diálogo freire e steiner : a educação para a liberdade
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Educação e Liberdade – Prof. Dr. Jonas Bach Jr (Unicamp)
educação para a liberdade
diálogo entre
Paulo Freire
e Rudolf Steiner
Prof. Dr. Jonas Bach Jr (Unicamp)
IDW – Instituto de Desenvolvimento Waldorf – São Paulo 03 de outubro de 2015
Educação e Liberdade – Prof. Dr. Jonas Bach Jr (Unicamp)
Paulo Freire (1921-1997)
Brasil
Polêmico e audacioso Humanista
Teísta Proposta de reforma social Por volta dos 40 anos: exílio
Filosofia da educação como base Liberdade e educação
Rudolf Steiner (1861-1925) Áustria
Polêmico e audacioso
Humanista Teísta
Proposta de reforma social Por volta dos 40 anos: exílio
Filosofia da educação como base Liberdade e educação
Educação e Liberdade – Prof. Dr. Jonas Bach Jr (Unicamp)
Áreas práticas de aplicação do pensamento de Steiner
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PEDAGOGIA WALDORF
Fundação da primeira Escola Waldorf: 1919, em Stuttgart (Alemanha)
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Filosofia da educação de Steiner
Schiller – A Educação Estética do Homem Schelling – A Essência da Liberdade Humana Fichte – O enigma do Eu (individualidade) Goethe – Método científico fenomenológico
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Liberdade em Steiner
aprender
a ser o centro
Individualismo ético
Autoeducação dos educadores
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Liberdade em Steiner
Desenvolvimento da individualidade
Evolução da consciência e o individualismo ético
Liberdade do indivíduo e Trimembração do Organismo Social
O papel do indivíduo na transformação social
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Filosofia da educação Freire
Existencialismo: Emmanuel Mounier Karl Theodor Jaspers
Fenomenologia: Edmund Husserl Idealismo: Georg Wilhelm Friedrich Hegel Materialismo-dialético: Karl Marx
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Libertação em Freire
aprender
a superar o centro
Centro: opressão X Periferia: oprimido
Educação libertadora
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A ideia de Liberdade em Freire
• Liberdade sócio-ontológica
• Conscientização: consciência crítica + ação transformadora
• Cointencionalidade e dialogicidade
• Educação libertadora
• Dimensões da opressão
• Liberdade social e o papel do indivíduo
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Professores Waldorf (pesquisa empírica)
• Desenvolvimento integral trimembrado
• Incompletude do autoconhecimento
• Consumismo e sensorialismo como estorvos
• Sem menção aos fundamentos epistemológicos da PW, à questão da autoeducação do educador.
• Relatos não exploram questão da opressão e o papel da educação em relação à mesma.
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Diálogo entre Freire e Steiner
A complementaridade entre liberdade individual e social
Individualidade e opressão: A Filosofia da Liberdade como filosofia social
superação do aspecto antissocial do individualismo
complementaridade: o conhecimento do outro e o autoconhecimento
Educação e Liberdade – Prof. Dr. Jonas Bach Jr (Unicamp)
Diálogo entre Freire e Steiner
problematização da opressão nas relações sociais
dinamização da autoeducação do docente tendo como fundamento
a criticidade e a consciência intuitiva, para uma construção intersubjetiva libertadora com os educandos
complementaridade entre a ideia
de individualidade (Steiner) e a luta pela libertação social (Freire)
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Diálogo entre Freire e Steiner
um diálogo possível orienta-se a partir de uma visão ampliada sobre a
teoria dos dois autores
a educação como processo maiêutico é o ponto de maior aproximação entre ambos os autores
a problematização do oprimido nas discussões em torno de uma
educação para a liberdade na Pedagogia Waldorf
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Diálogo entre Freire e Steiner
Pedagogia Waldorf Crítica: conexão à sua própria base
epistemológica, enriquecida com a potencialidade do debate freireano sobre a educação
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Diálogo entre Freire e Steiner
“ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”
“não me interessa o que todos fazem, mas sim o que eu devo fazer em determinada situação”
Educação e Liberdade – Prof. Dr. Jonas Bach Jr (Unicamp)
Ambas as perspectivas apresentam-se em oposição, mas poderiam ser
vistas como complementares uma da outra. Esta polaridade
complementar teria em comum a superação da desumanidade
(opressão) e a transformação social, estabelecendo a relação da
potencialidade de mudança a partir de dois estados existenciais: o
individual e o conjunto. O que se conquista sozinho e o que se conquista
junto formam a tensão entres as considerações opostas dos dois autores.
Em Steiner (2000, p.112) a sentença “não me interessa o que todos fazem,
mas sim o que eu devo fazer em determinada situação” exige uma
evolução da consciência individual para alcançar o que é digno e
autêntico para se denominar de individualidade e outorgar a si o seu
campo de ação. Em Freire (1977, p.52) a sentença “ninguém liberta
ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em
comunhão” exige a condição de solidariedade para desafios que sozinhos
ou apartados, os seres humanos não resolvem.
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Paulo Freire: Pedagogia do Oprimido
O medo da liberdade, de que necessariamente não
tem consciência o seu portador, o faz ver o que não
existe. No fundo, o que teme a liberdade se refugia
na segurança vital, como diria Hegel preferindo-a à
liberdade arriscada. (Fenomenologia do Espírito)
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Paulo Freire: Pedagogia do Oprimido
A luta pela humanização ... Esta somente é possível
porque a desumanização, mesmo que um fato
concreto na história, não é, porém, destino dado,
mas resultado de uma “ordem” injusta que gera a
violência dos opressores e esta, o ser menos.
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Paulo Freire: Pedagogia do Oprimido
E esta luta somente tem sentido quando os
oprimidos, ao buscarem recuperar sua humanidade,
que é uma forma de criá-la, não se sentem
idealistamente opressores, nem se tornam, de fato,
opressores dos opressores, mas restauradores da
humanidade em ambos.
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Paulo Freire: Pedagogia do Oprimido
O grande problema está em como poderão os
oprimidos, que “hospedam” o opressor em si,
participar da elaboração, como seres duplos,
inautênticos, da pedagogia de sua libertação.
Somente na medida em que se descubram
“hospedeiros” do opressor poderão contribuir para
o partejamento de sua pedagogia libertadora.
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Paulo Freire: Pedagogia do Oprimido
Enquanto vivam a dualidade na qual ser é parecer e
parecer é parecer com o opressor, é impossível fazê-
lo.
A estrutura de seu pensar se encontra condicionada
pela contradição vivida na situação concreta,
existencial, em que se “formam”.
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Paulo Freire: Pedagogia do Oprimido
O seu ideal é, realmente, ser homens, mas, para eles,
ser homens, na contradição em que sempre
estiveram e cuja superação não lhes está clara, é ser
opressores. Estes são o seu testemunho de
humanidade.
Toda prescrição é a imposição da opção de uma
consciência a outra.
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Paulo Freire: Pedagogia do Oprimido
A libertação, por isto, é um parto. E um parto
doloroso.
O homem que nasce deste parto é um homem novo
que só é viável na e pela superação da contradição
opressores-oprimidos, que é a libertação de todos.
A superação da contradição é o parto que traz ao
mundo este homem novo não mais opressor; não
mais oprimido, mas homem libertando-se.
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Paulo Freire: Pedagogia do Oprimido
Por isto é que, para os opressores, o que vale é ter
mais e cada vez mais, à custa, inclusive, do ter
menos ou do nada ter dos oprimidos. Ser, para eles,
é ter e ter como classe que tem.
Não podem perceber, na situação opressora em que
estão, como usufrutuários, que, se ter é condição
para ser, esta é uma condição necessária a todos os
homens.
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Paulo Freire: Pedagogia do Oprimido
Não podem perceber que, na busca egoísta do ter
como classe que tem, se afogam na posse e já não
são. Já não podem ser.
NINGUÉM LIBERTA NINGUÉM,
NINGUÉM SE LIBERTA SOZINHO:
OS HOMENS SE LIBERTAM EM COMUNHÃO
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Consciência crítica
- a positividade no ser mais das pessoas
- a transcendência do medo da liberdade
- o reconhecimento da construtividade do conflito
quando ele é orientado dialogicamente
- o incentivo à participação de todos na reconstrução do
social para que todos aprendam a falar a sua palavra
- a necessidade de transformação interna e externa
dialeticamente
- a esperança como vocação do ser humano em continuar
seu completamento, pois todos são incompletos.
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Macrossocial
esfera cultural e espiritual da educação
Mesossocial
autoadministração, sem influência do mercado e do Estado
Microssocial
maiêutica, face a face
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Freire e Steiner
Ambos os autores trabalham com a perspectiva do futuro,
com aquilo que possui caráter evolutivo, que precisa ser
criado, que envolve a dimensão humana além do que o
passado traz ao presente.
A preocupação de ambos com a integração entre
conhecimento e ação, teoria e prática.
Educação e Liberdade – Prof. Dr. Jonas Bach Jr (Unicamp)
A postura audaciosa de Freire em tocar e querer mexer na
questão “intocável” (da relação de poder) será sempre, no
mínimo, controversa, pois move em algum âmbito das
interações sociais onde há a intenção de que nada mude
(para o privilégio de alguns em detrimento de outros).
Educação e Liberdade – Prof. Dr. Jonas Bach Jr (Unicamp)
Dialogicidade é o desafio de construção de conciliação,
não é a existência de alguns em nome da pseudoidentidade
de outros (opressão), é construção de identidade individual
e social (processo de libertação). A ideia de individualismo
ético é um princípio dialógico. Os desdobramentos dessa
postura particular compõem uma ideia de renovação social,
não a partir de alguma determinação externa, mas
autodeterminada.
Educação e Liberdade – Prof. Dr. Jonas Bach Jr (Unicamp)
Steiner inclui a dimensão do ser de classe, porém ele
concentra suas considerações sobre uma dimensão
despercebida. Ele não nega o ser de classe ou o ser social que
somos, mas nos faz lembrar que há uma instância humana
que não é consequência do processo de socialização, e sim,
pelo contrário, é reformuladora do mesmo.
Educação e Liberdade – Prof. Dr. Jonas Bach Jr (Unicamp)
A compreensão de sociedade no pensamento steineriano
pressupõe uma abordagem hologramática. Entender o todo
(sociedade) requer a compreensão da parte
(individualidade). O princípio hologramático evidencia a
reciprocidade entre as partes e o todo: as partes configuram
o todo e o todo também está na parte.
Unir teoria e prática não vem como receita, vem como
desafio.
Educação e Liberdade – Prof. Dr. Jonas Bach Jr (Unicamp)
Steiner mantém a atenção para aquilo que é negado
principalmente pela perspectiva materialista: o indivíduo
pode encontrar a ética humana a partir de si mesmo, da sua
própria essência. Freire alerta para o vazio do solipsismo e
lembra o que muitos querem esquecer: há um tipo de
liberdade que só se conquista junto.
Educação e Liberdade – Prof. Dr. Jonas Bach Jr (Unicamp)
Não há sentido em discutir a teoria de Steiner
abstratamente, ou seja, sem relação com sua aplicação, ela
não foi concebida para ser alvo de especulação
descompromissada, mas para ser inspiração de vida e
compromisso com o destino. A própria questão de sua boa
realização não está nela mesma e sim em cada um que dela
se aproximar por fidedigno interesse.