direito administrativo i. 1an1 -...
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Direito Administrativo I. 1aN1
Organização: Professora Paula Santis
Unidade 1. Sociedade. Estado. Direito
Unidade 2. Direito Administrativo
2.1. Origem. Evolução histórica. Autonomia
2.2. Objeto e conceito.
2.3. Fontes
2.4. Princípios. Gerais e específicos
2.5. Interpretação
2.6. Importância e relação com outros Ramos do Direito
VIDE BIBLIOGRAFIA
Unidade 3. Administração Pública
3.1. Conceito de Administração Pública
3.2.Administração pública e atividade administrativa. Delegação.
3.3. Hierarquia administrativa (Organização vertical)
3.4. Regime jurídico administrativo: poderes e sujeições
3.5. Organização da Administração Pública: desconcentração e descentralização. Administração Direta e
Administração Indireta (Decreto-lei 200/67). Órgãos. (Lei 9784/99)
3.6. Administração Pública na Constituição Federal de 1988. Art. 37, caput e inciso XIX.
3.7. Administração Indireta. Entidades (Decreto-lei 200/67; lei 11.107/05; lei 13.303/16). Agências: Reguladora e
Executiva (art. 37, parágrafo 8° CF/88)
3.8. Paraestatais (terceiro setor)
Questionário Avaliação 1aN1. (4,0) pontos (manuscrito e individual, devidamente organizado)
01. De que maneira o Estado de Direito e sua organização favoreceu à implantação do Direito Administrativo
enquanto ramo autônomo do Direito? Fundamente sua resposta.
02. Considerando a organização da Administração e a previsão do art. 37, parágrafo 8° da Constituição
Federal de 1988, explique sobre as Organizações Sociais e as OSCIPs, destacando a sua natureza
jurídica, área de atuação e processo de qualificação e desqualificação.
03. Explique o que são as agências reguladoras e faça uma comparação entre estas e as agências
executivas.
04. Explique sobre o Instituto da delegação, considerando as normas de organização da
Administração Pública e o processo de descentralização.
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Unidade 1. Sociedade. Estado. Direito (resumo)
1.1. Sociedade e o Estado
A compreensão do modelo estatal em que vivemos pressupões a análise prévia sobre
a sociedade.
A sociedade é resultante de uma necessidade natural do homem, sem excluir a
participação da consciência e da vontade humanas.
São elementos necessários para que um agrupamento humano possa ser reconhecido
como uma sociedade: a) uma finalidade ou valor social; b) manifestações de conjunto
ordenadas; c) o poder social.
A finalidade ou valor social corresponde ao bem comum, compreendido, no dizer do
Papa João XXIII como o conjunto de todas as condições de vida que configurem e
favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana.
As manifestações do grupo humano se dão de forma conjunta, permanente e reiterada,
no sentido da sua finalidade, de forma ordenada.
Como poder social, tem-se a faculdade que tem alguém, de impor a sua vontade sobre
a vontade de outrem, sendo esta imposição aceita e reconhecida pelo grupo.
Os agrupamentos humanos caracterizam-se como sociedades quando têm um fim
próprio e, para sua consecução, promovem manifestações de conjunto ordenadas e se
submetem a um poder, e no tocante à sociedade humana, globalmente considerada,
verificamos que o fim a atingir é o bem comum.
Considerando as respectivas finalidades, podemos distinguir duas espécies de
sociedades, que são: a) sociedades de fins particulares, quando têm finalidade definida,
voluntariamente escolhida por seus membros. Suas atividades visam, direta e
imediatamente, àquele objetivo que inspirou sua criação por um ato consciente e
voluntário; b) sociedades de fins gerais, cujo objetivo, indefinido e genérico, é criar as
condições necessárias para que os indivíduos e as demais sociedades que nela se integram
consigam atingir seus fins particulares. A participação nestas sociedades quase sempre
independe de um ato de vontade.
As sociedades de fins gerais são comumente denominadas sociedades políticas,
exatamente porque não se prendem a um objetivo determinado e não se restringem a
setores limitados da atividade humana, buscando, em lugar disso, integrar todas as
atividades sociais que ocorrem no seu âmbito.
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Conforme Dallari “são sociedades políticas todas aquelas que, visando a criar condições
para a consecução dos fins particulares de seus membros, ocupam-se da totalidade das
ações humanas, coordenando-as em função de um fim comum”. (p.21)
A palavra Estado, como uma sociedade política aparece no século XVI. Constata-se,
portanto, que a sociedade vai existir e se manter, sem que tenha necessariamente se
tornado um Estado.
Para tratar da origem do Estado, destacam-se três teorias. A primeira, considera que o
Estado, assim como a sociedade, sempre existiu. O principal expoente desta teoria é
Eduard Meyer “Desde que o homem vive sobre a Terra acha-se integrado numa
organização social, dotada de poder e com autoridade para determinar o comportamento
de todo o grupo”1.
A segunda, considera que a sociedade existiu sem Estado durante um certo período.
Diversos foram os motivos que levaram à formação dos diversos Estados2, e de acordo
com Hermann Heller, os Estados surgiram em momentos diferentes, em circunstâncias
diferentes, visando atender a necessidades ou conveniências dos grupos sociais.
A terceira, cujo expoente de destaque é Karl Schimidt, só se considera Estado a
sociedade política dotada de certas características, muito bem definidas, estando
diretamente ligada à concepção de soberania.
Vejamos alguns conceitos de Estado:
Darcy Azambuja “organização política-jurídica de uma sociedade para
realizar o bem comum, com governo próprio e território determinado”
(p.06)
Dalmo de Abreu Dallari “a ordem jurídica soberana que tem por fim o
bem comum de um povo situado em determinado território” (p. 100-101)
Pablo Lucas Verdú “a sociedade territorial juridicamente organizada,
com poder soberano que busque o bem-estar geral” (p.49)
11 Daqui se pode aferir a clássica passagem acerca da evolução histórica do Estado: Estados antigos (Estado Grego, Estado
Romano), Estado Medieval, Estado Moderno. 2 Vide no Texto I- Dalmo de Abreu Dallari. Elementos da teoria geral do estado: formação originária e formação derivada do
Estado.
Texto II- Sobre a evolução o estado. Do estado absolutista ao estado democrático de direito. Márcio Eduardo da Silva Pedrosa
Morais.
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1.2. Organização do Estado
Ponto fundamental para se falar de organização do Estado, é tratar da sua forma. A
Constituição é tratada como lei fundamental exatamente por cuidar da organização
político administrativa do Estado.
A forma de Estado está relacionada ao modo sob o qual o poder político é exercido em
função de determinado território, ou seja, diz respeito à estrutura básica do Estado, sua
organização interna e o modo através do qual se reparte o poder político
Consoante se atenda à ocorrência de um único poder político ou a uma pluralidade de
poderes políticos, unidade ou pluralidade de ordenamentos jurídicos, os Estados se
classificam em Estados simples ou unitários e Estados compostos ou complexos, cuja
principal forma é a federação.
No Estado federal há uma “pulverização do poder” onde os vários entes, visando uma
integração harmônica, abrem mão de suas soberanias em favor do todo; deixam de ter
soberania externa; conservando sua independência na qualidade de ente autônomo,
movimentando-se dentro de uma esfera pré-estabelecida pela Constituição Federal. Dessa
forma ela se compõe da união de coletividades regionais autônomas.
Podemos então dizer que o binômio, soberania/autonomia, funciona como nota
distintiva, dentro do Estado federal, do que chamamos de entes federativos e ente federal,
sendo este detentor da soberania correspondente ao poder de determinação política do
Estado como um todo, projetada ao plano internacional, onde se compreende a ausência
de interferência externa como imperativo de convivência pacifica entre os povos.
Pode-se então explicar soberania e autonomia da seguinte forma:
O Estado federal, como Estado composto, envolve técnica de descentralização do
poder que se organiza com base territorial em competências que se repartem entre órgão
centrais e locais, criando-se vários centros de decisão política e uma pluralidade de
ordenamentos jurídicos originários.
Soberania é o Poder Estatal de se dirigir, reger, governar inteiramente por si mesmo, sem qualquer interferência de
ordem externa.
Autonomia é o elemento essencial dos entes federativos e significa a capacidade de editar normas próprias dentro de
um círculo preestabelecido pela Constituição Federal. A autonomia dos entes federativos pressupõe a repartição de
competências constitucionais, através da qual se revela a capacidade dos Estados-Membros para expedir as normas
que organizam, preenchem e desenvolvem o seu ordenamento jurídico.
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Outro elemento fundamental ao Estado federal é a participação, através da qual os
Estados federados integram a formação da vontade nacional, manifestando-se através de
representantes próprios, na elaboração e revisão da Constituição Federal e das leis
nacionais.
Portanto, são características da federação:
• Descentralização política
• Repartição de competências (políticas, administrativas, legislativas, tributárias)
• Existência de Constituição rígida (estabilidade)
• Inexistência do direito de secessão
• Soberania do Estado Federal, e autonomia dos Estados-Membros
• Intervenção como meio de assegurar a integridade nacional
• Auto-organização dos Estados Membros
• Órgão representativo dos Estados Membros na formação da vontade nacional
• Previsão de receitas tributárias próprias
A existência da federação pressupõe uma organização constitucionalmente prevista.
A federação brasileira está organizada nos artigos 18 a 33 da CF/88. Sua
indissolubilidade está prevista nos artigos 1° e 60 parágrafo 4°, inciso I da CF/88.
A repartição das competências entre os entes federativos, associada à organização dos
órgãos de Poder (art. 2°; 44 a 126 CF/88) atribui competências legislativas e
administrativas, matéria afeta ao Direito Administrativo .
1.3 Estado e o Direito
Nesse contexto, o que é o Direito? E o que é o Direito Administrativo?
Unidade 3 - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (resumo)
1.1. Conceito de Administração Pública
1.2. Administração Pública e Atividade administrativa
Para uns o vocábulo “Administração” significa SERVIR, EXECUTAR e para outros
envolve a ideia de DIREÇÃO OU GESTÃO NAS DUAS HIPÓTESES HÁ O SENTIDO DE
RELAÇÃO DE SUBORDINAÇÃO, DE HIERARQUIA.
- BASICAMENTE SÃO DOIS OS SENTIDOS EM QUE SE UTILIZA COMUMENTE A EXPRESSÃO
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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1) O PRIMEIRO É ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO SUBJETIVO, FORMAL OU
ORGÂNICO SINONIMO DE ESTADO E QUE COMPREENDE OS ENTES QUE EXERCEM A
ATIVIDADE ADMINISTRATIVA ÓRGÃOS, PESSOAS JURÍDICAS E AGENTES PÚBLICOS
QUE O NOSSO ORDENAMENTO JURÍDICO IDENTIFICA COMO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, E
QUE DESEMPENHAM FUNÇÃO ADMINISTRATIVA.
1.1 – A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL EM SENTIDO SUBJETIVO PODE SER
APRESENTADA, PORTANTO, COMO O RESULTADO DA SOMA DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA
E INDIRETA.
1.2 – PODE SER CONCEITUADA, PORTANTO, COMO O CONJUNTO DE ÓRGÃOS, ENTIDADES
(pessoas jurídicas) e pessoas (agentes) INSTITUÍDOS PARA A CONSECUÇÃO DOS OBJETIVOS
DO ESTADO
Aparelhamento do Estado Estrutura Administrativa do Estado
2) O SEGUNDO – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO OBJETIVO, MATERIAL OU
FUNCIONAL – EQUIVALE À ATIVIDADE ADMINISTRATIVA E DESIGNA A
NATUREZA DA ATIVIDADE EXERCIDA PELOS REFERIDOS ENTES – NESSE CONTEXTO A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA É A PRÓPRIA FUNÇÃO QUE INCUMBE,
PREDOMINANTEMENTE, AO PODER EXECUTIVO OU SEJA, ESTE CONCEITO ADOTA
COMO REFERÊNCIA A ATIVIDADE REALIZADA E NÃO OBRIGATORIAMENTE QUEM A
EXERCE.
Sentido subjetivo Sentido objetivo
• as pessoas jurídicas, órgãos
e agentes públicos que
exercem a função
administrativa (secretarias,
autarquias, fundações,
estatais, servidores públicos
etc)
• a atividades administrativas
exercidas por esses entes.
Atividades de fomento,
polícia administrativa ou
poder de polícia, serviços
públicos e intervenção.
1.3 CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO
• Centralização é a técnica de cumprimento de competências administrativas por
uma única pessoa jurídica governamental. É o que ocorre, por exemplo, com as
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atribuições exercidas diretamente pela União, Estados, Distrito Federal e
Municípios.
• Já na descentralização, as competências administrativas são distribuídas a pessoas
jurídicas autônomas, criadas pelo Estado para tal finalidade.
Descentralização Desconcentração
Consiste na transferência
da atividade administrativa
para outra pessoa, física ou
jurídica, integrante ou não
do aparelho estatal (ex:
descentralização para
autarquias, ou concessão
de serviço público etc)
Tem como base a
hierarquia administrativa –
consiste em uma
distribuição interna de
competências, ou seja,
uma especialização de
funções dentro da própria
estrutura estatal, sem que
isso implique a criação de
uma nova pessoa jurídica.
ATENÇÃO: ✓ A noção fundamental que distingue centralização e descentralização é a de
entidade.
✓ Nos termos do art. 1º, § 2º, II, da Lei nº 9.784/99, entidade é a unidade de atuação
dotada de personalidade jurídica própria.
✓ Tendo personalidade autônoma, tais entidades respondem judicialmente pelos
prejuízos causados por seus agentes públicos.
✓ A descentralização, nos termos do art. 6º, do Decreto-Lei nº 200/67, tem natureza
jurídica de princípio fundamental da organização administrativa.
✓ O conjunto de pessoas jurídicas autônomas criadas pelo Estado recebe o nome de
Administração Pública Indireta ou Descentralizada.
✓ Conforme art. 1º § 2º da Lei 9.784/99 órgão é a unidade de atuação integrante da
estrutura da Administração direta e da estrutura da Administração indireta
1.3.1. COMPOSIÇÃO
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA: União, Estados, Distrito Federal e Municípios. (Entes federativos) Art. 1º e 18 da CONSTITUIÇÃO FEDERAL ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA: consiste em um conjunto de pessoas administrativas, com personalidade jurídica própria, vinculadas à Administração Direta que desempenham atividades administrativas de forma descentralizada. Dessa forma, constitui-se das seguintes espécies de entidade:
• a) autarquias*, • b) fundações, • c) empresas públicas, • d) sociedades de economia mista, • e) consórcio públicos.
*As Agências reguladoras são autarquias especiais **As Agências executivas são autarquias ou fundações públicas que se qualificam como tal, em função de um contrato de gestão3. ( Lei 9.649/98) ***legislação: Decreto-lei 200/67; lei 11.107/05; lei 13.303/16 1.3.2. ADMINISTRAÇÃO E GOVERNO De acordo com o contexto trabalhado, é de suma importância fazer uma diferença entre função administrativa e função de governo. Governo, em sentido objetivo, é a atividade de condução dos altos interesses do Estado e da coletividade. É a atividade diretiva do Estado. O ato de governo, ou ato político, diferencia-se do ato administrativo por duas razões principais: 1ª) o ato de governo tem sua competência extraída diretamente da Constituição (no caso do ato administrativo, é da lei); 2ª) o ato de governo é caracterizado por uma acentuada margem de liberdade, ou uma ampla discricionariedade, ultrapassando a liberdade usualmente presente na prática do ato administrativo. Exemplos de ato de governo: declaração de guerra, intervenção federal em Estado-membro, sanção a projeto de lei. Governo é um conceito que sofreu importante alteração de conteúdo. A concepção clássica considerava que governo era sinônimo de Estado, isto é, a somatória dos três Poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. Atualmente, porém, governo, em sentido
3 Art. 51. O Poder Executivo poderá qualificar como Agência Executiva a autarquia ou fundação que tenha
cumprido os seguintes requisitos: I - ter um plano estratégico de reestruturação e de desenvolvimento institucional em andamento; II - ter celebrado Contrato de Gestão com o respectivo Ministério supervisor. § 1o A qualificação como Agência Executiva será feita em ato do Presidente da República. § 2o O Poder Executivo editará medidas de organização administrativa específicas para as Agências
Executivas, visando assegurar a sua autonomia de gestão, bem como a disponibilidade de recursos orçamentários e financeiros para o cumprimento dos objetivos e metas definidos nos Contratos de Gestão
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subjetivo, é a cúpula diretiva do Estado, responsável pela condução dos altos interesses estatais e pelo poder político, e cuja composição pode ser modificada mediante eleições. Nesse sentido, pode-se falar em “governo FHC”, “governo Lula”. Na acepção objetiva ou material, governo é a atividade diretiva do Estado. Administração Pública (com iniciais maiúsculas) é um conceito que não coincide com Poder Executivo. Atualmente, o termo Administração Pública designa o conjunto de órgãos, pessoas jurídicas e agentes estatais no exercício da função administrativa, independentemente se integram ao Poder Executivo, ao Legislativo, ao Judiciário, ou a qualquer outro organismo estatal (como Ministério Público e Defensorias Públicas). Assim, por exemplo, quando o Supremo Tribunal Federal constitui comissão de licitação para contratar determinado prestador de serviços, a comissão e seus agentes são Administração Pública porque e enquanto exercem essa função administrativa. 1.4. REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO- PODERES E SUJEIÇÕES
A expressão regime jurídico administrativo é reservada tão somente para abranger o conjunto de traços, de conotações, que tipificam o Direito Administrativo, colocando a Administração Pública numa posição privilegiada, vertical, na relação jurídico-administrativa; e resume em duas palavras apenas: prerrogativas e sujeições. O Direito Administrativo nasceu e desenvolveu-se baseado em duas ideias opostas: de um lado, a proteção aos direitos individuais frente ao Estado, que serve de fundamento ao princípio da legalidade, um dos esteios do Estado de Direito; de outro lado, a de necessidade de satisfação dos interesses coletivos, que conduz à outorga de prerrogativas e privilégios para a Administração Pública, quer para limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do bem-estar coletivo (poder de polícia), quer para a prestação de serviços públicos. Daí a bipolaridade do Direito Administrativo: liberdade do indivíduo e autoridade da Administração; restrições e prerrogativas. Para assegurar-se a liberdade, sujeita-se a Administração Pública à observância da lei e do direito (incluindo princípios e valores previstos explícita ou implicitamente na Constituição); é a aplicação, ao direito público, do princípio da legalidade. Para assegurar-se a autoridade da Administração Pública, necessária à consecução de seus fins, são-lhe outorgados prerrogativas e privilégios que lhe permitem assegurar a supremacia do interesse público sobre o particular; desconhecidos na esfera do direito privado, tais como a auto executoriedade, a autotutela, o poder de expropriar, o de requisitar bens; e serviços, o de ocupar temporariamente o imóvel alheio, o de instituir servidão, o de aplicar sanções administrativas, o de alterar e rescindir unilateralmente os contratos, o de impor medidas de polícia. Segundo Cretella Júnior (Revista de Informação Legislativa, v. 97: 13), as prerrogativas públicas são "as regalias usufruídas pela Administração, na relação jurídico-administrativa, derrogando o direito comum diante do administrador, ou, em outras palavras, são as
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faculdades especiais conferidas à Administração, quando se decide a agir contra o particular". Ao lado das prerrogativas, existem determinadas restrições a que estão sujeita a Administração, sob pena de nulidade do ato administrativo e, em alguns casos, até mesmo de responsabilização da autoridade que o editou. Dentre tais restrições, citem-se a observância da finalidade pública, bem como os princípios da moralidade administrativa e da legalidade, a obrigatoriedade de dar publicidade aos atos administrativos e, como decorrência dos mesmos, a sujeição à realização de concursos para seleção de pessoal e de concorrência pública para a elaboração de acordos com particulares. Ao mesmo tempo em que as prerrogativas colocam a Administração em posição de supremacia perante o particular, sempre com o objetivo de atingir o benefício da coletividade, as restrições a que está sujeita limitam a sua atividade a determinados fins e princípios que, se não observados, implicam desvio de poder e consequente nulidade dos atos da Administração. O conjunto das prerrogativas e restrições a que está sujeita a Administração e que não se encontram nas relações entre particulares constitui o regime jurídico administrativo. 1.5. Paraestatais (Terceiro Setor)
A descentralização pode ser objeto de transferência negocial e ser direcionado para o particular que atua em sistema de cooperação e colaboração com a Administração Pública, mediante a realização de instrumentos jurídicos específicos.
Nesse contexto, surgem novas frentes de atuação do Estado, para alcançar a satisfação do interesse público, não se restringido mais a organização administrativa à forma tradicionalmente aplicada até o advento da CFRB em 1988.
Assim, a organização administrativa, além dos órgãos e pessoas jurídicas que integram a Administração Pública direta e indireta, compreende também os particulares, dividindo-se em três setores, quais sejam:
1º setor: Estado (Adm. Pública Direta e Adm. Pública Indireta) 2º setor: mercado (concessionárias e permissionárias de serviços públicos) 3º setor: sociedade civil (Serviços Sociais Autônomos – Sistema “S”, Organizações Sociais – “OS”, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – “OSCIPs” etc)
Os dois últimos setores atuam em PARECERIA com o Estado, visando a execução de serviços públicos e o desempenho de atividades de interesse social mediante vínculo formal definido em lei (contrato de concessão, contrato de gestão, termo de parceria etc.)
O terceiro setor é composto por entidades privadas sem fins lucrativos e que assumem formas organizacionais há muito conhecidas, como por exemplo, fundações privadas ou associações civis.
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Nesse sentido, a definição de Gustavo Henrique Justino de Oliveira4, para quem o terceiro setor “é o conjunto de atividades voluntárias desenvolvidas por organizações privadas não-governamentais e sem ânimo de lucro (associações e fundações) realizadas em prol da sociedade, independentemente dos demais setores (Estado e Mercado), embora deles possa firmar parcerias e receber investimentos (públicos e privados)”.
Ou seja, não são novas modalidades de pessoas jurídicas, mas se diferem das demais instituições da mesma categoria devido ao fato de lhes ser atribuida uma QUALIFICAÇÃO JURÍDICA.
Assim, visando valorizar a sociedade civil, sem fins lucrativos, o Estado tem criado qualificações jurídicas que viabilizam o reconhecimento de benefícios públicos e a formalização de parcerias para consecução de seus objetivos sociais.
Portanto, como bem coloca Rafael Carvalho5, “cada ente federado, no âmbito de sua autonomia político-administrativa, possui liberdade para criar qualificações jurídicas diversas, não havendo um rol exaustivo e definitivo para tais qualificações”.
Essas qualificações jurídicas nada mais são do que um ato de RECONHECIMENTO do Estado concedido de acordo com o objeto de atuação, por exemplo: Organização Social - “OS”, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIPs, Fundações de Apoio, entre outros.
São características comuns das entidades 3º Setor:
• São criadas pela iniciativa privada • Não possuem finalidade lucrativa • Não integram a API • Prestam atividades privadas de relevância social • Possuem vínculo legal ou negocial com o Estado • Recebem benefícios públicos.
Nesse contexto, diante das parcerias firmadas entre os entes federados e os
terceiros destacam-se as entidades privadas, sem fins lucrativos, e que recebem a
qualificação de ORGANIZAÇÕES SOCIAIS – OSs e as Oscips
1.5.1. ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
Maria Sylvia Zanella Di Pietro define Organização Social, como sendo “a qualificação jurídica dada a pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, instituída por iniciativa de particulares, e que recebe delegação do Poder Público, mediante contrato de gestão, para desempenhar serviço público de natureza social. Nenhuma entidade nasce com o nome de organização social; a entidade é criada pela iniciativa privada como
4 Apud VIOLIN, Tarso Cabral. Terceiro Setor e as Parcerias com a Administração Pública. Uma análise crítica. Ed. Fórum, 2ª
edição, 2010, pág. 123. 5 Curso de Direito Administrativo – Gen Editora, 3ª edição, 2015, pág. 191.
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associação ou fundação e, habilitando-se perante o Poder Público, recebe a qualificação; trata-se de título jurídico outorgado e cancelado pelo Poder Público”. Essas entidades foram disciplinadas no âmbito federal pela Lei nº 9.637/98 e 9.790/99; e
no Estado de Goiás pela Lei nº 15.503/05 e 15.731/06. (Lei 13.204/15)
No que tange aos Municípios e ao Distrito Federal, nada impede que instituam suas próprias leis sobre as qualificações como Organizações Sociais - OSs, assim como, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIPs, vez que a lei acima citada não é de âmbito nacional, e serve, portanto, de modelo, devendo ser adaptada às peculiaridades regionais.
Sobre o tema, a lição da Professora Maria Sylvia no quadro abaixo:
Quanto aos Estados e Municípios, eles dispõem de competência própria para legislar a respeito das organizações sociais, não sendo obrigados a adotar o modelo federal. O artigo 15 da Lei nº 9.637/98 estende os efeitos dos artigos 11 (declaração como entidades de interesse social e utilidade pública para todos os efeitos legais) e 12, § 3º (permissão de uso de bens públicos, com dispensa de licitação), “quando houver reciprocidade e desde que a legislação local não contrarie os preceitos desta Lei e a legislação específica de âmbito federal”. Também é importante realçar que as organizações sociais que recebam recursos da União, como ocorre na área da saúde, com os recursos do SUS, submetem-se ao controle pelo Tribunal de Contas da União, já que se trata de utilização de recursos do orçamento da União. Nesse sentido foi a referida decisão do TCU (acórdão nº 3239/13).
O QUE É O CONTRATO DE GESTÃO E QUAL SEU OBJETO?
É o instrumento pelo qual se estabelece o vínculo jurídico entre a organização social e a Administração Pública. É definido pelo artigo 5º da Lei nº 9.637/98 como “o instrumento firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como organização social, com vistas à formação de parceria entre as partes para fomento e execução de atividades relativas às áreas relacionadas no artigo 1º”. Por meio dele, fixam-se as metas a serem cumpridas pela entidade e a forma pela qual o Poder Público fomenta a entidade, quer cedendo bens públicos, quer transferindo recursos orçamentários, quer cedendo servidores públicos. O contrato deve definir ainda o programa de trabalho, os prazos de execução, os critérios de avaliação de desempenho, com indicadores de qualidade e produtividade, os limites e critérios para despesa com remuneração e vantagens de
qualquer natureza, dos dirigentes e empregados das organizações sociais.
Tem como objeto a gestão de um determinado serviço público e a gestão de um
patrimônio público que lhes são delegados/transferidos pelo Poder Público por intermédio
do Contrato de Gestão.