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Dinâmica populacional e rede coletora de esgoto
Ivete Oliveira RodriguesMaurício Gonçalves e Silva
Ao longo do Atlas de saneamento, a dimensão demográfi ca é ressaltada sob
diferentes enfoques dada a sua centralidade na questão do saneamento1 notadamente
no que toca aos aspectos territoriais da distribuição espacial desses serviços no País.
Sabe-se que entre os determinantes demográfi cos da demanda por saneamento,
encontram-se três variáveis demográfi cas básicas: o tamanho da população, seu
ritmo de crescimento e o seu grau de urbanização (LIMA, 2005).
Ao mesmo tempo, enquanto o capítulo fi nal do Atlas pode concluir que
dentre os serviços de saneamento pesquisados, recai sobre o esgotamento sa-
nitário grave ausência e precariedade encontrada nos municípios brasileiros,
sendo esse, portanto, um dos maiores desafi os postos à gestão pública do Brasil
na contemporaneidade.
Diante das primícias, acima descritas, como contribuição ao exame fi nal da
relação entre população e saneamento optou-se por duas representações sobre os
ritmos de crescimentos absoluto e relativo da população combinados com informa-
ções sobre melhorias e oferta do serviço de esgotamento sanitário, respectivamente.
Na primeira representação, o mapa Crescimento absoluto2da população e
melhorias no serviço de esgotamento sanitário ilustra o crescimento absoluto da
população no período 2000-2010 e os municípios que apresentam algum número
de ampliação e melhoria3 no sistema de esgotamento sanitário.
Conforme observado no mapa, pode-se afi rmar que o saneamento, particu-
larmente a rede de coleta de esgoto sanitário, como política pública, esteve com-
prometido, na última década, a dar respostas à pressão demográfi ca, nitidamente,
em áreas urbanas. Assim, as manchas de crescimento absoluto mostram uma taxa
de incremento populacional signifi cativa em torno dos grandes centros urbanos
do País ao mesmo tempo que essas áreas são, aproximadamente, aquelas onde
se localizam de forma “privilegiada” as ampliações e melhorias no sistema de
esgotamento. Logo, pode-se perceber que se concentram no litoral e nas áreas de
infl uência imediata das capitais estaduais um número considerável de municípios
com ampliações e melhorias no sistema de esgotamento, o que acaba por retratar
o histórico de ocupação do território brasileiro.
Ao lado das grandes aglomerações urbanas, pode-se notar alguns eixos
de crescimento em direção ao interior, dentre eles, o mais expressivo segue a
metrópole paulista, eixo São Paulo (SP)-Campinas (SP), seguindo para a região de
Ribeirão Preto (SP) e São José do Rio Preto (SP). Além disso, no Estado de São Paulo
encontra-se um adensamento expressivo em termos de melhorias e ampliações da
rede de esgotamento, fazendo deste estado o grande destaque nacional das redes
de saneamento, em particular do esgotamento sanitário.
Em relação ao interior do Território Nacional, pode-se observar que as ações
em melhorias nos serviços de esgoto estão presentes na região do Triângulo Minei-
ro, tendo como principais cidades Uberlândia e Uberaba e chegam até Goiânia
e Brasília, que estão cada vez mais interligadas como representado na trama da
intensidade de seus crescimentos. Ademais, a direção do crescimento absoluto da
população e, de certa forma, das melhorias passam pelo sudoeste goiano.
O trecho mato-grossense da BR-163, incluindo os Estados de Mato Grosso
e de Mato Grosso do Sul, é outro eixo que se destaca no crescimento absoluto.
Este possui Cuiabá, Rondonópolis e Sinop, em Mato Grosso, e Campo Grande e
Dourados, em Mato Grosso do Sul, como os principais centros urbanos da área,
concentrando assim os maiores acréscimos populacionais e os resultados mais
positivos de melhorias nos serviços de esgoto.
Como centros regionais que apresentam um crescimento absoluto expressivo
tem-se algumas cidades médias que devem ser mencionadas. Dentre estas aparecem
as capitais estaduais Porto Velho, Rio Branco, Palmas, Boa Vista e Macapá, na Região
Norte, e Barreiras, no oeste da Bahia, com resultados insignifi cante em termos de
melhorias nos serviços de esgoto.
Além delas, pode-se destacar também Petrolina-PE/Juazeiro-BA, Juazeiro
do Norte/Crato/Barbalha-CE, na Região Nordeste, Montes Claros-MG, na Região
Sudeste e Londrina/Maringá-PR, Cascavel-PR e Chapecó-SC, na Região Sul, nas
quais podem ser observados resultados afi rmativos. Com destaque para Londrina/
Maringá-PR que de forma indiscutível apresentam um número expressivo de me-
lhorias no sistema de esgotamento.
Na Região Norte, pode-se destacar ainda os eixos Manaus (AM)-Santarém (PA)
passando pela cidade de Parintins (PA) e o eixo Belém (PA)-Marabá (PA)-Imperatriz
(MA) que tende a se estender até São Félix do Xingu (PA) com crescimentos absoluto
expressivos. Contudo, nesses segmentos espaciais, diferente de outras áreas, destaca-
se um grande vazio em termos de melhorias no serviço de esgoto, osbservando-se
inexistência desse serviço em grande parte dessas áreas. Tal processo se estende
com amplitude nas Regiões Norte e Nordeste, onde mesmo as áreas que exibem
números positivos de crescimento absoluto são acompanhadas de fracos resultados
em melhorias de esgotamento sanitário.
Em resumo, a leitura do mapa de crescimento absoluto da população e
melhorias no serviço de esgotamento sanitário passa primeiramente pelas grandes
aglomerações urbanas, que tradicionalmente se concentram no litoral, pelos eixos
de desenvolvimento e ocupação e pelas cidades médias que se destacam no cenário
nacional, nos quais estão presentes os números mais signifi cativos em melhorias e
ampliações no sistema de esgotamento sanitário. Como também por extensas áreas
do Território Nacional com baixos registros de melhorias e ampliações no sistema,
apesar de apontarem crescimento absoluto de população.
Dando prosseguimento, no primeiro mapa o crescimento absoluto e as me-
lhorias podem signifi car uma ação mais efetiva do poder público, enquanto no caso
do segundo, intitulado Crescimento relativo4 2000-2010 da população e ausência
da rede de esgotamento sanitário, são expressados os problemas que cercam a rede
de esgotamento sanitário.
De modo geral, o mapa apresenta duas grandes morfologias, a primeira aponta
as áreas de povoamento consolidado com perda de população e ausência de rede
de esgotamento sanitário que abrange a Região Sul, parte da Região Sudeste, porção
signifi cativa da Região Nordeste e dos Estados de Goiás e do Tocantins.
A segunda representação inclui as Regiões Centro-Oeste e Norte onde o
crescimento relativo está presente, mas a mobilidade da população não é acompa-
nhada pelo acesso à rede de esgotamento sanitário. Neste caso, por exemplo, está
à frente o pecuarista de Marabá que adentra pelo Estado do Pará em direção a São
Félix do Xingu5; também o eixo da Transamazônica no Pará; porções dos Estados
de Mato Grosso, Amapá, Roraima e Acre.
Em comum, os resultados positivos de crescimento relativo com ausência de
rede coletora de esgoto estão direcionados, grosso modo, para os vastos territórios
do Cerrado do Brasil Central e domínios amazônicos que sofrem impactos, em maior
ou menor grau, de ocupação econômica, da migração e da formação do sistema
urbano, todos, com claros agravantes ao meio ambiente, nos quais a ausência de
saneamento exacerba todas essas questões.
Como considerações fi nais, tem-se que os determinantes demográfi cos
permeiam as decisões em torno do esgotamento sanitário, fazendo com que o
confronto desses dois temas – crescimentos absoluto e relativo da população em
conjunto com as informações sobre esgotamento sanitário – sirva de síntese fi nal
do Atlas de saneamento.
Contudo, essas observações trazem dilemas e grandes desafi os em torno das
políticas públicas para o setor, pois de um lado existe a necessidade em atender
áreas consolidadas, com redes de cidades estruturadas de expressivo contingente
populacional e que ainda apresentam crescimento absoluto de população, por outro
lado, existe a demanda igualmente importante de vastos territórios que apresentam
importantes fl uxos migratórios que acabam por criar uma pressão demográfi ca sobre
serviços de uso coletivo, como o esgotamento sanitário.
1 Abastecimento de água, esgota-mento sanitário, manejo de águas pluviais e manejo de resíduos sólido.2 Para representar o crescimen-to absoluto da população foi escolhida a técnica de Kernel que possibilita uma visualização mais homogênea dos dados. Esta mostra a densidade em que o fenômeno ocorre, ou seja, dentro de raio específi co de distância os valores de crescimento absoluto da população (por município) foram somados e divididos pela área da circunferência.3 Foram reunidas as informações sobre ampliações e melhorias pre-diais, estação de tratamento, rede coletora, emissário, interceptor, dentre outras.4 Para a representação do cresci-mento relativo da população, foi escolhida a técnica de interpola-ção simples. Como a Kernel, esta técnica ajuda na visualização dos dados, pois agrupa os valores de forma que possibilite a formação de manchas, o que facilita a leitu-ra. Entre um valor e outro são in-terpolados valores intermediários e gera-se uma superfície contínua que ajuda na visualização dos padrões de crescimento. Porém, na área da Amazônia Legal os municípios são maiores, o que gera uma menor densidade de sedes municipais que, por sua vez, gera manchas demasiadamente grandes que não correspondem ao tamanho do fenômeno, ou seja, o crescimento relativo existe, porém não com as dimensões que apare-ce no mapa, são fenômenos locais.5 Cabe aqui ressaltar que o cresci-mento relativo pode estar super-dimensionado no mapa devido às grandes distâncias que separam uma sede municipal da outra na Amazônia Legal.
Atlas de saneamento 2011Dinâmica populacional e rede coletora de esgoto
Por fi m, é preciso destacar que, no País, são muitas as conquistas para alcançar
o patamar da universalização do serviço de esgotamento, mas as lacunas no acesso
à rede de coleta, na extensão de sua abrangência, na qualidade do serviço e, muitas
vezes, na ausência de solução alternativa adequada mostram que ainda é preciso
ampliar os esforços do Estado em conformidade com os anseios da sociedade.
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Atlas de saneamento 2011Dinâmica populacional e rede coletora de esgoto
Dinâmica populacional e rede coletora de esgoto
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 e Censo Demográfi co 2000/2010.Nota: Ampliação e melhoria da rede coletora, ligação predial, elevatória, emissário, interceptor e estação de tratamento.
Arquip. de Fernando de Noronha
CAMPOGRANDE
FLORIANÓPOLIS
CURITIBA
PORTO ALEGRE
SÃO PAULO
RIO DE JANEIRO
VITÓRIA
BELOHORIZONTE
GOIÂNIA
BRASÍLIA
PALMAS
CUIABÁ
PORTOVELHO
RIO BRANCO
MANAUS
Uraricoera
MACAPÁ
BELÉM
SÃO LUÍS
FORTALEZA
NATAL
JOÃO PESSOA
PERNAMBUCO
RECIFE
MACEIÓ
ARACAJU
SALVADOR
TERESINA
ASUNCIÓN
LA PAZ
BOGOTÁ CAYENNE
BOA VISTA
Crescimento absoluto da populaçãoe melhorias no sistema
de esgotamento sanitário
75 750 150 225 km
PROJEÇÃO POLICÔNICA
ESCALA : 1 : 15 000 000
123456
Número de ampliaçõesou melhorias em
esgotamentosanitário
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Dados organizados por distrito
Crescimento absolutoda população
2000 - 2010
Crescimento
Perda
Atlas de saneamento 2011Dinâmica populacional e rede coletora de esgoto
Dinâmica populacional e rede coletora de esgoto
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 e Censo Demográfi co 2000/2010.
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Arquip. de Fernando de Noronha
Crescimento relativo da populaçãoe ausência de esgotamento
sanitário
75 750 150 225 km
PROJEÇÃO POLICÔNICA
ESCALA : 1 : 15 000 000
Crescimento relativo da população2000 - 2010
Crescimento
Perda
Municípios sem rede deesgotamento sanitário
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