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DILOGOS ENTRE A EDUCAO AMBIENTAL E A EDUCAO
FSICA NO ENSINO DE BRINCADEIRAS E BRINQUEDOS
Emanuelle Justino dos Santos (1)
(1) E. M. Prof Maria Dalva Gomes Bezerra - Natal/RN, [email protected].
Resumo: O artigo busca dialogar corporalmente sobre Educao Ambiental com as crianas estudantes
no Ensino Fundamental atravs de experincias pedaggicas de brincadeiras e produo de brinquedos
reciclveis nas aulas de Educao Fsica. E tambm refletir sobre o ensino de diversas brincadeiras no
ambiente escolar, descrevendo a experincia docente sobre a produo de brinquedos reciclveis em 10
aulas de Educao Fsica para 64 crianas, estudantes dos primeiros anos do Ensino Fundamental, do
turno matutino, da escola Maria Dalva. Adotamos como metodologia investigativa a narrativa como
tcnica de pesquisa fenomenolgica, que considera a existncia humana para (re)construir, atravs da
linguagem, as experincias afetivas da pesquisadora, que, ao serem reveladas ao leitor, somam-se as
suas experincias de retornar e de ser/estar no/com o mundo. Como resultados do estudo, foram
experimentadas 7 brincadeiras: Caa Tampinhas, Pega-Pega, Esconde-Esconde, Cobra-Cega, Tengo
Telengo Tengo, Pula Carnia, Quebra Canela e Pula Corda; e produzidos 8 brinquedos reciclveis:
Raquete-Pet, Vai-e-Vem, Peteca, Roladeira, P-de-Lata, Chocalho, Ganz e Cavalo-de-Pau; tais prticas
e produes ldicas tiveram como inspirao os saberes da cultura norte-rio-grandense, contribuindo,
assim, para a conscincia ecolgica, criatividade, afetividade, sociabilidade, ludicidade e linguagem
corporal das crianas de 6 anos de idade na escola pblica. Palavras-chave: Brincadeiras, Brinquedos, Crianas, Educao Fsica, Educao Ambiental.
1. APRESENTAO
A preocupao em relacionar a educao com a vida das crianas seu meio e sua
comunidade no novidade. No Brasil, a partir dos anos de 1970, com o crescimento dos
movimentos ambientalistas, a Educao Ambiental passou a fazer parte de iniciativas de
universidades, escolas, instituies governamentais e no-governamentais por meio das quais
se busca conscientizar setores da sociedade para os cuidados com o meio ambiente. Com isso,
nota-se que muitos acordos, eventos, debates sobre prticas, diretrizes, princpios e concepes
de Educao Ambiental e sociedade sustentvel foram desenvolvidas em diversos lugares
mundo a fora. (BRASIL, 1997).
A problemtica ambiental exige mudanas de comportamentos e construo de formas
de pensar e agir na relao com a natureza. Isso torna fundamental uma reflexo mais
abrangente sobre o processo de aprendizagem daquilo que se sabe ser importante, mas que no
se consegue compreender suficientemente s com lgica intelectual. O valor da
sustentabilidade ecolgica implica um novo olhar da educao, de modo a desempenhar um
importante papel a favor do bem-estar do planeta. Isso pode ser iniciado atravs do ensinamento
de que o ser humano no o centro da natureza, e deveria se comportar no como seu dono,
mas, percebendo-se como parte dela, reconhecendo sua importncia (BRASIL, 1997).
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Dialogar com a Educao Ambiental se constituiu em criar formas cada vez mais
sustentveis de interao sociedade/natureza e solues para os problemas ambientais, como
foi o exemplo pedaggico da produo dos brinquedos reciclveis. Dessa maneira, percebemos
que a experincia de ensino buscou contribuir para a formao de crianas mais conscientes de
suas responsabilidades com o meio ambiente e capazes de atitudes de proteo e melhoria em
relao a ele, a medida que passaram a elaborar os brinquedos nas aulas de Educao Fsica
escolar e descobrir novas brincadeiras que no faziam parte de seu cotidiano, mas sim algumas
delas remetiam a experincias ldicas vividas pelos seus pais, tios e avs.
Cabe escola promover atividades que possibilitem uma participao ativa dos alunos,
proporcionando aes de reciclar, reaproveitar, ou, ainda, reduzir o desperdcio de recursos e
pensar sobre o desenvolvimento tecnolgico e a distribuio dos bens, apontando para outras
relaes sociais que rediscutam os elementos que embasam a sustentabilidade, a produo da
subsistncia e a qualidade de vida no planeta (BRASIL, 1997).
No bojo dessas necessidades educativas que permeiam a escola, temos imbricadas as
diversas possibilidades educativas, temos o desafio de inserir as crianas no mundo ldico, que
est presente etimologicamente no brinquedo, no brincar, nas outras inmeras prticas
corporais, bem como na atitude de se divertir, influenciando o comportamento de quem o
pratica, transformando o indivduo em um ser consciente (KISHIMOTO, 1998).
O presente artigo busca descrever a experincia docente de identificar as semelhanas e
diferenas entre as brincadeiras de vrias pocas e lugares, bem como a produo de brinquedos
reciclveis no sentido de dialogar com a temtica da Educao Ambiental nas aulas de
Educao Fsica Escolar. Essa ltima disciplina se caracteriza como componente curricular da
Educao Bsica que contempla mltiplos saberes produzidos e usufrudos pela sociedade a
respeito do corpo e da cultura de movimento1, tais como: atividades rtmicas e expressivas,
jogos, lutas, ginsticas, esportes e brincadeiras. Dessa forma, cabe a ela ser uma prtica de
interveno pedaggica que garanta a tematizao das manifestaes culturais para crianas,
buscando fundamentar-se em conhecimentos cientficos, oferecidos pelo dilogo com
diferentes componentes curriculares da escola (MELO; BORBA, 2006).
O brincar uma experincia educativa importante no processo de constituio humana,
haja vista que possibilita experincias mgicas, capazes de potencializar a imaginao, a
1 Cultura de movimento compreendida como critrio organizador do conhecimento da Educao Fsica escolar,
pelo vis das cincias humanas; especificamente, ele tem sido divulgado a partir dos estudos de Elenor Kunz.
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socializao, a comunicao entre as crianas e adultos, proporcionando novas experincias
corporais para as crianas, inclusive, quando se tem a possibilidade de brincar com brinquedos.
Segundo Vasquinho et al (2018), os materiais que seriam descartados so reciclados e
reutilizados em implementos e criao de novos brinquedos que concretizam as brincadeiras
vivenciadas na escola.
A brincadeira um fato social, de apropriao cultural. Aprende-se a brincar. Da a
relevncia do papel que a escola tambm desempenha em relao ao brincar. Na brincadeira, a
criana conhece mais de si e do seu entorno, medida que age e interage com o outro,
experimenta, emociona-se, expressa-se, deseja, escolhe, recria os acontecimentos e os
ressignifica. Brincando a criana aprende a re-apresentar algo ou representa-lo, gesticulando,
desenhando, cantando, contando histrias, danando, modelando, etc. enfim, por meio da
atividade ldica, afeto, motricidade, imitao, imaginao, percepo, oralidade e outras
funes esto inter-relacionadas e o brincante se envolve por completo (CAPISTRANO, 2010,
p.108).
Tanto as situaes pedaggicas do ensino de Educao Fsica Escolar, quanto as demais
situaes vividas pelas crianas necessitam ser permeadas pelo brincar. Isso porque, segundo
Kunz e Costa (2017), o mundo de vida da criana se constitui essencialmente na espontaneidade
do brincar, pois elas esto inteiramente presentes e atuantes nessa experincia. A criana precisa
construir seus prprios objetos do brincar, cabendo ao professor auxili-la no processo de
aprendizagem e sensibilidade corporal, ampliando o desenvolvimento de seus sentidos fsicos,
como o ver, o sentir, o ouvir, o degustar, o cheirar e movimentar-se.
Dessa maneira, a criana no ser extrada da possibilidade de desenvolver sua
autonomia expressiva, nem muito menos limitar seus movimentos corporais. Ao movimentar-
se, segundo Kunz e Costa (2017), a criana toma conscincia de si e do mundo, comunica-se,
expressa-se, aprende e cria, potencializando sua existncia.
Os mesmos autores alertam que uma em cada cinco crianas apresentam sinais de
depresso na sociedade norte-americana, bem como cientistas ingleses estimam que daqui a
trs anos, a depresso ser uma das cinco maiores causas de morte e incapacidade das crianas
e jovens em todo mundo. Tudo isso porque muitas tm uma agenda muito lotada, com diversas
tarefas, tais como natao, ingls, informtica, escola, tarefas de casa e nenhum tempo para
brincar e se divertir de forma espontnea, inclusive na escola. Por vezes, o momento livre se
reduz ao intervalo do lanche, por outras sequer vemos tal situao devido ao monitoramento
dos adultos e de atividades recreativas para preencher
totalmente o tempo das crianas.
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Estudos apontam que a criana brinca entre trs a quatro horas por dia. Sendo o brincar
sua principal atividade, porque a forma que utiliza para comear a aprender os elementos da
cultura. Logo, essa atividade cultural permite importantes mudanas psquicas na criana.
Nesse sentido, consideramos pertinente no desconsiderar a importncia existencial do brincar
livre da criana, como sua linguagem caracterstica, mas direcionar esta pesquisa a
sistematizao pedaggica de brincadeiras e brinquedos experimentados nas aulas de Educao
Fsica Escolar. O investigativo tem grande pertinncia, pois traz tona a possibilidade de
investigar brincadeiras e brinquedos reciclveis como eixos norteadores para tecer dilogos
entre a Educao Fsica e a Educao Ambiental.
Para nortear nosso estudo, tecemos as seguintes questes: Como podemos refletir sobre
o ensino de brincadeiras na escola? Como descrever a experincia docente sobre a produo de
brinquedos reciclveis nas aulas de Educao Fsica? De que modo possvel dialogar sobre a
Educao Fsica e a Educao Ambiental com as crianas? Delineamos como objetivo geral:
Dialogar corporalmente sobre Educao Ambiental com as crianas estudantes no Ensino
Fundamental atravs de experincias pedaggicas de brincadeiras e produo de brinquedos
reciclveis nas aulas de Educao Fsica. E traamos como objetivos especficos: Refletir sobre
o ensino de diversas brincadeiras no ambiente escolar. Descrever a experincia docente sobre a
produo de brinquedos reciclveis nas aulas de Educao Fsica para crianas, estudantes das
sries iniciais do Ensino Fundamental I.
2. METODOLOGIA
A pesquisa se caracteriza por sua natureza qualitativa, que consiste no envolvimento
com a experincia docente com a tematizao de brincadeiras e brinquedos reciclveis, com o
intuito de interpretar e dar sentidos a essa experincia vivida nas aulas de Educao Fsica no
Ensino Fundamental. Adotamos como metodologia investigativa a narrativa como tcnica de
pesquisa fenomenolgica. Segundo Dutra (2002), o ato de narrar uma estratgia de pesquisa
fenomenolgica que considera a existncia humana para (re)construir, atravs da linguagem, as
experincias afetivas da pesquisadora, que, ao serem reveladas ao leitor, somam-se as suas
experincias de retornar e de ser/estar no/com o mundo.
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A narrativa sobre o ensino de Educao Fsica Escolar foi elaborada no primeiro
semestre de 2018, entre 27 de fevereiro a 19 de junho, totalizando 10 encontros2, nos dias de
tera-feira, que aconteceram nas aulas para 3 turmas compostas por 64 crianas, meninos e
meninas com 6 anos de idade, estudantes do 1 ano do Ensino Fundamental, do turno matutino,
da E. M. Prof Maria Dalva Gomes Bezerra, localizada na rua Barueri, 270, bairro Lagoa Azul.
As aulas de Educao Fsica com as crianas se estruturaram atravs das
experimentaes de 8 brincadeiras (Caa Tampinhas, Pega-Pega, Esconde-Esconde, Cobra-
Cega, Tengo Telengo Tengo, Pula Carnia, Quebra Canela e Pula Corda), conversas, pesquisas,
elaborao de saberes, partilha de materiais reciclveis com apoio dos pais, produo de 8
brinquedos reciclveis (Raquete-Pet, Vai-e-Vem, Peteca, Roladeira, P-de-Lata, Chocalho,
Ganz e Cavalo-de-Pau), vdeos com tutoriais sobre a construo de brinquedos reciclveis,
entre outras tarefas que foram pertinentes para o desenvolvimento das atividades pedaggicas
da cultura do brincar na escola, tendo como principal inspirao saberes da cultura norte-rio-
grandense. A configurao metodolgica das aulas se deu por meio de uma conversa inicial,
experimentao das brincadeiras e produo dos brinquedos, conversa final, tendo como foco
o desenvolvimento da conscincia ecolgica, criatividade, afetividade, sociabilidade,
ludicidade, linguagem corporal, ritmo, conscientizao corporal, equilibrao corporal,
coordenao motora ampla e coordenao motora fina (FERREIRA, 2009).
A verificao da aprendizagem foi realizada de forma contnua e de modo coerente com
os procedimentos metodolgicos e os objetivos que forem alcanados no decorrer do processo
de ensino-aprendizagem das brincadeiras e brinquedos reciclveis nas aulas de Educao
Fsica. O dirio com resumo escrito dos encontros, os registros fotogrficos das vivncias se
constituram no material de reflexo da experincia docente. Para este escrito, foram selecionadas
8 fotografias, sintetizadas em 4 figuras para a sistematizao das cenas de ensino vividas na escola.
Assim, o escrito est estruturado da seguinte forma: o primeiro tpico configurado por uma breve
apresentao, com a justificativa de estudo, questes e objetivos; o segundo tpico apresenta a
metodologia da pesquisa; j a terceira parte apresenta os resultados e discusso, trazendo a descrio
das brincadeiras e brinquedos reciclveis, produzidos com as crianas; por fim, so explicitadas as
concluses, apontando perspectivas para outras investigaes.
2 Por diversos desafios que os professores da Rede municipal de Natal/RN vm enfrentando, a escola aderiu ao
movimento grevista, organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educao no perodo entre 26 de maro a
16 de maio de 2018. Fato esse que reduziu o tempo de estudos sobre as brincadeiras e brinquedos reciclveis.
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3. RESULTADOS E DISCUSSO
A Escola Maria Dalva foi criada em 11 de maro de 1993, inicialmente atendendo s
turmas de 1 a 5 sries do Ensino Fundamental. Em 2007, passou a ter prdio prprio e suas
instalaes foram ampliadas, ganhando um anexo destinado s turmas de Educao Infantil. A
partir de ento, a escola passou a receber alunos tambm entre 4 a 5 anos de idade, referente
aos nveis III e IV, respectivamente.
A escola est situada em um bairro perifrico da Zona Norte de Natal. No bairro de
Lagoa Azul, encontram-se as lagoas de Gramor, do Sapo e Azul Dend, esta ltima nas
proximidades do Rio Doce. Outra peculiaridade a sua localidade de Gramorezinho, j na
divisa com Extremoz, desenvolve ao longo de dcadas, o plantio de hortalias que so
comercializadas em feiras livres e supermercados da cidade. Participam dessa atividade cerca
de 200 famlias que bombeiam gua do Rio Doce e das lagoas para as suas plantaes. H
tambm uma poltica de preservao das reas verdes no bairro, a remoo de favelas para onde
houvesse infraestrutura favorvel, visando preservar as dunas do lugar (NATAL, 2008).
O lugar apresenta diversas prticas corporais, como musculao, dana, ginstica, lutas,
entre outras atividades aerbicas nas academias; aulas de dana em espaos comunitrios;
vrias atividades esportivas no Centro Pastoral Dom Bosco, que desenvolve tambm outras
aes educativas na perspectiva de erradicao do trabalho infantil; futebol e vlei em quadras
poliesportivas, esportes radicais nas praas pblicas; muitas atividades esportivas e culturais no
ginsio Nlio Dias; por fim, ainda vemos em algumas regies3, pessoas velhas sentadas em
baixo de uma rvore, vivenciando jogos de mesa e tambm as crianas brincando de diversas
formas nas ruas, campos de areia, entre outros espaos abertos, prximos a suas residncias.
Com esse cenrio, a necessidade de dialogar com a educao Ambiental surgiu, neste
ano, atravs de uma situao vivenciada na aula de Educao Fsica com crianas do 1 ano.
No fluir da brincadeira Caa Tampinhas, as crianas perceberam uma problemtica: ao
procurar as tampinhas de garrafa pelo ptio, elas sempre encontravam um nmero bem maior
de tampas do que a quantidade disponibilizada pela professora, alm de outros objetos que
deveriam estar nas latas de lixo da escola. A partir disso, conversamos e refletimos sobre a
importncia de cuidar do ambiente, em geral, e do ambiente escolar, em especfico, no sentido
3 Nos ltimos 5 anos, vem aumentando o nmero da violncia no estado do Rio Grande do Norte, sendo que Natal
ganhou destaque com esse problemtica, inclusive, o bairro de Lagoa Azul, ficando em segundo lugar em nmero
de homicdios. Por isso, as cenas de lazer em algumas regies ainda resistem, apesar desse problema (Consulte:
http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/dez-bairros-concentram-64-dos-homica-dios-de-natal/393877).
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de deixar os espaos mais limpos e agradveis de habitar, bem como vivenciamos outras
brincadeiras e produzimos brinquedos reciclveis em nossos encontros das aulas.
Neste contexto, a quantidade de lixo no Brasil um problema bem srio e tema bastante
caro Educao Ambiental. Por um lado, hoje, a produo de lixo ultrapassa os 78,3 milhes4
de toneladas por ano e boa parte disso no reciclada, mas sim descartada de forma inadequada
e irresponsvel. Por outro lado, possvel encontramos blogs, sites, vdeos, revistas e livros que
tratam do tema dos brinquedos reciclveis, entre outras fontes tambm contribuem com o acesso
ao universo das brincadeiras, aproximando-nos ao mundo infantil e ldico do brincar, um
brincar de modo sustentvel, que ajuda no processo educativo de preservao da natureza.
Respeitando as possibilidades de compreenso e interesses das crianas, vivenciamos
muitas brincadeiras tpicas, tais como Pega-Pega, Esconde-Esconde, Cobra-Cega e Tengo
Telengo Tengo. Est ltima praticada com a formao de uma roda, com toda a turma. A
medida que todos cantam a msica Tengo Telengo Tengo de carrapicho /Joga Fulana na lata
do lixo /Tengo Telengo Tengo de carrapicho [...], as crianas vo entrando uma a uma no
centro da roda. Quando o espao fica apertado e a roda se desfaz, a turma canta A lata se furou
e o lixo derramou!. Com isso, todas as crianas se deitam no cho, abraam-se, amontoam-se,
divertindo-se com a brincadeira.
Com a proposta da confeco de brinquedos, iniciamos com a Raquete-Pet e o Vai-e-
Vem, esses brinquedos possibilitaram uma experincia ldica que contribui tanto com a
conscientizao ecolgica de transformar materiais reutilizveis em brinquedos acessveis e
divertidos, quanto de desenvolver a habilidade culo-manual das crianas, a coordenao
motora ampla e a coordenao motora fina das crianas. Como podemos observar na Figura 1:
4 Fonte: http://hojeemdia.com.br/primeiro-plano/brasil-perde-r-5-7-bilh%C3%B5es-por-ano-ao-n%C3%A3o-
reciclar-res%C3%ADduos-pl%C3%A1sticos-1.627837.
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Figura 1 Brinquedos com garrafas pet com a turma do 1 C. Fonte: Emanuelle Santos.
Para fazer a Raquete-Pet, necessitamos de 2 garrafas grandes, tesoura, fita adesiva 2
folhas de revista/jornal. Recorte o gargalo das garrafas de forma que caiba uma bola de
jornal/revista dentro delas. Corrija as irregularidades dos gargalos com a fita, para que as
crianas no se machuquem na brincadeira. Amasse as folhas e faa uma bola. Em seguida,
passe a fita adesiva na bolinha, para assegurar seu formato por mais tempo, alm de protege-la
da areia e da gua. Depois, forme duplas e brinquem (FERREIRA, 2009). Combinamos como
objetivo principal da brincadeira tentar deixar a bola no ar, quem deixava cair no cho, dava
ponto para o colega.
J o Vai-e-vem, segundo Ferreira (2009), precisa de 2 garrafas pet grandes (2 litros), 4
metros de barbante, fita adesiva, 4 tampinhas de refrigerante, estilete e tesoura. Pegue as duas
garrafas, retire as tampinhas, e corte 15 cm da parte superior, encaixe uma garrafa na outra at
assumir o formato de um balo. Passe o barbante no gargalo das garrafas, fure as tampinhas e
amarre-as nas extremidades. Enfeite com papel colorido ou tinta. Assim, combinamos de que a
dupla precisava encontrar um ritmo para que a balo do brinquedo sempre fique em movimento.
A Peteca uma brincadeira de origem indgena, cujo sua etimologia petez, em
guarani, significa bater. No toa que o brinquedo batido e rebatido, de uma pessoa para
outra com o intuito de no deixar cair no cho. Em diversos municpios do Rio Grande do
Norte5, essa brincadeira era bastante praticada, assim como hoje praticado o futebol
5 A exemplo de So Jos do Serid, Pedro Velho, Martins, Caic, entre outros municpios.
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(OLIVEIRA et al, 2007). Com o passar dos tempos, criou-se novas maneiras de brincar e
tambm essa prtica sofreu um processo de esportivizao6, tendo regras parecidas com o vlei.
Figura 2 Petecas ecolgicas com a turma do 1 B. Fonte: Emanuelle Santos.
Os materiais para fazer uma so diversos, os mais tradicionais eram feitos de couro de
bode, penas de aves e/ou palha de milho. Atualmente, para fazer a Peteca ecolgica, precisamos
de um pedao de saco plstico, uma mdia de 40 cm de altura e 60 cm de largura; 2 folhas de
papel de revista ou jornal, fita adesiva e tesoura. Segundo Ferreira (2009), amasse as folhas
formando uma bola, coloque o meio do saco plstico e feche-o com a fita adesiva.
Outras brincadeiras fizeram parte de nossos encontros. A Pula Carnia, que consiste em
uma criana ficar com o corpo encolhido, curvada e parada, e a outra pular por cima usando as
costas como ponto de apoio para o impulso. A Quebra canela, com uma sandlia amarrada na
ponta de uma corda, uma pessoa fica no meio de uma roda com vrias crianas. Ela gira a corda
e as crianas pulam. Ganha a brincadeira quem tiver sua perna atingida pela corda e/ou sandlia.
J a brincadeira da Pula Corda, segundo Oliveira et al (2007, p.130), duas crianas seguram,
uma de cada lado, a ponta de uma corda, impulsionando-a para que as outras crianas entrem
em movimento e, sem tocar na corda, pulem. Uma das canes mais conhecidas :
Um homem bateu minha porta / e eu abri / senhoras e senhores / ponham a
mo no cho / senhoras e senhores / pulem de um p s / senhoras e senhores
/ deem uma voltinha (e a criana, dentro da corda, d uma volta) / e v pro
olho da rua (e a criana tem que sair da corda).
A Roladeira, segundo Oliveira et al (2007), era um brinquedo bem popular nos anos de
1970. Diferentemente da que produzimos na escola, as crianas desse tempo, enchiam a lata de
areia molhada. Deixando a Roladeira pesada, fazendo barulho e marcando o local percorrido
pela criana. Quando se juntava a partir de duas latas, j se tinha um vago.
6 A prtica esportivizada influenciada por princpios da sobrepujana, da normatizao, da padronizao dos
movimentos, da instrumentalizao do corpo.
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Figura 3 Brinquedos com lata de leite com a turma do 1 A. Fonte: Emanuelle Santos.
Para fazer a Roladeira, precisamos de uma lata de leite em p com tampa, 1,60 m de
barbante, um prego grande, um martelo, tesoura, pedaos de papel de presente e cola branca.
Com a lata limpa, faa um furo, com prego e martelo, no centro da tampa e no centro do fundo
da lata. Alargue os furos com a tesoura. Em seguida, passe o barbante por dentro dos furos da
lata e d trs ns. Decore a lata com o presente de papel (FERREIRA, 2009).
O P-de-Lata uma variao do P-de-Quenga (feita da parte mais dura do coco) e da
Perna-de-pau. Segundo Oliveira et al (2007), esse ltimo brinquedo transforma as pessoas
comuns em gigantes. Ele faz parte da cultura circense, feito de cabo de vassoura e ripas de
madeira, colaborando com a coordenao, ritmo, confiana e equilibrao corporal.
Para criar o P-de-Lata, segundo Ferreira (2009), necessitamos de 2 latas de leite em p,
barbante, tesoura, cola de isopor, fitas adesivas ou EVA. Com as latas limpas, decore-as a seu
gosto. Faa dois furos em cada lata e passe o barbante por dentro.
De acordo com Ferreira (2009), o Chocalho (feito de tampinhas) e o Ganz (feito de
Pet) so brinquedos musicais, capazes de aprimorar a ateno e concentrao das crianas,
estimulando o desenvolvimento da psicomotricidade, especificamente no que diz respeito a
percepo auditiva e rtmica do corpo, dialogando com a linguagem musical.
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Figura 4 Brinquedos com Tampinhas e Pets com o 1 C. Fonte: Emanuelle Santos.
Para elaborar o Chocalho, precisamos de 30 tampas coloridas, 2 metros de fio de nylon,
1 prego grande e martelo. Depois de lavar e secar as tampas, fure-as no centro com prego e
martelo. Em seguida, corte um pedao grande de nylon para amarrar as tampas. Forme 3 a 4
fileiras de tampas, individualmente, junte-as, formando uma pea nica. J para fazer o Ganz,
necessitamos de uma Pet mdia com tampa e sementes cruas. Coloque as sementes (arroz, feijo
ou milho) na garrafa Pet e tampe-a. opcional decorar o brinquedo (FERREIRA, 2009).
O Cavalo de Pau remete ao ciclo do gado desde a Antiguidade. Esse brinquedo faz
aluso s vaquejadas do interior do RN, especialmente nas cidades de Martins, Angicos e
Jandus nos anos de 1930. De acordo com Oliveira et al (2007), as crianas de Natal tambm
brincaram muito com o cavalo de pau, especialmente nos anos de 1960.
Para elaborar o Cavalo de Pau, segundo Ferreira (2009), necessitamos de uma garrafa
Pet de 2 litros, cartolina branca, papel color set ou EVA, um cabo de vassoura e cola de isopor.
Depois de lavada e seca, utilize a garrafa inteira. Dobre o gargalo para baixo e encaixe o cabo
de vassoura. Desenhados os olhos, orelhas e nariz, cole-os com a cola de isopor. Aguarde 20
minutos e comece a brincar, cavalgando por a.
CONCLUSES
O dilogo corporal sobre Educao Ambiental com as crianas aconteceu atravs de
experincias pedaggicas sobre as brincadeiras potiguares e a produo de brinquedos
reciclveis nas aulas de Educao Fsica, resultando em muitos aprendizados e experincias
ldicas que contriburam bastante no sentido de trilhar
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os primeiros passos para desenvolver uma conscincia ecolgica no cotidiano escolar. As
reflexes tecidas sobre o ensino de diversas brincadeiras da cultura norte-rio-grandense e a
produo de brinquedos reciclveis com as crianas, de 6 anos de idade, nas aulas de Educao
Fsica, constituem-se em preliminares sobre possibilidades de desenvolver a educao
ambiental na escola de Ensino Fundamental I na contemporaneidade, respeitando as
especificidades dos estudantes e seu contexto sociocultural, no sentido de ampliar o
aproveitamento dos materiais reutilizveis, com a inteno de cuidar e preservar nossos
recursos naturais, bem como iniciar a conscientizao da preservao do meio ambiente, que
tem grande importncia para nossa sobrevivncia e existncia terrena. Por fim, perspectivamos
realizar novos estudos que ampliem as reflexes e as possibilidades de intervenes
pedaggicas estreitem mais o dilogo sobre Educao Ambiental e Educao Fsica Escolar,
trazendo novas produes acadmicas e melhorando a qualidade de vida, o acesso educao,
sade e ao lazer das pessoas que vivem em bairros perifricos da cidade de Natal/RN, em
especfico e das demais capitais do Brasil, em geral.
REFERNCIAS
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Ambiente. Secretaria de Educao Fundamental. Braslia: MEC/SEF, 1997.
CAPISTRANO, N. J. Motricidade, cultura de movimento e o brincar. In: MELO, J. P.; PONTES, G.
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DUTRA, E. A narrativa como uma tcnica de pesquisa fenomenolgica. In: Estudos de Psicologia,
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FERREIRA, K. S. Confeco de brinquedos e brincadeiras: da educao infantil melhor idade.
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