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Dia de Campo: Palestra e Prática – Irrigação de Hortaliças – Junho de 2013
Microirrigação
Irrigação por gotejamento e microaspersão em hortaliças
Apresentação:
Horticultor amigo é gratificante ter a chance de dividir com você um pouco de meus
conhecimentos. Com este material, espero poder ajudá-lo a se direcionar melhor na aquisição de um
sistema de irrigação eficiente, que enquadre-se dentro de vosso perfil e possa ajudá-lo a diminuir os
riscos e incertezas na produção.
Deixo claro que este material deve ser somado a todo seu conhecimento prático, adquirido com
os “erros” e acertos desta longa estrada.
O mesmo foi confeccionado com muito carinho e objetivando esclarecer eventuais dúvidas
existentes e possibilitar o desenvolvimento crítico dos produtores já irrigantes.
Aproveite o material e sempre que possível faça uma visita à casa do produtor rural –
ESALQ/USP, sempre será muito bem vindo!
Luiz Fabiano Palaretti
1. O que é microirrigação
É um termo técnico utilizado para definir o método de irrigação localizada. Neste a aplicação
de água é feita em baixo volume (pequena quantidade) e alta freqüência (várias vezes), sempre
próximo ou dentro da zona radicular.
2. Quais os sistemas utilizados
Os principais representantes são a microaspersão e o gotejamento. No primeiro a água é
aplicada por um emissor, simulando uma pequena chuva, no segundo a água é aplicada gota a
gota.
3. Qual o mais recomendado para hortaliças
Não existe uma “receita de bolo”, o produtor deve visitar outras propriedades que utilizam os
dois sistemas, além de consultar um profissional habilitado para avaliar sua situação e ajudá-lo a
decidir quanto à escolha. A casa do produtor rural é um excelente parceiro neste tipo de decisão.
Tecnicamente algumas informações são importantes: a qualidade e quantidade de água e
energia disponível na propriedade.
4. Estes sistemas necessitam de muita pressão para funcionamento
Em se tratamento do gotejamento, não. No caso da microaspersão, as pressões requeridas
são consideradas de média necessidade, podendo em alguns casos alcançar as requeridas nos
sistemas de aspersão convencional (250 kPa).
5. Como a energia elétrica pode influenciar
A energia elétrica exige manutenções menos constantes que outras fontes de energia, além
de gerar menores impactos ambientais. O importante é observar a voltagem desta, e a qualidade
da rede fornecedora, bem como a potência disponível para uso na irrigação. Redes com
voltagens acima de 220V são preferenciais, com limitação de potência de motores elétricos de
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12,5 Cv para voltagens inferiores (110 V – monofásico). Esta característica confere aos motores
trifásicos mais potência maior eficiência do conjunto e menor energia residual.
Para efeitos de cobrança pode-se optar pela cobrança diferenciada para produtores irrigantes.
Estas são em função do horário do dia, época de utilização e disponibilidade de fornecimento.
Os descontos podem chegar a 80% e os horários normalmente abrangentes são das 06:00 –
17:00 e das 21:00 – 06:00 hrs e devem ser contratados junto a concessionária de energia
elétrica do estado. No caso de hortaliças a maior dificuldade está no fato de que se irrigadas em
excesso à noite, aumenta-se a possibilidade de infestação de doenças fúngicas nas áreas.
6. A quantidade de água utilizada é menor
Sem dúvida alguma sim. Porém para isso o sistema deve estar bem projetado e manejado. O
uso incorreto do sistema pode inverter esta situação.
Deve ficar claro que o “consumidor” de água é o alimento e não o sistema de irrigação. O que
técnicos e produtores podem fazer é trabalhar com sistemas mais eficientes, como o caso dos
que aplicam água localizadamente.
7. A qualidade de água é importante porque
Deve-se pensar que a maioria dos produtos hortícolas são consumidos “in natura”, ou seja,
sem preparo prévio para consumo. Assim sendo todo material que estiver contido na água de
irrigação irá para os produtos e consequentemente serão consumidos. Esta questão é muito
séria e exige responsabilidade de todos, uma vez que, envolve aspectos da segurança alimentar
e riscos à vida humana.
8. Como faço a análise da água
A amostra pode ser coletada por profissional responsável e enviada a um laboratório
certificado para realização das análises. A legislação que trata de assuntos relativos à qualidade
é a Portaria nº 2.914/2011 - Ministério da Saúde, que dispõe sobre os procedimentos de controle
e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.
9. Preciso pagar pelo uso da água
Nem sempre. Porém o direito de uso desta deve ser requerido. Chama-se OUTORGA.
Definida como o ato pelo qual o departamento responsável pelo uso dos recursos hídricos se
manifesta sobre a implantação de empreendimento, obras e serviços que interfiram com o
recurso hídrico superficial, obras de extração de águas subterrâneas e a derivação ou
lançamento com o uso de recursos hídricos.
No estado de São Paulo o órgão responsável pela concessão da outorga e cobrança é o
Departamento de Águas e Energia Elétrica – DAEE. Portaria n 717/96, Decreto n 41.258/96 e
Decreto n 50.667/2006. E na Federação a Agência Nacional de Águas (ANA).
10. A partir de qual volume captado eu devo solicitar outorga
Captações subterrâneas de vazão inferior a 5 m³ diários (5.000 L/dia) – Decreto n 32.955/91
– são isentos de outorga e cobrança pelo uso da água. A dificuldade está no fato de que esta
vazão para sistemas irrigados equivale a irrigação de 0,5 ha, para uma lâmina de 1 mm de água
(1 mm = 10 m³/ha). Links para consulta: www.daee.sp.gov.br – www.ana.gov.br – www.cetesb.sp.gov.br
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11. Quais as vantagens de uso dos sistemas localizados
Pontos de Vantagens Pontos de maior atenção
12. Como instalar meu sistema
Deve haver uma mudança de conceitos:
IRRIGAÇÃO É DIFERENTE DE “MOLHAÇÃO”
Devem-se procurar profissionais competentes e éticos para acompanhamento: em
instituições de pesquisa, revendas e órgãos públicos de extensão rural (casa agrícola, casa
do produtor rural, etc.);
Pontos a serem discutidos antes da aquisição/opção do sistema:
Disposição do sistema em campo: 1, 2 ou 3 linhas por canteiro?.
Como a lavra da terra é constante no cultivo de hortaliças, o solo (canteiro) fica
desestruturado continuamente, o que dificulta a formação de uma “faixa contínua” de
irrigação. Esta situação pode criar uma zona de déficit hídrico para as hortícolas
principalmente na fase inicial de desenvolvimento. Neste caso pode-se optar por
mais linhas de gotejador ou menor revolvimento do solo.
Devo abandonar meu sistema de irrigação atual?.
A substituição do sistema de irrigação deve ser feita gradativamente, para que todos
os envolvidos no seu manuseio possam se acostumar com as novidades.
Devo fazer análise de água (contaminação, disponibilidade de uso, etc.)?
Iniciar um projeto de irrigação por gotejamento sem análise de água, por menor que
este seja e,ou quão limpa for a água, é uma LOUCURA!. A qualidade e quantidade de
água pode inviabilizar todo o sistema de irrigação, e dependendo da situação gerar
ônus de multa na esfera econômica e crime na jurídica;
Devo comprar de quem?
Deve-se dar preferência a lojas especializadas em irrigação, dispostas a projetar o
sistema e assinar a responsabilidade técnica (ART) pelo mesmo. Respondendo
tecnicamente por todo o projeto, execução e acompanhamento.
Evitar as “promessas milagrosas” e as “gambiarras” sempre oferecidas com o intuito
de “baratear” os custos do sistema de irrigação;
Automatizar custa caro?
A mão de obra na agricultura é um dos insumos mais caros. Sempre que possível
deve-se automatizar o sistema, já que as chances de erros, por “esquecimento”, por
exemplo, diminuam bem.
Deixo claro que automação não é sinônomo de descaso, ou seja, ela não substitui o
“olhar clínico” do produtor.
13. Como posso economizar água?
O jeito mais fácil é reduzindo as perdas. As perdas podem ocorrer:
Antes da aplicação: Armazenamento inadequado de água (reservatórios sem
manutenção);
Benefícios
alcançados!
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Durante a aplicação: Vazamentos na tubulação de condução, emissores
danificados/entupidos, desequilíbrio na relação vazão x
pressão do sistema, etc.
Após a aplicação: Excesso de água aplicado causa a percolação (descida) da água
ao longo do perfil do solo, podendo inclusive carregar
poluentes para o lençol freático.
14. Como medir as perdas de água no campo?
Este procedimento é feito através da determinação da UNIFORMIDADE DE APLICAÇÃO DO
SISTEMA. O cálculo deste parâmetro deve ser feito por profissional habilitado, por outro lado,
o produtor pode, de forma simples, realizar algumas medidas em campo para que
diagnostique como está seu sistema. Faça o seguinte:
Avaliar cada setor separadamente;
Escolher pontos distintos e aleatórios (16 pontos);
Coleta de vazões (volume) em função de um tempo pré-determinado.
Após coleta, verificar a variação dos volumes coletados em relação ao volume médio
(soma dos volumes/16 pontos)
Figura 01: Detalhe do procedimento de amostragem de pontos de vazão e
tabela de grid gerada após a coleta.
Observe no quadro acima que o volume médio é de 23,58 ml porém temos gotejadores com
valores acima e abaixo deste. Os valores encontrados na posição 4-4 é de 16,44, indicando que na
última linha e no último gotejador há algum problema com o emissor, que provavelmente trata-se de
entupimento.
15. A uniformidade de aplicação está baixa, o que posso fazer?
Primeiramente deve-se evitar a entrada de partículas em suspensão (sujeiras) nas linhas de
irrigação. Para isso a utilização de filtros adequados a pressão e vazão do sistema devem ser
efetivos. Contacte sempre um profissional para ajuda nesta decisão.
Quem determina o tipo e a quantidade de filtros é a qualidade da água. Quanto mais suja
maior a exigência de filtragens com distintas finalidades. No mercado dispõem-se de uma infinidade
de filtros para uso na irrigação, e caso haja necessidade de utilizá-los conjuntamente deve-se
obedecer a sequencia de capacidade de retirada de partículas de maior diâmetro para o menor, para
tanto dispor os filtros da seguinte forma: hidrociclone > Areia > Tela/Disco, sendo estes dois últimos
normalmente utilizados como segurança.
Outro ponto observado é a necessidade de lavagem dos filtros. Semelhante ao filtro caseiro,
estes equipamentos possuem um núcleo filtrante, que deve ser lavado periodicamente, de forma
manual ou automatizada.
Não existe um período de tempo definido para a lavagem, deve-se fazer o controle manual,
via checagem da pressão de entrada e saída dos filtros (USE O MANÔMETRO). Quando um
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diferencial de pressão (entrada x saída) for superior ao estipulado em projeto, deve-se proceder a
lavagem do elemento filtrante.
16. Meu sistema está todo entupido, dá pra recuperar?
Infelizmente, dependendo do grau de entupimento é inviável a recuperação do sistema. Por
outro lado, podemos tentar a limpeza química do mesmo, através da injeção de produtos específicos,
na linha de irrigação. Para realização deste procedimento deve-se contar com auxílio profissional,
uma vez que estes produtos podem levar a “ÓBITO” quando utilizados sem conhecimento prévio.
Produtos indicados para limpeza de sistemas de irrigação
Hipoclorito de Sódio (Cloro):
Usualmente com 12% de cloro ativo. Trata-se de um produto extremamente volátil, que
impossibilita seu armazenamento por longos períodos de tempo.
A concentração indicada para limpeza de sistemas é sempre menor que 10 ppm (10 mg/litro
de água do PRINCIPIO ATIVO). Por exemplo: Hipoclorito de sódio (12% de cloro ativo) = 10/0,12 =
83 mg/litro de água;
O principal entrave é o binômio tempo de injeção x concentração: Deve-se optar por maiores
tempos de injeção e concentrações menores – PARCELE MAIS VEZES AS APLICAÇÕES (5 dias).
O efeito do principio ativo decresce com o aumento do pH, sendo ideal pH < 6,5. Em caso onde o pH
da água de diluição for maior, acrescentar ácido clorídrico e controlar o pH da mesma. A calibração
do pH da água de diluição deve ser feito antes da mistura do cloro. Deve-se monitorar o pH no último
gotejador da linha mais eqüidistante da área. Independente da diferença de nível.
Verificar junto com a alteração do pH o tempo de avanço da calda no sistema. O tempo de
avanço é o tempo transcorrido entre a injeção da calda acidificada e a alteração do pH na saída do
gotejador.
O sucesso da aplicação é a concentração de chegada no final do setor. Após a correção do
pH da água, proceder a diluição do cloro e verificar no último gotejador se a concentração que chega
é de 1 ppm. Esta verificação pode ser feita com kit teste de cloro ativo utilizado em piscinas. Esta
verificação não pode exceder 30 segundos após a coleta da calda no gotejador.
Não lavar o sistema após a última aplicação, realizando esta no dia seguinte à lavagem, com
os finais de linha e registro de limpeza abertos.
Peróxido de Hidrogênio (H2O2):
A concentração comercial para desinfecção de água é de 200 Volumes, sendo o máximo
previsto pela legislação Brasileira. Estes 200 volumes equivalem a uma concentração de 60,74% de
principio ativo. O fator de conversão é: 0,3037.
A concentração usual para limpeza de sistemas não deve ultrapassar 160 ppm (160 mg/litro
de água do PRINCIPIO ATIVO). Por exemplo: Peróxido de Hidrogênio – 200 vol. (200*0,3037 =
60,74% de princípio ativo) = 160 mg/litro / 0,6074 = 263 mg/litro de produto comercial.
Semelhante a limpeza com cloro, deve-se optar por maiores tempos de injeção e
concentrações menores – PARCELE MAIS VEZES AS APLICAÇÕES (5 dias), e somente lavar o
sistema no dia posterior a aplicação do produto com os finais de linha e registro de limpeza abertos.
Este produto é bem mais caro que os clorados.
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17. Recomendações finais
Consultar sempre uma instituição de pesquisa e extensão;
Verificar a disponibilidade e qualidade da energia elétrica local;
Evitar o uso de motores á diesel e gasolina;
Fazer análise de água antes de iniciar o projeto;
Manutenções constantes no sistema (limpeza manual e química);
Fazer checagens periódicas da pressão do sistema (cavaletes);
Ficar atento à barulhos estranhos no conjunto motobomba;
Solicitar ao órgão ambiental a outorga de uso da água para fins de irrigação;
Forte Abraço a todos, e bons frutos,
Prof. Dr. Luiz Fabiano Palaretti