déficit habitacional com base nos dados do cadÚnico 2020
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Déficit Habitacional com base no CadÚnico - 2020 IMB - ANO XXI – maio de 2021
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GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS Ronaldo Ramos Caiado SECRETARIA-GERAL DA GOVERNADORIA Adriano da Rocha Lima IMB - INSTITUTO MAURO BORGES DE ESTATÍSTICAS E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS Guilherme Resende Oliveira
Unidade da Secretaria-Geral da Governadoria, o IMB é o órgão responsável pela elaboração de estudos, pesquisas, análises e estatísticas socioeconômicas, fornecendo subsídios na área econômica e social para a formulação das políticas estaduais de desenvolvimento. O órgão também fornece um acervo de dados estatísticos, geográficos e cartográficos do Estado de Goiás.
Gerência de Assessoramento Estratégico Evelyn de Castro Cruvinel Gerência de Dados e Estatísticas Evando Natal Fernandes de Oliveira Gerência de Estudos Macroeconômicos Anderson Mutter Teixeira Gerência de Estudos Socioeconômicos e de Avaliação de Políticas Públicas
Alex Felipe Rodrigues Lima
IMB - Instituto Mauro Borges Avenida Vereador José Monteiro, nº 2.233, (em frente ao Bloco G)
Setor Nova Vila – Goiânia/GO - 74653-900 (62) 3269-2780 / 2777
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Sumário
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................3
2. A MORADIA E O DIREITO À CIDADE ...........................................................................4
3. METODOLOGIA ................................................................................................................9
4. RESULTADOS DO DÉFICIT HABITACIONAL EM GOIÁS .......................................12
5. PERFIL DAS PESSOAS EM DÉFICIT HABITACIONAL ...........................................20
6. Referências ......................................................................................................................22
As publicações do Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos
(IMB) estão disponíveis para download gratuito nos formatos PDF. Acesse: https://www.imb.go.gov.br/
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É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a
fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.
Déficit Habitacional com base nos dados do CadÚnico 2020
Murilo Rosa Macêdo1
Amilton Zoccoli Junior2
Alex Felipe Rodrigues Lima3
Paulo Jackson Bezerra Vianna4
1. INTRODUÇÃO
No Brasil a moradia é um direito social garantido pela Constituição Federal
de 1988, portanto, faz parte do Estado brasileiro garantir esse direito aos
cidadãos, especialmente aos vulneráveis social e economicamente. Moradia é
um direito humano fundamental que também consta da Declaração Universal
dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas de 1948. Desse
modo, o Governo de Goiás tem procurado atuar de maneira a garantir esse
direito social, incluindo a segurança jurídica da moradia, com a publicação da Lei
20.954 de 30 de dezembro de 2020 que dispõe sobre a regularização fundiária
em nosso Estado.
O presente boletim procura expor a questão do déficit habitacional como
um problema social influenciado por diversos fatores visando o acesso a
oportunidades e redução das desigualdades sociais, com foco na promoção do
acesso a políticas públicas voltadas para pessoas e famílias com ótica na
economia urbana, analisando como os fatores econômicos são determinantes
na configuração da vida urbana.
Isto posto, o objetivo deste boletim é apresentar a situação do déficit
habitacional em Goiás e seus municípios, a partir do Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal e a metodologia5 proposta pelo Instituto
Jones dos Santos Neves do Estado do Espírito Santo, com o intuito de apontar
1 Pesquisador em Ciências Sociais do IMB / Mestre em Sociologia; E-mail: [email protected] 2 Técnico Administrativo / Bacharel em Filosofia; E-mail: [email protected] 3 Gerente de Estudos Socioeconômicos e de Avaliação de Políticas Públicas / Pesquisador em Estatística do IMB / Mestre em Estatística; E-mail: [email protected] 4 Pesquisador em Economia do IMB / Mestre em Economia; E-mail: [email protected] 5 Para maiores informações sobre a metodologia aplicada no presente trabalho verificar o estudo anterior elaborado pelo IMB disponível em https://www.imb.go.gov.br/estudos/estudos-imb/d%C3%A9ficit-habitacional-em-goi%C3%A1s-uma-an%C3%A1lise-do-cad%C3%BAnico-nos-anos-de-2017-e-2018-novembro-2018.html
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o déficit habitacional em categorias entre 2017 e 2020, tendo como parâmetro
as características domiciliares das famílias e das pessoas. Com a finalidade,
também, de subsidiar os gestores públicos e estudiosos em avaliações que
visem potencializar e fomentar uma política habitacional para populações de
baixa renda, pesquisando por acesso a oportunidades visando a redução das
desigualdades sociais quantitativamente e qualitativamente.
Para tanto, o presente estudo está dividido em 3 partes para além desta
introdução. Na primeira parte é feita uma análise teórica sobre a questão da
moradia e sua relação com o direito à cidade. Neste sentido, traça-se um breve
histórico da evolução da cidade enquanto obra humana e consequências das
relações sociais e das formações produtivas. Na segunda parte analisa-se os
resultados encontrados sobre o déficit habitacional em Goiás com relação aos
tipos de déficit6, a que parte da população goiana está submetida e, os dados do
déficit para as famílias bem como para as pessoas. Por fim, são feitas breves
considerações finais a respeito do tema em questão.
2. A MORADIA E O DIREITO À CIDADE
O mundo tem experimentado um processo de aceleração de urbanização
sem precedentes na história humana. Até meados do século XX, a humanidade
sempre viveu predominantemente no espaço rural. No entanto, neste início de
século XXI, a maioria das pessoas já se encontram em espaços urbanos. A
transição do predomínio do rural para o urbano ocorreu junto com grandes
transformações da própria cidade.
A Cidade existe desde os primórdios da civilização. Lefebvre (2012)
aponta diferentes tipos de cidade que implicavam diferentes funções, a depender
do contexto social em que se encontrava. Por exemplo, havia a cidade oriental,
ligada ao modo de produção asiático, a cidade arcaica, da antiguidade clássica
europeia, ligada à escravatura antiga. Ainda segundo o autor, esses dois tipos
de cidades tinham como função principal a política e, a cidade seria o centro de
tomada de decisões de determinada sociedade.
6 São 5 os tipos de déficit habitacional analisados no presente estudo: a) habitação precária com domicílios improvisados; b) habitação precária com domicílios rústicos; c) coabitação familiar (cômodos); d) ônus excessivo com aluguel urbano; e) adensamento excessivo em domicílios alugados.
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Após essas tipificações surge a cidade medieval. Esse novo tipo de cidade
surge em situação contraditória, pois está inserida no modo de produção feudal.
Porém, a cidade travava uma luta essencial contra o feudalismo, uma vez que
esse se baseava muito no rural. A cidade medieval, além de política, tinha como
funções essenciais o comércio, o artesanato e o sistema bancário. Apesar de,
nesses contextos mais antigos, já haver cidades grandes e relevantes para além
de seu território específico, é a partir da Revolução Industrial que as cidades irão
se moldar e expandir sua influência e sua cultura urbana, não apenas de modo
a diminuir o espaço físico, econômico e social do rural, mas também se expandir
para outros centros urbanos por todo o mundo. Assim, as cidades cada vez mais
se relacionam não apenas com o seu entorno, periférico e rural, como também
com outras cidades em todo o globo, formando uma espécie de rede de cidades.
As cidades que já no começo concentravam não apenas meios
econômicos, mas também decisórios, passam a ser centros de expansão de um
modo de vida específico, acelerado, multifacetado e complexo. O universo de
possibilidades da cidade atrai pessoas de todas as partes, seja de forma
voluntária, seja pela expansão da indústria para o rural, que expulsa pessoas da
terra, do campo e as compele para as cidades.
Neste contexto, o processo de urbanização nos países desenvolvidos é
bastante distinto da urbanização naqueles em desenvolvimento. Os países em
desenvolvimento não tiveram a transição da indústria para os serviços, do
moderno para o pós-moderno da mesma forma que nos desenvolvidos. Isso se
reflete na forma e no conteúdo das cidades e como as estruturas urbanas estão
dispostas no espaço assim como no convívio das pessoas no espaço urbano.
Ou, como diria Lefebvre, influencia no direito à cidade.
O direito à cidade é dificultado por uma série de fatores e, nos dias de
hoje, a supressão de direitos na vida urbana ganha contornos ainda mais
complexos uma vez que não nos encontramos exatamente em uma sociedade
industrial. Fatores como a aceleração social (ROSA, 2015), a compressão
espaço-tempo e a imigração de pessoas em quantidades sem precedentes (não
apenas do campo para a cidade ou entre diferentes cidades, mas entre países e
culturas) provocam o encontro de estranhos em espaços urbanos periféricos,
carentes de infraestruturas, recursos, e apoio tanto estatal quanto do próprio
mercado, o que cria a era da marginalidade avançada (WACQUANT, 2005).
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Após fazer a reconstrução histórica dos diferentes modelos de cidade,
Lefebvre (2012) demonstra, em termos dialéticos, como o processo de
industrialização e a crise social provocada por essa evolução do capitalismo
mercantil para o industrial (FORTUNA, 2012) foram determinantes para os
modos de vida e organização social predominantes hoje no mundo: o urbanismo.
A Cidade, como conceito, é um lugar em que há predomínio do valor de
uso. É onde se concentram pessoas, conhecimentos, técnicas e obras. Para
Lefebvre (2012), a própria Cidade é uma obra. Aqui ele dá como exemplo as
cidades antigas e suas grandes obras construídas sob uma base de opressão,
não de exploração. Neste sentido a cidade também é o lugar do encontro, do
culto, da festa, em que o valor de uso do espaço predomina sobre o valor de
troca.
Segundo o autor, a industrialização é o processo indutor à expansão e
propagação do urbano por todo o espaço. A indústria tende a se implantar
primeiramente fora das cidades, em regiões abundantes em energia e matéria
prima, mas também em mão de obra. Com o surgimento da indústria a opressão
dá lugar à exploração (mão de obra assalariada) e a construção de obras dá
lugar à produção de mercadorias e de produtos (LEFEBVRE, 2012). É o triunfo
do valor de troca sobre o valor de uso. E isso implicou em mudanças radicais na
sociabilidade humana, entre elas a predominância do urbanismo.
Como afirmou Milton Santos (1988), é importante redefinir uma categoria
essencial para as ciências humanas: o espaço. Lefebvre (2012) aplica o
materialismo dialético de forma inovadora sobre a concepção de espaço. Para o
francês, o espaço deve ser analisado pela relação dialética entre a base, a
estrutura, ou seja, o desenvolvimento do capitalismo industrial, e a
superestrutura, o urbanismo (FORTUNA, 2012). É nessa relação dialética que o
valor de troca irá suplantar do valor de uso tanto no espaço quanto nas relações
sociais e nos modos de vida. Ao se contrapor com os aspectos fundantes e
essenciais da cidade desde a antiguidade (o valor de uso), o autor mostra que
não há apenas um conflito entre a cidade e o campo (que por ela é
gradativamente conquistado), mas que há um conflito do urbano com ele próprio
(FORTUNA, 2012).
Esse conflito do urbano com ele próprio se dá, dentre outras formas, com
a conquista dos centros urbanos pelas classes dirigentes, principalmente as
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industriais. Outra característica importante da cidade é que ela é um centro de
decisões. Dessa forma, a cidade sempre foi habitada por classes dirigentes,
mercadores e burocratas. Porém, os centros urbanos também eram ocupados
pelas classes mais baixas como pequenos artesãos e camponeses que de forma
pendular frequentavam às cidades para vender seus produtos, entre outros.
Essa copresença de distintas classes nos centros urbanos provocava uma certa
democracia urbana.
A Revolução Industrial levou aos centros urbanos não apenas a nova
burguesia industrial como também transformou o espaço em um valor de troca.
Essas alterações provocaram a expulsão das classes inferiores dos centros
urbanos e da própria cidade, destruiu a "urbanidade" (LEFEBVRE, 2012). Este
fenômeno fez com que se perdesse a noção e o sentido da obra da cidade.
Reforçam nelas somente o valor de troca do espaço que passa a ter importância
apenas na medida que estar na cidade é essencial para sua sobrevivência e não
mais para dar sentido à sua existência.
No entanto, já não se vive em uma sociedade dominada pela indústria e
sua burguesia. Nos dias atuais, há o predomínio do capital financeiro sem
limitações de tempo nem de espaço que geram grandes consequências da
realidade urbana. Isso causa, entre outros problemas, a construção de bairros
afastados dos centros urbanos e carentes de infraestrutura ao mesmo tempo em
que se verifica a grande quantidade de imóveis vagos nas áreas centrais. O valor
de troca, em detrimento do valor de uso, reflete-se em um dos maiores
problemas de déficit habitacional, o custo excessivo de aluguel.
Essas novas características da sociedade atual (aceleração social,
intensificação dos fluxos de capitais, grande fluxo migratório, ilhas de pobreza
no mundo desenvolvido) quando localizadas na cidade, resultarão no que Loic
Wacquant (2005) chamou de “marginalidade avançada”. A marginalidade
avançada são novas formas de exclusão social que surgiram ou se
intensificaram nas cidades.
Primeiramente há que se diferenciar os conceitos de espaço e lugar.
Neste contexto, lugares são locais comunitários compostos de emoções e
práticas compartilhadas em significados comuns e recíprocos entre os sujeitos
que os habitam, que contribuem para sua identidade humana e que os façam se
sentir seguros e em pertencimento.
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Por outro lado, os espaços são vazios, indiferentes, marcados
essencialmente pela ausência. Caracterizam-se pela competição e ameaça,
tornando-se zonas as quais devemos temer, tornar seguras ou fugir
(WACQUANT, 2006). Nesse sentido, os espaços exigem, dos indivíduos que
neles habitam, a criação de estratégias de sobrevivência que intensificam a
competição e estigmatizam não apenas o local, como os indivíduos que nele
habitam.
Essa estigmatização degrada simbolicamente os indivíduos que “privados
dos trunfos necessários para participar dos vários jogos sociais, apenas
partilham sua comum excomunhão. A reunião num só local de uma população,
homogênea na privação, tem também como efeito redobrar a privação”
(BOURDIEU apud WACQUANT, 2006). Essa reunião se torna um fator ainda
mais agravante quando composta por sujeitos de diferentes regiões que, saindo
de uma situação precária anterior, migram e encontram mais uma vez esta
situação de precariedade.
A marginalidade avançada se encontra bem localizada no espaço.
Independente das características culturais, étnicas e de privação que possam
especificar cada área de marginalidade avançada, elas sempre estão bem
localizadas no espaço. Ao serem expulsos dos centros urbanos, as pessoas que
ocupam esses lugares estigmatizados ficam mais ausentes da presença do
Estado e, logo, sujeitas a diversos tipos de privações e opressões sociais. Dessa
forma, o conflito social atual se deslocou do âmbito do Estado e do ambiente de
trabalho para os espaços da marginalidade avançada das cidades e o conflito
entre o local e o global (BORJA, 2013).
Agatti (2020) realiza uma pesquisa bibliográfica e documental de uma
série de políticas habitacionais brasileiras e internacionais. Utilizando de um
modelo estatístico, a autora avalia diversas políticas habitacionais implantadas
em diferentes regiões brasileiras e outros países com vistas a entender quais
funcionam ou não, bem como as razões de sucesso ou fracasso. A autora
ressalta que políticas habitacionais de sucesso não se limitam à construção de
casas ou apartamentos em que pessoas possam residir. Ao contrário, uma
política habitacional de sucesso necessita levar em consideração a integração
com outras políticas urbanas como serviços de infraestrutura básica tais quais
energia elétrica, saneamento básico, vias de transporte etc.
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O último grande programa de habitação a nível nacional no Brasil, o Minha
Casa Minha Vida, embora tenha construído milhões de habitações no Brasil, teve
o problema de estar pouco integrado a outras políticas urbanas. Muitas unidades
habitacionais erguidas pelo programa se situavam longe dos grandes centros
urbanos e com carência de infraestruturas básicas, pois foram priorizados, por
parte das construtoras, o valor dos terrenos, que acarretou ao abandono de
imóveis por parte de seus ocupantes.
O Minha Casa Minha Vida é apenas um exemplo de alguns erros
encontrados pelas políticas habitacionais. O estudo ressalta a importância de
duas questões importantes. Uma é, para além da construção de novas unidades
habitacionais, a ocupação de áreas degradas nos centros urbanos, uma vez que
estes já possuem a infraestrutura necessária para a boa utilização da habitação.
Outra questão importante é o problema das cidades monocêntricas, uma
vez que elas possuem uma relação antagônica entre o acesso aos locais de
trabalho e emprego e a localização das moradias. As cidades monocêntricas são
um modelo urbanístico presente na Escola de Chicago que teve seu auge no
início do século XX e predominou até meados dos anos 1980. A partir de então,
predomina-se o modelo policêntrico de cidade cujo maior exemplo é a Escola de
Los Angeles. A cidade do século XXI possui vários centros que se relacionam
entre si, mas que oferecem neles próprios todas as infraestruturas e serviços
almejados pelos seus habitantes.
Em certa medida, todas as metrópoles atuais possuem mais de um centro.
No entanto, há ainda regiões metropolitanas cujo centro principal é demasiado
concentrador de riqueza e ofertas (de emprego, serviços, infraestrutura e
oportunidades) tornando-se um dificultador das políticas habitacionais. Neste
sentido, políticas habitacionais de sucesso necessitam se articular com outras
políticas urbanas que estimulem a criação e o fortalecimento de novos centros
dentro de uma mesma metrópole.
3. METODOLOGIA
O Indicador de Déficit Habitacional é baseado na metodologia proposta
pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), na qual se utiliza a base de dados
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do Cadastro Único (CadÚnico)7, com o objetivo de mensurar o déficit
habitacional nos municípios goianos. Contudo, essa metodologia foi
fundamentada nos conceitos e métodos utilizados no indicador da Fundação
João Pinheiro (FJP) relacionado ao déficit habitacional. O Instituto Mauro Borges
já aplicada a mesma metodologia para Goiás desde o ano de 2017.
Para ilustrar a metodologia de categorização dos domicílios/famílias, de
acordo com os componentes de déficit habitacional, apresenta-se na Figura 1 o
fluxograma com a representação esquemática do processo de classificação dos
domicílios, de acordo com suas características, nos componentes de déficit
habitacional.
Em termos práticos, de acordo com a metodologia, o primeiro passo foi
verificar a consistência dos cadastros. Dessa forma, foram excluídos da análise
os registros que possuíam desconformidade entre o total de membros da família
e a quantidade de formulários de pessoas preenchidos (IJSN, 2015).
Logo depois, é verificado a informação sobre a atualização do cadastro
e considerou-se como cadastros atualizados aqueles que estavam entre o limite
legal do controle, ou seja, até 4 (quatro) anos do tempo de atualização, como
propõe a instrução operacional nº 86/SENARC/MDS8.
Finalmente, por meio do banco de dados com cadastros consistentes e
atualizados, categoriza-se os domicílios, de acordo com as suas características,
em algum dos componentes de déficit habitacional. Se determinado domicílio
não tem características inseridas em algum desses componentes, então é um
domicílio que não está em situação de déficit habitacional. Os componentes
utilizados na análise são:
a. Improvisado: Domicílios registrados como particular improvisado;
7 De acordo com IMB (2017) o CadÚnico reúne informações sobre famílias de baixa renda, com rendimento de até meio salário mínimo por pessoa ou que possuem renda familiar mensal de até três salários mínimos. Entre os benefícios da utilização do CadÚnico, pensando em formulação e implementação de políticas públicas, está a focalização em um grupo específico da sociedade (famílias de baixa renda), a necessidade e exigência de manter o cadastro atualizado juntamente com a ocorrência das buscas ativas por famílias não inscritas no cadastro, além das parcerias mantidas entre os três entes federativos para a manutenção do cadastro. Como ferramenta útil para políticas públicas tem-se a possibilidade de identificar o seu grupo focal. 8 Esse procedimento foi realizado pela diferença entre a data da última atualização e a data de referência da base de dados que foi considerada.
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b. Rústico: Domicílios com material predominante na construção das
paredes externas de taipa não revestida ou madeira aproveitada ou
palha ou outro material;
c. Coabitação familiar9 Cômodo: Domicílio formado por um cômodo;
d. Ônus excessivo por aluguel: Domicílios com comprometimento da
renda familiar com aluguel superior a 30%;
e. Adensamento: Domicílios com número de moradores por cômodo
utilizado como dormitório igual ou superior a 3.
Ressalta-se que, com a metodologia utilizada e esboçada neste
fluxograma, não existe a possibilidade de dupla contagem de categorias de
déficit habitacional para as famílias classificadas em situação de déficit
habitacional. Para maiores detalhes consultar os estudos “Déficit Habitacional
em Goiás: uma análise do CadÚnico” (IMB, 2018).
Figura 1: Fluxograma da metodologia sobre déficit habitacional aplicada ao
CadÚnico
9 A estimação de uma parcela da coabitação familiar pelo subcomponente de famílias compartilhando um mesmo domicílio não foi possível pelo CadÚnico.
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4. RESULTADOS DO DÉFICIT HABITACIONAL EM GOIÁS
O primeiro aspecto a ser analisado em relação ao déficit habitacional
goiano é a quantidade de pessoas e famílias que se encontram nessa situação.
De acordo com os dados do Cadastro Único, havia em Goiás, em 2020, 155.769
famílias e 401.650 pessoas em situação de déficit. Isso representava cerca de
5,7% da população goiana. Nota-se pelo gráfico 1 que houve uma queda
significativa do percentual de pessoas em situação de déficit entre os anos de
2017 e 2018, quando o percentual saiu de 7,0% dos goianos para 5,9%. Entre
os anos de 2018 e 2020 houve quedas pequenas e constantes de 0,1 p.p. das
pessoas em situação de déficit habitacional.
Gráfico 1: Quantidade de domicílios e pessoas e percentual da população em situação
de Déficit Habitacional, Goiás, 2020
Fonte: Ministério da Cidadania / CadÚnico. Elaboração: Instituto Mauro Borges / Secretaria Geral da Governadoria.
A figura 2 abaixo, demonstra o comportamento do déficit habitacional em
Goiás entre os anos de 2017 e 2020, de acordo com o tipo de déficit. Nota-se o
grande destaque que há com relação ao tipo de déficit gerado pelo ônus
excessivo com aluguel. Em todos os anos essa é a principal causa do déficit
habitacional em Goiás. Em 2017, 5,1% da população goiana vivia em condição
de déficit por ônus excessivo de aluguel enquanto que a segunda maior causa
era a de imóveis improvisados com apenas 1,1% da população nesta condição.
Em 2020, esses números eram, respectivamente de 4,5% e 0,8% o que
demonstra uma pequena diminuição do ônus excessivo com aluguel. No entanto,
473.656
401.411 402.578 401.650
168.831 149.119 154.497 155.769
7,0
5,9 5,8 5,7
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
-
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
400.000
450.000
500.000
2017 2018 2019 2020
Pessoas Famílias % da Pop.
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79% das famílias em situação de déficit ainda se encontravam nessa situação
devido ao ônus do aluguel. Esses números representam um total de 119.783
famílias sofrendo com gastos excessivos de sua renda destinados ao pagamento
de aluguéis em 2020.
Figura 2: Pessoas e famílias por tipo de déficit habitacional, Goiás, 2020.
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Fonte: Ministério da Cidadania / CadÚnico.
Elaboração: Instituto Mauro Borges / Secretaria Geral da Governadoria.
A tabela 1 mostra o ranking dos municípios goianos em relação aos
diferentes componentes de déficit em números absolutos e relativos à população
do município, em 2020. Como era de se esperar, Goiânia é a cidade que mais
Figura 1a: Percentual da população por tipo de Déficit Habitacional
Figura 1b: Famílias por tipo de Déficit Habitacional
Figura 1c: Frequência Relativa de pessoas por tipo de Déficit
5,1 4,4 4,5 4,5
1,1
0,9 0,8 0,8
0,5
0,4 0,3 0,3
0,2
0,1 0,1 0,1
0,0
0,0 0,0 0,0
-
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
2017 2018 2019 2020
Ônus Improvisado Rústico Adensado Cômodo
120.581 109.951 117.286 119.783
32.341 26.907 25.797 25.051
12.787
9.983 9.248 8.824
2.671
1.860 1.694 1.612
451
418 472 499
-
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
160.000
180.000
2017 2018 2019 2020
Ônus Improvisado Rústico Adensado Cômodo
73,5% 75,8% 78,1% 79,1%
16,4% 15,6% 14,1% 13,6%7,3% 6,2% 5,5% 5,2%
2,6% 2,2% 2,0% 1,9%
0,2% 0,2% 0,2%0,2%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
2017 2018 2019 2020
Ônus Improvisado Rústico Adensado Cômodo
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possui famílias em situação de déficit, com um total de 24.344 famílias. No
entanto, a situação por componente do déficit altera esse ranking, mesmo em
termos absolutos. A posição de destaque de Goiânia no déficit se deve
exclusivamente ao grande vilão do déficit habitacional goiano, o ônus com
aluguel. Do total de domicílios em déficit em Goiânia, 23.333 estão nessa
condição devido ao ônus, de modo que esta é a única categoria de déficit
liderada pela capital do estado.
Segunda maior cidade do estado, Aparecida de Goiânia se encontra na
quarta posição das cidades com maior número de déficit, porém lidera em
relação ao déficit por adensamento, com 211 domicílios nessa situação. Flores
de Goiás não se encontra entre as 10 cidades com o maior número de déficit,
mesmo em termos relativos, no entanto lidera na categoria “cômodo”, a menor
categoria presente – no indicador agregado para Goiás.
Um destaque negativo é a cidade do entorno do Distrito Federal, Águas
Lindas de Goiás, que embora seja apenas a sétima cidade mais populosa do
estado, é a segunda com o maior número de famílias em situação de déficit. A
principal causa dessa colocação é o déficit devido a domicílios com cômodos
improvisados na qual a cidade lidera com 6.591 famílias nessa condição. Uma
importante cidade do sudoeste goiano, Rio Verde se encontra na quinta posição
no total de déficit habitacional do estado e se destaca na primeira posição da
categoria Rústico com 1.392 famílias nessa condição.
Em relação aos números do déficit habitacional relativizado pelo tamanho
da população das cidades, o destaque negativo é Campos Verdes. A cidade
localizada no norte goiano possui 43% de sua população vivendo em situação
de déficit habitacional, sendo que o componente responsável por esse alto
número são os imóveis improvisados, categoria em que lidera em termos
relativos.
Colinas do Sul é a cidade em que proporcionalmente há mais pessoas
vivendo em situação de déficit devido ao adensamento. Flores de Goiás, que já
liderava em termos absolutos, também lidera em termos relativos o déficit com
relação ao cômodo. Alto Horizonte, com 12,91% das famílias em situação de
déficit por ônus lidera nesse quesito e Cavalcante, cidade que abriga a
comunidade quilombola dos Kalungas, com 7,14%, lidera com relação às
famílias em déficit por imóveis rústicos. Vale ressaltar que todos os dez
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municípios que possuem relativamente maior parte de sua população vivendo
em condição de déficit se encontram nas mesorregiões do Leste Goiano, Norte
Goiano e Noroeste Goiano, o que se torna mais uma evidência da grave
desigualdade regional do estado.
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Tabela 1: Ranking dos municípios por tipo de déficit habitacional em Goiás, 2020.
Ranking descendente
Famílias
Município Adensa- mento
Município Cômodo Município Improvisado Município Ônus Município Rústico Município Total
1º Ap. de Goiânia 211 Flores de Goiás 49 Ág. Lindas de Goiás 6591 Goiânia 23333 Rio Verde 1392 Goiânia 24344
2º Goiânia 181 Goiânia 30 Aragarças 1765 Anápolis 8762 Niquelândia 325 Ág. Lindas de Goiás 9480
3º Anápolis 105 Formosa 25 Edéia 878 Ap. de Goiânia 6624 Jataí 309 Anápolis 9165
4º Cristalina 83 Senador Canedo 21 Corumbá de Goiás 758 Rio Verde 4986 Cavalcante 274 Ap. de Goiânia 7129
5º Novo Gama 70 Trindade 17 Sto. Antônio de Goiás 678 Luziânia 3700 Monte Alegre 224 Rio Verde 6752
6º Luziânia 64 Planaltina 15 Goiânia 672 Senador Canedo 3562 Goiatuba 214 Luziânia 3923
7º Rio Verde 56 Padre Bernardo 14 Campos Verdes 545 Ág Lindas de Goiás 2805 Formosa 191 Senador. Canedo 3710
8º Senador Canedo 50 Luziânia 13 Cachoeira Dourada 470 Trindade 2659 Quirinópolis 183 Trindade 3044
9º Planaltina 47 Jataí 13 Formosa 468 Catalão 2314 Flores de Goiás 168 Catalão 2392
10º Trindade 43 Goianira 11 Itaguaru 402 Cid. Ocidental 1912 Acreúna 159 Formosa 2164
% da população
1º Colinas do Sul 0,82 Flores de Goiás 0,50 Campos Verdes 41,40 Alto Horizonte 12,91 Cavalcante 7,14 Campos Verdes 43,38
2º Cristalina 0,66 Campestre de Goiás 0,27 Sto. Antônio de Goiás 27,11 Ouvidor 10,87 Nova Roma 6,36 Santo Antônio de Goiás 30,37
3º Gameleira de Go 0,66 Guarani de Goiás 0,22 Santa Rosa de Goiás 26,29 Itaguari 10,76 Monte Al. de Goiás 5,69 Santa Rosa de Goiás 26,96
4º Sta. Bárbara de Goiás 0,44 Colinas do Sul 0,17 Itaguaru 19,40 Turvelândia 10,11 Amaralina 5,67 Campestre de Goiás 19,79
5º Damianópolis 0,38 Cromínia 0,17 Araçu 17,92 Brazabrantes 9,87 Moiporá 4,98 Itaguaru 19,57
6º Alto Horizonte 0,36 Abadia de Goiás 0,16 Aragarças 15,46 Nerópolis 9,16 Lagoa Santa 4,16 Araçu 18,08
7º Aragoiânia 0,33 Bom Jardim de Goiás 0,16 Corumbá de Goiás 14,39 Taquaral de Goiás 8,90 Novo Brasil 3,98 Corumbá de Goiás 18,00
8º Davinópolis 0,33 Alto Horizonte 0,15 Edéia 14,32 Senador Canedo 8,79 Teresina de Goiás 3,89 Turvelândia 17,17
9º Sta Rita do Novo Destino 0,32 São Franc. de Goiás 0,14 Campestre de Goiás 14,31 Abadia de Goiás 8,78 Colinas do Sul 3,64 Campo Limpo de Goiás 16,55
10º Caldazinha 0,31 Ág. Fria de Goiás 0,14 Cachoeira Dourada 13,45 Alto Paraíso de Goiás 8,74 Jaupaci 3,01 Aragarças 16,14
Fonte: Ministério da Cidadania / CadÚnico.
Elaboração: Instituto Mauro Borges / Secretaria Geral da Governadoria.
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A tabela 2 demonstra as maiores variações do déficit habitacional entre
os anos de 2019 e 2020 nos municípios goianos. Com relação ao principal motivo
do déficit habitacional goiano, o ônus excessivo com aluguel, destaca-se
novamente Goiânia, com o aumento de 975 domicílios entre um ano e outro. No
entanto, outros municípios também chamam a atenção. Águas Lindas e
Luziânia, possuem a segunda e terceira maiores variações absolutas neste
quesito. Isso demonstra a necessidade de uma preocupação com um possível
aumento dos aluguéis na região do entorno do Distrito Federal. O aumento do
custo com aluguel aliado a questões estruturais precárias como os imóveis
improvisados podem caracterizar um cenário ainda pior para a região.
As variações relativas de alguns municípios apresentam valores
extremamente altos, porém isso se deve à pequena base de comparação. São
municípios pequenos, com baixo número de domicílios de modo que, por sua
vez, a variação de 5 domicílios/famílias a mais em determinado quesito pode
provocar uma variação de 100% ou até 200%. Mesmo assim, vale ressaltar que,
para além da estatística, cada município que se encontra em situação de déficit
habitacional significa uma família que não está tendo o seu direito à moradia,
constitucionalmente previsto, plenamente garantido.
As variações absolutas com relação às categorias de rústico,
adensamento e cômodo registraram pouco aumento entre um ano e outro. Com
relação ao déficit em imóveis improvisados chama a atenção o aumento em
Aparecida de Goiânia que, com aumento de 147 domicílios, foi a cidade em que
mais aumentou, seguida por Santo Antônio de Goiás, em segundo lugar com
136 novos domicílios em situação de déficit devido a este quesito. Também neste
ponto reforça-se a predominância da Região Metropolitana de Goiânia e do
Entorno do Distrito Federal como as regiões em que o déficit habitacional se
mostra mais grave em Goiás.
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Fonte: Ministério da Cidadania / CadÚnico.
Elaboração: Instituto Mauro Borges / Secretaria Geral da Governadoria.
Tabela 2: Ranking das maiores diferenças absolutas e das maiores variações relativas da quantidade de famílias em comparação com o ano de 2019.
Ranking desc.
Diferença Absoluta com ano anterior
Município Adensamento Município Cômodo Município Improvisado Município Ônus Município Rústico Município Total
1º Ipameri 4 Flores de Goiás 9 Ap. de Goiânia 147 Goiânia 975 Cavalcante 10 Goiânia 893 2º Mineiros 4 Novo Gama 3 Sto. Ant. de Goiás 136 Ág. Lindas de Goiás 291 Teresina de Goiás 9 Luziânia 227 3º Itaberaí 3 Planaltina 3 Cachoeira Dourada 68 Luziânia 233 Ap. de Goiânia 5 Cid. Ocidental 147 4º Anápolis 3 Anicuns 2 Quirinópolis 59 Rio Verde 179 Acreúna 4 Rio Verde 145
5º Rio Verde 3 Jataí 2 Vianópolis 58 Cid. Ocidental 143 Itapaci 4 Santo Ant. de
Goiás 126
6º Valparaíso de Goiás 3 Abadiânia 2 Campestre de Goiás 51 Formosa 138 Itumbiara 4 Formosa 92
7º Inhumas 3 São Francisco de
Goiás 2 Turvelândia 48 Sto. Ant. do Descoberto 102 Cid. Ocidental 4 Alexânia 90
8º Alto Horizonte 2 Goianira 2 Edéia 36 Jataí 83 Baliza 3 Cachoeira Dourada 57
9º Colinas do Sul 2 Goiás 2 Caturaí 35 Alexânia 67 Novo Gama 3 Campestre de
Goiás 49
10º Jataí 2 Campos Verdes 32 Jaraguá 60 Damolândia 3
Variação Relativa (%) com ano anterior
1º Goiatuba 100,0 São Francisco de
Goiás 200,0 Cavalcante 600,0 Campinaçu 93,3 Estrela do Norte 100,0 Diorama 44,4
2º Santo Ant. da Barra 100,0 Anicuns 200,0 Buriti Alegre 250,0 Aporé 83,3 Vila Propício 100,0 Castelândia 42,5 3º Inaciolândia 100,0 Mara Rosa 100,0 Ap. de Goiânia 219,4 Diorama 66,7 Itapaci 57,1 Estrela do Norte 35,4 4º Maurilândia 100,0 Cocalzinho de Goiás 100,0 Lagoa Santa 200,0 Castelândia 51,5 Itaguaru 50,0 São Patrício 34,4 5º Nova Veneza 100,0 Novo Gama 75,0 Campos Belos 181,8 Trombas 42,9 Guaraíta 33,3 Amorinópolis 34,3 6º Alto Horizonte 66,7 Goiás 66,7 Estrela do Norte 150,0 Cavalcante 41,9 Baliza 30,0 Cristianópolis 26,2 7º Ipameri 66,7 Cezarina 133,3 São Patrício 40,7 Novo Gama 25,0 Lagoa Santa 23,7 8º Colinas do Sul 66,7 Nerópolis 100,0 Cristianópolis 33,3 Aruanã 25,0 Serranópolis 23,4 9º Campo Limpo de Goiás 50,0 Água Limpa 100,0 Mozarlândia 27,9 Cachoeira de Goiás 25,0 Cromínia 22,5
10º Buriti Alegre 50,0 Pirenópolis 75,0 Água Fria de Goiás 26,4 Damolândia 25,0 Sta Rita do Novo
Destino 21,7
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5. PERFIL DAS PESSOAS EM DÉFICIT HABITACIONAL
A tabela 3 traça um perfil socioeconômico das pessoas em situação de
déficit habitacional em Goiás. A predominância de alguns aspectos,
especialmente a raça/cor e o grau de escolaridade reforçam o problema da
marginalidade avançada na sociedade goiana. Fica evidente que há uma
desproporção das pessoas possuidoras de determinadas características que se
encontram em déficit habitacional e sua representatividade na sociedade goiana.
A estigmatização de determinados grupos sociais, em especial da cor negra,
sempre se evidencia nos quesitos socioeconômicos na sociedade brasileira e
goiana. A situação de déficit habitacional dessa população permite a localização
dessas pessoas no espaço e reforça a condição de marginalidade.
Do total de pessoas que vivem em situação de déficit habitacional, 71,7%
se declaram pardas e 4,86% se declaram pretas, ou seja, cerca de 76% dos
goianos com carências de moradia são negros, enquanto apenas cerca de 60%
dos goianos se declaram negros. Por outro lado, enquanto o total de goianos
que se declaram brancos são cerca de 39%, os brancos em situação de déficit
são apenas 22,44%.
Com relação ao sexo, nota-se a prevalência das mulheres nesta condição.
58,49% das pessoas em situação de déficit são mulheres enquanto que os
homens são apenas 41,51%. Outro dado preocupante é a grande quantidade de
crianças vivendo em condições que não são as ideais. O tipo de ônus que mais
atinge as mulheres é o ônus excessivo com o aluguel, informação que não
surpreende devido ao fato que as mulheres possuem rendimentos menores que
o dos homens.
Ao se analisar a estrutura etária dos goianos em déficit, verifica-se que
mais de 36% dos goianos nestas condições têm entre 0 e 14 anos. Esse é um
dado preocupante uma vez que condições precárias de moradia dificultam o
pleno desenvolvimento infantil que pode ter consequências futuras tanto para
essas crianças, durante suas vidas adultas, quanto ao desenvolvimento do
estado como um todo. Dentre os tipos de déficit que mais atingem as crianças
em Goiás se destaca o adensamento, 47,42% de todas as pessoas que vivem
em domicílios demasiadamente adensados têm entre 0 e 14 anos.
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A baixa escolaridade é outra característica que se destaca entre a
população em condições precárias de moradia. 41,77% de todos os goianos
nessa condição não possuem o ensino fundamental completo. Esse é um dado
expectável uma vez que a baixa escolaridade dificulta sobremaneira a inserção
no mercado de trabalho e, por consequência, o acesso a recursos que viabilizam
uma moradia digna. Outro dado importante é o fato mencionado anteriormente
do destaque das crianças entre a população vivendo nestas condições.
Tabela 3: Frequência relativas das características socioeconômicas das pessoas em Déficit Habitacional, Goiás, 2020.
Característica Categoria Adensado Cômodo Improvisado Ônus Rústico Total
Raça/Cor
Parda 78,21% 72,89% 71,30% 71,88% 67,60% 71,70%
Branca 16,19% 14,98% 22,35% 22,63% 22,41% 22,44%
Preta 4,86% 10,11% 5,12% 4,51% 9,16% 4,86%
Amarela 0,56% 1,19% 1,01% 0,85% 0,59% 0,85%
Indígena 0,17% 0,71% 0,17% 0,10% 0,19% 0,12%
Não informado 0,01% 0,12% 0,04% 0,03% 0,05% 0,03%
Sexo Homem 47,05% 55,53% 45,22% 40,37% 46,49% 41,51%
Mulher 52,95% 44,47% 54,78% 59,63% 53,51% 58,49%
Faixa Etária
00 a 6 anos 18,17% 10,82% 13,14% 16,67% 9,28% 15,82%
7 a 14 anos 29,25% 14,63% 16,83% 21,15% 16,96% 20,48%
15 a 18 anos 10,56% 3,69% 7,20% 8,54% 8,34% 8,37%
19 a 24 anos 8,65% 6,78% 9,50% 10,37% 8,66% 10,13%
25 a 29 anos 6,50% 6,42% 7,02% 8,97% 5,30% 8,46%
30 a 39 anos 15,99% 12,49% 13,76% 15,63% 12,48% 15,21%
40 a 49 anos 7,58% 12,84% 11,00% 8,79% 11,57% 9,22%
50 a 59 anos 1,93% 13,67% 9,11% 4,63% 11,49% 5,56%
60 anos ou mais 1,37% 18,67% 12,44% 5,26% 15,91% 6,74%
Escolaridade
Fund. completo 6,34% 11,30% 8,66% 7,95% 10,23% 8,14%
Fund. incompleto 49,92% 46,02% 42,21% 41,04% 48,62% 41,77%
Médio completo 9,06% 8,68% 13,46% 14,80% 8,80% 14,18%
Médio incompleto 10,18% 6,90% 10,19% 11,21% 9,41% 10,95%
Superior completo 0,05% 0,00% 0,09% 0,08% 0,06% 0,08%
Superior incompleto 0,27% 0,36% 0,43% 1,51% 0,42% 1,28%
Não informado 24,18% 26,75% 24,96% 23,41% 22,45% 23,60%
Fonte: Ministério da Cidadania / CadÚnico.
Elaboração: Instituto Mauro Borges / Secretaria Geral da Governadoria.
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