados

Unidos que assegurava o fornecimento de trigo a crédito de longo prazo,

comprometendo a sua rentabilidade.

Aliado a este fato, a política de substituição de importações em vigor,

buscando garantir o fornecimento de alimentos baratos e estimular a

industrialização, acentuou esta crise na produção de trigo, de forma que, neste

contexto, a soja surgiu como a cultura complementar ideal, por utilizar os mesmos

equipamentos e contar com uma demanda mundial crescente.

Assim, a cultura da soja foi adquirindo importância e, já na década de 70,

passou a se constituir como um complexo agroindustrial nacional, inclusive com

investimentos tecnológicos patrocinados pelo Estado, direcionados para processos

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de beneficiamento nacionais, além da incorporação de novas etapas produtivas à

cadeia da soja, a nível internacional, levando a um incremento na produção nacional

de produtos oriundos dos seus primeiros estágios de beneficiamento.

Desta forma, os derivados da soja foram conquistando parcelas

crescentes do consumo nacional de óleos e farelos, deixando em segundo plano

produtos oriundos da transformação do amendoim e do algodão que, até o início da

década de 70, se destacavam no mercado de gorduras vegetais e como fontes

protéicas de rações.

Nessa época, diversos planos governamentais direcionados para a

agricultura beneficiaram a cultura da soja no Brasil. Como exemplos, temos,

segundo Uderman (1992): o Programa de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) que,

em 1967, tem a soja como principal beneficiária; o Sistema Nacional de Crédito

Rural (SNCR) que, a partir de 1967, passa a contar com a fonte de recursos dos

bancos privados; a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(EMBRAPA), em 1973, desenvolvendo estudos de correção técnica e de

produtividade; o Programa Nacional de Armazenagem (PRONAZEM), em 1975,

buscando suprir a lacuna decorrente da falta de infra-estrutura básica, na questão do

armazenamento; e o Programa de Cooperação para o Desenvolvimento dos

Cerrados (PRODECER), implementado em 1978.

Em relação ao PRODECER, o Programa foi idealizado em 1974,

negociado entre os governos do Brasil e do Japão durante cinco anos, e

implementado a partir de 1978. De acordo com Marouelli (2003), o Programa teve

como coordenador político-institucional o Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA) e, como coordenadora de implementação, a Companhia de

Promoção Agrícola (CAMPO), empresa de capital binacional, criada para esta

finalidade, com 51% das ações pertencentes ao Brasil, representadas pela

Companhia Brasileira de Participação Agroindustrial (BRASAGRO), e 49% das

ações pertencentes ao Japão, representadas pela Japan-Brazil Agricultural

Development Corporation (JADECO) sendo que, em ambas as partes, existe a

participação governamental e privada.

O programa foi financiado pelos Governos do Brasil e do Japão – Japan

International Cooperation Agency (JICA) e o Fundo de Cooperação Econômica

Ultramarina The Overseas Economic Cooperation Fund (OECF) –, e por bancos

privados japoneses, e é desprovido de formas de subvenção e/ou doação. As

diretrizes do PRODECER são as seguintes:

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1. Programa baseado na assinatura de Acordos Bilaterais; 2. Método de Desenvolvimento de Pólos colonizados por agricultores de porte médio (crescente preocupação com o Meio Ambiente, infra-estrutura sócio-econômica por meio de governos municipais e estaduais); 3. Criação da CAMPO, como órgão coordenador da execução do Programa; 4. Método de colonização via cooperativas (seleção de produtores); 5. Programa de Cooperação Econômica articulada com Cooperação Técnica (financiamento e tecnologias agrícolas); 6.Esquema de Financiamento: financiamento da produção a juros baixos (recursos diretos do Banco Central). Brasil assumiu os riscos cambiais. (CAMPO, s/d).

Foram implantadas três fases do PRODECER (P-I, a partir de 1979; P-II,

a partir de 1985; e P-III, a partir de 1995), totalizando um montante de US$

570.000.000,00 (quinhentos e setenta milhões de dólares), incorporando ao

processo produtivo uma área de 350.000 hectares de cerrado, englobando sete

Estados brasileiros, conforme Tabela 6, a seguir:

Tabela 6 – Projetos do Prodecer, por Estado, área e investimento ESTADO PROJETOS ÁREA TOTAL

(em ha) INVESTIMENTO

(em US$) FASES DO PRODECER

Minas Gerais 11 projetos + 3 empresas

151.250 239.000.000,00 P-I e P-II/Piloto P-II/Expansão

M. Grosso Sul 1 projeto 22.000 26.000.000,00 P-II/Expansão Mato Grosso 2 projetos 35.320 50.000.000,00 P-II/Piloto Goiás 3 projetos 30.000 50.000.000,00 P-II/Expansão Bahia 2 projetos 31.430 67.000.000,00 P-II/Piloto Tocantins 1 projeto 40.000 69.000.000,00 P-III/Piloto Maranhão 1 projeto 40.000 69.000.000,00 P-III/Piloto Total 21 projetos 350.000 570.000.000,00 Fonte: Campo, 2003

As principais características de cada uma das três fases são as seguintes

1. Prodecer I – piloto (1979/83)

a) Foram selecionadas três áreas em Minas, incorporando 60 mil

hectares para soja, milho, arroz e café.

b) Foi implantada uma fazenda de 5 mil hectares diretamente

administrada pela CAMPO para produção de sementes e duas

empresas agrícolas (plantations).

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c) Foram assentadas 92 famílias, predominando o método de

colonização agrícola.

2. Prodecer II – piloto (1985/90); e expansão (1985/93)

a) Foram implantados quatro projetos-piloto em duas áreas de

cerrado: Mato Grosso e Bahia (semi-árido).

b) Foram assentadas 165 famílias, e 65 mil hectares foram

incorporados a atividades de pecuária, culturas perenes e culturas

de soja e milho.

c) Algumas cooperativas fizeram a aquisição e repasse de terras aos

colonos.

d) O projeto expansão, com recursos de financiamentos de projetos

do JBIC, abriu onze novas áreas em Minas Gerais, Goiás e Mato

Grosso do Su.

e) Na expansão 380 famílias foram assentadas, em um segmento de

140 mil hectares.

3. Prodecer III – piloto (1995/01)

a) Foi implantado no Tocantins (Pedro Afonso) e no Maranhão

(Balsas).

b) Houve consolidação de tecnologias de administração rural e

introdução de irrigação.

c) Foram incorporados 80 mil hectares, com 80 famílias assentadas

(áreas de 1.000 hectares – o dobro dos projetos anteriores).

d) Foi feita uma reserva natural de 50% das áreas, sendo que

anteriormente eram constituídas somente de 20%, e foram

agrupadas em áreas de reserva coletiva.

Desta forma, a primeira fase beneficiou a região sul dos cerrados,

especificamente o Estado de Minas Gerais; a segunda, a área central dos cerrados,

nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Bahia;

atualmente, a terceira está em fase de implantação com a consolidação de dois

projetos na área norte dos cerrados, sendo um em Pedro Afonso, no Tocantins, e

outro em Balsas, no Maranhão.

Segundo informações da CAMPO, o PRODECER beneficiou, até o

momento, 758 colonos. Áreas que eram despovoadas ou pequenas vilas

transformaram-se em importantes pólos regionais com a implantação dos projetos.

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O principal instrumento do Programa é o crédito supervisionado, com

linhas de crédito abrangentes, prevendo empréstimos fundiários para investimentos,

despesas operacionais e assistência ao colono.

O público beneficiário é constituído de médios agricultores associados a

cooperativas, com características de capacidade de adoção tecnológica tanto

gerencial quanto de produção, espírito empreendedor, dentre outras, que conduzam

os projetos de forma a atingir os objetivos do programa que tem como proposta

desenvolver, paralelamente à produção, a infra-estrutura econômica e social, em um

apoio logístico à competitividade dos cerrados, portanto, um enfoque de

desenvolvimento regional. (MAROUELLI, 2003).

Segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA):

Os Acordos de Projetos encerraram-se em 29/03/01, enquanto os de Empréstimos tem seu cronograma de amortização previsto para o PRODECER II até 2005 e para o III até 2014. Por esta razão, a ação de Financiamento para a Expansão Agrícola do Cerrado extinguiu-se na mesma data, permanecendo a de Prestação de Assistência Técnica aos Beneficiários. Este fato, gerou a elaboração de Termos de Referência do Estudo de Impacto do Programa em suas diferentes fases entre a JICA e o MAPA em 26/10/2000. Esta avaliação foi concluída no início de 2002, com indicativos de obtenção dos objetivos propostos. Foram implementados 21 (vinte e um) projetos nos estados de MG, GO, MS, MT, BA, MA e TO totalizando 353.748 (trezentos e cinqüenta e três mil e setecentos e quarenta e oito) hectares, beneficiando 758 (setecentos e cinqüenta e oito) colonos, nas culturas de Soja, Milho, Feijão, Algodão, Arroz, Trigo, Café, Frutíferas e Olerícolas. Existem 16.182 (dezesseis mil cento e oitenta e dois) hectares irrigados e 20.093 (vinte mil e noventa e três) irrigáveis [...] O intercâmbio técnico viabilizou a vinda ao Brasil de 72 (setenta e dois) especialistas japoneses, assim como a ida para lá de 62 (sessenta e dois) pesquisadores brasileiros, nas ações de interesse mútuo, assim como equipar 5 (cinco) laboratórios de análises, inclusive de biotecnologia Entretanto, existem problemas a serem superados, como o descompasso entre a rentabilidade da agricultura e a taxa de juros praticada pelo mercado, levando beneficiários ao endividamento, a conclusão de obras coletivas de irrigação, a adoção de culturas “nobres” destinadas a aumentar a renda dos interessados, e a racionalização dos meios de escoamento das safras para diminuir os custos. [...] No entanto, continua sob a responsabilidade de gestão do MAPA a Assistência Técnica aos Beneficiários, enquanto perdurar o vínculo financeiro originado pela parceria Brasil/Japão.(BRASIL, 2003).

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Deve-se ressaltar que esse Programa, conforme apresentado, permitiu a

alavancagem da agricultura nos cerrados do Brasil, até então consideradas área

impróprias para a prática do cultivo, destacando-se, dentre as principais culturas

desenvolvidas, a cultura da soja.

Atualmente, a soja corresponde a 44,3% da produção de cereais,

leguminosas e oleaginosas do Brasil, segundo dados de 2006 do IBGE.

Considerando os principais produtos cultivados no país, a soja ocupa o lugar de

maior área plantada, maior área colhida e maior quantidade da produção de cereais,

leguminosas e oleaginosas, correspondendo a praticamente 50%, em cada uma

dessas variáveis, em relação ao total do Brasil (Tabela 7).

Tabela 7 – Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da produção dos principais cereais, leguminosas e oleaginosas, em ordem decrescente de valor da produção, Brasil, 2006 PRINCIPAIS PRODUTOS

ÁREA PLANTADA

(ha)

ÁREA COLHIDA

(ha)

QUANTIDADE PRODUZIDA

(ton)

VALOR DA PRODUÇÃO

(R$ mil) Total Geral 46.628.909 45.686.525 117.260.821 40.961.681 Soja (em grão) 22.082.666 22.047.349 52.464.640 18.470.711 Milho (em grão) 12.996.355 12.612.077 42.662.578 9.955.217 Arroz (em casca) 3.008.695 2.969.444 11.524.434 4.304.182 Feijão (em grão) 4.242.159 4.033.068 3.455.918 3.555.058 Algodão Herbáceo (em caroço) 910.382 898.008 1.826.194 2.831.274

Trigo (em grão) 1.770.945 1.560.178 2.464.936 991.602 Fonte: IBGE, 2006

O processamento de soja no Brasil, assim como as exportações para os

três produtos, grão, farelo e óleo12, tem apresentado uma tendência crescente, ano a

ano. Observa-se que, para os casos de grão e óleo, as exportações, praticamente,

dobraram, do biênio de 2000/01 para o de 2006/07, conforme podemos conferir na

Tabela 8. Desta forma, a cultura da soja tem proporcionado crescentes superávits na

balança comercial do Brasil, consolidando-se como uma das mais importantes

commodities de exportação.

12 Para uma serie histórica desses dados a partir de 1995, mês a mês, consultar as Tabelas 63, 64,

65 e 66, respectivamente, no Apêndice B.

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Tabela 8 – Embarques do Complexo Soja, Brasil, 2000–2007 (em mil toneladas)

PRODUTOS 2000/ 2001

2001/ 2002

2002/ 2003

2003/ 2004

2004 /2005

2005/ 2006

2006/ 2007*

Grão 11.778 15.522 16.074 19.987 19.257 22.799 24.768Farelo 9.864 11.128 12.783 13.542 14.567 14.226 12.275Óleo 1.134 1.612 2.100 2.405 2.531 2.742 2.315Fonte: ABIOVE , 2005 * Previsão

Os valores monetários dessas exportações são apresentados na Tabela

9.13 Nesse período, o grão de soja, principal item de exportação do complexo, em

US$ milhões, passou de 2.188, em 2000, para 5.665, em 2006, portanto, mais que o

dobro do valor. Ressalta-se que, nesse mesmo período, o valor do óleo de soja

quase quadruplicou, passando de US$ 359 milhões para US$ 1.200 milhões. Esses

dados refletem a importância da cultura da soja para a economia brasileira.

Tabela 9 – Exportações do Complexo Soja, Brasil, 2000-2006 (Ano civil)

GRÃO FARELO ÓLEO ANO VOLUME

1000 ton VALOR

US$ milhõesVOLUME 1000 ton

VALOR US$ milhões

VOLUME 1000 ton

VALOR US$ milhões

2000 11.517 2.188 9.364 1.648 1.073 359

2001 15.676 2.726 11.271 2.065 1.625 506

2002 15.970 3.032 12.517 2.199 1.934 778

2003 19.890 4.290 13.602 2.602 2.486 1.233

2004 19.248 5.395 14.486 3.271 2.517 1.382

2005 22.435 5.345 14.422 2.865 2.743 1.267

2006 24.956 5.665 12.332 2.418 2.419 1.200Fonte: ABIOVE , 2005

Com o objetivo de demonstrar a importância que a soja representa não

apenas em termos de valor de produção mas, também, em área cultivada, para o

Brasil, Nordeste e Bahia, respectivamente, podemos analisar as Tabelas 10, 11 e

12, a seguir, que indicam área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor

da produção para os principais cereais, leguminosas e oleaginosas produzidos no

Brasil, Nordeste e Bahia, por ordem decrescente de área colhida, para 2006, nas

13 Para uma serie histórica a partir de 1992, referente aos três produtos, por volume de exportações,

e por valor por tonelada e valor total das exportações, por ano, ver a Tabela 67 (Apêndice B).

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quais se observa que, no que se refere ao Brasil e à Bahia, a soja é a principal

oleaginosa cultivada, ficando em terceiro lugar apenas quando avaliada em relação

à região Nordeste.

Tabela 10 – Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da produção dos principais cereais, leguminosas e oleaginosas, em ordem decrescente de área colhida, Brasil, 2006

ÁREA PRODUÇÃO PRINCIPAIS PRODUTOS PLANTADA

(ha) COLHIDA

(ha) QUANTIDADE

(ton) VALOR

(R$ mil) Soja (em grão) 22.082.666 22.047.349 52.464.640 18.470.711Milho (em grão) 12.996.355 12.612.077 42.662.578 9.955.217Feijão (em grão) 4.242.159 4.033.068 3.455.918 3.555.058Arroz (em casca) 3.008.695 2.969.444 11.524.434 4.304.182Trigo (em grão) 1.770.945 1.560.178 2.464.936 991.602Algodão herbáceo (em caroço) 910.382 898.008 2.898.721 2.831.274Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal, 2006 (BRASIL, 2007)

Tabela 11 – Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da produção dos principais cereais, leguminosas e oleaginosas, em ordem decrescente de área colhida, Região Nordeste do Brasil, 2006

ÁREA PRODUÇÃO PRINCIPAIS PRODUTOS PLANTADA

(ha) COLHIDA

(ha) QUANTIDADE

(ton) VALOR

(R$ mil) Milho (em grão) 2.867.101 2.722.256 3.168.720 1.074.870Feijão (em grão) 2.347.132 2.173.986 1.043.412 1.030.796Soja (em grão) 1.488.313 1.487.915 3.467.918 1.215.575Arroz (em casca) 733.443 714.898 1.110.479 451.440Algodão herbáceo (em caroço) 309.186 302.758 885.996 872.234Mamona (baga) 146.310 138.382 83.223 49.408Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal, 2006. (BRASIL, 2007)

Tabela 12 – Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da produção dos principais cereais, leguminosas e oleaginosas, em ordem decrescente de área colhida, Estado da Bahia, 2006

ÁREA PRODUÇÃO PRINCIPAIS PRODUTOS PLANTADA

(ha) COLHIDA

(ha) QUANTIDADE

(ton) VALOR

(R$ mil) Soja (em grão) 872.600 872.600 1.991.400 712.002Milho (em grão) 798.896 720.898 1.126.295 347.520Feijão (em grão) 738.640 636.939 357.625 311.224Algodão herbáceo (em caroço) 242.066 242.066 810.253 808.198Mamona (baga) 116.278 108.835 68.558 41.117Sorgo Granífero (em grão) 48.105 47.284 70.213 17.755Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal, 2006 (BRASIL, 2007)

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A Tabela 13 indica a área plantada, área colhida, quantidade produzida e

valor da produção de soja, segundo as grandes regiões e os Estados do Brasil para

2006. Observa-se que a Bahia participa com 3,95% do total da produção nacional

em área plantada. Em relação ao valor da produção total do Brasil, o Norte participa

com 2,5%, o Nordeste com 7%, o Sudeste com 9%, o Sul com 38,4% e o Centro-

Oeste com 44%; merecem destaque, ainda, os Estados do Mato Grosso, com 24%,

e Paraná, com 21%.

Tabela 13 – Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da produção de soja (em grão), Grandes Regiões e Estados do Brasil, 2006

ÁREA PRODUÇÃO BRASIL, GRANDES REGIÕES E ESTADOS PLANTADA

(ha) COLHIDA

(ha) QUANTIDADE

(ton) VALOR

(R$ mil) BRASIL 22.082.666 22.047.349 52.464.640 18.470.711NORTE 517.943 508.238 1.262.418 465.446 Rondônia 103.110 103.110 273.701 101.817 Acre 20 20 24 12 Amazonas 2.258 2.208 5.138 1.329 Roraima 11.000 11.000 30.800 12.936 Pará 72.335 70.810 209.864 80.325 Tocantins 329.220 321.090 742.891 269.028NORDESTE 1.488.313 1.487.915 3.467.918 1.215.575 Maranhão 383.284 382.886 931.142 304.820 Piauí 232.009 232.009 544.086 197.920 Ceará 300 300 1.026 701 Alagoas 120 120 264 132 Bahia 872.600 872.600 1.991.400 712.002SUDESTE 1.665.966 1.661.713 4.102.075 1.622.905 Minas Gerais 1.009.366 1.005.113 2.453.975 964.585 São Paulo 656.600 656.600 1.648.100 658.320SUL 8.131.849 8.126.984 17.721.001 7.089.975 Paraná 3.931.721 3.931.721 9.362.901 3.861.527 Santa Catarina 331.627 331.537 798.809 334.978 Rio Grande do Sul 3.868.501 3.863.726 7.559.291 2.893.470CENTRO-OESTE 10.278.595 10.262.499 25.911.228 8.076.809 Mato Grosso do Sul 1.907.688 1.903.852 4.153.542 1.462.176 Mato Grosso 5.822.867 5.811.907 15.594.221 4.442.820 Goiás 2.494.060 2.492.760 6.017.719 2.114.002 Distrito Federal 53.980 53.980 145.746 57.812

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal, 2006 (BRASIL, 2007)

O levantamento de área plantada e da produtividade, além de volume de

produção da soja, para o Brasil, por regiões e Estados, é feito também pela Conab,

do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A Tabela 14, a seguir,

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mostra os dados mais recentes de área plantada: nota-se que houve uma queda na

safra 2006/07 para todas as regiões, exceto para o Sul, que apresenta uma

expansão de 1,2%, representado principalmente pelo Estado de Santa Catarina.

Essa queda geral está articulada ao contexto do mercado internacional e à

tendência de queda nos preços das commodities. A Bahia apresentou uma redução

relativamente pequena, de 2,5%.

Tabela 14 – Área plantada de soja no Brasil, por regiões e Estados, 2005/06–2006/07

(em mil hectares) REGIÃO/UF SAFRA 20005/06 SAFRA 2006/07 VARIAÇÃO %

NORTE 517,5 496,5 -4,1 RR 20,0 20,0 – RO 106,4 94,7 -11,0 AM 1,9 1,9 – PA 79,7 79,7 – TO 309,5 300,2 -3,0NORDESTE 1.487,1 1.465,3 -1,5 Ma 382,5 382,5 – PI 232,0 232,0 – BA 872,6 850,8 -2,5CENTRO-OESTE 10.353,6 9.015,4 -12,9 MT 5.891,5 5.007,8 -15,0 MS 1.919,1 1.765,6 -8,0 GO 2.489,0 2.190,3 -12,0 DF 54,0 51,7 -4,3SUDESTE 1.717,5 1.433,4 -16,5 MG 1,060,9 908,1 -14,4 SP 656,6 525,3 -20,0SUL 8.153,6 8.249,6 1,2 PR 3.928,5 3.967,8 1,0 SC 339,5 376,8 11,0 RS 3.885,6 3.905,0 0,5NORTE/NORDESTE 2.004,6 1.961,8 -2,1CENTRO-SUL 20.224,7 18.698,4 -7,5BRASIL 22.229,3 20.660,2 -7,1

Fonte: CONAB. Avaliação da Safra Agrícola 2006/2007 (BRASIL, 2006)

A produtividade da cultura da soja no Brasil também é um importante

indicador a ser analisado, pois se reflete na competitividade do produto. A Tabela 15

indica percentuais de produtividade da soja entre as duas últimas safras produzidas

no Brasil, por regiões e Estados, onde se destaca a situação do Paraná, um antigo

produtor, como o Estado que teve o maior percentual de crescimento de

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produtividade, provavelmente pela introdução de novos métodos e processos

produtivos mais intensivos, decorrentes de estudos e pesquisas voltados para a

cultura da soja, desenvolvidos ao longo dos anos. Destacam-se, ainda, Piauí e Mato

Grosso do Sul, com incrementos de produtividade significativos, apontando para

novas áreas de expansão. Na Bahia, a produtividade da soja teve um incremento de

5,2%.

Tabela 15 – Produtividade da soja no Brasil, por regiões e Estados, 2005/06–2006/07

(em kg/ha) REGIÃO/UF SAFRA 20005/06 SAFRA 2006/07 VARIAÇÃO %

NORTE 2.480 2.666 7,5 RR 2.800 2.800 – RO 2.660 2.950 10,9 AM 3.000 2.786 -7,1 PA 2.987 2.845 -4,8 TO 2.263 2.520 11,4NORDESTE 2.395 2.528 5,6 Ma 2.680 2.680 – PI 2.347 2.750 17,2 BA 2.282 2.400 5,2CENTRO-OESTE 2.588 2.845 9,9 MT 2.695 2.920 8,3 MS 2.280 2.740 20,2 GO 2.570 2.755 7,2 DF 2.699 2.900 7,4SUDESTE 2.359 2.621 11,1 MG 2.340 2.680 14,5 SP 2.390 2.520 5,4SUL 2.174 2.459 13,1 PR 2.390 2.915 22,0 SC 2.400 2.520 5,0 RS 1.935 1.990 2,8NORTE/NORDESTE 2.416 2.563 6,1CENTRO-SUL 2.402 2.657 10,6BRASIL 2.403 2.648 10,2Fonte: CONAB. Avaliação da Safra Agrícola 2006/2007 (BRASIL, 2006)

Na Tabela 16, podemos analisar a variação percentual da produção de

soja no Brasil, por regiões e Estados, entre as duas últimas safras. Observa-se que

o Estado do Piauí, com uma variação de 17,2%, e o Mato Grosso do Sul, com

10,6%, podem estar representando uma nova fronteira agrícola para a cultura da

soja no país. Em relação à Bahia, temos um baixo crescimento, de apenas 2,5%,

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podendo indicar uma fase de maturidade da cultura. Destacam-se, ainda, Paraná e

Santa Catarina, com incrementos na produção de 23,2% e 16,5%, respectivamente,

decorrentes do alcance de uma maior produtividade, conforme analisado na Tabela

15, para o caso do Paraná, e de uma maior área plantada, para o caso de Santa

Catarina, na Tabela 16.

Tabela 16 – Produção de soja no Brasil, por regiões e Estados, 2005/06–2006/07 (em mil toneladas)

REGIÃO/UF SAFRA 20005/06 SAFRA 2006/07 VARIAÇÃO %

NORTE 1.283,2 1.323,9 3,2 RR 56,0 56,0 – RO 283,0 279,4 -1,3 AM 5,7 5,3 -7,0 PA 238,1 226,7 -4,8 TO 700,4 756,5 8,0NORDESTE 3.560,9 3.705,0 4,0 Ma 1.025,1 1.025,1 – PI 544,5 638,0 17,2 BA 1.991,3 2.041,9 2,5CENTRO-OESTE 26.795,5 25.644,7 -4,3 MT 15.877,6 14.622,8 -7,9 MS 4.375,5 4.837,7 10,6 GO 6.396,7 6.034,3 -5,7 DF 145,7 149,9 2,9SUDESTE 4.051,8 3.757,5 -7,3 MG 2.482,5 2.433,7 -2,0 SP 1.596,3 1.323,8 -15,6SUL 17.722,5 20.286,6 14,5 PR 9.389,1 11.566,1 23,2 SC 814,8 949,5 16,5 RS 7.518,6 7.771,0 3,4NORTE/NORDESTE 4.844,1 5.028,9 3,8CENTRO-SUL 48.569,8 49.688,8 2,3BRASIL 53.413,9 54.717,7 2,4Fonte: CONAB. Avaliação da Safra Agrícola 2006/2007 (BRASIL, 2006)

Analisando, especificamente, a Bahia em relação ao Nordeste, a

participação da área plantada de soja corresponde a 58,48% para o período

2006/07, representando uma redução, se comparada ao período 2000/01, que era

de 73,45%. Isto poderia apontar para uma fase de maturidade da cultura, após a

fase de expansão, que teve início nos anos 80, quando os produtores iniciam a

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diversificação da produção. (Tabela 17)14. Observa-se que, tanto em relação ao

Nordeste quanto em relação ao Brasil, esta participação relativa tem caído ao longo

dos anos, o que pode ser explicado pelo aumento de área plantada em outras

regiões do País.

Tabela 17 – Área plantada de soja/Participação Relativa, Estado da Bahia, Região Nordeste e Brasil, 2000/01–2006/07

(em mil hectares) ANO BAHIA NORDESTE BRASIL % BA/NE % BA/BR

2000/2001 690,6 940,2 13.685,2 73,45 5,05

2001/2002 800,0 1.125,1 16.324,4 71,10 4,90

2002/2003 850,4 1.236,9 17.956,3 68,75 4,74

2003/2004 821,5 1.323,3 21.375,8 62,08 3,84

2004/2005 870,0 1.442,1 23.301,1 60,33 3,73

2005/2006* 872,6 1.487,1 22.749,4 58,68 3,84

2006/2007** 850,8 1.454,9 20.639,5 58,48 4,12Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da CONAB * Preliminar **Previsão

* Preliminar **Previsão Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CONAB. Avaliação da Safra Agrícola 2006/2007. (BRASIL, 2006). Gráfico 2 – Área plantada de soja (em mil hectares), Bahia e Nordeste – 2000/2006

A mesma análise pode ser feita em relação à produção de grãos de

soja.15 A participação da Bahia em relação ao Nordeste teve uma redução de

71,84% no período 2000/01, para 60,52% no período 2006/07. (Tabela 18)

14 Para analisar o período de 1976-2007, ver Tabela 62 do Apêndice B. 15 Para analisar o período de 1976-2007, ver Tabela 61 do Anexo A.

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Tabela 18 – Produção de grãos de soja/Participação Relativa, Estado da Bahia, Região Nordeste e Brasil, 2000/01–2006/07

(em mil toneladas) ANO BAHIA NORDESTE BRASIL % BA/NE % BA/BR

2000/2001 1.450,3 2.018,8 37.218,3 71,84 3,892001/2002 1.464,0 2.096,0 41.906,9 69,85 3,492002/2003 2.041,0 2.968,6 49.647,3 68,75 4,112003/2004 2.218,1 3.538,9 49.792,7 62,68 4,452004/2005 2.401,2 3.953,1 51.452,0 60,74 4,662005/2006* 1.991,3 3.560,9 55.027,1 55,92 3,622006/2007** 2.297,2 3.795,8 58.039,9 60,52 3,96Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da CONAB * Preliminar **Previsão

* Preliminar; ** Previsão Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados da CONAB, 2006.

Gráfico 3 – Produção de grãos de soja (em mil ton), Bahia e Nordeste – 2000/2006

Vejamos, agora, a contextualização da cultura da soja, especificamente,

no Oeste da Bahia, objeto de estudo desta pesquisa, inclusive com uma análise

histórica da sua formação enquanto aglomerado.

3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OESTE BAIANO

Os povoados do Oeste da Bahia foram incorporados à dinâmica da

economia colonial durante o século XVIII, quando a descoberta de metais e pedras

preciosas, em Minas Gerais e Goiás, promoveu a criação de uma importante rota

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comercial interligando as zonas de garimpo e mineração a Salvador. Este fato

favoreceu um movimento populacional e uma estruturação territorial até então não

vista na região, transformando o cenário da época. Assim, os povoados do Oeste

baiano encontraram perspectivas de desenvolvimento comercial devido à sua

localização estratégica.

No início do século XIX, com a crise da economia mineira, a região do

Oeste da Bahia passa a se desenvolver a partir da atividade de navegação fluvial,

no sentido de distribuição das populações e atividades locais, com o incremento das

comerciais. Cidades portuárias como Barreiras, Formosa do Rio Preto e Santa Maria

da Vitória, que até então eram apenas vilas, começaram a se desenvolver,

centralizando o comércio de mercadorias vindas de Salvador para o sertão de Goiás,

e a organizar o transporte dos produtos pecuários aí produzidos até os centros

consumidores, localizados em Barra e Jacobina. (UDERMAN, 1992).

Nessa época, a ocupação econômica dos cerrados estava vinculada

também à criação extensiva de gado bovino, com predominância de atividades de

produção rural, a exemplo do látex da mangabeira, que era utilizado como matéria-

prima para a produção da borracha. Esta atividade se desenvolveu na década de

1880 incorporando áreas até então utilizadas apenas para a exploração de madeira.

No final do século XIX, ao lado da pesca, caça, artesanato, comércio de

peles e das culturas de subsistência dos vales (feijão, milho e mandioca), a

produção de matérias-primas agroindustriais ajudou a definir um novo perfil para a

economia local, que começou a se diversificar através do beneficiamento de

produtos agropecuários. Além disso, a primeira atividade industrial local decorreu da

implantação de uma indústria têxtil, apoiada na produção local de algodão arbóreo.

Entretanto, segundo Uderman (1992), nenhuma dessas atividades

chegou a produzir um surto de desenvolvimento regional, de forma que a ocupação

econômica dos cerrados apresentou um ritmo de expansão vagaroso e a articulação

dos povoados à dinâmica da economia regional se deu de modo específico,

obedecendo a determinações históricas que fazem das atividades agrárias o centro

de acumulação de capital local.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a construção de um aeroporto

internacional em Barreiras, financiada pelos Estados Unidos por objetivos

estratégicos do conflito, veio proporcionar a comercialização de látex em maior

escala. Barreiras passa, então, a ser um centro de distribuição do correio para áreas

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vizinhas. Além disso, a implantação de uma agência do Banco do Brasil estimula

transações econômicas intra e inter-regionais. (UDERMAN, 1992).

A construção de Brasília, concluída em 1960, também veio promover uma

nova forma de integração do Oeste da Bahia à lógica de funcionamento da

economia nacional. A implantação de uma malha rodoviária que visava aproximar

Brasília de área vizinhas, bem como das capitais dos principais estados brasileiros,

atrelou o desenvolvimento do Oeste baiano à ocupação econômica do Brasil

Central.

Inicia-se uma nova fase, de grandes investimentos, em 1966, com a

inauguração da hidrelétrica de Correntina. Em 1969, o governo instala em Barreiras

o 4º Batalhão de Engenharia e Construção (BEC), com diversos projetos, inclusive

de novas estradas, incrementando o mercado de trabalho regional e gerando um

fluxo de renda até então não visto na região.

Em meados dos anos 70, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do

São Francisco (CODEVASF), uma autarquia federal, implanta o perímetro de

irrigação Barreiras–São Desidério, contribuindo para o desenvolvimento do mercado

local de produtos e serviços. Esse desenvolvimento se dá de forma mais intensa na

cidade de Barreiras, privilegiada na distribuição de gastos públicos e no traçado da

nova malha viária.

No início da década de 80, a 90 km da cidade de Barreiras, a implantação

de um posto de gasolina, com o nome de Mimoso, dá origem ao distrito de Mimoso

do Oeste que, mais tarde virá a se emancipar com o nome de Luis Eduardo

Magalhães. Até então, a localidade era praticamente desabitada, devido à pouca

valorização das terras, mas, com a instalação do posto, deu-se início à construção

das primeiras casas no seu entorno.Com o desenvolvimento da agricultura moderna,

especialmente do cultivo da soja, em plena expansão na década de 80, de acordo

com Silva & Silva (2003), o proprietário do posto, natural de Goiás, percebeu a

necessidade da criação de uma agrovila próxima à fronteira agrícola, e planejou o

loteamento Rancho Grande, em uma área de 5.450m2, com espaços reservados

para escolas, hospitais, rodoviária, posto telefônico, agência bancária, igreja; tudo o

que uma comunidade necessitasse para viver bem.

A Prefeitura de Barreiras aprovou o loteamento, reservando, ainda, uma

área de 216.380,55m2 para áreas verdes, praças, bosques e jardins, que seria

incorporada ao patrimônio municipal. Em 1986, um decreto municipal alterou o seu

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nome de “Rancho Grande” para “Mimoso do Oeste”, nome pelo qual já era

conhecido.

De acordo com Silva e Silva (2003), o sucesso da nova fronteira agrícola

fez com que esse povoado, em pouco tempo, adquirisse configuração de cidade,

primeiro, porque já nascera planejado e, segundo, porque as pessoas que para lá

foram, de um modo geral, tinham ido para ficar, um dado de grande importância

porque, como moradores, essas pessoas passaram a reivindicar a implantação e

instalação de equipamentos urbanos capazes de proporcionar o máximo de bem

estar possível na nova localidade onde viviam.

Em 1997, o povoado foi elevado à categoria de distrito; em 1998, o distrito

de Mimoso do Oeste passou a se chamar Luis Eduardo Magalhães; e em 2000,

considerado como um dos mais ricos do Brasil, foi então emancipado, nascendo o

município de Luis Eduardo Magalhães.

Ainda no final dos anos 70, se deu a introdução da sojicultura no Oeste da

Bahia, região de cerrados, definindo um intenso processo de reestruturação da

economia local. A difusão das modernas técnicas de produção de soja ocorreu de

forma muito rápida, surgindo facilidades, até então inexistentes, na organização

econômica regional, decorrente, em grande parte, da eficiência com a qual

entidades cooperativas e empresariais, que se instalaram na região, conduziram o

processo de reestruturação das normas produtivas vigentes. (UDERMAN, 1992).

Atraídos pelo, ainda baixo, preço das terras no Oeste da Bahia e

estimulados pelo sucesso da produção de soja em áreas de cerrado próximas, a

exemplo de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, alguns agricultores da Região Sul

do Brasil começaram a chegar à região ainda carente da infra-estrutura mínima que

viabilizasse a sua permanência em caráter mais definitivo.

Na década de 80, entretanto, dentre os programas governamentais

voltados para o desenvolvimento da agricultura nos cerrados do Brasil, o que mais

teve influência sobre o Estado da Bahia, conforme já foi analisado, foi o

PRODECER. Através desse Programa, a Bahia foi beneficiada com dois projetos no

Oeste, ambos em Formosa do Rio Preto, que privilegiaram a cultura da soja.

De acordo com a Campo os dois projetos desenvolvidos pelo

PRODECER na Bahia, com as principais características de cada um, são os

seguintes:

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a) Projeto de Colonização Brasil Central

Localização: Formosa do Rio Preto Cooperativa: COOPERATIVA AGRÍCOLA DO CERRADO BRASIL CENTRAL LTDA. (COACERAL).

Características do projeto: Área Total: 15.028 hectares Produtores Assentados: 38 Produção / ano: 24.500 toneladas Valor da Produção: US$ 6.370.000,00 Geração de Impostos: US$ 1.115.000,00 Geração de Empregos: diretos - 2.000 / indiretos - 4.000 Valor do Investimento: US$ 24.000,00 Agente Financeiro: Banco de Desenvolvimento da Bahia (BASENBANCO) Área Irrigada: Potencial para 1.800 hectares.

Infra-estrutura: Silos Graneleiros para 24.200 toneladas, Armazém de Insumos com 3.000 metros quadrados, Unidade Beneficiadora de Sementes com capacidade para 50.000 sacas, Balança Rodoviária, Secadores, Máquinas de Pré-Limpeza, Escritório, Residências.

b) Projeto de Colonização Ouro Verde

Localização: Formosa do Rio Preto Cooperativas: COOPERATIVA AGRÍCOLA DE COTIA (CAC) – COOPERATIVA CENTRAL e COOPERATIVA AGRÍCOLA DO OESTE DA BAHIA LTDA (COPROESTE)

Características do projeto: Área Total: 16.404 hectares Produtores Assentados: 48 Produção / ano: 26.830 toneladas Valor da Produção: US$ 6.700.000,00 Geração de Impostos: US$ 1.170.000,00 Geração de Empregos: diretos - 1.600 / indiretos - 3.200 Valor do Investimento: US$ 26.000.000,00 Agente Financeiro: Banco do Brasil S/A. Área Irrigada: 846 hectares.

Infra-estrutura: Silos Graneleiros para 24.200 toneladas, Armazém de Insumos com 3.000 metros quadrados, Unidade Beneficiadora de Sementes com capacidade para 50.000 sacas, Balança Rodoviária, Secadores, Máquinas de Pré-Limpeza, Escritório, Residências.

Assim, considerando o resultado dessa experiência do PRODECER,

verifica-se um considerável impulso à agricultura tanto brasileira quanto a do Oeste

da Bahia, o que viabilizou, também, um grande desenvolvimento da agroindústria.

Apesar disso, conforme será analisado adiante, existe ainda um grande

descompasso entre as dimensões produtiva, de infra-estrutura e institucional.

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A importância atual do Oeste baiano na produção nacional de oleaginosas

pode ser visualizada na Tabela 19, que indica área plantada, área colhida,

quantidade produzida e valor da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas,

em ordem decrescente de valor da produção, segundo os principais municípios

produtores do Brasil, em 2006, onde foram destacados os municípios pertencentes

ao Oeste do Estado da Bahia, com a respectiva classificação de cada um deles.

Observa-se que cinco municípios da Bahia estão entre os trinta principais municípios

produtores de oleaginosas do Brasil.

Tabela 19 – Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da produção dos principais municípios produtores de cereais, leguminosas e oleaginosas, em ordem decrescente de valor da produção, considerando uma ordem de classificação nacional, Estado da Bahia, 2006

ÁREA PRODUÇÃO

OR

DEM

PRINCIPAIS MUNICÍPIOS PLANTADA

(ha) COLHIDA

(ha) QUANTIDADE

(ton) VALOR

(R$ mil) 01 São Desidério 428.340 427.090 1.038.342 659.26910 Barreiras 220.507 219.832 535.214 302.17920 Luis Eduardo Magalhães 172.320 171.820 420.165 208.15726 Formosa do Rio Preto 138.760 138.560 325.828 169.67630 Correntina 142.343 142.193 360.545 156.046Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal, 2006 (BRASIL, 2007)

Esses mesmos municípios são apresentados a seguir, na Tabela 20, com

os respectivos dados referentes à cultura da soja. Dentre eles, o que mais se

destaca é São Desidério, que ocupa o nono lugar na produção nacional.

Tabela 20 – Área colhida, quantidade produzida e valor da produção dos principais municípios produtores de soja, em ordem decrescente de valor da produção, considerando uma ordem de classificação nacional, Estado da Bahia, 2006

PRODUÇÃO

ORDE

M PRINCIPAIS MUNICÍPIOS

ÁREA COLHIDA

(ha) QUANTIDADE

(ton) VALOR

(R$ mil) 09 São Desidério 270.870 617.583 221.09522 Barreiras 147.400 336.072 120.31427 Luis Eduardo Magalhães 128.470 292.912 104.86239 Correntina 103.043 234.938 84.10841 Formosa do Rio Preto 99.160 226.085 80.938Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal, 2006 (BRASIL, 2007)

É importante destacar que a produção desses municípios corresponde, na

Bahia, à quase totalidade da produção de soja que se dá no Extremo Oeste (Tabela

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21). Considerando Barreiras, Formosa do Rio Preto, Luis Eduardo Magalhães e São

Desidério como os quatro principais municípios produtores de soja no Oeste da

Bahia, alcança-se uma área de 645.900ha, o que corresponde a 74% da produção

total de soja da Bahia.

Tabela 21 – Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da produção de soja, segundo as Mesorregiões, Microrregiões e os Municípios produtores do Estado da Bahia, 2006

ÁREA PRODUÇÃO MESORREGIÕES, MICRORREGIÕES E MUNICÍPIOS

PLANTADA (ha)

COLHIDA (ha)

QUANTIDADE (ton)

VALOR (R$ mil)

BAHIA 872.600 872.600 1.991.400 712.002EXTREMO OESTE BAIANO 870.000 870.000 1.983.600 709.389 Barreiras 725.000 725.000 1.653.000 591.774 Baianópolis 10.200 10.200 23.256 8.326 Barreiras 147.400 147.400 336.072 120.314 Formosa do Rio Preto 99.160 99.160 226.085 80.938 Luis Eduardo Magalhães 128.470 128.470 292.912 104.862 Riachão das Neves 68.900 68.900 157.092 56.239 São Desidério 270.870 270.870 617.583 221.095 Cotegipe 400 400 912 326 Cristópolis 400 400 912 326 Santa Maria da Vitória 144.600 144.600 329.688 117.289 Cocos 1.000 1.000 2.280 816 Correntina 103.043 103.043 234.938 84.108 Jaborandi 40.557 40.557 92.470 32.365VALE SÃO-FRANCISCANO BAHIA 2.600 2.600 7.800 2.613

Bom Jesus da Lapa 2.600 2.600 7.800 2.613 Serra do Ramalho 2.600 2.600 7.800 2.613Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal, 2006 (BRASIL, 2007)

A Figura 4, a seguir, ilustra a distribuição espacial das regiões produtoras

de soja no Oeste da Bahia, destacados os principais municípios produtores.

Fonte: Rede Baiana de Biocombustíveis

Figura 4 – Municípios produtores de soja no Oeste da Bahia

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Os dados mostram que as áreas plantada e colhida desses municípios

têm apresentado uma tendência crescente dos anos 90 em diante, após a

consolidação ocorrida nos anos 80, embora Barreiras tenha apresentado uma queda

a partir de 2000, até então não recuperada (Gráfico 4).16 Merece destaque o

crescimento da área de São Desidério, com uma média muito acima da regional.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE. Produção Agrícola Municipal. (BRASIL, 2007)

Gráfico 4 – Área plantada e colhida de soja nos principais municípios produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 1990-2006 (em ha)

Refletindo o gráfico anterior, no Gráfico 5, observamos, para esses

mesmos municípios, os dados referentes à quantidade produzida que podem estar

sinalizando a inflexão de um ciclo de expansão entre 2005 e 2006, quando todos os

municípios apresentam redução da quantidade produzida17, o que pode também

estar articulado com a queda dos preços internacionais.

Gráfico 5 – Quantidade produzida de soja nos principais municípios produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 1990-2006 (em ton.) Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE. Produção Agrícola Municipal. (BRASIL, 2007)

16 Para uma análise mais detalhada destes dados, incluindo também área plantada e colhida da

Bahia, Nordeste e Brasil, para este mesmo período, consultar as Tabelas 68 e 69 (Anexo A). 17 Para verificar a quantidade produzida de soja no Brasil, no Nordeste e na Bahia, para esse mesmo

período, consultar a Tabela 70 no mesmo anexo.

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É importante destacar que, em relação à quantidade produzida de soja,

em 1990, o Nordeste participava com 1,13% da produção do Brasil, e a Bahia, com

97,74% da produção do Nordeste. Entretanto, em 2006, o Nordeste aumentou a sua

participação relativa para 6,61%, em relação ao Brasil, mas o percentual da Bahia

em relação ao Nordeste reduziu para 57,42.18 Este fato é explicado pelos dados da

última safra, conforme demonstrado na Tabela 16, na qual se pode verificar que o

Piauí apresentou um crescimento de 17,2% em relação ao ano anterior, o que pode

estar significando o surgimento de uma nova fronteira agrícola, enquanto a Bahia

cresceu, apenas, 5,2%, levando, portanto, a uma diminuição relativa de sua

participação em relação ao Nordeste.

A seguir é apresentada a estrutura do complexo de soja, para que se

possa compreender como se dá a articulação entre os atores da cadeia, definindo o

tipo de transação que se caracteriza entre eles. Esta análise dá suporte, também, ao

estudo do tipo de governança que se apresenta em cada caso. Mais adiante, essa

estrutura é aplicada ao caso da agroindústria da soja no Oeste da Bahia, objeto de

estudo desta pesquisa.

3.3 ATORES, ARTICULAÇÕES NA CADEIA E COMPETITIVIDADE

Tomando como base o complexo agroindustrial brasileiro da soja,

pretende-se aqui abordar algumas questões genéricas inerentes a esse complexo,

para, mais adiante, tecer um comparativo com o estudo de caso, no Oeste da Bahia.

Assim, a seguir, é feito um mapeamento das transações da agroindústria da soja;

em seguida, uma análise do ambiente competitivo desse complexo; e, finalmente,

são desenhadas as estratégias competitivas identificadas.

3.3.1 MAPEAMENTO DAS TRANSAÇÕES

Analiticamente, o sistema agroindustrial da soja é aqui estudado a partir

dos atores e articulações que se desenvolvem ao longo da cadeia. Esta análise

toma como base o estudo “Competitividade do sistema agroindustrial da soja” de

Lazzarini & Nunes (1998), que mapeou a referida cadeia produtiva e os seus atores,

18 Ver Tabela 70 (Apêndice B).

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em abrangência nacional, e que é aplicado, mais adiante, para o Oeste da Bahia,

onde foram encontrados esses mesmos atores e articulações.

Na Figura 5, a seguir, cada segmento é representado por “caixas” e

interligado por transações sucessivas (T1, T2, T3...). Desta forma, analisemos a

representação esquemática do complexo agroindustrial da soja a partir dos seus

principais atores:

Figura 5 – Delimitação do sistema agroindustrial (SAG) da soja no Brasil Fonte: Lazzarini & Nunes (1998)

a) Indústria de insumos agrícolas

Representa a indústria de fertilizantes, defensivos, sementes, máquinas, e

similares e se relaciona diretamente com a produção agrícola. (Transação T1).

Com mais de 4.000 funcionários, 250 agrônomos e 60 mil clientes, a

principal empresa representativa dessa indústria no Brasil é a Bunge Fertilizantes,

que atua em todas as etapas da produção. Suas operações começam na mineração

de rocha fosfática e calcário, passam pelo processamento químico e vão até a

entrega do produto final: fertilizantes, calcário para correção do solo e componentes

para nutrição animal.

As suas jazidas estão localizadas em Cajati, São Paulo, e em Araxá,

Minas Gerais, extraindo por ano 1,4 milhão de toneladas de rocha fosfática. As 38

unidades industriais da Bunge Fertilizantes estão estrategicamente localizadas para

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melhor atender às demandas crescentes de fertilizantes, seja nos grandes centros

produtores ou nas plantações que formam as novas fronteiras agrícolas.

b) Produção Representa o segmento agrícola propriamente dito, transacionando “para

trás” com a indústria de insumos (T1) e “para frente” com indústrias esmagadoras

(T2), tradings (T3), cooperativas (T4) e outros intermediários – corretores,

armazenadores, etc. – (T5).

c) Originadores Esse neologismo designa a função de algumas empresas de

coordenação do suprimento de matéria-prima. Refere-se a tradings, cooperativas,

corretoras e armazenadores que atuam em contato direto com os produtores, no

processo de aquisição, armazenagem e distribuição de produtos. Na maioria dos

casos o estágio de “originação” encontra-se verticalmente integrado ao de

esmagamento (T8).

Tradings assumem função especial porque coordenam a transferência

física de produtos no mercado nacional e internacional, transacionando com

produtores/cooperativas, de forma a adquirir matéria-prima (T3) e efetuar vendas

para o mercado externo (T9), podendo atuar também como prestadoras de serviço

para indústrias esmagadoras (T7) e cooperativas (T6), nas suas vendas

internacionais (T9), embora muitas dessas organizações apresentem departamentos

internos de trading.

Já as corretoras e os armazenadores atuam mais fortemente como

prestadores de serviços a indústrias esmagadoras e, até mesmo, tradings, na

formação de lotes de matéria-prima para venda oriunda do segmento produtivo (T5).

d) Indústria esmagadora, refinadoras e produtores de derivados de óleo

Com uma tonelada de soja se produz, aproximadamente, 0,78 ton. de

farelo e 0,19 ton. de óleo. Parte do farelo é exportado pelas indústrias, seja por meio

de tradings (T7), seja diretamente, por meio de seus departamentos comerciais

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internos – a transação T11 representa a possibilidade de importação de soja em

grãos em regime de draw back19. O farelo remanescente é vendido, no mercado

interno, para a indústria de rações (T12), muitas vezes integrada verticalmente à

indústria de carnes e, mesmo, em alguns casos, à indústria processadora de soja.

No caso do óleo, o seu processamento, a partir da soja, segue

basicamente as seguintes etapas: esmagamento, degomagem e refino (envolvendo

os estágios de neutralização, branqueamento e desodorização), sendo que o óleo

parcialmente refinado pode ser transformado por meio de hidrogenação em produtos

mais elaborados, como margarinas, maionese e gorduras vegetais (Figura 6). A

Figura 7 indica as principais utilizações do óleo de soja.

Tais produtos, incluindo o óleo de soja refinado, são mais fortemente

direcionados ao mercado interno, por meio de distribuidores atacadistas e varejistas

(T17). Algumas indústrias apresentam todos estes estágios na sua planta industrial,

e, portanto, neste caso, a transação com o segmento de derivados de óleo (T10) se

dá internamente (integração vertical).

Figura 6 – Etapas do processo de produção na indústria de esmagamento e derivados de óleo de soja Fonte: Lazzarini & Nunes (1998)

19 Diretamente do mercado externo para as esmagadoras.

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Figura 7 – Principais utilizações do óleo de soja Fonte: Câmara (2006)

Produtos processados podem também ser direcionados a outras

indústrias (T15), como, por exemplo: óleo e gorduras, para as indústrias de

alimentos em geral e para a indústria química e farmacêutica; lecitina de soja (obtida

a partir de fosfolipideos do óleo), para a indústria de alimentos – chocolates,

margarinas, biscoitos, suplementos dietéticos, etc. – sendo também direcionada para

outras indústrias, como a química e farmacêutica; e óleo, para fins energéticos (o

chamado “biodiesel”), e assim por diante.

A Bunge Alimentos20, uma das mais importantes empresas do setor, atua

desde a aquisição do grão até a produção de alimentos para o consumidor final.

Presente no Brasil desde 1905, é a mais importante empresa na industrialização de

soja e trigo, líder na comercialização de grãos como soja, trigo, milho, sorgo, girassol

e semente de algodão e, também, na exportação brasileira, no agronegócio.

Presente em dezesseis Estados brasileiros, com unidades industriais, de

armazenamento, moinhos, centros de distribuição, escritórios e terminais portuários,

sua sede fica em Gaspar, Santa Catarina. Apresenta um faturamento anual em torno 20 É a maior processadora de trigo da América Latina, comprando e beneficiando cerca de dois

milhões de toneladas do grão por ano.

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de R$ 12 bilhões e emprega diretamente, aproximadamente, 7.000 pessoas. A

Bunge Alimentos compra de mais de trinta mil produtores rurais um volume em torno

de 15 milhões de toneladas de soja, além de trigo, milho e caroço de algodão, e se

relaciona regularmente com clientes em quase trinta países.

A cadeia da soja produz farelo, óleo degomado, óleo refinado especial

para as indústrias e para o consumidor final, margarinas, maioneses e vários tipos

de formulação de gorduras vegetais para as indústrias de alimentação. A empresa é

líder no mercado nacional de óleos vegetais, margarinas, gorduras vegetais, farinhas

industriais e pré-misturas para panificação.

Os principais produtos da Bunge Alimentos são, tendo em vista a sua

clientela:

Consumidor final – Óleos vegetais refinados: Soya (soja), Primor (soja) e

Salada (soja, canola, girassol, milho, caroço de algodão); Azeite de oliva:

Salada (puro e extra-virgem); Margarinas: Delícia, Primor, Mila e Soya;

Maioneses: Delicia, Primor e Soya

Panificação e Food Service – Pré-mistura: Bunge Pró (pré-mescla) e

Bentamix; Margarinas: Bunge Pró (Suprema, Cukin e Rica); Margarinas

Soya e Primor; Maioneses: Soya e Primor; Farinhas de trigo: Bunge Pró

(massas, biscoitos e panificação); Farinha de soja: Prosan; Proteína

texturizada: Soya Maxten

Especialidades – Óleo bruto de soja; Óleo degomado de soja; Lecitinas

Tocoferol; Ácidos graxos; Gorduras vegetais; Gérmen de trigo; Línter

(celulose e fibras de caroço de algodão)

Ingredientes de nutrição animal – Farelo de soja (incluindo o de alto

teor de proteína); Farinha de soja; Casquinha de soja; Casquinha de

algodão; Farelo de algodão; Óleo de caroço de algodão; Farelo de trigo;

Farelo remoído de trigo; Milho em grão; Sorgo em grão

Rações animais – Vitosan; Sano

A Cargill é outra empresa esmagadora presente no Brasil desde 1965. A

empresa tem raízes ligadas ao segmento do agronegócio, mas é também uma das

mais importantes indústrias de alimentos do país. A sua matriz fica em São Paulo,

mas possui fábricas e escritórios em mais de 160 cidades, com cerca de 6.500

funcionários. O seu faturamento anual, para 2003, foi de aproximadamente R$ 10,8

bilhões.

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Atualmente, a Cargill comercializa várias linhas de produtos voltados ao

consumidor final. No Brasil, os produtos são os seguintes:

Óleos Liza: soja, milho, girassol, canola e Liza Nutriplus; Molhos para Salada Liza;

Óleo de Canola Purilev; Molhos para Salada Purilev; Óleo de Milho Mazola; Óleo de

Soja Veleiro; Linha Olívia; Azeites Gallo; Azeites La Espanola; Azeite Quinta dos

Olivais

No que se refere à Unidade de Negócios do Complexo Soja:

[...] a Cargill tem uma estrutura de comercialização de grãos integrada por terminais portuários, unidades processadoras, armazéns e unidades de compra localizadas nos maiores centros produtores. São mais de 120 filiais de compra de soja espalhados pelas regiões do Brasil, através dos quais a empresa adquire os grãos que são processados em suas fábricas ou exportados através de seus terminais. Com o processamento da soja são produzidos óleo bruto, óleo degomado, óleo refinado e farelo de soja.21

As Figuras 8, 9 e 10, a seguir, demonstram, respectivamente, os produtos

derivados do grão, do óleo e do farelo.

Figura 8 – Produtos derivados do grão de soja Fonte: Câmara (2006)

21 Dados disponíveis em: <http://www.cargillsoja.com.br/Quem%20somos/default.aspx>.

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Figura 9 – Produtos derivados do óleo de soja Fonte: Câmara (2006)

Figura 10 – Produtos derivados do farelo de soja Fonte: Câmara (2006)

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É importante destacar que, no Brasil, grandes empresas de carnes

apresentam unidades industriais internas que lidam com o processamento de soja a

fim de suprir a fabricação de rações para produtores em troca da entrega futura de

um determinado número de aves ou suínos, por exemplo; isto ocorre com a Sadia,

Perdigão, Ceval, Granja Rezende, etc. (LAZZARINI & NUNES, 1998).

a) Distribuidores Representados pelos segmentos atacadista e varejista, efetuam a ponte

entre a indústria esmagadora e de derivados de soja (T17) e os consumidores finais

(T18), recebendo também, indiretamente, outros produtos de soja por meio da

indústria de rações/carnes (T14) e de outras indústrias em geral (T16).

b) Consumidores finais Envolvem tanto compradores industriais nas vendas externas de tradings

e indústrias processadoras, quanto consumidores finais de derivados de óleo e

carnes, no mercado interno.

3.3.2 ANÁLISE DO AMBIENTE COMPETITIVO

Caracterizando o sistema agroindustrial (SAG) da soja para fins de

análise do ambiente competitivo, em termos gerais, temos, que os produtos dele

derivados podem ser agrupados em quatro tipos conforme Lazzarini & Nunes (1998):

a) Commodities para o mercado externo São os produtos menos diferenciados e comercializados em grandes

volumes no mercado internacional, destacando-se o farelo de soja, a soja em grãos

e o óleo bruto e refinado. Apesar do crescimento das exportações de grãos, o farelo

é a principal commodity a se destacar no comércio internacional, enquanto o óleo é

mais direcionado para o consumo interno, muito embora uma parte significativa seja

exportada, especialmente, na forma de óleo bruto.

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Os mercados para essas três commodities apresentam particularidades,

porém as regras de competição são basicamente as mesmas, fundamentadas em

aspectos de preços e arbitragem inter e intramercados. O referencial internacional

de preços é a Bolsa de Chicago (Chicago Board of Trade), permitindo a montagem

dos mais diversos tipos de operação envolvendo compra e venda física das

commodities associadas a negociações de contratos derivativos.

Entretanto, apesar da competitividade com base em preços, determinados

padrões qualitativos têm recebido crescente atenção no cenário internacional. Por

exemplo, com base em lotes de soja recebidos no Japão e na Europa, estudos

evidenciaram que os produtos oriundos do Brasil apresentam vantagens qualitativas

relacionadas a um maior teor de óleo e proteína e um menor teor de impurezas,

quando comparados a lotes da Argentina e dos Estados Unidos, conforme dados da

Tabela 24, a seguir. Entretanto, apresentam desvantagens associadas a maiores

teores de umidade e ácidos graxos livres, que são prejudiciais ao processo de refino,

e a grãos avariados.

Tabela 22 – Comparação entre atributos de qualidade de lotes de soja em grãos no mercado internacional, oriundos dos Estados Unidos, Argentina e Brasil ATRIBUTOS (em %) ESTADOS UNIDOS ARGENTINA BRASIL

Teor de Óleo 19,0 18,8 20,2Teor de Proteína 35,3 35,4 35,9Impurezas 2,0 0,8 0,7Ácidos Graxos Livres 0,6 0,8 1,2Umidade 11,4 11,7 11,8Grãos e Avariados 1,4 N/d 3,2Fonte: Lazzarini & Nunes (1998) Obs.: Os dados de Brasil e Argentina indicam valores estatisticamente diferentes dos Estados Unidos a um nível de significância de 1%. Obs.: Os atributos foram mensurados com base em dados de embarque para o Japão e Europa (Oeste), no período de 1988-92, com exceção dos grãos avariados que foram mensurados com base em dados de embarques para o Japão, no período de 1972-92.

Outro aspecto que deve ser levado em consideração, diz respeito à

necessidade de identificação da origem do produto e do padrão tecnológico

envolvido, principalmente no caso de soja com genes modificados, oriunda de

biotecnologia, que não tem sido muito bem aceita em mercados internacionais.

Assim, a identificação da origem do produto e a adequação das suas características

qualitativas mostram-se, cada vez mais, como variáveis chave de competição, até

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mesmo no mercado de commodities, onde o preço costuma imperar sobre outras

variáveis de concorrência.

No mercado de grãos, a atratividade das vendas externas não se dá

apenas pela política protecionista de países desenvolvidos privilegiando a

importação de matérias-primas vis-à-vis à de produtos processados. Na verdade, a

atratividade das exportações de grãos pode ser explicada, em grande parte, pela

própria ineficiência de muitas processadoras nacionais – capacidade ociosa,

logística desfavorável, etc. – além do alto custo de carregamento de estoques de

soja no Brasil e dos juros elevados, etc. Assim, a adição de valor ao produto por

meio de processamento pode não necessariamente gerar margens adicionais ao

setor. Daí surgem as oportunidades de arbitragem em mercados internacionais.

No caso do farelo, estima-se um aumento da demanda mundial,

principalmente em função do consumo no Leste Asiático onde, pelo estímulo à

produção doméstica de carnes, deverá haver um aumento na demanda de farelo,

por ser um produto da demanda derivada das carnes. Ao mesmo tempo, havendo

uma redução do protecionismo na Comunidade Econômica Européia (CEE) sobre a

produção de carnes, espera-se um crescimento significativo na competitividade da

carne brasileira e, conseqüentemente, do farelo no consumo interno.

Outro fator que deve ser levado em consideração é a pressão competitiva

dentro do mercado de farelos protéicos, pois existem limitações nutricionais ao uso

de farelos alternativos ao da soja, como algodão e amendoim, para aves e suínos,

que respondem por grande parte do consumo de rações em nível mundial. Essa é

uma grande fonte de vantagem comparativa da soja em relação a outras

oleaginosas.

Já o mercado de óleo de soja tem uma competição intensa de produtos

substitutos. O crescimento do mercado de óleos “saudáveis”, com menor teor de

ácidos graxos saturados, como os óleos de canola e girassol, tem acirrado o

ambiente competitivo para o óleo de soja.

Entretanto, a maior pressão competitiva deve vir de óleos produzidos a

um custo mais baixo, como o de palma, que apresenta maior rendimento de óleo,

embora tenha menor rendimento de farelo. Países do Leste Asiático têm investido na

produção de óleo de palma, como Malásia e Indonésia. Assim, no mercado

internacional, o óleo de soja brasileiro encontra-se ameaçado pela pressão de

preços do óleo de palma e pelos atributos qualitativos dos óleos de canola e

girassol.

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b) Commodities para o mercado interno Destacam-se a soja em grãos, o farelo, direcionado para a indústria de

rações/carnes, e o óleo bruto e refinado, direcionados para posterior

reprocessamento.

A recuperação do poder aquisitivo dos consumidores brasileiros deverá

induzir a um aumento na demanda por bens com participação restrita na cesta de

consumo, como é o caso de carnes. Isto deverá impulsionar a indústria de

rações/carnes, para um aumento na demanda derivada de farelo. Assim, a recente

redução nas exportações de farelo pode não ser atribuída unicamente a uma

possível perda de competitividade do produto no mercado externo mas, também, a

um aumento na demanda interna. Em uma situação como a pós-Plano Real, por

exemplo, com demanda interna aquecida, juros elevados, câmbio desfavorável, etc.,

o mercado doméstico possibilitava maiores margens, em comparação ao mercado

externo, de forma que as exportações de farelo eram realizadas fundamentalmente

para realizar captação de recursos a juros mais baixos por meio de adiantamento de

contrato de câmbio (ACC).

A dinâmica da indústria de rações/carnes está cada vez mais impactante

na competitividade do sistema agroindustrial da soja no Brasil, em relação ao

mercado de farelo. Várias indústrias de carnes apresentam plantas próprias de

processamento de soja, e esse acirramento da competição interna tem induzido a

uma tendência de especialização de empresas em setores distintos.

No caso da commodity óleo, por exemplo, destinada ao mercado interno,

grande parte das empresas esmagadoras busca adicionar valor a este produto por

meio de refino, sendo que pouco mais de 50% da produção de óleo refinado destina-

se ao enlatamento ou transformação de derivados, sendo o restante vendido para

outras indústrias, especialmente alimentícias. (LAZZARINI; NUNES, 1998).

Entretanto, o mercado de óleo de soja, mesmo com marca, é altamente

competitivo e com pouco espaço para diferenciação. O aumento da oferta de óleo

para consumo final por parte das esmagadoras e refinadoras, associado à

característica altamente competitiva deste mercado, pode acabar gerando uma

tendência de redução de preços reais do produto, como aconteceu no período pós-

Plano Real.

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De acordo com Lazzarini & Nunes (1998), o nível de consumo de óleo no

Brasil, na década de 90, ficou estagnado em torno de 13 kg per capita, muito inferior

ao nível internacional que é de 20 kg. Uma explicação para este fato pode ser,

também, cultural, pois se as pessoas não tivessem o hábito de reutilizar o óleo,

poderia haver um crescimento considerável nesse mercado.

c) Produtos elaborados (de maior valor agregado) para o mercado interno

Refere-se aos produtos mais elaborados oriundos do óleo, geralmente

com maior grau de diferenciação (marca), como margarinas, halvarinas, cremes

vegetais, maioneses, molhos prontos, etc.

Com a perspectiva de aumento da renda da população, deverá haver uma

tendência à aquisição de hábitos de consumo de estratos superiores, em detrimento

de outros produtos menos diferenciados. Nesse sentido, tem-se já observado uma

tendência de aumento do consumo de produtos mais elaborados à base de óleo,

como, por exemplo, margarinas e maioneses.

Tem crescido, também, o mercado para óleos diferenciados, pelo

desenvolvimento de óleo de soja com menor teor de ácidos graxos saturados, além

da oferta de outros tipos de óleos, como canola e girassol, como linha de produtos

complementar das indústrias. A demanda por esses produtos advém de uma maior

sofisticação por parte dos consumidores com respeito a aspectos de saúde e

nutrição.

No mercado de margarinas, distinguem-se três tipos de produtos: as

margarinas propriamente ditas, os cremes vegetais e as halvarinas, que se

diferenciam, basicamente, pelo percentual de gordura que apresentam, girando em

torno de 82%, 63% e 43%, respectivamente, de acordo com Lazzarini & Nunes

(1998).

Assim, produtos com menor teor de gorduras, especialmente as

halvarinas, são tidos como os de maior potencial de mercado. Entretanto, as

inovações, incluindo a adequação de produtos a diferentes gostos de segmentos

específicos, é muito grande, pois, por exemplo, algumas empresas desenvolvem

margarinas para atender à cultura de uma determinada região.

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As maioneses também representam um mercado em expansão na linha

de produtos mais elaborados e prontos para o consumo. Embora as maioneses

tradicionais sejam dominantes no mercado, produtos light e com condimentos

especiais têm crescido.

Os molhos prontos (salad dressings) apresentam sinergias tecnológicas

com a produção de maioneses e também perspectiva de consumo crescente, porém

este é um mercado muito mais restrito e direcionado a consumidores de renda mais

elevada – grande parte desses molhos prontos é, ainda, importada.

Tanto no caso de maioneses quanto no de molhos prontos, algumas

empresas passam a focar canais de distribuição específicos, destinados a

restaurantes, redes de fast food, hotéis, etc., acondicionando os produtos em

embalagem de consumo único.

d) Outros produtos Refere-se a usos alternativos a partir da soja, com mercado de menor

dimensão e/ou ainda pouco definido, como as lecitinas; os derivados de soja para

uso em indústria alimentícia; derivados de soja para consumo humano final;

derivados para uso em indústria química; e para uso energético (biodiesel). A lecitina é resultante da extração e purificação de fosfolipídios do óleo de

soja. Este produto é utilizado como aditivo para outros alimentos (margarinas,

biscoitos, chocolates, suplementos dietéticos, leite em pó), bem como para ração

animal e outros produtos, como cosméticos e tintas.

O mercado mundial de lecitina se divide em dois: o de lecitina básica e

modificada, que é o maior mercado, porém o menos diferenciado e o mais

competitivo; e o da lecitina fracionada (obtida por meio da separação de frações de

fosfolipídios), um mercado mais diferenciado e de maior valor agregado, mas de

tamanho muito restrito, pois é direcionado para a indústria farmacêutica e cosmética.

Assim, pode-se avaliar o mercado de lecitina como de crescimento potencial.

A indústria de alimentos à base de soja pode ser dividida em vários

segmentos: gorduras vegetais hidrogenadas, usadas como componentes de vários

produtos alimentícios como biscoitos, pães, sorvetes, doces, chocolates, etc.; a

farinha desengordurada, usada como ingrediente para panificação, massas, cereais,

bebidas, etc., sendo também útil para certos processos industriais; as proteínas

isoladas (concentrado e isolado protéico), utilizadas como aditivo, especialmente

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para embutidos de carne; derivados de soja integral, como a farinha engordurada,

dentre outros.

O mercado de soja para o consumo humano tem crescido em países

desenvolvidos, envolvendo especialmente concentrados protéicos para consumo

final, molhos, leite de soja, bebidas e, até mesmo, grãos de soja. No Brasil, é um

mercado ainda restrito mas com potencial de crescimento.

Na indústria química, óleos e gorduras de soja têm características

químicas similares ao petróleo. Assim, atualmente, vêm sendo desenvolvidos

produtos derivados da soja para a indústria química com o “apelo” de serem de

origem biológica, portanto biodegradáveis e/ou resultantes de recursos naturais

renováveis. É o caso de plásticos, adesivos, solventes, lubrificantes, etc. Também

deve ser citada a peroxidase, obtida a partir da soja, que tem sido utilizada como

substituto orgânico de algumas substâncias em processos na indústria de papel e

celulose.

O biodiesel é resultante de óleos vegetais por meio de um processo

tecnológico relativamente simples chamado transesterificação. Além de ser oriundo

de fonte renovável, o biodiesel reduz sensivelmente problemas de emissão de

poluentes durante a combustão. Entretanto, segundo Lazzarini & Nunes (1998), o

potencial de óleos vegetais como fonte energética é discutível, pelo seu alto custo,

além de que outras oleaginosas, com maior teor de óleo, como a canola e a palma,

devem ser mais eficientes para essa produção.

3.3.3 ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

A indústria de processamento de soja no Brasil pode ser identificada,

segundo Porter (1986), com relação às estratégias competitivas, a partir de duas

linhas, liderança no custo e diferenciação de produtos, ambas definidas a partir do

tipo de mercado no qual a empresa atua, definindo ações específicas para ganhos

de competitividade, de forma que uma empresa pode apresentar os dois tipos de

linhas estratégicas, caracterizando uma situação intermediária, podendo dar um

maior direcionamento para uma das duas. (Quadro 2).

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LIDERANÇA EM CUSTOS DIFERENCIAÇÃO Características do mercado / produto

Poucos aspectos passíveis de diferenciação

Escolha direcionada por preços Importância de mercados

industriais

Demanda menos elástica Produtos de maior valor adicionado Atributos de qualidade específicos Mercados de consumo final

Produtos Commodities: grãos, farelo, óleo bruto, óleo refinado a granel, etc.

Produtos mais elaborados: margarinas, cremes vegetais, maionese, óleos diferenciados, etc.

Ações estratégicas

Busca de economias de escala Baixa capacidade ociosa Logística eficiente Inovação de processos

Segmentação de mercados Promoção (importância da marca) Inovação de produtos

Quadro 2 – Linhas estratégicas da indústria de processamento de soja Fonte: Lazzarini & Nunes, 1998

Assim, no caso de produtos com poucos aspectos passíveis de

diferenciação (commodities), geralmente direcionados para compradores industriais

e onde a escolha se dá via preços, a linha estratégica preponderante passa a ser a

liderança em custos, determinada por quatro ações:

Escala – os custos médios de esmagamento decrescem à medida que

aumenta o tamanho da planta industrial.

Capacidade ociosa – a sua redução contribui para a queda dos custos

médios, pela menor participação relativa dos custos fixos associados a

uma determinada planta. Essa é uma das principais fontes de ineficiência

da maior parte das indústrias, no Brasil, atualmente, provavelmente

decorrente da política de incentivos para a instalação de fábricas,

principalmente no fim da década de 70 e início da década de 80, com

vantagens tributárias e linhas de crédito subsidiadas. Isto provocou um

excessivo aumento da capacidade instalada em detrimento das

perspectivas de evolução da produção de soja no Brasil. Assim, é um

problema que pode ser caracterizado como de excedente instalado e não

de capacidade ociosa.

Logística – assume papel decisivo na eficiência do processo de aquisição

de matérias-primas e insumos e também no processo de escoamento de

produtos.

Inovação de processos – novos processos que viabilizem a redução dos

custos.

A estratégia da diferenciação volta-se para mercados de demanda menos

elástica, geralmente mais próximos dos consumidores finais, caracterizados por

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produtos de maior valor adicionado e com atributos específicos de qualidade. Nesse

sentido, desenvolvem-se três ações estratégicas:

Segmentação de mercados – permite ajustar os produtos de acordo com

os gostos e preferências dos consumidores, agrupados por meio de

critérios relacionados ao nível de renda, região, faixa etária, cultura, etc.

Por exemplo, foi desenvolvida uma linha de óleos contendo atributos tidos

pelos consumidores como mais saudáveis, como canola e girassol, em

contraposição ao óleo de soja tradicional, destinado a um mercado mais

amplo.

Promoção – envolve publicidade, merchandising, degustações em pontos

de venda, etc., visando a associação à construção e manutenção de uma

ou mais marcas.

Inovação de produtos – é uma ação constante apoiada na estratégia de

segmentação de mercados, a partir das pesquisas de identificação de

gostos e preferências ainda não supridos pelos concorrentes.

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4 RESULTADOS: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E INTER-RELAÇÕES DA DIMENSÃO PRODUTIVA E INSTITUCIONAL NO CLUSTER DA SOJA NO OESTE DA BAHIA

Os resultados desta pesquisa abordando a dimensão produtiva e

institucional do objeto de estudo são apresentados em cinco partes: a primeira, com

o fim de constatar a existência, ou não, de um cluster, no Oeste da Bahia, em

relação à agroindústria da soja, trata da aplicação de um modelo já apresentado, no

Capítulo 2, para a identificação do aglomerado, aliada à análise da interação de

diversos atores; a segunda demonstra as principais características dos principais

atores do aglomerado, buscando perceber a dinâmica da estrutura produtiva e das

relações organizacionais; a terceira estuda as estruturas de governança do

aglomerado; a quarta analisa as formas de cooperação e esforço de capacitação

para inovar que ocorrem no aglomerado; e a quinta explora alguns indicadores

socioeconômicos da região em estudo na perspectiva de perceber a influência do

crescimento do cluster nos diferentes setores da economia da região.

A partir da Grade Analítica (Figura 3), apresentada no Capítulo 2, e dos

conceitos selecionados, este capítulo discute a contribuição do aglomerado para o

desenvolvimento regional a partir da análise do desenvolvimento institucional,

organizacional e da dinâmica produtiva do objeto de estudo.

A seguir, a partir da aplicação do índice de concentração (IC), para a

região do Oeste da Bahia, visando identificar a existência ou não do aglomerado de

soja, e da análise da interação de diversos atores ligados a esse aglomerado,

realiza-se a identificação do cluster.

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112

4.1 IDENTIFICAÇÃO DO CLUSTER: ÍNDICE DE CONCENTRAÇÃO (MEDIDA DE UM AGLOMERADO) E INTERAÇÃO DE ATORES

O conceito de cluster tratado neste trabalho é aquele definido por Porter

(1998), já explicitado no Capítulo 2. Este conceito parte de uma aglomeração de

empresas e instituições inter-relacionadas, em um setor específico, denominada pelo

autor de “concentrações geográficas”. A partir daí, o cluster pode incluir

fornecedores, manufaturas de produtos complementares, empresas com

semelhantes habilidades, tecnologia ou mesmo de insumos, além de órgãos

governamentais, universidades, escolas técnicas e associações de classe que

promovam treinamento, pesquisa e suporte técnico.

Assim, inicialmente, conforme apresentado, também, no Capítulo 2, será

calculado, para o Oeste da Bahia, o índice de concentração desenvolvido por

Crocco et alli (2003), que visa identificar aglomerações locais potenciais. O objetivo

da aplicação desta metodologia é verificar a existência do aglomerado da soja do

Oeste da Bahia. Após esta identificação, serão agregados os demais atores para a

identificação do cluster.

Os dados necessários para a aplicação do modelo referem-se a emprego,

sendo aqui utilizados aqueles registrados pela Relação Anual de Informações

Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho, competência 2005, com base na

Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE). Para tanto, foram

selecionados os CNAE’s referentes ao agronegócio da soja, conforme especificados

a seguir:

CNAE 01155 – cultivo de soja

CNAE 01198 – cultivo de outros produtos de lavoura temporária

CNAE 15318 – produção de óleos vegetais em bruto

CNAE 15326 – refino de óleos vegetais

CNAE 15857 – preparação de especiarias, molhos, temperos e

condimentos

CNAE 15890 – fabricação de outros produtos alimentícios

CNAE 51110 – representantes comerciais e agentes do comércio de

matérias-primas

CNAE 51217 – comércio atacadista de matérias-primas agrícolas e

produtos semi-acabados

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113

CNAE 51322 – comércio atacadista de cereais e leguminosas,

farinhas, amidos e féculas

CNAE 51390 – comércio atacadista de outros produtos alimentícios,

não especializados

De posse dos CNAE’s, foram pesquisados os respectivos números de

emprego registrados na região referente ao agronegócio da soja.

Para a delimitação espacial desta região, foram considerados os quatro

principais municípios produtores de soja do Oeste da Bahia, conforme já foi

explicado, que são Barreiras, Formosa do Rio Preto, Luis Eduardo Magalhães e São

Desidério, e que concentram as duas principais processadoras de beneficiamento do

grão no Oeste da Bahia.

Para o cálculo do índice de concentração (IC), inicialmente são

encontrados o Quociente Locacional (QL), o Índice Hirschman-Herfindahl modificado

(HHm), e o Indicador de Potencialidade (PR), como a seguir:

a) Quociente locacional (QL)

Eij/Ej

QLij = -------------

EiBR / EBR

Onde:

Eij = empregos registrados do Setor i, na Região j

Ej = empregos registrados na Região j

EiBR = empregos registrados do Setor i, no Brasil

EBR = empregos registrados no Brasil

Para encontrar Eij, que representa os empregos registrados do setor

(agroindústria da soja), nos referidos municípios, utilizou-se a base de dados da

RAIS, conforme já dito, a partir dos CNAE’s selecionados anteriormente (Tabela 23).

O cálculo dos empregos registrados na região (Ej) foi feito conforme indica a Tabela

24.

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114

Tabela 23 – Número de empregos registrados do setor da agroindústria da soja nos principais municípios produtores de soja, segundo CNAE, Região Oeste do Estado da Bahia, 2005 CNAE

BARREIRAS

FORMOSA DO RIO PRETO

LUIS EDUARDO MAGALHÃES

SÃO DESIDÉRIO

TOTAL

01155 1.003 549 211 798 2.56101198 175 1 44 78 29815318 133 0 0 9 14215326 181 0 0 0 18115857 0 0 0 0 015890 0 0 0 0 051110 19 0 4 0 2351217 20 0 49 23 9251322 12 16 0 0 2851390 28 0 22 0 50TOTAL 1.571 566 330 908 3.375Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS): base de dados: competência 2005.

Tabela 24 – Número de empregos registrados nos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2005

SEGMENTOS BARREIRAS

FORMOSA DO RIO PRETO

LUIS EDUARDO MAGALHÃES

SÃO DESIDÉRIO TOTAL

Indústria 1.425 16 516 158 2.115Construção Civil 467 4 180 86 737Comércio 5.461 63 2.164 176 7.864Serviços 6.041 421 1.731 990 9.183Agropecuária 3.009 1.044 1.421 3.134 8.608Outros 0 0 0 0 0TOTAL 16.403 1.548 6.012 4.544 28.507Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS): base de dados: competência 2005.

Da mesma forma, consultando a base de dados da RAIS, constata-se

que, no Brasil, em 2005, existiam 33.238.617 empregos formais (EBR) e que o

número referente ao setor da agroindústria da soja (EiBR) era de 360.403.

Assim, aplicando a fórmula, temos:

3.375 / 28.507 0,1184 QLij = ------------------------------ = ----------- = 10,96 360.403 / 33.238.617 0,0108

Como o resultado foi QL > 1, significa que existe uma especialização do

setor da agroindústria da soja na região composta pelos quatro principais municípios

produtores no Oeste da Bahia.

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b) Índice Hirschman-Herfindahl modificado (HHm)

HHmij = (Eij / Ei

BR) – (Ej / EBR)

Onde:

Eij = empregos registrados do Setor i, na Região j

Ej = empregos registrados na Região j

EiBR = empregos registrados do Setor i, no Brasil

EBR = empregos registrados no Brasil

Substituindo os dados na fórmula, temos:

HHmij = (3.375 / 360.403) – (28.507 / 33.238.617) = 0,0094 – 8,5765 = -8,5671

Como HHmij < 0, interpreta-se que, possivelmente, há especialização na

região, indicando que a contribuição do setor para o Brasil é maior que a

contribuição da região para o Brasil.

c) Indicador de Potencialidade (PRij)

PRij = Eij / Ei

BR

Onde:

Eij = empregos registrados do Setor i, na Região j

EiBR = empregos registrados do Setor i, no Brasil

Substituindo, temos:

PRij = 3.375 / 360.403 = 0,0094

Este indicador mostra a contribuição do setor da agroindústria da soja na

região para o setor no Brasil.

Retomando, então, o cálculo do índice de concentração, temos:

IC = θ1QLij + θ2HHmij + θ3PRij

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Vale salientar que optou-se, neste trabalho por considerar θ1 + θ2 + θ3 =

1/3, conforme feito por Ribeiro & Spínola (2003), atribuindo o mesmo peso aos três

indicadores22, sendo:

θ1 = peso do QLij

θ2 = peso do HHm

θ3 = peso do PRij

Substituindo, temos:

IC = (1/3) x 10,96 + (1/3) x -8,5671 + (1/3) x 0,0094 = 3,6533 – 2,8557 + 0,0031 = 0,8007

Assim, sendo o IC > 0, acima da média nacional, há indícios de

concentração.

Com estes resultados podemos, então, considerar que existe um

aglomerado da soja no Oeste da Bahia. Além disso, com o IC > 0, recomenda-se o

desenvolvimento de políticas públicas para o setor na região, a fim de potencializar o

referido aglomerado quanto à sua competitividade.

Constatada a aglomeração, para que esta seja caracterizada enquanto

um cluster, conforme definido por Porter (1998), comprovando o que foi definido na

Hipótese 1 deste trabalho, torna-se necessário compreender a inter-relação entre os

diversos atores e a dinâmica desse cluster, compreendendo trajetórias econômicas,

sociais, políticas, tecnológicas, etc., nas dimensões econômica e institucional. Nesse

contexto, busca-se analisar também, neste trabalho, a contribuição desse cluster

para a questão do desenvolvimento.

A interação desses atores se dá, de fato, em diversos níveis da cadeia e é

explicitada ao longo deste capítulo, que trata dos resultados da pesquisa. A

articulação da dimensão econômica à institucional nasce dessa interação,

destacando-se como um importante fator de desenvolvimento regional.

Conforme veremos adiante, os principais atores identificados no

aglomerado da soja no Oeste da Bahia, objetos desta pesquisa com a aplicação de

questionários e entrevistas estruturadas, são:

22 A análise multivariada sugerida para o cálculo destes pesos não foi feita por se considerar que não

alteraria significativamente os resultados deste estudo de caso, da mesma forma que admitido por Ribeiro & Spínola (2003).

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a) Produtores de insumos químicos para agricultura e indústria;

b) Produtores de sementes;

c) Produtores de soja;

d) Indústria esmagadora e de subprodutos;

e) Agentes de inovação tecnológica; e

f) Cooperativas e associações.

É importante destacar que, através das associações de classe,

principalmente a AIBA, conforme será detalhado mais adiante, dá-se o repasse de

treinamento; em parceira com a Fundação Ba. e outros órgãos governamentais,

como a EMBRAPA e a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S. A. (EBDA),

dentre outras, desenvolve-se pesquisa; e, ainda, se oferece suporte técnico aos

associados.

Essas questões de treinamento, pesquisa e suporte técnico são inerentes

ao conceito de cluster, proposto neste trabalho, corroborando, portanto, o tipo de

interação aqui analisado como um cluster com associações de classe.

Além disso, existem muitas organizações sociais além da AIBA – outras

associações, cooperativas e sindicatos – que são tratadas no item 4.2.6, e que

interagem diretamente com o aglomerado, articulando o social ao produtivo. Essa

interação se dá em diversas frentes, como orientações técnicas, treinamentos,

negociações patronais com os empresários, coordenação de programas específicos

de melhorias de cultivares, parcerias com o setor público, etc., tendo sempre como

meta a defesa dos interesses dos seus associados. A depender do tipo de

organização, os associados são empresários do setor ou seus trabalhadores, cujos

interesses são antagônicos.

Nesse mesmo sentido, de suporte ao aglomerado, oferecendo

capacitação de nível superior, inclusive, de pós-graduação e, também, interagindo

com o aglomerado, nas mais diversas dimensões, existem universidades e

faculdades presentes na região, tanto públicas quanto privadas. As principais delas,

com os respectivos cursos que oferecem, são:

Universidade Federal da Bahia (UFBa) – Campus Edgar Santos,

Barreiras

Cursos: Engenharia Sanitária e Ambiental; Geografia; Geologia;

Química; Biologia; e Administração

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Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus IX, Barreiras

Cursos: Engenharia; Pedagogia; Ciências Contábeis; Letras; Biologia;

e Matemática

Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB), Barreiras

Cursos: Administração; Agronomia; Ciências Contábeis; Comunicação;

Direito; Enfermagem; Educação Física; Fisioterapia; Pedagogia;

Psicologia; e Normal Superior

Faculdade Luis Eduardo Magalhães (FILEM), Luis Eduardo Magalhães

Graduação: Sistemas de Informação; Pedagogia; e Direito

Pós-Graduação: Direito Empresarial; Logística; Direito e Gerência de

Cidades; Sistemas de Produção de Grãos e Fibras; e Ensino de

Ciências e Matemática

Associação Educacional Unyhana, Barreiras

Cursos: Administração; Direito; e Ciências Econômicas

Associação Educacional Unyhana, Luis Eduardo Magalhães

Curso: Administração

Faculdade Arnaldo Horácio Ferreira (FAAHF), Luis Eduardo

Magalhães

Cursos: Administração; Agronomia; Ciências Contábeis; Direito;

Engenharia da Produção; Letras; e Pedagogia

Assim, conforme será comprovado ao longo deste capítulo, a interação

entre esses atores se dá de forma dinâmica com o aglomerado, articulando as

dimensões econômica e institucional e considerando trajetórias tecnológicas,

políticas, sociais, etc. Nesse sentido, podemos considerar, de acordo com o conceito

proposto, que o aglomerado em estudo caracteriza-se como um cluster. Vejamos, a seguir, as informações levantadas acerca das principais

características dos atores do cluster da soja identificados no Oeste da Bahia.

4.2 CARACTERÍSTICAS E DINÂMICA DOS PRINCIPAIS ATORES

Aqui são apresentadas as características dos principais atores estudados

no cluster da soja no Oeste da Bahia, analisando-se cada um deles a partir dos

dados primários levantados em pesquisa de campo, através da aplicação de

questionários e de entrevistas. Esses atores, identificados na região em estudo, são:

produtores de insumos químicos para agricultura e indústria;

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produtores de sementes;

produtores de soja;

indústria esmagadora e de subprodutos;

agentes de inovação tecnológica; e

cooperativas e associações.

4.2.1 PRODUTORES DE INSUMOS QUÍMICOS PARA AGRICULTURA E

INDÚSTRIA

A região possui as duas maiores indústrias de fertilizantes do país, que

compõem a cadeia produtiva da soja, a Bunge Fertilizantes, localizada na cidade de

Barreiras, e a Galvani Fertilizantes, localizada na cidade de Luís Eduardo

Magalhães, além de outras de menor expressão, caracterizando, assim, uma

estrutura de mercado oligopolista, considerando-se, ainda, a forte presença de uma

grande multinacional do setor, ao que aponta para uma dinâmica capitalista que

privilegia o capital dominante em nível global.

A Bunge, presente no Brasil desde 1905, é uma das principais empresas

de agribusiness e alimentos do país, atuando de forma integrada em toda a cadeia

produtiva. Por meio de suas subsidiárias integrais, a Bunge Fertilizantes e a Bunge

Alimentos, produz fertilizantes e ingredientes para nutrição animal, processa e

comercializa soja, trigo e outros grãos, fornece matéria-prima para a indústria de

alimentos e food-service, além de produzir alimentos para o consumidor final. Assim,

a Bunge atua em fertilizantes, grãos e alimentos.

A Bunge Fertilizantes possui marcas de reconhecida qualidade e

referência no meio rural, como Iap, Serrana e Ouro Verde, reunindo pioneirismo e

inovação. É uma empresa verticalizada na produção e comercialização de

fertilizantes e suplementos minerais para nutrição animal, procurando oferecer as

melhores soluções para os mais de sessenta mil consumidores de suas marcas.

Está envolvida em todas as etapas da produção de fertilizantes, desde a mineração

da matéria-prima, até a criação e venda de produtos no varejo e aplicativos

avançados.

Também comercializa nutrientes para nutrição animal, como fosfato

bicálcico, extraído de uma das minas com fósforo mais puro do mundo, ideal para

esta utilização. Os produtos de nutrição animal são os seguintes: Foscalcio, Enxofre

70 S, MCPD e Carbocalcio. Os produtos fertilizantes são:

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Iap – Fertiap, Minigran e Superfosfato Simples e outros produtos

tradicionais

Manah – Fosmag, Superfosfato Simples e demais produtos

tradicionais

Ouro Verde – Arad (fosfato natural reativo), Ourofós e Ouropasto e

também a linha tradicional complementar

Serrana – Turbo, Classic, Microgran, Superfosfato Simples, Serrana

Cobertura, Serrana Líquidos e demais produtos tradicionais

No Oeste da Bahia, a Bunge Fertilizantes está localizada na cidade de

Barreiras e conta com 238 funcionários diretos e 60 terceirizados.

Galvani Fertilizantes – A outra indústria da região está localizada na

cidade de Luís Eduardo Magalhães, e emprega 250 funcionários diretos e 150

terceirizados, produzindo quatorze marcas diferentes de fertilizantes.

4.2.2 PRODUTORES DE SEMENTES

Existem vários produtores de sementes na região como por exemplo, a

Sementes Líder que possui uma tecnologia das mais modernas, mantendo-as

climatizadas e desenvolvendo um campo de sementes com os produtores. Além

desta, existem ainda: Sementes Oilema, Dow, Bayer, Morinaga, dentre outras. É

importante, ainda, observar que muitos produtores utilizam semente própria.

Vejamos o caso da empresa Sementes Oilema, fundada em 1999, que

produz sementes de altíssima qualidade, localizada na Fazenda Irmãos Gatto,

Distrito de Placas, BA-825, Km 70, na cidade de Barreiras.

Os sócios da empresa são três irmãos gaúchos, os irmãos Valter, Luiz

Carlos e Clair Gatto, que chegaram em Barreiras, no Oeste da Bahia, em 1981, com

grandes dificuldades. Hoje controlam 12,5 mil hectares do chamado anel da soja,

uma das regiões mais produtivas do pais, tendo cinco mil hectares cobertos de soja

e milho e 500 hectares de pés de algodão, a fábrica de sementes Oilema e uma

usina de beneficiamento de algodão.

Em entrevista, um dos sócios da Sementes Oilema afirma comercializar

80% da sua produção na própria região e os restantes 20% nos Estados do Piauí,

Maranhão e Mato Grosso.

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A empresa produz sementes em parceria com a Monsoy, além de ter uma

parceria informal com a Fundação Ba. A EBDA realiza um experimento próximo a

Barreiras, mas é pouco importante para o cultivo da soja.

O tipo de semente é que vai determinar a variedade da soja. Existe a

semente precoce ou de ciclo curto (120 dias) e a tardia ou de ciclo longo (140 dias).

Muitos agricultores utilizam, ainda, a semente salva, que é aquela remanescente da

última safra, nem sempre a mais apropriada para uma cultura de qualidade.

4.2.3 PRODUTORES DE SOJA

De acordo com a pesquisa de campo realizada através da aplicação dos

questionários, obteve-se a informação de que 52% dos produtores de soja da região

se instalaram no período de 1980 a 1990, que coincide com o período de

implantação do PRODECER (v. Capítulo 3).

Os benefícios concedidos por programas de incentivo para os produtores

no sentido de promover o desenvolvimento agrícola dessa região de cerrados, já

estava indicado no trabalho de Uderman (1992). Além disso, conforme foi analisado,

crédito e financiamento são variáveis ligadas ao conceito de incentivos que,

articulados aos contratos e direitos de propriedade, podem definir a base do

desenvolvimento econômico da região, de forma que a análise da sua formação

histórica contextualiza essa característica. (NORTH, 1998).

Algumas características da amostra estão apresentadas na Tabela 25 que

indica o número de questionários aplicados e o respectivo percentual em relação ao

total, por área total da propriedade e por área plantada em soja. Observa-se que a

grande maioria da pesquisa foi realizada com proprietários de áreas de até 1.999 ha.

Tabela 25 – Número de questionários aplicados por área total da propriedade e por área plantada em soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 200423

QUESTIONÁRIOS APLICADOS ÁREA FÍSICA (em ha) POR ÁREA TOTAL DA PROPRIEDADE POR ÁREA PLANTADA EM SOJA Nº % Nº % <499 14 14,3 25 25,5De 500 a 1999 46 46,9 51 52,0De 2000 a 4999 23 23,5 19 19,4> 5000 15 15,3 3 3,1Total 98 100,0 98 100,0

23 Todas as tabelas cuja fonte foram elaboradas com base nos dados da pesquisa de campo.

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De acordo com a pesquisa, a grande maioria dos produtores, em torno de

60%, tem de 1 a 10 trabalhadores dos quais, aproximadamente, 80% recebem

salários que variam de um salário mínimo a R$ 999,00. Em relação aos funcionários

fixos, observou-se que 95,9% têm nível escolar apenas de ensino fundamental.

Quanto ao grau de verticalização da matéria-prima pela análise da Tabela

26 verifica-se que, para a matéria-prima sementes, acima de 50% da produção é

integrada por aproximadamente 50% dos produtores; e para fertilizantes e

defensivos, até 10% é integrada por 97% dos produtores. Isto significa que

fertilizantes e defensivos são contratados para acima de 50% da produção, mas no

caso de sementes, metade dos produtores produz 50% e contratam os outros 50%.

Esta alta integração vertical se explica, no caso das sementes, por uma questão de

logística e de custos de produção, visando obter vantagens competitivas em relação

ao mercado, conforme a análise dos custos de transação. (WILLIAMSON, 1985).

Tabela 26 – Grau de verticalização de matéria-prima dos produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

SEMENTES FERTILIZANTES DEFENSIVOS INTEGRADA SUBCONTRATADA INTEGRADA SUBCONTRATADA INTEGRADA SUBCONTRATADA

PRODUÇÃO (em %)

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % <10 45 45,9 26 26,5 95 96,9 1 1,0 95 96,9 1 1,0De 11 a 50 3 3,0 15 15,3 1 1,0 0 0,0 1 1,0 0 0,0> 50 49 50,0 56 57,2 1 1,0 96 98,0 1 1,0 96 98,0Não sabem 1 1,0 1 1,0 1 1,0 1 1,0 1 1,0 1 1,0Total 98 100,0 98 100,0 98 100,0 98 100,0 98 100,0 98 100,0

Tabela 27 – Grau de verticalização do processo produtivo da soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

SEMENTES FERTILIZANTES DEFENSIVOS INTEGRADA SUBCONTRATADA INTEGRADA SUBCONTRATADA INTEGRADA SUBCONTRATADA

PRODUÇÃO (em %)

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % < 10 1 1,0 94 95,9 0 0,0 94 94,5 9 9,2 87 88,8De 11 a 50 1 1,0 0 0,0 1 1,0 0 0,0 0 0,0 1 1,0> 50 95 96,9 3 3,0 96 97,9 3 3,0 88 89,8 9 9,2Não sabem 1 1,0 1 1,0 1 1,0 1 1,0 1 1,0 1 1,0Total 98 100,0 98 100,0 98 100,0 98 100,0 98 100,0 98 10,00

A Tabela 27 traz o grau de verticalização do processo produtivo e mostra

que, em relação: ao preparo do solo, 96,9% dos produtores integram acima de 50%

da produção; ao plantio, 97,9% dos produtores, acima de 50% da produção; e à

colheita, 89,8% dos produtores, acima de 50% da produção. Isto quer dizer que,

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para a grande maioria da produção, as três etapas do processo produtivo são

integradas pelos produtores. Logo, podemos dizer que existe uma tendência à

verticalização em, praticamente, todo o processo produtivo na região, evitando

custos de transação no mercado e obtendo vantagens competitivas. (WILLIAMSON,

1985).

Em relação ao tipo de contrato para o principal subcontratado,

aproximadamente 84% dos produtores formalizam o contrato de forma escrita,

reduzindo as incertezas e, conseqüentemente, os custos de transação, e 96% deles

assinam esses contratos sem exclusividade, já que a especificidade do ativo é baixa

entre produtores e subcontratados. (WILLIAMSON, 1985).

Outro dado importante é que a capacitação tecnológica do principal

subcontratado é superior à do produtor em 97% dos casos, caracterizando um

significativo controle do contratado sobre o produtor. Entretanto, esta relação se

justifica, em termos tecnológicos, na região, visto que a contratação se traduz em um

esforço de cooperação e de capacitação para inovar, caracterizando um processo

de subcontratação e de não verticalização, no que se refere à questão tecnológica.

Em relação à origem dos principais equipamentos utilizados no processo

produtivo na região, podemos analisar a Tabela 28, onde se pode verificar que a

grande maioria dos produtores, em média 90%, adquirem mais da metade de

tratores, colheitadeiras e implementos agrícolas localmente, sendo baixas (menos de

10%) as aquisições desses equipamentos fora da região, ou seja, nacionalmente.

Este dado demonstra que, na articulação da cadeia produtiva da região, a oferta de

equipamentos utilizados no processo produtivo atende quase que integralmente às

necessidades dos produtores, não havendo uma integração inter-regional que se

justifique para a aquisição de equipamentos.

Tabela 28 – Origem dos principais equipamentos utilizados no processo produtivo da soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

TRATORES COLHEITADEIRAS IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS LOCAL NACIONAL LOCAL NACIONAL LOCAL NACIONAL

ORIGEM (em %)

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % <10 8 8,1 85 86,7 9 9,2 82 83,7 3 3,1 87 88,8De 11a 50 0 0,0 1 1,0 1 1,0 1 0,0 0 0,0 2 2,0> 50 89 90,8 11 11,3 85 86,7 12 12,2 93 94,89 7 7,2Não sabem 1 1,0 1 1,0 3 3,1 3 3,1 2 2,0 2 2,0Total 98 100,0 98 100,0 98 100,0 98 100,0 98 100,0 98 100,0

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124

A Tabela 29 indica que a grande maioria dos equipamentos utilizados no

processo produtivo foram adquiridos a partir de 2000, provavelmente em busca de

uma modernização e/ou aumento de produtividade para o segmento, coincidindo

com a fase de consolidação do Complexo, bem como da maior capitalização dos

produtores em função dos financiamentos concedidos para a cultura da soja na

região, conforme será tratado mais adiante.

Tabela 29 – Ano de aquisição dos principais equipamentos utilizados no processo produtivo da soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

TRATORES

COLHEITADEIRAS

IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS

ANO DE AQUISIÇÃO

Nº % Nº % Nº % De 1980 a 1989 5 5,10 3 3,06 2 2,04De 1990 a 1999 10 10,20 9 9,18 4 4,08De 2000 a 2004 65 66,33 67 68,36 74 75,51Não sabem 18 18,36 19 19,40 18 18,36Total 98 100,00 98 100,00 98 100,00

Com relação às condições de oferta de infra-estrutura física e de serviços

públicos, apontadas pelos produtores, os dados indicam uma insuficiência de

energia elétrica (70,4%), de estradas (89,8%) e de telecomunicações (71,4%)

(Tabela 30). Esse problema já era apontado, embora de forma menos contundente,

por Uderman (1992), e até o período desta pesquisa não tinham sido realizados os

investimentos públicos necessários para resolver esses gargalos na região, de forma

a potencializar a sua dinâmica, dando suporte à produção e ao seu escoamento.

Tabela 30 – Condições de oferta de infra-estrutura física e serviços públicos segundo os produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

ÁREA P/ INSTALAÇÃO DE EMPR. INDUSTRIAIS ENERGIA ELÉTRICA

ESTRADAS TELECOMUNICAÇÕES

CONDIÇÕES DE OFERTA

Nº % Nº % Nº % Nº % Insuficiente 5 5,1 69 70,4 88 89,8 70 71,4Satisfatória 65 65,3 28 28,6 10 10,2 27 27,6Excepcional 29 29,6 1 1 0 0 1 1Total 98 100 98 100 98 100 98 100

Quanto aos canais de comercialização, a Tabela 31 sintetiza as respostas

dos produtores. Foi destacado como muito importante (50%) e importante (32,7%), a

comercialização sob encomenda. Isto se explica porque a soja é uma commodity,

um ativo de baixa especificidade (WILLIAMSON, 1985), além de que, na região, as

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processadoras negociam com os produtores as safras, por antecipação, muitas

vezes financiando a produção, conforme será analisado mais adiante. Neste caso,

caracteriza-se uma estrutura de governança hierárquica, representando a

verticalização da transação no processo produtivo, como forma de controle das

processadoras sobre a dinâmica da cadeia, conforme definido por Williamson

(1985).

Tabela 31 – Principais canais de comercialização adotados pelos produtores, por níveis de importância, segundo os produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

SOB ENCOMENDA GRANDES VAREJISTAS ESCRITÓRIOS DE EXPORTAÇÃO NÍVEL DE IMPORTÂNCIA Nº % Nº % Nº %

Sem importância 8 8,2 64 65,3 69 70,4Pouco importante 9 9,2 5 5,1 10 10,2Importante 32 32,7 17 17,3 14 14,3Muito importante 49 50 12 12,2 5 5,1Total 98 100 98 100 98 100Fonte: Elaborada a partir da pesquisa de campo

Questionados sobre as políticas governamentais que poderiam contribuir

para o aumento da competitividade, os produtores de soja da região consideraram

importantes e muito importantes (Tabela 32): os programas de capacitação

profissional e treinamento técnico (90,8%); melhorias na educação formal (89,8%);

linhas especiais de crédito (96,9%); incentivos fiscais (94,9%); melhoria da infra-

estrutura de conhecimento (89,8%); e melhoria na infra-estrutura física (91,8%).

Esses altos percentuais indicam uma grande carência na região de políticas

governamentais específicas, que alavanquem a estrutura potencialmente instalada,

viabilizando um maior processo de crescimento e desenvolvimento econômico.

Tabela 32 – Políticas governamentais que poderiam contribuir para o aumento da competitividade dos produtores, por níveis de importância, segundo os produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO

PROFISSIONAL E TREINAMENTO

TÉCNICO

MELHORIAS NA EDUCAÇÃO

FORMAL (1º, 2º E 3º GRAU)

LINHAS ESPECIAIS DE CRÉDITO (P&D, IMPORTAÇÃO/ EXPORTAÇÃO)

INCENTIVOS FISCAIS (P&D,

IMPORTAÇÃO/ EXPORTAÇÃO)

MELHORIA DA INFRA-

ESTRUTURA DE CONHECIMENTO

MELHORIA DA INFRA-

ESTRUTURA FÍSICA

NÍVEL DE IMPORTÂNCIA

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Sem importância 1 1 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 Pouco importante 8 8,2 9 9,2 3 3,1 4 4,1 10 10,2 7 7,1 Importante 48 49 57 58,2 29 29,6 29 29,6 55 56,1 12 12,2 Muito importante 41 41,8 31 31,6 66 67,3 64 65,3 33 33,7 78 79,6 Total 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100

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4.2.4 INDÚSTRIA ESMAGADORA E DE SUBPRODUTOS

Na Região Oeste da Bahia, existem duas grandes representantes da

indústria esmagadora e de subprodutos da agroindústria da soja: a Bunge

Alimentos, na cidade de Luís Eduardo Magalhães, e a Cargill, na cidade de

Barreiras. Além dessas duas, existem outras de menor porte, como a Mauricéia

Alimentos, localizada em Luís Eduardo Magalhães.

Esta situação caracteriza uma estrutura de mercado oligopolista, onde

poucas empresas dominam o mercado, ditando regras. Some-se a isso o fato de que

ambas representam grandes multinacionais, atendendo aos interesses de grandes

capitais. De fato, o estudo constatou que as processadoras encomendam, por

antecipação, as safras aos produtores, na maioria das vezes financiando a produção

e ditando o preço a ser negociado, caracterizando uma estrutura de governança

hierárquica (WILLIAMSON, 1985) e representando a verticalização da transação no

processo produtivo.

Na Bunge Alimentos de Luís Eduardo Magalhães, instalada em 1991, o

gerente industrial de crushing foi entrevistado. Ele é responsável pelo recebimento e

esmagamento da soja e faz parte de um comitê formado na empresa, que se reúne

periodicamente para a tomada das principais decisões. Além dele, formam o comitê:

o gerente de refino, responsável pelo óleo; o gerente de originação, responsável

pela compra da soja; e o gerente administrativo, responsável pelo apoio.

A soja é adquirida totalmente na região. Logo na entrada da unidade

industrial, existe um laboratório terceirizado da Suíça, que faz testes com uma

amostra de cada caminhão de soja que chega ao local. Se for identificada a soja

geneticamente modificada (transgênica), o caminhão não entra na fábrica.

Esse laboratório também faz a classificação da soja, analisando a variável

impureza nos seguintes níveis: aceitável, 1%; avariada, 8%; e umidade, 14%. Acima

desses percentuais, a soja é comprada com desconto.

A compra de soja é feita via contratos formais, sendo que a maior parte

dessa produção é financiada pela própria empresa, de modo que os produtores

recebem dinheiro e adubo antes da venda e antes da produção, definindo uma

estrutura de governança hierárquica na região (WILLIAMSON, 1985). Os contratos

de exportação são feitos pela matriz, em Santa Catarina.

A Bunge Alimentos recebe 20.000 toneladas de soja por dia. Possui

quatro tombadores de caminhão para receber o produto, sendo que cada caminhão

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demora seis minutos para descarregar a soja. A empresa possui 236 funcionários

próprios e 170 terceirizados e uma área construída de 76.000m2. As máquinas

funcionam 24 horas e somente param em fevereiro, durante vinte e cinco dias, no

período de entressafra, quando não há soja.

A capacidade de armazenamento, para estoque de soja, é de 400.000

ton., divididas em três armazéns, de 100.000 toneladas cada um, e outros seis

menores. A armazenagem é feita por até um ano, sendo que os armazéns possuem

um sistema de resfriamento automático. Já o armazém de farelo de soja tem uma

capacidade de 30.000 toneladas.

A produção diária da unidade de Luís Eduardo Magalhães da Bunge

Alimentos é a seguinte: 4.000 toneladas de esmagamento de soja; 750 toneladas de

óleo refinado (maior produção do Brasil); e 2.900 toneladas de farelo de soja. Além

disso, é produzida uma parte de farelo de soja com 48% de proteína, para ração

animal. Outro tipo de produto é a lecitina de soja, substância utilizada no preparo de

alimentos para dar consistência, produzida em 250 toneladas por mês.

Do total de farelo de soja produzido, 95% é exportado para a Europa, e o

óleo produzido é quase que totalmente destinado ao mercado interno do Nordeste,

sendo uma parte encaminhada para o Rio de Janeiro e outra parte exportada para a

Venezuela. A embalagem PET utilizada para envasar o óleo é fabricada na própria

empresa, a partir de uma resina importada da Rhodia, resina esta que já começa a

ser produzida na Bahia; e o rótulo utilizado na embalagem vem de Salvador e de

São Paulo. Da lecitina de soja produzida, 100% é exportada para a Europa.

Quanto ao escoamento, o farelo, 80.000 toneladas, é exportado por mês

através do Porto de Ilhéus e o óleo, 19.000 toneladas, é comercializado por mês via

carretas, já como produto final, engarrafado em PET.

Outra indústria esmagadora de soja na região, localizada em Barreiras, é

a Cargill, atuando onde antigamente funcionava a Olvebasa que foi arrendada à

Cargill, por onze anos, em 1996; em 1998, começou a funcionar a parte operacional;

e em 1999, houve a expansão da fábrica, de uma capacidade de 900 toneladas para

1.600 toneladas de moagem por dia.

Duas pessoas foram entrevistadas na Cargill da cidade de Barreiras: o

Gerente Regional e o Gerente Industrial da empresa. Existem 156 funcionários

diretos na fábrica e 80 terceirizados, sendo que este número sobe para 130, no

período da safra.

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128

A Cargill funciona 24 horas, parando apenas uma vez por ano. Com um

consumo de água diário de 1.400 m3, a capacidade de processamento da empresa é

de 450.000 toneladas de soja por ano, sendo que 80% correspondem ao farelo de

soja, com 360.000 toneladas por ano, e 20% corresponde ao óleo de soja. A fábrica

produz também farelo com 46% de proteína. Esta unidade empresarial não produz

lecitina de soja.

Do total da produção de óleo, 50% é refinado, correspondendo a um total

de 90 toneladas por ano, e os outros 50% é degomado (bruto, não refinado, que

serve para misturar com ração animal).

O óleo é engarrafado na própria empresa, tanto em embalagem PET

quanto em lata, ambas as embalagens preparadas na própria fábrica. Para a

embalagem PET, a matéria-prima e o rótulo vêm de São Paulo e, na fábrica, é feita a

sopragem e o envasamento; no caso da embalagem em lata, a matéria-prima vem,

também, de São Paulo e a montagem é feita na fábrica.

Do farelo de soja, 80% é exportado, sendo que, deste total, 10% vai para

a Ásia e 90% para a Europa. Quanto ao óleo refinado, 90% é exportado para a Ásia,

Europa e China, e os restantes 10% são consumidos no mercado interno,

representado por todo o Nordeste, principalmente a Bahia. Como o escoamento é

feito somente pelo Porto de Ilhéus, não existe a possibilidade de exportar uma

quantidade maior de soja.

A Cargill trabalha, também, com soja transgênica, e como não existe um

percentual mínimo que obrigue a rotular o produto, 100% do farelo produzido é

rotulado como transgênico. Além disso, a soja recebida é classificada na origem

para fazer o comparativo quanto a umidade, impureza, avariados e verde.

A empresa tem a capacidade de descarregar 4.500 toneladas de soja por

dia mas, atualmente, vem descarregando cem caminhões diários, sendo que cada

carreta possui 27 toneladas de soja. Quanto à estocagem, dispõe de um armazém

para soja com capacidade para 90.000 toneladas e outro para farelo, com

capacidade para 8.000 toneladas; além disso, possui oito unidades apenas para

armazenamento, em um raio de 300 Km2.

A relação com os produtores é de financiamento da produção: 70% dos

fornecedores são financiados pela empresa. Existem alguns produtores “cativos”,

desde 1994, que são clientes com crédito rotativo, ou seja, aberto automaticamente.

O financiamento anual da empresa pode chegar a cem milhões de reais, mas no ano

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de 2004, por exemplo, o valor financiado foi de quarenta milhões de reais24.

Observa-se, assim, a importância deste tipo de transação na definição do tipo de

governança que prevalece no cluster. (WILLIAMSON, 1985)

Esta transação é feita através de um contrato de compra e venda com os

produtores, com cédula de produto rural (CPR) de garantia do grão, aval e garantia

real. O preço é definido pela Bolsa de Chicago, sendo que o contrato é feito em reais

com a taxa do dia e depois convertido pelo dólar PTAX, ou seja, no momento do

pagamento, o preço é convertido.

Assim, observa-se que a empresa esmagadora define as regras,

controlando a dinâmica da cadeia. Entretanto, não existem grandes articulações

dessas empresas com outros agentes do arranjo; apenas com a Associação de

Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (AIBA), existe alguma troca de

informações, principalmente no que se refere à “ferrugem asiática”, além de alguma

colaboração na forma de patrocínio. Com os produtores de sementes não existe

qualquer articulação, a não ser o pagamento direto quando solicitado pelo produtor.

A empresa possui a Fundação Cargill, através da qual faz o lançamento

de edições técnicas agrícolas, contratando consultores que desenvolvam

melhoramentos, tecnologia de produção de sementes, tecnologia de controle de

pragas, etc., tendo uma parceria com a Embrapa Soja. A Fundação desenvolve o

“Projeto Fura Bolo”, um projeto social que tem uma equipe técnica com escritores

que fazem livros destinados da estudantes da Primeira à Quarta Séries, visando

estimular a leitura das crianças.

Outra ação é o Programa De Grão em Grão, feito em parceira com o

Fome Zero, presente na região através da esmagadora Cargill, onde agrônomos

responsáveis fazem hortas em escolas municipais para a melhoria da merenda, o

que pode estar contribuindo para a redução dos indicadores de analfabetismo. Em

Luis Eduardo Magalhães, a Fundação mantém parcerias com duas escolas, através

de uma área com estrutura e montagem de uma estufa para o desenvolvimento de

mudas de plantas nativas.

Existe ainda uma preocupação da Fundação com a questão ambiental,

atendendo a programas legais de “lenha de manejo” em áreas de reflorestamento,

que tem como objetivo estimular um maior número de consumidores de lenha para a 24 Merece destaque o fato de que existem possibilidades financeiras para incrementar a produção na

região, o que esbarra na necessidade de melhorias na infra-estrutura local. Além disso, alguns indicadores socioeconômicos levantados sobre a região, e mais adiante apresentados, também respaldam esta análise.

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130

alimentação de caldeiras sem usar madeira de desmate. Outro programa, também

de cunho ambiental, diz respeito ao destino da água usada, através do seu

tratamento para irrigação.

4.2.5 AGENTES DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

Poucos são os agentes de inovação tecnológica ligados à cadeia

produtiva da soja, localizados na região. A organização de maior destaque nesse

sentido é a Fundação de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento do Oeste da Bahia

(Fundação Bahia), sem fins lucrativos, que surgiu em 1997, em decorrência da

necessidade da pesquisa para o desenvolvimento de cultivares de soja e algodão

adaptadas às condições de clima e solo, resistentes a pragas e doenças, buscando

suprir a crescente demanda por informações conforme o aumento da área cultivada.

Portanto, para este caso, o tipo de inovação que prevalece neste elo da

cadeia é a incremental, através de processos de conhecimento do tipo learning by

doing e learning by using. (DOSI, 1988). As informações geradas a partir dos

trabalhos de pesquisa são transmitidas aos associados da Fundação Bahia e da

AIBA, através de seminários, reuniões de divulgação de resultados, circulares

técnicas e dias de campo. Em 2004, por exemplo, os dias de campo de milho, soja e

algodão reuniram mais de três mil participantes entre produtores, técnicos,

pesquisadores, estudantes e profissionais do agronegócio regional e de estados

vizinhos.

A instituição conta, atualmente, com 26 sócios cotistas e 1.130 produtores

associados, que juntos cultivam 1,3 milhão de hectares. Em diversos projetos, conta

com a parceria da Embrapa Algodão, da Embrapa Soja, e da Empresa Baiana de

Desenvolvimento Agropecuário (EBDA).

Dentre os projetos de pesquisa desenvolvidos em relação à soja, a

Fundação mantém uma parceria com a Embrapa Soja, através do Programa de

Melhoramento Genético de Soja Convencional e Soja Transgênica. Como resultado

deste trabalho, em apenas cinco anos de pesquisas, foram lançadas três variedades

de cultivares adaptadas às condições do oeste da Bahia: a BRS Barreiras (safra

2000/01), a BRS Corisco (safra 2002/03) e a BRS Diferente (safra 2003/04).

Prevalecem, nestas relações com os laboratórios, o formato de contrato híbrido.

(WILLIAMSON, 1985).

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131

Assim, a Fundação Bahia é uma entidade de pesquisa que reúne um

grande número de produtores, para melhoramento genético e adaptação de

tecnologias. O Presidente da Fundação foi entrevistado e enfatizou um convênio que

está articulando com as empresas de fertilizantes, negociando um percentual no

preço do adubo para formar um fundo privado para os produtores, em parceria com

a Fundação Ba., a AIBA, a Associação dos Engenheiros Agrônomos, a Secretaria de

Agricultura do Estado da Bahia (SEAGRI), a EMBRAPA, a Associação de

Defensivos Agrícolas (ANDEF) e o Sindicato das Industrias de Adubo do Nordeste

(SIACAN). Observa-se, assim, que existem importantes relações institucionais na

região, mas não se sabe, porém, o nível de comprometimento das partes e a

regularidade das atividades.

Dentre os principais objetivos da Fundação, foram citados:

a) pesquisa agrícola;

b) melhoramento de variedades;

c) teste do material desenvolvido pela Embrapa Soja;

d) fertilidade; e

e) ação contra a ferrugem asiática

Para potencializar a atuação da Fundação Ba., de forma a atender à

crescente demanda por pesquisa e desenvolvimento, em janeiro de 2003, todos os

sócios da AIBA foram admitidos, também, como sócios da Fundação. Assim, cada

associado da AIBA, ao pagar a sua anuidade, contribui automaticamente para o

custeio dos trabalhos de pesquisa. Entretanto, os indicadores são de que 60% dos

sócios estão inadimplentes, dificultando certas ações. Como dificuldade estrutural, o

Presidente da Fundação fez questão de citar os portos e estradas como o principal

gargalo para o maior desenvolvimento da região, influenciando, inclusive, no preço

da soja.

Existe também uma sede da EBDA, na cidade de Barreiras. Esta entidade

desenvolve excelentes trabalhos, entretanto, para a cultura da soja na região, é de

pouca importância. Ainda assim, a sua presença na região provavelmente

potencializa ações e parcerias que beneficiam essa cultura.

Além disso, podemos citar, também, o “Clube do Plantio Direto”, que

reúne um número pequeno de produtores e faz parceria com a Embrapa, por

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132

exemplo, buscando adaptações tecnológicas voltadas para o plantio direto25,

reforçando mais uma vez a preocupação com a questão ambiental.

4.2.6 COOPERATIVAS E ASSOCIAÇÕES

Segundo Uderman (1992), demandando um alto grau de mecanização e a

incorporação de grandes quantidades de elementos químicos para a correção e

preparo do solo, a sojicultura transforma componentes industriais e condições de

financiamento em fatores indispensáveis à produção regional, articulando relações

produtivas que até então ocupavam uma posição marginal no cenário local.

Para esse autor, é a incapacidade da maior parte dos produtores de

cumprir as exigências da modernização que faz com que a cooperativa se torne uma

opção generalizada face à alternativa do assalariamento, enquanto que os elos que

se formam entre a produção agrícola regional e elementos comerciais, industriais e

financeiros externos praticamente impõem a sua mediação. Assim, a cooperativa vai

se firmando como forma institucional adequada à reprodução do produtor rural,

substituindo relações tradicionais de arrendamento e parceria, propiciando

condições de trabalho mais eficientes e viabilizando ligações essenciais com

instâncias extra-agrícolas localizadas fora das fronteiras regionais.26

Atualmente, as cooperativas e associações, além de sindicatos,

encontrados na região em estudo são vários. Deve-se ressaltar que a pesquisa

indicou que praticamente todas essas instituições se articulam com a dimensão

produtiva, favorecendo um maior desenvolvimento regional. Dentre essas principais

organizações, destacam-se:

a) Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA): situada em

Barreiras e com escritório em Luís Eduardo Magalhães;

b) Cooperativa Agropecuária do Oeste da Bahia (COPROESTE) – antiga

Cotia: localizada em Luís Eduardo Magalhães e em Barreiras;

25 O plantio direto é um sistema de reaproveitamento dos resíduos orgânicos da lavoura anterior,

buscando combater a erosão, reduzir as perdas e melhorar a fertilidade do solo; o cultivo é feito sem aração do solo, mantendo em sua superfície uma camada de vegetação para protegê-lo

26 Uderman (1992) cita algumas cooperativas agropecuárias identificadas à época da sua pesquisa: Cooperativa Agrícola Mista dos Projetos de Irrigação do Médio São Francisco (COMESF), criada em 1976; a Cooperativa Agrícola Mista do Rio Corrente (COARC), criada em 1974; a Cooperativa dos Produtores de Grãos dos Gerais (COPERGEL), criada em 1981; e a Cooperativa Agrícola dos Cerrados do Brasil Central (COACERAL), criada em 1984.

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133

c) Sindicato dos Produtores Rurais: um sindicato patronal situado em

Luís Eduardo Magalhães;

d) Associação dos Agrônomos: localizada em Barreiras e em Luís

Eduardo Magalhães; e

e) Associação dos Técnicos Agrícolas da Bahia (ASTABAHIA): situada

em Luís Eduardo Magalhães.

De todas estas instituições, a mais importante, por ser de maior

representatividade, é a AIBA. Essa associação surgiu em agosto de 1990, com o

objetivo de suprir a necessidade que os produtores irrigantes da região sentiam de

ter uma entidade que os representasse. É uma organização não governamental,

representando os agricultores da Bahia, contando com 1.130 associados que,

juntos, cultivam 1,3 milhão de hectares, produzindo 4,9 milhões de toneladas e uma

receita bruta de R$ 4,5 bilhões, na safra 2003/04. Além de agricultores, integram,

ainda, o quadro de sócios, pecuaristas e empresas ligadas ao agronegócio.

Assim, a AIBA congrega um grupo de entidades ligadas ao agronegócio,

sendo a principal fonte de geração e difusão de informações agrícolas no oeste da

Bahia, promovendo e participando de eventos para a difusão de tecnologia, além de

atuar como interlocutora entre os produtores e o Estado, em todos os níveis de

governo.

Além do suporte aos produtores associados, a AIBA procura participar da

formulação de políticas públicas para a agricultura, buscando viabilizar convênios e

diversas ações que beneficiem diretamente o setor produtivo. As ações

desenvolvidas por esta instituição representam um amplo leque e buscam dar

suporte aos produtores e realizar elos de articulação produtiva e institucional. Dentre

as principais, destacam-se:

a) inserção na legislação de dispositivos que viabilizaram a permanência

e a inclusão de inúmeros produtores na atividade, a partir da

renegociação das dívidas rurais;

b) aproveitamento dos créditos de Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços (ICMS) de insumos mediante anuência da

Associação;

c) criação do primeiro fundo de aval privado do país, uma parceria com o

Banco do Nordeste, permitindo aos produtores que não dispõem de

garantia real o acesso ao crédito de custeio agrícola com recursos do

FNE);

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134

d) importante papel na coordenação e implantação do “Programa

estratégico de manejo da ferrugem asiática da soja”, programa este

que garantiu o incremento de 660 mil toneladas na safra 2003/04 em

relação à safra anterior;

e) participação na implantação e gestão da Central Campo Limpo, que

retira do meio ambiente as embalagens de agroquímicos, gerando 23

empregos diretos, elevando o Estado da Bahia ao primeiro lugar em

percentual de embalagens recolhidas x consumo (86,1%);

f) instalação do “Viveiro central de mudas nativas e exóticas”, com

capacidade de produzir 2 milhões de mudas por ano para

recomposição de áreas degradadas;

g) parcerias com concessionárias de serviços públicos e com o Estado na

viabilização de infra-estrutura básica para o setor produtivo: ampliação

da rede elétrica, implantação de sistemas de telefonia, e manutenção

de estradas;

h) participação, junto ao Governo do Estado, para a criação da

Companhia de Ações Independentes do Cerrado (CIAC), pela Policia

Militar, com melhoria na segurança regional;

i) proposta e implantação do Programa de Incentivo à Cultura do

Algodão (PROALBA) e Fundo para o Desenvolvimento do Agronegócio

do Algodão (FUNDEAGRO), que incentivaram a expansão da

cotonicultura na Bahia, tornando o Estado o segundo maior produtor

nacional;

j) participação nos trabalhos de elaboração do sistema de concessão de

crédito presumido de ICMS, junto à Secretaria da Fazenda, que

simplifica e democratiza o acesso ao crédito; e

k) articulação para a integração das instituições representativas do

agronegócio da Bahia.

A gestão da AIBA é exercida por um Conselho Diretor multissetorial.

Assim, os segmentos que possuem entidades representativas encaminham suas

demandas e participam nas tomadas de decisão, sendo representados pelos seus

respectivos presidentes. O Conselho Diretor tem como suporte: o Conselho Fiscal,

constituído por seis membros, sendo três titulares e três suplentes; o Conselho

Técnico, formado por quatro integrantes; e o Conselho Consultivo, composto por

quinze pessoas.

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135

A Associação conta com 38 colaboradores: nove, na sede, em Barreiras,

um, no escritório de Luís Eduardo Magalhães, um, no escritório de Rosário

(Correntina – Ba.), 23 na Central Campo Limpo, e quatro no Campo Experimental de

Café.

Em 1999, foi adquirida a sede própria, em Barreiras, com área de 3.800

m2, onde estão instalados o escritório central e a área social. Esta sede é

compartilhada com outras instituições parceiras, como a Fundação Ba., com o

objetivo de dinamizar e fortalecer ainda mais as relações entre as entidades

institucionais e o setor produtivo.

Na AIBA, foi entrevistado o Assessor de Agronegócios que destacou que

a Associação não se envolve com a parte comercial; participa da parte político-

institucional da comercialização. Ele referendou que a instituição trabalha em defesa

do produtor, desenvolvendo ações em nível federal e estadual, contribuindo para os

seus interesses. Como conquistas, foram citados a institucionalização do crédito e o

primeiro fundo de aval privado no Brasil, onde o Banco do Nordeste empresta e a

AIBA garante. Além disso, enfatizou os seminários e congressos realizados como

difusão do conhecimento, caracterizando um processo de difusão do aprendizado do

tipo learning by interacting (LUNDVALL, 1988).

Como gargalo ao escoamento da produção, o entrevistado citou a

deficiência de estradas, ressaltando a necessidade de uma ação conjunta do Estado

e prefeituras no setor. Quanto ao modelo de gestão, afirmou ter havido uma melhoria

nos dois últimos anos, pois os produtores de soja se tornaram “sojicultores”,

produzindo também algodão, e aumentaram os seus cuidados em função da cultura

do algodão, que necessita de mais procedimentos do que a soja.

Por fim, o entrevistado citou a importância da Fundação Bahia na difusão

tecnológica e de pesquisa – a Fundação é uma entidade à parte, mas o associado

paga a AIBA e a Fundação conjuntamente. Assim, merece destaque o papel dessas

organizações na construção de parcerias para resolver problemas de infra-estrutura

e estímulo à pesquisa e inovação. Iniciativas como essas apontam articulações

importantes entre a dimensão produtiva, institucional e tecnológica, fundamental

para a construção de bases endógenas de desenvolvimento e para a estruturação

do cluster, considerando o conceito de desenvolvimento concebido nesta pesquisa.

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136

4.3 ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA DO AGLOMERADO DA SOJA DO OESTE DA BAHIA

Tomando como base a estrutura do sistema agroindustrial da soja no

Brasil, a Figura 11, a seguir, traz uma representação desse sistema aplicada ao

Oeste da Bahia. Assim, vejamos as principais relações identificadas no sistema

agroindustrial da soja nesta região, que permitam definir as estruturas de

governança existentes no aglomerado.

4.3.1 TRANSAÇÕES ENTRE DISTRIBUIDORES E INDÚSTRIAS

PROCESSADORAS

Na região existem apenas duas indústrias processadoras, a Bunge e a

Cargill, empresas multinacionais, caracterizando uma estrutura de mercado

oligopolista. Ambas se relacionam diretamente com os distribuidores que fazem com

que o produto, nas suas mais variadas derivações, chegue ao consumidor final.

É importante destacar que produtos direcionados para distribuidores,

principalmente supermercados, apresentam elevada especificidade associada à

marca, no caso de empresas fortemente orientadas para a linha de diferenciação.

Desta forma, atributos de qualidade específicos, definidos pelas estratégias de

segmentação de mercado, passam a incrementar adicionalmente o nível de

especificidade física dos produtos, como no caso do óleo de soja.

Alguns produtos derivados da soja, como o óleo, mostram-se com poucos

atributos passíveis de diferenciação, caracterizando um produto com especificidade

física baixa (WILLIAMSON, 1985). Nesse contexto, a baixa perecibilidade dos

derivados de soja, de forma geral, determina um baixo nível de especificidade

temporal, com exceção da margarina, que exige sistemas refrigerados, sendo ainda

um produto menos problemático do que lácteos e carnes, por exemplo. A freqüência

das transações é elevada, porém o número elevado de fornecedores de derivados

de soja acaba atenuando o efeito desse atributo.

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137

Figura 11 – Delimitação do sistema agroindustrial (SAG) da soja no Oeste da Bahia Fonte: Elaboração própria a partir de Lazzarini & Nunes (1998)

Nesse sentido, dada uma situação de especificidade de média a baixa, a

estrutura de governança que ocorre na transação entre a indústria de derivados e os

distribuidores (T14) é o mercado, segundo Williamson (1985). Indústrias e

distribuidores negociam continuamente, inexistindo, na maioria dos casos, vínculos

de longo prazo mais sólidos além das relações tradicionais de “clientes”. O aumento

do poder de barganha dos distribuidores, em detrimento da indústria, acaba também

induzindo uma baixa propensão ao estabelecimento de relações de mais longo

prazo, pois os distribuidores podem, de forma autônoma, buscar mais facilmente as

melhores oportunidades de preços e margens pagas, incluindo importações.

4.3.2 TRANSAÇÕES ENTRE INDÚSTRIAS DE ESMAGAMENTO/REFINO, E

INDÚSTRIA DE DERIVADOS

As duas esmagadoras encontradas na região internalizam a indústria de

derivados à atividade de esmagamento. Trata-se da transação T10 da Figura 4, que

é normalmente realizada, inclusive no Brasil, internamente, ou seja, via integração

vertical (WILLIAMSON, 1985). Entretanto, não existem especificidades acentuadas

no produto adquirido pela indústria de derivados de óleo de soja, uma vez que a

exigência de determinados padrões qualitativos não é elevada para a produção de

derivados como margarinas, maionese, molhos prontos (salad dressings), etc.

Essa especificidade pode aumentar se forem exigidos óleos com balanço

definido de ácidos graxos ou com atributos nutricionais específicos, porém não em

um nível que justifique a integração vertical. A recorrência e a incerteza das

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transações não são propriamente limitantes devido ao número elevado de ofertantes

de óleo bruto e refinado, porém pode se tornar um aspecto crítico à medida que

aumente a concentração, na indústria de esmagamento, dando espaço a ações

oportunistas por parte do ofertante, como um aspecto de barganha. Ainda assim,

seriam estruturas de governança de cunho mais autônomo, como formas híbridas ou

de mercado. (WILLIAMSON, 1985).

A ocorrência da integração vertical nesta transação pode ser explicada

pela própria evolução histórica da indústria, buscando explorar economias de

escopo com novos produtos e adicionar valor à matéria-prima óleo, visando margens

adicionais. Entretanto, essas margens não significam necessariamente maior

rentabilidade, a depender do nível de investimentos necessários para a adição de

valor, incluindo constituição de marca no novo mercado, principalmente, no caso de

mercados altamente intensivos em promoção, como o das margarinas e maioneses.

4.3.3 TRANSAÇÕES ENTRE INDÚSTRIAS DE ESMAGAMENTO E

INDÚSTRIAS DE RAÇÃO

No Oeste da Bahia, as duas principais esmagadoras encontradas na

região internalizam a indústria de ração à atividade de esmagamento (T12), ou seja,

esta transação é realizada internamente às firmas, via integração vertical.

(WILLIAMSON, 1985).

4.3.4 TRANSAÇÕES ENTRE INDÚSTRIAS PROCESSADORAS E

ORIGINADORES/ PRODUTORES

Na região existem duas principais indústrias processadoras: a Bunge e a

Cargill. Estas recebem o grão diretamente dos produtores e/ou dos distribuidores,

também chamados de originadores. Na maioria dos casos, as próprias

processadoras financiam a produção a ser realizada diretamente com os produtores,

ditando, portanto, o preço de compra do produto, e caracterizando uma estrutura de

governança hierárquica segundo Williamson (1985).

São contratos de curto prazo, envolvendo uma única safra, não se

caracterizando em uma forma de governança visando a continuidade da transação

no longo prazo. Assim, é uma relação contratual bastante complexa, pois engloba,

em uma só transação, três aspectos distintos: a transferência física do produto, o

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financiamento (crédito) do fornecedor e o processo de transferência de riscos.

Indústrias e originadores estão interessados basicamente na transferência física do

produto e, portanto, a indução de contratos é resultante primordialmente do desejo

de garantir um nível adequado de utilização das capacidades industriais e/ou uma

quantidade mínima de movimentação de produtos para cobrir custos fixos.

Nesses contratos envolvendo fornecimento de crédito, os compradores

efetuam adiantamento de capital de giro aos produtores, antes do plantio, em troca

da entrega de um determinado número de sacas de soja, na época da colheita;

esses contratos são conhecidos como “soja verde”. As empresas exportadoras têm

utilizado recursos via adiantamento de contrato de câmbio (ACC) e linhas externas,

a juros inferiores aos praticados no mercado interno, que tendem a ser repassados

em parte aos produtores.

Dada a intensa competição por aquisição de soja, na maioria das regiões

brasileiras, a política de fornecimento de crédito ao produtor acaba se tornando um

diferencial a mais para garantir a compra da matéria-prima. Historicamente, a partir

da década de 80, o volume de recursos governamentais destinados ao crédito da

cultura da soja foi reduzido27, de forma que o setor industrial foi assumindo o papel

de agente financeiro para a produção, atrelando o produtor diretamente à indústria.28

Além disso, existe o efeito da especificidade temporal da soja na época

da colheita, quando aumenta a competição pela aquisição do produto e, também, o

efeito da especificidade locacional, decorrentes de questões logísticas, bem como

tributárias, como em alguns casos em que ocorrem entraves associados ao ICMS.

Deve-se observar que as transações originador-indústrias (T2) e produtor-

originadores (T3, T4 e T5) são marcadas por elevadas incertezas associadas ao

preenchimento da capacidade das fábricas (no caso de indústrias) e à necessidade

de movimentação de uma quantidade mínima de produto para cobrir os custos fixos

(no caso de originadores).

O que ocorre no Oeste da Bahia é o mesmo que ocorre no Brasil, pois

existem algumas dificuldades nesses tipos de contratos no que se refere à

inadimplência sofrida pelas indústrias por parte dos produtores. Assim, como

alternativa, surgiram também novos contratos com mecanismos mais sólidos de

garantia contra risco de crédito, como a Cédula de Produto Rural (CPR), que é um 27 Segundo Lazzarini & Nunes (1998), no período 1980-90, o volume de recursos destinados a

Empréstimos do Governo Federal (EGFs) para a cultura da soja reduziu-se em cerca de 83%, demonstrando uma redução de disponibilidade de crédito para o segmento agrícola.

28 Para uma análise dos financiamentos concedidos na região, ver item 4.5.

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ativo financeiro (letra de câmbio) endossável, para entrega futura de produto

agrícola; e o Contrato de Mercadoria com Emissão Garantida (CM-G), um contrato

mercantil de compra e venda, garantido por fiança bancária ou seguradora.

(LAZZARINI; NUNES, 1998). Mas o uso desses contratos acarreta altos custos

envolvidos no aval ou na fiança bancária, além dos custos de registro e

transferência, o que ainda restringe o seu uso.

A ocorrência desses contratos também é determinada pelo desejo de

transferência de riscos. Quanto à fixação de preços, existem contratos denominados

“a fixar”, nos quais não ocorre acerto de preço da soja no momento do empréstimo,

e os contratos com “preços fixos”, nos quais a indústria efetua o empréstimo e o

produtor se compromete a entregar um determinado número de sacas de soja no

futuro, caracterizando um processo de transferência de riscos de preços por meio de

contratos específicos. Esse tipo de contrato é denominado “a termo”, embora não se

trate do modelo tradicional em que o preço é fixado em uma data e o pagamento é

realizado em um momento posterior a esta, mas utiliza-se esta denominação para

ressaltar que tais contratos atuam como substitutos para os contratos futuros, que

são padronizados e negociados em bolsa, na transação entre produtores e

indústrias.

Os produtores tendem a fixar preços quando o nível destes encontra-se

elevado e/ou quando acreditam que haverá futura redução, efetuando contratos com

“preços fixos” com indústrias, tradings ou cooperativas, envolvendo, também,

transferência física. Fechado o contrato com o produtor, muitas vezes, indústrias e

tradings realizam operações simultâneas de venda na Bolsa de Chicago (CBOT).

Outra alternativa para os produtores seria realizar o processo de

transferência de riscos por meio de contratos futuros negociados em bolsas, que têm

maior nível de garantias, mas os contratos a termo são mais convenientes porque

envolvem transferência física, que não é objetivo dos contratos futuros, pelo fato das

identidades das partes serem conhecidas e pela maior simplicidade operacional.

Além disso, contratos a termo não exigem depósito de margem de garantia inicial e

de variação (pagamento de “ajustes diários”), como no caso das bolsas, o que é

vantajoso para produtores mais descapitalizados, considerando que o preço se

mantenha.

Entretanto, existem custos de transação nos contratos a termo, tanto ex

ante (procura de compradores e vendedores, negociação e avaliação inicial do risco

de crédito) quanto ex post (necessidade de monitoramento mais intenso e maior

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141

possibilidade de má-adaptação, principalmente quanto à inadimplência, de acordo

com Williamson (1985). Esses custos tendem a ser menores nas bolsas para os

produtores, devido à centralização dos negócios e à existência da clearinghouse, um

órgão responsável por coletar depósitos de garantia dos participantes para reduzir o

risco de crédito no mercado.

O mesmo movimento em relação à referência para a precificação do

sistema agroindustrial da soja no Brasil ocorre no Oeste da Bahia, através dos

preços na CBOT, muito embora não ocorra um paralelismo perfeito entre os preços

externos e os locais. Mas a elevada liquidez do mercado da CBOT faz com que a

maioria das indústrias e tradings realizem operações de hedging naquela bolsa, em

detrimento de bolsas locais no Brasil, como a Bolsa de Mercadorias & Futuros

(BM&F). Esta, por apresentar um contrato futuro desenhado de forma específica

para o mercado brasileiro, tende a gerar maior nível de proteção contra variações

dos preços da soja, ou seja, maior efetividade de hedging. Entretanto, grandes

hedgers tendem a trocar tal vantagem pela maior liquidez no mercado da CBOT,

uma vez que a operação de grandes lotes em mercados pouco líquidos, como é o

caso dos futuros agrícolas em bolsas brasileiras, tende a gerar custos elevados de

transação devido ao “impacto de mercado” das ordens de compra ou venda.

(LAZZARINI & NUNES, 1998).

4.3.5 TRANSAÇÕES ENTRE TRADINGS E INDÚSTRIAS PROCESSADORAS

/ MERCADO EXTERNO

No caso de indústrias de maior escala, com possibilidade de constituir

departamentos internos de trading, as vendas de produtos para o mercado externo

são normalmente conduzidas pela própria firma. Este é o caso das esmagadoras

presentes na região, a Bunge e a Cargill.

A existência de departamentos internos de trading permite um maior

aproveitamento das oportunidades de mercado. Desta forma, quanto mais definida

for a linha estratégica da empresa para a liderança em custos orientada para

commodities de mercado global, maior tende a ser a escala de operação e o nível de

especificidade dos ativos humanos e físicos necessários para potencializar as

vendas externas e, até mesmo, compras, como no caso de importações em regime

de draw back (T11). Este aspecto, associado à elevada freqüência das vendas e

compras externas, acaba justificando a integração vertical nas transações entre as

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esmagadoras e as tradings (T7), havendo, portanto, um relacionamento direto com o

mercado internacional (T9).

4.3.6 TRANSAÇÕES ENTRE PRODUTORES E INDÚSTRIA DE INSUMOS

Na região em estudo, assim como no Brasil, de uma forma geral, a

natureza dos ativos envolvidos na transação entre o segmento de insumos e o de

produção agrícola é a mais variada possível. Produtos como fertilizantes e corretivos

apresentam especificidade baixa, enquanto sementes se apresentam como ativos

mais específicos à cultura.

Assim, de uma forma geral, verifica-se a ocorrência de transações via

mercado juntamente com modalidades contratuais conhecidas por “troca-troca”: a

promessa de um determinado número de sacas de soja a serem entregues no futuro

em troca de insumos antes do plantio, por meio de contratos firmados com

produtores. Em vários casos, esses insumos são vendidos por meio de “pacotes”

envolvendo fertilizantes, defensivos e sementes.

Muitas vezes essas operações são coordenadas por cooperativas,

tradings e indústrias que atuam como “ponte” entre o produtor e a indústria de

insumos. Na fase de plantio, o fornecimento de crédito por meio de “troca-troca”

parece ser mais comum; na condução da cultura, o crédito tende a ser realizado

mais na forma de fornecimento de capital de giro. Assim, esses contratos são

explicados menos pelos atributos dos insumos propriamente ditos e mais pela

necessidade de crédito por parte dos produtores e pelo ímpeto de adicionar serviços

à ação comercial da indústria de insumos e de processadores/originadores.

No caso de sementes, a transação T1 pode ocorrer de três formas:

integração vertical, quando o sojicultor destina parte da produção para o plantio na

safra seguinte; contratos, quando as sementes são contempladas em operações

“troca-troca”; e mercado, quando o sojicultor adquire de forma independente as

sementes de empresas especializadas.

Entretanto, o uso de semente própria deve se reduzir à medida que a

qualidade superior da semente oriunda de empresas especializadas for se tornando

aspecto diferenciador da produtividade obtida. A venda de “pacotes” representaria

uma tendência, visando explorar a complementaridade de produtos, como a soja RR

e o glifosate, e a possibilidade de fornecer serviços de suporte aos produtores, tais

como a transferência de novas tecnologias e crédito.

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143

4.4 FORMAS DE COOPERAÇÃO E ESFORÇO DE CAPACITAÇÃO PARA INOVAR

No complexo agroindustrial da soja no Oeste da Bahia, assim como no

restante do Brasil, no que se refere à introdução de inovações, estas são feitas

principalmente pelos produtores de sementes, de insumos, de máquinas agrícolas e

pelo segmento industrial, por inovações incorporadas aos bens de capital.

Assim, as inovações em insumos, máquinas agrícolas e bens de capital

se dão de forma incremental29 e as inovações radicais ocorrem no segmento de

sementes, com a difusão da chamada biotecnologia de terceira geração nas

empresas sede, já que se tratam de empresas multinacionais.

É importante destacar que esse processo de P&D é desenvolvido fora da

região, em nível nacional e internacional, e é então trazido e adaptado localmente

(CANUTO, 1992). Nesse caso, podemos afirmar que a tecnologia apresenta um

conteúdo de conhecimentos tácitos e específicos, denominados idiossincráticos

(NELSON; WINTER, 1982).

Nesse processo de difusão do conhecimento, conforme foi analisado, a

Fundação Ba. desenvolve pesquisas agrícolas, como melhoramento de variedades

de cultivares, testa materiais desenvolvidos pela Embrapa Soja, promove ações

contra a ferrugem asiática, estudos de fertilidade, etc. É nesse sentido de articulação

entre as dimensões produtiva e institucional, conforme pressuposto desta pesquisa,

que são criadas condições para que a região se desenvolva.

4.4.1 PRODUTORES DE SEMENTES

A biotecnologia pode ser dividida em três gerações ou fases de

desenvolvimento segundo Lazzarini & Nunes (1998). A primeira refere-se à

utilização de microorganismos, principalmente nos processos de fermentação, na

fabricação de bebidas alcoólicas e de pães sendo mais um conjunto de técnicas do

que a aplicação do conhecimento científico, representando práticas muito antigas.

A segunda geração da biotecnologia surgiu na década de 30, com o

advento da petroquímica e dos antibióticos, como a penicilina. Nesta fase, foram

29 As inovações incrementais ocorrem no sentido de adaptar os produtos ou processos às

necessidades do usuário, interagindo com ele, sendo também uma fonte de aprendizado e inovação.

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144

investigados produtos biológicos naturais que foram modificados artificialmente por

processos químicos ou por radiação.

A terceira geração, também denominada de nova biotecnologia, teve

início nos anos 70, com a proposta de realizar modificações no padrão genético das

espécies por meio de técnicas como DNA recombinante (rDNA) e anticorpos

monoclonais (Mab). Assim, esta geração fundamenta-se no conhecimento científico

e em grandes investimentos no desenvolvimento de produtos específicos.

Nos anos 70, as inovações em biotecnologia eram geradas por

instituições de pesquisa nas universidades. Já nos anos 80, com o surgimento de

instrumentos legais específicos para a proteção dos direitos de propriedade

intelectual, grandes empresas com atividades relacionadas à biotecnologia de

segunda geração, principalmente as indústrias químico-farmacêutica e de sementes

passaram a investir na pesquisa de espécies modificadas geneticamente. Assim, por

seus impactos nos mercados mundiais, a competência em biotecnologia é

considerada uma variável competitiva chave.

As oportunidades abertas pela biotecnologia de terceira geração referem-

se à possibilidade de produzir as commodities existentes a custos mais baixos ou

dotá-las de características novas e melhores tanto para o consumidor final quanto

para as etapas intermediárias de transformação industrial.

A soja apresenta características reprodutivas que dificultam a apropriação

da inovação com o lançamento de novas variedades, pois a reutilização dos grãos

colhidos como semente não traz perda significativa de produtividade, como no caso

de materiais híbridos, que é o caso do milho. Desta forma, é comum que os

produtores reaproveitem parte da safra como semente, na safra seguinte, o que se,

por um lado, traz limitações para a apropriabilidade de investimentos em P&D na

indústria de sementes para a soja, por outro lado os agricultores não ficam presos

(locked-in) a essas indústrias.

A maior parte dos materiais genéticos para a cultura da soja era oriunda

de organizações públicas, como a EMBRAPA. Entretanto, algumas empresas

privadas também desenvolveram variedades de soja, como a FT Sementes, que

lançou a FT Cristalina, material de elevada produtividade. Para atenuar a reutilização

de grãos na safra seguinte como sementes, empresas privadas buscaram

continuamente lançar novos produtos, de forma a gerar obsolescência nos materiais

antigos e tornar o agricultor dependente da empresa.

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145

Nesse processo, o banco de germoplasma de soja da FT Sementes foi

adquirido pela multinacional Monsanto, no final de 1997, constituindo-se em uma

nova empresa especializada em genética agrícola, a Monsoy. Essa aquisição foi

uma estratégia da Monsanto para ganhar mercado na área de sementes, de forma

que após pesados investimentos em P&D de biotecnologia, foi desenvolvida a “soja

transgênica” RR (Round-up Ready), resistente ao herbicida ainda responsável por

grande parte das receitas da empresa, o glifosate, garantindo a manutenção dos

ganhos decorrentes da comercialização desse produto. Assim, a Monsanto construiu

um “pacote tecnológico” completo para a cultura, vendendo conjuntamente a soja

RR e o herbicida glifosate, gerando uma maior garantia no controle do material

genético e potencializando a venda dos produtos.

Além disso, outras empresas também já estão desenvolvendo novas

famílias de genes modificados, a exemplo da Novartis, Sow, DuPont, etc.

(LAZZARINI; NUNES, 1998). Entretanto, apesar dos ganhos esperados com esse

uso de genes modificados (transgênicos), deve-se observar que existem entraves

associados a consumidores receosos por esta nova tecnologia, tanto a nível

nacional quanto internacional.

De uma forma geral, as pesquisas em genética da soja no Brasil têm sido

feitas com objetivos de aumento de produtividade e de redução de custos, além da

busca de resistência a pragas e doenças, tais como o cancro da haste, o nematóide

do cisto e fungos danosos no processo de colheita. Existem também algumas

pesquisas direcionadas para promover variações no ciclo produtivo da cultura, no

sentido de alongamento do ciclo visando facilitar o planejamento do manejo cultural,

bem como buscando maior precocidade para regiões de maior latitude (fronteiras

agrícolas), permitindo o cultivo da “safrinha”30.

Com isso, desenvolvem-se melhoramentos em alguns aspectos

qualitativos do grão, como o teor de proteína, teor de óleo, qualidade do óleo (com

menor percentagem de ácidos graxos saturados e maior estabilidade oxidativa),

aumento do teor de determinados aminoácidos (lisina, metionina), redução de

determinados fatores antinutricionais do farelo (como oligassacarídeos), etc.

O teor de proteína é o fator que tem sido mais observado, embora existam

evidências de que um aumento nesse atributo no grão tende a reduzir o teor de óleo,

e, talvez, até a produtividade da cultura. Portanto, a decisão de mercado depende

30 Cultura desenvolvida em situação de entressafra.

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146

dos preços relativos de cada um desses atributos. Assim, havendo uma tendência

de mercado mais favorável ao farelo (valorizando, portanto, a proteína como atributo

qualitativo), surge a necessidade de um avanço tanto nas pesquisas tecnológicas

quanto nos estudos econômicos, visando avaliar se as possíveis perdas em

produtividade poderão ser compensadas pela maior vantagem qualitativa do farelo.

É importante fazer uma diferenciação entre o agente que realiza

pesquisas genéticas de cunho mais genérico, como a EMBRAPA e outros agentes

internacionais, e o agente que realiza adaptações regionais das variedades, tendo

em vista especificidades locacionais; nesse sentido, existe a Fundação BA, no Oeste

da Bahia. Entretanto, é válido salientar que existe uma importante inter-relação entre

esses dois tipos de instituições, no sentido de articular as pesquisas às

necessidades locais, e é a partir desse aprendizado que se dá o processo inovativo

neste elo da cadeia, criando competências a partir do que Lundvall (1988)

denominou de learning by interacting.

Desta forma, os investimentos em P&D são coordenados, através da

articulação entre indústrias processadoras e empresas de pesquisa, ou seja, as

dimensões produtiva e institucional, visando a competitividade do sistema

agroindustrial, e refletindo no desenvolvimento da região.

4.4.2 INDÚSTRIA ESMAGADORA E DE SUBPRODUTOS

Quanto às tecnologias de esmagamento e refino do óleo, estas são

amplamente difundidas, não constituindo barreira à entrada de novas firmas. Mas,

do mesmo modo que na produção agrícola, a biotecnologia pode representar novas

oportunidades de ganhos tecnológicos para o segmento industrial.

As inovações tecnológicas trazidas para a indústria de esmagamento e

refino são em grande parte exógenas, trazidas por empresas especializadas em

equipamentos, máquinas, insumos, sistemas de informação e automação, etc. Pode-

se dizer que é um setor de tecnologia dominado pelo ofertante, onde predominam as

inovações incrementais, envolvendo um processo contínuo de aprimoramento e

adaptação de produtos às exigências do mercado. Assim, não existem barreiras

significativas para o acesso a estas tecnologias, limitando, portanto, tentativas de

ganho de poder de mercado por meio de desenvolvimento tecnológico específico,

por parte das indústrias.

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147

O processo tecnológico de extração de óleo por meio de solvente

(hexano) é o dominante e não se vislumbra, a médio e longo prazo, uma ruptura

tecnológica nesse sentido. Entretanto, como esse insumo é originário de fonte não

renovável, o petróleo, existem estudos em termos de alternativas tecnológicas, como

a extração com o uso de etanol, CO2 e enzimática, pois a biotecnologia tem amplo

potencial de uso na modificação de características físicas e químicas de gorduras e

óleos. (LAZZARINI; NUNES, 1998).

No que diz respeito às inovações em processo, existe alguma

diferenciação entre empresas, principalmente em relação ao desenvolvimento de

sistemas de qualidade total, logística e automação dos processos industriais.

Quanto à concepção de produtos para consumo final, alguns aspectos

tecnológicos merecem ser destacados, principalmente no que diz respeito à

embalagem desses produtos. No caso do óleo, por exemplo, novas embalagens

plásticas, do tipo PET, à base de polietileno tereftalado, vêm ganhando espaço no

mercado, principalmente para óleos mais nobres, como canola e girassol. Existem

também estudos para a introdução de embalagens cartonadas (tetra brik), pois

apresentam as vantagens de um menor custo e da durabilidade do óleo ser

semelhante à das latas. Considera-se que o custo da embalagem chega a

representar cerca de 15% dos custos totais de esmagamento, refino e envase.

(LAZZARINI; NUNES, 1998)

4.4.3 PRODUTORES DE SOJA

Em relação às novas tecnologias de produção, os avanços decorrentes

de estudos desenvolvidos com genética devem trazer impactos favoráveis sobre a

produtividade. Além disso, a tecnologia de plantio direto tem permitido maior

racionalização do uso do solo e economias no processo produtivo.

Alguns fatores determinantes foram apontados os produtores de soja do

Oeste da Bahia, na pesquisa de campo, no sentido de manter a capacidade

competitiva da produção. Através da Tabela 33, podemos destacar como: muito

importante, a qualidade da matéria-prima (57,1%). a tecnologia dos equipamentos

(73,5%) e variação na taxa de câmbio (59,2%); e importante, a qualidade da mão-

de-obra (59,2%) e o seu custo (57,1%); novas estratégias de comercialização (50%);

e custo de financiamento (50%).

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148

Como forma de buscar essa competitividade, os produtores indicaram as

principais inovações adotadas em produto e processo, conforme indica a Tabela 34,

a seguir. Em termos de produto merecem destaque as alterações de características

técnicas, consideradas de importante a muito importante (91,8%), como a busca de

novas variedades resistentes a pragas, alterações de teores protéicos, etc.; além

disso, as inovações citadas em novos produtos referem-se a novas cultivares como

forma de diversificação.

Em termos de processo, foi considerada muito importante a incorporação

de novos equipamentos (78,6%), a exemplo de implementos agrícolas mais

modernos; e a introdução de novas matérias-primas (43,9%), como novos tipos de

sementes.

Tabela 33 – Fatores determinantes para manter a capacidade competitiva na produção de soja, por níveis de importância, segundo os produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

QUALIDADE DA

MATÉRIA- PRIMA

QUALIDADE DA

MÃO-DE-OBRA

CUSTO DA MÃO-DE-

OBRA

TECNOLOGIA DOS

EQUIPAMENTOS

NOVAS ESTRATÉGIA

S DE COMERCIALI

ZAÇÃO

VARIAÇÃO NA

TAXA DE CAMBIO

CUSTO DE FINANCIAMEN

TO NÍVEL DE IMPORTÂNCIA

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Sem importância 2 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Pouco importante 0 0 5 5,1 22 22,4 0 0 3 3,1 2 2 3 3,1 Importante 40 40,8 58 59,2 56 57,1 26 26,5 49 50 38 38,8 49 50 Muito importante 56 57,1 35 35,7 20 20,4 72 73,5 46 46,9 58 59,2 46 46,9 Total 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100

Tabela 34 – Principais inovações adotadas pelos produtores nos produtos e nos processos produtivos a partir da década de 90, por níveis de importância, segundo os produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

INOVAÇÕES DE PRODUTO INOVAÇÕES DE PROCESSO PRODUTIVO

ALTERAÇÕES DE CARACTERÍSTICAS

TÉCNICAS

NOVO PRODUTO

INCORPORAÇÃO DE NOVOS EQUIPAMENTOS

INTRODUÇÃO DE NOVAS MATÉRIAS-PRIMAS

NÍVEL DE IMPORTÂNCIA

Nº % Nº % Nº % Nº %Sem importância 5 5,1 17 17,3 0 0 9 9,2Pouco importante 3 3,1 9 9,2 2 2 8 8,2Importante 55 56,1 34 34,7 19 19,4 38 38,8Muito importante 35 35,7 38 38,8 77 78,6 43 43,9Total 98 100 98 100 98 100 98 100

Para promover essas inovações, as principais fontes de informação

utilizadas pelos produtores estão indicadas na Tabela 36. Foram consideradas muito

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149

importantes as consultorias especializadas locais (33,7%); importante, a aquisição

de novos equipamentos fornecidos localmente (54,1%), as publicações

especializadas (37,8%), a troca de informações com clientes (58,2%), com

fornecedores (48%), com empresas do setor na região (49%) e congressos e feiras

comerciais e industriais do setor no país (40,8%).

Tabela 35 – Principais fontes de informação utilizadas pelos produtores para promover inovações de produto ou de processo, por níveis de importância, segundo os produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

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RTAM

ENTO

DE

P&D

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NÍVEL DE IMPORTÂNCIA

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Sem importância 92 93,9 25 25,5 62 63,3 93 94,9 48 49 73 74,5 90 91,8 8 8,2Pouco importante 3 3,1 7 7,1 18 18,4 3 3,1 26 26,5 9 9,2 4 4,1 4 4,1Importante 0 0 32 32,7 13 13,3 1 1 13 13,3 14 14,3 3 3,1 53 54,1Muito importante 2 2 33 33,7 4 4,1 0 0 10 10,2 1 1 0 0 32 32,7Não sabem 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1Total 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100

continua

conclusão

AQUI

SIÇÃ

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SE

TOR

NO P

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NÍVEL DE IMPORTÂNCIA

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Sem importância 27 27,6 23 23,5 7 7,1 9 9,2 12 12,2 37 37,8 22 22,4 Pouco importante 32 32,7 11 11,2 5 5,1 5 5,1 7 7,1 20 20,4 18 18,4 Importante 22 22,4 37 37,8 57 58,2 47 48 48 49 33 33,7 40 40,8 Muito importante 16 16,3 26 26,5 28 28,6 36 36,7 30 30,6 7 7,1 17 17,3 Não sabem 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Total 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100

Observa-se, então, que, sendo as inovações mais importantes as

referentes à incorporação de novos tipos de sementes e equipamentos, estas são

realizadas por outros elos da cadeia, o que aponta para uma forte integração com

elos a montante e a jusante da produção. Essa forma de incorporar a pesquisa e a

inovação pode explicar o fato de os produtores considerarem sem importância os

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150

departamentos de P&D e a Universidade para produzirem inovações. A

Universidade tem pouca articulação nesse processo, uma vez que as empresas e os

institutos envolvidos realizam essa tarefa.

Já a troca de informações é considerada importante e muito importante

pelos produtores, caracterizando um processo de aprendizado do tipo learning by

interacting, conforme definido por Lundvall (1988).

Destaca-se a importância da consultoria. Na verdade, o grupo de

consultores é, geralmente, o mesmo em todo o Brasil, e isso faz com que as

inovações, práticas e processos sejam difundidos quase que simultaneamente. Os

congressos e feiras são considerados importantes porque funcionam como um

elemento de start no processo, através da articulação de grupos que atendem aos

interesses das empresas, tradings, etc., de forma que funcionam como verdadeiros

difusores das inovações (DOSI, 1988).

As formas de incorporação de inovações tecnológicas pelos produtores

estão destacadas na Tabela 36. Merecem destaque, citadas como importante, a

aquisição de máquinas no mercado nacional (57,1%), a cooperação com

fornecedores de equipamentos (57,1%) e com fornecedores de insumos (54,1%),

caracterizando um processo de aprendizado denominado por Dosi (1988) de

learning by doing e learning by using.

Tabela 36 – Formas de incorporação de inovações tecnológicas, por níveis de importância, segundo os produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

AQUI

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NÍVEL DE IMPORTÂNCIA

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Sem importância 3 3,1 7 7,1 6 6,1 30 30,6 23 23,5 10 10,2 30 30,6Pouco importante 1 1 19 19,4 19 19,4 32 32,7 36 36,7 37 37,8 28 28,6Importante 56 57,1 57 57,1 53 54,1 26 26,5 33 33,7 25 25,5 35 35,7Muito importante 38 38,8 16 16,3 20 20,4 10 10,2 6 6,1 26 26,5 5 5,1 Total 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100

Os produtores também responderam à questão sobre a evolução das

relações de cooperação com as demais empresas da cadeia, nos últimos cinco

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151

anos. O resultado encontra-se na Tabela 37, merecendo destaque o percentual de

78,6% para o aumento da intensidade das relações na questão da troca de

informações, caracterizando, mais uma vez, um processo de learnig by interacting.

(LUNDVALL, 1988). Ressalta-se a estabilidade e a importância da ação conjunta de

marketing, que é muito bem conduzida localmente pela AIBA.

Tabela 37 – Evolução das relações de cooperação com as demais empresas do arranjo nos últimos cinco anos, por intensidade das relações, segundo os produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

TROCA DE INFORMAÇÕES

ENSAIOS PARA DESENVOLVIMENTO E

MELHORIA DE PRODUTOS

AÇÕES CONJUNTAS PARA CAPACITAÇÃO

DE RH

AÇÕES CONJUNTAS DE MARKETING

INTENSIDADE DAS RELAÇÕES

Nº % Nº % Nº % Nº % Forte diminuição 0 0 6 6,1 2 2 3 3,1Diminuição 0 0 10 10,2 1 1 3 3,1Estável 17 17,3 36 36,7 58 59,2 79 80,6Aumento 77 78,6 37 37,8 37 37,8 11 11,2Forte aumento 4 4,1 9 9,2 0 0 2 2Total 98 100 98 100 98 100 98 100

A Tabela 38, a seguir, mostra a forma de interação dos produtores com

associações de classe, sindicatos e outros tipos de organizações de representação

coletiva na região. Foram considerados como muito importante, cursos e seminários

(55,1%); e importante, contatos e troca de informações (49%) e a realização de

eventos ou feiras (53,1%). Isso mostra uma postura interativa e de interesse dos

produtores em se manterem atualizados, pois são formas importantes de

aprendizado que fortalecem os elos, incorporando práticas e processos na região,

conforme especificado por Dosi (1988) e Lundvall (1988).

Tabela 38 – Forma de interação dos produtores com associações de classe, sindicatos e outros tipos de organizações de representação coletiva, por importância, segundo os produtores, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

CURSOS E SEMINÁRIOS

NEGOCIAÇÕES COLETIVAS

APOIO NA AQUISIÇÃO DE

INSUMOS

CONTATOS E TROCA DE

INFORMAÇÕES

REALIZAÇÃO DE EVENTOS OU FEIRAS

NÍVEL DE IMPORTÂNCIA

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Sem importância 0 0 30 30,6 50 51 1 1 0 0 Pouco importante 0 0 9 9,2 1 1 5 5,1 0 0 Importante 32 32,7 18 18,4 4 4,1 48 49 52 53,1 Muito importante 55 55,1 12 12,2 5 5,1 3 3,1 20 20,4 Não sabem 12 12,2 29 29,6 38 38,8 41 41,8 26 26,5 Total 98 100 98 100 98 100 98 100 98 100

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152

Assim, quanto às formas de cooperação e esforço de capacitação para

inovar, por parte dos produtores, existe uma grande preocupação com a tecnologia

dos equipamentos utilizados, bem como com a utilização de novos tipos de

sementes. Na busca dessas informações, são utilizadas fontes as mais variadas, a

exemplo de publicações especializadas e articulações com clientes e fornecedores.

Essas condutas, conforme já analisado, decorrem da incorporação de inovações que

são exógenas à região, mas que são trazidas e implementadas por empresas

nacionais e multinacionais e são adaptadas, ou seja, incorporadas ao processo

produtivo local.

Torna-se importante, neste sentido, retomar Dosi (1988), que afirma que o

conhecimento inovativo é local e específico, limitado por um paradigma e que ocorre

ao longo de trajetórias particulares, sendo distribuído com diferentes competências e

graus de sucesso por todos os agentes econômicos que operam naquela tecnologia

particular. Além disso, na medida em que cada conhecimento é, também, local e

cumulativo ao nível de firmas individuais, é possível observar também trajetórias

específicas de cada firma, envolvendo o desenvolvimento cumulativo e a exploração

das competências tecnológicas.

4.4.4 COOPERATIVAS, ASSOCIAÇÕES E FUNDAÇÕES

De uma forma geral, as instituições formatadas como cooperativas,

associações e fundações, têm características mais ligadas ao processo de

originação do que aos estágios mais próximos do consumidor final. Elas têm um

papel fundamental no processo de cooperação e esforço de capacitação para

inovar, e isso fica muito claro no estudo da região do Oeste da Bahia.

Dentre as encontradas na região31, a AIBA, por exemplo, articulada à

Fundação BA, exerce importante papel nesse sentido, desenvolvendo diversas

pesquisas, conforme já foi explicado anteriormente. Ressalta-se, neste contexto, a

importância da articulação deste aparato institucional com a dimensão produtiva, no

sentido de promover o desenvolvimento regional.

31 V. página 132.

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153

4.5 COMPREENDENDO MELHOR A DINÂMICA REGIONAL: UM OLHAR ALÉM DO CLUSTER A PARTIR DE ALGUNS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS

Neste item são analisados alguns indicadores socioeconômicos da região,

destacando os principais municípios produtores de soja no Oeste da Bahia,

conforme definidos anteriormente. O objetivo deste item é analisar a evolução

socioeconômica da região, a partir de determinados indicadores, para perceber as

principais transformações que podem estar relacionadas com a dinâmica introduzida

pelo cluster da soja, verificando até que ponto a presença de grupos importantes da

agroindústria, instituições de pesquisa, etc., têm contribuído para melhorar o padrão

geral de vida na região.

O levantamento destes dados é feito totalmente a partir de fontes

secundárias, procurando perceber historicamente a evolução ou não do crescimento

econômico da região, e quiçá do seu desenvolvimento. Assim, são analisados os

seguintes itens: a) PIB do agronegócio; b) PIB das principais lavouras; c) PIB per

capita; d) estrutura setorial; e) pessoal ocupado; f) número de estabelecimentos de

comércio, indústria e serviços; g) renda média familiar per capita; h) financiamentos;

i) consumo de energia elétrica; j) receita tributária; l) IDH; pobreza; m) número de

leitos; n) quantidade de hospitais conveniados ao SUS; o) esperança de vida; p)

mortalidade infantil; q) analfabetismo; r) número de domicílios com água canalizada;

e s) número de domicílios com iluminação elétrica.

É importante destacar que esses dados não dão conta da complexidade

do que se entende por desenvolvimento regional, mas podem sinalizar a tendência

de um determinado processo de desenvolvimento, ou a falta deste, conforme

discutido no Capítulo 2. Os indicadores podem sinalizar, por exemplo, a falta de

estratégia de desenvolvimento, como apontado por Hirshman (1958), que tende a

acentuar os desequilíbrios. Como o desenvolvimento é, por natureza,

desequilibrado, daí a importância da ação institucional e Estatal para reduzir esses

efeitos que acabam rebatendo sobre a população excluída dos elos do cluster.

a) PIB do agronegócio O PIB do agronegócio indica a representatividade desse segmento da

economia para uma determinada localidade. Para uma análise do Brasil e da Bahia,

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154

no período de 1990 a 2004, observa-se que, para o ano de 2004, o PIB do

agronegócio do Brasil corresponde a 29,9% do PIB brasileiro e, da mesma forma, o

PIB do agronegócio da Bahia corresponde a 31,68% do PIB baiano, tendo sido esta

a tendência histórica desde a década de 90 (Tabela 39). Ressalta-se que, de 1990 a

2004, enquanto o PIB da Bahia aumentou em torno de 50%, o PIB do agronegócio

do Estado mais que duplicou nesse período, indicando a importância deste

segmento para a economia baiana.

Tabela 39 – PIB do agronegócio, Brasil e Bahia, 1999–2004 (em R$ milhões )

ANOS PIB BRASIL PIB AGRONEGÓCIO BRASIL PIB BAHIA

PIB AGRONEGÓCIO

BAHIA 1990 1.246.264 346.038 60.665 12.8711991 1.259.127 349.788 59.748 13.2121992 1.252.277 345.102 60.806 13.5621993 1.313.948 356.303 62.704 13.4511994 1.390.851 387.979 64.957 14.4661995 1.449.598 399.302 65.624 15.0471996 1.488.137 408.005 67.378 15.4421997 1.536.820 403.102 71.799 16.6201998 1.538.847 406.472 73.012 17.2481999 1.550.934 413.794 74.605 18.3342000 1.618.565 430.165 77.506 20.9512001 1.639.810 443.382 78.274 21.8222002 1.671.406 482.434 79.209 25.0132003 1.680.515 513.961 81.423 26.5552004 1.726.860 527.090 89.496 28.348Fonte: Giulhoto & Ichihara, 2006.

b) PIB das principais lavouras Analisando o PIB das principais lavouras do Estado da Bahia, verificamos

que, especificamente em relação à cultura da soja, a evolução, de 1999 a 2004, foi

de 156%. Dentre as principais culturas, conforme podemos observar na Tabela 40, a

soja ficou atrás do algodão, da mamona e da silvicultura. Todas, entretanto, tiveram

um crescimento expressivo e importante para a região.

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155

Tabela 40 – PIB das principais lavouras, Bahia, 1999–2004 (em R$ milhões de 2004)

Produtos 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Variação % 99-04

Algodão em caroço 101 227 262 203 503 1.156 1.045Cacau 504 328 419 768 646 559 11Coco da Bahia 217 227 157 254 229 252 16Mamona 20 80 56 55 78 137 585Mandioca 681 771 694 934 1.005 1.397 105Manga 114 100 112 119 137 218 91Milho 280 346 279 341 480 491 75Silvicultura 156 283 183 430 905 438 181Soja 551 648 669 918 1.006 1.411 156Fonte: Elaboração própria, a partir de Giulhoto & Ichihara, 2006

c) PIB per capita A análise do PIB per capita dos principais municípios produtores de soja

do Oeste da Bahia, conforme definidos anteriormente (Barreiras, Formosa do Rio

Preto, Luis Eduardo Magalhães e São Desidério), demonstra uma enorme

concentração de riqueza na região, descompassada do restante do país. Observa-

se uma evolução em todos os municípios, com dados de 1999 a 2004, merecendo

destaque Luis Eduardo Magalhães, que apresenta um valor de aproximadamente R$

51.600,00 por pessoa, para 2004, que é exageradamente alto para a realidade do

país; e São Desidério, que passa de R$ 7.677,02 em 1999 para R$ 30.025,66 em

2004. 32

Gráfico 6 – PIB per capita, 1999-2004 (em R$) Fonte: Elaborada a partir de dados da SEI

32 Para uma análise mais detalhada destes valores, consultar a Tabela 12, no Anexo A.

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156

O Gráfico 6, onde se observam valores muito aquém para Salvador, Bahia

e Brasil permite a visualização destas distorções. O Brasil, por exemplo, em 2004,

apresentou um PIB per capita de R$ 10.692,00. O PIB per capita de Luis Eduardo

Magalhães representa aproximadamente US$ 28.70033, podendo ser comparado

com o PIB per capita de países como a Espanha, Singapura e Nova Zelândia, que

apresentam um PIB per capita de US$ 27.074, US$ 26.481 e US$ 26.291,

respectivamente, para o ano de 2005.34

A fim de corroborar este quadro de desigualdade de renda, foi pesquisado

o índice de Gini35, mas, infelizmente, só foram obtidos dados dos anos de 1991 e

2000, período em que ainda não se observava tal concentração e quando o

Município de Luis Eduardo Magalhães não havia ainda sido emancipado. De

qualquer forma, podemos analisar os demais municípios, destacando-se, desde

então, uma grande concentração de renda em Formosa do Rio Preto (Tabela 41).

Estima-se que, em função dos dados de PIB per capita analisados, essa

concentração seja muito grande, atualmente, para os municípios de Luis Eduardo

Magalhães e Formosa do Rio Preto.

Tabela 41 – Desigualdade de renda no Brasil – Índice de Gini – 1991 e 2000 MUNICÍPIO 1991 2000 Salvador 0,651 0,658 Barreiras 0,615 0,630 Formosa do Rio Preto 0,721 0,795 Luis Eduardo Magalhães – – São Desidério 0,582 0,560 Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA

d) Estrutura setorial Quanto à estrutura setorial do PIB de cada um desses municípios, para o

ano de 2004, conforme demonstra a Tabela 42, a seguir, observa-se que os mais

intensivos em agropecuária são Formosa do Rio Preto e São Desidério, merecendo

destaque o setor industrial de Luis Eduardo Magalhães, com 57,25%, acima dos

33 Considerou-se uma taxa de conversão para o dólar de 1,8. 34 Informação disponível em: <http://pt.wikipedia.org>. 35 O índice de Gini mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a

renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula).

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157

48,51% para a Bahia, provavelmente decorrente do beneficiamento da soja, com a

presença da Bunge, caracterizando, juntamente com a Cargill, uma estrutura de

mercado oligopolista na região.

Tabela 42 – Estrutura setorial da Bahia, de Salvador e dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2004

SETORES ESTADO/MUNICÍPIOS AGROPECUÁRIA (%) INDÚSTRIA (%) SERVIÇOS (%)

BAHIA 10,70 48,51 40,79 SALVADOR 0,14 25,01 74,86 Barreiras 31,06 27,24 41,70 Formosa do Rio Preto 67,39 2,30 30,31 Luis Eduardo Magalhães 17,85 57,25 24,90 São Desidério 78,13 3,38 18,48 Fonte: Elaboração própria a partir de dados da SEI

e) Pessoal ocupado

De acordo com a análise do pessoal ocupado nesses municípios,

Barreiras é a cidade que mais emprega, principalmente no comércio, por ter sido

historicamente a cidade que pioneiramente se formou na região. Das quatro cidades

em estudo, Barreiras é a que apresenta menor renda per capita, então a maior base

de emprego formal se reflete em uma renda menor, embora superior à do Estado. O

detalhamento por município e por setores pode ser analisado na Tabela 43, para o

período de 1970 a 1995.

Tabela 43 – Pessoal ocupado no comércio, indústria e serviços, dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 1970/1995

MUNICÍPIOS ANO/SETOR BARREIRAS FORMOSA DO RIO

PRETO LUIS EDUARDO MAGALHÃES

SÃO DESIDÉRIO

Comércio 365 50 – 33Indústria 100 13 – 7

1970

Serviços 176 20 – 22Comércio 490 68 – 71Indústria 183 16 – 32

1975

Serviços 422 28 – 42Comércio 889 45 – 29Indústria 303 34 – 18

1980

Serviços 600 10 – 10Comércio 1.663 125 – 67Indústria 382 29 – 85

1985

Serviços 855 84 – 32Comércio 4.638 73 – 65Indústria 1.037 9 – 28

1995

Serviços 1.411 12 – 49Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA

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f) Número de estabelecimentos de comércio, indústria e serviços

Quanto ao número de estabelecimentos de comércio, indústria e serviços,

dos principais municípios produtores de soja no Oeste da Bahia, observa-se, na

Tabela 44, que o maior destaque, de 1970 para 1995, é para a cidade de Barreiras

nos três segmentos analisados, assim como ocorreu com pessoal ocupado. Isto se

explica pelo fato de que Barreiras é, historicamente, a principal metrópole da região,

agregando atividades de comércio, indústria e serviços.

Tabela 44 – Número total de estabelecimentos ou unidades locais de comércio, indústria e serviços, dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 1970/1995

MUNICÍPIOS ANO/SETOR BARREIRAS FORMOSA DO RIO

PRETO LUIS EDUARDO MAGALHÃES

SÃO DESIDÉRIO

Comércio 225 41 – 29Indústria 46 18 – 7

1970

Serviços 102 16 – 12Comércio 256 49 – 34Indústria 34 27 – 8

1975

Serviços 175 17 – 19Comércio 218 25 – 13Indústria 46 6 – 13

1980

Serviços 141 6 – 3Comércio 374 55 – 23Indústria 71 8 – 12

1985

Serviços 227 29 – 7Comércio 1.344 37 – 44Indústria 172 3 – 9

1995

Serviços 230 5 – 6Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA

g) Renda média familiar per capita

Fazendo uma análise da renda média familiar per capita dos principais

municípios produtores de soja no Oeste da Bahia, de 1970 a 1991, observa-se, na

Tabela 45, uma grande evolução deste indicador nos três municípios pesquisados,

considerando que o município de Luis Eduardo Magalhães ainda não existia. Merece

atenção o caso de São Desidério que, de 1980 para 1991, reduziu a renda média

familiar per capita. Entretanto, como o município apresentou um PIB per capita

crescente entre 1999 e 2004, variando de R$ 7.677,02 para R$ 30.025,66 no

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159

período, conforme já foi visto, supõe-se que a renda média familiar per capita

também deva ter aumentado nesses anos mais recentes, considerando, ainda, que

não tenha havido aumento da concentração de renda.

Tabela 45 – Renda média familiar per capita dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 1970/1991

(em salário mínimo de set/91) MUNICÍPIO 1970 1980 1991

Barreiras 0,21 0,90 0,94Formosa do Rio Preto 0,12 0,57 0,60Luis Eduardo Magalhães – – –São Desidério 0,10 0,43 0,40

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA

Nesta análise, podemos citar Perroux (1964) para quem existiriam pólos

de crescimento, que seriam indutores de desenvolvimento. No caso da agroindústria

da soja em estudo, as processadoras são empresas de muito peso no pólo

(indústrias motrizes), nas localidades onde estão instaladas, tendo, portanto, a

capacidade de incrementar os negócios de outras empresas (indústrias movidas),

impulsionando variáveis socioeconômicas ligadas ao crescimento e ao

desenvolvimento econômico.

Assim, as indústrias processadoras estimulam a criação de outros

negócios no Oeste da Bahia. Nesse sentido, Uderman (1992) afirma que a

internalização de processos agroindustriais aprofunda a dinâmica de reestruturação

em andamento, estimulando o desenvolvimento de atividades comerciais e de

serviços de apoio, ao mesmo tempo que incentiva a implantação de indústrias não

diretamente vinculadas à sojicultura. Surgem, então, ao lado das atividades

acopladas à cadeia da soja, empresas não ligadas de forma direta à sojicultura, que

nascem em resposta ao crescimento da renda regional viabilizado por essa

produção.

h) Financiamentos

O crédito é um importante indicador de crescimento de uma determinada

região. Para analisar os financiamentos concedidos a produtores e cooperativas

para o custeio da lavoura de soja no Brasil e na Bahia, de 1999 a 2005, temos as

Tabelas 46 e 47, respectivamente.

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Observa-se que, enquanto o número de contratos, o valor financiado e a

área financiada no Brasil diminuíram ao longo do tempo, na Bahia houve um

aumento significativo nessas mesmas variáveis e nesse mesmo período de tempo.

Enquanto, em 1999, o valor concedido a financiamento para a cultura da soja

representava 1,97% do valor do financiamento no Brasil, em 2005, essa participação

passa a ser de 5,34%, representando um crescimento significativo. Além disso, para

o Brasil, tanto o valor quanto a área financiados sofreram uma redução de valores

em 2004 e 2005, enquanto para a Bahia houve aumento. Caracteriza-se, portanto,

uma política de incentivo ao setor, por parte do governo, para o Estado da Bahia,

contribuindo para o crescimento da Região Oeste, onde está concentrada a

produção de soja.

Tabela 46 – Financiamentos concedidos a produtores e cooperativas para o custeio da lavoura de soja, Brasil, 1999/2005

ANO NÚMERO DE CONTRATOS

VALOR FINANCIADO (R$)

ÁREA FINANCIADA (em há)

1999 96.712 1.274.292.971,55 4.859.371,882000 47.677 1.236.334.287,36 5.164.757,532001 93.013 1.990.200.544,68 8.259.203,932002 98.875 2.765.267.094,04 8.617.675,022003 130.992 4.323.194.300,76 10.414.129,072004 139.688 5.360.892.218,75 9.194.975,212005 79.939 3.583.198.744,04 6.239.230,64Fonte: Banco Central. Anuário Estatístico do Crédito Rural, 1999 a 2005 Tabela 47 – Financiamentos concedidos a produtores e cooperativas para o custeio da lavoura de soja, Bahia, 1999/2005

ANO NÚMERO DE CONTRATOS

VALOR FINANCIADO (R$)

ÁREA FINANCIADA (em há)

1999 339 18.759.056,49 72.915,372000 446 25.641.557,32 125.725,712001 605 46.911.442,15 180.476,602002 620 69.410.310,07 211.122,562003 749 87.228.529,13 216.528,742004 1.105 139.334.308,33 214.231,862005 1.546 191.320.601,01 349.021,33Fonte: RAIS. Base de dados, 2005

Este estudo dos financiamentos para a região requer agora que a análise

seja desagregada pelos principais municípios produtores de soja no Oeste da

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Bahia.36 Para todos os municípios, os maiores valores são destinados para custeio

ao invés de investimento, e a grande maioria para a atividade agrícola ao invés de

pecuária. Dos quatro municípios em análise, merece destaque, de 1999 a 2005, o

custeio agrícola destinado para o município de São Desidério, relativamente muito

maior do que o destinado aos demais municípios.

Para o ano de 2005, por exemplo, o financiamento de custeio agrícola

concedido ao município de São Desidério alcançou o valor de R$ 227.459.120,75

seguido de Barreiras com R$ 91.554.993,47. Isto se reflete no fato de que, conforme

vimos no item 3.2, São Desidério apresentou a maior área colhida da região em

2006, com 270.870 ha, seguido de Barreiras com 147.400 ha.

Quanto ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

(PRONAF), do Governo Federal, especificamente para custeio da lavoura da soja,

os dados mostram que os financiamentos concedidos não foram direcionados para a

Bahia, de 1999 a 2005 (Tabela 49). Desta análise decorre que os créditos

concedidos à região nesse período foram feitos diretamente aos produtores, sem os

incentivos deste programa, havendo um esforço interno de investimento na

produção.

Tabela 48 – Financiamentos rurais concedidos pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), para custeio da lavoura da soja, Brasil e Bahia – 1999/2055

BAHIA BRASIL ANO NÚMERO DE

CONTRATOS TOTAL FINANCIADO

(EM R$) NÚMERO DE CONTRATOS

TOTAL FINANCIADO (EM R$)

1999 4 11.155,20 63.648 111.786.686,112000 0 0,00 56.432 103.178.534,542001 44 42.905,00 63.471 122.292.309,422002 0 0,00 72.224 196.886.349,592003 0 0,00 81.130 255.397.492,702004 0 0,00 112.418 514.484.454,342005 0 0,00 102.667 500.214.372,80Fonte: Banco Central. Anuário Estatístico do Crédito Rural 1999 a 2005

i) Consumo de energia elétrica

Buscando complementar a análise, foram levantados dados de consumo

de energia elétrica, que se traduz em um importante indicador de crescimento

36 Para um estudo mais detalhado, consultar as Tabelas 13 a 19, no Anexo A, que tratam desses

dados para os principais municípios produtores de soja no Oeste da Bahia, de 1999 a 2005.

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econômico.37 Assim, de acordo com dados fornecidos pela Coelba referente ao

consumo agregado residencial, rural e urbano de energia elétrica, nos quatro

principais municípios produtores de soja no Oeste da Bahia, de 1997 a 2006,

observa-se, conforme podemos verificar no Gráfico 7, uma tendência crescente de

consumo para todos os municípios no período, com destaque para Luis Eduardo

Magalhães, que passou de 8.686 kWh em 2001 para 15.622.240 kWh em 2006.38

Gráfico 7 – Consumo residencial, rural e urbano de energia elétrica, 1997-2006 (em kWh) Fonte: Elaborada a partir de dados fornecidos pela Coelba.

j) Receita tributária Outro indicador a ser analisado em relação ao crescimento econômico da

região é a evolução da receita tributária desses quatro municípios. Para dados de

2001 a 2005, conforme indicado na Tabela 49, observa-se que, em Barreiras e

Formosa do Rio Preto, os valores praticamente dobraram, mas em São Desidério

esse crescimento foi muito maior, passando de R$ 147.882,00, em 2001, para R$

1.565.364,00, em 2005, representando um crescimento de mais de 1.000% no

período.

37 A autora gostaria de fazer um agradecimento aos gestores da Coelba, que gentilmente

designaram um técnico para desagregar, no sistema, as informações solicitadas acerca dos municípios em estudo.

38 Para uma análise mais detalhadas destas informações, consultar a Tabela 79 no Apêndice B.

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Tabela 49 – Receita tributária dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 2001–2005

MUNICÍPIO 2001 2002 2003 2004 2005

Barreiras 3.368.769 – 5.048.585 6.833.317 7.925.258Formosa do Rio Preto 523.650 629.865 947.479 1.964.892 930.215Luis Eduardo Magalhães – – – – –São Desidério 147.882 602.767 827.724 1.307.405 1.565.364Obs.: Essa receita tributária inclui IPTU, ISS e outros tributos. Fonte: Elaborada a partir de dados do Ipeadata.

l) IDH-M– índice de desenvolvimento humano municipal39

O índice de desenvolvimento humano (IDH) é um importante indicador de

desenvolvimento; como o seu resultado varia de zero a um, interpreta-se que,

quanto mais próximo de zero estiver, menos desenvolvimento, e quanto mais

próximo de um, mais desenvolvimento na região.

Dada a sua representatividade na análise deste trabalho, foram

levantados esses indicadores para os principais municípios produtores de soja no

Oeste da Bahia, bem como para Salvador, Bahia e Brasil, para fins comparativos. A

pesquisa só encontrou disponibilidade desses dados, decenalmente, de 1970 a

2000, entretanto, observa-se que todos os indicadores são crescentes, indicando

melhorias significativas para as cidades da região (Tabela 50).

Para todos os municípios em estudo no Oeste da Bahia, nesse período,

com exceção de Luis Eduardo Magalhães, que ainda não havia sido emancipado

nessa época, o indicador mais que dobrou, o que pode estar associado a programas

sociais implementados pelo Governo Federal. Ressalta-se, entretanto, que o IDH

tem tido melhorias para todo o Brasil, conforme indica a tabela, para o caso da Bahia

e do Brasil.

39 Metodologicamente, o IDH – índice de desenvolvimento humano computa o PIB per capita, depois

de corrigi-lo pelo poder de compra da moeda de cada país, e leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educação. Para aferir a longevidade, o indicador utiliza números de expectativa de vida ao nascer, e o item educação é avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino. A renda é mensurada pelo PIB per capita, em dólar PPC (paridade do poder de compra, que elimina as diferenças de custo de vida entre os países). Essas três dimensões têm a mesma importância no índice, que varia de zero a um. (wwww.pnud.org.br)

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Tabela 50 – Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) decenal do Brasil, Bahia, Salvador e principais municípios produtores de soja da Região Oeste do Estado da Bahia, 1970/2000 LOCALIDADE 1970 1980 1991 2000

BRASIL 0,462 0,685 0,696 0,766BAHIA 0,332 0,515 0,590 0,688Salvador 0,580 0,742 0,751 0,805Barreiras 0,307 0,550 0,628 0,723Formosa do Rio Preto 0,290 0,442 0,558 0,646Luis Eduardo Magalhães – – – –São Desidério 0,251 0,367 0,489 0,610Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA

Na Tabela 51, podemos verificar a classificação desses municípios no

Estado da Bahia, para os anos de 1991 e 2000. Observa-se que Barreiras ocupa a

11ª posição da Bahia, em 2000, tendo saído da 15ª posição, em 1991, passando a

representar uma excelente posição a nível estadual. Comparativamente, entretanto,

Formosa do Rio Preto teve uma piora na sua classificação estadual, provavelmente

decorrente de melhorias proporcionalmente maiores em outros municípios da Bahia.

Tabela 51 – Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Salvador e dos principais municípios produtores de soja e sua classificação no Estado, Região Oeste do Estado da Bahia, 1991/2000

1991 2000 MUNICÍPIOS IDH CLASSIFICAÇÃO IDH CLASSIFICAÇÃO

Salvador 0,751 1 0,805 1Barreiras 0,627 15 0,723 11Formosa do Rio Preto 0,554 89 0,646 118Luis Eduardo Magalhães – – – –São Desidério 0,491 282 0,610 253Fonte: Elaboração própria a partir do Censo Municipal 2000, SEI

m) Pobreza A análise do indicador de pobreza dos moradores dos principais

municípios produtores de soja no Oeste da Bahia é também uma importante

referência de estudo. Os dados pesquisados estão apresentados na Tabela 52, para

o período de 1970 a 2000. Observa-se que as informações apontam para uma

redução da pobreza em todas as cidades pesquisadas e destaca-se que Barreiras

foi o município que mais reduziu a pobreza nesse período. Entretanto, nota-se que,

em todos os casos, o índice ainda se apresenta elevado, principalmente em

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Formosa do Rio Preto e São Desidério, o que acena para uma concentração de

renda, quando cruzamos esta informação com o PIB per capita anteriormente

analisado desses municípios.

Tabela 52 – Pobreza (% de pessoas pobres) dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 1970/2000 MUNICÍPIO 1970 1980 1991 2000 Barreiras 92,21 61,63 50,39 37,40Formosa do Rio Preto 98,65 73,63 78,19 76,41Luis Eduardo Magalhães – – – –São Desidério 99,51 79,95 76,47 63,27Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA Obs. 1: 1970 e 1980 - % de pessoas com renda familiar per capta inferior a 50% do salário mínimo de setembro de 1991. Obs. 2: 1991 e 2000 - % de pessoas com renda domiciliar per capta inferior a 50% do salário mínimo de agosto de 2000.

n) Número de leitos hospitalares

Um estudo da evolução histórica do número de leitos em hospitais

oferecidos nos principais municípios produtores de soja no Oeste da Bahia, que

representa um importante indicador de acesso dos moradores à rede hospitalar,

aponta para uma situação geral de não melhoria para a população local. Os dados

indicam até uma redução do número de leitos em Barreiras, considerada a

metrópole da região, bem como em São Desidério, conforme podemos observar na

tabela 53, referente ao período de 1996 a 2004.

Entretanto, Formosa do Rio Preto passa a oferecer 16 leitos, em 2003, o

que ocorre tardiamente, já que, até então, nenhum leito era oferecido na cidade,

aumentando para 29, em 2004; o mesmo ocorre para Luis Eduardo Magalhães, que

passa a oferecer 18 leitos, em 2004. Deve-se ressaltar que estes dados não são

compatíveis, socialmente, com os altos índices de concentração de renda

observados anteriormente nesses municípios e nesse mesmo período, indicando

uma situação social desfavorável à população local.

Tabela 53 – Número de leitos dos principais municípios produtores de soja conveniados ao SUS, Região Oeste do Estado da Bahia, 1996–2004 MUNICÍPIO 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Barreiras 346 346 346 346 364 364 381 339 321*Formosa do Rio Preto – – – – – – – 16 29Luis Eduardo Magalhães – – – – – – – – 18São Desidério 26 26 26 26 26 26 26 26 24Fonte: Elaboração própria a partir de dados da SEI * Deste total, apenas 280 são conveniados ao SUS

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o) Quantidade de hospitais conveniados ao SUS A quantidade de hospitais conveniados ao SUS, nos principais municípios

produtores de soja no oeste da Bahia, de 1996 a 2004, pode ser analisada na

Tabela 54, a seguir. A evolução que houve nesse período ocorreu em Barreiras, que

passou de dois hospitais particulares para três, nesse período; Formosa do Rio

Preto que, a partir de 2003, passou a ter um hospital municipal; e Luis Eduardo

Magalhães que, a partir de 2004, passou, também, a ter um hospital municipal

conveniado ao SUS.

O aumento de hospitais privados aponta para o atendimento a classes

mais abastadas. Como houve um grande aumento da renda per capita nesses

municípios, nos últimos dez anos, isto indica uma reprodução do modelo de

desenvolvimento regional concentrado e excludente como o brasileiro.

Tabela 54 – Quantidade de hospitais conveniados ao SUS, segundo a dependência administrativa, dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 1996–2004 MUNICÍPIO/ DEPENDÊNCIA ADM. 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Est. 1 1 1 1 1 1 1 1 1Mun. 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Barreiras

Priv. 2 2 2 2 3 3 3 3 3Formosa do Rio Preto Mun. – – – – – – – 1 1Luis Eduardo Magalhães Mun. – – – – – – – – 1São Desidério Mun. 1 1 1 1 1 1 1 1 1Fonte: Elaboração própria a partir de dados da SEI

p) Esperança de vida A esperança de vida desses municípios também foi pesquisada mas,

infelizmente, os dados encontrados estão disponíveis de forma incompleta

historicamente. A Tabela 55 demonstra esses dados, de 1970 a 2000, onde se pode

observar que, em todos os casos, houve avanço nesse sentido, o que

provavelmente foi também uma evolução de tendência nacional. Deve-se ressaltar

que Luis Eduardo Magalhães ainda não havia sido emancipado no período indicado.

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Tabela 55 – Evolução da esperança de vida ao nascer dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia e Salvador – 1970/2000 MUNICÍPIO 1970 1980 1991 2000

Barreiras – – 57,64 59,99Formosa do Rio Preto – – 60,83 64,77Luis Eduardo Magalhães – – – –São Desidério 48,77 53,45 58,00 63,23Salvador 46,94 56,17 62,49 66,53Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA

q) Mortalidade infantil A mortalidade infantil é também um importante indicador de

desenvolvimento. O levantamento dos dados feito nesta pesquisa está consolidado

na Tabela 56 que, apesar de incompleta, indica uma redução da mortalidade infantil

para os principais municípios produtores de soja no Oeste da Bahia, de 1970 a

2000, apontando para uma melhoria das condições de vida locais. Esse indicador

apresentou melhoria significativa, que pode estar ligada a projetos de saúde pública,

vacinação, etc.; entretanto, os dados ainda são muito superiores aos encontrados

em Salvador.

Tabela 56 – Evolução da Mortalidade infantil (por mil nascidos vivos) dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia e Salvador, 1970/2000 MUNICÍPIO 1970 1980 1991 2000

Barreiras – – 80,85 61,56Formosa do Rio Preto – – 64,51 43,11Luis Eduardo Magalhães – – – –São Desidério 151,22 114,02 78,90 48,62Salvador 167,25 94,82 56,89 37,20Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA

r) Analfabetismo Com relação ao analfabetismo, que é parte do IDH, conforme já foi

explicado, esta pesquisa observou uma redução nesta variável, analisando os

principais municípios produtores de soja no Oeste da Bahia, de 1970 a 2000 (Tabela

57). Observa-se que não existem dados para o município de Luis Eduardo

Magalhães, pois o mesmo ainda não havia sido emancipado.

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Entretanto, entende-se que esta evolução não é particular da região em

estudo, mas sim uma tendência nacional, que pode estar associada a programas

sociais do governo federal, como o Bolsa Escola, com os quais o Brasil tem

conseguido reduzir o analfabetismo. Além do mais, esses indicadores encontram-se,

ainda, muito acima dos identificados em Salvador, por exemplo, principalmente em

Formosa do Rio Preto e São Desidério.

Tabela 57 – Evolução das pessoas analfabetas com 15 anos e mais dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia e Salvador, 1970/2000

(em %) MUNICÍPIO 1970 1980 1991 2000 Barreiras 52,80 36,30 26,30 15,6Formosa do Rio Preto 61,20 50,00 47,20 32,30Luis Eduardo Magalhães – – – –São Desidério 67,70 70,70 60,70 38,1Salvador 17,60 13,70 9,40 6,30Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA

s) Domicílios com água canalizada Na Tabela 58, a seguir, observa-se a evolução do número de domicílios

com água canalizada desses municípios, de 1970 a 2000, onde fica evidente a alta

taxa de crescimento, à exceção de Luis Eduardo Magalhães, que ainda não existia

enquanto município. Isto pode estar sinalizando uma inclusão da população nesse

benefício, já que a renda desses municípios, conforme já foi analisado, é bastante

elevada, justificando tal incremento. É importante destacar que essa é uma questão

diretamente relacionada com a saúde pública, refletindo melhorias nesse sentido.

Tabela 58 – Evolução do número de domicílios com água canalizada na rede geral, dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia,1970/2000 MUNICÍPIO 1970 1980 1991 2000

Barreiras 845 2.976 9.214 27.494Formosa do Rio Preto 0 179 747 2.058Luis Eduardo Magalhães – – – –São Desidério 86 109 765 2.137Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA

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t) Domicílios com iluminação elétrica A evolução do número de domicílios com iluminação elétrica nesses

municípios apresenta também uma alta taxa de crescimento, para esse mesmo

período de 1970 a 2000. Esta variável se articula com o indicador anterior, passando

pelo mesmo tipo de análise, no sentido do alto nível de renda concentrado nessas

localidades. Para um melhor detalhamento, ver a Tabela 59.

Tabela 59 – Evolução do número de domicílios com iluminação elétrica, dos principais municípios produtores de soja, Região Oeste do Estado da Bahia, 1970/2000 MUNICÍPIO 1970 1980 1991 2000

Barreiras 1.221 3.259 14.965 29.197Formosa do Rio Preto 71 278 1.234 2.044Luis Eduardo Magalhães – – – –

São Desidério 0 253 1.345 2.681Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEA

De uma maneira geral, os indicadores escolhidos para verificação do nível

de desenvolvimento regional apresentaram uma melhoria importante, sinalizando

que o crescimento econômico pode ter tido rebatimento nas condições de vida da

região, mas ainda é evidente o nível de exclusão social, principalmente nos dados

de saúde.

Cabe apenas ressaltar que os indicadores analisados são gerais, de

forma que, para um maior aprofundamento, seria preciso fazer um estudo mais

detalhado de outros aspectos, como meio ambiente, nível de nutrição, participação

política, perspectivas sociais, relações de poder, governança territorial, etc., para

caracterizar um processo de desenvolvimento. Entretanto, com os elementos aqui

levantados, pode-se afirmar que houve uma certa sintonia entre o crescimento

econômico e os indicadores analisados, bem como da expansão produtiva e

institucional. Deve-se destacar, porém, que pouco se pesquisou sobre o nível de

integração das instituições e de participação das populações nesse processo, o que

não estava proposto neste trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa buscou analisar os impactos do cluster da soja no

desenvolvimento regional do Oeste da Bahia, através de uma metodologia teórico-

empírica, com base em um estudo de caso da agroindústria da soja existente na

região. Para tanto, partiu-se do pressuposto de que o desenvolvimento é resultado

de uma co-evolução produtiva e institucional, adotando como aportes teóricos as

abordagens de economia regional e de economia institucional. Assim, destaca-se

que, de todo o trabalho realizado, após a identificação do aglomerado enquanto um

cluster, o maior esforço esteve justamente em articular a dimensão produtiva à

institucional, integrando essas dinâmicas para tentar compreender a questão do

desenvolvimento.

Com base no estudo empírico realizado, a partir de dados primários e

secundários, as questões de pesquisa definidas foram articuladas a determinados

conceitos e variáveis, de forma que a abordagem da economia regional foi utilizada

para ajudar a definir o aglomerado em estudo como um cluster, bem como para

analisar a contribuição desse aglomerado na questão do desenvolvimento; e a

abordagem institucional, incluindo aí a economia dos custos de transação e a teoria

evolucionista, foi utilizada para analisar a evolução das instituições, as estruturas de

governança que se definem no cluster e os seus aspectos tecnológicos e processos

de inovação.

Também se deve ressaltar a dificuldade encontrada no levantamento de

dados. Na pesquisa de campo foram inúmeros os empecilhos, desde a aplicação

dos questionários com os produtores, até as entrevistas realizadas com os demais

integrantes do cluster, pela pouca disponibilidade e difícil acesso aos respondentes.

Quanto aos dados secundários, muitas vezes foram encontradas informações

defasadas, apenas até o ano de 2000, comprometendo a qualidade da análise, já

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que um dos municípios estudados, Luis Eduardo Magalhães, foi emancipado em

2000, ficando, portanto, sem parâmetros analíticos e comparativos em muitas das

variáveis utilizadas. Neste caso, a análise foi respaldada apenas nos dados da

pesquisa de campo.

A partir da problemática levantada no trabalho, algumas questões foram

formuladas e respondidas ao longo do seu desenvolvimento. Inicialmente, foi

levantada a questão sobre qual o tipo de aglomeração existente no complexo

agroindustrial da soja no Oeste da Bahia. Para tanto, a partir dos estudos de

Economia Regional, aplicou-se, inicialmente, o modelo desenvolvido por Crocco et

alli (2003), como forma de mensurar quantitativamente a existência do aglomerado,

a partir do que ele denominou de índice de concentração.

Para o cálculo do IC, foram utilizados dados de emprego, da base de

dados da RAIS, referentes aos quatro principais municípios produtores de soja da

região em estudo: Barreiras, Luis Eduardo Magalhães, Formosa do Rio Preto e São

Desidério. Como o resultado foi maior do que zero, interpreta-se que o índice de

concentração está acima da média nacional, representando indícios de

concentração. Também é importante destacar que o cálculo do HHmij, como parte do

IC, foi menor do que zero, o que leva à interpretação de que, possivelmente, há

especialização na região, indicando que a contribuição do setor para o Brasil é maior

que a contribuição da região para o Brasil.

Posteriormente, constatada a existência do aglomerado, e com base no

conceito de cluster desenvolvido por Porter (1998), desenvolveu-se a análise da

interação de diversos atores com o referido aglomerado, caracterizando esse

aglomerado em estudo enquanto um cluster. Com base nos resultados encontrados,

recomenda-se o desenvolvimento de políticas públicas para o setor, no sentido de

potencializar a sua dinâmica na região. Conforme a pesquisa de campo realizada, as

maiores necessidades encontram-se na questão da infra-estrutura, cabendo um

esforço conjunto entre os governos federal e estadual para suprir essas demandas.

Outra questão diz respeito à contribuição desse aglomerado para o

desenvolvimento da região. A esse respeito, foram pesquisados diversos indicadores

socioeconômicos referentes aos principais municípios produtores de soja, com o

objetivo de avaliar a sua evolução nos últimos anos. Considerando a complexidade

que cerca o conceito de desenvolvimento, constatou-se, de uma forma geral, uma

melhora significativa nos indicadores escolhidos para avaliar esse nível de

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desenvolvimento na região, embora os dados referentes à saúde deixem muito a

desejar.

Pode-se afirmar que, nesse período estudado, houve uma mesma

tendência de crescimento entre os indicadores produtivos, institucionais,

tecnológicos e socioeconômicos, decorrentes da cultura da soja. Entretanto, os

indicadores ligados à produção e à dinâmica tecnológica do cluster foram

significativamente superiores aos demais.

Quanto à evolução das instituições no Oeste da Bahia, a análise foi feita a

partir de uma abordagem institucionalista, considerando uma análise histórica da

formação de alguns dos principais municípios que compõem o cluster. Das quatro

principais cidades que o formam, Barreiras é a mais desenvolvida, considerada a

metrópole da região.

Isso se explica porque, desde o século XIX, consagrou-se como uma

cidade portuária comercial, centralizando a distribuição de todo o comércio da

região. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi escolhida para a construção de um

aeroporto, financiado pelos Estados Unidos por questões estratégicas ligadas à

guerra e, a partir de então, incrementa ainda mais a sua economia. Além disso, com

a inauguração de Brasília, em 1960, e as conseqüentes novas malhas viárias

desenvolvidas, o município integra-se ao Brasil Central e à lógica da economia

nacional. Consideram-se, ainda, os investimentos realizados localmente, pelos

governos federal e estadual, em relação à construção de novas estradas e projetos

de irrigação. Atualmente, é a localidade da região que apresenta os melhores

indicadores socioeconômicos, prevalecendo a atividade econômica comercial,

devendo-se destacar também que lá se instalou a Cargill, uma grande indústria

esmagadora de grãos.

No caso de Luis Eduardo Magalhães, a cidade nasceu a partir de um

planejamento privado, que teve início com a construção de um posto de gasolina,

cujo distrito passou a ser denominado de Mimoso do Oeste. A sua ascensão

enquanto centro urbano teve o apoio da esfera municipal, à época Barreiras, e mais

tarde se emancipou. Integrado à dinâmica da economia local desde então, o

município é hoje um dos principais produtores de soja da região, abrigando a Bunge

Alimentos, uma multinacional processadora de grãos, além de outras menores.

Deve-se ressaltar que o PIB per capita desta cidade é tão elevado que pode ser

comparado ao da Espanha. Esse elevado padrão de renda, entretanto, não é

identificado nas variáveis socioeconômicas pesquisadas.

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O município de Formosa do Rio Preto é também um dos maiores

produtores de soja da região. Em 1985, deu-se início à implantação de dois projetos,

nessa localidade, viabilizados pelos incentivos repassados aos produtores através

do programa denominado PRODECER, financiado pelos Governos do Brasil do

Japão. Este programa impulsionou a ocupação e a modernização da cultura da soja

na região, assim como para o restante dos cerrados do Brasil.

Quanto a São Desidério, a pesquisa mostrou que foi o município que mais

recebeu financiamentos concedidos a produtores e cooperativas do Oeste da Bahia,

de 1999 a 2005, especificamente para a produção da soja. Como resultado, é o

município que apresentou a maior área colhida em 2006.

Desta forma, podemos afirmar, a partir de uma análise histórica desses

municípios, que as instituições no Oeste da Bahia evoluíram e se consolidaram

economicamente, em parte, a partir de programas de incentivo por parte do governo,

bem como de financiamentos direcionados principalmente ao custeio da lavoura.

Assim, essas variáveis, dentre outras, respaldam a questão institucional

como determinante para o desenvolvimento regional, com a criação de fortes raízes

dos agricultores que chegam à região, trazendo a história da cultura da soja do sul,

que trouxe não apenas competências produtivas, mas aspectos culturais e

institucionais, como a cooperação e participação.

Uma outra questão aborda como são definidas as estruturas de

governança nesse aglomerado. A pesquisa indicou que, de uma forma geral, existe

um controle exercido pelas processadoras em relação à dinâmica da cadeia,

ressaltando-se que este é o ator que controla os ativos de maior especificidade.

Mas, na análise da interação entre os atores, definem-se também outras estruturas

de governança, específicas em determinadas relações. As principais transações

analisadas, considerando a especificidade dos ativos envolvida em cada uma delas,

foram:

a) Entre distribuidores e indústrias processadoras - a estrutura de

governança se dá via mercado;

b) Entre indústrias de esmagamento/refino e indústria de derivados -

ocorre a integração vertical;

c) Entre indústrias de esmagamento e indústrias de ração - ocorre a

verticalização;

d) Entre indústrias processadoras/originadores e produtores - ocorre uma

estrutura de governança hierárquica;

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e) Entre tradings e indústrias processadoras – considerando o mercado

externo, ocorre uma estrutura de governança via mercado; e

f) Entre produtores e indústria de insumos – vão ocorrer variadas formas

de estrutura de governança.

Nesta questão de governança, cabe enfatizar que as processadoras

exercem o que podemos chamar de governança produtiva, em função do controle da

dimensão produtiva do processo, enquanto a AIBA, a principal associação local,

exerce o que podemos chamar de governança institucional, pelo importante papel de

intervenção que desempenha junto a órgãos públicos e a outras organizações na

defesa dos produtores. Desta forma, dá-se a integração entre as dimensões

produtiva e institucional, que é fundamentalmente forte entre os atores do cluster,

estando grande parte da população à margem desse processo.

Por fim, questionou-se como se dá o processo de inovação ao longo da

cadeia, e qual é a sua contribuição para a dinâmica endógena de desenvolvimento.

A pesquisa se deu com diversos agentes locais, constatando que a introdução de

inovações ocorre pelos produtores de sementes, de insumos, de máquinas agrícolas

e pelas indústrias, por inovações incorporadas aos bens de capital.

No que se refere à tecnologia de esmagamento e refino do óleo, esta é

bastante difundida, não constituindo barreira à entrada de novas firmas. As

inovações tecnológicas trazidas para essa indústria de esmagamento e refino do

óleo são também exógenas, já que são dominadas por multinacionais,

caracterizando estruturas de mercado oligopolistas. Assim, essas tecnologias são

desenvolvidas na área de equipamentos, sistemas de informação e automação, etc,

caracterizando-se como um setor de tecnologia dominada pelo ofertante,

prevalecendo as inovações incrementais.

Para a produção de insumos, máquinas agrícolas e bens de capital, a

inovação se dá de forma incremental; e para a produção de sementes a inovação se

dá de forma radical, pela denominada biotecnologia, desenvolvida por empresas

multinacionais. É importante destacar que esse processo de P&D é desenvolvido

fora da região, e é então trazido e incorporado à especificidade da região.

Entretanto, nesse processo, identificou-se uma contribuição importante da Fundação

BA, ligada à AIBA, na pesquisa de novas cultivares, melhoramento de variedades,

ações contra pragas, etc., mais uma vez constatando-se uma importante integração

da questão institucional com a produtiva.

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Conforme pode ser observado, a pesquisa indicou que existe, no Oeste

da Bahia, aliada à estrutura produtiva da soja, uma infra-estrutura institucional na

região. Este contexto pode explicar os indícios de desenvolvimento que foram

levantados a partir de indicadores socioeconômicos, caracterizando o que foi

denominado de co-evolução produtiva e institucional, que é o cerne da compreensão

do conceito de desenvolvimento aqui abordado.

Nesse aspecto, como apontam as contribuições teóricas utilizadas, o

papel das políticas públicas, de forma articulada e estratégica, seria imprescindível

para que essa co-evolução dos processos produtivos e institucionais do cluster de

soja se difundisse para a região, pois o padrão de desenvolvimento é ainda muito

excludente.

Como esse conceito de desenvolvimento é bastante amplo e complexo,

com diversos aspectos a serem considerados, fica aqui a sugestão, como uma

agenda de trabalhos futuros, de novos estudos para um maior aprofundamento do

tema.

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