desgaste de rodas ferroviárias

62
MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE CARGA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA ACADEMIA MRS ADGENOR LIMA NETO O DESGASTE DE RODAS E O PROCESSO DE REPERFILAMENTO Rio de Janeiro 2006

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Desgaste de Rodas Ferroviárias

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Page 1: Desgaste de Rodas Ferroviárias

MINISTÉRIO DA DEFESAEXÉRCITO BRASILEIRO

SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIACURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TRANSPORTE

FERROVIÁRIO DE CARGAINSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

ACADEMIA MRS

ADGENOR LIMA NETO

O DESGASTE DE RODAS E O PROCESSO DEREPERFILAMENTO

Rio de Janeiro2006

Page 2: Desgaste de Rodas Ferroviárias

2

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

ADGENOR LIMA NETO

O DESGASTE DE RODAS E O PROCESSO DE REPERFILAMENTO

Monografia apresentada ao Curso de

Especialização em Transporte Ferroviário de

Carga do Instituto Militar de Engenharia,

como requisito parcial para a obtenção do

título de Especialista em Transporte

Ferroviário de Carga.

Orientador: Prof. André Luiz Pinto – D.Sc.

Tutor: Engº Claudio Buchholz - M. Sc.

Rio de Janeiro

2006

Page 3: Desgaste de Rodas Ferroviárias

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todas as pessoas que me incentivaram, apoiaram e possibilitaram

esta oportunidade de ampliar meus horizontes.

Em especial ao Armando Sisdelli, ao Tutor Engº Claudio Buchholz e ao

Professor Orientador Dr. André Luiz Pinto, por suas disponibilidades e atenções.

Page 4: Desgaste de Rodas Ferroviárias

4

RESUMO

Na realidade ferroviária, há vários ativos com elevado custo de aquisição e\oumanutenção, dentre eles, o rodeiro desponta com significativa relevância no custofinal da manutenção. Portanto, faz-se necessário elaborar uma revisão acerca dosaspectos da atual forma de planejamento e práticas de manutenção dos rodeiros daMRS Logística S.A. como contribuição para se alcançar a melhor maneira degerenciar este ativo.

O gerenciamento estratégico das vidas dos rodeiros e do processo dereperfilamento visando a redução dos custos e desgaste de rodas são os principaisfocos deste trabalho.

As funções, processos e demandas da Casa de Rodas do Horto Florestal, acomposição e oscilação do preço médio do rodeiro, a necessidade domonitoramento constante do ativo, o planejamento e os ciclo da manutenção dosrodeiros serão alguns dos tópicos abordados.

Os diferentes tipos de rodas e perfis, a freqüência de reperfilamento porusinagem, a relação entre espessura do friso da roda e o desgaste, limiteseconômicos de desgaste, dimensões padronizadas, tolerâncias e variaçõespermissíveis, instrumentos e técnicas de medição e as premissas adotadas pelanorma A.A.R (Association of American Railroads) serão, além de outros aspectos,considerados de maneira a indicar parâmetros de manutenção que levem a ummenor custo final para a empresa.

Page 5: Desgaste de Rodas Ferroviárias

5

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... 8

1 – INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9

1.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS ...................................................................................... 9

1.2 – OBJETIVO.................................................................................................................. 11

1.3 – ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .......................................................................... 12

2 – RODEIRO .......................................................................................................................... 14

2.1 – RODAS ....................................................................................................................... 15

2.2 - Iteração Perfil da Roda x Trilho................................................................................... 20

2.3 - Eixos ............................................................................................................................ 22

2.4 - Rolamentos .................................................................................................................. 24

2.5 - Dinâmica do Rodeiro ................................................................................................... 26

3 - Casa de Rodas do Horto Florestal....................................................................................... 27

3.1 - Recuperação de Componentes ..................................................................................... 30

3.2 - Montagem/Desmontagem de Rodeiros........................................................................ 33

3.3 - Operações de Medição................................................................................................. 36

3.4 - Produção da Casa de Rodas ......................................................................................... 38

3.5 - Preço-Médio do Rodeiro.............................................................................................. 39

4 - Gerenciamento do Desgaste das Rodas ............................................................................. 41

4.1 - Regime de Desgaste no Contato Roda-Trilho ............................................................. 41

4.2 - Rodas de múltiplas vidas ............................................................................................. 42

4.3 - Ciclo de Manutenção do Rodeiro ................................................................................ 45

4.4 - Friso Econômico .......................................................................................................... 45

4.5 - Diferença de Frisos ...................................................................................................... 47

4.6 - Logística do Transporte de Rodeiros ........................................................................... 50

5 - Necessidade de Monitoramento do Ativo........................................................................... 52

5.1 - Sistemas Avançados de Inspeção de Veículos Ferroviários ........................................ 52

6 – Conclusão ........................................................................................................................... 60

7 – Referências Bibliográficas ................................................................................................. 61

ANEXOS.................................................................................................................................. 62

Page 6: Desgaste de Rodas Ferroviárias

6

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Malha da MRS......................................................................................................... 10

Figura 2 - Mapa Ferroviário Brasileiro .................................................................................... 11

Figura 3 – Desenho Esquemático do Rodeiro.......................................................................... 14

Figura 4 – Desenho Esquemático Processo de Fundição......................................................... 16

Figura 5 – Processo de Forjamento de Roda............................................................................ 17

Figura 6 – Terminologia Aplicada a Roda Ferroviária ............................................................ 18

Figura 7 – Análise Elementos Finitos ...................................................................................... 19

Figura 8 - Perfil Largo AAR-1B ............................................................................................. 21

Figura 9 - Perfil Estreito AAR-1B ........................................................................................... 21

Figura 10 -Terminologia Aplicada a Eixos de Rodeiros.......................................................... 22

Figura 11 - Dimensões Manga de Eixo.................................................................................... 23

Figura 12 – Diagrama de Esforço Cortante no Eixo ................................................................ 24

Figura 13 - Rolamento Tipo Cartucho ..................................................................................... 25

Figura 14 - Rolamento Tipo Autocompensador....................................................................... 26

Figura 15 - Tendência de Centralização do Rodeiro................................................................ 26

Figura 16 - Foto Casa de Rodas do Horto Florestal ................................................................. 27

Figura 17 - Esquema Oficinas da MRS.................................................................................... 28

Figura 18 - Fluxograma Processo Inspeção de Rodeiros ......................................................... 29

Figura 19 - Foto Torno Copiador “ROMI HEGENSCHEIDT” ............................................... 30

Figura 20 - Foto Torno “Farrel”.............................................................................................. 31

Figura 21 - Foto Furadeira Radial ............................................................................................ 32

Figura 22 - Foto “Timken”....................................................................................................... 32

Figura 23 - Foto Prensa CECO (300 toneladas)....................................................................... 34

Figura 24 - Foto Prensa Horizontal .......................................................................................... 34

Figura 25 – Foto Aplicação de Rolamento Cartucho............................................................... 35

Figura 26 - Foto Saque de Rolamento Cartucho ...................................................................... 35

Figura 27 - Gabarito Espessura de Friso .................................................................................. 36

Figura 28 - Fita Medição de Tape de Roda.............................................................................. 37

Figura 29 - Gabarito Medida de Bitola .................................................................................... 37

Page 7: Desgaste de Rodas Ferroviárias

7

Figura 30 – Desgaste da Pista (esquerda) e Desgaste Lateral do Friso (direita) ...................... 42

Figura 31 – Roda de Múltiplas Vidas na MRS ........................................................................ 44

Figura 32 – Modelagem do Escopo do Ciclo de Manutenção do Rodeiro .............................. 45

Figura 33 - Diferença de Espessura de Friso............................................................................ 48

Figura 34 – Esquema Pêra........................................................................................................ 49

Figura 35 - Sistema de Monitoramento de Sapatas de Freio e Perfis de Rodas....................... 54

Figura 36 – Sistema Completo de Monitoramento Wayside ................................................... 54

Figura 37 – Sistema de Controle dos Equipamentos Wayside ................................................. 55

Figura 38 – Módulo Perfil de Roda – Imagem do Friso da Roda Capturada a 60 mph........... 56

Figura 39 - Módulo Perfil de Roda – Imagem do Aro da Roda Capturada a 60 mph ............. 57

Figura 40 – Exemplo de Medidas de Espessura de Aro........................................................... 58

Figura 41– Exemplo de Medidas de Altura de Friso ............................................................... 58

Figura 42– Exemplo de Medidas de Espessura de Friso.......................................................... 58

Page 8: Desgaste de Rodas Ferroviárias

8

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Classes de Rodas..................................................................................................... 16

Tabela 2 - Mangas de Eixo....................................................................................................... 23

Tabela 3 - Pressão de Eixamento ............................................................................................. 33

Tabela 4 - Produção Mensal Rodeiros (2006).......................................................................... 38

Tabela 5 - Índice de Sucateamento (2006)............................................................................... 38

Tabela 6 - Redução Espessura de Aro x Friso de Entrada – Reperfilamento .......................... 44

Tabela 7 – Aplicação Friso Economico ................................................................................... 46

Tabela 8 – Percentual de Rodeiros com Diferença de Espessura de Friso ............................. 49

Tabela 9 – Quantidade de Vagões Prancha x Capacidade de Rodeiros (2005) ....................... 50

Page 9: Desgaste de Rodas Ferroviárias

9

1 – INTRODUÇÃO

1.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

Atualmente, as empresas têm buscado a constante redução de seus custos

operacionais sem a perda da qualidade do produto final. Na realidade ferroviária, há

vários ativos com elevado custo de aquisição e\ou manutenção. Neste contexto,

insere-se o rodeiro, o qual tem significativa relevância no custo final da manutenção.

Portanto, faz-se necessário elaborar uma revisão acerca dos aspectos da atual

forma de planejamento e práticas de manutenção dos rodeiros da MRS Logística

S.A. como contribuição para se alcançar a melhor maneira de gerenciar este ativo.

A MRS Logística S.A. é a concessionária que opera a chamada Malha Sudeste

da Rede Ferroviária Federal S. A., que era composta pelas Superintendências

Regionais SR3 - Juiz de Fora e SR4 - São Paulo. Foi constituída em agosto de

1996, assumindo a concessão no dia 1º de dezembro do mesmo ano, após a

obtenção por cessão dos direitos adquiridos pelo Consórcio MRS Logística, através

do leilão de privatização, realizado em 20/09/96, na Bolsa de Valores do Rio de

Janeiro, pelo valor de R$888,9 milhões.

Os trechos que foram concedidos para a exploração do transporte ferroviário de

cargas são aqueles que pertenceram às antigas ferrovias Estrada de Ferro Central

do Brasil, as linhas que ligam Rio de Janeiro a São Paulo e a Belo Horizonte, bem

como a Ferrovia do Aço e aqueles pertencentes à Estrada de Ferro Santos-Jundiaí

excluídas as linhas metropolitanas de transporte de passageiros no Rio de Janeiro e

em São Paulo.

Suas linhas interligam as cidades de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro

e constituem acesso ferroviário aos portos do Rio de Janeiro, Sepetiba e Santos,

Page 10: Desgaste de Rodas Ferroviárias

10

além de atender ao terminal privativo de embarque de minério de ferro de

propriedade da MBR, na Ilha de Guaíba, na Baía de Angra dos Reis.

Figura 1 - Malha da MRSFonte – Site MRS Logística SA (www.mrs.com.br)

São 1.674 Km de malha - trilhos que facilitam o processo de transporte e

distribuição de cargas numa região que concentra aproximadamente 65% do

produto interno bruto do Brasil.

O foco das atividades da MRS está no transporte ferroviário de cargas gerais,

como minérios, produtos siderúrgicos acabados, cimento, bauxita, produtos

agrícolas, coque verde e contêineres.

Page 11: Desgaste de Rodas Ferroviárias

11

Figura 2 - Mapa Ferroviário BrasileiroFonte – Site MRS Logística AS (www.mrs.com.br)

1.2 – OBJETIVO

No cenário do planejamento e manutenção dos rodeiros é necessário monitorar

o desgaste das rodas. O gerenciamento estratégico das vidas dos rodeiros e do

processo de reperfilamento visando a redução dos custos e desgaste de rodas são

os principais focos deste trabalho.

Page 12: Desgaste de Rodas Ferroviárias

12

As funções, processos e demandas da Casa de Rodas do Horto Florestal, a

composição e oscilação do preço médio do rodeiro, a necessidade do

monitoramento constante do ativo, o planejamento e os ciclo da manutenção dos

rodeiros serão alguns dos tópicos abordados.

Os diferentes tipos de rodas e perfis, a freqüência de reperfilamento por

usinagem, a relação entre espessura do friso da roda e o desgaste, limites

econômicos de desgaste, dimensões padronizadas, tolerâncias e variações

permissíveis, instrumentos e técnicas de medição e as premissas adotadas pela

norma AAR (Association of American Railroads) serão, além de outros aspectos,

considerados de maneira a indicar parâmetros de manutenção que levem a um

menor custo final para a empresa.

1.3 – ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O presente trabalho está dividido em 6 capítulos, sendo o primeiro a introdução,

contendo as considerações gerais, seus objetivos e sua organização.

O capítulo dois descreve de maneira detalhada o que é um rodeiro, cada um de

seus componentes (rodas, eixo e rolamentos), alguns dos tipos de rodeiros, a

iteração das rodas ferroviárias com os trilho e a dinâmica de seu movimento.

No capítulo três são detalhados o funcionamento e os processos da Casa de

Rodas do Horto Florestal, a única unidade da Companhia responsável por dar

manutenção nos rodeiros de toda a frota de Vagões e Locomotivas. São expostos

também alguns dados da produção e custos de manutenção.

O quarto capítulo caracteriza de maneira sucinta o regime de desgaste no

contato roda-trilho, as rodas de múltiplas vidas e o ciclo de manutenção dos rodeiros

da frota de vagões da MRS, abordando alguns dos problemas relacionados a este

Page 13: Desgaste de Rodas Ferroviárias

13

último tópico como: friso econômico, diferença de espessura de frisos e a logística

de transporte dos rodeiros.

O capítulo cinco aborda a necessidade de monitoramento do ativo rodeiro por

parte da empresa, apresentando os benefícios associados a esta prática.

A conclusão do trabalho está apresentada no capítulo 6, mostrando que é

possível estabelecer diretrizes ou estratégias básicas para gerenciamento do

desgaste dos rodeiros da Companhia e os benefícios práticos da implementação

destas estratégias podem ser realmente substanciais.

Page 14: Desgaste de Rodas Ferroviárias

14

2 – RODEIRO

O rodeiro ferroviário é composto de duas rodas acopladas por um eixo e um par

de rolamentos acoplados às extremidades do eixo, conforme ilustrado na Figura 3. O

rodeiro tem a função de suportar a carga vertical, devido ao peso próprio do veículo

e da carga transportada. Outra propriedade importante do conjunto é permitir o

direcionamento do veículo, quando trafegar por uma via com alinhamento irregular.

Tal direcionamento é obtido pela variação do raio de rolamento das rodas, que

possui um perfil transversal de rolamento cônico.

Figura 3 – Desenho Esquemático do RodeiroFonte - (Rosa, 2006)

Page 15: Desgaste de Rodas Ferroviárias

15

2.1 – RODAS

A roda é provavelmente o mais importante componente utilizado na ferrovia.

Maior segurança, maior vida útil, baixo custo por quilômetro rodado, aumento da

velocidade e maior previsibilidade representam fatores de desenvolvimento no

contexto ferroviário. Não obstante, nenhum destes fatores tem maior importância

que o histórico de acidentes ferroviários e a necessidade de adoção de medidas

preventivas demandada pela questão. A segurança de todos os trens que se movem

sobre trilhos depende da integridade de cada roda da composição. Rodas

defeituosas ou desgastadas ao limite estão mais sujeitas a causar descarrilamentos,

resultando em severas perdas.

Rodas de ferro fundido atenderam satisfatoriamente ao segmento ferroviario

durante anos. No entanto, a intensificação do transporte ferroviário de cargas e o

crescente aumento da necessidade de aplicação de carga sobre as rodas exigiram a

utilização de rodas mais robustas e resistente fabricadas com aço. Na atualidade,

rodas de ferro fundido são consideradas obsoletas e sua utilização não é permitida.

Rodas fundidas ou forjadas em aço carbono são permitidas para utilização em

reposição ou montagem de veículos ferroviários novos. Ambas são constituídas de

aço, sendo a variação da composição do aço relativamente sem importância diante

das grandes diferenças microestruturais. No entanto, os processos de fabricação de

ambas são bastante distintos. Rodas forjadas em aço são aquecidas e conformadas

a quente, enquanto rodas fundidas são feitas de metal fundido vazado em moldes.

Os processos de manufatura utilizados pelos diversos fabricantes de rodas

fundidas diferem em muitos detalhes, mas todos foram desenvolvidos para produzir

rodas que atendam às especificações da AAR (Association of American Railroads).

A Figura 4 apresenta em esquema do processo de fundição. No processo de

fabricação de rodas fundidas podem ser utilizadas diversas classes de tratamentos

térmicos, adotando-se variados níveis de carbono na composição do aço. Podem,

também, ser fabricadas em diferentes diâmetros para durarem uma ou múltiplas

Page 16: Desgaste de Rodas Ferroviárias

16

vidas. Aspectos e definições acerca das rodas de múltiplas vidas serão abordadas

nos próximos capítulos.

Todas as rodas fundidas em aço são submetidas a tratamento térmico para a

obtenção das propriedades metalúrgicas desejadas, visando-se a distribuição

favorável das tensões residuais na roda. Ao receberem tratamento térmico na

superfície de rolamento as rodas são temperadas para atingirem a dureza

necessária especificada pela AAR e são classificadas como rodas A, B, C ou L de

acordo com o nível de carbono e dureza.

Figura 4 – Desenho Esquemático Processo de FundiçãoFonte – (Rosa, 2006)

Tabela 1 - Classes de Rodas

Classe Serviço Carga

L

Serviços de alta velocidade com

condições de frenagem mais severas

que as outras classes.

Leves

AServiços de alta velocidade com

condições de frenagem severas.Moderadas

Page 17: Desgaste de Rodas Ferroviárias

17

BServiços de alta velocidade com

condições de frenagem severas.Elevadas

C (1)Serviços com condições de frenagem

leves.Elevadas

C (2)

Serviços com condições de frenagem

severas atuando fora da superfície do

rolamento (disco de freio).

Rodas forjadas em aço são fabricadas através de sucessivas operações de

conformação em blocos de aço aquecidos, conforme mostrado na Figura 5. Após a

obtenção do formato final da roda, para ambos os processos de fabricação, aplica-

se o resfriamento controlado.

Figura 5 – Processo de Forjamento de RodaFonte – (Rosa, 2006)

Page 18: Desgaste de Rodas Ferroviárias

18

Encontra-se na ferrovia na atualidade, basicamente, dois tipos de perfis para

discos de rodas: “parabólico” e “S”. Temos na Figura 6 um esboço de ambos os

perfis.

Figura 6 – Terminologia Aplicada a Roda FerroviáriaFonte – MWL (www.mwlbrasil.com.br)

O perfil “S”, que ainda não é adotado pela AAR, foi recentemente desenvolvido

pela MWL e promete amenizar dois grandes problemas das rodas ferroviárias: as

tensões estáticas (provenientes do peso dos vagões e da carga) e térmicas

(produzidas pela frenagem). A Figura 7 retrata uma análise comparativa através de

Elementos Finitos do perfil “S” em relação a outros.

Page 19: Desgaste de Rodas Ferroviárias

19

Figura 7 – Análise Elementos FinitosFonte – MWL (www.mwlbrasil.com.br)

Quando uma composição freia, a pista do rolamento da roda funciona como

tambor de frenagem, pois a sapata atua diretamente na pista. Quando isso

acontece, a roda experimenta uma dilatação produzida pelo aumento de

temperatura resultante do atrito.

Assim que o freio para de atuar, a roda volta à temperatura normal, contraindo-se.

Esse “efeito sanfona” em todo o ciclo de vida da roda pode gerar rompimento,

devido à fadiga do material. Para prolongar a vida da roda, é necessário reduzir

essas tensões durante o uso e assim evitar descarrilamentos.

O formato da roda com disco perfil “S”, aumenta a área de troca de calor da roda

para que não aqueça tanto. Esse novo formato já virou uma tendência que é

aplicada em diversas empresas ferroviárias do mundo, especialmente na área de

passageiros com crescente adoção da área de transporte de cargas.

Page 20: Desgaste de Rodas Ferroviárias

20

2.2 - Iteração Perfil da Roda x Trilho

O perfil da roda e do trilho desempenham papel fundamental nas características

de direcionamento do rodeiro, inscrição em curvas do truque, estabilidade do

veículo, desgaste da superfície e falhas por fadiga. A roda possui perfil cônico que

propicia o auto-direcionamento do rodeiro. Possui também um friso que limita os

deslocamentos laterais máximos, tocando na face lateral do boleto do trilho. O boleto

do trilho possui sua parte superior curva, buscando compromisso entre contato único

(rolamento) e grande área de contato (superfícies conformes). O par de rolamento

(roda/trilho) desgasta-se mutuamente devido à utilização, produzindo nova

conformação de perfis, segundo a dinâmica do sistema a ele conectado.

Os perfis modernos de roda possuem formas que permitem melhor casamento

com os trilhos (conformidade entre as superfícies), buscando elevada área de

contato. Possuem também raios de concordância entre a região de rolamento e o

friso, de forma a possuir conicidade efetiva gradualmente variada em relação ao

deslocamento lateral relativo entre a roda e o trilho, procurando evitar o contato

múltiplo. A busca do perfil ideal esbarra nessas dificuldades que limitam a liberdade

do projeto. Observa-se entretanto, no cenário internacional, o desenvolvimento de

novos perfis (Perfil AAR-1B, Perfil UIC, etc.) com compromisso de contemplar os

aspectos de estabilidade, área de contato e inscrição em curvas. Estes perfis têm

sido testados em diversas ferrovias com resultados aparentemente promissores. O

desenho e dimensões do perfil AAR-1B, utilizado atualmente pela MRS, encontra-se

ilustrado nas Figuras 8 e 9.

Como as propriedades de contato variam bastante em função da forma do perfil,

é necessária uma identificação precisa dos perfis e determinação minuciosa dos

parâmetros de contato.

Page 21: Desgaste de Rodas Ferroviárias

21

Figura 8 - Perfil Largo AAR-1BFonte – 1997 Car & Locomotive Cyclopedia

Figura 9 - Perfil Estreito AAR-1BFonte – 1997 Car & Locomotive Cyclopedia

Page 22: Desgaste de Rodas Ferroviárias

22

2.3 - Eixos

A definição mais utilizada para definição de eixo é: “Corpo de aço cilíndrico no

qual as rodas são montadas”. A função do eixo é “segurar” as rodas e transmitir o

movimento dos rolamentos para estas. Observa-se detalhes acerca das dimensões

e terminologia aplicada a eixos de rodeiros na Figura 10.

Figura 10 -Terminologia Aplicada a Eixos de RodeirosFonte – MWL (www.mwlbrasil.com.br)

Assim como as rodas os eixos têm normas especificas a serem adotadas para

fabricação. As especificações de materiais e dimensões para fabricação de eixos

podem ser encontradas na seção G da AAR como descrito abaixo.

- N° M-101 – Eixos, Aço Carbono, Tratados e Não-Tratados Térmicamente

- N° M-1003 – Especificação para Controle de Qualidade

O eixos são classificados de acordo com a capacidade de carga máxima por

eixo e, também, dimensões específicas: diâmetro e comprimento linear das seções

do eixo envolvidas pelos rolamentos. A Tabela 2 em conjunto com a Figura 11

Page 23: Desgaste de Rodas Ferroviárias

23

trazem a classificação dos eixos aplicada a rodeiros ferroviários e a Figura 12 um

diagrama de esforço cortante ao longo deste.

Figura 11 - Dimensões Manga de EixoFonte - (Rosa, 2006)

Tabela 2 - Mangas de Eixo

Classe

BitolaDimensões da

Manga (D x L)Carga / Eixo

1,0 1,6

3.3/4’’ x 7’’ 7,5 t A O

4.1/4’’ x 8’’ 12 t B P

5’’ x 9’’ 16 t C Q

5.1/2’’ x 10’’ 20 t D R

6’’ x 11’’ 25 t E S

6.1/2’’ x 12’’ 30 t (1,0) \ 32,5 (1,6) F T

6.1/2’’ x 9’’ 30 t (1,0) \ 32,5 (1,6) F T

7’’ x 12’’ 35 t G U

Page 24: Desgaste de Rodas Ferroviárias

24

Figura 12 – Diagrama de Esforço Cortante no EixoFonte - (Rosa, 2006)

2.4 - Rolamentos

Na atualidade existem basicamente dois tipos de rolamentos: cartucho e

autocompensador. Ambos ilustrados nas Figuras 13 e 14 respectivamente. Na frota

de vagões e locomotivas da MRS encontramos em operação exemplares de ambos

os tipos.

Aos poucos os rolamentos do tipo autocompensador vêm sendo substituídos

pelo tipo cartucho, que apresenta diversas vantagens de utilização. Maior facilidade

e possibilidade de recuperação, manutenção e aplicação, menor custo de

manutenção e aquisição, menor peso e maior eficiência operacional são vantagens

apresentadas pelo rolamento tipo cartucho. A única desvantagem aparente é menor

robustez do cartucho em relação ao autocompensador.

Page 25: Desgaste de Rodas Ferroviárias

25

Classifica-se os rolamentos de acordo com o tipo de eixo (manga de eixo) ao

qual estes são aplicados. No entanto, detalhes a respeito da classificação e

princípios de funcionamento dos tipos de rolamentos anteriormente especificados

não serão abordados por não representarem maior relevância no escopo deste

trabalho.

Figura 13 - Rolamento Tipo Cartucho

Page 26: Desgaste de Rodas Ferroviárias

26

Figura 14 - Rolamento Tipo Autocompensador

2.5 - Dinâmica do Rodeiro

Quando há deslocamento lateral do rodeiro em relação à via, o ponto de contato

na roda altera-se, gerando raios de rolamento diferentes para cada roda. Como o

rodeiro possui velocidade angular de rotação idêntica para as duas rodas (rodeiro

considerado torcionalmente rígido), as velocidades tangenciais em cada ponto de

contato são diferentes. Isto produz diferentes velocidade relativas entre a roda e a

via. Como as forças tangenciais de contato entre os dois corpos são proporcionais

às velocidades relativas, são produzidos torques de alinhamento, que garantem a

recentralização do rodeiro. Este fenômeno, representado na Figura 15, permite ao

rodeiro auto-direcionamento, garantindo o acompanhamento das irregularidades da

via férrea.

Figura 15 - Tendência de Centralização do RodeiroFonte - (Rosa, 2006)

Page 27: Desgaste de Rodas Ferroviárias

27

3 - Casa de Rodas do Horto Florestal

Também conhecida como Oficina de Rodeiros da MRS, a Casa de Rodas do

Horto Florestal, ilustrada na Figura 16, é a única unidade da Companhia responsável

por dar manutenção nos rodeiros de toda a frota de Vagões e Locomotivas. Está

localizada em Belo Horizonte, em um dos extremos da malha ferroviária da MRS.

Figura 16 - Foto Casa de Rodas do Horto Florestal

Basicamente, a função da Casa de Rodas consiste em receber de seus vários

clientes, rodeiros que necessitam de manutenção e devolver a estes, rodeiros em

perfeitas condições de uso. Os clientes vêm a ser todas as oficinas de vagões e

locomotivas da empresa, conforme representado na Figura 17. Os rodeiros

devolvidos são montados com componentes novos e\ou recuperados. É também

função exclusiva da Casa de Rodas sucatear componentes de rodeiros que não

estejam mais em condição de serem recuperados para utilização.

Page 28: Desgaste de Rodas Ferroviárias

28

Figura 17 - Esquema Oficinas da MRSFonte – Site MRS Logística SA (www.mrs.com.br)

Distinguem-se, claramente, dois processos dentro da oficina: a recuperação de

componentes (rodas, eixos e rolamentos) e a montagem/desmontagem de rodeiros.

Na Figura 18, encontra-se um fluxograma resumido do processo de Inspeção de

Rodeiros e, em anexo, um Layout da Casa de Rodas.

Page 29: Desgaste de Rodas Ferroviárias

29

Figura 18 - Fluxograma Processo Inspeção de Rodeiros

Page 30: Desgaste de Rodas Ferroviárias

30

3.1 - Recuperação de Componentes

A recuperação das rodas consiste no processo de reperfilamento por usinagem

nos tornos copiadores da oficina. Este processo refaz os contornos dos aros das

rodas do rodeiro através da retirada de material por torneamento. Após o processo,

recupera-se a forma e as dimensões do perfil original dos contornos dos aros. Como

conseqüência, reduz-se a medida do diâmetro das rodas através da diminuição da

altura dos aros. A utilização de tornos copiadores garante a obtenção de rodas

simétricas após a operação. Os tornos copiadores da Casa de Rodas são do tipo

“ROMI HEGENSCHEIDT” (vide Figura 19). Maiores detalhes a respeito da

sistemática do processo de reperfilamento dos rodeiros da Companhia serão

abordados nos próximos capítulos. Ressalta-se que na Casa de Rodas apenas

rodas de rodeiros de vagões são reperfilados, uma vez que as rodas dos rodeiros de

Locomotivas são reperfilados na fresa de Santos Dumond, sem a necessidade de

serem retirados do veículo. Todas as outras operações que serão abordadas a

seguir são realizadas somente pela Casa de Rodas para os rodeiros de toda a frota

de Vagões e Locomotivas da MRS.

Figura 19 - Foto Torno Copiador “ROMI HEGENSCHEIDT”

Page 31: Desgaste de Rodas Ferroviárias

31

A recuperação de eixos é feita pela redução do diâmetro dos mesmos, também,

por torneamento para corrigir defeitos superficiais, quando a técnica permitir que as

dimensões do eixo usinado atendam às especificações de tolerâncias e segurança.

Usualmente adota-se o termo rebaixamento de eixo para definir esta operação. Um

eixo de um rodeiro 6 ½ x 12, por exemplo, pode ser rebaixado e tornar-se um eixo

de rodeiro 6 x 11. Utilizam-se para isto Tornos “Farrel” (vide Figura 20). Outro

processo realizado na oficina envolvendo eixos é a furação destes para adequação

à fixação do tipo de rolamento que será aplicado ao rodeiro. Utilizam-se para tal

Furadeiras Radiais (vide Figura 21).

Figura 20 - Foto Torno “Farrel”

Page 32: Desgaste de Rodas Ferroviárias

32

Figura 21 - Foto Furadeira Radial

Ocorre, também, dentro da oficina, a manutenção dos rolamentos dos rodeiros.

Este processo é inteiramente realizado por uma empresa terceira prestadora deste

serviço situada em anexo à oficina de rodeiros, a “Timken”, ilustrada na Figura 22.

Figura 22 - Foto “Timken”

Page 33: Desgaste de Rodas Ferroviárias

33

Outros processos aplicados à recuperação de componentes como Retificação de

manga de eixo, Acabamento de eixo, Broqueamento de rodas, dentre outros,

encontram-se descritos nos procedimentos operacionais em anexo.

3.2 - Montagem/Desmontagem de Rodeiros

Na montagem dos rodeiros, basicamente, realiza-se a operação de eixamento

das rodas seguida pela aplicação dos rolamentos. Pode-se utilizar componentes

novos ou recuperados na montagem de um rodeiro. Utiliza-se uma prensa CECO

(300 toneladas), ilustrada na Figura 23, para o eixamento. Ressalta-se para este

procedimento a importância de obter-se uma pressão de eixamento dentro das

tolerâncias estabelecidas por norma e a correta medida de bitola.

Tabela 3 - Pressão de Eixamento

MEDIDA "A" PRESSÃO

- FORÇA-

(TON. MÉTRICA)

MIN MAX

VAGÕES 6.1/2" X 9" 1511,0 1513,0 95 145

6.1/2" X 12" 1511,0 1513,0 95 145

6" X 11" 1511,0 1513,0 90 140

5.1/2" X 10" 1511,0 1513,0 85 120

VAGONETA 1519,0 1521,0 55 90

Page 34: Desgaste de Rodas Ferroviárias

34

Figura 23 - Foto Prensa CECO (300 toneladas)

Na desmontagem dos rodeiros, basicamente, executa-se saque dos rolamentos

seguida pelo deseixamento das rodas. Utiliza-se a prensa horizontal mostrada na

Figura 24 para o deseixamento.

Figura 24 - Foto Prensa Horizontal

Page 35: Desgaste de Rodas Ferroviárias

35

As operações de aplicação e saque de rolamentos tipo cartucho ou auto-

compensadores estão caracterizadas em detalhes nos respectivos procedimentos

operacionais que encontram-se em anexo. Os equipamentos utilizados em ambas

as operações estão mostrados nas Figuras 25 e 26.

Figura 25 – Foto Aplicação de Rolamento Cartucho

Figura 26 - Foto Saque de Rolamento Cartucho

Page 36: Desgaste de Rodas Ferroviárias

36

3.3 - Operações de Medição

No decorrer das diversas operações que são realizadas na Casa de Rodas

realizam-se medições. Dentre elas, é relevante detalhar-se as medições de

espessura de friso de roda, tape de roda e bitola de rodeiro.

Faz parte do procedimento “Usinagem de rodeiro no torno Hegenscheid” (ver

anexos) a medição da espessura dos friso das rodas dos rodeiros antes e depois do

torneamento. Utiliza-se um gabarito, tal qual representado na Figura 27 para esta

medição. A espessura do friso é indicada no ponto “D” e corresponde à espessura

medida no ponto de bitola, no caso, o ponto “C”.

Figura 27 - Gabarito Espessura de Friso

Dentro do mesmo procedimento citado acima, realiza-se, também, a medição do

tape das rodas após o torneamento. O tape da roda corresponde ao diâmetro da

mesma. Faz-se a medição do tape para verificar se a espessura final dos aros das

rodas atende ao limite mínimo de segurança para operação e para classificação dos

rodeiros. É necessário que os rodeiros instalados em um mesmo vagão estejam

dentro de uma mesma faixa de medidas de tape, fazendo-se necessário classificar

os mesmos. Utiliza-se uma fita, conforme ilustrado na Figura 28 para esta medição.

Page 37: Desgaste de Rodas Ferroviárias

37

Figura 28 - Fita Medição de Tape de Roda

Ao término da operação de eixamento das rodas realiza-se a conferência da

bitola para verificação da conformidade da bitola do rodeiro com a bitola de

operação da malha ferroviária da MRS, no caso 1,6 m. Utiliza-se um gabarito, tal

qual ilustrado na Figura 29 para esta verificação.

Figura 29 - Gabarito Medida de Bitola

Page 38: Desgaste de Rodas Ferroviárias

38

3.4 - Produção da Casa de Rodas

Tabela 4 - Produção Mensal Rodeiros (2006)

jan/00 fev/00 mar/00 abr/00 mai/00 jun/00 jul/00 ago/00 set/00 out/00 nov/00 dez/00 Total Média M

331 459 657 671 704 770 916 1183 1152 1038 1033 1070 9984 832

jan/01 fev/01 mar/01 abr/01 mai/01 jun/01 jul/01 ago/01 set/01 out/01 nov/01 dez/01 Total Média M

909 592 802 929 1192 1100 1038 897 808 1037 976 741 11021 918

jan/02 fev/02 mar/02 abr/02 mai/02 jun/02 jul/02 ago/02 set/02 out/02 nov/02 dez/02 Total Média M876 751 879 980 1143 1065 1158 956 964 1259 931 803 11765 980

jan/03 fev/03 mar/03 abr/03 mai/03 jun/03 jul/03 ago/03 set/03 out/03 nov/03 dez/03 Total Média M701 666 772 816 903 1323 1394 1302 1215 1112 901 904 12009 1001

jan/04 fev/04 mar/04 abr/04 mai/04 jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 Total Média M1347 1234 1499 1345 1448 1496 1401 1532 1370 1347 1323 1401 16743 1395

jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05 jul/05 ago/05 set/05 out/05 nov/05 dez/05 Total Média M1361 1049 1357 1333 1428 1421 1487 1681 1694 1431 1504 1262 17008 1417

jan/06 fev/06 mar/06 abr/06 mai/06 jun/06 jul/06 ago/06 set/06 out/06 nov/06 dez/06 Total Média M1330 1084 1760 1429 1707 1576 8886 1481

Tabela 5 - Índice de Sucateamento (2006)

Insp. Suc. Insp. Suc. Insp. Suc. Insp. Suc. Insp. Suc. Insp. Suc. Insp. Suc.RODA A-33 Rodeiro 5.1/2" x 10" 54 20 32 8 22 64 20 32 28 26 4 250 60RODA CR-33/ R-33 Rodeiro 6" x 11" 1342 452 768 192 734 146 924 178 1354 274 1206 380 1112 376 7440 1998RODA CK-36/ K-36 Rodeiro 6.1/2" x 12" 1386 654 1098 424 1408 444 1336 410 1680 626 1708 600 946 286 9562 3444RODA CF-36/ F-36 Rodeiro GE-U20 48 48 2 12 12 2 2 4 4 68 66RODA A-40/ E-40 Rodeiro GE-U23/ GM 128 106 36 24 80 80 156 140 78 78 4 4 20 20 502 452

OUTRAS RODAS 18 40 6 6 112 112 56 56 232 174

EIXO 5.1/2" X 10" 27 1 10 16 4 11 32 3 16 6 13 125 14

EIXO 6" X 11" 671 49 384 36 367 23 462 25 677 25 603 35 556 12 3720 205

EIXO 6.1/2" X 12" 693 30 549 27 704 24 668 22 840 41 854 22 473 6 4781 172

EIXO 6.1/2" X 9" 6 12 25 1 30 1 25 24 34 156 2

EIXO LOCO 1500 HP

EIXO LOCO CATERP.

EIXO LOCO GE U-20 24 4 1 6 2 1 1 2 2 34 9

EIXO LOCO GE U-23 41 2 16 2 36 2 46 2 31 2 2 4 176 10

EIXO LOCO GM 23 2 2 4 2 32 2 8 2 6 75 8

EIXO OUTROS EIXOS 9 20 3 56 28 116

ENGRENAGEM 74-D 41 16 36 46 31 1 2 2 4 176 3

ENGRENAGEM 70-D 14 2 4 18 9 4 2 42 11

ENGRENAGEM 63-D 11 11

ENGRENAGEM 62-D 9 14 4 3 6 33 3

Total sucatadescrição Material

JULMAR ABR MAIJAN FEV JUNTotal insp.

Page 39: Desgaste de Rodas Ferroviárias

39

Os dados anteriores descrevem o funcionamento da oficina em um único turno

de 12h por dia. A mão de obra empregada é de 10 funcionários da MRS e 30

terceiros.

O Índice de Sucateamento representa o percentual dos componentes

inspecionados que foi sucateado. A capacidade instalada atual da Casa de Rodas

por turno de 12h é de 3.000 rodeiros por mês ou 36.000 rodeiros por ano.

Confrontando-se os dados da produção apresentados com a capacidade instalada,

observa-se que ainda não se utiliza a capacidade produtiva total da oficina. São

vários os fatores que contribuem para isto além da falta de demanda, dentre eles

destacam-se a baixa disponibilidade dos equipamentos e a freqüente falta de

material. Este último causado por diversos sub-fatores que serão abordados nos

próximos capítulos.

3.5 - Preço-Médio do Rodeiro

Como excplicado anteriormente, as oficinas clientes da Casa de Rodas do Horto

Florestal enviam os rodeiros que necessitam de manutenção e recebem rodeiros

novos e/ou recuperados.

Existe um preço a ser pago pelas oficinas clientes da Casa de Rodas pelos

rodeiros que chegam até estas. Este preço reflete o custo da manutenção do ativo.

No entanto, este custo não é diferenciado por rodeiro, ou seja, apesar da

manuenção de cada rodeiro se dar em função de necessidades específicas

individuais e do custo dessa manutenção ser diferente para cada rodeiro,o preço a

ser pago pelo rodeiro é denominado preço-médio.

O preço-médio dos rodeiros é calculado em função do custo total de

manutenção dos rodeiros e do número de rodeiros novos e/ou recuperados que

foram produzidos pela Casa de Rodas em um determinado período de tempo. O

preço-médio, então, é sensível principalmente ao índice de sucateamento dos

Page 40: Desgaste de Rodas Ferroviárias

40

componentes dos rodeiros e à oscilação do preço de mercado dos componentes

novos.

Page 41: Desgaste de Rodas Ferroviárias

41

4 - Gerenciamento do Desgaste das Rodas

4.1 - Regime de Desgaste no Contato Roda-Trilho

Tournay (1997) utiliza-se de uma interessante abordagem sintética sobre as

condições de desgaste geralmente observadas no contato roda-trilho e sobre

alternativas para gerenciamento deste desgaste. De acordo com o seu trabalho,

pode-se classificar as ferrovias em dois grupos, quanto à forma de desgaste no

contato roda-trilho: regime de desgaste e regime de stress.

No regime de desgaste, destaca-se o desgaste lateral dos frisos das rodas dos

rodeiros, enquanto no regime de stress não há desgaste lateral importante no friso e

destacam-se as tensões de contato, bastante elevadas, geradas pelo desgaste

côncavo da pista (friso alto). Ambos os comportamentos encontram-se esboçados

na Figura 30.

Na MRS, observa-se um desgaste de friso desproporcionalmente grande em

relação ao desgaste na pista de rolamento. Constata-se portanto que a empresa

opera em regime de desgaste e a quase totalidade das rodas são sucateadas em

função de friso fino, e de maneira quase insignificante, pelo friso alto que caracteriza

o desgaste côncavo na pista. Isto decorre basicamente das características do

traçado da malha ferroviária.

Page 42: Desgaste de Rodas Ferroviárias

42

Figura 30 – Desgaste da Pista (esquerda) e Desgaste Lateral do Friso (direita)Fonte - (Pascual e Marcos, 2004)

No contato em regime de desgaste, as ferrovias costumam apresentar uma

combinação de um ou mais dos seguintes fatores típicos (Tournay, 1997):

- raios de curva pequenos;

- base rígida longa e truque convencionais;

- inscrição inadequada dos truques;

- rodeiros desalinhados;

- contato roda-trilho mal lubrificado;

- amplo desgaste lateral para roda e trilho;

- ampla variação na bitola da via em curvas e retas;

- trilho de material mais macio;

- encaixe entre roda e trilho com desgaste, quando o contato é feito no friso

(curvas).

O regime de desgaste está geralmente associado a traçados predominantemente

sinuosos, capazes de gerar ângulos de ataque amplos e esforço lateral acentuado.

Resulta daí um tipo de contato abrasivo que usina o friso da roda e o boleto do trilho,

progressivamente, tornando-os finos até o limite de rejeito. Também em virtude

destas características geométricas, o trilho interno das curvas de pequeno raio pode

sofrer deformação plástica substancial. Em geral isto ocorre para patamares de

transporte suficientemente elevados ou quando a superelevação calculada para

trens em um dos sentidos resulta exagerada para a velocidade real dos trens no

sentido contrário. Na prática, isto é freqüentemente observados em perfis íngrimes.

4.2 - Rodas de múltiplas vidas

Todas as próximas abordagens acerca de rodas e demais componentes de

rodeiros aplicam-se à frota de vagões da Companhia. Não menos importante, o ciclo

de manutenção dos rodeiros das locomotivas não é o foco principal deste trabalho.

Page 43: Desgaste de Rodas Ferroviárias

43

A vida útil de uma roda corresponde ao total de quilômetros rodados até que ela

seja sucateada. A espessura do friso diminui devido ao desgaste lateral do mesmo;

então a roda é reperfilada para um determinado diâmetro com a conseqüente

diminuição da espessura do aro. Esse ciclo continua até que a espessura do aro

seja mínima e não haja mais material para ser retirado. Portanto, a vida útil de uma

roda é determinada pelo desgaste do friso em conjunto com as práticas de

reperfilamento.

As rodas novas de vagões são de 36’’ de diâmetro medidas na linha de tape

para rodeiros ‘6½ x 12’ e ‘6½ x 9’ e 33” para ‘6 x 11’ e ‘5½ x 10’, ambas com

espessura de friso 36 mm, espessura de aro 63,5 mm, de múltiplas vidas. Aplicam-

se, na MRS, três vidas para os rodeiros. Alguns problemas no ciclo de manutenção

dos rodeiros da MRS são fatores que vêm a diminuir tanto a vida útil das rodas,

quanto o número de vidas das mesmas. Alguns desses fatores serão abordados

posteriormente neste trabalho.

De acordo com os procedimentos adotados pela MRS, os limites de rejeição e de

torneamento de frisos quanto à espessura (friso fino) são:

- Nas vidas intermediárias, o limite para torneamento atendendo a critério

econômico é de : 24 mm (15/16”);

- Na última vida o limite de rejeição é de : 21 mm (13/16”).

O limite de rejeição quanto ao contorno (friso vertical) é atingido quando este

apresenta, na geratriz do aro, uma face vertical com altura mínima de 25 mm (1”) e

quanto à altura quando, por desgaste da superfície de rolamento, apresentar altura

mínima de 38 mm (1½”). O limite de rejeição de aro quanto à espessura (aro fino) é

atingido quando o aro apresentar espessura mínima de 19 mm (3/4”) para as rodas

de 33” e 25,4 mm (1”) para 36”.

Conforme descrito anteriormente, na operação de reperfilamento diminui-se o

diâmetro das rodas. Temos na Tabela 6 a redução necessária na espessura do aro

em função da espessura do friso no início do processo de torneamento para que o

mesmo seja recomposto para 32 mm:

Page 44: Desgaste de Rodas Ferroviárias

44

Tabela 6 - Redução Espessura de Aro x Friso de Entrada – Reperfilamento

Espessura Friso (mm) Redução Espessura Aro (mm)

32 0

31 1.5875

30 3.175

29 4.7625

28 6.35

27 7.9375

26 9.525

25 11.1125

24 12.7

23 14.2875

Conforme exposto anteriormente, é característico na MRS a predominância do

desgaste da espessura do friso sobre a pista de rolamento. Desta maneira podemos

considerar insignificante o desgaste da pista de rolamento das rodas em operação

entre as vidas dos rodeiros. Temos na Figura 31 uma representação das vidas de

um rodeiro.

Figura 31 – Roda de Múltiplas Vidas na MRS

Page 45: Desgaste de Rodas Ferroviárias

45

4.3 - Ciclo de Manutenção do Rodeiro

Temos na Figura 32 a modelagem do escopo do ciclo de manutenção dos

rodeiros da frota de vagões da MRS.

Figura 32 – Modelagem do Escopo do Ciclo de Manutenção do Rodeiro

Os rodeiros novos ou recuperados são disponibilizados pela Casa de Rodas

para as oficinas. Nas oficinas eles são instalados nos vagões e estes começam a

circular pela malha. Ao atingirem a espessura de friso 24 mm, atendento a critério

econômico, eles devem ser retirados dos vagões, também nas oficinas, e

transportados para a Casa de Rodas. Na Casa de Rodas eles são inspecionados,

recuperados ou sucateados e a partir daí o ciclo recomeça novamente.

4.4 - Friso Econômico

Por definição o friso econômico define a espessura do friso ideal para que a roda

seja reperfilada para obter-se um baixo custo de manutenção para o rodeiro.

Page 46: Desgaste de Rodas Ferroviárias

46

Subentende-se a partir deste conceito que esta prática maximize a vida útil da

roda, ou seja, a quantidade de quilômetros rodados. Justifica-se, na MRS, o fato de

utilizar-se rodas de múltiplas vidas pelo fato do custo do processo de reperfilamento

ser extremamente baixo se comparado com o custo de rodeiros montados com

rodas novas, mesmo com rodas de vida única. Portanto, é muito importante o

gerenciamento das vidas dos rodeiros. Ressalta-se que o custo do processo que

utiliza-se como referência abrange apenas os custos do processo dentro da Casa de

Rodas, não levando em consideração, por exemplo, o custo de transporte dos

rodeiros entre a Casa de Rodas e as oficinas.

De acordo com a definição do friso econômico (24 mm), o regime de desgaste e

o processo de reperfilamento temos a Tabela 7:

Tabela 7 – Aplicação Friso Economico

Fe (mm) Fs (mm) Ae (mm) As (mm)1a Vida 36 241o Reperfilamento 24 32 63,5 50,82a Vida 32 242o Reperfilamento 24 32 50,8 38,13a Vida 32 243o Reperfilamento 24 32 38,1 25,44a Vida 32 24

Fe: Friso entrada As = Ae - 12,7 (Tabela XXX)Fs: Friso saídaAe: Aro entradaAs: Aro saida

63,5

50,8

38,1

25,4

A tabela acima aplica-se tanto as rodas de 33” de diâmetro, quanto às de 36”.

Empregam-se rodas de 36” para vagões manga “T” e 33” para manga “S” e “R”.

Analisa-se a tabela acima de maneira diferente para as rodas 33” e 36”.

Os vagões que compõem a frota manga “T” (roda 36”) da Companhia são os

modelos GDT e HAT, ambos atuam nas operações de heavy-haul, transportam,

principalmente, minério de ferro. Os limites de rejeição de aro quanto à espessura

(aro fino) são 25,4 mm (1”) para HAT e 33,7 mm (1 3/8”) para GDT. Nota-se, de

Page 47: Desgaste de Rodas Ferroviárias

47

acordo com a tabela, que adotando-se o friso econômico (24 mm) aplicam-se 4

vidas para vagões HAT e 3 vidas para vagões GDT. Varias inadequações podem ser

percebidas a partir dos dados acima. Observa-se, por exemplo, que o rodeiro passa

precocemente para a 3a vida, onde só se aplica ao vagão HAT, com a espessura do

aro ainda acima do limite de rejeito. Isto representa um desperdício na vida útil do

rodeiro. O rodeiro poderia circular por mais tempo na 2a vida, e passar pelo 2o

reperfilamento com um friso de entrada inferior a 24 mm. A quantidade que seria

retirada a mais na espessura do aro, conforme especificado na Tabela 6, no

torneamento, seria aceitável. Na prática observamos a aplicação de apenas 3 vidas

aos rodeiros manga “T”, “S” ou “R”. No caso da manga “T” 2 vidas para GDT e 3

para HAT. Ressalta-se também o fato da frota de vagões HAT ser muito inferior a

GDT. Isto ocasiona, na prática, um acúmulo na quantidade de rodeiros disponíveis

para HAT em 3a vida. Ocorre que os rodeiros manga “T” em 1a e 2a vida são

aplicados apenas em vagões GDT e em 3a vida em HAT. Uma das conclusões que

podem ser tiradas desta análise é a existência de uma divergência muito grande

entre a teoria e a prática, no que tange ao gerenciamento apropriado das vidas dos

rodeiros. Isto tem sido alvo de freqüentes discussões e análises na MRS.

Analisa-se os rodeiros de rodas 33”, aplicados às mangas “S” e “R” da mesma

maneira que os rodeiros aplicados aos vagões HAT (manga “T”), salvo a espessura

mínima de rejeito do aro ser 19 mm (3/4”).

4.5 - Diferença de Frisos

Freqüentemente, observa-se na Casa de Rodas a chegada de rodeiros com

diferentes espessuras de friso nas rodas, conforme a representação abaixo:

Page 48: Desgaste de Rodas Ferroviárias

48

Figura 33 - Diferença de Espessura de Friso

Sucessivas curvas realizadas pelo rodeiro com a mesma roda apoiada sobre o

trilho externo à curva, causa maior desgaste no friso da mesma em relação à outra.

Isto porque a tensão no contato roda-trilho nela é superior.

Na prática, o fenômeno descrito acima ocorre quando um vagão realiza curvas

mais intensamente em um mesmo sentido ao longo do seu ciclo de circulação na

malha ferroviária. Entenda-se a variação da intensidade das curvas em função do

diferentes fatores: desequilíbrio entre número de curvas para um lado ou para o

outro, variação entre os raios, variação entre as inclinações da via e do peso bruto

instantâneo do vagão.

Algumas das conseqüências desse fenômeno são a diminuição da vida útil do

rodeiro e do número de vidas deste. Conforme descrito anteriormente, o processo de

reperfilamento é realizado em torno copiador para que tenhamos, ao final do

processo, rodas idênticas quanto ao diâmetro, contorno do aro e espessura de friso.

Assim, um rodeiro com diferença de espessura de friso entre as rodas terá como

parâmetro de reperfilamento a roda com menor espessura de friso. Será feita a

retirada desnecessária de material na roda com maior espessura de friso. Dessa

maneira, o rodeiro tem a sua vida útil reduzida pois, caso tivesse desgaste de ambos

os frisos igualmente, teria circulado por mais tempo até que ambas as rodas

atingissem a mesma espessura de rejeito. Além disso, o rodeiro pode cair

diretamente, por exemplo, da primeira para a terceira vida, ou mesmo, da segunda

vida para a sucata, tendo seu número de vidas reduzido.

Page 49: Desgaste de Rodas Ferroviárias

49

Para que o fenômeno acima seja controlado, é necessário que seja realizado de

maneira controlada o giro dos vagões na linha. Isso implica em colocar a roda do

rodeiro que circula sempre sobre o mesmo trilho ao longo do ciclo de circulação

deste para circular sobre o outro trilho e vice-versa. Tal operação pode ser realizada

em pêras, conforme ilustrado na Figura 34, ou mesmo retirando-se o vagão da linha

e girando o mesmo 180o antes de recolocá-lo novamente sobre os trilhos.

Figura 34 – Esquema Pêra

As freqüências de ocorrência do fenômeno acima constatadas a partir da coleta

e análise de amostras na Casa de Rodas podem ser observadas na Tabela 8.

Tabela 8 – Percentual de Rodeiros com Diferença de Espessura de Friso

Page 50: Desgaste de Rodas Ferroviárias

50

Diferença Friso (mm) Rodas 33" Rodas 36"0 8,60% 14,1%1 14,30% 23,1%2 20,00% 17,3%3 14,30% 15,4%4 25,70% 11,5%5 5,70% 7,1%6 8,60% 8,3%7 2,90% 0,6%8 0,00% 1,3%9 0,00% 0,6%

10 0,00% 0,0%11 0,00% 0,6%12 0,00% 0,0%13 0,00% 0,0%14 0,00% 0,0%15 0,00% 0,0%

Percentual Rodeiros

4.6 - Logística do Transporte de Rodeiros

Conforme descrito anteriormente, a Casa de Rodas é única na empresa e está

localizada em Belo Horizonte, em um dos extremos da malha ferroviária da MRS.

Isso pode ser observado na Figura 17 no Capítulo 3. Para que os rodeiros cheguem

até a Casa de Rodas e retornem até as várias oficinas clientes desta é necessário

haver uma logística eficiente deste transporte que é realizado preferencialmente via

ferrovia. Transportam-se rodeiros sobre vagões pranchas adaptados para este fim.

Estes vagões não possuem igual capacidade de transporte (vide Tabela 9).

Tabela 9 – Quantidade de Vagões Prancha x Capacidade de Rodeiros (2005)

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Capacidade Núm. Rodeiros Qtde Vagões12 213 215 916 317 219 220 421 223 126 2

Por estar localizada em uma ponta da malha, os intervalos de tempo para que os

rodeiros sejam transportados da Casa de Rodas até as oficinas e vice-versa são

individuais por oficina. As quantidades demandas de rodeiros para cada oficina são,

também, individuais e variáveis ao longo do tempo. Portanto, é necessário

coordenar de maneira contínua a circulação dos vagões prancha através da malha

em função da disponibilidade de trens para anexa-los, da demanda de cada oficina e

dos intervalos de tempos disponíveis para que não faltem rodeiros na Casa de

Rodas ou nas oficinas.

Para que os vagões prancha cheguem até a Casa de Rodas é necessário que

os mesmos passem por um trecho de aproximadamente 15 km da malha de outra

Companhia, a FCA (Ferrovia Centro-Atlântica). É necessário pedir direito de

passagem que é concedido de acordo com a disponibilidade da FCA. Isto representa

um gargalo ao escoamento dos vagões uma vez que freqüentemente a MRS não

consegue o direito de passagem de acordo em sincronia com as suas necessidades.

Uma outra opção para o transporte de rodeiros é a utilização do modal

rodoviário. Eventualmente utiliza-se de caminhões para este fim. Os caminhões

transportam uma menor quantidade de rodeiros por viagem, mas realizam o

transporte com maior previsibilidade nas entregas. Do ponto de vista financeiro não

é possível realizar uma comparação quanto aos respectivos custos uma vez que não

encontra-se disponível o custo de transporte dos rodeiros através da malha

ferroviária da MRS.

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5 - Necessidade de Monitoramento do Ativo

Experiências têm mostrado que boa parte do aparente mistério que envolve as

questões relacionadas ao contato roda-trilho pode ser claramente elucidado com a

introdução de uma abordagem de investigação do tipo passo-a-passo, elaborada

para entendimento e gerenciamento do contato, tanto em regime de desgaste como

de stress (Tournay, 1997).

A avaliação constante e precisa do perfil de desgaste da roda e do trilho

permitirá a identificação de pontos de súbita mudança da taxa de desgaste.

Freqüentemente esses pontos definem limites de desgaste que, se observados,

podem resultar em substancial economia de energia e prolongamento da vida útil

para componentes do equipamento e via. O segredo para entendimento dos

fenômenos e escolha da estratégia mais adequada de gestão dos desgastes é o

monitoramento constante, até mesmo porque as circunstâncias podem se modificar

ao longo do tempo (Tournay, 1997).

Recomenda-se determinar os limites econômicos de desgaste típicos da

ferrovia, por intermédio da observação dos pontos de brusca mudança na taxa de

desgaste. Para isso, é necessário um monitoramento contínuo e sistemático dos

desgastes.

5.1 - Sistemas Avançados de Inspeção de Veículos Ferroviários

Segurança, confiabilidade dos sistemas, serviços personalizados, produtividade

e a lucratividade de uma ferrovia dependem do conhecimento preciso do

desempenho e condições de manutenção do seu material rodante. Sistemas de

monitoramento Wayside (ao lado da via) têm evoluído continuamente e aumentado a

capacidade de monitorar um maior número parâmetros quase que em tempo real

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com cada vez maior precisão. Sistemas automáticos de inspeção de veículos

ferroviários são fundamentais para minimizar riscos e falhas potenciais resultantes

da má performance destes, contribuindo para aumentar a segurança e produtividade

da operação ferroviária. Sistemas avançados de inspeção que utilizam alta

tecnologia são dotados de maior precisão, eficiência e rapidez nas tarefas de

inspeção. Esses sistemas são denominados “Machine Vision” (Visão de Máquina),

devido à sua aproximação da capacidade da visão humana de visualização e

interpretação de imagens.

Sistemas avançados de captura de vídeo para aquisição de dados quantitativos

acerca de componentes críticos de veículos ferroviários foram desenvolvidos a partir

da integração de câmeras wayside, sistemas de controle, bancos de dados e

softwares avançados.

Os Sistemas de Monitoramento Wayside, de maneira geral, são compostos de

módulos para monitoramento de rolamentos, alinhamento de truck, superfície de

rodas, sapatas de freio e perfil de contorno e desgaste de roda e, além de outros.

Dentre os módulos citados acima o módulo de monitoramento do perfil de

contorno e desgaste de rodas monitora os parâmetros acerca do desgaste de rodas

que estão diretamente relacionados ao processo de reperfilamento. Esses

parâmetros são a espessura de friso, altura de friso, espessura de aro e diâmetro da

roda. Uma instalação típica deste equipamento pode ser observada nas Figuras 34 e

35.

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Figura 35 - Sistema de Monitoramento de Sapatas de Freio e Perfis de RodasFonte – (Lundgren)

Figura 36 – Sistema Completo de Monitoramento WaysideFonte – (Lundgren)

Page 55: Desgaste de Rodas Ferroviárias

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Na Figura 34 observa-se a instalação de um sistema de monitoramento de

sapatas de freio e perfis de rodas. Câmeras de alta resolução estão instaladas para

captura precisa de imagens que são, em seqüência, disponibilizadas para análise

quantitativa de suas dimensões. Uma instalação completa pode ser observada na

Figura 35. O sistema de controle, análise de dados computadorizado e demais

equipamentos ficam dispostos em racks, abrigados em um hut que pode ser, por

exemplo, um container. As instalações elétricas e conexões de comunicação

completam a instalação.

Figura 37 – Sistema de Controle dos Equipamentos Wayside

Fonte – (Lundgren)

Page 56: Desgaste de Rodas Ferroviárias

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Em operação, o sistema fornece os dados de entrada para o software de

análise, que vêm a ser as imagens fotográficas capturadas. Seguem algumas

exemplos de imagens de rodas.

Figura 38 – Módulo Perfil de Roda – Imagem do Friso da Roda Capturada a 60mph

Fonte – (Lundgren)

Page 57: Desgaste de Rodas Ferroviárias

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Figura 39 - Módulo Perfil de Roda – Imagem do Aro da Roda Capturada a 60mph

Fonte – (Lundgren)

Ambas as imagens foram capturadas em um teste utilizando-se de um veículo

ferroviário movendo-se a velocidade constante de 96 km/h (60 mph). A partir da

utilização de perspectivas práticas as imagens são processadas para obterem-se as

medidas necessárias que serão comparadas com os padrões de tolerância

prescritos ao sistema. Então, atende-se aos requisitos da tolerância ou indica-se a

necessidade de manutenção.

Exemplos de dados coletados acerca de 7 passes a 96 km/h de um veículo

ferroviário de teste estão representados nas Figura XX a XXX. São exemplos de

medidas de espessura de aro, altura de friso e espessura de friso respectivamente.

Para a verificação e validação dos dados de saída, múltiplas medidas são coletadas

a partir de veículos ferroviários préviamente medidos estáticamente utilizando-se

instrumentos de medição direta como o perfilômetro de rodas “MiniProf”. Essas

medidas são adotadas como referência. Os limites superior e inferior de controle, ou

tolerância, são calculados baseados em variações possíveis e previsíveis na

uniformidade (nominalmente na ordem de 0,5 mm) da circunferência da roda e das

tolerâncias inerentes ao procedimento padrão de medição de campo. No caso do

manual de campo da AAR, eles são da ordem de 0,8 mm (altura de friso, espessura

de friso e espessura de aro).

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Figura 40 – Exemplo de Medidas de Espessura de AroFonte – (Lundgren)

Figura 41– Exemplo de Medidas de Altura de FrisoFonte – (Lundgren)

Figura 42– Exemplo de Medidas de Espessura de FrisoFonte – (Lundgren)

Várias e extensas analises de custo/benefício foram conduzidas pela AAR,

focadas no potencial dos sistemas automatizados de inspeção para reduzir custos e

prover benefícios aos operadores ferroviários. Como exemplos, análises econômicas

dos benefícios e custos do monitoramento do perfil de rodas foram realizadas.

Page 59: Desgaste de Rodas Ferroviárias

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Os sistemas de monitoramento de perfil de rodas fornecem aos operadores de

veículos ferroviários medidas periódicas das dimensões citadas anteriormente. Isso

torna possível aos operadores preverem modificações nas rodas e então planejarem

e controlarem as manutenções do respectivo ativo de acordo com suas

necessidades. A habilidade de monitorar as dimensões das rodas possibilita que

medidas sejam tomadas para a redução de descarrilamentos causados por “friso

fino”, desgaste da pista de rolamento e demais fatores passíveis de associação ao

desgaste de rodas.

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6 – Conclusão

Atualmente o item rodeiro representa um dos maiores custos variáveis da

empresa. Conclui-se com este trabalho que é possível e necessário estabelecer

diretrizes ou estratégias básicas para gerenciamento do desgaste dos rodeiros da

Companhia e os benefícios práticos da implementação destas estratégias podem ser

realmente substanciais.

Para tanto, é fundamental a implantação e utilização adequada de um sistema

eficiente de monitoramento contínuo e sistemático dos desgastes dos rodeiros em

circulação.

Uma vez monitorados todos ou parte dos rodeiros da Companhia, pode-se a

partir de um banco de dados realizar-se múltiplas análises. Desde análises técnicas

imediatas visando-se, por exemplo, tomar medidas para evitar-se descarrilamentos

iminentes, aumentando-se a confiabilidade da frota de vagões e locomotivas, até

mesmo análises econômicas objetivando-se tomar decisões para controlar o preço

médio do ativo na empresa.

Em função dos dados do sistema de monitoramento passa a ser possível

identificar tendências de desgaste dos rodeiros em função de rotas de circulação

específicas. Mediante a isso pode-se, por exemplo, identificar trechos de via onde o

desgaste dos rodeiros que por ali circulam seja acentuado e tomar medidas para

aliviar este desgaste.

Os últimos dados coletados pelo sistema de monitoramento representam a

situação atual da frota monitorada. Através das tendências de desgaste previamente

identificadas pela análise da base de dados histórica, pode-se realizar projeções e,

de certa forma, prever o volume, o momento e as características das manutenções

futuras. Enfim, assim como as análises baseadas nos cenários e hipóteses

propostas, análises reais podem ser realizadas para fundamentar decisões de

acordo com as estratégias da Companhia.

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7 – Referências Bibliográficas

LUNDGREN, Jim; Advanced Rail Vehicle Inspection Systems; Transportation

Technology Center, USA.

PASCUAL, Fernando; MARCOS, José-Antonio; Wheel Wear Management on High

Speed Passanger Rail: A Common Playground for Design and Maintenance

Engineering in the Talgo Engineering Cycle; Baltimore, Maryland, USA; Abril 2004.

ROSA, Paulo Mauricio Costa Furtado; Curso de Especialização em Transporte

Ferroviário de Cargas; IME; Novembro 2005.

TOURNAY, Harry; Managing Rail and Wheel Interaction; África do Sul; Fevereiro

1997.

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ANEXOS