despedindo-se de fÁtima (do jornal nacional?): vamos ... · iniciando-se pelo portal g1, ......
TRANSCRIPT
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 1
DESPEDINDO-SE DE FÁTIMA (do Jornal Nacional?): “...vamos ficar órfão (...) o JN fica sem sentido...”1
Antonio Fausto Neto 2
Fabiane Sgorla 3
Resumo: O acontecimento que relata a saída da jornalista Fátima Bernardes do
Jornal Nacional é analisado através de discursos construídos pela produção e
receptores do sistema midiático Globo, através de processos interacionais
desenvolvidos numa “zona de interpretação”, no âmbito dos seus “contratos”.
Descreve-se, particularmente, os comentários produzidos pelos receptores segundo
corpus aqui denominado pelo “discurso da despedida”. Indicando outras leituras,
distintas da estratégias da organização midiática, os receptores, além de lamentar
mudanças na “estrutura de mediação”, se auto-qualificam “órfãos” pela saída da
apresentadora. Tal anúncio, espécie de desdobramento do acontecimento,
simboliza, possivelmente, rupturas e perdas no “contrato de leitura” que envolve
produção e recepção do JN.
Palavras-Chave: Zonas de Interpenetração. Discurso. Produção. Recepção.
Telejornal
1. Apresentação
Nos primeiros dias de dezembro de 2011, a Rede Globo de Televisão anunciou através
de uma escalada de matérias jornalísticas que circularam em vários dos seus dispositivos -
iniciando-se pelo portal G1, passando pelo próprio Jornal Nacional (JN) (site e telejornal),
deslocando-se para mídias daquela instituição e, migrando depois para outras mídias -
acontecimento que transcenderia as suas rotinas organizacionais e jornalísticas. O
acontecimento correspondeu a substituição da jornalista Fátima Bernardes, apresentadora
durante 14 anos do seu carro-chefe teleinformativo, Jornal Nacional, ao lado do seu marido e
editor William Bonner, pela jornalista Patrícia Poeta.
1 Trabalho apresentado ao “GT Recepção: processos de interpretação, uso e consumo midiáticos” do XXI
Encontro da Compós, na Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, de 12 a 15 de junho de 2012.
Colaboraram as bolsistas Ms.Aline Weschenfelder (CNPq/AT-NS) e Alessandra Fedeski (FAPERGS IC). 2 Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1972), mestre em Comunicação pela
UnB (1977), doutor em Sciences de La Comunication et de L'information – EHSS - França (1982) e estudos de
pós-doutorado na UFRJ. Professor titular da UNISINOS/São Leopoldo/RS. Bolsista Pesquisador 1A CNPq.
[email protected]. 3 Doutoranda em Ciências da Comunicação pela UNISINOS/São Leopoldo/RS. [email protected].
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 2
Este registro foi desencadeado através de complexa estratégia de natureza
autorreferencial que se engendra e é controlada no âmbito da “realidade dos meios”,
alastrando-se para ambientes extra midiáticos, como as diferentes instituições sociais e,
particularmente, os atores sociais, enquanto instância de recepção. O trabalho técnico-
discursivo feito “zona de interpenetração”4 articula o sistema midiático e a recepção, através
da qual os atores sociais interagem com as estratégias postas em cena pelo âmbito televisivo.
Este fato intra-midiático é transformado em acontecimento e dele se ocupam notícias, artigos,
entrevistas, etc, inclusive o dos receptores alçados ao processo de circulação pela seção dos
“comentários” das mídias digitais do sistema Globo.
O acontecimento, de acordo com a lógica e as operações de sua produção, evolui em
um complexo processo de circulação, segundo várias etapas. Momento 1) (01/12 – quinta
feira) reúne vários “microacontecimentos” (fatos): notícias em site oficiais, que antecedem a
saída da jornalista e o anúncio de sua substituta, entrevista coletiva dada pela apresentadora,
Patrícia Poeta, o editor do JN, o diretor de jornalismo da empresa de comunicação e Renata
Ciribelli (substituta de Poeta no Fantástico) e o anúncio oficial das alterações feito na
emissão do JN, quando se culmina, na noite do mesmo dia, a mudança. Momento 2) (05/12 -
segunda-feira) caracterizado pela despedida de Bernardes do JN e a recepção prestada, ao
vivo, a sua substituta. Momento 3) que decorre na terça-feira (06/12) e marca a entrada em
cena da nova apresentadora. Momento 4) caracterizado pelas repercussões do acontecimento,
em suas fases precedentes, especialmente o trabalho de correferência dinamizado pela
instituição Globo através de seus diferentes dispositivos (jornal, rádio, televisão e internet).
Nestes quatro momentos, configurados por um trabalho do nicho produtivo, os receptores se
conectam ao acontecimento através do ingresso ensejado a uma “zona de interpenetração”
instituída pelo dispositivo televisivo. Sob certas condições regulatórias, tal zona possibilita a
4 Resumidamente, o conceito de “zona de interpenetração”, para Luhmann: “não se trata de uma relação geral
entre sistema e meio, mas sim de uma relação entre sistemas que pertencem reciprocamente um ao meio do
outro. (...) Fala-se em penetração, quando um sistema disponibiliza a sua própria complexidade, para que outro
se construa. (...) Assim, existe interpenetração, quando essa situação é recíproca: ou seja, quando ambos os
sistemas mutuamente permitem-se proporcionar sua própria complexidade pré-construída. (...) Em caso de
penetração, o comportamento do sistema penetrador está co-determinado pelo sistema receptor. No caso da
interpenetração, o sistema receptor exerce também uma influência retroativa, sobre a formação de estruturas do
sistema penetrador, intervindo nele, portanto de duas formas: a partir do interior e do exterior. (...) Os sistemas
que interpenetram permanecem como meio um para o outro, significando que a complexidade que mutuamente
disponibilizam é inapreensível, isto é, desordem”. LUHMANN, Niklas, Introdução á Teoria dos Sistemas.
Petrópolis: Vozes, 2009. (p, 267-268).
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 3
emergência do momento 5) - central para esta comunicação - a “celebração da despedida”
também por parte do público do telejornal, enunciada através de inúmeros e singulares
comentários.
Por que o dispositivo televisivo deu a este fato de caráter organizacional-jornalístico,
uma ênfase pública de tal envergadura através de uma sequência de fatos cujas operações
discursivas atravessaram as fronteiras do sistema midiático, irrompendo para o ambiente
social, através de estratégias interacionais? Estudos (SILVERSTONE,1996), (BRUSINI,
1982) e (MORIN, 1969), chamam atenção para a importância que assume as atividades
produtoras de sentidos das mídias, sejam aquelas voltados para a vida dos seus atores,
enquanto “celebridades” ou de “olimpianos”. Também outros que tratam das incidências
sobre a cotidianidade de diferentes atores e suas “práticas sociais”.
Tais atividades têm um traço essencial: o fato do sistema midiático dispor de autonomia
para produzir suas próprias operações, aspecto que leva Luhmann (2005, p.18) a argumentar
que “há, portanto, muito sentido considerar a realidade dos meios de comunicação como as
comunicações que passam com e por eles”. A atividade telejornalística, enquanto “instância
de contato” entre instituições e os atores sociais, tem seus gêneros examinados por estudos,
especialmente as transformações havidas nos modos de enunciar notícias.
A natureza estrutural da mediação tele jornalística vem sendo refletida por pesquisas
que chamam atenção para as instâncias da produção midiática em que se engendram tais
operações, particularmente a performance dos atores, como os apresentadores de telejornais,
voltada para a construção de vínculos com a recepção. Especialmente, as estratégias sobre as
quais se edificam e funcionam os “contratos de leitura” em que repousam padrões e
possibilidades de confiança atribuídos à realidade através da enunciação dos meios. De modo
específico, os apresentadores não são apenas leitores de alguma coisa que lhes ordenam o
script dos telejornais, mas atuam como complexos dispositivos, cujos trabalhos de produção
de sentido se fazem pela atividade do “corpo significante” que opera a gestão e a qualidade
dos vínculos entre os meios e a sociedade (VERÓN, 1983, 2001 ).
Tais angulações constituem-se cada vez mais em objetos de estudos e é em torno da
singularidade do trabalho significante dos apresentadores, enquanto “elos de contatos”, que
se estrutura e funciona a organização da passagem do que “vem das instituições” para as
realidades dos atores sociais receptores. Na cotidianidade de sua atividade, os apresentadores
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 4
além de se constituírem para os atores em espécies de “portas de acesso” ao mundo dos
sistemas, reduzem também para eles a complexidade da realidade que lhes é externa. Mais
que isso, suas presenças instituem um espaço-temporalidade próprio o que favorece vínculos
e o estabelecimento de construções identificatórias entre seu trabalho e os dos atores,
principalmente com o deslocamento destes para a “zona de interpenetração”, onde referencias
simbólicas são instituídas pela atividade interacional das diferentes gramáticas de sentidos,
em produção e em reconhecimento.
A partir destas questões, propomos aqui examinar a partir de um determinado
acontecimento, relações entre produtores e receptores, a partir de uma atividade discursiva
que se realiza numa “zona de interpenetração”, na qual os discursos de produtores e de
receptores se entrelaçam e se co-determinam e também se afastam, segundo atividade de
intensa complexidade, em larga escala inapreensível. Leva-se em conta a autonomia que o
sistema midiático tem para dinamizar o acontecimento em termos de processos e de circuitos
de circulação, a construção do espaço de acesso dos receptores ao referido processo e o
trabalho discursivo dos receptores, através dos comentários.
A metodologia abordada envolve duas operações analíticas: uma breve descrição da
anatomia e processualidade do acontecimento, para chamar atenção sob a ênfase da lógica
autorreferencial sobre a qual o mesmo é estruturado. E a descrição dos discursos da recepção
a partir de estratégias discursivas por ela elaboradas, na “zona de interpenetração”, levando-
se em conta os “constrangimentos estruturais” de um modelo de comunicação que, de alguma
forma se impôs às condições de interação. As análises se baseiam na recuperação de matérias
jornalísticas, produzidas no âmbito digital, tanto por falas enunciadas pelo nicho
institucional, como por aquelas da recepção que se manifestam pelos comentários feitos em
alguns dos dispositivos do sistema Globo. O período observado é do dia 1° de dezembro de
2011 a 17 de janeiro de 2012, levando em conta o “antes”, o “durante” e o “depois”
(repercussões) que envolve a saída de Fátima Bernardes da posição de apresentadora do JN.
2. Breve anatomia descritiva do acontecimento
O acontecimento segue vários passos num ciclo de quatro ou seis dias, através de
informações que circulam dominantemente nas fronteiras do sistema Globo. O anúncio
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 5
oficial e as explicações acerca da saída Bernardes foram feitos pela Globo através de
entrevista coletiva, realizada no dia 1° de dezembro de 2011, quinta-feira. No contexto dos
dispositivos da Globo a alavancada de construção midiática do acontecimento se deu através
de uma notícia publicada às 10h56 deste mesmo dia, “Fátima Bernardes comandará novo
programa e Patrícia Poeta assume JN”, disposta no G1, portal de notícias na web e
congregador dos diversos veículos da Rede Globo.
O fato destacado como novidade na programação da Globo, foi revelado no telejornal
JN pelo editor-chefe e apresentador, Bonner, ao final da edição de 1° de dezembro de 2011.
Nesse momento, Bernardes apresenta reportagem explicando a origem de seu desejo de
comandar um programa só seu, na tentativa de justificar a sua saída do telejornal mais
assistido do país. A última participação de Bernardes na bancada e recepção de sua sucessora
ocorrem 4 dias depois, na edição do JN de 5 de dezembro, segunda-feira, que foi qualificada
por Bonner como “noite especialíssima”.
O ritual escolhido naquela noite foi um “bate-papo” ao vivo, protagonizado por Bonner,
Bernardes e Poeta e o deslocamento de fatos de uma mídia para vários suportes midiáticos,
parece representar (para não dizer constituir) a própria encenação do acontecimento
autorreferencial programado que se desenrola na circunscrição do sistema jornalístico Globo.
As falas roteirizadas dos atores em jogo expõem o uso de estratégias de um discurso auto-
celebrativo que destaca adjetivações sobre as duas jornalistas através da explicitação de
detalhes de suas carreiras. Estas construções marcam o momento em que se produz a
tentativa de desmontagem de uma estrutura enunciativa que funcionou durante longo período,
bem como busca pela instauração de um novo cenário para o JN, sem por em risco o
“contrato de leitura” que funda as relações entre o telejornalismo da Rede e os seus
receptores.
O fluxo do acontecimento desenvolve-se em dez diferentes dispositivos do “Sistema
Globo”, inseridos no portal G1 (www.g1.com) e no site institucional da Rede Globo de
Televisão (www.globo.com), quem compõem a instância de oferta de sentidos, do ponto de
vista institucional (“nicho de sentidos”), acerca do reajuste no Jornal Nacional. Entre os
dispositivos com foco jornalístico ou de entretenimento, encontramos: G1, versão online do
JN, Blog JN Especial, versão online do Fantástico, do jornal O Globo, do jornal Extra,
versão online do programa televisivo de entrevistas Estúdio I, versão online programa Globo
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 6
News em Pauta, versão online do telejornal Globo News Notícias (todos da Globo News),
versão online da Rádio CBN, site institucional Rede Globo, site Ego que retrata a vida das
celebridades e a versão online do programa sobre os bastidores da emissora, o Vídeo Show.
Algumas dos dispositivos citados (ex.: matérias do site Ego e matérias no espaço digital
do Fantástico) apresentam o espaço estrutural “comentários” que supõe a interação no
perímetro exclusivamente regido pela Globo. Outros (ex.: espaços online da Globo News e
espaço online do JN) apresentam links para compartilhar os conteúdos e comentar em lugares
fora do ambiente da instituição de comunicação, tais como as redes sociais, Facebook,
Twitter e Orkut. Destacamos o espaço interacional do Blog JN Especial, coligado ao site do
Jornal Nacional, que compreende o blog de base informativa e institucional do telejornal.
Nele são dispostos todos os vídeos veiculados pelo telejornal sobre a saída de Bernardes e
posse de Poeta, bem como expõem, também através de fotografias, textos e vídeos,
momentos prévios a grande mudança como: as rotinas de produção enfrentadas pelas
jornalistas, enfatizando o último dia de Bernardes, bem como o primeiro dia de JN de Poeta,
a escolha dos respectivos figurinos, a seção de maquiagem e de preparação do cabelo das
apresentadoras, etc.
Os bastidores da encenação do acontecimento também são expressos no Blog JN
Especial através de um vídeo exclusivo que mostra a recepção de Poeta ao estúdio do Jornal
Nacional, por Bernardes e Bonner. Nele, Bernardes apresenta o corredor de entrada para o
estúdio do JN, a bancada oficial do telejornal, o modo de operação de cada câmera revelando
elementos específicos do fazer jornalístico, Poeta faz perguntas e tira dúvidas técnicas. O
momento é qualificado por Bernardes como “momento histórico”. Essa passagem parece
ritualizar e cristalizar o instante da transição dos poderes e a oportunidade que o público tem
de comentar o processo faz dele parte desta transição.
Por já estar legitimado como espaço de interação do Jornal Nacional, e por ser uma
instância que promete revelar detalhes que extrapolam a rotina do telejornal, o Blog JN
Especial se configurou como o dispositivo que obteve maior participação do público. Entre o
dia 1º de dezembro ao dia 17 de janeiro de 2011 foram feitos 1286 comentários da recepção.
Esses dados evidenciam a existência de um sistema específico cuja atividade tecno-
discursiva, da “geração de realidades”, se realiza de modo autônomo e segundo operações
próprias. A exposição midiática dos detalhes da mudança e desmontagem do cenário do
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 7
telejornal (que não é estrutural, mas que afeta, de algum modo, o seu status de mediação, em
termos simbólicos), parece justamente, buscar amenizar a abertura de uma possível fenda no
“contrato de leitura” do dispositivo e relacionamentos em que a engrenagem do Jornal
Nacional, ou mesmo da Globo, está envolvida. Há um trabalho estratégico e explícito, em
tempo real, no sentido de recuperar a estabilidade de um sistema que naquele momento
aparece susceptível de “turbulências”.
Com efeito, observamos que a complexidade desse acontecimento extrapola o âmbito
produtivo das mídias e é ampliada para uma “zona de interpenetração”, enquanto espaço de
interação que envolve as mídias e a ambiência receptora e que permite, em termos
discursivos, a operação que inclui a “recepção no negócio da mudança”. O convite à entrada
em cena dos receptores, através da dinâmica dos comentários, promete uma interação no
próprio espaço controlado pelo nicho institucional produtor. Mas, ao mesmo tempo permite
também que o público recupere (segundo suas lógicas) a narrativa que é proposta pelo nicho
institucional Globo e a atualize através de sua conversação, seja na “zona de interpenetração”
e, ainda em espaço não regulados – caso das redes sociais, aspectos aqui não examinados.
3. Lógicas e operações dos processos de recepção nos “zonas de interpenetração”
Os comentários feitos pelos internautas no âmbito da “zona de interpenetração”
caracterizam a emergência de um amplo “operador de identificação”, “A celebração da
despedida” de Fátima Bernardes. Para fins de nossa análise, restringimos o material dos
receptores em dois subconjuntos temáticos.
De um lado, os registros relacionados ao âmbito pessoal da apresentadora, como uma
espécie de momento celebrativo, sendo constituído por discursos de saudação, cumprimentos,
lamentos, testemunhos, solicitações, votos, despedidas, etc. Esses discursos da recepção
destacam, especialmente, a perda do contato com a apresentadora, aspecto revestido de uma
construção familiar, em função do contato diário que os atores em recepção travam com
Fátima Bernardes. Ou seja, as construções ali enunciadas remetem à problemática de uma
relação propriamente dita entre os atores em recepção e dimensões propriamente, subjetivas
ensejadas pelo seu contato com o telejornal e sua apresentadora.
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 8
O outro subconjunto refere-se aos comentários que abordam questões e observações
sobre aspectos tecno-profissionais relacionados com a despedida da jornalista, os quais
apresentam comparações, explicitam críticas, anunciam certo grau de discordância sobre a
saída dela, apresentam sinais de conhecimento que tem das rotinas telejornalísticas, etc. Essas
marcas discursivas lançam pistas sobre o perfil dos atores em recepção mais associados com
a problemática jornalística e do sistema Globo do que, propriamente, com aspectos humanos
e pessoais ligados a Bernardes.
3.1. Despedidas privadas, em tom de afetos
A história do percurso jornalístico da apresentadora, no JN, é associada pelos
internautas, às suas próprias histórias, ao dizerem que “não queria que ela saísse do
programa. Lá se vai um pouco da minha historia”, (Rosilene, 01/12, G1). Ou a dos seus entes
mais queridos, lembrando a natureza do contato que tinham com ela: “nossa, que pena.
Minha filhinha de três aninhos vai sentir muito, pois ela assiste o jornal só para dizer boa
Noite Titia Fátima!!!!”, (Josiani, 05/12, G1).Reações relacionadas com este aspecto,
aparecem em diferentes tons: “Fátima foi difícil segurar as lágrimas quando você anunciou a
saída do JN”, (Daiane de Souza, 04/12, G1).
Elogia o lado profissional de Bernardes: “Fátima é certeza de Ibope em qualquer
programa que comande... é absurdamente carismática”, (Isa, 04/12, G1).
Esboça “ao vivo” pedido aos editores para que reconsiderem a decisão da saída dela:
“Não tire a Fátima do JN, ela é a cara do programa”, para em seguida revelar seu incomodo
com a notícia recebida: “Não aceito, não posso fazer nada, só digo que odiei a notícia e para
mim é uma péssima notícia”, (Aurinete, 05/12, G1).
Internauta desportivo também reage, considerando as afinidades da jornalística com o
tema do futebol: “Fátima como ficará a copa de 2014, sem você espero que você faça um
bico para o JN” (Elaine Cristina, 03/12, G1).
Opina-se, como se fosse um ente próximo, sobre o peso do caráter familiar na decisão
da apresentadora: “A Fátima teve muita coragem de conciliar carreira e família. Que Deus a
abençoe nesta nova fase e curta muito cuidar de seus filhotes e maridão” (Geórgia, 05/12,
G1).
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 9
Sentimentos de despedida são externados: “Como posso me comover tanto assim com
a despedida de alguém que nem sabe da minha existência. Como posso sentir,
antecipadamente, tanta saudade de uma pessoa que eu sequer conheço? Que sensação
estranha e deliciosa” (Everaldo Nunes, 05/12, G1).
Uma fala faz uma espécie de “leitura de conjuntura”, dizendo dos efeitos que a saída
dela do JN tem sobre o país: “O Brasil levou um susto com a notícia da Fátima Bernardes
sair do JN - nunca pensamos que isso aconteceria. A saída da Fátima vai mexer muito com o
Brasil, aliás já está mexendo” (Sonia Boldrini, 03/12, G1).
A desolação da saída se abate sobre o ambiente familiar do internauta, bem como a
impossibilidade da expectativa de segui-lá em seu novo percurso: “não gostei nem um pouco
de saber que nas noites de segunda a sexta não teremos mais Fátima Bernardes em nossa
casa. Lamento não ter TV a cabo para acompanhar teu novo programa” (Shirlen, 02/12,G1).
Fátima e Willian são tomados como modelos: “Fiquei muito triste porque não vou ver
mais Fátima à frente deste grande jornal, pois tomo ela e o William como exemplo, pois um
dia eu quero estar sentado nesta cadeira. Tenho ainda 15 anos mas já sonho em ser um
grande jornalista” (Igler Felipe, 03/12, G1).
Internauta apresenta-se como porta-voz da população brasileira agradece os serviços
por ela prestados, ao país: “Fátima, muito obrigado por todos estes anos de dedicação a nós
brasileiros” (Elaine Oliveira, 06/12, G1).
Vínculos mais estreitos com a jornalista são proclamados: “Fátima, você faz parte de
minha vida durante todos estes anos”, (Claudia Quaresma 06/12, G1).
Aspectos da vida conjugal da apresentadora são destacados como modelo,
relacionando aspectos da vida familiar do internauta: “Este casal me espelha em minha vida
eu e a minha esposa, trabalhamos juntos se for para melhor iremos nos espelhar em vocês,
Fátima” (Reginaldo, 05/12, G1). Ou ainda: “Fátima, vou sentir muuuuuiiiittttooo sua falta
no JN. É o único momento em que eu e minha família reunimos para assistir o jornal. Você
fez parte de nossas vidas nos te adoramos!!” (Elzi Alves, 5.12 G1).
As rotinas do JN, que envolviam a performance do casal-apresentador são evocadas
como parte das perdas: “Vou sentir muito falta do “onde está você Fátima Bernardes?” E
daqueles boas noites cheio de paixão (...)” (Isadora, 05/12, G1)
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 10
3.2.Despedidas públicas, em tom de crítica
Certamente sem levar em conta racionalidades sobre as quais se assentam as decisões
organizacionais jornalísticas, alguns internautas estranham a separação de Fátima e William,
no JN, algo que encaram como um fato inadmissível: “nunca imaginei que Fátima e William
iriam se separar do JN” (Elianay, 06/12, G1). Ou: “Fátima, esperamos você logo, pois o JN
é igual a você e ao Bonner, não devem se separar nunca!” (Rodolfo Soares, 06/12, G1).
Mas a separação é admissível, para outro, desde que Fátima atenda ao pedido do
internauta: “Fátima sentirei saudades de você ao lado William. Quero só de fazer um pedido:
entrevista o William, no seu programa se for de entrevista” (Pollyana, 06/12, G1).
Agradecimentos enfatizam o desempenho profissional da apresentadora, no lugar de
virtudes pessoais: “Fátima obrigada pelo lindo trabalho que sempre invadiu nossas casas de
segunda a sábado com um belo noite, nos trazendo informações tanto boas quanto ruins,
assim é a vida. Receba o nosso muito obrigado” (Veronique Therese, 05/12, G1).
Os méritos atribuídos ao JN são associados à pessoa da jornalista-apresentadora e ao
seu marido-editor, aspecto responsável pela fidelidade do receptor, ao programa. Daí uma
crítica velada à sua substituição: “Eu não gostaria que FB deixasse o JN, só assisto por causa
do casal” (Rosangela, 05/12, G1).
A perda da apresentadora é dramatizada no discurso que reúne, ao mesmo tempo,
desolação, protesto, crítica, testemunha e desabafo: “Eu acho uma injustiça o que vocês
fizeram hoje. Tenho 37 anos de idade e chorei muito vendo a despedida da Fátima. Nós
brasileiros não merecíamos o que aconteceu, vocês que fazem este jornal tem a ideia de
quantos milhares de brasileiros ficaram tristes, com a despedida de Fátima. Gente, vocês
fazem parte das nossas vidas, vocês entram em nossas casas, todas as noites, não façam isso
não” (Altay Pereira, 05/12, G1).
Em tom de desolação a saída é lamentada, confessa a internauta, sugerindo ainda
outra alternativa para contornar este encaminhamento. “recebi i a notícia com tristeza...
deveriam ter feito um plebiscito” (Daniella, 02/12, G1).
Observações mais críticas são feitas sobre o acontecimento, deslocando-se aspectos
que destacam a perda da apresentadora em si, para outros ângulos críticos que envolvem o
formato, as decisões organizacionais, a produção jornalística etc: “Gente eu não entendo,
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 11
aliás eu entendo, tremenda jogada de marketing da Globo, o que tem demais a Fátima
Bernardes? Minha gente, quem não se torna ídolo tendo uma Rede Globo por trás?” (Mara
Campos, 5/12, G1)
Em tom comparativo, o internauta indica outras preferências: “Notícia bombástica,
até triste, pois esperávamos outros nomes como Sandra Anneberg, Renata Vasconcelos, Ana
Paula Araujo, Zileide Silva, Renata Capucci, Glória Maria e até Ana Paula Padrão”,
(Marcus Vinícius, 04/12, G1).
Há discursos que manifestam a orfandade, que se faz através de sentenciamento
formulando crítica a uma decisão que é considerada errada: “Sem querer afetar a sua
substituta (Patrícia), vamos ficar órfãos, o JN demonstrava um exemplo de família, fica sem
sentido o JN, não foi feliz a ideia do diretor indicar Fátima para este programa?” (Erivan,
02/12, G1).
Outro discurso “naturaliza” a decisão e recusa a orfandade: “Me diz, para que todo
este circo para uma simples troca de apresentadora?” (Ronaldo, 05/12, G1).
Outros, de modo mais didático, preferem comparações e justificam porque o JN perde
com a saída: “É uma pena a saída da Fátima. Ela é a cara do JN. A Patrícia é uma super
profissional, mas lá no Fantástico. O JN foi e é sempre de Fátima Bernardes e William
Bonner. O JN jamais será o mesmo”, (Fátima, 04/12, G1). Este aspecto é aprofundado por
discurso-vizinho: “Gosto muito da PP, mas o JN não será o mesmo sem a FB. Acho inclusive
que o JG nunca foi o mesmo depois da saída da Ana Paula Padrão. Uma pena” (Jacks,
04/12, G1).
Na esteira das “reclamações”, persiste o tom de recusa pela mudança, através de
pergunta dirigida, quem sabe à emissora: “não entendi esta mudança, se consideramos
perfeita a apresentadora?” (Nolto S. Santos, 04/12, G1).
Críticas mais “estruturais” superam o tom focado sobre a jornalista: “Não basta
trocar o apresentador. Tem é que mudar o tipo de jornalismo do JN. Um jornal insosso, sem
opinião, sempre em cima do muro, tentando um ridículo “politicamente correto” (...) A
atração é a notícia, não o apresentador” (Marco Provin, Zh.com, Clirbs, 01/12).
Internauta faz sua própria “auto-escolha”: “Se me fosse dado o poder de determinar
quem sairia, certamente operaria pelo “intragável” pai de seus filhos, este tal de Bonner. A
“desculpa” de cansaço não cola (...) Agora Bonner não precisará mais perguntar: aonde
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 12
você está Fátima Bernardes? Se ousar perguntar, vai receber como resposta: “no fogão
William, no fogão preparando o jantar”” (Nicanor Amaro Silva Neto, 01/12, O Globo,
oglobo.com./pais/noblat/post).
4. Considerações finais
É neste espaço de discursos tacitamente entrelaçados, que lógicas distintas - a das
mídias e a dos atores - se encontram. Nele, discursos tratam de diferenciar as estratégias em
produção e recepção. Trata-se de um encontro, em termos simbólicos, necessariamente de
lógicas não convergentes, na medida em que o acesso às estruturas, como as da “zona de
interpretação”, não significa necessariamente a convergência de práticas discursivas e dos
seus processos enunciativos de produção de sentido. Fragmentos discursivos, aqui, reunidos e
analisados, mostram que, por injunção da ambiência da midiatização - onde tecnologias se
convertem em meios - os receptores da mídia jornalística digital vêm participar dos
processos interacionais ofertados, mas este ato não significa necessariamente “jogar o jogo”
,nos termos propostas pelo sistema midiático.
As marcas analisadas mostram que os receptores, sem a “mediação de intermediários”,
falam das estruturas de mediação jornalísticas, de sua relação com a televisão e dos
dispositivos de contatos que dão vida e consistência aos contratos estabelecidos entre eles e o
sistema midiático. Se a lógica industrial-midiática se fixa na “arquitetura” e no
funcionamento dos seus dispositivos e estruturas – como é o caso do âmbito da apresentação
– os receptores singularizam seus vínculos com as mídias, através das pessoas, para não dizer
no trabalho simbólico-indicial por elas investidos, como é o caso da apresentadora, enquanto
um “corpo significante” que ali produz sentidos.
As mensagens constituídas pelo trabalho de recepção revelam posições distintas, não
pondo em questão a importância do lugar e do trabalho da mediação em si. Questiona-se o
modelo estrutural do telejornal, os critérios sobre os quais as mudanças são definidas,
especialmente os protocolos que não levam em conta uma “cultura de contato” que se tece e
se desenvolve no momento em que o telejornal se põe em vínculo com os expectadores. Para
tanto, sob diferentes marcas – de lamentos e de desapontamentos – defendem estes discursos
a permanência do “corpo significante” (da apresentadora) com o qual os receptores mantem
relações de natureza afetivo-identificatória.
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 13
A estratégia analisada mostra também que, a despeito do recurso que se faz aos
“contratos de leituras” como “mecanismo de estabilização” das relações entre produtores e
receptores, o trabalho discursivo que se faz na “zona de interpenetração” aponta para efeitos
que não podem ser totalmente previstos e, logo descritos. A despeito das expectativas criadas
pelas racionalidades das estratégias em produção de sentido, nada se pode estimar sobre os
horizontes dos efeitos que elas podem suscitar. Particularmente, o “destino” que a recepção
dá aos mesmos. Sabe-se, contudo, que é nesta “região” que as intencionalidades se contatam,
via textos e suas operações enunciativas. Poder-se-ia mesmo dizer que somente outro tipo de
observação, realizada numa outra temporalidade, seria possível descrever efeitos destes
contatos. É, talvez, prevendo tal desafio, que “estratégias antecipatórias” são postas em ação
pelo nicho institucional, visando o controle dos sentidos.
Em função disso, uma decisão, aparentemente interna às rotinas de um sistema
televisivo, é submetida a uma ação complexa, como foi o caso da saída da apresentadora do
JN, envolvendo, de alguma forma, “certa” instância de “escuta” da voz da recepção,
possibilitada por seu acesso, sob certas condições, ao protocolo interacional. Em outras
palavras, isso significa dizer que discursos, em produção e em recepção, se encontram na
“zona de interpenetração”, mas segundo “táticas em paralelo”. Um aspecto é o acesso ao
processo da circulação das mensagens,por parte da recepção.Outra coisa é saber em que
medida tal protocolo poderia (além do acesso ao circuito de discursos) ensejar outras leituras
que levassem em conta a natureza dos mesmos, uma vez produzidos a partir de lógicas
distintas e divergentes face àquelas do sistema midiático?
As estratégias dos internautas entram de fato no processo de circulação, e podem ser
afetadas pelas lógicas discursivas da produção midiática. Mas, também produzem mensagens
na “contra mão” do discurso da organização midiática-televisiva. Na leitura aqui feita ficou
explícito que outras lógicas e racionalidades pemeiam as mensagem dos receptores,
revelando e edificando as relações que eles estabelecem com as estruturas mediadoras da
televisão. Particularmente, mostra-se aqui dois, dentre outros, horizontes interpretativos,
sobre o afastamento de Fátima Bernardes. No primeiro, o discurso de recepção é marcado
pela despedida em caráter privado, segundo registros nos quais se mostra complexo vínculo
de identificações e de afetos que qualificaram as relações dos receptores com a estrutura,
mas, sobretudo com Fátima Bernardes, como uma instância de mediação e de contato.
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 14
Certamente, tais dimensões não comparecem nos estudos sobre as decisões organizacionais
fundadas na “racional choice” que iluminam as pesquisas sobre vínculos entre produtores e
receptores de mensagens.
De outro lado, uma compreensão calcada numa racionalidade crítica que se apoia no
próprio conhecimento que dispõem os receptores da cultura televisiva, pois explicitam
fundamentos contrários ao da mudança na estrutura mediacional do JN. Dentre os
argumentos, mais do que sentimentos, sobressai-se a defesa da mediação e a performance do
trabalho técnico-enunciativo investidos pela jornalista-apresentadora. Sem esta “causa”,
como dizem os receptores, não haveria razões para eles se contatarem com a televisão.
Críticas-pontuais, difusas, mas também estruturais, dizem que a solução por eles desejadas,
era outra, como a mudança no formato do telejornal ou, outras mais complexas. Não sabemos
o que o “aparelho de análise” do sistema midiático fará com estes “restos” de discursos
armazenados numa região pouca estudada, como a “economia-significante da produção de
sentido midiática”. O que se sabe é que Fátima abandona a “mediação” nesta bancada para
servir a uma outra, onde se especificará como seu principal personagem, algo que a
aproximará de uma atividade típica da modalidade emergente do “jornalismo de ator”.
Do lado dos receptores há um discurso que sentencia de modo figurado, as relações
entre televisão e o público. De alguma forma, os receptores se despedem deste “frame”. E
por causa dos efeitos por ele gerados, dizem também, o que lhes resta como saldo, neste
momento de despedidas: “vamos ficar órfão (....) o JN fica sem sentido” (Erivan, 02/12,
G1). Evidente que o plural majestático, sugere mais do que a existência de um expectador
específico, pois o contexto discursivo no qual profere a mensagem indica um grau de relação
mais complexa que envolve o sistema e receptores, no seu conjunto. Ou seja, o discurso
denuncia uma ruptura mais complexa da qual resulta a orfandade de todos, da recepção, mas
também do sistema midiático pela sua impossibilidade de escuta. Nele evidencia-se, além do
lamento pela situação da orfandade, um recado de recusa: “nós brasileiros, não merecíamos o
que aconteceu”. Recado enviado da “zona de interpenetração” que desafia a escuta do staff
midiático. E significa mais do que um mero comentário feito no protocolo interacional.
Aponta, dentre outras coisas, a “não linearidade” da comunicação.
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXI Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Juiz de Fora, 12 a 15 de junho de 2012
www.compos.org.br 15
Referências
BRAGA, José Luiz. Circulação. Anotações para um artigo em elaboração (9 fragmentos). Paper. PPGCOM-
UNISINOS, Sâo Leopoldo, 2011.
BRUSINI, Hervê.; JAMES, Francis. Voir la verité Le Journalisme de télévision. Paris: PUF, 1982.
FABBRI, Paolo. Tactica de los signos. Barcelona: Gedisa, 1995.
FAUSTO NETO, Antonio. A circulação além das bordas. Paper apresentado no Colóquio “Mediatización,
sociedad y sentido”. Convênio CAPES/MYNCT, Agosto/2010, Universidade Nacional de Rosário, Argentina.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Olhar escutar ler. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
LUHMANN, Niklas. Essays on self reference. Columbia: Press Universiyt Columbia, 1990.
LUHMANN, Niklas. A realidade dos meios de comunicação. São Paulo: Paulus, 2005.
MORIN, Edgar. Cultura de Massas no século XX. Rio de Janeiro: Forense, 1969.
SILVERSTONE, Roger. Televisión y vida cotidiana. Buenos Aires: Amorrortu, 1996.
VERON ,Eliseo. Il est la, je le vois il me parle. Revue Communications. N. 38. Paris: Seuil, 1983.
VERON,Eliseo. Los Públicos entre producción y recepción: problemas para una teoria del
reconociminento. Porto: Cursos de Arrábida, 2001.
VERON, Eliseo. BOUTAUD, Jean Jacques. Semiotique Ouverte itinéraires sémiotiques en communication.
Paris : Lavoisier/Hermes, 2007.