direito da economia abuso de posiÇÃo dominante - caso pt circuitos alugados- carlota manique...
TRANSCRIPT
Direito da Economia
ABUSO DE POSIÇÃO DOMINANTE
- Caso PT Circuitos Alugados-
Carlota ManiqueDomingos Salgado
Tiago Mendes
• Mercado ideal = vendedores que mantêm os preços a um nível competitivo, não aumentando ou baixando demasado os preços + consumidores que aumentam o seu poder de compra bem como o seu grau de satisfação.
• Quando surgem falhas de mercado = desequilíbro de mercado = repartição ineficaz dos recursos = situações anti-concorrencias
PRÁTICAS ANTICONCORRENCIAIS
“anticompetitive practices refer to a wide range of business practices in which a firm or group of firms may engage in order to restrict inner-firm competition to maintain or increase their relative market position and profits without necessarily providing goods and services at a lower cost or of higher quality” (OCDE)
Práticas Anticoncorrenciais
Colectivas
Singulares
Abuso de Posição
Dominante
DELIMITAÇÃO DE MERCADO RELEVANTE
• Esta delimitação permite apurar a quota de mercado da empresa em causa, bem como as quotas de outras empresas presentes no mercado.
• É através do cálculo da quota de mercado de uma ou mais empresas num mercado específico servindo como requisito para aferir se estamos perante um caso de abuso de posição dominante.
A Comissão distingue dois critérios
Mercado geográfico relevante
• Respeita à área em que as empresas em causa comercializam os seus produtos ou serviços.
Mercado do produto relevante
• Inclui todos os produtos ou serviços considerados substituíveis pelo consumidor quando comparadas as características, os preços e a utilização dada.
POSIÇÃO DOMINANTE
• A posição dominante corresponde, grosso modo, à detenção de poder substancial de mercado por uma ou mais empresas, individual ou colectivamente;
• “Posição de poder económico detida por uma empresa que lhe permite afastar a manutenção de uma concorrência efectiva no mercado em causa e lhe possibilita comportar-se, em medida apreciável, de modo independente em relação aos seus concorrentes, aos seus clientes e, finalmente, aos consumidores”.
O ABUSO
1. Abusos de exploração (a empresa em posição dominante explora o domínio que exerce no mercado em detrimento dos demais agentes económicos); Exemplo: preços excessivos.
2. Abusos por exclusão (orientados para o afastamento dos concorrentes do mercado); Exemplo: recusa de fornecimento.
“A noção de exploração abusiva é uma noção objectiva que abrange os comportamentos de uma empresa em posição dominante susceptíveis de influenciar a estrutura de um mercado”.
ENQUADRAMENTO LEGAL
Tratado sobre o Funcionamento da UE
Artigo 102.º
(ex-artigo 82.º TCE)
É incompatível com o mercado interno e proibido, na medida em que tal seja susceptível de afectar o comércio entre os Estados-Membros, o facto de uma ou mais empresas explorarem de forma abusiva uma posição dominante no mercado interno ou numa parte substancial deste.
Estas práticas abusivas podem, nomeadamente, consistir em:
a) Impor, de forma directa ou indirecta, preços de compra ou de venda ou
outras condições de transacção não equitativas;
b) Limitar a produção, a distribuição ou o desenvolvimento técnico em prejuízo
dos consumidores;
c) Aplicar, relativamente a parceiros comerciais, condições desiguais no caso de
prestações equivalentes colocando-os, por esse facto, em desvantagem na
concorrência;
d) Subordinar a celebração de contratos à aceitação, por parte dos outros
contraentes, de prestações suplementares que, pela sua natureza ou de acordo
com os usos comerciais, não têm ligação com o objecto desses contratos.
Lei n.º 19/2012de 8 de maio
Artigo 11.º
Abuso de posição dominante
1 — É proibida a exploração abusiva, por uma ou mais empresas, de uma posição dominante no mercado nacionalou numa parte substancial deste.
Consequências da violação do artigo 102.º TFUE e do artigo 11.º da Lei
19/2012
Artigo 68.º
Contraordenações
1 — Constitui contraordenação punível com coima:
a) A violação do disposto nos artigos 9.º, 11.º e 12.º;
b) A violação do disposto nos artigos 101.º e 102.º do
Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia;
Regulamento CE n.º1/2003
Artigo 23.º
Coimas
4. A responsabilidade financeira de cada empresa no tocante ao pagamento da coima não pode exceder 10 % do respectivo volume de negócios total realizado durante o exercício precedente.
JURISPRUDÊNCIA PORTUGUESA
I. se foi encetada por uma empresa tal como definida na lei da concorrência e se por conseguinte está sujeita ao regime da concorrência;
II. se a empresa tem posição dominante no mercado relevante
JURISPRUDÊNCIA PORTUGUESA
Poder de mercado:
• Peso considerável;• Estável e duradouro;• Independente;
- CASO PT Circuitos Alugados-
Recurso da P.T Comunicações S.A para o Tribunal do Comércio de uma decisão da Autoridade da Concorrência sobre a prática de Abuso de Posição Dominante relativa à aprovação e vigência de um tarifário para o serviço grossista de aluguer de circuitos.
DECISÃO AdC
PT. C definiu e aplicou um sistema de descontos que favorecia as empresas do grupo em detrimento das concorrentes.
Abuso de Posição dominante:
-Condições discriminatórias em relação a prestações equivalentes
- Limitação da produção, desenvolvimento técnico e investimento
Tarifário em questãoEscalão de facturação bruta mensal
% de desconto Facturação líquida mensal
Empresas em cada escalão
Escalão A: Igual ou superior a 19.951.916 €
32,0% [13.567.303 €; infinito]
--------------------
Escalão B:[12.469.947 €; 19.951.916€]
26,5% [9.165.411€; 14.664.658€]
PT PRIME
Escalão C: [7.481.968€; 12.469.947€]
21,5% [5.873.345€; 9.788.908€
PT PRIME, TMN
Escalão D: [3.990.383€; 7.481.968€]
17,0% [3.312.018€; 6.210.033€]
TMN
Escalão E: [1.995.192€; 3.990.383€]
13,0% [1.735.817€; 3.471.632€]
Outras
Escalão F:[748.197€ ; 1.995.192€]
9,5% 677.118€€; 1.805.648€
Outras
TRIBUNAL DE COMÉRCIO
• Posição de dominio da PT.C:
-Essencial a noção de mercado:
-Mercado territorial: todo o território nacional
-Mercado de produto:
-Quota parte PT.C de aproximadamente 100% no mercado
grossista dos segmentos terminais e anlógicos
-Quota parte PT.C de aproximadamente 86% no mercado grosista de segmente de trânsito analógicos
-Critério estrutural: estrutura da PT.C dificilmente replicável
EXPLORAÇÃO ABUSIVA DA POSIÇÃO DOMINANTE?
• Tratamento desigual a prestações equivalentes?•Posição do Tribunal: Não existe tratamento desigual, pois as prestações não são equivalentes.•“(…) descontos de quantidade é uma prática comum, que funciona como incentivo à aquisição de produtos e como meio de fidelizar o cliente.”•Questão deve ser analisando tendo em conta o fim de qualquer empresa: o lucro.•“(…) não é indiferente para um qualquer vendedor se o cliente adquire 1.000 ou 100”.
EXPLORAÇÃO ABUSIVA DA POSIÇÃO DOMINANTE?
Tarifário é economicamente justicável ou apenas uma prática anti-concorrencial?
AdC ao imputar a práctica de uma contra – ordenação, tem o ónus da prova.
AdC não consegue efectivar o ónus da prova.
EXPLORAÇÃO ABUSIVA DA POSIÇÃO DOMINANTE?
Inadequação do tarifário: Nenhum comprador atingiu o tapamar máximo e apenas as empresas do Grupo PT atingiram os patamares mais elevados.
Posição do tribunal:
-Aplicação temporalmente indefenida
-Os descontos mais elevados tem apoio em dados objectivos: facturações superiores
Não pode ser imputada à arguida o facto da realidade não ter correspondido às expectativas ou o facto de as concorrentes das empresas do Grupo PT não terem facturações superiores
LIMITAÇÃO DA PRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO TÉCNICO E
INVESTIMENTO
Facturação annual do circuito líquida de desconto de facturação
% de desconto
1º Ano 2,0%
2º Ano 4,0%
3º Ano 6,0%
4º Ano 8,0%
5º Ano 10,0%
Prémio de permanência: desconto adicional, consubstanciado num crédito sobre a mensalidade do circuito, nos 12 meses do ano seguinte, no pressupoto que o circuito permanecia instalado.
POSIÇÃO DO TRIBUNAL
-Justificação económica do Prémio: incentivar a continuidade da relação com o cliente.
-Não existindo penalização os clientes são livres de se manterem como clientes da PT.C ou decidirem realizar os ivestimentos em rede prórpia
-Não considera provado qualquer facto que leve a conclusão que o prémio é um desincentivo ao investimento.
SENTENÇA
• Não fica provado qualquer tratamento desigual de prestações equivalentes.
• Não fica provado qualquer limitação da produção, desenvolvimento técnico e do investimento.
Assim:
“Não estão preenchidos todos os elementos do tipo contra-ordenacional cuja prática vinha imputada à PT.C, deverá a mesma ser absolvida”
CONCLUSÃO
• A posição dominante não é ilícita em si mesma, pelo contrário, é até por vezes necessária. Ilícito é o abuso da posição dominante.
• Mas o TJUE considera que:
“Uma empresa em posição dominante está sujeita à especial responsabilidade de não afetar pelo seu comportamento uma concorrência efetiva e não falseada no mercado comum”.