diabruras saci: museu, memória, educação e patrimôniosecure site...
TRANSCRIPT
Diabruras do Saci: museu, memória, educação e patrimônio
Mário Chagas
Resumo
MuseoFogo, doutor em Ciências Sociais pela Univer- srdade do Estado do Rio de janeiro (UERJ). Atual- mente. é professor adjunto do rnestrado em Memó- ria Social e do Departamento de Processos e Estudos MuseoIÓgicos da Universidade do Rio de Janeiro (UN I-Rio) e coordenador tbcnico do Departamento de Museus e Centros Culturais do IPHAN.
Do coração de um museu que completa seus seten- t a anos de existência, o Museu Histbrico da Cidade do Rio de janeiro, o autor resgata urna "Perna do Moleque Saci". para falar de imaginário e memória social. Mais ainda. trata de uma existência que trans- cende a veracidade documental, e mesmo a
materialidade pura, apontando para uma relação inextrincavel entre patrimònio material e espiritual. ta l como diferentes aspectos de um mesmo patrimônio cultural. Em outras palavras. mais do que abordar a rnusealizaqáo da "Perna do Saci". o artigo tematiza a musealizaçáo da idéia do Saci, o que leva o autor ao encontro de Monteiro Lobato e seu mer- gulho na memória do personagem, bem como a dis- cussão mais ampla em torno da importaçáo do ter- mo inglês heritage education. Traduzido como "edu - cação patrimonial", seu transplante ignorou possi- bilidades de dihlogo em um primeiro momento: por outro lado. aponta o artigo que se acenam atual- mente tentativas e reconhecimentos de uma antro- pofagia inevitável.
I - A perna do Saci
Cravado iio coraçáo do Parqrie cia Cirladc, cercado píir rirvores e por uma coniuiiidacle
popiilar cliie nãci prira de sc movimeiitar e crcs-
çer, o Muscu Hisrorico da Cidade c10 Rio de Janeiro segue por irilia estrada qitc aparente-
mente o afasra da cidade. Mas a cidade teiiiia
em sc aproximar dele. Talito a cidade quanto
as árvores dci Parque são devoradoras. Alheio
5 s n-ifiltiplas redes dc sentido e ao caos rirbano,
o Museu da Cidade parece iim erice fancAstico
Iiabitando a floresta. A cidacle de qiic ele trata
é quase iima abstraçáo, é quase inexisr&ncia - c
s6 não 12 ínexistzncia conipleta porqiie ele mata
de afirniri-Ia c cfe dar-lhe iirii ctirpci material de rnen16ria; a cidadc dc que o Museii trata pare-
ce n2o ter ccinexão com a cidadc praticada e
cotidianamenzç vivida por seus habitnnrcs e usuiirios. Todavia, para alEm dessc jogo de afas.
tamenros e aproxiniações, é possível ccirnpre- ender que, assim como a. cidade cncatita e as-
susta, niarwilha c assombra, nferece armadi-
lhas e abrigos, assini tamls8n-i 6 o Museu, sobre-
tudo quando ele trata de apresentar uii-ia cida-
dc que riso se pode ver, que n5o se pode tocar e
que C tecida cnin as linhas da rncn16ria - agu-
lha invisível -, que atravessa coisas ç inzageris.
Como evitar a armadillia do Museu da Ci- dacie? Decisão: por hoje e apenas por hoje
não quero faIrir do Muscii Histbrico da Cida- de do Rio dç Janeiro, qire em 2004 comple-
tou 70 anos de existencia oficiar, e nem mes- mci da Cidndc do Rici de Janeiro, que em 2005 completará 440 anos. Quero falar cic nlg-unia
coisa qiie I5 se enccitlrra ocirlta, 110 coraq5n
Jociiti~eiital do Mirscii, ria intimidade dc iriii Iiigar ile rnernhria da cidade; quero Mar clc tiri-ia "Pcrtia do Muleciirc Saci".
Scgiindo alguns depoimentos, cuja veraci- dade rião E comprovada, existiria ali iriiia ficha
catalogtifica que daria conta do registro
i~~iiseogáfico de unia "Periia do Saci". Devo
dizer que, para alguns tknicos cspcci.il* C ~stas, o
assunto C morivo dc çonstrangiir-teiito e , para cititros, é niotivti de sorriso e blagiie. Em turno
da "Perna do Saci" havia até recentetnciite uni
ar mistdrio c iirn ccrco siiêncio, o que conrri-
buiir para anipliar a sria pedomançe dc curio-
sidade e parn robustecer a sira iiiirsculritiira
aiirritica. N5o tenho interesse, no presente
niclmento, ns comprovação oii ria negação da existêi~cia concrcra do reffiscrn dnciiniental da "Perna do Saci". Deixo csse assunto para in-
vestigadores interessadcis em provas docirmeii-
tais positivas. Para os objetivos a y tie me pro-
ponho, a si1pc3sição de sua existência e o faro
de iirn dia. algueni ter imaginado que o seu re-
gistro estaria ali nci nficleo docuniental do Mt~scu s5o suficierites. Síntese: meu interesse
est5 concentrado no iniagináriti, na merniiria social e rio debate que sc organiza en-i torno dci dcnominadci patsim6nio cultural (Abreu e
Chngas, 20003).
Assirri, admitida a suposiç50 anteriormente
indicada, C possível avançar um pouco mais. Algitii-ias questfies poclern, então, ser levanta-
das: aqiiela "Perna" seria a "Perna" (ou a repre-
scnta~ão da "Perna") quc n Saci tem ori a "Per- na" (011 a represei~taçiio da "Pertia") que ele
1150 tem! Casci aqiicla fosse a "Pernaii (OU a re-
prcscntaçh da "Peri-ia") que ri Saci não ~ c m , estaria ali iini iiidicio de qtrc o Saci pocleria rcr
tido cluas pcrtias; casci fosse a "Perna" (ou a rc- presentnçã~i da "Peri~a"') qiic « Saci tem, csta-
tia rili o siilnl de sim niortc, no papel de niole- que qtic vixPc pulai~dci. A rillisealizaçá» dri "Per-
ou oijln3laiir urn noydrrr! 'esua~duii r;p o:odr!
~103 'c~~eqci~ lod eprzripucis 0!3e2!lsanu! v ;!XS o alqos o~qnbu! urn - olnvd cipS ap op
-msg 0 ~EUJO~ op ~u~~adsan oeS!pa ep ~clndod
op5errZ!sap - ,,oyu?pelsg,, op 1!1~ed e 'n!lq~ '~161 ma 'anh 'ol~qo~ oqajuow ap ol~uor,
-ua or: IIE?~WFJ NU-r'ia~al ,,!~cs OF errraj,, ep
o~Sezqeasniir ep asa~»d!rl eu assamlu! O ;oj
-uos UIII CJU~U~IIF: ~xuíid iirn eluoii mano
-!ss~ ~~1n11r13 O!IIQ~~I!BEC~ op Ias ap opoirr
iun ouim serrr 'o-Seluasalcla~ crrrn oiiio~ nlu ep
-!p11331d11103 lieulaj,, r: opueiih 'lcxpel cym
cpu!e ripoiir ap 'iio 'qdrrre ~1cir1 rpulr: scip!~urrs ap apal eiun sy ssnxauns scldp~~iir lessed nrap
-od no irrt:sçed 3p1í~) 10~1 CIIIICX~ run riri rrrnrp?rrr
iiin ciirror, epiirnssr: p ,,emacI,, e npuctiI7 :solir
-laJ soano Irra 'tio iu~ru!x.o~dc as oíTm3 o a 03!u1
o opuenb as-anlcisa~ Id~3e~ atlbalom onyi cuia~,, ep ri-Sczqcssriur qsd o~scido~d oxipe~cd alua2
-de O .ol!irr o epueruap od~orr o s odlori. o cp -u;ei-rIap o1~1r1 Q *~3!1!rr1 apcp!lua e-riu?~aja~ e
uras caaldrrrti~ ysa o-u t,emaa,, r: sciu ! (r,~umc~,,
errrn souarrr nlad no) odms irrn epumap e3!l!rrr
apepyua c 'e~iez!lcacnm 13s eled 'cl?,-iucrrr ~snh
-1enh sa .!seç op t:!?p! ep o-Sez!le,?sn~~~ F eeqd
-UI! ir!=ieç cip eruad,, ep oc3ezqeasnrn e anb 1e3
-UEAF: ossod 'cin3 1.113 OJJO~U! EU as ka~iss~
-çajuaIapp sr:l!aur:m ap scçsa~iixa anb ep
-u!t: '1~1nqn3 O!UQUI!JIC~ 0 ebs lenb 'es~os crrr
-saiu a errrii ap solsaclse a supnrrr ssjualyip nys ~cnlydsa o a lepalerrr o?u(jiul~led (i anh epu!e
a !~E!J~IE~U O!U~~~I!IIC~ op CI-X~UO~ C a rrtatiro e anb serrrsartr sr; 0:s ~cnj!l!dsa o!u?ui~ned op o~x -31103 e3 rr1ap10 e anb ap oesuaa~drrro3 opcn
-31 nos'ewu!dq ap ogxausl FU OP~JO~UV
'(Lbl 'd '~L61) WNKll3"f~ SE"
-!aucrri serip nti es<aldxn seiti 'CS!Q~ erirsarir e a erun c-s oporri ssssp emp! P a og~ua~sa
-olmo clos em 'ri~nq?lje uin ynç elo ep!prIa -a~cimr>ri lepuysqns c:rirssrrr e s erzrri ocs cç
-unlxn ejsugjsqns i? 3 SIUUSIISCI Plriuyçclns c:
.idscs!or, sep ocxãuar, E a wapo ri anb eiirsaiu
e sw?p! sep ogxmo~" E 3 iuap-~o v,, :(TIA 053
e~sodo~d "e3!lg) esnu!dq opunss~ .~enjplcIsa
o a ~~!mlcii~ i> amua 053~131 F: IoY1aw lapuaa~d
-11103 CJR~ '~s3nSn31od 3~111 3p oyly 'BSOI~~S~ ap
-cil!ur cip oy3:z!le~ e e~ed langsuad
-s~pul olnq~~lr: rrrn ela 'e!~?lerrr ep ezrilrilcii I: X"J lcnh craç -1cyIcrrr ocllo3 rrrn ap 1x13
-31~1 'sout:iunrl sop!su~s so lczqlq!srras a op1l
no e~y21crr1 apepraira ala elas '!~cs anbqoli~
O -0q1"1 op lErnlr!w O~IO~, op r: elas letib
'~)33~3nb c13110 erun la3sa.n zej ,,!seS op eu
.sepcrlleZ1r!2 ge a sos
íip ciiissttr epuysixa c oystinh rtia ysa anb o
no semad senp aaal~rieç o no :oxcipe~ed alital
-ed~ iwri 'O~UEIJO~ 'a~dofd t,pe~ anbaloru op eu
Sacy anda no mundo pra fazê trcrmpolinage E o Si6 seo imperado Pra f& pol it icage!
-iC3??~ 0 olny op o13yjald op sequl] sm!aru!ld
sv -epeclex uisq a criirrn apepran mrrn ay 0-5
-ez!je>s!rD F: enel!.\a a sazoa ap apk?p!riqd!llnrrr
e e~ed serpaiq eqe 13eç anbalorir op oruol ma
olp?nbu! 0 .aur: a miuny ap asop coq eled so5 -cdsa eyqc epu!i: ;i sn!8?Sepad a eylyod o@ orrros ss-e~~rulqe 'e3gpua;ri oruos leurrye as
~alanb 3p 32~101 'oleqos ap ci~SeZ!lsanu! v ;!xç op wn8y erI sop
-e~!dsu! sorlleqea uro3 sws!ue soslaa!p ure~~d
-!s!ued ~cnh op oç~nriuori run na~oauold qnod 021s 3p upulsg O ICIIJ(I[ 0 ']e!sos esinbsad ap (11
-uarrr!Aoru sssap oluamelqopssp rzrn owo3
.sclnqeip ~eri!~~~d 3 ~eSrr~p rip en~1ru3 'saj -uaociap so opirnznc 91ibn]orri Q 'ieln~ eu02 f:
ol!nsun3n3 .wpqlSe sa~iepspdo~d scrianh -acl iua no sepuazq sriu çopcas~ditia sonclxa
-xa ap SO~BIM ap er21xun snb 'oliru op lua9 +C) e 'urnurus run 'rusaerussuos sela 'rue.le
-IRA se~sndsn~ scp rus8eploq~ e a olilsa o as
.se~siped sn~!3x sp InpnlaJqos 'a ow ap op -L?JSg Qp 's!EJag SFL1.W 2p SE1185 Ult?ISACiY3
.elnplom epp3y a e3 -!uq Fiurnu 01-~xy ap oc5uam! e ruas 'sarnel~~n
sms a o2iljru od~ori nas o %!e~uarrreiiodrrro2
SE~!IS?J~~~EIE~ sens ap oe5e3ylluap! E as -e~em3old 'alue~nru a opqq iua2euos~ad a1 - anbep opelasyqtirrr cilellai l!nl!lsrroD ac-~ari - snq 'o! pãur~alir! nas IOJ -apri~]durr: ~nrssaldxa
ap iira3epr1os errrn nanorrrold peç op IZ!J~UI
-aru ep omol rwa ~slnbsad e 's!cnlxa~ sojuarrir
-odap ap sails!;la~ a so!~guo!lsanb opueu!qruo~ 'sopep ap ela103 ap se3r~!ma~3 scri!usp ap as -opuszqpn -1ePos ey?ur;iit~ leurrirouap epapod
as afoy anb op odrue3 ou a ~qndod oyu?Z~tu!
Perêrê: resultado de um iquérirci, publicado em 19 18, sao, nesse sentido, bastante explicitas:
Para vcnrilar uma creação puramente suba jctiva corno csta do Sacy a forma dc inqcicrito 6 a mais razoavel. Evira quc um s6 srijeita tamc conra do assunipto, e im-
ponha maçadoramente a sira idcia em es- tiradas consideraçcies eruditas, ondc o qiic mais procura não é revelar o Sacy, scn8o pavonear a si proprio com grande riqueza dc protiomes bem collocaclos. Assim, em inqucriro, rodos falani, o estylo varia, o píttorcsco augmenra; e concorrem sobre- tudo os não profissionais das letra^.^
Textos em prosa, depoimentos orais, ver- SCJS, cantigas, desenhos, aquareIas, medalhões, esculturas, anúncios comerciais e ou trus içens serviam pata dar corpo c sentido i entidade.
O livro priblicado por Monteiro Lcibato, por
seir tiirno, 6 mais um fragmento desse mcsmo corpo rnitico; é mais uni aspecto ou um atri-
buto da substância Saci, considerada aqui
como patrim8nio cultural. A iniciativa do au-
tor de prolnover a atualização e o registro da potente memhria do Saci tem correspondtn- cia coni o qiic na atualidade se denomina de Registro do Patrimfinio Irnateria], ofiçialrnen- te ii~stituído por meio do Decreto 3.55 1, de 4 de agosto de 2000.
E importante lembrar que em 1917 o mtin-
do estava em guerra; o Brasil das belas letras nlliava para a Eiiropa e se expressava em fran-
cés, e os modeniistas ainda ensaiavam os seus
primeiros passos. A rnoIdura conservadora do cliiadro cultural da @oca realça o carftter pio-
neiro, social e moderno, aIém do i~icido acento
poIítico, pedaghgico e nacionalista, do inqué-
rito coi~duzido por Lobato, que no Intróitu do livro anteriorinei~te referido afirmava:
.çaQsuaruTp seano sens qciqe 'O~UFI
-ria orr 'rrias 'ojnrr op eri!l!yod a e3pp '1331398
-i;.pad o~s_srrau~!p e Ezqenle 3 rn~!~sa~ 'oil?ls!r5r)iu
ap sou^ emP3 ap srodap 'epexmode elossaj
-01d ep olep~ O .ii33~~p!lod,, urazej 'ogSr)u ep sn!lyepueur ap o%es o oprrednrio 'anb sajanb~ as-e~eduro3 'sose~ soj~a:, ura 'a ,,a9eu!loduren,,
zq 313 I~z?ue3~owap ala 'selnlqe!p zej
ala 'eSuep ala 'eqiiioz a13 'salelene sopy rrral
!=iI?S O :OpOUl 013n0 3a .?3&Ç OP R3J3JW ZipBPp
-uã t: uro2 0~5e~sdo : alsjal as anb ou sapEpy1q
-1ssod ap 0du.1~3 OPE!~~UIR wn rilqxa anb rual33
-ns yq 3p opoqe3 oip~ op ~Senos~xl OE Inq -!ae ela anb elLalaqiiioz moa e a epejuasode
e~ossqo~d ep oqal osoprlap O +oJeqq ap 01
-!~?nhur OF: OPBIO~~O~U! qne RP 018]310 '~33~
ep o~si~!paur e134 -!~F:s op C~LU O 'SOY~~SUO~
lep ~anb uranb um03 'e~au ens E eled al!rusuen
"1 ~Z-L~T 'd '5861) ~u~!~!me!uaq elopelleu
RuIn oruori '~~ossqo~d aluauadx~ a eillaa v iaZeri!j!lod azej eq
gpwadru! oas g!ç o 3 a5err!qodtiie~ ~ej ud opunur ou epur: iiries
(68 'd "66 ó1 "W0-I) a~iradal ap nopueur a sepeyle2~e2 no2o~old 'oyl
-!q!Jlsa uzn nexnd 'npuasuor, opoqe3 O +eriral o alqos çoslan sun assazy 0130q~3 D 3nb n!p #ad erileuorrr o 'eslaauori EU opessala-JuI *:rie~
o ruon opeprnri 01~nu1 asseiiio3 ~ope~adrr11 o anb nopuauro3a~ opoqe3 O .ouaxaqos op ~Suasald
OPFA31 !O] L~3a~d I? OP!1;iUT 'oI~~u~%x~s 013
-oqeri oqlan uIn '9~1 ap apepr3 e 11 01p;ij iuoa
~ope~adm! op ej!s!r\ ep oelserio lod anb e3!p
.u! wossajo~d e 'olelal nas iug .e]au Ens ~od 03
-!13sa ojxal ura opells!2al 'apep! ap soui: emaç
-sas ruori. 6,~~!~ ap sanly Emag eluo~uv -EIS ei
emaj,, e anh 'oluaruour urn lod 'as-e~!urp~ Ilel
-uarunsop 01ls!42~ op asal?d!il ep rrqe wed
ens ~p asalqd!r1 v -aJ;ijal as "13 anb E ~:3!1!w
apep!>ua iip ol!alaqrrroz lalyL.3 orusaw o lep -ler18 asaled epezgeasnru ilemaj,, v .Ttasnm
o~S~urUsur~ E eyesap OJ!~UR[ ap ci!~ op ap
-EP!~ t:p ori!~ys!~ riasnw op sa3!jyZole~eri sxy3lj scp o>unFuos ou ,zuJaj,, essa aqos le1uaurn~op al3s@al mn ãp e!riu?js!xa
-epourairi crrrlsçll~qn~saxs ap '+I 6 I ap olsoav ap o~~s!ii!s olad cuaq" 5onorl sp s~uaii~ru~sd o~ssss epuo!psrI t! 'oiSeu -!3vrui cssoir ars 'olusrrroui rrrn ~od 'op~diiro~ -~n~u! salalzell ~ild seInssaaeJ1 sej!nrrx ap ayi? -oprad sysq jselas ollpuag -sonod sop leps -n31 o snh ounzue s!eur oipsnb eled o-Sunlli?
essotr e xscysap s 'o~o~crti ~aulrijul rio 'np -unur olairi alsejcilonle scueuras sepen J~J
.olapcsad op sori-re!~q]e semlqe!p sens tu03
ii!rin n 'Ases o n13ns ripri~nb !o3 -nrlln3u'ua irrn .a~n!l-ci~53as r; scriiurcBa~a~ sop an5ues e!n
os erlloj erun qrqc E asselnoje as luana -ap -rre~2' ura Jejeur ap sopes!~i~p sopoui sieur sop e!~a;Èenlas e a asue!xi(qds~ z~3 op eilsn2ue e %aznqo,p SoJnixsa so 'so!pupu? sop OEJ
-e13 o ~3 lod F?J~)s~>J *naQod& OU 'eisdolna eye5!me3 v 16 1 ap OUUE o leu1 e~eSatuo3
Por esse relaro, firma-se a compreensão de qiie existe a possibilidade de rima conversa re- novada entre o patrimfinio material e o cspiri-
tua[. Essa cornpreens~cr abre caminlios para priiticas educacionais ainda nno previstas.
Voltando, mais irma vez, i "Perna" musea-
lizada do Saci e enfrentando a qirestão: O que fazer com esse fragmento do corpo do mito! Em primeiro lugar, eu gostaria de descartar t d a
e qualquer sirgescão de descartar esse bem cul- rural rnusealizado; em segundo lugar, eu gosta-
r ia de abandonar o caminho fscil que seria o de se enredar na crítica estéril da documenta*
ç5o museográfica feita por geraç8es anteriores; e, finalmente, em terceiro lugar, eu gostaria de sugerir que se acolhesse o caráter zombeteiro da "Perna do Saci" e que, a partir dai, se bus-
casse desenvolver experiencias museais e edii- cacionais criativas e inovadoras.
Em outras palavras, a minha siigestão 6 qiie
a "Perna do Saci" - independentemente da coniprova~ão de sua existência musealizada -, seja utiIizada çomo recurso educativo, como
objeto criador e gerador de rnúlriplas experiên-
cias. Para isso, scria nccess;írio reconhecer que esse objeto - fração do corpo mítico - rem o pocicr de condei~snr diferei~tcs histórias. Poder-
se-ia denominar essas experiencias e práticas sociais dc "edilcaçáo patrimonial"!
A complexidade do tema e a paix5o que ele aciona cxigcm abordagem cautelosa. Im- porta reconhecer, inicialiliente, que nos últi-
mos vinrc anos consagrou-se no meio muse- olhgico brasileiro, atii~gindci rntnbém alprins
iniiseiis poxtirgiieses (Diiarte, 19931, a expres-
s a ~ : "eilricaç:io patriiiionial". Trara-se, como
sc sabe, de uina tradiiçgo dri expressão inglesa
Iwrt~age ccdz~catinri.
Essa expressáo, que, em cerro sentido,
consritui um campo de traballio, de reflexão e aç5o e, çomo ta!, pode abrigar rendgncias e oricntaçcies educacionais diversas, divergentes
e até ccinficantcs, essa expressáo - insisto no
termo - estabeleceu-se no Brasil com o desejo
de se constituir em marco zero, eni gesto
inaugural de uma rnetodologia, de uma prática
e de uma reflexão vinciiladas ao campo do patrimònio cultural. O marco zero adotado foi: em termos temporais, o ann de 1983; em termos
espaciais, a Cidade de Petrbpolis; em termos
instituçionais, o Museir Imperial (Horta er: al.,
2999). Assim, tiidas as práticas e reflexões
anteriores a esse marco zero foram desau- torizadas como prriticas constituintes do campo
da educaçao patrimonial.
Em outras palavras: 0 esforço de fixação do
marco zero da educação patrimcjnial no Brasil,
como tima nietodologia de sabor inglês,
pretender], dc modo consciente o u
inconsciente, descartar as inúItiplas
experiências anteriores que sc dçsenvolveram
no campo da educação patrimonial.'
O transplante da heritage edmation para o
Rrasil não tevoit em conta que a antropofagia
não é uma exclusividade brasileira. Os brasileiros não são os únicos anrropcifagos do riiundo. A inteligência, a criarividade, a
inventividade, a inúsica, 0 esporte, a arte, ou,
ein duas palavras, a ciiltirra brasileira tanibén-i
teni sido antropofagizadn c ate cariibalizada,
ainda qiie os ritos e gestos scjam diferentes.
O traiisplancc da Jieritqe cduçatim para o Brasil tiáo levou em conta os trabalhos de PauIo
Freirc, alguns deles adotados corno base teiirica dn cIiaiiiada Nova Museolcigia, desde ns anos
70 Jci séculci XX (Freire, 1992). Veja-se a esse
e IjznpaJ ap ea!leluaj epq .o!q>!llal assau
o3n.í mri ogs:, seslaA!p se!=lolopo~aru a se!riuap
sua3 'sa~3e~uarl0 .sop!juas ap se~iicIs!p a sal5
-epoZau 'so~!suy e~ed ollaqr: krp7y!l Irra o!ly -ylal 'o!ly~uo3 cw !o3!j!sed ? o~u s ol!nbuca 051.1 IB!UOI~~!D~~ ogSe3np3 ep odrrreri 0
.sa~5eny!u2!s sem11
irrori epel!S~n=lar opuas ysa e.xi2e a epelonap !oj
le!uoruyed 055miipa e :~riz!p rua ols!sul .opg
-uas rutlquau zq OFU yf IE!UOIU!IIC~ OFSB~R~S e eled nlaz o31~rn uin rip EX?~! e :oFsnpuci3 *o]du~e odrrre=i acsap amd mazq - (p!rawtu!
3 ~C!.I~?EIEI) pn11n3 o!rrqriiraed u 1rro3 s!epos
sodii~U a sonpyiprr! ap o~Selal E ~pglecl ap ci~
-uod urrrori merrrol anb mçsa se2ggld a sa~xaux
- scionti soluel a !J~ZE-J alaq!S 's~13lc~ 13y1s3
'1xr~qe3 A]eSey/y 'undsil~ aç!uaa 'ele;i'a~ c!~AJ
'rexralv elaA ~od sep!n]o~uasap sen11~3npa se3
-pyd 3 saQxaUa1 se 'op!mas assaN -cpez!3cjcid
-ouue lcij ~c!uorrr!~~ed o:.Swripa ciessa~rl
-xa v .ocSe a oexagal ap do~j/~qe~~ ap odirrcs
orrro3 serrr 'ep7olopo~ãur nrrro2 oeu as-ncSssuciri
1 'j!%lfl OU 3+il018~~tl03 ,~~E~uuIII€~~E~ 0~5~3
-ripa,, ciyssa~dxa e 'soue ajrr!h sriurpl!~ so~
+soljnci SOSUE~ 3 orrnl& eupsr13 'somc~
eliion eqaxraJ eq?C) e!-rem '»~~11o~q lnx 'od
-rrre3 '0 euey 'o5~errre-~ epueuq '11~33s 0!3j1
-nem 'oissny es!plcA (leay cui8a.d iso~~an3ul
scijues stip 'epuelo~ ap !nf> Y)I]ICNYJ "13
11s~ 'o~lo~ puU1~ ap sorlIeclrfl so elap!suorisap
'so~!j!riadsa s!errr Ias sc~rrr~asl~ih as 'a al~y olnca "ci~r!d mnbo~ 'e~!anl!ç ep as!N '()I
-!aqx dxe~ 'arhay cimql!~ 'e~yãx!a~ n!quv 'ap~lpuv a17 03ucq o~a~ 031~'!lpo>] 'apz~puv ap u!~gw 'osn~wq onclsng ap soqleqell so L:~~P!SUC~SS~~ IR!UO~II!I~ECL ci!St?3np3 3p OJELU
-19 3ssg -SOJ~~I!SCJ~ s3~ope3np3 3 SOJC)S~Y 'so3
-0p31s~1 '~0;301?!30~ 4sci301c,ldo~r~e 'so3cqciasiiiu
sti ~103 I!II?J aluaurla~!ssod a lanjssnd
oSopp rrrn 3p OGUI rl!lqe leiuour!lml íi:Sc2npa e 'uoyn~~zpa aUnpaii ep el!aplaq lazi:j as ov
-arr!JFp, ap ssii91i~ ap xuuaiu!odap sop ~y~ed e a:!ay O~IIEJ
ap eqo t: ~md sopcz!l!q!çuas rlrclnj sol!al!sely snasnru ap siciríirssyold sun3lv '(6~61 'au~n~) jr)ossxl íi~Serri~oj ens e el~d 31yq
ciln~:~~ ap ]E~!PEJ o~~a~~ç~ad op e!riuy~~cidrrr!
e arqos SU!IF:A SP san9n~ ap so~uaru!odap
solairrvu! so rrr?qruel as-efa~ .eSueq ~u sope3!1qnd ' 3 2661 'UEU"I~SSBA 3 h!?@
san9e~ k:suyajo> ~p saruiiloh qop so ol!adç3~
Marcia Estellita Lins - criação e ao novo, à eclosão de valores que
educação patrimonial a uiiia única mctodologia
também pode ser lida como tentariva de domí-
nio hegemônico, conrxole e eIiminação de di- ferenças. Conclirsão: a denominada educação
patrimonial não é por si só emancipadora ori
repressora, fértil oii estéril, transforn~adora ou conservadora7.
Para alem da ediicaçãci patriiiioni al, ínte - rcssa pensar a educação camci alguma coisa que não se faz sem se tcr ein conta tini deter- minado patrimbnio cultiiral e determinados
aspectos da niemhria social; para além da educaç;*ia patrimonial, interessa compseen- dcr a educação como pratica social aberta 5
podem nos habilitar para a alegria e a emo- ção de Iidar com as diferenqas.
O ponto de partida para rcflexfies e práticas
inovadoras no campo da educação e dos mu-
seiis bem pode ser a "Perna do Saci". A partir
desse fragmento de corpo iiiítico muito pode ser feito, pois o novo nzo esta aprisionado nas coisas ou imagens e não tem domicílio fixo.
Todavia o novo pode eclodir e explodir a partir
da relação que formos capazes dc manter com as coisas ou imagens. Imagens e coisas tam-
bém nos oll~arn, nos ensinam, nos çondicionam e exercem sobre nos o seu poder de afetar e
serem afetadas.
Falei sobre a " Perna do Saci", mas poderia
ter falado scihrc a roupa da Bernúncia - ente
devorador de homens e mulheres c que reduz
tudo a iiina cíipia dc si mesmo -, poderia falar
sobre a farda de Dcodoro da Fonseca, sobre o
rnanto do Imperador D. Pedro IJ, sobre as Bo- tas do Gigante do Museu Júlio de CastiIhos, sobre o vestido cIe Msria &irlita, sobre o revol- ver de Caxias c muito mais. Em todos os casos,
115 um corpo liiateria1 e um sencido (ou corpo) imaterial que lhe confere sentido e desafia as
nossas práticas cotidianas.
Notas
I . Disprinível eni wwwflittp/cnntoahertri. org.bt>.
2. Em 1918. Monteiro Lohatn publicoii o Iivrn O Sacy Pcrcrê: rcsultndo de uni niyuénta. s,?u Rulo: SecçKo dc Obras do Estado de Srio Riilo.
3. R e p r d ~ ~ i ~ i s fortigráficas dc algirinas nhras que partici- pat~iiii desse conciirso ftirarn inclriiclas iio livro Sw-Per?r? rariltarlri de um i~yuhito.
4. Cf. Preficio. Lt;haro, 1993.
5 . Ser5 a Dona Rcnta?
6. Uma rápida conferencia da biblicigmfia apresentada no GEL~U 13ríslct~ de Educuçíui Puhinumuil (HnrL1 et al., 1999) é siificientc para comprovar qiie a prtduç5o dc ctinlieci- niento e práticas anteririres nrlo furam Icvadas em consi- dcraçáci.
7. Inspiro-me eni texto dc Mvrian Scpúlvcd;i dos Santos (193).
Refercncias bibliográficas
ARREU, Regina; CHAGAS, Mário (orgs.) Memrírirr e pratlimiiiiio: ensaios ccintcnipcir5netic. Riri Jc Janei- ro: D P M , 2003.
.4ZEVEIX1, Carrncii Lucia dc et aI. Um duendc Iobatianci. In: LOBATO, Monteirri. O S u q Perert7: resitltado de um ínqi16ritci. Rio de Janeiro: Gráfica ]R, 1998.
BARROSO, Gusravci. lntroliuçülin b rtcnicn de miistws. Rio dc Jancirti: Gráfica Olíiiipica, 195 1.
BARY, Marie-Odile; WASÇERMAN, E (orgs.) V q ~ s : une antholo~ie tle Ia n~itivelle rnus6ciIo~~e. Rris: Edití(~ns W-MNES, 1992, v. 1; 1994, i,. 2.
BENJAMIN, Wnltcr. Obra5 ercnIliirlo< I: magia c técnica, anc c politica. Sfio Parilo: Brasilienx, 1985.
BRUNO, Maria Crisrina Oliveira. A rniisenlogia como iimi. pedagogia p:ir;i r i p;itrimliniri. C r i ~ i c u ~ ~ 8 h- trus, Porto Alck~c, n. 31, p. 87-97, 2 0 0 2 .
CHAGAS, M5r1o. Mr<.icríIk~. Rio dc Jancirri: JC cditrrr:~, 1496.
CHAGAS, Miria; SANTOS, Mysi;in Scpúlvcd;~ d ( ~ . A vida social e prilItica dos objetos de irm miiseu. In: Amis rlo Musw Hkr6ncn NacimiaE. Rio de Janeiro, ir. 34, p. 195-220, 2002.
DELEUTE, Gilles. Esfivisa c os sipos. Prirtci: RCs, 1970.
DUARTE, Ana. Educnçfio [inrnmmiwl. guia para profes. srircs, cdiicadnrcs e míinitores de misseiis e tempos livrcs. Liqhia: Texto, 1993.
ESPINOSA, Baruch. Ética. In: Os pensndr)res, v. XVII. S5o Paulo: Victor Civita, 197 3.
FREIRE, Paulo. L6dticatior1, pratique de Ia liberte (197 1). In: BARY, Maric-Odilc; WASSERMAN, E (orgs.) V n p s : tine anth(i1r~ic dc Ia nouvcllc rniiiéologic. Paris: Éditions W-MNES, 1942. v. 1.
HORTA, Maria de Lourde~ I'arrciras ct al. GLIUI AAXICO de educa@) :iu,~atri~iiriniuI. BrasíIia: IPHAN, 1999.
LOEATO, Monteiro. O S r r q PmrC resiiltadt~ de um in- qiií-rito. Rio de Janeiro: Grifica JB, 1998.
REAL, Regina. Rrnfimù7: rniiscri r educação. Rio de Janei- ro: MECNNBA, 1969.
SANTOS, Magaly de Oliveira Cabrnl. Liçm d a cckm (uu crmtcrso de ohrris): atravts de iima metodologia baseada na educaçáo patrini(inia1. Uisscrtaç:Ío de niestrado eni Ediicaçári, Dcpnrtnnicnto de Educa- @o, PUÇ-ho, 1997.
SANTOS, Maria Célia Teixcira Moura. Prricrsso museo!bfiico e educação: constniindrr uni niuscii di- dlirico+coniunitário. Cndcriios de Socirim~~scologia. Lisboa: ULHT/Centro de Estiidos de Socio- rnusctilogia, n. 1, 1996.
SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. O pesadelo da amné- sia coletiva: um cstudri sobre os cnnceiros de me- míiria, tradiçio e traços do passado. Revista B ~ l u i - leir~t ck C~itncias Sociais, Rio de Janeiro, n. 23, p. 70- 84, 1993.
SILVEIRA, Nrsc da (si~pcrv.) O niundri das inwgns. Rio dc Jnncirti: Musçu dç Imagcns Jo Inconscicntc, [s.d.].
TRIGUEIROS, E dos Santos. Mtdsm e dilcaçüo. Rio dc Janeiro: IsmKos Pongetri, 1958.
VARINE, Hiigues de. Entrevista. In: Museus nri ntundo. R~CI de Janeiro: Salvat Editora do Brasil, 1979.
. A respeito 113 mesa+redonda cie Santiagci. In: A R A Ú ~ O , Marcclci Mattos; BRUNO, Maria Cristina Oliveira (rirgs.) A ~ l r í k dr) j?erurmenrri miaeolí&i nirn~q~orawo: docunientos c dcpoirneii- ~17s. 550 Pil111o: CnmitC Rrasilciro do Tconi, p. 17- 19, 1995.