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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Arquitetura Curso de Design Visual
THAIS ARNOLD FENSTERSEIFER
DESIGN EDITORIAL: OS LIVROS INFANTIS E A CONSTRUO DE UM PBLICO-LEITOR
Porto Alegre 2012
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Arquitetura Curso de Design Visual
THAIS ARNOLD FENSTERSEIFER
DESIGN EDITORIAL: OS LIVROS INFANTIS E A CONSTRUO DE UM PBLICO-LEITOR
Trabalho de Concluso de Curso submetido ao Curso de Design Visual, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como quesito parcial para a obteno do ttulo de Designer. Prof. Orientadora: Sara Copetti Klohn
PORTO ALEGRE
2012
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FOLHA DE APROVAO
THAIS ARNOLD FENSTERSEIFER
DESIGN EDITORIAL: OS LIVROS INFANTIS
E A CONSTRUO DE UM PBLICO-LEITOR
Trabalho de Concluso de Curso submetido ao Curso de Design Visual, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como quesito parcial para a obteno do ttulo de Designer. Prof. Orientadora: Sara Copetti Klohn
Porto Alegre, 11 de julho de 2012.
_________________________________________________ Prof. Sara Copetti Klohn
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Orientadora
_________________________________________________ Prof. Fabiano Scherer
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
_________________________________________________ Prof. Maria do Carmos Curtis
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
_________________________________________________ Prof. Jaire Passos
Universidade Ritter dos Reis
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Dedico este trabalho aos meus pais,
Luiz Gaspar Fensterseifer e Margit
Arnold Fensterseifer, aos meus
irmos, Wagner e Victor, e a
Rodrigo Baraldo Mendona.
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RESUMO
Este trabalho consiste na pesquisa e no desenvolvimento de uma srie de
livros voltados ao pblico infantil em fase de alfabetizao, de modo a estimular
o interesse desse pblico pelos livros e buscando facilitar a leitura, auxiliando na
aquisio do hbito de ler desde os primeiros anos de vida. Como base para o
desenvolvimento do projeto, foram realizadas pesquisas de fundamentao
terica, abordando-se temas como desenvolvimento infantil, tipografia,
diagramao, formato e adequao ergonmica, tcnicas e estilos de ilustrao,
dentre outros aspectos. Alm dessa fundamentao, que contou tambm com
anlise de similares e com pesquisa de campo, o presente trabalho aborda,
detalhadamente, o processo de desenvolvimento do projeto editorial da coleo
de livros, com enfoque em um dos livros que compem a coleo.
Palavras-chave: Design, Design Editorial, Design de Livros, Livros Infantis.
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ABSTRACT
This paper presents a research on childrens books and the development
of a series of books aimed at children in the literacy phase, with the primal
objectives of stimulating the interest of this public in books and encouraging the
acquisition of reading skills from the earliest years of life. As a basis for the
development of the graphic project, a theoretical research was developed,
approaching topics like child development, typography, layout, format and
ergonomy and styles of illustration. Beyond these items, the research also covers
an analysis on childrens books available in the market and a field research. The
paper also discusses, in detail, the process of developing the editorial project of
the collection of books, focusing on one of the books that composes the
collection.
Keywords: Design, Editorial Design, Book Design, Childrens Books.
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SUMRIO
INTRODUO ................................................................................................................ 11
1. PROJETO DE PESQUISA ............................................................................................ 13
1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................ 13
1.2 METODOLOGIA ........................................................................................................ 14
2. DESIGN DE LIVROS ................................................................................................... 18
2.1 Livro: definio .......................................................................................................... 18
2.2 As origens do livro ..................................................................................................... 19
2.3 Atributos em Design de Livros ................................................................................. 23
3. A CRIANA, O APRENDIZADO E A LEITURA .......................................................... 31
3.1 Estgio de desenvolvimento da criana ..................................................................... 31
3.2 Alfabetizao e Letramento ...................................................................................... 33
3.3 Legibilidade e Leiturabilidade .................................................................................. 34
3.4 O papel do designer na formao do leitor ................................................................37
4. DESIGN EDITORIAL: LIVROS INFANTIS ............................................................... 39
4.1 Evoluo do livro infantil .......................................................................................... 39
4.2 O interesse das crianas pelos livros ........................................................................ 48
4.3 Adequao ergonmica: formato e tipografia .......................................................... 52
4.3.1 O formato dos livros infantis teoria e antropometria ......................................... 52
4.3.2 Tipografia para livro infantil ................................................................................. 58
4.4 A ilustrao no livro infantil ..................................................................................... 64
4.4.1 Funes da imagem ............................................................................................... 65
4.4.2 Tcnicas de ilustrao............................................................................................ 66
4.4.3 Estilos de ilustrao ............................................................................................... 67
4.5 A diagramao dos livros literrios infantis .............................................................72
5. ANLISE DE SIMILARES E PESQUISA DE CAMPO ................................................ 75
5.1 Anlise de Similares ................................................................................................... 75
5.2 Pesquisa com amostragem do pblico-alvo ............................................................. 88
5.2.1 Participantes .......................................................................................................... 89
5.2.2 Instrumentos de pesquisa ..................................................................................... 90
5.2.3 Metodologia de pesquisa e coleta de dados ........................................................... 90
5.2.4 Resultado, anlise e interpretao de dados .......................................................... 91
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6. ANLISE DE DADOS E CONCEITUAO ..............................................................103
6.1 Levantamento de necessidades e de requisitos de projeto ......................................103
6.2 Formulao do conceito .......................................................................................... 105
6.3 Gerao de alternativas .......................................................................................... 108
6.4 Seleo de alternativas ............................................................................................. 111
6.5 Conceituao geral ................................................................................................... 113
6.6 Definio da temtica das histrias ......................................................................... 113
6.7 Composio da Coleo Irmos Grimm .................................................................. 117
6.8 Diferenciais da proposta.......................................................................................... 118
6.9 Escopo do Projeto .................................................................................................... 119
7. ESTUDOS & DEFINIES FORMAIS ......................................................................120
7.1 Formato ....................................................................................................................120
7.2 Seleo Tipogrfica .................................................................................................. 122
7.3 Paleta de Cores ......................................................................................................... 124
7.4 Mancha Grfica e Grade Estrutural ......................................................................... 125
7.5 Diagramao ............................................................................................................ 128
7.6 Ilustraes ................................................................................................................ 134
7.7 Papel, Impresso, Acabamentos e Encadernao.................................................... 137
8. PROJETO GRFICO .................................................................................................140
8.1 Apresentao grfica do ttulo .................................................................................140
8.2 Famlia de Selos ....................................................................................................... 141
8.3 Padres de fundo ..................................................................................................... 142
8.4 Organizao editorial do livro ................................................................................. 144
8.5 Layout ...................................................................................................................... 145
8.5.1 Capa, contracapa, guardas e lombada .................................................................. 145
8.5.2 Folha de ante-rosto, crditos e folha de rosto ...................................................... 147
8.5.3 Pginas da narrativa ............................................................................................. 149
8.6 Cartela de adesivos .................................................................................................. 154
8.7 Boneco de Testes ..................................................................................................... 154
9. EMBALAGEM ........................................................................................................... 156
9. 1 Estojo de lpis de cor .............................................................................................. 158
9.2 Embalagem principal .............................................................................................. 162
10. MANUAL DE EDITORAO .................................................................................. 166
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11. RESULTADO FINAL ................................................................................................ 167
CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................... 170
REFERNCIAS.............................................................................................................. 172
APNDICE A Pesquisa com amostragem do pblico-alvo: Entrevista Geral............ 181
APNDICE B Pesquisa com amostragem do pblico-alvo: Entrevista Individual .... 182
APNDICE C - Documento de apresentao do projeto de pesquisa Prof. Teresinha
de Ftima ....................................................................................................................... 183
APNDICE D Briefing de Projeto A/C Henrique Hbner ...................................... 185
APNDICE E Os Msicos de Bremen: texto e distribuio por pgina .....................186
APNDICE F Manual de Editorao ........................................................................ 190
ANEXO A Ilustraes, por Henrique Hbner ........................................................... 200
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: As sete etapas do design ................................................................................... 14
Figura 2: Metodologia de Projeto Fonte: Munari, 2008. ................................................ 15
Figura 3: Metodologia Final de Projeto ........................................................................... 17
Figura 4: Grade e linhas de formao da mancha grfica. ............................................. 26
Figura 5: Logotipo do metr de Londres. ....................................................................... 35
Figura 6: Capa clssica da Editora Penguin. .................................................................. 36
Figura 7: Juvenile Libraries ............................................................................................ 40
Figura 8: Rodolphe Tpffer, Monsir Crpin .................................................................. 41
Figura 9: Lorenz Frlich, La Journe de Mademoiselle Lili ........................................... 41
Figura 10: Kate Greenaway, Under the Window ............................................................ 42
Figura 11: ABC: An Alphabet .......................................................................................... 43
Figura 12: The Banbury Cross Series .............................................................................. 43
Figura 13: Macao et Cosmage, Edy-Legrand .................................................................. 44
Figura 14: Number Four Joy Street, sobrecapa de Alec Buckels .................................... 45
Figura 15: The Box of Delights, John Masefield ............................................................. 45
Figura 16: Pippi Lngstrump, ilustraes de Ingrid Vang Nyman ................................. 46
Figura 17: Onde vivem os monstros, Maurice Sendak ................................................... 47
Figura 18: Projetos grficos direcionados ao pblico de seis a nove anos ..................... 50
Figura 19: Formao do retngulo ureo ....................................................................... 53
Figura 20: Relao constante entre o quadrado e o retngulo ureo ............................ 54
Figura 21: Correspondncia entre as propores de pgina e a escala cromtica. ........ 54
Figura 22: Pginas do livro Le Modulor ..........................................................................55
Figura 23: Parte de srie de formatos retangulares. ...................................................... 56
Figura 24: Caracteres adultos e caracteres infantis ....................................................... 59
Figura 25: Pouca diferenciao entre caracteres da fonte Avant Garde Gothic. ............ 60
Figura 26: Algumas das fontes da famlia Sassoon e ...................................................... 61
Figura 27: Bree Font, por Veronika Burian e Jos Scaglione (2008) ............................ 62
Figura 28: Sasson Primary Font, por Rosemary Sassoon (1985)................................... 62
Figura 29: Llona Font, por Jenni Ahonen (2007) .......................................................... 63
Figura 30: Estilo Tradicional - Aya et sa petite soeur, ................................................... 69
Figura 31: Estilo Cartunista - Les Fils de l'ogre, Franois David e Andr Franois ....... 69
Figura 32: Estilo Caricatural - L'Art du pot, Michelle Nikly e Jean Claverie ................. 69
Figura 33: Escola francesa - Un Jour, un loup, Grgoire Solotareff .............................. 70
Figura 34: Esttica Fauvista - Premire Anne sur la Terre (detalhe), Alain Serres Za
........................................................................................................................................ 70
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Figura 35: Expressionismo - Madame Butterfly Klavierstunde, Susanne Janssen ........ 71
Figura 36: Materialismo - La Caresse du Papillon, Christian Voltz ................................ 71
Figura 37: Minimalismo - Les Jours btes, Delphine Perret...........................................72
Figura 38: Grafismo - Attention Extraterrestres, Benot Jacques ..................................72
Figura 39: Tipos de diagramao conforme Linden (2011). ...........................................73
Figura 40: Livros selecionados para a anlise de similares ........................................... 76
Figura 41: Capa do livro Achados e Perdidos .................................................................. 77
Figura 42: Pgina interna do livro Achados e Perdidos .................................................. 77
Figura 43: Capa do livro Biblioburro.............................................................................. 78
Figura 44: Pgina interna do livro Biblioburro .............................................................. 79
Figura 45: Capa do livro Branca de Neve e as Sete Verses ........................................... 80
Figura 46: Pgina interna do livro Branca de Neve e as Sete Verses ............................ 81
Figura 47: Capa do livro Dois Ursos Famintos............................................................... 82
Figura 48: Pgina interna do livro Dois Ursos Famintos ............................................... 82
Figura 49: Capa do livro O Alvo ..................................................................................... 84
Figura 50: Pgina interna do livro O Alvo ...................................................................... 84
Figura 51: Capa do livro O Buraco do Cu ...................................................................... 85
Figura 52: Pgina interna do livro O Buraco do Cu ...................................................... 86
Figura 53: Capa do livro 365 pinguins ........................................................................... 87
Figura 54: Pgina interna do livro 365 pinguins ............................................................ 87
Figura 55: Capas de livro apresentadas s crianas ....................................................... 92
Figura 56: Crianas apoiam o livro sobre a mesa para ler ............................................. 94
Figura 57: Manuseio de livro em formato retangular .................................................... 94
Figura 58: Criana abre o livro sobre o cho para ler .................................................... 95
Figura 59: Detalhe das ilustraes em branco com contorno preto............................... 96
Figura 60: Principais aspectos positivos do livro 365 pinguins .................................. 97
Figura 61: Respostas dos entrevistados quanto a lerem ou no em casa. ...................... 98
Figura 62: Respostas dos entrevistados quanto a lerem ou no no ambiente escolar ... 99
Figura 63: Respostas dos entrevistados quanto histria que mais lhes atrai o
interesse, dentre as quatro citadas. ...............................................................................102
Figura 64: Painel I Um livro com algo a mais... ....................................................... 106
Figura 65: Painel II ...mas sem deixar de ser um livro ............................................. 106
Figura 66: Mapa Mental I ............................................................................................. 108
Figura 67: Mapa Mental II ........................................................................................... 108
Figura 68: Gerao de alternativas .............................................................................. 109
Figura 69: Alternativa #01 Para encenar .................................................................. 109
Figura 70: Alternativa #02 Para colorir ..................................................................... 110
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Figura 71: Alternativa #03 Para brincar ..................................................................... 111
Figura 72: Alternativas de formato................................................................................120
Figura 73: Propores pr-selecionadas para o livro .................................................... 121
Figura 74: Aproveitamento do formato 30cm x 22,5cm na folha BB ........................... 121
Figura 75: Pr-seleo de fontes para o projeto grfico ................................................ 122
Figura 76: Diferenciao entre caracteres em cada uma das fontes ............................. 123
Figura 77: Famlias tipogrficas selecionadas Sasson e Bree Serif ............................ 124
Figura 78: Paleta principal de cores, em CMYK. ........................................................... 125
Figura 79: Paleta completa de cores, em CMYK............................................................ 125
Figura 80: Margens e rea de sangra ............................................................................ 126
Figura 81: Grade estrutural ........................................................................................... 127
Figura 82: Linhas de base para o texto ......................................................................... 128
Figura 83: Posicionamento do texto em relao s linhas de base ............................... 128
Figura 84: Esquema de diagramao pgs. 02 a 05................................................... 129
Figura 85: Esquema de diagramao pgs. 06 a 09 ..................................................130
Figura 86: Esquema de diagramao pgs. 10 a 13 .................................................... 131
Figura 87: Esquema de diagramao pgs. 14 a 17 .................................................... 131
Figura 88: Esquema de diagramao pgs. 18 a 21 ................................................... 132
Figura 89: Esquema de diagramao pgs. 22 a 25 ................................................... 133
Figura 90: Esquema de diagramao pgs. 26 a 27 ................................................... 134
Figura 91: Ilustraes no estilo cut-out ......................................................................... 135
Figura 92: Estudo inicial de personagens ..................................................................... 137
Figura 93: Resultado digitalizado dos personagens ...................................................... 137
Figura 94: Apresentao grfica do ttulo Opo I .................................................... 141
Figura 95: Apresentao grfica do ttulo Opo II ................................................... 141
Figura 96: Famlia de Selos ........................................................................................... 142
Figura 97: Padres de fundo.......................................................................................... 143
Figura 98: Estudos de aplicao das imagens sobre os padres de fundo .................... 143
Figura 99: Espelho esquemtico do livro ...................................................................... 144
Figura 100: Capa, contracapa e lombada, incluindo rea prevista de sangra ............... 146
Figura 101: Guardas I - Abertura ................................................................................... 147
Figura 102: Guardas II - Fechamento ........................................................................... 147
Figura 103: Folha de ante-rosto .................................................................................... 148
Figura 104: Crditos e Folha de Rosto .......................................................................... 148
Figura 105: Pginas 8-9 ................................................................................................. 149
Figura 106: Pginas 10-11 .............................................................................................. 150
Figura 107: Pginas 12-13 .............................................................................................. 150
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Figura 108: Pginas 14-15 .............................................................................................. 150
Figura 109: Pginas 16-17 .............................................................................................. 151
Figura 110: Pginas 18-19 .............................................................................................. 151
Figura 111: Pginas 20-21 .............................................................................................. 151
Figura 112: Pginas 22-23 ............................................................................................. 152
Figura 113: Pginas 24-25.............................................................................................. 152
Figura 114: Pginas 26-27 .............................................................................................. 152
Figura 115: Pginas 28-29 ............................................................................................. 153
Figura 116: Pginas 30-31 ............................................................................................. 153
Figura 117: Pginas 32-33 .............................................................................................. 153
Figura 118: Cartela de adesivos ..................................................................................... 154
Figura 119: Execuo e resultado do boneco de testes .................................................. 155
Figura 120: Pesquisa - Embalagens de lpis de cor ...................................................... 156
Figura 121: Pesquisa Outros conceitos de embalagem ............................................... 156
Figura 122: Alternativas de embalagem ........................................................................ 157
Figura 123: Alternativa selecionada de embalagem ...................................................... 158
Figura 124: Faca de corte e de dobra do estojo de lpis de cor ..................................... 159
Figura 125: Layout do estojo de lpis de cor, aplicado sobre a faca .............................. 161
Figura 126: Esquema para guiar o layout da embalagem principal .............................. 163
Figura 127: Layout da embalagem principal ................................................................. 163
Figura 128: Embalagem principal simulao 3-D ...................................................... 164
Figura 129: Facas de corte e de dobra da embalagem principal .................................. 165
Figura 130: Livro Os Msicos de Bremen Simulao ............................................. 167
Figura 131: Livro Os Msicos de Bremen Pginas 26-27 Simulao ................... 167
Figura 132: Livro Os Msicos de Bremen Pginas 28-29 Simulao ..................168
Figura 133: Livro Os Msicos de Bremen Pginas 14-15 Simulao ...................168
Figura 134: Livro Os Msicos de Bremen Pginas 16-17 Simulao ...................168
Figura 135: Estojo de lpis de cor - Simulao .............................................................. 169
Figura 136: Conjunto de livro, estojo de lpis de cor e embalagem - Simulao .......... 169
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Estilos de Ilustrao conforme Lus Camargo (1995).................................... 68
Quadro 2: Tipos de Diagramao conforme Linden (2011) ........................................... 74
Quadro 3: Dados tcnicos e atributos do livro Achados e Perdidos ............................ 78
Quadro 4: Dados tcnicos e atributos do livro Biblioburro......................................... 79
Quadro 5: Dados tcnicos e atributos do livro Branca de Neve ..................................... 81
Quadro 6: Dados tcnicos e atributos do livro Dois Ursos Famintos ......................... 83
Quadro 7: Dados tcnicos e atributos do livro O Alvo................................................. 85
Quadro 8: Dados tcnicos e atributos do livro O Buraco do Cu ................................ 86
Quadro 9: Dados tcnicos e atributos do livro 365 pinguins ...................................... 88
Quadro 10: Necessidades e Requisitos de Projeto ........................................................104
Quadro 11: Possibilidades de histrias .......................................................................... 114
Quadro 12: Possibilidades de conjuntos de histrias .................................................... 115
Quadro 13: Ttulos que iro compor a coleo de livros e materiais ............................. 118
Quadro 14: Escopo de projeto ....................................................................................... 119
Quadro 15: Listagem dos oramentos solicitados a empresas ...................................... 136
Quadro 16: Resumo de materiais e de acabamentos ..................................................... 139
Quadro 17: Especificaes tcnicas para embalagem de lpis de cor .......................... 160
Quadro 18: Especificaes bsicas para a produo do estojo de lpis de cor .............. 161
Quadro 19: Especificaes bsicas para a produo da embalagem principal.............. 164
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LISTA DE TABELAS Tabela 1: Tabela Antropomtrica .................................................................................... 57
Tabela 2: Recomendaes tipogrficas para livros infantis ........................................... 63
Tabela 3: Preferncia das crianas quanto paleta de cores ......................................... 92
Tabela 4: Livros selecionados como favoritos ................................................................ 95
Tabela 5: Atividades de lazer citadas pelas crianas ...................................................... 98
Tabela 6: Motivos para ler/no ler em casa. .................................................................. 99
Tabela 7: Motivos para ler/no ler na escola................................................................ 100
Tabela 8: Resultados das questes sobre hbitos de leitura e ..................................... 100
Tabela 9: Livros preferidos dos entrevistados............................................................... 101
Tabela 10: Personagens preferidos dos entrevistados................................................... 101
Tabela 11: Avaliao das alternativas de acordo com os critrios definidos ................. 112
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11
INTRODUO Considerando-se a relevncia do projeto editorial durante o curso de
Design Visual e a importncia da aquisio do hbito da leitura desde a infncia,
considera-se bastante pertinente fazer um elo entre estes dois temas. De acordo
com Munari (2008), durante a infncia que se desenvolvem os hbitos que
sero levados com o indivduo durante toda a sua vida, motivo pelo qual se
torna to relevante incentivar o gosto pelos livros desde os primeiros anos de
vida: a quantidade de pessoas que nunca leram um livro muito maior do que se imagina. Outras foram obrigadas a comprar e a ler os livros da escola, depois do que disseram: Basta de Livros. (...) No sabem que nos livros est o saber, que graas a eles o indivduo pode conhecer e compreender melhor os fatos, que os livros podem despertar outros interesses, que ajudam a viver melhor. O que fazer para que essas pessoas percebam que perderam o interesse nos livros apenas porque, na escola, foram obrigadas a l-los, muitos dos quais aborrecidos e difceis? (...) A soluo desse problema, de aumentar o conhecimento e de formar pessoas com mentalidade mais elstica e menos repetitiva, est em nos ocuparmos dos indivduos no perodo em que se forma sua inteligncia ou seja, segundo Piaget, nos primeiros anos de vida (MUNARI, 2008,p.221-3).
A percepo da importncia do tema, norteada pela afirmao de
Chartier (1994), apud FARBIARZ e FARBIARZ (2010), que enfatiza que a forma
do livro pode tanto interferir no sentido dado ao texto quanto no uso que esse
livro possa ter para o usurio, caracteriza-se como a principal justificativa e
motivao para o desenvolvimento desse projeto, cujo objetivo geral foi definido
como o desenvolvimento de uma coleo de livros voltados ao pblico infantil
em fase de alfabetizao. Conforme a perspectiva de Chartier, o designer atua
como mais um agente no processo de formao do leitor e pode, por meio do
desenvolvimento de um projeto editorial coerente e alinhado com as
necessidades do pblico-alvo, incentivar a leitura e o interesse pelos livros:
dessa forma, tambm cumpre seu papel social.
Para embasar o desenvolvimento de uma coleo de livros infantis que
atinja os objetivos de facilitar o acesso leitura e de incentivar o gosto pelos
livros, fez-se necessrio realizar uma reviso bibliogrfica, abrangendo os
diversos aspectos que permeiam o universo do desenvolvimento do projeto
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12
grfico de um livro. Inicialmente, pesquisou-se o livro: suas origens e as
principais decises de projeto envolvidas na atividade do designer em um
projeto editorial desse tipo de publicao. Em seguida, partiu-se para a temtica
da criana, procurando-se compreender o estgio de desenvolvimento em que se
encontram as crianas em fase de alfabetizao e como acontecem os processos
de alfabetizao e de letramento, a fim de entender como o designer pode
interferir positivamente nessas etapas de formao. Partiu-se, ento, para a
pesquisa focada no design editorial de livros infantis, abrangendo aspectos
como tipografia, adequao ergonmica, formato, diagramao e estilos e
tcnicas de ilustrao, procurando estabelecer quais as mtricas mais
adequadas, em cada um dos tpicos, para que se possibilite atrair o interesse do
pblico e facilitar a leitura e o contato com o livro. Ao trmino da reviso
bibliogrfica, realizou-se uma pesquisa com amostragem do pblico-alvo, que
permitiu um contato mais prximo com as crianas, com o objetivo de verificar
requisitos e restries para o desenvolvimento dos livros. A partir da pesquisa
bibliogrfica e da pesquisa de campo, foi possvel reunir subsdios para a etapa
de desenvolvimento prtico do projeto, que possui enfoque em um dos livros
que compem a coleo. Essa etapa descrita, neste trabalho, desde a anlise de
dados, passando pela conceituao, pelos estudos e definies formais, pelo
projeto grfico e pelas definies de materiais, at chegar ao resultado final do
projeto.
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13
1. PROJETO DE PESQUISA
1.1 OBJETIVOS
Esta seo apresenta o objetivo geral e os objetivos especficos do
presente trabalho.
OBJETIVO GERAL
Desenvolver a conceituao e a concepo de uma srie de livros infantis
voltados ao pblico infantil em fase de alfabetizao, incluindo o projeto
editorial completo de um dos livros que a compem, com foco na facilitao do
contato com a leitura e no incentivo ao gosto pelos livros desde a infncia.
OBJETIVOS ESPECFICOS
Integram os objetivos especficos deste trabalho:
- realizar pesquisa bibliogrfica com vistas a identificar os principais
parmetros em design editorial de livros, a entender o mercado editorial para o
pblico infantil em fase de alfabetizao e a identificar fatores que possam
atrair/no atrair o interesse pelos livros junto a esse pblico;
- entender as caractersticas do pblico-alvo, seus interesses e as
necessidades que podero ser atendidas por meio do projeto;
- identificar os atributos de projeto mais adequados para facilitar o acesso
leitura junto ao pblico-alvo determinado;
- definir e descrever a conceituao da coleo de livros;
- desenvolver o projeto grfico completo de um dos livros que compem a
coleo, de acordo com os parmetros identificados por meio da pesquisa;
- desenvolver um manual de editorao que liste as diretrizes e padres a
serem seguidos na editorao dos demais livros da coleo.
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1.2 METODOLOGIA O design , antes de tudo, o esforo criativo para solucionar determinado problema. Alcanar a soluo mais adequada para esse problema significa
analisar e pensar a composio das partes envolvidas e a maneira como
componentes, partes ou elementos so usados, organizadamente. Nesse
processo, o designer executa um conjunto de operaes de forma lgica,
utilizando-se de metodologia e de planejamento (FONSECA, 2008).
De acordo com Ambrose & Harris (2011), o design justamente esse
processo, que transforma um briefing em uma soluo de design. Os autores
destacam que, embora a criatividade seja importante e necessria -, o
desenvolvimento do design pode ser realizado de uma maneira controlada e
direcionada pelo processo, canalizando a criatividade para a produo de uma
soluo prtica e vivel para o problema. Nesse sentido, o processo de design
pode ser compreendido em sete etapas: definir, pesquisar, gerar ideias, testar
prottipos, selecionar, implementar e aprender (Figura 1).
Figura 1: As sete etapas do design
Fonte: Ambrose & Harris, 2011.
No processo metodolgico de Ambrose & Harris (2011), o designer inicia
definindo o problema de design e o pblico-alvo, buscando compreender o
problema e as suas restries. Parte, ento, para a etapa de pesquisa, em que
busca reunir informaes relativas ao histrico do problema e s variveis
envolvidas, podendo valer-se de pesquisas de usurio final, de entrevistas de
opinio orientadas e de pesquisas de campo. A partir do que for constatado,
parte para a gerao de ideias, em que identifica as motivaes e as
necessidades do pblico-alvo e comea a gerao de alternativas que possam
atender a essas necessidades. No teste de prottipos, o designer passa a resolver
e a desenvolver as ideias geradas, apresentando-as para anlise do grupo de
usurios. Na etapa de seleo, analisa as solues geradas, selecionando a mais
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adequada de acordo com o objetivo de design do briefing. Finalmente, realiza a
implementao da soluo selecionada, desenvolvendo-a at a finalizao do
projeto. Por ltimo, na etapa de aprendizado, o designer deve buscar entender
se a soluo implementada atingiu os objetivos, por meio do feedback do cliente
ou do pblico-alvo, a fim de perceber melhorias que podero ser aplicadas em
trabalhos futuros.
Paralelamente, cabe tambm apresentar o mtodo de design descrito por
Bruno Munari (2008). De acordo com Munari, o objetivo do mtodo de projeto
em design atingir o melhor resultado com menor esforo, utilizando-se de
valores objetivos. O autor ressalva, no entanto, que a metodologia em design
no deve ser absoluta ou definitiva, podendo ser modificada/aprimorada pelo
designer, se necessrio.
Figura 2: Metodologia de Projeto
Fonte: Munari, 2008.
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Munari (2008) divide o mtodo em design em onze etapas distintas
(Figura 02), iniciando, tambm, pela identificao e pela definio do problema,
que servir para definir os limites dentro dos quais o projetista ir trabalhar.
Parte-se, ento, para a decomposio do problema em seus diversos
componentes operao que facilita o projeto e que permite melhor conhecer o
problema em questo. Na etapa de coleta de dados, so recolhidas todas as
informaes necessrias para estudar, um a um, os componentes do problema.
Passa-se, ento, a analisar esses dados, observando o que foi levantado e
verificando sugestes para as prximas etapas.
Nesse ponto, Munari (2008) defende a substituio da gerao de uma
ideia por outro tipo de operao, definida como criatividade etapa em que
so levantadas solues levando-se em conta todas as operaes necessrias que
se seguem anlise de dados. Em seguida, parte-se para uma nova coleta de
dados, relativa aos materiais e s tecnologias disponveis para a realizao do
projeto. A partir de ento, j possvel experimentar os materiais e as tcnicas
disponveis para, ento, obter amostras, concluses e outras informaes que
podem levar construo de modelos demonstrativos.
Nessa altura, torna-se necessria uma verificao do modelo (ou dos
modelos, caso haja mais de uma soluo possvel). Apresenta-se o modelo em
funcionamento a certo nmero de provveis usurios e, a partir do que for
comentado por eles, faz-se um controle do modelo, verificando o que pode/deve
ser modificado. Tambm importante realizar, ento, um controle econmico
para averiguar o custo de produo do objeto. Com base em todos esses dados,
inicia-se a preparao dos desenhos de construo, com todas as medidas e
indicaes necessrias produo. Se os desenhos no bastarem, o projetista
poder fazer um modelo em tamanho real, utilizando materiais semelhantes aos
definitivos.
Para o desenvolvimento do presente trabalho, foi utilizada a metodologia
apresentada na Figura 03, adaptada das metodologias de Ambrose & Harris e de
Munari. Este esquema divide as etapas metodolgicas entre as realizadas no
Trabalho de Concluso de Curso I (TCC I) e no Trabalho de Concluso de Curso
II (TCC II).
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Figura 3: Metodologia Final de Projeto
Fonte: Autor
Na metodologia proposta para o desenvolvimento do trabalho, a etapa de
Criatividade, proposta por Munari, foi dividida em duas etapas: Estudos &
Definies Formais e Projeto Grfico, por critrio de organizao. A primeira
etapa tem foco nos elementos que compem o projeto grfico, tais como
formato, tipografia e paleta de cores, alm de englobar as definies de
materiais; e a segunda aborda o desenvolvimento do projeto grfico
propriamente dito.
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2. DESIGN DE LIVROS
Para que se pudesse ter os subsdios necessrios para o desenvolvimento
do projeto editorial, foi necessrio compreender, primeiramente, o universo dos
livros, sua histria e sua relevncia para o desenvolvimento de nossa sociedade.
Assim, este captulo apresenta o livro como se define esse objeto, suas origens
e sua histria introduzindo, logo aps, os principais parmetros em design de
livros, para contextualizar o processo de trabalho dos designers grficos durante
o desenvolvimento do projeto editorial desse tipo de publicao.
2.1 Livro: definio
Em definio dicionarizada, o livro caracteriza-se como uma coleo de
folhas de papel, impressas ou no, cortadas, dobradas e reunidas em cadernos
cujos dorsos so unidos por meio de cola, costura etc., formando um volume
que se recobre com capa resistente (HOUAISS, 2008, p.467). J as normas
tcnicas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT (2006) - definem
o livro como uma publicao no peridica que contm acima de quarenta e
nove pginas, excludas as capas, e que objeto de Nmero Internacional
Normalizado para Livro (ISBN). Para a UNESCO1
Muito alm dessas definies tcnicas, entretanto, um livro preserva,
anuncia, expe e transmite conhecimento ao pblico, ao longo do tempo e do
espao (HASLAM, 2007). consenso que os livros so muito mais do que um
conjunto de pginas e que carregam muito mais do que muitas palavras, uma
aps a outra. Os livros carregam grande parte da histria e do conhecimento da
humanidade so fontes de sabedoria e guardam consigo informaes valiosas
sobre os mais variados temas. Segundo Fonseca (2008), o livro ultrapassa o
tempo e o espao para divulgar, expor, preservar e transmitir o conhecimento.
Para Haslam (2007, p. 12), o livro impresso tem sido um dos meios mais
poderosos para a disseminao de ideias e mudou o curso do desenvolvimento
intelectual, cultural e econmico da humanidade.
(1964), livro uma
publicao com um mnimo de quarenta e nove pginas, excludas as capas.
1 Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura.
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2.2 As origens do livro
Pode-se considerar como um passo preliminar para o surgimento da
escrita a arte rupestre, cujos desenhos vo evoluindo e, pouco a pouco, por meio
da esquematizao, transformando-se em smbolos. Segundo Labarre (1981,
p.7), essas imagens-smbolos evoluem, e da pictografia surgem todos os velhos
sistemas de escrita: desde os pioneiros sumrios, passando pelos mesopotmios,
egpcios, creto-minoicos, hititas e chineses. O aparecimento do livro, no
entanto, est ligado aos suportes da escrita. Fonseca (2008) afirma que os mais
antigos suportes parecem ser a pedra, desde as pictografias rupestres, e a
cermica, em que foram gravados os caracteres sumrios, datados de 3200 a.C.,
na Mesopotmia.
Conforme Labarre (1981), materiais muito diversos foram igualmente
usados como suporte para a escrita nos tempos antigos. Os chineses utilizaram o
osso, as carapaas e o bronze; os semitas e os gregos gravavam tambm breves
textos em conchas ou fragmentos de cermica, os straca; nas ndias, folhas de
palmeira secas e untadas com leo tambm serviam de suporte. No entanto, os
principais suportes do livro antigo eram o papiro e o pergaminho o papiro
permaneceu o suporte essencial do livro no Egito e difundiu-se no mundo grego
e no imprio romano, mantendo-se at o sculo X ou XI. A prpria origem da
palava livro, em diferentes idiomas, est ligada aos suportes da escrita.
Segundo Haslam (2007), o termo book derivado de uma antiga palavra
inglesa bok oriunda de beech tree (faia, tipo de rvore). Em portugus, a
palavra livro deriva do latim liber. Labarre (1981) ainda cita o vocbulo
biblos, em grego, que, assim como liber, tinha, no seu sentido primrio, o
significado de casca de rvore. O caractere que ainda designa livro em chins
figura-o, tambm, sob a forma de tabuinhas de madeira ou bambu.
Em certa perspectiva, possvel afirmar, conforme Haslam (2007), que
os primeiros designers de livros foram os escribas egpcios, que redigiam seus
textos em colunas e j faziam uso da aplicao de ilustraes. O rolo de papiro,
principal suporte do livro nesta poca, chamava-se, em latim, volumen. Entre os
sculos II e IV da nossa era, no entanto, o volumen foi sendo substitudo
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progressivamente pelo cdex, feito de folhas encartadas e dobradas para
constiturem cadernos juntos uns aos outros. A respeito disso, salienta-se que
as origens do cdice parecem estar ligadas s antigas prticas gregas e romanas de conectar, ao longo de uma das margens, blocos de madeira cobertos por cera. A dobra das grandes folhas de pergaminho ao meio criou dois flios; quando se continuou a dobrar a folha ao meio, foram criadas quatro pginas, conhecidas como in-quarto ou 4to; dobrando-se novamente ao meio, foram criadas oito pginas in-oitavo ou 8to. Todos esses termos so usados atualmente para descrever tamanhos de papel derivados de folhas dobradas (HASLAM, 2007, p.6-7).
Conforme Labarre (1981), a forma do livro atual ainda a do cdice do
fim da Antiguidade. O mesmo autor observa que, para compreender o livro
antigo, cumpre libertar-se das concepes modernas sobre edio. Cada livro
era, ento, uma entidade, visto que no existiam mtodos para produzir
vontade numerosos exemplares idnticos (LABARRE, 1981, p. 13). As escassas
tcnicas de gravao dos caracteres escritos eram, ento, um empecilho para a
popularizao do livro.
Com o fim da Antiguidade e o desenvolvimento do cristianismo, a
necessidade de livros foi gradativamente crescendo. Foram surgindo bibliotecas
monsticas e, no sculo IV, o papa Dmaso constituiu uma biblioteca em Roma.
No sculo seguinte, vastas bibliotecas surgiram na Glia e foram-se
multiplicando no Imprio do Oriente. A composio dessas bibliotecas era
imposta pelas necessidades prticas da comunidade religiosa, tendo os
manuscritos litrgicos grande importncia. Quase todas as obras eram em
latim, mas encontravam-se, ainda, alguns textos em grego, em hebraico e em
lnguas vernculas. At o aparecimento da impresso, conforme Katzenstein
(1986), cada fase individual da produo de livros copiar, iluminar2
No entanto, o aprimoramento das tcnicas de gravao e de impresso foi
possibilitando melhorias considerveis na produo de livros. Segundo Bacelar
, rubricar e
encadernar era realizada na mesma oficina ou pelo mesmo arteso, tanto nos
mosteiros quanto nas oficinas laicas.
2 O verbo iluminar faz referncia produo de iluminuras, ornamentos que funcionam em apoio visual ao texto, bastante utilizados na poca (MEGGS; PURVIS, 2009).
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(1999), a inveno da imprensa s foi possvel pela inveno e pelo renamento
das tcnicas de fabrico de papel na China ao longo de vrios sculos.
Em 105 d.C., os Chineses (sic) desenvolveram o papel de farrapos, fabricado com bras vegetais e trapos velhos, constituindo uma alternativa econmica s pesadas pastas de bambu e cascas de rvores ou ao precioso e dispendioso papel de seda. Os segredos desta tcnica foram revelados aos rabes por prisioneiros chineses no sculo VIII, sendo posteriormente introduzidos na Europa nos sculos XII e XIII. Muito antes de Gutenberg, as inovaes chinesas nas tintas, impresso xilogrca e impresso com caracteres mveis de argila, tinham j prestado o seu contributo para a divulgao da palavra impressa (BACELAR, 1999, p.1-2).
Conforme Fonseca (2008), desde o tempo em que a tradio oral saltou
para o desenvolvimento de sistemas formais de escrever, nenhuma
transformao ocorrida na comunicao exerceu tamanho impacto quanto a
tecnologia da imprensa iniciada por Gutenberg. A brilhante inovao de
Gutenberg foi produzir caracteres individuais, reutilizveis, em vez de fundir
uma pgina inteira como uma pea slida. (FONSECA, 2008, p. 43-44).
importante ressaltar, no entanto, que, embora a bibliografia mais
tradicional considere Gutenberg como o pai da impresso, h posies
divergentes: Haslam (2007) refere que os tipos mveis fundidos em moldes de
areia j tinham sido usados na Coreia em 1241, e que os chineses usavam a
impresso em blocos de madeira desde o sculo VII. Sobre o mesmo tema,
Katzenstein (1986) afirma que os primeiros impressos eram annimos e no se
conhecia quem poderia ter sido seu possvel produtor, razo pela qual a
inveno da imprensa terminou por ser atribuda a Gutenberg, embora essa
hiptese fosse altamente duvidosa. Apesar das discusses acadmicas a
respeito, inegvel o impacto do livro impresso sobre o desenvolvimento da
Europa Ocidental. Conforme Haslam (2007), o tipo mvel e seu descendente, o
livro impresso, tornaram os textos economicamente acessveis e bastante
disponveis.
A nova inveno foi, ento, rapidamente divulgada. Conforme Labarre
(1981), quando Gutenberg morreu, em 1468, a imprensa j estava instalada em
vrias cidades: duas oficinas funcionavam em Mogncia, e outras estavam
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estabelecidas em Estrasburgo, Bamberg, Colnia, Subiaco, Eltville, Roma e
Augsburgo, disseminando-se, em seguida, por toda a Europa.
No sculo XIX, houve uma revoluo da imprensa: cresceu
vertiginosamente sua audincia, impulsionada, segundo Labarre (1981) pelos
progressos na instruo primria, pelo alargamento do corpo eleitoral e pela
concentrao urbana. Em 1884 e em 1887, respectivamente, o Monotipo e o
Linotipo, mtodos mecnicos de fundio e de composio de tipos mveis,
alternativos composio manual, foram lanados, marcando um salto
significativo na velocidade de produo de impressos (BACELAR, 1999).
O livro produzido e vendido em larga escala, no entanto, nasceu apenas
em 1935, na Inglaterra, com os Penguin Books, vendidos, na poca, a seis
pence. Seu convidativo preo nunca excedia o valor do salrio correspondente a
uma hora de trabalho, o que contribuiu grandiosamente para a popularizao
do livro impresso. Na Frana, o Livro de Bolso, coleo comum a vrios
editores e que deu o seu nome ao gnero, tambm promoveu, por meio do
aumento das tiragens, a popularizao do livro, publicando cerca de 3.700
ttulos desde 1952 (LABARRE, 1981).
Atualmente, conforme Haslam (2007), o mercado editorial um negcio
que envolve grandes cifras. O nmero de livros impressos no mundo aumenta a
cada ano, embora seja difcil precisar o valor exato de publicaes. Ainda sobre a
grandiosidade do mercado editorial e da produo de livros na atualidade, cabe
citar que o catlogo da Library of Congress3 exibe 119 milhes de itens em 460
lnguas, e a British Library4
Cabe colocar, por fim, que a tecnologia digital e o advento da internet tm
revolucionado a escrita, o design, a produo e a venda de livros. Paralelamente
ao mercado editorial impresso, os livros eletrnicos ebooks vm ganhando
adeptos graas portabilidade e ao preo, geralmente mais baixo em
comparao ao preo de um livro tradicional, j que o custo de produo
tambm menor. O aprimoramento tcnico dos e-readers (leitores de ebooks)
declara possuir 150 milhes de itens nas lnguas
mais conhecidas em comparao, a Grande Biblioteca de Alexandria, a mais
extensa biblioteca do mundo antigo, tinha algo entre 428mil e 700mil
pergaminhos (HASLAM, 2007).
3 Biblioteca Nacional dos Estados Unidos. 4 Biblioteca Nacional da Gr-Bretanha.
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tambm vem contribuindo para o crescimento desse novo mercado, com
aparelhos que permitem ler os livros digitais com cada vez mais conforto e
praticidade. H quem afirme que as novas tecnologias iro tomar por completo
o lugar dos livros, no futuro. H, no entanto, quem alegue o contrrio:
argumenta-se que a tecnologia ir coexistir com o livro impresso tradicional, o
qual sempre ter seu espao. Sobre isso, em face das novas tecnologias que
surgiam sua poca (como o telefone, o rdio e a televiso), Louis Armand
afirmou, muito antes do surgimento do ebook, que:
o livro perdeu o seu monoplio, um pouco como a estrada de ferro. Mas vejamos o que se passa com esta. Poder-se-ia imaginar que o avio e o automvel provocariam o seu desaparecimento. De alguma forma. Ao lado do congestionamento das estradas, os trens permitem chegar a horas... (...). Antigamente, as pessoas careciam de informao, hoje d-se o contrrio... O impresso indispensvel para quem pretenda ser responsvel pela sua informao e assumir uma atitude ativa perante a cultura. Neste mundo inundado de ondas e imagens, o livro representa um esforo pessoal e salutar (ARMAND, 1969, apud LABARRE, 1981, p.105).
De fato, no mesmo sentido, Haslam (2007, p.12) afirma que as novas
tecnologias podero ser uma alternativa ao livro tradicional, mas defende que
este continuar tendo seu espao: ler na tela do computador continua a ser
menos prazeroso que ler uma pgina de papel. Cabe aqui observar que, a
despeito de, nesta seo de abordagem histrica, este trabalho mencionar o
advento dos livros digitais, tal tecnologia no ser abordada no projeto: tem-se
por objetivo, como j referido, a elaborao de um projeto impresso de um
conjunto de livros para o pblico infantil.
2.3 Atributos em Design de Livros
Conforme Tschichold (2007, p.31), o trabalho de um designer de livro
difere essencialmente do de um artista grfico. O autor afirma que, enquanto
este est buscando constantemente novos meios de expresso, aquele deve ser
um servidor leal e fiel da palavra escrita. Ele afirma que a tarefa do designer
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de livros deve ser criar um modo de apresentao cuja forma no ofusque o
contedo e nem seja indulgente com ele. Em outra definio para a tarefa que
cabe aos designers de livros, Hendel (2003, p.33) afirma que os designers esto
para os livros assim como os arquitetos esto para os edifcios. Os designers
escrevem especificaes para fazer livros do mesmo modo que os arquitetos
escrevem-nas para construir edifcios. O autor ressalta, ainda, que mesmo o
detalhe mais aparentemente trivial precisa ser decidido pelo designer para que o
projeto seja bem-sucedido.
Em termos mais objetivos, Haslam (2007) afirma que o designer
responsvel pelo projeto da natureza fsica do livro, seu visual e sua forma de
apresentao, alm de determinar o posicionamento dos elementos na pgina e
de, juntamente com o editor, decidir o formato do livro e os acabamentos que
sero utilizados: os designers planejam grades, selecionam a tipografia e o estilo do layout da pgina. Eles tambm trabalham com os pesquisadores de fotos, ilustradores e fotgrafos fazendo a direo de arte e preparando imagens. O designer recebe um briefing do editor e encaminha a arte-final, geralmente em formato digital, para um gerente de produo ou diretamente para uma grfica. O designer e o editor trabalham juntos no processo de prova (HASLAM, 2007, p.16).
Fonseca (2008) defende que a forma como o livro produzido por si s
confere importncia e distino a seu contedo, passando ao leitor a sensao
de que o texto foi escrito, editado e impresso com autoridade e cuidado,
devendo o design exprimir essas mesmas qualidades.
As decises de projeto tomadas pelo designer devem adequar-se ao
pblico-alvo e finalidade da publicao. Desses fatores depende o formato, o
tamanho, a grade, a tipografia, a estrutura, o layout e at mesmo os
acabamentos que sero utilizados na publicao. Tschichold (2007, p. 61)
afirma que h duas categorias principais de livros: os que pomos em cima de
uma mesa para estudo srio e os que lemos reclinados numa cadeira, numa
poltrona, ou enquanto viajamos de trem. O projeto grfico e todas as definies
de projeto envolvidas devem, ento, adequar-se ao uso especfico do livro,
tornando-o cmodo para o manuseio pelo usurio e cumprindo a sua funo.
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Torna-se necessrio, ento, apresentar, brevemente, as principais
decises de projeto que precisam ser tomadas pelo designer, bem como as
variveis e os determinantes envolvidos. Expor esses critrios configura-se
como tarefa importante para que fique claro, em termos prticos, no que
consiste a atividade do designer em um projeto editorial de livro.
Tamanho e Formato
O formato de um livro determinado pela relao entre a altura e a
largura da pgina. Conforme Haslam (2007), esse termo algumas vezes usado
erroneamente, fazendo referncia a um determinado tamanho. Entretanto,
livros de diferentes dimenses podem compartilhar de um mesmo formato.
Tschichold (2007) ressalta a importncia da proporo definida para o formato
do livro, defendendo que a utilidade e a esttica de qualquer material impresso
desde um livro at um folheto dependem, em ltima instncia, da relao da
pgina, decorrente do tamanho do papel usado. O mesmo autor ressalta, ainda,
a importncia da utilizao de uma proporo definida5
Segundo Haslam (2007), os livros so geralmente projetados em trs
formatos principais: paisagem, formato cuja altura da pgina menor que a
largura; retrato, formato cuja altura da pgina maior que a largura; e
quadrado. Conforme o autor, um livro pode ter qualquer formato e tamanho,
mas por razes prticas, estticas e de produo faz-se necessria uma
considerao minuciosa para que o formato seja adequado leitura e ao
manuseio do livro, alm de economicamente vivel, ou seja, que permita o bom
aproveitamento da matria-prima durante a produo.
, afirmando que o ser
humano acha os planos de propores definidas e intencionais mais agradveis
ou mais belos do que os de propores acidentais (TSCHICHOLD, 2007, p.64).
5 O autor considera claras, intencionais e definidas as propores de pginas irracionais geometricamente definveis como 1:1,618 (Seo urea), 1:2, 1:3, 1:5, 1:1,538 e as simples propores racionais de 1:2, 2:3, 5:8 e 5:9.
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Grade e Mancha Grfica
Para que o designer possa manter a consistncia visual do projeto,
conferindo unidade e identidade ao design geral da publicao6
Figura 4
, um dos
mtodos aplicados o estabelecimento de uma grade estrutural ( ),
tambm chamada de grid, que possa servir de guia para o posicionamento dos
diversos elementos que compem os espaos-formatos. Essa rede pode ser
definida como uma malha padronizada de linhas horizontais e verticais,
colocadas uniformemente para a localizao de pontos, ou posies, por meio de
coordenadas (FONSECA, 2008).
Figura 4: Grade e linhas de formao da mancha grfica
Fonte: Haslam, 2007.
Haslam (2007) destaca que, enquanto o formato do livro define as
propores externas da pgina, a grade determina suas propores internas e o
layout, por sua vez, estabelece a posio a ser ocupada pelos elementos.
Assim como a definio da grade estrutural, a definio da mancha
grfica influencia diretamente na harmonia da composio e no conforto de
leitura, diretamente ligado s reas de arejamento e ao posicionamento dos
elementos na pgina. Conforme Tschichold (2007), a harmonia entre o tamanho
da pgina e o da mancha alcanada quando ambos tm as mesmas propores.
6 Sobre essa consistncia formal, Haslam (2007) acrescenta que tal coerncia visual permite que o leitor concentre-se no contedo do livro, em detrimento da forma.
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Tipografia
No desenvolvimento do projeto de um livro, o designer dever
considerar, ainda, como a tipografia ser disposta na pgina, dentro da
estrutura de grade. Bringhurst (2005, p.23) afirma que a tipografia um ofcio
por meio do qual os significados de um texto (ou sua ausncia de significado)
podem ser clarificados, honrados e compartilhados, ou conscientemente
disfarados. O autor ressalta, tambm, que o mais importante princpio da
tipografia durvel a legibilidade.
Para que o texto tenha boa legibilidade e permita uma leitura agradvel, o
designer precisa tomar as decises corretas quanto ao(s) tipo(s) a ser(serem)
utilizado(s), aos espaamentos, profundidade das colunas de texto, aos
alinhamentos, s marcas de pargrafo e quebras de linha e aos espaos
entrelinhas.
Estrutura Editorial
A estrutura editorial de um livro diz respeito definio, pelo designer,
de como os elementos da paleta tipogrfica sero usados em relao ao
contedo editorial, examinando, por exemplo, como o texto e a imagem sero
posicionados, um em relao ao outro, para comunicar uma mensagem ao leitor
(HASLAM, 2007). A estrutura editorial compreende, ainda, conforme Fonseca
(2008), a sequncia estrutural do livro, ou seja, a ordem lgica em que so
apresentados os contedos editoriais, desde a capa at a contracapa, passando
pelas guardas, folha de rosto, dedicatria, agradecimentos, prefcio, sumrio,
introduo, captulos, concluso, referncias, anexos etc.
Seleo e preparao de imagens
De acordo com Haslam (2007), tambm funo do designer na
elaborao de um livro garantir que a informao fornecida pelo autor seja
apresentada da maneira mais adequada possvel ao leitor, o que envolve um
conjunto de responsabilidades relativas interpretao da informao,
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direo de arte, preparao e edio visual. Assim, o designer trabalha em
conjunto com pesquisadores de fotos, fotgrafos e ilustradores, selecionando as
imagens mais adequadas para o livro e realizando a preparao das mesmas
para insero no material. Conforme Ambrose & Harris (2011), as imagens tm
o poder de transmitir uma idia ou vrias informaes rapidamente e podem ser
usadas para comunicar de diferentes maneiras. Ainda sobre o mesmo tema, os
autores ressaltam que o mtodo utilizado para reproduzir a imagem tambm
tem impacto sobre a sua leitura: um rascunho em preto e branco passa uma
sensao diferente de uma impresso em papel couch, por exemplo, e cabe ao
designer definir que tipo de sensao o impresso deve passar ao leitor.
Layout
O processo de execuo do layout de um livro envolve todas as decises
sobre o posicionamento exato de todos os elementos da pgina. Os dois plos
que constituem o layout de um livro so o texto, organizado em torno de uma
sequncia de leitura; e as imagens, cujos arranjos so determinados pelas
consideraes relativas composio (HASLAM, 2007). Conforme o autor, o
equilbrio entre esses dois princpios que orienta a descrio dos vrios modelos
de layout da pgina. Ele ainda ressalva que um layout mal-resolvido, somado a
uma impresso ou acabamento de m qualidade, podem desvalorizar o texto e
afastar o leitor.
White (2006) acrescenta que as solues de layout podem ser simtricas
ou assimtricas, sendo a primeira mais tradicional e padronizada e a segunda
mais flexvel e expressiva.
Capa, Sobrecapa, Lombada e Guardas
Haslam (2007, p.160) define duas funes principais para a capa de um
livro. So elas proteger as pginas internas e indicar o contedo. Sobre a
segunda funo, o autor ressalta que a capa funciona como uma arma de
seduo para que o livro seja aberto e/ou comprado. Alguns livros podem
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contar, ainda, com uma sobrecapa cobertura mvel de papel que protege a
capa do livro e que tambm traz material informativo sobre a obra7
De acordo com Fonseca (2008), o projeto grfico da capa de um livro
precisa ser atraente e comunicar ao usurio alguma informao sobre o
contedo, a fim de que o leitor seja persuadido a abrir o livro e a l-lo. O autor
observa, ainda, que, alm do aspecto grfico da capa, o livro julgado
fisicamente tambm pelo tato: os materiais da capa e do papel do corpo do livro,
bem como o seu peso, so parte dessa experincia.
.
A lombada do livro, por sua vez, tem grande importncia comunicativa
quando o livro posicionado em uma estante, servindo como uma espcie de
etiqueta para localiz-lo e identific-lo. Normalmente, a tipografia da lombada
corre da cabea para o p, com a linha de base adjacente ltima capa. As folhas
de guarda, por fim, so coladas na pasta de carto na frente e no final do livro de
capa dura, e tem a finalidade de prender o bloco do miolo capa dura
(HASLAM, 2007).
Seleo de Materiais
Cabe ao designer, ainda, definir e especificar os materiais que iro
compor cada parte do livro. O papel, que compe a forma fsica do bloco do
livro, a superfcie impressa e as pginas, precisa ser cuidadosamente
selecionado, levando-se em considerao o formato, a gramatura, o corpo, o
sentido da fibra, a opacidade, o acabamento e a cor (HASLAM, 2007). Alm de
definir os papis a serem utilizados na capa, sobrecapa, guardas e pginas
internas, o designer precisa, tambm, especificar o tipo de encadernao que o
livro ter: encadernao em espiral, costura, costura lateral, costura em sela,
encadernao com grampo, grampo lateral, entre outras (FONSECA, 2008).
7 Tschichold (2007, p.197) concebe que a sobrecapa tem a funo no apenas de chamar a ateno do pblico, mas tambm de proteger a capa da luz, da sujeira e das abrases at que o livro esteja a salvo nas mos do comprador.
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Acabamentos O designer pode selecionar, ainda, diversas tcnicas e processos de
acabamentos para aplicao total ou parcial nas superfcies de impresso. Entre
os processos mais comumente utilizados esto o verniz, o verniz UV, a
plastificao, a laminao, o hot-stamping, a serigrafia, o relevo e o relevo seco.
Outro tipo de tcnica que pode ser usada pelo designer o corte ou faca
especial , processo que usa uma matriz de ao para cortar uma seo especfica
do papel, fora dos padres de corte em esquadro com a guilhotina. Esse tipo de
acabamento usado principalmente para fins decorativos e, tambm, para
melhorar o desempenho visual de uma pea. Alm de alterar a forma de um
projeto para o aprimoramento visual, o corte especial pode servir a um
propsito funcional, como a criao de uma abertura que permite ao usurio
enxergar de uma pgina a outra (AMBROSE & HARRIS, 2006).
Impresso Pode, por fim, caber ao designer definir o processo de impresso por
meio do qual o livro ser produzido. O conhecimento sobre os diferentes tipos
de impresso importante para que se possa avaliar as vantagens e restries de
cada um, considerando, tambm, que a tiragem e o oramento sero fatores
decisivos para essa seleo. Entre os principais processos de impresso
disposio do designer para produo de livros em larga escala esto a
impresso offset e a rotogravura.
A impresso offset um dos processos mais amplamente utilizados, fato
que se deve em muito sua grande versatilidade, capaz de imprimir sobre os
mais diferentes suportes com excelente qualidade e permitindo, tambm, a
produo de impressos dos mais diversos formatos. A impresso em
rotogravura, por sua vez, o processo mais comumente utilizado para a
execuo de impressos em tiragens mais elevadas, devido ao alto custo para a
confeco das matrizes. Existem, ainda, outras opes de impresso, como a
flexografia e a tampografia, menos utilizadas na impresso de livros
(FERNANDES, 2003).
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3. A CRIANA, O APRENDIZADO E A LEITURA
Sendo o objeto deste trabalho o desenvolvimento do projeto conceitual e
editorial de um conjunto de livros voltados ao pblico infantil em fase de
alfabetizao, importante detalhar o estgio de desenvolvimento em que se
encontra a criana desta faixa etria (seis a sete anos), quais as habilidades que
j possui, quais seus interesses e suas capacidades. Posteriormente, necessrio
analisar a questo da legibilidade e da leiturabilidade e, ainda, da alfabetizao e
do letramento, buscando entender o processo em que a criana adquire tais
habilidades. Essas informaes so relevantes para permitir que se minimizem
os obstculos que dificultam a leitura e a compreenso infantil, facilitando o
processo perceptivo, estimulando o olhar e a percepo visual da criana e
encorajando a interao do leitor com o texto.
3.1 Estgio de desenvolvimento da criana
A teoria de Piaget define quatro estgios do desenvolvimento infantil: o
perodo sensrio-motor dos bebs; o perodo pr-operatrio do incio da
infncia (fase de preparao para as operaes concretas); o perodo operatrio-
concreto posterior na infncia e o perodo operatrio-formal da adolescncia
(FLAVELL et al, 1999)8
Conforme essa teoria, o desenvolvimento cognitivo das crianas entre
dois e sete anos descrito como estgio pr-operacional, fase em que as
crianas adquirem habilidades representacionais e se tornam mais proficientes
em diferentes reas, incluindo a linguagem. Nessa faixa etria, as crianas tm,
tambm, dificuldade de imaginar o ponto-de-vista de outras pessoas: so
simplesmente incapazes de enxergar o mundo pelos olhos de outra pessoa
(BERAN; BROWN, 2008).
.
8 Cabe frisar que todo e qualquer dado relativo s fases de desenvolvimento infantil considera uma mdia entre as crianas. Dessa forma, esses dados podem variar de acordo com o meio em que a criana est inserida e com o tipo de acompanhamento e de estmulo que ela recebe tanto dos pais quanto da escola. Alm disso, cada criana possui uma capacidade prpria, que pode influenciar em seu desenvolvimento, fazendo com que seja mais ou menos avanado. O presente trabalho ir basear-se na mdia de desenvolvimento descrita pelos estudiosos da rea.
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Crianas entre trs e quatro anos comumente conhecem entre 900 e 1600
palavras. Quando chegam aos seis anos, normalmente j so capazes de falar
2600 palavras: conseguem responder questes simples, conversar e contar
histrias, fechando o ciclo que as inclui no estgio pr-operacional. Nessa fase
final, entre os seis e os sete anos, elas j so capazes de concentrar-se por
perodos mais longos, possuindo, tambm, maior capacidade de memria
(OWENS apud BROWN; BERAN, 2008). Conforme Beran & Brown (2008),
nesta idade as crianas j conseguem entender cerca de 20.000 a 24.000
palavras, e comeam a interessar-se pela leitura.
tambm apenas a partir dos seis anos de idade que as crianas
comeam a entender que o conhecimento pode ser adquirido por inferncia. Por
exemplo, em estudo realizado com crianas de quatro e de seis anos, foram
apresentados a elas dois brinquedos de cores diferentes. Depois, cada um dos
brinquedos foi guardado em uma caixa opaca. Ao abrir uma das caixas e revelar
qual dos brinquedos ela continha, apenas as crianas de seis anos conseguiram
inferir a cor do brinquedo que restava na caixa fechada (PILLOW apud BEE;
BOYD, 2010). Da mesma forma, entender a natureza do pensamento humano
uma habilidade que parece se desenvolver entre os cinco e os sete anos, na
maioria das crianas. Esse passo importante, pois ser necessrio para que as
crianas comecem a criar laos de amizade nos primeiros anos de escola
(SULLIVAN; ZAITCHIK; TAGER-FLUSBERG apud BEE; BOYD, 2010).
Quanto ao desenvolvimento motor, que inclui habilidades de movimento
do corpo e de manipulao de objetos, Bee & Boyd (2010) afirmam que crianas
com idade em torno de seis anos j so capazes de correr, de pular e de escalar.
J conseguem segurar o lpis corretamente, mas ainda escrevem e desenham
com alguma rigidez: ou seja, esto em fase de desenvolvimento e de
aprimoramento de sua coordenao motora.
Falando-se especificamente em livros, estudo de Beran & Brown (2008)
aponta que as crianas entre quatro e cinco anos j so capazes de reconhecer
palavras familiares e smbolos em livros e em outros materiais impressos. Nessa
fase, j conseguem, tambm, compreender que as histrias possuem comeo,
meio e fim percebem a ordem lgica dos fatos e conseguem entender os
conceitos de antes e depois.
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3.2 Alfabetizao e Letramento
de extrema importncia entender as particularidades que envolvem os
conceitos de alfabetizao e de letramento para que seja possvel, durante a
etapa de desenvolvimento do livro infantil, utilizar esse conhecimento como
facilitador na mediao entre usurio e livro. Soares (1998) destaca a
importncia e a necessidade de se partir, nos processos educativos de ensino e
de aprendizagem da leitura e da escrita voltados para crianas, de uma clara
concepo dos fenmenos da alfabetizao e do letramento. De acordo com a
linguista Leda Tfouni (1995, p.9), apesar de estarem indissolvel e
inevitavelmente ligados entre si, escrita, alfabetizao e letramento nem sempre
tm sido enfocados como um conjunto pelos estudiosos. Ela pondera que
a relao entre eles aquela do produto e do processo: enquanto os sistemas de escrita so um produto cultural, a alfabetizao e o letramento so processos de aquisio de um sistema escrito. A alfabetizao refere-se aquisio da escrita enquanto habilidades (sic) para leitura, escrita e as chamadas prticas de linguagem. (...) O letramento, por sua vez, focaliza os aspectos scio-histricos da aquisio da escrita. Entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira restrita ou generalizada; procura ainda saber quais prticas psicossociais substituem as prticas letradas em sociedades grafas (TFOUNI, 1995, p.9-10).
Ainda sobre a diferenciao entre alfabetizao e letramento, a autora
destaca que a alfabetizao levada a efeito, em geral, por meio do processo de
escolarizao e de instruo formal pertence, assim, ao mbito do individual.
O letramento, por sua vez, tem por objetivo investigar no somente quem
alfabetizado, mas tambm quem no alfabetizado, e, nesse sentido, centraliza-
se no mbito social (TFOUNI, 1995). Corroborando com os apontamentos de
Tfouni, Soares (1998) afirma que a criana que ainda no se alfabetizou, mas j
folheia livros, finge l-los, brinca de escrever, ouve histrias que lhe so lidas,
est rodeada de material escrito e percebe seu uso e sua funo, ainda
analfabeta, porque no aprendeu a ler e a escrever, mas j penetrou no mundo
do letramento, j , de certa forma, letrada. Britto (2007, p.24) acrescenta,
ainda, que o letramento inseparvel do conhecimento formal e de mundo,
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no sendo possvel sustentar a hiptese de que seja uma competncia especfica
nos moldes de um saber abstrato.
Quanto ao aprendizado da leitura e aquisio do hbito de ler na escola,
Soares (2009) concebe que, ao seis anos de idade, quando ingressa no primeiro
ano do Ensino Fundamental, a criana j deve ter sido colocada na situao de
alfabetizao e letramento por meio do contato com livros e com material
escrito, que acontece, conforme a autora, at mesmo nas camadas menos
privilegiadas economicamente. Dessa forma, o professor poder colocar um foco
maior na aprendizagem do sistema de escrita, mas sempre no contexto do
letramento, criando situaes de leitura de histrias para crianas. No mesmo
sentido, Britto acrescenta que
aprender a ler e escrever na escola deve, portanto, ser muito mais que saber uma norma ou desenvolver o domnio de uma tecnologia para us-la nas situaes em que ela se manifesta: aprender a ler e escrever significa dispor do conhecimento elaborado e poder us-lo para participar e intervir na sociedade (BRITTO, 2007, p.30).
A partir dos apontamentos aqui apresentados, possvel concluir que,
para que possa contribuir para a construo do alicerce que o domnio da
escrita e da leitura para a educao e para a aprendizagem, o livro infantil
precisa estabelecer uma ponte entre o mundo da leitura e da escrita e o mundo
concreto para a criana: seja o mundo real, seja o seu mundo da imaginao.
necessrio fazer com que, por meio do livro, a criana seja envolvida nas
prticas sociais de leitura e de escrita, estabelecendo, nas palavras de Frank
Smith (1999), uma leitura significativa.
3.3 Legibilidade e Leiturabilidade
Igualmente importante para o desenvolvimento deste projeto perceber
as diferenas conceituais entre legibilidade e leiturabilidade conceitos que
influenciam diretamente na compreenso do texto junto ao pblico infantil e
que podem, sendo utilizados como base para a projeto tipogrfico, facilitar a
interao desse pblico com a obra impressa.
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A legibilidade, segundo Strunck (apud Loureno, 2011) refere-se
facilidade de identificao de um grupo de caracteres por parte do leitor, e
influenciada por uma srie de fatores, que incluem o espao entrelinhas, o
espao entre letras e a prpria seleo tipogrfica. Lund (apud Loureno, 2011)
afirma que o termo legibilidade tem sido usado para mensurar, sob uma
variedade de condies, a velocidade de leitura de um texto corrido, combinado
com vrios tipos de testes de compreenso. Bringhurst (2005), assim como
Strunck, tambm aponta para o fato de que a legibilidade das letras tipogrficas
no depende apenas de sua forma ou da tinta que as imprime, mas tambm do
espao vazio esculpido entre elas e sua volta. Niemeyer (2003) acrescenta que
a legibilidade tambm afetada por fatores ambientais, como o nvel de
iluminao, o grau de contraste entre a letra e o fundo e o nvel de fadiga visual
do leitor. Como um exemplo de boa legibilidade, de acordo com David Jury
(2006), pode-se citar o logotipo do metr de Londres (Figura 5), e as clssicas
capas dos livros da Editora Penguin (Figura 6).
Figura 5: Logotipo do metr de Londres
Fonte: Broadband Expert Blog, 2011.
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Figura 6: Capa clssica da Editora Penguin
Fonte: JURY, 2006. Quando se fala em legibilidade para o pblico infantil, a utilizao de um
espaamento entre letras, entre palavras e entrelinhas consistente de extrema
importncia. Da mesma forma, deve-se evitar a utilizao de alinhamento
justificado, de acordo com Sassoon & Williams (2000), de modo a otimizar a
legibilidade do texto.
A leiturabilidade9
, por sua vez, um passo alm da legibilidade
(BINNS, 1989, apud Loureno, 2011). Um texto pode ser legvel, mas no ter
boa leiturabilidade, o que significa que sua leitura no confortvel e torna-se,
muitas vezes, cansativa. Frascara (2003) aponta que a leiturabilidade ocupa-se
da compreenso dos textos e coloca, ainda, que a primeira tarefa de um designer
deve ser a organizao da informao em si a apresentao visual deve ser
pensada aps essa etapa. De acordo com o autor, a organizao de pargrafos, a
pontuao, o comprimento de linha e as quebras de linha contribuem, como um
todo, para facilitar a compreenso, a memorizao e a observao do texto.
9 Embora de aceitao relativa, o termo leiturabilidade, como se demonstra neste trabalho, tem repercusso em diferentes autores que abordam o tema da leitura.
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3.4 O papel do designer na formao do leitor
Juntando-se os conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil, sobre
alfabetizao e letramento, e sobre legibilidade e leiturabilidade, pode-se
perceber que o designer tem nas mos muitos instrumentos para trabalhar no
sentido de facilitar o contato com a leitura, aproximando o leitor da obra.
Quando Chartier (apud FARBIARZ; FARBIARZ, 2010) enfatiza que a forma do
livro pode tanto interferir no sentido dado ao texto quanto no uso que esse livro
possa ter para o leitor, ele fortalece uma viso na qual o designer se torna mais
um agente no processo de formao do leitor. No segmento de livros infantis, a
atuao do designer exerce influncia ainda maior, uma vez que o aspecto
grfico do livro e os recursos visuais utilizados so considerados fatores
determinantes na conquista do pblico infantil (AMNCIO apud FARBIARZ;
FARBIARZ, 2010).
Farbiarz & Farbiarz (2010) acrescentam, ainda, que
o designer pode gerenciar a linguagem visual utilizada na elaborao de livros, para facilitar o processo perceptivo, minimizando obstculos que dificultam a leitura e a compreenso. Se o designer, durante o projeto, tiver conhecimentos (sic) dos mecanismos de construo de significados desses elementos, o receptor compreender melhor seu contedo verbal e no verbal (FARBIARZ; FARBIARZ, 2010,p.149).
O livro literrio auxilia a criana em diversos aspectos, influenciando sua
socializao, sua criatividade e a expresso de suas idias. Alm disso, auxilia
na formao de um cidado com senso crtico e fator fundamental para que
seja possvel o desenvolvimento da aprendizagem de outras disciplinas. Se o
designer consegue perceber a maneira como a criana enxerga o livro, pode, por
meio do projeto grfico, incorporar o livro infantil ao cotidiano desse pequeno
leitor, facilitando a introduo da leitura como um hbito na vida da criana
(LOURENO, 2011).
No que cabe ao designer, de extrema importncia a compreenso do seu
papel ativo como agente modificador na atual relao entre o livro e o leitor. Um
livro, hoje, congrega diferentes interlocutores autores, ilustradores, designers,
tradutores, impressores, vendedores, distribuidores, educadores, leitores, entre
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outros , tendo cada um a sua parcela de influncia modificadora do resultado
final da obra. No considerar, assim, a influncia do designer, que responsvel
por todo o projeto editorial da obra, implicaria restringir a produo de livros
que participem mais solidamente da formao do leitor no Brasil e que
minimizem a resistncia de parcela importante da populao frente leitura do
livro de fico (FARBIARZ; FARBIARZ, 2010)
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4. DESIGN EDITORIAL: LIVROS INFANTIS
4.1 Evoluo do livro infantil
De acordo com Sophie Van der Linden (2011, p.11), a histria do livro
ilustrado [infantil] ainda est por ser escrita: suas prprias origens permanecem
indefinidas. Conforme a autora, foi com a xilogravura que se realizaram os
primeiros livros para crianas que continham imagens, pois, at o final do
sculo XVIII, era a nica tcnica que permitia compor, com versatilidade,
imagens e texto em uma mesma pgina. Moraes (apud PONTE, 2008) afirma
que justamente no final do sculo XVIII que nasce o livro infantil
propriamente dito, juntamente com a ideia de infncia como um universo
singular, separado do adulto. As publicaes anteriores a essa data, embora
muitas vezes manuseadas e lidas por crianas, no eram projetadas
especificamente para esse pblico. Alan Powers (2008) destaca, nesse contexto,
o chapbook, espcie de gnero secundrio de edio comercializado a partir do
sculo XVI e que era constitudo por uma nica folha impressa dobrada em doze
ou dezesseis pginas. Apesar de esse tipo de publicao, que trazia pequenas
ilustraes em xilogravura emolduradas por bordas decorativas, no ser
desenvolvida especificamente para crianas, muitos dos chapbooks traziam
contos folclricos que atraam o interesse infantil e com os quais muitas
crianas comeavam a aprender a ler.
Ao longo d