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DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS O conceito de princípio constitucional não pode ser tratado sem correlação com a idéia de princípio no Direito, posto que o princípio constitucional, além de princípio jurídico, é um princípio que haure a sua força teórica e normativa do Direito enquanto ciência e ordem jurídica. Para se analisar, com satisfatoriedade, o conceito de princípio no Direito, cumpre sejam levantadas, inicialmente, as significações de princípio fora do âmbito do saber jurídico para depois adentrar-se nesta área. Princípio sm [do lat principiu]. Ato de principiar; momento em que uma coisa tem origem; começo ou início. Ponto de partida. 1 O dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira 2 define princípio em várias acepções: Princípio: 1. Momento ou local ou trecho em que algo tem origem [...] 2. Causa primária. 3. Elemento predominante na Constituição de um corpo orgânico. 4. Preceito, regra, lei. 5. P. ext. Base; germe [...]. 6. Filos. Fonte ou causa de uma ação. 7. Filos. Proposição que se põe no início de uma dedução, e que não é deduzida de nenhuma outra dentro do sistema considerado, sendo admitida, provisoriamente, como inquestionável. São princípios os axiomas, os postulados, os teoremas etc. Adiante, noutra passagem do referido dicionário, registra-se o significado de princípios – agora no plural -: “Princípios. [...] 4. Filos. Proposições diretoras de uma ciência, às quais todo o desenvolvimento posterior dessa ciência deve estar subordinado.” Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

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  • DOS PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS

    O conceito de princpio constitucional no pode ser tratado sem

    correlao com a idia de princpio no Direito, posto que o princpio constitucional,

    alm de princpio jurdico, um princpio que haure a sua fora terica e normativa do Direito enquanto cincia e ordem jurdica.

    Para se analisar, com satisfatoriedade, o conceito de princpio no

    Direito, cumpre sejam levantadas, inicialmente, as significaes de princpio fora do mbito do saber jurdico para depois adentrar-se nesta rea.

    Princpio sm [do lat principiu]. Ato de principiar; momento em que uma

    coisa tem origem; comeo ou incio. Ponto de partida.1

    O dicionrio de Aurlio Buarque de Holanda Ferreira2 define princpio

    em vrias acepes:

    Princpio: 1. Momento ou local ou trecho em que algo tem origem [...] 2. Causa primria. 3. Elemento predominante na Constituio de um corpo orgnico. 4. Preceito, regra, lei. 5. P. ext. Base; germe [...]. 6. Filos. Fonte ou causa de uma ao. 7. Filos. Proposio que se pe no incio de uma deduo, e que no deduzida de nenhuma outra dentro do sistema considerado, sendo admitida, provisoriamente, como inquestionvel. So princpios os axiomas, os postulados, os teoremas etc.

    Adiante, noutra passagem do referido dicionrio, registra-se o

    significado de princpios agora no plural -: Princpios. [...] 4. Filos. Proposies

    diretoras de uma cincia, s quais todo o desenvolvimento posterior dessa cincia

    deve estar subordinado.

    Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988

  • No princpio repousa a essncia de uma ordem, seus parmetros

    fundamentais e direcionadores do sistema.

    A idia de um princpio ou sua conceituao, seja l qual for o campo do saber que se tenha em mente, designa a estruturao de um sistema de idias,

    pensamentos ou normas por uma idia mestra e por um pensamento chave, de

    onde todas as demais idias, pensamentos ou normas derivam, se conduzem e se

    subordinam.

    Em qualquer cincia o comeo, o ponto de partida. a pedra angular de qualquer sistema.

    Para DE PLCIDO E SILVA:4 Princpios, no plural, significam as normas elementares ou os requisitos primordiais institudos como base, como alicerce de alguma coisa [...] revelam o conjunto de regras ou preceitos, que se fixam para servir de norma a toda espcie e ao jurdica, traando, assim, a conduta a ser tida em qualquer operao jurdica [...] exprimem sentido mais relevante que o da prpria norma ou regra jurdica [...] mostram-se a prpria razo fundamental de ser das coisas jurdicas, convertendo-as em perfeitos axiomas [...] significam os pontos bsicos, que servem de ponto de partida ou de elementos vitais do prprio Direito.

    MIGUEL REALE5 afirma que princpios so:

    [...] verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas tambm por motivos de ordem prtica de carter operacional, isto , como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da prxis.

    GENARO CARRI6 comenta que:

    Principio de derecho, es el pensamiento directivo que domina y sirve de base a la formacin de las singulares disposiciones

    4 SILVA, De Plcido. Vocabulrio Jurdico. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 639.

    5 REALE, Miguel. Lies Preliminares de Direito. So Paulo: Saraiva, 1980, p. 299.

    6 CARRI, Genaro R. Princpios Jurdicos y Positivismo Jurdico. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1970, p. 33.

  • de Derecho de uma institucin jurdica, de um Cdigo o de todo um Derecho positivo. El principio encarna el ms alto sentido de una ley o institucin de Derecho, el motivo dominante, la razn informadora del Derecho [ratio juris], aquella idea cardinal bajo la que se cobijan y por la que se explican los preceptos particulares, a tal punto, que stos se hallan com aqulla em la propia relacin lgica que la consecuencia al principio de donde se derivan.

    Pode-se afirmar que os princpios constituem verdadeiras proposies

    lgicas, sendo embasamentos do sistema jurdico. No que tange aos princpios jurdicos, ROQUE ANTNIO CARRAZA7

    afirma que:

    [...] princpio jurdico um enunciado lgico, implcito ou explcito, que, por sua grande generalidade, ocupa posio de preeminncia nos vastos quadrantes do Direito e, por isso mesmo, vincula, de modo inexorvel, o entendimento e a aplicao das normas jurdicas que com ele se conectam.

    Quanto ao papel dos princpios, CELSO BASTOS8 nos traz a seguinte

    lio:

    [...] nos momentos revolucionrios, resulta saliente a funo ordenadora dos princpios. [...] Outras vezes, os princpios desempenham uma ao imediata, na medida em que tenham condies para serem auto-executveis. Exercem, ainda, uma ao tanto no plano integrativo e construtivo como no essencialmente prospectivo. [...] Finalmente, uma funo importante dos princpios a de servir de critrio de interpretao para as normas. Se houver uma pluralidade de significaes possveis para a norma, deve-se escolher aquela que a coloca em consonncia com o princpio, porque, embora este perca em determinao, em concreo, ganha em abrangncia.

    7 CARRAZA, Roque Antnio. Curso de Direito Constitucional Tributrio. 7 ed. So Paulo: Malheiros

    Editores, 1995, p. 29. 8 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 21 .ed. So Paulo: Saraiva, 2000, p. 55-56.

  • Para Paulo Bonavides: Princpios so verdades objetivas, nem sempre pertencentes ao mundo do ser, seno do dever-ser, na qualidade de normas

    jurdicas, dotadas de vigncia, validez e obrigatoriedade. 9 Nos princpios se encontrar as diretrizes valorativas vlidas,

    aplicveis interpretao constitucional.

    2. Princpios constitucionais

    Faz-se interessante aqui, antes de abordar os princpios

    constitucionais, transcrever o pensamento de CANOTILHO:10

    [...] a Constituio , [...] uma lei, configurando a forma tpica de qualquer lei, compartilhando com as leis em geral um certo nmero de caractersticas (forma escrita, redao articulada, publicao oficial etc). Mas tambm, uma lei diferente das outras: uma lei especfica, j que o poder que a gera e o processo que a veicula so tidos como constituintes, assim como o poder e os processos que a reformam so tidos como constitudos, por ela mesma; uma lei necessria, no sentido de que no pode ser dispensada ou revogada, mas apenas modificada; uma lei hierarquicamente superior a lei fundamental, a lei bsica que se encontra no vrtice da ordem jurdica, qual todas as leis tm de submeter-se; uma lei constitucional, pois, em princpio, ela detm o monoplio das normas constitucionais.

    Os princpios constitucionais so aqueles que guardam os valores

    fundamentais da ordem jurdica. Nos princpios constitucionais, condensa-se bens e valores

    considerados fundamentos de validade de todo o sistema jurdico. Na concepo de CELSO BASTOS:

    Os princpios constituem idias gerais e abstratas, que expressam em menor ou maior escala todas as normas que compem a seara do direito. Poderamos mesmo dizer que

    9 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 11 ed. So Paulo: Malheiros Editores, 2001, p. 229.

    10 CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Fundamentos da Constituio. Coimbra: Almedina, 1991, p. 40, apud

    ESPNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de Princpios Constitucionais. 2 ed. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 100.

  • cada rea do direito no seno a concretizao de certo nmero de princpios, que constituem o seu ncleo central. Eles possuem uma fora que permeia todo o campo sob seu alcance. Da por que todas as normas que compem o direito constitucional devem ser estudadas, interpretadas, compreendidas luz desses princpios. Quanto os princpios consagrados constitucionalmente, servem, a um s tempo, como objeto da interpretao constitucional e como diretriz para a atividade interpretativa, como guias a nortear a opo de interpretao. 11

    Observa-se que os princpios constitucionais merecem meno

    especial. So o pice do sistema jurdico, tudo que lhes segue tm que estar em perfeita harmonia e conformidade com seus preceitos. Tais princpios valores que

    serviro de critrios para as futuras normas e sero concretizados medida que

    forem sendo editadas normas para sua efetivao.

    Destaca-se tambm os ensinamentos de LUS ROBERTO BARROSO12:

    [...] os princpios constitucionais so, precisamente, a sntese dos valores mais relevantes da ordem jurdica. A Constituio [...] no um simples agrupamento de regras que se justapem ou que se superpem. A idia de sistema funda-se na de harmonia, de partes que convivem sem atritos. Em toda ordem jurdica existem valores superiores e diretrizes fundamentais que costuram suas diferentes partes. Os princpios constitucionais consubstanciam as premissas bsicas de uma dada ordem jurdica, irradiando-se por todo o sistema. Eles indicam o ponto de partida e os caminhos a serem percorridos.

    Pela doutrina, so exemplos de princpios consagrados nos textos

    constitucionais: Estado de Direito, soberania nacional, dignidade da pessoa humana,

    prevalncia dos direitos humanos, dentre outros.

    Para CELSO ANTNIO BANDEIRA DE MELLO13, princpio jurdico :

    11

    BASTOS, Celso Ribeiro. Op. Cit., p. 57. 12

    BARROSO, Lus Roberto. Interpretao e aplicao da Constituio. So Paulo: Saraiva, 1996, p. 142-143. 13

    MELLO, Celso Antnio Bandeira de. Contedo jurdico do princpio da igualdade. 3 ed. So Paulo: Malheiros Editores, 2000, p. 68.

  • Mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce deste, disposio fundamental que se irradia sobre diferentes normas comparando-lhes o esprito e servindo de critrio para sua exata compreenso e inteligncia, exatamente por definir a lgica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tnica e lhe d sentido hamnico.

    Um princpio est sempre relacionado com outros princpios e normas,

    que lhes do equilbrio e reafirmam sua importncia.

    Os princpios so encontrados em todos os escales do ordenamento jurdico, porm, os constitucionais so os mais importantes. A Constituio documento jurdico que contm em seu texto princpios que encarnam valores supremos e superiores havidos na sociedade.14

    So verdadeiros alicerces e proposies lgicas, na estruturao de

    um sistema constitucional.

    Constata-se uma tendncia do Direito Constitucional contemporneo,

    sendo a Constituio como estrutura sistmica aberta, composta por princpios e

    regras.

    CANOTILHO15 insere na Constituio um sistema aberto de regras e

    princpios:

    Salienta-se na moderna constitucionalstica que riqueza de formas da constituio corresponde a multifuncionalidade das normas constitucionais. Ao mesmo tempo, aponta-se para necessidade dogmtica de uma classificao tipolgica da estrutura normativa.

    Neste mesmo raciocnio, classifica regras e princpios constitucionais

    como duas espcies de normas, contemplando alguns critrios de distino entre

    eles:

    14

    FERREIRA, Suzana Maria da Glria. O princpio da igualdade no direito de famlia luz do novo Cdigo Civil. Tese (Tese em Direito) PUC/SP. So Paulo: Biblioteca da PUC, 2004, p. 30. 15

    CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 5 ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1991, p.171-172.

  • a) O grau de abstraco: os princpios so normas com um grau de abstraco relativamente elevado; de modo diverso, as regras possuem uma abstraco relativamente reduzida. b) Grau de determinabilidade na aplicao do caso concreto: os princpios, por serem vagos e indeterminados, carecem de mediaes concretizadoras (do legislador? do juiz?), enquanto as regras so susceptveis de aplicao directa. c) Carter de fundamentalidade no sistema das fontes de direito: os princpios so normas de natureza ou com um papel fundamental no ordenamento jurdico devido sua posio hierrquica no sistema das fontes (ex: princpios constitucionais) ou sua importncia estruturante dentro do sistema jurdico (ex: princpio do Estado de Direito). d) Proximidade da idia de direito: os princpios so standards juridicamente vinculantes; [...] as regras podem ser normas vinculativas com um contedo meramente funcional. f) Natureza normogentica: os princpios so fundamento de regras, isto , so normas que esto na base ou constituem a ratio de regras jurdicas, desempenhando, por isso, uma funo nomogentica fundamentante. 16

    Dessa maneira, CANOTILHO prope uma estrutura sistmica que

    possibilita a compreenso da Constituio como um sistema aberto de regras e

    princpios. Pois, segundo essa linha de raciocnio do autor, um sistema constitudo

    exclusivamente de regras se tornaria um sistema jurdico de limitada racionalidade prtica, exigindo-se, assim, uma disciplina legislativa exaustiva e completa do

    mundo e da vida, no havendo qualquer espao livre para a complementao e

    desenvolvimento de um sistema, como o constitucional, que necessariamente um

    sistema aberto. Por outro lado, um sistema baseado exclusivamente em princpios

    tambm seria inaceitvel, pois a indeterminao e a inexistncia de regras precisas

    s poderiam conduzir a um sistema falho de segurana jurdica e tendencialmente incapaz de reduzir a complexidade do prprio sistema.

    Assim, pode-se afirmar que o sistema jurdico necessita de princpios ou do valor que eles exprimem, com exemplo: liberdade, igualdade, dignidade,

    Estado de Direito. 16

    CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Op. Cit. , p.172-173.

  • [...] em caso de conflito entre princpios, estes podem ser objecto de ponderao, de harmonizao, pois eles contm apenas exigncias ou standards que, em primeira linha (prima facie), devem ser realizados; as regras contm fixaes normativas definitivas, sendo insustentvel a validade simultnea de regras contraditrias.[...]17

    Os princpios possuem um grau de abstrao relativamente elevado,

    conforme afimao de Canotilho supra, que permitem o balanceamento de valores e

    interesses, ao contrrio das normas que, devem cumprir a exata medida de suas

    prescries.

    [...] uma tendncia predominante no Direito Constitucional brasileiro, e, ao que parece, no Direito Constitucional contemporneo tambm: falar de princpios em termos estruturantes dos princpios mais abertos aos mais densos, chegando-se ao patamar normativo das regras, reconduzindo-se, em via de retorno destas, progressiva e sucessivamente, at os princpios mais abstratos (de maior estrutura e de menos densidade). Essa concepo refora, como se pode deduzir, a idia de normatividade dos princpios constitucionais, ao emprestar-lhe um sentido articulado-estruturante, [...] j que torna mais plausvel a compreenso, a interpretao e a aplicao dos princpios de maior abertura pelos princpios de maior densidade e pelas regras constitucionais.18

    3. Classificao dos Princpios Constitucionais

    Alguns autores classificam princpios constitucionais, utilizando alguns critrios.

    CANOTILHO19 classifica-os em: Princpios jurdicos fundamentais: os princpios historicamente objetivados e progressivamente introduzidos na conscincia jurdica e que encontram uma recepo expressa ou implcita no texto constitucional. Pertencem ordem jurdica positiva e constituem um importante fundamento para a interpretao, integrao, conhecimento e aplicao do direito positivo. [...] os

    17

    CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Op. Cit., p.174. 18

    ESPNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de Princpios Constitucionais. 2 ed. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 185. 19

    CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Op. Cit., p. 177-179.

  • princpios tm uma funo negativa particularmente relevante nos casos limites (Estado de Direito e de No Direito, Estado Democrtico e Ditadura). [...] eles fornecem sempre directivas materiais de interpretao das normas constitucionais. Mais do que isso: vinculam o legislador no momento legiferante, de modo a poder dizer-se ser a liberdade de conformao legislativa positiva e negativamente vinculada pelos princpios jurdicos gerais. Princpios polticos constitucionalmente conformadores: so os princpios constitucionais que explicam as valoraes polticas fundamentais do legislador constituinte. Neles condensam as opes polticas nucleares e se reflete a ideologia inspiradora da constituio. Os princpios polticos constitucionais so o cerne poltico de uma constituio poltica. [...] situam-se a, os princpios definidores da forma de Estado. [...] os princpios polticos constitucionalmente conformadores so princpios normativos, rectrizes e operantes, que todos os rgos encarregados da aplicao do direito devem ter em conta, seja em actividades interpretativas, seja em actos inequivocadamente conformadores. Princpios constitucionais impositivos: aqui, subsumem-se todos os princpios que, no mbito da constituio dirigente, impem aos rgos do Estado, sobretudo ao legislador, a realizao de fins e a execuo de tarefas. So, portanto, princpios dinmicos, prospectivamente orientados. Estes princpios designam-se, muitas vezes, por preceitos definidores dos fins do Estado, princpios directivos fundamentais [...]. Como exemplo de princpios constitucionais impositivos podem apontar-se o princpio da independncia nacional [...]. Traam, sobretudo para o legislador, linhas rectrizes da sua actividade poltica e legislativa. Princpios-garantia: visam instituir directa e imediatamente uma garantia dos cidados. -lhe atribuda uma densidade de autntica norma jurdica e uma fora determinante, positiva e negativa. Refiram-se a ttulo de exemplo, o princpio [...] do juiz natural [...], os princpios de non bis in idem e in dbio pro reo. [...]. Estes princpios traduzem-se no estabelecimento directo de garantias para os cidados e da que os autores lhes chamem princpios em forma de norma jurdica e considerem o legislador estreitamente vinculado na sua aplicao.

  • Na concepo de JORGE MIRANDA20, os princpios constitucionais

    so substantivos e adjetivos ou instrumentais, subdividindo o primeiro em outras sub-categorias, assim delineados:

    Princpios axiolgicos fundamentais: so os limites transcendentares do poder constituinte, via de positivao do Direito natural. Ex: o direito de defesa; Princpios poltico-constitucionais: so os limites inerentes do Poder Constituinte, os signos especficos de cada Constituio material diante das demais, refletindo as opes de cada regime. Ex: o princpio democrtico; Princpios constitucionais instrumentais: constituem a estruturao do sistema constitucional quanto sua racionalidade e operacionalidade.

    JOS AFONSO DA SILVA21 resume as classificaes dos princpios fundamentais, sintetizando-os em:

    Princpios poltico-constitucionais Constituem-se daquelas decises polticas fundamentais concretizadoras em normas conformadoras do sistema constitucional positivo, [...]. Manifestam-se como princpios constitucionais fundamentais, positivados em normas-princpio [...]. So esses princpios fundamentais que constituem a matria dos arts. 1 a 4 do Ttulo I da Constituio. Princpios jurdicos-constitucionais - So princpios constitucionais gerais informadores da ordem jurdica nacional.

    20

    MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Direitos Fundamentais. T.IV. Portugal: Coimbra, 1988, p. 197. Apud FERREIRA, Suzana Maria da Glria. O princpio da igualdade no direito de famlia luz do novo Cdigo Civil. Tese (Tese em Direito) PUC/SP. So Paulo: Biblioteca da PUC, 2004, p. 34-35. 21

    SILVA, Jos Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 29 ed. So Paulo: Malheiros Editores, 2007, p. 93.

  • Teoria Geral da Constituio

    Direito Constitucional a cincia que propicia o conhecimento da organizao fundamental do Estado. Ou seja, refere-se estruturao do poder poltico, seus contornos jurdicos e limites de atuao (direitos humanos fundamentais e controle de constitucionalidade)1.

    Jos Afonso da Silva2 nos ensina que o Direito Constitucional configura-se como Direito Pblico fundamental por referir-se diretamente organizao e funcionamento do Estado, articulao dos elementos primrios do mesmo e ao estabelecimento das bases da estrutura poltica.

    Em outras palavras, o Direito Constitucional busca interpretar as normas fundamentais do Estado, a sua organizao e estruturao poltica, bem como os limites de atuao e os princpios fundamentais que o norteiam; e justamente por isso tratado dentro do ramo de Direito Pblico.

    Vale lembrar que o Direito um todo e a sua diviso ocorre meramente para fins didticos. Abrange as seguintes disciplinas:

    a) Direito Constitucional Positivo (particular ou especial) sua anlise recai sobre as normas fundamentais vigentes. Ou seja, seu objeto a interpretao, crtica e sistematizao das normas vigentes em certo Estado. Assim, fala-se em Direito Constitucional Particular quando se examinam as peculiaridades da organizao jurdica de cada Estado, e em Direito Constitucional Positivo quando se ressalva a vigncia e eficcia das normas que compem o seu ordenamento jurdico.

    b) Direito Constitucional Comparado analisa diversas Constituies para obter da

    comparao dessas normas positivas dados sobre semelhanas ou diferenas que so teis ao estudo jurdico, captando o que h de essencial na unidade e na

    1 Segundo Canotilho, o Direito Constitucional um intertexto aberto, ou seja, deve muito a experincias constitucionais, nacionais e estrangeiras; no seu esprito transporta ideias de filsofos, pensadores e polticos, contudo, no se dissolve na histria, sendo vigente e vivo. 2 DA SILVA, Jos Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 29. ed. So Paulo: Malheiros, p. 34.

  • diversidade entre elas. O Direito Constitucional Comparado assenta-se em sistemas jurdicos positivos, embora no necessariamente vigentes3.

    Finalidade:

    Mostrar ao Estado a origem de um instituto nele introduzido. Dissipar dvidas quanto a origem de determinado instituto explicando que,

    apesar de ser semelhante a um que se encontra em outro pas, no pode ser colhido neste.

    c) Direito Constitucional Geral utiliza normas positivas, peculiares ao Direito

    Constitucional daquele Estado, estabelecendo conceitos, princpios e apontando tendncias gerais. Ou seja, a prpria teoria geral do Direito Constitucional (ex.: conceito de Direito Constitucional, seu objeto e contedo, teoria da constituio, hermenutica, interpretao e aplicao das normas constitucionais, teoria do poder constituinte etc.).

    Considerando como critrio a matria, fala-se em:

    a) Direito Constitucional Material cuida da organizao do Estado, de seu modo de ser e de sua estrutura. Varia de Estado para Estado.

    b) Direito Constitucional Adjetivo envolve regras pertinentes aplicabilidade da

    Constituio (ex.: prembulo, ato de promulgao, publicao, aplicao material propriamente dita e processo de modificao).

    c) Direito Poltico para uns equivale ao Direito Constitucional, enquanto outros

    dizem ter maior amplitude, abrangendo a Teoria do Estado e a Sociologia Poltica (estrutura da organizao poltica e suas relaes com a sociedade, a ordem e a atividade poltica), sendo o Direito Constitucional apenas o setor estritamente jurdico do Direito Poltico.

    1.1. Constituio

    A palavra Constituio deriva do verbo latino constituere (estabelecer definitivamente), contudo, usada no sentido de Lei Fundamental do Estado, com efeito, a Constituio a organizao jurdica fundamental do Estado, um conjunto de regras sistematizadas em um texto nico, por conseguinte, formal.

    Em sentido poltico e jurdico, diz Jos Afonso que a Constituio do Estado, considerada sua lei fundamental, seria a organizao dos seus elementos essenciais, a 3 O trabalho comparativo pode consistir em: 1) microcomparao exame de fragmentos jurdicos elementares que formam as ordens jurdicas; 2) macrocomparao estudo das estruturas determinantes e das ordens jurdicas enquanto tais.

  • saber: um sistema de normas jurdicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisio e o exerccio do poder, o estabelecimento de seus rgos e os limites de sua ao.

    As regras do texto constitucional, sem exceo, so revestidas de supralegalidade e esto no grau mximo de eficcia, ou seja, possuem eficcia superior s demais normas que jamais podem ser contradas. Por isso, a Constituio norma positiva suprema (positiva, porque escrita).

    A estrutura do ordenamento jurdico escalonada. Essa ideia remonta a Kelsen, segundo o qual todas as normas situadas abaixo da Constituio devem ser com ela compatveis.

    Verifica-se que no pice da pirmide esto as normas constitucionais; logo, todas as demais normas do ordenamento jurdico devem buscar seu fundamento de validade no texto constitucional, sob pena de inconstitucionalidade.

    Em outras palavras, toda e qualquer norma inferior tem que manter uma necessria relao de conformidade com a norma acima dela, por conseguinte todo o ordenamento jurdico infraconstitucional dever guardar uma relao de compatibilidade com as normas constitucionais, o nome tcnico disso Relao de Compatibilidade Vertical (RCV).

    Basta que a regra jurdica esteja na Constituio Federal para ela ser revestida de supralegalidade, independentemente da matria que trata. Na Constituio Federal de 1988, existem Regras Formalmente Constitucionais (RFC) e Regras Materialmente Constitucionais (RMC).

    CF

    Demais normas

  • 1.2. Regras Materialmente e Formalmente Constitucionais

    Atualmente h um alargamento do campo constitucional, ou seja, da expanso da sua fora normativa para abranger domnios em que anteriormente o texto constitucional no penetrava (ex.: organizao econmica e relaes sociais). Adota-se, portanto, a ideia de constituio aberta.

    1.3. Concepes Sobre as Constituies

    A Teoria da Constituio como conhecimento jurdico, poltico e filosfico deve-se doutrina alem. Sua formao e autonomia decorreram da preocupao de se chegar a um conceito substantivo de Constituio. Ela examina, identifica e critica os limites, as possibilidades e a fora normativa do Direito Constitucional, ocupando-se em estudar os diversos conceitos de Constituio, o Poder Constituinte e a legitimidade da Constituio; reforma constitucional; direitos fundamentais e separao de poderes, como elementos caractersticos do Estado de Direito etc.

    O vocbulo Constituio tem muitos significados, mas h um sentido primrio: a Constituio Lei Fundamental ao Estado e ao seu povo, ditando ao primeiro os limites de atuao como forma de proteger ou tutelar o segundo.

    1.3.1. Sentido Sociolgico

    Ferdinand Lassalle4 leciona que a Constituio corresponde ao somatrio dos fatores reais de poder que vigoram em um pas. Segundo o mestre alemo: De nada serve o que se escreve numa folha de papel se no se ajusta realidade, aos fatores reais de poder.

    Esses fatores reais de poder, entre ns, esto identificados na fora dos produtores rurais e dos movimentos de sem terra, no sistema financeiro e nas federaes empresariais, nos sindicatos e nas centrais sindicais, nas corporaes militares e civis, dentre outras foras que impem a forma e o contedo da Constituio.

    4 O que uma Constituio? Trad. Hiltomar Martins Oliveira. Ed. Lder: Belo Horizonte, Minas Gerais, 2002, p. 68.

    Modo de Aquisio Modo de Exerccio

    PODERElementos Limitativos(enunciao dos direitosfundamentais das pessoas.Sistema de Garantia dasLiberdades)

    Elementos Orgnicos ou Organizacionais (so as regras que organizam o Poder)

    Elementos Socioideolgicos (princpios da ordem econmica e social)

  • Os fatores reais de poder que atuam no seio de cada sociedade so essa fora ativa e eficaz que informa todas as leis e instituies jurdicas vigentes, determinando que no possam ser, em substncia, a no ser tal como elas so5.

    A doutrina de Lassalle concebida como sociolgica por Jorge de Miranda6, que ao analisar a concordncia das normas constitucionais com a realidade do processo de poder destaca a existncia de Constituies normativas, Constituies nominais e Constituies semnticas. Constituio normativa aquela que efetivamente submete o processo de poder s suas regras. Ou seja, respeitada e cumprida, pois reflete os princpios fundamentais do constitucionalismo sendo, assim, legtima.

    A Constituio nominal aquela que embora tenha por pretenso representar os valores fundamentais da sociedade, no possui regras que representem a dinmica do processo poltico, pelo que ficam sem realidade existencial.

    Por fim, a Constituio semntica (ou de fachada para Canotilho7), serve apenas para beneficiar os detentores do poder de fato, instrumentalizando sua dominao sobre a sociedade.

    1.3.2 Direito de Resistncia

    Direito de resistncia a denominao dada legtima oposio de um povo a regras formais opressivas que no correspondem aos reais anseios de uma sociedade, podendo ser manifestado pela desobedincia civil ou mesmo por uma revoluo.

    Em sntese, o direito de descumprir e combater determinaes governamentais que afrontem as liberdades fundamentais da maioria do povo. As liberdades fundamentais segundo leciona Norberto Bobbio8, so aquelas que cabem ao homem enquanto tal e no dependem do beneplcito do soberano (entre as quais, em primeiro lugar, a liberdade religiosa).

    1.3.3. Sentido Poltico

    Carl Schmitt concebe a Constituio no sentido poltico, pois para ele Constituio fruto da deciso poltica fundamental tomada em certo momento.

    Para Schmitt h diferena entre Constituio e lei constitucional; contedo prprio da Constituio aquilo que diz respeito forma de Estado, forma de governo, aos rgos do poder e declarao dos direitos individuais. Outros assuntos, embora escritos na Constituio, tratam-se de lei constitucional (observe-se que essas ideias esto prximas as de Constituio material e formal). 5 LASSALE, Ferdinand. .A Essncia da Constituio. Trad. Walter Stonner. Ed. Lmen Jris: Rio de Janeiro, 2001, p. 10-11. 6 Teoria do Estado e da Constituio. Ed. Forense: Rio de Janeiro, 2002, p. 341. 7 Direito Constitucional e Teoria da Constituio. 3 ed., Livraria Almedina: Coimbra, 1999, p. 1057. 8 A Era dos Direitos. Ed. Campus: Rio de Janeiro, 1996, p. 4.

  • 1.3.4. Sentido Jurdico

    Segundo Hans Kelsen (sentido lgico-jurdico ou formal) a Constituio consiste na norma fundamental hipottica, pressuposta e no posta pela autoridade, concebe o Direito como estrutura normativa, cuja unidade se assenta na norma fundamental, j que o fundamento de validade de qualquer norma jurdica a validade de outra norma, ou seja, uma norma superior. O ordenamento jurdico representado por uma pirmide.

    De acordo com a Teoria Pura do Direito, Kelsen destaca vrios significados de constituio:

    Material o conjunto de normas que regulam a criao dos preceitos

    jurdicos gerais e prescrevem o processo que deve ser seguido em sua elaborao.

    Formal consiste no conjunto de normas jurdicas que s podem ser

    modificadas mediante a observncia de prescries especiais, que tm por objetivo dificultar a modificao destas normas.

    Sentido amplo compreende as normas que estabelecem as relaes dos

    sditos com o poder estatal. 2. CLASSIFICAO DAS CONSTITUIES

    2.1. Quanto ao Contedo

    Constituio material ou substancial: conjunto de regras jurdicas materialmente constitucionais, que regulam a estrutura do Estado, a organizao de seus rgos e os direitos fundamentais. Tais regras podem ou no estar na Constituio e justamente por isso mais abrangente que a Constituio Formal. H, por exemplo, regras materialmente constitucionais disciplinadas em lei ordinria, como o Estatuto dos Estrangeiros.

    Constituio formal: conjunto de regras jurdicas, inseridas no texto unitrio da Constituio escrita, diga ou no respeito matria constitucional. Exemplo: o art. 14, 4.9, da Constituio Federal, que trata da inelegibilidade, regra formal e materialmente constitucional porque delineia o modo de aquisio e exerccio do poder. Mas os casos de inelegibilidade no so apenas os previstos nesse dispositivo; a Lei Complementar n. 64, de 18.5.1990 disciplina outras hipteses, em consonncia com o prescrito no 9.10 do prprio art. 14.

    9 4. - So inelegveis os inalistveis e os analfabetos. 10 9. - A Lei Complementar estabelecer outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessao, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exerccio de mandato, considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleies contra a influncia do poder econmico ou o abuso do exerccio de funo, cargo ou emprego na administrao direta ou indireta.

  • Instrumentais (instrument of government): aquela lei fundamental entendida, essencialmente, como lei processual e no como lei material. Estabelece competncias, regula o processo e define os limites da ao poltica. Como instrumento de governo, contm as regulamentaes necessrias para a vida poltica de uma comunidade.

    Vale lembrar o fato de no haver bices que a norma rena concomitantemente as mesmas caractersticas.

    2.2. Quanto Forma

    Escritas: suas normas se acham expressas em um ou vrios documentos escritos 11. o prprio texto escrito da Constituio, ou seja, o conceito formal de Constituio, cuida-se de um texto redigido em um momento de reflexo do constituinte originrio, podendo ser:

    Analtica (expansiva, abrangente ou prolixa) quando o texto constitucional, alm de dispor de normas materialmente constitucionais, trata de matrias que no deveriam ser tratadas pela Constituio. , por exemplo, a Constituio brasileira, que possui 250 artigos, ADCT, vrias emendas etc. Tais constituies so instveis, haja vista que necessitam de reiteradas modificaes.

    Sinttica (concisa ou negativa) traz apenas normas materialmente constitucionais, como a norte-americana, que possua inicialmente sete artigos e, aps dois sculos de existncia, foi modificada apenas 27 vezes12. So sumrias, breves, principiolgicas e de grande estabilidade.

    No escritas (costumeiras ou histricas): as normas constitucionais no constam

    de um documento nico e solene, so textos esparsos, elaborados em pocas distintas sendo formadas por usos e costumes vlidos como fontes de direito. Com efeito, ainda que no seja escrita, esta Constituio ter parte do seu sistema necessariamente escrito. A rigor a diferena dos Estados que adotam esta forma para a escrita, fonte, isto , a existncia ou no de apenas uma nica fonte. Portanto, devemos fixar que a Constituio no escrita possui vrias fontes (costumes, decises dos tribunais, prticas administrativas e textos

    11 Kildare Gonalves Carvalho faz referncia classificao sistemtica (quanto unidade documental), dizendo que a Constituio pode ser orgnica, quando contm toda a matria constitucional sistematizada em um nico texto, ou inorgnica, quando apresentam suas normas dispersas em vrios documentos. 12 Podemos fazer um breve comentrio sobre o sistema constitucional dos Estados Unidos: assenta-se, basicamente, na Constituio de 1787, a primeira, a mais breve e a mais duradoura Constituio escrita que hoje possui, com carter rgido e sinttico (contudo, as constituies dos Estados so longas e regulamentrias), sendo modelada pela jurisprudncia e relacionada com o controle de constitucionalidade (judicial review). Os EUA foi o primeiro Estado Federal, a primeira repblica instituda segundo o princpio democrtico e o primeiro sistema de governo presidencial a adotar a separao de poderes.

  • escritos). Tais constituies so formadas por meio de um processo histrico, e adotam o sistema da common Law13.

    Segundo o livro Curso de Direito Constitucional, de autoria do Prof. Fernando

    Capez e outros, tem-se ainda:

    a) Constituies legais: aquelas cujas normas so escritas, mas no esto codificadas, ou seja, esto espelhadas em diversos textos; e

    b) Constituies orais: conjunto de normas proclamadas solenemente pelos chefes mximos de um povo para reger a vida de todos, como ocorreu na Islndia, no sculo IX, quando os Vikings instituram o primeiro parlamento livre na Europa.

    2.3. Quanto ao Modo de Elaborao

    Constituio dogmtica: reflete a aceitao de certos dogmas, ideais vigentes no momento de sua elaborao, reputados verdadeiros pela cincia poltica. Dogma: ponto mais importante que caracteriza um sistema, um determinado modelo, corporifica as opes daquele que elaborou o texto constitucional.

    Constituio histrica: a Constituio no escrita, resultante de lenta formao histrica. No reflete um trabalho materializado em um nico momento.

    2.4. Quanto Ideologia

    Ecltica, pluralista, complexa ou compromissria: possui uma linha poltica indefinida, equilibrando diversos princpios ideolgicos.

    Ortodoxa ou simples: possui linha poltica bem definida, traduzindo apenas uma ideologia.

    2.5. Quanto Origem ou ao Processo de Positivao

    Constituio outorgada: so aquelas impostas por um grupo ou por uma pessoa, sem um processo regular de escolha dos constituintes. Nesse ponto podemos traar a diferena entre Carta Constitucional, expresso reservada s constituies outorgadas, e Constituio que objetiva designar as promulgadas.

    Constituio promulgada (democrtica ou popular): so aquelas elaboradas por representantes eleitos pelo povo, de forma livre e consciente, para exercer o poder constituinte.

    Constituio cesarista (plebiscitria, referendaria ou bonapartista): trata-se da Constituio que, no obstante elaborada sem a participao do povo ou dos seus

    13 Sistema constitucional ingls (ou britnico) o nico que tem como fonte o costume. O Parlamento, a Constituio consuetudinria e flexvel e o rule of law so as suas grandes instituies. Rule of law compreende os princpios, as instituies e os processos que a tradio e a experincia dos juristas e dos tribunais entendem ser indispensveis para a garantia da dignidade da pessoa humana frente ao Estado, devendo o Direito dar aos indivduos proteo contra o exerccio arbitrrio do poder.

  • representantes, submetida a um referendo popular antes de ganhar vigncia. Recebe esse nome por ter sido um mtodo utilizado por Napoleo Bonaparte nos denominados plebiscitos napolenicos.

    Constituio mista14 (pactuada, positivada por conveno ou dualista): nessas constituies o diploma fundamental no j uma Carta doada pela vontade do soberano, mas um pacto entre o soberano e a representao nacional, em regra entre o monarca e o Poder Legislativo.

    Parte da doutrina classifica a Constituio, quanto ao modo de positivao, da

    seguinte forma: a) Por conveno ou votada os representantes do povo, mediante assembleia convocada especificamente para tal fim, votam uma nova Constituio; e b) Por outorga ou outorgada quando uma nova Constituio imposta ao povo. Nesse caso, comum a utilizao da expresso Carta Constitucional.

    Ainda nesse esteio, alguns manuais asseguram que todas as constituies votadas so democrticas, o que para alguns seria na verdade um equvoco, pois para saber se uma Constituio democrtica ou no, deve-se analisar se o seu processo de positivao legtimo.

    Malgrado o fato de a maioria das vezes uma Constituio votada ser democrtica pode ocorrer de uma Constituio votada no ser democrtica, como a Constituio de 1967, um perfeito exemplo para ilustrar tal posicionamento, e a recproca verdadeira, pois possvel sim haver uma Constituio outorgada e democrtica, desde que atenda aos reclames sociais.

    A Carta Constitucional de 1967, segundo prevalece amplamente na doutrina, outorgada quanto sua origem, j que o Congresso Nacional, convocado extraordinariamente pelo AI n. 4 para apreciar a proposta dos militares entre 12 de dezembro de 1966 e 24 de janeiro de 1967 no possua liberdade suficiente para alterar de forma substancial o documento. Formalmente, contudo, o Congresso aprovou e promulgou a Constituio de 1967, razo por que alguns (minoria) classificam tal Carta como sendo uma Constituio positivada por conveno, dualista. (CHIMENTI, Ricardo Cunha; FERREIRA, Marisa dos Santos; ELIAS ROSA, Mrcio Fernando; CAPEZ, Fernando. Direito Constitucional, 2008, p. 8.).

    2.6. Quanto Estabilidade, Mutabilidade ou Alterabilidade

    Rgida (ou condicional): demandam processo especial, mais solene e difcil para sua alterao do que o da formao das leis ordinrias. No devemos associar rigidez constitucional com estabilidade constitucional, pois a CFRB, apesar de rgida, no possui estabilidade (constituio escrita, analtica).

    14 Classificao contida no livro Curso de Direito Constitucional dos Profs. Capez, Chimenti, Mrcio Fernando e Marisa (p. 8).

  • Flexvel (no condicional): a Constituio que pode ser modificada livremente pelo constituinte derivado, utilizando-se do mesmo processo de elaborao das leis ordinrias. No devemos associar flexibilidade com instabilidade, j que a Constituio inglesa, apesar de flexvel bastante estvel.

    Constituio plstica de acordo com a doutrina de Pinto Ferreira,

    Constituio flexvel tambm chamada de Constituio plstica. Todavia, na doutrina de Raul Machado Horta, Constituio plstica possui outro significado, sendo, portanto, aquela que para ter eficcia necessita de grande regulamentao por parte do legislador infraconstitucional. Para ele, ainda, Constituio plstica aquela suscetvel de adaptao a uma nova realidade social, por meio de integrao normativa futura.

    Constituio transitoriamente flexvel o texto constitucional suscetvel de reforma, em determinado perodo, com base no mesmo rito das leis comuns. Ultrapassado aquele perodo, passa a ser rgida.

    Semirrgida: contm uma parte rgida, para alterao das regras materialmente constitucionais e outra flexvel, para a modificao das regras formalmente constitucionais. Foi o caso da Constituio brasileira do imprio (art. 178).

    O professor Kildare Gonalves cita ainda a Constituio fixa, que somente pode ser

    alterada por um poder de competncia igual quele que a criou (poder constituinte originrio), sendo tambm conhecida como Constituio silenciosa, pois no estabelece, expressamente, o procedimento para sua reforma (tem valor apenas histrico). Cita tambm a Constituio imutvel (grantica ou intocvel), que se pretende eterna, pois se funda na crena de que no haveria rgo competente para proceder sua reforma, sendo incomum na atualidade e normalmente relacionada a fundamentos religiosos.

    Por fim, cumpre dizer que alguns manuais reconhecem ainda a existncia de uma Constituio moldura que to somente a possibilidade do legislador atuar livremente dentro dos ditames constitucionais, funcionando a Constituio justamente como uma.

    2.7. Quanto Funo

    Esta classificao, apresentada pelo Prof. Manoel Gonalves Ferreira Filho15, tomando por base lies de Jos Joaquim Gomes Canotilho, no apresenta categorias que sejam logicamente excludentes, ou seja, a Constituio poder receber mais de uma destas classificaes.

    Em geral, fala-se que a Constituio pode ser:

    a) Garantia (quadro ou negativa): tem o escopo de assegurar os direitos fundamentais das pessoas, haja vista que toda vez que se enuncia um direito, h limitao do poder. Tambm conhecida como negativa justamente pelo fato de impedir o poder arbitrrio do Estado. Originou-se a partir da reao popular ao

    15 FERREIRA FILHO, Manoel Gonalves. Curso de Direito Constitucional. Saraiva, 2002, p. 14-15.

  • absolutismo monrquico. denominada quadro porque h um quadro de direitos definidos e negativa porque se limita a declarar os direitos e, por conseguinte, o que no pode ser feito.

    b) Dirigente (abrangente, programtica ou doutrinal)16: alm de organizar e limitar o poder, a Constituio tambm preordena a atuao governamental em um determinado sentido, por meio de planos de governo, de programas vinculantes (previstos em normas programticas) seja qual for o Partido, so as chamadas diretrizes polticas permanentes. a Constituio do dever-ser. A nossa Constituio Federal inspirou-se no modelo da Constituio portuguesa.

    Funo prospectiva est consubstanciada na Constituio dirigente, pois se

    o texto constitucional voltado para o futuro, a sua finalidade dirigir a ao poltica e de toda a sociedade, segundo um modelo proposto, e para a realizao de determinados objetivos, gerais ou especficos, informados pela ideia de direito nela consignada.

    As normas programticas possuem eficcia limitada, pois dependem de lei. Para

    que a criao de tal lei no dependesse da boa vontade do legislador, o constituinte originrio criou dois remdios constitucionais processuais para solucionar a desdia, a saber: a) mandado de injuno; e b) ADI por omisso.

    H ainda aqueles que destacam a funo simblica da Constituio, considerando o aspecto normativo-poltico e a realidade social em que se insere o ordenamento constitucional. Pode ser extrada em especial das normas que, no contexto da CF, revelam-se puramente instrumentais, apontando para a ineficcia da CF17.

    Observaes:

    1. Programas constitucionais: devem ser desenvolvidos por quem se encontre no exerccio do poder.

    2. Direo poltica permanente: imposta pelas normas constitucionais.

    3. Direo poltica contingente: imposta pelos partidos polticos que se encontram no governo.

    16 Trata-se da Teoria da Constituio de Gomes Canotilho, que buscou dar efetividade Constituio, a servio da ampliao das tarefas do Estado e da incorporao de fins econmico-sociais normativamente vinculantes das instncias de regulao jurdica. Canotilho referia-se Constituio de Portugal de 1976, marcada por diversos preceitos programticos, voltado para a implantao de um Estado socialista. Mas com a reviso de 1989 foram excludos diversos preceitos de carter socialista. 17 Se por um lado a funo simblica aponta para a inefetividade de alguns dispositivos constitucionais (ex.: esperana da realizao de uma sociedade justa, ligada justia social e erradicao da pobreza art. 3.), por outro lado, no deve ser usada como fator de desonerao da responsabilidade do Legislativo e do Executivo para com seus deveres constitucionais.

  • 3. HISTRICO DAS CONSTITUIES BRASILEIRAS

    Resumidamente:

    1824: positivada por outorga. Constituio do Imprio do Brasil. Havia um quarto poder: o Poder Moderador.

    1891: positivada por promulgao. Primeira Constituio da Repblica.

    1934: positivada por promulgao.

    1937: positivada por outorga (Getlio Vargas). Apelidada de Constituio Polaca.

    1946: positivada por promulgao. Restabeleceu o Estado Democrtico.

    1967: positivada por outorga. (h quem sustente ter sido positivada por conveno, pois o texto elaborado pelo Governo Militar foi submetido ao referendo do Congresso Nacional antes de entrar em vigor).

    1988: positivada por promulgao (Constituio Cidad).

    3.1. Constituio de 1824

    a Constituio do Imprio, outorgada por Dom Pedro I em 1824, e teve por antecedente a declarao de independncia do Pas, em 7 de setembro de 1822. Nossa primeira Constituio foi outorgada pelo fato de o j Imperador do Brasil, D. Pedro I, ter determinado a dissoluo da primeira Constituinte, em 12 de novembro de 1823.

    A Constituio foi submetida manifestao de algumas das ento denominadas Cmaras de Vilas, circunstncia que no alterou seu contedo unilateral. Como principais pontos da Constituio Imperial, que se caracterizou pelo absolutismo na organizao dos Poderes e acentuado liberalismo no tocante aos direitos individuais, destacam-se:

    a) Poder Moderador (sistema quatripartite do poder) era tido pela Constituio como chave de toda a organizao poltica, delegado privativamente ao Imperador como Chefe Supremo da Nao e seu primeiro representante.

    b) Adotava-se, nos termos do art. 4., a religio Catlica Apostlica Romana como religio oficial do Brasil, o que o tornava um Estado Confessional.

    c) Foi a Constituio com maior vigncia em nosso pas (de 1824 a 1889), quando ento foi proclamada a Repblica. A despeito de sua longa durao, teve pouca efetividade, pois foi a poca em que o poder mais se afastou da Constituio formal.

    d) Constituio semirrgida quanto a sua alterao (art. 178).

  • 3.2. Constituio de 1891

    Com a proclamao da Repblica, a 15 de novembro de 1889, por meio do Decreto n. 1, que tambm estabeleceu a federao, o Governo Provisrio baixou posteriormente o Decreto n. 29, de 3 de dezembro de 1889, nomeando uma Comisso para elaborar o anteprojeto de Constituio, que seria enviado futura constituinte (Comisso dos Cinco, instalada dois meses aps a eleio geral de 15 de setembro de 1890)18.

    A CF de 1891, elaborada por um processo de conveno (voto) continha 91 artigos na parte permanente e oito nas disposies transitrias, sendo o texto mais breve de todas as nossas constituies.

    Caractersticas:

    a) Determinou-se a separao de Estado e Igreja, o Brasil se torna um pas laico ou leigo. Era sua neutralizao, por meio do processo de laicizao.

    b) Foi adotada a forma federal de Estado19, com a distribuio dos Poderes entre a Unio e os Estados, consagrando-se a autonomia dos Municpios em tudo quanto respeite ao seu peculiar interesse.

    c) Houve ainda o seguinte: abolio das instituies monrquicas; os Senadores deixaram de ter cargo vitalcio; sistema de governo presidencialista; o presidente da Repblica passou a ser o chefe do Poder Executivo; as eleies passaram a ser pelo voto direto, em vez do descoberto (voto aberto).

    3.3. Constituio de 1934

    A Revoluo de 1930 promoveu a queda da Constituio republicana de 1891, que teve muitos de seus preceitos violados (ex.: fraudes eleitorais, predomnio do coronelismo e das oligarquias locais etc.).

    Com a Revoluo de 30, o Governo Provisrio nomeou ainda uma comisso para elaborar a nova Constituio, destacando-se o papel da Revoluo Paulista de 1932, que exigia a restaurao plena do regime democrtico, pois era grande a resistncia s aspiraes ditatoriais de Getlio Vargas, ao poder pessoal ilimitado e indefinido.

    A Assembleia Constituinte reuniu-se no dia 15 de novembro de 1933, sendo elaborada a Constituio em 1934, por um processo de votao (promulgada), tomando-se por base a Constituio de Weimar, de 1919, tendo os seguintes traos distintivos: 18 Esclarece Paulo Bonavides que com a proclamao da Repblica, uma singularidade ocorre na Histria Constitucional do Brasil: a existncia de dois poderes constituintes de primeiro grau. O primeiro o poder constituinte do Governo Provisrio, revolucionrio e ftico, na plenitude do exerccio de todas as competncias; o segundo, o poder constituinte soberano do Congresso Nacional, poder de direito, emanado do anterior com a tarefa precpua de fazer soberanamente a Constituio dentro das linhas mestras da revoluo republicana e federativa. 19 Adotamos o modelo federalista norte-americano, por esse fato o Brasil era chamado de Estados Unidos do Brasil. Contudo, o federalismo norte-americano foi construdo por um tpico processo federalista (por agregao), j que as 13 colnias existentes resolveram se unir. No Brasil o processo foi atpico (por desagragao), pois o Brasil era um Estado unitrio e resolveu se desmembrar em unidades federativas.

  • a) A CF/34 manteve a diviso de Poderes do federalismo, mas promoveu uma centralizao legislativa em favor da Unio, mediante o deslocamento de matrias antes reservadas aos Estados (ex.: legislao eleitoral).

    b) Cria a Justia Eleitoral, com o voto feminino, e a Justia do Trabalho, sendo os direitos trabalhistas sua maior inovao (proibio do trabalho infantil, jornada de trabalho de 8 horas, repouso semanal remunerado etc.). Alis, foi no campo social em que se verificaram as maiores inovaes do texto constitucional de 1934.

    3.4. Constituio de 1937

    Baseado na ditadura que vivia a Alemanha e a Itlia, Getlio Vargas outorgou a nova Constituio em 10 de novembro de 1937, ficando conhecida como polaca justamente por traduzir elementos do autoritarismo que assolava a Europa naquela poca, sendo redigida por Francisco Campos, Ministro da Justia de Getlio Vargas.

    Na realidade, a Constituio Federal de 1937 permaneceu em sua maior parte sem aplicao, pois Getlio governou com base apenas nas disposies transitrias e finais do texto, as quais conferiam ao Presidente a plenitude dos poderes do Legislativo e do Executivo, haja vista que no fora realizado o plebiscito para a eleio do Parlamento no que se refere a ratificao da Constituio.

    Vejamos algumas caractersticas dessa Constituio:

    a) Exacerbao dos poderes do Presidente da Republica (Estado Novo), podendo emendar e suspender o texto constitucional a seu arbtrio. Restringiu ainda as prerrogativas do Congresso Nacional e a autonomia do Judicirio, podendo, em certos casos, ir de encontro s decises judiciais que declarassem a inconstitucionalidade de determinada lei. No havia, portanto, separao de poderes, embora estivesse previstos o Legislativo, o Executivo e o Judicirio.

    b) Eliminao da autonomia dos Estados-Membros, com a revogao de todas as constituies estaduais. Apesar da previso de que novas constituies seriam outorgadas pelos Governos Estaduais, exercidos por prepostos (interventores) do Governo Central, a outorga ficara condicionada realizao do j mencionado plebiscito, o que jamais ocorreu, ficando assim os Estados privados de se auto-organizarem e ter governo prprio.

    c) Instituio de servios de informaes que garantia ao Presidente controle da imprensa e do povo, acarretando a restrio aos direitos e garantias individuais, inclusive com pena de morte para todos os crimes polticos e de homicdio cometido por motivo ftil e com extremos de perversidade.

    d) O nome de Deus foi suprimido da Constituio.

  • Segundo a classificao de Karl Loewenstein, trata-se de uma Constituio semntica, pois esteve a servio do detentor do poder, para seu uso pessoal, perdendo em normatividade, salvo os casos em que conferia atribuio ao titular do poder.

    3.5. Constituio de 1946

    Com a reconstitucionalizao do pas, precedida da queda de Vargas em 29 de outubro de 1945, instalou-se a Assembleia Constituinte em 2 de fevereiro de 1946, sob o Governo do General Eurico Gaspar Dutra, eleito no final de 1945. A nova Constituio, que repunha instituies e preceitos que vinham das antigas formulaes constitucionais, acentuou tendncias j inauguradas na CF/34, e introduziu algumas inovaes.

    A CF/46 foi uma das melhores que tivemos, seja do ponto de vista tcnico, seja do ponto de vista ideolgico, pois ao mesmo tempo em que adota o pensamento liberal no campo poltico, promove uma abertura para o campo social.

    Contudo, no se pode esquecer que a Assembleia Constituinte que a escreveu foi eleita por apenas 15% da populao. Assim, diz-se que, mesmo democrtica, nasceu do ventre da ditadura.

    Contudo, vejamos algumas inovaes importantssimas:

    a) Proclamao do povo como fonte tutelar de todos os poderes.

    b) Declarao de direitos, incluindo preceitos sobre a nacionalidade e a cidadania, sobre o corpo eleitoral, e a declarao dos direitos e garantias individuais, extensa e minuciosa. Ainda, preceitos sobre a legislao do trabalho, a previdncia social e os direitos do trabalhador.

    c) Poder Judicirio fundado na autonomia dos tribunais e em garantias individuais para os magistrados, com o STF como rgo de cpula e dualidade de justias paralelas, uma federal e outra estadual.

    3.6. Constituio de 1967

    Juscelino Kubitschek eleito em 1955, ele proporciona ao Brasil um perodo de crescimento econmico e endividamento. Em 1960, eleito Jnio Quadros, que renuncia em 1961 sendo sucedido pelo ento vice-presidente Joo Goulart (Jango).

    Mas a ideia de realizar as Reformas de Base (Agrria, Urbana e Bancria) amedrontou as oligarquias que saram a campo acusando Goulart de favorecer o comunismo. Associaes catlicas conservadoras lideraram a Marcha da Famlia com Deus pela Liberdade, em 19 de maro de 1964, seguida da Revoluo Militar em 31 de

  • maro desse ano, depondo Goulart e iniciando o perodo de 20 anos de um governo autoritrio20.

    Vitorioso o movimento militar, o Congresso elegeu Presidente o Marechal Castelo Branco. Para dar legitimidade ao governo, elaboraram os chamados Atos Institucionais21, que estavam acima da Constituio de 1946, muito embora o AI n. 1 a manteve.

    Desfigurado o texto de 1946, cuidou-se ento de consolidar, em nova Constituio, a obra do movimento militar.

    Assim, o Presidente editou o AI n. 4, convocando o Congresso para reunir-se extraordinariamente (pois ele estava fechado). Foi ento promulgada a CF/67 pelo processo de votao, entretanto era antidemocrtica, j que o processo foi ilegtimo.

    Entendem alguns tratar-se de Constituio semioutorgada, mas prevalece na doutrina o entendimento de que a Carta de 1967 foi outorgada quanto sua origem, j que o Congresso, convocado extraordinariamente pelo AI n. 4 para apreciar a proposta dos militares, no possua liberdade suficiente para alterar de forma substancial o documento. Formalmente, contudo, o Congresso aprovou e promulgou a Constituio de 1967, razo por que alguns (minoria) classificam tal Carta como sendo uma constituio positivada por conveno, dualista.

    Ao todo foram 17 Atos Institucionais editados e devidamente regulamentados por 104 atos complementares.

    3.7. Constituio de 1969

    O mundo em 1964 era bipolar, vivia a constante tenso da Guerra Fria, e foi nesse cenrio poltico que ocorreu um golpe militar no Brasil iniciando uma ditadura que tomou conta do pas at 1985.

    Conforme j visto em 24 de janeiro de 1967, fora outorgada a nova Constituio do Brasil cuja ideia elementar era a Segurana Nacional, atribuindo amplos poderes Unio e ao Poder Executivo.

    Ocorre que, com o advento do AI-5 a Constituio teve o seu funcionamento paralisado, aniquilando o princpio da independncia e da harmonia dos poderes, passando a ser submetida ao arbtrio e vontade incontrolvel do Presidente, convertendo o regime presidencial em ditadura constitucional.

    Algum tempos depois fora visto uma escalada de supresso dos direitos individuais por meio dos famigerados Atos Institucionais.

    20 CICCO, Cludio de, GONZAGA, lvaro de Azevedo. Teoria Geral do Estado e Cincia Poltica. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 219. 21 Manoel Gonalves Ferreira Filho diz que os atos institucionais so, em sua origem, tpicas manifestaes do Poder Constituinte Originrio, pois apresentam os trs caracteres deste: so iniciais, autnomos e incondicionados. Eles so verdadeiras constituies outorgadas.

  • Descaracterizada pelos sucessivos Atos Institucionais, o texto de 67 foi unificado pela Emenda n. 1 de 17 de outubro de 1969, outorgada pela Junta Militar, que assumiu o poder durante o perodo de doena do Presidente Costa e Silva.

    Alguns constitucionalistas dizem que no se trata de apenas uma emenda, mas sim de uma nova Constituio, j que os governantes no tinham legitimidade de elaborar essa emenda. Tal constituio foi outorgada. Contudo, a maioria dos constitucionalistas no equipara a EC 1/69 nova Constituio, pois apenas consolidou o texto de 1967.

    3.8. Constituio de 1988

    Com a abertura poltica (que incluiu a anistia), a eleio direta dos governadores dos Estados em 1982, a campanha das Diretas-j mobilizando milhes de brasileiros e a eleio indireta do civil Tancredo Neves para a Presidncia da Repblica, culminou no encaminhamento ao Congresso (pelo Presidente Jos Sarney, sucessor do falecido Tancredo) a proposta que deu origem Emenda Constitucional n. 26/8522, pela qual se deu a convocao da Assembleia Nacional Constituinte que, eleita em 1986, promulgou a Constituio Federal de 1988, denominada por Ulysses Guimares de Constituio cidad, por ter ampliado os direitos e garantias individuais e coletivas.

    4. CLASSIFICAO DA CONSTITUIO FEDERAL DE 1988

    De acordo com os critrios classificatrios esmiuados acima podemos dizer que a Constituio Federal de 1988 possui a seguinte classificao:

    22 Para Jos Afonso da Silva a Emenda n. 26, ao convocar a Assembleia Nacional Constituinte, constitui, nesse aspecto, um verdadeiro ato poltico e no uma emenda, pois esta visa manter a Constituio vigente, e aquela emenda objetivava destruir esta.

    A Constituio Federal de 5 de

    outubro de 1988 se

    classifica como:

    Dirigente e garantista

    Dogmtica

    Escrita

    Rgida/Super-rgida

    Ecltica

    Codificada

    Compromissaria Analtica/Prolixa

  • Constituio Federal

    Dos Direitos e Garantias Fundamentais

    CAPTULO I DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:

    I - homens e mulheres so iguais em direitos e obrigaes, nos termos desta Constituio;

    II - ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei;

    III - ningum ser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

    IV - livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o anonimato;

    V - assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, alm da indenizao por dano material, moral ou imagem;

    VI - inviolvel a liberdade de conscincia e de crena, sendo assegurado o livre exerccio dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteo aos locais de culto e a suas liturgias;

    VII - assegurada, nos termos da lei, a prestao de assistncia religiosa nas entidades civis e militares de internao coletiva;

    VIII - ningum ser privado de direitos por motivo de crena religiosa ou de convico filosfica ou poltica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigao legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestao alternativa, fixada em lei;

    IX - livre a expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica e de comunicao, independentemente de censura ou licena;

    X - so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao;

    XI - a casa asilo inviolvel do indivduo, ningum nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinao judicial;

    XII - inviolvel o sigilo da correspondncia e das comunicaes telegrficas, de dados e das comunicaes telefnicas, salvo, no ltimo caso, por ordem judicial, nas

  • hipteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigao criminal ou instruo processual penal;

    XIII - livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer;

    XIV - assegurado a todos o acesso informao e resguardado o sigilo da fonte, quando necessrio ao exerccio profissional;

    XV - livre a locomoo no territrio nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

    XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao pblico, independentemente de autorizao, desde que no frustrem outra reunio anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prvio aviso autoridade competente;

    XVII - plena a liberdade de associao para fins lcitos, vedada a de carter paramilitar;

    XVIII - a criao de associaes e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorizao, sendo vedada a interferncia estatal em seu funcionamento;

    XIX - as associaes s podero ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por deciso judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trnsito em julgado;

    XX - ningum poder ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

    XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, tm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

    XXII - garantido o direito de propriedade;

    XXIII - a propriedade atender a sua funo social;

    XXIV - a lei estabelecer o procedimento para desapropriao por necessidade ou utilidade pblica, ou por interesse social, mediante justa e prvia indenizao em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituio;

    XXV - no caso de iminente perigo pblico, a autoridade competente poder usar de propriedade particular, assegurada ao proprietrio indenizao ulterior, se houver dano;

    XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela famlia, no ser objeto de penhora para pagamento de dbitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

    XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizao, publicao ou reproduo de suas obras, transmissvel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

  • XXVIII - so assegurados, nos termos da lei:

    a) a proteo s participaes individuais em obras coletivas e reproduo da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;

    b) o direito de fiscalizao do aproveitamento econmico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intrpretes e s respectivas representaes sindicais e associativas;

    XXIX - a lei assegurar aos autores de inventos industriais privilgio temporrio para sua utilizao, bem como proteo s criaes industriais, propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnolgico e econmico do Pas;

    XXX - garantido o direito de herana;

    XXXI - a sucesso de bens de estrangeiros situados no Pas ser regulada pela lei brasileira em benefcio do cnjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que no lhes seja mais favorvel a lei pessoal do "de cujus";

    XXXII - o Estado promover, na forma da lei, a defesa do consumidor;

    XXXIII - todos tm direito a receber dos rgos pblicos informaes de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que sero prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindvel segurana da sociedade e do Estado;

    XXXIV - so a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

    a) o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

    b) a obteno de certides em reparties pblicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situaes de interesse pessoal;

    XXXV - a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito;

    XXXVI - a lei no prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada;

    XXXVII - no haver juzo ou tribunal de exceo;

    XXXVIII - reconhecida a instituio do jri, com a organizao que lhe der a lei, assegurados:

    a) a plenitude de defesa;

    b) o sigilo das votaes;

  • c) a soberania dos veredictos;

    d) a competncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

    XXXIX - no h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia cominao legal;

    XL - a lei penal no retroagir, salvo para beneficiar o ru;

    XLI - a lei punir qualquer discriminao atentatria dos direitos e liberdades fundamentais;

    XLII - a prtica do racismo constitui crime inafianvel e imprescritvel, sujeito pena de recluso, nos termos da lei;

    XLIII - a lei considerar crimes inafianveis e insuscetveis de graa ou anistia a prtica da tortura , o trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evit-los, se omitirem;

    XLIV - constitui crime inafianvel e imprescritvel a ao de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrtico;

    XLV - nenhuma pena passar da pessoa do condenado, podendo a obrigao de reparar o dano e a decretao do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, at o limite do valor do patrimnio transferido;

    XLVI - a lei regular a individualizao da pena e adotar, entre outras, as seguintes:

    a) privao ou restrio da liberdade;

    b) perda de bens;

    c) multa;

    d) prestao social alternativa;

    e) suspenso ou interdio de direitos;

    XLVII - no haver penas:

    a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

    b) de carter perptuo;

    c) de trabalhos forados;

    d) de banimento;

  • e) cruis;

    XLVIII - a pena ser cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

    XLIX - assegurado aos presos o respeito integridade fsica e moral;

    L - s presidirias sero asseguradas condies para que possam permanecer com seus filhos durante o perodo de amamentao;

    LI - nenhum brasileiro ser extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalizao, ou de comprovado envolvimento em trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

    LII - no ser concedida extradio de estrangeiro por crime poltico ou de opinio;

    LIII - ningum ser processado nem sentenciado seno pela autoridade competente;

    LIV - ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

    LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

    LVI - so inadmissveis, no processo, as provas obtidas por meios ilcitos;

    LVII - ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria;

    LVIII - o civilmente identificado no ser submetido a identificao criminal, salvo nas hipteses previstas em lei; (Regulamento).

    LIX - ser admitida ao privada nos crimes de ao pblica, se esta no for intentada no prazo legal;

    LX - a lei s poder restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

    LXI - ningum ser preso seno em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciria competente, salvo nos casos de transgresso militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

    LXII - a priso de qualquer pessoa e o local onde se encontre sero comunicados imediatamente ao juiz competente e famlia do preso ou pessoa por ele indicada;

    LXIII - o preso ser informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistncia da famlia e de advogado;

  • LXIV - o preso tem direito identificao dos responsveis por sua priso ou por seu interrogatrio policial;

    LXV - a priso ilegal ser imediatamente relaxada pela autoridade judiciria;

    LXVI - ningum ser levado priso ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisria, com ou sem fiana;

    LXVII - no haver priso civil por dvida, salvo a do responsvel pelo inadimplemento voluntrio e inescusvel de obrigao alimentcia e a do depositrio infiel;

    LXVIII - conceder-se- "habeas-corpus" sempre que algum sofrer ou se achar ameaado de sofrer violncia ou coao em sua liberdade de locomoo, por ilegalidade ou abuso de poder;

    LXIX - conceder-se- mandado de segurana para proteger direito lquido e certo, no amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsvel pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pblica ou agente de pessoa jurdica no exerccio de atribuies do Poder Pblico;

    LXX - o mandado de segurana coletivo pode ser impetrado por:

    a) partido poltico com representao no Congresso Nacional;

    b) organizao sindical, entidade de classe ou associao legalmente constituda e em funcionamento h pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;

    LXXI - conceder-se- mandado de injuno sempre que a falta de norma regulamentadora torne invivel o exerccio dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes nacionalidade, soberania e cidadania;

    LXXII - conceder-se- "habeas-data":

    a) para assegurar o conhecimento de informaes relativas pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de carter pblico;

    b) para a retificao de dados, quando no se prefira faz-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

    LXXIII - qualquer cidado parte legtima para propor ao popular que vise a anular ato lesivo ao patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada m-f, isento de custas judiciais e do nus da sucumbncia;

    LXXIV - o Estado prestar assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insuficincia de recursos;

  • LXXV - o Estado indenizar o condenado por erro judicirio, assim como o que ficar preso alm do tempo fixado na sentena;

    LXXVI - so gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:

    a) o registro civil de nascimento;

    b) a certido de bito;

    LXXVII - so gratuitas as aes de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na forma da lei, os atos necessrios ao exerccio da cidadania.

    LXXVIII a todos, no mbito judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao. (Includo pela Emenda Constitucional n 45, de 2004)

    1 - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tm aplicao imediata.

    2 - Os direitos e garantias expressos nesta Constituio no excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte.

    3 Os tratados e convenes internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros, sero equivalentes s emendas constitucionais. (Includo pela Emenda Constitucional n 45, de 2004) (Decreto Legislativo com fora de Emenda Constitucional)

    4 O Brasil se submete jurisdio de Tribunal Penal Internacional a cuja criao tenha manifestado adeso. (Includo pela Emenda Constitucional n 45, de 2004)

    CAPTULO II DOS DIREITOS SOCIAIS

    Art. 6 So direitos sociais a educao, a sade, a alimentao, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio. (Redao dada pela Emenda Constitucional n 64, de 2010)

    Art. 7 So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria de sua condio social:

    I - relao de emprego protegida contra despedida arbitrria ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que prever indenizao compensatria, dentre outros direitos;

    II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntrio;

    III - fundo de garantia do tempo de servio;

  • IV - salrio mnimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais bsicas e s de sua famlia com moradia, alimentao, educao, sade, lazer, vesturio, higiene, transporte e previdncia social, com reajustes peridicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculao para qualquer fim;

    V - piso salarial proporcional extenso e complexidade do trabalho;

    VI - irredutibilidade do salrio, salvo o disposto em conveno ou acordo coletivo;

    VII - garantia de salrio, nunca inferior ao mnimo, para os que percebem remunerao varivel;

    VIII - dcimo terceiro salrio com base na remunerao integral ou no valor da aposentadoria;

    IX remunerao do trabalho noturno superior do diurno;

    X - proteo do salrio na forma da lei, constituindo crime sua reteno dolosa;

    XI participao nos lucros, ou resultados, desvinculada da remunerao, e, excepcionalmente, participao na gesto da empresa, conforme definido em lei;

    XII - salrio-famlia pago em razo do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei; (Redao dada pela Emenda Constitucional n 20, de 1998)

    XIII - durao do trabalho normal no superior a oito horas dirias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensao de horrios e a reduo da jornada, mediante acordo ou conveno coletiva de trabalho; (vide Decreto-Lei n 5.452, de 1943)

    XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociao coletiva;

    XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;

    XVI - remunerao do servio extraordinrio superior, no mnimo, em cinqenta por cento do normal; (Vide Del 5.452, art. 59 1)

    XVII - gozo de frias anuais remuneradas com, pelo menos, um tero a mais do que o salrio normal;

    XVIII - licena gestante, sem prejuzo do emprego e do salrio, com a durao de cento e vinte dias;

    XIX - licena-paternidade, nos termos fixados em lei;

    XX - proteo do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos especficos, nos termos da lei;

  • XXI - aviso prvio proporcional ao tempo de servio, sendo no mnimo de trinta dias, nos termos da lei;

    XXII - reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de sade, higiene e segurana;

    XXIII - adicional de remunerao para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

    XXIV - aposentadoria;

    XXV - assistncia gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento at 5 (cinco) anos de idade em creches e pr-escolas; (Redao dada pela Emenda Constitucional n 53, de 2006)

    XXVI - reconhecimento das convenes e acordos coletivos de trabalho;

    XXVII - proteo em face da automao, na forma da lei;

    XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenizao a que este est obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;

    XXIX - ao, quanto aos crditos resultantes das relaes de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, at o limite de dois anos aps a extino do contrato de trabalho; (Redao dada pela Emenda Constitucional n 28, de 25/05/2000)

    a) e b) (Revogadas pela Emenda Constitucional n 28, de 25/05/2000)

    XXX - proibio de diferena de salrios, de exerccio de funes e de critrio de admisso por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

    XXXI - proibio de qualquer discriminao no tocante a salrio e critrios de admisso do trabalhador portador de deficincia;

    XXXII - proibio de distino entre trabalho manual, tcnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos;

    XXXIII - proibio de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condio de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redao dada pela Emenda Constitucional n 20, de 1998)

    XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vnculo empregatcio permanente e o trabalhador avulso.

    Pargrafo nico. So assegurados categoria dos trabalhadores domsticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como a sua integrao previdncia social.

  • Art. 8 livre a associao profissional ou sindical, observado o seguinte:

    I - a lei no poder exigir autorizao do Estado para a fundao de sindicato, ressalvado o registro no rgo competente, vedadas ao Poder Pblico a interferncia e a interveno na organizao sindical;

    II - vedada a criao de mais de uma organizao sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econmica, na mesma base territorial, que ser definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, no podendo ser inferior rea de um Municpio;

    III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questes judiciais ou administrativas;

    IV - a assemblia geral fixar a contribuio que, em se tratando de categoria profissional, ser descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representao sindical respectiva, independentemente da contribuio prevista em lei;

    V - ningum ser obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;

    VI - obrigatria a participao dos sindicatos nas negociaes coletivas de trabalho;

    VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizaes sindicais;

    VIII - vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direo ou representao sindical e, se eleito, ainda que suplente, at um ano aps o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

    Pargrafo nico. As disposies deste artigo aplicam-se organizao de sindicatos rurais e de colnias de pescadores, atendidas as condies que a lei estabelecer.

    Art. 9 assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exerc-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

    1 - A lei definir os servios ou atividades essenciais e dispor sobre o atendimento das necessidades inadiveis da comunidade.

    2 - Os abusos cometidos sujeitam os responsveis s penas da lei.

    Art. 10. assegurada a participao dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos rgos pblicos em que seus interesses profissionais ou previdencirios sejam objeto de discusso e deliberao.

    Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, assegurada a eleio de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.

  • CAPTULO III DA NACIONALIDADE

    Art. 12. So brasileiros:

    I - natos:

    a) os nascidos na Repblica Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes no estejam a servio de seu pas;

    b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou me brasileira, desde que qualquer deles esteja a servio da Repblica Federativa do Brasil;

    c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mebrasileira, desde que sejam registrados em repartio brasileira competente ou venham a residir na Repblica Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; (Redao dada pela Emenda Constitucional n 54, de 2007)

    II - naturalizados:

    a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originrios de pases de lngua portuguesa apenas residncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

    b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na Repblica Federativa do Brasil h mais de quinze anos ininterruptos e sem condenao penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. (Redao dada pela Emenda Constitucional de Reviso n 3, de 1994)

    1 Aos portugueses com residncia permanente no Pas, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, sero atribudos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituio. (Redao dada pela Emenda Constitucional de Reviso n 3, de 1994)

    2 - A lei no poder estabelecer distino entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituio.

    3 - So privativos de brasileiro nato os cargos:

    I - de Presidente e Vice-Presidente da Repblica;

    II - de Presidente da Cmara dos Deputados;

    III - de Presidente do Senado Federal;

    IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;

    V - da carreira diplomtica;

    VI - de oficial das Foras Armadas.

  • VII - de Ministro de Estado da Defesa (Includo pela Emenda Constitucional n 23, de 1999)

    4 - Ser declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

    I - tiver cancelada sua naturalizao, por sentena judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

    II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos: (Redao dada pela Emenda Constitucional de Reviso n 3, de 1994)

    a) de reconhecimento de nacionalidade originria pela lei estrangeira; (Includo pela Emenda Constitucional de Reviso n 3, de 1994)

    b) de imposio de naturalizao, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condio para permanncia em seu territrio ou para o exerccio de direitos civis; (Includo pela Emenda Constitucional de Reviso n 3, de 1994)

    Art. 13. A lngua portuguesa o idioma oficial da Repblica Federativa do Brasil.

    1 - So smbolos da Repblica Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais.

    2 - Os Estados, o Distrito Federal e os Municpios podero ter smbolos prprios.

    CAPTULO IV DOS DIREITOS POLTICOS

    Art. 14. A soberania popular ser exercida pelo sufrgio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

    I - plebiscito;

    II - referendo;

    III - iniciativa popular.

    1 - O alistamento eleitoral e o voto so:

    I - obrigatrios para os maiores de dezoito anos;

    II - facultativos para:

    a) os analfabetos;

    b) os maiores de setenta anos;

    c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

  • 2 - No podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o perodo do servio militar obrigatrio, os conscritos.

    3 - So condies de elegibilidade, na forma da lei:

    I - a nacionalidade brasileira;

    II - o pleno exerccio dos direitos polticos;

    III - o alistamento eleitoral;

    IV - o domiclio eleitoral na circunscrio;

    V - a filiao partidria; Regulamento

    VI - a idade mnima de:

    a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da Repblica e Senador;

    b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;

    c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;

    d) dezoito anos para Vereador.

    4 - So inelegveis os inalistveis e os analfabetos.

    5 O Presidente da Repblica, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substitudo no cu